A ERA DOS NOVOS HORIZONTES
JUSTO L. GONZALEZ
E até aos confins da terra: Uma história ilustrada do cristianismo
A ERA DOS NOVOS HORIZONTES
© 1987 de Justo L. González Título do original: Y hasta lo último de la tierra: Una Historia Ilustrada deI Cristianismo Tomo 9 - La Era de los Nuevos Horizontes 1~ edição: 1988 Reimpressões: 1991, 2000 Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados por SOCIEDADE RELIGIOSA EDiÇÕES VIDA NOVA,
Caixa Postal 21486, São Paulo-SP 04602-970 Proibida a reprodução por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos, gravação, estocagem em banco de dados, etc.), a não ser em citações breves, com indicação de fonte. Capa: Mural da catedral de Port-au-Prince, pintado por Wilson Bigaud Printed in Brazilllmpresso
no Brasil
no Haiti,
Dedicatรณria A Catherine, que comigo vai, saudando novos horizontes.
,
Conteudo Lista
de ilustrações
9
Cronologia
11
I. Horizontes
políticos:
Os Estados
A independência A imigração
das Treze
O Segundo
Grande
O "Destino
Manifesto"
políticos:
17 18 23
Avivamento
27
e a guerra
A questão da escravatura Da Guerra Civil à Guerra Novas religiões II. Horizontes
Unidos Colónias
com o México
e a Guerra Mundial
Civil
Europa
Horizontes políticos: As novas nações A igreja
e as novas
57 65
América
Latina
nações
A obra
de Schleiermacher de Hegel
V. Horizontes
100
e a história
intelectuais:
O papado
90 90 95 98
de Kierkegaard
O cristianismo
77 77 85
IV. Horizontes intelectuais: A teologia protestante As novas correntes do pensamento A teologia O sistema
37 43 51 57
A Revolução Francesa A nova Europa III.
31
103
A teologia
e a Revolução
católica
Francesa
106 106
Pio IX Leão XIII
108 113
Pio
116
X
VI. Horizontes
geográficos:
O século
do colonialismo
117
8 - A Era dos Novos Horizontes
VII.
Horizontes
geográficos:
índia O Sudeste
128 129 140 144 150 155
Ásia
da índia
China Japão Coréia VIII.
Horizontes
geog ráficos:
158 159 161 162 164
Oceania
Filipinas Indonésia Austrália As Ilhas
e Nova
Zelândia
do Pacífico
IX. Horizontes geográficos: África e o mundo muçulmano O mundo muçulmano
172 172
175
África X. Horizontes
XI.
geográficos:
América
Latina
186
A imigração
187
As missões Os cismas
202
Horizontes
ecumênicos
190
205
Lista de Ilustrações 1.
A comunidade de Efrata Avivamento ao ar livre
26
2. 3.
Escravo
torturado
4.
Escravo
fugitivo
38 39 40
5.
Escravos
6. 7. 8. 9.
Igreja Mãe da Ciência Luiz XVI A tomada da Bastilha
10. 11 .
John Henry Newman Fundação das escolas Crianças trabalhando
12. 13. 14. 15.
Otto
cruzando
von
30
a fronteira
entre
dois
estados
Cristã
55
58 60 69 73
Bismarck
Escravos libertados José Bonaparte
dominicais
74
75
por navio
de guerra
britânico
76 79 82
Museu do Ipiranga Dom Pedro II Charles Darwin Schleiermacher Pio IX
83 92 95 109
Ordenação de missionários Igreja em ruínas no Ceilão Aula bíblica no Ceilão Batismo na índia
125 130 131 133
24. 25.
Sati
136 139
26.
Judson
ao terminar
27.
J udson
é preso
16. 17.
18. 19. 20. 21.
22. 23.
Ramabai
e sua filha de traduzir
a Bíblia
142 143
28.
Capela
29.
Missionários
30. 31.
Igreja em ruínas, na China Congregação chinesa
150 151
32.
Catedral católica de Nagasáqui O bispo Nicolai Casa Metodista de Publicações,
152
33. 34. 35. 36.
do Bom Pastor,
Trabalho Tradutores
na Birmânia
na China
médico
148
no Japão
da Bíblia
144
na Coréia
152 em Tóquio
153 154 155
10 - A Era dos Novos Horizontes
37.
Órfãos
na Coréia
156
38. 39.
Culto nas Filipinas Capela católica em G uam
160 165
40.
Cristãos
166 167
de Samoa
41. Oficina em Fiji 42,43. Igreja na Melanésia 44.
Ato
45. 46. 47.
Mapa:
48.
da posse África
Cena de uma Robert Moffat
168 - 169
americana
170
no Havaí
176
em 1914 aldeia
sul-africana
179 181
49.
David Livingstone Pastor zulu com sua família
182 183
50. 51.
Martírios em Madagascar All e n Gardiner
185
52. 53. 54.
O bispo Stirling com missionários Igreja no Chaco Escola dominical no Brasil Médico em Porto Rico
55. 56. 57.
Colportor bíblico Missionários no Brasil
58. 59. 60. 61.
Colportora no Chile Antigo Hospital Presbiteriano, Culto ao ar livre Publicações protestantes
62.
191 e convertidos
Igreja
Metodista
Episcopal,
195 196 197 198 em Porto
Conferência
64.
Congresso
Rico
199 200 201 202
em Concepción, 203
no Chile 63.
193 194
de Edimburgo, do Panamá
1910
209 211
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16 - A Era dos Novos Horizontes
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I Horizontes Políticos: Os Estados Unidos Aqui termina o século XVIII. O século XIX começa com uma bela brisa matutina do sudoeste; e o horizonte polftico também aparece promissor sob a administração de Jefferson ... com o avanço irresistfvel dos direitos humanos, a erradicação da hierarquia, da opressão, da superstição e da tirania sobre o mundo ... Diário de Nathaniel Ames, 31 de dezembro de 1800.
Os últimos trouxeram
diram a Europa essas mudanças idéias
anos
consigo
políticas
do século
uma
série
XVIII
e os primeiros
de mudanças
políticas
do XIX que sacu-
e o Hemisfério Ocidental. Em termos gerais, foram o resultado da convergência das novas a que
nos
referimos
no volume
anterior,
com
os interesses da pujante burguesia. Durante a segunda metade do século XVIII, tanto na França, quanto em todo o Hemisfério Ocidental, econômíco. seguido
maior
comércio queza
uma nova classe havia feito crescer o seu poder Na França, tratava-se da burguesia, que havia connotoriedade
e da indústria.
devia-se
com
o crescimento
No Hemisfério
principalmente
das cidades,
Ocidental,
à agricultura
a nova
e ao comércio
do rique
resultava dela, e que deu origem a uma abastada classe crioula, que bem poderia chamar-se de nova aristocracia. Os interesses dessa aristocracia, vam-se com os da velha
e os da burguesia francesa, chocaaristocracia por nascimento. Na Fran-
ça, os burgueses, e por trás deles os artesãos sociais mais baixas, viam boa parte do produto ços acabar
nas arcas
da coroa
e dos nobres,
e outras classes dos seus esfor-
que esbanjavam
o
18 - A Era dos Novos Horizontes
dinheiro
em
passatempos
e diversões.
No
Novo
Mundo,
a
aristocracia crioula, e junto com ela as classes mais baixas, suspeitavam das autoridades européias, cujo interesse parecia ser enriquecer a velha aristocracia por nascimento, com base no produto de seus esforços. levou à independência dos Francesa. para
Neste
capítulo,
no próximo
Por fim, esse choque de interesses países americanos e à Revolução trataremos
abordarmos
da
a França
América
e depois
do
Norte,
a América
La·
tina. A independência Ao terminar vezes e variados costa
atlântica
como
vários
das Treze Colônias o volume anterior, vimos como, por diversas meios, os ingleses haviam estabelecido na da América
do
acontecimentos
certo sentimento embora durante
Norte
haviam
de comu nidade o século XVIII,
uma
série
de colônias,
paulatinamente
entre treze a Inglaterra
criado
e um
delas. Visto que passara por um
período de grandes incertezas políticas - recorde-se a revolução puritana e a deposição dos Estuardo - foi pouco o que ela quis ou póde fazer para impor a sua vontade e seus interesses às suas
colónias
ultramarinas.
Por isso,
essas
colónias,
algu-
mas das quais haviam gozado, desde o princípio, de certo grau de autonomia, acostumaram-se a dirigir os seus próprios destinos, particularmente o seu comércio, não segundo os interesses da metrópole, mas segundo os delas próprias. Muitas das leis elaboradas lónias,
na Inglaterra,
cumpriam-se
apenas
plesmente omitidas. Já no fim do século
para pela
XVIII,
regular metade,
o governo
o comércio
eram
britânico
começou
tomar medidas para governar as colónias de reta, e a partir de então, os conflitos foram vez mais agudos. As principais causas de três. Uma delas foi a presença de dezessete nicos
nas colónias.
Posto
que a defesa
requerer contingente militar um instrumento de repressão nicas e como
uma
vam acostumados. principais causas autoridades viam cobrir mentos,
ameaça
às liberdades
a
não parecia
muitos os viam das autoridades
como britã-
a que os colonos
esta-
A presença desses regimentos foi uma das do segundo motivo de atrito: os impostos. As
da metrópole determinaram que uma parte substancial dos gastos
assim
sim-
maneira mais dise tornando cada desavença foram regimentos britâ-
das colónias
tão forte, nas mãos
das co-
e outras
como
com outras
funções
as colónias decom esses regi-
do governo.
Com este
Horizontes
propósito que
estabeleceram
se tornaram
nas colônias
altamente
os Estados Unidos - 19
Polfticos:
uma
impopulares.
série
Visto
de impostos que
na Ingla-
terra se aceitara, havia muito tempo, o princípio de que o lançamento de tributos devia ficar nas mãos de uma assembléia representativa
(o parlamento),
os colonos
sentiam-se
justifica-
dos em sua negativa de aceitar os impostos que a metrópole determinava sem lhes consultar. Por fim, a terceira causa de conflitos foi a questão das terras dos índios. Movidas por uma série de considerações tanto morais quanto de conveniência, as autoridades britânicas proibiram a ocupação de territórios localizados popular
além
dos
montes
nas colônias,
visto
Apalaches.
que muitos
Esta pobres
era uma
iei im-
desejavam
esta-
belecer-se como agricultores nas terras que agora se encontravam vedadas, enquanto que entre a aristocracia existiam especuladores que haviam formado companhias para explorar esses territórios. De fato, vários dos capitães da independência dos Estados Unidos tinham inversões nessas companhias. Por
todas
metrópole
foi
estas
causas,
aumentando.
os colonos
respondiam
obstinada.
