Só Cai Quem Voa

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quem voa S贸 cai

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CLARA AVERBUCK



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CLARA AVERBUCK

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Copyright

2012 by Clara Averbuck

Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA ENCAIXE LTDA. Conteúdo do blog portal R7 - 2010 a 2012 (entretenimento.r7.com/blogs/clara-averbuck)

Clara Averbuck Textos Marina Alves Anunciação Pedro Diagramação Seleção de textos Revisão Projeto gráfico

Dados Internacionais de Catalogação ou Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, MG, Brasil) Averbuck, Clara Livro- Só Cai Quem Voa - I edição - Minas Gerais CD- Clarah Averbuck & The Oneyedcats Editora Encaixe, 2012 96p. ISBN 978-1234567897 CDD: 863 CDU: 821.134.2-3


Uma vida visceral...


Sumário Eu sinto muito, mas eu não sinto nada Louça morta

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Nos matando lentamente Ossos cinquentenários

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If have to ask - you ‘ll never know O Garfield é que sabe das coisas Overdose do amor

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Regras do jogo e do tempo

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As casas que eu tenho tido

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Eu fiz os degraus badalarem

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Gata escaldada

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Minha primeira ex-amiga

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09 13 17 21 25 27 31 37 41 43 47 51


Pneumonia, solidão e eu Só cai quem voa E isto e aquilo Passou

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Os doze trabalhos de Averbuck O que as mulheres querem?

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Cafeína, meu amor

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Persona non-grata

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Fica, vai dar merda

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Em São Paulo, zero reais ~Se curtindo~

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Eu sinto muito, mas eu não sinto nada Tenho que discordar do Leminski naquele Nenhuma dor pelo dano/ todo dano é bendito/ Do ano mais maligno/ Nasce o dia mais bonito. Tive uns anos do cão. Só a gente sabe dos danos que essa vida nos causa. E eu, olha, eu fiquei totalmente danificada. Algumas pessoas deixam um rastro tão nefasto na vida de outras que não consigo ver de outra forma senão essa: um dano. Um rasgo. Um aleijão. E não, não passa. Nada passa. Tudo que nos acontece fica marcado de uma forma ou de outra em algum lugar. A gente pode até achar que passa, pode achar isso nos momentos bons, mas aquilo fica lá, entranhado em você. Trauma pode se manifestar em forma de raiva, de desprezo, pode virar uma repetição de padrão destrutiva, pode te deixar pra sempre com medo, pode te fazer ficar por demais destemido. O que consigo ver que aconteceu comigo é o seguinte: eu sequei. Me sinto toda esfarelada. Danificada. Rachada como um terreno arenoso onde é necessário um instinto filho

da puta pra poder sobreviver. Até nasce uma coisinha ou outra ali, mas qualquer coisa mais delicada murcha e morre rapidinho. É assim que eu ando me sentindo. Calcificada por dentro. Quando eu tinha 22 anos, me apaixonei afú pela primeira vez. Foi meu primeiro dano. Outros vieram depois, eles sempre vêm. Mas o primeiro é o primeiro. Ele dizia que não tinha coragem pra se apaixonar, ele dizia que amor não, que amor ele passava. Sabe o que eu disse pra ele? Coragem pra se apaixonar? Se quiser, posso te ensinar a sentir dor. Eu sei sentir dor e sobreviver a ela de uma maneira que nem eu acredito. Eu nunca vou cansar disso, nunca vou precisar de coragem pra me apaixonar porque preciso de paixão pra escrever. Se for pra escrever sem paixão, então eu vou ali no jornal escrever sobre turfe e ganhar dinheiro, e não ficar fodida como estou só pra poder passar o dia inteiro escrevendo, sem sair de casa, sem sentir o vento na cara, só escrevendo escrevendo escrevendo


como uma filha da puta. Porque é isso que eu faço. Eu escrevo o dia inteiro, eu acordo e vou escrever, eu acordo pensando nisso e durmo pensando nisso. Mas se não tivesse paixão, não ia adiantar porra nenhuma. Já disse uma vez e vou dizer mais um bilhão de vezes: eu quero você.Vou dizer até você aparecer na minha casa esmurrando a porta, porque a campainha não funciona, vou dizer até te ver deitado e suado na minha cama, vou dizer até poder te engolir, até sentir a tua porra na minha boca, até sentir o teu peso em cima de mim.Vou dizer até te convencer de que a solidão é muito, muito mais dolorosa do que qualquer paixão. O nada é a pior coisa que pode acontecer. O nada é seco, é uma árvore esturricada na beira da estrada, é uma plantinha sozinha no meio do deserto, uma plantinha que sabe que vai morrer ali, seca e sozinha. Então vem. Porque eu sou a sua Camila e você não pode me deixar deitada na praia, senão vai passar o resto da sua vida se arrependendo. Então vem. Porque você me ganhou e eu quero que

você minta pra mim, na minha cara, olhando nos meus olhos enquanto me come.Vem. Eu sou sua. Isso era eu em 2001. Uau, ein? Que força, que furacão. Eu era, eu era. Once a fire. Sinto que não sei mais sentir, não sei mais me deixar sentir, não sei mais me entregar. EU NÃO SEI MAIS ME ENTREGAR. Nem por duas horas. Nem por meia hora. Fingir eu nunca soube mesmo, e nem quero aprender. Nunca pensei que passaria por isso. Eu achava que seria pra sempre a impetuosa jovem das linhas acima, que quebrava a cara repetidamente e levantava e levantava e cuspia sangue e dizia bring it on, you mfcks. Não quebro mais a cara porque não caio, e se cair, não tem sangue pra jorrar, não tem coração pra bater, não tem porra nenhuma há anos. Eu até tentei mentir que tinha e só consegui sentir ódio. Ódio de mim, ódio daquilo tudo onde eu tinha me metido nem sei como e uma frustração inenarrável.Acho que sequer posso dizer que aquela era eu. Era um pedaço, um fragmento pequeno e incompleto de mim que jamais vingaria. Bom, eu tentei. Eu sinto muito, mas eu não sinto nada.




Louça morta Aí que eu voltei a cozinhar. Durante determinado momento da vida, curti bastante fazer incursões na cozinha. Mas acho cozinhar só pra mim muito chato e parei depois que voltei a morar sozinha. Curto cozinhar para amigos, e nos últimos eu não tenho estado exatamente confortável em minha casa (isso já vai mudar com uma reforminha, assim que $), então fico assim de chamar gente pra vir aqui e acabo saindo pra comer sempre e convivendo com uma geladeira repleta de... gelo. Mas esses dias fui possuída pelo desejo de cozinhar novamente. Eu e minha amiga Chiara fomos ao supermercado, compramos ingredientes lindamente selecionados - além de uns vinhos e umas cervejas, que ela, aprendiz de beer somelhê, está me apresentando - e eu fiz uma incrível carne com batatas na cerveja. Uma coisa é bem óbvia: a comida só sai boa

quando estou a fim de fazer. Se eu não estou, se estou cozinhando porque preciso, fica meio sexo sem tesão, sabe? Pois é. As últimas vezes que eu tinha cozinhado tinha sido sob pressão & necessidade, e ainda uma comida que eu não tinha o menor tesão em fazer, então não tinha como, ficava mesmo uma merda. Agora não; agora eu quero. Aí fica bom. Essa semana eu cozinhei todos os dias. Pra mim, olha que incrível. Parte porque estou perto da linha da pobreza, parte porque eu agora tenho colesterol alto (não basta sofrer de artrose aos 33, tem que ter as taxas de colesterol e de cortisol lá em cima) e quero cuidar exatamente o que como pra acabar com essa merda e poder voltar a comer umas porcariazinhas, parte porque estava a fim, ora bolotas. O problema é o seguinte: e a louça, quem lava? Prefiro carpir asfalto do que lavar louça. Sério mesmo.Tenho nojinho, me deixa.A faxineira vem


uma vez por semana, enquanto isso eu vou regando a louça com detergente e água fervente pra não criar um pequeno ecossistema em minha cozinha. Meus gatos me olham com desprezo enquanto se lambem, mas como eles nunca se prontificaram a lavar nada além de seus próprios corpos, ficamos por isso mesmo. Hoje eu ia cozinhar. Ia fazer um pequeno banquete novamente para minha amiga Chiara. Desisti. Era muita louça, era muito sofrimento, eu não quero, eu não gosto. Lavei três pratos, entupiu a joça da pia, chega, desisti, deixei tudo lá organizadamente sujo e fui almoçar no restaurante ao lado de casa. Me comprometo aqui e agora a mandar arrumar minha máquina de lavar louça quebrada há dois anos na próxima semana. Quero poder fazer meus pequenos & belos pratos lindamente temperados quando quiser sem ter que ficar antesofrendo com a imagem daquela pilha triste em minha pia. Então, caso alguém em algum momento venha

perguntar se “eu não tenho louça pra lavar”, saiba que sim, eu tenho, mas não lavo. Ósculos e amplexos, c.




