Revista Merde

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MERDE ! O teatro em revista

Ano 2011/ Nº 01

EM MUTAÇÃO Teatro de Santos persegue novos ideais SENSORIAL ! Direção, sonoplastia e cenografia dão movimento, forma, cor e som ao espetáculo

NEYDE VENEZIANO! “Precisamos parar de mandar nossos talentos para fora”

O teatro em revista

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CARTA DO EDITOR Boa sorte!

Merde! — que significa merda em português — costuma soar como um palavrão. No entanto, esta palavra polissêmica, que dá nome a esta revista, não tem nada a ver com palavrão. No século 19, o principal acesso aos teatros se dava por meio de carruagens. Isso fazia com que a entrada das casas ficasse lotada de cavalos, que acabavam fazendo suas necessidades ali mesmo. A quantidade de excrementos na entrada do teatro simbolizava a quantidade de público presente na noite do espetáculo. Portanto, quanto mais merda mais gente lotava as casas. Então, nada mais justo do que desejar a mesma intensidade de sorte para quem entrava em cena: merde! Nas páginas seguintes, você irá encontrar uma reportagem investigativa sobre a transformação que o teatro santista sofreu desde seu apogeu, em 1960, até os dias de hoje. A escritora, diretora e crítica de teatro Neyde Veneziano oferece na entrevista do mês um insight sobre como anda o teatro amador em Santos. Por falar nisso, ela acaba de lançar o livro As grandes vedetes do Brasil, tema da resenha de Simone Menegussi. A obra traz a história de 41 atrizes que encantaram gerações com a sua beleza, charme e ousadia. Buscando levar a nossos leitores um olhar aprofundado sobre a magia do teatro, a edição de estreia da Merde! também traz uma reportagem sobre “os invisíveis”: o diretor, o cenógrafo e o sonoplasta. Sem eles, o espetáculo não existe. Com certas exceções, quem fala sozinho não é necessariamente louco. Levamos a afirmação ao pé da letra num perfil do ator Eduardo Ferreira, especialista na arte do monólogo. O mundo globalizado também encurtou distâncias. Quem antes não podia ir até o teatro agora pode ter o teatro em sua casa. É o que mostra a reportagem de Isabella Paschoal ao abordar a nova modalidade criada por Harry Fernandes. Estamos sempre atentos às novidades. Por sinal, dê uma olhada na matéria sobre stand–up comedy, um estilo clássico que anda mais popular que nunca. Enfim, Merde! vai oferecer mensalmente um leque amplo de novidades e abordagens diferentes sobre o teatro. Boa leitura e... boa sorte! Cauê Goldberg 2

MERDE !

LG RODRIGUES

Da esquerda para direira Caio Augusto, Willian Roemer, Cauê Goldberg, Juliana Kucharuk, Bruna Corralo, Simone Menegussi, Mariana Serra, Isabella Paschoal e Mariana Terra

MERDE! é uma revistalaboratório, edição e diagramação dos alunos do terceiro ano do curso de Jornalismo de 2011, da Faculdade de Artes e Comunicação, da Universidade Santa Cecília. Diretor da FaAC: Humberto Challoub Coordenador do Curso: Robson Bastos Professor Orientador: Márcio Calafiori Editor: Cauê Goldberg Editora Multimídia: Mariana Serra Editora Gráfica: Mariana Terra Editora de Imagens: Bruna Corralo Repórteres: Bruna Corralo, Caio Augusto, Cauê Goldberg, Isabella Paschoal, Juliana Kucharuk, Mariana Serra, Simone Menegussi e Willian Roemer. Foto Capa: Julaiana Kucharuk


O teatro em revista

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EM CENA

CAMARIM

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A METAMORFOSE

SIMONE MENEGUSSI

A transformação da sexta arte na baixada

18 EM PÉ É MAIS ENGRAÇADO

EM DEFESA DO CELEIRO

O teatro em revista

MERDE !

Neyde Veneziano fala sobre o teatro santista

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MERDE !

O estilo americano, “humor de cara limpa”, finalmente emplacou na terrinha


PLATEIA

BASTIDORES

VI ARTE

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6 ARQUIVO PESSOAL DE EDUARDO FERREIRA

ESPETÁCULO NO CONFORTO DO SOFÁ

A FAMÍLIA ATRÁS DO PALCO

O site Cennarium traz ate o espectador peças teatrais famosas através da internet

A composição de uma peça

26 CENA FUNDAMENTAL

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ARQUIVO PESSOAL

O ator Eduardo Ferreira e a arte do monólogo

MULHERES QUE DELICIARAM UMA ÉPOCA Com curvas sinuosas e muito charme e beleza, as vedetes encantaram gerações

EU E EU MESMO

ARQUIVO PESSOAL DE EDUARDO FERREIRA

Conheça a história do Tescom, contada por seus fundadores.

30 AGENDA Dicas de filmes, peças, exposições e literatura

O teatro em revista

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VI ARTE

ARQUIVO PESSOAL de eduardo ferreira

EU E EU MESMO O ator Eduardo Ferreira enfrenta o palco sozinho.É a arte do monólogo. Willian Roemer - “Alô? Pai ?!? Oi , pai. Quê? Tava! Porque eu fui dormir tarde! Mas o que é que tem, pai, eu sou ator, e ator dorme tarde, é boêmio, é obrigação de todo ator. Que acordar cedo que nada, pai. Ator que acorda cedo tem que ficar na cama até as 11 horas, mesmo sem sono. Por quê ? Porque sim, né pai, senão os outros vão pensar que você não tá trabalhando, tá desempregado. Besteira nada, pai. Se fosse algum amigo ator meu que ligasse, eu ia ter que atender assim : ( faz voz rouca de sono) ‘Alô, 6

MERDE !

oi, sou eu. Não, eu já ia acordar mesmo, é que ontem, depois do meu espetáculo, fiquei até as 4h30 conversando com um produtor sobre um futuro projeto, mas já estou acordando, tenho gravação daqui a pouco’. Não pai, não tenho gravação hoje, só estou dizendo como é que eu teria que fazer. Mas bom mesmo, por que, pai? Quem me dera se eu tivesse gravação hoje, é sempre mais uma graninha que entra... Que só faço figuração, pai ! Figurante não tem fala e naquela cena que eu gravei na novela do ano


passado, quando eu esbarrei no Antônio Fagundes, o meu personagem virou e falou : “ DESCULPAS”!”. Este é um trecho do monólogo O ator-mentado, do ator e diretor de teatro Eduardo Ferreira Silva, escrito por Rodrigo Rangel e Afonso Celso. Silva atua no teatro amador desde 1996 e tem como uma das suas principais peças O ator-mentado, apresentado no Fescete, na primeira Mostra de Teatro dos Metarlúrgicos e na Festa da Banana. Com seu texto cômico, critica o preconceito da sociedade diante dos atores iniciantes. Conta a história de Mauro, um recente ator. Silva relata que o primeiro contato que teve com o teatro foi na escola, durante as apresentações teatrais de fim de ano. Isso o incentivou a procurar o conhecimento sobre essa arte cênica, e aos 14 anos começou a fazer aulas também na escola. Criou seu primeiro monólogo há três anos a partir de uma necessidade, pois o trabalho de conclusão de curso de formação de ator exigiu uma apresentação individual. Então, começaram as pesquisas que resultaram em O ator-mentado. Ele conta que a princípio não compreendeu muito bem o que era monólogo: “A grande diferença no monólogo é a responsabilidade em cima do ator. É preciso muita experiência para manter o ritmo de uma peça sozinho, além, claro, de ter que desenvolver as curvas dramáticas da história, sem ter um parceiro para trocar emoções”. Sendo assim, o texto para o monólogo requer profundo conhecimento do tema, forçando o ator a criar um ritmo de encenação que permita envolver o público. “No monólogo, a emoção tem que ser vivenciada pelo ator. Por obrigação, ele precisa passar verdade e sentimento através do personagem”, diz Silva. O cuidado com escolha do texto é importantíssimo para o sucesso ou fracasso de uma produção. Silva já trabalhou nos espetáculos Alemanha, uma história de medo, do grupo Taetro de Teatro, no Espetáculo Rei Arthur, a batalha por Camelot, da Cia Silia e Ceci Dance Theatre, apresentada recentemente nos teatros Municipal e Coliseu, de Santos. No festival de Cenas Teatrais, até 2 de julho, irá dirigir uma cena chamada, Conte-me mais, texto que aborda a loucura cotidiana.

