eusouatoa pelo mundo

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do n u m o l e p a o t a u o s u e uma grande viagem de

LĂ­via Aguiar



Lívia e família em Buenos Aires

PREFÁCIO D

entre todas as pessoas que eu conheço, se fosse apontar alguém que teria a coragem de fazer uma volta ao mundo, sozinha, de mochila nas costas, seria a Lívia. Afinal, a Lívia nasceu com a linha de realização posicionada quase rente à linha do sonho, pseudo-astrologicamente falando. Pra ela, sonhar virou coisa pouca, fazer é bem melhor. E não é fazer pequeno, não é ir pelo caminho confortável ou ficar quietinha debaixo das cobertas, legal mesmo é mergulhar fundo naquilo que é enorme, naquilo que é desconhecido. Então, foi e fez. Conheceu novas culturas, comeu insetos, fez novos amigos, tentou atravessar países de bicicleta, flutuou no Mar Morto, cruzou oceanos. Aqui estão reunidos os relatos dessa aventura, compartilhados pela Lívia no blog eusouatoa.com. Esta é uma lembrança realizada pela família e amigos, que esperam ansiosos pelas histórias de todas as outras realizações - e outras voltas ao mundo, afinal, uma não basta - que ainda virão! TT


dezembro/2011 << ||||| >> outubro/2012


É ISSO: TÔ INDO FAZER UMA

VOLTA AO MUNDO! 2 de dezembro de 2011

A

paguei o texto desse post mil vezes até decidir como contar isso aqui no

A partir de hoje, vou transformar este espaço aqui em um blog de viagens.

A verdade é que vários fatores cósmicos combinaram com um plano que já estava ruminando na minha cabeça há dois anos e… pronto!

Começarei contando dos preparativos e tudo o que você precisa saber para fazer a sua viagem também. E, uma vez com o pé na estrada, vou postando aqui as vivências que terei.

blog.

Tô indo, queridos amigos leitores.

Espero que curtam! ~5~


Já respondendo uma pergunta que sempre fazem, aqui vai o intinerário planejado da viagem: São Paulo Buenos Aires – Argentina Santiago – Chile Hong Kong e Macau – China Tailândia Laos Camboja Mianmar Vietnã Índia

Turquia Hungria Suécia Noruega Dinamarca Alemanha Áustria Holanda França Inglaterra

À medida que eu for indo pros lugares de verdade, traço a rota. Também pode acontecer de tudo mudar, né? Sei lá. Confira sempre o mapa atualizado aqui (ou na aba “eusouatoa pelo mundo”). Começo a viagem dia 4 de janeiro (praticamente depois de amanhã!) e volto em setembro (eu acho). Se o dinheiro acabar antes… volto antes! Hahaha. Bom, é isso! Chega de post inicial. Nos próximos, vou contando como comprei a passagem, que seguro de viagem estou contratando, chip de celular, etc.

~6~


PLANOS DE VIAGEM

A PASSAGEM DE VOLTA AO MUNDO

4 de dezembro de 2011 Quando comecei a pensar na viagem, a primeira dúvida que tive foi: será melhor comprar as passagens de avião separadamente ou adquirir uma RTW (Round The World – ou “passagem de volta ao mundo”)? Antes de colocar os prós e contras que passaram pela minha cabeça na hora de decidir o que era melhor pra mim, vou explicar o que é essa RTW.

RTW O que é

• É preciso girar o mundo em apenas uma direção, cruzar o Atlântico e o Pacífico (sentido leste-oeste ou oeste-leste. Não tem como fazer NorteSul, hahaha), viajar por no mínimo 15 dias e no máximo 12 meses. • O número de países também é limitado – um mínimo de 3 e um máximo de 16 trechos, dependendo de quem emite a passagem. • É possível fazer trechos “terrestres” – tipo: eu tenho um voo de Budapeste a Estolcomo e depois meu próximo voo é de Londres a São Paulo. O trecho entre a Suécia e a Inglaterra será percorrido “à pé”. Vale dizer que esses trechos terrestres contam como “milhas percorridas” em linha reta entre os voos antes e depois.

É um conjunto de passagens emitido por uma parceria de companhias aéreas que permite que você dê a volta no globo terrestre.

Quem vende

Algumas regras são comuns a toda RTW:

Existem três “pools” que fazem esse tipo de passagem ~7~

atualmente: One World, Star Alliance e Sky Team. As diferentes parcerias entre as companhias aéreas fazem com que um pool “se especialize” mais em uma região, então é bom ter uma noção de para onde se quer ir e pesquisar nos três para ver qual deles atende melhor os seus desejos de viagem. A TAM faz parte da Star Alliance e tem dado palestras sobre RTW para agentes de turismo brasileiros, então acho que em breve esse tipo de passagem vai ficar ainda mais popular por aqui.

Quanto custa Os valores de uma RTW variam de acordo com as milhas percorridas pela viagem. Se você sair de SP, for até o Canadá, descer até a Nova Zelândia, subir até a Rússia, descer até a África do Sul e subir pra Londes antes de voltar


pra São Paulo (ou seja: fazer um zigue-zague pelo mundo), a sua passagem vai sair bem mais cara do que se você fizer uma linha mais “reta” pelo planeta. Mas a RTW é geralmente mais barata do que comprar cada passagem individualmente – ainda mais porque geralmente as passagens só “de ida” custam mais caro do que metade de uma de “ida e volta”.

Prós e contras Sem dúvida, o grande “pró”da RTW é o preço. Farei a minha viagem pela One World e paguei US$4.100 por ela (taxas de embarque incluídas)!

A outra vantagem (pra mim) é que paga-se tudo de uma vez. É, não dá nem pra dividir em 6 vezes no cartão, mas pra mim isso é uma vantagem. Já tenho o dinheiro que usarei guardado na poupanda e, como não sei como estarei em termos de grana no final da viagem, é melhor já ter pelo menos as passagens compradas, hahaha. A minha estadia na Europa, último e mais caro continente que visitarei, será basicamente um grande trecho “terrestre”. Então, se acabar o dinheiro antes do planejado, a ideia é usar as últimas moedinhas pra chegar na Inglaterra e pegar meu voo de volta pra casa da minha mãe. ~8~

A maior desvantagem da RTW é o engessamento da viagem. Não dá pra voltar pra um continente pelo qual você já passou, não dá pra estender a viagem por mais de um ano e não dá pra evitar a regra de ter que cruzar os dois grandes oceanos, uma vez cada um. Com a OneWorld, pra mudar a rota de voos no meio do caminho a taxa é de 125 dólares (mas dá pra mudar apenas as datas dos voos de graça, com 7 dias de antecedência). Ou seja: se você tiver dinheiro e tempo para viajar mais livre, você não precisa da RTW. Uma coisa que fiz para evitar um pouco esse engessamento foi reduzir o


número de voos para os grandes centros aéreos dos lugares pelos quais vou passar. Quero ficar 3 meses no sudeste asiático, mas na minha RTW só consta Bangcoc – o resto farei de ônibus/trem/passagens aéreas em companhias low cost. O mesmo acontece na Índia, onde ficarei um mês e só tenho passagens pra Delhi. Já na Europa, como o Norte Europeu é uma prioridade e eu ainda não sei pra onde mais irei, voarei de Budapeste a Estolcomo e farei o resto da eurotrip “por conta”.

Como planejei minha RTW O melhor jeito de escolher qual pool utilizar é brincando no site de planejamento de RTW de cada um deles. A sa-

ber: One World, Star Alliance e Sky Team. Eu tinha alguns destinos prioritários (Índia, sudeste asiático, norte europeu), a época que eu queria viajar (começo em janeiro, então tinha que rodar o mundo sempre indo para o oeste para evitar invernos chatos e monções) e também uma restrição: nada de países com vistos chatos de tirar (e não tenho um dos EUA). Fui me divertindo pelos mapinhas dos planejadores, incluindo e tirando países, até que meu roteiro estava completo e mais ou menos parecido nas três companhias. Levou a que me ofereceu a passagem mais barata, simples assim. Há apenas um mês do embarque para esta viagem que ~9~

deve durar 9 meses, a verdade é que ainda não planejei muito o que farei, que lugares visitarei, durante quanto tempo ficarei em cada lugar… O fato de eu ter decidido viajar, de verdade, apenas há uma semana tem muito a ver com isso, claro. Mas ao mesmo tempo que é importante pesquisar bastante sobre cada país (e farei isso loucamente até embarcar), acho bom deixar as coisas meio “em aberto” para dar espaço à espontaneidade.

Os amigos do blog 360 meridianos também estão rodando o mundo com uma RTW. A viagem deles já começou, vale a pena conferir!


PLANOS DE VIAGEM

UM SEGURO PARA OS MOMENTOS QUE EU NÃO QUERO VIVER (MAS VAI QUE ACONTECE…) 7 de dezembro de 2011

Seguro de viagens é o tipo de coisa que você deseja muito não precisar, mas que é melhor ter “pro caso de…”, né? Eu vi alguns viajantes que têm blogs bem legais pela internet afora que não fazem seguro de viagem a não ser que o país exija que você o tenha (muitos da Europa, por exemplo). Mas olha… e se acontecer alguma coisa mais séria durante o passeio? (bate na madeira…) E se acontecer uma coisa séria na sua família, em casa, e você ter que voltar? (bate na madeira de novo!) E se acontecer alguma coisa besta em um país que cobra MILHÕES por uma consulta besta? (bate..!) E como eu vou viajar sozinha, se eu der um piripaque eu prefiro ter um seguro que me reembolse os serviços de qualquer clínica que me levarem. Cheguei à World Nomads, uma companhia de seguros especializada em viagens de mochileiros pelo mundo todo. ~ 10 ~


Porque eu escolhi essa empresa? • ela tem um seguro de saúde bem completo • ela paga a ida de uma pessoa da minha escolha pra me buscar onde eu estiver caso eu sofra um acidente sério (bate na madeiraaa) • ela me reembolsa passagens, hospedagens pré-pagas, ingressos de shows, etc, caso eu tenha que terminar a viagem antes por causa de acidente (meu ou de um familiar no Brasil), se eu for roubada e não quiser continuar a viagem • ela reembolsa a perda da minha bagagem em caso de perda ou roubo • ela me reembolsa ingressos de eventos culturais e esportivos que eu perder por causa de um atraso sobre o qual

eu não tinha controle (tipo: furou um pneu do ônibus na auto-estrada e eu perdi o jogo de rúgbi para o qual havia comprado ingressos) • ela me paga sessões de quiropraxia e acupuntura caso eu precise! • ela me reembolsa caso eu tenha quebrado alguma coisa de outra pessoa (tipo: quebrei uma mesa de acrílico sem querer e tive que pagar por outra) • ela me ajuda financeiramente caso algum voo meu se atrase muito e eu fique presa em uma cidade por mais tempo do que o planejado • ela me ajuda a pagar a multa caso eu perca uma conexão de voo (mas eu não posso ser a culpada pela perda!) • ela é recomendada pelo Lonely Planet e pelo Nat Geo Adventure ~ 11 ~

• ela tá super nas redes sociais (twitter e facebook) <3 • ela é dinamarquesa. E você sabe… esses nórdicos são conhecidos por serem pessoas sérias que honram seus compromissos Enfim, existem ainda outras vantagens que eu achei bem boas. Caso eu precise do seguro, conto pra vocês como foi o atendimento e depois faço uma análise pós-viagem de tudo. Paguei 727 dólares por 8 meses da apólice “Explorer”, que cobre até esportes radicais - e espero não ter que usar para nada! Mas… se for o caso… me sinto segura porque tem uma empresa séria “cuidando” de mim. Acho que tanta precaução vai deixar minha mãe bem orgulhosa


PLANOS DE VIAGEM

VACINAS E REMÉDIOS

9 de dezembro de 2011

Q

uando você planeja viajar para diversos países, além de checar quais deles precisam de visto, é preciso olhar com muita atenção quais os requerimentos de saúde para entrar em cada um deles. Da lista de países por onde passarei, a única vacina OBRIGATÓRIA é a de febre amarela – é preciso tirar um certificado internacional, emitido gratuitamente pela ANVISA em alguns aeroportos e portos brasileiros, além de alguns postos em outros locais. Neste link tem tudo explicadinho. Acontece que, além do certificado obrigatório, existem diversas vacinas que você pode tomar para evitar doenças bem chatas durante a viagem. Pólio, febre tifóide,

hepatite A e B, raiva, cachumba… Algumas doenças já estão erradicadas no Brasil, mas são bem comuns em lugares como Índia e Quênia.

E aí? Como lidar? Em São Paulo, o Hospital das Clínicas tem o Ambulatório do Viajante, onde médicos especializados sentam com você, te dão as vacinas que você vai precisar, passam receitas de remédios para diarreia bacteriana (como a minha viagem será longa, me deram logo receita pra três tratamentos. Espero não pre~ 12 ~

cisar nem de uma!), orientam quanto à marca mais eficiente de repelente de insetos, como tratar águas suspeitas, etc etc etc. E tudo de graça! Na capital paulista também existe o Instituto Emílio Ribas, especializado em medicina do viajante, mas eles estavam sem médico para dar consultas (mas se você aparecer dizendo quais vacinas precisa tomar, eles te dão – gratuitamente). O certificado internacional contra febre amarela também é emitido nesses dois ambulatórios.


Seguindo as orientações do Ambulatório do Viajante, eu ainda tive que tomar duas vacinas em uma clínica paga: Hepatite A (que não é fornecida pelo SUS) e Febre Tifóide (em falta no SUS). R$280,00 as duas juntas, ui. Ainda tenho que voltar no HC para tomar a última dose da vacina de raiva (são 3 doses antes de você ser eventualmente picado por um animal e 2 depois, se acontecer…) e uma de Hepatite B.

Anote aí, em SP: • Instituto Emílio Ribas http://www.emilioribas.

sp.gov.br/ Endereço: Av. Doutor Arnaldo, 165, São Paulo – SP - (11) 3896-1366 – ESTÃO SEM MÉDICOS, MAS DÃO A VACINA • Hospital das Clínicas, Núcleo de Medicina do Viajante | Endereço: Rua Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 155 – Prédio dos Ambulatórios – 4o andar – sala 8 (11) 3069-6392 / 2661-6392 – basta chegar lá às 8h30 da manhã Ambos estão abertos de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. Se você mora fora de São Paulo, procure o hospital público da sua cidade e se informe!

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Na falta de uma clínica, a ANVISA tem diversas orientações no site. No site da Sociedade Internacional de Medicina do Viajante http://www. istm.org existem orientações de clínicas para viajantes em diversas partes do mundo. Também é uma boa anotar as clínicas em locais por onde você vai passar, pro caso de você ficar doente. O bom de ir numa clínica de viajantes é que eles geralmente falam inglês e estão acostumados com as doenças que os gringos geralmente têm quando visitam o país.


27 de dezembro de 2011

ME AMA, MIANMAR! M

ianmar (antiga Birmânia) é provavelmente o país mais difícil que eu vou visitar. Difícil porque ele estava sob uma ditadura militar longuíssima (de 1962 a 2011) e que ainda não está com a democracia realmente instalada (ok, “defina democracia”, mas parece que lá a questão é tensa). Esse governo fechou diversas regiões do país para estrangeiros (inclusive a capital Naypyidaw), que ainda não estão abertas. É quase impossível chegar até o interior do país por terra – apenas uma estrada, que vem da China, passa por territórios permitidos a não-birmaneses – ou seja, se não tiver passando pela fronteira chinesa, você tem que chegar de avião aos principais pontos turísticos. O governo é tido como muito autoritário, violador de direitos humanos e as elei-

ções realizadas em 2010 foram consideradas altamente fraudulentas pela ONU. O rendez-vous é tão intenso e bad vibe que o Guia Frommer’s de viagens decidiu não publicar um capítulo sobre o país em seu guia do Sudeste Asiático (muito menos um livro só sobre a região), por considerar que os turistas que forem para lá financiarão

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a situação política do país.

Ou seja: será que vale a pena ir até lá? As fotos de Marco Pomarico gritam que SIM Juro que sonhei com as garotas com a maquiagem branca na cara (feita de um tronco de árvore chamado thanaka).


Sonhei com o nascer do sol às margens do lago Inle, sonhei com essa paisagem alienígena dos mosteiros budistas com suas abóbadas cônicas. Como é preciso chegar de avião, pesquisei as companhias aéreas que poderiam me levar para Yangon (antiga capital do Myanmar e a capital turística, onde os aviões internacionais descem, já que não dá pra pisar na Capital Oficial). Cheguei à AirAsia, a low-cost com um “RyanAir” feelings que voa por toda a Ásia a preços bem camaradas. Comprei a minha passagem por INACREDITÁVEIS 6 dólares o trecho Bangcoc-Yangon – mas calma! Para cada voo tive que pagar ainda 12 dólares para despachar uma mala de até 15 quilos, 3 dólares pra escolher meu lugar no avião (não tem como não escolher ¬¬ ) e 25 dólares de taxas de aeroportos. 92 dólares no total, ida, volta e taxas. Ufa. Tive meu cartão de crédito recusado por no particular reason (pelo que pesquisei em fóruns na internet, parece que a AirAsia está mesmo com problemas pra aceitar todos os cartões) e usei o do meu pai pra pagar as passagens (já devolvi o dinheiro, paiê!). E é preciso mencionar que o

Mianmar tem umas regras bizarras para entrar no país – além das taxas, fotos, e etcs de visto, é obrigatório trocar no mínimo 200 dólares por kyats, a moeda local. E eles não trocam pra dólares de volta se você não conseguir gastar tudo. Parece que existe um câmbio negro com uma cotação mais barata (e notas ~ 15 ~

mais falsas, talvez?), então essa exigência do governo é pra garantir o dele com os turistas. Enfim. Tudo isso é pouco para para ir visitar um universo paralelo. Conto tudo pra vocês em abril. Até lá, vamos sonhando…


PLANOS DE VIAGEM

O QUE LEVAR

30 de dezembro de 2011 • Você vai viajar OITO meses? A sua mala vai ser enooorme! • Volta ao mundo? E como você vai carregar tanta bagagem? • E como que coloca tudo na mala?

E

ssas perguntas aparecem muito frequentemente quando conto que vou viajar. E eu vou respondê-las com um “segredo”: a mala que viaja 8, 12, 36 meses é a mes-

ma que viaja duas semanas. Não tente lutar contra isso. Se o clima for variar muito (não é o meu caso, pois só verei inverno em Hong Kong, que faz mínima de 9 graus), vai haver o adicional problema dos casacos e coisas térmicas – mas mesmo isso você pode adquirir no caminho e descartar quando for voltar a ver o verão. Tem gente que consegue reduzir para uma mala de uma semana, outros de apenas dois dias (como esse maluco <3 que fez uma volta ao mundo sem mala nenhuma, só com um colete e uma calça cheios de bolsos). Meu mínimo atual é duas semanas mesmo – gosto de

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variar as blusas e de ter opção de calça. Mas eu sei que conseguiria diminuir mais. Ao gravar o vídeo abaixo eu já vi coisas que poderia cortar fora, hahahaha. A palavra-chave é desprendimento. Você vai levar todas essas coisas nas costas. Tem certeza que quer fazer uma mala pesada? Optando pelo leve, você não vai conseguir montar visuais diferentes todos os dias, mas juro que dá pra paquerar no bar do hostel e até cair na balada como se você fosse um nativo sem cometer gafes de estilo. Vamos combinar: você quer conhecer o mundo ou achar um lugar diferente pra fazer as fotos de um blog tipo o Hoje Vou Assim?


… e depois! Sobrou tanto espaço nela que cogito comprar uma menor, de 44 litros, em Hong Kong – WIN

A mochila antes... Meus critérios para fazer uma mala: • todas as blusas (ou quase) devem combinar com todas as calças/saias/shorts e com os sapatos que for levar • todas as roupas devem resistir a incontáveis lavagens à mão em pias/sabão em pó no balde/lavanderias descuidadas (proibido levar aquela blusinha que tem que ser lavada à mão com sabão de coco e aquela calcinha muito ousada pra ser pendurada no varal improvisado do quarto) • todas as roupas devem ficar lindas sem precisar passar à ferro

• todas as roupas devem secar rápido (de uma noite para o dia, de preferência) • só leve sapatos que amem seus pés e sua coluna. E que adorem caminhar • não leve nenhuma roupa ou sapato que você ame tanto a ponto de não conseguir descarta-lo se ele não seguir os critérios acima/rasgar/puir/ se desfazer durante a viagem

Mala ou mochila? Eu sou uma eterna defensora das mochilas. O mochilão pode ser desconfortável na hora de colocar e tirar e ~ 17 ~

podem virar o Caos Eterno se você não cuidar. As malas de rodinhas podem parecer a melhor escolha dentro de um aeroporto com o chão lisinho e a tampa que abre revelando todo seu conteúdo. Mas você vai agradecer a mochila quando entrar em um metrô que só tem escadas e ver um outro turista bufando pelos degraus levando uma mala de rodinhas. Se for optar por um roteiro só de aeroportos e taxis, faça sua mala! Do contrário, se você tiver trens, metrôs, ônibus, ruas tortuosas e trechos à pé circulando entre as


diferentes possibilidades de albergues anotadas na sua listinha pré-viagem, vá de mochila e ame-a para sempre. A minha mochila comprada em Ciudad Del Este não tem marca nenhuma e nenhuma firula. Talvez eu compre outra menor em Hong Kong, pois vou viajar muito tempo, não preciso desse espaço todo e lá deve ser barato uma mais bacana com controle de calor nas costas (sério, é mto quente levar esse meu singelo trambolho), mas essa mochilinha vermelha me serviu bem na Argentina, na Bolívia e no Peru, por aeroportos, ônibus, amarrada em tetos de kombis e pendurada em tuktuks. Uma dica que recebi de uma amiga escolada em viagens: leve saquinhos de pano para guardar suas coisas. Sacolas plásticas fazem um barulho ENSURDECEDOR em quartos de hostel cheios (pela manhã e à noite especialmente) e elas também ajudam a compartimentar as coisas dentro da mochila. Vou levar uma sacola para roupas íntimas, outra pra meias, outra pra biquinis, outra pra blusas e outra pra calças/shorts e finalmente uma vazia – para a roupa suja.

Gadgets – levar ou não? A minha resposta inicial é NÃO! Mas calma. Não precisa ser tão radical. Acontece comigo: quando estou com bens de valor, fico completamente paranoica, com medo de me roubarem. Em uma cidade que não conheço, então, isso piora! Já viajei com notebook e quis arremessa-lo pela janela no meio do caminho, porque ele pesava demais e eu não precisava dele para nada. Mas né? Não ia jogar meu Darth Vader (nome carinhoso do meu toshibinha <3) em um lote vago boliviano, então engoli o peso e segui com ele até o Brasil. Se você trabalha com fotografia/vídeo/outras coisas que precisam de computador e câmeras caras durante a viagem, leve (fazer o quê…), mas faça um seguro e tenha menos rugas de preocupação. A World Nomads, onde fiz meu seguro de viagem, também assegura bens materiais por uma taxa extra. Existem outros serviços, mas nunca usei, então não tenho como recomendar. Para a minha viagem, também descarto a possibilidade ~ 18 ~

de levar um tablet. Sério, para quê serve um ipad na sua viagem? Se eu quisesse ler meus feeds de rss e jogar Angry Birds, eu ficava em casa. Já o kindle… pode vir a ser útil para consultar guias de viagem (geralmente tão pesados e volumosos) e ler o último livro da série Song of Ice and Fire enquanto toma um mojito numa ilha do oceano Pacífico (já viu o TAMANHO desses livros?), mas mesmo assim… é mais um pedaço de tecnologia que você vai querer levar o tempo todo consigo para não deixar “desprotegido” no hostel/host do couchsurfing. E isso significa mais volume, mais peso, mais suor desnecessário no verão sulasiático.

E se chover?! Sério, você quer mesmo levar essa preocupação pra viagem? Eu devo levar só a minha camerazinha que não é nada de mais, mas faz fotos bonitas, e um celular que pega internet – pra poder manter vocês atualizados, só por isso!, rs.


