Caderno TGI II by Marina Fernandes

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MARINA DIAS FERNANDES TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO II INSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMO UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

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“NÃO NOS FALTA NEM CAPACIDADE NEM ÍMPETO. O QUE ESPANTA AQUI É O IMOBILISMO, A ROTINA, A FUGA DIANTE DE PROBLEMAS ABSOLUTAMENTE NOVOS QUE SE SUPERPÕEM ENQUANTO O DESENVOLVIMENTO TÉCNICO DO CINEMA CORRE NA FRENTE. NÃO DEVEMOS TEMER NADA. NOSSA TAREFA É REUNIR E RESUMIR AS EXPERIÊNCIAS DO PASSADO E DO PRESENTE, ARMANDO-NOS COM ESTA EXPERIÊNCIA PARA ENFRENTAR NOVOS PROBLEMAS E DOMINÁLOS, PERMANECENDO CONSCIENTES, AO FAZER ISSO, DE QUE A BASE GENUÍNA DA ESTÉTICA E O MATERIAL MAIS VALIOSO DE UMA NOVA TÉCNICA É E SERÁ SEMPRE A PROFUNDIDADE IDEOLÓGICA DO TEMA E DO CONTEÚDO, PARA OS QUAIS OS MEIOS DE EXPRESSÃO CADA DIA MAIS APERFEIÇOADOS SERÃO SOMENTE MEIOS DE DAR CORPO ÀS FORMAS MAIS ELEVADAS DE CONCEPÇÃO DO UNIVERSO, AS IDEIAS DO COMUNISMO. “*

* ESCRITO EM 1946 – O ORIGINAL VEM DATADO DE MOSCOU-KRATOVO, AGOSTO DE 1946 – E PUBLICADO PELA PRIMEIRA VEZ DEZ ANOS MAIS TARDE NA ABERTURA DA COLETÂNEA REFLEXÕES E UM CINEASTA. (EISENSTEIN, SERGEI. A FORMA DO FILME. P. 12)

INDICE INQUIETAÇÕES SOBRE CINEMA ARQUITETURA E LINGUAGEM EISENSTEIN O METODO ANALISE DO FILME MOOCA - ESTUDO DE CASO DIRETRIZES DESLOCAMENTOS INTRODUÇÃO À CENA TOMADA DE CONSCIÊNCIA RUPTURA IMAGENS FINAIS BIBLIOGRAFIA ANEXO

08 10 12 22 30 40 68 76 80 86 112 117 138 140

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INQUIETAÇÕES

ESSE TRABALHO SURGE DA INDAGAÇÃO DE COMO É PRODUZIDA A CIDADE CONTEMPORÂNEA E DAS POSSIBILIDADES DE CONDUÇÃO DO PROCESSO DO FAZER ARQUITETÔNICO E PROJETUAL. A PARTIR DE LEITURAS E REFLEXÕES REALIZADAS NA DISCIPLINA DE INTRODUÇÃO AO T.G.I, EM 2011, INICIOU-SE A BUSCA POR CONCEITOS DISPARADORES CAPAZES DE POTENCIALIZAR MEU PROCESSO INVESTIGATIVO DE PROJETO.

O RESULTADO DESTE PROCESSO É UM RACIOCÍNIO QUE BUSCA IDENTIFICAR ESTRATÉGIAS POSSÍVEIS, UMA VEZ RECONHECIDA A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES ENTRE O ESPAÇO URBANO E AS PESSOAS, DAS FORMAS DE LEITURA E DE CONSTRUÇÃO DE UMA SINTAXE, QUE PERMITA UMA MAIOR COMPREENSÃO DAQUELE QUE PROJETA A CIDADE E DE QUEM A VIVE.

APRESENTO NESTE CADERNO O QUE CONSIDERO SER AINDA UM ESTUDO PROJETUAL DE COMO ME POSICIONAR FRENTE AO QUE ESTA SENDO CONSTRUÍDO COMO CIDADE HOJE.

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SOBRE CINEMA ARQUITETURA E LINGUAGEM

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”(SÓLA-MORALES, IGNASI. TERRITORIOS. P. 28)

“ PERO,¿QUÉ SE DICE DESDE LA ARQUITECTURA? SOCIALMENTE PARECE MANTENERSE LA IDEA DE QUE LOS ARQUITECTOS SON PERSONAS IMPLICADAS DIRECTAMENTE CON LA CIUDAD. NO SON LOS ÚNICOS, CIERTAMENTE, QUE PIENSAN Y HACEN LA CIUDAD, NI TAMPOCO SON TODOS LOS QUE TIENEN ABIERTA ESTA SENSIBILIDAD. PERO PODEMOS DECIR QUE, TENGAN ALGUNA COSA QUE DICIR SOBRE LA CIUDAD EXISTENTE Y, COM MAYOR PRECISIÓN, QUE TENGAN ALGO QUE PROPONER EN UMA SITUACIÓN DE DESORIENTACIÓN Y DE FALTA DE OBJETIVOS CONSENSUADOS. ” 11

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EISENSTEIN

NASCIDO EM 10 DE JANEIRO DE 1898 EM RIGA, LETÔNIA, SERGUEÏ MIKHAÏLOVITCH EISENSTEIN É FILHO DE UM FAMOSO ENGENHEIRO CIVIL E ARQUITETO - MIKHAIL EISENSTEIN OSSIPOVITCH - RESPONSÁVEL POR ALGUMAS OBRAS NOTÁVEIS NO ESTILO “ART NOUVEAU”, NA CAPITAL DA LETÔNIA.

EISENSTEIN INGRESSOU NO EXÉRCITO VERMELHO EM MARÇO 1918 E COLABOROU NA PRODUÇÃO DE CENÁRIOS E FIGURINOS UTILIZADOS EM ENCENAÇÕES NA ARENA CENTRAL PROLETKULT, EM MOSCOU (1921).

SEU COMPROMISSO COM O TEATRO INOVADOR LEVOU-O A INTEGRAR O WORKSHOP LIDERADO PELO HOMEM QUE SE TORNARIA SEU MESTRE, VSEVOLOD MEYERHOLD. ENQUANTO ISSO, ELE FREQUENTOU A MÍDIA NA VANGUARDA DA REVISTA MAYAKOVSKY E L.E.F., ONDE PUBLICOU SEU PRIMEIRO ARTIGO TEÓRICO: “A MONTAGEM DE ATRAÇÕES”, SOB A INFLUÊNCIA DO CIRCO E DO TEATRO DE VARIEDADES.

NO PERÍODO EM QUE O CINEMA REPENSAVA A SUA LINGUAGEM, EISENSTEIN BUSCOU DESENVOLVER EM SEU CINEMA UM MÉTODO QUE PERMITISSE REARTICULAR AS DESCONTINUIDADES EXISTENTES, DURANTE A MUDANÇA DE SISTEMA POLÍTICO-ECONÔMICO NA RÚSSIA PÓS 1917. SUA METODOLO12

(LA CINÉMATHÈQUE FRANÇAISE : S. M. EISENSTEIN)

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GIA SERVIU COMO BASE PARA O FUTURO DESENVOLVIMENTO DA MONTAGEM NO CINEMA, SENDO CONSIDERADO JUNTO COM D.W. GRIFFITH E ABEL GANCE COMO UM DOS “PAIS DA MONTAGEM”.

ENTRE SUA FILMOGRAFIA SE ENCONTRAM NOMES COMO: GREVE (1924), O ENCOURAÇADO POTEMKIN (1925), OUTUBRO (1927), A LINHA GERAL (1928), QUE VIVA MÉXICO! (1931), IVAN, O TERRÍVEL - PARTE I (1944), ENTRE OUTROS. ALÉM DISSO, CONTRIBUIU COM A PRODUÇÃO DO MANIFESTO DE OUTUBRO (ANEXO), NO QUAL VÁRIOS ARTISTAS, INCLUINDO ARQUITETOS, SE COLOCAVAM SOBRE SEU TRABALHO NO PERÍODO PÓS-REVOLUCIONÁRIO NA RÚSSIA.

SUA IMPORTÂNCIA HISTÓRICA NO DEBATE DO CINEMA COMO LINGUAGEM, NO DESENVOLVIMENTO DE UMA METODOLOGIA E COMPREENSÃO DAS MUDANÇAS QUE OCORRIAM POLITICAMENTE DE FORMA A ABARCÁ-LAS EM SEUS PROJETOS ME INCENTIVOU A UTILIZA-LO COMO REFERENCIAL TEÓRICO PARA ESTE TRABALHO.

