Arquitetos e cadeiras

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Arquitetos e cadeiras Harmonia e proporção construídas a partir do desenho geométrico

Matheus D’Olival

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ARQUITETOS E CADEIRAS Harmonia e proporção construídas a partir do desenho geométrico

Universidade de Brasília - UnB Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU Ensaio Teorico 2ª semestre do ano de 2016

Matheus D’Olival Professor Orientador: Joe Rodrigues

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Arquétipo*

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* substantivo masculino 1. modelo ou padrão passível de ser reproduzido em simulacros ou objetos semelhantes. 2. p.ext. qualquer modelo, tipo, paradigma.

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Espaldar

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Braços

3

Assento

2

Pernas

1

pés


ÍNDICE APRESENTAÇÃO

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OBJETIVO

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PROBLEMÁTICA

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METODOLOGIA

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RECORTE

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ANTROPOMETRIA

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GEOMETRIA E PROPORÇÃO

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LC1

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LC4

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BARCELONA

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BOWL

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PAULISTANO

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ALTA

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CONCLUSÃO

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BIBLIOGRAFIA

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APRESENTAÇÃO o presente trabalho consiste na investigação, apresentação e analise panorâmica de algumas cadeiras produzidas por arquitetos renomados no periodo que corresponde ao final do século XX.

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OBJETIVO Este trabalho tem como objetivo central a analise visual e metodológica de cadeiras que sejam: (produzidas por arquitetos renomados, que utilizem como matéria prima, metal e couro e que insinuem ou sugiram a consideração de conceitos relacionados à: geometria, proporção e antropometria). Para que tal objetivo seja alcançado com sucesso faz-se necessária a consideração de objetivos secundários, estes devem garantir a qualidade e finalização bem sucedida deste trabalho acadêmico. Os objetivos, ditos secundários, consistem em: Aprofundar conhecimento referente a cadeiras produzidas por arquitetos, Obter repertório quanto aos fundamentos de Geometria, Proporção e antropometria.

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PROBLEMÁTICA Podem-se verificar, em cadeiras produzidas por arquitetos, características que apreciam conceitos de: geometria, proporção e antropometria?

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METODOLOGIA A designer e estudiosa Kimberly Elam¹(1951) traz em seu livro Geometry of design um excelente método de análise. Elam ilustra através de imagens sobrepostas por diagramas, os sistemas de proporção empregados na arquitetura. Através da sobreposição de retângulos áureos na fachada do templo Parthenon, em Atenas, a autora demostra de maneira clara as relações de composição e proporções na arquitetura do edifício. Utilizando o mesmo método, a autora analisa diversas obras com enfoque no design gráfico e de mobiliário. Tal metodologia se apresenta detentora de grande capacidade didática, a partir de diagramas esquemáticos, que consistem na sobreposição de quadriculas, malhas geométricas, eixos ordenadores e sistemas de proporção, a autora enfrenta de maneira eficiente a análise de diferentes tipos de objeto.

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A partir destas considerações, decidiu-se implementar metodologia semelhante para a analise das cadeiras selecionadas para este trabalho. O exercício de analise será desenvolvido a partir de diagramas que serão sobrepostos aos desenhos das cadeiras selecionadas. Estes desenhos são de nível técnico e serão devidamente escalonados (escala 1:10). Tais diagramas, combinados aos desenhos das cadeiras, terão o objetivo de assinalar, de maneira clara, as características correspondentes a: geometria, proporção e antropometria, presentes nas cadeiras produzidas e previamente selecionadas. As etapas de análise podem ser organizadas em duas fases distintas: 1ª) em primeiro momento serão utilizados diagramas de padrões geométricos, estes têm como objetivo, assinalar visualmente aspectos que concernem ao

¹ Kimberly Elam é escritora, educadora e designer gráfico. Atualmente, preside o Departamento de Comunicação Gráfica e Interativa da Faculdade de Arte e Design de Ringling, em Sarasota, Flórida, onde desenvolveu um mestrado acadêmico em Arte e Design.

raciocínio geométrico contido no desenho do objeto e de suas consequências diretas quanto a aspectos de proporção. 2ª)Esta análise, trará desenhos do objeto, desta vez, sobrepostos por diagramas que contenham figuras humanas esquematizadas, o objetivo desta etapa é salientar aspectos de antropometria, tornando visíveis e claras as relações existentes entre a cadeira analisada e a figura humana apresentada em diagrama, por possuírem escala determinada os diagramas serão um instrumento de assemelhação entre os objetos analisados e deverão possibilitar maior compreensão, além de possibilitar comparações entre estas cadeiras de maneira equiparada.


