Saracura Benzedeira __________________________________________________________________
Arte de Curar no Cerrado
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O relato dos saberes de Saracura Benzedeira revela os diversos significados da vivência de mulheres, onde sua atuação vai além do uso de plantas medicinais do Cerrado, pois mostra as diversas conexões entre a espiritualidade, a cultura e o meio ambiente. O cordel, inicialmente de expressão oral, era impresso em folhetos rústicos que ficavam pendurados em cordéis (daí a origem do nome), em praças e feiras. Tem linguagem rimada podendo conter ilustrações como xilogravuras, desenhos ou colagens que expressam o imaginário popular sobre o tema abordado. A poética cordelista aqui apresentada é uma forma lúdica de propor uma narrativa popular do uso de plantas medicinais pelas benzedeiras. As informações foram obtidas através de entrevistas e pesquisa bibliográfica e mostram o universo simbólico da benzeção e da pessoa atendida. O cordel “Saracura Benzedeira” inclui fatos do cotidiano associados a lenda e religiosidade, através de uma linguagem simples com traços do vocabulário cuiabano. Divulga a “Arte de Curar do Cerrado”, propiciando, ao mesmo tempo, sensibilização, informação, resgate cultural das tradições e valorização deste saber e da biodiversidade, tudo entrelaçado pela esperança e unidos pelo fio da Fé por uma saúde e um mundo melhores.
Saracura, cura e sara!
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1 Atenção peço aos Senhores! Uma estória vou contar. É a lenda da Saracura, A mulher que vou falar. Benzedeira e curandeira. O Cerrado é seu altar. 2 Mulher forte e guerreira Disque na lua minguante Se transforma em ave Bela, pernalta e saltitante. À noitinha canta alto Pra vir chuva abundante: “três-potes um coco um coco três-potes um coco um coco”
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3 A água que cai do céu No chão seco do Cerrado Faz brotar o remédio Que estava enterrado. Saracura dá a quem precisa Da doença ser curado 4 Das raízes encontradas Faz remédio pra sarar. Com folhas abençoadas, Todo mal vai retirar. Curando vidas sagradas Através do seu rezar. 5 As pessoas que procuram Essa mulher do Cerrado Querem retirar mandinga, Arca caída, mau oiádo. Ela benze com Vassourinha Reza Pai Nosso e tá curado! Arte de Curar no Cerrado
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6 Ninguém tá livre da dor E nessa humanidade Falta pra muita gente Amor e solidariedade. Sara quem tem no coração Fé, gratidão e irmandade. 7 Saracura pede sabedoria Pra Cosme e Damião, Meninos que vêm do céu Sabidos, com livro na mão Pra auxiliar na cura E trazer inspiração. 8 Ela faz sua oração. Saracura, cura e sara! Espia’qui povo do bem, Saúde é coisa rara. Se alegra quem tem. Se falta a vida para. Arte de Curar no Cerrado
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9 Saracura vai no jardim Buscar força e proteção. Sabe que remédio usar Pra acabar com a aflição, Com a Natureza aprendeu Que caridade é doação. 10 Na casa da Benzedeira É entra e sai o dia inteiro. Chega uma senhora Com muita dor no trazeiro, Que parece ser ciático, Seu remédio tá no canteiro. 11 Saracura pede licença Pra usar planta que cura. Da Mãe Natureza Ela cuida com ternura. Colhe sempre o que for usar E a abundância perdura. Arte de Curar no Cerrado
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12 Ela prepara um linimento Com Guiné e Açafrão. Essas raízes unidas Tratam da inflamação. Mistura as duas tinturas Na compressa e fricção. 13 Mistura a raiz com o álcool, Espera, coa e depois guarda. Cada uma com sua qualidade Xispa com a dor que alarda, E a Guiné mata mau oiádo Feito tiro de espingarda 14 Se precisar de mais planta, No quintal tem de montão: Boldo, Caninha do Brejo Ata, Amoreira e Mamão. É só cuidar do jardim E vai ter sempre proteção. Arte de Curar no Cerrado
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15 Quá! A planta vira veneno Se a espécie não acertar, Ela será sempre remédio Quando bem souber usar. Se não tiver certo cuidado Uma dose alta pode matar. 16 Por isso não acredite “Que natural não faz mal.” Saracura vai ensinando O cuidado ambiental, A escolha certa da planta No jardim medicinal. 17 Chega um moço dizendo: “Nem sei o que me deu, Hoje tô demais de fraco...” Contando o que sucedeu. Diz que a tosse tá brava Do vento frio padeceu. Arte de Curar no Cerrado
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18 Saracura Benzedeira Sai para buscar mel. Pega seiva de Jatobá Que é amarga como fel. Mistura com Cambará Reza olhando pro céu. 19 Faz chá de Assa-Peixe Que usa na pneumonia. Mas se tiver sinusite, Que dá dor e agonia, Usa a Buchinha Que depois sente alegria. 20 “E ah! Teve festa no terreiro. Maria Isabel e peixada Na casa do Nhô Freire. Tem gente empaxada.” Usa Calunga e Fedegoso E com vinho faz garrafada. Arte de Curar no Cerrado
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21 Presta bem atenção! Quando for fazer o quilo Se o estômago queimar, Pra ficar mais tranquilo, Usa a Espinheira Santa. Pode tomar sem vacilo. 22 Como a junta tá doída Depois do rasqueado, Pra sara usa as plantas, Pois dançou adoidado. Coloca pinga nas raízes Três delas dá resultado. 23 Carobinha, Sucupira, Junta a Mama Cadela, Rala tudo direitinho E põe pinga na panela Esquenta, coa e adoça Guardando numa tigela. Arte de Curar no Cerrado
