Marca Região _ O azulejo Português

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MARCA - REGIÃO AZULEJO PORTUGUÊS __________________________________ Mestrado em Design Integrado UC. Marketing Estratégico Docente . Paulo Vuidinha Discente. Mariana Novo n. 6705

Ano lectivo 2012/2013



ÍNDICE . I. INTRODUÇÃO

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II. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS Marca . Região .

5 5

III. AZULEJO COMO PORTADOR DE CULTURA Azulejo/ O termo azulejo .

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3.1 DA ORIGEM AOS DIAS DE HOJE 3.2 AS FORMAS, AS CORES E AS TÉCNICAS 3.3 ESTATUTO DO AZULEJO EM PORTUGAL 3.4 FATOR DIFERENCIADOR DOS OUTROS PAÍSES (comparação imagens)

7 8 8 11

3.5 AZULEJO COMO ATRAÇÃO TURÍSTICA

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IV. ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO DO AZULEJO COMO MARCA DA REGIÃO LUSA (PORTUGAL)

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V. CONCLUSÃO

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I. INTRODUÇÃO No âmbito da Unidade Curricular de Marketing Estratégico I, lecionada sob orientação do Docente Paulo Vidinha, integrante no currículo do primeiro semestre do primeiro ano do Mestrado em Design Integrado da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, foi proposto um trabalho de estudo sobre a conceção de uma Marca - Região, delimitando-nos dentro da cultura Luso Galaica. Para o desenvolvimento do estudo, optei por num primeiro momento explorar a região Luso Galaica, o mar e as culturas artesanais assumem um grande protagonismo tanto na parte galega como na portuguesa. Num segundo momento , decidi levar o trabalho por outro caminho. Focar-me na região Lusa e perceber marcas (não produtos industriais, como o vinho, o azeite, mas marca territoriais….) presentes no nosso dia-a-dia, (que até então não são assim assumidas) que fazem de Portugal uma marca para as outras culturas. A sociedade atual vive a um ritmo frenético. O indivíduo do século XXI é por natureza apressado, vivendo a sua vida a correr, não tendo tempo para apreciar devidamente a riqueza que o nosso país tem para nos oferecer. É precisamente esse o ponto que se pretende abordar. Pretende dar-se a conhecer ao habitante ou visitante(turista) uma das artes que tem marcado esta região Lusa, que é o Azulejo Português . Por mais que o azulejo não seja historicamente o produto original de Portugal, o uso decorativo de azulejos é totalmente inseparável da vida quotidiana, vida cultural e vida urbana dos habitantes em todo o território de Portugal. “O azulejo não é genericamente, um produto típico de Portugal: veio de fora e aqui se adaptou. Processo dessa adaptação e, principalmente, a intenção decorativa que norteou os adaptadores é que, quando a nós, constitui a originalidade portuguesa e nos leva a reivindicar para Portugal a incontestável primazia a que a decoração cerâmica tem direito no quadro das decorativas.” 1 Sem possibilidade de contestação, o emprego de azulejos para decorações de edifícios religiosos e civis atingiu em Portugal uma amplitude desconhecida noutros países do mundo inteiro.

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Santos Simões, João Miguel: Estudos de Azulejaria, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 2001, p. 35

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II. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS Marca . A palavra «marca», do germânico marka, significa “ato ou efeito de marcar; sinal, traço; letra ou símbolo que identifica produtos comerciais ou industriais; logótipo, letra ou sinal numa peça de roupa; etiqueta; sinal para lembrar ou recordar alguma coisa; limite, fronteira”.2 As marcas devem atrair e fidelizar os indivíduos através da promoção de valor, de uma imagem, de prestígio ou estilo de vida (Rooney 1995: 48). As marcas devem ser capazes de ajudar a identificar ou lembrar fatores-chave de produtos, serviços ou territórios, diferenciando-os da concorrência e facilitar recomendações dos mesmos (Palumbo e Herbig, 2000 citado em Balakrishnan 2009: 612). Uma marca de um lugar, define-se como um “plano para definir a mais realista, mais competitiva e mais apelativa visão estratégica para o país, a região ou a cidade; esta visão tem então de ser satisfeita e comunicada”. A essência de uma marca territorial reside nas pessoas que vivem no lugar, também identificado como território, bem como naquilo que nele se produz. O objetivo será, portanto, comunicar de forma eficaz as especificidades e característica desse lugar em ordem do reforço competitivo e desenvolvimento (Anholt 2003: 242).

