Revista Literária Inversos

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EDITORIAL Dezembro chegou e com ele o tempo de buscar a renovação da esperança e da alegria! No decorrer desse ano publicamos Literatura de excelente qualidade,

tanto de

escritores já conhecidos no meio literário, bem como oportunizando espaço para novos poetas e amantes das Letras, resultando num grande objetivo: o embelezamento das nossas páginas e a degustação de poemas, contos e crônicas plenos de beleza poética e riqueza literária. Acreditamos e temos plena certeza e fé que 2019 será um tempo melhor para todos nós, amantes da Literatura. Nessa edição temos os 20 (vinte) textos selecionados, dentre 350 (trezentos) inscritos no Edital de Seleção, oriundos de estados como São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Sergipe, e países como Portugal, Itália e Moçambique, comprovando o grande alcance da Revista Literária Inversos, seja a nível de Brasil, como mundo afora. Destacamos os três primeiros colocados, escolhidos pelo Conselho Editorial: 1º Lugar Elisa Ribeiro, de Brasília-DF, com o texto “Mascote”; 2º Lugar - Adriano Figueiredo Monte Alegre, de Salvador-BA, com o texto “O pincel do tempo”; e 3º Lugar - Marcus Marchi Jr., de São Carlos-SP, com a obra “Delírio de um confinado”. Temos ainda a seção Entrevista de Personalidade Literária, com o escritor e artista Celso Prei, criativo artista natural de Coimbra, Portugal. Nós, da Revista Inversos, desejamos um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo a todos vocês, nossos leitores. Forte abraço e boa leitura!

Maroel Bispo Editor-chefe da Revista Literária Inversos ISSN 2527-185 Revista Inversos nº 6 – dezembro 2018

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EXPEDIENTE

Volume I - Número 6 - Dezembro/2018 ISSN: 2527-1857 Periodicidade da publicação: Trimestral Idioma: Português (Brasil) Editor-chefe: Maroel Bispo Conselho Editorial: Maroel Bispo, Adauto Borges e Josman Lima Editores-Correspondentes: André Flores (Rio Grande do Sul), Elísio Mattos (Rio de Janeiro, Octaviano Joba (Moçambique) e Graça Foles (Portugal). Colunistas: Cathy Arouca e Valéria Pisauro. Revisão: Os textos passaram por revisão feita pelos próprios autores. Capa: Maroel Bispo Site da revista: http://revistainversos.blogspot.com.br/ Facebook: https://www.facebook.com/Revista-Literária-Inversos Contato: e-mail: revistainversos@gmail.com Autor Corporativo: Maroel Bispo - Divisão Cultural da Associação Batista de Ação Social, situada à Rua “A”, nº 5, Conjunto Feira VI, bairro Campo Limpo, CEP 44034-205, Feira de Santana-BA, Telefone de contato: (75) 99168-1879 – WhatsApp. Distribuição: Distribuída online e no formato PDF, gratuitamente, no site da revista, no Facebook ou através da plataforma Issuu. A reprodução dos textos é permitida, desde que sejam atribuídos os créditos aos respectivos autores, que não seja para fins comerciais e que seja citada a fonte, conforme prevê as leis de direitos autorais vigentes no Brasil.

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SUMÁRIO Pág

Evento

Nome

Cidade

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Editorial

Maroel Bispo

Feira de Santana-BA

6

Editora Costelas Felinas Revista Cabeça Ativa Mascote

São Vicente-SP

12

Entrevista de Personalidade LiteráriaPoetas Vieira Vivo e Cláudia Brino Elisa Ribeiro

13

Adriano Figueiredo Monte Alegre

O pincel do tempo

Salvador-BA

15

Marcus Marchi Jr.

Delírio de um confinado

São Carlos-SP

16

Abner Rosa Oliveira

Sabores: Paladar Insípido

Suzano-SP

17

Marçal de Oliveira Huoya

Fração

Salvador-BA

18 19

José Airton Nascimento Diógenes Brasilidade Baquit Marina Barreiros Mota Avós

20

Massilon Ferreira da Silva

Soneto Fático

Aracajú-SE

21

Diana Leocata de Queiroz

Dois Cães

Botucatu-SP

22

Layla Fischer

A sociedade da hipérbole

Curitiba-PR

23

Ivanna Araújo da Silva

Onde jaz meu coração

Rio Branco-AC

24

Octaviano Joba

Morte Prepotente

Quelimane, Moçambique

25

Francinilde Machado Serejo

Dubitável Futuro

São Luís-MA

26

Erivania dos Santos Fernandes

Nauta

São Paulo-SP

27

Natana Ester Silva Coelho

A dança

Contagem-MG

28

Mônica da Silva Costa

O Voo da poesia

Jacarezinho-PR

29

Gabriela Maria Soares Gonçalves

Vidinha de mãe

Portugal

30

Isadora Cristina

O Sertão em mim

Capoeiras-PE

31

Fernanda Costa

Quero

São Paulo-SP

32

Evandro Ferreira Rodrigues

O Gravata branca

São Gonçalo-RJ

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Brasília-DF

Fortaleza-CE Teófilo Otoni-MG

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CLASSIFICADOS COM MENÇÃO HONROSA 34