Pra finalizar Darth Vader não vai viajar em 2012

(ok, tb quero dar check-in no Foursquare por alguns lugarezinhos do mundo, hahaha)

Mas e os livros? Guias? Garrafas de água? Caderninhos de viagem? Calma, isso vai na mochila de mão, uma oooutra novela. Quando vou viajar de avião, pensando no risco de minha mochila ser extraviada, sempre levo uma camiseta e uma calcinha extra na bagagem de mão (quando chego no lugar, volto isso pra mala grande pra não ficar carregando

peso). E tenho uma necessaire pequenininha com escova e pasta de dentes e grampos de cabelo pro caso de ter que sobreviver por um tempo sem shampoo e outras coisas que vão na mala grande. O resto das coisas que levo na “mochila de dia”: caderninho de anotações, o livro que estiver lendo no momento, guia do lugar (ou um monte de anotações sobre ele, caso não tenha um guia), garrafa de água, câmera fotográfica e protetor solar. Se tiver com outros gadgets, eu levaria nessa mochila também. ~ 19 ~

Caso faça um frio de outro mundo de repente, caso minhas calças não caibam mais, caso minhas blusas morram com tantas lavagens no meio da viagem, caso minha mala seja roubada… basta comprar mais coisas (se a mochila sumir, *bate na madeira*, fiz o seguro pra isso mesmo). Roupas de frio são mais baratas (e eficientes) nos países que fazem frio. E em toda cidade existe uma biboca que vende tudo que você pode vir a precisar. Não precisa ficar esquentando a cabeça com essas coisas, enfim. Um ano usando menos de 12 quilos de bagagem. Você consegue?


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PROMESSAS PRA

2012 1 de janeiro de 2012

Tava faltando a minha lista de 10 promessas pra 2012. Aí vai: • Reclamar menos • Confiar mais • Ir com mais calma • Obedecer meus instintos • Parar de alimentar fantasmas • Aprender a dar mais valor às coisas que eu faço. Sem ficar metida a besta • Respeitar os limites do meu corpo (e da minha mente) • Beber mais água • Respirar mais e melhor • Aproveitar pra surfar nas ~~~ondas do arraso~~~ • Venimim, 2012!

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CHEGANDO EM

BUENOS AIRES

EVITE AS ARMADILHAS! 15 de janeiro de 2012

B

uenos Aires é linda, charmosa, divertida, relativamente barata e, que ótimo!, pertinho do Brasil. Mas existem algumas armadilhas feitas para nós turistas que acabamos de chegar ao país. Abaixo estão algumas dicas para evita-las! Algumas delas também valem para outros países do mundo, então vale conferir e tentar adaptar para os destinos que você for viajar.

Em Ezeiza existe um banco La Nación (o Banco do Brasil dos argentinos) bem do lado de fora do portão de desembarque internacional, à direita de quem sai. Lá são praticadas as melhores taxas de câmbio da Argentina e o dinheiro tem a menos probabilidade de ser falso (mesmo assim, confira nota por nota que você receber… não tá fácil pra ninguém na Argentina…).

Tá vendo que eles traduziram “câmbio” para “troco”? Só troque uns trocadinhos mesmo! No banco La Nación, em Ezeiza, você também consegue trocar suas notas por moedas, imprescindíveis para pegar ônibus coletivo em Buenos Aires. A dica para conseguir moedas para os ônibus no Aero-

Lugar de casa de câmbio não é na porta do aeroporto No caso do Aeroporto Internacional de Ezeiza, em Buenos Aires, a safadeza além: existe uma casa de câmbio-armadilha (que tem taxas de câmbio péssssssssimas) ANTES de sair do portão de embarque. NÃO TROQUE DINHEIRO NELA.

Se você descer no aeroporto menorzinho da capital argentina, o Aeroparque, como eu fiz, tenho uma má notícia: não existe um La Nación nas proximidades. A melhor alternativa para ter os primeiros pesos argentinos é trocar alguns no Brasil mesmo. Se não for possível, troque a menor quantidade possível nessa armadilha da foto.

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parque é ir até o caixa do estacionamento do aeroporto. Tentei conseguir moedas nas lojinhas (mega caras) do local de todas as maneiras. Pedi pra trocar (me responderam um “eu não sou banco!”), tentei comprar uma água (num tinham troco, preferiram não me vender a água), implorar.. nada. Mas do lado de fora do prédio tem o caixa do estacionamento, com gente muito simpática e cheia de moedas para trocar pelos nossos pesos fresquinhos. Por que tanto drama pra conseguir uns pedacinhos de cobre? É que a Argentina vive uma ~crise de moedas~. É muito difícil consegui-las, mas elas são imprescindíveis para pagar as tarifas de ônibus (eles têm uma maquininha que “engole” as moedas e te dá o comprovante de pagamento).

Chegue até o centro da cidade sem te passarem a perna O melhor jeito de chegar ao hostel/apartamento/hotel/ casa de amigos em Buenos Aires sem ser passado pra trás é usando o transporte coletivo. Felizmente para mim, mochi-

leira, carregar a mochila no ônibus é bem mais fácil do que para quem leva malas. Os ônibus passam 24h por Buenos Aires (ainda que de madrugada demorem bem mais, né?) e eles passam pelos dois aeroportos sem muitos dramas. Pra sair do Ezeiza até o centro é preciso tomar o 86, que vai pela Av. Rivadavia e depois pega a Hipolito Yrigoyen, dá a volta na Casa Rosada, e volta pro aeroporto internacional pela Avenida de Mayo. A tarifa custava 2 pesos argentinos da última vez que chequei. O problema é o tempo: como o Ezeiza é longe, o trajeto todo dura cerca de 2h quando não há trânsito. ~ 23 ~

O problema: tempo. O trajeto até o centro dura em média 2 horas quando não há trânsito. Para sair do aeroparque existem vários ônibus. O 33 e o 45 vão para a Estação Retiro (rodoviária e estação de trens). De lá, dá pra pegar um metrô ou outro ônibus para chegar até onde você vai deixar as malas. Se seu hostel for no centrão de Buenos Aires, faça como eu: pegue o 45 e continue nele depois da Estação Retiro. Este ônibus pega a rua Reconquista e vai cruzando o centro até a Hipolito Yrigoyen (uma atrás da Avenida de Mayo, que é a da Casa Rosada e várias coisas turísticas). A tarifa


Certifique-se de que o seu taxi é registrado (eles têm que colocar os documentos de registro à vista para os passageiros) e que você combine o preço antes – para evitar que fiquem dando voltas com você.

até o centro de Buenos Aires custa 1,25 pesos argentinos e o trajeto demora cerca de 30 minutos. Para voltar para o aeroporto no final da viagem, pegue o 86 com a plaquinha AEROPUERTO na Avenida de Mayo (se você voltar por Ezeiza) ou pegue o 45 (sentido Ciudad Universitaria) na

Piedras com Avenida de Mayo se você for ao Aeroparque. Se você está levando malas, chegou muito de noite ou não está afim de sacolejar até sua caminha emprestada, pegue um taxi ou um ônibus da Tienda León, que é uma empresa que faz traslados dos aeroportos até o centro de Buenos Aires. ~ 24 ~

Do Aeroparque, pelo menos até janeiro de 2012, não pague mais de 80 pesos (alguns taxistas fazem por 50!) e de Ezeiza, não tem como a corrida ficar mais de 180 pesos. Não precisa nem avisar que aquele povo que fica sussurrando taxi/remises nas plataformas do aeroporto são furada na certa, né? Recuse educadamente essas pessoas e vá você mesmo até o ponto de taxi legalizado.


O IMPERDÍVEL

B

uenos Aires não é o destino mais exótico do

mundo para nós brasileiros. Quem nunca foi, conhece ao menos um amigo ou parente distante que já foi e voltou cheio de histórias: de como lá é um paraíso das compras, que as pessoas são estilosas,

(E O PERDÍVEL) DE BUENOS AIRES falam por aí valem a pena de verdade. Abaixo, uma lista de coisas que “todo mundo faz” que você pode deixar pra lá e algumas atividades que vão fazer valer o seu tempo na capital argentina.

que foram assaltados, que viram um show de tango sensacional, que os cafés são deli-

IMPERDÍVEL

ciosos, etc etc etc. Algumas dessas histórias continuam sendo verdade: no geral, as argentinas – e os argentinos – têm cabelos com cortes muito diferentes dos nossos e são mais hispters, se você esquecer que está num país de terceiro mundo existe mesmo o risco de levarem sua carteira quando você não estiver olhando e até o cafezinho do hostel mais vagabundo vai ser melhor que muito café espresso no Brasil. Só que nem todas as maravilhas que

MALBA O Museu de Arte Latinoamericana de Buenos Aires, localizado no Bairro Parque, é bonito, moderno, tem exposições intinerantes com artistas latinoamericanos contemporâneos de renome e um acervo interessantíssimo. Sabe o Abaporu (foto acima, tirada clandestinamente), da Tarsila do Amaral? Tá lá. Eles também têm um autorretrato da Frida Khalo (aquela mexi~ 25 ~

16 de janeiro de 2012

cana que se desenhava com um bigode), um par de obras do brasileiro Hélio Oiticica, outro da Lygia Clark, uma parte só pros quadrinhos do Xul-Solar (um argentino que eu não conhecia, mas que tem até museu próprio em Buenos Aires), um Botero (o colombiano que pintava todas as pessoas gordinhas) e outros artistas que batem carimbo nos livros de história da arte. Além do museu em si, o prédio é megamoderno e bo-


nito e o café (apesar dos preços salgados) vende comidas deliciosas! Se você não tem pesos sobrando (como eu), peça um café espresso. Ele é bem tirado, vem com um pedacinho de bolinho macio e delicioso e não custa um fígado e dois rins. Avenida

Figueroa

Alcorta,

3.415 (não tem metrô muito muito muito perto, mas dá pra descer na estação Scalabrini Ortiz da linha D e descer alguns quarteirões pelo bairro Parque, que é muito bonito) Abre de quarta a segunda, das 12h às 20h. (na quarta ele fica aberto até as 21h) Entrada: 24 pesos. Estudantes, aposentados e professores com comprovante pagam meia entrada (12 pesos argentinos). Menores de 5 anos não pagam. Às quartas, o valor da entrada é reduzido pela metade.

Mais

informações:

http://

www.malba.org.ar/web/home.php

Centro Cultural Recoleta Equipado com mais de 13 salas de exposições, esse centro cultural consegue expor, ao mesmo tempö: fotos suecas com a temática “suicídio”, páginas de um colorido livro infantil sobre comida e uma instalação com sons e imagens desconexos (não consegui entender, sorry). A arquitetura do Centro reflete esse caráter plural. Ele é uma das primeiras construções de Buenos Aires e vale por si só a visita. Dá pra notar os diversos estilos arquitetônicos, algumas vezes dissonantes (foto acima – oi!?) e descansar nos pátios internos do edifício principal

~ 26 ~

(que já funcionou como convento). Rua Junín, 1.930 (ao lado do cemitério da Recoleta) Abre todos os dias, de 12h às 21h de segunda a sexta e de 10h às 21h aos sábados, domingos e feriados. Entrada franca. Mais informações: http://centroculturalrecoleta.org/ccr-sp/

Um passeio pelo delta do Tigre O rio Tigre é um dos vários pequenos afluentes do Rio de La Plata que têm um delta nos arredores de Buenos Aires. É uma cidadezinha fofa, muito próxima à capital, de onde se pode tomar uma lancha (foto acima) para passear pelas ilhas formadas pelo rio. Enquanto aqui no Brasil as pessoas têm sítios e casas na praia, os porteños ricos têm casas em Tigre, para onde vão quando o calor em Buenos está insuportável. Existem cerca de 9 mil pessoas morando em Tigre, muitas delas nas pequenas ilhas, às quais só se pode chegar de barco. Um charme. Um amor. Um dia de campo e tranquilidade depois de vários passeios urbanóides.


Museo de Arte de Tigre, uma coisa MARAVILHOSA

Para chegar, tome um trem na Estação Retiro (no centro de Buenos Aires). O trem custa 2,70 pesos (ida e volta). Uma vez lá, o melhor passeio é com a lancha-colectiva (16 pesos para turistas que não descerem da lancha. Elas são os ônibus pra quem mora nas ilhotas do Tigre). Mas no fim de semana do verão a cidade recebe tantos turistas que as empresas só oferecem o passeio turístico de uma hora mesmo (40 pesos, com guia). A não ser que você consiga ser convidado para passar a tarde numa casa “de campo” de um amigo porteño, claro

maiores parques de diversão da América Latina), pelo cassino (se vc curte) e pelo Mercado de Frutos (onde se vende de tudo). O lado esquerdo (saindo da estação de trens) é mais pacato e o lado direito é onde estão o parque, cassino, mercado, porto, etc.

Não deixe de passear pelo Museo de Arte de Tigre, pelas ruas pequenas e simpáticas do continente, pelo Parque de La Costa (um dos ~ 27 ~

La Bomba de Tiempo Buenos Aires pode até não ter muitos negros (ou seria mais correto dizer que NÃO TEM NENHUM?), mas o ritmo africano é muito bem representado por este grupo que cria verdadeiros transes coletivos nas apresentações


que faz. É um programa que atrai turistas e locais numa festa muito louca, que acontece tradicionamente às segundas feiras no Centro Cultural Konex (Calle Sarmiento, 3.131 – dá pra chegar de metrô. 35 pesos).

tango, milonga, rock e salsa. O valor da entrada é o mesmo (30 pesos), mas se você chegar cedo, nos horários de aula, dá pra ensaiar os primeiros passos antes de a pixxxta começar a bombar.

Achei muito doido: eles foram pra BH e se apresentaram com o Tizumba no Conexão Vivo de 2011! <3

PERDÍVEL

O grupo argentino não tem cantores, mas às vezes chama um para fazer uma participação especial. Vá com sapatos e roupas confortáveis e não se atrase! Confira

informações

Caminito

horários de apresentação: http://www.labombadetiempo. com.ar/esp/

Assistir uma apresentação de tango pode ser legal, mas ir ver as pessoas dançando de verdade – e participar também – é muito melhor! A milonga que mais me recomendaram é a La Viruta. http://www.lavirutatango. com/ Lá, além de poder ir dançar, existem também aulas de

Ônibus de city-tour Tudo que tem “turístico” no nome já me dá arrepios de desconfiança automaticamente. Em Buenos Aires, então, onde tudo é plano (lindo pra caminhar!) e o sistema de transporte público é fácil de entender, não vejo porque você gostaria de ir conhecer a cidade dentro do ar condicionado de um ônibus, rodeado de turistas americanos e japoneses. E o treco ainda é caro: 60 pesos por um tíquete que vale 24h e 90 por um que vale 48h.

e

Ir a uma milonga dançar o tango TRUE

ar de bicicleta por Tigre que é melhor.

Ele é uma “rua-museu”, ou seja: uma armadilha para turistas. Ninguém vive lá, o bairro La Boca (lindamente retratado no filme Tetro, do Coppola) não tem nada a ver com essas casinhas coloridas e todos os estabelecimentos são lojinhas querendo o seu dinheiro. E nem é tão pertinho pra você simplesmente “dar uma passadinha”, sabe? Poupe seu tempo e vá passe~ 28 ~

Se você quer ir pra Buenos Aires pra fazer “check-in” nos lugares turísticos, acesse aqui:http://www.buenosairesbus.com/

Alfajores Havana Seriously, com tanto produto argentino delicioso você vai escolher levar justamente o que vende no Brasil de presente pra família? Se quiser mesmo levar alfajores (concordo, eles são


sanduíches de delícias), invista em um alfajor El Cachafaz ou Abuela Goye, que custam quase o mesmo, são mais gostosos e não existem do lado de cá da fronteira. Os baratinhos Jorgito e Milka Brownie também estão entre os meus favoritos, hehehe. E vale lembrar que alfajor não é tudo igual. Cada região da Argentina tem a sua maneira de fazer alfajor. Esses da Havana, com uma massa meio biscoitosa e recheio de doce de leite, são do estilo patagônio. Já em Córdoba, os tradicionais são feitos de uma massa quase que de bolo, com recheio de geléia de frutas. Na província de Santa Fé, eles são camadas de massa folheada com recheio de doce de leite recobertos com açúcar impalpável. Existem ainda outros tipos, mas estes são os que eu já provei O melhor jeito de conhecer é mesmo comendo, hahaha. Tente compensar as calorias nas caminhadas pela cidade.

Compras na Calle Florida Já se foi o tempo que era muito mais barato comprar roupa na Argentina. E se ainda existem barganhas, com

certeza elas NÃO estão na Florida, a rua mais cheia de turistas por metro quadrado de Buenos Aires. Tem até vendedor oferecendo os produtos em português! Eu já aprendi: nada além de McDonalds, Burguer King e outras cadeias de restaurantes custam o que valem na Florida. Se você encontrou uma barganha,

CULAR nem IMPERDÍVEL. Os preços das coisas são OK e encontra-se muita mercadoria chinesa que vemos aqui também. Mas ela também não é uma total perda de tempo (como o Caminito). Então assim: a não ser que você esteja desesperado para comprar souvenirs de viagem ou seja um colecionador de antiguidades (a feirinha da Plaza Dorrego, no fim da Defensa, é fofinha), perca a feira. Ela só acontece aos domingos e ocupa toda a Calle Defensa, do centro ao coração de San Telmo.

desconfie: provavelmente é mercadoria chinesa que você encontra igual no Brasil – as vezes até mais barato. E agora que os “manteros” (aqueles camelôs que ficavam na Florida) saíram de lá, não dá pra comprar nem artesanato pra levar de lembrancinha.

Feirinha de San Telmo Fiquei na dúvida se colocava essa feira ou não… é que assim… ela não é ESPETA~ 29 ~

Pontos positivos: achamos um presente legal para uma tia minha (um baralho de cartas com letras de tango, feitos pelo cara da banquinha e sua filha – diz ele, né?) e uma massagem ~mágica~, oferecida por um hippie especialista no assunto (na foto abaixo, minha irmã Elisa descansando os ombros).


~ 30 ~


Hipolito Yrigoyen, 788 (entre ruas Piedras e Chacabuco).

ENCONTRADAS

AS MELHORES EMPANADAS DE BUENOS AIRES 17 de janeiro de 2012

A

marelinhas, bem temperadas, de massa quebradiça, recheio farto e assadas na hora. As empanadas do La Morada são imbatíveis!

Paralela à Avenida de Mayo,

às 24h; 6 pesos cada em-

ela é praticamente uma rua

panada.

Não bastasse o sabor incrível de um dos pratos mais típicos da Argentina, o ambiente do restaurante é um charme: cheio de cartazes, bonecos, fotos, placas antigas, garrafas… e um telão imenso que deve fazer sucesso em dias de jogo de futebol. Apesar de ser um restaurante no meio da zona turística da capital argentina, os frequentadores são em sua maioria argentinos que vão lá almoçar ou encontrar os amigos no fim de tarde.

muito belos!). Talvez por isso

A Hypolito Yrigoyen é provavelmente a rua mais feia do microcentro de Buenos Aires.

to é reduzido no verão: de se-

de estacionamentos feios e prédios decadentes (que com

La Morada

uma reforma se tornariam

http://www.lamorada.com.ar/

o La Morada passe despercebido por quem não conhece o local. Mas agora você já tem a dica As minhas preferidas são as de choclo (milho, muito cremosas) e carne picante (que nem é tão picante assim). No inverno eles também servem o “locro”, uma espécie de guizado argentino com carne e legumes picadinhos. O horário de funcionamengunda a sexta de 10h às 16h. Sábados e domingos de 18h ~ 31 ~

(o site tem música – ponto negativo pra eles).


BRIGA DE IRMÃS ACABA EM OUSADIA ARQUITETÔNICA (OU: ISSO SIM É QUE É MÁGOA DE CABOCLA) 18 de janeiro de 2012 Eram duas irmãs muito ricas, que viviam em frente à belíssima Plaza San Martin, no centro de Buenos Aires. Uma delas era muito católica e adorava a vista de seu apartamento de luxo, no último andar do prédio. Dali dava pra ver o parque e, mais atrás, a igreja do Santíssimo Sacramento (estilo neoclássico misturado com gótico) com suas belas torres pontudas. A outra irmã não ligava para a igreja, preferia ficar paquerando o senhor de bigode

distinto que passeava todos os dias pelo parque em frente ao prédio das duas órfãs. Acontece que um dia o tal senhor entrou no prédio, enamorou-se da irmã mais velha (a que era muito católica) e eles se casaram.

Uma história com final feliz? Quem me dera… a irmã solteirona nunca superou o coração partido, se recusou a mudar do amado apartamen~ 32 ~

to e passaram a viver os três um triângulo amoroso que estava mais para uma reta com três pontos. A magoada vendeu todas as fazendas de gado que tinha para comprar o terreno na frente da igreja amada pela irmã e mandou construir um prédio imenso, que cobriria a vista das torres pontudas para sempre.


Este prédio, todo de concreto armado (novidade na época) e feito exatamente para cobrir qualquer vestígio da igreja para quem vê desde o outro lado do parque, foi o prédio mais alto de Buenos Aires por muitos anos, até que finalmente os arranhacéus tentaram dominar tudo. As irmãs fizeram as pazes eventualmente e as más línguas dizem que as festinhas no apartamento sempre foram muito animadas, se é que você me entende.

**ATENÇÃO: esta história é uma lenda porteña. Onde termina a ficção e começa a realidade (ou o contrário) ninguém sabe com certeza.** ~ 33 ~


O DIA QUE EU PERDI A SEXTA-FEIRA 21 de janeiro de 2012

Nao quis imitar Samoa, mas com a viagem em direcao a Hong Kong eu acabei perdendo a sexta-feira dia 20 para a Linha Internacional de Mudanca de Data. Sai de Santiago (Chile) as 23h do dia 19 e cheguei em Auckland (Nova Zelandia) dia 21 as 4h da manha. Sorry, Rebecca Black‌ vou cantar Friday pra compensar, ok? Desci em Hong Kong agora (sao 19h45 aqui). Ta o maior clima Sao Paulo: nevoa, garoa, ruas cheias de gente (e teclados sem acento, mas cheios de caracteres chineses irreconheciveis). Mais tarde eu conto mais coisas pra vcs.

~ 34 ~


AS PRIMEIRAS IMPRESSÕES SOBRE

HONG KONG

28 de janeiro de 2012

M

eu primeiro pensamento sobre Hong Kong, depois de 3 dias dentro de aviões e aeroportos, foi: “não, chega, não quero, posso voltar pra casa agora? Aqui é muito

cheio, muito barulhento, tem gente demais, cheiros fortes demais, cores demais.”

dade e passei por muitos momentos que gostaria de compartilhar com vocês nos próximos posts

Talvez por causa dessa primeira impressão, todos os programas que eu curti fazer na cidade têm a ver com lugares menos cheios, atrações que os locais curtem, celebrações menos turísticas. Bom, geralmente esse é o meu jeito de viajar, mas em Hong Kong senti isso ainda mais forte.

Ah, feliz ano novo! O ano chinês do dragão está começando – as celebrações vão do dia 22 de janeiro a 6 de fevereiro!

8 dias depois de chegar aqui, já fiz a pazes com a ci-

~ 35 ~

Mas calma, vou contar tudo sobre isso mais tarde… Quem acompanha a página do facebook, www.facebook.com/ livspelomundo, já sabe algumas coisas!


O MELHOR RESTAURANTE DE

DIM SUM

DO MUNDO 29 de janeiro de 2012

O Guia Michelin distribui estrelas aos restaurantes que avalia serem os melhores do mundo. Em Hong Kong, tive a felicidade de comer em um desses lugares: o Tim Ho Wan. Especializado em dim sum (pequenas porções de comida), o Tim Ho Wan foi aberto por um ex chef do hotel Four Seasons em Hong Kong e hoje conta com três lojas pela cidade.

A especialidade: este pão doce assado, recheado com carne de porco. Parece estranho (pão doce com recheio salgado) mas o sabor ultrapassou minhas expectativas! Para uma primeira visita, fui à unidade mais tradicional do restaurante, perto da estação Mogkok do metrô. É o menor dos três e o mais conhecido, mas todos eles terão uma fila de pessoas esperando, porque o lugar é famoso no mundo todo! Quando cheguei, eram 9 da noite e a porta estava cheia de pessoas famintas esperando por uma mesa! Como eu era apenas uma, foi fácil me expremer em um lugar – só esperei por 30 minutos. Em Hong Kong é assim: as mesas são para serem com~ 36 ~

partilhadas por todos! Acabei por sentar com uma família que mora perto de Mongkok e que me explicou (tardiamente, porque já havia feito meu pedido na entrada do restaurante) que eu devia pedir o combo ha jiao e shao mai. Abaixo, o ha jiao (bolinho de camarão fresco cozido no vapor). DELÍCIA!

Meus pãezinhos atrasaram muito pra chegar, porque dei azar de chegar bem quando uma fornada tinha acabado.


meu pedido com uma porção a mais de shao mai.