RECORTE Limitou-se o número dos objetos selecionados, A fim de se garantir eficácia. Para a escolha dos objetos estipulou-se os critérios: Devem ser cadeiras, desenhadas por arquitetos renomados, em metal e couro e por fim: sugerir a consideração de geometria, proporção e/ou antropometria em sua concepção. É importante destacar que as cadeiras escolhidas são ícones do seu tempo e de hoje, pela representatividade de seus autores, que também se colocam como ícones, tanto no cenário nacional como internacional. De maneira a garantir um entendimento sequencial os objetos se organizam de maneira cronológica nesta apresentação. Elege-se a partir dos princípios apresentados a quantidade de seis cadeiras, de autores específicos, para analise. São elas: Poltrona LC1 de Le Corbusier (1887-1965)– Este exemplar, produzido no ano de 1928, traz em si características que contemplam o objetivo deste trabalho são elas: (uso de estrutura

metálica, uso de revestimento em couro, design que sugere relações de proporção e antropometria). Espreguiçadeira LC2 de Le Corbusier – Devido ao uso de metal e couro e também devido ao foto de Le Corbusier ter trabalhado explicitamente questões de antropometria e proporções neste projeto. Cadeira Barcelona de Mies Van der Rohe (1986-1969) – Nela mais uma vez podemos encontrar o uso de metal e couro, quantos a aspectos de materialidade. Em seu desenho, podemos perceber o uso de critérios de modulação, proporção e geometria. Características muito bem ilustradas e tratadas no livro Geometry of Desing de Kimberly Elam e que neste trabalho serão reconsideradas e acrescidas da análise antropométrica. Cadeira Bowl de Lina Bo Bardi (1914-1992) – Este exemplar produzido no Brasil no ano 1951, carrega como características: uso do metal e couro, e sua geometria

característica que toma partido da forma circular. Tais aspectos correspondem às condições estipuladas para o recorte. Cadeira Paulistano de Paulo Mendes da Rocha (1928) – Exemplo notável do desenho de produtos nacional, produzina no ano de 1957. Sua materialidade se consiste metal e couro sintético, Seu desenho sugere agradável continuidade e proporções agradáveis. Estes fatos somados justificam sua escolha. Poltrona Alta de Oscar Niemeyer (1907-2012) – Temos aqui um único objeto que se difere dos demais uma fez que sua estrutura é feita em madeira, no entanto esta poltrona produzida em 1971 carrega o peso de sua autoria, Oscar repetidas fezes mostrou domínio sobre aspectos de construção geométrica e possivelmente isso pode se repetir nesta manifestação. Estes fatos tornam a analise deste objeto bastante relevante.

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LC1

1928

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LC4

Barcelona

1929


Bowl

1951

Paulistano

1957

Alta

1971

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ANTROPOMETRIA Denomina-se antropometria o estudo das relações de medidas existentes no corpo humano. A palavra antropometria originase a partir da união das palavras gregas anthropos, “homem” e metron, “medida”. A aplicação dos métodos científicos de medidas físicas nos seres humanos, buscando determinar as características do corpo humano, com a finalidade de se obter informações. Tais informações são utilizadas nos projetos de arquitetura e desenho industrial, de modo geral, para o correto dimensionamento desses produtos a seus usuários. Podemos considerar arquitetura e desenho industrial como disciplinas que constroem objetos para serem utilizados por pessoas, desse modo as dimensões e movimentos do corpo humano deveriam ser determinantes no tamanho e forma da arquitetura e do produto. (BOUERI, JORGE 2008) “Os edifícios são construídos para pessoas e para serem habitados por elas. Em Cada processo projetual

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de arquitetura, as dimensões e os movimentos do corpo humano são os determinantes da forma e tamanho dos equipamentos, mobiliário e espaço ou pelo menos deveriam ser.” (Boueri,

Jorge 2008)