Região . (Do latim regiōne-, «idem») O conceito de região faz referência a uma porção de território determinada por certas características comuns ou circunstâncias especiais, nomeadamente o clima, a topografia ou a forma de governo. Uma região também é uma divisão territorial definida por questões geográficas, históricas e sociais, que conta com várias subdivisões, como departamentos, províncias, cidades, entre outras. Dá-se o nome de região natural ao tipo de região que é determinada pela geografia física. Nestes casos, aquilo que é tido em conta para planear a divisão é o relevo, a vegetação, a hidrografia, entre outros fatores.3

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Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora (2010)

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http://conceito.de/regiao

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III. AZULEJO COMO PORTADOR DE CULTURA

Azulejo/ O termo azulejo “O substantivo azulejo teria tido origem persa, de raiz mesopotâmica, no adjetivo azul, que descreve uma pedra semipreciosa, de cor muito forte e já então sobejamente conhecida – o lápis-lazúli.”4 O adjetivo azul passou a zul e dele derivou a forma verbal zulej, que define um objeto “polido, escorregadio e brilhante”.5 O termo sofreu várias alterações até que finalmente, no século XIII, aparece o termo azulejo, na sua forma definitiva. É provável que este azulejo se tenha aplicado inicialmente na Andaluzia dos séculos XIII e XIV. As decorações das construções com cerâmica começaram a ser comum na época pós-Almoada e se intensificaram no século XV. O nome de azulejo dava-se aos alicatados. O azulejo fixou-se na Península Ibérica no século XIV. As mais antigas referências escritas que se encontraram em Portugal sobre azulejo datam do século XVI e estão nos forais manuelinos. Nestes tempos, já o azul que dera o nome aos famosos quadrados estava longe de ser a sua única cor. Azulejo é a palavra que designa uma placa cerâmica, pintada e vidrada na fase principal, utilizada no revestimento de paredes. Em regra, comporta um desenho ou pode ser a parte de uma decoração mais complexa para a qual concorre a presença de mais azulejos.

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Museu Nacional do Azulejo in Museus de Portugal II 3-o fascículo, a parte integrante do PÚBLICO número 1000 de 29 de Novembro 1992, p. 79 5

Santos Simoes, Joao Miguel: Azulejaria em Portugal nos séculos XVI e XVII, Introdução geral, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1990 in Museu Nacional do Azulejo in Museus de Portugal II 3-o fascículo, a parte integrante do PÚBLICO número 1000 de 29 de Novembro 1992, p.79