(Valeu a espera, os meus chegaram quentíssimos!) Mas tudo bem, enquanto o resto da comida não chegava, fiquei de prosa com a família que se sentava comigo e eles me deram um shao mai pra provar. Preferi o segundo na foto acima (bolinho de carne de porco com camarão) ao só de camarão – tanto que fui almoçar em outra unidade do Tim Ho Wan (dentro de uma estação de metrô ??? no centro de. Hong Kong) e repeti

Os chineses de Hong Kong (e talvez isso aconteça por toda a China, não sei) comem muito, muito rápido e falam com a boca cheia. Isso não necessariamente me incomoda, mas é impressionante vê-los comer ao seu lado na mesa (como frequentemente acontece), mandando ver um prato após o outro e pedindo mais e mais comida enquanto eu ainda estava comendo o segundo dos meus 4 shao mai. Ah, a única bebida que eles servem é chá. Quente. Se quiser beber outra coisa, compre em um supermercado antes, sem problemas.

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O shao mai é o da esquerda

Quer saber outra coisa incrível sobre o Tim Ho Wan? É mega barato, mesmo para os padrões de Hong Kong. Meu almoço com três pratos deliciosos ficou 65 hong kong dollars, menos de 10 dólares americanos! Gotta love.


CELEBRAÇÕES DO ANO

NOVO CHINÊS

EM HONG KONG 31 de janeiro de 2012

C

omeçamos dia 22 de janeiro o ano do dragão preto (supostamente mau para todos os signos, mas como este é o ano do fim do mundo, imagino que esse seja apenas mais uma prova de que tudo acaba dia 21 de dezembro, hahaha). Tive a felicidade de estar na China bem nas celebrações do ano novo, que geralmente duram 15 dias!* Como o calendário chinês é lunar e as estações do ano seguem um ciclo solar, ficam sobrando uns dias de festa que são chamados de ano novo chinês. Pra ilustrar isso, vou contar a resposta que a aeromoça ~ 38 ~


da Cathay me deu quando perguntei quando era o ano novo chinês: “agora”. O ano novo não é uma mudança de data, mas um período. Por isso cada um dos dias tem coisas específicas a serem feitas, mas tudo faz parte desse período que é o ano novo. Enfim… Também por causa do calendário lunar, o ano novo chinês não acontece sempre na mesma época no calendário solar, que é o nosso. É tipo o carnaval e a páscoa (que

obedecem o calendário lunar judeu).

O que eu vi no ano novo Véspera

interno do templo, mesmo

Alguns dias antes do começo do novo ano, os chineses vão aos templos dos seus deuses favoritos para pedir bênçãos e desejos para o ano que irá se iniciar. Fui ao templo de Man No (Man é o deus da guerra e Mo o da literatura) no dia 21, véspera de ano novo.

grátis. Deve ser pra agradar

Esse templo é muito procurado por estudantes que estão nos últimos anos de estudos, que estão participando da “guerra literária”, rs. Era 23h quando cheguei lá e o templo ficava mais cheio a cada minuto!

que arde os olhos! Mas são

lá dentro tendo um monte

Muitos compravam incenso das banquinhas do pátio ~ 39 ~

mais os deuses.. Eles também trazem frutas e flores como oferendas e queimam uns papeizinhos de desejos em seu ritual de passagem de ano. O que mais me impressionou: as imensas espirais de incenso acesas dentro do templo. É tanta coisa queimando bonitas as danadas.

Virada de ano Na noite do primeiro dia de ano novo, o pessoal da companhia aérea Cathay Pacific organizou uma parada de ano novo nas ruas da região


de Tsim Sha Tsui, na baía de Kowloon. Não tava muito cheia, mas também não tava muito legal. Carros alegóricos pequenos, pouco ritmo entre os diferentes grupos que desfilavam, muita coisa meio boba. Me senti na apresentação da escolinha de dança da irmã pequena e alguém que não conheço. Talvez seja legal pra quem conhece as pessoas na parada… O ponto alto: dragões! Eles são muito divertidos!

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Segundo dia No segundo dia de ano novo, fui ver os fogos de artifício na baía de kowloon/ hong kong (no canal que separa a ilha de Hong Kong da parte continental, onde está o bairro de Kowloon). Muito bonito! detalhe que os fogos estavam sincronizados com uma trilha sonora, que soava por toda a baía. Antes disso, durante o dia, tive a sorte de ver um grupo fazendo dragon dance em restaurantes de Kowloon. Não


Não fiquei em Hong Kong para o fim do ano novo, no dia 7 (primeira luta cheia do ano), mas deve ter alguma coisa especial nessa data também... Ufa. Post longo! Espero que tenham gostado!

era uma coisa turística, é parte da tradução chinesa fazer essa dança para proteger o restaurante dos maus espíritos. Lindo!! Foi a minha parte preferida do ano novo. Eram dois dragões, manipulados por duas pessoas cada. Um ficava fazendo mais acrobacias em terra e o outro subia num poste e bambu e dançava lá em cima (nessa parte específica, só um acrobata subia o poste).

tangerinas com papéis de desejos amarrados, mas depois que os galhos da árvore mais velha quebraram, o governo proibiu e agora se faz os desejos com laranjas de plástico em uma réplica de plástico da árvore, hahaha

*Vale lembrar que a China é um país GRANDE e que Hong Kong é diferente da China continental por ser um território que ficou sob a dominação dois ingleses por mais de 100 anos, então pode ser que o que eu vivi aqui não acontece assim no país todo. Vale lembrar também que deve ter acontecido muito mais coisa que eu não vi/não entendi, hahaha.

Árvore real...

Árvore de plástico...

Outras celebrações Também fui a um templo das árvores dos desejos, no bairro afastado de New Territories. Essas árvores antes ficavam abarrotadas de laranjas e

~ 41 ~


THE PEAK

HONG KONG VISTA DE CIMA 2 de fevereiro de 2012

O Victoria Peak é uma

No meu primeiro dia de sol

montanha no meio da ilha de

na região (mal sabia eu que

Hong Kong de onde dá outra

seriam apenas dois…), corri

ver uma vista incrível da cida-

para o Peak para tentar ver

de toda. Ou daria se o tempo que estive lá não estivesse tão feio.

alguma coisa. A subida pode

da estação Central. Claro que peguei o ônibus. A subida é bem bonita, passamos por mirantes e prédios

ser feita com um tram mega

de gente muito rica – tão rica

famoso, histórico e caro ou

que as ruas estreitas não têm

com o ônibus 15 que sai da

calçada (não dá pra subir a pé

estação Hong Kong, ao lado

pelo caminho do ônibus…).

~ 42 ~


Chegando lá em cima… Um shopping! Dois, na verdade! [Um pequeno parêntesis para dizer que Hong Kong transforma TODO E QUALQUER espaço da cidade em shopping ou mercado: estações de metro, passarelas, ruas, calçadas, picos de montanhas. Não existem limites.] O Peak estava lotado e o céu nem estava tão limpo para justificar pagar as centenas de hong kong dollars para subir até o topo do shopping com a melhor vista da região. Ao invés de lutar por um lugar ao sol na muvuca, peguei uma trilha lateral, a “morning trail” com muito verde e pedras e cheguei à Hong Kong Trail.

É claro que demora muito mais que duas horas pra andar os 50 km da trilha. E como ficou escuro às 6h30, peguei uma saída do parque pro vilarejo de Puk Fu Lam do outro lado da ilha de Hong Kong e de lá peguei um ônibus pra área turística de volta. Saindo da trilha, conheci Mini, uma menina que mora em Puk Fu Lam e estava pescando no lado do parque quando estava saindo dele – ela que me deu a dica de qual ônibus pegar pro hostel. Ela disse que é doida pra conhecer a Amazônia e acabei dando umas dicas pra ela sobre como chegar lá e sugeri o passeio de barco que eu sempre quis fazer, de Manaus a Belém do Pará.

~ 43 ~

A verdade é que eu achei muito estranho a Mini estar pescando no lado sem uma vara de pescar. E ela maio pegou nenhum peixe, agora que penso nisso… Mas enfim, essa é a história dela, rs Foi muito legal ir parar do outro lado da ilha porque deu pra ver uma área residencial normal da cidade, muito mais tranquila que o centro… E foi barato também: ônibus a 4,20 dólares hongkonguenses!


Comidas de rua

A VERDADEIRA

COMIDA CHINESA

Muita fritura, tipo almôndegas de carne, siri, peixe, vísceras, quiabo, beringela… esse da foto é um shao mai, como o que

3 de fevereiro de 2012

comi no restaurante de dim sum, mas esse era muito ruim!

S

abe o cardápio do China in Box? Ou daquele restaurante chinês

true no bairro Liberdade em São Paulo? Nem um nem outro me preparou para o soco na cara que é a comida chinesa de Hong Kong e Macau. As duas regiões ficam na parte cantonesa do país e nada, NADA do que eu conhecida como comida chinesa se aplica aqui. Talvez a comida sino-brasileira seja baseada em outras regiões da China, sei lá. Talvez esteja tudo mesmo muito adaptado outro nosso paladar. Conheça ao lado alguns dos pratos que provei do outro lado do mundo!

~ 44 ~


Estas foram as comidas que provei… Sopas de macarrão

Congee

Elas vêm em todos os tamanhos,

É um mingau de arroz salga-

com tudo o que der pra colocar dentro.

do de sabor bem suave. Curti, é

Gyozas, cogumelos, carnes, vegetais,

bom para amenizar os temperos

algas, etc. É preciso ficar atento para

fortes das sopas. Esse meu veio

não pedir nada que você não gosta den-

com gengibre e alguma carne

tro (tipo vísceras). O chato é comer isso

não identificada. Temperei com

sempre! É difícil achar não-sopas em

molho de soja e pronto!

Hong Kong… Bom tem o McDonalds, mas isso não conta.

Pé de galinha cozido Aham, isso mesmo. Foi o mais outro que cheguei de um “prato exótico”.

Dim sum

Ignorei intestinos de porco, peixe desidratado e coisas que cheiravam demais, mas encarei os pés de galinha (com

De longe os pratos que mais gostei

sopa de macarrão). Eles são molengas

aqui. Mesmo assim, eles parecem alie-

e pele pura, mas não são ruins. A pior

nígenas ao nosso paladar: doce com

parte é ter que olhar pra eles, cuidar

salgado, camarão no vapor, carne de

os dedos e cuspir fora os ossinhos. Ou

porco com um tempero não identificá-

seja: pior que o sabor é o processo de

vel.

colocar eles pra dentro.

Estou bem feliz de sair da China, porque não curti muito!

~ 45 ~


ÀS MARGENS DE HONG KONG UM POUCO DA

HISTÓRIA DA REGIÃO 5 de fevereiro de 2012

H

ong Kong é basicamente dividida em 4 partes turísticas principais: a ilha de Hong Kong, onde estão a maioria dos shoppings, Kowloon, em frente à ilha, com endereços mais tradicionais chineses e mercados de rua, New Territorries, a parte afastada e meio “do campo” da península, e também a ilha de Lantau, onde fica o aeroporto, a Disneylandia e o buda gigante (que é bem legal – veja foto ao lado). De longe, o passeio mais especial que fiz (depois de encontrar dragon dances por acaso na rua em Kowloon) foi a trilha de Ping Shan, em New Territories. Para chegar até ela, basta pegar um metrô até a estação Tin Shui Wai e sair pela porta E. Já da pra ver a pagoda (templo budista, eu acho…) de dentro da estação. Essa trilha só tem um quilômetro e passa por locais históricos construídos pelas primeiras pessoas que ocuparam a região. ~ 46 ~


Os prédios que achei mais interessantes foram:

A cidade murada É todo um conjunto de casas cercado por um muro alto.

A pagoda Ela é bonitinha, mas o que eu realmente achei interessante foi saber que antes ela ficava às margens do rio. Agora ela está cercada de prédios modernos e o rio só dá as caras bem mais pra frente (e está completamente sujo).

Ainda tem gente morando lá, assim como algumas ruínas e uns prédios modernos

~ 47 ~


Um tour privado com o expert!

A escola e a casa de hóspedes Sem dúvida essa foi a parte mais especial do passeio! Uma contextualização: os prédios ficam abertos até 17h e já eram 18h quando chegamos lá, por isso as portas dos lugares estavam fechadas. Mas um velhinho nos estava observando tirar fotografias da fachada e nos chamou para mais perto. Acontece que ele é o dono dos edifícios (seu trisavô os construiu há 142 anos) e nos abriu todas as portas – inclusive as que o departa-

mento de turismo proibiu a entrada. A casa de hóspedes funcionava como moradia para os professores que vinham de fora. Nenhum dos dois edifícios usa qualquer tipo de prego, todas as junções (inclusive escadas que não rangem nem um pouco) foram feitas usando encaixes da própria madeira. Uau! Eu estava muito desconfiada do nosso “guia”, mas foi incrível e eu não tinha razões para ter qualquer medo… E o cara (esqueci seu nome…) é um gênio: olhou bem pra mim e disse

~ 48 ~

“Você é brasileira”. Whaaaat? Ele disse que tava na minha cara que eu era brasileira – mas eu acho que ele fez feitiçaria, hahaha. Ele também acertou que a Angela, que estava fazendo o passeio comigo, era do Canadá. Como já estava ficando de noite, concordamos que nenhum outro lugar da trilha seria tão incrível quanto esses dois prédios, então voltamos pra ilha de Hong Kong com o coração feliz pelas boas coisas espontâneas que podem nos acontecer.


MACAU

A ÁSIA À PORTUGUESA 6 de fevereiro de 2012

M

eu último post sobre a China é sobre a pequena região que foi ocupada pelos portugueses de 1480 (ou algo próximo a isso) até a sua devolução à China no fim do século XX. Tanto tempo de ocupação nos faria pensar que a chinesada geral falaria português, né? PÃ, errado! Os únicos falantes de português que encontrei foram dois portugueses que vivem em Macau – mas não são macaenses, então não contam. Apesar dessa decepção, todas as placas ainda são escritas em chinês e português (e, nos lugares turísticos, também em inglês), as ruas têm nomes portugueses e a arquitetura da parte antiga da cidade poderia estar em uma cidade histórica brasileira. A cidade têm se desenvolvido muito em torno dos cassinos – dizem que existem mais deles em Macau que em Las Vegas -, por isso, dormir na cidade é tão caro que decidi fazer um passeio de um dia. Uma pena, porque o ritmo da cidade (longe da região dos cassinos) me agradou muito mais. ~ 49 ~


é o Gran Lisboa, um abacaxi piscante no meio do centro da cidade. Há outros cassinos nas ilhas de Macau, mas não me dei ao trabalho de ir checar e não tinha mais tempo para conhecer a parte que dizem que é legal da ilha. Quem sabe da próxima vez…

Não se engane, Macau é muito China. As sopas de macarrão (que os portugueses traduziram como “sopa de fitas”), a carne seca doce, o peixe desidratado e as padarias chinesas estão todas lá. Mas também notei que Macau tem bem mais bolos e doces em geral que Hong Kong.

forte que protege a cidade dá para os “fundos” de Macau e para a China continental. Existem dois lagos na cidade, que foram imortalizados pelo “último escritor português da China”, _________. Mas infelizmente ninguém pode navegar os lagos hoje em dia. Bom, pelo menos eu não vi uma alma viva! Já os cassinos… Bem, eles são bregas, gigantes e áridos, como todos os cassinos do mundo. O mais mais de todos

Outra coisa que me animou na cidade é que fez sol! Pela segunda vez depois que saí da Argentina! A vista do alto do ~ 50 ~

Curiosidade: Macau tem esse nome em português porque há um templo do deus Ama bem na costa onde eles chegaram. Em chinês, “templo do deus Ama” é “Ama Gao”, o que confundiu os pobres lusitanos quando eles perguntavam (provavelmente em português, hahaha) que lugar era esse que eles tinham acabado de chegar. Agora acabaram os posts sobre a China que eu conheci! Em breve começo a contar sobre a Tailândia!


~ 51 ~


UMA VEZ NA

TAILÂNDIA C

onheço pouco do país ainda. Estive em Bangcoc e em uma ilha no sul, Koh Phangan. Mas já experimentei a simpatia, a gentileza, a doçura e a amabilidade dos tailandeses. Basta sair das ruas completamente desenhadas para os turistas (onde o que mais há é gente querendo seu dinheiro) que aparecem os sorrisos verdadeiros – quando falam palavras em comum para comunicarmos -, e o interesse em ajudar essa “gringa” perdida, muitas vezes me levando pela mão (ou de moto) até onde queria ir. E de graça, hein?, nada mais que um sorriso e um “kob kun kaa” (“obrigada” em tailandês) seguido por uma reverência de cabeça.

E a comida? Experimentei o que vendem na rua por todas partes: salada de mamão verde apimentado com legumes, arroz frito com vegetais, frango ou porco, curry verde com arroz, phad thai (um prato com vários tipos de macarrão com vegetais, carnes e ovo), sopa de leite de coco… Hmmm… Muito coentro e muita pimenta, mas eles veem a nossa cara de juninhos e maneram no picante (que continua sendo picante!). Comi também uns grilos, típicos do nordeste do país. São crocantes.. Hahaha!

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NÃO TENHA MEDO DE DESAFINAR 11 de fevereiro de 2012

O que mais gosto da gente daqui é o quanto são musicais. Sim, as pessoas também andam com seus celulares tocando música alta, mas não é disso que estou falando.

É que eles cantam. Qualquer frase pode virar uma canção. “É hora do jantar”, canta o motorista do ônibus noturno. Se estão bravos com você, a bronca vem musicada. E se você está trocando seu curativo do joelho em uma clínica e está doendo pra caralho, o enfermeiro começa a cantar uma frase em inglês, que depois repete em verso: um trecho do segundo livro da Trilogia do Anel, de J R R Tolkien.

Tá bom, Tailândia, já te amo.

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KOH PHANGAN: IF LIFE GIVES YOU BUCKETS…

15 de fevereiro de 2012

S

ituada no litoral oeste da península tailandesa, Phangan é a ilha mais movimentada da região. É aqui que acontece, todos os meses, a Full Moon Party – em todas a noites de lua cheia, dã -, mas se você não chegar lá nessa

época, não se preocupe: existem festas de lua nova, da cachoeira, da selva, de qualquer coisa. É disso que a ilha vive. Eu planejei minha estadia na ilha para dois dias antes da Full Moon e dois dias depois.

A vida é dura, hahaha ~ 54 ~

O que eu achei da festa? Praia suja, música eletrônica de má qualidade, muitos “brancos” bêbados e nenhum tailandês farreando – só trabalhando. Não consegui entender o porquê der viajar pra tão longe só pra ir a uma festa que só tem europeu querendo transar. Não seria melhor ir pra Europa? Se você acha que ainda sim vale a pena, siga meu conselho: use camisinha. Se o seu negócio não é festa com baldes e baldes de drinks (sim, eles despejam o álcool em baldinhos de areia – cuidado pra que não coloquem nada além disso neles!), a ilha


é grande e tem bons pontos para fazer snorckel e mergulho.

gar uma. É barato e o melhor

Se você sabe dirigir (de verdade! Nada de “joguei um vídeo game de moto no shopping uma vez”), a primeira coisa que você vai fazer é alu-

tante grande pra ser percor-

jeito de andar pela ilha, que tem muitos morros e é basrida em bicicleta. Carro, só se você sabe dirigir pela mão inglesa…. Se você tem o azar de não saber dirigir, como eu,

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vá direto para a praia da sua preferência e fique “ilhado” por lá (ou gaste um montão em táxis…). Fiquei em Haad Ryn, um dos melhores pontos de snorckel de Phangan.


AS RUÍNAS E O MERCADO DE AYUTTHAYA SÃO IMPERDÍVEIS SE VOCÊ QUER CONHECER A

TAILÂNDIA PROFUNDA 19 de fevereiro de 2012

S

ituada a apenas 15 bahts (+-R$1,00) e duas horas de trem de Bangkok, Ayutthaya, antiga capital tailandesa, é um lugar onde as atrações turísticas e a vida comum convivem em harmonia. Não tem gente na rua se esgoelando, querendo te vender uma massagem, um show de pompoarismo ou uma corrida de tuk tuk pelo triplo do preço, como em Bangkok. A rua dos albergues é uma rua como qualquer outra, mas com cartazes em inglês. As ruínas dos templos de tijolos de barro, algumas com 900 anos de idade, estão cercadas por prédios modernos ou sitiadas em

parques frequentados por todos. O mercado noturno tem mais tailandeses do que toda a ilha de Phangan. A ilha onde todas a coisas legais ficam está a 4 baht da estação de trem, cruzando um dos rios com um barco. Bem próximo a este píer está a rua dos hostels e também as agências que podem te alugar uma bicicleta (melhor jeito de passear pela cidade) a 30 ou 40 baht por dia. Não acredite no mapa que mostra dezenas de áreas verdes entre os templos: eles estarão rodeados de casas, a não ser o grande parque a oeste da

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ilha (o melhor lugar para ver o pôr do sol). À noite, ao redor e dentro deste parque, acontece uma feira gigante com comidas, roupas, iphones falsos, comidas, óculos de sol, ipads falsos, sapatos, comidas, bandeiras nazistas, posters do Che Guevara e – surpreendentemente – motocicletas elétricas. De Ayutthaya é possível voltar a Bangkok de trem ou ônibus ou seguir para o norte da Tailândia (que foi o que eu fiz). Já, já chego no Laos… Ah, Luang Prabang que me aguarde!


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ria dos meus novos amigos vem da Europa.

SOBRE SER UMA

TURISTA BRASILEIRA NA TAILÂNDIA 25 de fevereiro de 2012

N

ão me entendam mal, estou amando muito a minha viagem pela Ásia e as pessoas que tenho conhecido pelo caminho. Mas é preciso dizer que as experiências que compartilhamos juntos foram percebidas de maneiras muito diferentes, principalmente devido ao fato de que a maio-

Pra começar, a Tailândia é um país tropical (abençoado por deus e bonito por natureza). Isso significa que a paisagem natural geralmente é muito parecida com a do quintal lá de casa em Belo Horizonte, Minas Gerais. Algumas espécies da Mata Atlântica estão faltando e algumas flores são novidade, é claro, mas a sensação é a mesma (e reconfortante). As frutas também são as mesmas que as nossas, com simpáticas adições, como a dragonfruit, ou pitaya, o rambotam e algumas espécies que se parecem com a jaca (argh!). O maracujá é pequeno e roxo por fora, mas tem o mesmo sabor que o nosso maracujá azedo, as melancias são menores e mais redondas, algumas delas têm a polpa ama-

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rela ao invés de vermelha, e o abacate é um pouco menor do que os nossos – e os gringos acham que eles são enormes! Enquanto argentinos, canadenses, estadunidenses e europeus se cansam das refeições cheias de arroz todos os dias, eu sinto falta do molhadinho do feijão de vez em quando e estranho o curry, que pra mim era um pó amarelo, mas na verdade é muito mais variado em termos de cores, texturas e sabores. Aliás, achei feijão preto num mercado em Chiang Mai hoje – já dá pra considerar viver por um tempo na região e abrir um restaurante de feijoada! Como estou por aqui na estação seca, pode ser que eu esteja sendo injusta, mas as cachoeiras não me impressionaram até agora (pra não dizer que fiquei decepcionada). Meus amigos gringos que nunca tinham visto uma queda d’água na vida se divertiram bastante em poças que ninguém que já passeou pela


Serra do Cipó se incomodaria em parar para tirar uma foto. Não fiz uma investigação completa das praias, mas as achei bonitas como as do nordeste brasileiro. Talvez o mar seja mais verde/azul do que na Bahia, mas a única vantagem de verdade foi a falta do axé music tocado a todo volume. Quanto mais eu viajo, mais percebo como nosso país é realmente lindo. Quando voltar, quero realizar a sonhada travessia Manaus-Belém do Pará pelo Amazonas que tem sido adiada pra mais tarde e quero também conhecer Bonito e o sul do Brasil. Mas isso fica pra depois, voltemos a falar da Tailândia. As paisagens que realmente me tiraram o fôlego por aqui geralmente têm dedo humano: o pôr do sol atrás de um templo budista cheio de espelhos, barcos coloridos descendo lentamente um rio que corta uma cidade ao meio, um festival de dança tailandesa tradicional em uma escola primária, o canto de monges durante seus momentos de oração, elefantes servindo como meio de transporte (muitas vezes isso me deixa triste e fascinada ao mesmo tempo). Amo as

áreas desérticas, as planícies cultivadas de arroz, os costumes alienígenas aos nossos, o alfabeto que mais parece um monte de minhoquinhas, a língua que mais parece um canto, os monges alaranjados passando pelas ruas. Ah, e o manjericão-limão – agricultores brasileiros, importem essa planta! Disse tudo isso para reclamar da falta de guias de viagem feitos por brasileiros sobre essa parte do mundo. Na verdade, faltam opções de guias de viagem brasileiros no geral, mas a literatura escrita em português sobre a Ásia e África é ainda menos extensa do que a voltada para a Europa, Estados Unidos e América Latina. Se tratando de guias para mochileiros, rá, nem sonhando. O Lonely Planet e outros guias feitos por pesquisadores de climas temperados muitas vezes falham em apontar nuances que são importantes para nós, tropicalistas, e se perdem na descrição de maravilhas que, sejamos francos, nosso país faz igual ou melhor – ou seja: não são tão “uau” para nós. ~ 59 ~

Tudo bem, não existem tantos brasileiros passeando por aqui, mas se não há guias de viagem, menos gente se anima a viajar – o velho Dilema Tostines. E qualquer brasileiro fazendo o que muitos turistas europeus fazem por aqui é visto como a reencarnação de Marco Polo (esse sim, um maluco do bem) pelos amigos em casa. Por que não vamos tanto para as bandas de cá? As pessoas são amáveis, a estrutura das cidades é relativamente boa (padrões bolivianos, mas enfim, nada impossível e que um pouco de paciência não resolva), existem muitas rotas incríveis para turistas com todo tipo de interesses, a cultura local é fascinante e tudo pode sair muito barato – exceto a passagem de avião. Um mês é mais que suficiente para percorrer toda a Tailândia sem muita pressa e vai custar menos que uma viagem-desespero pelas “principais capitais europeias”, dessas oferecidas por agências de turismo. Pelo menos considere a Ásia nas suas próximas férias. Ela não é tão complicada quanto parece. E vale. Vale a pena.


