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GRAVO, LOGO EXISTO Δ LENTE DO CONHECIMENTO CELEBRAÇÃO DO MOVIMENTO Δ RAFAELA BASSO PROTEÇÃO DOS DADOS PESSOAIS Δ CARLOS NEJA Δ NEWTON MORENO

REVISTA

mensal outubro de 2015 nº14 ano 22 revistaesescsp.org.sp- distribuição gratuita/ venda proibida


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SU MÁ RIO

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Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do Sesc São Paulo

MULTIFOCAL de Eduardo Viveiros de Castro essa experiência pode ser vista no Sesc Ipiranga, até dia 7 de Dezembro. Variações do Corpo Selvagem- Eduardo Viveiros de Castro, fotógrafo traz 250 imagens que abragem a produção fotografica do antropólogo brasileiro.

Nunca tantos filmaram a si próprios ou aos outros em tamanha profusão. Batizada como época das imagens, a contemporaneidade levou a sociedade a conviver com uma quantidade inédita de conteúdo audiovisual. O volume de registros faz com que nosso tempo seja um dos mais documentados dentro da história da humanidade. Em Entrevista, o professor e vice-reitor da Universidade Federal da Bahia Paulo Miguez comenta a relação das festas populares e da cultura com a economia. A privacidade da vida contemporânea, com o uso das novas tecnologias, é discutida em artigos inéditos, no Em Pauta, pela socióloga Mariana Zanata Thibes e pelos pesquisadores Danilo Doneda e Marília Monteiro. A história do Ceagesp, um dos três maiores entrepostos de comida do planeta, é contada no Almanaque Paulistano. Newton Moreno, em Encontros, fala sobre sua produção teatral. Em Depoimentos, a historiadora Rafaela Basso comenta a alimentação de rua em São Paulo. Entre as reportagens, perfil do compositor Braguinha, a relação de fotografia e antropologia e os seminários como instrumento de disseminação de conhecimento. O poeta Carlos Nejar está em Inéditos. No portal a programação de setembro do Sesc São Paulo.

IMAGEM DA CAPA

DA REDAÇÃO

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DEBATES

EM PAUTA

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ENCONTROS - NEWTON MORENO

PROGRAMAÇÃO

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DOSSIÊ

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"A programação procura pontuar as relações da dança com questões estéticas e políticas da atualidade levandonos a pensar sobre o lugar dança na arte e no mundo"

Durante onze dias Campinas recebe espetáculos nacionais e internacionais na 9ª Bienal Sesc Dança

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Movimento

Celebração do

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e 17 a 27 de setembro a cidade de Campinas, no interior de São Paulo, é palco da Bienal Sesc Dança, que reúne grandes nomes da dança contemporânea e mais de 30 espetáculos, além de intervenções, instalações, mediações, oficinas, laboratórios e residências. Produções do Brasil, França, Portugal, Argentina, Uruguai e Áustria fazem parte da programação, que ocupara o Sesc Campinas e outros espaços, como a Estação Cultura, CIS Guanabara, Teatro Castro Mendes e MIS – Museu da Imagem e do Som, além das ruas e praças. Em sua nona edição, a Bienal da sequência ao festival já consagrado em Santos, no litoral paulista, realizado desde 1998. A mudança para campinas se deve a importância da cidade, que é a segunda maior do estado em área, e também à facilidade de acesso por rodovias e pelo aeroporto internacional. “ A Bienal Sesc de Dança 2015 tem o compromisso de apresentar ao público um panorama diversificado da produção artística e do pensamento sobre a linguagem da dança”, afirma a assistente técnica para a linguagem da dança no Sesc SP Claudia Garcia. “ Em seu conjunto, a programação procura pontuar as relações da dança com questões estéticas e políticas da

atualidade, levando-nos a pensar sobre o lugar da dança na arte e no mundo”. A partir de mais de 550 inscrições de trabalhos nacionais e internacionais, a comissão curadora chegou a uma grade final de obras que representam uma produção consistente e relevante. Entre as montagens internacionais estão as francesas Tragédia, de Oliver Dubois, que abre a amostra, e A partir de uma história verdadeira, de Cristian Rizzo, além de Futuros Primitivos, do argentino Luis Garay, e Multitude, da uruguaia Tamara Cubas. Entre as produções brasileiras, destaque para as estreias de BLINK – mine-uníssono intenso lamurio, novo trabalho da bailarina Michelle Moura, e Estado imediato, nova coreografia do grupo Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira. A produção contempla também o público infantil, com a apresentação dos espetáculos Ninhos, da Balangandança Cia., Para Todos os Seguintes, da Key Zetta e Cia. e varal de Nuvens, do Grupo Lagartixa na Janela. ∆

Claudia Garcia, assistente técnica para a linguagem de dança no Sesc SP

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ANTROPOLOGIA

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Como a produção e o consumo de vídeos digitais têm transformado a nossa forma de viver.

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“Os vídeos que mais fazem sucesso ainda são os de entretenimento, os esquetes, os tutoriais de maquiagem, de games, em um ou outro de crítica”.

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m viagens, shows, festas, manifestações, grandes eventos ou acontecimentos corriqueiros, lá está ela: a câmera. Com a popularização dos smartphones, a vida nunca foi tão registrada quanto é hoje. Ao mesmo tempo, jamais tivemos tanto acesso a conteúdo audiovisual - e, se há algumas décadas assistíamos a tudo apenas por meio da TV e do cinema, hoje as imagens chegam até nós também via redes sociais e plataformas como YouTube. Para especialistas, o resultado disso e a democratização do poder do discurso audiovisual. “No campo do documentário, por exemplo, as pessoas que eram objeto de filmes hoje se filmam e constroem o próprio discurso áudio- visual”, compara o cineasta Evaldo Mocarzel. “As pessoas não apenas gravam, mas editam, sonorizam e texturizam a imagem com diferentes tipos de filtro”, completa. Evaldo observa que o volume de registros em vídeo produz uma memória de nossa época, mas pondera: “Tudo que se filma vira um documento, mas acho que existe um excesso. Na gênese da história do cinema se faziam filmes muito interessantes porque a imagem era algo pensado, não gratuito. A gente tem que se vacinar contra o excesso para separar o joio do trigo e usufruir dessa babel de imagens”.