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24 Se com o rebuça e chuça O fogo não ascendeu? Usa Guaraná, Alecrim, Nó-de-Cachorro e deu. Põe de molho no vinho E cumpre o que prometeu. 25 Faz uma garrafada Pica em pedacinho Usa em partes iguais Ajeita tudo direitinho Aí coloca vinho branco Usa só um copinho. 26 Mas se o sangue tá sujo E precisa purificar, Um bom depurativo Tá na hora de tomar. Três ervas e raízes, Nada mais vai precisar. Arte de Curar no Cerrado
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27 Raiz de Salsaparrilha, Foia do Chapéu de Couro, Acrescenta raiz de Velame Mistura que vale ouro Se quiser põe Carapiá. O sucesso é vindouro. 28 “Saracura benzedeira Dona Menina vem curá. João tá demais de quente, Fiz de um tudo pra sara. Foi catar mamão verde E pegou sol de ratchá.” 29 “Espia! O Furrundú tá pronto, Mas ele tá com malina E num sei o que dá.” Sinhá diz: Dá Negramina Faz o chá pra banha. Nem precisa de Aspirina. Arte de Curar no Cerrado
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30 “A mulher tava prenha, O resguardo foi quebrado. Vôte! Agora piorou!” Então faz açúcar queimado, Com vinho, Quina Genciana, Arruda e Sene um bocado. 31 “Quá! Agora que será? Saracura benzedeira, Eu tô demais de apurada. Meu filho tá sem graceira.” Dê doce Amaro Leite É verme essa leseira. 32 “Dona Menina Santa O derradeiro machucou, Perna tropeçou no mocho. O osso será que quebrou?” Se for só uma pancada Com álcool de Arnica sarou! Arte de Curar no Cerrado
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33 Se for osso quebrado, É bom de imobilizar. Faz melote de Aroeira Para o osso bem soldar. Isso é digoreste! A moagem vai acabar. 34 “Espia’qui Siminina Tô demais de azarado Alivia minh’alma Tá tudo dando errado”. Põe na porta de casa Um vaso consagrado. 35 Sete plantas, faz simpatia. Muita sorte há de ter. Com fé e sabedoria Só o bom vai acontecer. Pratique sempre o bem Que Deus vai te proteger. Arte de Curar no Cerrado
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36 Vôte! Muito foi dito. Saracura Benzedeira Tá na hora de calar. Isso não é brincadeira E pra saber dessa Arte Tem escola certeira. 37 O conhecimento vem De geração a geração Mas pra ser a escolhido Não é qualquer um não Pra saber a arte da cura Tem que ter um dom. 38 Todo o estudo do livro Auxilia a memória Paciência, Humildade e Fé Tem que ter na oratória Amar a si e ao próximo Essa é a grande vitória! Arte de Curar no Cerrado
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BEZEÇÃO E SIMPATIA A benzeção é um ritual e o benzendor seu medidador, possibilita estabelecer relações de solidariedade e de aliança com a espiritualidade do plano espiritual superior e com os seres vivos deste planeta. Herança dos portugueses que ao chegarem ao Brasil e foram influenciados pelos índios e africanos, prevalecendo esta prática sobretudo em mulheres que agregaram à religiosidade o conhecimento do uso de plantas medicinais. Cada benzedeira tem uma forma própria de benzer, que apresenta um conjunto de saberes que variam de região para região, entrelaçados pelas características culturais e ambientais. Tratam de doenças do corpo,
doenças emocionais e espirituais, estabelecendo um
envolvimento mútuo e consequentemente uma relação afetiva com o doente. A arte de curar das benzedeiras envolve conhecimentos acumulados ao longo do tempo, transmitidos oralmente de geração à geração e que fazem parte do cotidiano de pessoas que muitas vezes não frequentaram a escola regularmente, entretanto seu saber independe do ensino formal, pois é um dom dado por Deus. O conhecimento é passado para outra pessoa quando sente que está próximo o fim de sua existência neste plano material e quando encontra uma adepto qualificado, mas sempre com aprovação divina. Arte de Curar no Cerrado
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O rito na benzedura transforma o perigoso em algo nomeável e explicável, possível de ser modificado pois traz para o consciente o que estava inconsciente, possibilitando a ressignificação do problema e a superação do sofrimento, através da explicação dialogada, da benção e da prescrição. Na religiosidade popular, qualquer cura é obra de Deus, por isso as benzedeiras dizem: “É Deus que cura e não podemos cobrar”. Esse trabalho é de doação e de caridade, por isso esta fortemente embasada em valores humanísticos. As benzedeiras costumam ter um oratório com os santos e santas de sua devoção, costumeiramente se encontra a imagem de Nossa Senhora, geralmente é ali que são feitas as benzeções. Algumas também indicam simpatias com uso de amuletos, que também fazem parte dos rituais da cura pela fé, para evitar o mal e alcançar o bem, mudando o curso dos acontecimentos. Para todos os males que atingem o corpo e a alma do ser humano, sempre há uma reza ou uma simpatia para aliviar, algumas podem ser reveladas outras não. É por isso que apesar do tempo e dos avanços da
medicina,
esta
tradição
persiste
na
contemporaneidade
automatizada e digital, mesmo que sejam, algumas vezes, consideradas charlatãs e perseguidas por médicos. Durante a benzeção se pode usar ramos de plantas como Vassourinha, Guiné, Alecrim ou Arruda que auxiliam a eliminar a Arte de Curar no Cerrado
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energia negativa do benzido e do ambiente. Essas plantas costumam ser plantadas no jardim medicinal de suas próprias casas e são colhidas momentos antes da benzeção.