Boueri faz no mesmo estudo interessante observação sobre as unidades de medida, lembra que o metro ainda que distante das dimensões corporais estabelece a relação de 10 partes em relação ao todo da unidade e que o número 10 está associado a quantidade de dedos do homem, declara também que nas habitações dos índios Yawalapiti do Alto-Xingu, as diferentes partes da casa são relacionadas com partes do corpo humano ou animal; assim a habitação possui peito (fachada principal); costas (fachada oposta a principal); alto da cabeça (viga superior); costelas (varas horizontais onde é amarrada a palha da cobertura); pelos(palha da cobertura); boca(porta de entrada) e pernas (pilares). É interessante perceber estas associações presentes na arquitetura produzida pelos povos

¹Marcos Vitrúvio Polião foi um arquiteto romano que viveu no século I a.C. e deixou como legado a obra “De Architectura”, único tratado europeu do período greco-romano que chegou aos nossos dias.

indígenas e que estas associações estão presentes também em cadeiras já que estas possuem como elementos: (pés braços e pernas). É perceptível a relação indissociável entre arquitetura, desenho industrial e antropometria e talvez esse seja um dos fatos motivadores que acabam, de certo modo, encorajando arquitetos a produzir cadeiras. Nota-se ao longo da história, repedidas investigações desta temática, no renascimento, por exemplo, constatamos que artistas como Leonardo da Vinci (14521519) e depois Albrecht Dürer (1471-1528), para citar apenas alguns, dedicam-se a investigar e compreender as relações geométricas presentes na figura humana e suas consequentes influencias nas proporções das partes em relação ao todo. “No Renascimento, os ensinamentos de Vitrúvio¹ passam novamente a ganhar grande importância. É nessa época que os seus livros são traduzidos para a língua italiana. Os dados


antropométricos apresentados por ele, são desenhados por Leonardo Da Vinci (± em 1490) no seu célebre trabalho “L’Uomo di Vitruvio” [O Homem

de Vitrúvio]” (Almeida,Lopes e Santos, Sílvio 2003)

Tomando como exemplo os diagramas produzidos por Dürer disponíveis em sua obra: Vier Bücher von menschlicher Proportion, especificamente o da página 230,[figura do canto superior direito] há ali um desenho que retrata a figura de um corpo humano, esta mulher, é apresentada em duas vistas, a primeira delas frontal e a segunda em visão laderal. É interessante perceber nos desenhos de Dürer uma certa aproximação com o raciocínio de um arquiteto, é como se ele pensasse o corpo humano como um edifício e o representasse através de planos (fachadas). Há nesses desenhos a intensão de se compreender o corpo como um objeto e de representa-lo em seus diferentes ângulos e vistas, assim como ocorre na representação arquitetônica.

A partir deste desenho de Dürer, elaborou-se um modelo adaptado, [figura canto inferior] compatível com as mídias de reprodução modernas e que servisse ao objetivo de análise de cadeiras, objetivo este, central neste trabalho. Esta adaptação consiste na elaboração de um modelo antropométrico ilustrado digitalmente e que possibilite a articulação de suas partes de maneira a representar a figura humana em posição sentada e suas variações possíveis no que consiste a movimentação de seus membros e tronco. Este modelo antropométrico articulado servirá, como diagrama chave, para a análise das cadeiras selecionadas.

Imagem 7- Albrecht Durer: Vier Bücher von menschlicher Proportion (Pg. 230)

Diagrama autoral adaptado conforme desenhos originais de Durer

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GEOMETRIA E PROPORÇÃO Aliada a ideia de módulo e proporções, estudiosos de diversos períodos, buscaram através de analises e observações, encontrar um padrão que se colocasse como agradável nas mais variadas situações. (ELAM, KIMBERLY 2007) Ao longo de toda história, tanto no contexto do mundo natural quanto no contexto de ambiente humano, pode se verificar uma preferencia cognitiva evidente do ser humano pelas proporções que apresentavam relações similares as presentes na regra de ouro. O uso do retângulo de ouro, no qual há uma proporção equivalente a 1:1,618 entre seus dois lados, é verificado em diversas manifestações humanas no decorrer da história György Doczi¹(1909-1995) traz em seu livro, O poder dos limites harmonia e proporções na Natureza, Arte & Arquitetura, talvez uma das mais antigas construções humanas onde se verificou a relação áurea. Na obra