Aline Bernardi

Ressaca do adormecido

35

Edilson Sostino Mocumbe

Incongruência

Maputo, Moçambique

36

Valéria Cristina Da Silva

O Aquário

Contagem-MG

38

Joana Filipa Ferreira Patriarca

Botão de Rosa, de Jazz Melro

Porto Santo, Madeira, Portugal

39

Luís Laércio Gerônimo Pereira

O Sertão e seus encantos

Lagarto-SE

40

Juliana Karol de Oliveira Falcão

Canto para a morte

Soledade-PB

41

Alberto Arecchi

Batuque

Pávia, Itália

42

Flávio Theodósio Junkes

Cabide

Biguaçu-SC

43

Almir Floriano

Sortilégio

São Paulo-SP

44

Ana Carolina Rodrigues de Oliveira

Versos Brancos

Barbacena-MG

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torso

mal Rio de Janeiro-RJ

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Em suas palavras, quem é Celso Prei? Quando você começou a se aventurar pelo mundo da literatura e das artes em geral? Celso Prei, é algo que está sempre em crescimento, que faz das artes uma forma de expressão. Faz dos ideais-ideológico-filosóficos umas estruturas perante uma riqueza que eleva a memória das suas histórias de vida experimentadas para sua escrita tão uniforme e unânime, mas desestruturada, uma a escrita que se revê na parábolas das entre linhas, de estória de riqueza com brincadeira através dos vocábulos. Escrevendo mais de 70 livros e pintado centenas de quadros cheios de valor pitórico e ritmologia da ação de um espaço tempo de realização que nem o Celso acreditava, fazer tanto, com o trabalho de uma vida levada em trabalho e dedicação à criação e criatividade. Celso Prei começou desde muito a ser um ser-expressivo e criativo que fazia das capacidades e dos meios de criação vida. O Celso foi alvo de repreensões por parte professores por esse fazer na vida uma grande brincadeira através da criatividade, e ainda hoje leva a brincar com quem mais ama que é as crianças o alimento de esperança do Mundo-Universo. É habitante da zona Soure, natural de Coimbra – Portugal, foi um estudante acadêmico, que lutava contra o academismo nas artes para algo mais experimental, na Escola Superior de Educação de Coimbra em Arte e Design, finalizado a 2012. Deu os seu pequenos grandes passos na Escola 2º e 3º ciclos de Soure onde ganhei o primeiro lugar em desenho no 3º ciclo ano de escolaridade, mas no ano posterior a janeiro em 1998 onde sonhou ser artista/escritor após ter copiado uma poema da mãe e entregar à professora como exercício trimestral… srsrsr ( olha o malandro “eu”)… “a professora desconfiou e comecei a escrever só para provar que era capaz, ganhei gosto e fiz disso uma terapia para mim e para que me lê e observa o que pinto”… e muito á mais para dizer e completar a vida toda e outra talvez, esperando que não seja nestes tempos que o mundo está atravessar. (irônico mas triste com a realidade deste mundo com Homem, valores e Mãe-Natureza, esperando pela harmonia e estabilidade de novos mundos com muito crer em Deus “Coração do Mundo”. Que outro tipo de arte você gosta de fazer? Eu gosto de pintura, fotografar, ilustrar escrever qualquer gênero de escrita desde que tenha incutidos valores socais… que se estão a perder rsrsrs. Gosto de ler frases de livros que me faça pensar para existir em felicidade, e motivar o próximo e o meu irmãos-nouniverso. A arte é a felicidade dos meus olhos e um dom que se conquista a toda hora em todos os momento, pois inspiro o UNIVERSO, pessoas e mãe-natureza e espiritualidade sem qualquer meio de religioso, credos, outras defesas de algo que não serve ao bemsuperior da minha pessoa – sou apenas um seguidor de Jesus como referência. Quais escritores consagrados você admira? Admiro todo os bons e maus escritores, porque não nascemos bons… rsrsrsr. As minhas maiores inspirações para a poesia e métrica que escrevo do pensar em realidade de escrita e arte são: Camões e Fernando Pessoa especialmente “Alberto Caeiro”, seu heterónimo. Adoro poesia é a métrica dos pensamentos em sentimento e influencias que um simples olhar como fotografar pode dar ao mundo de meu SER.

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Cite um escritor de sua cidade ou região que admira e o nome de seu texto ou livro. Da minha cidade ou região adoro Fernando Namora, um poeta de Condeixa, e médico, um dia sonhei, entre muitos sonhos ser médico de família, e tornei terapeuta em luz. Mas não esqueço a grande inspiração foi este mote de poesia… o minha família são o que “Coração do Mundo” me deu demais… “Um Segredo Meu pai tinha sandálias de vento só agora o sei. Tinha sandálias de vento e isto nem sequer é uma maneira de dizer”

Você costuma participar de concursos de poesias? O que acha deles? Sim. Às vezes os concursos são muito influenciados consoante o gosto do júri como tudo é, não estou a abordar quanto mérito das qualidades dos trabalhos ganhos. Penso de sei que também estou certo que devia existir mais concursos para jovens escritor, de baixa idade e sobre tudo para os mais novatos dado uma abertura de portas maior e fazendo os sonhar, “o mundo pula e avança no sonhar” já dizia mais ou menos Fernando Pessoa… e de certo isso virá com mais riqueza tudo isso dando valor ao culto da leitura e aí é um valor ganho que se está a perder através de leituras rápidas no novos media. Você é membro de alguma Academia de Letras? Ou de algum grupo literário? Sim, Da Sociedade Portuguesa de Autores, e com muito gosto, e que tem defendido s meus interesses enquanto direito de autor. Tem ideia de quantos textos literários já escreveu? Quais gêneros literários gosta de escrever? Escrevi centenas de poemas, copilados em inúmeros livros, mas só tenho três-quartos deles. Escrevi mais de 50 histórias para criança ou adolescentes, alguns meros contos, simples, mas fundamentados em métrica de valores por sofrer na vida injustiças socais, ou as sentir de perto. E escrevo poesia, e Literatura infanto-juvenil, principalmente. Você possui algum lugar onde publica seus textos virtualmente? Qual? Claro que sim, na nova tecnologia e novos media dá conhecer entre e fora de portas e foi assim também conheci o vosso projecto rsrrrss. Faço divulgação em várias redes sociais, no facebook, e principalmente na página www.celsoprei.weebly.com , mas há textos espalhados na net gasta procurar “Celso Prei” no google, para quem quer conhecer algo de belo que faço em jeito de escrita para dar a sonhar ao mundo. Há alguém da sua família ou outra pessoa que, atualmente, incentiva você, na caminhada literária? Cite os nomes. É, morreu um familiar que acredita muito em mim, o Antônio, a quem dedico em especial como oferta da ajuda que me deu a ser o Homem que sou agora… e especialmente ao Pai e à Mãe que educou me para ajudar a cumprir o sonho de ser artista/escritor…. e continuam com muito amor apesar de todo sofrer e a dificuldades econômicas que ultrapassam, é uma Revista Inversos nº 6 – dezembro 2018