Deus te cure. Deus te abençoe. O que se rompeu será soldado. O que está torto vai endireitar. Teu espírito não será condenado Qualquer dor vai passar. Sangue nenhum será derramado. Nenhum mal há de ficar. Eu te benzo. Eu te rezo. Se remédio for precisar A Natureza vai te dar. Que o Anjo te guarneça, De noite e de dia, Pelo poder de Jesus E de sua Mãe Maria. Amém
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SIMPATIAS O imaginário social está repleto de significantes visuais para diversos objetos que conjugados em um ato dirigido, apresentam uma significação que reforçam a fé e o desejo de que algo aconteça. Isto tem ancoragem na cultura popular, pois estas coisas fora desse contexto seriam somente objetos utilizados comumente no cotidiano. A fé atribui algo de real aos objetos e rituais, mesmo que seja misterioso ou incompreensível, com uma outra função social, a de simpatias. São indicadas para o amor, boa sorte, afastar ou aproximar pessoas, prevenir e curar de doenças, mudar o tempo, animais, e plantas. Algumas a pessoa envolvida não pode saber e outras, é a própria pessoa quem faz. Algumas simpatias são feitas pelas benzedeiras ,outras pela própria pessoa. Seguem exemplos de simpatias para: - O recém nascido ter prosperidade: Dar banho no recém nascido numa bacia cheia de moedas e mostrar a bunda dele pra lua e dizer: Meu filho rico, meu filho rico! - Para dor de cabeça: Esfregue as têmporas com rodelas de batatas e depois deixe-as sobre a testa por um tempo. - O cabelo crescer e acabar com a queda: Lavar com chá de Alecrim de Jardim e folha de Chico Magro. - Chover: Colocar um punhado de sal no formigueiro - Parar a chuva: Jogar sabão virgem no telhado Arte de Curar no Cerrado
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- Dor de dente repentina: Amarrar um dente de alho no dedomindinho da mão, do mesmo lado em que está o dente dolorido. - Dor de ouvido: Esmagar folhinhas de salsinha e um dente de alho, esquente numa colher com azeite de oliva. Pingue essa mistura no ouvido. - Evitar mau-olhado ou olho-gordo na casa: Plantar num vaso sete ervas (Comigo-Ninguém-Pode, Arruda, Espada de São Jorge, Guiné, Pimenteira, Alecrim, Manjericão) e colocar na porta da casa. - Atrair energia positiva e prosperidade: Plante Cactus, plantas suculentas ou Babosa em vasos Tenha no jardim Hortelã. - Atrair tranquilidade: Plantar Bambu. - Trazer boa sorte: Plantar trevo de quatro folhas num vaso e colocar o trevo seco dentro da carteira de dinheiro. Deixar um copo com sal grosso no canto da sala (também afasta pessoas de energia ruim). - Afastar o azar: Colocar um ramo de Arruda atrás da orelha. - Conjuntivite ou dor dóio: Esfregar a aliança de ouro até esquentar e colocar no olho fechado. Lavar os olhos com o chá das pétalas de rosas de Santa Luzia. - Parar de soluçar: Fazer chá com pena de galinha preta arrepiada e torrada e tomar. Em bebes, colocar uma folhinha verde na testa.
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PLANTAS MEDICINAIS DO CERRADO CITADAS NO CORDEL AÇAFRÃO Curcuma longa L., Zinziberaceae Parte usada: Rizoma. Erva conhecida também como Curcuma. É indicada como antiinflamatório, na gastrite, ulcera gástrica, dores articulares, artrite, amigdalite. Diminui as taxas de colesterol e melhora a digetão e a cólica intestinal. É imuno-estimulante. ALECRIM DO CAMPO Anemopaegma arvense (Vell.) Stelf, Bignoniaceae Partes usadas: Folha, raiz e planta inteira. Erva conhecida como Alecrim do Campo, Verga Teso ou Catuaba. É indicada na impotência, fraqueza sexual, cansaço, nervos fracos e no banho de descarrego. Tem ação tônica, afrodisíaca, depurativa e antiinflamatória. É utilizada na forma de garrafadas a base de vinho. Pode ser associada com Catuaba, Marapuama e Nó de Cachorro.
