Revista Inversos
- Expressando ideias e sentimentos.
Edição: Ano I - Volume I – Número 1 - Agosto/2017 Periodicidade da publicação: trimestral Idioma: Português (Brasil) Editor-chefe: Maroel da Silva Bispo Conselho Editorial: Maroel da Silva Bispo, Adauto Borges de Barros e Antonio Josman Lima de Brito. Colunistas: André Flores, Cathy Arouca e Valéria Pisauro. Revisão: Os textos passaram por revisão feita pelos próprios autores. Capa: Artista plástica Simone S. Rasslan - contato: simonesrasslan@gmail.com Site da revista: http://revistainversos.blogspot.com.br/ Facebook: https://www.facebook.com/Revista-Literária-Inversos Contato: e-mail: revistainversos@gmail.com Autor Corporativo: Maroel da Silva Bispo - Divisão Cultural da Associação Batista de Ação Social, situada à Rua “A”, nº 5, Conjunto Feira VI, bairro Campo Limpo, CEP 44034205, Feira de Santana-BA. Distribuição: Distribuída online e no formato PDF, gratuitamente, no site da revista, através da plataforma Issuu. A reprodução dos textos é permitida, desde que sejam atribuídos os créditos aos respectivos autores, e que seja citada a fonte.
Revista Inversos - Ano I - Volume I - n° 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil
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Olá querido (a) leitor (a), tudo bem? É com imensa alegria que apresentamos a todos vocês, a primeira edição da Revista Inversos. Costurada por várias mãos e composta por muitos daqueles que fazem das letras o seu pão, da poesia seus lençóis e da Literatura em geral, os travesseiros onde reclinam suas cabeças, essa revista surge para somar com aquelas que já estão postas, na nobre missão de produzir, por intermédio da Internet, literatura de qualidade, de forma simples e autoral. A ideia de criar a Revista Inversos nasceu logo após termos feito uma Coletânea com os selecionados do 1º Concurso de Poesias Poeta Adauto Borges, organizado em maio/2016, pela Divisão Cultural da Associação Batista de Ação Social, sediada em Feira de Santana-BA. Esse Concurso, idealizado pelo poeta Maroel Bispo, presidente da ABAS, como forma de fomentar a Literatura, dar visibilidade a novos poetas e homenagear em vida o grande poeta, cordelista e escritor Adauto Borges, foi coroado de êxito, tendo alcançado 230 poetas, com mais de 400 textos, de vários estados do Brasil, como Rio Grande do Sul, Ceará, Pernambuco, São Paulo e para nossa surpresa, 4 participantes do exterior, sendo 2 de Portugal, um do Japão e 1 dos Estados Unidos. Publicação digital, online e no formato PDF, de caráter gratuito, a revista oportuniza o espaço a todos os amantes das Letras, mas especialmente àqueles que não encontram guarida nas grandes revistas tradicionais de Literatura. Agradecemos seu carinho e seu incentivo nesse início de caminhada. Forte abraço a todos vocês e vamos juntos, nessa viagem encantadora da leitura!
Maroel Bispo – Editor-chefe
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Expediente Editorial Sumário Quem sou nesse abandono – Josman Lima – Feira de Santana-BA Laços – André Flores – Portão – RS Delírio – Cathy Arouca – Feira de Santana – BA Perdido o lenho – Valéria Pisauro – Campinas-SP Plantonismo computadorizado Abstraído de mim – Maroel Bispo – Feira de Santana-BA Poema da apóstrofe – Adauto Borges – Feira de Santana-BA Poesias selecionadas À deriva – Rafael Duarte Caputo - Curitiba-PR Após a chuva os pássaros cantam – Jessyca Santiago – Belford Roxo-RJ Eu sou assim – Ronaldo Dória dos Santos – Sepetiba – RJ Mexeu com uma, mexeu com todas – Anderson Mariano – Salvador-BA Afecção - Lívia Maria Costa Sousa – Salvador-BA Ponto final - Rodrigo Duhau - Brasília-DF Acendam a luz do lampião - Marcelo Vinicius – Feira de Santana-BA Pintura de Simone Rasslan - Feira de Santana-BA Trovas diversas a Jesus Cristo - Paulo Caruso - Rio de Janeiro-RJ O sertão e o vaqueiro - Francisco Bandeira Lima Junior – Fortaleza-CE Trovoadas de Lava Jato – Caroline Cristina Pinto Souza – Botucatu-SP Primeiras Palavras – Samadhi Gil Carneiro Pimentel – Salvador-BA Da ordem que me fere é preciso – Danielle C. Vilas Bôas – Poços de Caldas-MG
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Pintura de Simone Rasslan - Feira de Santana-BA Perfeição - Erivania dos Santos Fernandes – Feira de Santana-BA Com os olhos do meu pai - Rosana de Hollebem – Ponta Grossa-PR Prece acional – Tiago Dalperio de Andrade – Volta Redonda-RJ Boneco de palha - Natália Scavasse Pacheco Silva – Limeira-SP Contos curtos Moléstia - Ricardo Messias Marques – Ribeirão Preto-SP O amor - Silvana Maria Rocha de Oliveira – Serra-ES O dia das cores - Alberto Arecchi – Pavia – Itália Pintura de Simone Rasslan - Feira de Santana-BA Os dez sem rima - Leandro Marçal Pereira - São Vicente-SP O quarto livro – Redivaldo Ribeiro – Feira de Santana-BA A escolha de Maria - Suramy Dos Santos Pedrosa Ribeiro Guedes – Niterói-RJ Pintura de Simone Rasslan - Feira de Santana-BA Perderam-se - Helena Isabel da Cruz Durães – Lisboa – Portugal Labirinto - Antonia Gilda Sena Gomes - Feira de Santana-BA Paralisia - Leonardo Ribeiro Mendes Minha amiga Jandira – Marcelo de Oliveira Souza - Salvador-BA O comandante da revolução - Heráclito Júlio Carvalho dos Santos – Teresina-PI Pintura de Simone Rasslan - Feira de Santana-BA Trágico amor – Francisco Renato da Silva Pires – Massapê-CE Baixo calão – Diego da Silva Teles dos Santos – Ilhéus-BA Perdas e danos - Edweine Loureiro da Silva – Saitama – Japão
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Quem sou eu nesse abandono? (Josman Lima – Feira de Santana-BA)
De pés no chão. Desnudo E o cabelo embaraçado. Sob a sombra de galhos secos Vivo sem futuro, sem passado. Busco alimento na penca de banana Seu leite corta minha língua. O lábio já é cortado. Abraçado ao gato, busco afeto, Minha carência me impede de soltar. Um homem grosseiro e pacato me dá teto. Me acompanha dia-a-dia, mas carinho não sabe dar.
Militar da reserva, Graduado em Produção e Multimídia Digital, UNISUL, Santa Catarina, Especialista em Gestão de Pessoas e RH e Graduando em Psicologia - FTC – Feira de Santana-BA. Autor do Livro Pintando a Vida (2011), narração romanceada, Categoria Devocional; Cúmplices do Amor, Romance, Categoria Relacionamento (2014), A turma do Bolota e Quinzinho (2015), Categoria Infantil - refletindo sobre o Bullying. É Artista Plástico, Fotógrafo, membro da Academia de Cultura da Bahia (ACB), da Academia de Letras e Artes de Feira de Santana (ALAFS) e da Academia Internacional de Letras, Ciências e Artes da Argentina.
No fogão, a lenha com suas brasas acesas, ardentes... No chão, a palha seca que me aquece, Quando o gato me abandona, Some... Me esquece... Que contraste. Que mundo cão. O perigo me ronda, sou ninguém... E até sentado no chão. Com o gato na mão! Sem futuro, sem passado... Apenas hoje, com o presente sendo roubado, Queria viver. Ser alguém. Ser cidadão.
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Poesia Laços (André Flores - Portão – RS) Homenagem aos nossos irmãos portugueses
As caravelas atracaram no Porto Seguro Trazendo consigo um povo gentil Na bagagem veio à esperança Traduzida nos versos de Camões.
De herança nos deixaram seus costumes Uma língua de rara beleza A poesia das naus delirantes de outrora A arquitetura barroca estampada nas cidades.
Dos lindos fados as serestas Madrugadas românticas Onde os enamorados se beijavam Sob a luz do luar.
De mata virgem transformou-se em nação Monarquia virou república Imperialismo dando lugar à democracia Da escravidão a abolição.
Um País se faz pela sua história Pelas suas raízes e laços Pelo legado deixado ao seu povo Como forma de dizer: estes somos nós. Revista Inversos - Ano I - Volume I - n° 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil
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Muito do que carregamos na alma Deve-se ao povo Lusitano Homens e mulheres de valor Com muita dor deixaram seu País Para iniciar uma nova vida.
Hoje sabemos que: Muito da nossa cultura Dos nossos costumes Da nossa literatura e poesia Tem um pouco daqueles que um dia Atravessaram o oceano Em busca de uma nova vida. André Flores tem 42 anos, natural de Novo Hamburgo–RS, residente da Cidade de Portão–RS. Casado com Cristiane Kochenborger, tem uma filha que se chama Letícia Kochenborger Flores. Filho de Antônio da Silva Flores e Teresinha Beatriz Flores. Premiado em Concurso realizado pela Academia de Letras e Artes de Porto Alegre e Expresso das Letras, em Agosto em 2011. Premiado em Concursos realizados no estado do Rio de Janeiro (Oliveira Caruso) em: 2013, 2014, 2015 e 2016 assim como nos concursos Artífices da Poesia, da Editora A.R Publisher em 2016, Ancguedes 2016, Mérito Cultural da FECI, (Fundação Educacional do Sport Club Internacional), em 2016, Concurso de Poesias Poeta Adauto Borges/ABAS, em Feira de Santana-BA (Março/2017) entre outros. Atua ativamente em blogs e jornais literários (Cabeça Ativa – RJ, Poemas do Brasil - SE e Recanto das Letras - SP). Participou de uma dezena de antologias no Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Sergipe, 08 e-books, onde em três oportunidades escreveu o prefácio. Atualmente escreve para as revista literária de Portugal (PORTAL CEN), como também para a (Logus da Fênix). É correspondente do Estado do Rio Grande do Sul da revista e grupo literária eletrônica Poemas do Brasil, colunista da Revista Literária Inversos, em Feira de Santana - BA. Participação em antologias no estado de Sergipe (Poemas do Brasil); lançou o seu livro Aprendiz de Poeta, Simplesmente uma História em Maio de 2017.