O ator conta um caso inusitado durante a apresentação da peça O bosque encantado, pela Cia Trupe D’Arte. “Tínhamos como cenário um poço, que era feito de isopor. Em uma das cenas acabei por me desequilibrar e toquei no poço, que claro, desmontou. Tive de improvisar em cena e dizer que o poço era assombrado e que por isso tinha desabado”. Como fato marcante, ele lembra da apresentação do espetáculo Alemanha, uma história de medo, em que seu personagem era um menino alemão no apogeu do nazismo, mas era maltratado por ser filho de artistas. Em certo momento, o personagem apanhava dos colegas. Durante a cena, uma menina teve de ser segurada pela mãe porque estava com dó do ator, e queria ajudá-lo. “No final do espetáculo, ela veio me procurar para saber se estava tudo bem e se eu não tinha me machucado. Foi muito bonito por parte da menina e muito bom saber que ela realmente se permitiu sentir e acreditar naquela realidade ficcional”, conta Silva, entusiasmado. Eis a complexidade, como criar uma peça de monólogo? O primordial é o texto. Após essa construção textual é realizada a leitura de mesa e interpretação do ator e diretor da encenação, com isso ambos procuram compreender a intenção do autor. Depois desse entendimento o ator inicia a construção do personagem, buscando dar vida às suas emoções. O diretor cria as marcas de palco e depois faz a limpeza dessas marcas para o ator se posicionar em cena e dar ritmo à peça. “Durante o processo, a produção do espetáculo trabalha na construção do cenário, caso haja produção de figurino, maquiagem, iluminação e sonoplastia, conforme a necessidade”, orienta o ator. ARQUIVO PESSOAL de eduardo ferreira

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CAMARIM

JUAN GUERRA/AE

Uma das críticas de teatro mais respeitáveis do país

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MERDE !


EM DEFESA DO CELEIRO A escritora e diretora Neyde Veneziano diz que a cena regional só sobreviverá com o aval da universidade pública - Simone Menegussi

N

eyde de Castro Veneziano Monteiro não fugiu de suas raízes. A filha de artistas amadores de teatro, é diretora, encenadora, professora e pesquisadora. Criada no bairro da Aparecida, em Santos, iniciou a carreira de atriz ainda criança, encenando para os vizinhos. No fim da década de 1960, formou-se em Letras na Universidade Católica de Santos; fez mestrado, doutorado e livre-docência em teatro na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Em 1999, concluiu o pós-doutorado na Itália, na Universidade de Bolonha, sobre o escritor, dramaturgo e ganhador do Prêmio Nobel de 1997, Dario Fo. Neyde divide o tempo entre a universidade, teatro, seminários, simpósios e festivais, além de pesquisar e escrever. Colabora com artigos para as mais importantes revistas e periódicos especializados. Atualmente, é professora no Instituto de Artes da Unicamp, onde orienta cursos de mestrado e doutorado. Como pesquisadora da CNPq é autora de vários livros sobre encenação e teatro musical. Acaba de lançar As grandes vedetes do Brasil. (Leia mais na página 28). Em entrevista para a Merde!, fala sobre o passado, o presente e o futuro do teatro santista: “Precisamos de pesquisa, estudo, aprofundamento. Se formos só celeiro, como temos sido até agora, continuaremos a mandar os nossos talentos para fora.” Confira os principais trechos da entrevista feita por e-mail: Merde! — Quando o teatro entrou no seu sangue? Neyde Veneziano — Minha família — santista e italiana — era toda de teatro. Portanto, faço teatro desde pequena. Quando estava no primário eu tinha um grupo e promovia sessões abertas ao público infantil da Rua Ricardo Pinto, no quintal da minha casa. Como foi sua experiência na Itália em relação ao teatro? Fui para a Itália pesquisar o Dario Fo e fazer pós-doutorado na Universidade de Bologna. Além do mais, morei durante um ano em Milão. Claro que foi tudo muito dramático e teatral! Qual a sua avaliação sobre o atual cenário do teatro santista? Está repleto de talentos, com muitos movimentos organizados. Mas falta aprofundamento e pesquisa. Isso só virá se tivermos universidade pública em Santos com cursos de teatro e pós-graduação. Nesse caso, os professores seriam concursados e os concursos públicos abertos a todos os doutores do país. Sem isso, não investiremos na pesquisa de poéticas cênicas, na metodologia, não encontraremos novas linguagens e estaremos sempre fazendo bem, mas

criando pouco. Ou seja, estaremos imitando. Imitando bem, mas imitando. Santos sempre foi o celeiro de grandes atores, não é? Adoro os atores de Santos. Em São Paulo, há inúmeros santistas fazendo sucesso. Mas eu gostaria que Santos fosse mais que celeiro. Que fosse um centro com produção cultural própria. Acho que está surgindo um novo movimento. Espero que não desistam, porque é muito difícil, já que o público não foi educado para ir ao teatro. Para a consolidação precisaremos de pesquisa, estudo, aprofundamento. Se formos só celeiro, como temos sido até agora, continuaremos a mandar os nossos talentos para fora. Há casos isolados de pessoas realmente de teatro em Santos que estão lutando para que este cenário mude e se consolide. Quais foram os tempos áureos do teatro santista? Fim das décadas de 1960 e 1980. Acho que agora estamos numa boa retomada. A população com mais idade é grande na região. O que a senhora acha deste público? O Sesc oferece muita coisa para esse público. O teatro em revista

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CAMARIM

SIMONE MENEGUSSI

Neyde Veneziano é uma assumidade no tema Teatro de Revista. O lançamento de seu mais novo livro As grandes vedetes no Brasil, aconteceu no Sesc Santos.

Mas eu acho que é um público igual aos outros. Não existem espetáculos só para idosos e só para jovens. Mas existe, sim, teatro feito por idosos. Trata-se de uma experiência que funciona muito bem — mais para quem participa do que para quem assiste. Em termos de expressão artística não significa muito no panorama brasileiro. Mas não é essa a proposta. No entanto, o movimento é válido, claro. Em sua opinião, o jovem tem por hábito ir ao teatro? Como atrair esse público? Em São Paulo, os jovens estão indo muito ao teatro. Vão, principalmente, assistir ou acompanhar aos espetáculos da Praça Roosevelt e dos grupos jovens de pesquisa e de experimentos, fomentados pelas leis municipais. É que esses espetáculos falam de suas vivências. E os autores contemporâneos de Santos? Infelizmente, não conheço autores contemporâneos vivos na região. Conheço Plínio Marcos, [Carlos Alberto] Soffredini e Perito Monteiro. Três grandes dramaturgos santistas, conhecidos nacionalmente, já falecidos, porém muito contemporâneos. Espero que haja bons dramaturgos vivos. Eu é que não conheço.

mais de 50 anos. Qual sua opinião sobre os festivais? Eu já escrevi muito sobre isso. Esses festivais foram e são ainda importantíssimos no panorama nacional. Além do mais, são a grande oportunidade de proporcionar a troca de experiência artística. Para a formação de um ator precisamos de: 1) trabalho; 2) pesquisa (que inclui a universidade); 3) festivais que proporcionem a troca de experiências artísticas. Santos já foi conhecida como a Barcelona Brasileira. Está faltando aqui atitude política por parte dos autores e diretores? Não vejo por esse lado político. O teatro pode ser político. Mas tem de ser bem feito. Teatro santista político tendo em mente a Barcelona Brasileira, se for mal feito, não adianta nada. Portanto, o que resolve é estudar teatro. É investir na forma para passar com eficácia o conteúdo.

Em seu livro As grandes vedetes do Brasil, a senhora comenta que as novas gerações, por causa da Internet, não têm censura, o acesso à rede é irrestrito. Isso influência a linguagem teatral atual? Claro. A Internet veio para ficar. Os espeVocê acha que eles estão a altura de compe- táculos ligeiros e as comédias stand up são tir com teatros da capital? a teatralização dos conteúdos da Internet. Claro que sim. Estes nossos teatros são elo- Para um aprofundamento precisamos bem giadíssimos lá fora. mais que o Google. Precisamos de livros e de Os festivais santistas de teatro acontecem há treinamento. 10 MERDE !


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EM CENA

JAIME M. CALDAS

Acho que estamos em um momento de transição

Roberto Peres, diretor artístico da Escola de Artes Cênica Wilson Geraldo

METAMORFOSE Teatro santista busca uma nova identidade para voltar à cena nacional Mariana Serra Wilson Geral, Nélio Mendes e Walter Rodrigues. Esses foram nomes que marcaram a história do teatro amador santista. Tempos áureos em que a cidade fervilhava com espetáculos dignos do auge da dramaturgia brasileira. Foi uma das fases mais importantes do teatro nacional que perdurou durante mais de duas décadas no período político mais sombrio do País. “Santos já foi um celeiro de grandes diretores e atores nas décadas de 1960 e 1970. Em virtude das mudanças que ocorreram na legisla12 MERDE !