Em
entre
A medidas
com
1770,
uma multidão, em Diante das ameaças
a tensão uma
as tropas Boston, desses
cada
as colônias vez mais
desobediência inglesas
e a
severas,
cada vez mais
abriram
fogo
e cinco pessoas foram regimentos estrangeiros,
sobre
mortas. as milí-
cias coloniais se tornaram mais ativas e aumentaram o seu material de guerra. Em 1775, quando um contingente britânico se dispunha
a destruir
um
ceu-lhe resistência, e com dência none-americana. ciadas
No dia 4 de julho as hostilidades,
dos em um congresso sua independência e a Espanha
u ni qp s tivesse fato aconteceu.
continental
declararam-se
como
colonial,
a milícia
a Guerra
ofere-
da Indepen-
de 1776, mais de um ano depois os delegados das trezes colônias,
da coroa
que a Inglaterra pôde dígenas, que temiam
arsenal
isso começou
em Filadélfia,
britânica. aliadas
proclamaram
Imediatamente, da nova
de inireunia
a França
nação,
enquanto
contar com o apoio de muitas tribos inque a i n de pe nd n ci a daqueles estados ê
conseqüência
a sua destruição,
Por fim, em 1782, chegou-se a um acordo confirmado no ano seguinte, no Tratado de Paris.
como
de
provisório, Segundo os
termos desse tratado, a Inglaterra reconhecia a independência dos Estados Unidos, cujo território se estendia até o Mississipi, e cedia a Flórida à Espanha. Por sua parte, os cidadãos norte-
20 - A Era dos Novos Horizontes
americanos
deviam
súditos
coroa
da
proteger
honrar
as dívidas
britânica,
os direitos
que tinham
e medidas
de quem,
nas colônias,
trado fiel à coroa. Portanto, como da história do hemisfério ocidental,
para com os
seriam
tomadas
se havia
em tantos outros episódios os verdadeiros perdedores
daquela guerra acabaram sendo os índios, cujas ocupadas imediatamente por aquela nova nação. Tudo
isto teve
grande
para
demons-
impacto
na vida
terras
religiosa
foram
estaduni-
dense. Boa parte da ideologia que serviu de base para o movimento separatista, e para o estabelecimento da democracia capitalista norte-americana, consistia de uma religiosidade "ilustrada"
e antidogmática,
pa, conforme
à razão"
relatado
como
a que vimos
no volume
difundiu-se
entre
anterior
a aristocracia
surgir
desta
na Euro-
obra.
crioula,
O "culto
e junto
com
ela uma atitude de ceticismo para com tudo o que não fizesse parte de uma "religião natural", ou no melhor dos casos, de um "cristianismo
essencial".
Por conseguinte,
as doutrinas
diversos grupos eclesiásticos deviam ser abandonadas gadas a segundo plano. A Providência era sobretudo cípio
de progresso.
gresso
humano.
A nova
As doutrinas
no que era absolutamente uma época passada, lastro progresso
universal.
Diante
nação
era prova
e as práticas
palpável
de tais
idéias
do pro-
eclesiásticas,
essencial, pareciam desnecessário que
dos
ou releum prinexceto
ser restos se opunha
da parte
de ao
de muitos
dos principais personagens da nova república, não é de estranhar que logo boa parte da população estivesse participando delas. Estas
idéias
tomaram
forma
institucional
em deis
movi-
mentos, a princípio independentes, mas que se entrelaçaram: o unitarismo e o urríver-sa+ismô. O primeiro surgiu praticamente junto com a independência norte-americana, e principalmente no seio de igrejas anglicanas e congregacionais que não estavam dispostas a seguir a ortodoxia tradicional. Embora essas igrejas nas",
tivessem porque
recebido
rejeitavam
o nome
de "anitárias"
a doutrina
da Trindade,
ou "unitariao fato
é que
elas diferiam da ortodoxia em muito mais do que isto. EI-as ram essencialmente racionalistas, que sublinhavam a liberdae e o intelecto mistério divino disseminou-se da sociedade G
humanos frente' ênfase móis tr adie+o-aaf no e no pecado. Em geral, o movimento unitário
principalmente entre as classes mercantil da Nova Inglaterra.
iversalismo,
em outras
palavras,
mais
a âoutrina
elevadas segun
o
Horizontes
qual elos,
todos
1:1-0 de se salvar,
pouco
antes
que se haviam
çáo
da
convencido
de que
o a mor
eles organizaram
igreja. Posteriormente, ram. Foi principalmente mento
dos
Ralph
Waldo
os Estados
foi introduzido
indep.endência,
de algu ns negava
pendência,
Políticos:
Unidos - 21
nos Estados
por. metodistas a doutrina
de Deus. na Nova
da eterna
Emerson.
Inglaterra
cujo
Nesse
perdi-
Po uco de po is da i n dea sua primeira
os unitários e os universalistas entre unitários que surgiu
"tr.anscedentalistas",
Uni-
inglese-s
principal
movimento
se unio movi-
expoente
foi
se misturavam
as
e
idéias do romantismo e do idealismo europeus. que se sublinhava era a capacidade do indivíduo de se conhecer a si mesmo, corno meio de entender o universo e o seu propósito. Como o unitarismo, o transcedentalismo conseguiu os seus principais adeptos entre as classes altas, embora várias de suas idéias
pouco
a pouco
Contudo,
tenham
a principal
penetrado
dificuldade
em todo que
o país.
as diversas
igrejas
das treze colônias tiveram de enfrentar foi a de suas relações com a Grã-Bretanha. Como era de se esperar, a que mais sofreu devido às suas conexões com a metrópole foi a Igreja da Inglaterra. Desde muito antes da independência, considerasse os bispos anglicanos como agentes portanto, lônias.
se opunham Quando
pole, a Igreja rios da coroa
a que se-nomeassem
aumentaram
as tensões
havia quem da coroa e,
bispos
entre
estas
para as coe a metró-
da Inglaterra se distinguiu pelos muitos partidáque nela havia. Como conseqüência da guerra e
da independência norte-americana, várias dezenas de milhares de anglicanos partiram para a Inglaterra e o Canadá . Po r fim, em
1783, ·os anglicanos
que
ram a Igreja Protestante aristocracia americana.
permaneceram
Episcopal,
que
no país organizaincluía
boa
parte
da
A princípio, o metodismo sofreu reveses parecidos e por causas semelhantes. John Wesley era partidário decidido da coroa, e exortou os metodistas norte-americanos a obedecerem os editos reais. 19-e-fl0is :a dectar aç ão de inâependência, todos
os
@ressaram tornaram-se Todavia, americano e recrutou
pregadores
metodistas
ingleses,
exceto
Asbury,
re~
à Grã-Bretanf:ía. Por estas razões, os metodistas impopulares entre os patriotas norte-americanos. graças
à tenacidade
recuperou a sua novos pregadores.
cia de Natal", sua hierarquia
de Asbury,
o rrre:toaismo
norte-
própria forma e independência, Por fim, em 1784, na "Conferên-
organizou-se a Igreja Metodista própria, separada tanto da
Americana, com Igreja Episcopal
22 - A Era dos Novos Horizontes
quanto
do metodismo
metodismo
britânico.
norte-americano
pos, cuja autoridade
Ao contrário
ficou
era grande.
A partir
décadas, Q etoclism'o continuou O outro grupo que obteve mórdios
da independência
mentou
notavelmente
dali
estendeu
se
Kentucky. As outras
debaixo
foi o dos os
igrejas
crescimento,
os batistas.
novos
seguiram
zar-se,
embora
As demais
segundo
aaüst~,
diversos
que
resultou
da experiência
dá a entender
que
mente Daqui
e
Os congrega-
quanto
os metodistas
dedicaram-se política,
norte-americana.
e a reparar
"de:nominação", do cristianismo A própria
são
"igrejas"
e
a reorgani-
pala-
na [ealidade
doutrinas das igrejas eram questão de pouca imou até de valor negativo. Estas idéias, levadas para
o âmbito grupos
e
quer dizer, norn es diferentes que o cristãos Já indicamos que, para muitas pessoas, as
"denemhíações"; dila a si próprios. diferentes portância,
au-
do sul,
de> Tennessee
rumos.
situação
as diversas
pri-
regiões
os danos causados pela guerra. Esta palavra que acabamos de empregar, representa uma das características principais vra
nos
número
que lhes havia dado o seu para os territórios coloniOs presbiterianos tiveram
não tanto
a nova
o
de bis-
e por várias
cujo
territórios
denominações
requeria
de então,
e outras
cio n ais, apesar do grande prestígio apoio à revolução, só se estenderam zados a partir da Nova Inglaterra. algum
último,
crescendo no país. grande crescimento
na Virgínia
para
deste
da direção
da vida
eclesiástica,
ou "igrejas'"
não
"denominações" surge um modo
vez mais
e consiste voluntárias
que
ser "a
os' distintos
igreja",
mas
so-
que os cristãos davam a si mesmos. de ver a igreja que se generalizou cada
no cristianismo
é invisível, ganizações
subentendiam
pretendiam
norte-americano:
a Igreja
verdadeira
de todos os crentes; as "igrejas" são orde membros da Igreja, que se reúnem
segundo as suas convicções e desejos. Uma conseqüência prática deste modo de ver a "Igreja" e as "igrejas" é que os grandes debates que dividiram o cristianismo greja",
norte-americano -não se limitaram a uma ou outra "imas atravessaram as barreiras "denominacionais". As-
sim, por exemplo, temas como a escravidão, da teoria da evolução, o fundamentalismo,
as atitudes diante o liberalismo e as
lutas
ao mesmo
raciais,
dividiram
e os partidários supostas
barreiras
várias
denominações
de determinada denominacionais.
posição
uniram-se
tempo,
através
das
Horizontes
Um dos resultados
mais
as "denominações" foi dores desse movimento, der,
do evangelhe
bell , que
logo
interessantes
os Estados Unidos - 23 desse
modo
de ver
a formação dos "discíp_ulos". Os iniciaThomas Ca rnp b el l e seu filho Alexanuma nova igreja; contudo, de sejavajn à unidade cris_tã,__j])_e_dig_nte a procla-
não queriam fundar os crentes
mação
Polfticos:
em sua pureza
se tornou
chefe
original.