YOUTUBERS

Um dos principais ícones dessa “babel de imagens” e o YouTube. Criada em 2005, a plataforma disponibiliza conteúdo audiovisual diverso de forma gratuita. Lá, é possível encontrar desde videoclipes até tutoriais para reparos domésticos. Segundo estatísticas do próprio site, há mais de 1 bilhão de usuários em 75 países e mais de 300 horas de vídeos enviadas a cada minuto. Parte desse material vem dos chamados youtubers, pessoas que mantêm canais em que postam vídeos sobre temas diversos, muitas vezes angariando milhões de visualizações. Com tanto alcance, os youtubers têm potencial para levar a democratização do audiovisual a um novo patamar, mas na prática isso ainda não ocorre totalmente. “As pessoas têm capacidade de participação cada vez maior, conseguem interagir instantaneamente, mas os conteúdos que mais

“As pessoas têm capacidade de participação cada vez maior, conseguem interagir instantaneamente, mas os conteúdos que mais fazem sucessos continuam sendo os que mais têm financiamento econômico”

ANTROPOLOGIA

fazem sucessos continuam sendo os que mais têm financiamento econômico”, avalia a professora do Centro Universitário FIAM-FAAM Maíra Bittencourt, que estudou os youtubers em sua tese de doutorado. “Existe influência de opinião, mas, diferentemente do que aparenta, os youtubers não seriam os maiores convocadores de discussão para refletir problemas sociais, manifestações, posicionamentos econômicos, políticos. Os vídeos que mais fazem sucesso ainda são os de entretenimento, os esquetes, os tutoriais de maquiagem, de games, em um ou outro de crítica”. Maíra chama a atenção para o fato de que muitos seguidores buscam os youtubers pela sensação de envolvimento pessoal que há entre o público e essas figuras. “Desde que a humaninadade se entende por humanidade, a vida do outro sempre chamou a atenção do público. A televisão se utilizou muito disso, esses espaços no Youtube são uma renovação desse olhar para a vida do outro”, esclarece. “Isso vale até para os tutoriais, porque eles não costumam ser simples tutoriais. O youtuber conversa, interage, conta histórias, e aí entre esse envolvimento na vida do outro, como observador e participante daquele espaço”.

AQUI E AGORA

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Além da facilidade em registrar o cotidiano, a nova cultura audiovisual mudou também a maneira como nos relacionamos com os acontecimentos em si. “O digital é uma revolução de costumes. Hoje as pessoas

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filmam tudo e se relacionam por meio do discurso audiovisual, trocando imagens e fotos, às vezes em tempo real. Com isso, a questão da presença está colocada em xeque”, resume Evaldo. “Parece que as pessoas precisam viver por meio dessa documentação audiovisual e isso esvazia a vivência presencial, olho no olho, a troca, pois fica todo mundo com uma preocupação em estar bonito, bem enquadrado”, argumenta. É muito comum em grandes eventos, por exemplo, encontrar pessoas que acabam assistindo tudo pela tela, complementa Norval. “As pessoas se ausentam do

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‘aqui-agora’ para se transformar em registradores e perpetuadores de um momento fugaz que elas próprias não viveram”, analisa o professor. Norval costuma usar o termo “iconofagia”, ou seja, a ideia de que o corpo devora e é devorado por imagens. “O corpo se alimenta de imagens , e não de sensorialidades, presenças. Nós acabamos desenvolvendo uma ‘presença ausente’, o que tem impactos tremendos sobre a sociabilidade”, explica. Apesar disso, Norval acredita ser possível encontrar um equilíbrio para usar a tecnologia de maneira mais saudável: “Em algum momento vamos ter que parar para pensar e refletir sobre o impacto sobre essas novas tecnologias, esses novos suportes e essa possibilidade fácil e barata de gravar tudo”. ∆


Com milhões de visualizações, canais de vídeos online tratam dos mais diversos assusntos.

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Você Sabia Inscritos: 2.254.886 Visualizações: 159.760.072 Criado em 2013, trata de curiosidades diversas, como “As dez maiores bilheterias do cinema”, “As comidas mais bizarras do mundo” e também responde a perguntas como: “Como seria se usássemos 100% do cérebro?”.

Manual do Mundo Inscritos: 3.826.828 Visulizações: 596.789.492 Um dos canais mais vistos do país, desde 2008 traz experiências, mágicas, pegadinhas, receitas, origamis, desafios e brincadeiras. Há desde receitas culinárias até experimentos como a construção de uma lâmpada química sem eletricidade.

Espetáculos Intervenções Tiny Little Things Inscritos: 141.768 Visualizações: 10.790.695 Uma das booktubers (youtubers que tratam de livros) brasileira mais conhecidas, Tatiane Feltrin faz vídeos com resenhas de títulos de autores clássicos, contemporâneos, livros obrigatórios em vestibulares e outros temas relacionados à literatura.

Performances

Campinas 17 a 27 de setembro

Minutos Psíquicos Inscritos: 51.444 Visualizações: 1.459.793 Criado em 2014, o canal traz vídeos sobre psicologia, tratando de temas variados como insônia, emoções e funcionamento do cérebro.

DANÇA

Ações Formativas Intalações

Pipocando Inscritos: 632.244 Visualizações: 31. 728.475 Criado em 2013, Trata do universo de filmes, games e séries. Há vídeos com curiosidades, críticas, listas e afins.

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2015

A ordem é zapear

Bienal SESC de

sescsp.org.br/bienaldedanca

ANTROPOLOGIA

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FOTOGRÁFIA

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studar o ser humano e suas particularidades tendo como base as características biológicas e socioculturais dos diversos grupos. Nesse campo de reflexão, a ênfase se dá nas diferenças e variações entre os povos e etnias. Independentemente da definição empregada para se referir ao conjunto de disciplinas que formam a antropologia, é possível entendê-la como uma forma de investigar a diversidade cultural.Tendo em vista tal apelo, é um modo de entender o que somos com base no reflexo do outro. E na, intersecção dessa lente do conhecimento, existe um diálogo antigo e produtivo com a linguagem da fotografia.

