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A BIODIVERSIDADE DAS FLORESTAS DA USINA CUCAÚ E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DA FLORESTA ATLÂNTICA NORDESTINA

A Floresta Atlântica é uma das maiores prioridades mundiais para a conservação da diversidade biológica, é uma área considerada insubstituível. Apresenta cerca de 8.500 espécies endêmicas (espécies restritas a uma determinada localidade geográfica) entre plantas vasculares, mamíferos, aves, répteis e anfíbios. Parte desse endemismo está localizado a um bloco bem delimitado de florestas que ocorrem ao norte do Rio São Francisco - o Centro de Endemismo Pernambuco – CEP. Além da importância biológica associada à presença de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, biogeograficamente, o CEP é a chave para a compreensão da evolução das biotas Amazônica e Atlântica, pois foi através desta região que, durante a época Cenozoica, ocorreram trocas bióticas entre as duas grandes regiões de florestas sul-americanas.

Em 1990 restavam algo em torno de 6% de áreas florestadas no CEP representada por um arquipélago de pequenos fragmentos florestais imersos em uma matriz de diferentes culturas agrícolas, principalmente cana-de-açúcar. Alguns tipos florestais, como a Floresta Ombrófila Densa (onde está localizada a Usina Cucaú), foi severamente reduzida.

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Tipos de vegetação assinalada para o Centro de Endemismo Pernambuco (CEP), área de cobertura original, vegetação remanescente e Florestas remanescentes (km2). Retirado de Uchoa Neto e Tabarelli (2003).

Tipo de vegetação assinalada para o Centro de Endemismo Pernambuco

Tipos de vegetação Área original Vegetação remanescente % do total

Áreas de Formações Pioneiras Áreas de Tensão Ecológica Floresta Estacional Semidecidual Floresta Ombrófila Densa Floresta Ombrófila Aberta

Total

2.922,88 19.715,18 16.045,06 6.141,02 11.576,74

56.400,88

614,74 665,89 803,72 280,35 832,92

3.197,62

21,03 3,37 5,00 4,56 7,19

5,66

Fonte: Uchoa Neto e Tabarelli (2003).

A fragmentação dos hábitats tem sido apontada como a maior causa da perda da biodiversidade e é uma das maiores preocupações dos conservacionistas atuais, ela causa, entre outros fatores, a diminuição do tamanho das populações, interrupção de processos migratórios, redução do fluxo gênico e de barreiras para a dispersão, deixando as populações susceptíveis a catástrofes naturais e à ação de predadores.

A destruição dos hábitats e a fragmentação levaram esta região a apresentar a maior concentração de aves ameaçadas no Brasil. Dos 158 táxons listados na Instrução Normativa MMA nº 003/2003, 34 são endemismos do CEP. Estudos recentes em fragmentos florestais no CEP evidenciaram que até mesmo os menores, são igualmente importantes na manutenção da avifauna ameaçada quanto os de maior tamanho, e deve refletir a flexibilidade ambiental exibida por estes táxons (Roda, 2002; Roda et al., 2011). Fato também observado para outros grupos biológicos como árvores, mamíferos, répteis e anfíbios.

Um exemplo clássico desta destruição de hábitat é o Mutum-de-alagoas (Pauxi mitu). Espécie de grande porte que se alimenta basicamente de frutos e sementes. Foi extinto na natureza principalmente pela destruição do seu hábitat, as várzeas e as encostas dos tabuleiros costeiros de Alagoas. Atualmente está sendo reintroduzido na Usina Utinga, pertencente ao Grupo EQM.

Praticamente toda a floresta remanescente do CEP está dentro de propriedades particulares, mais especificamente em áreas de grandes usinas produtoras de açúcar e etanol. Muito pouco, apenas 0,3% das florestas são protegidas por Unidades de Conservação.

De modo geral, e a exemplo do estado de Pernambuco, as unidades de conservação do Centro Pernambuco são pequenas, com formatos irregulares, e estão inseridas em uma matriz dominada por usos de terra agressivos às florestas. Como consequência, tendem a sofrer mudanças significativas em sua estrutura e composição, devido ao efeito de borda, tornando-as ecologicamente inviáveis a longo prazo.

