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A questão da análise leiga e a Neuropsicanálise, será possível? Anderson Barros faz uma reflexão sobre essas duas importantes ciências.
A QUESTÃO DA ANÁLISE LEIGA E A NEUROPSICANÁLISE, SERÁ POSSÍVEL?
P o r A n d e r s o n B a r r o s - P s i c a n a l i s t a
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Em 1926, Freud em defesa a Theodor Reik, membro não médico da sociedade psicanalítica de Viena, escreve sua magnífica obra: | “A questão da Análise Leiga” . Ali, a partir de um relato não técnico, produz um dos trabalhos teórico e prático mais bem-sucedidos da psicanálise, em seu estilo mais vivo e leve, pelas palavras do editor da tradução francesa. Em vários momentos da sua obra, Freud, defendeu a sua posição de que a psicanálise é um método que desde a sua origem se aventurou em um mundo novo e desconhecido até então. E que neste caminho quanto mais se (ele) avança (va) mais se afasta (va) da sua “ matriz ” neurológica. Em “A Questão da Análise Leiga” Freud deixa claras as diferenças entre as explicações fisiológicas e as psicológicas, afirmando inclusive que a psicologia da época, até então, ela mesma não havia sido capaz de explicações que não fossem da ordem do fisiológico! Como veria Freud o movimento atual de união da
Ousado de nossa parte atrevermo-nos a tal adivinhação, mas nem tanto se apenas nos basearmos nos seus próprios trabalhos. Esta posição faz-nos sentir um tanto quanto confortáveis para a empreitada. Inegavelmente quando Freud em 1900 escreve “A Interpretação dos Sonhos” e rompe com “O Projeto para uma Psicologia Científica” , seu ato, que dá origem ao nascimento da Psicanálise, encerra em si não uma atitude leviana, mas uma nova forma de pensar e uma escolha de vida. O nascimento da Psicanálise divide espaço em seu útero com um novo paradigma a ser vivenciado pela humanidade. Não haverá nos seus trabalhos posteriores nenhuma mistura dos antigos conceitos neurológicos, como por exemplo, aqueles apresentados no seu trabalho sobre a Afasia em 1891. A psicanálise sempre foi um estorvo ao estudo da medicina, desde os seus primórdios. O que querem agora os herdeiros da indiferença e da humilhação a que Freud foi submetido? É solicitação do desejo de Freud “ que a psicanálise não encontre seu último repouso em um livro de psiquiatria” , e afirmação sua “ que a medicina não tem direito a qualquer reivindicação histórica pela posse única da psicanálise” . A formação fisiológica é apresentada por Freud como oposta ao preparo para a formação psicanalítica. A atual proposta da neuropsicanálise parece completamente alheia a tudo isso. Uma verdadeira traição ao legado intelectual psicanalítico, a tudo o que a psicanálise se elevou acima da psicologia antiga. A qualquer um que entenda da psicanálise mais do que os seus conceitos teóricos desvinculados da sua dinâmica psíquica, vai parecer absurdo encontrar ID, EGO e SUPEREGO ou o Inconsciente dinâmico de Freud em pontos do cérebro. Parafraseando o psicanalista Jorge Forbes e o neurologista Daniele Riva em entrevista para o jornal A Folha de São Paulo: “Afinal de contas, por que os psicanalistas querem tanto ser cientistas? Que não se iludam! A neurociência é um Cavalo de Tróia que porta no seu ventre um projeto reducionista. Se ocorrer uma aproximação em alta escala, só restarão cacos psicanalíticos, no bucho de uma neurociência ideologizada. Neurologistas e psicanalistas melhor fazem refinando suas diferenças e se surpreendendo mutuamente. ” Sim, a psicanálise décadas depois de sua perseguição e desmerecimento pela classe médica, segue hoje ainda ameaçada, desta vez por um perigo maior, visto que este não “ cospe” ante a sua presença, mas lhe sorri de braços abertos.
