Segmento Portefolio "Pergunta ao Tempo" [©Revista A Oficina MAI-AGO 2019]

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PERGUNTA AO TEMPO / DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS / FESTIVAIS GIL VICENTE / EXPOSIÇÕES CIAJG GEOMETRIA SÓNICA CARLOS BUNGA / REGRESSO DA FEIRA DE ARTESANATO

PROGRAMAÇÃO

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Recomeça... Se puderes/ Sem angústia/ E sem pressa”. A Escola Básica de Mascotelos pediu estes versos emprestados a Miguel Torga para os colocar na base das escadas que dão acesso às salas de aulas. Os alunos do 4.º ano estão sentados por aqueles degraus acima, à espera que seja a hora do reinício das aulas, depois da pausa para o almoço. Faltam poucos instantes para as 14h00. “Vamos lá”, diz, finalmente, a professora, Márcia Santos. A frase desata uma correria desenfreada das crianças até à sala de aula. Quando entrámos pela porta já estão todas tranquilamente sentadas, como se nada se tivesse passado nos segundos anteriores. Estes são 26 dos mais de 300 alunos que, ao longo deste ano letivo, participam no projeto educativo Pergunta ao Tempo, desenvolvido pel’A Oficina. Durante um ano, os alunos do 4.º ano de várias escolas do concelho debruçam-se sobre o património, nas suas múltiplas vertentes: material e imaterial; móvel e imóvel. A base de trabalho é a exposição permanente da Casa da Memória de Guimarães. E, tal como o museu vimaranense, também este programa educativo está dividido em 14 núcleos. São, por isso, 14 as turmas envolvidas no projeto em cada edição. Este, é o terceiro ano letivo em que está a ser implementado. Há quem tenha que refletir sobre a Industrialização do Vale do Ave, a Fundação da Nacionalidade, Cartografias e Território de Guimarães ou Utopia e Distopia. Depois de atribuído um dos temas, cada professor tem depois liberdade para mobilizar os conteúdos que lhe parecerem adaptar-se melhor. Só não podem perder o norte de Pergunta ao Tempo: o património. O de Guimarães e o das freguesias de cada uma das escolas. Em Mascotelos, a professora Márcia Santos usou o tema recebido (Contemporaneidade) para fazer os 26 alunos trabalhar sobre a própria escola que frequentam. As crianças foram desafiadas a perceber a história daquele edifício, recuando aos anos 1960, quando este foi construído, para depois fazerem uma comparação com o espaço que hoje conhecem. “A escola antigamente era diferente”, conta Matilde Lourenço. “Havia uma porta para os professores e outra para os alunos”. Esta é uma ideia que impressiona muito a turma. É bem percetível o à vontade que têm com a professora. E estranham, por isso, um tempo em que era obrigatório o tratamento por “senhor professor”. No entanto, o que mais marcou os estudantes na recolha que fizeram ao longo dos últimos meses é uma história sobre o tempo de recreio. “No intervalo, os meninos iam brincar para ali, para fora da escola”, começa por introduzir Iris Almeida. “Eu acho que os alunos tinham uma responsabilidade diferente para ir brincar para fora da escola”, acrescenta Vicente Ferreira. Terminada a brincadeira e antes de regressarem à sala de aula, esperava-os uma funcionária da escola. “À porta, batia-lhes com o pau nas sapatilhas, que era para tirar a terra”, prossegue Iris. Foi uma antiga trabalhadora da escola de Mascotelos que contou esta história aos alunos. Aliás, quase tudo o que descobriram sobre o edifício onde têm aulas foi-lhes contado por alguém. O método de investigação privilegiado pela professora foram as entrevistas. Falaram com pais e avós. Até com catequistas e o presidente da junta de freguesia, contaram os alunos. “Eles fizeram guiões, levaram fichas de trabalho, tudo para se sentirem autênticos investigadores”, explica Márcia Santos. Quem não era natural da freguesia – e não tinha, por isso, ninguém a cujas memórias pudesse facilmente recorrer – fez uma pesquisa documental, que os levou até ao Arquivo Municipal. “Eles correram tudo”, sublinha a professora. Pergunta ao Tempo percorre literalmente Guimarães. E se os alunos de Mascotelos estão bem próximos do centro da cidade – a pouco mais de um quilómetro do Pavilhão Multiusos – os da EB 1 de Vinha, em Atães, vivem já num contexto claramente rural, seis quilómetros afastados da sede de concelho. O projeto reflete sobre estes contextos distintos. Há, contudo, uma