Apesar da intensa fragmentação e destruição dos hábitats, a região apresenta uma grande riqueza de espécies de diferentes grupos biológicos, de geralistas a especialistas, que tornam a Floresta Atlântica Nordestina única em muitos aspectos (Tabarelli e Roda, 2005).

São apresentados aqui uma visão preliminar da fauna e da flora da Usina Cucaú, que no conjunto demostram a grande importância das suas florestas na conservação de uma área única e rica, e como a sua biodiversidade persistem frente à fragmentação dos hábitats. Não foram coletadas informações de espécies fora dos ambientes de floresta, assim, a riqueza de espécies de aves da Usina Cucaú tende a crescer com mais inventários.

No ano de 2004, a pedido do Dr. Eduardo Monteiro, presidente do Grupo EQM, foi realizado um estudo da avifauna como subsídio para a criação de RPPN’s na Usina Cucaú. Foram gerados dois relatórios descritivos de biodiversidade e posteriormente as informações da avifauna fizeram parte da base de dados para projetos de conservação de espécies ameaçadas de extinção no CEP. Outro grupo biológico como os mamíferos são citados com base em vestígios (pegadas e fezes), observação em campo e por citação dos mateiros. As árvores e outros grupos vegetais são citadas baseada em sementes encaminhadas ao viveiro, identificação própria e citação dos mateiros.

AVES

Muitos dos estudos ornitológicos no Estado de Pernambuco, tanto os mais antigos como alguns recentes, se concentraram na região ao longo da costa, nos fragmentos considerados mais acessíveis e próximos a Recife. No entanto, existem várias lacunas de conhecimento nestas áreas que são consideradas como de extrema importância biológica. Uma delas é a área da Usina Cucaú, próxima a outras áreas importantes para a conservação regional como REBIO Saltinho e Usina Trapiche. Estas localidades estão incluídas na área de distribuição do recém descrito Caburé-de-pernambuco (Glaucidium mooreorum). Foram inventariadas as florestas do Complexo Jaguarão (matas do Cararraza, Jaguarão e Forma), Complexo Bom Sucesso (matas do Curuzu e Zefa dos Cachorros), Mata de Duas Bocas e Bombarda. Estas áreas estão incluídas no polígono 127 - “extrema importância biológica” na Avaliação e Ações Prioritárias para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica e Campos Sulinos (MMA, 2000). As florestas do Complexo Jaguarão são muito próximas, separadas apenas por seringais e campos de cultivo de cana-de-açú-

Tiê-Sangue. Lucas Carvalho car abandonados, e foi considerado neste trabalho como um bloco único. Parte desta área abandonada está sendo replantada e outra parte está sendo enriquecida por espécies nativas, favorecendo assim, uma circulação maior de espécies florestais entre os fragmentos. Cerca de 1.000ha deste bloco florestal será transformado em RPPN, a qual garantirá a conservação de espécies bastante importantes regionalmente.

No Complexo Bom Sucesso os fragmentos são separados apenas por uma matriz de cana-de-açúcar e localiza-se a cerca de 3 km da cidade de Gameleira. Foram visitados os fragmentos de Curuzu e Zefa dos Cachorros.

A Mata de Duas Bocas localiza-se a pouco mais de 2 km (em linha reta) da Reserva Biológica de Saltinho. Parte da floresta pertence a Usina Cucaú, e outra parte é de propriedade da Usina Santo André. Em bom estado de conservação, apresenta muitas árvores (e.g. mamajuda) que chegam a 20 m de altura.

A Mata de Bombarda, localizada no Município de Barreiros, apresenta-se em estágio médio de recuperação, pois sofreu severos cortes seletivos no passado para o plantio de cacau (Theobroma cacao).

Foram registradas 163 espécies de aves pertencentes a 32 famílias (Apêndice 1). As famílias que apresentaram maior número de espécies foram: Emberizidae (33), Tyrannidae (29) e Thamnophilidae (10). Juntas, representam 44,2% do total da avifauna registrada para as florestas da Usina Cucaú. As famílias Emberizidae (e.g. papa-capim, caboclinho) e

Tyrannidae (e.g. bem-te-vi, lavadeira) também foram as mais numerosas quando se analisou cada fragmento separadamente.

Embora a área de estudo seja de certa forma heterogênea quanto aos aspectos físicos e vegetacionais, a avifauna encontra-se frequentemente relacionada aos hábitats onde vivem. A maior parte das aves (72,4%), está associada a ambientes florestais, classificadas como dependentes ou semi-dependentes de florestas, as não dependentes de florestas totalizam 27,6% das espécies registradas.

