Ressa Rock - Revista anos 80

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Rock

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O evento que reuniu os grandes nomes do rock nacional e internacional em 10 dias de shows inesquecĂ­veis.

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cabou, no último domingo, o Rock in Rio. O festival, que aconteceu em Jacarepaguá, reuniu cerca de 1.380.000 pessoas ao longo de 10 dias de apresentações musicais. O Rock in Rio trouxe muitas bandas e artistas estrangeiros para a alegria dos rockeiros inveterados, mas colocou no grande palco gente brasileira que não deixou a desejar.


NO PALCO DO

FESTIVAL DIA 11 Ney Matogrosso Erasmo Carlos Queen Baby Consuelo e Pepeu Gomes Whitesnake Iron Maiden

DIA 14 James Taylor George Benson Alceu Valença Moraes Moreira

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DIA 12 Ivan Lins Elba Ramalho Gilberto Gil Al Jarreau James Taylor George Benson

DIA 15 AC/DC Scorpions Barão Vermelho Eduardo Dusek Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens

DIA 13 Rod Stewart Nina Hagen The Go-Go’s Blitz Lulu Santos Os Paralamas do Sucesso

DIA 16 Rod Stewart Ozzy Osbourne Rita Lee Moraes Moreira Os Paralamas do Sucesso


DIA 17 Yes Al Jarreau Elba Ramalho Alceu Valença

DIA 20 Yes The B-52’s Nina Hagen Blitz Gilberto Gil Barão Vermelho

DIA 18 Queen The Go-Go’s The B-52’s Lulu Santos Eduardo Dusek Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens

DIA 19 AC/DC Scorpions Ozzy Osbourne Whitesnake Erasmo Carlos Baby Consuelo e Pepeu Gomes


Realização Quem idealizou e promoveu o evento foi o jovem publicitário, dono da agência Artplan, Roberto Medina, também responsável pelo memorável show de Frank Sinatra no Maracanã em 1980. Nós da Ressaca do Rock entrevistamos o visionário Medina para saber como nasceu esse sonho. Ressaca: Roberto, de onde veio a ideia do Rock in Rio? Roberto Medina: Olha, chegou um momento, por questões políticas do Brasil e tal, em que eu estava muito infeliz com o Rio de Janeiro. Era um momento em que eu não estava de bem com a cidade e eu queria ir para os Estados Unidos, trabalhar lá, abrir a Artplan lá. E numa noite eu fui instigado a pensar no que eu faria que poderia justificar o fato de eu ficar aqui no Rio de Janeiro. Eu já tinha uma empresa bem sucedida, empregava pessoas, paga imposto, tudo isso que poderia me justificar, mas não era o bastante. Eu queria, antes de tomar a decisão de ir embora, fazer alguma coisa importante. O Brasil estava passando por uma saída da ditadura para a democracia, então me pareceu o momento certo de botar a juventude mostrando a cara. E aí, numa noite, eu não vim planejando nada. Eu saí de um processo de uma depressão num dia e á noite eu fiquei acordado. Quando chegou de manhã, eu fui para a agência, não tinha dormido, com o nome Rock in Rio, eu sabia como tudo ia ser. Acho que o Rock in Rio me buscou, não fui eu que busquei ele.

Ressaca: E qual foi a maior dificuldade para a realização do evento? Roberto Medina: O problema é que não havia cultura anterior de evento de música, não tinha nada. Foi uma intuição, uma visão de um projeto que custava 50 milhões de dólares. O Brasil não tinha luz, não tinha som, o maior show do Brasil tinha 40 mil pessoas. O trabalho mais difícil do Rock in Rio era que alguém me levasse a sério. Eu tentava conversar sobre isso quando ainda era um sonho, mas já procurava colocar números naquilo, que não eram números certos, claro, e ninguém me levava a sério.

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Ressaca: E como você superou esses empecilhos? Roberto Medina: Por sorte, eu esbarrei em pessoas importantes. A Brahma acreditou em mim e foi patrocinadora e eu comecei a concretizar o projeto. Outra figura que me ajudou foi o Sinatra. Porque, quando eu consegui o dinheiro básico,que foi uma luta enorme, eu fui para os Estados Unidos contratar as bandas. Me parecia simples, afinal eu tinha o dinheiro. Mas nada! Fiquei 60 dias em Nova Iorque, montei um espaço fantástico para mostrar vídeo e nenhuma banda aceitou. Disseram que não ia acontecer aquilo no Brasil. O Brasil tinha uma história de roubar equipamento, não pagar os artistas e tal. Eu fui para Los Angeles e as coisas só foram mudar quando eu me lembrei de ligar para o Sinatra. Ele mandou o relação públicas dele me ajudar, o Lee Solters. O Lee me ajudou fazendo umas ligações e eu fiz uma conferência de imprensa no hotel onde eu estava hospedado. Lotou de jornalistas e, no dia seguinte, todos os jornais americanos anunciaram que o maior show de Rock do mundo aconteceria no Brasil. Aí as bandas fizeram fila na porta do hotel. O primeiro a assinar o contrato foi o Ozzy Osbourne, depois o Queen, mas em dois dias, estava tudo fechado. Ressaca: Pensou em desistir alguma vez? Roberto Medina: Teve uma hora que o dinheiro acabou. A construção da cidade não estava acontecendo porque era um terreno em que a terra ia afundando e não conseguiam fazer a obra. E um dia, não tinha mais dinheiro, não tinha nada, faltavam dois meses para o festival. Eu estava sozinho lá onde ia ser construída a Cidade do Rock. Esse foi um dia muito importante para mim: eu olhei para aquilo e pensei: não consegui. Eu desisti naquele momento. Liguei para o meu escritório e falei que queria uma reunião com a diretoria, porque eu ia comunicar para a imprensa


