Talè
MAG Ano 1
ÍDOLOS MODERNOS Entenda como são construídas as personalidades virtuais de figuras públicas veneradas (e canceladas)
RODAS EM CASA
A quarentena fez a prática de esportes em casa crescer - com o auxílio da tecnologia
A NOVA DIMENSÃO
O metaverso captura nosso interesse e mexe com nosso consumo de cultura
EDITORIAL
Nós mudamos Quem estava preparado para esta revolução adaptacional que o mundo precisou passar em decorrência da covid-19? Certamente, ninguém. Dentre as tantas adequações, destaco aqui a forma que o jornalismo encontrou de continuar apresentando conteúdo relevante para a sociedade, ainda que o vírus o impedisse o repórter de ir às ruas ou contatar fontes face a face. Foi necessário muito jogo de cintura para que esta revista chegasse em suas mãos, haja vista que, no contexto em que vivemos, não seria possível manter um contato físico com cada fonte desta edição. Além do mais, as três editorias que compõem esta revista (tecnologia, cultura e esporte) foram bem trabalhadas do ponto de vista textual. O curto intervalo de tempo que tínhamos para produzir reportagens, colunas e perfil seria um impedimento sem e a disponibilidade da tecnologia a nosso favor. Esta ferramenta nunca foi tão essencial como agora, não só para os meios de comunicação, mas também para os que amam se aventurar sobre duas rodas - embora a decorrência da pandemia tenha impedido os ciclistas de trafegarem rotineiramente . Em contrapartida, esse impasse resultou na migração de um pedal comum para softwares capazes de TALÈ MAG • JUNHO 2021
assemelhar-se ao videogame, aderindo os rolos de treino e adaptando ao modo online , a fim de que não parassem com as suas atividades. Já para os apreciadores de cultura, as lives foram a salvação para os admiradores de um show ao vivo com o público virtual “lotado”. Cantores brasileiros como Alcione, Marília Mendonça e Gustavo Lima foram alguns dos adeptos à nova modalidade tecnológica, evitando que suas apresentações parassem enquanto o mundo colapsou. E as visitas aos clássicos museus europeus? Graças ao metaverso – uma espécie de realidade aumentada –, foi possível ver inúmeras obras fabulosas da tela do computador. Os jogadores frenéticos de eSports não ficaram para trás. Embora as competições tenham se limitado às plataformas de streaming, a quantidade de jogadores e telespectadores continua crescendo. Diante de todas as vantagens que um mundo pós pandemia nos apresenta, esperamos que você, amigo(a) leitor(a), aprecie esta revista e perceba que o mundo não para, e a comunicação também não. Aprecie as páginas desta edição e descubra uma infinidade de adaptações disponíveis para atletas, artistas, apreciadores da tecnologia e simpatizantes da informação. T 3
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MAG
Talè Mag é uma revista elaborada por alunos do 5˚ semestre de Jornalismo do Unasp campus Engenheiro Coelho
Coordenação editorial: Thamires Mattos Orientação: Dra. Karla Ehrenberg, Ma. Jenifer Costa, Ma. Thamires Mattos, Esp. Ana Paula Pirani Editora-chefe: Djuliane Rodrigues Chefe de reportagem: Hellen Piris Secretária de redação: Franciele Borges Revisão: Ana Clara Silveira e Carlos Daniel Repórteres: Adalie Pritchard, Ana Clara Silveira,
Carlos Daniel, Carmem Iorrana, Djuliane Rodrigues, Felipe Carmo, Franciele Borges, Hellen Piris, Leonardo José, Lorena Lima, Patrícia Paiva, Samuel Matheus Projeto Gráfico e diagramação: Ana Paula Pirani, Adalie Pritchard Infografia: Adalie Pritchard, Carmem Iorrana, Leonardo José Ilustrações: Felipe Carmo, Shutterstock Fotos: Shutterstock, Unsplash e acervos pessoais
Sumário
Assim nasce um ídolo 20
pág.
Reportagem de capa
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Cultura
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Das ruas para dentro de casa: o ciclismo na telinha
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Um salto para a vida
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O ponto fraco da Mulher Maravilha
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NFTs: o novo mercado digital
O sol nasce novamente
Esportes
Esportes x racismo Esportes
Esportes
Tecnologia
Cultura
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À flor da pele Esportes
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A relevância das lives no contexto pandêmico
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História das mulheres no esporte
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O fenômeno dos eSports
Cultura
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Crescimento de streamings Tecnologia
Nova dimensão Tecnologia
Esportes
Tecnologia
Um país, duas bombas atômicas e a Olimpíada mais bem planejada da história Carlos Daniel e Franciele Borges
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O país viveu o seu pior momento no ataque sofrido na Segunda Guerra Mundial em 1945. A resposta dos norte-americanos ao ataque à base de Pear Harbor, território do Havaí, foi imediata. Duas bombas atômicas e um total de 36 mil toneladas de material explosivo devastaram as cidades de Hiroshima e Nagasaki. Com a capital Tóquio não foi muito diferente, talvez tenha sido pior. Quase meio milhão de bombas incendiárias atingiram a capital, matando entre 80 a 140 mil vítimas - superior a Hiroshima (70 a 122 mil). O fato histórico influenciou no modo como os japoneses lidam com a vida e a natureza. O equilíbrio do homem com o meio natural sempre busca a paz por meio da disciplina. O país conseguiu dominar a arte de viver ao longo dos seus mais de dez mil anos de existência, tendo aprimorado os processos
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s bombas atômicas disparadas pelos Estados Unidos nas cidades de Hiroshima e Nagasaki em 1945 mataram milhares de pessoas, mas não anularam o sonho dos japoneses em se consagrarem como uma das maiores potências econômicas do mundo. Com uma população de 123 milhões de habitantes, a pátria do povo milenar não se deixou abalar em meio aos escombros e sofrimento: continuaram lutando por dias de glória. Há quem diga que a terra do sol nascente é mais deslumbrante que qualquer outra ao redor do planeta. A fauna e a flora são de outro mundo: as cadeias montanhosas e as construções medievais contribuem com o espetáculo de cores e formas. Entretanto, os dias no Japão nem sempre foram floridos, e tampouco amanheceram exaltando a beleza natural como de costume.
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de evolução da própria sociedade, principalmente com a inovação tecnológica das últimas décadas. O mesmo país que foi capaz de se reerguer de uma guerra, hoje sedia a Olimpíada de 2020 e exporta a sua cultura mundialmente. Para o professor e Mestre em História, Elder Hosokawa, existe um motivo que os governos seguem para se candidatar ao sediamento dos Jogos, já que há a demonstração para o mundo do “potencial econômico e de segurança, decorrente do enriquecimento”. A formação de uma forte imagem geopolítica é o foco principal.
Irashaimase “Seja bem-vindo ao Japão”. O termo Irashaimase mostra como os japoneses são simples e humildes. O modo de se cumprimentarem é peculiar e diferente de outras culturas. Curva-se a cabeça em sinal de reverência com os demais. A saudação é utilizada para demonstrar respeito com o próximo. Para o professor de educação física e descendente japonês Jerônimo Nakawata, o termo
relembra momentos vividos com os pais. “É um cumprimento de boas vibrações, tínhamos o costume de falar ‘irashaimase’ em casa”, conta. Além das saudações, ao longo da história japonesa, os civis foram ensinados a manter as cidades limpas e organizadas desde a infância. Os hábitos são naturais, mesmo estando distante de lá. As pessoas aprendem desde cedo responsabilidades para se tornarem bons cidadãos e honrar a pátria. O comportamento do povo nipônico é organizado e asseado, em geral. Para eles, o cuidado com o ambiente de vivência é natural. Os moradores são ensinados a valorizar a educação, arte, música e a dança, já que expressam sua tradicionalidade. Segundo Jerônimo, o esporte no Japão ainda agrega aspectos educativos e econômicos. “Grandes empresas buscam nas equipes e nos eventos esportivos visibilidade para as marcas de multinacionais”, acentua. Atualmente, o Japão faz parte do centro de produção de novas tecnologias, as quais são exportadas internacionalmente. Para se ter uma ideia, hoje ele é o 19° país no ranking do índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que avalia o desenvolvimento de um país segundo os seus aspectos sociais e econômicos. Com a modernização de processos, não deixa de lado o seu valor. O país une tradição e inovação para alcançar resultados rápidos, como nas Olimpíadas.
