daqui oiço bem - O soundscape em Portugal

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DAQUI OIÇO BEM o soundscape em Portugal

número 0 // junho de 2013

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daqui oiço bem é uma publicação independente, criada pela Marta Pombeiro, para disciplina de Projecto do 1º ano do Mestrado de Design Gráfico e Projectos Editoriais, da Faculdade de Belas Artes do Porto. Tem como objectivo principal contribuir para a divulgação do soundscape em Portugal. O português aqui utilizado pertence ao antigo acordo ortográfico, acordo com o qual aprendi a ler e a escrever e o único com o qual me identifico.

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© Todos os textos e imagens estão protegidos pelos seus autores e não é permitida a sua reprodução, salvo com autorização dos mesmos.


agora é por aqui →



◆ to look is to learn, if you listen carefully. Per Arnoldi


marta pois


COMEÇA ASSIM 7 editorial

DAQUI OIÇO BEM

8 a 11 o soundscape

R.MURRAY SCHAFER

12 a 44 os projectos

ACONTECEU, ACONTECE, VAI ACONTECER.

46 nota DAQUI CONTINUO A OUVIR BEM

47 anexo PORTO SONORO


marta pois


DAQUI OIÇO BEM // editorial

TEXTO marta pois FOTOGRAFIA marta pois

daqui oiço bem surge de um desejo de divulgar o estudo do soundscape, de forma a reforçar a atenção para os sons que nos rodeiam e que caracterizam o espaço em que nos inserimos. Estes contribuem para a construção de uma memória colectiva e social.

É também minha vontade fazer deste número zero, uma primeira abordagem ao tema, esperando compreender a sua viabilidade e aceitação por parte do público.

Numa segunda abordagem, deixo a possibilidade de alargar o campo de Esta selecção reúne aquilo que melhor investigação (no sentido geográfico) representa a prática do soundscape em incluíndo outros países, dedicando Portugal, que pela sua interdisciplinaridade um número por país ou cidade, e diversidade de áreas envolvidas, quando isso assim se justificar. merecem o seu devido destaque. O presente número dedica-se aos Entende-se neste sentido que a selecção projectos desenvolvidos no nosso país possa conter falhas, no entanto este (Portugal) ou que estão a ser feitos por catálogo parte de um trabalho de portugueses, ou com portugueses. curadoria e como tal, representa um gosto e interesse particular, estando Vários são os que já aconteceram e em aberto para futuras alterações, que não voltaram a repetir-se; uns correcções ou mesmo sugestões de mantém-se em desenvolvimento, outros projectos que não foram enquanto que outros ainda estão aqui abordados. por acontecer.◆

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SOUND•

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marta pois


•SCAPE [sound-skeyp]

if landscape means a view, *. then soundscape means a 11

* sound view


& R. MURRAY SCHAFER breve contextualização

TEXTO adaptado do livro The Soundscape - Our Sonic Environment and the tuning of the World, edição de 1994, e data de publicação original de 1977.

O conceito de soundscape (paisagem sonora ou ambiente sonoro, na adaptação para português), surgiu nos finais dos anos sessenta e início de setentas através de um músico, professor e compositor chamado Raymond Murray Schafer. Preocupado pelo impacto que a poluição sonora podia causar nos habitantes, Schafer publica vários livros e desenvolve vários projectos em diversas cidades em que explora uma solução para a redução do ruído nas cidades. Em conjunto com outros músicos e compositores, cria o projecto intitulado The World Soundscape Project sediado na Universidade Simon Fraser, Britsh Columbia, no Canadá. Este projecto distingue-se pelo seu carácter colaborativo com outras disciplinas, pretendendo desenvolver o conceito do design acústico/ acoustic design. Em conjunto com diversas áreas de investigação e criação como sociólogos e músicos, pretendiam compreender quais os sons que contribuíam para o bem-estar em sociedade - e que deviam ser preservados -, e os que prejudicavam a harmonia e o equilíbrio social - e como tal, deveriam ser isolados e eliminados -. Analisando os sons presentes no ambiente urbano, Schafer procurava compreender de que forma era possível contribuir para a construção de um ambiente sonoro mais harmonioso, saudável e equilibrado. Um ambiente com o qual uma sociedade se conseguiria identificar e estabelecer relações emocionais, de afecto e pertença. Para o fazer, propôs analisar os sons presentes num determinado ambiente, catalogando-os de forma a conseguir identificar como eles eram percepcionados pelo cérebro humano.

