Número 62 - 15 de julho de 2020
ESCOLHA SUA MANCHETE O Jotatê, Quem diria, Atravessou o Tietê
O Jotatê, Mano, É quase insano
O Jotatê, Gente, sempre irreverente
O JT Sempre, Enfim Como um fim.
Numa tarde, dos anos 1970, o Jornal da Tarde circulou com quatro manchetes, convidando o leitor a escolher sua manchete. Era mais uma das criações do gênio Murilo Felisberto, nossa saudosa Rainha. Nessa época, estava em moda na redação os haikais. Convidamos Você para fazer um passeio por esse tempo, por essa inequecível redação.
Manchete, fotos palavras. O JT tá na rua. Mário Marinho A redação do JT sempre fervilhou de ideias. Cada edição nas bancas era uma surpresa para os leitores. As manchetes eram sempre criativas. Como a capa desse JT Sempre convidando o leitor a escolher a sua manchete. Na redação, o mural, onde todos se comunicavam, recebeu um comentário mordaz: “O leitor já paga caro pelo jornal. E ainda vai ter que escolher a manchete!?” Uma outra manchete polêmica foi criada para uma reportagem sobre poluição do ar: “1, 2, 3. Respira e morra”. Teve outra que, parece foi criada pelo Flávio Márcio: “De repente, filas para comprar pão de queijo”. Essas mentes brilhantes e feéricas se divertiam na transformação do dia-adia em obras de arte. De repente, a redação passava a jogar xadrez. Passava a moda, vinha a onda de dar nomes de livros a companeiros da redação. Ruyzito, por exemplo, foi apelidado de “O Pequeno Príncipe”. Um certo rapaz de espírito alegre, foi apelidado de “Madame Bovary”. Foi a época do Clube do Livro.
E veio então a temporada dos Hai-Kais. Como se sabe, o hai-Kai ou haicai é uma forma de se expressar da literatura japonesa. É preciso criar alguma coisa em três minúsculos versos. Pode fazer sentido ou não. E os pequenos poemas passaram a inundar a redação. A maioria era transmitida oralmente. Alguns poucos mereceram o papel. Dentre esses, o Gabriel Manzano descobriu uma lauda perdida em suas esquecidas anotações com algumas dessas pérolas. Me consultou: - Você acha que o JT Sempre se interessa? Claro, claro que sim. Na página seguinte, o Gabi fala sobre esse assunto. Nas outras páginas transcrevo algumas jóias. Sempre que possível, dou uma explicação e contextualizo a obra. Como, por exemplo, na antológica criação do Fernando Portela para o Gilberto Mansur sobre o Cincunegui. Não sabe quem foi Cincunegui? Já vai descobrir.
O jt Sempre é uma publicação com um único objetivo: manter viva a memória do Jornal da Tarde. É, acredito, a melhor forma de nos manter em contato, trocar informações, promover encontros para o papo agradável de sempre. Você pode participar. Mande sugestão, artigo, matéria, foto, histórias para mariomarinho@uol.com.br No campo “Assunto”, coloque: “JT Sempre”. Responsável: Mário Marinho.
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Do JT, Gabriel Abre a gaveta. Acha o papel. Gabriel Manzano Filho
Quem viu, e ouviu, não esquecerá jamais. Cada vez que Murilo Felisberto cruzava o santo portal da Redação (R maiúsculo, ok revisor?) não demorava mais que um minuto para que ele ouvisse -- ou dissesse... -- a primeira sacada do dia. Podia ser uma ironia (daí pra mais) como a manchete da Folha ou a cor da camisa de um foca recém-chegado. Podia tudo. Mas tinha que ter verve, síntese, aparência de humor, gotículas de maldade, alguma vaga lembrança da vida real. O que corria, pelos banheiros e botecos, era que quem não passasse nesse teste não tinha lá muita chance de ter aumento. Se alguém -- a vítima, por exemplo -- reclamasse, o autor ajeitava a auréola e dizia, com ar de ofendido, que era brincadeira e o cara não entendeu. Enfim, bons tempos em que o nosso way of living era, de fato, um way of laughing -- mas as vezes virava um way of fighting que desencadeava uma furiosa disputa de criatividade. Ninguém era vaidoso, muito menos maldoso, é claro, mas sempre sobrava um gosto amargo na alma quando a sacada do outro fazia mais sucesso. Those were the days, my friends, quando eventuais chateações se dissipavam depois da 18ª cerveja, no Nicola ou no Picardia. O perdedor de hoje faria a grande piada de amanhã e tamos entendidos. Por sorte, um pedaço desses tempos
ficou gravado num papel e, dias atrás, ele veio vooando às minhas mãos, numa gaveta de velharias. Retratava uma curta e intensa temporada de hai-kais que espelhavam fielmente o clima do Jotatê em algum momento no meio dos anos 70. Aqui estão eles, os hai-kais, para gáudio, memória, diversão, talvez surpresa e certamente saudade de todos os que... Bem, chega. Vamos ao lead.
O jornal que à tarde sai. Traz Um belo bonsai.
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Caríssimo Sandro, Que jornal Mais malandro!!!
Para o Sandro Vaia
Por exemplo, o Bê: Fazer jornal... Pra quê?
O Bê é o Fernando de Morais
Supõe o Maurício: “Fechar... Que suplício!”