“Durante o século 19 as fotografias foram utilizadas como mode de documentação e comparação de elementos da cultura material para fundamentar as teorias evolucionistas então em voga”, explica a professora titular do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo Sylvia Caiuby Novaes. "Partia-se do princípio de que a evolução seguia algumas leis, uma delas a de que se dava sempre de formas mais simples para formas mais complexas. As fotografias procuravam comprovar essa evolução a partir de elementos materiais da cultura. Segundo a pesquisadora, ainda naquele período a fotografia foi utilizada amplamente nas relações estabelecidas entre a antropologia, a medicina e ate em estudos na área do direito. "Influenciados por Cesare Lombroso (psiquiatra e antropólogo italiano), vários pesquisadores procuravam mostrar que comportamentos tidos como desviantes, tais como aqueles que se observam entre loucos, doentes mentais e criminosos, poderiam ser previstos a partir de características corporais”, afirma. “Inúmeras fotos registravam o lóbulo das orelhas, a forma do nariz, expressões faciais, a distância entre os olhos etc”.

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SAÍDA A CAMPO

“Quando isso acontece, tem-se a impressão de surgir de acordo com a leitura dos críticos, das diferentes interpretações e não de minha visão. A leitura de terceiros pode ser positiva ou negativa, mas essa é a provocação. Uma vez desenvolvido, o projeto está sujeito à crítica”, analisa Cruz, que atualmente está trabalhando num projeto/estudo sobre o câncer. Segundo ele, as leituras são as mais variadas.

Morando nos Estados Unidos desde os anos 1970, o fotógrafo paranaense Valdir Cruz dedica parte substancial do seu olhar e estudos a registros focados em pessoas, arquiteturas e paisagens brasileiras. De 1994 a 2000 realizou o projeto documental Faces of Rainforest, no qual registrou o cotidiano indígena. No livro Faces mami (Cosac Naify, 2004), utilizou a técnica para mostrar a beleza cultural do povo que vive na Região Norte do Brasil, ao mesmo tempo que aponta os problemas e a dizimação dessa população, tudo pelo poder das imagens. Ao analisar o próprio trabalho, Valdir Cruz confirma a dimensão antropológica, porém a considera inconsciente: "Não é minha busca primária. O que busco são imagens que apresentem leitura significativa a uma dúvida em nossa sociedade, uma resposta de acordo com meu olhar. Aparentame que essa conotação antropológica surge após o estudo, após o documento realizado”, comenta.

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“Acho que esse é um grande fator da fotografia. Ela nos faz refletir, nos provoca. Imagens têm a força de mexer com os sentimentos das pessoas… Talvez até mais que um texto”, provoca o fotógrafo. “No momento do clique, a imagem tem sua liberdade, se o fotógrafo assim se permite.”

A apropriação da linguagem fotográfica pela antropologia resultou em diálogo expressivo que desde o século 19 se renova em diferentes olhares e registros.

DO CONHECIMENTO


FOTOGRÁFIA

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tupi. 2000

ritaul. 2001

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O EXOTICISMO

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nterligar o conhecimento antropológico com o registro fotográfico é uma convergência importante feita pelo doutor Honoris causa pela Université Paris Quest Nanterre La Défense e professor de Antropologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Eduardo Viveiros de Castro. Essa experiência pode ser vista no Sesc lpiranga até dia 29 de novembro. Variações do Corpo Selvagem Eduardo Viveiros de Castro, fotográfo traz 250 imagens que abrangem a produção fotográfica do antropólogo brasileiro, com curadoria do escritor e crítico literário Eduardo Sterzi e da escritora e crítica de arte Veronica Stigger. Em programação paralela acontecerá o seminário internacional com antropólogos e pesquisadores de varias áreas, série de shows, espetáculos de teatro, performance, danca e ciclo de cinema. Para a coordenadora de programação da unidade, Roberta Lobo, a exposição traz, por meio de registros fotoqráficos do antropó1ogo, dois momentos de sua trajetória. “O de aproximação com artistas decisivos para a cultura brasileira contemporânea e o relacionado a sua atividade etnológica com os índios Arawaté Yanomami, Yawalapiti e Kulina”, explica. “Esses dais universos estão reunidos pela centralidade adquirida nas imagens a partir da categoria corpo, enfatizando assim a questão da corporalidade, que está também na origem da reflexão antropológica do autor e que marca todo seu percurso intelectual.” ∆

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pinte-se. 1999

“Antes de atuar como antropó1ogo, Eduardo Viveiros de Castro fotografou personalidades importantes como o poeta Wally Salomão e o artista plástico Hélio Oiticica (foto), foi roteirista e fotográfo de cena do diretor Ivan Cardoso (foto) e registrou bastidores do filme O Segredo da Múmia (1982)”.

OBRA FOTOGRÁFICA DE EDUARDO VIVEIROS DE CASTRO É TEMA DE EXPOSIÇÃO N0 SESC IPIRANGA.

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olhar de franja. 2000


DEBATES

DEBATES para diversos públicos

"O que seria sabedoria hoje"

Começo do segundo semestre tem farta programação de seminários nas unidades

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CICLO MUTAÇÕES: O NOVO ESPÍRITO UTÓPICO - Sesc Vila Mariana - 12/18 a 11/10 O ciclo de conferências propõe a reflexão sobre as perspectivas criadas pela revolução técnicocientífica e biotecnológica. Concebida e organizada pelo filósofo Adauto Novaes, a programação conta com palestrantes nacionais e internacionais e pretende analisar os dois mundos da utopia - do humanismo e do pós - humanismo. SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES "NOVAS PERSPECTIVAS SOBRE A PRÁTICA PROFISSIONAL''- Sesc Pompeia-26 a 28/8 Com o apoio institucional do Comitê Paralímpico Brasileiro, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada (Sobama), o seminário trouxe discussões e reflexões sobre formas de inclusão de pessoas com deficiência e necessidades especiais nas áreas da educação física e dos esportes. A programação contou com conferências, palestras, workshops, vivências, rodas de diálogo e mesas-redondas, possibilitando fomentar novas estratégias e propor ferramentas de ensino que facilitem o trabalho do educador, criando condições para que a pessoa com deficiência possa se sentir acolhida e inserida na atividade.

