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DISCUSSÃO TEÓRICA

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concepção formal

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A Solid O

A solidão, de acordo com o Dicionário Michaelis Online, é a "Sensação ou condição de pessoa que vive isolada do seu grupo", ou seja, é um sentimento gerado a partir da desconexão do indivíduo com o meio social em que o cerca. Nem sempre quem sofre com a solidão está sozinho, pois há uma diferença entre solidão e solitude. A solitude é uma ação consciente de isolamento a fim de interiorizar-se em um momento de reflexão.

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A solidão provoca um sentimento de vazio interior, que pode estar presente no ser humano nas diferentes fases da vida, e tende a ser mais frequente com o envelhecimento. Fatores psicológicos e sociais parecem estar relacionados com o seu surgimento, como a depressão, o luto, o isolamento social e o abandono. (GOLDFARB, 1998; GUIDETTI; PEREIRA, 2008; PEDROZO; PORTELLA, 2003; PORTO; KOLLER, 2006; WORDEN, 1998 apud LOPES, R.; LOPES, M.; C MERA, 2009, p. 373 e 374).

Os impactos da solidão na saúde humana são significativos e requerem atenção, pois é um sentimento que afeta a saúde mental e física. Esse sentimento pode até mesmo indicar algum outro problema de saúde, como depressão e ansiedade.

Nesse contexto, Rodrigues (2018, p. 4 ) destaca:

A solidão é um problema social e de saúde relevante, pois associa-se à morbimortalidade significativa e é, por si só, fonte de sofrimento e de redução da qualidade de vida. Não existem planos assistenciais, normas ou documentos que nos ajudem a abordar a solidão eficazmente.

Tendo em isso vista, torna-se indispensável a reflexão crítica sobre este assunto, a sensibilização da população e dos profissionais, para saberem lidar com essa adversidade, e o desenvolvimento de soluções que propiciem uma sociedade mais integradora.

A Pessoa Idosa E O Esquecimento Social

A população que mais cresce, atualmente, é a de pessoas idosas. Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil, em 2016, tinha a quinta maior população idosa do mundo, e, em 2030, o número de idosos ultrapassará o total de crianças entre zero e 14 anos (gráfico 01)

A Organização das Nações Unidas (ONU), considerou a idade de 60 anos para classificar a pessoa no grupo da Terceira Idade, e para que, a partir daí, ações administrativas sejam tomadas e executadas.

Para Denise Tiberio Luz, em seu livro “A Terceira Idade”, os idosos podem ser classificados em três grupos diferentes:

|| Independentes: pessoas idosas sadias e que vivem sem a necessidade de qualquer ajuda;

|| Parcialmente dependentes: pessoas idosas que apresentam algum problema físico ou emocional e que não possuem um sistema de suporte social, tornando incapazes de manter uma total independência sem uma assistência continuada;

|| Totalmente dependentes: pessoas idosas que têm suas capacidades físicas comprometidas devido a problemas crônicos e emocionais, impossibilitando a autonomia e gerando a necessidade de ajuda permanente.

O crescimento da expectativa de vida que vem aumentando ao longo das décadas, fez com que os programas e projetos sociais e governamentais, e a sociedade em geral, cada vez mais se direcionasse para a terceira idade. Determinados fatores colaboraram para que uma nova visão sobre o processo do envelhecimento fosse possível, no entanto, até o momento, vemos a imagem da pessoa idosa sendo vítima de isolamento e descumprimento de direitos e, cada vez mais, demandando assistências no que refere-se aos aspectos psicológicos, físicos e, principalmente, sociais (MACHADO, 2015).

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Para Angerami-Canom (1999, apud ALENCAR, 2005, p. 32),

O envelhecimento torna o isolamento individual uma realidade das mais agudas. As perdas sucessivas –físicas, emocionais, sociais, dentre outras –, que acompanham o processo de envelhecimento, forçam o idoso a adaptar-se a essa nova realidade, num enfrentamento para o qual, na maioria das vezes, não se preparou ao longo da vida. Isso é caracterizado primariamente por idosos que coabitam, esquecidos pela sociedade e pelas outras gerações, como é o caso dos “asilos para velhos”.

O idoso, ao identificar a terceira idade batendo em sua porta, se vê como um mero espectador da sua própria vida, acostumando-se, geralmente, a depender de outros, não se percebendo mais como o proprietário da sua vida, onde suas preferências não são levadas em consideração. E, em meio a essa instabilidade da velhice, onde o idoso vive em isolamento e perde sua identidade, cada vez mais distancia-se da condição de cidadão e da sociedade, que deveria ser mantida pela família e construída pelo corpo social, cujos relacionamentos foram construídos nas fases pretéritas da vida. Dentro dessa percepção, Barreto (1992) descreve sobre essa realidade social: “na velhice que as interações e os vínculos sociais tendem a ser reduzidos. Não é apenas um sentimento; é um estado, uma maneira de ser – a solitária maneira de “ser velho” em nossa sociedade.”

Atualmente, a imagem do idoso e da velhice estão associados a uma visão negativa. Rosa (2012) afirma que a velhice é:

[…] uma fase em que os sinais de deterioração física (cansaço, perda de memória ou diminuição da mobilidade e das capacidades de visão e de audição) se impõem sobre tudo o resto. O desalento, a frustração e a infelicidade são sentimentos que frequentemente caracterizam esta fase, surgindo muitas vezes associados à impressão de uma perda de protagonismo e de importância relativa face a um passado mais glorioso [...]

Muitas vezes, essas conclusões são baseadas no senso comum, em virtude das limitações ocasionadas pela velhice e o processo de contínuas perdas. Devido a isso, muitos idosos ficam relegados ao abandono e ausentes de papéis sociais. Isso, de certa forma, vem colaborar cada vez mais para o esquecimento social da pessoa idosa e a perpetuação de estereótipos, discriminações e preconceitos em relação à velhice. Portanto, o entendimento sobre dependência, velhice e idoso assumem papel relevante, visto que esses aspectos podem determinar o modelo das interações pessoais e sociais, bem como os modos de cuidar dos idosos.

É preciso perceber os vínculos com a sociedade e relacionamentos pessoais, como chave do fim do abandono. Pois é dentro desse núcleo de valores que são construídas as relações que se expressarão mundo afora.

Tendo em vista essa discussão, meu trabalho visa projetar uma habitação direcionada aos idosos independentes, a fim de dar meios facilitadores de acesso a um convívio social, integrando a pessoa idosa a um ciclo ativo, na qual, gere estímulos e iniciativas voltadas à integração, tentando evitar qualquer possibilidade de afastamento social.

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