O bloco de florestas que forma o Complexo Jaguarão mostrou-se mais interessante em termos de conservação que as demais florestas inventariadas. Ali foram detectadas 152 espécies, que representa 93.2% do total de espécies de aves registradas para a área da Usina. Além disso, apresenta um maior número de táxons endêmicos e ameaçados de extinção.

No Complexo Jaguarão, 66 espécies foram consideradas abundantes. Destacam-se entre estas, dez táxons florestais, muitos deles ameaçados de extinção, comumente pouco abundantes em outros inventários na região e que representam a plasticidade ambiental apresentada por estas espécies a ambientes em regeneração, são elas: chororó-didi, maria-cavaleira-pequena, saíra-militar, periquito-rico, saíra-galega, pica-pau-anão-de-pintas-amarelas, patinho, cuspidor-de-máscara-preta, choca-da-mata e pintor-verdadeiro.

Esta plasticidade também pode ser estendida aos grandes dispersores florestais, presentes quase sempre, em fragmentos bem conservados, como: sururina, jacu, tucano-de-bico-preto, araçari-miúdo-de-bico-riscado e anambé-de-asa-branca; e alguns insetívoros de sobosque como: choca-lisa e o papa-taoca. Todos presentes na área de estudo.

As espécies de aves insetívoras e frugívoras foram bastante comuns na Usina Cucaú, totalizando 42,9% e 30,1%, respectivamente. Este é o padrão apresentado para aves do CEP conforme dados analisados por Roda (2003). As aves frugívoras são importantes dispersoras de sementes, junto com outros vertebrados pela dispersão das espécies de árvores, contribuindo com a regeneração das florestas. Os outros grupos tróficos foram pouco representativos. Registros relevantes para a área

Penelope superciliaris alagoensis – Jacu, Jacupemba. Espécie bastante perseguida pelos caçadores devido ao seu tamanho e porte. Subespécie endêmica do CEP. Foi ouvida diversas vezes nas florestas do Complexo Jaguarão, algumas vezes em capoeirões muito próximos do bloco florestal. Pegadas desta espécie foram registradas em estradas no meio do canavial, próximo às florestas.

Brotogeris tirica – Periquito-rico. Espécie pouco registrada nas florestas CEP, podendo ser abundante em algumas localidades (e.g., Usina Serra Grande, em Alagoas). Foram observados grupos pequenos (com até seis indivíduos) no Complexo Jaguarão.

Touit surdus – Apuim-de-cauda-amarela. Foi considerado ameaçado de extinção por muito tempo, hoje é considerado vulnerável. As populações desta espécie são pequenas na região, provavelmente pela acentuada perda de hábitats. Casais foram observados se alimentando de pequenos frutos na borda do Complexo Jaguarão.

Pionus menstruus – Maitaca, Curica-roxa. Espécie pouco regi strada para Pernambuco, e sua distribuição parece ser restrita às florestas de baixada do Sul do Estado, sendo mais comum em Alagoas. Além de ser sensível à fragmentação e à perda de hábitat, esta espécie é bastante procurada para captura e comercialização. Foram observados indivíduos sobrevoando o Complexo Jaguarão.

Phaethornis ochraceiventris camargoi – Besourão-de-bico-grande. Beija-flor endêmico e ameaçado no CEP, tem sido pouco registrado nesta região. Apenas um indivíduo foi observado em borda bastante alterada no Complexo Jaguarão, forrageando em inflorescências de paquevira (Heliconia sp). Nas florestas de baixada ao sul de Pernambuco só foi encontrado na REBIO Saltinho.

Thalurania watertonii – Beija-flor-de-costas-violetas. Beija-flor endêmico e ameaçado da floresta Atlântica, comum em florestas conservadas e úmidas. Indivíduos foram observados no interior das florestas e em seringais abandonados.

Momotus momota marcgraviana – Udu-de-coroa-azul, Juruva. Táxon ameaçado e endêmico do CEP, é bastante sensível à fragmentação e pouco registrado para o sul de Pernambuco. Um canto em dueto foi ouvido na Mata de Duas Bocas.