CHIANG MAI É TÃO CONFORTÁVEL QUE É DIFÍCIL IR EMBORA 27 de fevereiro de 2012

C

hiang Mai é a principal cidade do norte da Tailândia. Ela é o fim da linha do trem que começa em Bangkok, por isso este é o meio de transporte mais utilizado pelos turistas (mas também é possível chegar até aqui de ônibus). (Um parêntesis para dizer que o trem noturno, segunda classe, foi uma das camas mais confortáveis da viagem até agora.) O centro velho é cercado por um muro, que há 700 anos foi levantado para proteger a cidade das invasões birmanesas. Hoje em dia, para dentro deste muro fica uma região de ruas apertadinhas salpicadas de restaurantes, hostels, bares, escolas de culinária, massagem tailandesa, ioga e muay thai – e casas, templos,

escolas e outras coisas de vida normal, é claro. De Chiang Mai é possível fazer trilhas pelas montanhas, tirolesas, visitar um centro que cuida de elefantes resgatados dos maus tratos, um centro que mantém tigres domesticados (e que não parecem estar sedados como os do Tiger Temple perto de Bangkok), fazer cursos, passeios de bicicleta, enfim, levar uma vida ativa – ainda que eu não tenha feito quase nada disso… Rs. É impossível falar da minha visita a Chiang Mai sem falar do A Little Bird Guesthouse, onde passei ar maior parte dos 5 dias que fiquei na cidade. Este hostel baratinho (100 baht por noite, ou 7 reais) fica bem atrás do mercado, a 5 minutos de ótimos ~ 60 ~

restaurantes, bares, lojas com aluguel de bicicletas e barraquinhas de sucos de frutas feitos na hora. A atmosfera amigável e relaxada do lugar é tipo um imã que te prende por ali. A administração é simpática, o wifi funciona bem, a área comum é confortável e os quartos são razoavelmente limpos.


É ótimo pra quem quer descansar da árdua tarefa de ser um turista por alguns dias, está afim de conhecer mochileiros e trocar informações sobre os próximos destinos. A verdade é que eu não fiz quase nada em Chiang Mai. Com meu joelho ainda machucado (acidente ocorrido em Koh Phangan, em uma cachoeira – mas calma, tá tudo bem!), não posso fazer trilhas nem molhar o curativo, então

a vibe de boa da cidade foi perfeita para fortalecer meu sistema imunológico com frutas e vegetais frescos cultivados nas montanhas ao redor da cidade e esperar meu corpo se curar.

O que eu fiz: Andei de bicicleta em volta do muro da cidade velha, deitei na grama do parque, fiz um curso de culinária tailandesa, trombei com um fes~ 61 ~

tival de dança de uma escola primária, comi, dormi, joguei cartas, conheci gente. Não me julguem pela preguiça, a culpa é de Chiang Mai!


EXERCITE SEU LADO

TILELÊ EM

PAI

1 de março de 2012

P

raticamente todo mundo que está em Chiang Mai vai para a região montanhosa de Mae Hong Son, cuja “capital” é Pai. A estrada para o local é cheia de curvas, altos e baixos (pense na estrada pra Ouro Preto, só que mais estreita), percorridos sem medo pelos motoristas das minivans que nos levam até Pai. Uma dica: se você for de minivan, sente na frente. Alguns motociclistas experientes se aventuram a fazer

o trajeto de moto. Ainda que eu entenda o porquê (existem várias cachoeiras e termas no caminho), acho que é muito arriscado, devido à inconstância da estrada e aos motoristas loucos do transporte turístico. Pai é uma cidade de mochileiros. É difícil encontrar tailandeses que não traba~ 62 ~

lhem com turismo na cidade. É uma pena que o vilarejo original tenha desaparecido, mas ainda da pra aproveitar o lugar. A vibe hippie sossegada e artística de Pai é um convite para deitar numa rede e tomar uma dose de suco de clorofila. Sério!


O hostel onde fiquei, Spicy Pai, fica um pouco afastado da cidade, em frente a uma plantação de arroz. Ele consiste em galpões de madeira com paredes de folhas. As camas são feitas com bambu (e colchões de verdade, ainda bem) e à noite a galera acende uma fogueira para espantar o frio desértico. Sim, faz frio durante a noite em Pai (pelo menos na estação seca!), enquanto os dias são escaldantes!

vel, mas refrescou e foi um bom exercício para quem passou diversos dias sedentários em Chiang Mai Em uma das noites, a galera comprou várias lanternas tradicionais tailandesas e as acendeu no campo de arroz em frente ao hostel. Fizemos um Festival das Luzes particular, já que o de verdade só acontece no segundo semestre. Muito bonito e divertido!

Para fugir do calor, a melhor alternativa é sair da cidade em busca de uma das diversas cachoeiras do Mae Hong Son. A melhor forma de chegar até elas é de moto (por que eu não sei andar?????), mas eu fui caminhando a uma delas e deu bastante certo. A cachoeira não era nada incrí~ 63 ~

Em Pai, vi artesãos, cartões postais com ares de instagram, um cara cortando o cabelo do lado de fora de um restaurante, hipsters com seus ukekeles, casas de chá, barbas e dreadlocks, uma loja de produtos orgânicos. As noites são levadas ao som de reggae nos bares que ficam abertos até de manhã e nas barraquinhas de comida vegetariana. Faltou o tambor do Maurício Tizumba: ô tilelê, tilelê ô!


O BARCO DE

HUAY XAI A LUANG PRABANG 6 de março de 2012

C

ruzar a fronteira da Tailândia com o Laos é mais simples do que os rumores que circulam entre os viajantes fazem parecer. Ouvi histórias surreais, como a de que existem fronteiras onde espertinhos montam um posto de imigração falso na frente do verdadeiro e fazem a galera pagar duas vezes a taxa do visto (que de verdade é 30 dólares para brasileiros, 1 dólar extra se for domingo, sábado, dia santo, depois do meio dia ou qualquer outra coisa…). Mas a verdade é que no ponto da fronteira que cruzei não tive nenhum problema real além de ter que lidar com o mau humor de um grupo impaciente de turistas italianos. Bom isso e com a bagunça do próprio (e real) posto de imigração do Laos em Huay

Xai, no norte – não existem filas para conseguir o visto e os turistas se aglomeram em frente a uma janelinha onde os passaportes e dólares são manuseados em um caos de mãos, papéis, fotos 3×4 e explicações sobre o porquê da taxa extra de um dólar, que não está especificada na tabela. De Huay Xai, fiz uma viagem de dois dias pelo rio Mekong até a tão esperada Luang Prabang. É uma viagem agradável, sujeita a diversas paradas em vilarejos ao longo do rio para pegar novos passageiros e lindas paisagens. Eu vi grupos de búfalos selvagens pastando, monges se banhando no rio, incontáveis crianças brincando em suas margens, gente andando de

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barco a motor usando capacete de moto, o nascer e o pôr do sol vermelho por causa da fumaça das queimadas provocadas pelos agricultores. No meio do caminho, é preciso dormir em Pakbeng, uma cidade de três ruas que enche de gente às 18h, quando chegam os barcos, e esvazia às 10h da manhã, quando eles partem em direção a Luang Prabang. O segundo dia de viagem é mais longo que o primeiro, mas a chegada no centro de Luang Prabang, à tempo de escolher um hostel e jantar no mercado noturno, me fez ter certeza de que este é o melhor jeito de fazer o trajeto. Mais tarde, ao averiguar o quanto as estradas no Laos são horríveis, abençoei mais uma vez a escolha.


FINALMENTE EM LUANG

PRABANG!

ALERTA: a maioria das fotos deste post contém monges – amo/sou seus trajes laranja! Nunca me canso.

9 de março de 2012

E

m algum momento em 2011, eu e a Cláudia transformamos Luang Prabang em uma cidade sonho, onde todos os problemas da vida, universo e tudo mais estariam em suspenso e onde não existiria nada mais a fazer do que relaxar e aproveitar a vida.

ges, coloridos em seus trajes laranja-brilhante, onipresentes.

Mal sabíamos nós que essa é a definição para o Laos inteiro, não só LPB. Vientiane, a capital do país, pode ganhar um prêmio de menor e mais de boa capital do mundo e Vang Vieng, supostamente a cidade mais festiva do sudeste asiático, tem a vibe relaxada como a de uma pequena cidade costeira na Bahia. Mas falemos desses lugares mais tarde.

A cidade é feita para aproveitar os buffets de comida de rua baratíssima e deliciosa que brigam pela sua atenção no mercado noturno e também para experimentar a

Em um ponto do Mekong é possível nadar em uma praia de água doce, tomar um sol e rir com as brincadeiras das crianças que aproveitam a tarde depois da escola.

Luang Prabang é uma cidade para deitar numa rede às margens do rio Mekong e assistir as horas passarem. Meu passatempo favorito é assistir o ir e vir dos mon~ 65 ~

gastronomia do norte do Laos em restaurantes que têm carne seca com tempero amargo e picante no cardápio. Não perca o pôr do sol do alto da montanha que fica no meio da cidade. O seu avermelhado da estação seca fica mais impressionante quando refletido no Mekong – ainda que seja preciso ignorar todos os turistas que foram lá fazer o mesmo. Em Luang Prabang existe um toque de recolher à meia


noite, o que faz a cidade murchar a partir das 22h. Os estrangeiros conseguem burlar essa lei jogando boliche (!!) das 23h até as 4h30 em alguns estabelecimentos, mas eu não fui nenhum dia pra contar como é.

de arroz para os monges. É um momento muito especial, que acontece todas as manhãs em cidades budistas theravada pelo mundo afora. Mais sobre isso nestelink. No vídeo que eu fiz dá pra entender melhor:

Preferi acordar cedo para ver o ritual budista de doação

Saí de LPB com muitas coisas por fazer e visitar… É tão

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difícil programar um dia cheio de turismos quando a própria cidade te convida a deixar as obrigações pra depois! O bom é que eu tenho ra-


PAGANDO LÍNGUA NA

CACHOEIRA DE KUANG SI 12 de março de 2012

L

embram que eu falei que as cachoeiras no sudeste asiático não me impressionaram muito? Pois é, é porque eu escrevi isso antes de ir à Kuang Si, a 30km de Luang Prabang.

Essa na verdade é UMA das cerca de 8 quedas d’água que culminam nessa beleza ali de cima. É meio difícil descrever como é tudo, então assistam esse vídeo que fiz por lá passe-

ando pelas quedas todas (acho que dá pra entender melhor a grandeza do parque!): É muito legal porque dá pra nadar e também é um lugar bem cuidado, com estrutura para sentar e fazer um piquenique, trocar de roupa, etc. Existe também uma trilha que vai até o alto da cachoeira de cima, mas não tive tempo de ir até lá… O centro de cuidado de ursos cujo trabalho eu conto no vídeo é muito sério, tivemos a sorte de encontrar um voluntário australiano que nos explicou mais sobre os esforços da ONG e sobre os animais que ela visa proteger. Eles parecem bem saudáveis e felizes. É um passeio de meio dia (voltamos às 3h da

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tarde) e vale muito à pena! Pagamos 40 mil kip (4 euros) pelo transporte de ida e volta e 20 mil kip de entrada no parque. Lá mesmo existem diversas barraquinhas de comida (mais baratas e igualmente deliciosas quanto em Luang Prabang), então nem se preocupe em empacotar coisas pro passeio.


IN THE TUBING –

Os bares ao longo de suas margens oferecem brincadeiras tentadoras e divertidas, mas algumas delas são simplesmente a pior ideia do mundo quando seus reflexos estão alterados.

Então, ó, minha dica para você que quer experimentar “the complete tubing experience”: primeiro desça o rio inteiro só apreciando a vista lindíssima e depois volte só aos bares e consuma a sua droga de escolha –e não tente descer o rio alterado! Sério!

E ah, eles serão alterados! Cada bar oferece um shot grátis e uma pulseira de macramê para que você possa contar depois quantas você tomou. Do outro lado do menu de bebidas, o “special menu”:

Bom, dito isso, vou contar mais sobre o tubing propriamente dito – ele vale a pena mesmo se você não usar nenhuma substância lícita ou ilícita.

VANG VIENG (E DOS PERIGOS DE FLUTUAR BÊBADO POR UM

RIO)

15 de março de 2012

A

h, o famoso “tubing”! Por todo sudeste se ouve falar da mítica descida do rio Nam Song em pneus de caminhão regadas a shot grátis, cogumelos, maconha, ópio e ~~outras coisas~~.

(sim, esse menu é real!)

O que pode dar errado, certo? TUDO. O rio é lindíssimo, mas perigoso – principalmente se você está chapado. Em alguns pontos ele chega a ficar muito raso e rápido na estação seca (agora) e na época de chuvas ele é simplesmente rápido e fundo. Ou seja..: há pelo menos uma morte por ano e a quantidade de gente machucada que se vê por Siem Reap não está no gibi.

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Tudo começa no cartel de agências de viagem que organizam o tubing. O preço é o mesmo para todo mundo: 50.000 kip (5 euros) pelo pneu e uma viagem de tuk tuk até o local onde começa o tubing + 60.000 de depósito – se você não devolver a bóia até 6h (acredite, depois de uns baldes é meio difícil fazer isso a tempo!) ou perdê-la no caminho, você perde essa grana. Se você quiser só descer o rio boiando (ou nadando), o tuk tuk até lá em cima é 10.00 kip. Eu escolhi fazer isso, mas não recomendo e não faria de novo no rio vazio como está hoje, porque existem alguns trechos bem rasos onde é impossível nadar. Se você quiser ir só até os bares, tá de boa, dá pra ir nadando entre eles sem (muito) risco. No começo do trajeto existem mil bares, que oferecem balanços, tirolezas, toboáguas, comida grátis (na com-

pra de um balde de drinks), sorvete caseiro, tudo para chamar a sua atenção. Os funcionários dos bares jogam uma corda para você no rio e te puxam pra margem se você quiser fazer um pit stop. Eu aproveitei para relaxar numa rede e atualizar o diário de viagens e tomar um sorvete de melancia

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Depois de muitos bares com música alta que disputam pela sua atenção, a vista vai ficando cada vez mais bonita e natural – você entende porque o tubing começou na década de 1990. Lindo, lindo, lindo! Como eu estava nadando (não tinha uma boia), houve momentos que tive que nadar até a margem e caminhar –


em outros, peguei carona com

pude apreciar a vista, conver-

(UAU!) um grupo de 7 ou 8

amigos que desciam de boia e,

sar com laosianos que sabiam

búfalos nadando no rio!

no ~ultimo trecho~, consegui

falar um bom tanto em inglês

uma carona de caiaque!

e – lucky me! – começaram a

Foi assim: dois guias de viagem

estavam

passando

pelo rio liderando um grupo de caiaque, me viram de pé na água e ofereceram uma caro-

cantar quando ficamos sem papo.

cialmente com a trilha sonora e calma dos guias (que não pediram nada em troca quando

Vimos diversas crianças (inclusive

Foi muito especial, espe-

monges-crianças

me deixaram no ponto final do tubing, devo acrescentar).

e vocês sabem que eu AMO

Que jeito tranquilo e belo

monges e seus trajes laranja)

de terminar uma jornada que

Foi sem dúvidas uma das

aproveitando o fim da tarde,

começou com Britney Spears

melhores partes do passeio:

mulheres lavando roupas e

remix no último volume.

na. AMOR <3

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ESTRADA Nº13: DE VIENTIANE AOS DIVERSOS ESTÁGIOS DO PARAÍSO 21 de março de 2012

Route 13. Ê, que delícia!

Comofazer O jeito mais fácil de viajar pela 13 é de sangthew, uma espécie de caminhonete grande com bancos atrás. As vantagens desse tipo de transporte são: 1- Você acaba por conhecer toda a galera que está no veículo e tem a chance de trocar ideia com laosianos mesmo que eles não falem uma palavra em um idioma que você conheça.

S

ão mais de 800 km de estrada asfaltada boa que saem da capital, Vientiane, quase em linha reta até a fronteira do Laos com o Camboja. Muitos turistas sem tempo (ou interesse) fazem o percurso de uma sentada só: 20h otimistas até o paraíso relaxante das 4 mil ilhas. Mas isso, além de ser masoquismo, significa perder o que eu acho que é o melhor do Laos.

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2- Você vê bem a paisagem em volta, sempre com o cabelo ao vento. 3- As paradas para um lanche ou banheiro são facilmente conseguidas e podem ser.. ahm.. interessantes. 4- Existem sangthews para todas as partes, já que é o transporte normal do Laos. Desvantagens: 1- Você pode dar azar e pegar um sangthew que está levando todos os legumes do mundo para um vilarejo. É como diz um velho ditado la-


osiano: “sempre tem espaço pra mais uma melancia no chão do busú”. Sério. 2- Depois de algumas horas, você definitivamente vai precisar de uma massagem na bunda. Meu último sangthew no país foi o mais lotado, o mais local, o mais incrível que peguei. Fiz um vídeo pra mostrar a vibe do transporte. Nota: depois do vídeo, entraram mais 4 senhoras e 53148789 melancias e todo mundo fez caber! Também viajei com ônibus público pela rota 13. Outras experiências memoráveis. Fiz este vídeo em um deles: No outro que tomei os bancos eram daqueles antigos que não reclinam e são inteiriços. Dormi apoiada no banco da frente e quando acordei havia 4 pessoas compartilhando o meu banco. E uma velhinha de mais de 80 anos sentada sobre sacos de arroz no corredor fumando um cigarro. Saúde é isso aí.

O que ver Se você se sente à vontade em uma moto, existem diversos desvios que podem ser

feitos entrando pro interior do país. Como eu não sou dessas, conto o que fiz a bordo de sangthews (lotados ou não).

Elefantes? A menos de 30 km de Vientiane existe um vilarejo chamado Ban Na, onde é possível fazer um trekking por uma reserva nacional onde vivem elefantes selvagens. Não vi nenhum, mas o trekking em si foi bastante legal. Comi formigas, nadei num rio com búfalos, dormi na torre de observação de elefantes, dei muita risada com meus novos amigos, Ingrid, Edu e Mikael. Também tive a ótima experiência do “homestay”, quan-

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do você dorme e faz as refeições na casa de uma família da região. O chuveiro era na verdade uma bilha d’água gigante com um balde para você se molhar à vontade, mas fora isso (e talvez também por isso), pude ter a ideia do que é o verdadeiro Laos. Além disso, quando você anda por uma cidade que não recebe muitos turistas, todo mundo te cumprimenta. Sabai dee (oi!) pra lá, sabai dee pra cá e você se sente a pessoa mais popular e amada do mundo.

Natureza 1 x 0 humanidade O grande highlight da minha viagem inteira até agora foi a caverna de Kong Lo. Si-


de comprimento que é trespassada por um rio. Que estalactites! Que imensidão vazia! Que bela sensação é a de chegar ao outro lado da caverna! (um minuto de silêncio em luto ao vídeo que fiz na caverna, mas deletei sem querer)

tuada meio longe da 13, eu, Ingrid e Mikael tivemos que tomar 3 sangthews até o destino final: o povoado de Kong Lo. Este lugar ainda precisa ser descoberto por escaladores, pois tem umas paredes incríveis! Porém a atração principal

O povoado em si também e uma tranquilidade sem igual. As pessoas são amáveis, o céu contém todas as estrelas possíveis à noite e a lagoa do lado de fora da caverna é muito refrescante (nadei com uns monges noviços que estavam por ali!). Enfim, definitivamente um lugar que vale o esforço. Alguns amigos fizeram um desvio de moto pela região, deve ser sensacional.

é a caverna de 7 quilômetros

Cidades grandes O centro e o sul do Laos são partes bem mais ricas que o norte. Descendo a 13, passei por Savannakhet e por Pakse. Nada muito digno de nota, mas são bons lugares pra dormir antes de seguir viagem e usar a internet, rs.

4, 40, 400 mil ilhas Finalmente, na fronteira com o Camboja, está uma região de ilhas de água doce formadas pelo rio Mekong. São um lugar para achar uma rede para chamar de minha nêga, um bom ponto de observação do pôr do sol e deixar-se levar pelo ritmo da natureza ao seu redor. Existem algumas cachoeiras na região e a outra grande atração são os golfinhos de água doce do Irrawaddy (que são cinzas e fazem aparições frequentes). Passei o Laos inteiro com nojo do Mekong só pra me banhar nele justo no ponto mais baixo da sua presença no país. Mas tudo bem, a vida é bela e o Camboja, com seus templos em ruínas, está logo ali.

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ANGKOR WHAT? UMA VISITA AOS “GOOD OL’ KHMER DAYS”

3 de abril de 2012

D

epois do Laos agrário, entrar em Siem Reap, no Camboja, e ver shoppings, restaurantes caros, sorvete italiano de qualidade, ruas bem pavimentadas e pedintes nas ruas, dá pra pensar que estamos de volta à “civilização”. De certa forma, estamos, ainda que meu hostel seja algo muito sulasiano. O motivo para estar em Siem Reap não é a sorveteira Blue Pupkin – ainda que ela tenha sido uma parte importante da viagem! -, estou aqui para ver o sítio arqueológico de Angkor. Angkor foi a maior cidade pré-industrial do mundo. Em seu apogeu, ela abrigava 1 milhão de pessoas! De 802 d.C. a 1.431 d.C., ela foi a capital do império Khmer, a maioria étnica do Camboja atual. As únicas construções que restam hoje são os magníficos templos, já que a pedra era reservada apenas para os deuses. Palácios e casas co~ 76 ~


Manuel, eu, Clau e Javi. Como não amar um lugar que tem sorvete, ar condicionado, sofás e wifi? muns eram feitas de madeira e barro – não sobreviveram ao tempo. Hoje são mais de mil templos concentrados na área onde era Angkor, ainda que a maioria esteja reduzida a uma

pilha de pedras. Há alguns templos, no entanto, que continuam de pé e impressionantes.

Bayon

Os turistas devem comprar um passe que vale por um dia (20 dólares), três dias não consecutivos (40 dólares) ou ~ 77 ~

sete dias não consecutivos (60 dólares). Comprei o passe de três dias e, como fui à bilheteria à tarde, ganhei as últimas horas do dia grátis – perfeito para assistir ao pôr do sol da ponte sobre o canal ao redor de Angkor Thom.


O trajeto que eu fiz:

Camboja e o Laos de bicicleta (sim, de Bangcoc a Vientiane em duas rodas!), mas como os templos Banteay Srei e Phnom Kulen estão fora da rota deles, fomos os 4 em um tuktuk.

Ok, confuso, mas explico.

Tarde da compra do ingresso Se você comprar o ingresso de tarde, ganha um “pôr do sol”. Aluguei uma bicicleta com um amigo suíço de nome português, Manuel, e fomos ver o templo de Bayon enquanto estava vazio – os turistas vão a outros lugares para o pôr do sol .

O Phnom Kulen, ou o “templo dos mil lingas” é na verdade uma cachoeira cujas pedras foram escavadas. Imagens hinduístas de deuses e falos (lingas) adornam o local – mas honestamente? Não tem nada de mais.

Primeiro dia

Já o Banteay Srei é outra história: o templo tem entalhes preciosos e delicados. Valeu a viagem até lá!