Atexan der Camp-
do movimento,
era um homem
em quem se combinavam algo do racionalismo comum em sua época e um profundo sentido da autoridade do Novo Testamento. Por ele, boa parte da sua interpretação do Novo Testamento tomava forma parecida com a dos racionalistas, mas com um zelo que não se encontrava entre eles. Convencido de que a sua interpretação do cristianismo primitivo levaria à unida de cristã, Carnpbe ll lançou-se a um plano de reforma que, posteriormente, Cristã
produziu
(Discípulos
pensamento fluências
uma
de Cristo).
do
próprio
posteriores,
nova
denominação,
Devido
às tensões
Ca mp b e l l, assim os
"discípulos"
como
a
Igreja
presentes
no
a várias
in-
abrigaram,
através
da
sua história, uma ala racionalista e uma outra muito mais conservadora. Todavia, em geral, todos conservaram o seu interesse original
na unidade
A imigração As treze
colónias
que,
tados Unidos, haviam maioria da Inglaterra, giões da Europa. durante o século gratória
sadas
da Europa
para os Estados
disponíveis
às grandes
Católica,
da nova nação.
que
A outra
regimes, grande
ocasião
para as igrejas
Assim,
por
da independência
com uma pequena fração da população, XIX havia se tornado a mais numerosa
em na cau-
etc. e,
pareciam
estar imigra-
dos escravos procedentes da África, dimensões, segundo foi aumentando
notabilíssimas.
que por
a ser os Es-
Isto se deveu,
de alguns
de terra
cessidade de mão de obra barata. As conseqüências de tudo isto foram
Unidos.
a tirania
extensões
ao ocidente
ção, a involuntária, bém assumiu novas
ricanas
vieram
mudanças que estavam acontecendo napoleónicas, as convulsões sociais
pela industrialização,
parte,
ulteriormente,
sido fundadas por imigrantes, em sua mas também da Alemanha e outras re-
Contudo, já quase no fim do século XVIII, e XIX, desencadeou-se uma grande onda mi-
parte, às drásticas Europa - as guerras em
cristã.
tama ne-
norte-ame-
exemplo,
a Igreja
não contava
senão
nos meados do século de todas as igrejas do
24 - A Era dos Novos Horizontes
país. A princípio, quase todos os católicos norte-americanos eram de origem inglesa, aos quais, depois, se juntaram franceses e alemães. Porém, por volta de 1846, houve uma grande fome
na Irlanda,
que durou
várias
décadas,
e logo os imigran-
tes irlandeses e seus descendentes tornaram-se o grupo mais numeroso dentro da Igreja Católica. Tudo isto, por sua vez, ocasionou nacional.
tensões dentro dessa igreja, tanto a nível local como Na paróquia, os diversos grupos de imigrantes viam
na igreja culturais dotes
um dos principais meios e, por isso, os irlandeses
irlandeses,
alemães, a haver
ao mesmo
e assim lutas
por exemplo,
tempo
por diante.
pelo
poder
que os alemães
Em nível
da parte
os católicos
de manter as suas tradições queriam paróquias e sacernacional,
dos diversos
irlandeses
os queriam
logo
começou
grupos,
não estavam
porque,
dispostos
a
se submeter a uma tensões continuaram
hierarquia completamente inglesa. Estas através dos anos, à medida que outros
grupos
acrescentados
foram
os poloneses pela compra Porto
sendo
Rico, por conquista Tudo
à grei católica:
e outros por imigração; desse território, e os
isto
militar.
deu origem
a um catolicismo
te-americano, que difere do catolicismo cisamente por sua diversidade cultural diversidade poder
e as tradições
tradicional
negaram
um
Assim,
pastor
tipicamente
nor-
de outros países, e pela forma como
democráticas
da hierarquia.
a aceitar
os italianos,
os franceses da Luisiana, hispânicos do México e
do houve
de outra
país
limitaram
paróquias
origem
preessa o
que se
cultural,
e a
hierarquia viu -se obrigada a ceder às suas exigências. Pelo menos até data bem avançada no século XX, continuaram existindo essas tensões no seio da Igreja Católica norte-americana. O crescimento da Igreja Católica também criou uma forte reação em vários centros. Já no princípio do século XIX, havia pessoas
que
alegando testante, conceito
que a democracia norte-americana, de origem proera incompatível com o catolicismo romano e seu hierárquico de autoridade, e que o crescente número
de católicos Klux contra tendo
Klan
se opunham
era uma desencadeou
os negros, como
à imigração
ameaça
para
ilimitada
a nação.
Mais
o seu fan atis rno xenófobo,
mas também
base a mesma
idéia
contra
os católicos
de que os Estados
de católicos,
tarde,
não
a Ku
apenas
e os judeus, Unidos
ha-
viam sido chamados para ser uma nação branca, protestante e democrática, e que estas três características eram inseparáveis.
Horizontes
Quando,
em 1864, o papa Pio IX condenou
"erros",
entre
damentais
os quais
da
isto teve como conseqüência contra o catolicismo durante século XX.
princípio,
a quase
várias
estadunidense,
norte-americanos, tanto liberais ram nesse ato uma confirmação respeito aos desígnios políticos
A outra confissão seu número de adeptos
uma lista de oitenta
se encontravam
democracia
os Estados Unidos - 25
Polfticos:
das teses
houve
fun-
numerosos
como conservadores, que vide seus piores temores com do catolicismo romano. Tudo
uma forte resistência e antipatia todo o século XIX e boa parte do
cristã que recebeu graças à imigração
totalidade
dos
grande aumento em foi o tllterani-smo. A
imigrantes
luteranos
era de
origem gentes
alemã. Mas depois somaram-se a eles fortes continprocedentes dos países escandinavos. Cada um desses
grupos
trouxe
principal tempo, deviam
do
foi o modo relacionar-se
Além
as suas tradições luteranismo
como entre
dos católicos
presentavam nitas,
consigo
agenda
todos
morávios,
com
ao complicadíssimo dos.
diversos
e luteranos,
husitas,
esses, juntamente
esses si.
os outros
próprias
e, por isso, a
norte-americano,
os novos
matizes
ortodoxos
gregos fizeram
muito
eclesiásticos imigrantes
da tradição
os judeus,
caleidoscópio
por
corpos
cristã:
e russos,
re-
meno-
etc. Todos
a sua contribuição
religioso
dos
Estados
Uni-
Uma conseqüência notável das muitas ondas de imigração foi a fundação de comunidades religiosas. Desde os primórdios da colonização
britânica
sos que haviam bilidade Atrás
trazido
de se criar
uma
nova
parecidos, fundaram
do Norte,
um dos impul-
a estas plagas
sociedade
do Mayflower
dos peregrinos
com sonhos Os morávios
na América os europeus
vieram
embora diferentes suas comunidades
era a possi-
em uma
nova
milhares
de pessoas
terra.
em alguns pontos. na Pensilvânia, e o
mesmo fizeram os menonitas e outros anabatistas, buscando um lugar onde lhes fosse possível praticar seu pacifismo e separar-se
da corrupção
mães
fundaram
várias
outras,
do resto
no mesmo tanto
da sociedade.
estado
na Pensilvânia
Os pietistas
a comunidade como
em Ohio.
ale-
de Efrata,
e
Em alguns
casos, essas experiências comunitárias chegaram a extremos, como na comunidade de Oneida, onde se chegou a praticar não apenas
a comunhãó/
de bens, mas também
"matrimônio complexo", casados entre si.
em que todos
o que chamavam
os adultos
diziam
de
estar
26 - A Era dos Novos Horizontes
A comunidade
de Efrata,
na Pensilvânia,
uma das muitas
que fo-
ram fundadas. Provavelmente dos shakers Lee Stanley, Lee.
o mais
notável
ou "tremedores",
Em seus
conhecida
dentro
primórdios,
desses
redor,
para a América do Norte. talvez pelos muitos outros eles decidiram
levar
da profetisa
do movimento
os shakers
as suas aspirações na sua Inglaterra riormente as pressões sociais foram emigrar pirados
experimentos
sob a direção tentaram
como viver
foi
o
Ann
Mãe Ann segundo
natal. Contudo, postetais que eles decidiram
Nos novos territórios, insexemplos que viam ao seu
uma vida comunitária.
As doutrinas
dos shekers , e suas práticas, eram únicas. A Mãe Ann Lee dizia ser a Segunda Vinda de Cristo, que havia regressado agora em
Horizontes
forma
feminina,
Ulteriormente munidade Nesse
como todos
havia
se salvariam
de crentes
ínterim,
antes era
Políticos:
ser
era necessário
vindo
os Estados
em forma
e, portanto,
masculina.
a função
a vanguarda abster-se
Unidos - 27
da co-
da salvação
do sexo,
final.
que era a raíz
de todo mal. No culto, uma das características dos shakers era o baile com que adoravam a Deus. Durante umas poucas décadas, esse movimento floresceu, e fundaram-se dades. Como experiência de vida comunitária,
várias comunieles foram um
verdadeiro êxito, pois as condições que as da sociedade circunjacente.
de vida eram melhores do Todavia, depois, por falta
de convertidos
eles desapareceram.
e de novas
gerações,
o
Segundo Grande Avivamento No fim do século XVIII começou na Nova Inglaterra um Segundo Grande Avivamento, semelhante ao primeiro, do qual
tratamos
nas
últimas
páginas
do volume
anterior.