ção brasileira, a partir da ditadura, houve um enfraquecimento de conteúdo apresentado no palco. Esse empobrecimento cultural fez com que houvesse um desinteresse pelo teatro e má formação daqueles que fazem essa arte”, lamenta o diretor artístico Roberto Peres. A educação básica fraca fez com que a população perdesse não só o senso crítico para avaliar uma peça teatral, mas também a capacitação de profissionais que saibam ler e interpretar um texto para produzir um espetáculo


brilhante. “Antigamente, o que eu via era que o pessoal que fazia teatro amador estudava muito, discutia muito, não era o dono da verdade. Hoje, vejo um panorama com uma qualidade duvidosa e esse espaço que tínhamos no Brasil, nas décadas de 60 e 70, não existe mais”, completa o secretário de Cultura de Santos, Carlos Pinto, que também fez parte da cena teatral santista. Com um hiato de 40 anos entre o auge do teatro e o atual cenário defasado na Cidade, fica a questão de como a arte se desenvolverá daqui em diante. Roberto Peres acha que a época é de mudanças e que o investimento na especialização de jovens atores e produtores em instituições teatrais como a Escola de Artes Cênicas Wilson Geraldo pode trazer uma mudança para o teatro santista voltar ao auge. “Acho que estamos em um momento de transição. O objetivo da escola é dar uma formação exemplar para as artes do palco e, com essa formação, teremos gente com capacidade de produzir quantidade de espetáculo de qualidade”, opina. Se os investimentos e mudanças no cenário santista realmente se concretizarem nos próximos anos, talvez as cortinas santistas mais uma vez se reabram para o mundo e novos Ney Latorracas ou Serafins Gonzalezes não comecem a despontar de um dos mais famosos berços da dramaturgia nacional. “Talvez com a escola, os alunos terão capacidade para levantar novamente o teatro em Santos. Essa é a nossa esperança”, afirma o secretário Carlos Pinto.“Acho que o atual momento do teatro produzido em Santos está a ponto de ter uma retomada e ser novamente um movimento de qualidade”, diz Peres.

Incentivo Se o dinheiro destinado ao teatro brasileiro não conseguia dar aos profissionais salários adequados e incentivos para permanecer em cartaz durante uma temporada, agora está ainda mais difícil. Os 50 bilhões cortados no orçamento do Ministério da Cultura pela presidente Dilma Rousseff influenciam na produção local. Sem apoio de órgãos maiores, a verba não chega ao Estado e muito menos à Prefeitura. Com isso, os grupos de teatro precisam encontrar novas maneiras para sobreviver. “Passamos o chapéu nos espetáculos e foi com ele que compramos os primeiros instrumentos musicais. Temos o incentivo da prefeitura em

alguns projetos, mas nada permanente, que é o necessário. Falta um trabalho contínuo”, diz Raquel Rollo, da Trupe Olho de Rua. O grupo surgido em 2002 adota as ruas como casa para surreender o público com histórias de humor e pitadas de críticas, sempre com a participação especial de bêbados, Passamos o cachorros e crianças, que surgem no meio da chapéu nos peça e se tornam mais espetáulos um personagem da história. “O nosso teatro e foi com não tem janelas, nem ele que portas, muito menos poltrona... Ele é feito compramos onde o povo está”. É os primeiros assim que a Trupe Olho da Rua se descreve. instrumantos Em cartaz há cinco musicais. meses com a peça O que terá acontecido Temos o a Rosemary, o ator e incentivo da diretor Junior Brassalotti não prefeitura consegue apenas viver em alguns do que ama fazer, pois o teatro não lhe projetos, fornece uma renda fixa. mas nada “Hoje, vejo como é difícil produzir teatro, permanente, colocar um espetáculo que é o em cartaz e sair da cidade. É difícil para necessário. os grupos pequenos Falta um de uma cidade como Santos saírem e trabalho se apresentarem contínuo. em outros locais”, lamenta. Raquel Rollo, atriz

Divulgação

A falta de uma formação básica, de gente interessada na área, provoca o surgimento de atores e produtores não-capacitados que não conseguem atrair o público ao teatro, o que acaba por afastar não só a plateia, mas também o interesse dos meios de comunicação. “Não há divulgação. Que jornal prioriza o teatro em Santos? A cidade perdeu o gosto pelo teatro pouco a pouco, perdendo a própria identidade”, diz o ator Lincoln Spada. Essa falta de interesse em divulgar impede não apenas o sucesso do teatro santista, como também o conhecimento público O teatro em revista 13


EM CENA do mesmo. “Toda a última segunda-feira do mês a gente traz grandes nomes do teatro no País, mas ninguém aparece. O jornalista tem que ter uma formação ampla. Os jornais não dão nem uma linha sobre essas personalidades. Falta profissional capacitado para divulgar, a área cultural não tem esse destaque, que o futebol tem. Se houvesse mais divulgação, sem dúvidas as pessoas ficariam mais incentivadas e não estariam á mercê da alienação e ignorância que presenciamos diariamente”, completa Peres, que também já trabalhou na mídia como crítico teatral.

JULIANA KUCHARUK

Flashes do espetáculo O que tera acontecido com Rose Mmary - em cartaz há meses.

ARQUIVO PESSOAL DE JUNIOR BRASSALTTI

Exibição do grupo da escola de artes cênicas Wilson Geraldo - a promeça do teatro santista

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ARQUIVO PESSOAL DE JUNIOR BRASSALTTI DIVULGAÇÃO

Clown da trupe olho de rua em performance na rua

ARQUIVO PESSOAL DE JUNIOR BRASSALTTI

PROFISSÃO SÉRIA

TTI

Junior Brassalotti tem mais de 30 peças no curriculo ARQUIVO PESSOAL DE JUNIOR BRASSALTTI

A carteira de trabalho de Junior Brassalotti registra a profissão que ele exerce desde 1994, quando ingressou no extinto Projeto Carlitos, da Secretaria de Cultura de Santos. Poderia constar um número profissional de ator, produtor ou diretor, mas o artista preferiu fugir do convencional e deixou a personalidade falar mais alto. No registro, o artista escolheu o ofício de Palhaço. “De todos os cursos e oficinas que eu fiz, a de palhaço era a mais poética, a mais divertida, trazendo bom humor. Se me perguntam o que eu sou, eu respondo: “Palhaço”. e sempre gero risada em quem escuta. E ainda por cima ganho dinheiro com essa profissão”, conversa orgulho o palhaço, que mesmo quando não está caracterizado consegue divertir as pessoas ao redor. A experiência na profissão não dependeu do DRT, Delegacia Regional do Trabalho — órgão do Ministério do Trabalho que cuida do registro profissional —, que só foi tirado depois de 12 anos trabalhando com artes cênicas. No currículo, Brassalotti tem mais de 30 peças, em que atuou nas diversas áreas em que se especializou. O teatro em revista 15


EM CENA

Em algum lugar do passado Mil oitocentos e trinta. Praça Mauá. Esquina da Rua Riachuelo. Ali onde hoje está erguido o edifício da Petrobras foi o berço do teatro em Santos — na época, a primeira e única casa teatral de Santos. Os escravos eram os responsáveis por levar as cadeiras para acomodar os senhores, um cenário difícil de se imaginar para os padrões atuais. Ir ao teatro era como ser convidado para um casamento: os vestidos eram escolhidos dias antes dos espetáculos e plumas, luvas e chapéus completavam o figurino das damas. Os frequentadores eram beneficiados pela proximidade do Porto. Já em 1830 as melhores apresentações de peças estrangeiras eram exibidas aqui. Até 1979, companhias de todo o mundo pisaram naquele palco diante da elite santista, como A Lírica Italiana, a Zarzuela Espanhola, as dramáticas de Sales Guimarães, Di Giovani. Inúmeros grupos