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Delírio (Cathy Arouca – Feira de Santana-BA) Inquieta, suspiro. Dizem que as vezes eu piro.
Catharina Figueiredo da Silva Arouca, natural de Feira de Santana, nascida e criada no meio das letras. Acadêmica de jornalismo na UFRB, aspirante a poeta e missionária do amor. Dona da página @cathyaroucapoesia no instagram e facebook, além do blog www.cathyarouca.tumblr.com
Mal sabem que vivo em constante cegueira, tapo os olhos por qualquer dita besteira. Se foi o colírio, chegaram as olheiras, o olhar turva e a menina sorrateira sorri mesmo perdida na escuridão do amor, Dizem que ele é cego que foi por ele o prego nas mãos de Jesus. Não serei eu a carregar a cruz de discordar, mas se me permitem falar o mal do amor é nos fazer enxergar onde só queremos ver, viver.
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Perdido o lenho (Valéria Pisauro – Campinas-SP)
Voa atento o tempo, perdido o lenho, Longe das horas aos quatro ventos. Tece ao longe o pensamento, Penitente voraz, oriente do presente Colheita de breves enganos, Sem plano desafia a sorte, Sem razão nem norte, desnuda a morte, Em desvario com alma cativa Arde ou treme de frio, Afaga a vida com as mãos. Mãos que tecem sonhos incertos Sem causa, abarcam, apertam, Podam desenganos e acariciam o irmão. Mãos calejadas das enxadas, Mãos que não dizem nada, Mãos apertadas, outras vazias, Cruzadas, perdidas, solitárias. Mãos do anzol, da terra, do sol, Mãos de cimentos, mãos aos ventos, Outras que afagam o chão. Mãos que querem parar o movimento, Mãos que geram sentimentos, Mãos que carregam uma arma, Outras que oferecem um pão. Mãos que criam, que guiam, Que se erguem em prece ao céu E imploram por salvação. Mãos que aplaudem ao léu E outras que tocam acordes De uma canção!
Valéria Pisauro nasceu em Campinas, SP. Possui vários trabalhos literários editados e poemas musicados, tendo a felicidade de compor (como letrista) e gravar com parceiros brilhantes, inspirados e renomados compositores de todo o país. Os requintes de suas letras bem elaboradas são fruto de pesquisas, onde a variação de estilos traduz a força e a leveza de um trabalho sofisticamente inovador. Membro efetivo da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, Cadeira nº 62; Membro Nacional Vitalício da Academia de Letras do Brasil/ALB/Piracicaba-SP, Cadeira nº 31; do Portal do Poeta Brasileiro; do Clube Caiubi de Compositores e de grupos de estudos sobre a cultura nacional. Participa de certames culturais, de idôneas antologias poéticas e de reconhecidos festivais de música. Estas fantasias tomaram corpo em prosa, versos e rimas. Tornei-me professora de Literatura e História da Arte, Ativista Cultural, Poetisa, Contista, Cronista, Letrista Musical; hoje, traço minha travessia e sou feliz!
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Platonismo computadorizado (Sandro Penelú – Feira de Santana-BA)
Foi bom te reencontrar, Nesse "platonismo computadorizado"; Nesse "namoro" desencontrado... Foi angustiante e lindo... Alucinado, rasguei os "portais" e me vi, Estático, a contemplar teu sorriso perfeito, Encravado no monitor e te acariciei, Talvez até com mais carinho Que quando nos tocávamos às pressas... E, no teclado, Despenquei dos meus próprios olhos, Molhando uma letra... Sandro Penelú é poeta, músico, jornalista e professor. Publicou seus primeiros trabalhos nos jornais Informativo Cultural e Feira Hoje. Depois, chegou à publicação de sete livros de poesia: "FAZENDO POEMAS" – seu primeiro livro, lançado no ano de 1989, no qual se utiliza da metalinguagem, enfocando basicamente o seu próprio fazer poético. Há ainda, nesta obra, uma pequena tendência para o romantismo, coisa que Sandro Penelú viria a abandonar definitivamente no seu quinto livro, "ÊXODO DO PRETÉRITO". "ASTROS" - Publicado em 1990, traz uma linha poética inusitada e inovadora, com o poeta buscando inspiração para a sua poesia na vida afetiva e até sexual dos astros do Cosmos, uma forma ousada de fazer poesia, até então nunca utilizada pelos poetas. É um livro em que a metáfora atinge o seu ponto mais alto na linha poética de Sandro Penelú. "A POESIA ROMÂNTICA DE SANDRO PENELÚ" (1991) - Neste livro, Penelú retoma o romantismo incontido, sem, contudo, deixar de ter sempre os pés firmemente colados no chão. Os poemas seguem uma linha quase que autobiográfica, com o autor trabalhando imagens reais, dentro do plano do imaginário. "OLHOS DO UNIVERSO" (1992) - O Cosmos sempre trouxe grandes inspirações a este nosso poeta que, usando magistralmente a metáfora nesta obra, fez com que o Universo tenha, aos olhos do leitor, uma vida até então nunca imaginada. "ÊXODO DO PRETÉRITO" - Publicado nove anos depois, em 2001, traz o poeta muito mais amadurecido e seguro. Êxodo do Pretérito é um livro que insiste em dialogar com o leitor, que se irrita, emociona-se e até ri... Já na sua segunda edição, tem arrancado comentários positivos por parte de acadêmicos e professores de Literatura.
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Abstraído de mim (Maroel Bispo – Feira de Santana-BA)
Vestido de branco me fez vítima, E atravessei a rua vazia, deserta. Calado, sem palavras, Envolto nos descaminhos. Soneto da morte iniciado, Mas nunca concluso. Trágico encontro de almas, Almas errantes. Ela surgiu impaciente, Abraço fatal: a morte. Cadáver de mim, caído, Gélido corpo abatido. Morte cruel, Versos compostos de ais. Inundaram o corpo nú. Acolhido na pedra lavrada,
Maroel da Silva Bispo tem 52 anos de idade, é poeta e escritor, nascido em Feira de Santana-BA. Tem como paixão ler e escrever poesias, sendo admirador de Clarice Lispector. Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Nordeste; licenciado em Letras pela Faculdade de Tecnologia e Ciência e atualmente cursa Psicologia na Universidade Estadual de Feira de Santana-BA. É coautor do livro A cidade dos meus Sonhos. Obteve o 4º lugar no 1º Concurso Municipal de Poesias de Feira de Santana-BA. Foi selecionado para publicar seus textos poéticos em várias coletâneas, sendo uma organizada pela Prefeitura Municipal de Feira de Santana, em 2015 e outra pela Universidade Estadual de Feira de Santana, em 2016. Teve seus textos selecionados para diversas antologias pelo Brasil afora, como Revista Conciliação e Revista LiteraLivre. Foi organizador do 1º Concurso de Poesias Poeta Adauto Borges, de âmbito nacional, com mais de 260 poetas inscritos, realizado através da Divisão Cultural da Associação Batista de Ação Social, da qual é o presidente. É também, o fundador e editor-chefe da Revista Literária Inversos, periódico digital voltado para a Literatura em geral. Facebook: https://www.facebook.com/maroelbispo e-mail: psimaroelbispo@gmail.com
Estava ele ali, Abstraído de mim.
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O poema da apóstrofe (Adauto Borges – Feira de Santana-BA)
Céu, ó céu, se souberes, me responde. Onde está o meu amor, que foi embora? Deus, ó Deus, eu preciso saber onde É o caminho que me leva a ela agora! Sol, ó sol, tú que brilha no infinito, Dize-me onde eu posso ver meu bem. Lua, ó lua, com teu brilho tão bonito, Mostra-me onde ela se detém! Estrelas, ó estrelas tão distantes, Vós que mudais tanto de lugar, Dizei, com vossos olhos cintilantes,
Adauto Borges é um ilustre poeta de 72 anos, casado com Rita Borges e pai de quatro filhos. Escritor, compositor e cordelista, nascido na Fazenda Engenho, no Recôncavo baiano, onde, por influência do também poeta e charadista Camerino Borges de Barros, seu pai, começou a escrever estrofes dedicadas às coisas ligadas à vida rural. Autor de aproximadamente 1.200 poemas e 3.300 músicas de gêneros variados, já publicou 207 livros de cordel, entre os quais a Gramática Cordelizada, que conta com os volumes publicados pela Editora Todolivro e registra ainda 12 revistas em quadrinhos publicados pela Editora Pétala. Publicou em 25/03/2017 o Livro Figuras de estilo em prosa e versos.
Onde o meu amor posso encontrar!
Apóstrofe é a ação de virar-se. Proveniente do grego apostrophé, é uma figura com a qual é feita a invocação9 emotiva a pessoas ou coisas personificadas. Trata-se de uma figura semelhante à prosopopeia, muito usada pelos poetas e dramaturgos.
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À deriva (Rafael Duarte – Curitiba-PR)
Rafael Duarte Caputo nasceu em 16 de junho de 1977, no Rio de Janeiro,
Sem o Norte que gostaria, Mais ao Sul do que imaginara. Um instante, um momento, Uma saudade cor de rosa dos ventos.
mas vive e trabalha em Curitiba, Paraná. É professor de informática, administração
e
demais
disciplinas
preparatórias para concurso público. Ocupa
atualmente
o
cargo
de
Tempos perdidos em vários anseios.
coordenador
Tudo abstrato, nada concreto:
instituição de ensino particular. Possui
Tesouro perdido, enterrado, incompleto.
alguns poemas e contos já escritos.