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Os Jogos Olímpicos de todos os tempos A primeira edição dos Jogos Olímpicos sediada no Japão ocorreu em 1964. O evento era inédito na Ásia. O sonho de sediar a segunda TALÈ MAG • JUNHO 2021
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O design criado pelo arquiteto Kengo Kuma foi pensado no princípio japonês de cuidados com o meio ambiente. A estrutura externa possui um aspecto natural de madeira, que ele define como “árvore viva”, pois deve conversar com o Jardim do Templo Meiji que fica ao lado do estádio. Os assentos foram projetados para oferecerem visibilidade de qualquer canto. O Estádio Olímpico de Tóquio foi construído para ajudar na circulação de ar natural e amenizar a umidade e calor típicos do verão. Existem 185 ventiladores e um sistema de refrigeração desenvolvidos, especificamente, para trazer conforto aos atletas e proporcionar um desempenho maior, com direito a possíveis premiações.
Do Rio para Tóquio Além de muitas construções interessantes e uma rica cultura, as Olimpíadas representam o que há de melhor no esporte mundial. Por isso, o sonho de ser campeão olímpico nunca esteve tão desperto na cabeça de Ygor Coelho. O atleta iniciou desde cedo o caminho para se tornar um grande competidor. Ele começou a praticar badminton aos três anos de idade no projeto social criado pelo pai, na comunidade da Chacrinha, no Rio de Janeiro. Ygor treinou por muito tempo e quando fez dezessete anos, teve a oportunidade de sair do Brasil e ir à Europa, para aprimorar as técnicas da modalidade. De lá pra cá, já subiu ao pódio diversas TALÈ MAG • JUNHO 2021
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Olimpíada se tornou realidade em 2013. Embora esse desejo já tenha sido parcialmente realizado com a conclusão das obras no início, trouxe temor: em 1964, o Japão chegou a gastar 3,1% do PIB (cerca de $ 9 bilhões) com as Olimpíadas. E esse era o maior receio: um megaevento caro e deficitário. Para Ricardo Neves, sociólogo do esporte, a preocupação é válida. “A maioria das obras ficam sucateadas e em desuso porque a manutenção é muito cara”, explica. Ele ainda critica a dificuldade que o esporte tem para se concretizar como uma ferramenta de busca por igualdade. “O sentido primordial se perdeu e virou mercadoria de disputa política”, conclui. Dessa vez, na teoria tudo foi planejado detalhadamente. Porém, na prática, não foi bem assim. Antes mesmo de haver o sorteio da sede dos Jogos, os japoneses preparam-se economicamente prevendo os obstáculos do clima. O verão úmido durante o período do espetáculo esportivo já poderia custar alguns milhões de dólares a mais. O economista Haroldo Torres diz que “essas despesas são inteiramente suportadas pelo anfitrião”, para que os donos da casa “encham os olhos” do mundo. O resultado final foi surpreendente. O palco principal do show cultural é prova disso.
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vezes. “Conquistei a medalha de ouro em todas as subdivisões que participei do Pan-Americano, do sub-11 até o adulto, e também já venci os jogos Sul-Americanos”, relata. A representatividade é um dos seus maiores troféus. Ele foi o primeiro atleta brasileiro a representar o país em uma edição olímpica. Essa conquista, no entanto, foi fruto de um trabalho árduo e disciplinado. Tanto trabalho traz conquistas, mas elas estão acompanhadas de sacrifícios e desafios. A busca diária por resultados não favorece o indivíduo psicologicamente. Quanto maior for a dedicação, menos o competidor aceitará derrotas racionalmente. A psicóloga Bruna Bardella analisa que o costume de pressioná-los socialmente para se tornarem “esperança de medalha” gera barreiras. “Isso (cobrança por medalhas) é uma coisa que a gente não precisa potencializar no atleta. Ele já tem as questões dele, como a pressão da equipe e dos patrocinadores”, ressalta. Além disso, ao vermos o caso de sucesso de Ygor, é “fácil” desenvolver a ideia de que a prática esportiva favorece a diminuição nos índices de desigualdade. Segundo Gilvan Balbino, cientista social, a questão não é tão simples. “Essa afirmativa é bem utópica, visto que algumas modalidades, quando não têm investimento social do governo, são praticadas por determinadas classes sociais”, argumenta. As imperfeições já existentes apenas apontam que a competição ainda está distante do ideal.
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Um sonho quase perfeito Apesar da organização empregada nos Jogos Olímpicos de Tóquio, imperfeição é a palavra da vez. Mesmo sendo acostumados a sofrer com guerras e catástrofes naturais, os japoneses não estavam preparados para uma pandemia. Apesar da competência que possuem para solucionar políticas públicas, com a queda de receita provocada pela covid-19, eles precisaram ser resilientes a fim de não enfrentar outra crise econômica. Infelizmente, o vírus mudou todos os planos sobre a programação esportiva que facilmente conquistaria turistas. Certamente, não faltariam apresentações que exibissem a cultura oriental durante os Jogos Olímpicos de Tóquio 2021. Para evitar a proliferação do vírus e o aumento do número de óbitos, o governo local adotou medidas restritivas, por exemplo, redução no horário de funcionamento de estabelecimentos comerciais, além do uso de máscaras e álcool em gel. Existe um impasse para a realização do evento. O Comitê Organizador quer manter os jogos para o período de 23 de julho a 8 de agosto, com o intuito de não perder os lucros. Os japoneses se sentem mais confortáveis em cancelar o megaevento, pois se vêem limitados em razão da proliferação da Covid-19. 100 dias antes do início dos Jogos, o país havia vacinado apenas 1% da população. Segundo pesquisa da Kyodo News, 80% dos cidadãos acham que as Olimpíadas e as Paralimpíadas deveriam ser canceladas ou remarcadas. Apesar de toda a pré-produção não ter dado certo no tempo projetado, o Japão é o tema principal desta edição, carregando essência e tradicionalidade em cada detalhe produzido. Tudo foi desenvolvido a fim de oferecer uma bagagem cultural para os turistas. Embora poucas pessoas possam comparecer presencialmente, o objetivo permanece sendo convencer o mundo de que as características orientais valem a pena ser vistas e contempladas. T 9
Das ruas para dentro de casa: o ciclismo na telinha Tecnologia une a prática esportiva à socialização virtual Ana Clara Silveira
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sensação de liberdade sobre duas rodas faz o coração acelerar. Como milhares de pessoas, Dani Genovesi é apaixonada pelo ciclismo e não abre mão dos treinos diários. Mesmo sendo casada, mãe de três filhos, professora e palestrante, a profissional de educação física tem uma rotina equilibrada e garante que administrar o tempo não é um problema. Em meio às belas paisagens de Idaho, nos Estados Unidos, ela encontra a tranquilidade que precisa para manter corpo e mente preparados para os desafios. No entanto, nem sempre a atleta esteve nessa modalidade. Dani praticava Jiu Jitsu boa parte do tempo, mas as aulas indoor ou spinning – uso da com bicicleta ergométrica para exercícios intensos – despertaram seu interesse. Seu estilo de vida disciplinado com treinamento e preparação trouxe resultados expressivos. Ela compete há mais de 10 anos e tem premiações internacionais, sendo por quatro vezes campeã mundial do ultraciclismo como representante brasileira. Mais que isso, Dani já fez um percurso maior do que a distância entre o norte e sul do Brasil. “A maior distância de bike foi na Race Across America, que foram 4.860 km pedalando dia e noite por 10 a 12 dias”. Ela completou o trajeto duas vezes, sendo que em 2009 levou 11 dias e em 2019 reduziu o tempo de prova para 10 dias.
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As conquistas impressionavam e tinham projeções de continuarem, mas com a pandemia e a necessidade do isolamento, a frustração com eventos desmarcados e cancelados foi inevitável. Além disso, as dificuldades para treinar fora se acentuaram. Dani confessa que seu treino sempre teve um objetivo bem definido. “Na minha cabeça, eu ainda treino para uma competição ou desafio, mas como os eventos esportivos cessaram, fiquei bastante perdida”, conta.