Nos matando lentamente Chega uma DM de uma amiga: clara clara claraaa SOCORRO, fui coçar o pescoço e percebi que ele está TOTALMENTE FLÁCIDO. Já até chorei :( Existe creme pra pescoço? rs :( Ela não tem TRINTA ANOS DE IDADE. E é linda. E eu tenho certeza absoluta que o pescoço dela não está flácido. Meninas, é o seguinte, nós precisamos conversar. Todas nós. Essas mulheres que a gente vê na tv, nos outdoors, nos anúncios, em todos os lugares, vocês sabem que elas não são reais, não é mesmo? Sim, existem mulheres belíssimas, magras, naturalmente lindas, que apenas se cuidam e fazem pilates e sei lá o que mais. Mas infelizmente o que mais vemos é gente que foi mexida. Assim mesmo, mexida. Botou peito. Tirou nariz. Esticou aqui. Repuxou dali. Sugou daqui para en-

cher acolá. Pra que? Pra se aproximar daquele ideal de beleza maluco deperfeição. Primeiro: perfeição pra quem? Segundo: quem disse que é isso que é bonito? Terceiro: quem determinou que é SÓ isso que é bonito? Meninas, sério: isso simplesmente NÃO É REAL. A gente sabe, mas somos tão bombardeadas a todas as horas do dia e da noite com imagens/pessoas manipuladas que aquilo acaba entrando nas nossas cabeças e nos deixando malucas, achando que só seremos felizes sendo daquele jeito. Digo “nós” porque eu, até pouco tempo, era completamente obcecada com isso. Pois é. Desde sempre.Tomei tanto remédio pra emagrecerr que eu não sei como meu cérebro não fritou. Me achei linda quando fiquei com depressão e só o que havia em mim eram ossos.WSobre aquelas cirurgias íntimas, eu não sei nem o que dizer.Aquela moça citada no post abaixo, que andava por Londres enrolada em uma bandeira querendo ser a musa das Olimpíadas, declarou na Folha dessa semana: “a vagina não é bonita e dá pra ficar melhor”. Gostaria de


me perguntar em que mundo vive essa moça, mas já sei a resposta: no nosso, nessa INSANIDADE COMPLETA. Essa moça é praticamente uma boneca inflável: os peitos são de silicone, os olhos são azul-piscina-lente-de-contato, o cabelo é aplique, a buceta foi retocada. Onde ela quer chegar? Por que? Pra quem? Não pode, gente, isso não está certo. Coitada dessa moça. Ela está completamente perdida.

sobre tudo isso que e muito mais e que me abriu os olhos pra uma série de conceitos que eu achava “normais”, mas que na verdade são tão antinaturais quanto... bom, quanto photoshop. Nós não temos como mudar o que a mídia tenta nos fazer engolir. Mas nós podemos não engolir mais. *Abracinho*

E se o seu cara acha que você tem que botar mais peito, ou que você tem que engordar, ou que você tem que emagrecer, menina, vocês precisam conversar. Ou ele gosta de você como é - ou, francamente, manda esse homem pastar. Infelizmente, o mindfuck também atinge os meninos e eles vivem com expectativas irreais das mulheres. Inclusive muitos deles sequer sabem do que realmente gostam; ficam apenas no que consideram socialmente bem aceito.Tudo, tudo errado. A todas e todos, recomendo esta palestra (“Killing Us Softly”, que inspirou o título do post) da Jean Kilbourne, que dá corre o mundo falando

c.




Ossos cinquentenários Fiquei um mês imersa em uma nuvem. ainda se fossem drogas recreativas, né? não, não. eu estou doente. não vou morrer nem nada, ao menos não agora, não que eu saiba. mas não é nenhuma gripinha. não aguento mais ficar falando de doença, virei uma daquelas pessoas que chega no lugar e começa a falar de doença, sabe? até fiz alguns novos amigos com isso, e ó, pra falar a verdade, eu gosto do tipo de pessoa que fala de doença, expõe dor, troca essas experiências que envergonham alguns. vergonha alguma. acontece. gosto. sempre gostei. eu leio bulas, sabe? sou cadastrada no bulas.med.br. acho importante saber o que ando tomando. Tudo começou com uma dor nas costas, que virou dor no ombro, que virou dor na lombar, que virou dor no pescoço, que virou dor em toda a minha pessoa até eu descobrir que tenho uma atrose precoce. da wikipedia:

A osteoartrite ou artrose (artrite degenerativa, doença degenerativa das articulações) é uma doença crônica das articulações e eventualmente dos elementos periarticulares caracterizada pela degeneração da cartilagem e do osso subcondral, que pode causar dor articular e rigidez e redução da funcionalidade articular. A artrose, a perturbação articular mais freqüente, afeta em algum grau muitas pessoas por volta dos 70 anos de idade, tanto homens como mulheres. Contudo, a doença tende a desenvolver-se nos homens numa idade mais precoce. É��������������������������������������������� isso. eu sinto muita dor e tomo muitos remédios. parei de tomar alguns deles e preferi analgésicos mais fracos porque não mais suportava viver em uma nuvem de confusão. é isso que os remédios fazem, além de cessar a dor; cessam também qualquer capacidade de concentração e de entender qualquer coisa, consequentemente, me impedem de escrever. outros deles eu vou ter que tomar para todo o sempre. porque eu tenho o esqueleto de uma senhora em mim. eu


tenho 33 anos, sabe? não vou dizer que não era para ser assim, está sendo e é o que temos, e temos ossos de 50 anos. Eu realmente não esperava por essa. mas ó, cabeça está ótima. assim como a pele. Isso tudo me fez pensar, quando consegui pensar porque foi um processo longo, vários médicos, vários médicos falando merda até encontrar alguém que apontasse o real problema - que eu posso ter perdido muito do tempo que não sabia que me faltava par fazer as coisas que me importam.e é o que eu faço agora. as coisas que me importam. Escrever livro. lançar livro. escrever mais livros. mais livros. amar as pessoas que eu amo. escrever mais livros. ler. ouvir música. saber mais. saber mais de tudo. saber mais de quem eu amo. saber mais sobre as partículas subatômicas. dormir. acordar. ler. ouvir música. questionar a existência e a importância de todas as coisas. pra alguma coisa isso aqui vai ter que servir, não é mesmo? vai que foi necessário pra dar uma perspectiva

real das coisas. vai que. O disco novo da fiona apple está incrível, escutem. eu estou escutando. Hoje foi um dia bom. e eu vou dormir. amanhã eu escrevo mais. tem livro, tem peça, tem um monte de coisa entalada na minha garganta. logo mais. stay tuned




If have to ask - you ‘ll never know O amor é irracional. Lembro de uma vez, quando eu era pequena, bem pequena, estava acho que no Jardim de Infância, e resolveram perguntar por que eu gostava do meu pai pra escrever em uma... gravata de papel. Era um trabalho de dia dos pais, daqueles bem caretas. E não fazia o menor sentido pra mim. Nem a pergunta, nem a gravata, que meu pai nunca usou. Nessa época, ele tocava bandolim na Cantina Itália e torturava meus ouvidos e os da minha mãe estudando violino. Como é que pode alguém perguntar para uma criança por que ela gosta do pai? Respondi: porque ele faz a minha mamadeira. Sei lá. Foi o que me ocorreu. Porra. Gosto do meu pai porque ele é meu pai, gente! Até hoje eu não sei responder essa pergunta. Sei de muitas coisas que gosto nele, mas o porquê concreto eu não tenho assim na ponta da língua. Gosto porque gosto. Lembro de responder algu-

ma coisa do gênero e emputecer um namorado antigo. Acho que falei que gostava do sanduíche dele. Risíssimos. Porra, eu gostava dele. Porque gostava. Porque ele era legal e inteligente e engraçado. Porque a gente se dava bem. Porque sim, cacete. A gente sempre, ou quase sempre, sabe dizer por que não gosta de alguém. Mas enumerar os porques do amor, olha, isso aí eu já nem tento mais. Amo porque amo. É isso. Depois de muito tempo tomando no cu,descobri que é, pois é, o amor é irracional. Mas eu não posso ser.Mais de uma vez cometi absurdos e impropérios em nome disso. Mas é amor!, eu pensava. E arrancava os pedaços meus pelo caminho. Agora não; agora chega disso. Esse negócio de arrancar pedaços já não me serve, que eu preciso de mim inteira pra sobreviver. Antes inteira e sozinha do que capengando por aí.



O Garf ield é que sabe das coisas Segunda-feira, 25 de junho de 2012. Acordei assustada com o barulho da empregada chegando. o fernando se recusa a entregar a chave a ela e toooda vez tem que descer e abrir a porta. certo. a mulher consegue ser mais estabanada do que eu, o que, devo admitir, é um feito e tanto. foi um tal de derrubar vassoura, esbarrar em sei lá o que, bater porta, fechar tampa de privada e bater panela por horas a fio até que resolvi levantar da cama quentinha de amor e ligar para a unimed para pegar a senha de autorização da minha ressonância da coluna, que aconteceria às dez e trinta da manhã. depois de meia hora no telefone, a ligação caiu. depois de mais meia hora no telefone, o plano negou a autorização devido à caralha do período de carência e eu voltei pra cama chorando. mentira. mas voltei pra cama, pois nada mais me restava. cama e remédios para a dor. e amorzinho. Quando consegui pegar no sono, a mulher de-

licadamente bateu na porta e pediu pra limpar o quarto. levantamos, pois, e fomos aos afazeres. quando voltamos, fui procurar meu opiáceo da sorte que tem me salvado nesses dias de sofrimento de coluna. CADÊ? a mulher sumiu com o remédio. SUMIU. procuramos pela casa inteira. não estava. revirei o lixo no meio dos crackeiros da consolação. não estava. fomos ao pronto socorro pegar uma receita, pois tramal é um remédio controlado. certo. foi relativamente fácil, até descobrirmos que o médico TINHA ESQUECIDO DE CARIMBAR A RECEITA. rodamos TODAS AS FARMÁCIAS DA REGIÃO tentando encontrar algum farmacêutico com coração que vendesse meu tramalzinho mesmo sem carimbo e ajudasse a cessar meu sofrimento, mas é claro que não rolou. Voltamos ao hospital. peguei outra receita, com outro médico, com carimbo, com muita dor. quando eu digo MUITA DOR, quero realmente dizer MUITA DOR.


Sou uma pessoa que pariu na cama sem anestesia, sabe? meu limiar de dor é dos altos. mas essa, olha, essa dor não dá pra suportar. eu sei, deveria ter visto isso antes, yada yada, é um pinçamento, uma hérnia, sei lá, descobrirei hoje, em breve, em uma ressonância no meio da madrugada que me custará os olhos da cara e talvez o do cu. já tentei quiroprata, osteopata, um ortopedista maluco que disse «que bosta» quando falei da dor, tentarei outro ortopedista. já recebi tantos conselhos que estou pensando em vender alguns. Voltemos a hoje: Depois de umas TRÊS FUCKING HORAS rodando pela cidade cheia de trânsito, consegui meu remédio. Agora está tudo bem e eu sou uma nova mulher, ou a mulher de antes, sem dor. mas olha, QUE DIA, meus amigos, QUE DIA. Vou ficar quieta porque é aquela coisa: nada é tão ruim que não possa piorar.

thank you, ma babe, por me guiar por essas ruas tortuosas da vida de merda mesmo estando cheio de coisas pra fazer. eu cuido de você, você cuida de mim. Prrrr




Overdose do amor Eis que estive eu em Cachoeiro de Itapemirim, cidade natal do Rei Roberto e de Rubem Braga. Fui participar de uma Bienal. Foi ótimo, a companhia de Joca Reiners Terron e Marcelo Zorzanelli foi por demais aprazível e eu estava morrendo de saudade de fazer debates sobre assuntos sobre os quais sei falar.Teve também um outro debate em Brasília, com a genial Juliana Frank, mas não é disso que eu quero falar.