Adição de incertezas, aflição de desejos.
Tamanha paixão pelo universo literário
Efêmera espera que me aborrece,
fez com que se tornasse, atualmente,
Me consome, me angustia, me enlouquece.
um acadêmico do curso de Letras.
Do baú das lembranças esquecidas
Considera-se um autor em início de
Vasculho em vão Palavras de alento. Dor e sofrer são alimentos da alma. De tempero: tomilho e tormento.
pedagógico
em
uma
carreira com a esperança de um dia ainda viver pura e simplesmente deste amor.
Naufragado ao passado, ancorado no tempo. Preciso fugir, navegar, correr, sair, escapar. Nada me resta senão atracar. Mas aonde? Estou fraco e abatido, cansado e iludido. Sonhando com a utopia de uma esperança fúnebre. Pulsos ilesos, pelo menos por enquanto. E se o infinito do horizonte não for suficiente? Navego há tempos num mar de dúvidas. Os remos já deixei para trás. À deriva me encontro: Pálido, enjoado, sujo salgado de lágrimas. Lamentando a boiar distante do cais Com vaga esperança de terra firme. Maldita pirata!
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Após a Chuva os Pássaros Cantam (Jessyca Santiago – Belford Roxo-RJ)
Gota de orvalho
Jessyca Santiago, Recife PE. Graduada em Letras pela UERJ, reside e trabalha como professora, tradutora e monitora no Rio de Janeiro. Ama Literatura e possui textos publicados em antologias e revistas literárias.
Escorre na folha Recria o céu Nada no mundo Traduz o silêncio De uma manhã de Inverno Quando pequena, queria saber porque Após a chuva os pássaros cantam… Mas deixo a questão pra quem não sabe Sentir. Quero o branco do Inverno O orvalho da madrugada O canto dos pássaros A força da chuva O sol. Quero eu também, Após a tempestade, Cantar.
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Eu sou assim (Ronaldo Dória – Sepetiba-Rio de Janeiro/RJ)
Sou como sou Gosto da verdade Sou confuso
Ronaldo Dória é carioca, casado, pai de três filhos. É professor de Matemática há muitos anos, o que não o impediu de se dedicar também às Letras. Publicou um poema na antologia do 4º Concurso SFX de Literatura 2016.
Não sei se fico, não sei se vou Gosto de todos e de tudo Faço da vida meu caminho Sou como o pássaro livre Minha lida encaro com carinho Sou como a chuva que chora e vive Gosto de amar sem maldades Sou dos que, quando ama, ama de verdade Fui feito para lutar e vencer Para sorrir, para chorar Vivo com vontade de viver Vivo para sentir e para amar Eu sou a vida de duas vidas Sou o sangue do meu sangue Sou parte da minha mãe querida Sou o fruto do amor de dois amantes Nasci para viver bem seja com que for Pois sou forte e cheio de encantos Meu caminho é feito de amor Meu nome é Ronaldo Dória dos Santos.
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Mexeu com uma, mexeu com todos (Anderson Mariano de Santana Santos – Salvador-BA)
Mexeu com uma, mexeu com todos Com todos os homens conscientes Que sabem que o lugar do machismo É na lata do lixo E apesar da mão estendida Entendem perfeitamente Que pra ser feminista É necessário uma vagina Mexeu com uma, mexeu com todos
Professor de redação, poeta, escritor e comunicólogo, Anderson Shon vive a pensar em textos, versos, ideias. Tem um livro publicado, Um Poeta Crônico, e outro no forno, Outro Poeta Crônico. Começou a escrever bem jovem, mas só foi pensar em virar escritor quando não aguentava mais perceber que seus escritos morriam em seus cadernos. Já participou de várias coletâneas de contos e poesias e agora evita comer alface no almoço, pois a hortaliça o deixa com sono, o impedindo de escrever pela tarde.
Com todos os homens pensantes Que nasceram de uma mãe E lembram de como o útero Era quentinho e aconchegante Levam esse pensamento adiante Não deixam a memória falhar Mexeu com uma, mexeu com todos Com todos os tais homens Que querem falar Querem ser ouvidos Querem estender o ombro amigo
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Afecção (Lívia Maria Costa Sousa – Salvador-BA) Após aquela “afecção”, ela era como árvores que crescem dentro da terra, Onde ramos, troncos e emoções reverberam nos seus subsolos... Dela, brotavam acordes, versos, dúvidas, excogitações, E estrelas a viam sempre insone e sem audíveis sons... Era árvore que vento não balançava, Solenemente silenciosa, incorruptível... Somente olhos não a veriam, eram preciso alma e coração... Ela não tinha o respaldo do porte, não ameaçava beijar o céu... Ela abraçava as entranhas da terra, no seu perene, mas emudecido, sentir... Quem silenciasse captaria seu insistente olhar, seu fascínio vestido em pétalas... Contidamente transbordava poesia no criptograma de seus semifeitos, embora sua covarde e indevassável discrição... A “afecção” frutesceu-se diante daquele grave encantamento que nunca, sequer, foi notado, sentido a sós... Robusteceu-se afetada pelo amor... sim, amor. Solo e subsolo não comportaram o arroubo daquela impetuosa emoção... A árvore então rompeu-se dilacerando a terra, alçando ousado voo para o céu, batizando-se garça, banhando-se em rio... Seu silêncio, por aquele instante, fissurou-se em catarse, e deu-se a Revelação, ecoaram-se as sílabas... Não importa, porém, o gigantismo da árvore, quando no ato de seu esplendor, no acume de sua coragem, no clímax dos vocábulos banhados de sentir, sejam devolvidos em retribuição substantivos gélidos, incólumes, impávidos... A árvore não precisa de ajuda no segredo da fotossíntese. É preciso afago, não consolo. Afeto, sem dor.
Lívia Maria Costa Sousa nasceu em Salvador (Bahia), em 24 de maio de 1992. É graduada em Letras pela Universidade do Estado da Bahia e Mestre em Literatura e Cultura pela Universidade Federal da Bahia, cursos esses que revelam suas tão constantes afeições. Lívia aprecia e escreve poesias desde a infância, quando decorava e imitava os poetas que mais lhe tocavam o sentimento. Leitora fecunda e insistente, enlevou-se muito cedo ao ambiente da literatura, o que instigou esses embriões líricos que ora se apresentam. A sensibilidade revelada em suas poesias muito chamou atenção de professores, amigos e familiares, o que motivou a sua participação nesta antologia.
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Ponto-final (Rodrigo Duhau - Brasília-DF)
Histórias para sorrir
Ou foi, é e será apenas um ensaio?
Para sentir
Sua história é uma interrogação?
Histórias para amar
Uma exclamação?
Para chorar
Abra parênteses e me dê um sinal
Histórias para repousar
Quero ouvir sua história
Para ir e vir
Antes do ponto final.
E até para dormir Histórias para se assustar Para suar Histórias para pensar Histórias para se indignar
l
Para nem ligar Apenas para escutar Histórias para se emocionar Para repetir Histórias para lá Para aqui e ali Histórias para ensinar, para aprender Histórias para viver Histórias para crer e descrer Histórias para irritar Ou simplesmente provocar Histórias para acalmar Qual é a sua história? Um romance? Um conto? Uma poesia? Uma estrofe?
Sou jornalista, historiador e assessor de comunicação da Agência Nacional de Transportes Aquaviários há mais de dez anos. Autor do livro Luz, câmera, repressão, lançado em 2015.
Um verso? Revista Inversos - Ano I - Volume I - n° 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil
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Acendam a luz do lampião (Marcelo Vinicius Miranda Barros)
No sertão ainda há luz do lampião Que distante parece o cuspe do dragão Queimando todo o sertão Magoando a plantação Chora o boi magro, o milho e o feijão
Nos jogos de azar, então Plantam a sorte Cruzando os dedos na produção
Graduando em Psicologia pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Fez parte do Grupo de Estudos em Filosofia da Arte a respeito do filósofo Arthur Danto, na UEFS, com ênfase em filosofia da literatura, em especial nas obras literárias do escritor Dostoiévski. Foi bolsista de extensão PROBIC/UEFS do Projeto de Cinema: Subjetividade, Cultura e Poder, com plano de trabalho “os escritores Kafka e Dostoiévski: um olhar sócio, político e cultural do século XXI nas telas do cinema”. É autor do romance "Minha Querida Aline" (Editora Multifoco).
Este é o meu nordeste, meio norte... E uma sub-região
Nas ruas secas, os vagalumes... Fingindo serem postes de néon Iluminando os pés rachados... Que correm em busca do que é bom Esse é o meu sertão...
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Simone S. Rasslan, artista plástica, artesã e figurinista. Seus trabalhos artísticos têm como características as cores fortes, o sagrado feminino, a brasilidade, a natureza e o invisível que há entre nós e o invisível que há entre nós e o inexplicável. – contatos: simonesrasslan@gmail.com; celular: (75) 98122-8025; http://www.instagram.com/samaricaartes/ - Obs.: Nessa 1ª edição, constam ainda mais quatro trabalhos lindíssimos da artista. Revista Inversos - Ano I - Volume I - n° 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil
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Trovas diversas a Jesus Cristo
Paulo Roberto de Oliveira (Paulo Roberto de Oliveira Caruso–Rio de Janeiro-RJ) Caruso é carioca nascido a 19 de julho de 1975. Sempre incentivado nos estudos por suas amadas mãe (Eunice) e O teu guia é Jesus Cristo? irmã (Fabiana), depois de Coincidência! O meu também! casado viu tal incentivo partir também de sua igualmente No nosso amor temos visto amada esposa Mônica. Servidor público do estado ser derramado o Seu bem! do Rio de Janeiro, administrador e advogado formado pela UFF (ambas as Nossa mais perfeita obra vezes), atualmente cursa foi deixada por Jesus. Letras na mesma universidade. É o atual Nem a peçonhenta cobra Presidente da Academia conseguiu tirar-lhe a luz! Brasileira de Trova e membro de outras casas literárias. O teu guia é Jesus Cristo? Coincidência! O meu também! Preguemos o bem! Insisto! Não temeremos o além!