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ALECRIM DO JARDIM Rosmarinus oficinalis L., Labiadas Partes usada: Folha ou partes aéreas. Arbusto usado no tratamento da amigdalite e sapinho (bochechar com o chá), da tosse (tomar o chá ou fazer inalação), como protetor do fígado, na gastrite, azia, gases, cólicas intestinais e menstruais (tomar o chá ou a tintura diluída na água). Na candidíase vaginal, ferimentos, contusões e acne. É usado externamente lavando o local afetado com o chá ou a tintura diluída em água. Os ramos são usados na benzeção.
AMARO LEITE Operculina macrocarpa (L.) Farwel, Convolvulaceae Parte usada: Raiz Trepadeira conhecida também como Jalapa e Batata de Purga. É indicada para a circulação do sangue, inflamação do útero e do ovário, doença venérea, problemas de pele, vermes e hanseníase. Tem ação depurativa onde a raiz é ralada podendo ser misturada à comida ou fazer cozimento com água ou garrafada com vinho. Pode ser associada com Carobinha, Salsaparrilha, Espinheira Santa, Jucá, Barbatimão e Mangava Brava.
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ARNICA DO CAMPO Camarea ericoides St. Hil., Malphighiaceae Parte usada: Planta inteira. Erva também conhecida por Arnica de Batatinha. É indicada para quebradura, machucadura, traumatismo, contusão e após cirurgia. Tem ação antiinflamatória e analgésica. A folha é usada na forma de cozimento com água e no álcool (tintura para uso externo). AROEIRA Astronium myracrondruon Fr. All, Anacardiaceae Parte usada: Casca do tronco Árvore, cuja casca é indicada na quebradura molhando a bandagem com o cozimento que após secagem endurece como se fosse um gesso (melote). Usada na dor ciática, gastrite, reumatismo, feridas, doença de mulher e sífilis, na forma de chá por cozimento ou garrafada no vinho e na cachaça. Pode ser associada com Vinhático e Barbatimão.
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ARRUDA Ruta graveolens L, Rutaceae Parte usada: Folha. Erva indicada na menstruação irregular, cólica, mulher de resguardo ou que “quebrou a dieta” após o parto, para limpar por dentro, verme e banho de descarrego. A forma de uso é infuso e queimada. É usada na benzeção. Pode ser associada com Quina Genciana, Agoniada e Artemísia.
ASSA PEIXE Vernonia ferruginea Less, Compositae Parte usada: Folha e raiz Arbusto indicado para tratar bronquite, pneumonia e tosse, nestes casos se pode associar com jatobá. Usada na forma de cozimento e xarope. Também em banhos. Pode ser associada
com Saião e
Vassourinha para tratar corte e ferimento.
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BUCHINHA Luffa operculata Cogn., Cucurbitaceae Parte usada: Fruto Trepadeira conhecida também como Cabacinha, seu fruto sem as sementes é utilizado para tratar sinusite. É preparado por infusão e seu vapor inalado. É tóxica, se ingerida, podendo causar aborto. Pode ser associada com Menta, Negramina e Eucalipto. CALUNGA Simaba ferruginea St. Hil., Simaroubaceae Parte usada: Raiz Erva também conhecida como Fel da Terra. Indicada para problemas de fígado, estômago, pâncreas, malária e diabete. Tem ação antiespasmódica e emenagoga. É tóxica podendo causar aborto. A raiz é preparada por maceração à frio em água ou por decocção. CAMBARÁ Vochysia haenkeana Mart., Vochysiaceae Parte usada: Casca Árvore. Usada na forma de cozimento e xarope, é indicada para o tratamento da bronquite, coqueluche e tosse. Pode ser associada com Jatobá, Amescla, Espinheiro de Barreiro, Poaia e Eucalipto. Arte de Curar no Cerrado
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CARAPIÁ Dorstenia asarioides Gardner, Moraceae Parte usada: Raiz e planta inteira. Erva indicada para dor de dente, cólicas do bebê e uterinas, febre, pneumonia, bronquite, gripe, na inflamação de mulher e na dieta pós-parto. Tem ação depurativa e emenagoga (para ausência de menstruação). É utilizado na forma de cozimento e garrafada feita com vinho. Pode ser associada com Genciana, Paratudo, Mama Cadela, Salsaparrilha, Catuaba, Nó de Cachorro, Jequitibá e Pé de Perdiz. CHAPÉU DE COURO Echinodorus macrophyllus (Kunth) Mich., Alismataceae Parte usada: Folha Erva usada na forma de cozimento. Indicada para infecção no rim, reumatismo, gota, ácido úrico, dor no corpo e doenças de pele. Tem ação diurética e depurativa. Pode ser associada a Cavalinha, Douradinha, Quebra Pedra e Caninha do Brejo.
