Portfólio Marília Gontijo

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Marília Gontijo

Portfólio Arquitetura

2019

Por tfó lio


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Marília Gontijo Estudante de Arquitetura e Urbanismo desde 2015 Nome completo: Marília de Paula Gontijo Macedo Dados: Brasileira, solteira, 21 anos (28/10/1997) Contato: mariliagontijo28@gmail.com (62) 98120-2821 Endereço: 11ª avenida, nº 1040, Setor Universitário Goiânia - GO, Brasil


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Formação:

(2012 - 2014) Ensino Médio completo pelo Colégio Agostiniano Nossa Senhora de Fátima (2015 - presente) Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Goiás (UFG)

Idiomas:

Inglês Fluente pela escola Brasas English Course Espanhol Intermediário pela escola Lengalia

Habilidades: Microsoft Office (word, power point) AutoDesk AutoCad Adobe Photoshop Adobe Illustrator CorelDRAW SkechUp Desenho à mão livre Costura Bricolagem

Experiência: Estágio para o escritório de arquitetura de Vinicius Pimenta


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Sumรกrio


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Fundamentos da Cenografia 6_Chapeuzinho Vermelho 10_O Mágico de Oz

Análise

e

Composição de Projeto 16_Instituto Salk

Narrativas Complexas de Cinema e Séries de Tv 22_Amnésia 24_Twin Peaks

Proposta de TCC 26_Cenografia 27_Lista de Orientadores


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Fundamentos da Cenografia

Disciplina ofertada como Núcleo Livre e parte da grade curricular obrigatória do curso de Artes Cênicas, tinha o objetivo de fornecer uma introdução teórica e prática sobre os princípios que envolvem o projeto de um cenário, seja ele para peças, filmes, videoclipes, entre outros. Assim, foram apresentados conceitos importantes sobre a história do teatro e do cinema, bem como termos específicos da cenografia e nomes importantes do ramo, tais como J. C. Serroni e Daniela Thomas.


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A primeira atividade desenvolvida envolvia a proposta de um cenário para uma peça baseada em uma história infantil ou um conto de fadas, a ser feito em uma maquete dentro de uma caixa de sapatos. O objetivo de tal trabalho era estimular a abstração do que seria considerado um cenário realista para a história ao estimular a criatividade com uma produção mais conceitual. Para isso, seria necessário levar em conta um texto de J. C. Serroni trabalhado em sala de aula sobre os preceitos da cenografia, e explicar como esses princípios foram seguidos na maquete. Assim, o resultado foi uma maquete baseada na história de Chapeuzinho Vermelho e um texto com tópicos que explicam seu conceito e o relacionam com os ensinamentos de Serroni.


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Cinco preceitos da cenografia de JC Serroni pensados a partir da maquete de Chapeuzinho Vermelho Cenografia e luz se dependem A maquete de representação do espetáculo mostra como sua cenografia é formada por vários níveis (espécies de “degraus”) que delimitam os espaços em que se passam as cenas da história: casa da mãe da Chapeuzinho, caminho certo da floresta, caminho errado da floresta e casa da vovó. Assim, a função da luz nesse caso é delimitar o nível em que está acontecendo a cena, ou seja, realçar o espaço em que a cena acontece, iluminando-o, e voltando o olhar do espectador para esse nível específico. Dessa forma, quando os atores estão na casa da mãe da Chapeuzinho, por exemplo, eles se encontram no degrau mais baixo do cenário (que é o nível em que os espectadores estão inicialmente), então a iluminação está focada nesse nível, deixando os demais no escuro. Conforme os atores vão “subindo os degraus” (e o público os acompanha), os demais níveis também vão se iluminando. Logo, a iluminação é planejada para esconder (inicialmente) e ir revelando aos poucos as partes do cenário, conforme as cenas vão se desenrolando. Piso também é cenografia Na maquete, o piso talvez seja o elemento central, já que não há móveis nem outros elementos a não ser as diferentes texturas que revestem cada um dos níveis. Assim, o primeiro nível é uma espécie de trançado de madeira, remetendo à cesta em que Chapeuzinho leva seus presentes à vovó; o segundo nível tem folhas verdes que simbolizam a parte segura da floresta, o caminho que a mãe de Chapeuzinho a aconselha a seguir; o terceiro nível é revestido de folhas secas que representam a parte da floresta mais perigosa, onde Chapeuzinho não deveria ter ido (é nesse nível que o lobo aparece); o quarto e último nível tem lã para remeter ao conforto e segurança da casa da vovó, além de representar a cama da vovó, em que se passa o clímax da história.