Vivamos com humildade! – Jesus Cristo nos falou. A semente da bondade foi a que Ele mais plantou.
Redentor é o nosso Cristo, repleto de doce amor. Pelos bons Ele é benquisto, Em gratidão e em fervor.
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O Sertão e o Vaqueiro (Francisco Bandeira Lima Junior – Fortaleza - CE)
Paraíso sofrido e castigado, Porém belo e divino, com certeza! Mesmo o chão do riacho esturricado
Poeta Cordelista e Sonetista, membro do Clube da Viola (Fortaleza- CE) e do Grupo Cordel Improvisado (OlindaPE),Finalista e mencionado honrosamente em vários concursos literários pelo Brasil. Autor de 15 cordéis e de mais de 300 sonetos.
Conseguimos ainda ver riqueza.
Quando chove é tão forte a correnteza Que a barragem se rompe, lado a lado! Juazeiro (um guerreiro esverdeado), Nem a seca destrói sua beleza.
O Melão Caetano enfeita a cerca. Para que o seu gado não se perca, Um chocalho, o vaqueiro dependura,
Mas fugindo, também não tem problema, Se esquivando de ponta de Jurema Vai buscá-lo aboiando à toda altura!
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Trovoadas de Lava a Jato (Caroline Cristina Pinto Souza – Botucatu-SP)
Vasto corrupto casulo Retém corrosivos juízos Em contraditórios pisos Vertiginosa articulo: "Fartos numos em abaúlo E os cofres públicos lisos Assaltam nossos sorrisos Bilhões desviados", calculo. Estádios - investimentos Hospitais - só sofrimento Berrante dicotomia. Choque de prioridade, Displicente humanidade, Nimbosa paralisia!
Garota sedenta pela literatura, a paixão magnética pelo mundo linguístico contribuiu para ser gratificada em instituições de ensino em diversas categorias tais quais: IIIº pódio no XIIIº CLICO (Concurso Literário Interno do Colégio Objetivo) no qual engendrou uma narrativa lidando com a sustentabilidade do globo terrestre. Ganhadora de Melhor Conto tratando das transformações urbanas ocorridas no início do século XX e Melhor Roteiro de um curta - metragem vanguardista no Liceu de Artes de Ofícios de São Paulo, em seu último ano do colegial. Articula bem com as metrificações e rimas, sendo aclamada no ano de 2016 como vencedora do 32º Festival Poético de Cornélio Procópio e do 16º Concurso de Poesias da CNEC Capivari, ambos conquistados pela construção de sonetos feministas. Em 2017, atingiu outro patamar: se classificou no Prêmio Poesia Livre e Sarau Brasil - ambos promovidos pela Editora Vivara Nacional, superando mais de 3000 concorrentes em cada um deles para ter seus versos publicados nessas duas Antologias Poéticas. Cursa o segundo ano de Ciências Biomédicas na Unesp Botucatu, reservando uma porção de seu tempo livre para expor no papel suas perspectivas futurísticas, opiniões acerca da contemporaneidade e devaneios semânticos.
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Primeiras Palavras (Samadhi Gil – Salvador-BA)
Para Ian Gil Filho meu, perdoe-me por te retirar da eternidade azul de não ser, Do mais plácido sossego, do universo de infinita paz, da mais inocente indiferença. Agora venha comigo, de mãos dadas, diluir-se no pó do revolto e brilhante tempo. Não tenha medo, consolarei cada átimo de inquietude do seu despertar. Jamais hesitarei, pois suas lágrimas são lâminas que cortam minha alma, Movem-me como gladiador em última batalha – a fim de superá-la, por você, filho meu. E cada sorriso, cada sono doce, cada momento seguro e feliz será alimento, luz, elixir. Venha comigo, venha ver, que aqui neste mundo também tem o azul, O azul do mar, o azul do céu, o azul das possibilidades que se abrem a cada passo que se dá, Vindo da sua concepção como rompante de alegria, a se renovar sempre a cada Tristeza, Até a tristeza do esquecimento supremo, o sopro, o avesso, o espelho nublado da vida. Esta coisa pujante, pulsante, vibrante, muito mais que azul, sua, multicolorida.
Samadhi Gil, o pai de Ian Gil, nasceu em Salvador e iniciou a juventude no bairro de Itapuã, onde morou até se mudar para Feira de Santana. Em Feira, viveu uma década, militou nos movimentos estudantil e social, formou-se bacharel e licenciado em Ciências Biológicas e mestre em Ciências Ambientais na UEFS. Atualmente é doutorando em Ensino, Filosofia e História das Ciências pela UFBA e UEFS, residindo novamente na capital. A maior parte de seus escritos são acadêmicos. Os poemas, escreve de forma casual, descomprometida e quase sempre espontânea. Resiste a publicá-los, tendo publicado apenas quatro até agora. Foi um dos vencedores no I Concurso Municipal de Poesia de Feira de Santana.
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Da ordem que me fere e preciso (Danielle C. Vilas Bôas – Poços de Caldas-MG)
Óh afiado punhal cravado em meu peito Que há séculos fere-me e sangra-me no leito Cobrando-me a ordem das coisas O inadiável arranjo em mim
Eu, que de tão indócil carreguei tempestades
Nascida em Poços de Caldas, sul de Minas Gerais, no ano de 1984. Descobriu ainda na escola o gosto pela leitura e pela escrita, mas veio a dedicar-se a poesia recentemente, em meados de 2016, quando passou a integrar um grupo artístico. Iniciou sua participação em diversos concursos literários em 2017. Não possui ainda nenhum trabalho publicado.
De tantos escândalos, fiz-me em verdades Nuas e intrépidas verdades sem fim
Fui o berço da discórdia descabida Em meu centro e tangências outras Exausto da luta, deixei-me ferir
Ainda sinto o cheiro quente do sangue fresco e hodierno Gravado neste gládio em meu peito enterrado Lê-se com clareza: Equilíbrio e Disciplina
É que não curei-me da térrea loucura Sou inquietação ainda mundana e pura Ah... As paixões meramente profanas: Sim eu as quero! Ainda que em agrura!
Por mais me fira a espada aguda Que me corta e finca a cada nova flama Deixa-a cravada ainda, enquanto sangro
Pois que ao lembrar-me do peso e efeito Opõe-se ao impulso entorpecido no peito À gélida lâmina
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Perfeição (Erivania dos Santos Fernandes – Feira de Santana-BA)
Eu encontrei a perfeita melodia, Apenas ouça e siga meu coração Eu encontrei a doce canção da manhã, Quando me despertei em seu olhar O vento do amor, Tornou a brisa da aurora Mais harmoniosa Eu não entendi Até encontrar-me em ti Meu anjo abraça-me Até o calor aquecer o meu peito Seu coração é tudo que tenho Seus olhos são os faróis do meu amanhã A melodia do amor guia nossos passos, Há uma canção tocada pelos anjos, Para nós esta noite Ela ensina meus braços a bailar E meu amanhã, a amar-te um pouco mais Descalços sobre as aguas deste mar Viajo ao porto do amor, Navegando pelo cais. Revista Inversos - Ano I - Volume I - n° 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil
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- Expressando ideias e sentimentos.
Do seu olhar, onde o meu coração Fascinado atracou Eu encontrei a flor Mais forte deste jardim O pássaro que me ensinou A planar sobre os céus Me ensinando um amor além dos sonhos, Quando me deu um novo lar Ao me entregar seu coração Eu encontrei um amor, Para carregar mais que as expectativas Um amor que carrega perfeição O relógio está batendo, estamos envelhecendo Mas para o amor, ainda somos crianças apaixonadas Me dê sua mão e sob a luz dos astros, Vamos contemplar um futuro Onde os sonhos não acabam Onde o amor é eternidade
Nascida em Feira de Santana, em 17 de novembro de 1992, conhecida como Luna Mia. É uma poetisa ligada ao amor e a sentimentos da existência humana e seus desejos e aspirações (acreditando sempre que o amor é o fascínio da alma). Pensando no amor como a essência da simplicidade humana. A presentasse na maioria das vezes como “amante da arte de viver e sonhar como um todo”, onde o sonhar leva as linhas imaginárias de um universo, onde o sonhador é o astro e o realizar, o seu céu. É uma poeta de completa sensibilidade, quando o verbo é amar.
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Com os olhos de meu pai
Rosana de Hollebem é paranaense e
(Rosana de Hollebem – Ponta Grossa-PR)
tem 54 anos. Publicitária, advogada e poeta, tem várias obras premiadas
Os descampados Verdes
em
concursos
nacionais
e
internacionais.
Imensos Solitários De gente ou de bicho.
O homem E seu pala E sua bota E seu lenço Vermelho Que voa ao vento sul.
O cavalo Negro E forte Que serve de abrigo e consolo Ao homem que enfrenta A solidão O frio E o vento.
Homem e cavalo invadem a paisagem, cavalgam sobre o verde e constroem a manhã.
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- Expressando ideias e sentimentos.
Prece Acional (Tiago Dalpério de Andrade – Volta Redonda-RJ)
Sou
um
peregrino
mineiro.
Nutricionista de 31 anos trabalha com adolescentes infratores em
Que eu te encontre em tudo
Barra Mansa e Volta Redonda e
Que eu fale a tua língua nos atos
penso que as letras e que os seus
Que eu aja com o calor do acalanto que recebo de ti
bailados em poesia, são chaves
Que eu transmita proporcionalmente
para a liberdade.
O que generosa tu me ofertas Que seja de mim Tudo para ti Que eu consiga reparar os meus tão repetidos erros Que te afastam do meu interior Que eu nunca duvide Da certeza de ser melhor contigo em tudo Suplico que eu viva no seu Ser E tu ó Paz Ó Paz Continue em mim
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- Expressando ideias e sentimentos.