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ESPINHEIRA SANTA Maytenus ilicifolia Mart., Celastraceae Parte usada: Folhas. Árvore também conhecida como Cancerosa e Cancorosa. Usada na forma de cozimento, indicada para a gastrite, úlcera e azia. Tem ação antiinflamatória, cicatrizante e depurativa.
FEDEGOSO Senna ocidentalis L., Leguminosae Parte usada: Raiz. Arbusto é indicado para problemas do fígado intoxicado, amarelão, diabete, problemas do estômago, febre, dores e gripe. Empregada na forma de infuso, macerado no vinho ou na cachaça (garrafada). GUARANÁ Paulinia cupana Kunth., Sapindaceae Parte usada: Fruto Trepadeira, cujos frutos são usados como estimulantes, no cansaço físico e mental. Tem efeito afrodisíaco. Retarda o envelhecimento.
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GUINÉ Petiveria alliaceae L. Phytolaccaceae Parte usada: Raz e folha. Arbusto conhecido também como Tipi ou Quebra Demanda. A raiz é preparada por cozimento ou no álcool sendo indicada para reumatismo (banho local). As folhas são indicadas para banho de descarrego. JATOBÁ DA MATA Hymenaea courbaril Mart., Leguminosae Partes usadas: Casca do tronco, resina, fruto e seiva. Árvore indicada para tosse, bronquite, angina no peito, inflamação das vias urinária e próstata, anemia, amarelão e fraqueza sexual. Tem ação expectorante. A casca é utilizada na forma de cozimento, xarope e vinho medicinal. A seiva é misturada com vinho medicinal ou com Biotônicoâ ou mel (xarope com mel). A resina é utiliza no chá (infusão) ou misturada com mel. Pode ser associada com Cambará, Amescla, Eucalipto, Poaia, Jequitibá e Assa Peixe.
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MAMA CADELA Brossimum gaudichaudii Tréc., Moraceae Parte usada: Raiz. Arbusto também conhecido como Algodãozinho, é indicada para o tratamento do vitiligo, corrimento, furúnculo, pano branco, cravo e espinha. Tem ação depurativa e antiinflamatória, quando a pessoa passa o extrato alcoólico sobre a pele e se expõe ao sol ocorre vermelhidão e queimaduras. Usada na forma de cozimento e no vinho (garrafada). Associa-se com Salsaparrilha e Velame. NEGRAMINA Siparuna guianensis Aubl., Monnimiaceae Parte usada: Folha Arbusto indicado para dor de cabeça (do tipo que sai sangue pelo nariz), malina e resfriado. Faz o chá para beber e para banhar (banho de descarrego) contra mau olhado. Pode ser associada com a Quina do Cerrado.
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NÓ DE CACHORRO Heteropterys aphrodisiaca O. Mach., Malpighiaceae Parte usada: Raiz Erva também conhecida como Raiz de Santo Antônio. É indicada para fraqueza geral do corpo, nervos cansados, fortalecimento dos olhos e para o ácido úrico. Tem ação afrodisíaca, depurativa e tônica. A raiz é empregada na forma de garrafada e no vinho. Pode ser associado com Alecrim do Campo, Catuaba e Marapuama.
QUINA GENCIANA Acosmium subelegans (Mohl.) Yak, Leguminosae Parte usada: Raiz. Árvore também conhecida como Unha de Anta e Cinco Folhas. Indicada para problemas de estômago e fígado, diabete e menstruação difícil. Tem ação vermífuga para giárdia. Pode causar aborto. Pode ser associada com Carapiá, Calunga, Quina do Cerrado e Arruda para descer a menstruação.
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SALSAPARRILHA Smilax sp, Liliaceae/Smilacaceae Parte usada: Raiz Trepadeira também conhecida como Salsa Mandioca e Salsa Gorda. É indicada para reumatismo, inflamação, pressão alta, pano branco e furúnculo. Tem ação depurativa. A raiz é usada na forma de cozimento na água, na forma de vinho medicinal e em maceração na banha (gordura). Associa-se com Velame, Carobinha, Jequitibá, Espinheira Santa, Barbatimão, Algodão do Campo, Taiuiá, Carapiá, Cainca, Raiz de Bugre, Nó de Cachorro e Manacá.
SENE Senna desvauxii Collad, Leguminosae Partes usadas: Folha e raiz Erva também conhecida como Sene do Cerrado é indicadas para inflamação e menstruação atrasada. Tem ação laxante e é abortiva. Usa-se na forma de cozimento e em vinho. Associa-se a Losna, Quina Genciana, Calunga e Quina do Cerrado.
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SUCUPIRA Pterodon pubescens Benth, Leguminosae Partes usadas: Casca do tronco e semente. Árvore cujas sementes são também conhecidas como Fava de Sucupira Branca e Fava de Santo Inácio, que juntamente com a casca do tronco são indicadas para qualquer inflamação, dor de garganta, reumatismo, pneumonia, mancha, espinha e ferida na pele. Tem ação depurativa. É um antibiótico natural. É usada em maceração a frio no vinho, cachaça e Biotônicoâ. Pode ser associada com Carobinha, Velame e Mama Cadela.