Atualidade é a definição do momento presente, nela estamos vivenciando os efeitos da pandemia do Coronavirus, que trouxe restrições necessárias e tantas mudanças de rotinas e de hábitos. Restrições de contato, de liberdade de ir e vir, convívio com o perigo e o medo. No IBCP, não foi diferente, muitos hábitos para o exercício da profissão de psicanalistas e para a formação de novos alunos foram mudados. No entanto, todos foram muito ágeis em se adaptar ao trabalho remoto, passando a atender os pacientes de forma não presencial, assim como continuando a oferecer cursos, palestras e workshops para psicanalistas e público em geral. E como toda época de crise, esse é um momento também para as pessoas se reinventarem e inovarem seus hábitos e procedimentos. E, assim, com a intenção de ‘fazer de um limão uma limonada” , o IBCP tem criado novas ferramentas de trabalho. Uma das mais criativas foi a Mentoria. Com o objetivo de manter, ainda que a distância, o contato que era rotineiro na fase presencial – alunos, professores, psicanalistas e pacientes transitando pelos espaços e corredores – foram criados grupos de atendimento aos alunos. Dois a três psicanalistas do IBCP recebem os alunos de um determinado semestre para troca de conhecimentos, ideias, sugestões e análises. Durante uma hora, a conversa é encaminhada para perguntas trazidas pelos estudantes e todos participam, conforme sua vontade. De forma diferente das aulas, conduzidas por um professor, as Mentorias se desenvolvem de maneira informal e próxima, criando um verdadeiro interesse nessa troca. E, muito importante – a presença não é obrigatória, pois é um bônus que o Instituto oferece aos alunos. Inicialmente esse atendimento foi apresentado às novas turmas do curso on-line mas, logo depois, as turmas dos demais semestres pediram para também usufruírem desse recurso. Hoje, os quatro primeiros semestres estão sendo atendidos. Apenas o 5º semestre, em razão do estágio, não dispõe de Mentoria. Mas, caso queiram, os alunos podem participar das reuniões dos semestres anteriores. Aliás, isso vem acontecendo bastante – estudantes participando das Mentorias das turmas mais recentes. O sucesso das reuniões tem sido grande e elas têm cumprido seu objetivo de conectar psicanalistas e alunos que desfrutam aí de uma oportunidade para se expressarem, trocarem ideias e estarem mais próximos dos profissionais do IBCP. Vamos aproveitar este espaço para divulgar-mos os seus horários:
1º Semestre
2º Semestre
3º Semestre
4º Semestre
Terças- das 9h às 10h
Quartas- das 18h às 19h
Sextas- das 17h às 18h
Terças- das 17h às 18h
Segundas- das 18h às 19h Eduardo Silva e Leandro Stocco
Juliana Campos e Márcio Ferreira Elizabeth Ruivo, Maria Inês Matos e Sônia Paschoalique
Maria Cezar Queiroz e Maria Inês Mattos
Mário Cézar Queiros e Eduardo Silva
GRUPO LUGAR DE FALA: O FEMININO EM ANÁLISE
s proponentes acreditam que as mulheres e os homens têm interesse em falar sobre as questões ligadas às A mulheres, especialmente nessa -pande mia em que a vida familiar e domés-
tica adquire maior importância e enfrenta grandes desafios de relacionamento e também econômicos. Por
outro lado esse, “Lugar de Fala ” deve se transformar em importante veículo de divulgação da psicanálise.
Pretende-se que o feminino seja entendido não como gênero, anatomia ou sexualidade (embora possam abordar essas questões), mas como um arquétipo elaborado ao longo dos séculos, em diferentes culturas, mobilizador de comportamentos, sentimentos e atitudes, que estão presentes em mulheres e também em homens. Através de mitos, lendas,
histórias e estudos de casos clínicos, pretende abordar temas como acolhimento,
tratamento, nutrição, maternidade, in-
tuição, perspicácia, sensibilidade, soli-
dariedade, competitividade,
amorosidade, inveja. Assim, o Grupo pretende criar um ambiente propício à troca de experiências e à conscientização que permita o reconhecimento e aceitação de uma identidade ou instância psíquica feminina.