amadores de Santos e de São Vicente também passaram por ali, mas o local ficou abandonado e teve que dar adeus ao público. O Teatro de Santos deu início à arte cênica na cidade, que logo ganhou novos espaços para saciar a necessidade de quem ansiava por essa cultura. O casarão que já foi um armazém cafeeiro sai d cena e entra uma fachada de tom castanho de óleo na antiga Rua do Campo — o Teatro Guarani abre as suas cinco portas em 1882. A hegemonia do centro comercial foi desaparecendo no mesmo ritmo em que a vida santista tomou conta de outros pontos da cidade, como a orla e o Gonzaga. Mais de cem anos se passaram e o teatro amador em Santos ainda não tinha força. Foi em 1955, na Avenida Ana Costa, que começou a efervescência do amadorismo, com o Clube de Arte, como foi registrado por Carmelinda Guimarães em uma crítica no jornal A Tribuna em 1983, posteriorJORNAL CIDADE DE SANTOS mente reproduzida no livro Memórias do Teatro de Santos, também de sua autoria. Hoje, 180 anos depois da inauguração da primeira casa teatral de Santos, o cenário sofreu alterações, com influência de movimentos, artistas e da política, como conta Ricardo Vasconcellos, produtor cultural, diretor de teatro e ator: “O teatro amador na cidade é muito forte e teve um momento histórico no início, com Carlos Magno e a Patrícia Galvão (Pagu), que foram os fundadores do Festival Santista de Teatro, evento que tinha como objetivo principal difundir a arte como meio de expressão. Muitos artistas vinham de vários lugares para Teatro Guarani JORNAL A TRIBUNA participar do evento; além disso, começaram a aparecer grupos nas faculdades, nos clubes, nos bairros O cenário teatral em Santos foi surgindo aos poucos. Junto com o teatro vieram as reivindicações sindicais, por causa do porto. O cais era o palco de muitos movimentos, inaugurando uma tradição em Santos em formar grupos. Grandes atores foram para a política e vice-versa. “Quando começou o militarismo, a participação do teatro esfriou, mas muitos ainda faziam espetáculos que davam margem ao espectador refletir, sem ferir o militarismo No Clube de Arte, em 1957, Gilberta e Oscar Von Pfull, Antonio diretamente. Peças como as de Plínio Marcos Faraco, dr. Clóvis Carvalho, o engenheiro Frederico Neiva, Antoforam censuradas até o fim do regime militar, nio Faria, Nélia Silva, entre outros. Com os prêmios Arlequim do III Festival Paulista de Teatro Amador (Foto do Jornal A Tribuna) não só por criticar o momento político, mas

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LIVRO SANTOS E SEUS ARABALDES

Teatro de Santos

por exibir verdades que as pessoas não queriam ver, como a fome, a malandragem e os relacionamentos. “A partir da década de 80, com a volta da eleição para prefeito em Santos, surgiu um novo olhar para o cenário santista de teatro. As pessoas voltaram a fazer teatro e os jovens começaram a se interessar por essa arte, inclusive eu, que comecei em 1985. Mesmo ainda com censura, as pessoas se motivaram a entrar nesse meio. “Com o fim da censura, aumentou a liberdade de expressão e voltaram o Festa e a Federação Santista de Teatro em 1987, sendo que o primeiro não aconteceu durante o militarismo. Os grupos eram efervescentes assim como antes do militarismo, trazendo inúmeros participantes repletos com novas ideias, que terminaram por fazer surgir espetáculos interessantes como o “Revistando o Teatro de Revista” da Neyde Veneziano. Vieram para Santos espetáculos e grupos como o ‘Boi voador’, dando mais vontade para o pessoal experimentar. “Na década de 1990, o festival começou a ter mais abrangência e a receber também grupos estudantis, chegando a ter 15 dias de duração, com festivais de manhã, de tarde e de noite, unindo iniciantes e profissionais. Alguns grupos continuaram fazendo teatro pelo amor à arte, outros se profissionalizaram, enquanto alguns eram um hibrido (semi profissionais). Isso fortaleceu alguns grupos, mas também excluiu outros, por se sentirem inferiores em relação aos demais. “O movimento cultural começou a tomar proporção, chegando a um momento em que o governo queria eliminar a Secretaria Municipal de Cultura, tentando formar uma super secretaria, mas o movimento do teatro foi à câmara dos vereadores para intervir nessa medida e manter a Secretaria como estava. Foi um momento importante para a cultura na cidade, com músicos e artistas militando, encabeçados pelo teatro. O Toninho Dantas foi um nome importante na época para as pessoas entenderem a necessidade da secretaria. “O teatro se transformou, pois as

pessoas não conseguiam espaço e nem viver somente do teatro, chegando às vezes a apresentar uma peça apenas três ou quatro vezes, só para o Festival. As pessoas começaram a rever a história, ver que muito já tinha acontecido e viram a necessidade de se reinventar para acrescentar mais valores. A mistura de iniciantes e profissionais já não estava dando mais certo e com isso acabou acontecendo uma divisão. De um lado, grupos que queriam expandir e conquistar coisas novas, de outro, grupos que só ensaiavam para o festival e preferiam continuar no amadorismo. Temos poucos grupos com a consciência de que precisam correr atrás de capacitação e patrocínio para produzir e dar vida própria ao trabalho deles e continuar sobrevivendo pelo amor à arte. Antigamente tinha uma produção anual, alguns ficavam mais de um ano com a mesma peça. “Mas o movimento de teatro se consolidou. De três anos para cá, as pessoas que passaram pelos períodos grandiosos viraram professores e acabaram se tornando um alimento para as novas gerações, por meio de aulas em oficinas e escolas da região. Pelo que vejo, os novos atores são ávidos, cheios de gás, querem participar de vários festivais e eventos.” JAIME M. CALDAS

Escravo no Teatro de Santos O teatro em revista 17


EM PÉ É MUITO MAIS EN

A evolução do estilo de comedia stand-up, que agora está presente na TV, bares ate mesmo em reuniões empresariais - Bruna Corralo “A cidade é dividida por canais, ou seja, para se achar em Santos você não precisa de um GPS e sim de um controle remoto!”, essa foi uma das cenas do show de Diogo Portugal em Santos. Quando esteve aqui, Diogo lotou duas sessões. E eu estava lá. De camarote. E garanto seu show é imperdível! O paranaense, que estourou depois de ser entrevistado por Jô Soares, se apresentou em Santos em 2010 e garante que quer muito voltar. “Tive o prazer de me apresentar ano passado no Coliseu, o teatro mais bonito que já estive e o time do Santos estava na melhor fase possível e as piadas com o Neymar e Ganso funcionaram muito. Lembro de ter zoado com coisas locais como os prédios tortos”, conta Portugal. Ele fez parte do grupo “Comédia em Pé”, um dos primeiros do gênero no Brasil. O grupo foi idealizado com seis humoristas, Marcelo Mansfield, Rafinha Bastos, Marcela Leal, Oscar Filho, Marcio Ribeiro e Henrique Pantarotto. E o show foi lançado oficialmente em 2005 numa noite de quarta-feira em Pinheiros, São Paulo. Para Portugal, o fator que colaborou com este boom do stand-up com certeza foi a internet, a TV a cabo e, principalmente, o YouTube. “Quando começamos a fazer stand-up, há mais ou menos seis anos atrás, queríamos muito nos organizar para que este estilo de comédia fosse mais bem aceito, mas ainda era uma novidade e as pessoas não entendiam a proposta. Criamos o Clube 18 MERDE !

da Comédia stand-up e ainda tínhamos pouco público. Quando tive minha primeira aparição no Programa do Jô, o vídeo caiu no YouTube e gerou milhares de acessos, na época ajudou muito!”, conta. Outro motivo para tanto sucesso é a identificação do publico com os temas, já que o comediante fala de fatos verídicos e comenta o cotidiano. Além disso, esse tipo de show é viável, tanto na execução quanto na venda porque não precisa de cenários, figurinos e grandes palcos. Basta um microfone, um banquinho e um ator cara de pau. O tal comediante criativo. Portugal já estivera em Santos quando trabalhava fazendo shows em navios e acha a cidade linda! Está aí outra característica desse tipo de peça. Ela não precisa necessariamente acontecer em um palco. Há muitos grupos se apresentando em bares. Teatro em um bar? Realmente parecia estranho há anos atrás, mas hoje isso é muito comum, e não só na ponte Rio—São Paulo. Santos O stand-up chegou de fato a Santos! Desde 2009, com a formação do grupo “Comédia na Areia”, é possível sair com os amigos ir a um bar e dar muitas risadas. Formado por quatro comediantes e com a participação do Palhaço Pudim o grupo trouxe para Santos e região o formato de show Stand-Up que já era sucesso em São Paulo e no Rio de Janeiro. Luciano Cidade, de 40 anos, André Garrido, de 38, Luiz Lavor, de 29, e Fábio Barros, de 28, são os responsáveis por entreter a plateia com um formato de humor irreverente que cativa o público. Com 30 anos de carreira, o Palhaço Pudim só vem acrescentar ao grupo. Enor, seu nome de batismo, faz uma participação especial com o personagem C2, fazen-