Novas possibilidades Foi nesse cenário que a ciclista retomou com mais frequência o uso do rolo de treino smart. O equipamento tecnológico que antes funcionava como alternativa para os treinos se tornou uma solução para manter a rotina e disciplina. A estrutura de metal faz com que a bicicleta fique apoiada em um suporte e, dessa forma, o pneu dianteiro permaneça sustentado no ar, sem atrito com o chão. Além disso, por meio de aplicativos e sensores, o ciclista consegue reproduzir dificuldades que teria em percursos reais. Apesar de reconhecer que não é igual a experiência de estar nas ruas, Dani assume que há outras vantagens para o exercício em casa. “Praticidade, otimização do tempo, segurança e controle de resultados”, resume. Além disso, a socialização não fica de lado. Com outros amigos, já fez vários simulados e longas corridas TALÈ MAG • JUNHO 2021
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compartilhando as aventuras, ainda que sem o vento das ruas no rosto.
Precisão do online
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Dani não é um caso único. Outras pessoas perceberam que era possível adaptar a prática esportiva intensa ao ambiente de casa e manter a socialização. Mais do que isso, a prática estruturada funciona melhor com rolos de treino. Quem explica o porquê é o treinador e nutricionista Renato Marinho. “Com sistemas controláveis, os rolos atuais sincronizam com os mais diversos dispositivos de treinos, trazendo assim maior precisão nos ajustes de carga para a execução perfeita dos treinos estruturados”, esclarece. Além desse aspecto, ele reforça que
não existem interferências externas como trânsito, chuva ou frio, e isso pode potencializar o desempenho em eventos e competições. Especialmente para o ciclismo que cresceu na pandemia – tendo em vista que academias e clubes permaneceram fechados por um período –, os rolos de treino com possibilidade de interação em softwares ganharam repercussão entre atletas e amantes das bikes, principalmente por se assemelhar a um videogame. Renato ainda aproveita as trilhas de Minas Gerais para seus treinos ao ar livre. Mas sabe que na telinha do seu celular encontra desafios que valem a pena. Embora não tenha usado a alternativa para competições, o treinador assegura que o esporte online é possível. “Faço o uso do
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começou já pelas montanhas da Suécia. “Mountainbike is fun”, declara. No inverno, seu uso do aplicativo é ainda mais intenso. A motivação de estar em grupo e ver seu progresso o leva a novas tentativas. O rolo de treino não passa despercebido nas fotos que ele compartilha nas redes sociais, aumentando a interação que ele pode ter com outras pessoas.
Compras a todo vapor
Aplicativos que aproximam Foi por meio das plataformas online que Renato percebeu a oportunidade de “participar de provas, eventos, passeios em grupos de amigos, seja no próprio país ou mesmo em trajetos famosos de grandes competições”. Tudo isso sem sair de casa. O aplicativo Swift possibilitou isso também para o sueco Johan Mölleborn. A combinação perfeita entre esportes e mundo virtual permite que os usuários da plataforma pratiquem exercícios, participem de comunidades em realidade aumentada e ainda avancem de fases. O avatar escolhido pelo ciclista participa de competições em todo o mundo com rotas alternativas, amigos interativos e outras possibilidades. Com a ajuda desse projeto, Johan percorreu longas distâncias, inclusive em grupo. Ele trabalha com vendas, mas não esconde sua paixão pelo esporte, online ou não. Sua prática 12
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equipamento para treinos indoor na impossibilidade de treinos outdoor, ou mesmo em alguns treinos específicos onde a execução fica mais controlada, minimizando erros”, reforça.
Além dos praticantes do ciclismo nas ruas, como Johan, grupos que não eram tão aficionados pelo esporte também manifestaram interesse pelo ciclismo em casa. A prova disso foi o crescimento exponencial de compras dos rolos de treino. A loja de esportes “Bike for Life”, de Indianópolis, São Paulo, é especializada em ciclismo e tem quase 35 mil seguidores no Instagram. A assessoria da marca conta que a compra de equipamentos para exercícios em casa deu um “boom gigantesco”. Como muitas pessoas tiveram receio de pedalar na rua, “os rolos de treino tiveram mais espaço para serem descobertos por quem nem se importava tanto com temas de esportes”. Mais do que isso, a loja instrui seus seguidores com dicas para cumprir as rotas com mais tranquilidade e incentiva a desconstruir tabus.
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No entanto, os sensores e acessórios para tornar a experiência mais próxima da realidade não são tão acessíveis financeiramente. A compra de um rolo de treino smart que permite inúmeras conexões não está abaixo de três dígitos e pesa no bolso. Para o bolso de muitos, o valor ultrapassa qualquer possibilidade de aquisição. Apesar disso, a empresa assegura o crescimento da demanda, principalmente para associação com o aplicativo Swift. A alta procura resultou na escassez de opções em muitas lojas, que inclusive já pode ser percebida pelos clientes em São Paulo e outros estados. Apesar da falta de opções, diversas pessoas mudaram o estilo de vida mesmo em meio a pandemia e muitos, inclusive, aproveitam para expor as conquistas.
Estilo de vida
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Carolline Guglielmi, também conhecida como Gugli, compartilha diariamente sua rotina e busca por um estilo de vida saudável. Desde criança, ela praticou muitos esportes influenciada por sua família. A alimentação equilibrada fazia parte da rotina, mas foi apenas depois de um intercâmbio – quando perdeu o controle de alguns hábitos – que decidiu melhorar sua qualidade de vida definitivamente. O spinning era uma modalidade que ela já tinha afinidade e com os estúdios fechados,
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o rolo de treino surgiu como uma oportunidade para que ela e o pai compartilhassem os benefícios dessa compra. A paulista conta que ia bastante na academia fazer musculação e tinha começado a ir no estúdio de funcional. “Treinava muito pouco em casa, mas mudei tudo. Agora comecei a aproveitar mais a mini academia que tenho em casa”, explica. Gugli trabalha com moda e aderiu ao home office. A nova realidade trouxe à tona os treinos online com novos modelos de interações em virtude do distanciamento social. “A gente quer se aproximar do jeito que dá”, confessa. Ela reforça que utiliza aplicativos como o “Just Run Club”, que simula uma academia com diversos treinos e percebe que se adaptou bem à rotina. Embora não tenha participado de competições de esporte online, Gugli não descarta a ideia. “Vi que tiveram algumas competições online, mas não sei se eu iria gostar tanto porque precisa de bastante foco, mas seria legal”, comenta entre risos. Assim como Gugli, outras pessoas no Brasil e no mundo têm buscado alternativas para aumentar as interações mantendo a segurança nos treinos em casa. Os aplicativos e a tecnologia dos equipamentos aproximaram a experiência em casa da realidade das ruas. A campeã de ultraciclismo pelo Brasil Dani Genovesi finaliza: “Praticar exercícios era tudo que tínhamos para nos manter fortes e saudáveis no físico, mental e emocional”. T 13
O ponto fraco da Mulher Maravilha O estereótipo da mulher na sociedade patriarcal encontra seu lugar até no segundo filme da heroína mais conhecida da cultura pop
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ulher Maravilha 1984 continua a história de Diana Prince nas telonas, que começou com o filme Mulher Maravilha (2017). O ano do título faz parte do período da Guerra Fria nos EUA. No longa, a Mulher-Maravilha enfrenta o empresário obstinado por poder, Maxwell Lord, e Bárbara Minerva, uma brilhante arqueóloga que (spoiler!) se torna a Cheetah, uma das principais inimigas de Diana. Além de ter que lidar com eles, Diana também desfruta dos desafios de reviver seu amor com Steve Trevor - par romântico presente no primeiro filme de sua saga.