EISENSTEIN

Artista: proletário x gênio

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“ [...]NÃO BASTA DIZER “VANGUARDA”, DESTACAMENTO AVANÇADO – É PRECISO FAZER COM QUE TODOS OS OUTROS DESTACAMENTOS SE DEEM CONTA E SEJAM OBRIGADOS A RECONHECER QUE MARCHAMOS NA FRENTE. [...] NÃO BASTA SE TORNAR UMA FORÇA POLÍTICA AOS OLHOS DO PÚBLICO, COLAR A *LENIN, QUE FAIRE?, IN OEUVRES COMPLÈTES. MOSCOU: ED. DU PROGRÈS, 1965, P. 435-6 E 442. (ALBERA, FRANÇOIS. EISENSTEIN E O CONSTRUTIVISMO RUSSO. P. 179)

ETIQUETA “VANGUARDA” EM UMA TEORIA E EM UMA PRATICA DE RETAGUARDA; É PRECISO TRABALHAR MUITO, E COM OBSTINAÇÃO, PARA ELEVAR NOSSA CONSCIÊNCIA, NOSSO ESPIRITO DE INICIATIVA E NOSSA ENERGIA.”

TEMA RECORRENTE DOS MANIFESTOS E DECLARAÇÕES DAS VANGUARDAS FUTURISTAS E CONSTRUTIVISTAS, O ARTISTA DEVERIA SE TORNAR UM TRABALHADOR DA ARTE. EISENSTEIN PERTENCE A ESSE CONJUNTO DE VANGUARDA, DESCARTANDO A VINCULAÇÃO DA INSPIRAÇÃO ÀS “FACULDADES CRIADORAS” E AO EGOCENTRISMO OU GENIALIDADE TÍPICOS NO CAMPO ARTÍSTICO. PARA ELE, O CINEASTA DEVERIA SUBSTITUIR A “MÍSTICA DA CRIAÇÃO” POR UM TRABALHO QUE EVIDENCIARIA OS PROCEDIMENTOS, TORNANDO-O RACIONAL E OBJETIVO COMO O TRABALHO DE UM ENGENHEIRO.

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Encomenda social

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EISENSTEIN

NA DISCUSSÃO CONSTRUTIVISTA SOBRE A ENCOMENDA SOCIAL, QUE DEBATE QUE PRODUÇÃO ARTÍSTICA DEVE SER VOLTADA PARA A CONSTRUÇÃO DO SOCIALISMO E DO NOVO IMAGINÁRIO SOCIAL, FORJANDO O NOVO HOMEM, EISENSTEIN SE INSCREVE NA PROPOSIÇÃO DE QUE O CINEMA SERIA UM INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO DO MODO DE PERCEPÇÃO. ISSO EXIGIRIA DO PROFISSIONAL-ARTISTA ESTAR ATENTO ÀS NECESSIDADES DO MOMENTO.

É IMPORTANTE COMPREENDER QUE A DEFINIÇÃO DE ENCOMENDA SOCIAL NÃO COMO SUBMISSÃO ÀS DIRETIVAS DE UMA INSTITUIÇÃO, UMA ENCOMENDA POLÍTICA DE UM ORGANISMO DO ESTADO, MAS SIM COMO A ANTECIPAÇÃO DE UM DESTINO SOCIAL DE ORGANIZAR A CONSCIÊNCIA OPERÁRIA. ESSE POSICIONAMENTO SÓLIDO DE EISENSTEIN FOI APONTADO POR DIVERSOS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO, ENTRE ELES O JORNAL “KINO GAZETA” EM 1926 DURANTE A PRODUÇÃO DO FILME “O ENCOURAÇADO POTEMKIN”:

“HOJE, A EXPRESSÃO SOTZIALNY ZAKAZ, ENCOMENDA SOCIAL, ESTÁ NA MODA [...], MAS DEVEMOS ENTENDER COM ISSO A ENCOMENDA DE UM ORGANISMO GOVERNAMENTAL? SERIA UM GRANDE ERRO. [...] A ENCOMENDA NÃO SURGE NO GABINETE DE UM DIRETOR DE ESTÚDIO, NEM EM UMA COMISSÃO DE ESTADO. EISENSTEIN OBTEVE SUA ENCOMENDA JUNTO À REVOLUÇÃO PRO18

*KINO GAZETA, 12/01/1926, CITADO EM KLEIMAN E LEVINA, O ENCOURAÇADO POTENKIN, OP.CIT., P. 213 (ALBERA, FRANÇOIS. EISENSTEIN E O CONSTRUTIVISMO RUSSO. P. 260)

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LETÁRIA, NO CURSO DA QUAL ELE SE TORNOU UM ARTISTA. ESSA DEMANDA SOCIAL NÃO CHEGOU ATÉ ELE NA FORMA DE UMA RESOLUÇÃO OU PROPOSTA DE FILME, MAS COMO UM PROCESSO ORGÂNICO DE EVOLUÇÃO DA REVOLUÇÃO E DA EVOLUÇÃO DE EISENSTEIN.

ESTAMOS PERSUADIDOS DE QUE,

AINDA QUE O PRÓXIMO FILME DE

EISENSTEIN NÃO PROCEDA DE UM PEDIDO DO VTISIK (COMITÊ EXECUTIVO CENTRAL DE TODA A RÚSSIA DO PC) E QUE SEU ROTEIRO NÃO SE TRATE DE UM TEMA

QUE CONCERNE À REVOLUÇÃO, EISENSTEIN, ENTRETANTO,

RESPONDERÁ À ENCOMENDA SOCIAL DO PROLETÁRIO”.

relaçoes com a arquitetura

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EISENSTEIN

“MINHA EXPERIÊNCIA COMO PROJETISTA DE ARQUITETURA E CENÓGRAFO NÃO DUROU MUITO. MAS DUROU O SUFICIENTE PARA COMPREENDER UM EISENSTEIN, SERGEI. “PIRANESI,

RECURSO EXTREMAMENTE IMPORTANTE DO VERDADEIRO PROCESSO DE

OR THE FLUIDITY OF FORMS”, P. 98. TRADUÇÃO PRÓPRIA

“CRIAÇÃO” DO VOLUME ESPACIAL DAS CONSTRUÇÕES.”

NO TEXTO “PIRANESI, OR THE FLUIDITY OF FORMS” EISENSTEIN NOS APRESENTA SUA LIGAÇÃO PESSOAL COM ARQUITETURA AO CURSAR POR POUCO TEMPO DISCIPLINAS NO INSTITUTO DE ENGENHARIA ANTES DA GUERRA CIVIL RUSSA (1918 - 1921).

PARA O CINEASTA UM DOS MAIORES MÉRITOS DE CONSTRUÇÕES ARQUITETÔNICAS É A TRANSIÇÃO HARMÔNICA ENTRE SUAS FORMAS. O PRÓPRIO RITMO (E MELODIA) DE FORMAS ATRAVÉS DA INTER-RELAÇÃO DE VOLUMES-ESPAÇOS E A CONSTRUÇÃO DE MATERIAIS GERA UMA IMAGEM QUE EXPRESSA EM SI UM CONTEÚDO IDEOLÓGICO.

YVE-ALAIN BOIS AMPLIA MAIS NOSSO HORIZONTE HISTORIOGRÁFICO E RELACIONA PIRANESI (DEBATIDO POR EISENSTEIN), CHOISY, LE CORBUSIER. PARTINDO DA ESTRUTURA DA PERCEPÇÃO EM UMA DE SUAS CARACTERÍSTICAS MAIS ELEMENTARES TODOS ESSES PERSONAGENS SE UTILIZARAM DO 20

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EFEITO DE PARALAXE - A MUDANÇA DE POSIÇÃO DE UM CORPO, POR CONSEGUINTE, SUA PERCEPÇÃO, DEVIDO A UMA MUDANÇA DO PONTO DE VISTA DO OBSERVADOR. E ESSA PREOCUPAÇÃO, POR SUA VEZ, REINSCRITOS EM UM TERMO MAIS “CONCRETO” - O MOVIMENTO CORPORAL DO ESPECTADOR - NO CAMPO ALTAMENTE “ABSTRATO” DA ARQUITETURA, AMPLIOU O UNIVERSO PROJETUAL ONDE SE BASTAVA ISOLAR A ARQUITETURA E DISCUTIR SEUS MATERIAIS E DETALHES.