ENGRAÇADO

bares e teatros e

do parte da dupla C1 e C2. Ele completa o show com suas imitações, piadas e histórias. No show, com pouco mais de uma hora de duração, o grupo trata de diversos temas, como televisão, futebol, casamento e internet. Cada integrante se apresenta por cerca de quinze minutos. Cada um faz sua apresentação, dentro de sua especialidade, e André Garrido, como mestre de cerimônias, faz a mediação, intercalando as apresentações. Outro grupo que fez o Stand-up descer a serra foi o ““Cia. Primata de Humor”, Recordista no site Youtube, o grupo concorreu ao Prêmio Top Blog de 2010. A Cia é formada pelos atores: Renato Primata, Adriano Galoti, Walther Jr. e Victor Casimiro. O grupo foi criado em 2006 para explorar a comédia em suas mais variadas formas. “Nos apresentamos em teatro, barzinhos, empresas e lugares alternativos”, diz Renato Primata. O ator conta que tem incluído em seus shows personagens e que fazem também palestras em empresas. “O Grupo conta com 13 curtas-metragens de comédia e faz palestras temáticas em empresas com inserções de humor em palestras sobre segurança do trabalho, trabalho em equipe, liderança etc.”, contou. Shows fechados são a maioria na agenda do grupo. Sobre isso Renato diz: “O por quê de um baixo numero de apresentações aberta ao público, eu respondo. Porque nossos ‘canhões’ estão apontados para o programa de TV que faremos a estreia em AGOSTO, estamos gravando as ‘gorduras’ , pois quando o programa for ao ar já teremos seis prontos na gaveta.” O programa, que ainda está em fase de gravações, será veiculado em uma emissora da Baixada.

ESTILO CONSAGRADO Nascido nos Estados Unidos, mais precisamente na noite de Nova Iorque, o também chamado de “humor de cara limpa” é o estilo de humor que satiriza tema da atualidade, identificáveis pelo público. Nesse gênero é proibido o uso de maquiagem, figurino, de cenários elaborados e efeitos de som. O comediante deve se apresentar totalmente como ele é, despido de personagens e invenções. Os espetáculos são leves, ágeis, centrados na capacidade de observação, na inteligência do texto e na habilidade de fazer rir. O artista precisa apenas de um microfone, um foco de luz e do seu texto. Muitos consideram o gênero o mais difícil de se dominar, pois exige do ator habilidades variadas. Na maioria dos casos o próprio comediante é produtor, diretor, roteirista e ator. Cada ator tem seu estilo próprio. Há aqueles sarcásticos, outros, performáticos. Alguns são mais interativos, outros usam de personagens e imitações. É justamente essa diversidade de estilos e propostas que vem produzindo novos grupos e trazendo um pouco da essência do teatro para dentro de ambientes alternativos. O teatro em revista 19


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Do banquinho para a TV Não é novidade vermos comediantes de Stand Up na televisão. Os mais famosos do País estão lá. E talvez este seja o motivo para o Stand Up Comedy ter crescido e ganhado destaque nos últimos anos. Entre os grandes nomes do estilo estão Fábio Porchat, Rafinha Bastos, Diogo Portugal, Danilo Gentili, Oscar Filho, Dani Calabresa, Marcela Leal, Bruno Motta, entre tantos outros. Além de brilharem nos palcos e na TV, a maioria deles mantém um canal no YouTube, outro meio pelo qual o gênero ganhou fama. Porém, há uma novidade! Bruno Motta acaba de ser contratado pela TV Record. O humorista integrará o time de comentaristas do novo telejornal da Record News, ancorado por Heródoto Barbeiro. Terá como colegas outros nove nomes de peso, dentre os quais figuram Rubens Ewald Filho, Beth Goular, Adib Jatene e Ricardo Kotscho. “Foi um convite inesperado. Mesmo que eu tenha sempre trabalhado com humor de atualidade, baseado no dia a dia e nas notícias, mesmo sendo um dos criadores do formato do Furo MTV, que trabalha justamente em cima disso... foi uma surpresa ser convidado para integrar um jornal de verdade, implantar um novo modelo de jornalismo. Estou indo aonde nenhum humorista jamais foi antes: para a bancada do principal jornal da emissora.”, contou Motta. O humorista, que está em cartaz no Teatro Procópio Ferreira com o espetáculo ImproRiso, com Nany People , apresentava há dois anos o Furo MTV. O humorista encara essa nova fase com um desafio: “imprimir a dose de bom humor, que segundo Barbeiro e Kostcho, falta atualmente ao jornalismo.” Motta brinca dizendo que chegou aonde nenhum humorista jamais chegou antes. Dentro do jornal ele terá um quadro, que irá ao ar todas as segundas-feiras, no encerramento do JRNEws. O comediante fará, durante três minutos ao lado do âncora, uma revisão dos assuntos da semana. “A exposição é sempre boa, ainda mais com regularidade, seu público pode até se programar pra assistir. Mas eu adoro fazer televisão, é um veículo em que eu sempre aceito participar”, revela o ator. 20 MERDE !

Diogo Protugal (acima) e Bruno Motta (abaixo), são destaques em cena no Stand-up comedy DIVULGAÇÃO


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BASTIDORES

A FAMÍLIA ATRÁS DO PALCO Uma peça é composta não só por atores, mas por outros profissionais que vivem na coxia, praticamente invisiveis ao público - Caio Augusto

SUGGIA WEBLOG

A já falecida Pina Bausch considerada uma revolucionária, influenciou vários coreógrafos no mundo todo. Pina é responsavel por quebrar barreira no mundo da coreografia sendo uma referencia internacional

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A atenção do público está sempre concentrada no ator que interpreta Shakespeare ou Ionesco. Vai-se ao teatro para vêlo, pois a arte da interpretação acompanha o teatro desde as suas origens e talvez seja, de fato, a sua maior identidade. O fato, porém, é com a evolução cênica não são apenas os atores que compõem uma peça. Estes são apenas parte de uma grande família que, na hora do espetáculo, se reúne para que o público possa apreciar a grande arte. Mas uma peça começa muito antes — no ensaio. O diretor Gilson de Melo Barros define: “O teatro em si é uma coisa só, em que todos que estão ali trabalhando, convergindo, a fim de apresentar um bom espetáculo para quem está assistindo”. Ao dirigir uma peça, ele tenta se inspirar em algum diretor consagrado, para tentar adaptar o estilo ou, pelo menos, chegar perto. Suas referências são Gerald Thomas, Pina Bausch e Bob Wilson. “Quando você vê algo bom, tenta experimentar aquilo no teatro seja música, um perfume, uma palavra, uma frase, um espetáculo visto”, diz. Quando o diretor leva a peça para a rua — por exemplo, a uma praça —, a maneira como ele vai conduzir o espetáculo é diferente. O teatro de rua lida diretamente com o público ou até mesmo com a falta dele. “Mas no teatro de rua inevitavelmente sempre terá o bêbado”, reflete Gilson. Sonoplastia e interpretação — Em uma peça não é só os atores que precisam se preocupar com a interpretação. A música também precisa estar conectada com o que ocorre no palco. O profissional encarregado disso é o sonoplasta. O músico Gustavo Chinarelli chegou à sonoplastia porque já atuava como ator. “Uma peça pode incluir várias músicas ou então o diretor pode exigir que o espetáculo tenha somente uma. Mas o diretor pode também não querer música na peça”, explica Chinarelli. Ele conta que já fez a sonoplastia de uma peça ao vivo com mais um músico. Ele no violino e o colega no violoncelo. Antes da peça, tiveram tempo de ensaiarem juntos para modelarem as músicas, a diretora gostou dos ensaios e era isso o que ela queria. Quando os dois se apresentaram, ficaram de costas para a platéia. Assim, a música rebatia no fundo do palco e voltava para o público. “Foi um desafio, já que a

BLOG IGHTINGNOW

Coreografo e encenador americano, Robert Wilson um dos mais brilhantes artistas de vanguarda.