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grande luta e a batalha contra as dificuldades onde qual estamos inseridos, que ninguém, porque na primazia da vida só olham para seu ego, mas grato a todos que acreditam e mim fazer ser melhor pessoa e artista e escritor e inventor de doideiras… Que temas prefere escrever? Cite 3 textos seus que mais gostou de escrever. Gosto de escrever para educação de valores. Tenho três livros que publiquei nacionalmente “Lua de Iára” “Principezinho Natal” “A Paz de um Anjo”, e participações em 4 antologias poéticas. Contudo todos são especiais para mim por brindar ao brincar ao construtor das pedras do mundo que se moldam consoante a imaginação e as regras que fazem da escrita expressar sensações. Aprecia outros tipos de arte usualmente? Você frequenta museus, teatros, apresentações musicais, salões de pintura? Claro que sim!!!! Eu sou o meu próprio objecto de arte, em primeiro lugar o Universo e EU SOU rsrsrs. Você acha que o brasileiro médio costuma ler? Acha que ele gosta de literatura tradicional ou só de notícias rápidas e sem profundidade? O mercado brasileiro é diversificado por isso é um centro de oportunidade para todos os leitores e escritores, e também com esta iniciativa atividade por meu talento possa permitir abrir outras portas na agencias e meios de arte e escrita. Já tem livros-solo publicados? Consegue vendê-los com certa facilidade? Tenho os Três livros principais com relevo nacional, tive dificuldade de vendas, como todos os jovens escritores, tive divulgação nas grandes livrarias e TV e jornais. E participações e seleções de trabalhos em feiras, bienais, e concursos de arte e escrita. Já teve seus textos publicados em revistas digitais de literatura? Quais? Já tive somente no Diário de Coimbra, Jornal Popular de Soure, Jornal Notícias da Sua Terra, no Diário das Beiras, e Jornais Escolares…mas em papel, em revista digitais não (!!!) estando grato pela oportunidade dada, há uma primeira vez para tudo rsrsrsr. Qual sua opinião sobre a Revista Literária Inversos? Penso que é algo importante para todos que gostam de ler e apreender com outro, É uma grande forma de difundir a cultura, e competividade literária… e amor à cultura de valor, e estou grato imenso por a oportunidade de poder ser algo que afinal não sou “Personalidade Literária”, por que penso que o escritor teve de viver pelos menos duas vidas para apreender a escrever, nem quem seja um nobel, ou esse já viveu duas, ou mais nem que seja na “própria vida”…. vidas de riqueza através do mundo da palavras e emoções e valores a algo que acreditam. Já participou de alguma Antologia impressa? Qual? Só em quatro antologias poéticas da Chiado editora. Rsrsrsrs e é sempre algo mais na vida através da promoção literária e mais valia curricular…

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VocĂŞ trabalha com literatura para aumentar sua renda ou a leva apenas como um delicioso hobby? É algo desejado viver desse hobby, o mercado estĂĄ cada vez mais difĂ­cil para o escritor‌ hĂĄ mais vendedores na lotaria que na escrita, mas nunca deixem de sonhar pois sonhar acrescenta potencial e o amor que se dĂĄ Ă obra que se faz ĂŠ o prĂłprio artista “escritorâ€?. O que vocĂŞ acha de os altos custos para um escritor publicar um livro? Tudo tem o preço e por existir muita procura e desejo de editar, por desejo de se dar a conhecer e dar algo ao mundo, e hĂĄ oportunidade por parte das editoras e agentes de arte por isso, por isso cuidado com os contratos que assinam, pois ĂŠ algo para um tempo de vida e ninguĂŠm gosta de prisĂľes ou ilusĂľes. Desde jĂĄ agradecemos a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre sua pessoa e sobre sua arte. Deixe aqui suas consideraçþes finais. Quero dizer que estou aberto a novas parcerias, no mundo, se que sejam oportunidades justa e equilibradas para ambas as partes. Desde que tudo bem abordado poderĂĄ dar-se um jeito comercial Ă minha obra de pintura – escrita – e artes em geral. E-mail a contactar: celsoprei@gmail.com. MOTE FINAL A TODOS: A todos os criativos e engenhosos nĂŁo deixem de pensar no progresso, por que o que sonha muito podem fazer os outros sonharem‌ e ter uma vida melhor, nem que seja por momentos‌. E todas as dificuldades aguçam o engenho das artes e engenhos‌ LUTES COM GARRA E NO CRER NO VOSSO PODER‌. E sejam fieis aos vossos princĂ­pios em base de valores de amor e sem medo de odiar, porque o Ăłdio um dia vai desaparecer e tornar-se num AMOR MAIOR. Bongalll (grito de luta de Celso Preiâ€?) Rsrsrsrs – sejam felizes como a luta do seu EU-Verdadeiro. E acreditem no vosso potencial đ&#x;˜Š rsrsrsrs AtĂŠ Ă prĂłxima‌ Bongallllllll ( com um sorriso no lĂĄbios)

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1º Lugar - Mascote

Se por acaso o esqueço

Elisa Ribeiro – Brasília-DF

– aflição, desassossego – qual um cristão sem o terço,

Prótese, memória auxiliar,

sem o mascote entre os dedos,

abro-te sésamo com meu polegar.

desempodero, enfraqueço,

Na tela branca, janela portátil,

feiticeiro sem condão.

o mundo ao alcance táctil, extensão dos dedos da mão.

Silenciá-lo? Somente após a janta, deitá-lo, enfim, aos pés da santa,

Excluo a mensagem inútil,

dar-lhe as costas, sonhar,

recuso uma ligação,

uma oração, um pensamento...

busco o que não preciso

Antes de dormir, o último movimento,

alterno de aplicativo,

tocá-lo com o indicador direito:

deslizo, fútil passarinho,

— Desperte às sete, celular!

navegar inconclusivo, labirinto, confusão. Quando olho, foi-se o tempo pela ampulheta correndo como eu, sem direção.

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2º Lugar - O pincel do tempo Adriano Figueiredo Monte Alegre – Salvador-BA

Quando conheci Sedamar, eu tinha vinte e dois anos, enquanto ela já possuía quarenta e cinco. Agora que faço cinquenta e dois, Sedamar festeja seus 75 anos. Vivemos como um casal por quase trinta anos. Há dois anos, entretanto, decidimos nos separar. Os motivos dessa separação encontram-se no âmbito do esperado. Os nossos corpos deixaram de se reconhecer. Os passos que dávamos juntos pelas calçadas desencontravam-se, os diálogos não resistiram aos lapsos de esquecimento. O sexo sucumbiu. A verdade é que não foi fácil nos acostumar com o declínio da carne. Presenciei o esvaecimento da vitalidade de Sedamar. Vi sua pele, antes brilhante, desidratar e franzir. A perda de estatura ocasionada pela cifose. Vi o tempo agir sem comedimentos. É evidente que eu também havia sofrido a influência dos anos e mudado, mas a transformação pareceu-me nela muito mais intensa. Ao menos foi dessa forma que meus sentidos e coração responderam à experiência. Aos quarenta e cinco anos Sedamar ainda era linda. A vida pulsava pelos seus poros. Naquela época cheirava a canela e amora madura. Tinha lábios turgidos. Seu suor mexia com meus ânimos. Sua voz era firme e doce. Caminhávamos longamente e não sentíamos dores. As artrites e artroses não existiam. É até espantoso notar que o mesmo tempo que auxilia no desenvolvimento da experiência e da sabedoria humana habituou-se a produzir nos indivíduos a decadência de seus corpos físicos. Por isso o tempo, que mais parece um pintor, quando usa seu pincel geralmente é para desbotar, opacificar e enfraquecer o mundo orgânica. Tudo isso para dizer que, há uma semana, Sedamar convidou-me para sua festa de aniversário. E, surpreendentemente, preparei-me para ir a esta comemoração como se estivesse prestes a encontrar com a namorada. Cheguei a imaginar um ambiente repleto de músicas, danças e flertes, onde haveria vinhos, cervejas e uma certa euforia inclusa. Por fim, quando o dia chegou, apontei no melhor dos estilos diante da porta de seu apartamento. Acionei a campainha e aguardei. E quando ela abriu a porta, além do seu sorriso, vi de imediato duas grandes manchas arredondadas na cor rosa produzidas por um pó facial. Os olhos de Sedamar brilharam ao me ver e lançamonos em um abraço bem apertado. Seus cabelos tingidos na cor sabugo de milho cru cobriram parte do meu rosto. Foi nessa hora que, aproveitando meus lábios próximos ao lóbulo murcho de sua orelha, desejei-lhe um feliz aniversário. A proximidade permitiu-me sentir um leve cheiro de lavanda em seu pescoço, o que produziu em mim uma súbita e Revista Inversos nº 6 – dezembro 2018