ESTE DEBATE DESEMPENHOU UM PAPEL SIGNIFICATIVO NA EVOLUÇÃO DA CONCEPÇÃO ARQUITETÔNICA QUE FOI “REDESCOBERTA” E DESENVOLVIDA POR LE CORBUSIER NA ELABORAÇÃO DO CONCEITO DE PROMENADE ARCHITECTURALE, OU “PASSEIO ARQUITETÔNICO”, QUE TRATA DA EXPRESSÃO DA DIMENSÃO EXPERIENCIAL DA ARQUITETURA E DO ESPAÇO NATURAL.

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O MÉTODO

O MÉTODO DE EISENSTEIN PARTE DA SUA DEFINIÇÃO DE “CINEMA INTELECTUAL” QUE TEM COMO PRINCIPAL FUNDAMENTO A IDEIA DE CONFLITO, ESTE SE DESENVOLVE NO PRINCIPIO SINTÁTICO (MONTAGEM) PROMOVENDO A ARTICULAÇÃO DE DESCONTINUIDADES E OPOSIÇÕES.

“O PLANO NÃO É UM ELEMENTO DA MONTAGEM. O PLANO É UMA CÉLULA DA MONTAGEM. EXATAMENTE COMO CÉLULAS, EM SUA DIVISÃO, FORMAM UM FENÔMENO DE OUTRA ORDEM, QUE É O ORGANISMO OU EMBRIÃO, DO MESMO MODO NO OUTRO LADO DA TRANSIÇÃO DIALÉTICA DE UM PLANO HÁ A MONTAGEM. O QUE, ENTÃO, CARACTERIZA A MONTAGEM E CONSEQUENTEMENTE, SUA CÉLULA – O PLANO? A COLISÃO. O CONFLITO DE DUAS PEÇAS EM OPOSIÇÃO ENTRE SI. O CONFLITO. A COLISÃO.”

PARA MELHOR COMPREENDER O MÉTODO PODEMOS DIVIDI-LO EM TRÊS PARTES: CONFLITO DE PLANOS, SINTAXE E MONTAGEM. APRESENTO NESTE CAPÍTULO O MÉTODO DESCRITO E FORMULADO POR EISENSTEIN E BUSCO APRESENTÁ-LO COM AUXILIO DE COLAGENS.

(EISENSTEIN, SERGEI. A FORMA DO FILME. P. 41)

CONFLITO DE QUADRO

INTERVALO ENTRE QUADROS

CONFLITO DE QUADRO

INTERVALO ENTRE QUADROS

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CONFLITO DE QUADRO = CELULA MÍNIMA DE COLISÃO CONFLITO DE QUADRO + CONFLITO DE QUADRO = SINTAXE (PRESENÇA DE CONTRAPONTO VISUAL) CONFLITO DE QUADRO + INTERVALO ENTRE QUADROS + CONFLITO DE QUADRO = MÉTODO DE MONTAGEM SOM (CONFLITO DE QUADRO + INTERVALO ENTRE QUADROS + CONFLITO DE QUADRO) = MONTAGEM COM CONTRAPONTO AUDIOVISUAL

Conflito de planos

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O MÉTODO

O CONFLITO DE PLANO É CONSIDERADO COMO A MENOR UNIDADE DO CINEMA E SERVINDO COMO CÉLULA DISPARADORA DE UM PROCESSO MAIOR, A MONTAGEM. ALGUNS DOS CONFLITOS POR ELE CITADO EM SEUS TEXTOS SÃO:

A. CONFLITO GRÁFICO: APRESENTA UMA COMPOSIÇÃO ENTRE DOIS OU MAIS ELEMENTOS DE TENSÃO. ENTRE ELES PODEMOS CITAR OS TRÊS BÁSICOS: VOLUMES, PLANOS E LINHAS. B. CONFLITO DE VOLUMES: APRESENTA UMA COMPOSIÇÃO EM QUE O MOTE PRINCIPAL PARTE DA TENSÃO ENTRE DOIS OU MAIS VOLUMES, PODENDO OU NÃO UTILIZAR O ARTIFÍCIO DE EXTRACAMPO. C. CONFLITO ESPACIAL: APRESENTA UMA COMPOSIÇÃO EM QUE O MOTE PRINCIPAL PARTE ORA DO TENSIONAMENTO PELO USO DA PERSPECTIVA ORA DA TENSÃO ENTRE CHEIOS E VAZIOS. D. CONFLITO DE PLANOS: APRESENTA UMA COMPOSIÇÃO EM QUE O MOTE PRINCIPAL PARTE DA TENSÃO ENTRE DOIS OU MAIS PLANOS, PODENDO OU NÃO UTILIZAR EXTRACAMPO. E. CONFLITO DE ASSUNTO: APRESENTA UMA COMPOSIÇÃO ENTRE DOIS OU MAIS CONFLITOS JÁ APRESENTADOS NO QUAL UM DELES É O ASSUNTO DA SEQUÊNCIA.

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A. CONFLITO GRAFICO

B. CONFLITO DE VOLUMES

C. CONFLITO ESPACIAL

D. CONFLITO DE PLANOS

E. CONFLITO DE ASSUNTO

Sintaxe

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O MÉTODO

A SINTAXE PARTE DA ARTICULAÇÃO ENTRE MAIS DE UM PLANO. AO APLICARMOS A LÓGICA EISENSTEINIANA DE COLISÃO ENTRE PLANOS, CRIAMOS O QUE PODE SER DENOMINADO CONTRAPONTO VISUAL. ALGUNS EXEMPLOS DO PROCESSO DE SINTAXE APONTADOS POR EISENSTEIN SÃO:

A. CADA FRAGMENTO EM MOVIMENTO: DEFINIÇÃO TÉCNICA DO FENÔMENO DE MOVIMENTO. AINDA NÃO SE TRATA DE UMA COMPOSIÇÃO, APENAS DE UMA SOBREPOSIÇÃO DE IMAGENS QUE DÃO A IDEIA DE MOVIMENTO. B. IMAGEM DE MOVIMENTO ARTIFICIALMENTE PRODUZIDA - LÓGICA: COMPOSIÇÃO FORMADA POR DUAS IMAGENS QUE SÃO COMPREENSÍVEIS INDIVIDUALMENTE, MAS TAMBÉM NA SUA ASSOCIAÇÃO, GERANDO UMA TERCEIRA IDEIA. C. IMAGEM DE MOVIMENTO ARTIFICIALMENTE PRODUZIDA - ILÓGICA: COMPOSIÇÃO QUE SE UTILIZA DE SIMBOLISMO EM SEUS QUADROS QUE POSSIBILITAM A PRODUÇÃO DO MOVIMENTO. D. COMBINAÇÕES EMOCIONAIS OU POR ASSOCIAÇÃO: COMPOSIÇÃO POR ASSOCIAÇÃO PARA A DINAMIZAÇÃO DO TEMA, QUADROS QUE NÃO FAZEM PARTE DO FILME SÃO ADICIONADOS POSSIBILITANDO UM ELO (VISÍVEL OU PSICOLÓGICO) ENTRE OS QUADROS.

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A. CADA FRAGMENTO EM MOVIMENTO

B. IMAGEM DE MOVIMENTO ARTIFICIALMENTE PRODUZIDA - LÓGICA

C. IMAGEM DE MOVIMENTO ARTIFICIALMENTE PRODUZIDA - ILÓGICA

D. COMBINAÇOES EMOCIONAIS OU POR ASSOCIAÇÃO

Momtagem

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O MÉTODO

POR FIM, CABE À MONTAGEM ORGANIZAR OS INTERVALOS ENTRE OS PLANOS E SEQUÊNCIAS PRODUZIDAS. PARTE DOS CONCEITOS EMPREGADOS NOS INTERVALOS ENTRE PLANOS SÃO INCORPORADOS DO PROCESSO DE COMPOSIÇÃO MUSICAL. PODEMOS LISTAR NESTA ETAPA AS SEGUINTES POSSIBILIDADES: A. MÉTRICO: OS INTERVALOS DESTE MÉTODO SÃO CONHECIDOS DE OUTRAS ÁREAS ARTÍSTICAS, SÃO OS COMPRIMENTOS ABSOLUTOS DO FRAGMENTO COMO UM COMPASSO MUSICAL. B. RÍTMICO: OS INTERVALOS DESTE MÉTODO APRESENTAM UMA MAIOR RELAÇÃO COM A SINTAXE APRESENTADA ANTERIORMENTE, DE MODO QUE OS INTERVALOS SÃO DIMENSIONADOS PELA SOBREPOSIÇÃO DE IMAGENS QUE DÃO A IDEIA DE MOVIMENTO. C. TONAL: OS INTERVALOS APRESENTAM GRANDE RELAÇÃO COM OS QUADROS, SENDO DIMENSIONADOS A PARTIR DO SENTIMENTO EXPRESSO NO FRAGMENTO. D. ATONAL: DESENVOLVIMENTO MAIS AVANÇADO AO LONGO DA MONTAGEM TONAL, SE DIFERENCIANDO DA MESMA PELO CÁLCULO COLETIVO DO FRAGMENTO. E. INTELECTUAL: OS INTERVALOS APRESENTAM GRANDE RELAÇÃO COM OS QUADROS, SENDO DIMENSIONADOS A PARTIR DA IDEIA DO FRAGMENTO. 28

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O encouraçado Potemkin

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ANALISE DO FILME

NA TENTATIVA DE IDENTIFICAR COMO O MÉTODO DESCRITO POR EISENSTEIN PODERIA SER CONSTRUÍDO, EU SELECIONEI UM FILME PARA ANÁLISE, O QUE ME PERMITIU IDENTIFICAR AS POSSIBILIDADES DE COMPOSIÇÃO E SEQUÊNCIAS.