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Gal Gadot, atriz israelense, é quem dá vida a princesa Amazona, filha da Rainha Hipólita, a líder de um povo constituído apenas por mulheres. Nesse cenário, a Mulher Maravilha foi criada por sua mãe na cidade escondida de Temiscira, onde aperfeiçoou seus superpoderes na busca por cumprir o seu propósito de vida: combater o caos gerado por guerras recorrentes no mundo. No entanto, para atuar em prol dessa missão, ela precisa deixar Temiscira. A partir daí, Diana passa a enfrentar a “sociedade comum” ganhando novas habilidades, como conciliar TALÈ MAG • JUNHO 2021
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Carmem Iorrana
CULTURA
sua vida de super-heroína com a rotina de trabalho como arqueóloga no museu Smithsonian. Entre os contratempos da narrativa, ela lida com uma colega de trabalho invejosa e com um empresário que, embora falido, esbanja arrogância. Enquanto isso, mostra amor por Steve Trevor. Ele, no entanto, se prova um “ponto fraco” para a heroína ao mesmo tempo que atua como uma de suas principais motivações.
A arte imita a vida A diretora da duologia de longas da Mulher Maravilha, Patty Jenkins, também teve seus próprios desafios até chegar a uma carreira sólida. Jenkins quebrou muros dentro da cultura patriarcal das telonas, e tem sua carreira marcada por ser a primeira mulher a estar à frente de um filme de super-heróis. Todavia, mesmo com o tamanho do sucesso que reverbera em um salário de cerca de nove milhões de dólares, ela não é tão reconhecida pela classe de críticos e fãs, como é o caso de Zack Snyder, um dos diretores mais populares da DC. Vale ressaltar que o trabalho de Jenkins junto aos produtores da DC Films e da Warner Bros. Pictures fez de Mulher Maravilha 1984 a maior bilheteria em estreias diante do cenário pandêmico.
Contradições Ao retornar os olhos para dentro da história, o filme mostra uma Diana vulnerável em muitos momentos devido a seu amor por Steve Trevor, que retorna do contexto da Primeira Guerra MunTALÈ MAG • JUNHO 2021
dial para 1984 graças a um pedido que a heroína faz a Pedra dos Sonhos, um artefato antigo que realiza desejos. A postura da heroína diante de Trevor a faz por muitas vezes perder o foco e não condiz com a personalidade da Mulher-Maravilha que é impressa nos quadrinhos e exibida nas telonas em 2017. Além disso, a anti-heroína Cheetah, ainda como Bárbara Minerva, mostra uma inveja por Diana. Esse sentimento é forjado de maneira rasa, afinal, elas tiveram encontros muito pequenos diante de toda a trama. A falta de explicações não para com Cheetah. O vilão Maxwell Lord tem um final inconclusivo, deixando uma sensação de história inacabada e com muitos pontos soltos. Com essa sucessão de fatos, muitos fãs e críticos desaprovaram o filme. A incrível Diana foi praticamente limitada à sua paixão por Trevor, e, quando combinada à relação da protagonista aos vilões do enredo, essa postura mostra o estereótipo da mulher forjada na sociedade patriarcal, ou seja: alguém que, apesar de suas habilidades, é altamente dependente, limitada e vulnerável ao seu parceiro - até mesmo em relações volúveis e com “prazo de validade”. Isso representa tudo que a Mulher Maravilha dos quadrinhos não é. Fica a expectativa de voltar às raízes da história de uma mulher poderosa e cheia de habilidades no próximo filme da heroína. Ele ainda não possui data de lançamento, mas já foi confirmado pelos produtores da saga. Que possamos ver uma Diana menos estereotipada. T 15
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À flor da pele O esporte, sobretudo no Brasil, foi e continua sendo uma ferramenta primordial na inclusão das minorias dentro da sociedade civil
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uando se fala em hormônios é comum se lembrar de adolescência, puberdade e a seguinte frase: “os hormônios estão se aflorando”. Além disso, as mudanças no corpo também são comuns. Entretanto, durante toda a vida, os hormônios impactarão nossas atividades - e, no caso de atletas, isso é ainda mais evidente. No esporte de alto rendimento, o controle das taxas hormonais é rígido. Testes antidoping, responsáveis por investigar quem está trapaceando para conseguir melhor performance física, são utilizados. Sendo assim, surgiu uma recente polêmica: é justo uma mulher transgênero competir entre as mulheres cisgênero (que se identificam com o sexo biológico)? Ainda na década de 1970, a tenista Renée Richards foi a primeira atleta transexual de relevância mundial, alcançando o 20° lugar no ranking mundial. Porém, se tratando de uma tenista bem-sucedida, mas não campeã, a polêmica é reduzida. Já em outras modalidades, nos esportes em que há a troca de contato físico, o jogo se inverte. No Brasil, temos o caso da atleta Tiffany Abreu, do vôlei. O que ocorreu na situação dela foram jogadoras rivais argumentando que a mesma teria muito mais força física, e, supostamente, “excessivamente masculina”. Entretanto, no caso dos transexuais, o tratamento hormonal é regrado, e além disso, bastante custoso, afastando atletas de menor poder aquisitivo. Se tratando das lutas, principalmente de artes marciais mistas (MMA), há recorrentes desistências de mulheres cisgênero que se recusam a
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enfrentar mulheres trans. Há também um problema sobre a divulgação do quão sério é o tratamento hormonal das atletas que alteram o seu sexo biológico. Portanto, havendo desinformação, o preconceito passa despercebido como uma simples verdade. Enquanto tais pilares de desigualdade permanecerem, as oportunidades de pessoas transexuais competirem em alto nível continuarão escassas. Para agravar a situação, parlamentares conservadores já se movimentaram para criar leis que fizessem que o indivíduo só possa competir profissionalmente na categoria do seu sexo biológico. O esporte, sobretudo no Brasil, foi e continua sendo uma ferramenta primordial na inclusão das minorias dentro da sociedade civil. Foi assim quando clubes foram rebeldes contra a lógica racista e inseriram negros nos seus times - como fizeram o Vasco, RJ, e a Ponte Preta, SP. Embora essas problemáticas não sejam equivalentes, são perpassadas pelo esporte, e ele é sobre paixão. Essa paixão é capaz de minimizar outros preconceitos. O Brasil permanece sendo um país que deixa sua população trans em situação vulnerável, tendo, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), apenas 6% destas pessoas exercendo um emprego formal. Esses dados refletem a falta de combate à transfobia no Brasil, sobretudo através de políticas públicas. Por mais que a sua opinião, caro leitor, venha a ser indefinida ou contrária, se você chegou até aqui, saiba que ao menos foi capaz de fornecer o que essas pessoas mais carecem há décadas: visibilidade. Que o esporte seja também uma janela de oportunidades. T TALÈ MAG • JUNHO 2021
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Leonardo José
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A relevância das lives no contexto pandêmico As transmissões trazem boa qualidade cultural, técnica, e, principalmente, esperança Carlos Daniel
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im, bons shows salvam vidas, e não só porque as pessoas ficam encafifadas em suas casas, impedindo a proliferação do coronavírus. O ponto principal é outro. É preciso destacar a renovação do prazer das pessoas que, mesmo em meio ao caos, possuem um pouco de fé. Acreditar tornou-se um ato de sobrevivência. Desde o início de abril de 2020 até agora, as lives de artistas precisam manter altos níveis econômicos e sociais. Durante a quarentena, o setor de entretenimento foi obrigado a se reinventar. Novos formatos de interação foram inseridos, a fim de manter o contato com o público. A área pouco subsidiada pelo governo teve a necessidade de buscar um modo inovador para manter o público, e reverter uma das maiores quedas de rendimento dos últimos tempos.