VASSOURINA Scoparia dulcis L., Scrophulariaceae Parte usada: Planta inteira Erva indicada para quebradura, machucadura, infecção de todo o tipo, doença do pulmão e catarro na bexiga. A planta inteira é usada fresca em cataplasma, na forma de cozimento na água e no álcool (uso externo). Pode ser associada a Erva de Santa Maria e Arnica. Seus ramos são usados para benzeção.
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VELAME Macrosiphonia velame M. Arg., Apocynaceae Partes usadas: Folha e raiz. Erva indicada para reumatismo, problema no rim, inflamação uterina, mancha no corpo, coceira na pele, pano branco, impinge e ferida. A raiz e a folha são empregadas na forma de cozimento na água. Tem ação depurativa e diurética. Pode ser associada a Espinheira Santa, Jequitibá, Mangava e Carobinha.
FORMAS DE USO DAS PLANTAS MEDICINAIS CITADAS NO CORDEL
ÁLCOOL MEDICINAL É uma preparação obtida por maceração de uma ou mais espécies, destinada principalmente ao uso externo. Num vidro limpo, coloca-se a planta moída ou picada, até dois terços do volume. Depois se adiciona álcool de farmácia até completar o volume do vidro. Deixase “de molho” por no mínimo vinte dias, mexendo todos os dias, antes de usar.
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BANHO Uso externo. Imersão do local afetado pelo chá preparado (por infusão ou cozimento) com uma ou mais plantas. O líquido morno deve permanecer por quinze minutos ou mais. CHÁ Uso interno e externo. Obtido por infusão ou cozimento de uma ou mais plantas. Os infusos, na maioria das vezes, são destinados ao uso interno, já os cozimentos podem ser destinados também ao uso externo (banhos e compressas) neste caso a quantidade utilizada da planta é maior. A infusão é preparada juntando água fervente à planta picada e abafando (cobre a panela com a tampa para que o vapor não seja perdido, desta forma os princípios ativos não evaporam). Geralmente o infuso é tomado a quente. O cozimento é com plantas que não são aromáticas e, principalmente, cascas e raízes que são colocadas em uma panela com água e postas para ferver por dez minutos ou mais. Às vezes é realizada uma dupla extração onde o primeiro cozimento é reservado, depois acrescenta-se mais água na planta e realiza-se nova cocção, a fim de extrair o máximo de princípios ativos, ao final os dois líquidos são juntados e fervidos novamente até diminuir a quantidade de água.
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COMPRESSA Uso externo. Preparação feita com um pedaço de tecido embebido em chá ou álcool medicinal diluído em água. É aplicada sobre a pele ainda quente ou a temperatura ambiente, durante quinze minutos ou mais. DOCE DE AMARO LEITE Uso interno. A raiz é ralada e após adição de açúcar é levada ao fogo brando, cozinhando até dar o ponto de doce. Indicado como vermífugo para crianças e adultos. GARRAFADA Uso interno e externo. Preparação onde duas ou mais plantas são deixadas em contato com pinga ou vinho branco, a fim de extrair os princípios ativos das partes das plantas (cascas, raízes, folhas ou sementes). Em uma garrafa limpa são colocadas, cuidadosamente, as partes da planta deforma a completar até um terço do volume. Depois é adicionado a pinga ou o vinho até encher. Tampa-se com uma rolha e deixa-se “descansar” por uns vinte dias, agitando diariamente, antes de começar a tomar. A dose é de um cálice duas a três vezes ao dia. Depois que o líquido acabar, coloca novamente, para uma segunda extração e continua a tomar da mesma forma. Arte de Curar no Cerrado
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MELOTE Uso externo. Preparação usada para substituir o gesso empregado na imobilização de entorses ou fraturas ósseas. A casca de aroeira é cortada em pequenos pedaços e colocados num tacho com água e postos para ferver até diminuir o volume até a metade, depois são são coados. Às cascas que ficaram na panela acrescentam-se mais água e após fervura, junta os dois líquidos, que devem ser fervidos até obter uma consistência xaroposa. Panos são embebidas neste melado ainda quente e o local afetado é enfaixado, depois de frio ocorre o endurecimento. A faixa é retirada após 20 dias com água quente. MISTURA COM BIOTÔNICOâ Uso interno. Preparação onde a planta é deixada em contato com um medicamento industrializado denominado Biotônicoâ. Exemplo: a semente de Sucupira Branca e a casca de Quina são deixadas em maceração neste medicamento, sendo indicada para amigdalites QUEIMADA Uso interno. Preparação resultante da caramelização do açúcar juntamente com a planta ralada, adicionando-se, na preparação ainda
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quente, Água Inglesaâ ou cachaça. A consistência é semelhante ao xarope. VINHO MEDICINAL Uso interno. É uma preparação obtida por maceração de duas ou mais espécies em uma garrafa vazia, coloca-se, até dois terços, de planta moída ou picada, depois completa o volume com o vinho branco doce. Deixa-se “de molho” por no mínimo vinte dias, antes de usar. Agitando todos os dias.