“O ENCOURAÇADO POTEMKIN” CONTA O QUE SE PASSOU EM 1905, QUANDO OS MARINHEIROS DE UM NAVIO DO CZAR REBELARAM-SE CONTRA A TIRANIA DE SEUS COMANDANTES E ASSUMIRAM O CONTROLE DO POTEMKIN. E, APESAR DO APOIO DA POPULAÇÃO DA CIDADE DE ODESSA À REVOLTA, FORAM REPRIMIDOS VIOLENTAMENTE PELO REGIME CZARISTA. O TRECHO SELECIONADO PARA ANALISE FOI INTITULADO: “TOMADA DE CONSCIÊNCIA”, A CENA SE PASSA NA COZINHA DO BARCO AONDE OS MARINHEIROS LAVAM OS PRATOS APÓS O ALMOÇO.

A SEQUÊNCIA É APRESENTADA AQUI, CENA A CENA, SEGUIDA POR UMA ANALISE DA APLICAÇÃO DO MÉTODO DE MONTAGEM ANTERIORMENTE DESCRITO.

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A PARTIR DAS IMAGENS APRESENTADAS NESTA PARTE DA SEQUÊNCIA PODEMOS DIVIDÍ-LAS NOS SEGUINTES CONFLITOS DE QUADRO: 1. ASSUNTO CENAS (00:13:07) (00:13:24) CENAS (00:13:37) (00:13:43) (00:13:52) (00:14:00) (00:14:04) (00:14:06) (00:14:11) (00:14:14) CENA (00:14:18) (00:14:21) (00:14:23) 2. VOLUME CENA (00:13:10) (00:13:20) CENA (00:14:16) CENAS

(00:14:19) (00:14:21) 3. PLANO CENAS (00:13:14) (00:13:17) (00:13:27) (00:13:32) 4. GRÁFICO CENAS (00:13:29) (00:13:35) CENAS (00:13:41) (00:13:47) (00:13:56) (00:14:02) (00:14:08) (00:14:13) CENAS (00:14:17) (00:14:19) (00:14:20) (00:14:22)

1. CONFLITO DE ASSUNTO

2. CONFLITO GRÁFICO

2. CONFLITO DE VOLUMES

3. CONFLITO DE VOLUMES

CONFLITO DE VOLUMES

3. CONFLITO DE PLANOS

1. CONFLITO GRÁFICO

CONFLITO DE ASSUNTO 4. CONFLITO DE PLANOS

2. CONFLITO DE ASSUNTO

CONFLITO GRAFICO 5. CONFLITO DE VOLUMES

6. CONFLITO GRAFICO

1. CONFLITO DE ASSUNTO

3. CONFLITO DE VOLUMES

4. CONFLITO DE VOLUMES

5. CONFLITO DE VOLUMES

CONFLITO DE PLANOS

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PARTE 1

PARTE 2

PARTE 3

INTRODUÇÃO À CENA 00:13:07 - 00:13:37

TOMADA DE CONSCIÊNCIA 00:13:37 - 00:14:17

RUPTURA 00:14:17 - 00:14:25

SINTAXE

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PARTE 1

PARTE 2

PARTE 3

INTRODUÇÃO À CENA 00:13:07 - 00:13:37

TOMADA DE CONSCIÊNCIA 00:13:37 - 00:14:17

RUPTURA 00:14:17 - 00:14:25

MONTAGEM

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MOOCA ESTUDO DE CASO

TENDO EM MÃOS AS FERRAMENTAS BÁSICAS ESTIPULADAS PELA METODOLOGIA SURGE A QUESTÃO: QUAL SERIA A ESCALA E A LOCALIZAÇÃO MAIS QUALIFICADA PARA O EXERCÍCIO DESSE TRABALHO DE GRADUAÇÃO? AS CARACTERÍSTICAS IMPORTANTES PARA PENSAR UM ESTUDO DE CASO PARTEM DE UMA SITUAÇÃO CONCRETA QUE EXPRIMA UM PASSADO DE CONFLITOS E PROCESSOS DE TRANSIÇÃO OU CRUZAMENTO ENTRE DIFERENTES SITUAÇÕES URBANAS.

O BAIRRO SELECIONADO FOI A MOOCA, EM SÃO PAULO, QUE TEM SUAS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS INTRÍNSECAS À ETIMOLOGIA LINGUÍSTICA DO BAIRRO. A PALAVRA MOOCA TEM ORIGEM NA LÍNGUA TUPI E PODE SER TRADUZIDA COMO “FAZER CASA” (MOO – FAZER; OCA – CASA). DENOMINADA COMO SUBCENTRO POPULAR, A MOOCA AINDA HOJE APRESENTA A IMBRICAÇÃO CONTRÁRIA À LÓGICA DOMINANTE PAULISTANA.

OUTRO OLHAR SOBRE ESSA ETIMOLOGIA PODE SER APLICADO AO INVERTERMOS A ORDEM DO NOME DO BAIRRO, GERANDO A DESCRIÇÃO MAIS SIMPLIFICADA DO QUE SE CARACTERIZA UMA FÁBRICA: A CASA DO FAZER. ORA, O DESENVOLVIMENTO FABRIL NO BAIRRO COM A PRESENÇA DE IMIGRANTES É UMA DAS BASES IDENTITÁRIAS TANTO SOCIAL QUANTO DE SEU TRAÇADO 40

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URBANO DO BAIRRO. A PRESENÇA DE UMA IDENTIDADE FABRIL SE AGREGA A UM PASSADO DE LUTA OPERÁRIA, O QUE ME PERMITE CRIAR UM ELO, MESMO QUE FRÁGIL, ENTRE OS CONFLITOS E OS PROCESSOS SÓCIO-POLÍTICOS, QUE AUXILIARAM O DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO DE MONTAGEM DE EISENSTEIN E DE GRANDE PARTE DA TEMÁTICA IDEOLÓGICA REAPRESENTADA EM SEUS FILMES.

NO DIA 09 DE JULHO DE 1917, OPERÁRIOS QUE PROTESTAVAM NA PORTA DA FÁBRICA NO BRÁS SOFRERAM REPRESSÃO DA CAVALARIA QUE RESULTOU NA MORTE DO JOVEM ANARQUISTA ESPANHOL JOSÉ MARTINEZ. SEU FUNERAL ATRAIU UMA MULTIDÃO QUE ATRAVESSOU A CIDADE ACOMPANHANDO O CORPO ATÉ O CEMITÉRIO DO ARAÇÁ, ONDE FOI SEPULTADO. INDIGNADOS, OS OPERÁRIOS QUE JÁ ESTAVAM PREPARADOS PARA A GREVE NA INDÚSTRIA TÊXTIL COTONIFÍCIO CRESPI, COM SEDE NA MOOCA, ENTRARAM EM GREVE. LOGO FORAM SEGUIDOS POR OUTRAS FÁBRICAS E BAIRROS OPERÁRIOS, TRÊS DIAS DEPOIS JÁ CONTAVAM COM A ADESÃO DE MAIS DE 70 MIL TRABALHADORES. ESTA ACABOU SENDO CONHECIDA COMO A PRIMEIRA GREVE GERAL OCORRIDA NO PAÍS. APESAR DESSES FATOS HISTÓRICOS NÃO SEREM EXPLÍCITOS A QUEM ANDA 42