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QUEER, CULTURA E SUBVERSÕES DAS IDENTIDADES - Sesc Vila Mariana - 9 e 10/9 Parceria do Sesc com a revista Cult, o objetivo é levar ao público algumas das temáticas que os estudos queer têm desenvolvido desde a década de 1980. A corrente de estudos queer tem origem multissituada, abarcando pesquisas e reflexões de autores de vários países. Em comum, a perspectiva queer articula uma crítica a hegemonia heterossexual. A heterossexualidade, portanto, é vista e analisada como uma imposição cultural com graves consequências políticas para aqueles que não a incorporam. A programação é dividida em eixos de discussão sobre Cultura e Política, Educação, Saúde e Aprendizados, Gênero e Sexualidade e Contra Hegemonias. O seminário tem transmissão online no portalsescsp.org.br/seminarioqueer.

SAPIENTIA - ARQUEOLOGIA DE UM SABER ESQUECIDO - Sesc Consolação - 15 e 16/9 Com Curadoria de Norval Baitello Junior e Christoph Wulf, o seminário traz discussões sobre a sabedoria, valor que caiu em desuso na cultura ocidental contemporânea, frente a uma nova forma hegemônica de dimensionar pessoas, objetos e acontecimentos: o critério denominado genérica e ingenuamente "informação". Entre os debates a serem levantados estão questões como "O que seria a sabedoria hoje?", "O que significa resgata-la nos nossos dias?" e "O que teríamos que considerar atualmente necessário para resgatar este saber esquecido?".

ENCONTRO INTERNACIONAL ESPAÇOS CULTURAIS URBANOS - Sesc Bom Retiro - 22 e 23/9 Busca abordar as relações entre os conceitos de cultura e espaços urbanos, proporcionando reflexões e debates de temas como: identidade e memória, conflito e convivência, expressões artísticas, regeneração urbana, planejamento e gentrificação, sustentabilidade, gestão em espaços públicos. Explorando as inúmeras possibilidades de leitura sobre a paisagem urbana, o encontro tem a intenção de ser um lugar para compartilhar as interpretações sobre os espaços culturais das cidades e para imaginar utopias urbanas. ∆

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EM PAUTA

PROTEÇÃODE DADOS PESSOAIS por DANILO DONEDA e MARÍLIA MONTEIRO

Bobagem olhar as gavetas ou abrir o armário da entrada. A quem queira descobrir alga hoje em dia, só há uma coisa a fazer: vasculhar o computador (Numero Zero, Umberto Eco, 2015)

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ornecer uma grande quantidade de informações sobre nós mesmos em troca de conveniência, de serviços gratuitos ou simplesmente por sermos obrigados, parece ser, hoje, parte inafastável do nosso cotidiano, o que, no entanto, nao deixa de causar desconforto na verdade, pouco sabemos em geral sobre o que e feito com essas informações pessoais, sobre o que a sua circulação vai efetivamente desencadear e se termos revelado nossos dados realmente vale a pena. Uma sensação de inevitabilidade do desenvolvimento tecnológico descambou rapidamente para outra, a de inevitabilidade do uso generalizado de informações pessoais e, consequentemente, com o questionamento sobre a privacidade nesta versão da contemporaneidade se ela pode ser controlada, se ela e possível sob o domínio da técnica e, até mesmo, se ela efetivamente existe diante de revelações como as que dizem respeito a vigilância de massa e a realidade do que se convencionou chamar de “Big Data’’. Os dados pessoais passam a ser os intermediários entre a pessoa e a sociedade, prepostos nem sempre autorizados e capazes e justamente isso que produz como efeito a perda de controle da pessoa sobre o que se sabe em relação a si mesma o que em última análise representa uma diminuição na sua própria liberdade. A estranheza e o desconforto diante do uso de informações pessoais derivam da perda de controle sobre algo que, até há pouco tempo, pensavamos poder controlar com relativa facilidade, que era o destino das nossas informações pessoais.

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Essa situação mudou drasticamente com o recurso a meios automátizados de tratamento de dados e com a profusão de meios para a coleta de informações pessoais. Essa sensação de perda de controle sobre o uso das próprias informações não é um problema somente para o que entendemos como a nossa privacidade. A questão é mais ampla e atinge o nosso próprio direito de participar de decisões fundamentais a nosso respeito. Nossas informações pessoais são utilizadas para que sejam tomadas decisões a nosso respeito: sobre o nosso acesso a crédito, sobre ofertas que poderemos receber (ou não), sobre nossa provável aptidão para uma vaga de emprego, sobre nossa propensão para desenvolver uma determinada patologia, e daí por diante. Esse conjunto de pressuposições pode formar um mosaico de condicionamentos capaz de afetar concretamente as oportunidades que teremos ao longo da vida. Para harmonizar essa situação com a necessidade de garantir liberdade, privacidade e não discriminação, tendência a reconhecer um direito fundamental a proteção de dados pessoais e tambem a estabelecer uma legislação especifica sobre a matéria está hoje fortemente enraizada em vários paises. O objetivo dessas leis é devolver ao cidadão o controle e a titularidade sobre suas

próprias informações, para que elas possam ser utilizadas com fins transparentes e legitimos. No Brasil, apesar de a Constituição Federal e normas de proteção ao consumidor garantirem alguns direitos do cidadão sobre os seus dados, foi apenas em 2014, com a Lei 12.965, conhecida como o Marco Civil da Internet no Brasil, que o ordenamento jurídico pátrio passou a contar com uma menção expressa ao direito a proteção de dados pessoais como princípio autônomo à privacidade no uso da internet no Brasil, em seu Art. 3°, III. Nele é feita menção expressa a uma lei específica para a proteção dos dados pessoais, normativa está presente hoje em mais de 100 paises. As leis sobre proteção de dados pessoais quase sempre são formuladas em torno de alguns princípios comuns, ainda que em diferentes paises no que podemos verificar uma forte manifestação da convergência das soluções legislativas sobre a matéria, bem como uma tendência sempre mais marcada rumo a consolidação de certos princípios básicos. Esses princípios remontam aos chamados Fair Information Practice Principles, que passaram a ser encontrados em rias das normativas sobre proteção de dados pessoais. DONEDA, Danilo. Da Privacidade a Protecao de Dados Pessoais. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 181.