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de Stonehenge, erguida entre o intervalo provável que vai de 2000 a 1600 aC. Pode ser constatada a presença de relações de medidas compatíveis com as relações da proporção áurea. Outros indícios documentados encontram-se em manifestações culturais de civilizações antigas, por exemplo: na arte e na arquitetura grega, no século V aC. Tal recorrência pode ser um indicio de que tais proporções podem possuir valor estético intrínseco, e que se revela surpreendente é o fato destas medidas aparecerem repedidas vezes ao longo da história até os dias de hoje, por exemplo: no século XV período que consiste no inicio no renascimento europeu, Artistas como Leonardo da Vinci e Albrecht Dürer também documentaram e empregaram as proporções da secção áurea em extraordinárias obras de escultura pintura e arquitetura, mais tarde no período que consiste na modernidade recente verificamos a investigação da mesma temática pelo arquiteto Le Corbusier. É

¹ György Dóczi ou György Frederic Dóczi, (Budapeste, Hungria, 5 de maio de 1909 — 1995) foi um arquiteto, autor e designer gráfico húngaro. Publicou, pela Editora Shambhala, o livro O Poder dos Limites ² filósofo alemão,Professor em Leipzig a partir de 1834, era tido como um matemático e físico brilhante.

importante ressaltar ainda, que além das obras feitas pelo homem, as proporções áureas podem ser observadas no mundo natural, por exemplo, nas proporções do corpo humano e ate mesmo no padrão de crescimento de plantas e nos mais diversos animais e que todas estas questões são muito bem exploradas na obra de Doczi. Motivados pelo grande interesse despertado pelo tema, muitos pesquisadores iniciaram estudos que abrangiam as relações exististes entre proporção áurea e preferencia. O psicólogo alemão Gustav Fechner²(1801-1887) estudou, no final do séc. XIX, o modo como as pessoas reagiam ás qualidades estéticas específicas do retângulo áureo. A curiosidade de Fechner foi despertada pelos indícios existentes de uma predileção estética pelas proporções da secção áurea, preferencia esta, que mostrou ser arquetípica e de certo modo imune a questões culturais. A pesquisa de Fechner restringia


seu experimento ao mundo humano e começou tomando a medida de milhares de objetos retangulares, tais como caixas, livros, edifícios, retratos, jornais, janelas etc. Constatou-se através desses estudos que a proporção média dos retângulos estudados estava próxima daquela conhecida como regra de ouro, ou seja, a relação entre os dois lados dos retângulos avaliados possuía valor equivalente a 1:1,618. Verificou-se ainda que a grande maioria das pessoas preferia os retângulos que exibiam proporções semelhantes a proporção áurea. Os experimentos foram exaustivos, no entanto eram informais e acabavam abrindo margem para contra argumentações. (ELAM, KIMBERLY 2007) Anos mais tarde em 1908 e com maior rigor científico, o francês Charles Lalo³ (1877-1953) obteve resultados semelhantes e que acabaram confirmando o fato de que nós tendemos a preferir

objetos que apresentam em suas relações de medida, as proporções mais próximas ou iguais a proporção áurea. Existe também o conhecimento de que as proporções especificas da seção áurea têm estreita relação com uma série de números. Este conjunto de números organizados em sequencia leva o nome de sequencia de Fibonacci, assim chamada em homenagem a seu descobridor, o matemático Leonardo de Pisa 4 (1170-1250), conhecido como Fibonacci . Esses números são organizados na seguinte ordem – 1,1,2,3,5,8,13,21,34...- esta sequencia é calculada somandose os dois números antecessores para se obter o número seguinte. Por exemplo, 1+1=2, 1+2=3, 2+3=5 etc. Fibonacci constatou que a proporção entre qualquer par de números antecessores ou subsequentes desse conjunto é muito próxima da proporção áurea. Os primeiros pares da série vão progressivamente se aproximando da seção áurea

e depois do 15º número, a divisão de qualquer número pelo subsequente tende a 0,618 e a divisão por qualquer número anterior tende a 1,618. Este fato comprova a relação direta existente entre a sequência de números e a proporção de ouro. O conceito de preferencia, será tomado como base, para o desenvolvimento deste trabalho e justifica a metodologia de análise, que tem como objetivo, procurar nos objetos selecionados proporções que correspondam com os valores da regra de ouro e que a partir disso possa se inferir como um dos fatores do sucesso e de aceitação daquele objeto, o uso de proporções áureas. A sequencia de Fibonacci apresenta estreita relação com os sistemas de proporção áurea, partindo deste pressuposto, este trabalho terá também como objetivo, identificar essas relações nos objetos de analise selecionados

