JT Sempre número 56 cm artigos sobre a morte do jornalista Kleber de Almeida

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ES C PE IA L

Número 56 - 15 de março de 2020

Kleber de Almeida 23-04-1944

03-03-2020

Anna Theresa, Gina e Kleber: a família reunida no Natal de 2019


Kleber Ferreira de Al O mineiro Kleber Ferreira de Almeida nasceu na cidade de Guanhães, que fica a 240 quilômetros de Belo Horizonte, no Vale do Rio Doce, região Leste do Estado. Kleber deixou a pacata cidade de, hoje, 34 mil habitantes, logo no começo dos anos 60. Seu primeiro trabalho como jornalista foi no Diário de Minas, no meio de uma redação tomada por jovens jornalistas de boa cabeça. Em 1965. Kleber era uma dessas boas cabeças e foi convidado pelo jornalista Murilo Felizberto, também mineiro, para o desafio da criação de um novo jornal em São Paulo. Em setembro, Kleber chegou ao Estadão e tomou conhecimento dos planos para lançamento de um jornal que ainda nem tinha nome, mas, que se chamaria Jorna da Tarde e iria revolucionar a história do jornalismo brasileiro. No dia 4 de janeiro de 1966,

Kleber era um dos aflitos jornalistas que esperavam a primeira edição do vespertino. Foram cerca de 30 anos de Jornal da Tarde, em dois períodos. Na redação do JT, Kleber foi repórter, redator, Editor de Esportes, de Política, Editor de Economia, Editor de noticiário Internacional, Editor do Caderno Cultural dos Sábados, além de Repórter Especial. Como repórter, Kleber cobriu também a área Diplomática junto ao Itamarati, em Brasília. Cobriu, para o Esporte, os Jogos Olímpicos de 1972 que ficaram famosos, no campo esportivo, pelo surgimento do nadador norte-americano Mark Spitz que conquistou 7 medalhas de ouro em diversas modalidades, quebrando o recorde mundial em todas elas. Porém, os jogos ficaram famosos também pelo ataque

O jt Sempre é uma publicação com um único objetivo: manter viva a memória do Jornal da Tarde. É, acredito, a melhor forma de nos manter em contato, trocar informações, promover encontros para o papo agradável de sempre. Você pode participar. Mande sugestão, artigo, matéria, foto, histórias para mariomarinho@uol.com.br No campo “Assunto”, coloque: “JT Sempre”. Responsável: Mário Marinho.

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lmeida

Uma vida

terrorista do grupo palestino denominado Setembro Negro, que culminou com as mortes de 11 reféns judeus e cinco terroristas. A Tragédia de Munique é a maior, até hoje, em eventos esportivos. Kleber passou também por diversas outras publicações. Foi Editor de A Gazeta Esportiva; Editor executivo e um dos criadores do Mundo Fiat (publicação da Fiat do Brasil). Trabalhou também no rádio e na televisão como Editor e

Comentarista. Em seu primeiro ano de JT, 1966, ganhou o prêmio Esso de Informação esportiva com a cobertura do Casamento de Pelé. Em todas as áreas onde atuou, Kleber de Almeida marcou presença com sua criatividade, sua seriedade e seu excelente caráter. Deixou a viúva Gina, com quem era casado há 40 anos, e a filha Anna Theresa. Além de amigos e muita saudade.