Cenografia precisa de Projeto Antes de ser concebida na forma de degraus sobrepostos no centro do espetáculo, a cenografia havia sido pensada com o formato de uma pirâmide, com degraus dispostos linearmente, com a forma de uma rampa (um tipo de espiral ascendente), entre outras. Por isso, antes de sua forma final, foram feitas várias tentativas por meio de desenhos e maquetes esquemáticas, como no início de um projeto. Com o partido definido (os degraus centralizados), puderam ser tomadas outras decisões de projeto, como as dimensões desses degraus, os materiais a serem usados, as cores desses materiais, como seria a iluminação… Portanto, nenhuma decisão deve ser tomada sem planejamento, e nisso o projeto se mostra essencial. Cenografia é decisão (que interfere no ritmo do espetáculo) As várias decisões tomadas para a concepção do espetáculo, que foram mostradas no item anterior, definiram também o ritmo dele, de forma que a cada nível é um espaço em que se passa a história. Assim, conforme o roteiro se desenvo ve, há uma ascensão nos ambientes, com os atores subindo de um nível para o outro (e com o público os acompanhando) e essa ascensão acompanha o aumento de tensão a própria história. Todo espetáculo tem um design (um desenho que aprendemos a adjetivar) O design do espetáculo está diretamente ligado ao projeto que foi pensado para ele, assim, sua tridimensionalidade, sua iluminação (ora clara, ora escura), sua paleta de cores (marrom, verde, bege/branco e vermelho), entre outras características são adjetivos que descrevem alguns dos aspectos da cenografia planejada e definem um desenho geral do espetáculo, que pode “seguir a lógica” do que é esperado para história ou pode desautorizar os discursos desta, criando um design específico e diferenciado.


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A segunda atividade da disciplina (feita em colaboração com Ana Elisa Jawabri e Ítalo Augusto de Castro) também implicava a produção de uma maquete, mas desta vez acrescida em complexidade, na medida em que foi necessário um trabalho de decoupagem para serem pensados em figurinos, caracterização, maquiagem, iluminação, paleta de cores e roteiro preliminar para uma peça teatral (também baseada em alguma história infantil). Assim, foi desenvolvida uma maquete com o projeto da iluminação e um trabalho escrito explicando o conceito por trás da peça imaginada.


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O Mágico de Ozressignificação Uma releitura do Mágico de Oz (escrita por R. Frank Baum em 1900) e combinada com o musical Wicked, a história parte de uma premissa em que a personagem de Dorothy se encontra desaparecida, de forma que todos os demais personagens se tornam suspeitos de seu sumiço e passam a ser investigados. Assim, todos eles possuem momentos na trama em que são questionados e devem dar seus depoimentos, e este preceito resulta em um cenário simples, majoritariamente na cor preta e que depende da luz para funcionar e dar mais destaque aos personagens e atuações do que ao cenário em si. Personagens Dorothy Gale A personagem que desaparece e a trama gira em torno de quem foi o responsável por seu rapto. Dorothy é uma menina rebelde criada por seus tios conservadores e não aparece na peça, é apenas citada. Mágico de Oz _ cor: verde Pilantra, mentiroso e falastrão. Por mais que o personagem não seja o vilão de toda a trama, ainda possui um estereótipo com carga negativa. Homem de Lata _ cor: cinza Não possui coração. Seco, irônico e arrogante o personagem nada mais é do que um produto do seu meio. Bruxa Má do Oeste [Elphaba] _ cor: verde Principal suspeita da trama principalmente por ser verde. Acusada sobretudo por ser a única que de verdade possui poderes. Bruxa Má do Leste [Nessarose] _ cor: roxo Inveja dos poderes da irmã e por isso tenta fazer com que ela de fato seja a culpada. Bruxa Boa do Norte [Glinda] _ cor: rosa pink Desequilibrada, não inspira confiança e movimenta a trama com suas declarações polêmicas.