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Num dos seus livros mais importantes The Soundscape - Our Sonic Environment and the Tuning of the World, Schafer apresenta três parâmetros de caracterização do soundscape: o primeiro, o keynote que é aquilo que representa o som de fundo, ou o som ambiente em que uma composição se baseia ou sustém, ou se quiserem, a harmonia que existe à nossa volta, mas que inconscientemente não ouvimos, por ter uma presença constante nas nossas vidas. Este é o factor principal na caracterização de uma sociedade e como Schafer explica, são os sons compostos pelo clima e pela geografia do lugar (animais, plantas, pássaros, vento, etc) que determinam e marcam o lugar; o segundo parâmetro de caracterização são os sinais, signals, são os sons que ouvimos conscientemente e que necessitamos de reparar, tais como os sons de aviso (sirenes, alarmes, sinos, etc.); em terceiro e último, está o termo soundmark que se refere aos sons que são considerados como marcos sonoros de determinado lugar. Estes sons deverão ser identificados e preservados, pois são únicos e específicos de determinada região. Em suma, por soundscape compreende-se o campo de estudo dos sons que nos rodeiam ou que compõe a paisagem que nos rodeia - ambiente sonoro/sonic environment -. Poderão ser humanos, ou criados pelo Homem; sons naturais provenientes da natureza; composições sonoras feitas a partir de captações recolhidas em ambientes exteriores, ou pensadas para uma apresentação exterior ou ainda, influenciadas pela natureza circundante e com o intuito de preservar ou divulgar esse ambiente. Compreender os achados de Schafer, é compreender a importância que o som apresenta na vida e compreender de que forma podemos contribuir para a sua preservação e manutenção de uma ecologia acústica em sociedade.◆

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PROJE•

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•CTOS

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ACONTECEU ≤ cinco cidades soundwalkers blind box novas composições

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marta pois


≤ CINCO CIDADES web . plataforma online

TEXTO site «cinco cidades» IMAGENS site «cinco cidades»

Cinco Cidades é um projecto inter-disciplinar que documenta a cultura e sons de cinco cidades portuguesas (Braga, Porto, Guarda, Torres Vedras e Lisboa). O projecto culmina numa tornée portuguesa em maio de 2007 do trio constituído por William Parker, Victor Gama e Guillermo E. Brown (“The Folk Songs Trio”). Em cada cidade, o Folk Songs Project criará um ambiente de sons que os músicos integrarão na sua performance. O projecto começou com recolhas de campo em cinco cidades em março de 2007, trabalhando com comunidades locais para gravar músicos, habitantes residentes e sons ambientes que representam cada cidade. O resultado desse trabalho foi usado para criar um mapa interactivo para cada cidade com o qual os visitantes podem remisturar sons e vozes para criar a as suas próprias gravações. O website também será usado como recurso para as performances.

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ANO 2007 → www.cincocidades.com


O web site é um repositório de sons em curso – aceitam-se novas contribuições para serem adicionadas ao site. Cinco Cidades foi concebido e produzido pelo The Folk Songs Project, em parceria com a Pangeiart.◆

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≤ SOUNDWALKERS video . documentário [33’]

TEXTO raquel castro FOTOGRAFIA raquel castro

Alguns princípios são fundamentais para construirmos uma sociedade acusticamente saudável, onde possamos viver dentro dos sons da vida. O respeito pela voz e pela palavra, a consciência sonora, o despertar da audição. Preservar os sons que tendem a desaparecer, mas ter abertura para os sons que nascem com cada novo passo tecnológico.

CONCEPÇÃO, REALIZAÇÃO, SOM E MONTAGEM Raquel Castro GRAFISMO Mackintóxico ASSISTENTE Amaya Sumpsi GRAVAÇÕES DE CAMPO Raquel Castro, Pedro Caeldries, Tiago Pereira

Construir uma linguagem sonora que interprete o seu simbolismo.

PÓS-PRODUÇÃO SOM Rafael Toral

Aceitar o silêncio, impondo-o nas alturas certas.