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Esse “núcleo comum” encontrou expressão como um conjunto de princípios a serem aplicados na proteção de dados pessoais, principalmente com a Convenção de Strasbourg e nas diretrizes da A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no inicio da década de 1980. Em síntese, esses pontos seriam o principio da transparência, o da quali dade, o da finalidade, o do livre acesso e o da segurança. Esses princípios, mesmo que fracionados, condensados ou adaptados, formam a espinha dorsal de diversas leis, tratados, convenções ou acordos em matéria de proteção de dados pessoais, formando o núcleo das questões com as quais o legislador se depara ao procurar fornecer a própria solução ao problema da proteção dos dados pessoais. A aplicação de tais princípios, no entanto, e a parte mais aparente de uma tendência rumo a constatação da autonomia da proteção de dados pessoais e a sua consideração como um direito fundamental em diversos ordenamentos. No Brasil, discute-se, desde 2010, de forma ampla e cola borativa, uma normativa geral de proteção de dados pessoais. As leis sobre proteção de dados pessoais quase sempre são no âmbito de anteprojeto de

lei proposto pelo Ministério da Justica que prevê, de forma semelhante, um conjunto de princípios que norteiem o tratamento dos dados pessoais por terceiros; direitos que são explicitados, em particular com relação ao acesso, correção, dissociação e oposição ao tratamento de dados e mais uma série de instrumentos. Com o objetivo de dar efetividade a propósta, também foi objeto do debate a designação de um orgão como autoridade com competências quanta a proteção de dados pessoais no pais. Tal orgão seria responsável pela supervisão, auditoria, edição de normas complementares, aplicação de sanções administrativas, bem como pelo recebimento e encaminhamento de denúncias e reclamações dos cidadãos que sofreram danos em decorrência do tratamento indevido de dados pessoais e demais medidas necessárias para a implementação da legislação. A disseminação do modelo das autoridades independentes, dessa forma, também faz parte das tendências observadas nas normativas de proteção de dados pessoais das últimas décadas, a designação de um organismo específico para zelar pela aplicação da lei se faz tanto mais necessária com a diminuição do poder de “barganha” com o indivíduo para a autorização ao pro-

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cessamento de seus dados, como também pelo surgimento de normativas conexas na forma, por exemplo, de normas específicas para alguns setores de processamento de dados (para o setor de saúde ou de crédito ao consumo). Hoje, é possível afirmar que um tal modelo de proteção de dados pessoais é representado pelos países europeus que transcreveram para seus ordenamentos as diretivas europeias em matéria de proteção de dados, em especial a Diretiva 95/46/CE e a Diretiva 2000/58/CE. Com essa evolução, portanto, das normativas que versão sobre proteção de dados pessoais, evidenciase a dificuldade em afirmar que não há mais um direito a privacidade as gerações de direitos são cumulativas. Hoje, a tutela da privacidade busca empoderar e fortalecer o cidadão em relação a decisões que são tomadas com base em suas informações e, portanto, muni-lo de ferramentas que diminuam essa assimetria de poder. Em uma economia cada vez mais baseada em dados, e impossível conceber sistemas de informação seguros e condizentes com a importância estratégica das informações pessoais em nossa sociedade sem a presença de ferramentas que permitam ao cidadão realizar suas opções livres e legítimas a respeito do tratamento de seus dados, o que depende de um marco normativo e de estruturas institucionais que lhe garantam acesso a esses direitos e garantias. ∆

DANILO DONEDA é professor da Faculdade de Direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). MARILIA MONTEIRO é mestranda em polfticas publicas na Hertie School of Governance (Berlim, Alemanha).

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"Essa sensação de perda de controle sobre o uso das próprias informações não é um problema somente para o que entendemos como a nossa privacidade. A questão é mais ampla e atinge o nosso próprio direito de participar de decisões fundamentais a nosso respeito"

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EM PAUTA


ENCONTROS

PRODUÇÃO

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NOS PALCOS

E NAS TELAS

Por Newton Moreno

Diretor, ator e dramaturgo, Newton Moreno é mestre e doutor em Artes Cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), além de fundador da companhia Os Fofos Encenam. É autor de peças como Agreste, pela qual ganhou os prêmios Shell e APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor autor em 2004, e As Centenárias, que recebeu os prêmios Contigo! e Shell de Teatro em 2008. Entre as experiências na televisão foi responsável pelos textos da série Amorteamo, exibida pela TV Globo no primeiro semestre deste ano. A seguir, os melhores trechos do depoimento do dramaturgo, no qual ele fala sabre produção teatral, autoria e televisão.

A gente tem de ir atrás de várias possibilidades de editais e parcerias para tentar recrutar recursos para manter o projeto vivo. A realidade é que Os Fofos, hoje, são um grupo completamente aberto. As pessoas trabalham fora do grupo para poder compor com as suas dinâmicas financeiras. É fundamental que a gente tenha esse tipo de abertura para que esse coletivo se mantenha. Essa ideia da produção é difícil porque a gente sempre tenta fazer uma programação com projetos de curto, médio e longo prazo. Como a gente não tem um financiamento oficial que nos permita saber onde estaremos em 2016 e 2017, isso tudo e feito com uma maleabilidade gigantesca, com plano A, B e C. Quase perdemos o nosso espaço porque houve uma forte especulação imobiliária e, no meio do caminho, dobrou o valor do aluguel. Se não fosse a articulação com alguns amigos, a gente com certeza teria entregado a nossa sede.