Um casal de amigos espanhóis, Javi e Claudia, já estavam em Siem Reap há algum tempo e lhes faltava ver os templos mais distantes. Os dois estão percorrendo o

Na volta, almoçamos em frente ao East Mebon (não entramos pra ver) e fomos ao templo mais impressionante (minha opinião!) de todos: Ta Prohm Ta Prohm está em ruínas, dominado por árvores enormes, que cresceram suas raízes centenas de anos depois que Angkor foi abandonada ao tempo.

Depois pegamos o pôr do sol na ponte norte de Angkor Thom, antigo muro do centro da cidade de Angkor, e voltamos pro hostel.

A destruição não foi causada por nenhuma guerra: foi o tempo, esse danadinho, que lentamente derrubou paredes e semeou a

~ 78 ~


COISA DEMAIS! O passe de três dias permite que você vá ao sítio arqueológico em um intervalo de sete dias, então relaxe, tire uns dias para descansar, vá fazer nada no Blue Pumpkin. É difícil aproveitar um templo quando ele é o sexto do dia, por mais incrível que ele seja.

Segundo dia O dia mais longo de todos. Nem vou me dar ao trabalho de contar tudo. O importante é dizer que o melhor jeito de visitar Angkor é de bicicleta. Você para onde quiser, fica o tempo que quiser nos lugares e é mais barato (1 dólar). Toda a região é muito plana e só está a 5 quilômetros de Siem Reap.

bela vegetação que agora domina tudo. Saímos de lá a tempo de tentar ver o pôr do sol em Angkor Wat – que não foi tão bonito quanto o da ponte no dia anterior e estava cheio de gente…

Uma consideração importante: Angkor é imenso. Não se sinta mal se não deu pra ver tudo e respeite o seu cansaço. 15 templos em um dia pode não parecer muito quando se vê o trajeto no mapa, mas É ~ 79 ~

Eu, Manuel e Mihal, uma amiga israelita que conheci no hostel, acordamos cedo para o nascer do sol: 5h já estávamos de pé. Primeira parada: Angkor Wat.


Depois fizemos uma boa parte do que chamam de “grande circuito”. Highlight: Preah Khan, o irmão do Ta Prohm (mesma época, mesmo material, o tempo também se encarregou de tomar conta dele).

E, além do lugar ser boni-

– não era preguiça, é que o sol

to, tive um bônus: ter os maus

estava muito forte… Rs. De

espíritos espantados por essa

tarde eu já estava exausta e

velhinha legal.

nem curti os poucos templos

Ao meio dia, dormimos

por onde passamos… mas

numas redes penduradas no

ainda sim foi legal encontrar

restaurante onde almoçamos

macacos!

~ 80 ~


Terceiro dia Dois dias de descanso depois, voltamos, eu e Manuel, a Angkor. Só fomos aos lugares preferidos: Ta Prohm e Bayon. Passei o dia pedalando entre os templos, uma das atividades mais gostosas da região. É meio surreal perceber que, onde hoje estão milhares de árvores, haviam casas, ruas, comidas, cheiros, lixo, barulho, risadas, amizades, brigas, enfim… uma cidade. A maior cidade da época. Não fui a nenhum outro lugar no Camboja porque tenho um voo pro Mianmar em breve. Uma pena, mas é preciso prioridades – e a minha vocês sabem qual é.

~ 81 ~


BANGKOK. BANGCOC. BANCOC. BANGUECOQUE.

กรุ งเทพมหานคร 12 de abril de 2012 S

eja lá como quiser chamar a capital da Tailândia, chame-a e seus desejos serão realizados (basta ter dinheiro, claro). Ela é o ponto de partida e chegada dos mochileiros do mundo todo, mas também é porto do turismo sexual, dos refugiados políticos do Mianmar, de estrangeiros que deixaram o “oeste” para viver o “thai dream” (também chamados de expats), dos mais pobres de todo o país (e de fora) que buscam um lugar melhor pra viver – nem sempre encontram. Palco de bizarrices, como a massagem de peixes (turistas mergulham os pés em um aquário e pequenos peixes comem o que há de pele morta), terapia de tapas para aumento de seios (não tem como ser mais específico), shows de “ping pong” (pompoarismo. Uma das atrações principais é

o jogo de ping pong com vaginas ao invés de raquetes). Este é, talvez, o lugar menos homofóbico do mundo: travestis (aqui chamados de lady-boys) trabalham vendendo o corpo, mas também trabalham nos hotéis, restaurantes, bancos, lojas e qualquer outro lugar, sem uma segunda olhada. Mas ao mesmo tempo, é uma cidade que vive em um sistema de castas, um mundo de cosméticos com “branqueador”, machismo, mulheres em busca de um “bom homem branco rico” ou, na falta, um “homem branco” que lhe faça um filho. Um país com um rei besta, que está velho e doente, mas só aparece jovem e com cara de distraído nas fotos por toda a cidade – inclusive em fotos desfocadas em outdoors gigantes, na falta de uma foto “nova” de antes de ele envelhecer. Uma cidade cortada por rios, que os utiliza bem e – juro! – não parecem tão poluídos em sua maioria. Devem estar, mas ainda não são Tietês e Arrudas, esgotos brasileiros a céu aberto (ou tristemente cobertos – solução mais fácil que a limpeza). O ar está poluído, mas os rios não. Ainda. Ou já não mais, não sei.

~ 82 ~

Milhares de templos budistas, milhares de monges laranjas, mas uma atmosfera moderna e cosmopolita. Khao San Road, o reduto dos mochileiros, restaurantes de fast food, bares na rua à noite, motoristas de tuktuks que cobram mais do que deviam, roupas baratas, massagens, souvenirs, gente, gente, gente – mais estrangeiros do que locais. E, como não podia deixar de ser, as melhores panquecas de banana do país: É com alegria e tristeza que te deixo, cidade. Você foi um lugar pra descansar entre viagens, um lugar feio e estranho em alguns momentos, uma diversão entre novos e bons amigos em outros. Te vejo da próxima vez que passar pelo sudeste! Este post foi escrito dia 3 de abril, meu último dia em Bangcoc. Estou na Birmânia no momento. Após o sinal, deixe seu comentário. Beeeeep!


MIANMAR. FATOS HISTÓRICOS, LICENÇAS POÉTICAS E CONSIDERAÇÕES POLÍTICAS 20 de abril de 2012

~~Mianmar~~Birmânia~~Myanmar~~Burma~~

O

que antes era um nome num mapa com paisagens alienígenas e pessoas desconhecidas que eu queria ver de perto agora é uma lembrança boa, um calorzinho no peito.

Para começar a entender este país, é preciso começar com alguns fatos “chatos”, que facilitam a entender este

O começo do que é a Birmânia como a conhecemos Os ingleses finalmente con-

caldeirão de etnias, disputas,

seguiram dominar o território

riquezas e esperanças.

birmanês em 1885, após duas

~ 83 ~


guerras anglo-birmanesas. O domínio deste reino se estendia pelas planícies férteis do que hoje é o Mianmar, habitadas majoritariamente pelos Bamar, e as montanhas onde outras tribos étnicas tinham relações de vassalagem mais ou menos fortes com os Bamar. Com a dominação inglesa, que durou até 1948, o território delineou-se ao que poderíamos considerar hoje como nação, ainda que os ingleses tratassem o território como um estado da Índia (e tenham estimulado a migração de indianos para a Birmânia).

mes e a disputa Burma versus Myanmar tem conotações puramente políticas.

odeiem os milicos. Aung San

Eu uso os dois nomes (e a tradução para o português, Birmânia) como sinônimos, já que notei que os birmaneses em geral também o fazem – e quando falam em birmanês, eles só usam o termo “Mianmar”, por mais que

e estandarte da democracia

Birmânia, Burma, Myanmar ou Mianmar? O nome do país, em Bamar, se pronuncia Mianmar, desde sempre. Durante o período de dominação, os ingleses transliteraram o nome em caracteres latinos para “Burma”. Os militares, em 1989, mudaram as traduções oficiais para o inglês de diversos nomes do país, inclusive de Burma para Myanmar. Inglaterra, EUA e outros países que têm forte oposição ao governo atual se recusam a aceitar a mudança arbitrária de no~ 84 ~

Suu Kyi, de longe a birmanesa mais famosa do mundo no país, se refere à sua pátria como Burma quando fala em inglês e como Mianmar quando fala em birmanês. Para ela, a mudança de tradução não foi uma mudança democrática (como tudo que foi deci-


dido pelos militares, é lógico – oi, era uma ditadura), por isso ela se recusa a dizer e escrever “Myanmar” quando se expressa em inglês.

Quem é Aung San Suu Kyi Filha do general Aung San, herói da independência do Mianmar, Aung San Suu Kyi (pronuncia-se Aung San Sú Tchi) foi condecorada com o Prêmio Nobel da Paz em 1991 pelos seus esforços em prol da democracia e direitos humanos em seu país. Chamada pelos militares simplesmente como “Daw” (em inglês “The Lady”) para dissociar seu nome ao de seu pai, honestamente a tentativa não deu certo. A galera VENERA Aung San Suu Kyi, por todas as partes do país. Ela passou mais de 15 anos em prisão domiciliar, entre 1988 a 2010, com alguns curtos períodos de liberdade no meio tempo. Sua mera presença em jornais, cartazes e, claro, ao vivo, dão esperança de que a democracia ainda é possível e que a Birmânia ainda pode ser a prometida terra de prosperidade. Pô, é um território com planícies férteis para a produ-

ção de arroz, minas de ouro, rubis, safiras e jade, gás natural, petróleo, florestas de teca e o caralho à quatro. Os governos anteriores obviamente fizeram tudo errado em termos de multiplicar essas riquezas, já que o Mianmar é um dos países mais pobres do sudeste asiático, com uma renda per capita de 208 dólares (dado de 2008). No Mianmar não existem sobrenomes, cada pessoa tem um nome único. Foi a mãe de Aung San Suu Kyi resolveu colocar o nome de seu pai ao da filha, já que ele já era uma personalidade importante no país na época de seu nascimento. O general Aung San morreu quando Aung San Suu Kyi tinha 8 anos, assassinado pouco tempo após ele haver negociado e conseguido acordos de paz com as diversas etnias do país e a independência mais ou menos pacífica do Mianmar dos domínios da Inglaterra. Seu assassinato o perpetuou como “o líder que poderia ser perfeito para o país”, claro, principalmente depois do desastre que foi a tentativa de democracia antes de os militares tomarem o poder – e da hecatombe que foram os 48 anos de ditadura, ~ 85 ~

entre 1962 a, teoricamente, 2010.

Os militares, as revoluções frustradas e a tímida abertura do país Em 1962, os militares assumiram o país para “evitar o caos” e começaram o a ladeira abaixo que foi o “jeitinho birmanês em direção ao socialismo”. Em 1988 a galera cansou da incompetência dos militares e protestou. As manifestações foram suprimidas com extrema violência: morreram cerca de 3000 pessoas em poucos dias de revolta. Aung San Suu Kyi, que estudou e casou na Inglaterra, estava no país por sorte. Ela havia ido visitar a mãe em Yangon (antiga capital do país. Os militares construíram uma Brasília pra eles em 2006: Naypyidaw) bem na época e fez discursos acalorados em repúdio aos militares. Ovacionada pela população, foi candidata às eleições de 1990 (uma tentativa dos militares de acalmar os ânimos. os caras achavam que iam ganhar) e seu partido, National League for Democracy, conseguiu 55% dos votos. Os milicos não curtiram a ideia, ignoraram


as eleições, prenderam Aung San Suu Kyi (muito importante para ser simplesmente morta) e a transformaram em heroína. Por diversas vezes lhe foi oferecido que ela viajasse para o exterior, mas é claro que ela não aceitou, por saber que não poderia voltar. Em 2007 houve a “revolução açafrão”, quando as pessoas foram novamente às ruas protestar contra as medidas arbitrárias do governo (a prisão de Aung San Suu Kyi, inclusive) e sofreram outra repressão violenta. Mas, em 2008, o referendo para uma nova e democrática constituição foi realizado. Em 2010, eleições mezzo democráticas (o NLD boicotou o pleito devido à prisão arbitrária de Aung San Suu Kyi em 2009, para evitar que ela disputasse as eleições) foram realizadas, terminando com a ditadura do país. Ainda sim, os militares tinham asseguradas 25% das cadeiras do parlamento e a maioria dos 662 assentos foram ocupados por militares e ex-militares. Em 1o de abril deste ano (sem zoeira), foram realizadas pequenas eleições para 45 dos assentos, que ficaram vagos porque alguns deputados foram nomeados para cargos ministeriais.

Aung San Suu Kyi disputou e ganhou. O NLD elegeu 43 dos 44 dos candidatos que nomeou (o que perdeu era indiano e me falaram que a população não curtiu a ideia) – mas isso não faz nenhuma cosquinha real no poder que os militares ainda têm no parlamento. O motivo verdadeiro dessas concessões ao poder absoluto são óbvias: o fim das sanções econômicas ao país. União Europeia, Estados Unidos, Japão e outros países levantaram bloqueios econômicos à Birmânia que dificultam a vida da população e atravancam o crescimento do país. A China não tem problemas reais com o governo e está crescendo seus investimen-

~ 86 ~

tos no país com velocidade impressionante, mas coisas como caixas eletrônicos ainda não existem no Mianmar. O sistema de telefonia é sofrível, a distribuição de energia elétrica é uma piada e a exploração dos recursos naturais tem sido feita com atenção zero a princípios de sustentabilidade. A vontade que os militares têm de ver o fim das sanções só não deve ser maior do que a das próprias empresas multinacionais que veem as possibilidades de mercado e investimento que o país apresenta. Eu consigo vê-los de olhos arregalados e boca cheia d’água na fronteira, como um cachorro em frente a uma daquelas máquinas de assar frango.


Por outro lado, a simples realização de eleições democráticas já faz os birmaneses reacenderem suas esperanças de que um mundo livre é possível. Pela primeira vez em 24 anos, Aung San Suu Kyi se sente confortável em deixar o país – ela promete visitar a Inglaterra e a Noruega em junho. Bandeiras do NLD são vistas por todo lugar, nas cidades grandes e pequenas. Fotos de Aung San Suu Kyi e seu pai são ainda mais onipresentes. As pessoas falam abertamente (ou pelo menos com menos medo) de seu descontentamento com o governo. Mas ainda há uma grande diferença entre democracia e o que vive o Mianmar hoje. Os militares ainda podem mudar de ideia a qualquer momento e reassumir o poder com força total. Ou conseguir o investimento econômico que esperavam e apertar o gargalo novamente. Há de esperar pra ver.

Enquanto isso, no lustre do castelo… Toda a bagunça política e econômica em que o Mianmar se encontra é esquecida quando você entra na casa de um

birmanês, senta para tomar um chá, conversa, ri, come e sorri ainda mais com a amabilidade dos anfitriões.

vermelha no chão sem muita

Por causa do seu isolamento, ou mesmo de sua natureza, a “birmanidade”, os habitantes do Mianmar querem que você tenha a melhor experiência do mundo em seu país. E conseguem. Compensam a dureza do governo com a afabilidade, as pequenas e grandes gentilezas, os sorrisos nas ruas. Andar pelas ruas do Mianmar é se sentir a Madonna: todo mundo te cumprimenta, muitos te convidam para uma conversa ao redor de xícaras de chá, te pagam almoços simplesmente porque foram com a sua cara. Por causa do ex domínio inglês, muitos velhinhos falam perfeitamente o idioma e querem te contar tudo sobre a história do país e sua cultura.

para se proteger do sol e tam-

O isolamento cultural do país faz com que os homens ainda usem os tradicionais longyi (saias. Os homens usam saias xadrezes de algodão), tenham um charuto próprio, masquem noz e folha de betel que tingem suas bocas de vermelho, deixam a boca dormente e tiram a fome (e cuspam uma saliva ~ 87 ~

cerimônia), usem o thanaka, um pó de uma casca de árvore homônima, como cosmético bém para se enfeitarem. Eu não sei como vai ficar toda essa riqueza cultural e gentileza inerente ao comportamento do birmanês depois que o ocidente “invadir a praia”. Pode ser que eles consigam preservar algumas das tradições. Outras vão virar simples teatros para turistas, com certeza. Mas, por enquanto, é tudo verdade. Tem que viver pra entender. Nos próximos posts eu juro que serei mais objetiva quanto a lugares turísticos e etc. Prometo.


NÃO VIM AQUI PARA ROUBAR… (FELIZ

ANIVERSÁRIO PRA MIM! EEE) 23 de abril de 2012

Hoje é meu aniversário! Há dois anos, postei neste blog uma contagem regressiva para meu aniversário e, no dia 23 de abril, meu desejo era fazer uma volta ao mundo! Bom, cá estou, realizando este sonho Estou muito feliz que este blog cresceu, mudou e continua me acompanhando há tantos meses! Obrigada pela paciência, leitores antigos, e obrigada pela preferência a todos os leitores! Quando estou fazendo turismo, frequentemente penso no quê poderia postar aqui, faço fotos pensando em vocês e pago mico nos vídeos porque sei que vocês vão curtir – se não curtem o vídeo em si, com certeza riem da minha cara

Bom. Como presente de aniversário não há nada que eu queira mais do que continuar rodando, rodando, rodando… E postando tudo por aqui. Então… se você curte o blog e quer me ajudar a comer peixe podre tradicional dinamarquês, ser esfregada até os ossos em um banho turco, derreter em uma sauna na Finlândia, pegar um barco coletivo no rio Amazonas, enfim, continuar essa jornada e fazê-la mais longa e cheia maluquices, doa seu trocado do ônibus pra mim? Quem quiser doar, basta me mandar um email com seu endereço (para eu enviar um postal de MUITO OBRIGADA) que eu retorno com o número da minha conta corrente ~ 88 ~

Ou então você pode encontrar com a minha mãe/irmãs/ pai e deixar as notas amassadas e moedinhas aos cuidados deles, rs. Se a grana tiver curta, aceitamos vale transporte e refeição – MENTIRA, mas seria engraçado. Se a grana tiver curta, um sorriso e ~ energias positivas ~ já ajudam – quem sabe eu não acho dinheiro na rua com a sorte que vibes estão me mandando? Ou um sugar daddy bonito, legal, que me ame, que eu o ame e ainda seja rico e queira me patrocinar? A esperança nunca morre. E calma. Os posts turísticos já voltam, com o melhor do Mianmar. Eba!


MIANMAR: MODOS DE USAR 9 de maio de 2012

C

omo eu falei no post anterior, o governo do Mianmar não é o mais legal do mundo – na verdade, ele não está nem no top 100 dos mais legais. Toda a estrutura para os turistas do país está amarrada por regras que controlam onde eles (nós) podem(os) ir, onde dormir, quais ônibus/trens/barcos tomar, como respirar, etc. O governo também cobra ingressos para entrar nos maiores destinos de turismo – um dinheiro que não vai para a conservação deles (para onde ele vai? ~~~~Mistério~~~~). É proibido dormir em mosteiros ou na casa de pessoas (prática comum em outros países do sudeste asiático). Couchsurfing, por essa razão, não rola a não ser que seja na casa de estrangeiros vivendo no país. E eu tenho quase certeza de que não é totalmente legal dar carona pra estrangeiros, mas eu peguei algumas

sem problemas e com muita alegria. De forma a financiar o menos possível esse estado controlador e não-legal com seus cidadãos, os guias de viagem que não boicotam o país pedem que os turistas usem o mínimo possível da estrutura do Estado, como hotéis do governo, barcos, trens, a companhia aérea do Mianmar. Eu fui mais além no boicote e conto aqui como evitei de pagar TODAS as taxas diretas do governo (as indiretas, como o tanto que os donos de pousadas particulares têm que pagar para a autoridade local ou a porcentagem do valor da passagem de avião que a AirAsia paga pro governo não tem como evitar mesmo).

~ 89 ~

Entrada para o sítio arqueológico de Bagan: São 10 dólares (8.000 kyat) teoricamente para o centro de conservação do local. SÓ QUE NÃO. Uma francesa no meu hotel em Yangon (a excapital do país até 2006 e, já que a atual capital é proibida pra estrangeiros, a base de entrada e saída do Mianmar para os turistas) estava no fim de sua viagem e me deu o ingresso dela. Teoricamente, ele vale durante todo o período que você estiver na região e você só precisa dele para hospedar-se em um hotel em Bagan (o formulário pede o número do ingresso, que não tem data ou qualquer coisa do tipo). O que eu fiz, quando o ônibus parou para eu comprar meu ingresso, foi mostrar o tíquete da francesa


e seguir viagem tranquila. De volta a Yangon, repassei meu tíquete a outro turista – é ou não é sustentabilidade?

Hotéis, trens, barcos do governo

Os trens e barcos são todos do

Informe-se com outros via-

de aos ônibus particulares e

Não fui ao lago Inle, mas parece que dá pra fazer o mesmo esquema de Bagan.

jantes e com locais simpáticos

transportes alternativos, tipo

se o hotel que você quer ficar

vans, caminhonetes e caro-

é do governo ou não e evite.

nas.

Entrada para a Shwedagon Paya: O maior e mais importante templo do Mianmar, que fica em Yangon, cobra uma taxa de 5 mil kyat de entrada – pagos diretamente para funcionários do governo. As 4 entradas principais, escadas lindas colocadas a norte, sul, leste e oeste da montanha onde está o templo, têm postos de venda/cobrança de ingresso. Evite-os por uma das escadas laterais que saem das trilhas que dão a volta na montanha. Não é uma questão de economia: se a consciência pesar, deposite os 5 mil kyats em qualquer uma das caixinhas de recolhimento de doações dentro do templo.

~ 90 ~

Estado, então use-os o menos possível, se usar. Dê priorida-


PEDALANDO

12 de maior de 2012

POR MANDALAY E ARREDORES

F

oram mais ou menos 32 quilômetros em um dia, mas valeu a pena. Mandalay é a segunda maior cidade do Mianmar e está situada em uma planície tranquila, cortada por rios e incontáveis templos. Ao seu redor estão três cidades muitos simpáticas e turísticas: Amarapura, Inwa e Sagaing. Escolhi percorrer tudo de bicicleta. O plano era ir pedalando e, se ficasse cansada,

jogar a magrela no teto de uma caminhonete e voltar de carona, mas acabei voltando à perna mesmo. O legal de ir de bicicleta é poder parar em qualquer biboca da estrada para tomar uma água, comer uma melancia e travar conversas com as crianças e adultos sentados nas portas de suas casas. Em Mandalay, frequentemente outros ciclistas empa~ 91 ~

relhavam a bicicleta com a minha para conversar. “Where are you from?” – invariavelmente a primeira pergunta. O mais legal que vi em Mandalay foi o mercado. Uma grande estrutura a céu aberto que ocupa diversos quarteirões e onde se vende de tudo. Uma florista me deu um cacho de flores perfumadas para pendurar no cabelo e uma vendedora de noz de betel me


deu um pouco para mastigar (é ruim e duro pra caramba, mas fui até o fim sob os olhares atentos da velhinha). Vi a correria, tentei sobreviver no trânsito caótico (e consegui!) e me diverti bastante. Na manhã seguinte, antes do nascer do sol, rumei para Amarapura. A cidade já foi capital do Mianmar em tempos remotos e abriga a ponte de madeira mais longa do mundo a U-Bein. Ela é bonita, especialmente pela manhã quando há ZERO turistas e o

sol ainda não castiga a cabeça. Ao lado do lago Taungthaman há um mosteiro gigante. Por causa de uma chuva no dia anterior, a estradinha de terra ao longo do lago estava puro barro. Eu quase afoguei na lama, mas fui “salva” por um monge que me viu e me ajudou a entrar no mosteiro para me lavar. Foi incrível entrar no mosteiro quando todos os monges estavam se lavando, rezando, preparando a refeição do dia! O meu salvador me indicou o <i>caminho do

~ 92 ~

bem</i>… ahm… o caminho de asfalto até a ponte e me deu um último conselho antes de se despedir: “faça meditação”. Atravessando a ponte, outro monge, esse mais velho, me chamou pra sentar ao lado dele em um dos bancos de descanso e ficamos de papo por uma hora, comparando a história política do Brasil e da Birmânia. De volta a Amarapura, visitei novamente o mosteiro no horário da única refeição que eles fazem no dia


(e que é uma atração turística do lugar) e rumei para Inwa. Como, no mapa, Sagaing estava mais longe, meu plano era ir só até Inwa e voltar. Mas eu perdi a entrada pra uma e cheguei na outra. Ê laiá. Só percebi que estava na cidade errada quando perguntei onde ficava o mosteiro de madeira famoso de Inwa e me disseram “uai, mas isso é em Inwa, lá atrás”. A coisa boa é que, procurando um restaurante pra almoçar, fui direcionada a um banquete

grátis que estava rolando. Comida delícia e com sorvete de sobremesa! E grátis, cheio de sorrisos! Finalmente em Inwa, cruzei o rio com um barco mega turístico (que eu achei que era o único caminho) e visitei alguns templos e etc. Nada muito UAU, mas foi um bom passeio. No Lonely Planet fala que não existem carros na cidade e que todo mundo anda de charrete – MENTIRA. Só na área turística que os motores estão proibidos. Voltando,

~ 93 ~

fiz a curva no lugar errado e me deram as instruções do caminho oficial de entrada e saída da cidade, sem ter que passar (e pagar) pelo barco. Vi várias motos e caminhonetes, rs. O caminho de volta foi difícil, mas o triunfo de chegar no hotel suada, cansada,mas a tempo de pegar meu ônibus para Pakkoku, ninguém me tira!