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——--------------— Pergunta ao Tempo percorre literalmente Guimarães. ——--------------— grande continuidade nas metodologias usadas pelos diferentes docentes. Os alunos de Atães também entrevistaram muitas pessoas para preparar o seu trabalho para o Pergunta ao Tempo. O núcleo da Casa da Memória que está por eles a ser explorado é o Atlas das Curiosidades, pressuposto suficientemente amplo para permitir uma exploração da freguesia em que vivem. Assim, trabalharam sobretudo acerca das tradições rurais, cruzando-se com pessoas que também habitam Atães. Um desses exemplos foi Bininha, tia afastada de um dos estudantes da turma. “Ela faz umas mezinhas, que aprendeu a fazer com umas senhoras que trabalhavam no Mercado Municipal e fomos conhecê-la”, contextualiza Marisa Sousa, a professora. Francisca Carvalho foi a sua “cobaia” – como foi designada pela professora. “Fez-me uma mezinha para as bichas”, recorda a aluna. Os colegas filmaram o processo e também entrevistaram Bininha. “Antigamente não havia médicos e comprimidos e as pessoas tinham que fazer isto”, explica Mariana Pereira. A turma ainda voltará a casa de Bininha, antes do final da investigação para o Pergunta ao Tempo. Na próxima incursão, será a vez de Simão Novais fazer a “talha da rana”, um refrão tradicional que tem como intuito curar a febre aftosa. Na escola de Souto Santa Maria, os alunos trabalham a Refotografia – inspirando-se no trabalho do fotógrafo contemporâneo Tito Mouraz que pode ser visto na Casa da Memória. Junto das suas famílias procuraram arquivos fotográficos. Quem tem a imagem mais antiga de todos vocês?, pergunta-se. “A Inês”, respondem, em coro, os estudantes da turma – onde convivem crianças do 2.º e 4.º anos. “Eu fiquei impressionada com essa fotografia”, comenta a professora, Liliana Freitas. A imagem de que se fala tem mais de 100 anos e recua quatro gerações na genealogia de Inês Antunes. É um retrato, no centro do qual há uma mulher mais velha, de cabelo apanhado atrás da cabeça e vestido negro. Está rodeada por quatro crianças. Aos seus pés, duas raparigas, claramente mais novas, estão vestidas de branco. Há uma outra, talvez já adolescente, que lhe coloca a mão sobre o ombro. E ainda um rapaz, vestindo fato completo. Quem são? “Esta é a minha bisavó, muito pequenina”, aponta Inês. É a criança mais nova da imagem. A mulher da fotografia é a mãe da sua bisavó. Todas as outras pessoas são suas familiares – “mas já me esqueci quem são”, diz. O volume de fotografias que os alunos da escola de Souto Santa Maria foram capazes de mobilizar junto das suas famílias é impressionante. São muitas dezenas. E, pelos vistos, podiam ser mais. Diz Simão Vieira: “Eu tenho lá duas malas cheias de fotografias antigas. Então, tive que escolher”. “Ainda por cima, são muito pesadas e estão em cima do guarda-vestidos”. Agora, é preciso fazer com que todo este arquivo faça sentido. O resultado final de um ano de investigação dos participantes do Pergunta ao Tempo será visto, em maio e junho, numa exposição coletiva na Casa da Memória. Cada turma tem, por isso, que preparar a sua própria instalação. Para Liliana Freitas, a professora da escola de Souto Santa Maria, a forma de apresentação final começou a tornar-se evidente durante os primeiros passos do processo “Quando dispusemos as fotografias numa mesa, percebemos que


