Fanzine guilherme

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GUILHERME


Desde o início do ano os moradores de São Paulo têm ido dormir sem saber se haverá água pela manhã em suas casas. Por meio de diferentes fontes, reunimos informações para levantar as causas, consequências e soluções para a crise hídrica que atinge o Estado. Desde maio deste ano a Sabesp se utiliza da água proveniente do chamado volume morto do Sistema Cantareira, principal manancial abastecedor da Grande São Paulo, para nutrir a capital. Para o professor Antonio Carlos Zuffo, da área de Hidrologia e Gestão de Recursos Ambientais da Unicamp, o prognóstico é de dias difíceis. Segundo ele, além de enfrentar a escassez, os paulistas terão de lidar com a impureza da pouca água do reservatório. “Os peixes já vêm sofrendo com a falta de oxigênio dos rios e represas, e isso tende a piorar. Com um volume menor de água para a diluição de impurezas, a saída será o tratamento com maiores quantidades de cloro, o que compromete a qualidade da água que abastece residências, a produção agropecuária e industrial do Estado”, explica. Zuffo acredita que a estiagem dure entre três e quatro décadas, e que a única saída para minimizar os prejuízos a curto-prazo é conscientizar a população. “A água economizada hoje será responsável pelo abastecimento de amanhã”, diz. E garante: não há medida que consiga reverter esta situação em menos de cinco anos.


A contramão do que pensa a maioria dos moradores do Estado, Marcelo Delduque, morador de Bragança Paulista, não enxerga com tanta estranheza a seca que toma conta da represa que passa por sua propriedade, a Fazenda da Serrinha, já que a barragem foi construída artificialmente na década de 1970 para compor o Sistema Cantareira. “Quando nasci, a represa não existia. Acompanhei durante a infância o povoado sendo alagado por ela. Por isso, para mim não é estranho ver tudo seco novamente”, conta. É na centenária fazenda da família que há 13 anos acontece o Festival de Arte da Serrinha, produzido por Marcelo e seu irmão, Fábio Delduque, curador-responsável do evento. O festival propõe uma reocupação poética da paisagem rural por meio da arte contemporânea. É lá que artistas, estilistas, apaixonados e curiosos pela arte se embrenham, a cada ano, em produções artísticas livres e muito criativas. Hoje a paisagem no entorno da fazenda é completamente diferente de quando a represa comportava seu nível normal de água. Assim, o que Marcelo pode acompanhar é o movimento contrário do qual vivenciou quando criança: o resgate das condições naturais do local, a retomada das raízes da Serrinha. Curiosamente, o tema do Festival de 2014 foi justamente “Raízes”, e a paisagem do chão de barro rachado, que antes dava lugar à represa, tornou-se protagonista do evento.


Devido a sucessivas baixas históricas no início de 2014, a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Departamento de Água e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE) determinaram uma redução da vazão máxima de captação de água do sistema, de 31 para 27,9 m3/s, a partir de 10 de março de 2014. Para atender esta determinação, a Sabesp utilizou água dos sistemas Guarapiranga e Alto Tietê para abastecer clientes antes atendidos pelo sistema Cantareira. Em 1 de fevereiro de 2014, a Sabesp anunciou um programa de descontos, válido de fevereiro a setembro, para incentivar a redução do consumo de água de clientes atendidos pelo sistema Cantareira. Clientes que reduzirem em ao menos 20% o consumo em relação à média dos 12 meses de 2013 terão desconto de 30% na conta. Em 17 de março de 2014, a Sabesp iniciou obras nas represas de Nazaré Paulista e Joanópolis, orçadas em 80 milhões de reais, para captar o chamado "volume morto", uma reserva de 300 bilhões de litros de água que fica abaixo do nível das atuais comportas e que é capaz de abastecer a região metropolitana de São Paulo por 4 meses. Em 18 de março de 2014, o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pediu autorização para retirar água do Rio Paraíba do Sul e colocá-la no sistema Cantareira. Essa autorização deve ser analisada pela Agência Nacional de Águas já que o Paraíba do Sul é um rio interestadual e é utilizado para abastecer o estado do Rio de Janeiro. Em 31 de março de 2014, o governo de São Paulo e a Sabesp anunciaram a ampliação, a partir de 1 de abril, do programa de descontos nas tarifas de água e esgoto para todos os 31 municípios da região metropolitana de São Paulo atendidos pela empresa . Em 21 de abril de 2014, durante evento na cidade de Franca, o governador Geraldo Alckmin anunciou que a Sabesp a partir de maio utilizará também 500 litros de água por segundo do Sistema Rio Grande para abastecer clientes antes atendidos pelo sistema Cantareira. Também a partir de maio, clientes da Grande São Paulo que tiverem consumo acima da média dos 12 meses de 2013 terão que pagar multa de 30% na conta. A partir de 1 de maio, a Sabesp ampliou para mais 11 cidades o programa de desconto de 30% para quem consumir pelo menos 20% a menos do que a média de consumo de 2013, mas para estas cidades não está prevista multa caso haja aumento no consumo. As cidades são: Paulínia, Morungaba, Monte Mor, Hortolândia, Itatiba, Pinhalzinho, Bragança Paulista, Piracaia, Nazaré Paulista, Joanópolis e Vargem. Em 15 de maio de 2014, devido ao prolongado período de secas na região que abastece o Sistema Cantareira, seus reservatórios atingiram 8,2% de sua capacidade utilizável, o pior nível desde 1974, ano em que foi criado. Em 24 de outubro de 2014, o nível dos reservatórios do sistema Cantareira, incluindo a primeira cota da reserva técnica, atingiu 2,9% de sua capacidade. Neste dia a Sabesp incorporou a segunda cota da reserva técnica à medição do nível dos reservatórios do sistema Cantareira. Esta segunda cota possui um volume total de 105 bilhões de litros e adicionou 10,7 pontos percentuais ao nível medido.