que eu não consegui fazer o Rock in Rio. Depois de tudo aquilo, depois de anos de trabalho, eu me senti o pior, o menor cara do mundo. E eu fui embora para pegar o meu carro. Quando eu chego perto do meu carro, passou um Passat branco com três rapazes de 18, 19 anos. Os caras me veem, freiam. Não deu nem tempo de falar, eles me levantavam, gritavam e tal. Quando acabou aquela algazarra, eu sentei ali no capô do carro e contei a eles que não havia conseguido realizar esse sonho. Depois de uma hora, acabada a conversa, eu chorava e eles choravam. E eu saí dali para fazer o oposto: essa reunião que era para desistir, eu fui para dizer que a gente tinha que trabalhar sábado e domingo, que se dane o dinheiro. Pedi uma reunião com todos os fornecedores do Rock in Rio e disse que o dinheiro tinha acabado, mas que nós precisávamos entregar aquilo, porque era uma coisa importante para a história desse país. 15 dias depois, a cidade estava sendo erguida.

Platéia

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organização do evento procurou agrupar atrações que pudessem agradar o mesmo público, como a programação do dia 12, que contou com Ivan Lins, Elba Ramalho e Gilberto Gil atendendo os amantes da MPB e Al Jarreau, James Taylor e George Benson atendendo os entusiastas do jazz-rock, do folk e do country, um público que dificilmente frequentaria a Cidade do Rock nos dias de Heavy Metal e Rock and Roll. Entretanto, os rockeiros fãs de AC/DC e Scorpions não foram muito tolerantes à variedade musical e vaiaram Eduardo Dusek e o grupo Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens no dia 15. Erasmo Carlos, prevenido, mudou sua data de apresentação do dia 19 para o dia 20, sem querer competir com o rock pesado de Whitesnake, AC/DC, Scorpions e Ozzy Osbourne. E como não só de música se faz uma festa, o público também aproveitou para entrar no estilo do festival. Foram 1.900.000 camisetas vendidas, além de acessórios extravagantes: pulseiras e gargantilhas de couro com espinhos de metal, cintos com taxas de metal, óculos divertidos, brincos em formato de raio e broches. O evento Para refrescar, foram dias de muita chuva e muita lama. Não muito diferente do festival de Woodstock de 1969, virou uma bagunça, todos ficaram bem sujos. Entretanto, também não muito diferente de Woodstock, os rockeiros não se deixaram abalar pela força da água e continuaram aproveitando o evento sem parar a diversão.

Música

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mbora o Rock in Rio tenha inovado como festival, visto não ter seguido a linha dos festivais de competição da Música Popular Brasileira e ter se equipado de tecnologia de primeira para proporcionar a qualidade das apresentações, não trouxe muitas atrações desconhecidas. A não ser pelos Paralamas do Sucesso, Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens e Barão Vermelho, os artistas brasileiros já tinham carreiras consagradas. As bandas estrangeiras como Queen, Iron Maiden, AC/ DC e Scorpions já eram amplamente conhecidas no Brasil e foram as mais esperadas pelos rockeiros. Quem atraiu o maior público, entretanto, foi o cantor James Taylor, que cantou seus clássicos dos anos 70 para cerca de 200 mil pessoas. James havia parado sua carreira musical, mas presenteou o Brasil com a sua música no dia 12

Momentos Marcantes

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abertura do festival com Ney Matogrosso interpretando “Pro dia nascer feliz” com suas calças esvoaçantes. O canhão do AC/DC disparando durante a apresentação de “for Those About to Rock” A tradicional entrada do boneco mascote da banda Iron Maiden, Eddie, caracterizado como uma múmia. Eduardo Dusek, no show do dia 15, entrou no palco com uma lambreta em sua roupa estilo clown e cantou sucessos como “Doméstica”, “Folia no Matagal” e “Copacabana Napalm”. Ao ser vaiado, replicou: “Se você é negativo, por que vir a um show de rock? Fique em casa e se suicide, que é melhor”. Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens subiram ao palco carregando uma enorme bandeira do Brasil. Ao final da música “Por que não eu?”, o baixista Leoni foi ao microfone e exclamou: “A gente dedica esse show ao novo Brasil que começa hoje e ao primeiro presidente que a gente gosta!”. Dia 15 de janeiro foi a data da eleição de Tancredo Neves á Presidência da República. Os Paralamas do Sucesso tocaram a emblemática canção “Inútil”, do Ultraje a Rigor, banda que não foi convidada para o festival. O grupo Scorpions fez uma homenagem ao Rio de Janeiro cantando a machinha “Cidade Maravilhosa” com a ajuda da platéia.


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