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irresistível vontade de festejar. Como a música de fundo não era ultrapassada e nem a festa tão desanimada, Sedamar e eu decidimos dançar por toda a noite. Até havíamos esquecido as donas artrite e artrose. Deixamo-las de lado. E assim o tempo nos mostrou que, apesar de tudo, existe vida no início, no meio e no fim.

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3º Lugar - Delírio de um confinado Marcus Marchi Jr. (São Carlos-SP)

Muros, cercas, tranquilizantes

Fico manso

Amanhãs gêmeos

Um lunático ruminante

Um mais igual que o outro

Na ponta de seus chicotes

Tudo, tudo, tudo

Sempre uma dose

Já sei como será

Quero fugir daqui

Às 8 horas aqui, às 11 acolá

É quase impossível...

E às 18 fecha pra valer

...quase

Não adianta espernear

Ninguém sabe

Aproveito o pátio

Que quando fecho meus olhos

O Sol, as bitucas grandes que desperdiçam Eu abro minha mente Tenho marcado na roupa

E fujo

O bovino código SN05-311

Todas as noites

SN de Setor Norte 05 o Bloco e 311 o leito Leito, não quarto Capitães do mato, carrascos Enfermeiros, sei lá Pastoreiam tiranos nesta fazenda insana

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4º Lugar - Sabores – Paladar Insípido Abner Rosa Oliveira – Suzano-SP Nomear suas dores,

Sabores se perdem aos poucos,

dar ar às feridas,

ou o paladar que não sente o gosto,

Alguns segundos no escuro,

Sabores pedem um pouco,

pra adaptar a vista,

da sensibilidade do outro, Sabores cedem à poucos,

Voltei lá de baixo,

o privilégio de algo único ou novo,

pra espiar aqui em cima,

Alguns sabores deixam nos outros,

Voltei lá pra baixo,

um sabor amargo no seu gosto.

pois não reconhecia, Não tenho dor ou fome, como se de repente fosse, um camaleão que só se adapta, E pra quem, provava cores e sabores, de forma tão rica, Sentir, o paladar provar matéria insípida, o olfato inodoro, incolor para os olhos, habitar onde não tem luz do dia,

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5º Lugar – Fração Marçal de Oliveira Huoya – Salvador-BA

Ninguém imagina

Ninguém sabe, ninguém sabe

Se dividir ao meio

Ser singular sendo plural

Metade vontade

Infinitivo do verbo amar

Metade receio

Intensamente parcial

Um passo pensado

Presente querendo se ausentar

Para outro estabanado

Ninguém sabe, ninguém sabe

Ninguém sabe, ninguém sabe

E se alguém soubesse

O desejo de seguir

Se apenaria do poeta

Com a ideia de voltar

Teias que o destino tece

Estando por aqui

Pleno numa vida incompleta

E estando em outro lugar

Refém do que possa acontecer

Ninguém sabe, ninguém sabe

Mas ninguém sabe,

Necessidade de ser dois

Ninguém sabe

Vivendo o agora

Ninguém nunca vai saber...

Pensando no depois Ficar e ir embora

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6º Lugar – Brasilidade José Airton Nascimento Diógenes Baquit – Forteleza-CE

Quanta saudade Do gado berrando, Do pasto nascendo, Da vida gratuita, Do riso largo, Do afago sincero, Do gesto desmedido, Da canção maternal, Dos instantes eternos, Das visitas inesperadas, Das tardes de domingo, Das janelas abertas, Do vento na cara, Da despretensão do mundo... Quanta saudade de mim!

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7º Lugar – Avós Marina Barreiros Mota – Teófilo Otoni-MG

Avó significa nó Aquele nó apertadinho Espremido De ficar agarradinho Avó é teia Entrelace que surge Fantasia que nos aquieta E “inquieta” a casa Avós são lembranças Da casa cheia de primos E o doce acalanto do quintal Carregado de descobertas Ser avó e ser avô É um enlace que se tece Como a poesia para o poeta E que todo dia nos alimenta Avós são os meios Onde a vida nos costura Em um coração carregado De amor e alegria.

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8º Lugar – Soneto sáfico Massilon Ferreira da Silva - Aracaju-SE

Fiz inventário do meu erro fático, Idas e vindas do meu ser estóico: Enquanto faço-lhe um poema sáfico, Você me escreve um soneto heróico.

Formalizei um parecer didático, Organizei meu pensamento lógico, Com minha ideia de sujeito laico Contrariei seu pensamento hóstico.

Vou conquistá-la sem causar polêmica, Sem me afastar da prática acadêmica, Já consultei o manual, o Códex.

Para extirpar minha loucura endêmica, E combater sua aridez sistêmica, Hei de alcançá-la nem que seja à fórceps.

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9º Lugar - Dois Cães Diana Leocata de Queiroz - Botucatu-SP

Numa quarta-feira Vi dois cães correndo no campo Sorri sem saber o motivo ou circunstância A distância que até então era tamanha, perdeu-se no recanto E a tormenta do meio da semana se fez pó Diante dos dois cães correndo no campo Um simples ato Que atravessa o peito Rouba o riso escondido Sem qualquer tipo de respeito Assim como os cães que cruzam o campo Sem nem pensar direito No peito que já não cabe A tarefa do esteio Crescem flores sem semeio Com força bruta e de esgueiro Ressoam como a liberdade De dois cães correndo sem receio

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10º Lugar – A sociedade da hipérbole Layla Fischer – Curitiba-PR

A menina de 14 anos pintou o cabelo todo de roxo e colocou um piercing na boca assistiu todas os episódios de American Horror Story e postou no Facebook: Morri.