PRODUÇÃO Bazar do Vídeo

E, acima de tudo, ouvir.◆

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ANO 2009 → www.vimeo.com/24456795


Aceitar o silĂŞncio, impondo-o nas alturas certas. E, acima de tudo, ouvir.

screenshot ao minuto 31

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≤ BLIND BOX instalação . vídeo

TEXTO brochura «ao alcance de todos» FOTOGRAFIA maria mónica

Num espaço mergulhado na escuridão apenas se escuta. A audição torna-se o sentido único num percurso por sons do quotidiano, fortes ou subtis, secos ou suaves, todos tão familiares que no correr dos dias acabam por ser descuidados. Despertar no indivíduo visual uma audição atenta é o exercício que se propõe com a instalação Blind Box. No interior de um contentor de metal, sonoramente isolado do exterior, a realidade faz-se dos sons ouvidos ao longo de percursos efectuados por cidadãos cegos – podem ser passos, o chiar dos pneus no alcatrão, vozes, pássaros, uma sirene, o tilintar na chávena de café. O objectivo não é acentuar as diferenças e dificuldades dos invisuais, mas sim dar a ouvir/ sentir o que passa

despercebido no dia-a-dia de quem vê de uma forma mais cuidada. O visitante é, pois, desafiado a escutar a realidade. Depois de vivida esta experiência, é convidado a visionar o percurso de todos esses sons, filmado por uma câmara de vídeo que acompanhou o itinerário de uma pessoa cega.◆

CONCEITO Jorge Queijo PROGRAMAÇÃO + SOM José Alberto Gomes VISUAIS Maria Mónica

ANO 2011 → www.youtube.com/watch?v=bceCcu4A3MI

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≤ NOVAS COMPOSIÇÕES manobras no porto . instalações sonoras

TEXTO programa «manobras do porto» 2011/2012 FOTOGRAFIA gustavo costa, ana carolina, mariana gomes, jorge vieira

FONTINHA E OUTRAS HISTÓRIAS POPULARES Fontinha e outras histórias populares resume dois anos de recolhas sonoras efectuadas no centro da cidade do Porto. Procura espelhar a simples complexidade do quotidiano das pessoas comuns através dos sons que as rodeiam e das suas histórias, contadas na primeira pessoa.

CONCEITO Gustavo Costa

NARRATIVAS DO TEMPO

Partindo de gravações recolhidas no centro do porto, que remetem para a ideia de passagem de tempo, a instalação faz uso da reverberação para prolongar o som e interagir com o espaço, de modo a permitir que se volte a ouvir o passado, de forma expressiva.

CONCEITO Filipe Lopes 24

ANO 2012 → www.sonoscopia.pt/?page_id=708


TUODOS OS NOMES

SNAPSHOT - SOM URBANO SOB FUNDO BRANCO I

Esta intervenção incide sobre dois focos. O primeiro é o isolamento de pequenos momentos sonoros do Porto. - Que fragmentos serão audíveis ou não será uma decisão do público. O segundo é uma interpretação artística e musical desses ambientes sonoros que se reflectem num novo organismo sonoro.

Nesta instalação, vários espaços sonoros do porto são reproduzidos e, algures no meio deles, nomes próprios são chamados por pessoas do porto e com sotaques do porto. porque no espaço acústico - como no resto? - a fronteira entre o que é partilhado e o que é pessoal depende apenas da nossa sensibilidade.

CONCEITO Rui Penha

CONCEITO José Alberto Gomes

 PARA CONSULTA DE OUTROS TRABALHOS: GUSTAVO COSTA → www.gustavocosta.pt FILIPE LOPES → www.filipelopes.net JOSÉ ALBERTO GOMES → www.jasg.net RUI PENHA → www.ruipenha.pt

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ACONTECE ∞ porto sonoro arquivo sonoro de pernes luís antero criação de paisagens sonoras

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∞ PORTO SONORO plataforma online . biblioteca de sons