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A Primeira Pauta Mário Marinho A primeira pauta A primeira experiência a gente nunca esquece. Assim, nunca poderia esquecer a minha primeira pauta no Jornal da Tarde. Cheguei à redação do JT numa manhã de sábado, dia 20 de janeiro de 1968. Naquela mesma manhã havia chegado em São Paulo, a bordo de um potente ônibus Cometa, depois de sacolejante viagem pela Fernão Dias que durou quase 10 horas. Vinha a convite do Marco Antônio Resende, com quem havia trabalhado na Última Hora, de Belo Horizonte. O JT era o sonho dourado de qualquer jornalista. Marco Antônio fez o convite, mas, alertou: - O Murilo (Felisberto, redator chefe) quer ver um texto seu. Topa vir aqui fazer uma matéria? Claro. A redação estava vazia naquele sábado já que era dia de folga, pois, o jornal não circulava aos domingos. A Pauta (com letra maiúscula) estava lá. Eram três laudas de Pauta. Eu deveria cobrir um jogo de futebol de várzea, num dos campos que ficavam junto à Marginal Pinheiros, logo depois da Ponte Pequena, em direção à Castelo Branco. A Pauta, era superminuciosa. Descrevia o local: campo de terra, cercado de mato, de torcedores, de vendedores de frutas, sanduíches, doces, refrigerantes,

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cervejas, pingas... Primeiro, joga o segundo quadro; depois, o primeiro. Era como se eu nunca tivesse assistido a um jogo de várzea. Mas, eu era um jogador de várzea em Belo Horizonte. Só que o Kleber não sabia disso. Deveria escolher pelo menos três personagens e fazer quatro retrancas: uma para o jogo e três para os personagens. Escolhi como personagens o Juiz, um vendedor e o melhor jogador do jogo. Fiz a matéria, deixei com o Marco Antônio para entregar ao Murilo e no domingo voltei para Belo Horizonte, onde deixara uma noiva aflita. Na segunda-feira, estava de volta à redação da Última Hora mostrando a todos, com orgulho, a pauta que havia recebido. Virou atração. Na UH, assim como no Diário da Tarde, onde eu também trabalhava, nunca havíamos visto uma pauta tão completa. Duas semanas depois eu estava de volta para o Jornal da Tarde, aí em definitivo, e só então conheci o autor daquela Pauta, verdadeira obra de arte. Ficamos amigos. O Kleber morava na rua dos Franceses, no Bixiga, apartamento onde eu estive muitas e muitas vezes. O Kleber gostava de receber. E, como bom minero, era bom anfitrião. Aprendi muito com o Kleber que foi meu segundo chefe no JT (o primeiro foi o Carmo Chagas). Naquele ano de 1968, eu era solteiro e o Kleber idem. Varamos madrugadas na Galeria Metrópole, no restaurante Picardia, no Jogral


Mário Marinho, Kleber de Almeida, Luciano Ornelas e Marco Antônio de Rezende, na comemoração das Bodas de Ouro do Marinho, em 04-05-2019

(que havia se mudado para a rua Avanhandava), o Gighetto que mais tarde se mudou para a Avanhandava, o Giovanni Bruno e muitos outros. Atravessamos muitas vezes a perigosa Fernão Dias, vencendo os desafios de seus 580 quilômetros até Belo Horizonte no Fusquinha 68, verde claro que do Kleber. Lembra-se daquela noiva aflita que deixei lá em Belo Horizonte? Pois é, em maio de 1969, casamo-nos. E quem foi um dos padrinhos? Ele mesmo, Kleber de Almeida. Além do Esporte, Kleber foi também Editor da Política e da Economia. Na reportagem, cobriu a Olimpíada de Munique, aquela do atentado terrorista de 1972. Foi também repórter junto ao Itamarati. Foi um Editor severo, exigente, às vezes mal-humorado. Odiava trocadilhos nos textos e principalmente nos títulos. Certa dia, chegou na redação cuspindo marimbondo. Queria saber quem tinha sido o autor do título com o César, centroavante do Palmeiras. Era uma matéria com o polêmico goleador que reclamava de seu Clube. O título era: “A César o que é de César”. A editora de Esportes tinha um