A mãe,

segundos depois, visualizou a postagem e correu para o quarto da menina. A garota estava deitada na cama, com o notebook do lado, estagnada. Ria exageradamente de uma cena um tanto quanto escandalosa. A mãe a deixou de castigo e lhe advertiu sobre escolher as palavras e não ser hiperbólica.

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11º Lugar - Onde jaz meu coração Ivanna Araújo da Silva – Rio Branco-AC

Coitado, morreu por falta de orgulho, Abandonando ao relento encontrei seu túmulo, E do modo mais simplório e medíocre, Na lápide estava escrito Que em vida tu fostes um eterno ama(dor), Por isso morreste de amor. Esmorecido, jogo – te flores as três da tarde. E embalado por desarmadas memórias Que não querem ser esquecidas, Pergunto – me onde terias ido naquele fatídico dia, Certeza que haveria de ter perdido a razão, Foste em busca de amor e padeceu em solidão. Agora ficarás aí, Na sarjeta em que tu mesmo te jogaste, Mas de tu não tereis pena, E lembrarei apenas do triste fim que levaste Passaste a vida querendo ser amado por um amor Que não lhe sabia amar, Agora só tu e eu sabemos onde jaz meu coração.

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12º Lugar - Morte Prepotente Octaviano Joba - Quelimane, Moçambique

A vida é uma calha Que quando nela se falha Na morte se espalha A morte é uma navalha Foice que talha Sem dó a vida entalha A vida é feita de palha Morte, chama que a agasalha… Quando a morte ralha A canalha vida se cala Não fala… Bolha de espuma é a vida Agulha é a morte A vida é toda ela protegida Morte, duro corte Vida é luz Morte, a linda cruz…

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13º Lugar - Dubitável Futuro Francinilde Machado Serejo (São Luís-MA)

Fim de um domínio Do Ipiranga à glória O grito de liberdade Entrou pra nossa história

Do fico em lutas constantes De um povo heroico Ó Pátria amada Raios intensos iluminando dubitável futuro És tão maltratada pelos filhos teus

De um sonho acordo em pesadelo Deitado no carma da corrupção Terra adorada Campo de batalha sistemática Ainda brilha a luz da esperança Do renascer de nova Pátria, Brasil.

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14º Lugar – Nauta Erivania dos Santos Fernandes - São Paulo-SP

Pensamentos, sondam minha mente Ressuscitando em mim sucintos sentimentos; Que contentam a alma e o coração, De um ser de olhar outrora descontente.

Que louca fantasia, que rouba o meu presente! Cada flash no espelho revela em meu olhar, Sonhos e aspirações notáveis, a quem o Amor tornou-se a sua alegria grácil.

Em mim, pensamentos excedidos; E não desejo desvios, sim encontros; Estamos realmente ligados?

Não me negue um olhar, dei-me por inteiro; Se junto a mim estais, submergido, vamos Navegar na embriaguez deste amor.

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15º Lugar - A dança Natana Ester Silva Coelho – Contagem-MG O peito que Arde em brasas Desfaz-se em pétalas A cada passo descalço Inscrito No vão. E cada passo dado Ao acaso descompassado Estremece o chão Eu te r remoto Me abalo sísmica De meu embalo rítmico Até desaguar na inconstância Dos meus fluidos rios arteriais E incendeio o gélido; Metamorfoseio o espaço; E o tempo que cabe Em cada espaço De tempo. Inconveniência de marcapassos, Se o passo voa, vira pássaro E bate asas no compasso Das batidas do coração. Revista Inversos nº 6 – dezembro 2018

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16º Lugar - O Voo da poesia Mônica da Silva Costa – Jacarezinho-PR

Nas asas da poesia, não há poeira assentada; palavras se movimentam qual aves em revoada. Os versos não chegam prontos, exigem muito pensar, pois, precisam ter sentido, muito mais do que rimar. As palavras voam alto, chegam próximas do céu para poder enxergar o seu lugar no papel. No voo da poesia, conhece-se a liberdade, mas não se deve deixar de ter sensibilidade. As belezas do Universo vão contemplando o poeta, e a sua filosofia, de certa forma, o completa. Na companhia das letras, ele, então, vai colocar as palavras escolhidas cada uma em seu lugar. O poeta vê a essência de quase tudo o que existe, coisas que o deixam alegre e também que o deixam triste. Na hora da criação, é um grande observador; seus versos têm que prender a atenção do leitor. A leitura de um poema tem que nos fazer pensar, mas também e, sobretudo, tem que nos emocionar. Poetas podem compor e escrever com a razão, porém, os versos mais belos são feitos com o coração...

Revista Inversos nº 6 – dezembro 2018

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17º Lugar - Vidinha de mãe Gabriela Maria Soares Gonçalves – Portugal

Paula levanta-se num ápice aos primeiros acordes de Runaway do seu despertador. Os seus cabelos loiros e encaracolados desgrenhados tapam-lhe os olhos azuis turquesa. Tropeça no chinelo, bate na ombreira da porta. Abre a luz do quarto da primeira filha e depois da segunda. “Acordem!”. Corre para a cozinha onde já consegue subir as pálpebras. Em tempo record prepara as três lancheiras e as tigelas com os pequenos almoços. Coloca tudo em cima da mesa e corre para o banho. Sai do banho tão rápido que mal se lembra de ter entrado, mas como escorre água por todo o lado, fica tranquila. As miúdas ainda nem na mesa apareceram. As camas continuam por fazer e discutem a cor das meias que vão usar. Sente a fogueira crepitar dentro do peito e um chorrilho de raspanetes e ameaças saem cuspidos sem passarem sequer pelo cérebro. Ao fim de algum tempo lá consegue que as três estejam no elevador. Tenta olhar-se ao espelho mas não tem espaço e quando ganha uma nesga já está no rés-do-chão. Siga. Entra no carro. Percorre o curto caminho até às escolas a dizer o quanto está chateada por sair sempre atrasada sem culpa e a dar as últimas instruções para o dia. Estaciona o carro, dá um beijo nas miúdas e corre para o comboio. A meio do caminho o salto escorrega e lá se esbandalha à frente de todos. Levanta-se, ajeita a saia e guarda para pensar na dor depois porque o comboio não espera. “Ainda bem que não está a chover!” O dia no trabalho é passado entre telefonemas e reuniões. Pelo meio vai tentando saber das filhas que só usam o telefone para falar com os amigos pois a ela nunca respondem. Ao stress junta-se a preocupação. Quando dá conta está na hora de sair e fazer o caminho inverso. Antes de ir para casa ainda passa no supermercado para comprar o arroz que se esqueceu no fim de semana. Entra em casa e quase desmaia. Era capaz de jurar que aquela não era a casa que ela deixou, com tanto esforço, tão arrumadinha de manhã. A sua primeira paragem é a cozinha, esquecendo a vontade que tinha de ir à casa de banho. Põe o jantar ao lume, põe a mesa e a máquina da roupa a levar. “Estendo-a antes de ir para a cama”. Entre sal e talheres trata do cão e dá outro jeito à casa. Depois do jantar dá explicações a uma filha e ajuda nos tpc’s da outra. Passa a ferro. Trava a luta de conseguir meter as moçoilas na cama. Lava os dentes mas já não lhe apetece pôr os cremes. “Talvez amanhã”. Deita-se e sem ter tempo de tirar os óculos já ressona. Acorda em sobressalto. “Que estupida que sou! Como é que me esqueci de pagar a luz”?