TEXTO site «porto sonoro» ILUSTRAÇÃO marta pois

O trabalho aqui desenvolvido é feito em torno do património sonoro do Centro Histórico do Porto, uma vez que é precisamente esta identidade que se pretende registar, restaurar, recriar e catalogar. Como património sonoro entende-se todo o tipo de evento sonoro que caracterize e descreva claramente o CHP, nomeadamente o som envolvente (o som das ruas e espaços públicos), marcos sonoros específicos (o sino de uma determinada igreja, por exemplo), elementos musicais localizados (preservação da ligação de um evento musical a um espaço específico), fonética e fonologia (identificação e significado de pronúncias e frases características) - na página 29 encontra-se a descrição de cada categoria -. A recolha deste património é feita com equipamento especializado para gravações de campo, sendo depois catalogada, ordenada e disponibilizada para vários projectos de cariz musical ou sociológico. A maior parte dos registos é feita com microfones binaurais, cujo tamanho e colocação (semelhantes a pequenos headphones) permitem o registo discreto dos eventos sonoros. Isto possibilita um tipo de captação anónima, mantendo sempre a privacidade dos eventuais intervenientes. Esta abordagem é completamente distinta de um registo audiovisual, uma vez que aqui, dada a associação directa de vozes, pessoas e locais, o registo poderia tornar-se limitativo (restringir um depoimento genuíno, por exemplo) ou invasivo (a associação de uma acção a uma pessoa concreta, por exemplo). Para além do registo anónimo, serão feitos vários registos devidamente documentados, tais como o relato de histórias e expressões verbais ou excertos musicais.

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DESDE 2010 → www.portosonoro.pt


Os registos sonoros serão ainda editados e tratados digitalmente. Nesta fase está também a ser feito um trabalho de pré selecção do material registado, arquivando-o segundo temáticas que permitam um acesso universal. O projecto de recolhas sonoras está também relacionado com o projecto Rádio Manobras, onde poderão ser divulgadas algumas das recolhas sonoras efectuadas. Este projecto contribuirá assim para uma programação variada da Rádio Manobras, assente no legado sónico do CHP. Este site servirá como plataforma de apresentação de uma selecção cuidada das inúmeras horas de recolhas sonoras resultantes de um trabalho de dois anos. O site serve também como cartografia sonora imaginária / real, onde são privilegiadas as gravações de campo com mais relevância do ponto de vista musical /criativo, em contraste com mapas sonoros que privilegiam o lado documental das recolhas sonoras. O site serve também como base de dados para o centro de investigação e documentação de obras e património musical do CHP. Desta forma, o site contribuirá para: ▶ Catalogação e preservação do património sonoro do CHP ▶ Apoio documental e informativo aos projectos e actividades musicais promovidas na cidade do Porto ▶ Apoio à investigação na área musical (e outras) ▶ Assegurar o acesso a recursos electrónicos de qualidade

O Porto Sonoro é um projecto produzido pela Sonoscopia Associação Cultural desenvolvido no âmbito do Programa Manobras no Porto.

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marta pois 30


AS CATEGORIAS PERCURSOS SONOROS IMAGINÁRIOS Propõe-se a diversos artistas sonoros um percurso sonoro real ou imaginário onde as fontes sonoras originais são combinadas ou transformadas de forma a obter uma interpretação pessoal das sonoridades do CHP. VOZES (VOZ) Conversas de café, expressões do quotidiano, calão. HISTÓRIAS (IDENTIDADE) Depoimentos curtos relacionados com a cidade, definição do som do Porto. RUAS (CARACTERÍSTICA) Pregões, transito, músicos de rua. MARCOS SONOROS (ESPECIFICIDADE) Fontes, sinos, semáforos, detalhes “microscópicos”: portas, rio, captações próximas de granito, etc.

CELEBRAÇÕES E EVENTOS (CELEBRAÇÃO) Feira dos pássaros, vandoma, festividades (S. João), missas, jogos de futebol, eventos desportivos. ESPAÇOS ACÚSTICOS (RESSONÂNCIA) Tunéis, igrejas, museus, metro. A separação em diferentes categorias, complementadas com imagens que enquadrem cartograficamente os sons, permitirá também tecer conclusões a longo prazo, onde se poderá fazer uma avaliação da evolução da qualidade acústica de um espaço urbano. Estes dados podem assim ser avaliados por arquitectos, sociólogos ou ambientalistas para assim se desenvolverem projectos urbanos com soluções acústicas adequadas. Há ainda uma secção, denominada Cartografia Sonora, onde é disponibilizado um elevado número de recolhas sonoras, devidamente cartografadas e identificadas.