copy veterano, chamado João Werneck. João era uma figuraça. O pai da tranquilidade. Falava baixinho e estava sempre calmo. - Klebinho, o título é do garoto. - Que garoto? - O Paulinho. - O Paulinho Foca? (anos mais tarde, conhecido como Paulo Moreira Leite). - Isso. - E Você deixou passar? - Mas, Klebinho, o garoto estava tão feliz... A calma do João Weneck contaminou o nervoso Klebinho. Da rua dos Ingleses Kleber se mudou para o elegante bairro de Higienópolis, para um belíssimo apartamento onde curtia sua solteirice. E parecia que o celibato o acompanharia até o fim da vida. Mas, eis que um dia o Fernando Mitre o apresentou à loira e sorridente Gina, prima da Heloisa, esposa do Mitre. O cativante sorriso da Gina, a moça de Marília, tomou de vez o coração do mineiro de Guanhães. Claro, como consequência, veio o casamento sólido que durou 40 felizes anos. Kleber Ferreira de Almeida, 76 anos de idade, deixou a viúva Gina e a filha Anna Theresa. Além de muita saudade.

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Aspas Kleber era nosso colega circunspecto, introspectivo, talvez um dos mais sĂŠrios de uma redação repleta de brincalhĂľes irreverentes. Foi meu editor na Geral – isso depois de ser repĂłrter de bom texto e saber desenhar belas pĂĄginas. Homem discreto, compunha a nossa fauna mineira, que veio em peso para SĂŁo Paulo, morando no Copan, para nĂŁo se perder pelo caminho atĂŠ a major Quedinho. Perdemos mais um colega/amigo. VĂĄcuo que nĂŁo se preenche. Adeus, Kleber. Nossas preces te acompanham.

Perci.val de Souza

Conheci o Kleber tĂŁo pouco... Ele era muito quietinho, na dele, eu acho. Mas do que conheci sempre gostei muito, gostava muito dele!

Denise MirĂĄs

Lamento e rezarei por sua alma. đ&#x;™? Kleber era o editor de esportes na ĂŠpoca em que comecei como correspondente do JT -tempo do qual me orgulho muito.

MĂĄrcio Canuto Uma pena. Bom cara, Ăłtimo texto. Kleber ajudava a dar vida ao jovem Jornal da Tarde. E os jovens jĂĄ nĂŁo sĂŁo tĂŁo jovens. Saudade.

Luiz Carlos Ramos

E vão se esvaziando as redaçþes de outrora. Partiu Kleber de Almeida, presença do bem e do profissionalismo.

AntĂ´nio Contente

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Quando eu estava na Gazeta Esportiva contratei o Kleber. SĂł entĂŁo eu reconheci o seu talento e o seu grande carĂĄter. Foi uma convivĂŞncia especial. Estive em sua casa, conheci a Gina e sua filhinha, ainda quase um bebĂŞ. SĂł lamento ter perdido o contato. Perdi muito. Vital Bataglia


Com o Kleber,

na redação.

Fernando Mitre

Falo do Kleber como editor de esportes? Ou falo dele como editor de política? Estou escolhendo ainda: acho que poderia falar do Kleber como editor de economia, que surpreendeu até a mim - e olhe que fui eu quem o escolheu para o cargo. São muitas as possibilidades, já que ele fazia sempre um trabalho honesto e profissional onde estivesse. Mas vou ficar no Esporte. Na Copa de 1970, quando o jovem editor (éramos todos jovens) comandava o setor no criativo e exigente Jornal da Tarde, chegou o dia do grande desafio ou da grande revanche: Brasil e Uruguai. As dores da tragédia de 1950 ainda faziam suas vítimas. Mas veio a vingança: 3 a 1. O time de Pelé fazia o que não fez o time de Zizinho. O desafio foi vencido em campo. Mas... e na redação? Ali, entre a euforia da vitória e a responsabilidade da edição daquele jogo, também se colocava um desafio: encontrar uma maneira criativa de apresentar ao leitor uma página que sintetizasse aquele momento histórico. E que fosse diferente, já que o estilo do jornal era único. Nada