Contraria-
mente ao que se poderia pensar, este avivamento não se caracterizou por grandes explosões emotivas, mas o que sucedia era que, de modo
inusitado,
as pessoas
começavam
a encarar
a
sua fé com maior seriedade, reformando os seus costumes para se ajustarem melhor às exigências dessa fé. A assistência aos cultos
aumentou
notavelmente,
soas
contavam
experiências
que
este
avivamento
que
caracterizaram
abriu
os matizes
outros
avivamentos.
muitos
dos mais
A
anti-intelectuais
Pelo
contrário,
ele
va Inglaterra, e logo um de seus principais pregadores nou o presidente da Universidade de Vale, Timothy
se torDwight,
de Jonathan centros
Edwards.
docentes,
Nessa
notou-se
notáveis
as pesprincípio,
da No-
neto
entre
não teve
numerosas
conversão.
teólogos
outros
caminho
também
e eram de
universidade, um
grande
e em
muitos
despertamento
religioso, que encontrava eco no resto da comu nidade. Como resultado daquela primeira fase do avivamento, fundaram-se dezenas de sociedades com o propósito de difundir a mensagem do evangelho. Dentre elas, as mais importantes foram
a Sociedade
Bíblica
Americana,
fundada
em 1816, e a
Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras, fundada seis anos antes. Esta última foi o resultado de um compromisso al qu n s anos
mútuo que um grupo antes, quando, reunidos
de estudantes havia feito sobre um monte de feno,
haviam decidido se dedicar às missões estrangeiras. Quando um dos missionários enviados por essa organização, Adoniram J udson, se tornou batista, os batistas norte-americanos senti-
28 - A Era dos Novos Horizontes
ram-se chamados a deixar um pouco de lado o seu congregacionalismo e organizar uma convenção geral cujo propósito original era apoiar missionários batistas em outras partes do mundo. Outra
ocredaâes
vamerrro
slugidas
e deijjca~am
ab-ol-ição
da
a diversas
escravatuca
tr atár erno s mais
adiante)
srrclais; tais como a
causas
(a Sociedade e a guerra
Colonizadora,
de
cOIl_tra o âlcool
que
(a Socie-
dé de Americana 1826). mais culo,
para a Promoção da Temperança, fundada mulheres foram ocupando uma posição cada
As
destacada nesta última causa. Na segunda metade sob a direção de Frances Willard, a União Feminina
pró- Temperança reitos
femininos.
norte-americano mento. Nova abrir quais
tornou-se Em tem
Entretanto, I nglaterra
um
grande
instrumento
medida,
suas origens
o avivamento e das classes
na luta
portanto,
no Segundo
havia mais
em vez
do séCristã
pelos
di-
o feminismo Grande
Aviva-
rompido as barreiras educadas, começando
da a
caminho entre as pessoas menos instruídas, muitas das se dirigiam para os novos territórios do oeste. (É bom
recordar que, segundo o Tratado de Paris, os Estados Unidos tinham o direito de colonizar todas as terras entre os Apalaches e o Mississipi.) Muitas das pessoas que se dirigiam para o oeste levavam consigo a fé vibrante que as primeiras fases avivamento haviam despertado, e em seus novos lugares residência
procuraram
manter
viva
essa chama.
Embora
do de
ali a
situação fosse diferente, logo o despertamento religioso assumiu um tom mais popular, mais emotivo, e menos intelectual, até o ponto Talvez sido
o
ganizado da igreja
em que, mais tarde, se tornou o passo mais notável dessa
ivamento
de eane
Riage,
anti-intelectual. transformação
no estado
tenha
de Kentucky,
or-
- na medida em que o foi - pelo pastor presbiteriano local. Com o fim de despertar a fé dos habitantes da
comarca, aquele pastor avivamento, ou "reunião
anunciou uma grande assembléia de d arramp arrrérrto ". Ao chegar o dia
marcado, dezenas de milhares de pessoas se congregaram. Em uma região em que eram poucas as oportunidades para reunirse e festejar,
o anúncio
daquele
pastor
atraiu
toda
classe
de
pessoas. Muitos foram por motivos religiosos. Outros foram para jogar e embriagar-se. Possivelmente muitos nem sabiam ao certo por que estavam indo. Além do pastor presbiteriano do lugar, havia outros pregadores batistas e metodistas. En-
Horizontes
quanto uns Um inimigo
os Estados Unidos - 29
Polfticos:
jogavam e outros bebiam, os pastores pregavam. do movimento chegou a dizer que em Cane Ridge
se conceberam mais almas do que as que se salvaram. Inesperadamente, começaram a ocorrer inauditas expressões de emoção, pois uns choravam, outros riam, outros tremiam, alguns saíam /
correndo,
Aquela
reunião
e não faltavam perdurou
por
pessoas uma
muitos estavam convencidos de que forma de dar a conhecer a mensagem então,
nos
ção"
ou
Estados
em
Unidos,
com os de Cane Ridge. costume de se organizar Embora
a reunião
vam contra
acontecendo. os pastores
ne Ridge, territórios
se falou
pensava-se
de Cane Ridge
Logo
dali
em "evangeliza-
em termos
Logo em muitos um "avivamento"
por um pastor presbiteriano, bons olhos as manifestações
e ao sair
aquela era a verdadeira do Senhor. A partir de
quando
"avivamento",
que latiam ...
semana,
parecidos
círculos começou todos os anos.
tivesse
sido
o
organizada
essa denominação não via com de emoção desenfreada que estase
tomaram
que participavam
e a Igreja Presbiteriana, o impacto que tiveram
medidas
de cultos
disciplinares
no estilo
de Ca-
por isso, não teve nos novos os batistas e os metodistas.
Estas duas denominações tiveram a idéia de celebrar "reuniões de acampamento" e, embora poucas tenham chegado aos extremos
de Cane Ridge,
esse foi o seu principal
balho nos novos territórios. mos, a aessoas não tinga
Em lugares
des multl dôe s, o "avivalTlents" de necessidade, Outra que essas apresentar
método
em que,
como
c ca si âe de se reunirem per+ódico preenchia
não só religiosa,
mas também
de tradisse-
em granuma gran-
social.
das razões do crescimento batista e metodista foi duas denominações se demonstraram dispostas a a sua mensagem da forma mais simples possível, e
a utilizar para isso pregadores de escassa preparação. Enquanto as outras denominações careciam de pessoal, porque não havia onde nem como ministrar instrução a candidatos, os rne4:0-'üsta_ e batistes estava d·sQostos a uti~izar a quem se eram
chamado pe+o Sen oro A vanguarda os pregadores leigos, a quem se permitia
não recebessem
ordenação.
Alguns
dos metodistas pregar, embora
deles tinham
de pregação, no que se chamava um "circuito". pastores ordenados, que em sua maioria tinham ção, nunca haviam sido soas que os pregadores gens simples, no idioma
vários
lugares
Os escassos mais instru-
capazes de alcançar o número de pesleigos influenciavam com suas mensado povo. Tudo isto, todavia, se encon-
30 - A Era dos Novos Horizontes
._
<li
~._ (1J
c (1J
(/)
c
'-o
(1J
~(1J
._
<ll
Horizontee
trava
sob o governo
rígido
batistas, por seu lado, viviam do seu trabalho Era essa igreja
que
os Estados Unidos - 31
Pottücos:
da "conexão"
utilizavam e serviam
e de seus bispos.
sobretudo agricultores de pastores na igreja
os ordenava
e lhes
dava
Os
que local.
autorização
para
pregar. Quando se abria algum território novo, nunca faltava entre os novos colonos algum batista disposto a tomar sobre si as
responsabilidades
métodos
do
diversos,
ministério
os batistas
da
pregação.
e metodistas
Assim,
conseguiram
gar-se nos novos territórios e, em meados do século principais denominações protestantes do país. Uma
conseqüência
Avivamento,
a que
contribuiu novos
para
batistas
presbiterianos
importante
a história
romper
desse
da igreja
as barreiras
e metodistas escoceses
da origem
havia
as
Grande
foi
étnica.
ex-luteranos
e ex-católicos
eram
Segundo
se refere,
por arrai-
que
ele
Entre
os
alemães,
irlandeses.
ex-
Portanto,
embora ainda em termos gerais, tenha continuado a ser verdade que as divisões denominac.ionais coincidiram com a origem de diversos
de irn i qr arite s. essa coincidência
grupos
tornou-se
menor.
o
"l!)-esttn-o-Manifesto"
e a 'g-uerra com o México
Desde a chegada dos "peregrinos" do Mayflower, existia a idéia de que as colônias britânicas da América do Norte haviam
sido
fundadas
missão
providencial.
América
do Norte
berdade.
com
o auxílio
Para muitos era uma terra
Para os porta-vozes
divino,
para
cumprir
dos imigrantes prometida
uma
posteriores,
de abundância
da independência,
a e li-
era uma
nova
experiência que marcaria a pauta que o mundo deveria seguir, no caminho para a liberdade e o progresso. Freqüentemente, tais idéias se entrelaçavam com a da superioridade do protestantismo sentiu
sobre que
católicos
o catolicismo.
as suas
espanhóis
e por
isso
causa
protestante.
colônias
Desde
ao sul, e pelos
considerava
muito
estavam
católicos
as suas colônias
A tudo
isto
cedo,
sendo
franceses
como
se juntava
a Inglaterra
ameaçadas um
uma
pelos
ao norte,
baluarte
atitude
da
racista
que considerava como fato provado que a raça branca era superior, e que servia para justificar tanto a escravidão dos negros
quanto o roubo das terras dos índios. Embora tudo isto estivesse presente
americana,
desde
muito
antes,
vez a frase
"oostinorTranifesto",
na
em 1845 apareceu
história
norte-
pela primeira
32 - A Era dos Novos Horizontes
assinalado
pela
nos caminhos presidente
divina
James
doutrina cursões "destino"
dos
havia
vencidos
Monroe
Estados
tivesse
o resto
do mundo
Embora
proclamado
Unidos
em 1823 o
a sua
famosa
notado
que
muitos
de que o resultado
debaixo
parecia
particularmente
norte-americanos final
seria
do poderio
ser
ino
a esse hemisfério. À mesma do México nos Estados Uni-
que se referia Plenipotenciário
cia hispano-americanas baria
de guiar
e da liberdade.
de que ~\ Estados Unidos não tolerariam novas colonizadoras européias no hemisfério ocidental,
"manifesto" no época, o Ministro dos
providência
do progresso
estavam
das façanhas
que boa parte
dos Estados
con-
de independên-
do continente
aca-
Unidos.
Quando apareceu pela primeira vez, em 1845, a frase "destino manifesto", ela se referia particularmente à expansão do país gon,
na direção
que
estava
territórios Embora
que
do em
Pacífico,
disputa
o México
a questão
ocupando
com
possuía
acerca
o território
a G rã- Bretanha, a oeste
do Oregon
dos
Estados
se tenha
O expansionismo antes,
ao estado
norte-americano
no caso
mexicano
do Texas.
a imigração de dissuadir
pacífica outros
çou a permitir pre
que
havia
sido
pacifi-
pendente
manifestado que
pertencia
invadido
em 1819
Long, senão com o beneplácito, pelo dos Estados Unidos. Essa invasão foi mexicano, e pouco depois começou
de norte-americanos aventureiros como
a imigração
fossem
se havia
Esse território,
de Coahuila,
pelo aventureiro James menos sem a oposição derrotada pelo exército
estava
os
Unidos.
resolvido
camente, através de negociações, o que ainda era a posse do território mexicano. desde
de Oree todos
de colonos
católicos
e que
para o Texas. A fim Long, o México comenorte-americanos,
ju rassem
sem-
a sua adesão
à sua
nova pátria, o México. Entretanto, o que resultou foi uma grande imigração de norte-americanos que se faziam nominalmente católicos, a fim de obter terras, e que, como brancos, se sentiam superiores aos mestiços que governavam a província em nome que
do México.