Bruxa Boa do Sul _ cor: azul Depressiva e sofre de bipolaridade. Seu depoimento é cheio de controvérsias o que abre suspeita da sua possível relação com o desaparecimento de Dorothy. Fyero _ cor: marrom Típico malandro, tem envolvimento com Glinda, Elphaba e Mágico de Oz, sendo este último o seu álibi para não ser o culpado do desaparecimento. Espantalho _ cor: laranja Funcionário público entediado e que não consegue mais ter autonomia de pensamentos devido à automação do seu trabalho. Leão Covarde _ cor: vermelho Personagem problemático que sofreu abusos na infância. Em seus depoimentos, não conclui os pensamentos, voltando atrás diversas vezes no que diz. Toto _ cor: branco Personificação de um animal, não diz nada durante a trama Tia Emma _ cor: amarelo Dona de casa e conservadora, é uma possível suspeita por ser intolerante, já que Dorothy não seguia seus padrões. Tio Henry _ cor: amarelo Desempregado, conservador e extremista, é submisso à Tia Emma e um possível cúmplice da mesma. Macacos Alados _ cor: marsala Baderneiros amigos de Elphaba, são os álibis de Elphaba. Cidadãos de Oz _ cor: verde Cerca de quatro figurantes representam os cidadãos de Oz. Madame Morrible _ cor: vinho Drag queen que de fato sabe tudo que aconteceu, porque ela viu a cena do desaparecimento, mas não inspira confiança pois sua identidade verdadeira não é revelada. Figurino Peça chave: cada personagem veste algo na cor que foi estabelecida para ele.


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Caracterização e maquiagem Estilo propositalmente exagerado e caricato Mágico de Oz _ se veste de verde e tem um bigode que lhe dá um ar cômico Homem de Lata _ todo prateado, roupas e pele Bruxa Má do Oeste [Elphaba] _ tem a pele verde mas se veste com roupas atuais Bruxa Má do Leste [Nessarose] _ usa roupas curtas e decotadas Bruxa Boa do Norte [Glinda] _ usa acessórios cor de rosa muito chamativos Bruxa Boa do Sul _ usa roupas cinzas e desbotadas, não tem muita maquiagem Fyero _ usa roupas modernas e age como galã e conquistador Espantalho _ usa um terno desalinhado Leão Covarde _ usa roupas comuns mas tem uma pose intimidante Toto _ maquiagem de cachorro humanizado Tia Emma _ roupas conservadoras, em perfeito estado. Nada fora do lugar Tio Henry _ roupas conservadoras, mas as usa de forma descuidada Macacos Alados _ usam pequenas asas Cidadãos de Oz _ se vestem com acessórios verdes chamativos Madame Morrible _ maquiagem pesada de drag queen Cenário, luz e som Grid com 16 pendentes a uma distância de 2,5 x 2,5 m (milharal de pendentes); 16 mesas retangulares pretas de 1,20 x 0,50 m com rodinhas e trava. ; Mesas empilhadas ao fundo, coladas na parede, em forma de cascata; Luzes distribuídas pelo grid e um ponto de luz ao fundo ‘lavando’ a cascata de mesas empilhadas; Máquina de datilografia em diversos momentos; Som de um coração pulsando ao fundo das falas do Homem de Lata; Trilha sonora das cenas musicais.