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PELO BAIRRO, A PERMANÊNCIA DA ESTRUTURA FABRIL E DAS ANTIGAS VILAS OPERÁRIAS NO TECIDO URBANO ATUAL PERMITE O RESGATE DESSAS RELAÇÕES, BEM COMO A COMPREENSÃO DE SUA REPRESENTATIVIDADE NO CONTEXTO DAS TRANSFORMAÇÕES URBANAS DA CIDADE DE SÃO PAULO. NAS ULTIMAS DÉCADAS, PORÉM, ESSE BAIRRO QUE É HISTORICAMENTE CONHECIDO PELAS VIVÊNCIAS E FORTES RELAÇÕES ENTRE VIZINHANÇA E TRABALHO TEM SOFRIDO MUDANÇAS: DESDE A SAÍDA DAS GRANDES INDÚSTRIAS, SEGUIDA POR UMA FORTE ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA NA QUESTÃO DA HABITAÇÃO, GEROU-SE UM DESEQUILÍBRIO ENTRE A RELAÇÃO TRABALHO-MORADIA, UMA MUDANÇA NA PAISAGEM E UM PROCESSO DE PERDA DA IDENTIDADE, COMO APONTADO POR IVAN FORTUNATO:

“COM A EVASÃO DAS GRANDES INDÚSTRIAS A PARTIR DA DÉCADA DE 1960, O BAIRRO DA MOOCA FOI UMA DAS REGIÕES DA CIDADE MAIS ATINGIDA. O PATRIMÔNIO URBANO DE ORIGEM INDUSTRIAL EXISTENTE NO BAIRRO – EM GRANDE PARTE AINDA PRESERVADO EM SUAS CARACTERÍSTICAS COMPOSI(FORTUNATO, IVAN. MOOCA, OU COMO A VERTICALIZAÇÃO DEVORA A PAISAGEM E A MEMÓRIA DE UM BAIRRO)

TIVAS ORIGINAIS – VEM SOFRENDO CONSTANTE AMEAÇA DE INVESTIDORES IMOBILIÁRIOS QUE ENCONTRAM NESSES AMPLOS ESPAÇOS A POSSIBILIDADE PARA EMPREENDIMENTOS LUCRATIVOS COMO HIPERMERCADOS E TORRES RESIDENCIAIS.” 43

Ferro anel

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A MOOCA HOJE SE TORNOU UMA REGIÃO ESTRATÉGICA NO PROCESSO DE RESTRUTURAÇÃO METROPOLITANA, ESPECIALMENTE NA DINAMIZAÇÃO DO ACESSO AO PORTO DE SANTOS, ATRAVÉS DA TRANSPOSIÇÃO DA CIDADE DE SÃO PAULO. NOS PROJETOS DE RECONFIGURAÇÃO DO TRANSPORTE FERROVIÁRIO DE CARGAS, CONDUZIDOS PELO GOVERNO FEDERAL, A CPTM E A MRS LOGÍSTICA, CONSTA A CONSTRUÇÃO DO FERROANEL, QUE PERMITIRÁ O CONTORNO DA CIDADE. NELE, O RAMAL DA MOOCA DEVE SER LIBERADO APENAS PARA O TRANSPORTE DE PASSAGEIROS, SENDO QUE OS TERRENOS LINDEIROS À LINHA

MOOCA ENG. MANOEL FELO

DO TREM PODERÃO SER DESTINADOS A OUTROS USOS.

SUZANO ESTUDANTES RIO GRANDE DA SERRA

RODOANEL RODOANEL (EM PROJETO) ATUAL LINHA DA MRS (TRANSPORTE DE CARGAS) COMPARTILHADA COM A CPTM (TRENS METROPOLITANOS) MALHA DA MRS

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especulação e verticalização

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MOOCA

“HÁ, AINDA, UM FATOR DE EXTREMA IMPORTÂNCIA COM RELAÇÃO À VERTICALIZAÇÃO, QUE NÃO DIZ RESPEITO ÀS QUESTÕES ECONÔMICAS OU AMBIENTAIS, MAS DE IDENTIDADE. SUBSTITUIR MORADIAS, LOJAS E/OU ESCRITÓRIOS TÉRREOS POR EDIFÍCIOS ALTERA SIGNIFICATIVAMENTE A PAISAGEM LOCAL. PEIRCE LEWIS (40) EXPLICA QUE TODA PAISAGEM CONSTRUÍDA TEM IMPORTÂNCIA E SIGNIFICADO CULTURAIS. O AUTOR FAZ UMA ANALOGIA COM OS LIVROS, E EXPLICA QUE AS PAISAGENS TAMBÉM PODEM SER LIDAS E DECODIFICADAS (CLARO QUE DE UMA MANEIRA MUITO MAIS SUTIL, AFIRMA). DESSA TESE, LEWIS (1979) DERIVA ALGUNS AXIOMAS PARA LEITURA DE PAISAGENS. AO POSTULAR QUE AS PAISAGENS FORNECEM ELEMENTOS INDISPENSÁVEIS PARA A COMPREENSÃO DA CULTURAL LOCAL, LEWIS (1979) DIZ QUE TODA ALTERAÇÃO SIGNIFICATIVA NA PAISAGEM IMPLICA EM RECÍPROCA ALTERAÇÃO SIGNIFICATIVA NA CULTURA. ADEMAIS, A CONVERGÊNCIA DE PAISAGENS, ISTO É, LOCAÇÕES DIFERENTES COM PAISAGENS EM APROXIMAÇÃO, INDICA CONVERGÊNCIA DE CULTURAS. O QUE A VERTICALIZAÇÃO, A PARTIR DO MENCIONADO BOOM IMOBILIÁRIO FAZ, NO SENTIDO DE IDENTIDADE E VALORES, É MASSIFICAR E GENERALIZAR.”

(FORTUNATO, IVAN. MOOCA, OU COMO A VERTICALIZAÇÃO DEVORA A PAISAGEM E A MEMÓRIA DE UM BAIRRO)

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Recorte da Mooca

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Transformações na mooca

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“O ZONEAMENTO DEFINE O QUE CADA UM PODE CONSTRUIR EM SEU TERRENO. SÓ QUE A CIDADE NÃO É UMA SOMA DE CONSTRUÇÕES EM TERRENOS PRIVADOS. FAZ FALTA DEFINIR COMO SERÃO CONSTRUÍDOS — E TRANSFORMADOS — NOSSOS ESPAÇOS PÚBLICOS, PENSAR COMO CONJUNTOS INTEIROS PODEM SOBREVIVER RENOVADOS E PRESERVADOS, ENTRE TANTAS OUTRAS QUESTÕES MAL RESOLVIDAS. ISSO É PARTICULARMENTE IMPORTANTE EM REGIÕES QUE ESTÃO SOFRENDO PROCESSOS DE TRANSFORMAÇÃO INTENSOS, COMO AS ANTIGAS ÁREAS INDUSTRIAIS DA MOOCA E DA VILA LEOPOLDINA, ONDE A SAÍDA DAS INDÚSTRIAS DEIXOU IMENSOS LOTES VAZIOS E SUBUTILIZADOS. MAS COMO ESSES TERRENOS ESTÃO SENDO OCUPADOS? NA AUSÊNCIA DE QUALQUER PROJETO DE CIDADE, O QUE VEM OCORRENDO É QUE NESSES GRANDES TERRENOS ESTÃO SENDO CONSTRUÍDOS IMENSOS CONDOMÍNIOS FECHADOS, DESPERDIÇANDO A OPORTUNIDADE DE REVER O DESENHO DAS RUAS, QUADRAS, CALÇADAS E PRAÇAS, ALÉM DE CRIAR MORADIAS PARA DISTINTOS GRUPOS SOCIAIS E ÁREAS COM MÚLTIPLOS USOS.”

RAQUEL ROLNIK. URBANISMO AOS PEDAÇOS 21/04/2014

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EdifĂcios existentes mapeamento de cheios e vazios

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Gabaritos

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Edifícios em lançamento ou pré-lançamento

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ABSOLUTO MOOCA ALLEGRO ALTO DA MOOCA AUTENTICO MOOCA BELATTO EMOTION MOOCA ESTAÇOES MOOCA FAMILIA MOOCA GO MOOCA L’ESSENCE MOOCA LUZES DA MOOCA PORTALE MATTINO SPAZIO LUME VILLA SOLARE VILLAGIO LUNA -

- MAGNÍFICO MOOCA - MULTY HOME MOOCA - OBELISCO DOMUS - PAYSAGE MOOCA - REGALO TAQUARI - RESIDENCIAL INSPIRATTO - ROSSI ESTILO MOOCA - SP MOOCA URBANLIFE - TORRES D’ITALIA - TOTALITÁ - UNITÀ MOOCA - VEREDA MOOCA - VERUM MOOCA - VILLA PRATES - VILLA SÃO PAULO FAMILY CLUB

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DIRETRIZES

O DESENVOLVIMENTO DE UMA RUPTURA SIMBÓLICA NA PAISAGEM DA MOOCA PODERIA SER UM IMPORTANTE PASSO PARA A TOMADA DE CONSCIÊNCIA E QUESTIONAMENTO DOS RUMOS DO DESENHO URBANO NO BAIRRO PELOS PRÓPRIOS MORADORES.