"durante
quinze
americanizar eram
"uma
misturados No
Entretanto,
anos
o Texas",
trabalhei
e acrescentaria
povoação
de índios,
e inimigos
naturais
caso
do
Texas,
Estêvão como
declararia
escravo
para
que seus competidores
mexicanos dos brancos
o "destino
Austin um
e renegados,
todos
e da civilização".
manifesto"
dos
Estados
Unidos se uniu com a questão da escravatura e a da especulação de terras. Quando o México declarou a abolição da escra-
Horizontes
vidão
os Estados Unidos - 33
Polfticos:
em 1829, os norte-amer,icanos
residentes
no Texas,
que
estavam enriquecendo às custas do trabalho dos seus escravos, responderam com o subterfúgio de declará-los livres, para em seguida obrigá-los a assinar contratos de servidão vitalícia. Além disso, considerando que tal situação não podia deram novo impulso às conspirações que já existiam
perdurar, anterior-
mente,
aos Esta-
com
vistas
a separar-se
do México
e unir-se
dos Unidos. Isto, por sua vez, ganhou o apoio dos estados escravagistas do Sul norte-americano, que começavam a temer as conseqüências do movimento anti-escravagista e viam no Texas um possível aliado. Além disso, havia nos Estados Unidos e entre dades
os americanos
de se enriquecerem
se o Texas Estados
se tornasse
texanos,
alguns
às custas
que viam
das terras
independente,
possibili-
dos mexicanos,
ou fosse
anexado
aos
Unidos.
O governo norte-americano mostrava-se interessado em adquirir o território texano, até o ponto que o legado estadunidense perante o governo do México tentou subornar um alto oficial ele
mexicano
fizesse
Estados mais
oferecendo-lhe
gestões
que
duzentos
resultassem
mil dólares
na venda
do
para que Texas
aos
Unidos.
Por fim estourou soldados, mas
a guerra. Os mexicanos contavam com os texanos norte-americanos estavam
melhor armados, com rifles cujo alcance maior do que o dos mosquetes mexicanos. Álamo,
em San Antonio,
ram frente
a todo
menos
um exército
era quase três vezes Na antiga missão EI
de duzentos
mexicano.
defensores
fize-
A luta foi feroz,
pois
além da superioridade de seus rifles, os rebeldes contavam com vinte canhões, frente aos dez dos mexicanos. Por fim, os últimos defensores se renderam e foram executados por ordem do Presidente do México, Santa Anna. A versão que correu nos Estados Unidos, e que posteriormente se tornou oficial, foi que eles haviam morrido lutando até o último homem. A partir de então Álamo)
o
lema
de
tornou-se
"Remember grito
de guerra
the
Alamo"
(lembre-se
dos rebeldes,
de
e foi usado
EI nos
Estados Unidos para recrutar reforços e arrecadar fundos. De fato, os historiadores têm mostrado que a maioria dos defensares de E I Álamo não eram verdadeiramente texanos, mas aventureiros recém-chegados, e que a mesma coisa acontecia com o exército rebelde que lutou pela causa da independência. Portanto, mexicanos
a rebelião texana tornou-se uma confrontação entre e norte-americanos. Repetidamente, os primeiros
34 - A Era dos Novos Horizontes
venceram
os
últimos,
mas,
em
abril
comandando um forte deu o quartel general
contingente de Santa
pessoa.
não
Diante
disso,
de
1836,
Sam
Houston,
norte-americano, surpreenAnna e se apoderou de sua
restou
ao
presidente
cativo
outra
saída, senão concordar com a independência do Texas. Pouco depois, Houston foi eleito presidente da República do Texas.
O México consentiu com essa decisão, contanto que o Texas continuasse sendo independente e não se anexasse aos Estados Unidos, pois conhecia os impulsos expansionistas que existiam nessa nação. Em 1844, esses impulsos obtiveram uma grande vitória cia, e mesmo seu cargo, tados no.
mediante
Unidos, Contudo,
partido
com a eleição de James K. Polk para a presidênantes que o novo presidente tomasse posse do resolução
o Texas isto
passou
conjunta
não bastava
expansionista.
1845 foi o ano em que se cunhou to" estadunidense. Esse destino,
meio
senão
provocar
de que, como
a uma
dos Estados Unidos, pelo menos essa expansão, não havia outro
uma guerra
possível
de Polk e do já registramos,
a frase do "destino manifese diversos interesses econó-
com o México,
Polk se engendrou com esse objetivo. No entanto, havia nos Estados Unidos opu nham
dos Es-
norte-america-
para os desígnios
Lembre-se
micos, requeriam a expansão até o Pacífico. Para conseguir
do Congresso
a ser um estado
guerra
com
e a política
sentimentos
o México,
ela era injusta. Esses sentimentos haviam sido 1836 pelo ex-presidente John Quincy Adams,
por
de
que se crer
que
expressos em que declarou,
perante a Câmara de Representantes, que nessa guerra "os estandartes da liberdade serão os do México; e os de vocês, fico ruborizado ao dizê-lo, serão os da escravidão". Por essas razões, era necessário povo norte-americano gança. Com contingente (mais
tarde
voado mais
esse objetivo, o presidente Polk ordenou que um militar, sob as ordens do general Zachary Taylor presidente
de Corpus
terreno
da república)
Ch r isti , que
em disputa
tarde,
provocar o México, de tal forma que o se sentisse agredido e requeresse vin-
o então
entre
o México
tenente
ocupasse
se encontrava
o pequeno em uma
e os Estados
Ulysses
S. Grant
po-
faixa
Unidos. declarou:
de
Anos "En-
viaram-nos para provocar uma guerra, mas era necessário que fosse o México que a iniciasse". Quando os mexicanos se limitaram a protestar, sem atacar as tropas de Taylor, este re-
Horizontes
cebeu
ordens
nuou
marchando
abriram
para
fogo.
adentrar nele
o território
até
O presidente
que Polk,
o Congresso norte-americano, tamente não-justificado por seguiu
uma
declaração
Pottticos: os
os
em
Estados
Unidos - 35
disputa,
e conti-
mexicanos,
então,
exasperados,
apresentou-se
perante
e com base no ataque susposparte do exército mexicano, con-
de guer,ra.
Grant,
a quem
citamos
aci-
ma, estava convencido de que por trás de tudo isto havia uma conspiração para aumentar o número dos estados escravagistas. A guerra foi breve. Taylor atacou Monterrey e, devido a numerosas baixas, viu-se obrigado a permitir que o exército mexicano se retirasse da cidade sem se render. viou reforços comandados pelo general Winfield sembarcou perto de Veracruz, chou contra a capital. Nessa talhas sangrentas, culminando cadetes conhecidos na história róis" preferiram jogar-se num invasor.
Taylor
exército
mexicano
entrou
então
continuasse
Então Polk enScott, que de-
sitiou e invadiu a cidade, e marmarcha tiveram lugar várias bacom a de Chapultepec, onde os mexicana como "meninos heabismo a render-se ao exército vitorioso
na capital.
oferecendo
Embora
resistência
rior do país, a guerra estava perdida, e então negociações com vistas a um tratado de paz.
o
no inte-
começaram
as
Nos Estados Unidos, as opiniões estavam divididas quanto ao que se devia fazer. Uns poucos, em sua maioria cristãos de profunda convicção, continuavam declarando que a guerra era injusta, e que Deus não se agradaria dessas conquistas
territoriais.
Outros
dos Estados Unidos devia mexicano, e assim estender
criam
que
o "destino
manifesto"
levá -lo a anexar todo o território a essas terras os benefícios da de-
mocracia e do progresso estadunidenses. Muitos se opunham a tal anexação, não por considerá-Ia injusta, mas por que temiam a inclusão, no país, de número tão grande de católicos, índios e mestiços. Posteriormente, ainda contra a vontade do presidente Polk, que aspirava a maiores concessões territoriais, chegou-se ao tratado de Guadalupe-Hidalgo (1848). Nesse acordo, o México cedia aos Estados Unidos, em troca de quinze milhões de dólares, um território de mais de três milhões de quilômetros quadrados (os atuais estados de Novo México,
Arizona,
Califórnia,
Utah,
Nevada
e parte
do Colorado)
e, além disso, reconhecia o Rio Grande como fronteira entre Texas e México. Os Estados Unidos, por sua parte, garantiam certos direitos aos mexicanos que decidissem permanecer
36 - A Era dos Novos Horizontes
dentro do território conquistado. Como nos muitos acordos com os índios, esta segunda parte do tratado cumpriu
cabalmente,
e os mexicanos
que
casos de nunca se
permaneceram
baixo da soberania estadunidense bem depressa foram de discriminação por parte dos novos residentes. Para as igrejas norte-americanas, tudo isto teve
deobjeto varias
conseqüências. Uma que se pode citar foi o debate que teve lugar dentro delas, acerca da justiça da causa estadunidense, que
freqüentemente
se entrelaçou
com
outro
debate
que tra-
taremos mais adiante, em torno da escravatura. Porém, uma vez firmado o tratado de Guadalupe-Hidalgo, quase todos os norte-americanos esqueceram os métodos por que eles haviam adquirido essas terras, e começaram a colonizá-Ias, como se não tivessem nenhum dono. Junto com os colonizadores foram pregadores e missionários todos esses acontecimentos via aberto para a pregação
de diversas igrejas, que viam em uma "grande porta" que Deus hado evangelho. Semelhantemente ao
que havia acontecido nos outros territórios recentemente tomados dos índios, a princípio foram os batistas e metodistas que conseguiram maior aumento no número de seus membros. Para a igreja católica, a conquista dos novos territórios teve conseqüências diferentes. A principal foi que se agregou ao seu rol um número considerável de fiéis que pertenciam a uma cultura diferente da norte-americana. Em lugar de aceitar essa diferença, e procurar servir aos católicos de origem mexicana segundo
as suas próprias
dunidense se dedicou de 1850, o catolicismo rarquia
da região
norte-americana,
hispana
foi
tradições,
a igreja
à "americanização" passou
e o número
diminuindo.