XAROPE COM MEL Uso interno. É preparado pela adição de produtos extrativos da planta (látex, sumo, seiva e óleo) ao mel, por exemplo: mel com óleo de copaíba, mel com seiva de jatobá ambos indicados para problemas das vias respiratórias. Pode ser adicionado mel de florada de uma planta medicinal (exemplo: Mel de Assa Peixe) ao xarope preparado com açúcar e o chá de outras plantas. Deve ser conservado na geladeira.
Arte de Curar no Cerrado
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GLOSSÁRIO ADOIDADO: Exagerado. ARCA CAÍDA: Também conhecida como Espinhela Caída, é como um osso flexível ou um nervo, que se encontra entre o coração e o estômago. É causada por carregar excesso de peso gerando dor nas costas, no estômago, nas pernas e cansaço. Para saber se a arca está caída, mede-se com um fio de algodão da ponta do dedo mínimo à ponta do cotovelo dobrado ou o tamanho do braço em posição vertical. Depois de um ombro ao outro. Se coincidirem as medidas, a espinhela está normal. Se houver diferença de mais de um palmo a arca esta caída, então faz a reza: Arca caída, Ventre derrubado Eu te benzo, eu te rezo Jesus, Coração Sagrado Põe as arcas no seu lugar Da espinhela caída estás curado.
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BANHO DE DESCARREGO: Preparado com o chá de plantas que tiram o mau olhado e as energias ruins da pessoa. COBREIRO: Uma doença dolorosa da pele, com manchas e bolhas de pus, que provocam coceira. Vem de algum animal peçonhento como a aranha, a lagartixa ou o sapo, que passam em cima de uma roupa e depois a pessoa usa. CHUÇA: Relativo a furar, espetar. DE MONTÃO: Grande quantidade. DEPURATIVO: Remédio que purifica o sangue que tem toxinas. Quando o sangue está grosso ou sujo a doença vem para fora, para a pele e aparecem bolhas, manchas, feridas, espinhas, abcessos, impinges e micoses. DERRADEIRO :Caçula. DIGORESTE: Muito bom. ESPIA’QUI SIMININA: Expressão do vocabulário cuiabano que significa prestar atenção a algo. Arte de Curar no Cerrado
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EMPACHAÇÃO: Má digestão com acúmulo de gases no intestino, o estômago fica duro, a barriga incha e dói. FOIA: Folha. FURUNDU: Doce feito de mamão verde, lavado em saco de pano para escorrer o leite, depois é cozido com rapadura e cravo. LESEIRA: Preguiça, Lentidão. MALINA: Dor de cabeça constante e que esquenta a cabeça. É ocasionada pela exposição excessiva ao sol ou quando a pessoa pega sol na cabeça e aí toma água fria com o corpo quente. MANDINGA: Obra de bruxo ou feiticeiro. Por sua ação mágica e seu poder sobrenatural pode mandar o mal para uma pessoa ou animal. MARIA ISABEL: Comida típica da culinária mato-grossense feita com arroz e carne seca. MAU OIÁDO OU OLHADO: Energia negativa que faz o outro adoecer de quebrante, principalmente em crianças. Arte de Curar no Cerrado
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MELOTE: Preparação popular usada para imobilizar uma parte do corpo. MOAGEM: Enrrolação. MOCHO: Banco de madeira pequeno sem encosto. PANCADA: Lesão resultante da batida de um objeto sobre alguma parte do corpo, resultando em dor, inchaço, vermelhidão e as vezes hematoma. PICAR: Cortar. PINGA: Também conhecida como cachaça, é uma preparação alcoólica tipicamente brasileira, obtida a partir da fermentação do melaço resultante da produção do açúcar de cana, com posterior destilação. PRENHEZ: Gravidez. QUÁ!: Expressão de espanto, surpresa ou indignação. QUEBRADURA: Osso quebrado.
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QUEBRANTE: Mau olhado na criança o sono fica trocado, chora muito e não dorme direito. QUILO: Fazer a digestão após a refeição. RASQUEADO: Estilo de música e dança cuiabana, resultante da junção da polca paraguaia, siriri e cururu. REBUÇA: Referente a tampar, cobrir, endurecer, agasalhar. REBUÇA E CHUÇA: Baile ou carícias durante o namoro ou a dança do rasqueado. RESGUARDO: A mulher depois que tem o filho, fica de 30 a 40 dias com sangramento, neste período se receber um choque emocional ou com água fria ou manter relações sexuais, pode cortar o sangramento, ocorre a dor de cabeça, podendo afetar o sistema nervoso. Neste caso usa planta medicinal para “limpar por dentro”. SAPINHO: Feridas que dá na boca da criança. SARACURA TRÊS POTES (Aramides cajanea): É uma ave pequena, de pernas longas e que vive em locais alagados nos sertões Arte de Curar no Cerrado
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do Brasil. Alimenta-se de pequenos peixes, insetos e larvas. Constrói seu ninho no meio da vegetação densa, rodeado por água. Passa o dia escondida em silêncio, mas nas horas do alvorecer e do fim da tarde, ouve-se seu canto que diz claramente "três-potes - um coco - um coco", e que, segundo a crença popular, é prenúncio de chuva. SEM GRACEIRA: Chateação, falta de sossego ou inquietação. SINHA: Senhora. SOL DE RATCHÁ: Sol muito forte. TERREIRO: Quintal da casa, geralmente de chão batido. TORCEDURA: Torção de uma parte do corpo. XISPÁ: Sair rapidamente.