Ramphastos vitellinus – Tucano-de-bico-preto. Pequeno tucano que apresenta uma extraordinária capacidade de voo que o permite procurar alimento em fragmentos distantes, sobrevoando longas distâncias sobre os canaviais. Bastante sensível à perda de hábitats, principalmente pela diminuição de sítios de nidificação (ocos de grandes árvores). Foi observado vocalizando no dossel de grandes árvores remanescentes no Complexo Jaguarão.

Pteroglossus inscriptus (Araçari-de-bico-riscado) e Pteroglossus aracari (Araçari-de-bico-branco) – Assim como o tucano-de-bico-preto, estes araçaris apresentam uma grande capacidade de voo, podendo se deslocar facilmente entre os fragmentos sobre a matriz de cana-de-açúcar. A presença destes frugívoros dispersores de sementes em áreas florestais desestruturadas indica que a área apresenta, ainda, vários recursos alimentares importantes para a manutenção da floresta. O araçari-de-bico-riscado são mais abundantes, foram visualizados no Complexo Jaguarão e Duas Bocas alimentando-se de frutos da embaúba.

Thamnophilus aethiops distans – Choca-lisa. Táxon endêmico e ameaçado do CEP, habita o sobosque das florestas, geralmente as mais conservadas. Muitos indivíduos, a maioria casais ou grupos familiares. Casais foram observados em Duas Bocas e Jaguarão.

Cercomacra laeta sabinoi – Cororó-didi. Táxon ameaçado e endêmico do Centro Pernambuco. Frequentam diversos tipos de ambientes e foi a mais abundante entre as aves florestais do Complexo Jaguarão. Na Mata de Zefa dos Cachorros, um casal foi observado em moitas de capim em uma clareira parcialmente encharcada.

Pyriglena pernambucensis (Papa-taoca) e Conopophaga melanops nigrifrons (Cuspidor-de-mascara-preta) – Táxons ameaçados e endêmicos do Centro Pernambuco. Foram observados juntos em pequeno número (sempre aos pares) seguindo formigas de correição nas florestas de Duas bocas e Jaguarão.

Dendrocincla fuliginosa taunayi – Arapaçú-liso. Táxon ameaçado e endêmico do CEP, presente geralmente em florestas mais preservadas onde pode ser abundante. Apenas um indivíduo foi ouvido no Complexo Jaguarão.

Synallaxis infuscata – Tatac. Táxon ameaçado e endêmico do CEP, frequenta ambientes de borda com cipós e emaranhados. Foram observados dois casais na borda do Complexo Jaguarão. Apresenta uma estreita dependência com ambientes florestados, embora habite apenas as bordas.

Xipholena atropurpurea – Anambé-de-asa-branca. Espécie ameaçada e endêmica da Floresta Atlântica em geral. Apesar de ter sido registrada em várias localidades no CEP, é ainda pouco assinalado nos inventários, provavelmente porque vocaliza pouco e frequenta os galhos mais altos no dossel das florestas. Foi observado um macho no alto de uma árvore emergente e uma fêmea voando sobre uma grota no Complexo Jaguarão.

Turdus flavipes – Sabiá-una. Espécie registrada anteriormente apenas para uma localidade em Pernambuco (Engenho Sacramento, em Água Preta). Realiza migrações sazonais, como a população do sudeste do país. Apenas um indivíduo foi observado no alto de uma árvore no Complexo Jaguarão.

Tangara fastuosa – Pintor-verdadeiro, Sete-cores. Espécie ameaçada e endêmica do CEP. Realizam voos longos e contínuos entre fragmentos florestais. Vários indivíduos foram observados em todos os fragmentos estudados, sempre agregados a bandos mistos com outros traupídeos. Em Duas Bocas dois indivíduos se alimentavam de frutinhos de Bromélias. Um casal foi observado em grandes bromélias na casa-grande Chalé, da Usina Cucaú. Pela sua beleza exuberante, é frequentemente capturado para venda.

Ramphocelus bresilius bresilius – Tiê-sangue. Táxon endêmico da Floresta Atlântica. Ave mascote da Usina Cucaú. Ocorre em bordas de florestas, formando grupos em áreas alagadas com algum tipo de vegetação arbustiva.