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As empresas do ramo cultural tiveram que unir bom conteúdo e a web para tentar minimizar o vazio dos palcos, das salas de cinema e dos lares onde houveram a perda de entes queridos - já que a falta de políticas públicas impediu a solução do problema . As plataformas de streaming foram o grande ponto de fuga de milhares de pessoas entediadas com a monotonia da pandemia. No início, em abril de 2020, um mês após a chegada do vírus ao Brasil, a internet foi bombardeada pelas lives. Uma das maiores foi a da sertaneja Marília Mendonça. Na época, a “rainha da sofrência” bateu o recorde de transmissão: foram 3,31 milhões de visualizações simultâneas no YouTube, arre foram arrecadadas mais de 200 toneladas de alimentos. Um ano após a novidade, as apresentações tiveram um alcance maior devido ao engajamento nas redes sociais. Parece simples, mas não é só ligar a câmera e se apresentar. Todos os aspectos são pensados detalhadamente com o objetivo de atingir o maior número de telespectadores possível. O horário, meio de veiculação, hashtag (#fiqueemcasa), patrocínio, ação social, e a acessibilidade transcendem o termo “espetáculo”. A arrecadação de recursos nesses tipos de eventos auxilia famílias afetadas pela pandemia e mostra que todos podem se unir em prol da vida e melhoria dos índices de desemprego, evitando mais demissões por falta de trabalho. Não há espaço para a má vontade. T 17
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Idolatrar figuras públicas não é algo novo, mas ganhou nova dimensão com as redes sociais Samuel Matheus e Hellen Piris
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ivemos em tempos de compartilhar histórias, e cada um tem uma narrativa de superação para contar. Há aqueles que batalharam muito para conquistar seus objetivos, e nem todos têm a sorte de relatar suas superações para um público massivo. Por meio de pessoas comuns que aproveitam uma oportunidade de mudar de vida, o brasileiro se identifica e torce pelo sucesso do outro como se fosse o seu. Nesse contexto, os ídolos são construídos em milhares de corações, e o ambiente em que esse fenômeno se desenvolve melhor é nas redes sociais.
O fenômeno Juliette na prática Cada dia surge uma nova figura a ser seguida nas plataformas sociais, e a mais popular do momento tem nome e sobrenome: Juliette Freire. A advogada e maquiadora de 31 anos foi a campeã da edição do Big Brother Brasil (BBB) 2021, o qual o Brasil parou para admirar nos últimos meses. Foi tanto o sucesso dela que recentemente tornou- se a participante do reality show com mais seguidores no Instagram, chegando a quase 30 milhões. “Meu sonho era nascer essa mulher fina, educada, mas eu nasci tagarela”, afirmou a parai-
INÍCIO BBB 21 25/01/2021
3,8 mil seguidores
22,4 milhões seguidores De acordo com a Snack Intelligence houve um crescimento de mais de 585%.
Perfil com maior engajamento do país. Em nove semanas virou uma das pessoas mais seguidas entre o elenco do programa. Juliette fez história e passa a ter um dos perfis do Instagram com maior engajamento no Brasil e no mundo.
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Bateu marca histórica de seguidores no Instagram de todas as edições do BBB. Hyper Auditor fez um levantamento em março de 2021. Juliette ocupa 17˚ posição dos 1.000 maiores influenciadores do Instagram no Brasil.
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bana. A mais recente milionária conquistou o coração de milhões de internautas e telespectadores com a sua simpatia e personalidade. Agora com 1,5 milhão de reais no bolso e diversas oportunidades de trabalho, Juliette vive outra realidade. Ela veio de uma família simples; ensinou a mãe a escrever. Perdeu a irmã de 17 anos em decorrência de um AVC e aprendeu a profissão de maquiadora profissional enquanto estudava Direito. Sua história possui paralelos com as de outras brasileiras e brasileiros, mas não deixa de ser singular. Em entrevista ao El País Brasil, a doutoranda em Comunicação e pesquisadora de comportamento nas redes sociais, Yne Manuella, acredita que a maioria da população se identifica com um famoso, e identifica o impacto da vencedora dessa edição nas redes sociais. “Juliette sabe contar a própria história o tempo inteiro, nas mais diversas circunstâncias...e a história do vencedor é a história do brasileiro”. Talento e carisma caracterizam a nordestina, mas não foi só isso que garantiu o crescimen-
to dela nas diferentes mídias. Há uma equipe de gerência, e ela lida com todo esse engajamento no ambiente virtual. De acordo com relatório divulgado pela ferramenta de gerenciamento de redes sociais mLabs, a “sister” conquistou 17 milhões de interações. A cantora Anitta, uma das brasileiras mais seguidas em mídias sociais, até publicou em sua conta de Twitter: “Quem é que faz as redes sociais da Juliette, hein? Quero para mim”.
FINAL BBB 21 04/05/2021
02/06/2021
23,5 milhões seguidores
30 milhões seguidores
A equipe que cuida das redes sociais de Juliette é composta por 18 pessoas. Entre eles estão: redatores, designers, editores e produtores de conteúdo. O trabalho é setorizado. A maioria é composta por voluntários. Foto: redes sociais de Juliete
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Neymar, um caso de amor e ódio Se a televisão apresenta e dita seus ídolos, o esporte, especificamente o futebol, não fica atrás. Não é à toa que o Brasil é considerado o país dessa modalidade. Um estudo idealizado pela Confederação Nacional de Futebol e realizado pela consultoria EY indica que os futebolistas movimentam R$ 52,9 bilhões na economia nacional. A população ama assistir uma boa partida. Quem joga bem, vira ídolo. Um dos maiores nomes dos campos da última década, Neymar, ostenta o título de brasileiro mais seguido do Instagram, com 151 milhões de seguidores. Ele também é um ícone, assim como a Juliette, mas os casos são diferentes. “O menino Ney” começou a jogar com sete anos, e a sua ascensão e fama no esporte cresceram rapidamente. Contudo, os sentimentos relacionados a ele são polarizados. Existem dois lados: os fanáticos, os quais proporcionam mais visibilidade ao jogador, e os críticos, que o julgam sem piedade. Em grande parte, isso é relativo às decisões no mínimo controversas que o camisa 10 tomou em sua vida. Neymar já se revoltou em inúmeras ocasiões durante os jogos por estar inconformado com a decisão do árbitro. Ele já foi acusado de estupro, assédio e teve seu nome envolvido em casos de violência em espaços públicos. Ainda com esse histórico instável e problemático, a torcida que o acompanha dentro e fora dos estádios é fortemente fiel.
A luta pela visibilidade Poucos atletas são considerados ídolos como Neymar. Contudo, independentemente do estágio de fama em que o indivíduo esteja, lidar com a visibilidade pode ser um desafio. Ariosvaldo Fernandes da Silva é atleta de cadeira de rodas há 20 anos e tem 12 mil seguidores no Instagram. Agora com 44 anos de idade, ele relembra quando começou sua carreira no esporte aos 17. Mesmo 22
não se considerando uma pessoa “famosa”, admite que é inspiração para muitos, porque seus seguidores o respeitam e admiram. A sua visibilidade nas redes sociais começou após conquistar medalhas em campeonatos brasileiros e internacionais, como os Jogos Parapan-Americanos e o Mundial de Atletismo. Desde então, Ariosvaldo tornou-se referência no esporte paralímpico e decidiu deixar certas coisas bem definidas. “A minha vida social é dedicada à minha família. Já a profissional, divido com muita responsabilidade, dedicação e treino”. Para ele, o atleta deve perceber a necessidade de reconhecimento e divulgação de sua carreira. Isso garante não apenas a estabilidade como figura pública, mas também faz com que essas pessoas se tornem porta-vozes para outros grupos, como as minorias sociais. Mesmo que a jornada não seja fácil, Ariosvaldo reforça: “Eu luto todos os dias para ter visibilidade”.
Por que idolatramos? A dramaturga e atriz americana Mae West já dizia: “tudo está na mente. É onde tudo começa”. O processo de idolatrar uma figura pública inicia na mente das pessoas, mas esse não é o único fator que determina o fato de admirar e seguir outro indivíduo. O bacharel em Produção e política cultural Wilson Maciel já realizou pesquisas sobre o comportamento das massas e explica o fenômeno social por meio da propaganda em massa e a imposição invisível. “A pessoa é induzida a acreditar e aceitar aquilo que a massa está pensando”, pondera. Quando a pauta é acerca de uma única pessoa e existe uma repetição e frequência de imagens, propagandas e diálogos sobre ela, o indivíduo acaba participando da idolatria da figura pública quase imperceptivelmente. “Esse fator, somado ao ‘eu fraco’, que é participar da mesma atividade que a massa por medo de ser rejeitado, facilita que o indivíduo enxergue o outro como ídolo”, explana. TALÈ MAG • JUNHO 2021
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mento dele muda. “Ele precisa saber como falar e se comportar em público”, salienta. Os famosos passam pouco tempo em evidência real, e a maioria das atividades que praticam são planejadas intencionalmente para parecerem perfeitos. Entretanto, Ulda vê esse comportamento de modo a afetar inteiramente o admirador e traz consigo alguns conflitos internos. “O seguidor terá problemas com sua personalidade, pois a realidade que ele deseja não é sua”, expõe.