Revista Inversos nº 6 – dezembro 2018

Feira de Santana, Bahia, Brasil - Página 29


18º Lugar - O Sertão em mim - Isadora Cristina – Capoeiras-PE Apesar da imensa avenida em frente, das luzes que ofuscam minha mente, Do barulho no semáforo a ensurdecer, ainda posso ver ao entardecer. As lembranças guardadas da minha terra a renascer... A ascender na urbana atmosfera, paisagem serena da antiga serra. A longa estrada que nos separa, anuncia a saudade que dispara. Leva-me a sonhar, para poder enxergar O meu sertão querido se levantar. Sinto falta do solo em que me criei, do meu povo, da cultura que jamais deixei. Saudade da pequena cidade, de um interior rico de muita simplicidade. Sinto falta das feiras, em que minha mãe trabalhava na maior zoeira, Colhendo e vendendo o alimento, pra garantir nosso sustento. Pra mim era mais brincadeira! De tolda em tolda, pulava pra tocar o artesanato, Era chapéu e vassoura de palha, panos de prato pintados à mão. As carrancas, também olhava com admiração... Os cordéis e xilogravuras nem precisava comprar pegava, sentava e viajava na literatura de um cabra. Zé monteiro que reconhecia de cara, ao ver a imagem do pau de arara. As esculturas de argila de São João, Santo Antônio e Padre Cícero, Eu não podia tocar, eram sagradas demais, não podiam quebrar, Mas as redes em renda, miçangas e ponto cruz, Não escapavam das minhas molecagens, sob um sol de muita luz. Sinto falta das casas de taipa, do fogão a lenha, Das estórias (re)contadas pela minha vó que se tornaram lenda. Das galinhas a correr pelo terreiro, do tocar do gado pelo boiadeiro, Das tardes debaixo do umbuzeiro lendo os romances de Carreiro. Minha força ainda é saber... Que o filho do agricultor, que um dia saiu pra capitá pra sê doutor, A sua casa um dia retornará, trazendo pra compartilhar, O conhecimento que foi buscar. Pois não importa aonde quer que eu vá Sempre olharei para o sertão com admiração, Serei sempre um matuto de coração. Revista Inversos nº 6 – dezembro 2018

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19º Lugar – Quero Fernanda Costa – São Paulo-SP

Quero ser tocada, acariciada, aquecida, inflamada. Convencida de que o universo não existe e que a loucura é a única maneira Aceitável de se viver. Quero que você me mostre, encoste, chegue mais perto do que seria possível, Plausível, cabível. Quero sentir, sem pensar, agir, me deixar levar. Quero que seu corpo seja a trilha para meu paraíso secreto e particular, que sua Voz seja caminho; murmúrios a me guiar. Quero pertencer ao instante alucinado em que dois se tornam um, brilho nos olhos Enlouquecidos e famintos. Mais, sempre mais. Quero ritmo marcado, crescente, estonteante. Quero preenchimento, de corpo, alma e coração. Quero entrega total, ainda que passageira. Quero o corpo desfeito, o leito amassado, o mundo transformado em centelhas de Luz e calor. Quero que você me leve. Tão longe quanto você for.

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20º Lugar - O Gravata Branca Evandro Ferreira Rodrigues – São Gonçalo-RJ Quem olha, pensa num trabalhador grã-fino e vestido na beca. Poderia ser também um funcionário do alto escalão de uma empresa. O Gravata Branca é uma pessoa educada, atenciosa e sempre anda bem perfumado. Quem o conhece, pensa logo que ele quer chamar atenção das lindas moças da empresa ou mesmo, dar cantada na mulher de alguém. Gravata Branca tem um hobby. Ele gosta de vender perfumes importados e presentear; seus amigos com amostras de cada perfume em suas peles. Ele é querido por todos. Depois de muitos anos que se passaram e com o desenrolar das histórias que as más línguas iam contando para todos da empresa, parece que se começou a perceber que cada qual vinha tendo problemas conjugais em casa O Gravata Branca, sempre elegante e amigo; de todos, não perdia seu costume de perfumar, como forma de amostra grátis e gentileza, seus colegas de trabalho. Certo foi que, as mulheres, sempre mais astutas e perceptivas do que os homens foram juntando as peças do quebra-cabeça e chegaram numa conclusão:

aquelas que foram perfumadas pelo gentil Gravata Branca, se

separaram. Elas também indagaram os amigos homens. Perceberam que Sr. Aluízio, Luiz cabeça de porco; Paulo da cambusa; e Raimundo da bocada; tiveram problemas com suas esposas, pois as mesmas, em tempos diferentes, sentiram o forte cheiro dos perfumes importados do Gravata Branca e algumas largaram seus esposos, outras duas, foram ao trabalho de seus maridos, pois desconfiavam de mulheres. Os dias se passavam e as roupas continuavam voltando com perfumes diferentes. Elas foram espalhando para as demais e juntou-se uma ruma de mulé para uma mega operação nessa empresa. Chegado o dia das mulheres irem, todas se organizaram com documentos, a fim de que, ao sair da empresa, darem entrada nos divórcios. Os homens morriam de medo do Gravata Branca por conta dos perfumes, que eram ótimos, mas a fragrância grudava nas peles por aproximadamente uma semana. Que mulher, toleraria tal coisa? Ou o que marido iria contar em casa? Chegando lá e todos falando a mesma linguagem, inclusive as funcionárias, que o tal Gravata Branca fazia isso com geral, as esposas ficaram sem entender, mas estavam dispostas a encontrar o Gravata Branca para uma “sabatina”. Chegando à gerência, descobriram que ele, naquele exato dia, tinha sido demitido ao chegar bem cedo à empresa. Elas ficaram doidas, mas nunca encontraram o rei dos perfumes; ou mais conhecido como: O Gravata Branca. Por onde ele deve estar aprontando?