Boneco de palha (Natália Scavasse Pacheco Silva – Limeira-SP)
Lá vem o boneco de palha Se o mandar sorrir Ele vai sorrir Mas se o mandar chorar Chorar ele não irá, lágrimas não tem Lá vem o boneco de palha Se o mandar falar Ele vai falar Mas se o mandar sentir Sentir ele não irá, coração ele não tem Lá vem o boneco de palha
Natália Scavasse Pacheco Silva, 21 anos, nascida no dia 30 de junho de 1996 em Limeira, onde reside atualmente com seus pais e irmã. Aos 13 anos escreveu seu primeiro poema que veio a tornar-se um caderno pessoal com mais de 200 poesias, participou e colaborou com as atividades culturais da escola, onde cursou parte do ensino fundamental II e médio. Apresentouse nos eventos poético da instituição declamando poesias de autores renomados no qual, em sua última participação e 12º Edição do evento, recebeu o convite da professora e coordenadora do evento para recitar poemas de sua autoria em conjunto com as obras de Vinicius de Morais no teatro da cidade, única edição do evento com obras de um autor não publicado. Atualmente é aluna do 5º Semestre de Letras Português na Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP.
Triste nunca foi Feliz nunca será Nunca amará Nunca se machucará Lá vai o boneco de palha Sorrir sem saber sorrir Andando sem saber andar Vivendo sem saber viver Humano nunca vai ser
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Autopsicografia Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro. O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração.
Fernando Pessoa (1888-1935) foi um poeta português, um dos mais importantes poetas da língua portuguesa. "Mensagem" foi um dos poucos livros de poesias publicado em vida. Fernando Pessoa exerceu diversas profissões, foi editor, astrólogo, publicitário, jornalista, empresário, crítico literário e crítico político. Fernando Pessoa (1888-1935) nasceu em Lisboa, Portugal, no dia 13 de junho de 1888. Ficou órfão de pai aos 5 anos de idade. Seu padastro era o comandante João Miguel Rosa, que foi nomeado cônsul de Portugal em Durban, na África do Sul. Acompanhando a família na África, Fernando recebeu educação inglesa. Estudou em colégio de freiras e na Durban High School. Em 1901 escreveu seus primeiros poemas em inglês. Em 1902 a família voltou para Lisboa. Em 1903 Fernando Pessoa retornou sozinho para a África do Sul, onde submeteu-se a uma seleção para a Universidade do Cabo da Boa Esperança. Em 1905 de volta à Lisboa, matriculou-se na Faculdade de Letras, onde cursou Filosofia. Em 1907 abandonou o curso. Em 1912 estreou como crítico literário. Fernando António Nogueira Pessoa morreu em Lisboa, Portugal, no dia 30 de novembro de 1935.
(fonte: http://www.citador.pt/poemas/autopsicografia-fernando-pessoa)
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Moléstia (Ricardo Messias Marques – Ribeirão Preto-SP)
Padecia de amor. Carecia de cuidados que os pais, a bem da verdade, nunca deixaram de dar. O pai, gerente de uma metalúrgica famosa, afrouxava a gravata e maldizia o namorado esquivo, jurava morte ao patife, mas jurava baixo, pra sua pequena não ouvir. A filha, tratada como princesa desde o nascimento, mantinha com o rapaz um relacionamento praticamente unilateral, mas seu comprometimento, de grande que era, valia para os dois. O rapaz, em longa viagem, aumentou involuntariamente sua indiferença e, com o tempo, a moça foi caindo doente: não comia, e, por tabela e por escolha, em poucos dias também já não saía da cama. Atenta, aprendera a reconhecer as palmas sonoras do carteiro que, diariamente, trazia as correspondências e as lançava portão adentro. Cambaleante, levantava da cama num pulo só, ralhava com a empregada, tropeçava na mãe e chegava às cartas primeiro. No alpendre, caçava com os olhos os telegramas que seriam do amado. Seriam, mas não eram. Mais uma vez, voltava ao quarto, para encerrar-se numa escuridão consciente e atenta. Às quinze horas de uma quarta-feira abafada e claustrofóbica, caíra sobre o negro assoalho da desdita. No dia seguinte, sob palmas desavisadas, o carteiro bradava por atenção. A carta do amado enfim chegava, mas ninguém podia recebê-la, por ocasião do velório.
Ricardo Messias Marques tem 28 anos e é natural de Piumhi-MG. É graduado em Administração de Empresas e Letras. Atualmente se dedica à pesquisa acadêmica e à produção literária. É poeta, contista e cronista.
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O amor (Silvana Maria Rocha de Oliveira – Serra-ES)
Um amor cura outro, diz o ditado popular. Na verdade, não existe cura para o mal de amor; mas existe paliativo. Uma espécie de anestésico, que alivia a dor e te deixa vivo até o próximo. Esse decantado elixir segue o princípio das vacinas, dos soros antiofídicos e da homeopatia: doses diluídas do próprio veneno. E foi assim que, sem conselho nem prescrição, eu tentei sobreviver a muitas paixões letais. Apenas me guiando pela sabedoria instintiva da autopreservação. Cedia pequenos cantos do coração a ocupantes provisórios, para dessa forma preservar intacto o santuário do amor frustrado. Mas cada um destes substitutos trouxe seus próprios e graves efeitos colaterais. Eu me debatia na armadilha do amor como uma rês atolada num pântano, que cada vez afunda mais. Era uma dor encadeada à outra, sem pausa nem atenuantes. Uma grande dor continuada e sólida. Como me foi possível sobreviver a tanta dor? Um dia entendi a grande falácia do amor romântico. Que eu havia erigido um ídolo de barro para adorar. Que em cada um desses personagens eu havia buscado o que não possuíam. Que havia confiado minha vida e minha segurança a mãos inimigas. Que eu havia prostituído o coração por míseras fantasias. O amor etéreo, puro e livre dos meus sonhos era uma armadilha traiçoeira. Minha romântica receita de vida se revelara uma piada. Minha alma peregrinava andrajosa, faminta e solitária. E eu era objeto de repulsa e escárnio do povaréu. O mundo não se compadece dos ingênuos. O mundo não perdoa quem está sozinho. Então eu me desprendi desses sonhos, como se arranca asas. Reconheci minha estupidez, minha falta de amor próprio. Entendi que minha enorme carência de infância fora o motivo da minha busca suicida. Que além de não solucioná-la, eu havia aprofundado a tragédia da minha vida até ao paroxismo.
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Busquei conforto na solidão. Encaminhei-me com meus próprios pés para o deserto. Haveria de descobrir sozinha o amor. Haveria de aprender a me amar, a me bastar, a me respeitar. E foi então que eu encontrei Deus. Eu não o busquei, ele veio até mim. Um Deus de feições humanas, do qual eu havia esquecido. Jesus olhou pra mim. Não tinha rosto, era a face de todos os homens. Mas seu olhar, ah! Nesse olhar eu vislumbrei um amor com o qual nunca havia sonhado. Amor em estado bruto. Ao mesmo tempo profundo e epidérmico, imponderável mas acessível. Um amor incondicional e inesgotável. Amor eterno, amor absoluto. O Amor. Ele disse apenas: Eu vou te trazer de volta! Apenas isto. Não sei o que significa exatamente. Pode ser muita coisa, ou nenhuma das coisas que eu já pensei. Só vou saber quando acontecer. Mas a partir daí eu tive uma certeza inquebrantável: um dia eu verei de novo aqueles olhos, e nunca mais vou estar longe deles.
Tenho 60 anos e sou cristã. Dois netos, duas filhas casadas. Uma delas é missionária da Jocum na China. Sou Orientadora Educacional aposentada da rede municipal de Vitória-ES. Trabalhei como assessora educacional no Departamento de Atenção ao Estudante da Universidade Federal do Espírito Santo. Sou especialista em Psicopedagogia, em Gerontologia Social, e estou concluindo uma especialização em Psicoterapia da Família. Estou começando a produzir alguma literatura, com meu tempo livre. Ensaios, ficção, poesia.
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O dia das cores (Alberto Arecchi – Pavia – Itália)
Um dia, todo o mundo se transformou, tomando sua cor complementar. O céu estava rosa-amarelo, as pessoas tinham a pele cianótica, o capim tinha virado vermelho. Dois ratos se olhavam, com medo de se ver com a pele quase fluorescente. Uma abelha voava louca, em listras brancas e roxas. A água no arrozal refletia a cor amarela do céu. Um sapo, vermelho como fogo, viu um mosquito, branco como a neve. Instintivamente, ele estendeu a língua e o capturou. O sabor do mosquito ainda era bom. Também o sapo vermelho, no entanto, apareceu como uma boa presa ao corvo branco, que desceu para devorá-lo. Nádia acordou com um sobressalto. Ela acabara de pintar seu quarto de cor- de-rosa, mas agora aparecia esverdeado, um pouco machucado, na luz da manhã. Esfregou os olhos, mas o efeito não mudou. Foi até a cozinha para fazer café e descobriu que todas as plantas tornaram-se vermelhas. A jarra de café era opaca, quase preta, enquanto o pó de café aparecia azulado. O gato de casa saltava de uma peça de mobiliário para a outra, em um ambiente estranho, como uma nave espacial. Em seguida, reconheceu o seu próprio cheiro, em um canto do tapete, e se acalmou. Começou a chover. As gotas eram como pequenos diamantes brilhantes, multifacetados. Onde batiam, deixavam a marca. Quebravam as janelas, os guarda-chuvas e os topos dos carros. Parecia o fim do mundo. Foi então que a agua do rio começou a colorir-se. Depois de muitas décadas de opressão praticada contra suas águas, decidiu tomar uma vingança. Alguns regatos tornaram-se amarelos, depois cor-de-rosa, depois vermelhos, enquanto outros optaram pelas esfumaturas verdes. As águas borbulhantes celebravam um carnaval de alegria e cores. Então, todos os córregos do rio mexeram-se concordando uma única cor azul, como o tinteiro para as canetas. Os pescadores estavam espantados, e ainda mais os peixes. O rio colorido foi bater contra as pilhas da ponte velha e todos foram para vê-lo.