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3.1 DA ORIGEM AOS DIAS DE HOJE A arte da cerâmica esmaltada pode ser encontrada em países como a Espanha, Itália, Holanda, Turquia, Irã, Marrocos, mas em nenhum outro país o azulejo teve um papel tão importante na economia de uma nação como em Portugal. Este foi o país que mais desenvolveu as formas e a funcionalidade deste tipo de faiança, ultrapassando sua primordial conceção, apenas decorativa. De evidente herança muçulmana, o azulejo tornou-se um elemento identificador da cultura portuguesa pela cuidadosa escolha dos temas da cultura nacional, por exemplo da conceção do espaço interior e urbano para a sensibilidade com a qual trata os temas religiosos e, mais tarde, pela escolha de cenas e objetos da vida cotidiana representados junto a animais e plantas. Os azulejos são painéis decorativos formados por pequenas placas que se espalharam por Portugal sob influências transmitidas desde o último reino muçulmano de Granada. Estes quando chegaram ao Algarve, disseminaram-se por todo o país. A definição do azulejo português ocorre em 1517, por obra do italiano Francesco Nicoloso, a quem é atribuída a invenção da técnica da maiólica lisa, que substitui as placas de cerâmica tradicionais feitas de acordo com o estilo mudéjar. E é assim que, a partir do século XV, o azulejo se tornou objeto primordial de decoração em Portugal, ainda que as primeiras reais presenças do azulejo como revestimento de parede remeta a 1503, em Sevilha. A evolução dos motivos passou de guirlandas com flores, frutos e ramagens e ornamentos geométricos aos temas da fauna e da flora, permanecendo, todavia, os motivos de gosto mouresco pintados com as cores azul-marinho e amarelo. Sempre a partir da segunda metade do século XVI, o azulejo teve um notável impulso comercial e sofreu a influência da cerâmica italiana, passando-se a preferir as composições figurativas e “históricas”. Entrou assim no mercado europeu, depois que alguns ceramistas flamengos escolheram Lisboa como residência. No século XVII passou-se ao uso desta placa esmaltada no revestimento total interno de muitíssimas igrejas, optando-se por motivos ítalo-flamengos, ou na parte externa, com enormes painéis de temática religiosa, com uso exclusivo da cor azul cobalto, cor que melhor resistia ao cozimento. Encontramos por exemplo nesse século frequentes representações de santos e de cenas religiosas transportadas à pequena placa esmaltada com grande detalhamento e enorme rigor. É a partir da primeira metade do século XVIII que aparecem representadas cenas de batalhas, de caça ou marítimas, com grandes flores, sempre, no entanto, em azul: é o chamado século da “grande produção”, uma vez que, além das grandes cenas retratadas, aparece pela primeira vez de forma recorrente o uso de painéis “históricos” junto à utilização de figuras da vida cotidiana postas à entrada de prestigiados palácios, que pretendiam a gentil função de acolher quem chegava: são as chamadas “figuras a convite”. É, no entanto, do século XIX a ideia de utilizar nos espaços familiares como a cozinha ou a sala de estar a decoração de animais, plantas ou alimentos, como resultado de uma valorização da tradição. Os painéis são cheios de variados temas, traduzidos com uma leveza de traços e com o fundo branco, que voltam a ter papel importante. Neles são narrados os empreendimentos da burguesia que, nesse meio tempo, havia feito renascer Portugal do caos econômico, com figuras elegantemente adornadas e reveladoras de uma época, sem, no entanto, abandonar totalmente os temas religiosos. A produção torna-se, deste modo, mais industrial e muitas são as fábricas criadas, sobretudo em Lisboa, cujas fachadas e interiores são, por sua vez, um exemplo de arte e bom gosto: Constância, Sacavém, Viúva Lamego.

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É, por fim, a partir do século XX que se começam a utilizar outras técnicas, a realizar novos experimentos, a aplicar recentes métodos pictóricos para a cerâmica. Assistimos após 1950 à renovação do azulejo, escolhido pelos mais renomados pintores e ceramistas contemporâneos com a integração a modernos projetos arquitetónicos, como o Metro de Lisboa, em seguida à nova filosofia da pequena placa, compreendida não mais como fato histórico, mas como exemplo inserido no contexto urbano.