³ Escritor francês tratou em seus escritos ecpecialmente sobre estética. Lalo estudou filosofia e teoria educacional em Bayonne e Paris. 4 Leonardo Fibonacci, também conhecido como Leonardo de Pisa foi um matemático italiano, tido como o primeiro grande matemático europeu da Idade Média.

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LC 1 Desenho: [1]Le corbusier, [2] Charlotte Perriand¹ (19031999) e [3] Pierre Jeanneret² (1896-1967)

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Data desnho: 1928 Data da produção: 1965 Estrutura: tubo metálico com finalização cromo

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Revestimento: couro Dimenções em cm: (60 x 64 x 65h)³ 3

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¹ Foi um arquiteta e designer francêsa. Seu trabalho visava criar espaços de vida funcionais. ² Pierre Jeanneret foi um arquiteto e designer suiço, primo e colaborador Le Corbusier ³Dimenções retiradas do site do fabracante, Cassina.


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1/10

Visualmente esta cadeira apresenta características interessantes, podemos começar falando de sua estrutura tubular metálica, esta se inicia em quatro pontos que sobem verticalmente de madeira a formar os pés e pernas da cadeira em elementos únicos e contínuos que não se encerram na altura do assento prolongam-se ainda mais e servem de apoios para tiras de couro que servirão de apoios para os braços do usuário, seu assento e espaldar apresentam seve inclinação para trás e

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1/10

1/10

1/10

seu revestimento em laminas de couro envolve e acaba por disfarçar aos olhos algumas barras horizontais metálicas que interligam suas pernas, fato que atribui ao objeto leveza. Podemos perceber, através da sobreposição de uma malha, que esta cadeira obedece rigorosamente a uma modulação, que corresponde a razão de 1/10. Tal relação se verifica presente em tanto em sua vista frontal quanto em sua vista lateral.

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Através da sobreposição do diagrama de uma figura humana podemos perceber visualmente a possível interação do objeto com o corpo humano, constatamos que suas medidas e proporções se colocam bastante adequadas e aproximadas das medidas presentes no diagrama e que a leve inclinação do assento e espaldar podem possibilitar ao usuário maior conforto em sua utilização.

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LC 4 (1928) Desenho: [1]Le corbusier, [2] Charlotte Perriand (19031999) e [3] Pierre Jeanneret (1896-1967)

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Data desnho: 1928 Data da produção: 1965 Estrutura: tubo metálico com finalização cromo base em madeira laqueada

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Revestimento: couro Dimenções em cm: (160 x 56 x 70h)¹

¹Dimenções retiradas do site do fabracante, Cassina.

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Neste renomado exemplar do design, verificamos uma estrutura metálica sinuosa em sua parte superior e arqueada em sua parte inferior, esta estrutura se apoia sobre um cavalete feito de madeira laqueada, recebe em sua parte superior estofamento e uma almofada em formato cilíndrico, ambos revestidos em couro. Sua sinuosidade remete ao formato do corpo humano e transmite visualmente sensação de conforto. Constata-se a presença de influencias de retângulos e círculos nesta composição, o conjunto parece originado a partir de um grande retângulo onde se insere um circulo e a partir de suas subdivisões se determinam outras relações, como por exemplo, o comprimento do arco de sua estrutura e a dimensão apropriada ao cavalete que o recebe. 24


A partir da sobreposição do diagrama de uma figura humana podemos perceber visualmente aqui a considerável presença de uma intenção antropométrica por de trás de sua concepção, suas formas sinuosas recebem, de maneira bastante adequada, o corpo humano e considera cada uma de suas partes: cabeça, coluna e membros inferiores. 25


BARCELONA Desenho: [1]Mies Van der Rohe e [2]Lilly Reich¹ (1985-1947) Data: 1929 Estrutura: aço inox

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Revestimento: almofadas em couro Para o Pavilhão Alemão da Exposição Internacional de Barcelona Dimenções em cm: (75 x 74 x 74h)²

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¹Lilly Reich foi uma designer modernista alemã. Trabalhou com Mies Van der Rohe durante mais de dez anos. ²Dimenções retiradas do site do fabracante.