BLOG 1 BP

Um dos mais respeitados compositores de musica de filmes modernos da atualidade. Compos mais de 50 trilhas sonoras nas ultimas 3 decadas.

cena estava acontecendo e tínhamos que decidir qual música cabia para o momento da cena”, relembra Chinarelli. Como Gilson de Melo Barros, ele também tenta se inspirar BLOG PROTOCOLO NERD em diretores de teatro. Por gostar de cinema, ele acaba estudando as trilhas sonoras e se inspirando em Hans Zimmer, Thomas Newman, John William e Michael Kane. O modo de trabalho de Chinarelli funciona da seguinte maneira. Ele vê a cena montada e cria a sonoplastia em cima dela para saber que tipo de música irá funcionar naquele momento. Existem espetáculos em que o sonoplasta irá usar só alguns instrumentos. Já outros exigem uma orquestra completa para que as cenas possam fluir com a música. Com a sonoplastia do teatro de rua ela já um pouco diferente. O sonoplasta do teatro de rua pode fazer diferentes sons para uma cena e usar diversos tipos de materiais como baldes, sinos, violão ou até mesmo sons com a própria boca. Compositor Outro diferencial é que o sonoplasta pode ver a reação da alemão platéia, já que o sonoplasta está interagindo diretamente mundialmente com o público que está na rua. Além de ser sonoplasta, Chiconhecido por narelli é ator e faz dublagem: “Descobri que para ingrestrabalhos em sar na profissão de dublador precisava ser ator profissional trilha sonoras de registrado. Então, fiz um curso de atuação e, a partir desse filmes como Rei certificado, consegui entrar na dublagem”. leão, Piradas do A profissão de ator exige dedicação e mente aberta, já caribe 4, Sherlock que no palco poderá interpretar desde um senhor de idade a Holmes, Kung Fu Pand, Rain man. uma criança, um vilão, herói ou até mesmo fazer o papel de Nominado ao uma mulher. Chinarelli se inspira em atores como Jack NichOscar e ganhador olson, Robert De Niro, Jim Carrey e Tarcisio Meira. Muitas de 7 globos de vezes, o ator tenta pegar referências dos atores que gosta ouro por melhor e, a partir daí, tenta fazer uma linha própria de atuação. A trilha sonora vida do profissional é atribulada, sempre em busca de espetáculos em que possa atuar. Cenografia — Madeira, papelão, ferro, plástico, tecidos e até o figurino e a maquiagem dos atores fazem parte da cenografia. Esta arte não se limita só à criação de cenários, mas compreende toda a parte artística de uma peça. A cenografia não precisa ser a mais bela ou a que ocupa o espaço todo do tablado da apresentação. Ela precisa dar sentido ao que está acontecendo no palco naquele exato momento. O cenógrafo João Batista Cardoso, que está 20 vinte anos na profissão, explica: ”Quando você é contratado para fazer a cenografia de uma peça, a primeira coisa a se fazer é entender o texto”. Outra atividade que o cenógrafo tem que fazer é, se for uma peça que passa em uma época diferente, pesquisar a fim de saber com que irá trabalhar, saber qual a visão que poderá passar para aquele espetáculo. No teatro de rua, a cenografia tende a se limitar a maquiagem, figurino, objetos de mão e objetos pequenos. Por ocorrer num ambiente aberto, o diretor pode criar cenas que envolvam os próprios objetos daquele lugar, dando assim uma liberdade maior na atuação. O teatro em revista 23


BASTIDORES

CENA FUNDAMENTAL A escola livre que deu vida a um dos maiores festivais do País, o Fescet - Juliana Kucharuk Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 195. Abriram-se as portas. De um lado do hall de entrada se encontram algumas cadeiras e uma escrivaninha com um computador e dois funcionários trabalhando: Elisabethe Fernandes e Marcos di Bello. Diante do hall havia um corredor com cerca de sete metros de comprimento. No lado esquerdo, cadeiras de plástico, dois bancos de madeira e duas estantes, repletas de livros sobre assuntos que variavam entre cultura e arte. Do lado direito, cartazes colados na parede que anunciavam o resultado de competições e eventos. Na parede, alguns dos muitos troféus conquistados por alunos, professores e pelos donos da Escola de Teatro e Agência de Artistas e Técnicos do Tescom. Tudo começou em meados de 1970, com Iracema Paula Ribeiro, graduada em letras e autodidata no teatro, quando fundou o grupo de teatro amador “Uma mão com mel”. Iracema convidou para fazer parte do grupo o ator Pedro Norato, que teve a sua primeira experiência com as cortinas vermelhas aos 10 anos de idade. Mais tarde, convidou também a atriz Karla Lacerda, que fez a sua primeira peça mais cedo, aos 9 anos. No grupo, Karla e Pedro se apaixonaram e seu envolvimento foi além das cenas. Ficaram, namoraram e hoje são casados há 16 anos. Além da união entre homem e mulher ambos estão unidos à mesma paixão: o teatro. Anos depois, Iracema encerrou o grupo para fundar seu sonho. Conversou com Pedro e Karla e então, em 1994, foi aberto oficialmente o Tescom. “A grande idealizadora de tudo isso foi a Iracema Paula Ribeiro, já falecida. Mas juntamente com ela, eu e o Pedro Norato realizamos o sonho de começar a dar aulas de teatro, montar espetáculos, com o intuito de fundar uma escola livre de teatro”, explica a atriz e hoje pós-graduada na área da educação e da arte, Karla. No primeiro momento, os fundadores do Tescom davam cursos onde eram convidados, como em Universidades e escolas. Com o pas24 MERDE !

sar do tempo, começaram a fazer parcerias até que conseguiram alugar um local e depois comprar um terreno para erguer seu sonho, cuja sede existe desde 2007. O clima que permeia a escola é o típico do mês de junho: professora com dor de cabeça, alunos novos chegando, crianças indo embora após mais um dia de aula, telefone tocando, caixa de e-mails a todo vapor, funcionários tentando se concentrar. Essa é a véspera do Festival de Cenas de Santos (Fescete). Depois de focar no ensino do teatro decidiram promover um encontro cultural onde os artistas da região pudessem demonstrar o que têm aprendido em um grande festival. Com isso o Tescom deu vida ao projeto Fescete, que completa em 2011, 15 anos de existência e homenageia o ator santista Oscar Magrini. O tema desta edição é “Comemorar e Celebrar”, sendo “comemorar” um momento para se extravasar e “celebrar” um momento de compartilhar conquistas. Arraigado na cultura a diretora do Colégio Anglo Santista, professora Universitária e do Tescom, acha que o teatro é uma forma de ajudar as pessoas no desenvolver de suas profissões, além da importância na educação. Quando perguntada sobre como está a cena do teatro amador em Santos hoje, Karla enfatiza que vive um momento maravilhoso. “A gente passou por um tempo de gestação de tudo isso, parece que está nascendo agora tudo renovado. Temos uma força jovem dentro do teatro hoje muito grande. O teatro amador hoje é na verdade o teatro experimental, o teatro de grupo do passado. Mas por um tempo ele perdeu esse valor pulsante do fazer teatral que o teatro amador tinha, a função do iniciante, a investigação sem um compromisso comercial”, explica a professora universitária. Karla acredita que essa investigação foi se perdendo. A cena brasileira passou por um período em que o teatro amador era considerado menos importante que o profissional. “Mui-


JUAN GUERRA/AE

Casa lotada: Karla e pedro lotam coliseu antes de apresentacao teatral

tas pessoas do teatro amador migravam para o teatro profissional achando que o profissional era o maior. Na verdade, você pode ter uma atitude profissional dentro do teatro amador. Você pode ser um ator profissional dentro do universo amador. O profissional é aquele que ganha dinheiro através disso; o amador não seria para o sucesso das próprias produções.

Eu acho que são coisas diferentes que podem trabalhar em paralelo”, comenta Karla. Para Pedro Norato, arte-educador e diretor do Tescom, que hoje têm o teatro como sua única fonte de renda sua paixão poderia se resumir em uma frase: “Transformação, comprometimento... eu acho que isso resume o que agente acredita ser teatro”. JUAN GUERRA/AE

Fundadores do TESCOM, Pedro Noratto e Karla Lacerda - Em abertura do FESCET 2010

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AS MULHERES QUE DELICIARAM As grandes vedetes do Brasil (da Coleção Aplauso) aborda o teatro de revista e as coquetes que incendiaram os palcos em espetáculos grandiosos de sensualidade e humor - Simone Mengussi

O livro As grandes vedetes do Brasil, escrito pela diretora e especialista em teatro de revista Neyde Veneziano, além de abordar histórias de mulheres corajosas e audaciosas para a sua época — as vedetes — é uma aula deliciosa de história do Brasil. A autora retrata na obra 41 mulheres que ousaram e marcaram seus nomes na história do Teatro de Revista. As 41 personagens do livro poderiam ter sido 50, 60, 70 ou mais. “Por causa da falta de arquivo e de algumas estrelas que até hoje renegam o passado, apenas uma parte pôde ser pesquisada”, conta a autora. O teatro de revista teve início na França, em 1728. O nome se deve ao fato de o espetáculo passar em revista o que de mais importante havia ocorrido durante o ano. Para driblar a censura, usava belas atrizes talentosas, divertidas e que transpiravam sensualidade. No final do século 19, chegaram ao Rio de Janeiro as cocottes francesas, consideradas as rainhas da noite. Apresentavam uma opereta com uma dança proibida e muitas pernas à mostra. Era o esfuziante cancã. A cantora lírica e cocotte Mademoiselle Aimée agitou as noites da capital federal, dando muito trabalho