3.2 AS FORMAS, AS CORES E AS TÉCNICAS A ilha de Maiorca, nas Baleares, foi uma escala comercial importante para o Mediterrâneo, porque de lá vinham cerâmicas de grande valor, já desde a idade média. Vasilhas, pratos, vasos, peças únicas e de grande resplandecência, com reflexos de uma superfície de tal modo branca que pareciam possuir luz própria. Tratava-se das chamadas cerâmicas “majólicas” ou “maiólicas”, um material descoberto pelos islâmicos e que não era outra coisa senão a simples terracota vermelhoescura, com a qual se modelava o objeto revestido com um estrato vítreo; daqui o nome técnico de “vitrificação”, e que servia para torná-lo impermeável; só depois era colorido de branco, graças ao acréscimo do óxido de estanho. Os ceramistas italianos dessa forma começaram a levar em consideração e a seguir este tipo de processo, e no século XIV viram aparecer pela primeira vez as chamadas “maiólicas arcaicas”, que imitavam a técnica mouro-hispânica. Vem acrescentado então à vitrificação, com o óxido de estanho, o colorante branco que tornava a cerâmica opaca, sempre em quantidade crescente. Tratase de um trabalho que se aperfeiçoa cada vez mais: a argila é filtrada, depurada e homogeneizada, e os modelos são feitos em tornos ou com uma forma. A partir da desidratação, o objeto é submetido a um primeiro cozimento, cujo resultado é chamado de “biscoito”. Depois é revestido com um esmalte estanífero e pintado com as cores adequadas. Por fim, é colocado novamente no forno e aquecido a 800-900 graus. O resultado final se chama: maiólica. As cores à disposição sempre foram poucas, porque apenas algumas resistem a uma temperatura de cozimento tão alta: passa-se do escuro do manganês e verde à junção do amarelo ferroso e azul-cobalto (além do vermelho ferroso, mas este de resultado duvidoso). De fato, o azulcobalto é a única cor a resistir à temperatura de 1200 graus. 6

3.3 ESTATUTO DO AZULEJO EM PORTUGAL “ O azulejo é uma das expressões mais fortes da cultura em Portugal e uma das contribuições mais originais do génio dos portugueses para cultura universal.”7 “Desde o século XVI que, em Portugal, o azulejo ocupa uma posição de destaque, apresentando características específicas que o distinguem dos azulejos de outros países: a sua riqueza cromática, a monumentalidade, o sentido cénico e a integração na arquitetura. Foi usado, de modo original, no revestimento do interior de igrejas e de palácios e, mais recentemente, nas fachadas dos prédios.”

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7

Moretti, Marco, Portogallo, ClupGuide, 1996, CittàStudiEdizioni , A.A.V.V., Le città della ceramica, Touring Club Italiano, 2001 Gori, Mariacristina, Atti del convegno: Asilo e oratorio di S.Rosa: il restauro della Madonna del fascio, Predappio, 30 giugno 2001

Henriques, Paulo: Apresentação in A Arte do Azulejo em Portugal, Instituto Camoes, Lisboa, 2000, p. 7

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Apesar de ser a utilização do azulejo comum nos outros países como Espanha, Itália, Holanda, Turquia, Irão ou Marrocos nos quais o início da sua produção antecedente da portuguesa, em Portugal foi adaptado e tratado duma forma que em mais parte nenhuma do mundo se utilizou. “Em Portugal o azulejo assume especial importância no contexto universal da criação artística: 1. Pela longevidade do seu uso, sem interrupção durante cinco séculos. 2. Pelo modo de aplicação, como elemento que estrutura as arquiteturas, através de grandes revestimentos no interior dos edifícios e em fachadas exteriores. 3. Pelo modo como foi entendido ao longo dos séculos, não só como arte decorativa mas como suporte de renovação do gosto e de registo de imaginário.” 8