DESTA FORMA, O PROJETO SE DESENVOLVE A PARTIR DA ANÁLISE E PERCEPÇÃO DAS ÁREAS COM MAIOR POTENCIALIDADE PARA A TRADUÇÃO. O PROJETO VISA TAMBÉM SER TEMPORÁRIO, POIS TRATA-SE DE UM DISCURSO ENTRE PASSADO E PRESENTE QUE VISA DISCUTIR O FUTURO DO DESENHO URBANO DO BAIRRO, PORTANTO, TEM LIMITAÇÕES INTRÍNSECAS DE TEMPO E PERCEPÇÃO.

A SELEÇÃO DAS ÁREAS NO INTERIOR DA QUADRA TAMBÉM AUXILIA NA PERCEPÇÃO DO CONFLITO ATRAVÉS DA MUDANÇA DE PERSPECTIVA DA APREENSÃO VOLUMÉTRICA DO CONJUNTO. INVERTENDO-SE O LOCAL DE LEITURA DO TRANSEUNTE, QUE LÊ A CIDADE PELAS RUAS E CALÇADAS, PARA O ESPAÇO DE VISIBILIDADE QUASE QUE EXCLUSIVO DO MORADOR. TRAGO O TRANSEUNTE ONDE A INTERFACE DOS VOLUMES EM SI SE RELACIONAM SEM O VAZIO DA VIA, PERMITINDO UMA COMPREENSÃO MAIS EXPLÍCITA DAS DISPUTAS COLOCADAS POR SEUS RECUOS, SUAS ABERTURAS E SUAS DIS68

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TINTAS FORMAS DE SE RELACIONAR, CATALIZANDO ASSIM A ABSORÇÃO DAS DIFERENTES ESCALAS E DISCURSOS EXISTENTES NOS EDIFÍCIOS, VILAS E GALPÕES.

NÃO SE TRATA DE SIMPLESMENTE CRIAR UM PERCURSO DE UM LUGAR A OUTRO, MAS DE PRODUZIR UM MOVIMENTO QUE AFETE SIMULTANEAMENTE TODO O ESPAÇO. INÚMEROS CAMINHOS SÃO POSSÍVEIS, NÃO SE PODE ESTABELECER UM ITINERÁRIO PRIVILEGIADO, UM GUIA PARA VISITAÇÃO, TRADUZINDO LITERALMENTE A NARRATIVA DO TRECHO SELECIONADO. A DERIVA APENAS CRIA PROBABILIDADES DE PERCURSOS E ENCONTROS DINAMIZANDO A LEITURA A PARTIR DA ESCOLHA DO FRUIDOR.

A SINTAXE DE CADA ÁREA É DEMARCADA PELA PROXIMIDADE ENTRE OS GALPÕES, VILAS E SOBRADOS DE USO MISTO (MARCADO NO MAPA COMO IDENTIDADE – MOOCA) E OS NOVOS EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS.

Área de intervenção

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Ă rea do projeto desenvolvimento de percursos

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Sintaxe Eisensteniana aplicada ao projeto

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DESLOCAMENTOS

“O CONFLITO DENTRO DE UMA TESE (UMA IDÉIA ABSTRATA) SE FORMULA NA DIALÉTICA DA LEGENDA, SE FORMA ESPACIALMENTE NO CONFLITO DENTRO DO PLANO.”

(EISENSTEIN, SERGEI. A FORMA DO FILME. P. 41)

NA BUSCA DE TRADUZIR ESTE CONFLITO PARA ARQUITETURA RETOMO O DEBATE DA INTER-RELAÇÃO DE VOLUMES-ESPAÇOS FEITO POR EISENSTEIN, PORÉM EU O ASSOCIO COM UM PROCESSO DE DESLOCAMENTO. ESTE SE DÁ AO UTILIZAR OS VAGÕES DE TRENS ABANDONADOS DA ANTIGA RFFSA NOS TERRENOS LINDEIROS À ESTAÇÃO DE TREM DA MOOCA E DISPÔ-LOS NO INTERIOR DA QUADRA. AO RECUPERAR A HISTÓRIA ESTABELEÇO UMA RELAÇÃO OPERACIONAL ENTRE O PASSADO, PRESENTE E FUTURO, IMPLICANDO EM DOIS PROCEDIMENTOS SIMULTÂNEOS E NÃO-ANTAGÔNICOS: A APROPRIAÇÃO DA HISTÓRIA E A ADEQUAÇÃO À PRÓPRIA HISTORICIDADE DO PRESENTE. ESTA ESTRATÉGIA ME PERMITE SUBLINHAR QUE AS COISAS A PARTIR DA SUA INTERAÇÃO TAMBÉM PODEM VOLTAR COMO DIFERENTES. CABE APONTAR QUE A VANGUARDA ARTÍSTICA RUSSA TAMBÉM SE UTILIZOU DOS VAGÕES DE TREM PARA DIFUNDIR IDEOLOGIA E ARTE NOS PERÍODOS DE REVOLUÇÃO (1919-1920), CHAMADOS DE “TRENS DE CULTURA E DE INSTITUIÇÃO”, OS VAGÕES PINTADOS PELO LADO EXTERNO SE TRANSFORMAVAM EM EXPOSIÇÕES FERROVIÁRIAS NO CAMPO E NA CIDADE. 76

OBRA REALIZADA POR JOSÉ RESENDE, ARTE/CIDADE

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VAGÃO ISOTÉRMICO

IC-1400-1401-RFFSA-EFSJ

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INTRODUÇÃO À CENA CONECTAR O OBJETO DE PROJETO E O OBJETO DE TRABALHO, INTRODUZINDO AO FRUIDOR OS PERSONAGENS DO DEBATE: A VILA, O GALPÃO, O SOBRADO DE USO MISTO E O EDIFÍCIO. PARA ACESSAR ESSE TRECHO DO PROJETO DEVE-SE OBRIGATORIAMENTE PENETRAR NOS EDIFÍCIOS PRÉ-EXISTENTES, SEGUINDO SUAS LÓGICAS DETERMINADAS ANTERIORMENTE. AS ABERTURAS PROJETADAS NESSA ETAPA SÃO UM CONJUNTO DE RASGOS PONTUAIS, APRESENTANDO INDIVIDUALMENTE OS ELEMENTOS EXISTENTES NA MOOCA.

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TOMADA DE CONSCIÊNCIA CONECTAR DESLOCAMENTOS, HORIZONTAIS E VERTICAIS CRIANDO UMA DINAMIZAÇÃO ENTRE A IDENTIDADE HORIZONTALIZADA DA MOOCA E SEU PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO COM PRODUÇÃO DE SOBRESSOLOS E APARTAMENTOS. TEM-SE COMO OBJETIVO DESTAS AÇÕES UM MAIOR TENSIONAMENTO ENTRE ESCALA-CORPO.

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RUPTURA APROPRIAÇÃO DA ESTRUTURA EDIFÍCIO ABANDONADO, CRIANDO UM UNIVERSO DE SUSPENÇÃO EM RELAÇÃO ÀS DEMAIS INTERVENÇÕES. AS ABERTURAS E REVESTIMENTOS METÁLICOS SÃO SUBSTITUÍDOS POR CAMADAS DE UMA TELA METÁLICA PINTADA NA MESMA COR DO VAGÃO, CRIANDO UM UNIVERSO DE AMBIGUIDADE E TRANSPARÊNCIA. O OBJETIVO NESTA ULTIMA ETAPA É A RUPTURA SIMBÓLICA COM TODOS OS PERSONAGENS APRESENTADOS ATÉ ENTÃO.

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IMAGENS FINAIS PLANTAS, CORTES E FOTOMONTAGENS

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ANEXO O MANIFESTO DE OUTUBRO (1928)

NA ÉPOCA ATUAL, TODOS OS MODOS DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA DEVEM SER SEU LUGAR NO SEIO DA REVOLUÇÃO CULTURAL SOCIALISTA. AS ARTES DO ESPAÇO – ARQUITETURA, PINTURA, ESCULTURA, GRAFISMO, ARTES INDUSTRIAIS, FOTOGRAFIA, CINEMA ETC. – NÃO CONSEGUIRÃO SAIR DA CRISE QUE ATRAVESSAM SENÃO SE COLOCANDO A SERVIÇO DA CLASSE OPERÁRIA HEGEMÔNICA QUE GUIA O CAMPESINATO E OS POVOS ATRASADOS. [...]