O lado bom de idolatrar Ariosvaldo Fernandes da Silva em uma das suas práticas diárias.
Todo esse processo tem como finalidade um único objetivo: o consumo. Lucas Fridman, sociólogo e pedagogo, traz outro ponto interessante em relação aos ídolos e como eles são vistos pela população. Ele certifica que, nesse caso, se aplica o conceito de projeção, ou seja, olhar para uma pessoa e ver características dela que nós gostaríamos de ter, defendendo-nos da realidade. “As pessoas acabam projetando nessas figuras um desejo pessoal”, aponta.
Foto: Acervo pessoal
Cada um com a sua vida... ou não O ser humano é atraído psicologicamente pelos ícones da fama e o motivo dessa atração é a curiosidade em descobrir o verdadeiro comportamento desses indivíduos. Normalmente, o fã faz comparações entre os comportamentos dos seus “heróis” e as ações dele para tentar identificar-se. O homem precisa de um “salvador” - vencedor de reality show, jogador de futebol… você dá o nome! Quando esses “heróis” estão no topo da carreira profissional, acabam tornando-se alvos da atenção de milhares de telespectadores. De acordo com a psicóloga Ulda Guimarais, quando um ídolo está em evidência, o comportaTALÈ MAG • JUNHO 2021
Há quem observe o fenômeno dos ídolos populares como bom, enquanto outras pessoas não concordam. Independentemente da resposta ou das conclusões, permitir-se admirar a vida de uma pessoa e tudo o que ela faz tem um lado positivo. Fridman reforça que o papel dos famosos é importante para as pessoas não perderem o seu lado imaginário. Muitos de fato não conseguiram alcançar vida de destaque, porém, as produções de consumo cultural feitas pela indústria de massa trazem um estímulo aos consumidores. “O indivíduo pode olhar para o ídolo e acreditar que também é capaz”, e mesmo que isso nunca se concretize, o consumo de ídolos “traz um momento de entretenimento e diversão, e permite viver uma felicidade através das telas que talvez não viveria na sua própria realidade”, reflete. Ídolos podem servir de inspiração e exemplo de superação. No entanto, é preciso manter o equilíbrio no momento de admirá-los e segui-los. Por outro lado, histórias como a da Juliette demonstram que qualquer um, nas circunstâncias corretas, pode se tornar uma figura de influência. Para manter essa imagem pública, é importante ter uma equipe capacitada e oferecer um conteúdo relevante; porém, o essencial é que o ídolo seja uma influência positiva para aqueles que o veem. T 23
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INFOGRÁFICO
Esportes Racismo Leonardo José Ilustrações: Felipe Carmo
2021 marca os 100 anos em que o então presidente Epitácio Pessoa proibiu jogadores negros de atuarem pela seleção brasileira de futebol. Casos de injúria racial no futebol aumentaram 235% entre 2014 e 2019 Futebol concentra 90% dos casos de racismo no esporte brasileiro Relatório mostra aumento de 52% nos casos de racismo no futebol brasileiro, mas só 10% são punidos Um em cada cinco jogadores de futebol brasileiros na elite europeia sofreu racismo em rede social
Lebron James é o jogador em atividade de maior sucesso no basquetebol. Vencedor de quatro títulos da NBA, o astro faz questão de se opor ao racismo. Nos últimos casos de violência policial contra negros comprovadamente inocentes, como no de George Floyd (2020), fez declarações e manifestações em apoio às vítimas e contra o sistema de injustiça racial norte-americano.
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INFOGRÁFICO
O atleta norte-americano Jesse Owens, destaque do atletismo nas Olimpíadas de 1936, em Berlim, constrangeu Adolf Hitler durante o auge do nazismo. A intenção da Alemanha em realizar os jogos foi a de provar ao seu povo que a suposta raça ariana era superior perante as demais. Sendo assim, as quatro medalhas de ouro conquistadas por Owens inerentemente derrubou a ideologia nazista, perante Hitler e sua comissão em um Estádio Olímpico lotado. Colin Kaepernick (esquerda) era um respeitado atleta da franquia San Francisco 49ers, de futebol americano. Durante os debates raciais proporcionados pelas eleições presidenciais de 2016, Colin decidiu se ajoelhar no hino dos Estados Unidos, mostrando insatisfação sobre a violência policial e a desigualdade social contra o povo negro. Após esses episódios, o atleta bem sucedido esportivamente, não teve mais lugar na competição. Eleito, Donald Trump recomendou publicamente que ninguém mais contratasse Kaepernick, agora desempregado há cinco anos.
Em 1968, ano do fim da luta pelos Direitos Civis dos negros norteamericanos, os atletas Tommie Smith e John Carlos, ao conquistarem medalhas no atletismo nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, fizeram a saudação em referência aos Panteras Negras, grupo político então considerado terrorista. A atitude é considerada um marco de coragem, por se considerar até então crime. Os atletas sofreram represálias do Governo Americano.
Fontes: https://bit.ly/35nXlbD • https://bit.ly/3gr4lcE • https://glo.bo/3wqZcrU • https://bit.ly/3wqZnU6
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PERFIL PERFIL
Um salto para a vida O esporte não proporcionou apenas títulos e medalhas, mas trouxe liberdade, autonomia e paixão pela vida Djuliane Rodrigues
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Foto: Acervo pessoal
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á muitas maneiras de escrever uma história, mas nenhuma pode existir sem personagens. Também são inúmeras as formas de apresentá-las e caracterizá-las, mas a atleta que você irá conhecer aqui é diferente de todas as outras. Natural de Itapetininga, interior de São Paulo, Jessica Giacomelli nasceu com mielomeningoceTALÈ MAG • JUNHO 2021
le, uma má formação na coluna que também afeta alguns membros do corpo. Isso a impediu de obter o movimento das pernas. Em 2011, aos 12 anos de idade, sua vida mudou. Ela teve o primeiro contato com o esporte por meio de sua professora de educação física - Eunice. Naquele ano, ela estava prestes a se aposentar, mas, ao notar o talento de Jessica, e tendo a certeza de que seu plano era ser uma atleta profissional, decidiu treiná-la voluntariamente. Assim, surgia uma estrela do atletismo paralímpico nacional. Com o tempo, Eunice virou “Nice” e treinadora oficial de Jessica. O contato entre as duas é tão forte que a atleta vê a ex-professora como uma segunda mãe; aquela que a ajuda a bater recordes no universo esportivo. São 10 anos de muito treino e dedicação. Graças a essa disciplina, a jovem atualmente possui os recordes brasileiros femininos de 100, 200 e 400 metros. Além disso, ela já representou o Brasil em 2 Grand Prix, tendo 147 medalhas desde o início da carreira até agora. Agora, a meta das duas é conseguir uma vaga nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2021. Nem sempre as coisas foram fáceis para a competidora paralímpica. Ainda na adolescência, ser atleta era uma possibilidade que estava fora de cogitação, haja vista que Jessica era uma garota muito tímida. Até brincar com outras crianças era algo difícil. Praticar esportes durante a juventude foi algo que ajudou seu desenvolvimento social. “Era uma criança que não gostava nem de brincar na escola, pois tinha muita vergonha”, relembra. Outra dificuldade pessoal foram os equipamentos utilizados para que ela praticasse atletismo. Por te27
PERFIL
rem valores altos, ela não tinha condição de comprá-los no início da carreira. Sem eles, era muito difícil conseguir bons resultados.