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∞ ARQUIVO SONORO DE PERNES plataforma online . sons . imagem

TEXTO site «aspsa» FOTOGRAFIA marta pois

Através da utilização da Fonografia e Field Recordings - enquanto ferramentas documentais - o Arquivo Sonoro de Pernes apresenta, através da gravação e contextualização do som: oral, musical e ambiente, o registo da zona rural de Pernes. Mostrando a sua construção social e cultural, enquanto processo e preocupação, interpretação e nomeação; construção genealógica, social, politica, económica e histórica; memória colectiva e ideológica; processo identitário e como mecanismo de distinção – enquanto elementos actuais/actuantes. Dando especial atenção às complexidades culturais desses usos bem como, acima de tudo, à simples conservação da sua - transitiva – memória, sonora e visual (Flickr/You Tube). A zona rural de Pernes, envolvida pelos rios Centeio e Alviela e em

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DESDE 2010 → www.aspsa.tk

grande parte pelas Reservas Naturais das Serras de Aire e Candeiros e Paúl do Boquilobo, pertence actualmente ao Concelho de Santarém, na região centro de Portugal. Com 14,500Km2 de área e 1689 habitantes, é constituída pelos lugares de Chã de Baixo, Outeiro de Fora, Moita, Póvoa das Mós e pela antiga e histórica vila de Pernes, a sede da freguesia.◆


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marta pois


∞ LUÍS ANTERO captações . performance . fonografia

TEXTO site «luís antero» CAPAS DE DISCO site «luís antero»

Podemos considerar os usos e costumes das gentes da Beira Serra, os seus saberes orais, as lendas de tempos imemoriais contadas pelas vozes da sabedoria popular, como produtos culturalmente endógenos? A fauna e flora existente nas nossas serras, os rios, ribeiros e riachos que as enchem de vida cristalina, podem também ser considerados produtos culturalmente endógenos? Penso que sim! Em Outubro de 2008, apercebendo-me pela 1ª vez que vários elementos ou cenários sonoros das zonas da Beira Serra e Serra da Estrela estavam a desaparecer (ou em vias disso acontecer), resolvi meter “mãos à obra” e documentar esses elementos. Encontrei nas gravações sonoras de campo a forma ideal para essa documentação.

Projectos que estão a ser desenvolvidos

Sons Da Beira Serra Sons Da Serra Da Estrela Sons De Outras Serras

Assim, as minhas gravações de campo, de pendor essencialmente rural, visam promover e ao mesmo tempo preservar a memória fonográfica colectiva destas zonas do país. Este é um trabalho sempre inacabado… A água dos rios, riachos, levadas, moinhos, rodas, albufeiras; a fauna e flora abundantes destas zonas; a gente local, trabalhadora e humilde; a lavoura e trabalhos agrícolas; o som dos utensílios utilizados no campo; os chocalhos e campainhas utilizados pelo gado; as “caravelas” dos campos de cultivo; o fabrico artesanal de enchidos e de queijo; as ambiências sonoras peculiares dos moinhos de água e de rodízio (activos ou não); a música de cariz (raiz) popular e etnográfica; etc.◆ 34

DESDE 2010 → www.luisantero.yolasite.com


Outras parcerias Sons De Alvoco O Coleccionador De Sons Concerto Para Olhos Vendados Green Field Recordings Sons Do Arco Ribeirinho Sul


∞ CRIAÇÃO DE PAISAGENS SONORAS captações . educação . multimédia

TEXTO site «soundscapes art» IMAGEM site do grupo de melgaço

Povos e culturas diversos apresentam paisagens sonoras diferentes. Alguns músicos inspiraram-se nessas diferentes paisagens, criando nas suas composições sons que não são produzidos por instrumentos musicais, como Hermeto Pascoal e John Cage, entre outros. Na nossa proposta “Criação de Paisagens Sonoros : Hibridizando as linguagens artisticas em contextos educativos ”o som surgirá como eixo fundamental e articulador da expressão corporal e visual, dando lugar à criação de um artefacto plurisensorial que terá como um dos seus principais objectivos a construção de uma experiencia axiológica. Nas nossas paisagens sonoras , vamos-nos centrar na especificidade de cada uma das paisagens que serão usadas para aprofundar a consciência de identidade das comunidades e dos lugares que representan. Os estudantes criarão uma paisagem sonora de un lugar específico partindo de informação prévia que lhes será enviada vía internet por outros estudantes que vivam no destino escolhido. A informação será obtida e tratada na aula através de uma metodología ativa, interdisciplinar e cooperativa, baseada em projectos e tarefas integradas. Os alunos posteriormente habitarão as paisagens através da sua expresividade corporal dando lugar a performances que serão registadas através de video. Os resultados do projeto serão partilhados por todos os alunos e posteriormente discutidos na aula. Actualmente existem várias escolas do país a participar activamente neste projecto, partilhando informações entre si através de plataformas digitais. Entre elas estão escolas de Bragança, Gaia, Lisboa, Melgaço, Peniche e Viseu. 36