Além
católica
de sacerdotes
disso,
esta-
desses fiéis. A partir para as mãos da hie-
alguns
de tradição
historiadores
têm
registrado um contraste entre os novos sacerdotes, que se dedicavam a servir principalmente as novas classes ricas de origem
anglo-saxônica,
demonstravam
e os velhos
verdadeira
sacerdotes
compaixão
pelo
vam em ajudá-lo em problemas de toda Isto se pode verificar no conflito José
Martinez,
conhecido
como
"o
cura
mexicanos, povo,
sorte. entre
e se ocupa-
o padre
de Taos",
que
Antonio
e o vigário
geral para o Novo México, Jean B. Lamy. Embora de origem francesa, Lamy trabalhava sob as ordens da diocese de Baltimore, e era amigo de muitos dos novos cidadãos da região, entre eles Kit Carson, famoso por seus abusos contra os mexicanos. Desde 1824, Martinez havia dirigido um seminário em
Horizontes
Taos, co.
onde
se havia
Embora
não
formado
fosse
o tinham por santo, sidades dos pobres. este começou gissem
os
boa parte
celibatário,
para
os Estados
do clero
muitos
pois se ocupava O contraste com
a insistir
dízimos
Poltticos:
do Novo
dos
fiéis
Méxi-
da região
assiduamente das necesLamy era notável, e logo
que os sacerdotes
e as primícias
Unidos - 37
dos
mexicanos
exi-
Martinez
e os
pobres.
seus o contestaram, dizendo que era imoral tomar o dinheiro dos pobres, e se negaram a fazê-lo. Lamy excomungou o cura desobediente
e seus
administrando
seguidores,
os sacramentos
porém
Martinez
e servindo
de sua morte, em 1867, houve obra por algum tempo. Depois
aos
continuou
pobres.
Depois
outros que continuaram a sua diminuiu o número de sacer-
dotes mexicanos, e a hierarquia eclesiástica se "americanizou", a tal ponto que só bem mais tarde, no século XX, houve na região bispos de origem hispânica. A questão
da escravatura
A questão te-americana
e a Guerra
da escravatura desde
a era
época da independência, taram que a nova nação mal. Todavia, a fim de
havia
colonial.
Civil ferido
a consciência
Quando
nor-
se aproximou
a
não faltaram as pessoas que sustendevia nascer limpa de tão execrável poder apresentar uma frente unida
\toam
A essa
prática
se opunham
ram do seu seio metodistas, que mesmo cluíam
os Amigos,
que
em 1776 expulsa-
as pessoas que insistiam em ter escravos; em sua Conferência de Natal de 1784,
os ao
tempo que organizavam a igreja norte-americana, exdela os donos de escravos; e os batistas, que não to-
maram medidas semelhantes por carecer da organização necessária para tal, mas que sustentavam posturas abolicionistas. Essas atitudes
temporãs,
no entanto,
foram
do com o correr do tempo. Unicamente contavam com grande número de aaeptos
se modifican-
os Amigos, que não no sul do país, per-
maneceram firmes. Tanto os metodistas como os batistas, a fim de atrair os brancos do Sul, amoldaram-se progressivamente ao fato da escravidão, até o ponto em que, em 1843, havia cerca
de mil
e quinhentos
escravos
nas mãos
ministros e pregadores metodistas. Outras denominações adotaram posturas bíguas. Por exemplo, em 1818, a Assembléia
de mil
e du-
zentos
igualmente amGeral da Igreja
38 - A Era dos Novos Horizontes
Os escravos eram submetidos a torturas cruéis. Presbiteriana, ao mesmo tempo em que declarava que a escravidão era contrária à lei de Deus, declarava-se também contrária
à sua abolição,
ses abolicionistas. Durante esses
e depunha primeiros
um ministro anos
por
do século,
sustentar
te-
os sentimentos
e be rtá-f o s+e -de olvê-l"Os ao con'tiFre'F1t qüência dos seus esforços, fundou-se na África
a República
da
Horizontes
Escravo
Polfticos:
os Estados Unidos - 39
fugitivo de fato
esse trabalho
escravos do que para se desfazer todos os seus esforços, o número Pouco
a pouco,
o sentimento
serviu,
mais para libertar
de negros libertos. Apesar de escravos não diminuiu. abolicionista
de
foi se concen-
trando no Norte, enquanto que no Sul, onde a economia dependia da escravidão em grau muito maior, começou-se a buscar justificativas para continuá-Ia. A isto se acrescentava o te-
40 - A Era dos Novos Horizontes
mor dos brancos sulistas de que, uma vez libertados, os negros, que eram em número elevadíssimo, se tornassem uma ameaça.
Tais
opiniões
que,
em 1831, foi
com
outros
pareceram
dirigida
episódios
pelo
confirmar-se pregador
semelhantes.
ção no sul se dedicou
Logo
a demonstrar
com a rebelião
negro
como
Nat Turner,
boa parte
e
da prega-
a escravidão
era da
gista. vontade
divina,
e como
era grande
se tivessem permanecido mensagem do evangelho.
a ganância
na África, Enquanto
dos negros,
que,
nunca teriam ouvido a isso, no Norte, o senti-
mento anti-escravagista ia aumentando. A novela de Harrie Beecher Stowe, A cabana do Pai Tomás, sacudiu as consciências.
Na
começaram
Igreja
Metodista
a exigir
ti-escravagistas.
os abolicionistas
que se regressasse
Quando
em
norte-americanos
às antigas
1844 os abolicionistas
ram que a Conferência Geral condenasse que era dono de escravos, os metodistas
posturas
an-
consegui-
o Bispo da Geórgia, sulistas se separaram
Horizontes
do resto dista tas,
da igreja.
Episcopal pois
No ano
aconteceu
missionária
para formar a Convenção em 1857, os presbiterianos
Metodista
a igreja
Meto-
com
os batis-
se negou
a comis-
recomendado pela Convenção da Geórgia, os batistas desse estado e do resto do sul
da Igreja Presbiteriana Todas essas divisões Igreja
fundaram
parecido
a sua agência
sionar um elemento que tinha escravos, se reuniram Ihantemente,
seguinte,
do Sul. Algo
quando
os Estados Unidos - 41
Polfticos:
Batista do Sul. Semedo Sul se separaram
e fundaram sua própria perduraram até o século
conseguiu
reunir-se.
Também
denominação. XX, quando
a
os presbiteria-
nos voltaram a reunir-se, enquanto que os batistas do sul continuaram separados dos do norte. Das principais igrejas denominacionais, permanecer
somente a católica e a episcopal unidas, dando-se por desentendidas
conflito e seus motivos. Em 1861, seis estados
sulistas
romperam
conseguiram em relação ao com
o resto
nação e fundaram os Estados Confederados da América. depois, nesse mesmo ano, estourou o conflito armado. guerra,
tanto
as igrejas
do sul como
as do norte
respectivas causas: as do norte proclamando era desumana, e as do sul argumentando dela sem condená-Ia.
Embora,
vessem conseguido penetrar guerra mudou, e o principal cou devastado. sua derrota,
Quando,
a princípio,
apoiaram
suas
que a escravatura que a Bíblia falava as tropas
sulistas
ti-
no norte do país, logo o cu rso da campo de conflito foi o sul, que fi-
por fim,
o seu ressentimento
E esse ressentimento
da
Pouco Nessa
aumentou
quando, a pretexto de reconstruir se dedicaram a explorá-lo.
a Confederação
reconheceu
para com o norte na época o sul,
a
era grande.
da "Reconstrução", numerosos
nortistas
Nessas circunstâncias, as igrejas do sul preferiram permanecer separadas de suas supostas irmãs do Norte, e se tornaram
porta-vozes
da causa
perdida.
Entre
os brancos
do Sul
havia grande temor dos negros libertos, e houve numerosos púlpitos dos quais se fomentou esse temor e até se chegou a conclamar os brancos a tomar medidas contra os negros. Quando esses temores deram origem à Ku Klux Klan e seus atropelos, não faltaram pregadores que manifestassem o seu regozijo. De fato, até ocasião bem avançada no século XX, boa parte
dos membros
do Klan eram também
membros
de igrejas.
Enquanto isso, ao período da Reconstrução seguiu-se um acordo tácito entre os magnatas econômicos do Norte e os brancos do Sul. Deu-se liberdade a estes últimos para dirigir
42 - A Era dos Novos Horizontes
os assuntos vissem tado
políticos
e sociais
de obstáculos
foi
que a região
do norte
e reduzida
da região,
aos interesses acabou
sempre
nortistas
convertida
a condições
que não ser-
no sul.
em colônia
econômicas
O resul-
econômica
deploráveis.
Como
reação a essas condições, o ódio dos sulistas para com os brancos nortistas (os "yankees") e para com os negros se exacerbou ainda mais. Posto que os brancos sulistas não podiam exercer de maefetiva o seu ódio contra os "yankees", eles o manifes-
neira taram
contra
toda
idéia
que procedesse
ou parecesse
proceder
do Norte. Por isso, as igrejas continuaram separadas por muito tempo. Além disso, visto que tradicionalmente os principais centros
docentes
estavam
no
Norte,
logo
um anti-intelectua-
lismo agudo se apossou da mentalidade sulista. Toda idéia que, de algum modo, pudesse proceder do Norte era rejeitada unicamente vinham
por
essa
do Norte,
razão.
E, visto
o Sul se tornou
que
muitas
idéias
novas
cada vez mais conservador.
Por outro lado, o ódio contra os negros podia tornar-se efetivo. Durante o período da Reconstrução, o racismo sulista foi obrigado a se conter. Mas, depois, explodiu em uma série de práticas e leis, em prejuízo dos negros. Quando, em 1829, o Supremo Tribunal aprovou negros podiam ser tratados de",
surgiu
"leis
de Jim
uma
onda
Crow".
Enquanto
os tempos
entre
por
fim
as igrejas
os
negros
brancas
receberam
do
sul
e o macaco.
igrejas
uma jurisdição separada para ção se dissolveu e se integrou
freqüentado
essas mesmas
a que du-
igrejas
a nti= b lb lica , "o elo perdiXX, quando
se reuniram,
os negros. Depois, ao resto da igreja.
palavra's estão sendo os antigos territórios
leis
continuavam
Recomendou-se
Até o século
metodistas
de
ao voto,
pública, etc. Tais do século XX.
as haviam
Embora
o nome
o acesso
da evolução, por considerá-Ia às vezes que os negros eram
o ser humano
data em que estas Sudeste, que inclui
racistas.
que
da escravidão.
as diversas
que
declarando que os mas com eqüida-
aos negros
e as suas práticas
rejeitassem a teoria nelas se ouvia dizer do"
leis,
à melhor educação senão em meados
isso,
as abandonassem rante
dessas
Foi negado
aos lugares públicos, não foram ab-rogadas sua mensagem
a segregação, "separadamente,
criou-se
essa jurisdiPorém, até a
escritas, a Jurisdição da Confederação, não
Horizontes
os Estados Unidos - 43
Poltticos:
que Ao
mesmo
tempo,
as igrejas
brancas
depois
do Norte,
se
particu-
larmente a presbiteriana e a metodista, dedicaram-se a trabalhar entre os negros libertos do Sul. Assim, aconteceu que a maioria dos negros presbiterianos no Sul pertencia à igreja do Norte.