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Decoupagem Cena 1: depoimento de Dorothy Desenho do palco: 15 mesas em círculo e uma mesa ao centro. Som: teclas de máquina de datilografar e voz de Dorothy em off expondo como tudo começou, em forma de depoimento. Quando ela termina de falar, há um barulho de furacão. Luz: fade in com foco no centro desenhando a sombra do contorno dos outros personagens e iluminando a mesa central. Há uma luz discreta e suave que permanece o tempo todo iluminando o fundo, “lavando” a cascata de mesas. Personagens: todos em cena, em conflito mas sem projeção de vozes (exceto Dorothy, a qual é representada por uma voz em off). Cena 2: o conflito (furacão) Desenho do palco: mesas bagunçadas sendo jogadas ao fundo, em direção à cascata de mesas. Som: som de furacão ao fundo com música punk em primeiro plano (simboliza o conflito existente). Luz: pendentes e a luz ao fundo piscando. Personagens: se amontoam ao fundo, junto às mesas. (Referência imagética: A Liberdade Guiando O Povo Delacroix). Cena 3: depoimento(s) Desenho do palco: após a passagem do furacão, a mesa da Dorothy permanece ao centro. À medida que cada personagem vai fazendo seu depoimento, este carrega consigo sua própria mesa para debaixo de um pendente, formando no final, um grid de mesas que ficam abaixo de cada pendente já existente. Som: som da própria voz do personagem, exceto Homem de Lata (que é sempre acompanhado pelo som de um coração batendo). Luz: pendente em cima da mesa da Dorothy fica aceso o tempo todo. Conforme cada personagem vai fazendo seu depoimento, se acende o pendente correspondente ao local de sua mesa. Personagens: todos em cena. Enquanto um dá seu depoimento, o restante fica reagindo ao fundo. Cena 4: reconstituição Desenho do palco: as mesas que estão em cena permanecem como estão. Os personagens fazem um círculo, como o do início, mas agora sem as mesas. Para a reconstituição de uma lembrança dita pelo personagem que está dando o depoimento podem ser usadas apenas as mesas que estão dentro desse círculo, ou seja, as que foram colocadas no jogo de cena.


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Som: voz da Dorothy em off, ao mesmo tempo que a mesa ganhará a personificação da própria personagem, novamente desautorizando o discurso da existência da protagonista enquanto corpo físico. Luz: focal no centro do palco. Personagens: todos estão presentes, alguns fazendo parte da reconstituição em si e outros apenas reagindo e assistindo. Cena 5: musical Desenho do palco: personagens interagem com a própria mesa seguindo o ritmo de cada apresentação e música. Som: música interpretada pelos personagens. Luz: continua a mesma que estiver ligada no momento do depoimento. Personagens: todos que estiverem envolvidos na cena em específico. Cena 6: depoimento cruzado Desenho do palco: todas as mesas organizadas no grid. Som: som das falas de todos os personagens se interrompendo. Luz: todos os pendentes acesos. Personagens: todos estão em cena e um depoimento começa a interromper o outro. Ao fim, há apenas uma balbúrdia sem sentido. Cena 7: caso arquivado (desfecho) Desenho do palco: mesas começam a se empilhar no centro sobre a mesa da Dorothy enquanto os personagens estão discutindo. Empilham todas as 15 mesas durante toda a discussão até começar a voz da Dorothy em off. Som: som das falas de início, depois máquina de datilografia começa e voz da Dorothy em off, por cima dos sons da discussão, silenciando-os. Luz: todas as luminárias ficam piscando, exceto a da Dorothy. Vão se apagando pouco a pouco, até restar só a da Dorothy e a iluminação ao fundo, a qual vai fazendo um fade out. Conforme vai acabando seu discurso, a luz de Dorothy também vai piscando até fazer um fade out. Personagens: todos em cena, discutindo e empilhando as mesas. Quando Dorothy começa a falar eles ficam mudos mas continuam gesticulando e discutindo.


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Análise e Composição de Projeto A disciplina tinha o objetivo de estimular a observação de obras arquitetônicas e analisar como os elementos separados, tais quais luz e sombra, ritmo, materiais, plasticidade, formas geométricas e relação com o entorno podem formar uma composição harmônica e um resultado final de uma obra que é mais do que simplesmente a junção das suas partes.