CURSO COM DICAS PARA ARRUMAR NAMORADO

As mulheres que querem deixar a timidez de lado e conseguir alguém especial para curtir junto o Dia dos Namorados estão recorrendo a cursos que dão dicas para não ficarem sozinhas. Este é o primeiro parágrafo do texto. Quantos erros encontramos aqui, amigos? Enumeremos:

Eu quero falar de uma reportagem que o Zorzanelli me mostrou no avião e que eu estava esperando o momento certo para comentar. Vamos lá:

1. Quem disse que precisa deixar a timidez de lado? Quem é tímido tem que se fazer de saidinho pra pegar alguém? Mas ora, por favor.

Não vou digitar o texto inteiro porque né, eu tenho mais o que fazer nesta vida, são três da manhã e eu não consegui fazer as unhas hoje, então elas estão compridas e está um pouco ruim de escrever. Por que eu não corto? Pra não estragar o trabalho da manicure no dia de amanhã. Prezo minhas unhas perfeitamente aprumadas.

2. Conseguir alguém especial pra curtir junto o Dia dos... Aiaiai olha, não há registros na história antiga/moderna das civilizações onde alguém tenha “conseguido alguém especial”. As pessoas especiais aparecem. Brotam. Surgem nas horas mais inapropriadas. Ninguém “consegue” alguém especial. Nesses termos, dá pra conseguir no


máximo um tapa-buraco de carência e né, sério que isso é melhor do que passar o Dia dos Namorados só? Eu - EU, Clara - preferiria passar só.

quarto. Se o parceiro é uma pessoa bacana (!!!), vale a pena investir. Uma viagem, um quarto diferente, cheiro, comida, tudo ajuda”, comentou.

3. Recorrendo a cursos com dicas. Preciso comentar esse item? Não, né? Ok.

Para quem ainda não encontrou seu parceiro ideal, ela dá dicas de como não se vestir de forma vulgar e usar o olhar para conquistar.

A professora de artes sensuais e terapeuta sexual Flaviane Quedevez diz que no curso Overdose do Amor... Vamos parar aqui para comentar o: Overdose do Amor. Quer dizer, comentar não, rir. Risíssimos...ela ensina vários conceitos desde aumentar a autoestima e explorar a feminilidade a como fazer massagem erótica e impressionar o parceiro com dança na barra e na cadeira. ...

Sim, porque é claro que se a pessoa nunca soube como se portar na vida, ela vai aprender agora, no curso OVERDOSE DO AMOR. E também é claro e lógico que existe um PARCEIRO IDEAL. Cof. Olha...

Risíssimos

“Em busca de atrair o homem, muitas exageram na roupa.A mulher pode estar extremamente sensual e bem vestida. Se ela se vestir de forma vulgar, passa a impressão de momento efêmero e nada mais. O homem é mais caçador e gosta do jogo da conquista”.

“Percebo que muitas alunas são tímidas e têm vergonha de fazer alguma coisa mais ousada com toques diferentes e fazer a ambientação do

Ô Flaviane, olha só. Sei nem o que dizer.Você está assim, ensinando como a pessoa deve se vestir PRA ARRUMAR NAMORADO? É isso? Como se


vestir para encontrar aquele alguém especial para o Dia dos Namorados? Certo. Não sei como dizer isso, mas veja bem, o homem «caçador» gosta de buceta. Bu-ce-ta. Frequentemente eles nem olham A CARA da pessoa na luz. Não quero acabar com seu romantismo de 1919, mas é isso. Ou não. Ou ele pode ter feito este curso de sedução para homens e eu estou redondamente enganada. “Percebo muitas alunas tímidas.A nossa vida é curta. Temos que aprender a amar e ser amados”. Flaviane ressalta que trabalhar pequenos detalhes faz diferença no final.“Depois que conseguiu contato com a pessoa, um papo interessante conta muito. Outra coisa é a mulher que sai à noite, pega a cerveja e bebe no bico da garrafa. Ela perde a feminilidade e homem gosta de mulher mais delicada”.

o que a Flaviane considera o papo interessante. Futebol? Política? Ô, gente. De novo, sei nem o que dizer. E QUE HOMEM É ESSE QUE GOSTA DE MULHER MAIS DELICADA? Oquei, tem um monte de bundão por aí, a gente sabe, mas rs rsrsr rsrrsrss DESDE COMO QUANDO GARRAFA SABE, desculpe, eu estou rindo e não consigo concluir este pensamento. Mas puta merda. Que coisa babaca, que coisa machista, que coisa mais revista Claudia nos anos 60, que coisa mais retrógrada pra arrumar macho, que coisa ridícula, mil vezes ridícula. Que coisa patética mandar uma pessoa agir de determinado jeito porque “homem gosta”. Vá se roçar nas ostras, minha senhora. Ela condena quem dá em cima de homem acompanhado. “Nunca se deve fazer isso. Existem pessoas maravilhosas disponíveis no mercado”. ...

Vamos dar atenção a este maravilhoso parágrafo. Mas gente. Depois que conseguiu contato com a pessoa: que desespero. CONSEGUIU CONTATO, sabe. Um papo interessante conta muito: queria saber

É LÓGICO QUE NÃO É PRA DAR EM CIMA DE HOMEM ACOMPANHADO.��������������� E não é pra pe-


gar homem casado. E não é pra mijar na mesa de centro da casa da sua avó. E não é pra votar no Serra. Sabe. Tem que ENSINAR isso agora? Quanto às pessoas maravilhosas disponíveis no mercado, olha, é mentira: existem poucas pessoas maravilhosas NO MUNDO. E nenhuma delas ia querer pegar uma aluna graduada em OVERDOSE DO AMOR. As alunas Fulana, Sicrana e Beltrana aprovam os ensinamentos.“A gente passa a se valorizar, se sentir poderosa e passa a selecionar melhor.Aumenta a disponibilidade pra arrumar namorado. Passar o Dia dos Namorados sozinha não é legal”, brincou Sicrana. BRINCOU. Sei. “Arrumar namorado” Só queria pontuar que eu acabei por digitar o texto inteiro. Não consegui me conter. É engraçado e triste, porque realmente existem mulheres que acham que precisam de um namorado. Pro que quer que seja. Pra passar

o Dia dos Namorados, pra passar as férias, pra passar a vida. Não, garotas. Vocês não precisam “arrumar” um namorado. Vocês precisam primeiro saber que não precisam de homem. Primeiríssima coisa. Depois que souberem disso no coração (na cabeça a gente sabe sempre), aí sim vocês podem, quem sabe, encontrar um cara legal pra estar junto. Isso é diferente de “arrumar namorado”. Dá pra perceber a diferença? Sem querer fazer autoajuda a essa hora da manhã, mas colocar a felicidade em qualquer coisa que não seja o seu bem-resolvimento é cagada. Em homem, em filho, em trabalho, tudo isso é cagada. Especialmente em homem. Não dá pra se considerar um caco de pessoa que procura outro caco pra não viver capenga. É o que eu acho. Passei muito tempo dessa vida sozinha. Passei muito tempo dessa vida com pulhas. Passei pouquíssimo tempo dessa vida com caras realmente legais porque eles são raros. Então, minha amiga, o que eu posso dizer aqui do ~alto~ dos meus 33 anos é algo que minha avó, sua avó, sua professora e sua tia já disseram mil vezes: antes só do que mal acompanhada.Antes só do que com


um qualquer. Antes só e bem consigo do que se tolhendo toda só pra não estar sozinha. Feliz Dia dos Namorados, então. Que é legal pra quem tem 1 amorzinho (oi, baby <3), mas não pode ser nocivo pra quem não tem. Uma hora aparece, gente! E bom, se não aparecer, aproveite o que vier no caminho - a estrada é o destino. Deveria ser. Eu acho.



Regras do jogo e do tempo Regras do jogo e do tempo ou: sugestões para uma vida sem caos l’amour, esse vírus que se alimenta de massa cinzenta. vamos às regras do jogo e do tempo, então: eu dou as minhas, você dá as suas e nos entendemos em algum lugar no meio.

4. está proibida a chantagem emocional em qualquer nível, a qualquer hora do dia ou da noite. drama deve ser usado com parcimônia e nunca com o queixo erguido ou ar patético de razão desesperada. 5. situações caóticas impostas sem necessidade serão severamente punidas com silêncio e ausência ao som mental do mantra “paciência, paciência, paciência” repetido até a sanidade.

1. eu sou eu, nasci eu, vivo eu e morrerei eu. essa aqui, isso aqui. (ajustes serão feitos no caminho, muitos deles, mas basicamente:)

6. amor não se mede pelo meio das pernas. amor não se mede com boquete. amor não se mede.

2. venho com passado (presente e futuro não estão inclusos)

7. amor não é doença, doença não é amor. (amor ≠ tumor)

3. o futuro do pretérito não existe;nada seria, nada deveria. as coisas são,apenas, e podem se transformar em outras coisas, coisas melhores ou coisas piores, ou nada. depende de agora.

8. tentar se impor com birra será inevitavelmente uma batalha inglória onde todos perdem, todos sofrem, todos gastam precioso tempo, todos ficam mais velhos.


9. falo sobre o que quero, onde quero, como quero, quando quero e escrevo o que quero, como quero, onde quero. sem interferĂŞncias. de ninguĂŠm. nunca. nenhuma. 10. quer do seu jeito? compra argila e molda uma cumbuca. . . . . . (te amo, viu?)




As casas que eu tenho tido Nunca mais dormi em casa. nem parece que eu ainda tenho, de fato, uma casa. ainda bem que tem a lindalva pra cuidar dos gatos, ainda bem que tem o saico pra cuidar de tudo.

portante; não é, especialmente quando acaba de voltar a bater.(aqui, o meu esmurra as costelas e diz «ô puta, foi pra isso que você me acordou? que maçada!») são amores diferentes, apenas.

