Vontade

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I Lá estávamos, não sei bem a que hora do dia, deitados em uma imensa cama no meio de um quarto de paredes brancas, abarrotadas de fotografias que emolduravam pessoas que nunca vi, lugares que jamais pisei e objetos que desconheço a precedência. Lembro-me dos amigos ao redor -alguns sentados em bancos, outros no piso de taco e alguns compartilhavam a cama conosco- conversavam animadamente sobre o verão que estava por vir e as delícias da estação mais quente do ano, enquanto nós dois, silenciados e perplexos, trocávamos olhares que diziam: matem-me, por favor! Desejo neve no Natal! Você, apoiado nos cotovelos, folheava “Uma temporada no inferno” do Rimbaud, fazendo orelhas em suas páginas favoritas. Marquei um coração a lápis na parte “Alquimia do Verbo”. Deitada, buscava calmamente imagens de flores numa revista, e quando as encontrava, as cortava com uma tesoura antiga e pesada que já estava lá, naquela cama, ao chegarmos. Quando dei por mim, estava envolta por centenas daquelas flores de papel. O mais incrível é que elas exalavam um cheiro maravilhoso, o que surpreendia a todos. Seguimos num delicioso ócio por horas...nem sei dizer, talvez dias... até que - finalmente! - você se deitou mais próximo de mim, permitiu que eu descansasse minha cabeça em um de seus braços e com o outro envolveu-me. Quando acordei, me senti tão tola! O edredom embolado ocupava o espaço que no sonho era teu.

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II Nosso amor se faz nas brechas. Nas pausas para o cigarro, nos intervalos da novela, entre um suspiro...

...e outro.

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III VocĂŞ me ligou dezenove vezes e eu voltei.

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IV Talvez, em 20 anos, nada disso importe mais.

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V Invadiu minha vida feito brisa de verão Casualmente me beijou os lábios Bagunçou minha mente Enfraqueceu meus joelhos Sem pedir permissão, demoliu meus muros me pegou nos braços, me chamou de amor E antes mesmo que eu pudesse entender direito me deixou sonhando agarrada ao travesseiro buscando seu cheiro que a brisa levou

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VI Todas as vezes que desci a rua que passa ao lado do canal. Todas as vezes que reparei no prédio que me lembra o Flatiron. Todas as vezes que me recordo que lá morava um colega de escola, que tinha o sobrenome Carvalho de Carvalho. Todas as vezes que sentia frio na barriga quando o carro estava muito rápido. Em nenhuma das vezes, pensei em você. Só nessa.

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VII De todas as bocas que eu vi e vi mexer e vi saírem coisas das quais lembro algumas, não muitas. As que lembram são palavras que poluíram o ar e adentraram sem critério por todos os buracos e poros sem que eu me desse conta. E lá ficaram, se reproduziram e viraram verdades, puríssimas verdades de chumbo, que dormiam comigo e acordavam comigo. Até o dia em que outra boca se mexeu e dela saíram as palavras mais leves que eu já havia escutado e sentido e acreditado.

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VIII Você se lembra? Acho que era um domingo de carnaval. Alguns de nós passamos a semana em Paraty. Alguns de nós gostávamos dos blocos de rua e dos desfiles na TV. Dois de nós, passávamos a tarde ouvindo aquele disco do Radiohead no discman.

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IX Querido, Eu te amo. Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem me amou? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo? Quem eu amo?

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X Uma m達o afaga a outra.

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XI Abro meus olhos e vejo um quarto imenso e escuro que desconheço. Estou deitada em uma cama dura, com lençóis puídos que desconheço. Ouço uma respiração profunda, viro-me assustada e vejo um corpo que desconheço. E como se, de repente, a luz do sol invadisse a madrugada, você se move na cama, eu enxergo seu rosto, me reconheço.

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ÍNDICE DE FOTOS 1 - São Paulo, 2013 2 - Londres, 2013 3 - Veneza, 2006 4 - Londres, 2007 5 - Veneza, 2006 6 - Londres, 2013 7 - Veneza, 2006 8 - Nova York, 2012 9 - Londres, 2008 10 - Amsterdã, 2009 11 - Florença, 2006 12 - Londres, 2008 13 - Paris, 2008 14 - Paris, 2008 15 - Paris, 2008 16 - Rio de Janeiro, 2005 17 - Londres, 2008

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Mariana Medeiros, 29 anos, sonhadora profissional. elephantsandchampagne.blogspot.com

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