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estávamos a ficar com uma coisa muito bem-feita”. Há um pai “igualzinho à filha”. Um neto que se fotografa no mesmo lugar onde antes tinha sido retratado ao avô. O exercício de Refotografia completa-se. Noutros casos, a objeto final é um pouco menos óbvio. “Tinha pensado numa maquete da escola, mas depois decidi discutir com os encarregados de educação”, afirma Márcia Santos, professora da escola de Mascotelos. Foi o pai de um dos alunos quem sugeriu a solução que vai ser usada: uma caixa de madeira, dentro da qual serão dispostas gavetas, onde se encontrarão os vários materiais do arquivo contruído pelos estudantes ao longo do processo. O Pergunta ao Tempo mobilizou transversalmente a escola de Mascotelos. Não só as famílias “colaboraram imenso”, como outros professores, que não têm qualquer relação com a turma participante no projeto, acabaram envolvidos. Antes de lançar os alunos numa correria desenfreada, escadas acima, para a sala de aulas, Márcia Santos conversava com Magda Santos, que também é ali professora, e que lhe contava que já tinha conseguido as placas de aglomerado de madeira que serão usadas para construir a instalação final. Antes disso, num dos primeiros exercícios do processo – em que pediu aos alunos para desenharem a forma como viam a sua escola – a professora fez uso de um material didático que era de outra colega: “Eu vi aquilo aqui e direcionei logo para o projeto”. Este é o primeiro ano letivo em que Márcia Santos participa no Pergunta ao Tempo. “Já conhecia o projeto” de anos anteriores, mas não tinha uma opinião muito positiva. “As colegas não me transmitiram uma informação muito boa, pareceu-me algo muito impositivo”. O currículo escolar “já é tão extenso” e a escola “já está tão cheiinha de projetos” que a professora sentia que, se fizesse mais uma coisa “em que não podia escolher” não iria gostar. “Eu ia um bocadinho renitente”, reconhece. Depois da primeira reunião com a equipa d’A Oficina que coordena o projeto, pensou: “Ou eles estão todos vestidos de cordeiro e daqui a pouco tiram a pele e mostram a carinha de lobos, ou então isto é diferente”. Hoje, está “muito satisfeita” com a forma como foi sendo desenvolvido Pergunta ao Tempo. O “maior desafio”, refere Liliana Freitas, professora na escola de Souto Santa Maria “é mesmo o tempo”. “Temos sempre tudo muito preenchido no 1º ciclo. Eu tento integrar o Pergunta ao Tempo no espaço da oferta complementar”, refere. Mas a sua experiência demonstra-lhe que um projeto educativo como este também “acrescenta imenso ao currículo”: “Uso isto em diversos temas de Estudo do Meio”, por exemplo. Mas “a grande vantagem” do programa é mesmo para os alunos, defende Liliana Freitas. “Muitos deles nem conheciam os avós” e as conversas que tiveram que ter com os familiares para resgatarem o seu espólio fotográfico foram “ótimas” para os estudantes. “Depois, eles vêm com aquela vontade de mostrar quem são”.


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“A igreja não é só o Padre. A igreja somos to dos nós. ” s

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Padre Ma rc Rodrig ue

Monteiro

, Sande Vila Nova


refotografias

sociedades rurais e festividades


ATLAS DAS CURIOSIDADES

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LUGAR DE FILMAGEM

RIOSIDADES AS CU S D A L AT

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utopia e distopia


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ias ograf t o f e r

L PORT F ÓL IO

LUGAR DE FIL MAGEM


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FUNDAÇÃO DA NACIONALIDADE

industrialização do vale e do ave

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Cartografias e Território de Guimarães


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