PARCERIAS Além de mecanismos como a Lei de Fomento, acho que temos que discutir outras questões. Tem toda essa questão de dialogo muito forte com o poder público, que e fundamental e que resguarda um espaço de liberdade criativa, uma memória da construção de artes cênicas na cidade de São Paulo e que é importantíssima. Por outro lado, também é preciso uma discussão de como a gente opera com outros mecanismos fora do poder público. Como o teatro pode dialogar com isso, seduzir de outras formas e chegar a outros públicos. Sempre fico pensando que são mais de 200 milhões de pessoas no país. E um mercado incrível e mesmo assim a gente não consegue viver de bilheteria como um grupo. Isso está completamente ligado a educação e a uma falta na formação para sensibilizar para as artes em geral. O projeto de que participei que mais me emocionou nos últimos anos era um projeto de formação de público da Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo, que levava as peças para a periferia com todo um processo de dialogo antes, durante e depois da peça. Os depoimentos eram incríveis e era impressionante o desconhecimento que essas pessoas tinham da arte teatral.

"Agreste", 2004 Imagem Lenise Pinheiro

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ENCONTROS

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TELEVISÃO Tive três experiências na TV. A primeira era a adaptação de uma peça chamada As Centenárias, em que fiz a minha primeira aproximação com a Globo. Depois participei da série Grande Família, no final de 2012. Foi um aprendizado muito feliz, porque era uma sala de trabalho em que a gente ficava jogando ideias, todos juntos. Conheci muita gente, inclusive pessoas vindas do teatro, e era um forno de ideias muito rico. É um ritmo e uma demanda de outra ordem, e é um trabalho bem colaborativo. Depois houve outro projeto com o Guel Arraes e Claudio Paiva, a minissérie Amorteamo, mais na linha do sobrenatural. Sinto que há uma abertura a isso. Como o veículo em si sofre uma concorrência de muitas outras mídias, a TV está se problematizando e tentando arriscar. Isso é muito legal, porque há um convite a pessoas de outras áreas, da informática, cinema e literatura, para que possam ir lá e provocar, discutir. Foi bonito eu me propor a essa mudança. É um jogo interessante. Já me pego escrevendo teatro mais sucinto, tentando condensar as ideias. Eu era bem mais barroco nesse sentido e venho transformado dessa convivência.

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“Newton Moreno esteve presente na reunião do Conselho Editorial da Revista E no dia 15 de julho.”

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“Eu sempre fico pensando que são mais de 200 milhões de pessoas no país. É um mercado incrível e mesmo assim a gente não consegue viver de bilheteria como um grupo. Isso está completamente ligado a educação.”

AUTORIA Autoria tem que ser pensada a cada processo. Por exemplo, fora do grupo fiz um projeto com a Cibele Forjaz chamado Vem e Vai, o Caminho dos Mortos, e nesse projeto não há como eu assumir a autoria. É um processo muito colaborativo, que passa por diversas instâncias. É uma colcha de retalhos de contribuições. É claro que cabe a alguém a responsabilidade de organizar o espetáculo, mas é muito difícil, depois de tanta contribuição, definir aquilo como de uma autoria. Os processos desse tipo sempre são assinados como um texto produzido em processo colaborativo. É o mais genuíno e correto. De processo a processo tento ver a maneira mais correta de lidar com a autoria.


Alimentação

é cultura

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Mestre em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Rafaela Basso desenvolve pesquisa de doutorado sobre alimentação de rua na cidade de São Paulo entre 17651828. Segundo a especialista, deter- se num período específico possibilitou a amplição de olhares sobre o assunto: O período histórico escolhido é de muita relevância, pois permite estudar o surgimento do comer fora de casa. Ou seja, refere-se a um momento tanto de modernização da cidade de São Paulo colonial como também de mudanças no comércio de alimentos, explica a autora do livro A Cultura Alimentar Paulista (Alameda Editorial, 2015). Acompanhe o depoimento da historiadora. ALIMENTAÇÃO DE RUA NA CIDADE DE SÃO PAULO O interesse em estudar a alimentação de rua em São Paulo surgiu durante a pesquisa de mestrado, quando me deparei com a vontade de seguir adiante o estudo sobre as práticas culinárias dos paulistas no período colonial. Ao longo de sete anos dedicados ao estudo das práticas alimentares dos paulistas, acabei me restringindo ao período compreendido entre 1650 e 1750. O interesse em continuar nesse marco cronológico se delineou quando constatei que as transformações que se abateram sobre o ambiente urbano de São Paulo após a segunda

Nesse caso, o palco privilegiado é a cidade de São Paulo, e meu objetivo é entender o surgimento da alimentação fora de casa, ou seja, investigar essa nova prática em relação aos alimentos produzidos e consumidos no locus da própria rua. Procurei dar conta das variadas formas de comer fora de casa, desde o comércio ambulante até os espaços que surgiram em função da urbanização da cidade, tais como armazéns, botequins, entre outros. Cabe enfatizar que esse espaço de alimentação não era compartilhado por todos os moradores da cidade e destacar, por exemplo, que pessoas da elite e especialmente mulheres não se utilizavam dessa prática, pois o comer fora de casa estava muito associado a se misturar com as pessoas de estratos sociais considerados, na época, inferiores, como negros, forros e pobres. Ou seja, a rua era um espaço reservado a esses segmentos, e compartilhar uma refeição neste locus era se misturar e se igualar a condição deles.

metade do século 18 foram responsáveis por profundas modificações nos hábitos alimentares de seus habitantes. O período histórico escolhido (17651828) e de muita relevância, pois permite estudar o surgimento do comer fora de casa. Ou seja, refere-se a um momento tanto de modernização da cidade de São Paulo colonial como também de mudanças no comércio de alimentos. Nesse periodo, a diversificação das atividades econômicas foi responsável pela expansão da malha urbana, em virtude do crescimento demográfico e da vida social. O período compreendido entre a segunda metade do século 18 e o primeiro quarto do século seguinte tornase palco relevante para a pesquisa, na medida em que nos coloca diante de uma cidade em constante transformação, onde se pode observar o nascimento e a diversificação da comida de rua.

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"O que essa discussão pode despertar é a maior tomada de consciência de que a alimentação é cultura, pois envolve saberes, técnicas e valores"

DEPOIMENTO


DEPOIMENTO CULTURA GASTRONÔMICA

FENÔMENO FOOD TRUCK O fato de food trucks estarem espalhados por áreas nobres da cidade torna o ambulante cada vez mais marginalizado no espaço urbano. Temos que lembrar que um dos pontos da lei e fixar a atividade ambulante. Já no período que estudo, também é possível ver as tentativas de cerceamento dos ambulantes em um lugar fixo. A medida que se da a expansão vertiginosa do comércio ambulante de alimentos pelas ruas e becos da capital, percebemos também as tentativas do poder público de disciplinamento do comércio desses gêneros no espaço urbano.