Primeiro era lá; agora, aqui. lá eu vivia a iminência de desastre embebida em felicidade plena. tudo desregrado, tudo bagunçado e barulhento, os horários e os cobertores revirados pos nós, a todas as horas do dia e da noite. era isso, era lindo, era bom. aqui eu cuido do meu amigo, meu melhor amigo, que precisa de mim. silêncio e horizonte, horários anotados e tudo bem baixinho. é aqui que eu vou estar nos próximos dias todos, até que ele melhore, até que ele volte a ser cheio de vida. já me xinga, ele, dizendo que não me agüenta mais medindo sua temperatura de duas em duas horas e perguntando se tem fome, sede, se quer algo. eu sei, eu sei, sou uma chata. mas só por amor.

Agora é isso: ele precisa de mim, e aqui estou. either in sickness or in health, eu não largo essa mão.

A dimensão das coisas importantes muda todas as perspectivas. não que o coração seja desim-

<3 c.



Eu f iz os degraus badalarem Eu estava solitária num apartamento emprestado por um japonês, longe de tudo, sem dinheiro e sem amor. Não sei se acreditava em deus, se algum dia acreditei, só sei que ele não estava lá nessa hora. Mas o Fante, o Fante estava, e ele virou meu deus.Riam, podem rir, podem me achar louca e pateta e exagerada, talvez eu seja mesmo, mas ele estava lá comigo e me salvou de morrer de dor e de solidão. Seus livros eram minhas bíblias, sua foto era meu altar. Eu olhava a foto na minha mesa e dizia meu velho, meu velho, que bom que você está aqui comigo, que bom que você não me abandona nunca. Ele estava ao meu lado o tempo todo, no meu ombro o tempo todo enquanto eu escrevia meu terceiro livro, e batia no meu ombro e dizia lindo, lindo, sofre, Clara, sofre porque é o único jeito de fazer as coisas direito, sofrer de mentira não vale, inventar sofrimento também não. Sofre porque sofrer é trabalho duro e quem trabalha duro tem sucesso. Então eu sofria, acordava no meio da noite com meus fantasmas girando no teto

do quarto junto com as vozes da insanidade e escrevia, escrevia febrilmente enquanto tomava vinhos de cinco reais do Supermercado Sagres. Então eu terminei o livro e outro amor veio, o amor me consumiu e o Fante foi embora. Continuei escrevendo mas sem sofrer, só pensando, não era ruim, mas faltava todo aquele sangue, todas aquelas entranhas que eu vomitava no passado todos os dias enquanto o sol nascia dourado nos prédios da Vila Mariana. A Vila Mariana foi embora, o sol foi embora, eu fui embora. Minha barriga cresceu, meu novo amor me fazia feliz. Minha filha nasceu, meu pequeno tesouro rosado com os olhos negros do pai, me amando instantanea e incondicionalmente, minha filha, minha princesa, minha gatinha. O Fante tinha ido embora, ele tinha me abandonado, não estava mais lendo por cima do meu ombro. Meu amigo escritor dizendo que era bom, que eu precisava me livrar do encosto, mas não,


não era um encosto, ele não entendia. Ninguém entendia. Então eu vim para Los Angeles procurar minha igreja, a Bunker Hill Avenue, Angel’s Flight e a Spring Street e a Main Street. O Hotel Alta Vista, a Biblioteca Pública e os Degraus de Bunker Hill. Ninguém sabia onde ficava.Todo mundo só queria saber de tirar fotos dos pés dos astros e das estrelinhas no chão, pfff, eu dizia, e fumava meu cigarro, vocês turistas japoneses não sabem nada, tive que me virar até lá no metrô e chegando lá perto ninguém sabia também, ninguém nunca tinha ouvido falar na Bunker Hill Avenue nem no Alta Vista Hotel. Não existia. Um menino mexicano veio em me levou até Angel’s Flight, e ele trabalhava numa lanchonete e pegou cerveja de graça em copos grandes e nós procuramos e procuramos a Bunker Hill Street, mas ela não estava mais lá. Setenta anos se passaram, a rua deve ter mudado de nome, o hotel deve ter sido reformado, não achei minha igreja. Mas subi os degraus de Bunker Hill, John Fante, meu deus, um dia você escreveu que aqueles degraus badalariam com a sua memória, e que

John Fante e Arturo Bandini, dois em um, amigo dos homens e dos bichos, seria lembrado lá de cima dos 103 degraus de Bunker Hill, e eu fiz isso, sim eu fiz, eu subi aqueles degraus e olhei para baixo e lá estava a biblioteca, e lá estava você, você tinha voltado para mim, eu senti de novo sua presença do meu lado e voltei pra casa e tomei uns remédios para não dormir porque queria escrever, mas não adiantou nada porque eu estava muito cansada, então eu desmaiei de roupa mesmo na cama de molas do meu hotel em Hollywood na Orchid Street, perto dos turistas japoneses que só querem saber de tirar fotos dos pés dos astros. Acordei agora, cinco da manhã, com você puxando meu pé. Eu fui na sua parte da cidade, John Fante, eu vi tudo, mas era tudo diferente. Os negros gostavam de mim e falavam coisas, mas eu não estava nem aí, eu queria achar o Alta Vista Hotel onde a Camilla jogava pedrinhas na sua janela. Eu vou encontrar. Foi só meu primeiro dia, eu ainda vou voltar para o seu lado da cidade no meio dos traficantes e dos vendedores de coisas na rua, eu vou lá te encontrar, porque eu


vim para isso. O dia estรก claro. Vou lรก te visitar de novo, meu velho. Nunca mais me abandone. (Los Angeles, 2004)



Gata escaldada E já começou de novo a palhaçada de me perguntarem se eu vou para a Fazenda, aquele reality show da Record. NEM ACABOU O BBB AINDA, SABE. FOCO,VOCÊS. (Vocês que gostam dessas coisas, no caso.) E não, eu não vou para a Fazenda. “Mas todos os participantes disseram isso!” “Mas a Valesca (!) disse isso!” Olha só: eu não vou para a Fazenda porque o tipo de exposição que ela proporciona não me interessa. Eu não quero ser famosa. Não assim, não essa fama. “Mas você fez um reality show!” Fiz. Fiz porque eu precisava de dinheiro e não tinha idéia da merda que ia dar. Fiz porque achava que ninguém assistia essas coisas - pelo menos ESSE programa. E eu só conhecia o gringo, o “Wife Swap”. Quer dizer. Naquela época eu ti-

nha bem menos noção da TV aberta do que agora - vocês podem imaginar com era, já que hoje, depois de um ano trabalhando no R7 e andando pelos corredores da Record diariamente, eu ainda sei pouco sobre o funcionamento da coisa toda. Fiz porque achei que podia escapar ilesa, coitada. Eu devia ter me tocado que eu já sou mal compreendida mesmo sem uma edição me sacaneando e me fazendo parecer (apenas) doidona, né? Devia ter me tocado que a outra vez que eu tive uma grande exposição foi quando fizeram o filme do meu livro, aquele que não tem absolutamente nada a ver com nenhum dos livros e que é creditado a mim. E que não consigo me livrar disso até hoje. Ou me conhecem pelo programa (tem pelo menos uma pessoa por dia que me olha com cara de nnnnnnossssssa a mulher da tv - sim, ainda), ou me conhecem por causa da época do filme. Pelo que eu faço ninguém me conhece. Oquei, ninguém é exagero. Mas são tão poucos.


Eu sou es-cri-to-ra. E escrevo livros. E textos diversos, que também podem virar livros. A parte de que ninguém consegue encontrar os meus livros porque as editoras não gostam de dinheiro e não fazem outras tiragens será resolvida em breve, já que eu estou abrindo minha própria editora de e-books, a... Averbooks. O nome foi cunhado por meu jovem amigo @vyktorb, o Vyktor Berriel. Por enquanto, relançaremos apenas os meus livros, porque plmdds, eu quero ser LIDA. É claro que isso não me impede de fazer outras coisas, de ter um programa, de ter uma banda, de fazer o que eu bem entender. Mas é essa a minha legenda: escritora. É essa a `fama` que eu quero. Era aqui que eu queria chegar. Eu não quero ser `famosa`. Quero ser reconhecida. É TÃO diferente. Não quero ser reconhecida no metrô pela tiazinha da sacola. Eu tenho aquele delírio Bandínico de ser uma escritora. Oquei, eu já sou, né? Mas uma escritora LIDA. Adoro quando alguém chega

em mim pra falar isso. É tão legal, eu fico tão feliz. De verdade. Me sinto um pouco menos CANTANDO PRA SURDO, que é a analogia perfeita para fazer literatura no Brasil. De novo: eu quero ser lida.Pra isso, acho que vou ter que mudar de país, né? O Vida de Gato, quando foi lançado na Inglaterra, vendeu mais exemplares no lançamento do que no Brasil. Dá pra acreditar? Dá. O Brasil é um país de televisão. Ela é a diretriz de tudo. É a tv que manda na moda, nos comportamentos questionados/aceitos, na música, nos esmaltes, nas gírias, nas pautas. A televisão (ainda) pauta o país. A internet também, claro. Mas a televisão pauta a internet. É só ler o twitter no horário da novela, do BBB, em dia de jogo, dia de Faustão... Enfim. Pouquíssima gente lê aqui. Engraçado, né: as listas dizem `mais vendidos` e é isso mesmo que eles são. `Mais lidos` é outra história.


Sempre se preocuparam mais com minhas tatuagens e minhas atitudes `polêmicas` do que com eu FAÇO. Com o que eu pareço e não com o que eu SOU. Que merda! É por isso que tem tanta subcelebridade nesse país. É essa a cultura de subcelebridade: imagem e SÓ. Aparecer e SÓ. Conteúdo? Quem liga? Importa mais a saia curta ou a merda que a pessoa disse do que alguma coisa legal que ela tenha feito. Ou: ela ter feito alguma coisa, enfim. E não é um programa de TV que vai `aumentar as vendas dos livros`, como algumas pessoas com retardo acharam que aconteceria após exposição massiva em horário nobre. Aquelas mesmas pessoas que acham que eu inventei tudo pra `aparecer`. Oh, please. Então, por favor, anotem aí: Eu não vou pra porra de Fazenda nenhuma. Sim, me sondaram a respeito. Mas seguindo ensinamento sábio que aquela rapariga linda nos deixou: no, no,

no. Um forte abraço c.