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A atividade desenvolvida (em colaboração com Aline Lopes, Ana Clara Vilela e Lorrayne Santos) consistia em uma análise do Instituto Salk, obra do arquiteto Louis Kahn, identificando suas principais características e influências e, a partir disso, desenvolver uma maquete que expressasse e fizesse a abstração de traços presentes não apenas nesta obra, mas em toda a carreira do arquiteto


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Assim, o resultado final buscou trazer a materialidade do concreto através do papel cinza utilizado; o ritmo foi estabelecido com a repetição de um mesmo módulo (o qual foi encontrado com a adição e subtração em formas geométricas básicas como o círculo e o retângulo) e houve o uso de recortes para tornar possível um jogo de luz de sombra, uma característica tão marcante do arquiteto. Dessa forma, foi possível fazer uma abstração de elementos construtivos da arquitetura e, de certa maneira, traduzi-los em uma escala menor e em formato de maquete.


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Narrativas Complexas de Cinema e SĂŠries de TV


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Disciplina ofertada como Núcleo Livre da Faculdade de Informação e Comunicação, tinha como objetivo introduzir os princípios abrangidos em uma produção de uma narrativa em formato audiovisual, revelando sua estrutura e sua forma, além de explorar conceitos como cinema clássico hollywoodiano, televisão barroca e, como seu nome diz, o que significa para uma narrativa ser denominada “complexa”. Assim, com base nesses conteúdos, foram produzidas diversas resenhas e análises críticas sobre filmes e episódios de séries que foram assistidos em sala (tais quais Janela Indiscreta, Black Mirror, Arrested Developmente, Mr. Nobody), de forma que foi possível ampliar o conhecimento sobre as formas de se contar uma história por meio de discussões e debates.


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Este primeiro texto analisa o filme Amnésia de Christopher Nolan, aplicando os conceitos aprendidos em sala para destrinchar esta narrativa não-linear e explicar o porquê de sua complexidade.


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Amnésia (2000) Talvez o aspecto que mais chame atenção no filme de Christopher Nolan seja a falta de linearidade na montagem dos eventos, de forma que, apesar de seguir a teoria de Mckee e possuir as 5 partes principais que formam uma história (Incidente Incitante, Complicações Progressivas, Crise, Clímax e Desfecho), as mesmas não são apresentadas respectivamente nessa ordem, fazendo com que o espectador seja impactado não somente pelo conteúdo da história em si (a busca de Leonard por vingança, o porquê dele ter matado Teddy, quais os propósitos de Natalie, qual o destino da história paralela de Sammy Jenkins), mas também pela maneira como ele é apresentado. Mais do que à trama, o público se vê preso desde a cena inicial ao quebra-cabeça que é a sequência de eventos, e se envolve nesse desafio de entender qual a ordem dos acontecimentos mostrados (se são flashbacks, flashfowards, o presente ou ainda a imaginação do personagem de Leonard). Isso o intriga do início ao fim, a busca por desvendar cada cena, cada sequência procurando pistas que o façam encaixar aquela trama em uma sequência cronológica mais “lógica”. Em relação ao protagonista, este também é responsável pelo aumento da complexidade da trama, já que ele mesmo é um personagem complexo, com conflitos de nível pessoal (seu problema de memória recente e sua busca em não ser limitado por essas condições) e no nível externo (demonstrado em sua busca por vingança pelo assassinato de sua esposa). Inclusive, o fato de Leonard ter sua perda de memória recente e se tornar uma espécie de narrador não confiável, faz com que até mesmo aquilo que achamos que sabemos, aquilo mostrado nas cenas, seja questionado, afinal o próprio personagem diz que a memória humana não é algo confiável, apenas os fatos. Fatos esses que são explicados mais claramente ao final do filme pelo personagem de Teddy (no que se caracterizaria o Clímax da trama) e nos quais escolhemos acreditar, pois nos fornecem o sentido que estamos procurando desde o início do filme: quem é Sammy Jenkins, quem é John G, quem é Teddy e quem é o próprio Leonard. Porém, se pararmos para pensar mais profundamente, até mesmo isso que tomamos como sendo a verdade e como a explicação mais sensata pode ser questionada, nos deixando tão desconfiados dos fatos quanto da memória ao final da história. Assim, todos esses aspectos tornam a narrativa complexa pelo fato de elevar o conteúdo do filme a algo mais que a história contada, mas também à forma como ela é contada, diferenciando-a bastante das narrativas que subestimam o público e entregam uma trama “mastigada”. O questionamento, a incerteza, a sensação de não-entendimento são tão parte do filme que ele não teria o mesmo impacto se contado de forma mais clássica e linear. A montagem do filme torna-se um elemento que nos torna mais próximo da confusão que o próprio protagonista passa com o seu problema de memória e atinge o público num nível muito maior do que simplesmente espectadores: nós, em certa medida, nos tornamos um pouco o Leonard e vivemos durante algumas horas a sensação de não entender as informações ao nosso redor. Ao atingir dessa forma o público, é porque o filme possui de fato um diferencial que o torna digno de ser visto e revisto e debatido e, acima de tudo, apreciado.