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Os arabescos de água traçavam marcos na areia, como a escrita ágil de uma mão experiente. Os marcos formavam palavras. O rio esboçou mil, dez mil, cem mil vezes, as mesmas palavras, ao longo de seu caminho: “Basta! Chega! Basta!” Basta com a poluição? Com as guerras? As injustiças? Cada um interpretou a expressão como ele bem entendesse. Todos tinham algo para dizer: “Basta!” E, portanto, todos concordavam com o rio. Só não se virou a cor da lixeira, nas margens da cidade. Maciço, inchado, com mau cheiro, o aterro do lixo resistiu e não mudou de cor, mantendo-se escuro e sujo. Seu cheiro levantava-se no ar sombrio. Aqui vão desenvolver-se as escavações arqueológicas da posteridade, para reconstruir nossa civilização.
Alberto Arecchi é um arquiteto italiano, mora na cidade de Pavia. Tem uma longa experiência em projetos de cooperação para o desenvolvimento em vários países africanos (de 1975 a 1995), como professor e especialista em tecnologias apropriadas para o planejamento de habitat. Arecchi é presidente da Associação Cultural Liutprand, de Pavia, que edita estudos sobre a história local e as tradições, sem descurar as relações interculturais (site: www.liutprand.it). Escreve contos e poemas em diferentes línguas e tem participado a concursos literários, em italiano, português, espanhol e francês, ganhando prêmios, com novelas e poemas.
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- Expressando ideias e sentimentos. Os dez sem rima
(Leandro Marçal Pereira - São Vicente-SP) Do lado de dentro daquele muro alto e intimidador, o sol é anêmico para Mazinho. Do alto de seus pouco mais de 1,75m, sua voz já não ecoa como nas madrugadas na favela, quando rimava perto da fogueira um projeto de rap coberto pelo barulho das risadas paridas pelo queimar da maconha fumada e amada. Seu olhar é oco como fora o coração dos que o abandonaram e se diziam sua família. Família? Palavra desconhecida para quem se largou no mundo sem pai nem mãe. Agora está sem chão nem pão. Seu andar pouco chama atenção naquele lugar que só chama atenção dos que não dão atenção aos desvalidos e abandonados no caos se houver aquela tensão que queima colchões, destrói vidas e corrói almas. Ele já ignora qualquer sentido de alma, espírito, esperança. Já não sabe o que faz. Mazinho mal sabe o que fez. Foi parar ali depois de fumar sua maconha diária com um amigo, como de hábito. Seu hálito esquentava com a fumaça e ele se desesperou feito desgraça quando aqueles mesmos homens fardados de sempre – pois todos os fardados são gêmeos – o levou outra vez para aquele enorme castelo.
Trancafiado, abandonado, ressabiado. Pouco
abalado, pois seu destino sempre foi esse antidestino. Ele olha vazio, repensa o passado e não acredita em futuro. Os únicos contatos são os daqueles que pedem mais uma rima, por celular, enquanto fumam do lado de fora a mesma maconha que o prendeu na masmorra. E o diretor da cadeia de histórias e futuros dissera, no dia anterior, que sua ficha criminal consta que ele é foragido da polícia. Mesmo ali, presente fisicamente, Mazinho não sabe como provar que já cumpre sua pena. Seu olhar oco é aprisionado há dez meses. Dez meses sem aquelas rimas. Dez meses de um olhar cada vez mais vazio. Mazinho não rima com nada. Jornalista pela Universidade Santa Cecília em 2013, com passagens pelo Diário Lance! e Petrobras. Coautor da Pesquisa de Iniciação Científica “A cobertura da vida particular dos atletas nos noticiários esportivos brasileiros” e do documentário “Perifemídia: o som das ruas na TV”. Atua como freelance e é cronista semanal no portal Mais Santos e na plataforma TRENDR, além de uma colunista quinzenal no Ludopédio. Colaborador mensal na revista Subjetiva com a série "Imperceptível", com perfis de pessoas anônimas. Em 2017, concorre ao Prêmio SESC de Literatura com o romance "No caminho do nada".
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- Expressando ideias e sentimentos. O quarto livro
(Redivaldo Ribeiro – Feira de Santana-BA) Houve um certo homem, que, durante sete anos, ingeriu um cálice amargo de angustias e, como se não bastasse tamanha aflição, qual peregrino esquecido pelo tempo, deu asas à loucura, tornando-se escravo das fábulas que inventou. Numa terra estranha, em meio as voltas que o mundo dá, ele conheceu a dor e o sofrimento e, por um instante apenas, a vida lhe pareceu um sonho e nada mais... Então, subitamente tomou as armas que o destino lhe deu...e partiu. Na sua viagem ao desconhecido, pensou: - O que mais pode existir além da vã filosofia dos homens? Quem somos nós? O que somos nós? Viajantes do tempo, passageiros do universo? Na terra dos humanos, homens e máquinas confundem-se. Mas quem são os humanos deste século das ciências e do concreto armado? Que figuras angelical e monstruosa são os seres que se dizem humanos... não conhecem o ódio nem o amor...e tudo, tudo passa ante os seus olhos como folhas secas levadas ao vento. Na terra dos humanos, homens dilaceram homens por causa do poder! Capitalismo invade a crença do cidadão. E a vida vira conflitos! Vida! De que vale a vida? De que vale a vida?! Se tudo passa como nuvens? De que vale a vida, se nada é nosso e nem mesmo as palavras nos pertence?!De que vale a vida se a cada segundo caminhamos para o infinito?! Aquele homem questionara-se com quem carregara os erros da raça humana. Cansado de tudo e de todos, chorou amargamente os limites do seu ser, jugando-se ser ele, o pior dos mortais. Mas, a pesar dos pesares, refletindo em desencanto continuou a sua jornada em meio à multidão, vagando sobre às órbitas do pensar.
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- Expressando ideias e sentimentos.
- Sim! A vida vale... o preço que se paga pelo que se quer, pelo que se tem, pelo que se deseja, pelo que se busca, pelo que se acredita. Sim! a vida é feita de interesses, pensou profundamente. Se a vida é feita de interesses, certamente, o que mais interessa a vida, é a razão do próprio interesse, concluiu. Por haver versado tantas incógnitas no mar da imperfeição, aquele homem encontrou o sentido da vida, quando decidira escutar a sua voz interior. E, esta voz, em extremo retorno, lhe trouxera as respostas que há muito estivera a buscar em outras fontes. Naquela manha, ele caminhou entre as árvores, onde havia um lago tranquilo, deitou-se à margem da alma calma, adormeceu, e quando acordou estava sobre as teclas de um computador. Levantou os braços em direção do horizonte com a estranheza de quem ouvira a voz cortante daquele que se oculta no silêncio do Cosmos. Em sua cabeça um diadema. A frase que o despertou para a vida: O amor é a razão de todas as coisas.
Nascido em 13 de julho de 1964. Radicado em Feira de Santana há mais de três décadas. Graduado em Pedagogia e pós-graduado em Arte e Educação. O educador e ativista cultural Redivaldo Ribeiro é autor das obras literárias: Asas de Cristal (1988), editora independente; Flor Paixão (1989), pela Fundação Cultural FSA e Natureza fugaz (2000), pela Imprensa Gráfica Universitária. Tem obras traduzidas em mais de um idioma. Como ilustrador, possui mais de vinte livros publicados. Dentre as suas atuações estão exposições, conferências, palestras, musicais, filmes, documentários, coletâneas, radiofonia e teledramaturgia. Também é incentivador da Fundação dos Direitos sociais; líder do Grupo Teatral Renascer e outros. Tem em pauta o Projeto de Educação, educação, leitura e desenvolvimento humano: “Saber Brasil”, que incluiu a campanha “Abrace a Biblioteca”.
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- Expressando ideias e sentimentos. A escolha de Maria
(Suramy Dos Santos Pedrosa Ribeiro Guedes – Niterói-RJ)
Maria estava em pé na cozinha. Olhava para a velha cômoda com seus puxadores em metal, corroídos pelos anos de uso. Parecia com a da sua mãe. Mordia os lábios. Passou a mão livre pela testa úmida. Respirou fundo. Fechou os olhos e franziu o cenho. Pôs o copo com um resto de água sobre a pia e caminhou sobre a ardósia até a porta e a abriu. “Oi Dona Laura!”, Maria cumprimentou a mulher que acabara de chegar. “Bom dia, Maria! Tudo pronto? Vamos? Tem que chegar com antecedência. Está marcada para as nove e já são sete da manhã”. “Você pega a bolsa? Está ali”, pediu Maria apontando para a poltrona. “Claro”, respondeulhe a outra. “Tá começando a doer muito. Não vejo a hora de me livrar disso”, afirmou a jovem. “Calma! É assim mesmo. Tudo isso vai passar e você nem vai se lembrar. Apenas pense que está realizando o sonho de uma família e que assim que tiver condições terá a sua também. Você só tem 18 anos e a vida toda pela frente. O dinheiro vai te ajudar muito”, argumentou a mulher. Maria encostou-se na porta do banheiro. Seu peito subia e descia muito rápido. Olhou para a sua barriga, enquanto suas mãos a acariciavam. “Vamos logo ou esse bebê nascerá aqui mesmo. Não pode dar nada errado, ordenou a mulher de meia idade. “Eu só quero o melhor para ele. Só o melhor”, disse a moça. “Eu sei, meu bem. Agora vamos, anda!.” Laura segurou uma de suas mãos e a puxou. Estavam por sair porta afora, quando Maria parou: “Esqueci de pegar a minha identidade. Preciso levar, né?”. Laura a olhou com ar severo e disse: “com certeza. Onde está?”, perguntou. “Ali, numa daquelas gavetas menores da cômoda. Vê se você acha pra mim, por favor!”, pediu Maria.