ESSAS ARTES TÊM DUAS TAREFAS LIGADAS: A) A PROPAGANDA IDEOLÓGICA (POR INTERMÉDIO DA PINTURA, DO MURALISMO, DA FOTO, DO CINEMA); B) A PRODUÇÃO E A ORGANIZAÇÃO IMEDIATA DO BYT COLETIVO (ARQUITETURA, ARTES DECORATIVAS, INDUSTRIAIS).

O OBJETIVO PRINCIPAL DE COLOCAR-SE A SERVIÇO DA REVOLUÇÃO PROLETÁRIA É A ELEVAÇÃO DO NÍVEL IDEOLÓGICO E CULTURAL DAS CAMADAS RETARDATÁRIAS DA CLASSE OPERÁRIA, QUE PERMANECEM SOB A INFLUÊNCIA DE CLASSES HOSTIS, AO NÍVEL DO PROLETÁRIO INDUSTRIAL AVANÇADO, QUE EDIFICA, CONSCIENTEMENTE, O SOCIALISMO (RECORRENDO À PLANIFICAÇÃO, À DISCIPLINA, À TÉCNICA INDUSTRIAL).

ESSES PRINCÍPIOS ESTÃO NA BASE DO DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMI140

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CO DE NOSSO PAÍS. SOMENTE A ARTE FICOU PARA TRÁS, DEVIDO À SOBREVIVÊNCIA EM SEU SEIO DE TRADIÇÕES ESTREITAMENTE ARTESANAIS E CORPORATIVAS.

HOJE A TAREFA É LIQUIDAR ESSA DESPROPORÇÃO ENTRE O DESENVOLVIMENTO DA ARTE E O DA ECONOMIA E DO SOCIAL.

OS ARTISTAS CONSCIENTES DISSO TÊM POR OBJETIVO:

O ARTISTA DA ÉPOCA DA DITADURA DO PROLETARIADO NÃO SE

CONCEBE COMO UM ARTISTA INDIVIDUAL QUE REFLETE PASSIVAMENTE A REALIDADE, E SIM COMO UM COMBATENTE ATIVO NA FRENTE IDEOLÓGICA DA REVOLUÇÃO PROLETÁRIA; QUE ORGANIZA EM SEU TRABALHO O PSIQUISMO DAS MASSAS E PARTICIPA DA FORMALIZAÇÃO DO NOVO BYT.

ESSA VISADA FORÇA-O A TRABALHAR SOBRE SI MESMO E A ESTAR À ALTURA DO NÍVEL IDEOLÓGICO DA VANGUARDA PROLETÁRIA REVOLUCIONÁRIA.

ELE DEVE OPERAR UMA REAVALIAÇÃO CRÍTICA DE TODAS AS

AQUISIÇÕES FORMAIS E TÉCNICAS DA ARTE DO PASSADO.

AS REALIZAÇÕES DAS ÚLTIMAS DÉCADAS SÃO DE GRANDE IMPORTÂNCIA PARA A ARTE PROLETÁRIA, POIS O PROCEDIMENTO PLANEJADO E CONSTRUTIVO DA ARTE QUE A ARTE PEQUENO-BURGUESA HAVIA REJEITADO FOI REENCONTRADO E AMPLIADO. 141

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O PROCESSO QUE ENTÃO TEVE INÍCIO É O DA PENETRAÇÃO DOS MÉTODOS DIALÉTICOS E MATERIALISTAS NA CRIAÇÃO, QUE ANTES NÃO ERAM PERCEBIDOS CONSCIENTEMENTE, E O DA PENETRAÇÃO DE MÉTODOS MAQUINISTAS E FUNDADOS NA TÉCNICA DOS LABORATÓRIOS CIENTÍFICOS: ELE JÁ CONTRIBUIU E MUITO PODE CONTRIBUIR PARA O DESENVOLVIMENTO FUTURO DA ARTE PROLETÁRIA.

MAS A TAREFA PRIORITÁRIA DO ARTISTA PROLETÁRIO NÃO É UMA AGREGAÇÃO ECLÉTICA AOS ANTIGOS PROCEDIMENTOS, E SIM A CRIAÇÃO COM BASE EM TÉCNICAS DE UM NOVO TIPO E DE UM NOVO ESTILO NAS ARTES DO ESPAÇO.

A ORIENTAÇÃO DOS OBJETIVOS DA ARTE QUE EXPRIME OS IN-

TERESSES CULTURAIS DO PROLETÁRIO REVOLUCIONÁRIO DEVE INCLUIR A PROPAGANDA PELOS MEIOS DAS ARTES DO ESPAÇO QUE SEJAM MAIS EXPRESSIVOS PARA A CONCEPÇÃO DO MUNDO DO MATERIALISMO DIALÉTICO, E A FORMALIZAÇÃO MATERIAL DAS FORMAS COLETIVAS DE MASSA DA NOVA VIDA.

AO MESMO TEMPO, REJEITAMOS O REALISMO PEQUENO-BURGUÊS DOS EPÍGONOS, O REALISMO DO BYT ESTAGNANTE, INDIVIDUAL, PASSIVO E CONTEMPLATIVO, ESTÁTICO, O REALISMO NATURALISTA QUE, INFRUTIFERAMENTE, COPIA A REALIDADE, EMBELEZA E CANONIZA O ANTIGO BYT, QUE ATRAVANCA A ENERGIA E ENFRAQUECE A VONTADE DO PROLETARIADO QUE 142

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NÃO ESTEJA MADURO CULTURALMENTE.

ACEITAMOS E VAMOS CONSTRUIR O REALISMO PROLETÁRIO QUE EXPRIMA A VONTADE DA CLASSE REVOLUCIONÁRIA ATIVA, UM REALISMO DINÂMICO QUE MOSTRE A VIDA EM MOVIMENTO, QUE ABRA DE MANEIRA PLANEJADA AS PERSPECTIVAS DA VIDA, UM REALISMO QUE PRODUZ OBJETOS, QUE RECONSTRÓI, RACIONALMENTE, O ANTIGO BYT, QUE AGE, POR TODOS OS MEIOS DA ARTE, NO CERNE DA LUTA E DA CONSTRUÇÃO.

MAS, AO MESMO TEMPO, REJEITAMOS O INDUSTRIALISMO ESTÉTICO ABSTRATO E O TECNICISMO CRU, QUE APRESENTAM COMO ARTE REVOLUCIONÁRIA.

SALIENTAMOS QUE, PARA A AÇÃO CRIADORA DA ARTE SOBRE A VIDA, É PRECISO EMPREGAR TODOS OS MEIOS DE EXPRESSÃO PRÓPRIOS ÀQUELA FORMALIZAÇÃO [OFORMIÉTIÉ] QUE ORGANIZA DA MANEIRA MAIS EFETIVA A CONSCIÊNCIA E A ESFERA EMOCIONAL E VOLITIVA DO PROLETARIADO E DAS MASSAS LABORIOSAS QUE O SEGUEM. É NESSE OBJETIVO QUE A COOPERAÇÃO ORGÂNICA DE TODOS OS TIPOS DE ARTE DO ESPAÇO DEVE TOMAR CORPO.

A ARTE PROLETÁRIA DEVE ABOLIR AS RELAÇÕES INDIVIDUAIS E

MERCANTIS QUE DOMINAM A ARTE ATÉ HOJE, RENUNCIANDO À CONCEPÇÃO BUROCRÁTICA DA “ENCOMENDA SOCIAL” QUE SE INSTAUROU NOS ÚLTIMOS TEMPOS. PROCURAMOS A ENCOMENDA SOCIAL DOS COLETIVOS DE CONSUMIDORES QUE ENCOMENDAM AS OBRAS DE ARTE PARA OBJETIVOS CONCRETOS 143

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E PARTICIPAM, COLETIVAMENTE, DA CONCEPÇÃO DOS OBJETOS. TAL ABORDAGEM AUMENTA O PESO DAS ARTES INDUSTRIAIS, QUE NO SEIO DA PRODUÇÃO E DO CONSUMO COLETIVOS, PRODUZEM UM EFEITO DURÁVEL.