à polícia. Essas francesas abriram o caminho para o entretenimento com classe, bom gosto, luxo e muita malícia. Essa é origem do teatro de revista aqui. Se imaginarmos nos dias de hoje uma garota, menor de idade, recém-saída de um colégio de freiras sair de casa sozinha e romper com os costumes da sociedade para ser artista, não teria nada de mais. Mas se imaginarmos esta cena no começo do século 20 é outra história: “Maria Lino era italiana e se chamava Maria Del Negri. Chegou aqui com 14 anos, como dançarina do Alcazar Lyrique. Entrou para a história do teatro musical brasileiro como coreógrafa, considerada uma das maiores expoentes do maxixe — a dança proibida. Maria era mulher despojada e muito à frente de seu tempo. Era livre, tinha vida amorosa movimentada, não se prendia a ninguém. Não media esforços para conseguir o que queria. Era determinada e, de certa forma, despudorada. Um de seus muito apaixonados chegou a dizer: Era uma demônia. Possuía olheiras lânguidas, que traíam uma vida de vícios inconfessáveis”, narra Neyde Veneziano no livro. Essas mulheres tão amadas pelos homens e invejadas pelas donas de casa, além de seus talentos artísticos eram empreendedoras. Muitas criaram suas próprias companhias. Eram administradoras, coreógrafas, produtoras e as principais estrelas. Autora de vários trabalhos publicados sobre estética e linguagem da encenação no Brasil, Neyde conta que para ser vedete não bastava apenas ter um corpo estilo violão. Era preciso muito mais: “Vedetes são, portanto, seres teatrais de primeira grandeza, que alimentam fantasias masculinas, alfinetam (com graça) políticos corruptos, cantam, dançam e denunciam injustiças sociais, indiretamente. Tudo isso sem fazer a ingênua. Ou, se quiser, fazendo a esperta dissimulada em mocinha boazinha. Porque vedete que é vedete é muito chic. Tem charme. Em geral, não O teatro em revista 27


fala palavrão. Ela faz alusão. Aliás, esta é a sua grande arma: a alusão. A plateia pode pensar o que quiser, a vedete sugere, mas não fala diretamente.” A obra que integra a Coleção Aplauso é muito bem ilustrada, com fotos de várias épocas. Deixa claro como era o padrão de beleza no começo do século passado até o final dos anos 1960. Cinturas finíssimas, coxas grossas, sobrancelhas finas e arqueadas; umas ousaram cortar os cabelos curtos e subir o comprimento das saias para logo depois escandalizarem com calças compridas justíssimas. Para falar de vedetes é fundamental falar do Rio de Janeiro, então capital do País e do entretenimento. Nos primeiros anos do século 20, a cidade passou por uma reurbanização e higienização comandada pelo então diretor de Saúde Pública, Oswaldo cruz e o prefeito Francisco Pereira Passos. A intenção era tornar a cidade uma “Paris tropical”. Um desses grandes cenários era o famoso Teatro Recreio. Antes da chegada da TV, o rádio, o cinema e o teatro de revista eram as grandes atrações populares. A revista era grande divulgadora das músicas brasileiras. Para ser uma vedete era fundamental saber cantar, dançar e interagir com o público com muita classe. Walter Pinto foi um dos homens que revolucionou o teatro de revista. Em 1940, Sobre a origem da palavra vedete, há controvérsias. De qualquer modo, vedetta em italiano arcaico quer dizer: pessoa colocada em posto de observação, encarregada da segurança do campo. Seria uma espécie de vigia, que fica num posto mais alto. Sua função era vedere (ver). Assim, dessa forma, passou para a França e virou vedette, que continuava a ser a sentinela. Logo em seguida, os franceses inventaram vedette d’honneur (o vigia de honra) que era o cara que fica va no alto, vigiando uma celebridade da nobreza ou da riqueza. E, como os franceses são muito criativos, passaram a usar o termo para designar aquele que fica no posto mais alto para chamar a atenção. * Trecho do livro

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aos 27 anos, assumiu a direção do Teatro Recreio. Investiu pesado em cenários e figurinos luxuosos, contratou professores de canto e coreógrafos para cuidar da postura das meninas. Como diz Neyde no livro: “Com Walter Pinto foi diferente. Ele valorizou as vedetes em cena e elas conquistaram o público superando, em popularidade, os cômicos. Cantavam, improvisavam com desembaraço, dirigiam-se com naturalidade à plateia, sabiam contar piadas e eram sensuais. É que, além de empresário, produtor e escritor, Walter Pinto as treinava. Ou seja, ele criou um sistema vedete, um método que pouco a pouco foi se solidificando e oferecia, às atrizes, todo o instrumental necessário para que elas conquistassem a plateia.” Na segunda fase do teatro de revista outro grande empresário se destacou. Carlos Machado, conhecido como O Rei da Noite, adaptou os grandes shows para espaços menores como as boates. Manteve o mesmo glamour, classe e malícia sem vulgaridades. Caprichou na escolha das estrelas que estavam bem mais próximas da plateia. Para escrever a obra, Neyde contou com uma equipe de pesquisadores e colaboradores. Muitas curiosidades estão relatadas com muita precisão como a censura, que permitia apenas o nu estático, ou seja, a artista nua não podia se mexer e sim ficar parada durante a apresentação, simulando uma pintura. Outra curiosidade é a lei que até os anos 1950 proibia o uso de biquínis nas praias brasileiras, sob pena de repressão policial. O teatro de revista teve começo, meio e fim. Após a proibição dos cassinos, em 1946, milhares de artistas ficaram desempregados. O teatro de revista passou a ocupar teatros menores e boates. No fim dos anos 60, começou a agonizar. A censura implantada em plena ditadura militar calou as paródias. Muitas vedetes passaram a cantar em rádios e atuar em programas humorísticas nas TVs Tupi, Excelsior, Record e em cinemas. Outras migraram para shows de strip-tease, shows de mulatas e shows de exportação. Foi o fim de uma era.


As grandes vedetes do Brasil Autora — Neyde Veneziano Editora — Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – Coleção Aplauso Páginas — 296 Preço — R$ 30,00 Internet — A obra também está disponível gratuitamente em acervo digital: http://aplauso.imprensaoficial.com.br/

Virgínia Lane, a vedete preferida de Getúlio Vargas

O teatro de revista, como a opereta, também nasceu francês. Depois foi para Portugal e, de lá, veio para o Brasil. Chegou até nós como revista de ano, pois era um tipo de teatro musical e divertido que passava em revista os acontecimentos do ano anterior. No Brasil, as duas primeiras tentativas não deram certo. O público não gostou e a culpa era colocada no excesso de sátiras políticas. Em 1877, Arthur Azevedo escreveu sua primeira revista que se chamava O Rio de Janeiro em 1877. O público aceitou melhor. Mesmo assim, ainda foi meio devagar. Foi só em janeiro de 1884, com uma revista que se chamava O Mandarim, que Arthur Azevedo e Moreira Sampaio instalaram, definitivamente, esse teatro entre nós. A revista O Mandarim ficou conhecida como a gargalhada que abalou o Rio. Era uma crítica muito engraçada aos problemas do Rio de Janeiro, como as epidemias que ameaçavam o carnaval e a chegada de um mandarim para tratar da imigração chinesa que substituiria a mão de obra escrava. A força dessa revista estava no texto e na sátira política influenciando nossos autores e mostrando a possibilidade de se trocar a força da crítica política pela força dos apelos sexuais.

* Trecho do livro

Wilza Carla, uma das vedetes mais bonita do país O teatro em revista 29


AGENDA

AGENDA CULTURAL

Cinema

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Piradas do Navegando profundas

caribe 4 – em águas

Elenco: ohnny Depp, Geoffrey Rush, Ian McShane, Penélope Cruz, Stephen Graham, Sam Clafin, Max Irons, Astrid Bergès-Frisbey, Keith Richards. Direção : Rob Marshall Enredo: O Capitão Jack Sparrow retorna em mais uma aventura cheia de ação sobre verdade, traição, juventude e legado. O capitão começa sua jornada quando cruza com uma mulher de seu passado (Penélope Cruz), a filha do lendário Barba Negra. Sparrow está em busca da Fonte da Juventude, e não sabe se a relação deles é amor, ou se ela apenas é uma Cruel golpista que quer saber como chegar à fonte

Os Agentes do destino Elenco: Matt Damon, Emily Blunt, John Slattery, Anthony Ruivivar Direção: George Nolfi Enredo: Ambientado nos dias atuais, o drama enfoca a vida de David ( Matt Damon) candidato ao senado americano que acaba perdendo as eleições no dia em que conhece a bailarina Elise ( Emily Blunt) por quem se apaixona. No decorrer do filme David acaba descobrindo que nunca mais poderá ver Elise, pois ele é controlado por agentes do destino que não querem que eles permaneçam juntos.