Minha primeira ex-amiga Eu tinha uma amiga. bom, ela nunca foi uma daquelas amigas que a gente sente que entende tudo, essas são tão raras que ninguém nem espera encontrar mais de umaou duas ao longo da vida. eu tenho bem umas três, então já posso me considerar uma grande sortuda e me contentar com essas companhias que podem até se tornar constantes, um tanto intensas, divertidas e tal, mas a gente sabe lá no fundo que não passam disso. Mesmo assim, eu tendo a ser uma amiga fiel. essa tal amiga, certa feita, se engraçou com um rapaz e ele fez alguma coisa que a magoou. fiquei do lado dela. nem foi nada demais, acho que ele só não quis mais saber mesmo, depois de comer. acontece, não acontece? acontece comigo, acontece com você, com ele, com todo mundo: às vezes a gente desiste da pessoa no meio do processo. mas ela é muito analisada e criou mil teorias com a analista a respeito do assunto, e eu meio que caí naquela, destratei o cara e ainda

xinguei bem alto de babaca na calçada de um bar. Essa sou eu. eu tomo partido. E eu não quero perto de mim ninguém que não seja assim. amigo, minha gente, tem que tomar partido. não precisa ser em TUDO. mas quando acontece alguma coisa séria, o seu amigo tem que ficar do seu lado. senão não serve nem pra ser companhia esporádica. nem pra passar o tempo. nem pra falar de amenidades.nem pra rachar um táxi. Eis que, durante os acontecimentos pesadelísticos desta época do ano passado em minha vida exposta em rede nacional e espremida de mim contra a minha vontade, percebi essa `amiga` totalmente omissa. ela, que era tão feminista, ela, que sempre teve todo um discurso riot grrl, ela, que, meu deus, não tinha outro lado pra estar naquela história senão o meu. não nos falávamos há alguns anos, mas isso pra mim não importa; era


MINHA amiga. não falo esse MINHA de maneira possessiva, não sou dessas, mas ela era minha amiga, do meu meio, amiga dos meus amigos, com uma visão de mundo até que parecida com a minha. E essa minha amiga não me respondeu quando perguntei a ela o que ela estava fazendo andando com gente que tinha agido de uma forma tão escrota comigo. eu não estava cobrando amizade, só estava perguntando, mesmo. se ela dissesse «olha, achei que você estava errada, achei babaquice sua, ouvi o lado do cara e acho que ele está correto» eu ia achar que ela estava maluca, mas pelo menos ia entender.mas não. ela nem me respondeu. E nunca mais nos falamos. vi que ela entrou no grupo de amigos de uma galera evidentemente equivocada, falsa, errada, sem ética. sei também que ela continua em contato com os nossos amigos em comum, com quem também não falo há tempos. certo. é o seguinte: unfolei no twitter, apaguei do facebook e declarei acabada a nossa amizade depois que hoje, clicando em aquis e

alis aleatórios, me deparei com uma foto dela sentada ao lado, toda amiguinha, de uma das pessoas que mais me fez mal nesta vida. e ela SABE. e não foi mal que estava na minha cabeça, que eu debati no bar e concluí. foi mal real mesmo, mal incontestável em um nível de mau caratismo tão grande, mas tão grande, que eu não consigo aceitar alguém que está oquei com isso. Não tenho raiva, não tenho rancor, Não vou ficar remoendo. já estávamos mesmo distantes e tudo bem. quase tudo bem. é chato, né? perceber como algumas pessoas que já foram tão próximas resolvem fazer vista grossa para um comportamento que elas passaram A VIDA condenando. E o que aprendemos? nada. bej.




Pneumonia, solidão e eu Resumindo: fui no SWU, vi shows incríveis, babei no mike patton, encontrei amiga querida, conversei, bebi e... tomei chuva. por umas cinco horas consecutivas. fiquei molhada por mais umas duas horas no ar condicionado da van. cheguei em casa exausta, me arrastando, largando as peças de roupa pelo caminho, a bota suja de lama, tudo. cama. resultado: pneumonia. demorei mais de uma semana pra descobrir. O médico do ambulatório disse que era “uma irritação na garganta”. alguns dias depois, mal conseguia respirar. não fosse uma médica amiga, eu teria sido internada com 60 graus de febre. quem mandou não ter plano de saúde? eu sei, EU SEI. Dias em casa. com dor. com febre. com uma tosse dos infernos. eu moro sozinha. eu e os gatos. não tem ninguém pra ficar me paparicando na doença. minha família toda mora longe, meus amigos têm suas vidas e eu não consigo nem começar a pen-

sar em exigir algo de alguém. qualquer alguém. vivi de delivery, ganhei uns chocolates, fiquei em casa, quieta, comigo. Essa pneumonia foi a melhor coisa que me aconteceu em meses. MESES. Fiquei em casa comigo.li. vi filmes. pensei. e vi que, uau, eu tinha esquecido várias coisas a meu respeito. tinha esquecido principalmente o quanto eu gosto de ficar sozinha. e ler.e ver filmes.e pensar. e escrever.ESCREVER. «escritora» virou uma simples legenda embaixo do meu nome nesses últimos meses.escrever é o meu trabalho mesmo. é o que eu faço com paixão. Preciso de tempo pra escrever. tempo livre, tempo de ócio criativo, tempo comigo. O problema nesses meses nem foi falta de tempo


hábil; foi falta de tempo COMIGO. e o excesso de tempo coexistindo sem propósito em um ambiente inóspito. Já resolvi essa matemática na minha cabeça. Sem perder mais tempo. 2010 foi um ano de merda. 2011 foi um ano de estresse. 2012, se prepara, você vai ter que ser bom.




Só cai quem voa Então combinamos de fazer mil coisas, era evidente que daria tudo tão certo, era tão bonito, tínhamos uma espécie de telepatia, pensávamos as mesmas coisas, compartilhávamos a mesma visão de mundo, de tudo.

dessa vida, mesmo com toda a juventude e a insegurança e o medo e a fragilidade que nunca cediam. eu achava chegaria o momento em que ele conseguiria se ver como realmente é, único, raro, genial, o melhor.

No começo ficamos assustados, ninguém viu como aconteceu e era demais, enorme, tudo muito forte, tudo incontrolável, tão certo, tão bonito. fizemos todos os pequenos planos, planos de amorzinho, planos de viver o trivial. ele exercia sobre mim um fascínio enorme, eu ficava hipnotizada, leve, parva, encantada. esqueci o resto do mundo, era só ele, ele, ele. eu achava que isso nunca mais aconteceria, igualzinho à primeira vez. mas ele tinha medo, ele era um menino que acreditava ter uma vasta experiência na vida e no sofrimento, como todo menino acredita. eu dizia que ele precisava viver, que precisava se arriscar, que o que vale na vida é o sangue correndo nas veias. aos poucos ele foi se entregando pra mim sem notar e foram os meses mais lindos

Ele não me deixava ir e não conseguia vir. nunca. uma vez. duas. três. sempre havia alguma coisa errada. fiquei inquieta. aquilo me consumia. precisava dele. queria precisar dele. ele precisava de mim também. era quase um vício inevitável, só crescia e tomava conta de tudo. eu precisava que fosse real. Fiquei doente. ele também. Ele não vinha nunca. nunca. nunca. aí ele ficou triste. se afastou. senti que ele ia embora. tentei impedir. não consegui. Ele nunca veio. ele não conseguiu ver futuro comigo, ele não conseguiu ver nada. escolheu ficar


com uma lá que firmava os pés dele no chão. no chão eu não sei ficar, sempre disse que só cai quem voa. voei e me estabaquei. foi tão perto, tão pertinho, tão quase. ele não conseguiu tentar. ficamos sem romance, sem começo e sem ponto final.




E isto e aquilo Eu e o Gustavo jantando no Paris 6. Conversando, falando com os Ludmers que jantavam na mesa ao lado após a estréia das Bruxas de Eastwick, checando whatsapp, tuitando, comendo. Tudo em paz. Aí o gordinho da mesa ao lado se incomoda com suas companheiras de mesa e desata a falar: Ô, galerá! Vamos viver a vida offline! Vamos viver o agora! Vamos prestar atenção no mundo aqui fora! Olha, gordinho, a gente tem uma coisa pra falar pra você.E para todos os outros.Uma coisa não exclui a outra. O “mundo online” não existe sem o mundo offline. Eu consigo estar numa mesa de restaurante, comer, checar meu twitter, postar no instagram, chamar alguém no voxer. Jura que precisa escolher entre um dos dois? Engraçado, ~escolher~ entre o mundo online e o mundo offline me soa como escolher entre um pirulito e um tijolo. Um batom e uma meia. Uma la-

gosta e um nó de pinho. Um sapato e um monóculo. Não faz sentido. Não pra mim. A não ser que você seja aquele rapaz gordinho e medroso que não tem coragem de sair de casa para enfrentar o mundo offline, bom, você não precisa escolher um só. Eles podem coexistir harmoniosa e pacificamente na mesma mesa de restaurante que você, seu amigo e o mundo online dele.



Passou Hoje eu saí do trabalho, peguei a minha carona com a @rosana (todo o tempo com ela é precioso, amo) e parei em um lugar no caminho de casa pra comer um negocinho. fazia muito tempo que eu não ia lá. é��������������������� ���������������������� uma praça de alimentação avulsa que tem na maria antônia, perto do mackenzie, sempre cheia de universitários. negocião abrir um bar na maria antônia, aparentemente os bares estão sempre mais cheios do que a faculdade. sempre penso em dar a dica de pegar o dinheiro dos pais pra fazer alguma outra coisa mais produtiva já que vão ficar mesmo bebendo no bar, mas temo represálias. enfim.

perto nessa hora. não tinha ninguém por perto. minto, tinha sim: gente que sentia prazer em me ver fodida. por algum motivo, isso faz bem a um tipo de parasita que gosta de «poder ajudar». eu ficava horas naquele lugar consumindo tipo ÁGUA - ou nada, às vezes - pra poder usar a internet, um luxo que eu não tinha na minha casa. parece exagero, né? olha, se vocês soubessem. se soubessem da metade sobre o ano passado. METADE. envolve corte de luz, longos percursos a pé e uma angústia pinicando com o medo de que minha vida nunca mais resolvesse e eu não conseguisse mais nada. nunca mais. mas eu não sou uma desistidora.