PARA ATINGIR O MÁXIMO DE RESULTADOS, TENTAMOS CONCEN-

TRAR NOSSOS ESFORÇOS NOS SEGUINTES PONTOS FORTES:

NO CAMPO DA CONSTRUÇÃO PLANEJADA, NO PROBLEMA DE NOVO

ALOJAMENTO, DO EDIFÍCIO SOCIAL, ETC.; B)

NA FORMALIZAÇÃO ARTÍSTICA DE OBJETOS DE CONSUMO DE MASSA

PRODUZIDOS INDUSTRIALMENTE; C)

NA FORMALIZAÇÃO ARTÍSTICA DOS CENTROS DO NOVO BYT COLE-

TIVO: CLUBES OPERÁRIOS, IZBAS-BIBLIOTECAS, CANTINAS, CASAS DE CHÁ, ETC.; D)

NA ORGANIZAÇÃO DAS FESTAS DE MASSA;

NA EDUCAÇÃO ARTÍSTICA.

ESTAMOS PERSUADIDOS DE QUE O CAMINHO QUE ABRIMOS PODE ESTIMULAR O CRESCIMENTO IMPETUOSO DAS FORÇAS CRIADORAS NAS GRANDES MASSAS.

SUSTENTAMOS ESSE CRESCIMENTO DAS TENDÊNCIAS CRIATIVAS DAS MASSAS, JÁ QUE SABEMOS QUE O PROCESSO ESSENCIAL DA ARTE DO ESPAÇO, NA URSS, CONDUZ A FUSÃO DA ARTE DOS AMADORES DOS CÍRCULOS ARTÍSTICOS PROLETÁRIOS, DOS CLUBES OPERÁRIOS E DA ARTE AMADORA RURAL COM PARTE PROFISSIONAL ALTAMENTE QUALIFICADA, QUE ARTISTICAMENTE 144

TGI II ESTÁ À ALTURA DA ÉPOCA INDUSTRIAL.

SEGUINDO ESSA DIREÇÃO, A ARTE PROLETÁRIA ULTRAPASSA O SLOGAN DO PERÍODO INTERMEDIÁRIO – “A ARTE NAS MASSAS” – E ABRE CAMINHO PARA A “ARTE DAS MASSAS”.

ACEITANDO COMO PRINCIPIO ESSENCIAL DA NOVA CONSTRUÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL A DISCIPLINA, O PLANEJAMENTO E O COLETIVISMO, O GRUPO OUTUBRO INSTALA UMA NOVA DISCIPLINA DE TRABALHO QUE LIGA OS MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO À BASE DOS PRINCÍPIOS ACIMA, QUE DEVEM SER APROFUNDADOS ULTERIORMENTE NO TRABALHO CRIATIVO, IDEOLÓGICO E SOCIAL DO GRUPO.

AO ASSINAR ESSE MANIFESTO, NÓS NOS AFASTAMOS DE TODOS OS GRUPOS ARTÍSTICOS EXISTENTES, E QUE SÃO ATIVOS NO CAMPO DAS ARTES DO ESPAÇO. ESTAMOS PRONTOS PARA COLABORAR COM ELES SOBRE A BASE DA ACEITAÇÃO PRÁTICA DE NOSSOS PRINCÍPIOS.

SAUDAMOS A IDEIA DE UMA FEDERAÇÃO DOS GRUPOS ARTÍSTICOS E APOIAREMOS TODOS OS PASSOS SÉRIOS NESSE SENTIDO. COMEÇAMOS A TRABALHAR EM UMA ÉPOCA TRANSITÓRIA PARA O DESENVOLVIMENTO DAS ARTES PLÁSTICAS DA URSS. O PROCESSO NATURAL DA TOMADA DE CONSCIÊNCIA CULTURAL E IDEOLÓGICA DAS FORÇAS ESSENCIAIS DO MUNDO SOVIÉTICO ATUAL É POR FENÔMENOS MALSÃOS. DEVEMOS DECLARAR QUE REJEITAMOS O SISTEMA DO MECENATO PESSOAL OU DE GRU145

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PO E A PROTEÇÃO DE CERTAS CORRENTES ARTÍSTICAS E DE ARTISTAS, QUE SE TORNARAM PRAXE E QUE ENTRAVAM O CRESCIMENTO ORGÂNICO DA ARTE SOVIÉTICA, QUE CORROMPEM OS ARTISTAS.

SOMOS A FAVOR DA COMPETIÇÃO NORMAL E ILIMITADA ENTRE CORRENTES E ESCOLAS, BASEADA EM SEU CONTROLE DO CRESCIMENTO DAS QUALIDADES ARTÍSTICAS E PESQUISAS ESTILÍSTICAS.

MAS REJEITAMOS A CONCORRÊNCIA MALSÃ ENTRE GRUPOS, BASEADA NAS PESQUISAS DE DEMANDA E DA PROTEÇÃO DE PERSONALIDADES INFLUENTES E DE ORGANIZAÇÕES.

REJEITAMOS TODA PRETENSÃO AO MONOPÓLIO IDEOLÓGICO E À REPRESENTAÇÃO MONOPOLISTA DOS INTERESSES ARTÍSTICOS DAS MASSAS OPERARIAS E CAMPONESAS DE QUALQUER GRUPO ARTÍSTICO.

REJEITAMOS O SISTEMA DOS PRIVILÉGIOS MORAIS E MATERIAIS DE UM GRUPO ARTÍSTICO ARTIFICIALMENTE CRIADO, EM DETRIMENTO DE OUTROS GRUPOS, COMO ALGO QUE CONTRADIZ FUNDAMENTALMENTE OS PRINCÍPIOS DO ESTADO E DO PARTIDO.

REJEITAMOS A ESPECULAÇÃO SOBRE A ENCOMENDA SOCIAL QUE SE FAZ SOB A MÁSCARA DO TEMA REVOLUCIONÁRIO DO REALISMO E DO BYT E QUE SUBSTITUI O TRABALHO SERIO DA FORMALIZAÇÃO DA CONCEPÇÃO DO MUNDO REVOLUCIONÁRIA PELO TRATAMENTO PRIMITIVO DE UM TEMA REVOLU146

TGI II CIONÁRIO INVENTADO ÀS PRESSAS.

SOMOS CONTRA A DITADURA DOS ELEMENTOS PEQUENOS BURGUESES NAS ARTES DO ESPAÇO E SOMOS PELA MATURIDADE CULTURAL, O CONTROLE ARTÍSTICO E A CONSCIÊNCIA IDEOLÓGICA DE NOVOS ARTISTAS PROLETÁRIOS QUE CRESCEM E SE DESENVOLVEM RAPIDAMENTE.

CAMADAS DO PROLETARIADO ARTISTICAMENTE VANGUARDISTAS, ATIVAS E INTERESSADAS NA ARTE CRESCEM SOB NOSSOS OLHOS. A ARTE AMADORA DE MASSA ATRAI MULTIDÕES PARA O TRABALHO ARTÍSTICO. ESSE TRABALHO ESTÁ LIGADO À LUTA DE CLASSE, AO DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL E À TRANSFORMAÇÃO DO BYT. ESSE TRABALHO EXIGE FRANQUEZA, QUALIFICAÇÃO, MATURIDADE CULTURAL CONSCIÊNCIA REVOLUCIONÁRIA.

É A ESSE TRABALHO QUE CONSAGRAMOS TODAS AS NOSSAS FORÇAS. OS MEMBROS FUNDADORES DO GRUPO SÃO ARTISTAS PRODUTIVISTAS, OS CRÍTICOS DE ARTE E OS SEGUINTES CIENTISTAS:

A.ALÉXÉIEV, A.A. E V.A. VESNIN, E.G.WEISS, ALÉXEI GAN, M.I.GUINZBOURG, A.I.GUTNOV, A.I.DAMSKII, A.DEÏNEKA, DEBROKOVSKI, V.IETIN, P.I.IRBIT, KLUTSIS, KREITCHIK, A.KURELLA, LAPIN, I.LMATSA, A.I.MIKHAÏLOV, D.MOOR, P.I.NOVINTSKI, A.I.OSTRIETSOV, DIEGO RIVERA, N.SEDIELNIKOV, SIENKIN, SPIROV, N.G.TALAKTSEV, S.B.TELINGATER, V.TOOT, BELA UITZ, FREIBERG, E.CHUB, N.S.SCHNEIDER, S.M.EISENSTEIN. *

*IN SOVIETSKOIE ISKUSSTVO ZA 15 LET. MATÉRIAUX ET DOCUMENTS (ED. I.MATSA). MOSCOU/LENINGRADO: OGIZ-JZOGIZ, 1933, PP.608-11 (ALBERA, FRANÇOIS. EISENSTEIN E O CONSTRUTIVISMO RUSSO. P. 190)

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