OS MELHORES MOMENTOS 20 de maio de 2012 NÃO SÃO FOTOGRAFÁVEIS

P

reciso confessar: estava muito difícil amar o Mianmar no começo da viagem pelo país. Em Yangon, caí no conto da troca de dinheiro na rua e perdi o equivalente a 80 dólares em um esquema desses que a gente lê nos guias e sites por aí. Pouco depois, peguei um ônibus do inferno de 14 horas onde fiquei no último banco, apertada entre uma dona de quadris largos e um jovem que, acidentalmente (??), sempre repousava a mão na minha perna (até que eu bati nela com meu livro – mas aí quem consegue dormir tranquilo?). Em Hsipaw, estava tão cansada que não fiz nada além de ler no hotel e dormir. Nem digo que visitei a cidade, é injustiça com ela. Mas depois dessa maré de azares, bad vibe e mau humor, tudo melhorou. Alguns alunos da escolha de inglês do Mr. Collins. Amigos do peito! Amei Mandalay e arredores (como contei aqui) não só

pelas atrações turísticas em si, mas também por causa das pessoas incríveis que encontrei. Gente que queria sentar comigo e bater papo, ouvir notícias do Brasil e do resto do mundo “lá fora” e contar sobre seus planos de vida, insatisfações políticas e compartilhar pequenas alegrias. A minha paranoia com dinheiro (em um país sem caixa eletrônico e que não aceita dólares dobrados – sério, têm que ser notas perfeitas, sem amassado, riscos, carimbos nem nada -, perder 80 dólares do orçamento me deixou morrendo de medo) diminuiu quando conheci gente disposta a me convidar a almoçar na casa delas, dar carona da rodoviária até o hotel e levar pra passear pelos pontos turísticos de moto. As pessoas compensam todas as chatices de um país com um governo cheio de disse-me-disse. Pakkoku, o destino depois de Mandalay, foi uma cidade onde não fiz nada digno de fotografia. Não visitei templos ~ 94 ~

incríveis, não vi paisagens impressionantes nem fiz atividades curiosas ou divertidas no sentido comum do termo. Passei dois dias ótimos na cidade exercitando a boa e velha prosa entre amigos. Fiquei na pousada de Mya Yatanar, uma senhorinha que abriu seu negócio em 1980, quando os turistas só tinham 7 dias de visto e “corriam desesperados por todos os lugares”, como ela mesma descreveu. Seu inglês é perfeito, a simpatia é infinita e a pousada é tranquila (nenhum luxo além de banheiro no quarto, mas é o lugar onde você quer ficar se passar por Pakkoku). O lugar que NENHUM turista pode perder passando pela cidade é a escola de inglês do Sr. Collins. As pessoas todas sabem onde é, basta perguntar. Cheguei lá quase de noite, em companhia de um inglês que conheci na pousada da Mya. Quando nos viu, o dono da casa onde fica a escola já ligou pros professores e alunos (em recesso por causa


do festival da água/ano novo birmanês) para que viessem conversar com a gente. A vantagem de ir a essa escola é que os alunos querem exercitar seu inglês com você e estão dispostos a explicar a cultura do Mianmar, contar histórias e comparar diferenças entre o Mianmar e nossos países. No dia seguinte ao encontro na escola, um dos professores me buscou de moto na pousada junto com outros alunos e eles me levaram por diversos lugares turísticos da cidade e atuaram como guias, serviram de intérpretes entre moradores que pareciam nunca ter visto um estrangeiro na vida, ofereceram água, comida, suco…

Em um mosteiro, pude conversar com o abade que foi um dos líderes da “Revolução Açafrão”, que começou em Pakkoku. Trocamos impressões sobre o governo “democrático” que começou em 2010 (nem ele nem eu acreditamos na democracia ainda. Mas temos esperanças), comi bananas e docinhos típicos feitos com açúcar de palmeira, ganhei um xale tradicional do Mianmar. Em outra casa, sentei com a família de uma das alunas da escola do Sr. Collins e ouvi suas histórias de vida ao som de música e dança tradicional birmanesa que tocava na televisão. E me aplicaram thanaka, a pasta de árvore que ~ 95 ~

protege do sol e serve como maquiagem tradicional do país. Vimos fábricas de sapatos tradicionais e tecidos de algodão feitos à mão. Em nenhum momento me senti forçada a comprar nada, a pagar por nada (mesmo querendo ter pagado pelas refeições me deram). Que diferença entre os países vizinhos! Como explicar (ou fotografar) a felicidade deste dia? Impossível. Recebi um longo abraço na alma dado pelo país inteiro. Foi isso.


BAGAN E SEU

MAR DE TEMPLOS 1 de junho de 2012 Bagan é uma região que ainda não está no Grande Mapa das Ruínas simplesmente porque o Mianmar ainda não é um país fácil de visitar (como já falei mil vezes aqui e não vou repetir). O local tem cacife para entrar no clube exclusivo do qual Angkor, Petra e Machu Picchu fazem parte. E com uma grande vantagem: tirando a parte chata do visto, é muito fácil de chegar e passear pelo lugar. Bagan é uma planície onde se espremem cerca de 4.400 templos (em sua maioria budistas), todos construídos entre os séculos VIII e XI a.C.

quanto porque os templos budistas da época seguiam um padrão que se repete por toda a região. Eles são, com honrosas e maravilhosas exceções, uma estrutura quadrada belissimamente decorada de um ou mais andares com uma estátua de Buda no meio, onde você pode fazer suas orações e oferendas e andar ao seu redor no sentido horário. Ou só entrar e olhar, claro.

Ok, mas cadê a graça? Além da beleza do exterior dos templos, que se repete até a exaustão? Diferentemente de Angkor, no Camboja, os templos de Bagan são melhor apreciados em sua coletividade. Qualquer topo de templo oferece uma vista incrível da planície, salpicada de torres dos outros templos e construções budistas. Dos 4 mil deles. É uma paisagem inacreditável, meio alienígena, impossível de captar com minha pequena câmera fotográfica. A planície podia ser um planeta bizarro em Star Wars, um sonho de Salvador Dalí, um capricho de um arquiteto com muito dinheiro e espaço.

A maioria deles foi construída com a mesma pedra encontrada na região e estilos muito similares. O interior dos templos não é tão interessante na maioria das vezes, tanto porque muitos afrescos foram destruídos num terremoto no século XVII, ~ 96 ~


Mas é o produto de muita devoção, riqueza e consciência pesada dos seus patrocinadores. Veja bem: é que construir templos traz bom karma, anulando, por sua vez, o karma ruim que vem da corrupção, violência, má gestão do país, etc. Haja culpa para construir 4 mil templos! Deviam ser tempos tensos para os birmaneses, mas o que ficou é sorte nossa.

Minha experiência em Bagan Passei 6 dias na região. É meio muito, mas estava “presa” por lá por causa do Thingyan, o Festival da Água e Ano Novo Birmanês, que acontece por 15 dias e pára tudo, inclusive o transporte público, por pelo menos uma semana. Sim, foi meu 3º ano novo em 2012 – e eu amo isso!

birmaneses bebam em suas casas antes de sair pra festa. Em Mandalay, dizem que a celebração é a mais louca de todas e também a mais sem limites. Mas em Bagan ela começa com o nascer do sol e termina com o fim do dia – ainda bem, porque a música repetitiva me cansou os ouvidos. Uma dica (também serve para os outros países do sudeste asiático, que comemoram o mesmo festival com algumas variações): coloque tudo que não pode molhar em sacos plásticos, inclusive sua câmera, use roupas leves que sequem rápido e APROVEITE. Molhar-se é inevitável – e está tão calor que você DESEJA a água.

A grande graça do Thingyan é molhar as pessoas. É um período em que os geralmente tímidos birmaneses saem às ruas com baldes, mangueiras, garrafas, pistolas de água, e molham a galera sem medo de ser feliz. É tipo o carnaval no Brasil, mas sem bloco de rua. E com menos álcool, ainda que os ~ 97 ~

Bom, foi nesse clima que cheguei a Nyang-u, uma das três cidades do complexo de Bagan (as outras são Old Bagan, onde fica a maioria dos templos e de onde os moradores foram não-democraticamente deslocados para dar lugar a hotéis há alguns anos, e New Bagan, para onde os moradores foram ao serem despejados) e a com os hotéis mais baratos. E a internet corre abundante como nenhum outro lugar no país.


É uma cidadezinha birmanesa simpática, com bons restaurantes daqueles com menu internacional, mas também casas de chá locais e acolhedoras. Algum desses estabelecimentos me fez mal, mas não saberia dizer qual – e tudo era delicioso que enfim… Tudo bem. As ruínas de Bagan estão por toda parte: dentro das cidades, na estrada entre elas e nos descampados ao redor. O ingresso compulsório é adquirido na estrada antes de chegar ao complexo (ou recebido de um colega viajante em outro lugar, mercado negro de boicote ao governo birmanês) e só é checado no hotel onde você escolher se hospedar. O caminho pelas ruínas é livre e, na minha opinião, melhor percorrido de bicicleta. Também é possível contratar uma charrete – mais rápido e sem esforço, mas também um alvo melhor para vendedores e mais caro. E é mais difícil convencer o condutor a espe-

rar 5 horas em um templo deserto e legal se você tiver afim (como eu fiz depois de alguns dias vendo minhas ruínas favoritas). Enfim, também dá pra combinar os dois, caso você fique dias suficientes. Há 3 estradas que rodeiam os locais com mais templos – o resto são trilhas de terra e campos de cultivo por onde você pode cortar caminho. Os templos maiores são melhor restaurados e mais bonitos por dentro, mas não dá pra subir aos andares superiores e estão cheios de turistas e vendedores. Os melhores lugares para passar o pôr do sol e as horas mais quentes do dia são os templos médios, que dão pra subir e oferecem uma boa vista. Eles são muitos, escolha um que esteja vazio e aproveite, como eu fiz. Nenhuma foto faz justiça à sensação de inospidez, beleza escondida e solidão que se sente neste lugar. É arrepian-

~ 98 ~

te e assustador, mas aconchegante ao mesmo tempo – talvez por causa do calor, que te abraça e domina. Mas aí você volta à cidade e é atingida por milhões de litros de água, jogados pelas crianças mais doces e também pelas mais levadas, pelo avô que está com elas na beira da estrada, pelo senhor distinto que sorri de sua motocicleta com uma garrafa d’água na mão, pelos jovens bêbados que passam zunando em motos que levam 4 deles de uma vez, pelas adolescentes que timidamente miram uma mangueira em sua bicicleta, pelos bombeiros que brincam com seu arsenal de combate ao fogo. É uma travessura tão doce, tão libertadora, tão inocente – mesmo quando tem ares de vingança contra a opressão do resto do ano – que não há como não sorrir, esquecer o peso dos séculos ao redor e achar um balde d’água para se defender.


~ 99 ~


INCREDIBLE INDIA! 8 de junho de 2012

“Crazy India, Amazing India, Messy India, Colorful India, Dirty India, Groovy India, Loud India, Beautiful India, Crowded India, Rich India, Poor India, Spicy India, Smelly India”… Todos os adjetivos são verdadeiros e insuficientes para definir esse país imenso, diverso, complexo, difuso, confuso, complicado… enfim – inexplicável. A melhor definição é, vejam só, a do departamento de turismo do país:

Incredible !ndia (perdoemos a exclamação brega que eles adicionaram sem precisar aí no meio) Essa introdução é pra pedir desculpa pela demora em

começar a postar coisas indianas e para dizer que eu vou ficar devendo essa no blog. Na “vida real” já saí de lá, já fui à Jordânia e estou em Istambul! Eu não consegui parar a loucura indiana para escrever e fiquei atrasada com tudo… por isso, deixo com vocês um MIL DESCULPAS, uma galeria de fotos com legendas e a promessa de que escreverei sobre a minha experiência no país quando me der tempo nessa vida. Não aguenta esperar? Rapha, Nati e Luiza viveram na India e tem muitas palavras sobre o país no blog 360 meridianos. ~ 100 ~

Varanasi, o rio Ganges e eu antes de ter intoxicação alimentar (sobrevivi até a última semana na India, mas foi inescapável…). A cidade é, surpreendentemente, muito menos bagunçada do que eu tinha imaginado. O ambiente místico, de pessoas casando, vivendo, nadando, morrendo no rio estará para sempre impressa na minha memória.


Ganesh versão alfacinha. Me divirto! As paredes com azulejos de deuses são as menos mijadas de Varanasi.

Camelos são uns dos meus animais favoritos! Cientificamente, esse era um dromedário. Andei nele no deserto de Thar, no Rajastão. A noite com a maior lua cheia do ano eu passei lá

O Rajastão é o estado MAIS ESTILOSO da India. Esse cara não estava vestido pra foto – he was born this way. Adoro os turbantes coloridos, os bigodes elaborados e os brincos de ouro que eles usam!

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Taj Mahal!!!!! Muito mais incrível que eu imaginava – confesso que estava achando que ele ia ser só um prédio branco supervalorizado, mas ele é um prédio BRANCO, BRILHANTE E SIMETRICAMENTE PERTURBADOR. Vale uma manhã só olhando pra ele com boa música nos ouvidos. Depois vá ao Red Fort ver o Taj de longe e a residência de um sultão que tinha 500 esposas. Ouiéah. (amo essa família posando pra foto atrás de mim)

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A cidade mais próxima do deserto de Thar é Jaisalmer, onde todo o centro histórico é construído com a mesma tonalidade de arenito – por isso ela é chamada de Golden City. A vaca veio pra foto seguindo o dresscode.

Johdpur, no Rajastão, é conhecida como a Cidade Azul. A maioria dos prédios do centro velho da cidade são pintadas com essa tinta anil que repele mosquitos. Sério, não fui picada por nenhum mosquito johdupuriano!

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Em uma casa de família em Johdpur havia uma placa que anunciava a aplicação de hena nas mãos. Bati, fiz a hena e ganhei 6 novas amigas que me vestiram com o sari (roupa tradicional indiana para as mulheres), me colocaram maquiagem, emprestaram pulseiras, colares e tornozeleiras só pra tirar algumas fotos (abaixo) <3

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Amritsar é uma cidade bem sem graça, mas o Golden Temple, o templo mais importante para os Sikhs, é INCRIVEL. Eles dão hospedagem e comida de graça e tem atividade e gente no tempo 24h/ dia, todos os dias do ano. É uma loucura!

E uma gotinha de Bollywood se encontra com Wando, pra fechar o fotolog!

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A ÍNDIA MUDA TUDO 13 de junho de 2012

F

alei que ia deixar a Índia pra depois, mas decidi fazer mais um post antes de cair no Oriente Médio. Não escreverei sobre os lugares e pessoas incríveis que conheci por lá – ainda que eles dessem um mês de blog. Esta é uma tentativa de compartilhar a experiência de estar na Índia. Esqueça o que você viu naquela novela.

A Índia muda tudo. Na sua maneira de encarar o mundo, de lidar com seus padrões estéticos, de compartilhar coisas e espaços, de sentir. Simplesmente. Ela muda paradigmas. Sinto que já virei uma daquelas pessoas chatas que começa frases com

“Lá na Índia…”, mas é inevitável.

mais não vai fazer tanta diferença.

Nenhum lugar é Nenhum lugar tem homais barato que na mens mais tarados que Índia na Índia

Hotel com piscina, vista boa e gente legal com quarto duplo com banheiro a 3 dólares por noite? Mercado de roupas onde é um ultraje pagar mais de dois dólares por uma camiseta de marca? Refeições com “free refil” de tudo a meio dólar (preço para turistas, o mecânico do meu lado passou R$0,30)? É possível encontrar um ou outro lugar que tenha uma das opções acima, mas só a Índia atende às três.

Para muitos indianos, mulher turista solteira ou sem o marido no momento é o mesmo que “sexo grátis ambulante”. As com “marido” também estão sujeitas a olhadas sem discrição, mesmo se estiverem usando roupas compridas e largas. E a perguntas nada discretas. Culpe a indústria pornô ocidental e a sociedade em que homens só têm contato com mulheres da própria família – e olhe lá.

Vacas que comem lixo e defecam nas ruas, cachorros brigando pelo mesmo lixo, plástico jogado pelas janelas sem cerimonia, ausência de coleta de lixo sistematizada, um permanente cheiro de chorume. Você se acostuma e até começa a jogar garrafa de água vazia no chão, na falta de opção e certeza que uma a

No metrô, no carro para mulheres, estão todas sentadas corretas no banco quando uma outra mulher manda todas arredarem e encaixa os quadris no espaço que se abre. Um banco onde cabem 2, cabem 4. Um tuktuk tem capacidade infinita, basta um pouco de aperto e ousadia. Em uma fila (quando respeitam uma

Nenhum lugar tem a noção de privacidade e Nenhum lugar é mais “espaço pessoal” mais sujo que a Índia volátil que a Índia

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fila), qualquer espaço aberto entre você e a pessoa da frente deve ser ocupado – mais um passo pra frente, ou outra pessoa vai te empurrar ou reclamar. Homens se amontoam com homens e mulheres com mulheres, no entanto. Nada de toques entre sexos, mesmo!

Nenhuma das afirmações acima é 100% verdade (uma exceção pode ser a primeira delas… Tudo tão barato!!) Vale dizer que encontrei na mesma India de homens loucos de tesão alguns que renunciaram os prazeres da carne em nome da espiritualidade. Que fiquei impressionada com a limpeza extrema do Templo Dourado em Amritsar, onde comem 35 mil pessoas por dia e milhares dormem, usam o banheiro, tomam banho… Tudo grátis e impecavelmente limpo. Que participei de uma briga com outras indianas contra gente que estava furando fila na cara dura. Que recebi muito amor de famílias que sentem prazer em te convidar para entrar em suas casas, tomar

chá, mostrar suas fotografias, seus parentes, suas vidas.

A vaca gorda que se alimenta do lixo da casa onde mora.

É o humano nas suas formas todas, com estéticas e valores que às vezes são difíceis de entender.

A beleza está colada no horrível. Cheiros bons, ruins, vagamente familiares, completamente alienígenas, cheiro de gente suada, de especiarias… A Índia é um país ciumento, que exige toda a sua atenção o tempo todo.

As mulheres gordas com seu sári colorido que deixa a barriga e suas dobras de gordura à mostra – sem vergonha dela. Os meninos miseráveis que limpam as cabines do trem com a própria blusa em frangalhos em troca de umas moedas. Os homens com seus belos turbantes fluorescentes andando de mais dadas enquanto checam os peitos da turista mais próxima.

~ 107 ~

Ame-a e deixe-se levar ou odeie-a e fuja. Não dá pra ficar indiferente. Legenda da foto que ilustra o post: Pátio de um templo hindu/casa de 4 andares onde moram 100 pessoas da mesma família/curral. Sim, tudo ao mesmo tempo.


SETE DIAS NO

21 de junho de 2012

ORIENTE MÉDIO “LIGHT” F

ui parar na Jordânia por mera casualidade.

É que pra voar da Índia à Turquia eu tinha duas opções com a minha passagem de volta ao mundo: fazer escala em Londres ou em Amman (a capital do país). Uai, entre adicionar milhares de milhas (e alguns trocados) à viagem e conhecer um país diferente, que combina o clima Oriente Médio sem a parte tensa da “Primavera Árabe”, vocês já sabem qual seria a minha escolha. Passei apenas sete dias no lugar que abriga o monumental sítio arqueológico de Petra, o lado de lá do Mar Morto, ruínas greco-romanas e das cruzadas. Além disso, a Jordânia é um país onde, apesar de a religião predominante ser o islamismo, há muitos católicos vivendo em harmonia. E

Eu e o Treasury. Gatos. ~ 108 ~


Spotted! Jordanian hipsters!

Prioridades Jornalísticas na Jordâna

é o único país que compartilha ribeira com Israel e não está em guerra com ele – israelitas viajam à Jordânia de boas, ainda que bem sempre se sintam calorosamente recebidos. As mulheres e homens muçulmanos em Amman parecem poder fazer tudo que querem: não existe polícia religiosa que obrigue as mulheres a se cobrirem, os homens de andarem na presença de uma mulher que não é da sua própria família e ambos de beber, cair e levantar (acompanhados de narguilé). É uma questão de escolha – se do marido, da família ou pessoal, aí já não sei, mas o Estado não se mete! Só não achei bacon,

mas também não procurei tão intensamente assim. Não foi dessa vez que me livrei das roupas compridas – ainda que as turistas usem short e regata em Petra, preferi respeitar a cultura local e me cobrir acima dos cotovelos e abaixo dos ombros. Foi bom também porque os jordanos estão atrás dos indianos em olhadas indiscretas, mas nem tanto. Os sete dias me deram uma comichão que me fez correr bastante entre um lugar e outro. E, no fim, fiquei com um dia e meio sobrando em Amman que poderiam ter sido usados em um bate-e-volta a Jerusalém ou em um dia de preguiça nas águas transpa~ 109 ~

rentes de Aqaba – mas que preferi usar blogando, planejando o próximo destino, comendo bem e passando pela minha região favorita da cidade: a Rainbow Street. Fiz bons amigos nestes poucos dias, tanto companheiros turistas quanto locais simpáticos e generosos. E, sem dúvida, o tempo que passei em Petra e arredores está no topo do topo da minha viagem – nenhum guia poderia ter predito o que me aconteceu lá. Tristeza? Apenas uma: esqueci meu lenço árabe lindo e maravilhoso no aeroporto saindo do país. Espero que alguém faça bom uso dele!


PETRA!

FACHADAS DESLUMBRANTES NO MEIO DO DESERTO 30 de junho de 2012

É

noite. Um caminho no meio de ruínas de pedra gigantes é iluminado por velas. Sigo por ele e logo entro por uma fenda: um canion alto, que deixa ver apenas um pouco do céu estrelado entre suas curvas sedutoras. As velas tremem com o vento suave que sopra por ali. A rocha estala, contraindo-se depois de um dia tipicamente quente de primavera. Não faz frio na trilha, mas tampouco faz o calor da tarde. De repente, o canion chega ao fim. Uma portada imensa escavada na rocha à frente é iluminada por centenas de velas. Ela é enorme, detalhada, quase impossível. Outras pessoas ao meu redor

~ 110 ~


soltam suspiros de exclamação quando percebem o que estado vendo. Sento-me na esteira à minha frente. Tomo chá de hortelã. Um homem, antes oculto pela escuridão, começa a tocar um instrumento que parece um violino. Ele canta uma canção triste, sofrida, uma canção do povo que hoje habita este deserto. Ele é seguido por outro que toca uma flauta em uma melodia mais alegre. Um fauno entre as velas, entre mim e o Tesouro. Este é o espetáculo Petra by Night, realizado toda segunda, quarta e quinta no sítio arqueológico de Petra – Jordânia. E está foi a minha primeira impressão do Tesouro, a ruína mais importante do lugar. O passeio/concerto noturno custa 12JD (dinar jordão – 1JD são US$1,50) e o ingresso diurno normal é 50JD por um dia, 55 por dois dias e 60 por três dias. Um dia e uma noite foi suficiente para ver tudo o que eu queria, mas aconselho a comprar um ingresso de dois dias pro caso de você querer voltar no dia seguinte – são 5JD a mais, 10% do valor de um novo ingresso de um dia.

Bom, e Petra by day?