Parei na praça de alimentação pra comer um negocinho e lembrei que era lá que eu ficava no ano passado quando estava completamente quebrada, pobre, triste, sem rumo, sem auto-estima e sem amigos. eu não tenho muitos amigos. os que eu tenho sei que são para toda a vida - ou pelo menos boa parte dela. esses não estavam por

Peguei minhas idéias e fui tentando.fui tentando. fui tentando. não é fácil ficar tentando. é muito fácil desistir. NADA vem de graça nesta vida, eu não sei se vocês sabem. obviamente algumas pessoas têm mais sorte do que as outras. mas se elas não souberem


usar a sorte ela não servirá para absolutamente nada. outra: ninguém é sortudo o tempo inteiro. assim como ninguém é zicado o tempo inteiro. salvo raras exceções, é claro. como diz a @rosana, o status é flutuante. o nosso, no caso. já tive muito dinheiro, pouco dinheiro, nenhum dinheiro, muitas ofertas, nenhuma oferta, minha casa, casa dos outros, minha casa com outros, nenhuma casa. não me envergonho de nenhum dos meus momentos e nem tento esconder passado. não me orgulho de tudo, mas tentar varrer caco de vidro sujo de sangue pro cantinho do quarto não me parece uma solução mágica que mude o que já foi. foi, passou. assim como passou a merda da fase caótica que se instaurou na minha vida no começo de 2010 e só acabou mesmo agora. hoje. ontem, porque já são quase quatro da manhã. Talvez meu subconsciente tenha me levado até lá pra que eu me desse conta justamente disso. tinha que ser hoje. porque está quase tudo no lugar. eu gosto da minha vida, eu gosto de mim e tenho amigos que amo p ra ca ra lho perto de mim. alguns eu conheci neste ano mas já sei

que não são pessoinhas efêmeras na minha vida como foram alguns outros, alguns vários, que tentaram forçar convivência, forçar interesse, forçar identificação. agora só tenho perto gente que eu QUERO. cortei os excessos de tudo. de gente, de bebida, de pressa, de paciência. Agora sim dá pra continuar. com as pessoas certas para os lugares certos. o resto tem que ficar no passado mesmo. e me deixar seguir com meu presente.




Os doze trabalhos de Averbuck Não sei se é da sua época, mas toda vez que me deparo com algum tipo de burocracia eu lembro de uma passagem de “os doze trabalhos de asterix”. sim, fui criada lendo quadrinhos e pretendo ficar caduca mantendo o hábito. Nunca fui uma pessoa familiarizada com a burocracia. eu simplesmente não entendo como as coisas funcionam. alguém entende? sério mesmo, ninguém entende, vamos combinar. o fato é que os últimos 06 meses da minha vida se resumem à minha pessoa afogando em burocracia, arrancando os cabelos e chorando com o rosto entre as mãos enquanto sapateia em cima do chapéu. Cada dia era uma novidade (ruim). cada novidade (ruim) trazia consigo mais uma novidade (ainda pior). NUNCA me pediram tanto papel, tanta segunda via, tanta VIA AUTENTICADA, tanta rubrica, tanta loucura, loucura, loucura. os burocratas devem

achar que loucura é gravar um programa diário de #humor, sei lá. pra mim insanidade é ter que lidar com opessoal do administrativo, cartórios e contadores. finalmente consegui convencer meu pai a ser meu sócio para que eu pudesse abrir minha empresa O CACHORRINHO RIU LTDA (porque o importante na escolha do nome da sua empresa é a CREDIBILIDADE) e minha vida começou a se resolver. não. na verdade não foi nada disso. Conseguir abrir minha empresa foi o começo da resolução da parte de um problema maior chamado MINHA VIDA. Porque aí, no dia do meu aniversário, eu consegui perder o meu cartão do banco. mas não era de qualquer banco. eu sou correntista do BANCO DO BRASIL. alguém entende o que isso significa na vida bancária de uma pessoa? significa ter que lidar com FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS. todos sabem que a maioria dos funcionários públicos


fazem bolões semanais pra ver quem faz mais gente chorar. aquele senhor da agência do banco do brasil da angélica deve ter entupido o rabo de picanha às custas de minhas lágrimas. eu nem vou contar toda a história porque 1. vocês dormiriam 2. vocês não entenderiam 3. não agüento mais nem pensar nisso. Só posso dizer que meu aniversário foi dia 26 de maio e meu cartão chegou na sexta-feira, dia 15 de JULHO. que durante esses meses eu tinha que sacar quase diariamente em uma agência que fica no caminho para o trabalho com minha CÉDULA DE IDENTIDADE como se fosse analfabeta. que deixei de fazer mil coisas porque não podia gastar o dinheirinho do dia seguinte. que a história toda era tão absurda que alguns chegavam a achar que eu estava era inventando tudo por ser uma judia pão-dura. que o tempo perdido na fila da agência onde todos os aposentados confraternizam dava pra terminar meu livro e começar outro. e que eu preferia perder todos os meus dentes e ter um olho vazado do que passar por isso de novo.

e que amanhã eu recebo meu salário e minha vida volta a ser boa. (mas é claro que nada é perfeito, hoje começa A Fazenda e outro tipo de insanidade tomará conta de nossas vidas)




O que as mulheres querem? Resposta: não faço a menor idéia. Essas teorias sobre o modus operandi de como satisfazer todo um gênero nunca me convenceram. O que eu gosto e espero de alguém é certamente diferente do que minha vizinha da frente espera, do que minha BFF espera, do que minha mãe espera. Algumas esperam segurança, outras esperam carinho, outras esperam apoio, outras esperam que o cara pague a conta, sei lá, eu realmente não consigo fazer uma lista do que todas as mulheres que eu conheço querem num homem. Isso depende muito do modelo de homem de cada uma, do pai, da história, do que a pessoa almeja. Por mais que eu secretamente pense que todos os homens só querem mesmo é uma mulher gostosa que faça o que eles mandam e não descubra suas mentiras (desculpe), tenho tentado acreditar um pouco mais no sexo oposto. Só um pouquinho.

Aí começo mentalmente a fazer uma lista (minha, só minha) do que gostaria em um rapaz. E olha, eu tenho um pouco de medo de escrever esse tipo de coisa porque parece que alguém ESCUTA e um tempo depois aparece uma pessoa exatamente com as características descritas. E acaba com a minha vida. Sabendo isso, tentarei colocar de maneira minimamente sensata o que eu acho que um rapaz deve ter para que eu o considere um bom companheiro de conchinha. Primeira coisa a ser colocada: eu não PRECISO de um homem. Não preciso de homem pra trocar meu chuveiro, meu galão de água, as lâmpadas de casa, pra lidar com o zelador, enfim, pra fazer qualquer coisa por mim. Eu me viro. E, se não me virar, contrato alguém pra isso. Não é isso que eu quero em um homem. Também não tenho aquela fantasia absurda de ter *um homem que me sustente*. Ora, eu gosto de pagar as minhas contas. Não sei lidar com homem que tem a terrível síndrome do “quero ser seu homem


e cuidar de você”. Por favor. Eu sei me cuidar. Uma coisa é dar uns presentes, bancar umas coisas bacanas, sei lá, mas ficar querendo adotar a pessoa e controlar tudo que acontece me faz sentir sufocada e diminuída. A frase “não quero que nada aconteça com você” me dá calafrios. Eu quero. Quero que as coisas aconteçam, coisas boas, coisas não tão boas, enfim, coisas, e que eu consiga lidar com elas sozinha. Pode ser? Sem querer bancar o grande provedor? Não preciso de provedor. Eu sei prover. Obrigada. Aí eu pensei em um monte de coisas que eu *quero*. Inteligência é obviamente o primeiro item, junto com #humor. Se a pessoa for inteligente mas não tiver senso de humor não tem nem como começar a dar certo. Pensei em listar gosto musical, faixa etária meio, forma, cor, gosto, mas me dei conta que nada disso importa. Importa uma coisa só: COMPATIBILIDADE. A primeira vez que ouvi essa palavra foi quando ganhei um videogame CCE aos, sei lá, 10 anos? Eu queria um Atari. Meus pais não possuíam reais para um Atari. Primeiro eu fiquei meio chateada, poxa, estava esperando um Atari.Aí meu pai disse:

«é COMPATÍVEL com Atari, Claríssima!» Eu na hora não sabia o que era compatível. Pensei numa compota. Aí entendi que ia poder jogar igual, ia poder jogar os mesmos jogos, dava praticamente na mesma. E fiquei feliz. Sei lá. Estava quase dormindo agora e lembrei disso. Porque eu (e o resto da humanidade) às vezes fico idealizando uma pessoa, vem outra e eu não percebo que ela é exatamente o que eu preciso. Como já diria o sábio Mick, you can’t always get what you want but if you try sometimes you might find you get what you need. Me desculpem pela analogia barata dos videogames, a cabeça da pessoa funciona assim. Poderia ainda me estender e falar que já tive momentos de querer que uma fita de Odyssey coubesse no meu CCE mas aí já seria demais, né? Vocês entenderam. Acho.




Cafeína, meu amor 30 sofridos dias sem cafeína Tudo começou no twitter. Um dia, como piada, tuitei para uma amiga: imagina ficar um mês sem café? Rimos. Rimos muito, com a mão no peito e a cabeça jogada para trás. Outros riram também. Sem café, que absurdo. Devo frisar que todos são jornalistas – e todo jornalista é um cafeinômano. Quem trabalha com o intelecto normalmente riria alto com a cabeça jogada para trás diante de tal possibilidade: uma vida sem café, logo, sem cafeína. Eu, como tenho mania de superação, resolvi transformar a piada em pauta. E parei no dia seguinte. Já me desvencilhei de vícios bem mais pesados (amor, por exemplo) e pensei que café seria uma grande barbada. Minha teoria era que vício por cafeína – ou café, mais especificamente – talvez fosse psicológico. Um descafeinado resolveria. Imagina.Viciada, eu. Maior erro da minha vida. Durante os trinta dias

que se seguiram eu diariamente amaldiçoei o momento em que tive a idéia, o fato do editor ter aceitado e checava a megasena para ver se teria que continuar com aquilo mesmo ou poderia mudar para o Havaí e nunca mais pensar em pautas enquanto meio de sobrevivência. Mas não. A megasena acumulada foi toda para uma só pessoa (tem que ver isso, hein) e eu continuava sem café. Antes da Saga achei que apenas os primeiros dias fossem um pouco difíceis. Fui surpreendida por uma das maiores crises de abstinência da minha existência. Cafeína, amigos e amigas, é droga pesada. “Substitui por guaraná”, diziam. Guaraná tem cafeína. “Troca por chá verde então, supersaudável!” Chá verde tem cafeína. “E chá branco?” Chá branco tem a maior concentração de cafeína da história dos chás.