Em Portugal, os azulejos ainda são usados, em comparação com a Idade Média, numa extensão muito maior do que na maioria dos outros países europeus. Ao longo de Portugal, nas ruas, nas fachadas e edifícios dentro, há azulejos que representam os diferentes estilos e linguagens de tempos passados e presentes e preencher qualquer visita ao país com a cor. «O azulejo, dócil e obediente, passou a enfeitar as entradas dos alpendres em registos baratos, com pastorinhos e leiteiras, copiando litografias de cordel, com versos convidativos, ou enfeita os cais das estações do comboio, onde se reproduzem postais de turismo de gosto duvidoso. Mas o azulejo pode e deve ter outra expressão: a expressão coeva do artista que o cria. Dêse-lhe essa expressão, como se fez em Itália, na Holanda e na própria Espanha, onde a tradição é qualquer coisa de muito respeitável para ser amesquinhada com a cópia, e onde os modelos do que foi servem, principalmente, de incentivo ao que será.»9 De facto, é a força cenográfica da arte do Azulejo, a sua disponibilidade para animar espaços arquitetónicos (vejam-se os revestimentos integrais de padronagem do século XVII), o talento que tantas vezes perpassa na sua execução, o gosto com que se irmana com outras artes (veja-se a sua relação íntima e feliz como a talha dourada, a escultura de vulto, a pintura de brutesco, a arquitetura de jardim), a sua predileta relação com a luz, a água e os elementos da natureza, que tornam a arte da Azulejaria uma modalidade maior da criação portuguesa com expressão fortíssima, também, nos territórios da Lusofonia.” A arte do Azulejo constitui uma das valências maiores do sentir português em termos de Património e de identidade memorial ,na adequada expressão de elemento transfigurador e reanimador da espacialidade da arquitetura religiosa e civil, quer aplicada a fachadas, quer a cúpulas e panos murários. Nesse sentido decorre a imperiosidade de contribuir para o seu mais vasto conhecimento, estudo científico, inventariação sistemática e identidade de artistas e oficinas, campos esses de pesquisas em aberto, aliados à consciencialização

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A Arte do Azulejo em Portugal, Instituto Camões, Lisboa, 2000, p. 19

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J. M. dos Santos SIMÕES, «A intenção decorativa do azulejo», in cit. 1, p. 58 (originariamente publicado in Litoral, 1944).

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de que a salvaguarda e reabilitação do azulejo, impedindo roubos, desmandos e mutilações dos acervos, continua a ser prioridade máxima nas nossas políticas de Cultura. O Azulejo, devido às suas especificidades de criação artística, às circunstâncias materiais concretas de produção e às condicionantes da sua aplicação arquitetónica, assume-se certamente entre as 'artes maiores', passe o termo, do património nacional (e do Mundo Português). Desde a fase da cerâmica tardo-medieval, incluindo a arte da pavimentação, à brilhante majólica renascentista e à padronagem do século XVII, prosseguindo pelos grandes ciclos figurativos do azulejo azul e branco da era barroca e pelas complexas articulações espaciais e perspetivas do estilo rococó, o Azulejo assumiu sempre ,desde as manifestações mais eruditas às de franca realização provincial ,níveis de originalidade, de talento de animação de espaços e de atualidade face aos estilos vigentes nas artes plásticas de cada momento histórico.10

Albarradas Sec. XVIII 1

Azulejo de Querubim Lapa Sec.XX 3

2 Azulejo de Maria keil Sec.XX

4 Azulejo de R. Bordalo Pinheiro Sec. XIX.

Fig.1 4 das principais referências (artistas) para a história do Azulejo Português

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Vitor Serrão ,Diretor do Instituto de História da Arte-Centro de Investigação, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

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3.4 FATOR DIFERENCIADOR DOS OUTROS PAÍSES (comparação imagens) Mais que um simples elemento decorativo, o azulejo português detém valor artístico e cultural. Os azulejos de cariz decorativo e mais associados à expressão artística caracterizam-se por refletirem as preferências portuguesas pelas descrições realistas de forte sentido cenográfico. Os azulejos refletem assim um pouco da história, gostos e mentalidades que caracterizaram cada época. No conjunto de imagens apresentado , podemos identificar algumas das diferenças entre o azulejo Português e os restantes azulejos. Consoante uma fase de pesquisa (a nível de imagens) reparei que a principal distinção baseia-se na cor, sendo o uso de uma paleta cromática assente nos azuis e brancos e na introdução do amarelo, tornam-se característica da Azulejaria Portuguesa, em relação á explosão cromática dos azulejos Marroquinos, ou por exemplo os Italianos.