Maurício Kubrusly
Castor - Eduardo Borgonovi. Antenor - Folclórico
E grita o Castor contínuo. Naquela época, gritava-se Desce! para “Desce!!! mandar a matéria para a oficina Antenor!!!!!” Responde Antenor: Faustino era outro contínuo, a quem Antenor delegava a tarefa... “Faustino!! O Castor!!!” Retoca o Rabino O seu lead: “Divino!!”
Moisés Rabinovici
O Gregor era um repórter que pouco falava e ficava sempre num cantinho
E o Gregor Samsa Lê uma linha... ...e descansa. . Gabi e o Mitre Dão muito Palpite
Gabi e Fernando Mitre
E ao pobre Resumo O Servaz Dará rumo?
Resumo, noticiário da página 2
O Telmo Martino Telmo, mordaz e sagaz colunista. Critica Sabino - Fernando Sabino. o escritor O Sabino E o Paulo Cotrim Elogia O Piolim
Cotrin era respeitado colunista culinário e o Piolim badalado restaurante da época.
Inova o Marcão: “Paz e amor... Para Marcos Faermann ...irmão!”
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Refaz o Pinheiro Seu cálculo Inteiro E culpa o Castanho De errar O tamanho. Procura a Valéria (prá amar...) Gente séria Lamenta a Teresa: ‘O que falta É pureza.” O Anélio gargalha: Ferrou O Bataglia Exulta o Satã: “Quanta gente Malsã!” Tire o Mayrink Da lista. Não brinque. Sossega o Fernando Na CUD, Criando.
Pinheiro e o Castanho, logo abaixo, eram dois diagramadores. E a brincadeira aqui era em cima de possíveis erros de cálculos da diagramação quanto ao tamanho de matéria ou título
Valeria Vally
Tereza Otondo Anélio Barreto certamente aprontando alguma para o Vital Battaglia
Satã: Fernando Portela
José Maria Mairynque
O Fernando aqui é o Mitre
Fernando Gomes de Morais Um gerúndio, Do Jovem Gui para o Fernando Bê dois plurais
Chega o Marinho Mineiro Devagarzinho
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E abre-se a Leila: “Bill, quem é A Sheila?” Desfia o Barbosa Incontrolável Prosa. E o Niles Simone Só no Telefone. Alô? (é o Surman No aparelho -- ou o Ivan?
Leila era repórter da Variedades; Bill era editor de política (Guilherme Duncann de Miranda) e a Sheila Lobato era repórer da Geral Barbosa era um contínuo que gostava de uma prosa. Nem sempre era possível entendê-lo.
Niles Simone era da Produção. Estava sempre telefonando para alguém. Surman é Mansur ao contrário. Gilberto Mansur e Castor Borgonovi tinham essa mania
Recorda o Serron: Sergio Rondino falando sobe Cilinho, o técnico da Ponte Preta “O Cilinho Era bom...” . Moacir Japiassu tinha a mania de Suplica o Japi: chamar os companheiros de decente. ‘Decente, No caso, ele falava com o Kleber de Almeida, seu chefe. Posso ir?” Sussu, Sussu, Sussu era o Ubirassu Carneiro. esquece essa quimera. A homenagem foi do Marco Antônio Menezes, a Meg. Homem? Já era. O Mansur, não há quem negue, deu o cu pro Cincunegui Gilberto Mansur sempre foi atleticano apaixonado. Na época, o Atlético havia contratado o lateral esquerdo Cincunegiu, um uruguaio cuja valentia em campo fazia o Forlan, do São Paulo, parecer uma menina de tanta delicadeza. Para os atleticanos, não havia violência, mas, raça. E o Mansur vivia repetindo esse mantra pela redação. A maldade do haikai foi feliz e genial criação do Fernando Portela.
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“Bom dia”, A Iole diz. E logo Se contradiz.
Fernado Portela em homenagem à Yole de Capri
O pinto da Rainha é branco Como farinha.
Do Castor em homenagem à brancura da Rainha
Marco Antonio de Menezes. Ele trabalha. Às vezes.
Da Meg sobre ela própria:
Conclui a galera: “O fechamento Já era!”
Para o doutor Rui
Vibra o Murilo: “um jornal Sem estilo!” Coletivo Arrepende-se o Rui: “Que ingênuo Que fui!” Para o doutor Rui
Primeira fila: Cláudio Bojunga, Reinaldo Lobo, Paulinho Chevette, Fernando Morais, Ricardo Setti, Sérgio Rondino, Tuinho Portela, José Eduardo Castor, Ivan Angelo, Moisés Rabinovici, Bill Duncan, Niles Simone, Velho Anta, Afrânio Bardari, Roberto Pereira e Faustino. Segunda fila: Esdras Guimarães, Mário Marinho, Antonio Carlos Fon, Anélio Barreto, Moacyr Bueno, Luiz Henrique Fruet, Nicodemus Pessoa, Roberto Avalone (encoberto), Fernando Portela, Edinilton Lampião, Sandro Vaia e Paulo Moreira Leite.
A foto abaixo foi feita na redação do JT, no 5º andar da Major Quedinho, 28, em 1971, para ilustrar uma matéria sobre cigarros de palha. Fotógrafo: Domicio Pinheiro.
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O Jotatê, pessoal, é criação imortal.
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