MAMÍFEROS

O grupo dos mamíferos é aqui citado sem utilizar nenhum método científico, no entanto podem auxiliar no futuro, outros inventários na área. Por meio de avistamento ou por

encontro de vestígios como rastros, fezes e tocas, pôde-se elaborar uma pequena lista de mamíferos. Os mateiros foram essenciais na confirmação. Para tanto, consideramos apenas as informações obtidas no Complexo Jaguarão e Duas Bocas no interior e borda das florestas.

Foram listadas 20 espécies de mamíferos (Apêndice 2). O uso de armadilhas (gaiolas eu redes), sensos em transectos pré-estabelecidos e câmaras trap aumentariam consideravelmente o número de espécies de mamíferos na área, a exemplo dos pequenos roedores e morcegos, que são impossíveis de se identificar apenas com a visualização.

Algumas espécies mais generalistas como a raposa, guaxinim, tapiri, preá, tatus e capivara são bastante generalistas, frequentando também as áreas abertas ou cultivadas com cana-de-açúcar. São espécies com grande capacidade de dispersão entre os fragmentos de floresta. Os esquilos, preás e pacas são as principais dispersoras de sementes da palmeira catolé (Attalea oleifera), uma palmeira endêmica da Floresta Atlântica e bastante comum no Complexo Jaguarão e Duas Bocas.

Os quatis são relativamente comuns e bastante abundantes, foram visualizados grupos familiares com quatro até oito indivíduos. O quati é uma espécie predadora, de porte médio bastante importante na cadeia trófica, predam pequenos animais e ovos de aves. Esta espécie é favorecida pela ausência de predadores de topo devido à fragmentação das florestas.

A cutia, preá e paca, assim como os quatis, apresentam uma grande importância na cadeia trófica devido a serem bons dispersores de sementes, ao mesmo tempo são sensíveis à pressão antrópica e empobrecimento florestal. São também, espécies preferidas pelos caçadores da região.

Recentemente Mendes Pontes et al. (2013) descreveram uma nova espécie de Porco-espinho, Coendou speratus, para fragmentos de florestas da Usina Trapiche, cujos fragmento de florestas são muito próximos da Usina Cucaú. Muito provavelmente esta espécie tenha ocorrência na área de estudo. Esta espécie de roedor é arborícola, assim como C. prehensilis, que ocorre na Usina Cucaú. De acordo com mateiros da região, era uma espécie bastante comum nas florestas de Cucaú, mas devido à alteração e redução do seu ambiente natural, as populações podem estar atualmente em declínio. Sem considerar que também são caçados na região. É uma presa fácil porque se locomove lentamente e raramente frequenta o chão da floresta.

O Tamanduá-í é uma espécie solitária, muito pequena (pesa em torno de 300g), arborícola e noturno. Costuma ficar enroscado nos cipós durante o dia, em bordas de florestas ou em capoeiras no interior da floresta. Durante a noite não se locomove muito. A população nordestina desta espécie é disjunta da população amazônica provavelmente, desde o Período Pleistoceno, quando as florestas Atlântica e Amazônica retraíram, sendo substituídas pela Caatinga.

Alguns mateiros relataram a presença de gatos-do-mato e jaguatiricas, no entanto houve uma grande confusão ao relatarem as características para identificação e não foi incluída na listagem de mamíferos. Predadores de topo, como grandes e médios carnívoros, são fundamentais para a manutenção do equilíbrio das florestas, porém é possível que as áreas florestadas da região sejam insuficientes para a manutenção de populações viáveis. A ausência deste grupo pode favorecer que espécies de herbívoros ou predadores de menor porte, como os quatis, tenham um aumento nas suas populações, fato observado em outras áreas da região, como em Fernandes (2003) e Silva Júnior (2007). As capivaras, de uma maneira geral, frequentam áreas alagadas e canaviais. Foi relatada pelos mateiros para as florestas do Complexo Jaguarão, mas não visualizada. Como folívoros arborícolas (alimentam-se de folhas do extrato herbáceo), as capivaras podem encontrar tanto alimento na floresta quanto fora dela (e.g. cana-de-açúcar). É um animal de porte grande e fortemente predado pela caça de subsistência. VEGETAÇÃO

O conjunto florístico dos fragmentos florestais da Usina Cucaú é bastante rico e diversificado. Há uma semelhança florística e fisionômica entre os fragmentos florestais que apresentaram diferentes graus de conservação. Estas semelhanças podem ser atribuídas à proximidade entre eles e ao grau de utilização pretérita destas florestas, que possivelmente formavam um bloco único.