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Já este segundo exemplo analisa a série Twin Peaks, de David Lynch e Mark Frost, e como esta narrativa inaugurou uma nova era da televisão, trazendo para as casas das pessoas um tipo de história que anteriormente só seria acessível em um cinema.


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Twin Peaks (1990 - 1991) Twin Peaks marcou a história da televisão americana e também mundial por unir elementos de investigação criminal, novela e filme de arte e por quebrar paradigmas que eram, até então, esperados para a plataforma da televisão. David Lynch e Mark Frost foram capazes de envolver o público com uma história de mistério sobre o assassinato da jovem Laura Palmer utilizando-se de personagens carismáticos, elementos místicos e sobrenaturais e construção de uma trama que deixa o espectador se questionando durante muito tempo todas as informações recebidas a cada episódio. A premissa aparentemente simples de investigação em uma cidade pequena que dá nome à série, na verdade vai se desenrolando de maneiras inesperadas de forma que Twin Peaks é um dos primeiros exemplos de narrativa complexa na TV. Essa complexidade é atingida através de uma estruturação que, segundo Jason Mittell, une o formato episódico padrão (com um arco fechado em cada episódio) e o formato seriado (com um único arco longo, assim como uma telenovela). Isso pode ser visto na existência de arcos longos como a própria investigação do assassinato de Laura Palmer pelo Agente Dale Cooper ou o mistério do Black Lodge, e de arcos mais curtos como o relacionamento entre o xerife Harry Truman e Josie Packard e nos envolvimentos em negócios ilegais de Benjamin Horne, seu irmão Jerry Horne e Catherine Martell. Dessa forma, há maior atenção ao desenvolvimento da trama do que às relações dos personagens, ao melodrama e aos efeitos especiais visuais - os quais são substituídos pela estética operacional que Mittell chama de “efeito especial narrativo”. Já segundo a análise de Angela Ndalianis, a forma de serialidade é chamada de modelo de episódios contínuos e múltiplas plataformas narrativas, que incluem uma resistência à linearidade e ao fechamento, e a perda de respeito pelos limites da estrutura, levando à elementos descontínuos, e a um “reino de movimento”. Assim, além do modelo narrativo, Twin Peaks é considerada complexa por outros fatores. A existência de ganchos (conflitos não resolvidos), a diferencia dos melodramas; o uso de empirismo e ambiguidade, vistos principalmente nas cenas passadas no Black Lodge ou nos sonhos de Cooper também elevam a série a um outro patamar, trazendo eventos explícitos ou implícitos, ou seja, fatos facilmente entendidos pelo público seguidos de outros que requerem maior atenção. Há também muito destaque para a paisagem de Twin Peaks, que deixa de ser apenas um cenário e se torna uma espécie de personagem extra, influenciando as personalidades e atitudes de seus habitantes. Por fim, a duplicidade e a metalinguagem se tornam elementos essenciais para fazer de Twin Peaks uma narrativa complexa. São exemplo dessa duplicidade a prima de Laura Palmer, Madeleine Ferguson, interpretada pela mesma atriz; os dois diários de Laura; sua vida dupla; o White Lodge e o Black Lodge, entre outros. Sobre a metalinguagem, há diversas referências autoconscientes, como a novela que os habitantes de Twin Peaks assistem, Invitation to Love, e a narração que a personagem Log Lady faz de alguns eventos na trama, aparecendo logo no primeiro episódio. Assim, a série é considerada complexa por unir interesse dos fãs, informações de um universo ficcional (ampliado através do filme Os Últimos Dias de Laura Palmer, de livros, guia de viagem…) e fornecer uma experiência diferente e profunda. Tudo isso só foi possível graças ao desenvolvimento de novas mídias, que permitiram que os fãs ficassem cada vez mais próximos das narrativas e pudessem mudar a relação emissor-receptor, tornando-se ativos nas decisões. Essas novas tecnologias também permitiram que fosse possível ver e rever os episódios, com os espectadores analisando-os não só no aspecto de ambiente ficcional, mas também na forma como estes foram construídos. Novamente lembrando Mittell, o público deixa de ser passivo e torna-se metarreflexivo (querendo saber além daquilo que foi feito, mas como foi feito). Além disso, há que se dar crédito à liberdade de criação dada aos artistas (diretores, roteiristas e escritores) pela emissora (ABC) que inseriram na série seus direitos autorais e inspiraram as diversas séries que se seguiram, como por exemplo The Wire e The Sopranos na HBO, até as mais contemporâneas como Breaking Bad, Mad Men, Mr. Robot e Westworld, as quais se baseiam, além da complexidade narrativa, em personagens tridimensionais e, muito frequentemente, na figura do anti-herói. Isso mostra como estilos visuais autênticos são capazes de influenciar outras produções, e como o legado de Twin Peaks consolidou a TV como uma plataforma possível de narrativas mais elaboradas, inaugurando uma era de produtos televisivos admirados tanto pela crítica quanto pelo público.