E o mesmo
acontecia
nião das igrejas. Todavia, também e desde
antes
nações bertos
no Norte
da Guerra
negras
Episcopal
por Richard do diácono
Allen, pelos
zou uma igreja petidos
Civil
que depois
do Sul: a Igreja
Metodista
os metodistas existiu
haviam
tiveram
Africana
com
da reu-
a discriminação
racial,
surgido
ali duas denomi-
impacto
Episcopal
de Sião.
um liberto metodistas
antes
grande
Metodista
metodista
conflitos
com
A primeira
que foi o primeiro norte-americanos.
para negros
a hierarquia
desta
vez
na
cidade
Igreja Metodista Episcopal minações desempenharam gros
do
Norte
e, depois
de
Nova
os li-
e a Igreja foi
fundada
negro Allen
ordenaorgani-
em Filadélfia, branca
porém
resultaram
riormente na fundação de uma denominação negros. Cinco anos mais tarde, em 1821, outro lhante,
entre
Africana
re-
poste-
separada para episódio seme-
Iorque,
deu
à
origem
Africana de Sião. Estas duas denoum papel importante entre os neda Guerra
Civil,
entre
os libertos
do
Sul. Ademais, elas se distinguiram por suas missões à África. Estas duas igrejas, e as muitas outras resultantes da expulsão
dos
negros
das
igrejas
brancas,
logo
se constituíram
numa das principais instituições da sociedade negra. Visto que a única posição de prestígio a que os negros tinham acesso relativamente livre era o ministério, durante um século, muitos dos negros mais notáveis foram pastores. Em algumas dessas igrejas se pregava a submissão à injustiça reinante, ligada à espera mais
da vida radical.
celestial. Porém,
Em outras
todas
negra o sentido de identidade tarde haveria de se manifestar
Da Guerra
Civil à Guerra
Os anos
se pregava
contribuíram
e de coesão que cem anos mais em sua luta pelos direitos civis.
Mundial à Guerra
que se seguiram
uma mensagem
para dar à população
Civil
testemunharam
a
44 - A Era dos Novos Horizontes
complicação das décadas
ainda maior dos problemas anteriores. O Sul, convertido
econômicos em colônia
e sociais econômi-
ca do Norte, se entrincheirou em seu racismo e an ti-In tetec-, tualismo. No Norte, a imigração produziu um enorme aumento da população
urbana,
e as estru-turas
eclesiásticas
ram cada vez menos capazes de responder desafio dessa população ou ao de muitos do Sul, que chegavam da.
No Oeste
em busca de melhores
continuou
a pressão
Em meio buíam destino
a tal diversidade,
para unificar providencial
condições
inexorável
dos índios, e a população de origem objeto de humilhação cada vez maior.
se mostra-
adequadamente ao negros procedentes sobre
espanhola
de vi-
as terras
estava
um dos elementos
sendo
que contri-
o país era a idéia de que este tinha para o bem do resto da humanidade.
um Em
geral, esse destino era visto em termos de superioridade racial, religiosa e institucional, ou seja, da superioridade da raça anglo-saxônica, da fé protestante e do governo democrático. Assim,
por exemplo,
já nos fins
do século,
o secretário
geral
da
Aliança Evangélica, Josiah Strong, declarava que Deus estava adestrando a raça anglo-saxônica para um grande momento, "a competição final entre as raças, para a qual a anglo-saxônica está sendo preparada". Então essa raça, que representaria "a mais ampla liberdade, o cristianismo mais puro e a mais elevada civilização", cumpriria o seu destino de desapossar as mais fracas,
assimilar
outras
e moldar
as demais,
até que hou-
vesse "anglo-saxonizado a humanidade". E esses sentimentos, expressos por um dos chefes da ala conservadora do protestantismo
norte-americano,
do liberalismo, reito de pensar
eram
semelhantes
que sustentavam livremente eram
aos dos
que o protestantismo a grande contribuição
chefes e o didas ra-
ças nórdicas, em comparação com o catolicismo e a tirania das raças do Sul da Europa, e que, portanto, os nórdicos tinham a responsabilidade resto do mundo. Tais
idéias,
de
civilizar
no entretanto,
as
raças
mais
contrastavam
"atrasadas" com
do
a realidade
urbana dos próprios Estados Unidos, onde os novos imigrantes viviam em condições de promiscuidade e exploração terríveis, carentes de todo as protestantes.
cantata
com as igrejas,
particularmente
O protestantismo respondeu a esse desafio de diversos modos. Um deles foi a fundação de várias organizações que se distinguiram por seu trabalho nas cidades. Delas, as que mais
Horizontes
êxito
tiveram
foram
Pottticos:
as sociedades
os Estados Unidos - 45
de jovens:
a Young
Men's
Christian Association (YMCA; no Brasil, ACM) para rapazes e a Young Women's Christian Association (YWCA) para mulheres. Trazidas
da Europa
em meados
ções se distinguiram viços
pelo
e programas,
do século
modo
como
não somente
XIX,
propiciavam
religiosos,
essas instituivários
mas também
serde la-
zer e educação. Outro modo pelo qual as igrejas protestantes responderam às necessidades das massas foi a escola dominical. Em uma época em que não se podia considerar como certo o fato de que as pessoas
estudavam
a Bíblia
no seio de suas famílias,
e em que o conhecimento das Escrituras parecia diminuir, esta instituição preencheu um grande vazio, ao ponto que chegou a haver igrejas em que a escola dominical passou a ter mais importância do que o culto. Em 1872, as principais denominações adotaram a prática de coordenar os textos bíblicos que estudavam a cada domingo, e isto por sua vez contribuiu para uma aproximação maior entre as igrejas. Contudo, os principais métodos, testantismo dos
respondeu
"avivamentos"
ao desafio
ao contexto
novas denominações. A principal figura meiros anos foi Dwight
através
urbano,
dos quais
foram
das cidades
e a formação
ele se dedicou
a levar
pessoas
em Chicago
uma igreja
no trabalho
independente. da ACM,
Ao mesmo
onde
evangelístico. Foi em 1872, enquanto virtude do seu trabalho com a ACM, pregar.
O resultado
se sentiu chamado meiro na Inglaterra do
constituía-se
foi tão bom a pregar e depois numa
que,
de vida cidade.
à sua igreja,
era congregacional. Mas, em 1861, decidiu dedicar-se mente a suas atividades religiosas, e dois anos depois envolveu
de
dos avivamentos urbanos em seus priL. Moody. Ele era um vendedor de sa-
patos em Chicago, que se sentiu comovido com a falta religiosa entre as massas populares daquela grande Primeiramente
o pro-
a adaptação
se distinguiu
tempo,
que
inteirafundou ele se
por seu zelo
estava em Londres em que se viu convidado a a partir
de então,
Moody
às grandes massas urbanas, prinos Estados Unidos. O seu méto-
pregação
simples
e emotiva,
concla-
mando as pessoas ao arrependimento e aceitar a salvação oferecida em Cristo Jesus. A sua mensagem tocava a alma das massas urbanas, embora não se ocupasse diretamente com os grandes problemas da cidade. Conforme Moody esperava, a conversão das massas levaria à melhora das condições de vida
46 - A Era dos Novos Horizontes
na cidade. Logo Moody teve numerosos imitadores, uns com maior do que outros. O "avivamento" tornou-se um dos fenô-
êxito
menos sores
característicos de Moody
das cidades
começaram
norte-americanas.
a fazer
Os suces-
uso das práticas
de organi-
zação e publicidade que se utilizavam nas empresas comerciais. Muitos tomaram providências para conseguir popularidade, convertendo as suas campanhas em grandes espe táculos. Por tudo isso, mente criticado.
já
no fim
do
século,
o movimento
era
forte-
A outra forma pela qual o protestantismo respondeu ao desafio urbano foi a criação de novas denominações, particularmente de inspiração wesleiana. dista, tanto nos Estados Unidos muitas
pessoas
que
deploravam
Dentro da tradição como na Inglaterra, a maneira
como
todista havia abandonado vários aspectos da Wesley. Isto havia acontecido paulatinamente, metodismo foi avançando na direção das classes pando-se
menos
com
os pobres,
particularmente
metohavia
a Igreja
Me-
pregação de conforme o médias, ocunas cidades.
Na Inglaterra, isto deu origem ao Exército de Salvação, fundado pelo pregador metodista William Booth e por sua esposa Catherine
Munford,
também
pregadora,
pois
uma das caracte-
rísticas do Exército de Salvação foi a sua ênfase na igualdade de sexos. O Exército de Salvação, ao contrário de muitas outras denominações surgidas de semelhantes impulsos, ocupouse das massas urbanas, religiosa, mas também sidades
materiais,
pobres,
dando-lhes
condições nominação
não apenas no que se refere à sua vida no que se relaciona com as suas neces-
e se distinguiu comida,
por
abrigo,
sua obra trabalho,
de auxílio etc.
Devido
aos às
de vida urbana nos Estados Unidos, esta nova deencontrou campo fértil nas cidades norte-america-
nas. sos
Ao mesmo tempo, surgiam nos Estados Unidos numerogrupos, quase todos de origem metodista, que sentiam a
necessidade
de voltarem
a se ocupar
das classes
mais
humil-
des, como Wesley havia feito. Como esses grupos enfatizassem a doutrina wesleiana da santificação, passou-se a chamá-los de "igrejas de santidade". A princípio, tais grupos não guardavam relações
i nstitucionais
entre
si, mas,
pouco
a pouco,
foram
se
organizando em novas denominações, das quais a mais numerosa foi a Igreja do Nazareno, surgida em 1908 da união de vários
grupos
de santidade.
Não
obstante,
a maior
força
do
Pottticos:
Horizontes
movimento
residiu
denominações
nas
muitas
minúsculas,
igrejas
os Estados
Unidos - 47
independentes,
que estavam
e nas
disseminadas
por todo
o país. A princípio, muitas das igrejas de santidade se caracterizavam por cultos em que se manifestavam os "dons do Espírito": as línguas, os milagres de cura, a profecia, etc. Embora muitos tenham paulatinamente abandonado tais práticas, estas apareceram de novo com redobrada força em 1906, na Missão da Rua Azusa, em Los Angeles. A partir desse "avivamento da Rua Az u sa ", o "fogo pentecostal" foi se espalhando por todo o país.