Na Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas, tipo vegetacional onde está inserida a Usina Cucaú, não existe um período seco. No entanto, existe um período de umidade escassa com temperaturas médias que variam entre 22 e 25°C, o que favorece para um bom desenvolvimento da vegetação. Caracteriza-se por um tipo de vegetação formada principalmente por árvores de médio a grande porte, associadas a muitas epífitas e lianas.

A fragmentação florestal, processo recorrente na Floresta Atlântica a nível nacional, traz inúmeros danos aos sistemas naturais, principalmente a perda da biodiversidade, prejudicando o equilíbrio e a estabilidade dos ecossistemas. Estudos em florestas tropicais indicaram que os efeitos da fragmentação dos hábitats resultam na extinção local de muitas espécies.

Em consequência da fragmentação, a porção de Terras Baixas desta floresta é a área com maior probabilidade de perda de espécies em escala regional e global, onde quase metade dos fragmentos florestais são menores que 10ha (Ranta et al., 1998).

Na Usina Cucaú não foram realizados inventários florísticos, as espécies aqui citadas e incluídas no Apêndice 3, foram listadas por informações dos mateiros, pela identificação das sementes encaminhadas ao Viveiro de Mudas, por identificação pessoal e alguns relatórios de recomposição florestal com pequena lista de espécies, portanto é bastante

preliminar. Um estudo da comunidade de pteridófitas (samambaias e avencas) realizado por pesquisadores da UFPE no Complexo Jaguarão, gerou publicações importantes sobre o hábito destas plantas nesta floresta. Informações sobre bromélias e orquídeas foram obtidas nas observações de campo em fragmentos florestais e rochedos. Árvores

Com relação às árvores e arbustos, foram identificadas 106 espécies pertencentes a 36 famílias. Destacam-se as famílias Fabaceae com 22 espécies, sendo a subfamília Mimosaideae com quatorze espécies e a subfamília Caesalpinoideae com treze.

As Fabaceae constituem uma das famílias botânicas de grande importância econômica e medicinal, destacando-se algumas espécies desta família no tratamento de doenças, devido as suas propriedades curativas e terapêuticas. Muitas delas são usadas tanto na farmacologia quanto na medicina popular. Entre as Fabaceae encontram-se tanto árvores e arbustos como plantas herbáceas perenes ou anuais. Essa família é normalmente reconhecida pela presença de frutos do tipo vagem.

As espécies arbóreas mais comuns na maioria dos fragmentos são: pau-pombo, caboatã-de-leite, murici, lacre, embiriba, banana-de-papagaio e sete-cascos. Destacam-se, ainda, espécies de alto valor madeireiro, muitas delas muito altas e bem desenvolvida, como: maçaranduba, mamajuda, sapucaia,

Visgueiro, Parkia Pendula.

Sônia Roda

sucupira, oiticica-da-mata, praíba, louro, conduru e pau-amarelo.

Nos fragmentos em estágio inicial de regeneração natural, dominaram espontaneamente espécies como embaúba e sambacuim, que são responsáveis pelo sombreamento necessário para o desenvolvimento de plântulas e para o crescimento das árvores mais jovens. Entre as árvores pioneiras nestes fragmentos, são encontrados o murici, brasa-apagada, cupiúba, favinha e caboatã-de-leite. O estrato herbáceo composto majoritariamente por espécies como

a paquevira (Heliconia sp), tiririca (Scleria sp), além de numerosas gramíneas.

As árvores, assim como muitos grupos biológicos também são afetadas pelo efeito da fragmentação florestal e suas consequentes alterações nos processos bióticos e abióticos, levando a um empobrecimento na riqueza das espécies. A importância em manter fragmentos com espécies nativas está na necessidade de preservar o equilíbrio do ecossistema, proteção dos recursos hídricos e a fauna que ali residem.

De uma maneira geral, os fragmentos da Usina Cucaú apresentam espécies de árvores com frutos pequenos, que geralmente são associados às árvores dominantes nas bordas das florestas. Estes frutos estão associados à dispersão por animais também pequenos como aves. Frutos maiores, que também existem, mas em baixa densidade, são dispersados geralmente por mamíferos de pequeno porte como preá, paca e cutia que podem estar vulneráveis à pressão de caça local. Orquídeas e Bromélias

As famílias Orchidaceae e Bromeliaceae são pouco observadas na área, denotando o caráter secundário da vegetação. A maioria das espécies foi registrada em afloramentos rochosos no Engenho Vicente Campelo e no Complexo Jaguarão.