Azulejo Marroquino 1

2 Azulejo Italiano

Azulejo Mourisco 3

4 Azulejos Espanhóis

Azulejo Marrakech 6

5 Azulejo Português a

7 Azulejo do North Africa & Middle East

Azulejo Português b 8

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3.5 AZULEJO COMO ATRAÇÃO TURÍSTICA Para escolha do tema do Azulejo como Marca-Território da Região Lusa, pretendi (tentar) perceber “Qual será a sensação de entrar no pais do azulejo?, O que contribui para que este (azulejo) seja uma marca para o turista e uma forma de o chamar a Portugal . “Quando atravessamos a fronteira portuguesa, na foz do Tejo, aterrando no aeroporto de Lisboa ou conduzindo um automóvel através de qualquer uma das encantadas fronteiras terrestres, apresenta-nos a curiosa decoração de ladrilhos vidrados que embelezam quase todos os edifícios portugueses - os azulejos. É verdade que por todo o lado, da estação de comboios ao palácio pomposo, mesmo em pequenas igrejas como nas maiores catedrais, o azulejo espalha o seu brilho. Em nenhum país europeu podemos encontrar a mesma maneira e extensão da aplicação arquitetónica dos ladrilhos vidrados. “Walter Crum Watson, no seu Arquitetura Portuguesa (1907), que ainda é o melhor contributo estrangeiro para o estudo dos monumentos de Portugal, realça este aspeto do tema: “Pode-se dizer que azulejaria é o traço característico mais importante dos edifícios portugueses”.11 (ver fig. 2) Quase todos os museus da Europa possuem alguns exemplos de cerâmica decorativa. Infelizmente, em todo o caso os ladrilhos vidrados tem sido encarados como cerâmica de segunda classe, como se fossem um subproduto da arte industrial. Não importa que valiosos possam ser. Nas exposições museológicas, estes espécimes isolados não conseguem ser representativos do seu verdadeiro valor. Não podemos justamente avaliar o azulejo português sem o integrar nos locais para onde foi concebido e realizado, nos conjuntos arquitetónicos – nas igrejas e capelas justamente com a talha dourada, nos palácios enquadrado escadarias, nos jardins – onde pode ser compreendido, admirado ou estudado. Em nenhum lugar melhor do que em Portugal podemos apreciar o valor artístico total da cerâmica decorativa. “Portugal é um vasto e único museu de azulejos cheios de vida.”12 “13 Do Iº Congresso Nacional de Turismo saíram conclusões que podemos resumir numa frase: O azulejo, como uma das mais principais manifestações da arte portuguesa, deve ser chamado a colaborar no planeamento do programa das atrações turísticas. O azulejo pode atrair o turismo para os pequenos meios, afastados dos itinerários principais. Todas as pequenas vilas e aldeias tem nas suas modestas igrejas ou abandonados conventos importantes núcleos azulejares. 11

Santos Simões, João Miguel: Estudos de Azulejaria, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 2001, p. 167

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Santos Simões, João Miguel: Estudos de Azulejaria, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 2001, p. 168

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in “ A intenção decorativa do azulejo português” http://is.muni.cz/th/10186/ff_b

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IV. ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO DO AZULEJO COMO MARCA DA REGIÃO LUSA (PORTUGAL)

A imagem de marca de um país, região ou cidade pode alterar o futuro económico, cultural e político dessa unidade geográfica. A definição de marcas para unidades territoriais tornou-se um imperativo e não basta construir imagens com base em produtos e fomentar a sua exportação, é fundamental uma estratégia de branding e de comunicação. [Kavaratzis e Ashworth (2008: 153)] Uma marca de um território, no caso a marca construída para um país influencia diferentes sectores da comunidade. Perceber como um país é percecionado em relação à qualidade dos produtos que produz ou dos serviços que presta, qual o interesse que a sua cultura desperta no exterior, qual a contribuição para os fluxos da procura turística, que tipo de oportunidades de negócios oferece e quais as facilidades em termos políticos e diplomáticos que disponibiliza, são elementos que se relacionam em rede com a definição de uma marca territorial. [Moilanen e Rainisto (2009: 11)]