“Toma uma coca!” Coca-cola tem cafeína. “Toma um mate, tchê!” (imitação barata do que sobrou do meu sotaque gaúcho) Olha: erva-mate tem cafeína. “Então toma um Toddy mesmo!” Chocolate tem cafeína. Quer dizer. Me vi restrita aos chás de hortelã, capim-cidreira, camomila e outros cujo nome é tão abominável quanto o gosto. Nem um chocolatinho para trazer alguma alegria ao coração. Nada. “Não vivo sem” jamais será pronunciado em vão novamente. E começaram os sintomas da reabilitação, digo, desintoxicação. Sono Nas primeiras duas semanas demorei até três horas para sair da cama. Três horas inteiras de lenga-lenga. Não podia pensar “chega, vou sair desta cama e fazer um café”. E “Chega” não era o suficiente. A leseira era mais forte.

Acordava e dormia, os olhos fechavam sozinhos, o corpo completamente mole. O coração morrendo de preguiça de bombear sangue para todas aqueles dutos. “E minha cafeína?, pensava ele. Eu também. E minha cafeína? Maldita idéia etc. E fechavam-se as pálpebras. O fato de eu amaldiçoar a idéia, o editor, a vizinha, o cara da pizzaria da frente e o semáforo da Consolação devia-se, além da leseira e da falta de vontade de viver, ao item II: Humor Mau-humor. Simples assim. Irritabilidade. Falta de paciência com meus gatos, o trânsito, o carteiro e a internet lenta, o zelador, minha pobre filha linda e amável, o pai dela, o outro lá, a outra aqui, a máquina de cartão do posto de gasolina e a música alta em carros e celulares de outrem, além de assuntos que não me interessavam quando eventualmente esquecia os fones de ouvido. Ódio profundo e sentimentos incendiários. Mais mau-humor no item III: Dor-de-cabeça


Vá até seu armário de remédios. Leia a bula dos remédios para dor-de-cabeça. Todos contém o quê? Cafeína. Cafeína, meu amor. Dores insuportáveis por sua falta, que idéia foi essa de te abandonar? Dores insuportáveis.Tentativas falhas de substituição. Ibuprofeno: funciona em grandes doses. Mas apenas para dor, nada de bálsamo para os outros sintomas. A dor-de-cabeça veio aliada à falta de concentração:

é fácil? FAZ VOCÊ então”. Duvido que alguém saísse ileso. Escrevi barbaridades. Mesmo depois de achar que tinha revisado, relia e encontrava alguma barbaridade. Cometi textos inenarráveis. Ainda bem que não estava completamente desligada e consegui perceber a tempo (ou antes que os editores percebessem e eu ficasse desempregada para sempre). Insônia

Falta de concentração Sempre fui uma moça multitarefas, vida (quase) inteira lidei com redes sociais e programinhas de chat. Trabalhava normalmente, às vezes até inspirada por toda a comunicação internética. Quem disse? Não mais. Mal conseguia lidar com um de cada vez, que dirá trabalhar. Demorei três semanas para escrever um texto que levaria no máximo dois dias. Reli e revisei mil vezes e ainda mandei três correções para a editora. Expliquei: estou sem café. Imaginava todos pensando “mas que desculpinha, hein, Dona Clara” (considerando que exista algum editor que não seja cafeinômano) e tinha vontade de dizer “acha que

Se eu não conseguia acordar, quem disse que conseguia dormir (ou vice-versa, foram dias confusos)? Tentei contar todos os tipos de animais, juntos e separados.Tentei chazinho de camomila. Tentei de tudo. Nada funcionava.Antes eu já sofria de insônia.Agora ela vinha acompanhada de: Paranóia Já teve? Já ouviu sons no silêncio? Já se sentiu perseguido? Já se incomodou com a vizinha de 78 anos levantando da cama no meio da noite como se houvesse um tablado de flamenco no andar de cima?Não? Então não pare com a cafeína.


(Não mencionarei os pedesadelos diários. Grata pela compreensão.) A quase desistência No meio da terceira semana eu quase me rendi. Dizia: acho que vou sucumbir. Isso não é vida. Não consigo trabalhar. Não consigo acordar. Não consigo dormir. Não consigo ler. Não consigo pensar. Meu sistema digestivo protesta. Ouço coisas que não queria. Estou engordando. Meu metabolismo morreu. Sucumbirei. Mas Nossa Senhora da Cafeína me confortou e disse: “calma, minha querida, são apenas mais alguns dias. Depois você poderá se esbaldar para todo sempre”. Quer dizer, eu já estava entrando em delírio, vendo santa, quase fazendo promessa. Nunca tive problemas de gastrite por causa de café. Passei a sentir certo mal-estar. Seria uma anti-gastrite? Seria simples síndrome de abstinência? E aquele sono, não ia embora nunca mais? Recorri ao ginseng. Funcionou muito pouco e me deu azia. Ginseng do bom é o coreano (panax ginseng); esse tinha pouco e não achei mais. Me restou a recorrer ao panax quinquefolius banal,

encontrado em qualquer farmácia e cultivado nos Estados Unidos. Mas já era tarde: meu corpo estava revoltado, nada funcionava e eu sonhava com café.Acho que até esquizofrenia olfativa eu tive. E olha que cafeína nem cheiro tem. A volta Não preciso narrar o sofrimento além disso. Naquela penúria física e mental, contava os dias para poder voltar ao meu vício. Queria minha vida de volta. Parece um exagero sem fim, todo mundo acha que pode, não é? Só um cafezinho. Faz você. Fica sem. Eu consegui. E no trigésimo-primeiro dia acordei em fúria. “ME DÁ UM CAFÉ” era meu único e solitário pensamento. Peguei meu computador e fui trabalhar em um café. Literalmente enchi a cara. Não devia. Meu corpo já estava desacostumando daquele tanto de café. Entrei em mania. Fiquei confusa.Tive azia. Parecia que era a primeira vez que tomava um café na vida. Fiquei alterada. É um estimulante, afinal. Muito louca. De café. Sim, é possível. Os fatos


Sim, a cafeína é droga. Sim, ela vicia. Sim, é pesada. Um espresso, forma de preparo com maior concentração, leva gramas de 30 a 50 miligramas. A dose letal é 10 gramas. Cafeína não tem gosto e nem cheiro. Café descafeinado não funciona nem como substituto – pelo menos quando você sabe que é descafeinado, como foi o caso desta que vos escreve. Não havia placebo: eu precisava saber se havia ou não cafeína.Talvez em um próximo experimento me contradiga. De qualquer maneira, alguém bebe café descafeinado? (Sim, 1% dos brasileiros e até 20% dos americanos) O sabor não é desculpa; a torra e processos químicos que matam a cafeína comprometem o sabor. Posso pensar em doze metáforas, uma pior do que a outra, que não me explicam o hábito. Até aí é uma questão de gosto. Mas café (leia-se cafeína) não é só um gosto ou um hábito, como cheguei a suspeitar antes dos meus dias de abstêmia; é um vício, como qualquer outra droga, com a diferença de que pode ser comprado na padaria da esquina por um punhado de moedas. Assim como o álcool. Mas aí são outros trinta dias.



Persona non-grata Eu nunca fui uma garota popular. Na escola eu simplesmente não fazia questão. sempre tem as panelinhas: as gostosas, as patricinhas, as nerds, as feias, as rejeitadas, as esquisitas. eu era esquisita. mas não era rejeitada, só diferentona. me relacionava relativamente bem com todos os grupinhos, só não fazia questão nenhuma de pertencer a eles. nunca tive essa necessidade de auto-afirmação e aceitação, pelo menos não da maneira óbvia. acho que eu tentava me impor de outras formas. ou simplesmente nem tentava. não sofria exatamente de rejeição porque não tentava forçar a aceitação. eu era eu. devo isso aos meus pais, mais especificamente à minha mãe, que sempre me incentivou a ser *eu*. tive um momento de paixão por um futuro coxinha na escola, o que acabou me rendendo umas boas histórias, mas nunca deixei de ser eu. Muitos anos se passaram e eu acho que continuo muito parecida com o que sempre fui. mas

agora tem toda essa exposição, né? e exposição cria discussão. e discussão leva ou à aceitação, ou à rejeição. Desde que comecei a publicar, lá por 1997, lido com rejeição, com gente incomodada pela minha existência, minha maneira de fazer as coisas, de pensar, de opinar, de me vestir, de existir. e me pergunto: por que se incomodam tanto? se não gostam, não leiam, não procurem, não vejam. e, principalmente, não se incomodem. sabe, eu não fico indo atrás do que me incomoda com tanta coisa legal pra ver neste mundo, tanta música, tanto livro, tanto filme, tanta gente legal pra prestar atenção. quando me pronuncio contra algo é porque eu acredito que devo expor um problema, um sintoma da sociedade cagada em que vivemos. uma coisa é criticar. outra é implicar e se incomodar com algo que não tem nada a ver com a sua vida. e outra ainda é fazer piada. piada pode, gente. nunca reclamei de piada. e eu critico mesmo uma caralhada de coisas mas


nunca é pessoal, ou quase nunca; discordo da maneira de viver de muita gente, mas não tento mudar, me meter, execrar. claro que isso não se aplica àqueles que pregam o ódio, que pregam o preconceito. vocês sabem do que estou falando. Minha avó sempre me disse: cadum cadum. é tão simples, né? deveria ser. falar da vida alheia é uma coisa tão triste, uma evidência gritante de falta de vida própria. vejo gente discutindo minha vida por aí baseadas em um programa de tv que foi todo editado tendenciosamente. tv é entretenimento, alguém aí não sabe disso? poxa, cesjuram que acreditam em tudo que vêem na televisão? que merda, hein. mas enfim, eu sabia que estaria sujeita a julgamentos. todos sempre estamos. meu problema é a certeza e a propriedade que muita gente tem pra afirmar absurdos. «clara não nasceu pra ser mãe». escuta, cada um cria seus filhos da maneira que acredita. fui criada de maneira peculiar e curto muito o resultado disso. não farei diferente com a minha filha. e vocês lá sabem como eu crio a minha filha baseados em três horas de um programa de televisão que evidentemente visava polemizar? gente, por favor,

o que vocês andam tomando? Ando muito defensiva. ontem li a entrevista que dei para a revista inked e fiquei surpresa com minha própria agressividade. não sou agressiva mesmo, quem me conhece sabe bem. não sei se me senti muito vontade porque a entrevista foi feita por meu amigo thiago perin, que me conhece super bem, e por isso deixei de ter um certo comedimento. só sei que é um festival de palavrões, pareço o bob cuspe da literatura dando uma entrevista com pose de adolescente punk que diz «whatever, dude». depois reli a entrevista e vi que eu sou assim mesmo, toda sujeita a mal-entendidos e interpretações erradas - e que o thiago simplesmente transcreveu o que eu disse. acontece que o tom nunca está impresso. e o tom é muito importante sempre. e aí? aí que eu digo no final: foda-se o que vão pensar e a maneira como vão me ver. eu sou isso aí. e é verdade. eu sou isso aqui. tem mais, claro. sempre tem mais. mas eu não tento parecer algo que não sou e nem me explicar (peraí, o que eu tô fazendo agora? rá). se eu ficar tentando escrever minha própria bula, vou acabar louca


me justificando pro mundo. dá não, gente. cada um entende como conseguir. porque eu continuo não sendo uma garota popular e não fazendo a menor questão de ser aceita por todos. não tenho vocação pra tentar agradar. Nunca fui uma garota popular e não é agora que pretendo ser. <3