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- Expressando ideias e sentimentos.
Laura virou-se de costas para ela e dirigiu-se em direção ao móvel. Abriu uma das gavetas e começou a remexê-la sem cuidado. Enquanto o fazia, acusava a menina de estar atrasando a partida e de colocar tudo em risco. Continuou a procurar o documento e não percebeu quando Maria saiu do quarto. Só se deu conta quando ouviu a chave girando na fechadura pelo lado de fora. Imóvel, com os olhos esbugalhados, ficou a olhar para a porta fechada, enquanto ouvia os passos apressados que avançavam pelo corredor.
A autora é casada, mãe de 03 filhas e funcionária pública federal. Amante da língua portuguesa e da literatura em geral. Formada em Psicologia pela Universidade Santa Úrsula e em Direito pela Universidade Estácio de Sá, ambas situadas no Estado do Rio de Janeiro. Escreve textos poéticos desde criança. Autora de 02 livros infantis não publicados. Cursou alguns cursos de literatura oferecidos pela Universidade Federal Fluminense- UFF. Na atual fase da vida pretende dedicar-se à literatura por meio de trabalhos poéticos e literatura infantil.
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Perderam-se Um no Outro (Helena Isabel da Cruz Durães – Lisboa – Portugal)
Os seus dedos passam de novo por ela, percorrendo a forma do seu corpo, como que a relembrar o caminho que as suas mãos fizeram há algumas horas atrás. Lá fora a chuva cai sem parar, porém, ali naquele quarto, é como se fosse um dia ensolarado onde o tempo não passa, o qual nos diz que a perfeição neste mundo pode existir. Ela suspira contra o seu peito e acaba por imitá-lo, passando a palma da sua mão pelo seu tronco, sentido e percorrendo as marcas do seu corpo... O relevo da sua pele. Ela sorri. Simplesmente, sorri, como se não quisesse mais nada do mundo. Nada mais era necessário para que ela descobrisse onde pertenceria. Ela já o sabia. Ela pertencia, ali, àquele lugar, àqueles braços. Ele tem os olhos fechados. Na sua mente, apenas mora o olhar intenso e cheio de vida… que lhe podia dar tudo aquilo que ele mais ansiava mas que, ao mesmo tempo, lhe podia tirar toda a vontade própria. Finalmente, ele decide abrir os olhos para voltar a admirar a imagem daquela mulher. Ele beija-a na face, bebendo da textura daquele cabelo castanho que mais lhe parece seda. - Perdemo-nos um no outro, uh? - Ele é o primeiro a falar. No entanto, ela não lhe responde com palavras. Apenas acena no seu peito. Ele volta a fechar os seus olhos e aperta o seu abraço. - Mas ao mesmo tempo encontrámo-nos – ela, finalmente, responde de forma serena, quase num suspiro. Ele abre os olhos e sorri. Ele conseguiu. Ele conseguiu fazer com que ela falasse, ouvindo, assim, de novo o seu tom de voz. - Sim... Isso é certo. Tão certo como te sentir nos meus braços, agora... O que é isto? Ele quer saber... Ele quer tentar saber o que é que ele está a sentir. O que é que é este sentimento de plenitude. Ela sabe o que ele gostaria que ela lhe dissesse. Mas ela não pode. Ela não pode fazê-lo assim, deliberadamente. A consciência... Essa que se calou no momento em que se perderam um no outro, acaba de voltar. A necessidade de obedecer a essa consciência assombra-a. E, por um breve momento, ela pondera em sair daqueles braços. Porém, com uma força que desconhecia que tinha, ela consegue combater a consciência e deixa-se estar mais um pouco. Ele sente esta mudança repentina nela e sabe que a sua questão a fez pensar. - Desculpa. - Não tens de pedir desculpa... Revista Inversos - Ano I - Volume I - n° 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil
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- Expressando ideias e sentimentos.
As coisas são como são. Ele suspira e diz: - Sim... Só temos de continuar a lidar com elas... Ela volta a acenar contra o seu peito ao mesmo tempo que a voz da tal consciência inunda toda a sua mente. Ela leva os seus lábios ao braço dele e move-se para a beira da cama, levantando-se. Ele admira, mais uma vez, aquele corpo nu que ainda há pouco tempo tinha sido seu. Mas agora já não era. Ele volta a suspirar e também se levanta. Está na hora de sair e voltar ao mundo de onde fugiram. Vestem-se e em pouco tempo estão prontos para regressar lá fora. Olham um para o outro ao mesmo tempo em que dizem: - Vemo-nos numa outra vida...
Escrevo pequenos contos e crónicas no meu blog "Um Olhar Pessoal". Tenho três textos publicados em quatro publicações diferentes: Boca Escancarada (Agosto 2013),VII CLIPP (2013), na antologia de crónicas Big Time Editora (2013) e X CLIPP (2016).
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Labirinto (Antonia Gilda Sena Gomes - Feira de Santana-BA) Sem malicia. Aprendi a sonhar. Vivi bons momentos desfrutando o gosto dos sonhos que sonhei. Eram só meus, e eu disposta a partilhar contigo. Quantas vezes te incluir, mais que isto você foi protagonista dos meus sonhos. Principal ator das melhores cenas. Como sonhei um sonho que era nosso. E você não se envolveu, não entendeu, não viveu. Menosprezou; Enquanto corri pra te encontrar, você correu pra se afastar sem perceber. Cada vez que de fato se afastava formulava nova historia de amor no discurso incluindo agente. Nunca conseguir achar a curva onde aconteceu a nossa separação... É! Ela faltou, ate hoje você pensa que andamos na mesma direção. Que engano! O que estamos vendo é a sombra. Apenas a sombra que ficou cravejada na parede de cor branca, onde é fácil identificar o vulto. Só isso... No discurso eu ainda sou seu grande amor, na realidade concreta uma sombra do que restou. Refletir sobre essas coisas e meditei no meu íntimo: que cadeia! Terrível prisão nos acorrenta sem deixar saída. Pior de tudo é saber que todos os portões estão sem cadeados, as portas encostadas. Mas, do lado de dentro da prisão estou inerte, não consigo me mover. E você, vai e volta sem sentir as algemas. Como é cruel saber disso, quero sonhos pra sonhar, pra desfrutar, pra acreditar, pra lutar a cada manhã. E correr em direção a saída, mas que saída?
Natural de Antonio Cardoso-BA, nascida em 1966; estudante do 4º semestre de Letras Vernáculas (UEFS). Participei de alguns concursos de poesias e tenho 3 textos editados. Ler é meu maior prazer; escrever um grande desafio.
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- Expressando ideias e sentimentos.
Paralisia Leonardo Ribeiro Mendes
Saí de casa em direção ao ponto de ônibus, o sol já estava se pondo, mais um dia acabando, mais uma noite começando, e mais uma vez o ônibus se atrasando. Chegou, entrei, lotado. Indo para a minha aula, estudo a noite, em um campus que fica distante do centro da cidade, e eu moro bem no centro da cidade. Com meus fones no ouvido tentando ouvir música, mochila pesada nas costas, cheiro característico de quem trabalhou o dia inteiro e ainda tem que encarar busão lotado, me sinto privilegiado, só o uso para ir à aula. No caminho vou pensando ser mais um dia comum em que minha empatia pela sardinha aumenta, preso, apertado em uma lata que se move. Eu, diferente dela, escolhi isso, irônico. Enquanto meus pensamentos vão devaneando, percebo que a música que saia pelos meus fones parou, o ônibus parou, tudo parou, até a criança que tava lambendo feliz um picolé, parou com a boca aberta e a língua a centímetro do sorvete. Eu, também parei, meu fluxo de pensamentos continuo, mas eu tento me mexer e nada, nós nunca sabemos como movemos nosso corpo até precisarmos fazer isso conscientemente. Primeiro tento só mexê-los, dedos, mãos, pés, braços, pernas, cabeça e nada, nada se move, apenas meus olhos. Olho para os outros passageiros do ônibus, alguns, estão como eu, mexendo os olhos e procurando algum sentido naquilo, outros nem isso, completamente imóveis, parecem mortos, será? Enquanto penso em uma explicação para aquilo a porta do veículo se abre, fica aberta alguns segundos até alguma coisa entrar, e o quê entra só pode ser definida assim, coisa. Não tem movimentos definidos, mal tem forma definida, ao mesmo tempo que parece humanoide, me lembra também as massinhas que brincava quando era pequeno, ela flutua e anda, ao mesmo tempo, ás vezes nítido, as vezes com saltos no espaço parecendo um vídeo mal editado. Conforme ela avança pelo ônibus lotado, como ela faz isso é outro mistério, sinto algo saindo do meu bolso, e percebo que os celulares e equipamentos eletrônicos de todas as pessoas estão voando para fora do ônibus. Nada posso fazer meu corpo ainda não se mexe. Percebo também que a criatura se aproxima de algumas pessoas específicas, oh não, ela está se aproximando das pessoas que estão ainda conscientes, fala em seus ouvidos e em seguida elas adormecem, ainda estáticas. Conforme ela faz isso, vai se aproximando do fim do ônibus, onde estou. Cada vez que se aproxima meu coração acelera, cada pessoa que fecha o olho, meu suor caí, cada segundo que passa minha espinha gela, até o momento que a criatura chega na minha frente. Tento gritar, espernear, fugir, mas nada acontece, estou ali parado, estático e indefeso na frente de algo que não consigo explicar. Ela vai se aproximando do meu rosto, já defino nitidamente sua face, aboca gosmenta cheia de dentes, o odor acre como se tivesse algo podre ali dentro, ela se aproxima do Revista Inversos - Ano I - Volume I - n° 1 - Agosto 2017 - Feira de Santana-BA - Brasil
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meu ouvido, meu coração dispara, minha garganta tenta absorver ar mas falha e de repente, tudo se apaga. Some criatura, ônibus, pessoas, e quando abro os olhos estou no meu quarto, deitado na minha cama. No meu colo o jornal do dia, a manchete principal, um aluno surtou dentro do ônibus, o incendiou e matou todos ali dentro, o jornal diz não saber quem foi, mas acho que não acreditaram na minha história.