Com base nos seguintes dados que expõem que 83,3% dos turistas explicam a vinda a Portugal determinados por: • Como espectável, Sol e Mar emerge como a principal motivação primária sendo justificada por 37,8% da totalidade dos turistas. • O Touring Cultural e Paisagístico é a segunda motivação primária mais explicativa (29,7%).14 Identificar tudo aquilo que contribui para que um país seja o que é. Um País onde faz todo o sentido dar a conhecer e há um mundo inteiro preparado para as admirar se as soubermos transmitir e comunicar. Como base para que o pais tenha uma iniciativa, ano após ano, assente numa plataforma privilegiada para se mostrar ao mundo e liderar em Portugal aquilo que se chama ter uma marca territorial. Uma marca-região terá de afirmar a região lusa (neste caso) como plataforma giratória de pessoas, bens, serviços, valores, conhecimento e cultura. Pegar numa característica do país, em algo que pertence à sua história íntima, e que tem sido glorificada em filme e nas ruas das nossas cidades, e transformou-a numa forma de contar uma história. É aqui que entra o azulejo, que considero (já compreendido no presente dossier), como uma Marca-Territorial Lusa. Apoio esta ideia, no facto de em qualquer cidade portuguesa podemos encontrar algum ornamento que contenha este pedaço de cerâmica que é tão típico. Seja numa temática histórica, num estilo clássico ou contemporâneo.

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http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/ProTurismo/destinos/produtostur%C3%ADsticos/Anexos/AVALIA%C3%8 7%C3%83O%20DOS%20PRODUTOS.pdf

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A utilização deste material enquanto arte data do séc XV / XVI. Desde então, tem sido usado como elemento decorativo e “contador de histórias” em Igrejas, Palácios, Mosteiros ou mesmo em fachadas de edifícios, oferecendo a capacidade de qualificar esteticamente um edifício de uma forma prática e eficaz. Com as suas qualidades cenográficas, descritivas e monumentais, o Azulejo é considerado um dos produtos mais originais da cultura portuguesa, que revela não só a história mas também a mentalidade e a estética de cada época. “A arte do Azulejo constitui uma das valências maiores do sentir português em termos de Património e de identidade memorial -- na adequada expressão de elemento transfigurador e reanimador da espacialidade da arquitetura religiosa e civil, quer aplicada a fachadas, quer a cúpulas e panos murários.“ Nos dias de hoje e segundo pesquisa efetuada, o Azulejo Português têm vindo a ganhar nome junto da imprensa mundial. Vários artistas, Designers, Arquitetos adotam/inserem nas suas obras uma marca deste sentir Português. (ver fig.3 ) Numa época de revivalismos, é altura de pegarmos na essência de um país e dá-lo a conhecer ao mundo , de forma a que quando um turista se depare com os nosso azulejos a sua resposta , “não seja: de onde é este azulejo? Mas sim: este é um azulejo Português.” Esta premissa constitui um desfio para o país e talvez seja o mote para investir e torná-lo numa marca realmente identitária de Portugal. Criar oportunidades e rotas que tragam as pessoas a conhecer esta arte a Portugal. Há contrassensos e barreira a ultrapassar, como a noção que o Azulejo não é originário de Portugal ,como faz referência a citação acima de Moilanen e Rainisto acerca das marcasregião , por isso teremos que implementar e avaliar bem seguindo de uma analise SWOT todas as componentes para tornar esta marca forte no mercado mundial em termos de Cultura.

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V. CONCLUSÃO Sabe-se perfeitamente que Portugal é, por excelência, o país dos azulejos, esses ladrilhos cerâmicos dos quais se tem feito uma constante utilização na decoração religiosa e profana. O azulejo afirmou-se e enraizou-se como elemento decorativo na construção portuguesa e tornou-se uma das suas partes inalienáveis. Apesar de não terem inventado o azulejo, os portugueses usam-no de forma original, para revestir paredes, pavimentos, bancos, lagos ou fontes. O azulejo acompanhou como complemento o gosto de cada época “casando-se” com a própria arquitetura e integrando-se na estilística arquitetónica do seu tempo. Em Portugal a intenção decorativa do azulejo atingiu nível mais alto do que nos países da sua origem, alcançando, assim, o estatuto de obra-prima.

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