Revista Inversos nº 6 – dezembro 2018

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Ressaca do torso mal adormecido Aline Bernardi – Rio de Janeiro-RJ

Continuo me perguntando: qual o limite do momento? As costas vibram no epicentro do meu corpo, o umbigo se retorce na tentativa de espremer no cálice a seiva que verve nas veias. O peito esboça lembranças do silêncio daquele descanso olhar; O desejo invade meu respeito e eu respingo no abraço; O solo racha quando o cinema explode pelo corte da navalha. Continuo me perguntando: até onde recolho diante da necessidade? No ventre da distância e no horizonte da proximidade meus pés brotam suor, o fruto furta-cor daquelas cordas brincantes adentra minha timidez e a chama pra dançar no meio do salão. O dia nasceu com tom de madrugada; O sol brilhou na saliva da surpresa. Continuo me perguntando: a mentira é o que? O eco altivo da moral decanta em minhas fronteiras, o tempo coagulou e dissolveu naquele toque. A dúvida perdura na suspensão; O verde das folhas reluz o oxigênio do próximo passo. Continuo me perguntando: se não há sublimação, o que é que há?

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Incongruência Edilson Sostino Mocumbe – Maputo, Moçambique

Ontem, a poesia me era inconstante uma navalha cravada no peito, e os medos antes guardados no langor da tépida solidão, sucumbiam. Ontem, … sem você meu amor o uísque fora o conforto real da morte do ex-poeta em mim.

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O Aquário Valéria Cristina Da Silva – Contagem-MG

Ela vinha de um lugar poeirento onde só havia asfalto na rua onde o ônibus passava. Do lado de fora do aquário, ela via um peixe morto subir e descer arrastado pela corrente da mangueira de água cheia de lodo. Mergulhou em seus pensamentos na hora: Naquele dia tinha andado horas, correndo atrás de emprego. No envelope pardo nas mãos seu currículo amassado, percebia sua realidade miserável, nem dez real direito a mais pra tomar um suco e comer numa lanchonete vagabunda tinha... Pensamento interrompido por ter de lidar com o constrangimento de um hippie a pedir a ela o dinheiro que não tinha e pra não ser mal educada respondia com sorriso amarelo a extorsão daquela figura. Lembrou-se de minutos atrás, quando parou para esperar o sinal abrir e viu aquela loja de aquários que parecia um santuário... Respirou e os ônibus pararam, ela atravessou em busca de respiro. O peixe subia e descia ao sabor das pequenas ondas como ela subia e descia no mar de gente desempregada e desocupada daquele lugar miserento. A turba de gente era impressionante e nada ali admitia sucesso. A cidade era cercada de presídios, metropolitana a capital, lotes vendidos sem nenhum cuidado, ruas de terra, gente de barro e cara de fome. Olhou mais um pouco... Hálito seco, desesperança. Não iria ser nada além daquilo ali: poeira, corpo e alma seca. No espelho embaçado do aquário via seus olhos marejando cansaço. Resolveu sair dali. Jogou seu envelope pardo no lixo, atravessou outra rua, entrou num boteco copo sujo. Pediu uma ficha pra tocar música, as luzes da junkebox rodavam como o peixe e ela no aquário... Pediu uma pinga... Calor e suor. Gente feia a olhando, rosto enrubescido da Revista Inversos nº 6 – dezembro 2018

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fome e daquela vida que não era nada. Chegou o Miúdo, personagem roto e boçal, mas que trazia salvação. Olhou no fundo de seus olhos: não precisou de palavras... Duas pedras no alumínio, uma latinha, fumaça e nova baforada... “Shummmmmmmm” soltou a fumaça devagar. Agora sim ela era o peixe colorido e sem vida que rolava de um lado pra o outro naquele aquário quente.

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Botão de Rosa, de Jazz Melro Joana Filipa Ferreira Patriarca – Porto Santo, Madeira, Portugal

Começa ali. Naquele ponto. Despercebido, a sua existência ignorada. E cresce. Lentamente, suavemente. Segundo a segundo, minuto a minuto, hora a hora, toma o formato de um botão de rosa. Tocamos nele com a ponta da razão. Quem és tu, flor que nasceste no meu coração? O toque é veludo, o sentimento - duvida-se - é profundo? E duvida-se, e duvida-se... A Razão de Viver intromete-se. Exige normalidade, exige realidade, exige... fazer algo. O quê? Descobrir. O quê? A razão. A razão? A razão de viver. A Razão de Viver exige descobrir a razão de viver? Sim. Mas como? Não é ela a razão de viver? É. Não devia de saber qual a razão de viver? Devia. Porque não sabe? Nenhuma sabe. Todas têm de descobrir. Ah... E o botão de rosa, sem nunca perder a magia, cresce lado a lado com o sonho da fantasia. E quando a Razão menos esperava, maldita revolução do coração, gritava, o botão de rosa abriu-se. O seu esplendor, a sua vivacidade e o doce perfume da felicidade enchem o corpo e atingem a alma. De cor vermelha, e tão vermelha! De toque aveludado, que tesouro! Quem és tu, flor que passou a ser tão valiosa como ouro? Arrebatado por uma alegria extrema, comandado por uma lealdade absoluta, guiado em dar sem pensar em receber, quem és tu, flor que me mostrou o que é viver? Sentindo-se nas nuvens, a planar no vento, a viajar até à Lua, mergulhar até ao fundo do mar, quem és tu, flor que põe o meu coração a galopar? Então, no mesmo instante em que o botão deixava de ser botão, cada uma das pétalas soltou-se, viajando, não permitindo o acompanhamento da Razão. Veio a repousar noutro, em Outro. E o Ser não demorou a perceber. Era aquele que recebeu as pétalas da sua rosa a sua razão de viver. Inundado de amor recém descoberto, toda a sua alma expande. Proteger decididamente e amar profundamente, quer partilhar! Quer discordar gentilmente, discutir violentamente e gritar para libertar! Quer agarrar dolorosamente e beijar sofregamente. Quer dar a mão ao seu próprio e novo coração! Respirou-se fundo. Bem fundo. O coração acalmou. E sossegou... Um sorriso apareceu, outro depressa o recebeu. Cumplicidade garantida, amor até à próxima vida.

Revista Inversos nº 6 – dezembro 2018

Feira de Santana, Bahia, Brasil - Página 38


O Sertão e seus encantos Luís Laércio Gerônimo Pereira – Lagarto-SE Distante

dos

grandes É viva a lenda do nego A cultura no sertão

centros,

d'água,

É algo que se reflete,

Do tumulto e agitação

No rio da integração,

Conselheiro de Canudos,

Eis que existe um rebento,

O lobisomem, a caipora

Lampião cabra da peste;

Um cantinho, um torrão,

Assombram a imaginação,

Religião e cangaço,

Concentra

todo

tipo

de

Se

emendando

gente,

Fogo corredor e mula-sem- estreitando os laços,

Do fanático ao descrente

cabeça,

É assim o meu sertão.