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CONCLUSÃO Falar em arte, cultura, saúde e espiritualidade requer um olhar sistêmico e holístico sobre os cuidados da saúde que as benzedeiras, especialistas em medicina popular, tem ao seguir seus rituais de cura, sem desconsiderar a importância do sistema oficial em saúde. Para a benzedeira, além de um saber sistematizado, que se mantém vivo em toda a história até os dias de hoje, existe uma ação humanitária e generosa na manutenção da vida através dos laços de confiança e fé. O ser humano não é reconhecido apenas sob seus aspectos biológicos, mas também em outras dimensões, a emocional e a espiritual, cujas singularidades individuais e seu cotidiano estão em diálogo permanente entre a cuidadora e aquele que é cuidado. Este diálogo afetivo resulta de um sentimento missionário de auxiliar o próximo, como mediadora da espiritualidade para o exercício do amor, da caridade e da justiça.
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Quem precisa ser cuidado É como uma flor Que precisa do pássaro Para vir a ser Fruto em seu explendor Quem precisa ser cuidador É como um pássaro Que precisa da flor Para ser mediador e trazer A luz do divino amor Ambos, flor e pássaro São sementes de luz Cuidam da Terra Pois do seu viver nela Tranformam-se em semeadores De sonhos utópicos num mundo real
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Para a artista, no conjunto desta obra, ao criar a Casa da Saracura Benzedeira desvelando a poética desta arte de curar do cerrado, tornou-se flor, pássaro, fruto, semente e semeador. A obra, que começou no coração da artista e depois foi para sua mente que a racionalizou e planificou, tornou-se concretude através de suas mãos que escreveram versos, gravaram a madeira, costuraram as chitas, bordaram as gravuras e pintaram objetos. Sua alma tornou-se um cadinho onde ocorreram várias reações alquímicas onde a flor, o pássaro, o fruto, a semente e o semeador se apresentaram em sua quintessência, dando sentido à vida e consequentemente à obra, trazendo-a do cotidiano mundano para o estado de arte. Não existe conclusão para a obra, já que a artista está sempre indagando, recebendo respostas, abrindo outras portas e colocando mais coisas materiais e imateriais no seu cadinho a fim de obter outros sentidos e significados.
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BIBLIOGRAFIA CAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo, Ed. Cultrix, 1982, 447p. CARRARA, D. Possangaba. O pensamento médico popular. Maricá-RJ. RIBRO SOFT, 1995, 260 p. DE LA CRUZ, M. G. F. Plantas medicinais utilizadas por raizeiros: uma abordagem etnobotânica no contexto da saúde e da doença, Cuiabá, Mato Grosso. Cuiabá, 1997. (Dissertação de Mestrado – UFMT). LOYOLA, M.A. Médicos e curandeiros - conflito social e saúde. São Paulo. Ed. DIFEL. 1984,198 p. OLIVEIRA, A. A linguagem dos pescadores de MT, estudo lingüistico – etnográfico. Rio de janeiro, 1980. (Dissertação de Mestrado - Departamento de Letras PUC/RJ ) OLIVEIRA, E. R. Doença, Cura e Benzedeira: Um estudo sobre o ofício da benzedeira em Campinas.. Campinas, 1983. (Dissertação de Mestrado – UNICAMP). NERY, V. C. A. Rezas, Crenças, Simpatias e Benzeções: costumes e tradições do ritual de cura pela fé. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 29., 2006, Brasília. Anais. São Paulo: Intercom, 2006.
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Mari Gemma De La Cruz Nasceu em 1962 é natural de Porto Alegre e vive em Cuiabá desde 1989. Como artista visual desenvolve trabalhos desde 2013. Sua formação em artes visuais não é acadêmica, tendo realizado cursos de extensão oferecidos pelas instituições locais como SESC e Secretaria Estadual de Cultura. Sua obra é permeada pelo olhar biopsicosocioambiental. É escritora, publicou livros e cartilhas na área de plantas medicinais e educação ambiental.
Recebeu a
indicação como uma das finalistas para Mestre em Cultura Popular Edição 2009, pela difusão do conhecimento em plantas medicinais e foi contemplada com premiações por trabalhos em fotografia. Tem participado de exposições individuais, coletivas, estaduais, nacionais e internacionais. Foi servidora pública, farmacêutica da SES-MT, tem mestrado em Saúde e Ambiente/Etnobotânica e realizou trabalhos de pesquisa e extensão, atuando como professora universitária por mais de 15 anos. Ministrou oficinas para comunidades de todo o Estado de Mato Grosso. Contato: marigemma@gmail.com - www.marigemma.com Arte de Curar no Cerrado
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Em todo Universo Existe um movimento Conceder e retribuir Se faz a cada momento Servir com gratidão É o nosso sacramento.
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