Efeméride

Page 1

Efeméride

Lisboa, 28 de Janeiro de 1908, faz precisamente 106 anos. Em

plena

fase

mais

aguda

da

ditadura

de

João

Franco,

alguns

revolucionários republicanos decidiram sair à rua, dispostos a colocar um fim a um regime que já nem sequer respeitava as suas próprias leis e que governava contra o Parlamento e contra os Partidos Políticos existentes. Um regime que tinha como principal mentor o Rei de Portugal, D. Carlos, e como fiel intérprete o então chefe de governo João Ferreira Pinto Castelo Branco, homem de feitio irascível, dissidente do Partido Regenerador. Entre os conjurados decididos a enfrentar um tal estado de coisas, encontravam-se homens de fé republicana como Afonso Costa, António José de Almeida, João Chagas, França Borges, Álvaro Pope e outros. Mas também personalidades

de

outros

credos

políticos,

designadamente

monárquicos

dissidentes do Partido Progressista como José Maria de Alpoim, Egas Moniz e o Visconde da Ribeira Brava. A tentativa revolucionária ficou historicamente conhecida por Revolução do Elevador ou Revolução da Biblioteca. Isto porque para local de concentração dos revoltosos foi escolhido um antigo elevador público que existia ao fundo da calçada de S. Julião e que ligava essa zona baixa de Lisboa à antiga Praça Biblioteca Pública, perto da actual Rua Ivens.


Os revoltosos tinham a promessa do apoio militar de várias unidades da Guarda Municipal de Lisboa, bem assim como do Corpo de Marinheiros de Vale do Zebro, caso procedessem à eliminação física do ditador João Franco. Esta missão estava cometida à Carbonária. Do local do Elevador, os revolucionários dirigir-se-iam ao Edifício da Câmara Municipal, a partir de onde destituiriam o rei e a monarquia e proclamariam a República.

Um plano que tinha tudo para dar certo, caso não fossem as leviandades de fazerem tudo a escâncaras, ou seja, não houve, como era absolutamente necessário que houvesse, rigoroso sigilo quanto à empresa revolucionária em curso. O excesso de confiança dos conspiradores era tanto que os levou a cometer imprudências imperdoáveis. Veja-se a propósito o caso caricato de um comerciante que tentou aliciar um polícia para a revolução, chegando ao ponto de lhe mostrar explosivos que estavam à sua guarda. É claro que o agente de autoridade deu logo parte aos seus superiores do que se estava preparando. Por outro lado, delações e/ou suspeitas houveram que levaram à prisão prévia de figuras importantes como António José de Almeida, França Borges e João Chagas. Também não se conseguiu que João Franco tivesse o seu encontro fatal com a Carbonária. A finalizar, no próprio dia 28 de Fevereiro, Afonso Costa, Egas Moniz, Álvaro Pope e Ribeira Brava foram presos pela polícia junto do Elevador, o qual, afinal estava avariado (decerto não por acaso). Em vários pontos da cidade, alguns grupos ainda tentaram assaltar esquadras de polícia, mas sem quaisquer resultados práticos. Assim se gorou uma bem-intencionada acção revolucionária que, a ter tido êxito, teria impedido por completo o regicídio, pela razão simples de, numa tal circunstância, esse acto extremo se mostrar totalmente desnecessário. Se, de facto, a História é mestra da vida, possamos então aprender como ela.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.