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“Penso que agora há um foco maior dos meios de comunição neste tema por causa da iniciativa da campanha Gastronomia É Cultura/Eu Como Cultura”.

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Outro ponto interessante é que podemos estabelecer uma relação com os dias de hoje, pois a comida de rua e os agentes responsáveis pela sua produção também eram alvo das autoridades públicas, especialmente da Câmara Municipal e até mesmo da polícia do período. Além da preocupação sanitária que começa a surgir no período da minha pesquisa, as autoridades queriam coibir essa prática por motivos de ordem social. Embora muitos comerciantes de comida trabalhassem dentro da legalidade, ou seja, com as devidas licenças obtidas, de uma maneira geral, esses indivíduos eram malvistos pelas autoridades públicas, que, além de julga-los como atravessadores em potencial, tinham dificuldade em controlar suas atividades, o que despertava incessantes medidas punitivas da administração colonial. Nao sei se isso se difere muito das tentativas de “ordenamento” e do discurso “higienista” impostos pela lei que regulamenta o comércio de rua na cidade de São Paulo nos dias de hoje. Ou seja, vemos as ações das autoridades locais encarregadas da repressão dessa atividade, em especial, das vendas ambulantes, desde o surgimento dessa atividade.

Esta é uma discussão importante para toda a sociedade e uma preocupação muito anterior ao Projeto de Lei 6562/13, proposto pelo chef Alex Atala, pessoa a quem se associou o papel de principal responsável por trazer a ideia à tona. Tal problemática já é discutida por vários âmbitos da sociedade civil, como diversas ONGs e pontos de cultura que trabalham para valorizar a culinária nacional, seja pelo incentivo do uso de ingredientes locais, seja por meio de políticas de salvaguarda.

Penso que agora há um foco maior dos meios de comunição neste tema por causa da iniciativa da campanha Gastronomia É Cultura/Eu Como Cultura. O que é uma coisa muito boa porque faz com que tal discussão atinja vários segmentos sociais que de certa forma podem valorizar os ingredientes de sua região, usados nos pratos do dia a dia e que sempre estiveram ali. Mas também temos que ter cuidado para nao tratar esse assunto de modo a tirar a capacidade de reflexão das pessoas sobre ele. Nao é porque existe uma tendência atual de valorizar e conhecer nos grandes centros urbanos o orgânico, o local etc., que isso nao fosse feito anteriormente. O que essa discussão pode despertar é a maior tomada de consciência de que a alimentação (acho o termo mais adequado que gastronomia) é cultura, pois envolve sabores, técnicas e valores que são transmitidos de geração para geração. Ou seja, e um traço importante para caracterizar uma sociedade. O homem faz escolhas alimentares com base em princípios cultura. ∆

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INÉDITOS

por CARLOS NEJAR

ANTIELEGIA SEM CAROCO

KAFKA, O PEDREIRO DE ROSAS Estive com a maçã na boca, desde criança. E a maçã comi, já velho e menino, lá no paraíso comi a luz. E a maçã no amor eu vi: o elevado tronco e cheiro de mulher em êxtase. Comi a polpa e a casca. Joguei fora a solidão, caroço. E enfim, adormeci. Era a maçã de onde eu provinha. E, como ela, irei provar a terra tenra, tenra e fria.

Nunca tiveste razão, nem desejavas tê-la. O que te sucedeu foi ela haver-se esvaziado no excesso, tal a pilha furada, a caixa sem nada, faca sem lâmina e sem cabo, calada. Quiseste ser inseto e eras de outra linhagem humana, de outro universo. E o medo do Pai te tomou, medo da morte, medo da extravagante ou esmagadora infância, medo do medo. E, quando te anunciaram as coisas, já não eras Kafka. Eras castelo, processo, julgamento, patíbulo, a dor da lei, a impureza da culpa, ou apenas o Pai morto. Morto, morto. Em vão escrevias cartas ao Outro mundo, Quando o carteiro as levava para este. E o mundo nada queria contigo, Kafka, Por não pertenceres a seu jogo fatigado. Não, não pertencias a ele, como nós, Os poetas e os profetas. Tinhas defeito De sonho, pior que o de realidade, Kafka Enfermo de Deus, enfermo de Eternidade.

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A CIVILIDADE

Só a morte, a morte te curou.

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O rinoceronte tem uma civilização sensata. Os ossos preferíveis à barriga tenra, engomada. O casco férreo, insensível. Suporta o chicote, suporta a afronta, suporta a escravidão, suporta, suporta. Tem enxaquecas decerto. Numerais, verbais. E tédio. Só os olhos se alçam. As pálpebras parecem um relógio de chuva caindo; as patas são suavíssimas quando não sufocam esta civilidade que os homens exaltam. E o brasão de bom prelado, ou de maviosa hierarquia, é o unicórnio, marca de Jacó, que ascendeu da coxa à testa, o estrelo alucinante. Fora do rinoceronte, o rinoceronte. Fora da salvação, a salvação. Fora do homem, o homem.

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PROGRAMAÇÃO

SÃO CAETANO

DANÇA ARTES VISUAIS

TEATRO

Acervo Sesc OBRA EM FOCO- VOLPI. Marca registrada do artista Itálo- brasileiro Alfredo Volpi, um dos exemplares da fase “Bandeirinhas” é o destaque do Acervo Sesc de Arte Brasileira na unidade. Livre. Grátis. Até 30/09. seg à sex, 7h15 às 21h30. Sábados, 8h15 às 17h30. OCUPAÇÃO VERDE MEMÓRIA. Imagens de pontos históticos de São Caetano compõem a intervenção de pintura e linhas gráficas desenvolvidas pelo artista visual Luis Prietro. Livre. Grátis. Até 30/9. Seg a sex, 7h15 às 21h30

Espetáculo TEATRO EM TRÊS TEMPOS. Aproxima o espectador do universo da obra através de três atividades: apresentação teatral, workshop e bate-papo. Local: Teatro Santos Dumont. Av. Góiais 1111- São Caetano. 16 anos. R$ 20. R$ 10 (�). R$ 6 (•). FICÇÃO. Centrado nos depoimentos biográficos das relações dos atores com seus familiares, são expostos depoimentos pessoais que se instalam em um espaço ficcional. Com Cia. Hiato. Após o espetáculo bate papo com o elenco. 26/09. Sabádo, 19h.