Precisei de meio dia para percorrer tudo o que quis. A vantagem foi que eu cheguei já no meio do sítio arqueológico (mais sobre isso depois!), então a primeira coisa que fiz pela manhã foi subir os 300 degraus para ver o Monastério. Ele é uma construção BEM MAIOR que o famoso Tesouro, mas é menos artisticamente elaborado. Como quase tudo em Petra, o Monastério era uma tumba e vários rituais relativos à morte eram realizados na sua frente. São muitos degraus debaixo do sol, mas a subida vale a pena! Além da portada em si, a vista ~ 111 ~

lá de cima é impressionante. Vê-se as rochas antigas, onde homens das cavernas já viveram, a paisagem seca por onde tantas civilizações passaram em suas rotas de comércio, o mesmo clima que um dia Jesus, apóstolos, seguidores e inimigos sentiram, sem falar de Moisés e os profetas judeus todos. E Maomé. Será que alguma delas é a montanha do ditado? Impossível não pensar todas essas coisas olhando para os arredores de Petra. Descendo do Monastério, voltei à rua romana e perambulei por algumas das únicas ruínas que não foram escavadas da pedra – elas possuem mármore vindo da Turquia e


granito vindo do Egito! Imagine o trabalho que foi trazer essas rochas pesadas! Subi um pouco para ver outras tumbas menores (nem tenho muitas fotos) e depois rumei para o Tesouro – nosso encontro diurno ) Sério, é bonito demais! Depois voltei para a rua romana, subi um outro lugar íngreme e vi outras ruínas lá em cima. Não me lembro bem, mas era bonito. Na volta, saí pelo canion e vi algumas cavernas e ruínas depois dele, antes de sair pela entrada principal de Petra.

Tempero do passeio Honestamente, se essa tivesse sido a totalidade da minha experiência em Petra, eu teria me frustrado um pouco. Quer dizer, o lugar é bonito, mas não me tocou o coração tanto quanto Angkor, Bagan ou Machu Picchu. [aliás, um lado negativo desta viagem - já dizia meu amigo Fernando que também tá fazendo uma volta ao mundo de um ano - é que a gente vê tanta coisa incrível em pouco tempo que coisas

Uma parte da família. Bessame está no centro! <3 Uma pena que a Mariane, à esquerda, não saiu bem na foto. Eu dormia na cama com ela e a gente virou bff incríveis pero no tanto ficam menos incríveis em comparação. E que não dá tempo de digerir tudo antes de ver a próxima coisa incrível. Vida ruim, eu sei ] Mas Petra foi e será para sempre um dos lugares mais especiais que visitei. Acontece que estava no ônibus indo para lá quando conheci uma mulher beduína que me convidou para dormir na casa dela!!!! Bessame tem 30 anos, 5 filhos e está grávida de mais um. É seu segundo casamento e a família toda trabalha em Petra, vendendo souvenirs ou guiando burros e camelos pelo local. Fui amorosamente acolhida por essa família tão

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linda, que me deu casa, comida e muitas histórias incríveis para contar depois! Vi de dentro como os beduínos vivem, tanto no vilarejo construído pelo governo quanto nas cavernas, como antigamente. Sentei na rua pra comer melancia do lado de fora da casa com a a famí-


lia toda, compartilhei chás e mais chás com todo mundo, vi a transformação da roupa “da rua” toda negra que cobre o corpo todo das mulheres para as roupas coloridas e casuais do dia-a-dia de dentro de casa. O Mohammed, marido da Bessame, me levou pela manhã à Petra montada em um burrinho (e ele no camelo dele), por uma trilha especial no meio das pedras por onde os beduínos que moram no vilarejo deles (onde fiquei) vão todos os dias. Me senti como Virgem Maria no deserto indo para Belém. Essa é a verdade, hahaha. E, além de toda a experiência familiar, o fato de estar na casa de um beduíno me conferiu ótimos momentos na própria Petra: donos de lojas que moravam no vilarejo me reconheceram e chamaram para sentar e tomar chá com eles, foram mais amigáveis, não tentavam me fazer consumir coisas nas suas lojas porque deixavam de me ver como um cliente para ser alguém familiar.

Aqui vai a receita do Magluba, um prato que significa literalmente “de cabeça para baixo”, que a Bessame me ensinou. 1 cebola picada em cubos 1 cabeça de alho com os dentes picados ao meio 1 pimentão picado em cubos - refogar tudo em uma panela grande com um pouco de óleo. 1 frango inteiro em pedaços - juntar à cebola, alho e pimentão e deixar corar um pouco. Adicionar 3 litros de água e 2 colheres de curry amarelo e deixar tudo ferver bem. Enquanto isso… 3 batatas cortadas em tiras

Soldados “nabateus” vigiando a rua romana Sério, indescritível a minha sorte de conhecer essas pessoas tão maravilhosas. Coisas que só acontecem porque você diz “sim” a uma estranha em um ônibus, não é mesmo? Rs. 4 beringelas cortadas em tiras (tamanho de um dedo mindinho) - Fritar em fogo brando para que cozinhem por dentro. Separar em uma vasilha. 1 kg de arroz 1 xícara de macarrão bem fininho quebrado em pedaços pequenos (opcional) - Colocar o arroz em água para inchar por meia hora e depois escorrer a água fora. Da panela do frango já cozido, retirar a água da panela e colocá-la em uma outra vasilha – NÃO A JOGUE FORA! Coloque as batatas e beringelas fritas sobre o frango e depois o arroz + macarrão picadinho. Depois cubra tudo com a água temperadinha de novo. Cozinhar até a água secar. Quando estiver pronto, despeje tudo em uma (grande!) travessa. Sirva com tomate e pepino picados e iogurte. Coma comunalmente com as mãos se você quiser ter uma experiência true beduína.

~ 113 ~


O QUE MAIS HÁ NA JORDÂNIA ALÉM DE PETRA? 5 de julho de 2012

M

uita coisa! A Jordânia é um país pequenininho que pode ser percorrido quase todo, sem parar, em 6 horas de carro. Mas é a terra onde muitas coisas aconteceram desde a idade da pedra, passando pelos tempos bíblicos e chegando ao caldeirão ~oriente médio~ de hoje em dia. Infelizmente, só fiquei uma semana pelo país, por isso não fui à costa com corais e ótimo snorkeling (dizem) de Aqaba. Nem fui ao deserto de Wadi Rum, que um amigo disse ser o mais bonito do mundo (e onde filmaram aquele filme Lawrence da Arábia). Mas deu pra ir no Mar Morto, nas ruínas greco/romano/bizantinas de Jerash, nos castelos de Ajloun e Karak e nos mosaicos cristãos de Madaba. E deu tempo de curtir a vida noturna hispter de Amman! Sucesso, eu diria.

Como se locomover pelo país A melhor forma, em termos de conhecer pessoas (vide post anterior sobre Petra), é andar de ônibus e/ou pedir carona pela Jordânia. Aqui a carona muitas vezes é paga – é preciso negociar com o motorista – mas também é bem fácil e parte da cultura local. Como muitos carros são pickups, é fácil só jogar a mochila na parte de trás e se acomodar por lá mesmo. E não existem ônibus públicos que vão ao Mar Morto, é preciso ir até uma cidade próxima e colocar o dedo pra fora na estrada mesmo. Para ir ao Mar Morto, além da opção “carona”, também é ~ 114 ~

possível ir de taxi (70 JDs ida e volta de Amman, – help!!!) ou alugando carro. Como fiz um amigo no hostel em Amman, alugar um carro não pareceu uma má ideia e foi isso o que fizemos. As estradas na Jordânia são super boas e bem sinalizadas – o mesmo não posso dizer sobre Amman, rodamos por 1h30 até conseguirmos sair da cidade pela rodovia certa! Já os ônibus públicos intermunicipais são baratíssimos para o padrão de vida local. O mais caro custou 4 JD, de Petra a Amman, em 3h30! Só que é preciso ficar atento a quanto os outros passageiros estão pagando e entregar a mesma quantia. Um motorista desonesto me cobrou a


mais em um ônibus e eu só percebi depois – tourist price. Odeio. Uma vez em Amman, é fácil ir a Jerash, Ajloun e Madaba apenas durante o dia e voltar à capital para dormir e curtir a vida noturna da cidade (que é ~movimentada~, se você pensar que é um país muçulmano). Há quem também vá ao Mar Morto e volte no mesmo dia – são mais ou menos duas horas de carro! Mas o que eu fiz foi continuar descendo até Karak, em direção à Petra, e dormir perto do castelo de lá.

Madaba Nos guias de viagem que li por aí, a recomendação era sair de Amman o mais rápido

possível. E entrei no país com esse pensamento. Como Madaba é perto e parecia uma cidade interessante e calma, meu plano era chegar em Amman, almoçar e ir pra lá assim que possível, fazendo check-in de hotel fora da capital. Bom, conheci o Vincent, um sulafricano que mora em Omã, no ônibus entre o aeroporto e Amman e ele me convenceu a fazer check-in na capital mesmo e ir a Madaba só para passear – escolha acertada! A cidade tem uns mosaicos legais, etc, mas é só. Vimos o mapa da Terra Santa mais antigo do mundo, que é um mosaico em uma das igrejas de Madaba, depois passeamos pela cidade, comemos e voltamos a Amman. Como meu voo foi às 4h da manhã de Nova Delhi, cheguei no hotel exausta e dormi até a manhã seguinte. O hotel que fiquei por duas noites se chama Abbasi Palace e tem uma equipe legal e prestativa. Porém o segundo hotel que fiquei, quando voltei de Petra, eu achei BEM melhor!

~ 115 ~

Amman Anota aí: hotel Jordan Tower, em frente ao teatro romano. 10 JDs por noite em um dormitório limpíssimo com banheiro compartilhado, café da manhã gigante e delícia, donos muito legais, atmosfera tranquila e que favorece a interação entre os hóspedes. Existem ruínas gregas, romanas e bizantinas a serem visitadas em Amman se você estiver no clima, mas o que é imperdível mesmo é a Rainbow Street. Uma rua/região moderníssima de Amman, com bares, cafés, o primeiro cinema da cidade (que chama Rainbow, por isso o nome da rua), gente bonita e clima de azaração (ok, exagerei, hahaha).


eles escavaram tudo isso na rocha! Como pode?!!?!?” e também o feito de ser um lugar único e grandioso e impressionante.

O melhor dos barzinhos, na minha opinião, é o Books@ Café, que é uma livraria no andar térreo e um café/bar bem hype no segundo andar. Tome arak (um destilado de anis do Oriente Médio que tem similares na Turquia – raki – e na Grécia – ouzo), coma nachos, use o wifi, curta a música e fume narguilê se você for desses – é impressionante como o moderno entra em choque com a tradição neste bar.

Mas as ruínas em Jerash contém mais detalhes e mais bem acabadas em termos artísticos. Sei lá, foram minhas primeiras ruínas gregas e os nabateus, que construíram Petra, pegaram inspiração de gregos, romanos, egípcios e etc para fazer as próprias construções.

Ah, do lado do Books@ Café fica uma sorveteria delícia, chamada Dorado Ice Cream. Eles têm um sorvete não recomendável de pipoca, mas todos os outros são ótimos, hahaha.

Ajloun e Jerash Pode achar as ruínas greco/ romano/bizantinas de Jerash mais bonitas que as de Petra? Claro, Petra tem o fator “uau, ~ 116 ~

Nesta manhã, pegamos um ônibus cedinho a Ajloun, vimos o castelo (não precisa de mais que 2 horas) e descemos a Jerash, onde passamos o resto do dia passeando entre as ruínas e imaginando as pessoas que viveram naquele lugar.


Ah, existe um “show roma-

formações militares romanas.

no” no hipódromo de Jerash

Se não quiser pagar os 8JD a

que vale a pena assistir. Eles reencenam uma corrida de

mais pela encenação, dá pra

Mar Morto Dirigimos de Amman ao Mar Morto em apenas 2 ho-

bigas, algumas batalhas de

assistir quase tudo da lateral

ras. Foi um trajeto agrada-

gladiadores e demosntram

do hipódromo, eu acho…

bilíssimo,

~ 117 ~

principalmente


quando chegamos à orla do mar e ficamos observando a paisagem e Israel do outro lado.

é o mesmo que o caro dos re-

O ponto mais baixo do Planeta Terra é abafado, como seria de se esperar. O mar é LINDO! A gente flutua mesmo na água e o sal tem um gosto horrível (sim, eu provei apesar de não recomendar isso a NINGUÉM, deve ser tóxico, sei lá).

mini cachoeira de água quen-

Eu fui a um trecho do mar onde não há hotéis e resorts, para não ter que pagar pela flutuadinha. Levei 6 litros de água doce para lavar o corpo depois e mesmo assim fui até umas águas termais que estão bem perto desse trecho grátis do Mar Morto para terminar de lavar a salmoura.

Nadei de roupa porque é

Este trecho grátis e as termas grátis têm um problema: são bem sujos. Muito lixo nas margens do mar, MUITO lixo nas águas termais. Mas o mar

sorts uma vez que você entra

Karak

na água e basta ignorar o lixo

Continuando a viagem de

das termas e ficar debaixo da

carro a partir do Mar Morto,

te para lavar o sal e sair fora. Definitivamente não dá pra ficar relaxando nessas termas,

pegamos a estrada para Karak. Há um castelo ENORME lá, construído pelos cruzados

mas… paciência. Outra opção

e depois ocupado por islâmi-

é pagar. Vai fundo.

cos. Houve um momento sor-

Sobre a sensação de flutuar, só o vídeo mesmo!

te grande: chegamos às 17h30 e o castelo fechava às 17h. Mas um cara que conhecemos na

a Jordânia (alou, muçulma-

praça e que era MUITO sim-

nos!) e não quis desrespeitar

pático disse “ah, eu conheço

as regras de etiqueta do local

o policial, ele deixa vocês en-

– havia um grupo de homens

trarem se eu pedir” e pronto.

nadando ao nosso lado. Gente muito legal que foi conosco até as termas depois. Um detalhe: a água é muito ESTRANHA. É meio oleosa, tem uma textura bizarra. De-

Tivemos o castelo todo só pra nós, zero turistas! Dormi em Karak e Vincent dirigiu de volta a Amman para pegar um voo de volta a Omã. No

finitivamente não dá pra ficar

dia seguinte, peguei sozinha o

o dia todo ali curtindo ler o

ônibus a Petra e a história eu

jornal de domingo.

já contei no post anterior.

~ 118 ~


Post-scriptum Um minuto de silêncio pelo meu lenço árabe que esqueci no banheiro do aeroporto de Amman quando estava indo pra Istambul. Snif. Passamos bons momentos juntos!

~ 119 ~


BIZÂNCIO, CONSTANTINOPLA, 9 de julho de 2012 ISTAMBUL OU <3?

T

odo aquele clichê do “ocidente se encontra com o oriente” e “o passado convive com o presente” é verdade em Istambul. Ela é moderníssima, cosmopolita, tem vida cultural agitada e juventude efervescente. Mas também possui a “igreja mais inspiradora da Europa” (Hagia Sophia), mesquitas anti-

quíssimas, azulejos pintados à mão com a maior riqueza de detalhes do mundo, muros que foram derrubados e reconstruídos, mulheres de véu e sem véu, mostrando os ombros ou não e a canção mais popular do mundo islâmico, que vem das mesquitas, 5 vezes por dia.

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Os turcos em Istambul têm uma relação com a religião bem parecida com a do Brasil: existem aqueles que super acompanham, vão à mesquita, rezam todas as orações bonitinho e tal, e tem os que fizeram os rituais quando eram pequenos por causa dos pais, que vão à mesquita de vez em quando, que nem sa-


bem se vão casar no religioso ou não, que não jejuam no ramadam… enfim, um jeitinho “muçulmano não praticante”. Mas claro que essa é Istambul, imagino que outras cidades turcas tenham diversos níveis de ortodoxia que parecem mais relaxados na maior cidade da Turquia (a capital é Ancara, uma espécie de Brasília deles). Fora os programas de guias de turismo padrão, que valem a pena, como ir à Hagia Sophia, à Mesquita Azul, à Basilia Cistern, a casas de banho turco, ao palácio Topkapi, ao bazar de especiarias e ao Grand Bazaar etc, recomendo:

Passear por Taksim desprentensiosamente Desça no metrô de Taksim e caminhe pela rua Istiklal e arredores, observando os turistas e os turcos fazendo compras em lojas moderníssimas, tome um sorvete turco tradicional (Dondurma), que é mais denso do que o sorvete italiano, desça até a Torre Galata e pague para subir lá apenas na hora do pôr do sol. É bonito ver as 3 porções de água de Istambul em uma vista só: o Bosphoros, o Golden Horn e o mar de Mármara. Fique por alí durante a noite: os turcos jovens compram cerveja no mercadinho em frente e se sentam na praça, socializando com todo mundo! Rola música, rola paquera, rola bebedeira. É bem bonito de ver ~ 121 ~

e participar. Quando cansar, lá pras 2h da manhã, suba até o bar Peyotte (para drinks e música eletrônica nos fins de semana) ou o Beat (de tudo um pouco, todos os dias da semana) para uma baladinha legal. Os dois ficam por Taksim, mas não tenho ideia de como chegar lá sozinha, sorry!


Pedale pela ilha de Buyukada

turistas são de Istambul mesmo – programa super local!

Outros lugares onde tomei chá com vistas espetaculares pra cidade:

O ferry para as Princes Islands custa só 3 liras turcas (3 reais) e, em si, já é um passeio ótimo! A Buyukada é a maior das ilhas. Lá dá pra alugar bicicleta (tem que ser mountain bike, porque tem muita subida e descida no caminho!) e rodar pela ilha. Os carros estão proibidos e a paisagem é lindíssima. Mar azul, natureza, good vibes e a maioria dos

Tome muito chá, o çai, em diversos pontos bonitos da cidade

- Parque de Cihangir, o bairro hipster de Istambul (vista para onde atracam os

Na foto, Pierre Loti, um bar que fica no alto de um morro no fim do canal Golden Horn. Dá pra chegar lá com a combinação ferry + bondinho!

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navios cruzeiro no mar de Mármara) - Qualquer café na região de Moda, no lado asiático de Istambul (pode ser tanto uma vista pra própria rua, pra fazer uma observação de pessoas, ou no cantinho mais pra lá de Moda, onde há um café com vista pro Mármara e além) - Laterne, um café que tem çai de kiwi e uma vibe pracinha do lado de dentro. A vista é pra rua, observando as pessoas passarem.

Ir à Sapphire Tower, o segundo prédio mais alto na Europa Além da vista megalegal, principalmente durante o pôr do sol, eles têm um vídeo em 4D que sobrevoa Istambul e as atrações turísticas da cidade. Espirram água em vc, o banco mexe, etc etc. Divertido se você tiver um tempo a mais na cidade e amigos empolgados.

O que não fazer: Correr entre os pontos turísticos mais importantes sem olhar em volta,

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fazer cara de medo pros espetos com carne (come, é bom! A não ser que vc seja vegetariano…), pegar só metrô e ignorar as rotas à pé da cidade (que é linda só de caminhar por aí e se perder), comprar sem barganhar na primeira loja que você ver no bazaar (Istambul não é a Índia em termos de loucura de diferença entre o preço real e o que eles dizem para os turistas, mas barganhar é essencial), ficar em casa à noite todos os dias. Não tô dizendo que você precisa virar um “party animal”, mas conhecer a vida noturna dessa cidade é parte do turismo obrigatório!


CAPADÓCIA DE CIMA, DE FRENTE E DE BAIXO 13 de julho de 2012

P

rimeira coisa que me perguntavam sempre quando eu dizia que ia pra Turquia: você vai voar de balão na Capadócia, né?

Capadócia, com todas aquelas formações rochosas incríveis e – um “plus a mais”, ver os 80 balões coloridos no céu ao nascer do sol.

Juro que, no começo, eu achava que não valeria a pena. Seria caro e supervalorizado. Achava que ia me decepcionar, “ah, deve ser a mesma coisa que se vê de baixo”. Mas não! Fiquei muito feliz de ter pagado os 120 euros para sobrevoar os vales da

É uau, uau e, por favor, mesmo que seu orçamento seja bem pequenininho, corte gastos em outros lugares e FAÇA o voo! Cheguei em Göreme, uma das cidades da região da Capadócia, pela manhã depois

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de uma viagem de ônibus vinda de Istambul durante a noite. Mal fiz check-in e já saí para andar pela região. É possível alugar bicicletas (não recomendo porque é um caminho com muita areia – difícil), motocicletas (se você souber andar!!!) ou mesmo tours que te levam para todos os lugares correndo. Preferi andar por aí. As trilhas são maravilhosas e não só a chegada nos “pon-


tos chave” é bonita: o caminho oferece as chaminés de fadas, igrejas do século X escavadas nas montanhas, os criadouros de pombos antiquíssimos, cavernas-casas e paisagens incríveis.

que eu vi, dentro do museu a céu aberto de Göreme (não vale tanto a pena, há igrejas e cavernas como as do museu fora dele – e de graça). Gostei mais das pinturas do período iconoclasta, quando era proibido representar imagens de pessoas. Os padrões eram feitos com tinta à base de clara de ovo de pombo e pigmentos naturais.

Crianças, usem protetor solar, levem água na mochila e coloquem flores no cabelo. É tudo que vocês precisam para um dia perfeito na Capadócia.

Amei a vida natural da Capadócia também. Várias flores coloridas diferentes das que a gente vê no brasil. Também havia um capim que mudava de cor quando balançava ao vento! Fiquei parada um bom tempo só observando a paisagem – incrível, incrível. Passeei pelo Vale Rosa e pelo Vale Vermelho, chamados assim por causa da coloração das rochas ao redor deles. O sol estava bem quente e a única barraquinha que vendia água não tinha ninguém nela para nos atender (!), então é mesmo necessário levar as próprias provisões. Andei até o alto de um morro láaaa longe de Göreme e depois rachei um taxi (20 liras turcas – 20 reais) de volta para a cidade.

As igrejas são minúsculas! Cabem 30 pessoas na maior ~ 125 ~


Ainda deu tempo de tomar banho de piscina no meu hotel – Nirvana Cave. Recomendo! Paguei 10 liras turcas para acampar, com direito a um café da manhã tão farto que serve como almoço também. Na manhã seguinte, cedo cedíssimo às 5h da manhã, uma van veio me buscar para levar até o lugar de decolagem dos balões. Tive a sorte de pegar o único piloto (??) da Capadócia que fala português! Rodrigues, de Portugal!

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O voo acompanha o nascer do sol e o balão vai ao sabor do vento para um dos diversos vales da Capadócia. No meu dia, sobrevoamos o “Vale do Amor”, chamado assim por causa das formações rochosas em forma fálica. ~Amor~, sacou? O legal do balão é que ele parece uma coisa firme, você tem a sensação de estar no chão, MAS ESTÁ A 600 METROS DE ALTURA! Tive um pouco de medo quando finalmente percebi que havíamos saído da terra firme (já estávamos a uns 3 metros de altura quando vi). Mas depois acostuma-se e dá pra aproveitar a paisagem. Além de revisitar as rochas e cavernas que havia visto no dia anterior de outro ângulo, só olhar para o céu com todos

aqueles balões coloridos e o sol ao fundo já valem a viagem. Depois dessa aventura, voltei para o hotel, fiz o brunch com as comidas de lá – café da manhã tipicamente turco, com queijo feta, pepinos, tomates, pão, ovo cozido, mor-

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tadela.. E ainda havia cereal, iogurte, geléia e bolo <3 Passei o resto do dia sentada na beira da piscina, observando as cavernas bem em frente a ela. Vida boa é isso aí! O resto…


CIDADES

GRECO/ ROMANAS E A NECESSIDADE DA IMAGINAÇÃO 17 de julho de 2012

Depois de ~~sobrevoar~~ a Capadócia, o segundo maior programa turístico no interior da Turquia é conhecer as cidades historiquíssimas de Hierápolis e Éfesos.

Hierápolis A região também é chamada de Pamukkale, referente às piscinas naturais calcáreas formadas pelas águas termais que brotam por ali. Antigamente, Hierápolis era uma cidade para onde as pessoas iam buscar cura para seus males (ou apenas morrer em paz por ali). As ruínas gregas são bem bonitas e a cidade é relativamente grande – levei uma manhã para percorrer tudo. Mas as estrelas do lugar são mesmo as termas e a piscina do antigo banho romano que ainda funciona (e é dominada pelos turistas russos semi nus).


As piscinas naturais são branquíssimas! A água é morna e a lama branca que se acumula no fundo é boa para a pele (a minha virou um pêssego nos dois dias seguintes, incrível).

Cheguei mega cedo, às 8h da manhã, quando não havia ninguém no lugar – os tours começam às 9h30. Deu pra fazer fotos, caminhar em paz e ainda evitei o solão do meio dia que castiga o verão da re~ 129 ~

gião. Quando cheguei ao fim do sítio arqueológico que eu comecei a ver grandes massas de gente – as piscinas tão vazias nas minhas fotos estavam lotadas e os banhos romanos pulsavam ao som de músi-


te. Acho que teria aproveitado mais se tivesse ido à tarde (os tours são geralmente pela manhã e meio turno é suficiente para ver tudo, pois é uma cidade bem “condensada”). ca eletrônica e tudo era um grande clube AABB no fim de semana de BH.

E, bom, são RUÍNAS, então tem

Para chegar lá, tomei um ônibus noturno de Göreme (Capadócia) e comprei um outro que saía às 16h para Selçuk, cidade próxima a Éfesos.