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Esta cadeira traz em sua estrutura um sistema de arcos que se cruzam de maneira a formar um “x” estas hastes metálicas formam o conjunto da estrutura desta cadeira, é interessante perceber a continuidade visual existente neste elemento, uma vez que, suas pernas frontais seguem o traçado de um arco que sobe e forma também a estrutura que servirá como espaldar, seu estofado é simples e se faz por meio de duas almofadas revestidas em couro que repousam sobre a estrutura metálica. Ao analisarmos esta cadeira por meio de

malhas geométricas podemos perceber alguns fatores que se apresentam de maneira marcante, seu volume total pode ser perfeitamente inserido em um cubo, já que suas dimensões de largura, altura e profundidade, são praticamente as mesmas. Os captonês que compõem suas almofadas seguem rigorosamente a uma organização ortogonal e sua estrutura metálica obedece a arcos que se relacionam diretamente ao quadrado ao qual se insere a cadeira.

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Quanto a suas dimensões e proporções, qundo comparadas ao modelo antropométrico, podemos visualizar uma série de características interessantes, aqui verificamos uma leve inclinação do assento e espaldar para trás, o que proporciona ao usuário mais conforto ao se sentar, podemos concluir que esta cadeira tem proporções e dimencionamento acertados e que interage com as medidas básicas do corpo humano de maneira satisfatória. 29


BOLW Desenho: Lina Bo Bardi Data desenho: 1951 Data de produção: 2013 Estrutura: Metal (base) e fibra de vidro (assento) Revestimento: couro com acoplamento de veludo Bloco: diâmetro 89 cm, profundidade máxima 42 cm. ¹ Armação: diâmetro 65 cm, altura a partir do chão 31 cm. ²

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¹Dimenções retiradas do site do fabracante, Arper. ²Dimenções retiradas do site do fabracante, Arper.


Uma cadeira extremamente simples, sua base feita de finos tubos metálicos, constitui-se por um aro que se eleva do solo por quatro hastes, esta estrutura recebe uma semiesfera acolchoada e revestida de couro, uma cadeira revolucionária para época uma vez que exigia de seu usuário que se senta-se de uma maneira relaxada algo que fugia da formalidade.

Quanto a seus aspectos de geometria e proporção podemos verificar a forte presença do circulo que domina a composição e define a partir de suas subdivisões outros elementos da cadeira, podemos perceber que os pés desta cadeira seguem o alinhamento dos vértices de um pentágono inscrito no circulo que gera sua semiesfera e constitu seu assento/espaldar.

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Suas dimensões e proporções se colocam bastante próximas a do corpo humano quando comparada ao diagrama, além disso sua semiesfera móvel pode possibilitar ao usuário diferentes possibilidades de inclinação a fim de garantir assim uma maneira mais apropriada a diferentes usuários.

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PAULISTANO Desenho: Paulo Mendes das Rocha Data desnho: 1957 Estrutura: metal Revestimento: lona Dimenções em cm: (72 x 74 x 82h)¹

¹Dimenções retiradas do site do fabracante, Futon Company

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Seus elementos: pés, brações, assento, espaldar proporcionam ao olhar um movimento único e continuo e de certo modo suas partes se dissolvem, confundem e conformam um único objeto bastante homogêneo. Suas proporções desenham linhas e planos, não chegando a constituir dessa forma um volume no espaço. Sua estrutura metálica fecha-se em si assim como o tecido que a veste e configura seu assento e espaldar. A análise por meio de quadriculas e malhas em suas vistas planas não nos dizem muito sobre suas características geométricas uma vez que a peça parece ter sido modelada e não desenhada como as demais vistas até aqui. No entanto pode-se estabelecer relações com uma malha quadriculada e de suas curvas que parecem obedecer a estas divisões.

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Quanto a suas relações existentes entre o corpo humano podemos observar sobrepondo o diagrama antropométrico que suas dimensões e proporções são adequadas e que seu assento tencionado pode possibilitar ao usuário maior conforto.