parecido com os outros. E aqui entra o Kleber, o editor de esportes do jornal mais criativo do Brasil. Ainda o vejo, naquela noite, sentado à minha frente com o diagrama e as fotos na mão, analisando o material, que passava, em seguida, para mim. Ideias voavam e revoavam por ali, enquanto o relógio ameaçador avisava: o tempo é curto, chegando a hora do fechamento. Em alguns minutos, nascia a página. Era a cobertura conjunta de dois jogos: o de 50, a tragédia, e o de 70, a redenção. Era a tristeza do passado relembrada em detalhes, que se misturavam aos momentos felizes oferecidos por Pelé, Clodoaldo, Gerson, Tostão, Rivellino... Uma condensação de tempos: naquela página, lado a lado, perfilavam as colunas do minuto a minuto dos dois jogos, permitindo a comparação e concentrando uma emoção que o estilo gráfico da edição ainda mais acentuava. Era uma nova página que ficaria na história do jornalismo esportivo. Cinquenta anos depois, ainda me lembro da figura ágil do Kleber, andando pela redação, esbanjando orgulho, com aquela página inesquecível na mão.

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Lembrança Sérgio Rondino Mário Marinho me pede algumas linhas sobre o nosso amigo Kleber de Almeida - companheiro da nossa primeira geração do Jornal da Tarde. Ao contrário de outros amigos da turma, não tenho sobre ele - apesar do longo tempo de convivência - um caso relevante ou divertido para contar. Tenho apenas muitas lembranças daquele tempo, a começar pelo período em que moramos juntos. Sim, na nossa solteirice daqueles primeiros anos do JT dividimos por algum tempo um apartamento na rua dos Franceses. Éramos eu, o Kleber, o José Márcio Mendonça, o Luiz Henrique Fruet e depois o Mauro Marcelo e o Esdras Guimarães, que chamamos até hoje de Guima ou Guiminha e naquela época a redação apelidava de “Bicho Magro”. Não se espantem os mais jovens, porque “bicho” era um tratamento comum entre jovens daquela época e nada tinha de pejorativo. “Fala, bicho!” era um cumprimento comum e não à toa havia outro “bicho” na redação, o “Bicho Eric”, alcunha do Eric Nepomuceno, que dispensa apresentações. Já o “Bicho Magro” se devia à semelhança do Guima com um personagem

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da novela Beto Rockefeller. O Kleber já morava no apartamento quando cheguei - e acho até que foi ele quem me convidou para morar lá, depois que preferi deixar de morar sozinho num apezinho ali na Praça Roosevelt. O apartamento da rua dos Franceses era muito pior que o meu anterior. Ficava num prédio bem decadente, de fachada escurecida pelo tempo, bem coerente com o estado interno do nosso apartamento 33. Imaginem vocês que, por falta de espaço, fiquei na sala mesmo, para onde levei um sofácama e um armário. Um horror? Nada disso, era animado e muito divertido o nosso “Trinta e Três”, como o chamávamos. Um belo convívio. Se não me engano, o Kleber só saiu de lá quando comprou um apartamento em Higienópolis e foi embora levando sua risada engraçada e as boas histórias que sabia contar como ninguém. Na redação, trabalhamos juntos na Editoria de Política Nacional, onde fui pauteiro e chefe de reportagem quando Kleber era o editor. Quando ele saiu para outra função, assumi a Editoria, porque quase todos nós estávamos em frequente rodízio pelas diversas editorias. Eu mesmo fui editor de Geral, de Política, de Economia, de


as do Internacional e até de Variedades ou Artes e Espetáculos. Uma ciranda altamente educativa. O Kleber foi um frequente companheirão de noitadas pela cidade. E um amigo solidário também: foi ele, já casado com a Gina, quem me emprestou alguns dólares para minha primeira viagem à Europa - era viagem a trabalho mas também a passeio, e eu na época andava duríssimo. Beau geste.

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Nossa última relação profissional foi em 2005, quando eu era o Coordenador de Imprensa do prefeito José Serra e indiquei o Kleber para a assessoria de Imprensa do então secretário Aloysio Nunes. Pena que ele ficou pouco tempo por lá, pois saiu atraído por um convite do Moisés Rabinovici para trabalhar no Diário do Comércio. Grande Kleber. Sem ele e sem o Zé Márcio, que também nos deixou, ficamos só eu, o Fruet, o Guiminha e o Mauro com as lembranças do “Trinta e Três” da rua dos Franceses. Bons tempos.