Éfesos Cheguei no entardecer e só deu tempo de fazer check-in no hotel, jantar com a família do dono (<3!) e descansar. Pela manhã do dia seguinte, peguei uma van na rodoviária que vai até Éfesos. Dei azar: as ruínas estavam ENTUPIDAS de gente! Não tive muita paciência para caminhar por aí, pois era levada pelas hordas turísticas cantadas em todos os idiomas possíveis. E estava muito quen-

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muita coisa, muita coisa mesmo, que você precisa olhar na figura da placa, olhar pras pedras empilhadas, olhar de novo pro desenho de como eles imaginavam que era o prédio, e então se convencer de que os arqueólogos devem estar certos e aceitar como fato o que está escrito na placa.


O melhor conservado dos edifícios é a biblioteca, que antes era cercada por outras paredes de todos os lados – e talvez por isso tenha ficado de pé. Fachada impressionante, interior bem pequeno. Sei lá, não devia ter tanta gente que sabia ler na época, né? Vamos dar um desconto. Curti os mosaicos que ficavam na frente das lojas do bazar – cada um deles é diferente na frente de cada loja, para diferencia-las. Em Éfesos também é possível visitar a casa onde Maria, a mãe de Jesus, morreu – ela foi morar com o evangelista João depois da crucificação de Jesus e todo aquele drama bíblico. Não fui, porém dizem que é legal. Na noite deste longo dia de andanças, viajei de volta à minha amada Istambul. Não consegui escrever um post para ela ainda, essa cidade roubou meu coração!!!

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ADEUS ÁSIA,

OLÁ EUROPA! 23 de julho de 2012

Foram quase seis meses de alfabetos com caracteres estranhos, comidas com muitos temperos diferentes, cores, sons, cheiros, religiões diferentes das que estou acostumada. Milênios de história, de conflitos, de mitos e lendas que a gente, do outro lado do mundo, só ouve falar. Quando eu era pequena, a Ásia não era um lugar que eu pensava que iria visitar. Parecia tão longe, tão alienígena… Estou MUITO feliz, muito grata, por ter ido e visto tanta coisa incrível. É um continente inteiro que é pouco explorado pelos brasileiros, talvez pela distância, talvez por puro precon-

ceito mesmo. A verdade é que me senti mais segura na Ásia do que no Brasil. No quesito “violência”, ainda estamos bem atrás dos asiáticos. A barreira linguística, que me preocupava no início, nunca foi um problema. Mesmo em vilarejos onde quase ninguém falava inglês. A estrutura de hotéis, albergues, transporte para os lugares turísticos ou não, o sistema de informação relevante para quem viaja: tudo funciona mais ou menos bem, em alguns países é preciso ter mais paciência com horários do que outros, mas no fim a gente chega onde quer chegar e relaxa com um drink na mão e uma vista maravilhosa diante dos olhos. ~ 132 ~

O caminho também é incessantemente interessante: como as pessoas do local se comportam entre si, com estranhos e entre os famimliares. As cores e estilos das roupas, o tom das vozes (não dá pra entender nada da língua mesmo), o volume delas também. A música que toca incessante no auto-falante do motorista do ônibus, a família que compartilha seu lanchinho do trem com estranhos, o estilo dos 5 cidadãos dividindo o espaço de uma única moto. Agora é hora de voltar pro que é mais familiar: Europa que a gente vê nos guias de viagens todos, que a gente conhece pela televisão, pelo


jornal pela música e pela literatura. Eu sinto menos vontade de tirar fotos o tempo todo. Não porque aqui não seja interessante, mas eu já vi muitas dessas paisagens em fotografias de outras pessoas! Com certeza “exótica” não é uma qualidade europeia. Para o bem ou para o mau: não creio que conseguiria viver na Ásia (com exceção de Istambul – super moraria em Istambul! Mas ela é a mais europeia – ou mais brasileira? – das cidades asiáticas que visitei). Já a Europa.. sim, acho que conseguiria assentar raízes por aqui. Por algum tempo, pelo menos. Parece menos distante, menos difícil de acostumar para mim. A mudança de continente também veio com uma mudança do comportamento dos outros para comigo. Na Ásia, eu era tratada como western tanto por locais quanto por outros turistas. Era ocidental, farinha do mesmo saco que ingleses, alemães, estadunidenses e canadenses. Na Europa já não: sou latina! Já não sou mais western, ainda que continue sento mais do oeste do que os europeus. Não que isso sempre seja uma coisa ruim. Mas é engraçado

mudar de “status” ao sair da Ásia. Para alguns, Brasil significa “imigrantes ilegais” e um país exótico e corrupto. Para outros, significa carnaval com mulheres seminuas, violência e o desmatamento da Amazônia. Uma terceira categoria sorri e curte o Brasil pelo que me admiro nele: a música, as paisagens incríveis, a simpatia do povo. O Brasil tem das três coisas no fim das contas, né? É hora de entrar em cabeça na Europa! Adeus templos coloridos e banhados em cheiros e sons, olá catedrais imensas, silenciosas e escurecidas. Adeus arroz, olá pão e batatas! Adeus sobremesas carregadíssimas no doce, olá chocolate amargo e frutas vermelhas. Adeus cicatrizes profundas e recentes de guerras e sistemas sociais nada legais com os menos favorecidos, olá terra de altos níveis de educação formal e governos que tratam seus cidadãos como mães mimam seus filhos (e que ajudaram a criar muitas das cicatrizes dos países do primeiro grupo). Ainda que eu chegue na Europa no verão, ele não é sempre tao quente ou tão úmido quanto as temperaturas asi~ 133 ~

áticas que senti. Já comprei casacos e calças para o verão escandinavo e, pela primeira vez no ano, usarei camadas e mais camadas de roupas – e tão dizendo por aí que está calor! O que não tem mudado: a quantidade de pessoas incríveis que vou conhecendo pelo caminho. Vou visitar uma rede de amigos europeus que fiz pela Ásia este ano ou em outras viagens e mal posso esperar para fazer meu couchsurfing pessoal, só com gente que já mora no meu coração. Outros eu vou conhecendo pelo caminho, via couchsurfing.org, amigos de amigos que estão no mesmo lugar que eu de passagem ou morando, e, claro, as pessoas novas que vou conhecendo randomicamente pela rua, como sempre acontece entre semelhantes que “sentem a vibe” uns dos outros. Gentileza, simpatia e amizade não são exclusivos de uma região do mundo, ainda bem! Que venha a etapa final da viagem! *na foto: Istambul, a interseção deliciosa entre a Europa e a Ásia.


NOS ARREDORES DE MADRID, UM MOSTEIRO BELÍSSIMO E UMA VIAGEM NO TEMPO 1 de agosto de 2012 San Lorenzo de El Escorial foi o primeiro lugar que conheci fora do Brasil (aeroportos não contam!). Quando eu tinha 14 anos, participei de um programa de colônia de férias no colégio interno que funciona dentro do castelo El Escorial – hoje parte museu, parte mosteiro e parte escola. Não precisa dizer que eu, fã

que era e ainda sou, me achava em Hogwarts quando estava lá, né?

Construído no século XVI pelo rei Felipe II, o palácio parece menos com aquela coisa Disney e mais com uma grande caixa de pedra quadrada. A beleza dele está nos quartos ricamente decorados que se pode ver no museu, nos jardins e lagos e na cidadezinha charmosa que fica em volta. Eu também

adoro a catedral, situada no meio de tudo! Vale dizer que El Escorial é um Patrimônio da Humanidade segundo a UNESCO e que a minha tia avó visitou o lugar na primeira metade do século XX, em sua lua de mel! <3 Este ano, com minha amiga Arancha, espanhola e que conheci nesse intercâmbio 11 anos atrás, fui revisitar o Escorial e conferir se o castelo ainda estava por lá – SPOILER: estava!

Arancha e eu! Recobrando as calorias perdidas na Índia, hahaha ~ 134 ~


Meu quarto ficava bem à esquerda, na primeira janelinha do telhado cinza da esquerda pra direita. Pegamos um ônibus na rodoviária de Madrid e em menos de uma hora estávamos revendo o monumento que

foi o lar de tantas lembranças queridas! Fizemos tudo que costumávamos fazer na rotina do intercâmbio: . Almoçamos com o pão duríssimo, que aparentemente é um problema (ou tradição) da cidade, pois ele tinha

a mesma textura do tempo que estávamos lá. Eu me lembro que fizemos uma guerra de comida num dos últimos dias e uma menina saiu com o nariz sangrando porque tinha sido atingida por um pedaço de pão! . Tomamos sorvete na Los Valencianos, que faz os mesmos sorvetes caseiros e deliciosos do nosso tempo de intercâmbio em 2001 (e provavelmente muito antes também). . Tomamos granizado de limón!! <3 Tipo um slooshie de limão, super refrescante pro verão espanhol e o que eu tomava todos os dias nos intervalos das aulas de espanhol! . Comemos milhões de balas de goma da mesma loja que sempre esteve na pracinha de San Lorenzo.

Granizado de limón for life! Eu não tinha óculos tão legais em 2001, no entanto.

. E, pra não dizer que só comemos na nossa daytrip por El Escorial, passamos diversas horas observando o palácio e explorando o interior da escola! Era o último dia de aulas e conseguimos nos esgueirar lá pra dentro e explorar os corredores que conhecíamos tão bem.

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Essa estátua me assustava sempre quando passeávamos pelo colégio à noite, as luzes apagadas e o medo de sermos descobertas! Não entrei no museu dessa vez, porque o vi diversas vezes na primeira vez que estive em Escorial, mas super vale a pena! Me lembro que a biblioteca era MUITO impressionante, assim como os tesouros reais e quartos arrumados como eram na época. Madrid é muto bonita, uma cidade ótima de andar por aí, com muitos museus incríveis – NÃO PERCA o Reina Sofia ou o Del Prado. Mas, se tiver um tempinho extra, aproveite para relaxar em El Escorial: comer bem e ver um palácio muito legal

cercado por natureza verde e

II costumava sentar para pen-

montanhas é sempre uma óti-

sar – e a vista é maravilhosa!

ma pedida! Também dá pra

Como desta vez o clima era

fazer um trekking montanha

mais pra comer e relaxar, não

acima. No mirante final fica uma cadeira onde o rei Felipe ~ 136 ~

subi a montanha, hehehe.


BERLIM – COPENHAGEN DE BICICLETA:TENTEI E FALHEI

7 de agosto de 2012

Um pedaço perdido do Muro de Berlim na saída da cidade. Os departamentos de turismo da Alemanha e da Dinamarca criaram em conjunto um caminho especial para bicicletas entre as duas capitais. São trilhas maravilhosas quase sempre bem cuidadas e sinalizadas que passam por

lagos, rios, florestas e vilarejos simpáticos. O site da trilha (em inglês, dinamarquês ou alemão) dá todos os dados necessários para quem quer se aventurar na trilha: hotéis e campings no caminho, pontos turísticos, o mapa para o GPS disponível para download.

Como não ficar tentada a embarcar nessa viagem? Pois é. Segui as dicas de dois amigos espanhóis que estão rodando o sudeste asiático de bicicleta e fizeram uma lista do que era essencial ter. Comprei uma boa magrela de segunda mão em uma oficina mecânica, onde já fiz

Que saudade da Frida, minha bicicleta alemã… ~ 137 ~


uma revisão e aprendi a trocar um pneu furado. Comprei também mochila especial pra bike, luzes, material para reparo de pequenos problemas que podem ocorrer no caminho, garrafa d’água, enfim, tudo que eu precisaria para a viagem. Só me esqueci de um

detalhe: fazer uma auto revisão. O caminho foi incrível nos dois dias que consegui pedalar, mas meu joelho direito não curtiu o impacto dos 120 quilômetros rodados em dois dias e pediu penico. Resultado: um trem de uma cidade

O mar entre a Alemanha e a Dinamarca é preto!

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no meio do caminho até Rostock, onde fica o ferry até a Dinamarca, e uma carona até Copenhagen. Minha bicicleta e todas as coisas que havia comprado alguns dias antes ficaram de presente para meu host em Rostock que achei via couchsurfing.


Me arrependo? De maneira nenhuma! É maravilhoso ter o controle total do caminho, ritmo de viagem, tempo de paradas e onde dormir. É deliciosa a sensação de liberdade conferida pelo fato de carregar todos os pertences com a força das pernas. As decisões são todas suas, nada mais. Sem mencionar as paisagens alemãs que vi e que nenhum outro jeito de viajar proporciona (a não ser à

pé, mas aí é outra loucura). As florestas, os lagos, as framboesas silvestres que colhi no caminho. Impagável! Outra vantagem foi ter conhecido o cara que me hospedou em Rostock, que me deu todas as dicas para pedir carona em ferries e deu o empurrão que eu precisava para começar a me locomover a dedo. Foi bem útil na Noruega, meu próximo destino.

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Uma pena que o joelho agora tem mais humores que uma velha reumática, mas espero que o tempo se encarregue de terminar a cura. Não desisti da proposta, quero me recuperar, continuar andando de bike e me preparar melhor para longas distâncias (com peso extra de bagagem). Se o blog ainda existir até lá, conto tudo por aqui!


JAZZISMOS E TURISMOS PELAS RUAS DE COPENHAGEN 13 de agosto de 2012

Tive a sorte de estar na capital dinamarquesa bem durante o maior festival de jazz do país. Por causa dos sons nas ruas e nos bares da cidade inteira, vi Copenhagen dançando pelas ruas. A cidade é quieta e ordenada, como os escandinavos sabem fazer muito bem. Mas há uma vida pulsante, muitos jovens levando seus filhos para passear de bicicleta, obras de renovação e extensão do metrô quebrando tudo em diversos pontos do centro, uma preocupação com o belo, seja na arquitetura, na arte, na decisão dos lugares, nas roupas, nas bicicletas bem cuidadas. Uai, jazz é um gênero musical inteiro, com variações que vão músicas de bailinho pra

dançar junto, trilha pra fazer drama na porta chorando com a maquiagem do olho escorrendo, temas daqueles de acompanhar com a cabeça e o pé até uns barulhos experimentais para entendidos do assunto. Em qualquer uma das variações, uma coisa que não pode faltar é a alma dos músicos, espalhada pelas notas musicais em diferentes densidades.

nas performances ao vivo. Em um pequeno restaurante argentino em um lugar hipster (ok, todo lugar é hipster em Copenhagen) da turística região de Nyhavn, assisti a uma banda de jazz cigano – a trilha sonora deste post: Vendredi soir swing.

- Se algum expert em música me lê agora morre do coração ou me manda uma carta com antrax. Jazz não é bem isso, tá, mas me dá um desconto de leiga -

Bom, a cidade.

Meu coração pende para o lado do improviso rapidinho que tem uma vida especial ~ 140 ~

Carregue o Myspace deles e tente ficar na cadeira pra terminar de ler sobre Copenhagen.

Cheguei de carona com um menino de 19 anos que havia deixado a namorada em Rostock, Alemanha. Muito gentil, me deixou bem na porta da casa da minha host via couchsurfing – Roxanna uma ar-


quiteta estadunidense fazendo uma parte do mestrado na Dinamarca. Ela mora com um casal de italianos e me senti bem confortável nessa babel, que ficou completa quando outra couchsurfer de Israel chegou na casa. Preciso dizer que as noites no apartamento rendiam conversas interessantes e animadas?

Aulas de história O lado histórico de Cop foi a primeira tarefa a fazer na cidade. Seguindo a dica da Roxanna, fui ao tour guiado grátis que me fez bater uma boa perna pelo centro. O esquema existe em várias cidades europeias e você só põe a mão na carteira no fim, em forma de gorjeta para o guia. Interessou? Em Copenhagen, encontre o pessoal de roupa vermelha todos os dias na frente da prefeitura às 11h e às 13h.

história toda passou corrida, mas nunca deixou de ser interessante. Um grande mérito da organização do tour e da minha guia, a quem só dei 40 kroner (que compram duas coca colas de 500ml), coitada, porque viajo assim com o orçamento apertado. Não está incluído no tour, mas a visita à estátua da Pequena Sereia é obrigatória! Acho que falta uma referência literária maior ao lugar, sei lá – uma citação do texto de Andersen, qualquer coisa, mas mesmo assim é legal.

O tour cobre boa parte do centro, com histórias da Dinamarca dos vikings, dos reis quase todos chamados Christian, da ocupação nazista e do James Bond local, do Hans Christian Andersen e do Carlsberg (esse da cerveja mesmo). Em 3 horas essa ~ 141 ~

Relax O tour também foi bom para conhecer outros turistas, companhia para o segundo programa na cidade: conhecer o território paralelo de Christiania. Hippies e outros amantes da vida livre se refugiam da vida ultra ordenada e limpa da Dinamarca nesse bairro/país/parque que pratica as próprias leis. O comércio de maconha e haxixe é livre e tem até uma feira permanente chamada Green Light District. Senteime em um muro em frente à


postos, todo mundo (mesmo!) anda de bicicleta, quase não há sacolas de plástico.

entrada de Christiania para observar quem passava: hippies que claramente moram ali, turistas, estudantes e “quadrados” que entram furtivamente em busca da erva que eles provavelmente advogam contra em discussões públicas. Mais interessante do que a legalidade de drogas leves é o resto que compõe Christiania. Os moradores ocuparam galpões antigos e construíram casas como lhes convinha (uma se parece com uma casa da árvore amazônica, sem paredes), o mercado vende todo tipo de itens hippies importados da Tailândia e da Índia, o parque é um oásis verde e bem cuidado, a comida é mais cara lá dentro do que no resto da cidade (um lucro que aproveita a larica da galera, hahaha). As leis básicas são: estão proibidas as drogas pesadas, a violência e fotografar. Especialmente na região do Green Light District. Pois é, nada de fotos.

Comer, comer, comer A Dinamarca contemporânea é a casa do design, do estilo de vida sustentável e da gastronomia. Alimentos gordurosos e com açúcar sofrem mais im-

Junta esse sentimento eco com design e você tem pratos e talheres descartáveis de madeira nos restaurantes, cadeiras e mesas feitas com pneus e carretéis reaproveitados, lustres criativos. E não quero nem começar a falar de todos os objetos de decoração que já moram na minha casa imaginária e nas roupas que estão guardadas no meu closet imaginário dentro dela. Vamos falar de comida, mais acessível e que não pesa

Prato de papel, talheres de madeira, comida dinamarquesa com nome tão complicado que não lembro mais nem achei na internet. Hmmmm!

Me arrependo de não ter tomado um banho nos vestiários coletivos. Imagina a experiência?

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na mochila (gaste as calorias pedalando ou andando pela cidade). O smørrebrød, sanduíche aberto, é o prato típico mais fácil de encontrar. Honestamente, acho essa tradução muito ruim porque, pra mim, sanduíche pressupõe dois pedaços de pão com um recheio. Eu traduziria smørrebrød para bruschetta – uma torrada com cobertura. Mas ele é mais pesado que isso… e não é gratinado no forno… Enfim, qualquer que seja o nome, o trem vem em vários sabores e é geralmente bom. Comi muitos pratos com batata e fiquei longe dos com arenque fermentado, mas hoje me arrependo –

vai que o peixe podre é bom. (????) Fica pra próxima. Segui as dicas gastronômicas do Seth Kugel, na sua coluna no NYTimes.

Museu, biblioteca e parquinho Completei meu tour visitando algumas atrações culturais. O Museu Nacional (foto abaixo) é grátis e apresenta uma mostra muito bonita e interessante de achados arqueológicos que contam a história da Dinamarca desde a idade da pedra. Existem outras exposições, mas a de arqueologia era tão grande e

Diamante Negro – parece nome de navio pirata, mas é biblioteca legal que passei 3h30 nela e depois já não queria ver mais nada de museu. É um lugar onde definitivamente quero voltar! Depois, fui a uma das bibliotecas mais bonitas do mundo, a Black Diamond, ou Biblioteca Real de Copenhagen. Putz. Até quem não curte arquitetura vai ficar impressionado com o edifício e a vista lá dos últimos andares. Estudar nela deve ser delicioso, as cadeiras parecem ser muito confortáveis. Por último, comprei um ingresso para o Tivoli, o segundo parque de diversões mais antigo do mundo. O primeiro também é dinamarquês e fica em outra cidade. O ingresso só dá direito à entrada no parque e não me animei a pagar para andar em nenhum brinquedo, mas se tivesse tempo e mais uma grana escolheria a montanha

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russa de madeira, o brinquedo mais antigo do parque, da época de sua fundação!

Música Entre esses programas todos que descrevi acima fiz várias paradas em shows de jazz. Diversos artistas, locais ~ 144 ~

abertos e fechados, ritmos diferentes dentro do mundo que é o jazz, um fator em comum: muita, muita gente disposta a ouvir e aproveitar, mesmo debaixo de chuva.


O QUE VOCÊ PRECISA SABER PARA FAZER UMA

FELIZ PELA

VISITA

NORUEGA (E

SEM ESTOURAR O ORÇAMENTO!)

21 de agosto de 2012

Sempre tive uma vontade inexplicável de visitar a Noruega. Uma fascinação por esse país que eu nunca soube de onde veio e o porquê. Em minha primeira volta ao mundo (é, já chamo de Primeira porque outras virão, ai de mim se não), é claro que ela tinha que estar na lista! Mas como proceder em um país com a fama de ter a capital mais cara da Europa? Vale o esforço? FATO: chove muito, o conceito deles de verão é 20°C e tudo é caro pracaráleo. Mas, em compensação, abre um solzinho e a norueguesada sai sorrindo nas ruas, feliz que nem comercial de margarina. Pra economizar, preparese para comprar de tudo nos supermercados e abrace seu lado tilelê: você tem o direito de acampar em qualquer espaço público a mais de 200m

Vigeland Park com as amigas mais malucas do Mar do Norte <3 de uma residência. Então, se o couchsurfing falhar… Ó, esses 20 dias que passei por lá quebraram todas as expectativas. Fuja das hordas de turistas japoneses, compre uma churrasqueira descartável e aproveite a Noruega como fazem os noruegueses! ~ 145 ~

Eles não se deixam abalar por uma tempestadezinha de neve. O ditado que mais ouvi no país é: “Não existe isso de ‘ tempo ruim’, mas sim ‘roupas inapropriadas’”. Eles têm até um conceito maluco de “jardim de infância ao ar livre”, que deixa as crianças do lado de fora O-Tempo-Todo, faça


chuva ou faça neve, a não ser que as temperaturas baixem para menos de -15°C. Acho doido – the viking way to raise kids. Em Roma como os Romanos: empacotei meu casaco impermeável, meu suéter de lã, minha barraca e meu saco de dormir e fui curtir um verão no norte do planeta. Antes mesmo de saber o que era a Europa eu já curtia os vikings e meu filme favorito quando criança eu descobri mais tarde que é norueguês – uma adaptação de um conto de fadas complicado chamado O Rei Urso Polar que sabese-lá-por-que-deus a locadora lá perto de casa tinha (nem minhas amigas norueguesas conheciam o filme, ainda que o conto de fadas lhes seja familiar). Mais tarde, influenciada por um tio muito querido que sempre alimentou a minha fome de livros, conheci Jostein Gaarder, autor norueguês de diversas obras que estão entre as minhas favoritas e cujo título mais famoso é O Mundo de Sofia. A paixão platônica era tanta que até um

pouco de norueguês eu tentei aprender quando tinha 16 anos (infrutiferamente). Bom, continuo sem saber exatamente porque meu coração é da Noruega e não da Suécia, Dinamarca, Islândia ou Irlanda, só pra citar alguns países de culturas similares. Mas meu amor só aumentou. Ainda que a escandinávia não seja muito famosa por ter um povo caloroso, essa fama tem que mudar, pois só recebi amor de seus habitantes – do Oslo Opera House

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caixa do supermercado sempre com um sorriso no rosto ao fazendeiro simpático que dirigiu 30 quilômetros a mais para me deixar num lugar melhor para conseguir a próxima carona rumo a Trondheim. Sem falar dos amigos de verdade que fiz por aqui <3

Valeu a pena? Vou deixar vocês decidirem pelas fotos abaixo:


Fazendo amizade com o folclore local – Bergen (no intervalo de aproximadamente 56 segundos entre uma chuva e outra)

Geirangerfjord, o mais pop dos fiordes noruegueses – com todos os motivos justificados

Trondheim, uma cidade cheia de água e história

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Hestmona, ilha cortada pelo cículo polar ártico e onde passei 10 dias como voluntária em uma fazenda orgânica

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~ FIM?~ Até a data de impressão deste livro, esses eram os posts publicados no blog eusouatoa, mas a viagem continuou por outros destinos. Para tudo que ainda falta e para os amigos que estão pelo caminho, muitas páginas em branco ainda por vir!













































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