As espécies terrícolas Oeceoclades maculata e Catasetum macrocarpum são bastante comuns na Usina Cucaú. A primeira habita o interior das florestas, em áreas úmidas, ocupando por vezes extensas áreas na Mata do

Cattleya Labiata.

Jaguarão, a segunda é encontrada em áreas úmidas de clareiras bem iluminadas.

As espécies Dichaea panamensis, Dimerandra emarginata, Gomesa barbata, Epidendrum sp, Rodriguezia bahiensis, Encyclia oncidioides, Scaphyglottis sp, Vanilla sp, Cattleya granulosa e Cattleya Labiata são orquídeas epífitas de sombra e são as mais observadas no Complexo Jaguarão onde habitam preferencialmente em troncos no sub-bosque úmido. D. emarginata, R. bahiensis e G. barbata também foram observadas nas bordas da floresta. As duas espécies de Cattleya, a C. labiata, conhecida como a rainha-do-nordeste e pouco encontrada nas florestas litorâneas, e a C. granulosa, conhecida como orquídea-caneluda é bastante comum nas florestas litorâneas, são espécies muito procuradas para o comércio ilegal de orquídeas por ter um alto valor ornamental. C. granulosa é endêmica do CEP e está incluída na categoria Vulnerável da lista de espécies ameaçadas da International Union for Conservation of Nature (IUCN).

Nos afloramentos rochosos são abundantes: Habenaria sp., Epidendrum sp., Acianthera ochreata, Brassavola tuberculata, Sobralia liliastrum e Cyrtopodium flavum.

Entre as bromélias registradas na Usina Cucaú destacam-se: Aecmea fulgens, A. lactífera, A. chrysocoma, A. fulgens, Billbergia moreli, Canistrum pickelli, Cryptanthus sp., Hoenbergia ramageana, Neoregelia pernambucana, Orthophytum sp., Guzmania lingulata, Tillandsia tenuifolia, T. gardeneri e Vriesea sp. Um levantamento mais adequado pode duplicar o número de espécies. A espécie Hoenbergia ramageana é particularmente comum nos jardins da Usina Cucaú e em árvores isoladas nos engenhos.

Um total de 42 espécies de bromélias são endêmicas do CEP (Siqueira Filho e Tabarelli, 2006). Estes autores assinalam que as bromélias são espécies associadas a uma estreita distribuição, uma alta especificidade de hábitat em diferentes escalas espaciais e formas de vida especializadas (ou seja, epífitas obrigatórias e espécies terrestres), além de apresentarem um número pequeno de populações. A perda de hábitat e o comércio ilegal das espécies podem levar muitas espécies à extinção.

Samambaias

Com relação a Pteridófitas, que incluem as samambaias e avencas, um inventário realizado por pesquisadores da UFPE documentou a ocorrência de 25 espécies, distribuídas em 17 gêneros e 12 famílias (Apêndice 4). Estes resultados encontram-se em Silva (2007) e Silva et al. (2011).

Destas 25 espécies catalogadas, seis foram consideradas raras: Alsophila sternbergii, Diplazium plantaginifolium, Olfersia cervi-

na, Thelypteris biolleyi, Thelypteris jamesonii e Hemidictyum marginatum. Sendo que A. sternbergii, D. plantaginifolium, O. cervina classificadas como Vulneráveis e T. biolleyi, T. jamesonii e H. marginatum consideradas Criticamente Ameaçada de acordo com a classificação de ameaça de Santiago (2006).

Os autores do inventário destacam a presença de duas espécies, a Thelypteris jamesonii, que além de rara e classificada como criticamente ameaçada de extinção, é uma espécie recém-documentada para o Estado de Pernambuco; e, a Hemidictyum marginatum que teve sua última coleta em Pernambuco há aproximadamente 30 anos e estava praticamente extinta no Estado.