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Valeriano, o

prefeito

Melchiades Cunha Jr.

No meu Araxá, nas Minas Gerais, tivemos um prefeito chamado Kleber Valeriano. E eu, com a minha mania, que vem de longe, de inventar um outro nome para amigos e colegas, passei a chamar o nosso Kleber de “Valeriano”. Ele nunca se incomodou com a nomeação. Ao contrário, devia gostar. Era uma demonstração de meu afeto por ele. Entrei no JT em abril de 1971, e lá trabalhei por sete anos (cinco anos na primeira temporada e outros dois posteriormente). O Valeriano participou da turma fundante do jornal, integrando a rapaziada de mineiros arrebanhada pelo Murilo Felibesto (outro mineiro, de Lavras) nas redações de BH. Kleber “Valeriano” de Almeida foi meu grande chapa naqueles tempos, possivelmente “os melhores anos de nossas vidas” - nome do filme americano do pós-II Guerra Mundial. Saíamos quase todas as noites, após o fechamento do jornal, para jantarmos no restaurante do Giovanni Bruno ou bebermos no Mutamba’s. Ele, já no cargo de editor, ganhava mais do que eu, e podia beber vinho estrangeiro, pedindo quase

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sempre o espanhol Marquez de Riscal. Eu, preferia um uisquinho. Em muitas ocasiões, eu lhe dava carona, levando-o ao apartamento que comprara no bairro de Higienópolis, que ficava no caminho para o meu, nas Perdizes. Nunca tive dúvidas sobre nosso bem-querer recíproco. Não é mesmo, Gina? Atleticano doente, grande contador de casos, amigo leal e de convivência agradável, o meu Kleber “Valeriano” de Almeida” recebeu de Luiz Nassif, no Facebook, uma definição preciosa, que peço licença para endossar: “É o mal-humorado mais doce que conheci na minha vida.”


Velhos

Amigos Carlos Brickmann Mineiro dos bem mineiros, sotaque mantido apesar de mais de 50 anos em São Paulo, às vezes mal-humorado, às vezes divertido, sempre um excelente jornalista. Jogou num grande time, com Vital Battaglia, Mario Marinho, Castilho de Andrade, e chegou à chefia um chefe com aprovação geral. Klebinho, grande figura! Kleber de Almeida, um dos astros na constelação de astros que foi o Jornal da Tarde. Um pouquinho mais velho do que eu, logo ficamos amigos. E, juntos com outro grande amigo, Edgar Colossi, gente finíssima, fomos à Europa e passamos quase dois meses. Outros tempos, hábitos bem mais modestos, cada um tinha mil dólares. Verba curta, hábitos metódicos: a cada dia podíamos gastar um tanto, e em cada cidade íamos uma vez almoçar ou jantar bem . No mais, os ótimos cachorros-quentes, os baratíssimos petiscos portugueses, e uma ou outra extravagância: nossa amiga Maria de los Ángeles morava em Saragoça, alugamos um Fiat 600 para ir até lá num bate-volta de tirar o fôlego. Quem ia no banco de trás tinha de sentar na transversal; nas descidas, tínhamos de acelerar ao máximo para enfrentar a subida seguinte. Foi divertidíssimo!!!!! Rodamos a Europa e, para minha alegria, eu, que sempre tive de soletrar meu sobrenome, a partir de determinada latitude mudou