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ALTA Desenho: [1]Oscar Niemeyer e [2]Anna Maria Niemeyer¹ Data desenho: 1971 Estrutura: madeira prensada, curva, laqueada de preto

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Revestimento: almofadas em couro

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¹Arquiteta, designer e galerista brasileira. Única filha de Oscar, trabalhou com o pai na construção de Brasília, tendo sido responsável pela decoração de interiores de diversos edifícios públicos da cidade.


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1/4

1/2

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1/8

Esta cadeira possui estrutura em madeira laminada e estofamento acolchoado revestido em couro, visualmente se destacam os volumes formados por seu assento e seu espaldar que configuram paralelepípedos que parecem flutuar no espaço, sua estrutura arqueada também trás características interessantes seus pés se fazem por meio de duas laminas curvadas onde uma delas segue em um gesto contínuo, que se encerra ao tocar o paralelepípedo que configura o encosto da cadeira. Podemos verificar nesta obra a presença de uma razão correspondente a 1/8 que se faz presente na configuração do conjunto, as dimensões e afastamentos parecem ser determinados através de uma composição que obedece a este critério, estas relações se mostram visíveis e claras em sua vista frontal. Podemos constatar também a presença de proporções semelhantes as do retângulo áureo em suas vistas lateral e superior aqui verificamos que a proporção total do conjunto obedece as relações de um retângulo áureo e que seu espaldar equivale ao retângulo áureo obtido através da terceira subdivisão do retângulo áureo primário.

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Analisando suas dimensões e proporções e as comparadas ao modelo antropométrico, podemos concluir que esta cadeira tem proporções e dimencionamento acertados e que ao que tudo indica proporciona uma interação confortavel entre o objeto e o corpo humano.

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CONCLUSÃO É interessante perceber após as investigações e análises que em suma as cadeiras aqui apresentadas trazem todas, a sua maneira, características que apreciam conceitos de geometria e de antropometria, tais noções são frequentes na concepção arquitetônica, constatar que isso também se reflete na elaboração de cadeiras se mostra de certo modo bastante relevante.

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BIBLIOGRAFIA Livros: Doczi, György: O poder dos limites: harmonias e proporções na natureza, arte e arquitetura. Mercuryo Novo Tempo, 2012 Elam, Kimberly: Geometria do Design, 2007 Ebook: Boueri, Jorge: Antropometria aplicada à arquitetura, urbanismo e desenho industrial, 2008. Disponível em: http://www.estacaoletras.com.br/pdfs/ebook_antropometria.pdf acesso: 08/11/16 Texto: Almeida, José e Santos, Sílvio: Antropometria. Sobre o homem como parte integrante dos fatores ambientais. Sua funcionalidade, alcance e uso (1), 2003. Disponivel em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/ arquitextos/04.042/642 acesso: 08/11/16 Sítios: http://www.cassina.com/en/collection/chairs/lc1 http://www.cassina.com/en/collection/sofas-and-armchairs/lc4 http://www.arper.com/ww/en/ https://futon-company.com.br/produtos/poltronas/poltrona-paulo-mendes-da-rocha/