DESDE 2010 → www.soundscapesart.blogspot.pt


O site que é apresentado na imagem inferior, é relativo ao trabalho desenvolvido pelos alunos e professores do Agrupamento de Escolas de Melgaço. Através de uma plataforma online (www.mydocumenta.com) para publicações e projectos multimédia, é nos dado o acesso aos ambientes sonoros que envolvem e caracterizam os espaços da vila de Melgaço. Para isso basta clicar sobre cada imagem e assistir ao vídeo ou ouvir o som captado na altura. É de relevar neste projecto de abrangência internacional, o envolvimento que existe na área da educação. É sem dúvida uma mais valia educar e sensibilizar os jovens para a importância da identidade cultural sonora.◆ Se é professor/a e estiver interessado/a a contribuir para este projecto com os seus alunos ou escola, poderá fazê-lo através do e-mail aiea2000@yahoo.es

 Nas páginas 40 a 43 apresentamos um outro

projecto de igual dedicação no que diz respeito à educação e que é realizado pela Binaural. Neste guia não abordamos o trabalho que a Binaural desenvolve nesta área. Essa informação poderá ser consultada através da Secção do Serviço Educativo no site www.binauralmedia.org

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VAI ACONTECER ≥ lisboa em si binaural urb

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patrícia pinto


≥ LISBOA EM SI concerto . performance

TEXTO site «lisboa em si» MAPA site «lisboa em si» ILUSTRAÇÃO marta pois

Lisboa em Si tem como objectivo explorar as possibilidades musicais de uma cidade à beira rio. O desenho e toponímia de Lisboa servem como anfiteatro natural para uma paleta de sons e texturas que a caracterizam de forma única e sedutora. De Lisboa para Lisboa... dos sons que esta produz na sua quotidianidade para uma viagem musical irrepetível. O resultado será uma composição musical de sete minutos, recorrendo aos apitos de embarcações, viaturas de bombeiros, comboios, sinos de igrejas e campainhas de eléctricos. Cerca de cem músicos irão interpretar uma peça original em directo, coordenados entre eles via rádio e espalhados pela zona ribeirinha da cidade.

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O evento irá decorrer em toda a zona ribeirinha da cidade de Lisboa, delineado a este pela igreja de St. Estêvão, a oeste pela igreja de St. Catarina e a norte pelo Miradouro de S. Pedro de Alcântara. Na concepção da obra foram identificados sete pontos de escuta, que serviram de referências espaciais para um melhor entendimento da dinâmica dos sons neste palco improvisado – Miradouro de ST. Catarina, Praça Camões, Miradouro de S. Pedro de Alcântara, Miradouro da Graça, Castelo de S. Jorge, Miradouro de St. Luzia e Praça do Comércio. A música foi, no entanto, composta para ser usufruída em qualquer lugar, dentro da área já referida, com as variações inerentes às fontes sonoras vizinhas.◆

21 DE JUNHO 2013 → www.lisboaemsi.com


SINOS

PONTO

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ELÉCTRICOS

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ilustração baseada na legenda de apoio ao mapa que está presente no site

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≥ BINAURAL residências artísticas embora a BINAURAL seja uma associação que promove e explora a arte sonora experimental desde 2004, optou-se por a inserir nos projectos a realizar, dando ênfase às residências artísticas no âmbito da recolha sonora rural, e que estão decorrer no presente ano, cuja data de candidaturas termina a 31 de outubro. TEXTO site «binaural» IMAGEM site «binaural»

CAMINHOS DA MOBILIDADE RURAL Programa de Residências Artísticas em Artes Sonoras e Intermedia para 2014 Maciços do Montemuro, Arada e Gralheira

PROPOSTA CRIATIVA Normalmente entende-se a sociedade rural de montanha como a dos maciços montanhosos à volta de Nodar (centro de Portugal) como estando ainda ancorada num sentido de radicação, de ligação profunda entre as comunidades e as suas paisagens de referência, em que toda a mobilidade é encarada como sendo forçada pelas circunstâncias e como situação-limite, como saída do fluxo natural da vida (por exemplo, a emigração ou a ida para a guerra). No entanto, analisando de forma atenta a história social destas comunidades, percebe-se nelas toda uma série de ímpetos de movimento desde tempos ancestrais, sendo que provavelmente eram as limitações dos meios e das vias de transporte que tornavam o raio da ação da mobilidade mais limitado, que não a vontade e a necessidade.