Quanto às características ecológicas, a maioria das espécies exibiu a forma de vida hemicriptófita (planta em que morre anualmente a parte aérea, ficando as gemas de renovo quase rentes ao solo), hábito herbáceo e habitat terrícolas, que são comuns entre esse grupo vegetal. Entre as samambaias registradas, seis são muito exigentes com sombreamento e umidade, e estão sempre associadas a ambientes bem preservados, sendo encontradas em grande abundância no interior do Complexo Jaguarão.

Os pesquisadores relatam também, que existe uma diferença das espécies do interior da floresta e as de borda - também comum com a maioria dos grupos animais e vegetais. De uma maneira geral, a borda das florestas funciona como um ambiente seletivo de espécies capazes de colonizá-la, onde indivíduos mais adaptados têm maiores chances de sobrevivência e conseguem se reproduzir, isso devido à borda apresentar alterações de temperatura e umidade relativa do ar, além da estrutura da vegetação. Para as samambaias, os efeitos das bordas têm influência negativa sobre a riqueza, diversidade e abundância de espécies, a borda da floresta mostra perda de espécies quando comparada aos ambientes interiores. O interior do fragmento proporcionou melhores condições para o desenvolvimento do bloco de samambaias.

A Floresta Atlântica Nordestina foi classificada como uma das 25 prioridades mundiais para a conservação, e foi classificada como um dos hotspots mundiais, ou seja, uma área prioritária para conservação, de alta biodiversidade e ameaçada no mais alto grau. Estima-se que até 8% das espécies do planeta habitem essa área. Além da riqueza de espécies de diversos grupos - 261 espécies de mamíferos, 620 de aves, 280 de anfíbios, 200 de répteis, e cerca de 2000 espécies de plantas vasculares - essa região apresenta um alto grau de endemismo para vários grupos taxonômicos, tais como plantas, aves e primatas.

Apesar de pouco tempo de inventário e em poucos fragmentos de florestas na Usina Cucaú, este revelou-se bastante representativo em relação à biodiversidade. Foram registradas 163 espécies de aves, 105 de árvores e arbustos, 25 de samambaias, 20 de mamíferos, dezessete de orquídeas e catorze de bromélias que representam parte de uma rica biodiversidade presente na Floresta Atlântica nordes-

tina. Novos inventários hão de registrar uma biodiversidade ainda maior.

Uma das formas que a iniciativa privada encontrou para a conservação dos ecossistemas, é a criação de um tipo específico de Unidade de Conservação, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) e, a Usina Cucaú com a intensão de criar uma RPPN com cerca de 700ha, estará se comprometendo com a conservação e a preservação de uma das maiores riquezas mundiais, a biodiversidade da floresta mais ameaçada do Planeta, a Floresta Atlântica Nordestina.

Muitos estudiosos apontam o Brasil como um dos países de maior biodiversidade do Planeta, e 13% são espécies exclusivas ao país. A Floresta Atlântica foi classificada como uma das 25 prioridades mundiais para a conservação e foi classificada como um dos hotspots mundiais, ou seja, uma área prioritária para conservação, de alta biodiversidade e ameaçada no mais alto grau. Estima-se que até 8% das espécies do planeta habitem essa área. Além da riqueza de espécies de diversos grupos - 261 espécies de mamíferos, 620 de aves, 280 de anfíbios, 200 de répteis, e cerca de 2000 espécies de plantas vasculares - essa região apresenta um alto grau de endemismo para vários grupos taxonômicos, tais como plantas, aves e primatas. Apesar de ser um inventário recente e em poucos fragmentos de florestas na Usina Cucaú, este revelou-se bastante representativo em relação à biodiversidade. Foram registradas 163 espécies de aves, 105 de árvores e arbustos, 25 de samambaias, 20 de mamíferos, 17 de orquídeas e 14 de bromélias que representam parte de uma rica biodiversidade presente na Floresta Atlântica nordestina, a biodiversidade de floresta mais ameaçada do Planeta. Novos inventários hão de registrar uma biodiversidade ainda maior. Uma das formas que a iniciativa privada encontrou para a conservação dos ecossistemas, é a criação de um tipo específico de Unidade de Conservação, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), a Usina Cucaú com a intensão de criar uma RPPN com cerca de 700ha, estará com o compromisso de conservar e a preservar uma das maiores riquezas mundiais, a Floresta Atlântica Nordestina.

Pteroglossus aracari

Lucas Carvalho

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