Entre as décadas de 1980 e 1990, a ausência de políticas claras de uso e ocupação do solo por parte da Prefeitura do Município de São Paulo e dos municípios vizinhos contribuiu para a criação de loteamentos populares clandestinos ao redor da represa, que cresceram desordenadamente e jogam esgoto não tratado na mesma. O lançamento de esgoto levou ao aparecimento de algas e o comprometimento da qualidade do manancial e da água para abastecimento humano, obrigando a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) a investir pesadamente em programas de tratamento para minimizar o problema que já estava grave. Mas, em junho de 2008, foi anunciado o início das obras de urbanização e infraestrutura de centenas de favelas da região, melhorando a qualidade de vida dos habitantes e a preservação das áreas de mananciais. Atualmente, é utilizada para abastecimento de água potável para a Região Metropolitana de São Paulo através da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo. Também é utilizada, além do controle de cheias, como local de esportes e lazer, em que se destaca a importância nos esportes de vela, tendo vários clubes de iatismo no seu entorno, como o Yacht Club Santo Amaro, berço de vários campeões. A represa é abastecida pelo Rio Guarapiranga e outros rios e córregos de menor porte, abrangendo áreas dos municípios de São Paulo, Itapecerica da Serra e Embu-Guaçu. Nas suas margens, existem praias artificiais e marinas de barcos. Turismo Apesar de ser uma região afastada das áreas centrais de São Paulo (subúrbio), a represa é um de seus principais ícones naturais, muito procurada para lazer, devido a suas praias, parques, pela pesca amadora e esportes, tendo destaque para os esportes de vela, concentrando vários clubes de iatismo em sua margens. Foi o local de disputa do torneio de vela dos Jogos Pan-Americanos de 1963. Em 2011 foi palco do primeiro Mundialito de Clubes de Futebol de Areia. A represa ainda possui algumas ilhas, tendo destaque para a Ilha do Eucalipto, a maior delas, e para a Ilha dos Amores, que em dezembro de 2008 abrigou uma árvore de natal de 30 metros de altura com as cores do Brasil, a qual faz parte do projeto Natal Iluminado, realizado pela Prefeitura de São Paulo em parceria com a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio). Para se chegar nos polos comerciais ao redor da represa é possível chegar pela Marginal Pinheiros, até a Avenida Atlântica (antiga Avenida Robert Kennedy)


A represa Billings é um dos maiores e mais importantes reservatórios de água da Região Metropolitana de São Paulo. A oeste, faz limite com a bacia hidrográfica da Guarapiranga e, ao sul, com a serra do Mar. Seus principais rios e córregos formadores são o rio Grande ou Jurubatuba.

A represa foi idealizada nas décadas de 1930 e 1940 pelo engenheiro Billings, um dos empregados da extinta concessionária de energia elétrica Light, daí o nome. Inicialmente, a represa tinha o objetivo de armazenar água para gerar energia elétrica para a usina hidrelétrica Henry Borden, em Cubatão. Em função do elevado crescimento populacional e industrial da Grande São Paulo ter ocorrido sem planejamento, principalmente ao longo das décadas de 1950 a 1970, a represa Billings possui pequenos trechos poluídos com esgotos domésticos, industriais e metais pesados. Apenas os braços Taquecetuba e Riacho Grande são utilizados para abastecimento de água potável pela sabesp, às águas de São Paulo, São Bernardo, Diadema e Santo André. A pesca amadora é muito praticada, devido às espécies de peixes encontradas, como tilápias, lambaris, carpas húngaras e traíras, entre outras.


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