Destaque do atletismo Hoje, com a cadeira ideal para praticar o esporte, a itapetiningana é uma das melhores atletas paraolímpicas do Brasil em sua modalidade. Nesse mês, ela está em busca de uma vaga na Paralimpíada de Tóquio. Isso pode ser conseguido durante as seletivas de atletismo no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo. O prazo entre esse evento e os Jogos Paralímpicos é curto, afinal, eles começam em 24 de agosto e terminam em 5 de setembro desse ano. Antes de conquistar medalhas, foi preciso muito treino. Nenhum atleta chega ao pódio sem manter uma rotina de treinos rígida. A semana funciona à base de planejamento. Às vezes, o único dia livre é o domingo. Jessica, por exemplo, treina de segunda a sábado. Por fazer isso há muitos anos, ela já decorou as atividades de cada dia. Nas segundas e quartas-feiras, os treinos são reforçados: academia e corrida, para que ela possa fortalecer o corpo e desenvolver resistência. Terça e quinta-feira são dias separados somente para corrida. Na sexta-feira, a atleta repete os exercícios praticados na segunda e sexta-feira, e, no sábado, para variar, pratica o fortalecimento com elástico a fim de fortalecer as articulações. Isso contribui para evitar lesões, além de melhorar o poder de alongamento do corpo. Como ninguém é de ferro, é preciso um dia para descansar e dedicar-se aos momentos de lazer social. Por isso, aos domingos, a desportista se dedica ao convívio com sua família. Mesmo sendo muito jovem, ela reconhece o valor de momentos como esse. Quando se aproximam as competições, é natural que o atleta precise de apoio psicológico 28
para não se desestabilizar. Mas ela previne-se contra isso ao buscar apoio profissional. Como boa atleta, ela cuida de sua saúde integral - e a mente não foge dessa lógica. Além disso, Jessica precisou de redirecionamento profissional para cuidar do âmbito físico. Hoje, ela come de tudo. Não há algo que se ponha na mesa que a faça contorcer a cara. Sua alimentação é bem regrada, pois precisa se alimentar em horários certos para que não tenha problemas de digestão. “O segredo está apenas em comer na quantidade certa”, diz a esportista. Dentro da sua cidade, Jessica é uma referência esportiva. Como mulher em um ambiente predominantemente masculino, ela recebeu a medalha de mérito Júlio Prestes de Albuquerque, concedida àqueles que se destacam na comunidade. Como ela é a mais nova na categoria de ciclismo (T54), a garota de 22 anos sempre viu a inclusão feminina esportiva como uma “missão”. Ela sonha em inspirar e trazer novas meninas para o esporte paralímpico do país e que, futuramente, todas sintam o que ela sente hoje. O esporte não só proporcionou títulos e medalhas, mas trouxe liberdade, autonomia e paixão pela vida. Foi a partir dessa experiência e do descobrimento em saber o que almeja ser no futuro que ela passou a enxergar a deficiência física com outros olhos. Já não lidava com a sua debilidade como um impedimento, mas algo a ser superado. Jessica ainda não foi classificada para os Jogos Paralímpicos de Tóquio 2021 – pois só terá esse resultado no final de junho –, mas ela segue treinando, dando o seu melhor. Enquanto esse dia não chega, ela segue com muito trabalho de disciplina e exercício físico, tendo a certeza de que sua treinadora Nice irá prepará-la para a competição dos sonhos. T TALÈ MAG • JUNHO 2021
TECNOLOGIA
NFTs: o novo mercado digital Arquivos únicos e supostamente originais são os queridinhos do mercado, mas escondem uma realidade exploratória Adalie Pritchard
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udo está à venda, até os recursos naturais e itens essenciais à vida. Veja a ironia: o oxigênio é comercializado de alguma maneira a quem precisa, principalmente durante a pandemia de covid-19. Achou que talvez os memes seriam a exceção? Está errado. Um exemplo de destaque foi a venda da fotografia original do meme “disaster girl”, em forma de NFT. A transação foi de $500.000. Os NFTs, sigla em inglês para “tokens não fungíveis”, são arquivos únicos e originais que não podem ser replicados. Caso contrário, perdem o seu título refinado de NFT. É como um selo que rastreia a originalidade de um arquivo. Desse modo, você consegue até comprar um terreno de Minecraft se quisesse. As possibilidades são praticamente infinitas. Os NFTs utilizam a tecnologia de blockchain, aplicada também às criptomoedas, para poder rastreá-los. Desse modo, artistas conseguem ter lucros com suas obras digitais. Há alguns problemas com essa tecnologia. Não há maneira de confirmar que o vendedor do NFT é, de fato, o dono da arte. Seja qual for a tecnologia, é possível utilizá-la para enganar. Outra forma seria a negociação de lavagem de dinheiro. É comum que as pessoas aumentem artificialmente o preço de um NFT, abrindo várias contas e negociando entre eles mesmos. É difícil para um colecionador novato identificar tais fraudes. Assim como um link de web inativo, um NFT pode simplesmente desaparecer se não for salvo pelo usuário que o comprou. Como já mencionei, qualquer pessoa pode visualizar um NFT. Ele é lite-
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ralmente apenas um item digital. Ser dono de um não transmite exclusividade, apenas uma certificação. Então, o que faz aquela transação valer a pena? Podemos argumentar que acontece a mesma coisa com as pinturas. Existem múltiplas versões da Monalisa, mas há apenas uma original. A tecnologia em questão pode ser uma forma de oferecer uma recompensa digna aos artistas que geralmente são pouco compensados pelos seus esforços. Tomando o risco de julgar a tecnologia antes do tempo por não entendê-la em sua totalidade, vejo que transações de NFTs são desnecessárias na maioria dos casos. Cientistas advertem que a tecnologia blockchain utiliza muita energia, causando um excesso de emissões. Os NFTs são amplamente comprados e vendidos em mercados como o Nifty Gateway e o SuperRare, que usam a criptomoeda Ethereum. A moeda, como a maioria das principais criptomoedas, é construída em um sistema chamado “prova de trabalho”, que consome muita energia. Há uma taxa associada à realização de uma transação no Ethereum - e, ironicamente, essa taxa é chamada de “gás”. Então, está tudo bem gastar seu dinheiro em memes? O que você ganha? Ou melhor, qual é o custo, além de bilhões de dólares? Antes de entender como funcionam os NFTs, parece ser uma tecnologia muito avançada e superficial. Embora você acredite ser inofensivo gastar seu dinheiro em memes, isso pode revelar uma realidade obscura. Enquanto alguns se divertem jogando dinheiro em troca de uma senha que comprova sua riqueza, outros não tem como pagar um tanque de oxigênio. T TALÈ MAG • JUNHO 2021
TECNOLOGIA
A revolução tecnológica alcançou novos patamares. Agora, não basta ver; é preciso estar imerso Patrícia de Paiva
Foto: Shutterstock
A
onda do metaverso está ganhando espaço em esferas tridimensionais. Dentro do universo de entretenimento dos jogos online, por exemplo, realizados no game Animal Crossing, foram criadas cerimônias de graduação, casamentos e até funerais. No primeiro momento, essa tecnologia parece estar próxima apenas dos aficionados em games ou tecnologias. Porém, a tecnologia tridimensional está mais perto da nossa realidade do que imaginamos. Para o produtor de conteúdo imersivo na GoVision, empresa especialista em realidade aumentada, Thiago Toshio, “as perspectivas das tecnologias para o futuro realmente extrapolam a nossa experiência, hoje baseada nas telas”. Para ele, o que se tem visto é uma nova tecnologia que a partir de uma integração com o próTALÈ MAG • JUNHO 2021
Com origem na obra de ficção-científica
Snow Crash, de Neal Stephenson, um metaverso é comumente tratado como sinônimo de um ambiente virtual que os usuários acessam por meio da internet e interagem segundo uma figura representativa virtual, chamada de avatar.