MÚSICA

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Show. CHORINHO NO JARDIM. Apresentações com grupos de choro, primeira música popular urbana típica do Brasil. Livre. Grátis. TRIO CHORANDO BAIXINHO. Interpretam clássicos do gênero. 7/9. Segunda, 16h. DUO VEREDAS. Formado pela inusitada fomação de piano e bandolim, explora os elementos sonoros típicos desses instrumentos . 12/9. Sábado, 16h. JOVEM GUARDA- 50 ANOS. Especial comemorativo ao gênero musical de maior sucesso dos anos 60 e que determinou novos rumos da música brasileira. Livre. TRIVOX. Canções de trios e duos da Jovem Gurda. R$17. R$ 8,50 (�). R$ 5,10 (•). 4/9 Sexta, 20h.

ESPORTE E ATIVIDADE FÍSICA

Cursos. GINÁSTICA MULTIFUNCIONAL. 12 anos. R$ 118. R$80 (�) . R$52(•). Segunda a sexta, 7h, 10h, 13h, 16h e 19h. R$52. R$35(�). R$23(•). Sábados, 8h e 14h. YOGA. 12 anos. R$74. R$50 (�).R$ 33(•). Terças e quintas, 10h e 16h30. R$60( ) R$30(•). Segundas e quartas,7h, 17h30 e 20h30. PILATES. 12 anos. R$74. R$50(�). R$33(•). Segundas e quartas, 12h e 16h30. Terças e quintas 8h, 15h30, 19h30 e 20h30. PRÁTICAS AQUÁTICAS- 6 a 12 anos. R$100. R$100. R$68(�). R$44(•). Terças e quintas, 10h e 16h30. R$70. R$47(�). R$31(•). Sábados 12h. HIDROGINÁSTICA. 12 anos. R$100. R$68 (�) R$44(•) Segundas e quartas, 8h, 9h, 11h, 12h, 13h30, 14h30, 16h30, 17h30, 18h30 e 20h30. R$70. R$47(�). R$31(•). Sextas, 8h, 9h, 11h, 16h e 17h. Sábados, 9h.

AULAS ABERTAS. grátis. Danças Brasileiras. Livre. Terças e quintas, 11h. Fórro. Com Caio Breunhera. 12 anos. Até 26/07. Sábados, 11h. Exceto 7/9

CINEMA E VÍDEO Exibição. Livre. Grátis. Curta Parada. Série de curtas- metragens que prõpoem breves encontros como o universo cinematográfico. Em setembro, a série apresenta filmes que unem cinema e poesia. Até 30/12. Seg à quin. 16h. POESIA NA COZINHA- CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE. Projeto audivisual que homenageia mestres da poesia, propondo seu encontro com o universo gastrônomico. Neste mês, os versos do mineiro Carlos Drummond, se misturam com as saborosas receitas de sua terra natal. Até 30/09. Seg a sex, 12h às 14h. SELO EM DESTAQUE. Exibição de obras audiovisuais que integram o conteúdo de produção do selo do sesc. Em setembro, o projeto convida o público a um passeio pela música popular brasileira, exibindo os Dvd’s de Eduardo Gudin- Notícias Dum Brasil.

TEATRO FICCÃO 26/07 R. Piauí, 554 (11) 4223-8800 Horário seg. a sex. 7h às 21h30 Bilheteria seg. a sex. 8h15 às21h30| sáb 9h15 às 17h30

PROGRAMA SESC DE ESPORTES

A Educação por meio do esporte e para o esporte. Grátis. Esporte Adulto. 16 a 59 anos. Local: Espaço.

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PROGRAMAÇÃO VELHAS E NOVAS VILAS SÃO PAULO (SP).26/9.

BRASILEIRO QUE NEM EU - MEMÓRIAS CAIÇARAS BERTIOGA (SP). 3/10.

Inserção do patrimônio cultural na paisagem urbana e visita às Vilas Itororó e Maria Zélia. R$ 38. R$ 25 (•). Saída, 10h do Sesc Santana.

A praia de Itaguá em Bertioga, é um lugarejo originalmente ocupado por comunidades caiçaras. Este passeio contempla um bate- papo com seu Doca, pescador, e com dona Noêmia, artesã que realiza trabalhos com conchas e tem sua casa toda revestida com elas. Inclui almoço e acompanhamento especializado. R$ 225. R$ 150 (•). Saída às 7h do Sesc Carmo.

DO CAFEZAL AO CAFEZINHO ITU (SP). 31/10 Uma forma de conhecer aspectos variados do café, como o plantio, colheita, abanação beneficiamento, torra artesanal e moagem dos grãos. Inscrições a partir de 4/9. R$ 195. R$ 130 (•). Saída, 7h30 do Sesc Consolação.

REVISTA E

CONSTRUÇÃO DE ESTÁDIOS E A POPULAÇÃO DO ENTORNO - HISTÓRIAS ENTRELAÇADAS (SP). 3/10. Bate-papo com o jornalista Odir Cunha. Inscrições a partir de 9/9. Grátis. Sábado, 14h. Itaquera.

15 12 nov dez

21h30 de quarta a domingo

LEGENDA DOS PREÇOS • Trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo credenciado no Sesc e dependentes (Credencial Plena).

� Aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor da escola pública com comprovante. Credencial atividades.

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PANORÂMICAS DE SÃO PAULO (SP). 22/10. Caminhada para conhecer a cidade de São Paulo a partir de outra perspectiva: a panorâmica. Inscrições a partir de 24/9, 9h. R$35. R$ 23 (•). Saída, 10h do Sesc Bom Retiro.

realização

xícara

de Zé Pereira



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