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ATÉ 31 DE OUTUBRO 2013 → www.binauralmedia.org


Por outro lado, a rápida mudança social de Portugal estimulou um aumento do ritmo e do alcance geográfico da mobilidade nas últimas décadas, sendo que hoje é comum nas aldeias rurais o contacto com quem teve experiências de vida no exterior, ou inclusive com quem nem sequer nasceu ou tem raízes nesses territórios. O programa de laboratórios artísticos de criação em artes sonoras e interará precisamente focar-se nos aspectos ancestrais e contemporâneos da mobilidade rural nos maciços do Montemuro, Arada e Gralheira tentando, através do acolhimento de trabalho de campo artístico com comunidades e paisagens e de usos inovadores de tecnologias audiovisuais, de comunicação e interativas, contribuir para a reflexão sobre os novos sentidos dinâmicos para a cosmovisão rural.

RESIDÊNCIAS

De Abril e Outubro de 2014 Uma organização da Binaural/Nodar Em parceria com Audiolab.org (País Basco) e Rede Tramontana de Arquivos da Memória do Sul da Europa

 Informações sobre candidaturas nas páginas seguintes

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AS TIPOLOGIAS MOBILIDADES COMERCIAS Os vendedores pedestres de bens alimentares, os vendedores de gado bovino e caprino, os vendedores e compradores de minério durante a XX guerra mundial, os serviços itinerantes tradicionais (matadores, capadores, ferreiros, carpinteiros, cesteiros, tanoeiros, tamanqueiros, etc.), o transporte de mercadorias moderno (TIR), o contrabando, as carrinhas mercearia, padaria, frutaria, peixaria, etc. MOBILIDADES AGRÍCOLAS A mobilidade dos agricultores assalariados, tanto dentro da região como para outras regiões, etc. A mobilidade cíclica e local em função das estações do ano e das suas atividades agrícolas. MOBILIDADES PASTORÍCIAS Os caminhos da transumância, a mobilidade quotidiana dos pastores, etc. MOBILIDADES RELIGIOSAS As peregrinações (tanto locais como para Fátima), as promessas, as procissões, as vias sacras, etc.

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MOBILIDADES DE ÓCIO A itinerância de músicos e populações das aldeias para as festas e bailes tradicionais, etc., os novos caminhos do ócio e o rural como fim de semana ou férias. MOBILIDADES SOCIAIS O casamento, o serviço militar, a guerra, a escola, a universidade, o seminário, a emigração e a imigração (Lisboa, Porto, França, Suíça, Brasil, etc.) A partida e o retorno. Os caminhos percorridos, a passagem das fronteiras, etc.

 ESCLARECIMENTO DE DÚVIDAS OU PEDIDOS DE INFORMAÇÕES

manuela@binauralmedia.org rui@binauralmedia.org www.binauralmedia.org/news/pt/ artist-residency/the-residency


AS CANDIDATURAS A) No processo de seleção serão privilegiados os seguintes tipos de obras artísticas e de pesquisas experimentais: composições electroacústicas / vocais / de arte sonora, Esculturas sonoras; Peças de arte rádio; Obras de improvisação livre e Performance para a fonosfera local. B) As residências de criação artística e de pesquisa experimental serão desenvolvidos em dois momentos, nos meses de Abril e Outubro de 2014 (cada artista desenvolverá o seu projeto durante três semanas apenas num dos dois períodos). C) As candidaturas apenas são aceites se enviadas até ao dia 31 de Outubro de 2013, exclusivamente através do formulário online: www.binauralmedia.org/news/pt/artist-residency/application-form

D) O documento a anexar à candidatura (um ficheiro .pdf, .doc ou .zip) deverá incluir as seguintes informações (VER CAIXA) E) Para o esclarecimento de eventuais dúvidas, escrever para Manuela Barile ou Rui Costa, ou através do site (contactos na caixa da página anterior - 42 ).◆

 INCLUA NA SUA CANDIDATURA OS SEGUINTES DADOS

proposta de projecto artístico a desenvolver (com indicação de metodologia e cronologia de trabalho)

biografia artística resumida e curriculum vitae completo

ligações web para trabalhos anteriores do artista;

necessidades técnicas e materiais do projecto;

proposta de período temporal para a residência artística.