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TECNOLOGIA
A tecnologia a favor da cultura No Brasil, a distribuição desigual do patrimônio artístico é um dos grandes impasses para o acesso aos meios de cultura. Junto a isso, a má distribuição de renda no país faz com que muitos trabalhem pela subsistência e o que se conhece de cultura é apenas o que está acessível ao seu espaço de habitação. Vista por alguns com maus olhos, a tecnologia traz também contribuições que antes jamais poderiam ser acessadas. Visitas a grandes museus em diferentes partes do mundo se torna uma possibilidade. Através da realidade virtual, é possível conhecer galerias e obras de artes onde você estiver. A doutora Eleanor Sandry, pesquisadora do Centro de Cultura e Tecnologia na Curtin University na Austrália Ocidental, acredita que a tecnologia é um fator importante na democratização cultural. “Podemos falar sobre o potencial para uma nova democracia cultural promovida por novas tecnologias, mas a realidade para alcançar essa democracia é mais complexa do que simplesmente o desenvolvimento e implementação de novas formas tecnológicas de 32
TV, arte e a realidade aumentada A tecnologia do holograma tem trazido de volta aos palcos grandes nomes da música mundial, com direito a grandes públicos e bandas tocando ao vivo. Cantores que já morreram ganham “vida” através da realidade aumentada. O real e o virtual se misturam com maestria que assusta e encanta. Embora possa ser assustadora para os mais velhos, as gerações atuais estão acostumadas com tal tecnologia. A geração que já está imersa no mundo virtual - seja no uso de filtros nas redes sociais ou até na compra de novos produtos em sites especializados - se acostuma inclusive a ver a arte com outros olhos. Durante uma passagem pelo Brasil em 2019, a mexicana Natalie Cuervo, residente na cidade do México, soube da exposição “Metaverso”. A consultora de Tecnologia da Informação, apaixonada por arte e cultura, resolveu visitar a exposição que aconteceu no Farol Santander em São Paulo, SP. A mostra utili-
Foto: Unsplash
prio 5G, coloca todas as tecnologias trabalhando numa única plataforma, com uma internet mais rápida e mais dinâmica. “A gente tem realmente a expansão da tela para um universo físico, através da realidade aumentada, realidade virtual, que nós temos trazido como a realidade expandida ou realidade mista. Tudo isso converge para uma nova plataforma que seria o metaverso, um universo virtual, onde tudo estaria acontecendo lá dentro em tempo real”, explica Toshio.
acesso virtual a museus, galerias e suas respectivas coleções”, enfatiza. A pesquisadora defende que a tecnologia sozinha não faz a diferença: é necessário existir formas de torná-la conhecida por meio da divulgação e da educação. “Não se trata apenas de acesso, mas de comunicar os próprios objetos culturais de maneiras que sejam acessíveis e estimulem o interesse e o desejo das pessoas de saber mais”, ressalta Sandry.
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TECNOLOGIA
zou lasers, projeções e leds, apresentou a tecnologia como manifestação artística e revelou que arte vai além daquilo que podemos tocar. “Foi interessante ver como a luz, o espaço e as cores criam sensações diferentes em nós. Para mim, a arte é a expressão de algo, e os artistas dessa exposição conseguiram transmitir suas emoções e suas ideias através de tudo que foi apresentado ali. Além de tudo, achei muito divertido”, confessa a visitante.
Os jogos em realidade aumentada Lançado em 2016, o jogo Pokémon Go fez sucesso no mundo inteiro. Dois anos mais tarde, ele chegava ao Brasil provocando uma verdadeira euforia, especialmente entre os adolescentes. Utilizando o GPS, o game de realidade aumentada permitia ao jogador capturar, batalhar e treinar criaturas virtuais. Os Pokémons eram projetados na tela dos celulares e misturavam o ambiente real com as imagens virtuais. Jogador desde criança, Lucas Maia, estudante de Farmácia, lembra da emoção que sentiu quando capturou seus primeiros monstrinhos. “Eu me juntava com os amigos e ia pra rua caçar Pokémons. Tinha dias que eu andava muito. Apesar do jogo ser muito nostálgico pra mim, o que mais me chamava a atenção era o sistema com câmera de realidade aumentada, que era algo bem inovador na época”, admite o estudante. Renan Santos é formado em análise de Desenvolvimento de Sistemas e é empresário na área de tecnologia de negócios em Curitiba. A paixão por tecnologia não se resume ao trabalho. Nos tempos livres, seu hobby é jogar Elite Dangerous, um jogo que TALÈ MAG • JUNHO 2021
utiliza realidade virtual e simula um voo espacial. “O que me atrai nesse jogo é a imersão. Eu coloco os óculos e navego entre as galáxias. Me desligo da realidade. Inclusive o jogo tem uma dimensão real de uma viagem de uma galáxia a outra”, explica.
O futuro do universo metaverso Dizem que o futuro é uma caixinha de surpresas, mas, para programadores e especialistas na área de tecnologia, as possibilidades serão as melhores possíveis para facilitar a vida de quem estará lá. É o que acredita o engenheiro de dados Allan de Souza. “Aposto muito na progressão da capacidade computacional para termos melhores tecnologias em um futuro breve. Assim, seremos capazes de consumir cada vez mais tecnologia em nosso dia a dia, facilitando nossas vidas”, observa. O diretor de tecnologia da empresa Couch Tec, Robson Leite, formado em ciência da computação e engenharia mecatrônica, acredita que a redução do custo do hardware propicia o consumo de tecnologias para um maior número de pessoas. “Hoje, nós usamos no nosso bolso uma máquina extremamente importante em capacidade computacional que servidores de dez a quinze anos atrás não tinham essa capacidade”, ressalta. Para os próximos anos, sua visão é positiva: “Eu acredito que o avanço e o crescimento do universo metaverso seja provocado justamente pela popularização da tecnologia e principalmente o acesso a internet”. A tecnologia que adere a nossa realidade já não faz mais parte apenas de filmes ou livros de ficção. Ela é uma realidade cada vez mais presente e necessária. T 33
ESPORTES
História das mulheres no esporte
Adalie Pritchard Ilustrações: Felipe Carmo
ANTIGUIDADE No seu começo, as Olimpíadas eram coisa de homens. De acordo com o Comitê Olímpico Internacional (COI), "as mulheres casadas não tinham permissão para participar ou assistir aos antigos Jogos Olímpicos”. Apenas mulheres solteiras e a sacerdotisa da deusa da fertilidade, Deméter, assistiam à competição.
1900
A primeira olimpíada na qual uma mulher participou oficialmente, realizada em Paris.
1932
SÉCULO 20 Sabia que, até 1983, era ilegal que mulheres jogassem futebol no Brasil? O Decreto-lei 3.199, de 14 de abril de 1941, dizia: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”. É fácil esquecer que a luta pela igualdade de gênero é recente. No mundo dos esportes, mais ainda. É inegável que as equipes de futebol masculino, por exemplo, são muito mais assistidas do que as das mulheres. O caminho para a igualdade é longo. Ainda assim, já progredimos em alguns aspectos e devemos celebrar cada marco histórico.
Atleta da natação Maria Lenk é a primeira mulher a representar o Brasil em uma olimpíada.
Gertrude Ederle, referida pela imprensa como a "Rainha das Ondas", foi a primeira mulher a nadar o Canal da Mancha em 1932. Ederle levou 14h31 para nadar os 34 km. Antes de Gertrudes, dizia-se ser impossível uma mulher cruzar.
Fontes: https://bit.ly/35l2xwU https://bit.ly/35iz8TQ
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INFOGRÁFICO
1967 Katherine Switzer, registrada como “K.V. Switzer nº 261” para ocultar seu gênero, foi a primeira mulher a completar a maratona de Boston em 1967. Oficiais da maratona tentaram tirá-la da corrida pois sua
1983
participação estava contra a lei. Ela terminou a maratona uma segunda vez, meio século depois da
Foi abolido o decreto-
tentativa inicial, depois, com 70 anos de idade.
lei 3.199 que proibia as mulheres no Brasil
1960
de jogarem futebol ou qualquer outro
Wilma Glodean Rudolph
esporte que fosse
não conseguiu andar
contra a “natureza”
normalmente até os 12 anos
feminina
por contrair pólio na infância. Sua mãe a levava a um hospital para negros a 80 km de casa duas vezes por semana. Mesmo assim, ela se tornou a mulher mais rápida do mundo em sua época. Ganhou três medalhas de ouro como velocista nos Jogos Olímpicos de Roma em 1960.
1984 Até então consideradas muito frágeis para correr 42 km, as mulheres podem correr a maratona olímpica pela primeira vez.
1938
1991
“Babe” Didrikson Zaharias
Primeira Copa do
classificou em cinco eventos
Mundo de Futebol Feminino.
para as Olimpíadas de 1932 em Los Angeles, durante uma época em que as atletas femininas eram consideradas “anormais”. Foi a primeira mulher a jogar no campeonato de golf da Professional Golfers Association (PGA) em 1938. Babe era considerada talentosa em todos os esportes.
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2012 Nas Olimpíadas de Londres, pela primeira vez, todos os países competindo incluem atletas do sexo feminino em sua delegação.
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INFOGRÁFICO
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