Minhas Tardes com Margueritte Elenco: Elenco: Gérard Depardieu, Gisèle Casadesus, Sophie Guillemin, Maurane Diretor: Jean Becker Enredo: O quarentão Germain, um feirante da cidade de Pons (Gérard Depardieu), ainda mora com a mãe, com quem mal se relaciona. Sua vida muda depois que ele conhece Margueritte (Gisele Casadesus), uma senhora de noventa anos que o ensina a apreciar a literatura.


Teatro

Exposição

FESCETE - Festival de cenas teatrais

XII Salão Belas Artes Exposição coletiva de pinturas do núcleo de arte e cultura do litorial paulista – Naclip

FESCETE diferencia-se de outros festivais por ter estabelecido um comprometimento de instituir, em nossa região, um novo espaço para trocas e descobertas dos grupos teatrais. Visão: Ser referência como Festival de Cenas Teatrais no País. Objetivos: Premiar as melhores encenações; Estimular o público de teatro; Promover o empreendedorismo dos grupos teatrais; Fortalecer a cultura teatral. Metas: Aprimorar as técnicas teatrais; Ampliar a participação da população do Estado de São Paulo no teatro Santista; Inserir no mercado de trabalho os novos talentos do FESCETE. Homenageado do ano: Oscar Magrini Data: Do dia 17 de junho ao dia 29 de junho. Horários:19h30 e 20h30 Ingressos: R$ 10,00

Período de visitação: 9 a 30/6 – de 2ª a 6ª Horário: das 8h às 18h Local: galeria de arte Nelson penteado de Andrade praça dos expedicionários n 10 – prodesan

Literatura Nem te conto João Autor: Dalton Trevisan Tema: Romance curto composto da reunião de trechos e contos e um acréscimo de ideias para outros escritos. Nesta nova obra, vê-se a relação entre João, umprofissional liberal de classe media alta e Mariazinha, uma garota virgem que narra a ele suas historias libidinosas. O livro desloca partes de outras obras para dar novos significados a trechos consagrados

O Remedio do Rei Enredo: Netuno, o Rei dos Mares, adoece e começa a perder a sua força, alterando toda a rotina do reino. O Rei consulta todos os sábios do mundo aquático à procura da cura para a sua doença, mas ninguém encontra o remédio. Para ajudálo, o Bobo da Corte, o Cavalo Marinho, resolve procurar ajuda no reino dos humanos. Com Apcy Produções. Teatro. Onde: Sesc - Santos Dia: 26/06 - Domingo, às 17h30. Ingresso: R$ 4 inteira , R$ 2 aluno matriculado no SESC O teatro em revista 31


PLATEIA

ESPETÁCULO NO CONFORTO DO SOFÁ O site Cennarium usa a internet para levar emoção ao espectador - Isabella Paschoal O crítico Jaco Guinsburg descreve a expressão cênica como uma “tríade básica – o atuante, texto e público”, sem a qual o teatro não teria existiria. Contradizendo a afirmação de Guinsburg, graças à globalização e à inclusão digital, você não terá mais que se lamentar por falta de dinheiro ou tempo. O site Cennarium foi criado com o objetivo de aproximar a sexta arte do público que não pode, por diversos motivos, estar presente ao teatro. A concepção do site surgiu durante uma conversa entre Harry Fernandes, diretor-executivo da Cennarium, e o pai. Eles falavam sobre espetáculos internacionais que, finalmente, estavam começando a vir para o Brasil. O pai de Harry previu que por causa das desigualdades aqui encon32 MERDE !

tradas, boa parte do público jamais teria a oportunidade de assistir a espetáculos como esses. Foi quando Harry encontrou um meio de colaborar para a redução dessas diferenças. Se a maioria da população não tem como ir ao teatro, a solução seria levar o teatro até ela. Foi assim que, em 2010, nasceu o Cennarium, exatamente em 27 de março — Dia Internacional do Teatro. A frase “luz, câmera, ação” não é mais usada apenas em sets cinematográficos. Agora também pode é usada nos palcos. “Nós gravamos, você se cadastra no site, compra a peça e assiste, simples, não?” É assim que a página explica o seu funcionamento. Separadas nas categorias comédia, dança, drama, infantil, musical, conhecimento e até mesmo


a nova modalidade stand up, as peças podem ser encontradas para compra e serem assistidas quando o público quiser. Cada obra tem a sinopse, um breve resumo sobre o conteúdo e ficha técnica e de produção especificados abaixo. Ao lado direito da tela, tem o “conteúdo relacionado”, com um vídeo de making off e entrevista com os atores. Um pouco mais abaixo, há um espaço reservado para fotos do espetáculo. A maioria das apresentações conta com atores brasileiros consagrados, como Renata Sorrah, Eduardo Moscovis e Luana Piovani. Os vídeos são exibidos com closed caption — a legenda que pode ser acionada por quem está assistindo, em quatro idiomas. Também possui alta qualidade de áudio e vídeo. O “ingresso” para as peças, chamado de crédito, varia de R$ 10,00 a R$ 30,00. Mas para quem quer assistir a mais de uma, o portal oferece várias opções de assinaturas, que podem ser mensais, trimestrais, semestrais ou anuais. O plano mais barato, Cenna Real, custa R$ 12,40 e disponibiliza quatro apresentações por mês. O Cenna Smart custa R$ 17,11 e permite que o assinante assita a seis peças. Existe também o Cenna Vip, que libera oito peças por R$ 21,08. E para quem quer ser fã de carteirinha, o plano Cenna Premium permite assitir dez peças por mês ao custo de R$ 24,80. O pagamento pode ser feito com cartões de crédito Visa, Master Card, American Express ou Bradesco. Outra forma é por boleto e transferência bancária. O site possui a TV Cennarium, em que uma equipe de jornalismo realiza entrevistas com os atores e diretores, making off das apresentações e traillers para quem quiser dar aquela conferida caso esteja com dúvida sobre qual comprar. Inovadora em todos os sentidos, a página possui conecção com as mídias sociais. E-mail, Twitter, Facebook, Orkut, Yahoo e outros, meios de manter contato com os clientes sempre. Mas para quem ainda não entrou na era das redes sociais, o site conta com um chat online de segunda a sexta, das 9 às 18 horas, e um telefone para contato. O portal conta com o apoio de dois blogs. O blog Cennarium é institucional e contém posts sobre os trabalhos realizados pela equipe. O outro é o Teatro Café, onde são postados textos sobre peças, livros, promoções, cursos e cultura em geral. Ambos são abastecidos pela atriz Luisa Fischer.

Nem precisa sair de casa Uma das vantagens de assitir peças em casa é poder ficar de pijama, esparramado na cama ou na cadeira e com um balde de pipoca, já que no teatro não é permitida a entrada com alimentos (e nem de pessoas trajando roupas de dormir). Ponto para o portal! Peça comprada, familia reunida e acomodada no sofá. E agora? Basta acessar o perfil pessoal no portal Cennarium, apertar o play e não esquecer de desligar celulares, telefones e campanhias e pedir para que o cachorro pare de latir. Ai está uma desvantagem. O mundo lá fora não vai parar só porque você quer silêncio absoluto. Nossas casas não possuem a estrutura fisica e acústica de um teatro. Empatou, 1 a 1. Pronto. Você fechou as portas, janelas e conseguiu o máximo de silêncio possível. Mas, perai! Cadê as pernas do ator? Aí vem outro ponto negativo para o site. As peças são gravadas em close, para que em algumas cenas possamos ver de perto a fisionomia dos atores. Mas faz com que deixemos de ver todo o cenário, a reação dos outros atores que estão em cena e, claro, as partes debaixo. 2 a 1 para o teatro. Em cima da tela que aparece o vídeo, existe a opção “apagar a luz”. Quando ativada, o que possui em volta da tela some, ficando somente a peça. Mas a barra de menus e de endereços que encontramos em todo e qualquer navegador fica ali. E atrapalha. Outra coisa. Dependendo do tamanho do monitor de seu computador, a tela da peça fica cortada na parte de cima ou na parte debaixo, fazendo com que você tenha que ajustar o seu tamanho. 3 a 1 para o teatro. Eu poderia redigir várias outras críticas ao portal e não trocaria uma boa e bela apresentação no Teatro Municipal. Mas não posso negar que o objetivo do site é bom e pode trazer cultura para aqueles que não têm o costume ou simplesmente não têm a oportunidade de frequentar teatros. O teatro em revista 33


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Acesse: www.unisanta. br/revistavirtual e confira o material produzido pelos alunos do 3ยบ ano de Jornalismo da Unisanta

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