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Imagens: Página 14 – (Imagem 01) Poltrona LC1, disponível em: https://br.pinterest.com/pin/120752833731760428/ acesso: 11/09/16. Página 14 - (Imagem 02) Espreguiçadeira LC4, disponível em: https://br.pinterest.com/pin/538883911637305787/ acesso: 11/09/16. Página 14 -(Imagem 03) Poltrona Barcelona, disponível em: https://br.pinterest.com/explore/cadeira-debarcelona-928500071628/ acesso: 11/09/16. Página 15 -(Imagem 04) Poltrona Bowl, disponível em: http://bardisbowlchair.arper.com/ acesso: 12/09/16. Página 15-(Imagem 05) Cadeira Paulistano, disponível em: https://br.pinterest.com/pin/529665606147025281/ acesso: 12/09/16. Página 15-(Imagem 06) Poltrona Alta, disponível em: https://br.pinterest.com/pin/137500594848770387/ acesso: 12/09/16. Página 17 -(Imagem 07) Ilustração de Albretch Dürer, disponível em: https://www.nlm.nih.gov/exhibition/ historicalanatomies/durer_home.html acesso: 06/10/16. Página 20 e 23 -(Imagem 08) Fotografia de Le Corbusier, disponivel em: http://design.novoambiente.com/designer/lecorbusier acesso: 15/11/16. Página 20 e 23 -(Imagem 09) Fotografia de Charlotte Perriand, disponivel em: https://www.mcmdaily.com/charlotteperriand acesso: 15/11/16. Página 20 e 23 -(Imagem 10) Fotografia de Pierre Jeanneret, disponível em: http://www.knoll.com/designer/PierreJeanneret acesso: 15/11/16. Página 26 - (Imagem 11) Fotografia de Mies Van der Rohe, disponível em: https://www.essenciamoveis.com.br/ miesvanderrohe acesso: 15/11/16. Página 26 - (Imagem 12) Fotografia de Lilly Reich, disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-101648/dezarquitetas-desprestigiadas-pela-historia acesso: 15/11/16. Página 30 - (Imagem 13) Fotografia de Lina Bo Bardi, disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/758509/citacoesde-lina-bo-bardi acesso: 15/11/16. Página 33 - (Imagem 14) Fotografia de Paulo Mendes da Rocha, disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/tag/ paulo-mendes-da-rocha acesso: 15/11/16. Página 36 - (Imagem 15) Fotografia de Oscar Niemeyer, disponível em: http://www.ccon.go.gov.br/oscar_niemeyer acesso: 15/11/16. Página 36 - (Imagem 16) Fotografia de Anna Maria Niemeyer, disponível em: http://arteseanp.blogspot.com. br/2012/06/anna-maria-niemeyer-uma-homenagem.html acesso: 15/11/16.

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Ilustrações: Página 06 (ilustração 01) Diagrama arquétipo, fonte: Elaborado pelo autor Página 14 e 15 (ilustração 02) Linha Cronológica, fonte: Elaborado pelo autor Página 17 (ilustração 03) Diagrama antropométrico, fonte: Elaborado pelo autor Página 20 (ilustração 04) Isométrica LC1, fonte: Elaborado pelo autor Página 21 (ilustração 05) Diagrama lateral LC1, fonte: Elaborado pelo autor Página 21 (ilustração 06) Diagrama frontal LC1, fonte: Elaborado pelo autor Página 22 (ilustração 07) Diagrama antropométrico LC1, fonte: Elaborado pelo autor Página 23 (ilustração 08) Isométrica LC4, fonte: Elaborado pelo autor Página 24 (ilustração 09) Diagrama lateral LC4, fonte: Elaborado pelo autor Página 25 (ilustração 10) Diagrama antropométrico LC4, fonte: Elaborado pelo autor Página 26 (ilustração 11) Isométrica Barcelona, fonte: Elaborado pelo autor Página 27 (ilustração 12) Diagrama topo Barcelona, fonte: Elaborado pelo autor Página 27 (ilustração 13) Diagrama frontal Barcelona, fonte: Elaborado pelo autor Página 28 (ilustração 14) Diagrama lateral Barcelona, fonte: Elaborado pelo autor Página 29 (ilustração 15) Diagrama antropométrico Barcelona, fonte: Elaborado pelo autor Página 30 (ilustração 16) Isométrica Bowl, fonte: Elaborado pelo autor Página 31 (ilustração 17) Diagrama frontal Bowl, fonte: Elaborado pelo autor Página 31 (ilustração 18) Diagrama lateral Bowl, fonte: Elaborado pelo autor Página 32 (ilustração 19) Diagrama antropométrico Bowl , fonte: Elaborado pelo autor Página 33 (ilustração 20) Isométrica Paulistano, fonte: Elaborado pelo autor Página 34 (ilustração 21) Diagrama lateral Paulistano, fonte: Elaborado pelo autor Página 34 (ilustração 22) Diagrama frontal Paulistano, fonte: Elaborado pelo autor Página 35 (ilustração 23) Diagrama antropométrico Paulistano, fonte: Elaborado pelo autor Página 36 (ilustração 24) Isométrica Alta, fonte: Elaborado pelo autor Página 37 (ilustração 25) Diagrama frontal Alta, fonte: Elaborado pelo autor Página 37 (ilustração 26) Diagrama lateral Alta, fonte: Elaborado pelo autor Página 38 (ilustração 27) Diagrama antropométrico Alta, fonte: Elaborado pelo autor

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