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Proposta de TCC Durante todo o curso de Arquitetura, temos contato com diversas plataformas artísticas, o que desperta a nossa sensibilidade para apreciar e para analisar as obras de arte que nos cercam, não apenas as arquitetônicas. Somando-se a isso, meu interesse em cinema, televisão e literatura me levaram a buscar disciplinas extras e núcleos livres que se voltassem para essas áreas: História Cultural da Arte, Narrativas Complexas de Cinema e Séries de TV, Fundamentos da Cenografia, Tópicos em Estética e Cinema e Literatura foram disciplinas que agregaram muito em minha formação. Dessa forma, foi possível encontrar um campo de atuação que unia todos esses interesses: a Cenografia. Extremamente ampla, a Cenografia (também conhecida como Design de Produção, Desenho de Palco, Design de Cena entre outros), é uma área que envolve a elaboração de espetáculos, peças teatrais, shows, filmes, videoclipes e novelas, por exemplo, e que faz parte do nosso dia-a-dia, apesar de não aparentar. Assim, tenho interesse em desenvolver um trabalho monográfico que visa utilizar os conhecimentos adquiridos com a Arquitetura e com as demais disciplinas para aprofundar o conhecimento sobre a área, discutindo seu histórico, suas influências, seus principais nomes atuais, seus níveis de ensino e aplicação, entre outros aspectos, buscando valorizar e tomar por base os exemplos de diversos arquitetos que se aventuraram por essa área, tais quais Lina bo Bardi e JC Serroni, bem como o histórico bem-sucedido de nosso país em uma área tão pouco valorizada e divulgada .


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Lista de Orientadores _Marcelina Gorni _Brรกulio Romeiro _Christine Ramos Mahler _Camilo Amaral _Pedro Dultra Britto


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