tudo: Brickmann escreviam sem hesitar, mas o Almeida do Kleber exigia cuidado para que escrevessem direito. Participamos, os três, da grande marcha de homenagem ao general De Gaulle, no dia de sua morte. Que chuva!!! E não havia como sair. Na volta ao hotel, foi pegar os casacos encharcados (e únicos) e deixálos na frente do aquecedor. Até que funcionou. Na Dinamarca, o simpático hotel La Lantaerne tinha banho no fim do corredor, e uma moeda dava direito a dez minutos de água quente. Não havia transição: terminado o tempo da moeda, caía a gelada água escandinava. Para economizar (e dar um jeito de levar a roupa) íamos os três juntos, tentando tomar três banhos com duas moedas. Às vezes deu certo. Bem mais tarde, o Kleber veio trabalhar na Brickmann&Associados Comunicação. Ficamos mais um ótimo período em contato direto, nós adorando trabalhar com ele. Mais tarde, preferiu voltar às redações e perdemos um pouco o contato. Na época telefone era luxo escasso e os horários não combinavam. E quando se mudou para outra cidade, embora próxima, nós passamos a ver-nos mais nos eventos do Jornal da Tarde - o principal deles promovido pelo amigo comum Mário Marinho. O Klebinho, amigos, morreu. Não há o que dizer: apenas enviar à família nossa solidariedade. Adeus, Kleber. Sua vida foi um bom exemplo para todos.

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Meu quase

compadre Carmo Chagas

Eu o chamava de Compadre Ferreirinha, porque seu nome inteiro era Kleber Ferreira de Almeida e porque eu o havia convidado para padrinho da nossa filha mais velha, Carolina. Ainda na gravidez, Léa e eu combinamos que eu escolheria os padrinhos do primeiro filho, ou filha. Mas o Kleber não pôde, porque na época do batizado estaria viajando. Léa ficou então com a primeira escolha – perfeita, aliás, nossos compadres Zezé e Antônio José. Fiquei com a segunda escolha, os padrinhos da Juliana, compadres Tão e Edna. Mais do que quase compadres, Kleber e eu fomos amigos desde Belo Horizonte, no Diário de Minas, de onde viemos para São Paulo. Ele e o Luciano Ornelas em agosto, ou setembro, de 1965. Vieram para a Edição de Esportes do Estadão. Em fins de novembro, veio um segundo grupo de mineiros para a equipe fundadora do Jornal da Tarde – lembro que estavam no ônibus o Dirceu Soares, o Moisés Rabinovici, o Fernando Mitre, o Antônio Lima, eu. Da Edição de Esportes, Luciano e Kleber também passaram para a primeira equipe do JT, que na ocasião nem tinha nome ainda. Como projeto editorial, do ponto

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de vista empresarial, foi o mais importante já lançado no Brasil, a meu ver. Pelo seguinte: em qualquer ramo, São Paulo é o melhor mercado brasileiro, e em São Paulo a capital é o melhor mercado. O Jornal da Tarde veio para ser o jornal da capital paulista e foi um sucesso. Acho mais importante que a primeira grande revista de reportagens, Realidade, ou a primeira revista semanal de informação, Veja. Éramos bons amigos em Belo Horizonte, e o fato de estarmos longe de Minas, adaptando-nos aos modos e costumes de São Paulo, nos aproximou ainda mais. Como os demais integrantes da redação, nos entusiasmava a oportunidade de criar. Lembro que Kleber e eu conversamos várias vezes sobre a ousadia de quebrar a rigidez do texto referencial do Jornal do Brasil, com cinco linhas no primeiro parágrafo (de preferência sem ponto), seguido de cinco linhas no segundo parágrafo, vindo só então o primeiro intertítulo. Acabamos com isso no JT, entre outras ousadias, e o Kleber participava de todas essas mexidas. Excelente como repórter, redator, copidesque, veio a ser também um dos melhores editores do jornal. Contribuiu muito para a evolução do jornalismo brasileiro. Uma pena que não esteja mais entre nós.


s to n D m oi o s m e

Na foto acima, Kleber comemorava os 70 anos ao lado da Anna e da Gina. Abaixo, em 2006, na comemoração dos 40 anos do JT. Gina, Kleber, Mário Marinho, Bill Duncan, Terezinha e Ivan Ângelo

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A vida não é só uma. Na verdade, são várias. Cada dia que Você acorda, tem diante de si uma nova vida. Aproveite esse dia que é uma vida. A morte, sim. É única, definitiva e fatal.

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