Tenho a escrita como hobbie e uma forma de terapia, sou muito próxima da fantasia e do terror e não tenho nada autoral publicado, na verdade essa é a primeira tentativa. E espero que seja apenas a primeira.
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- Expressando ideias e sentimentos. Minha Amiga Jandira
(Marcelo de Oliveira Souza, IWA - Salvador – BA) Toda criança sempre sonha em ter uma bicicleta, pois é um tipo de veículo que as fascina pela sensação de liberdade que ele proporciona. Assim quando o meu irmão mais velho recebeu de presente uma, foi a maior alegria, como eu ainda era muito pequeno, só cabia a mim sentar na “ponga” e aproveitar a viagem, o que não era tão legal para ele, pois tinha que pedalar em dobro, e para acompanhar os colegas ficava muito difícil, mas eu não o largava, só queria ir junto para apreciar as aventuras pueris. Quando passávamos o verão em Itaparica então, era uma "coqueluche", grupos e mais grupos na “magrela” onde formavam-se turmas, paqueras e muita diversão à solta. Numa dessas noites, meu irmão saiu escondido para encontrar a turma ficando eu, desesperado por não ter ido, um tempo depois chega ele carregado, porque tinha subido o meio fio, indo terminar no chão, numa dessas peripécias de criança. Logo chegou a minha vez de ganhar uma, o que foi muito legal, contudo para aprender deu uma mão de obra, meu pai segurava atrás para tentar me equilibrar, mas nada, o tempo foi passando e aos poucos eu fui aprendendo, até que num determinado dia consegui sair pedalando pelas ruas desta cidade-verão, mas não era fácil, porque sempre havia algo para levar uma queda, os primeiros dias chegava a levar cinquenta quedas. Teve uma vez que uma gorda me atropelou, isso mesmo! Porque quando estava passando, me bati com ela, a dona ficando em pé e eu caí, sendo socorrido por esta senhora que se chamava Jandira, que sempre lembra do fato, fazendo assim uma boa amizade, sendo assim comecei a chamar minha bicicleta de Jandira, o que tornou um fato até engraçado, pois foi uma homenagem que fiz à sua pessoa. Assim eu já participava das turmas de bicicleta junto com meu irmão, andávamos a cidade toda, sempre procurando novas aventuras. Quando voltava para Salvador, Jandira vinha no porta-malas toda dobradinha, e sempre que mencionava o nome da minha amiga, gerava uma confusão, ou pelo menos uma curiosidade. Jandira envelheceu e terminou enferrujada no canto, pois os outros modelos eram bem melhores, mas depois de grande só ficou na lembrança as duas Jandiras, pois a nativa de Itaparica morreu e a minha, nem sei onde está hoje.
Natural do Rio de Janeiro, formado na Universidade Católica do Salvador. Pósgraduado pela Faculdade Visconde de Cairu com convênio com a APLB/UNEB; Embaixador da Poesia, nomeado pela Academia Virtual de Letras Artes e Cultura, MG;colunista do Jornal da Cidade, Debates Culturais, Usina de Letras, entre outros. Ganhador do Prêmio Personalidade Notável 2014 em Itabira MG; Membro da IWA International Weitters Artistis – EUA ; do Núcleo Acadêmico de Letras e Artes , Lisboa; da Sociedade Ibero-americana de Escritores, Espanha; Organizador do Concurso Literário Anual POESIAS SEM FRONTEIRAS e Prêmio Literário Escritor Marcelo de Oliveira Souza,IWA.
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O comandante da revolução (Heráclito Júlio Carvalho dos Santos – Teresina-PI)
Sete dias se passaram e nada de Deuzileuza chegar em casa. Teresina Amanhecia e eu estava acordado, a espera de uma explicação. Os meninos dormiam no quarto mal arejado com um ventilador velho espalhando vento quente das tardes de agosto. De repente, Deuzileuza chega e eu começo a falar: - Onde Estava? - Fora! Ela respondeu seca e fria. -Fora? Há horas te espero mulher. - Estava com amigas. - Como amigas? Obviamente não acreditei. Ela mentia para mim em todas as noites e dias depois que nos casamos. Eram bebedeiras, farras, amigos meus me chamando de corno na rua... Gabriel acorda e vê a discussão. Ele já estava cansado de ver aquilo todos os dias. Eu perder a paciência com Deuzileuza. Então tomou a iniciativa e saiu. - Olha aqui, eu vou acordar a Ramiza e vamos embora, vocês nunca param de discutir. - O quê? Retruquei aquela ousadia de Gabriel, dei um tapa em seu rosto e ele voltou. Quando percebi Gabriel e Ramiza estavam arrumados com malas e saíram porta a fora para nunca mais voltar. Ainda corri atrás deles para fazê-los voltar para casa. - Gabriel e Ramiza, voltem! Ordenei. Eles não responderam e sumiram rua empoeirada acima.
Heráclito Júlio Carvalho dos Santos nasceu em Teresina, Piauí em 1985. É escritor e professor universitário, autor de três obras literárias. Também
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Trágico amor (Francisco Renato da Silva Pires – Massapê-CE) Desde que João foi embora, Maria vive triste. Vive acanhada pelos cantos. Perdida em devaneios. É um vazio profundo, uma angústia no peito... Uma moleza; talvez uma dor, uma dor que não conseguisse sentir. Uma dor insensível, mas pulsante... Uma falta... O mundo parecia não ter mais aquela maravilha de quando João estava ao seu lado, lhe pegava pela cintura e a fazia esvoaçar no ar feito beija-flor. O vestido parecendo um balão. Tempos de felicidade, beijos, abraços e desejos... Agora, porém, é só tristeza. Quem vai à casa de Maria nota sua ausência. Antes a casa era sempre bem arrumada, bem ornada, sempre bem feita, vivaz; agora é angústia, sofrimento, silêncio e medo. Mas medo de quê? Nem Maria é capaz de saber... Mas foi ontem, quando fui visitá-la, que notei sua profunda dor e inominável desespero... A porta estava aberta. Ninguém na sala, que curiosamente estava mais uma vez arrumada. Chamei-a. Não respondeu. Fui à cozinha. Nem sinal da mulher. Então me dirigi ao quarto. E quando lá adentrei... Maria estava caída ao lado da cama, com um vidro de remédios vazio. Morrera envenenada. Não aguentava mais de saudade. Não aguentava mais àquela espera... Morrera de amor!
Natural de Sítio Gavião/Padre Linhares, Massapê, Ceará. Nasceu no dia 31 de março de 1996. Começou a escrever com 14 anos de idade. É leitor assíduo, sobretudo de contos e poesias. Tem particular admiração pelos escritores Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector e Machado de Assis, embora leia diversos outros autores. Também gosta de cantar; e mais ainda de escrever. É acadêmico de Letras pela Universidade Estadual Vale do Acaraú.
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Baixo calão (Diego da Silva Teles dos Santos – Ilhéus-BA) A discussão começou acerca de quem estaria melhor representado no Brasileirão da séria A. Reunidos em Ágora - a mesa do boteco de uma esquina - os compadres foram se exaltando, cada um defendendo energicamente o seus pontos de vistas. Pra lá de tantas trucadas de palavras, foram desbravando os campos dos saberes, adentrando a teologia. O negócio esquentou mesmo quando entrou política na pauta. Aí foi um senta, levanta. Bate-bate na mesa. Um xinga daqui, outro de lá. Lá pelas tantas, um dos compadres levantou abrindo os braços. - Pera lá! Eu não vou aceitar ser agredido verbalmente com palavras de baixo escalão, não. - CALÃO! – uma voz rasgou de outra mesa. - Foi o que eu disse “palavras de baixo calão”. – retrucou o compadre. A discussão perdera o piquei. Eram cerca de cinco compadres se entreolhando. Após um breve silêncio, outro compadre respondeu. - Aê mermão, tá sabendo não?! Baixo calão é pleonassssmo. - Plê o quê? – quase um coro no boteco. - Pleonasssmo. Sabe quê isso não?! Procura no pai dos burros. O caso é o seguinte. Se tu fala “palavras de baixo calão” o negócio fica repetitivo, porque “calão”, no pai dos burros, significa um linguajar pobre, vulgar. – discursou as palavras decorada, o compadre sabichão, tal qual um vereador em campanha. Imediatamente, todos muniramse dos respectivos smartphones para averiguar se o que lhes acabara de ser dito tinha algum fundamento. Caso contrário, já teriam de onde recomeçar a discussão. Constandose verossimilhanças nas palavras ditas, o compadre que iniciou a conversa pôs-se a falar novamente. - Sim! E o que isso vai mudar em minha vida? O compadre sabichão pensou um pouco e novamente respondeu. - Pelo menos tu vai ficar com o português mais bem dizido, meu cumpadi. O interlocutor coçou a cabeça, dizendo ao garçom que a saideira seria por sua conta.
Soteropolitano, nascido na cidade baixa da capital baiana, no dia 22 de setembro de 1989. Filho de Carlos e Flor. Teve uma infância marcada pelas viagens, onde se divertia e colecionava histórias no interior da cidade de Ilhéus. Durante sua adolescência, embora tivesse uma facilidade no tato com as palavras, ainda não tinha despertado seu interesse pela arte da escrita.
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Perdas e danos (Edweine Loureiro da Silva – Saitama – Japão)
Quando soube que a sogra sofrera um acidente com o carro que ele havia lhe emprestado, ficou devastado: tinha acabado de comprar o veículo.
Nasceu em Manaus (AM) em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta” (2015), estes dois últimos vencedores, respectivamente, dos prêmios Orígenes Lessa e Vicente de Carvalho, da União Brasileira de Escritores - RJ. Página para contato: https://www.facebook.com/edweine.loureiro
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