Fica, vai dar merda Sabe quando você acorda com aquela sensação de que vai dar uma merda?

“mas tem que ir até o aeroporto?” “tem. ele não sabe seu telefone.”

Hoje eu tinha uma palestra em belorizonte. quem me chamou foi o guaracy, vulgo guará, amigo querido e colega de casa de um outro amigo querido, o flávio de castro.

Bom. peguei o táxi e fui. trânsito. se o vôo atrasasse, talvez eu conseguisse chegar. não atrasou. tinha outro. não deu pra pegar. liguei pra produção lá pedindo pra remarcar. ok. remarcaram. estou resumindo, mas estamos falando aqui de vários telefonemas e várias balconistas envolvidas, além da agência de viagens. sentei lá. um cara me ofereceu a coca que ele estava bebendo (?). desejei meus fones. não uso mais fones no aeroporto porque já peguei um avião errado por causa disso - desci em curitiba pra trocar de avião e quase fui parar no rio de janeiro em vez de voltar pra são paulo. já não ouvi portão sendo mudado - nem sei porque ainda imprimem o portão no cartão de embarque, sempre mudam essa merda. ����������������������������������� já perdi última chamada para embarque. enfim. sem fones no aeroporto.

Então. daí o porteiro do prédio não conseguia achar um táxi e desencanou. só esqueceu de me avisar. depois de vinte minutos esperando no hall de entrada eu fui perguntar do táxi. “aé, não encontrei nenhum”. Pedi pra ligar de novo. ele surpreendentemente encontrou um táxi em menos de um minuto. que incrível, hein. demorou mais dez pra chegar. nisso eu já tinha perdido meia hora e já devia estar no aeroporto. imaginei que fosse perder o vôo. não estava mesmo conseguindo me visualizar lá. sei explicar não. comentei isso com @alesie. ela disse:“se deus quiser, você vai. deixa na mão dele”

Esperei. eis que me ligam e dizem para que eu me


dirija ao balcão de check-in 01 da tam. fui. tinha lá uns agentes de viagem. nenhum deles estava com meu cartão de embarque. meu e-ticket ainda constava como a passagem anterior e meu vôo estava encerrando o embarque. ouvia meu nome sendo ultimamente chamado no portão x, mas sem o cartão de embarque não adiantava, né. podia tentar embarcar com o papel do pão de queijo, mas a @rosana depois me disse que não ia funcionar, ela uma vez tentou mas a galera percebeu e ela teve que procurar o bilhete no lixo. Os agentes tentavam freneticamente encontrar minha passagem. nada. ao mesmo tempo, vem um dos agentes com um papelzinho e diz: é este? ESTE O QUÊ? sério. Aí eu já tinha perdido o outro vôo. sem palestra hoje. aviso quando souber a nova data. tinha que ser segunda-feira, né? pelo menos já tem mais uma história pra contar




Em São Paulo, zero reais É��������������������������������������������� impressionante a capacidade dos maus pagadores de automaticamente te transformarem em uma má pagadora também. uma bola de neve do mal. tento não guardar rancor ou sentir ódio em minha nova fase adocica iniciada imediatamente apóswhatever works, novo filme do woody allen, que me fez perceber o tempo todo que perdi com insatisfação. o velho woody me fez perceber que eu, você ou ele podemos estar perdendo, neste exato momento, tudo de bom destinado à vida por receio de perder alguma outra coisa hipotética que nunca virá. voto viver o agora, tão bom, sempre lembrando das grandes cagadas do passado e visando um futuro possível em vez de uma catástrofe iminente (além de tentar entender a teoria das cordas); nem tudo será sempre perfeito; nem tudo será sempre desgraçado se você for maduro suficiente para saber contornar as situações em vez de fugir delas e evitar o conflito. ora, você pode até fugir, mas o problema sempre vai continuar lá sentadinho esperando resolução. talvez apareçam outros

problemas e sentem em seu colo. talvez uma pilha de problemas caia na sua cabeça por falta de apenas uma resolução. não precisa ser nenhum gênio para saber disso. não precisa ser um gênio pra quase nada, concluo. Chega de amargor. só estou cansada. fisicamente cansada. hoje. caminhei, ensaiei, andei de metrô, pratiquei o método tracy anderson, trabalhei esperando que dessa vez me paguem em dinheiro depositado na conta, não em CHEQUE e muito menos em CHEQUE SEM FUNDOS. devem achar que sou a magnata do blog. que nado em dinheiro e agora cansei de escrever para fazer uma bandinha. se soubessem o quanto eu me esforço para que todas as coisas dêem certo, se soubessem a trabalheira de manter uma banda, ensaiar, lidar com gente, marcar shows, viajar, passar som, satisfazer e ficar satisfeito. se apenas soubessem. Se soubessem que cortavam minha luz


quando eu não pagava a conta e agora cortam sem querer - mesmo com a conta paga. se soubessem a merda que andou minha internet e o quanto isso dificultou meu trabalho porque queriam me cobrar uma fatura de JUNHO DE 2009 que foi paga hmmm deixa eu ver, EM JUNHO DE 2009.Eu devia era escrever um sitcom. me inspirar em larry david, meu novo mentor. Se soubessem o valor do trabalho não pagariam com CHEQUE SEM FUNDOS.

agora), uma moça muito querida para pagar, uma outra moça muito querida para pagar. cadê meu dinheiro? num cheque voltado. não agüento mais. i do it the hard way, como me ensinou chet baker. continuo com a dignidade intacta, não fiz nada que me ferisse até hoje. acho que faço certo. tenho zero reais na conta. o baixista da minha banda me emprestou dinheiro pra comprar olcadil antes que eu desparafusasse. obrigada, querido bandini. tenho bons amigos. infelizmente, nenhum deles é milionário. vou continuar fazendo do jeito difícil, mas adocicando. talvez funcione.

“É só uma traduçãozinha, faz aí” Talvez eu ganhe na megasena. “É só um textinho, fácil” é fácil? é mesmo? então, olha, FAZ VOCÊ. Desculpe, se for pra me tirar de trouxa e não me pagar, faz você. quando eu tinha vinte e dois anos subestimava o valor do dinheiro e fazia trabalhos exclusivamente por amor. “fazia”. descontextualizando vai parecer diário de puta. pois é, fazia. agora eu tenho uma filha, contas, um vestido de festa junina para comprar (para minha filha pfv, não para mim, que imagem horrível me veio




~Se curtindo~ Eu moro sozinha. E eu gosto MUITO de morar sozinha. Hoje é quarta e eu estou aqui na minha sala ouvindo meus discos, bebendo umas cervejas especiais e curtindo os meus gatos, com meu néon ligado, vestido novo, batom vermelho e vontade de escrever. Acho que a solidão, aquela que machuca, só vem quando a gente não está curtindo nossa própria companhia. Já senti aquela solidão. E era bem quando eu não sabia me suportar. Agora as coisas são diferentes; agora eu me gosto. Mas já me odiei. Não era algo assim consciente grrr me odeio, mas já entrei em processos de autodestruição bem agudos. Ou graves. Enfim, extremos. Eu, meus amigos, já estive muito louca nessa vida. Não muito louca de droga, sabe,

muito louca de falta de sanidade mesmo. E eu me odiava. Me odiava e falhava miseravelmete ao tentar amar outras pessoas.Amor assim não tem como dar certo; quando um dos lados se odeia, o outro acaba tendo que amar em dobro. Já estive em ambos os lados e atesto: não tem como dar certo. Eu sei que parece autoajuda, mas ó: a gente tem que ~se curtir~. Na hora eu não percebia e me agarrava ao amor como se fosse a última centelha para salvar minha vida. Errado, errado, errado. Percebo agora, a anos-luz de toda aquela tormenta, mas no meio da tormenta a gente não percebe nada. Passou a tormenta, passou essa coisa da autodestruição - ou ao menos isso está sob controle agora -, passou o tempo e eu mudei muitas coisas. Não acho realmente que as pessoas mudem; nossa essência permanece a mesma, apenas aprendemos a nos livrar das coisas ruins, controlá-las, evitá-las. E é claro que há alguns que pioram e se tornam mais insupor-


táveis do que já eram, mas eu hoje estou toda alegre e positiva ouvindo Ike and Tina em meu lar e não quero saber de gente que piora, só de gente que melhora. Alías, andei cortando uma galera nos últimos anos porque não consigo ficar perto nem de gente estagnada, nem de gente que anda de ré. E é isso: só um postzinho de autocurtição.

Ósculos&Amplexos c.



Ele nunca veio. ele não conseguiu ver futuro comigo, ele não conseguiu ver nada. escolheu ficar com uma lá que firmava os pés dele no chão. no chão eu não sei ficar, sempre disse que só cai quem voa. voei e me estabaquei. foi tão perto, tão pertinho, tão quase. ele não conseguiu tentar. ficamos sem romance, sem começo e sem ponto final.

Encaixe


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