São lendas que se respeita,

e

Desse povo do nordeste.

Mantendo a superstição. Apesar de ser latente, A

seca

é

símbolo

O cancioneiro no Nordeste, de Retratado por poetas,

adaptação;

Apela pra os autos de fé,

De nome e de tradição,

Dantas,

Humberto

O sol, é sensivelmente mais Graciliano Ramos expressa, Teixeira, quente

A tormenta e a sujeição,

Suassuna e Patativa do

E queima a pele do peão;

Em vidas secas, empresta,

Assaré;

A chuva se torna ausente,

A situação funesta

Essa grande inspiração,

Castigando a semente,

Lá do povo do sertão.

Junto ao rei do Baião,

Sufocando a plantação.

Enaltece o meu nordeste.

O sertão também produz Mitologia e religião; Vigários que ao pé da cruz, Celebraram a tradição Mantendo a fé em Jesus; Valei-me, meu Padim Ciço! Abença, Frei Damião!

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Feira de Santana, Bahia, Brasil - Página 39


Canto para a morte Juliana Karol de Oliveira Falcão – Soledade-PB

As pisadas fortes no asfalto grosso O salto risca o chão, e choro sim. Frio de tristeza vil pesa o dorso, Chuva no rosto, tão borrado carmim.

Quimera ferida, alma que grita. Que pede socorro e busca carinho. No avesso dos ponteiros. É escrita. Triste destino. Instinto caminho.

A chave que gira destrava a porta Com a violência de um furacão. Reflexo vence a medusa exposta. Destruída a vida de vago coração.

Pinga no copo, calma envenena. Sedento beber, amargo sabor. Deitada no canto, suave serena, Saúda a morte, seu lindo esplendor!

Revista Inversos nº 6 – dezembro 2018

Feira de Santana, Bahia, Brasil - Página 40


Batuque Alberto Arecchi - Pávia, Itália As garotas saíram da escola, batendo o ritmo com as mãos. Se revezaram para pular na corda, enquanto duas companheiras estavam girando-a sempre mais rápida, logo imitadas pelas irmãs mais velhas e as mães, com crianças pequenas penduradas às costas, até por algumas avós desdentadas. Máscaras brancas de ocre no rosto, quase fantasmas saindo das vagas do mar. Faziam as capulanas subir até os quadris e batiam os pés ao ritmo dos palmos. A corda rodeava mais e mais rápida, enquanto os pés da garota mal se moviam, rastejando rápidos. Parecia apenas levantar os quadris, com rápida, quase imperceptível oscilação, para não tropeçar. Nas casas, pilões batendo o ritmo com milho e mandioca para fazer farinha. Aqui, também, parecia mais uma dança que uma tarefa da vida doméstica…O pilão voando, as mulheres batendo as palmas, antes de puxá-lo de volta no almofariz. Umas mulheres, de vez em quando, aceleravam o ritmo, como querendo esmagar todo o milho da região. A casca voava por fora do almofariz. O pilão pulava ágil, voava para o céu, ficava suspenso, enquanto a mulher batia os palmos. Os jogadores de tambores acenderam um fogo de palha, para aquecer as peles e esticá-las, reforçando assim o som dos instrumentos. Quando os tambores foram afinados e sintonizados, jogando sons cada vez mais penetrantes, uma multidão de crianças cercou os músicos, dançando sem parar. O sol estava se pondo, os ruídos do dia davam lugar aos murmúrios da noite. As sombras mais compridas, na luz avermelhada. O ritmo acalmou um pouco. Após, como fogo de brasas, pareceu que se recuperasse com a brisa da noite. Agora era o ritmo insistente do tambor de axila, que insistia, em uma sequela de batimentos frenéticos, como quisesse acabar com a pele do instrumento ou com a vara de percussão. Logo depois era o tambor grande, batido com os palmos das mãos, e quatro meninos – aparecidos do nada – recomeçaram o rastreamento de pés no pó, levantando os joelhos, contorcendo sem parar. Na noite ressoaram as vozes das mulheres da aldeia. Cantavam baladas de dias passados, quando o povo reinava sobre a terra, antes que os brancos chegassem. Cantavam os feitos heróicos de reis e marinheiros, também cantavam tristes histórias de guerra, de morte, de emigração. Cantavam todo o sofrimento do povo, mas não sei exatamente o que estavam contando. Em meu coração apenas tocavam as vozes que enchiam a noite, junto com as percussões frenéticas e inquietantes, como se chegassem desde a distância dos séculos… era batuque.

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Feira de Santana, Bahia, Brasil - Página 41


Cabide Flávio Theodósio Junkes – Biguaçu-SC

Preciso de ti, ora! Segura para mim? ... Meio pesado, confesso, mas olha que belo?! Quase poético, não acha? Sei que és frágil, vives no escuro, fechad@, Contudo, faça uma forcinha! Não vai se arrepender. Saia do mofo, saia do tolo! Vamos ver a roupa nova? O que sentiu? Mais complet@, plen@? Por que não fica aqui fora? Vai lá, tomar um sol no varal da vida, Feito esta veste! Lá vigem poesias, E tem a tal da lírica. Cabide? Cabide! Pare com essa rigidez! Não és tão duro quanto aparentas! Una seu corpo a vossa alma esguia! Na real: esqueça as roupas!

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Feira de Santana, Bahia, Brasil - Página 42


Sortilégio Almir Floriano – São Paulo-SP

Assim como Portinari Eu também persigo o azul Beethoven não ouvia suas notas Assim como não ouço aplausos Mas sigo compondo minhas canções Pois do outro lado existe um publico silencioso Que se cala para melhor absorver as emoções Vinícius poetou a garota de Ipanema Mas eu poetei todas as mulheres Não apenas uma me enfeitiçou de encantos Pois que sou escravo das suas cores e perfumes Também gosto de reparar seus “entretantos” E sigo escrevendo nomes nas estrelas E colhendo flores universais Para enfeitar os cabelos dessas deusas amigas E não saberia dizer De qual delas eu gosto mais

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Feira de Santana, Bahia, Brasil - Página 43


Versos Brancos Ana Carolina Rodrigues de Oliveira – Barbacena-MG

Eu não tinha este solo de hoje, assim sujo, assim fétido, assim torpe, nem estes filhos tão vazios, nem o relento hostil. Eu não tinha estas entranhas infecundas, tão nulas e frágeis e pétreas; eu não tinha esta efígie que agora se mostra. Eu não escolhi por esta mudança, tão rude, tão fria, tão dura: -Em que era ficou perdida a minha estória?

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Revista Inversos nº 6 – dezembro 2018

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