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≥ URB paper

Urb é um sistema de análise automatizada de armazenamento de um ambiente sonoro urbano. Complementa os tradicionais mapas sonoros, permitindo o acesso directo às características sonoras a qualquer momento desde a inicialização do sistema, facilitando assim, o estudo da evolução do ambiente sonoro e as diferenças entre tempos específicos, assim como abordagens artísticas aos dados. A implementação do projecto passa pelo desenvolvimento de 3 partes: o hardware e software para captura e transmissão de gravações áudio, o software para analisar o ambiente sonoro e a gestão do banco de dados. Urb é um projecto desenvolvido por José Alberto Gomes no âmbito do plano de Doutoramento em Informática Musical na Universidade Católica do Porto/CITAR..◆ Actualmente encontra-se em fase de implementação, com o primeiro ponto de escuta já colocado.

→ www.diogotudela.com/URB/saBandeira/

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patrĂ­cia pinto


DAQUI CONTINUO A OUVIR BEM // nota

É com grande satisfação que dou por terminado este trabalho. Não como quem põe um ponto final num projecto, mas como quem acrescenta um ponto e vírgula em tom de «até breve». Muitos destes projectos têm me vindo a acompanhar e inspirar desde 2010, altura em que tive o primeiro contacto com este assunto. Desde então, e caindo na tentação de usar o cliché, “a minha vida nunca mais foi a mesma”. Lugares comuns à parte, são estes projectos, associações, comunidades, músicos e acima de tudo, pessoas, que me fazem valorizar o meio envolvente em que me insiro. Compreender que o som faz parte da nossa vida e que também ele é responsável pela nossa identidade enquanto comunidade colectiva e social, é sem dúvida um conhecimento precioso que todos deveriamos interiorizar. Poderia explicar de que forma é que considerei relevante cada trabalho que aqui apresento, mas julgo que cabe a cada um de vós tirar essas conclusões. Apresento os links de forma a que possam por si mesmos, pesquisar e informarem-se sobre o que vos interessou, pois parte da função deste catálogo é também ser um guia de iniciação e de caminho a percorrer nas andanças sonoras.

muito obrigada;

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anexo PORTO SONORO

Com o sentido de publicação contínua e numerada, faz-se incluir no número zero, um folheto coleccionável como divulgação extra do trabalho de um dos projectos referidos no número. Para esta primeira edição escolheu-se o projecto Porto Sonoro da Associação Cultural Sonoscopia. No anexo encontrarão um folheto com a informação referente à categoria de captação - As vozes (referida na página 29). Desta forma, quando visitar o Porto, poderá fazer também, uma visita sonora, utilizando o mapa como guia sonoro. Através do QR Code poderá aceder às captações do site e ouvir os sons que o rodeiam. No fim, se quiser, pendure o poster. Se não quiser, passe o guia a alguém, para que juntos possamos chegar a mais pessoas.

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FONTES din pro minion pro PAPEL renova print 80g e 120g craft 80g (envelope) IMPRESSÃO mais de cópias, braga (sta. tecla) FOTOGRAFIA DE CAPA mara silvério → www.clearnook.tumblr.com FOTOGRAFIAS NO INTERIOR marta pois → www.cargocollective.com/martapois patrícia pinto → www.nadacontece.tumblr.com TIRAGEM 2 exemplares DATA Junho, 2013

Sobre as fontes tipográficas: Din PRO Criada pelo designer de tipos Albert-Jan Pool entre 1995 e 2009, esta fonte sem serifa é ideal para qualquer tipo de comunicação, desde publicações editoriais, a embalagem, logos ou mesmo na web. Pela sua rigidez, adaptabilidade e legibilidade em tamanhos reduzidos, utilizou-se esta fonte em contraste à clássica Minion. Foi empregue nos títulos e informações adicionais.

Minion PRO Pertencente à Adobe© esta fonte foi desenhada pelo Robert Slimbach em 1990. Em 2000 saiu a sua versão OpenType Pro, aqui utilizada em texto. Inspirada no classicismo do Renascimento, esta fonte traduz conceitos de estética e funcionalidade, que a tornam versátil e confortável de ler. Informação adaptada do site www.myfonts.com

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◆ os que não se lançam no caminho nunca saberão o que é perder-se. Rui Horta

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