Visto
que
aquela
missão
tinha
membros
brancos
e ne-
gros, logo ocorreu um forte movimento pentecostal entre os negros. Ao mesmo tempo, entre os brancos, o movimento se estendeu não apenas entre pessoas de tradição wesleiana, mas em 1914, o diretor
de
uma publicação pentecostal convocou uma grande reunião "crentes no batismo do Espírito Santo", e de lá surgiram
de as
também
entre
Assembléias Estados grande como
batistas
de Deus,
Unidos. êxito
rurais,
e outros.
principal
Esta
entre
denominação
denominação,
as massas
e bem
Por fim,
depressa
norte-americanas, contaram
com
diversas partes do mundo. Outra denominação que tomou forma época, mas que havia estado em processo muito antes, é a dos Adventistas do século XIX, o batista William se a estudar dados
a Bíblia,
tirados
dos
outras,
tiveram
tanto
urbanas
missionários
em
definitiva por essa de formação desde
do Sétimo Dia. No princípio Miller, de Vermont, dedicou-
particularmente
de Daniel
vros da Bíblia, voltaria à terra
pentecostal
e muitas
com alguns
o livro
de Daniel.
de Gênesis
Miller chegou à conclusão no ano de 1843. A princípio,
Unindo
e de outros
li-
de que o Senhor ele não divulgou
essa convicção. Porém, logo se sentiu chamado a pregar e a convidar as pessoas a se prepararem para a Segunda Vinda. O seu êxito, e o de outros "1J.,jeimediatamente começaram a pregar
a mesma
mensagem,
foi enorme.
Centenas
de milhares
de
pessoas se convenceram de que o fim viria em 1843. Quando chegou essa data e nada aconteceu, quase todos os seguidores de Miller se sentiram enganados. Contudo, um pequeno grupo se reuniu ao redor dele e formou em Vermont uma igreja que continuava Cristo.
Assim
aguardando se passaram
a ns io sa rn e nte os anos,
a
Segunda
e o movimento
existindo até que apareceu a profetisa Ellen Harmon, me de casada era White. A sra. White, além de ter
Vinda
de
continuou cujo noinúmeras
48 - A Era dos Novos Horizontes
visões, foi uma magnífica organizadora que popularizou suas profecias em uma série de publicações. Pouco a pouco, diversos grupos surgidos, devido à pregação de Miller e outros como ele, foram se reunindo ao redor da sra. White, que,
em 1868, teve
lugar
a primeira
ventistas. Mediante o impulso demonstraram grande interesse
conferência
geral
as os de até
dos ad-
da sra. White, os adventistas por Medicina, dietética e mis-
sões. Além disso, mesmo desde antes da intervenção da sra. White, devido em parte aos seus contatos com os Batistas do Sétimo Dia, os adventistas haviam começado a guardar o sábado em lugar do domingo. 1915, o movimento contava
Quando a sra. White morreu em com milhares de adeptos, tanto
nos Estados Unidos como em várias outras nações. Por outro lado, o protestantismo norte-americano
tinha
de enfrentar desafios de caráter intelectual. Da Europa chegavam continuamente, além de imigrantes, novas idéias que colocavam derado
em dúvida como
grande
definitivo.
parte
do que antes
A Teoria
Darwin, criou uma grande agitação, tória da criação registrada no Gênesis. logos
tiveram
maior
cos que estavam Alemanha. Esses histórica
de vários
metodologia
livros
por
pois desafiava Todavia, entre
os estudos
consi-
proposta
históricos
por
a hisos teóe críti-
feitos na Europa, especialmente na punham em dúvida a autenticidade da Bíblia.
dos que se dedicavam
negar a veracidade nário ou milagroso. terizava-se
importância
sendo estudos
se havia
da Evolução,
Em muitos
casos, a própria
a esses estudos
os levava
a
de tudo o que pudesse parecer extraordiAdemais, esse ambiente intelectual carac-
um grande
otimismo
quanto
ao ser humano
e
suas possibilidades. Graças à Teoria da Evolução e ao progresso que ela acarretava, parecia aproximar-se o momento em que os humanos se mostrariam capazes de re so lver problemas que até então pareciam insolúveis. Tais idéias deram origem ao "<tit';erallsmo1', que antes de tudo foi uma tentativa para se compreender a fé cristã, de tal modo que ela se mostrasse compatível com aquelas idéias. O liberalismo não foi de forma co. Pelo contrário, a própria
alguma um movimento noção de "liberalismo"
monolítiimplicava
em liberdade para pensar de diferentes formas, desde se caísse no que os liberais chamavam de "superstição". aconteceu pessoas corrente
foi viram havia
uma
ampla
corrente
como uma negação um pequeno número
de pensamento
que não O que
que muitas
da fé cristã. Dentro dessa de radicais - os chamados
Horizontes
"modernistas" uma
-
religião
livros.
em geral
alguma tempo,
livro
entre
os liberais
pessoas da classe da época pareciam sociais
esse
muitas eram
eram
religiões
pessoas
obrigadas intelectuais
no nordeste
apenas e muitos
de profunda
por essa mesma do momento, e fir-
do país, e sobretudo
entre
média, para quem as questões intelectuais ser um desafio mais urgente do que as con-
dos trabalhadores
urbanos.
liberalismo causou pequeno impacto. A resposta não se fez esperar, rava
e a Bíblia
fé ao ser humano moderno. cabe-nos dizer que o liberalismo
principalmente
dições
a fé cristã
religiosa, que se sentiam a responder aos desafios
a tornar possível Ao mesmo mou-se
quem
e um grande
To davia,
erudição erudição
para
os Estados Unidos - 49
Poltticos:
liberalismo
uma
No Sul e no Oeste,
pois
muita
ao
próprio
ameaça
gente
o
conside-
centro
da fé
cristã. Em nível popular, o que mais se discutiu foi a Teoria da Evolução, e houve até tentativas para se dirimir a questão nos tribunais de justiça. Até o fim do século XX, continuava-se discutindo, em algumas regiões dos Estados Unidos, se as escolas públicas deviam ou não expor a Teoria da Evolução, e como deviam fazê-lo, para não contradizer a Bíblia. Entre os teólogos conservadores,
porém,
a questão
da evolução
era somente
um exemplo da forma como as novas idéias ameaçavam os "fundamentos" da fé, negando a autoridade das Escrituras. Logo a palavra "fundamentos" tornou-se o tema caracteda reação antiliberal, que por isso recebeu o nome de mentalismo'''. Em 1846, quando esse movimento começava a conside _ma ame-aça à
como perto cinco
das cataratas "fundamentos"
teriana
adotou
fe.
Todavia,
avam
o libe,alismo
foi em 1895, em uma reunião
do Niágara, que o movimento anunciou os da fé que não podiam ser negados sem
princípios
semelhantes.
A partir
de então,
e por
várias décadas, o fundamentalismo conseguiu a adesão maioria dos protestantes, particularmente no Sul do país. Por
outro
damentalismo ele também
lado,
é interessante
se declarasse serviu
para
defensor
dar origem
notar
que,
embora
da ortodoxia à novas
da
o fun-
tradicional,
interpretações
da
50 - A Era dos Novos Horizontes
mensagem bíblica. A sua ênfase na infalibilidade absoluta das Escrituras, e a sua rejeição de boa parte dos estudos históricos acerca da Bíblia, tornavam possível a criação de interpretações em que diversos textos se justapunham, para, assim, criar novas doutrinas. De todos esses esquemas, o que mais êxito teve foi o "dispensacionalismo", que assumiu várias formas, das quais a mais conhecida é a proposta por Cyrus Scofield. Esse teólogo dividia a história humana em sete "dispensações", das quais a sexta é a atual. Em 1906, ele publicou a "Bíblia de Scofield",
que
logo
obteve
grande
popularidade
em diversos
cír-
culos fundamentalistas. Assim o fundamentalismo aliou-se dispensacionalismo, embora nem sempre seguindo todos detalhes do esquema de Scofield. Nesse ínterim, o liberalismo
fazia
a sua contribuição
notável, mediante o que veio a ser chamado de "evangelho cial". A maior parte dos liberais, por pertencer às classes dias e instruídas,
não estava
interessada
nos graves
ao os mais somé-
problemas
das massas urbanas. Por isso, a maioria dos liberais não seguiu o caminho do evangelho social. No entanto, um pequeno núcleo dedicou-se com afinco a mostrar as relações entre as exigências
do evangelho
viam as massas urbanas. evangelho social, Walter tória
eclesiástica,
desde
e as condições
deploráveis
O mais famoso Rauschenbush,
em que vi-
dos proponentes do foi professor de his-
1897 até falecer,
em 1918. Todavia,
que o tornou famoso foi a sua insistência ajustar o sistema econômico norte-americano
na necessidade às exigências
o de do
evangelho. Segundo "ele, 'o liberalismo econômico, ou seja, a doutrina de que a lei da oferta e da demanda basta para regular a economia, resulta em grande desigualdade e injustiça social. Portanto, a tarefa dos cristãos é pôr limites a esse liberalismo e ao poder desenfreado do capitalismo. Ao mesmo tempo, os cristãos precisam ocupar-se da promulgação de leis que reorganizem a sociedade, de tal modo que se alivie o sofrimento
dos pobres,
e se faça mais justí
ç
a."
•
• 1. (Nota dos Editores) Alguns liberais de fato levantaram um clamor em favor das massas oprimidas de trabalhadores urbanos. Por outro lado, o liberalismo apressou a ruptura entre os crentes no evangelho da graça salvadora e os que apenas apoiavam mudanças sociais e pouco se interessavam no destino eterno dessas massas urbanas. Esta divisão se mantém até hoje; os liberais, dominando as denominações que aderem ao Conselho Mundial de Igrejas; e os evangélicos, esforçando-se para crescer numericamente, fundando igrejas e enviando missionários a todos os campos abertos para os receber.
Horizontes
o
ponto
em geral
de união
entre
era o seu otimismo
progresso
da sociedade.
Pottucos:
o evangelho
os Estados
social
e o liberalismo
à capacidade
quanto
No entanto,
Unidos - 51
humana
os proponentes
e ao
do evan-
gelho social não concordavam com os demais liberais, para quem bastava confiar no progresso natural da criatura humana e da sociedade capitalista. Para os proponentes do eva n qe l ho social, o progresso devia dirigir-se no sentido da justiça social. Tanto o liberalismo como o fundamentalismo o seu apogeu em períodos em que o progresso político México,
dos Estados Unidos parecia garantido. a abolição da escravatura e a guerra
alcançaram econômico e
A guerra com o com a Espanha,
em 1898 (que levou à anexação de Porto Rico e à independência de Cuba e, muito depois, das Filipinas), pareciam indicar que os Estados Unidos, e as raças nórdicas que neles predominavam, estavam destinados a guiar o mundo para uma época de progresso e prosperidade. Então estourou a Primeira Guerra
Mundial,
e muitas
esperanças. Todavia, responde ao próximo Novas
pessoas
começaram
a duvidar
de tais
a narrativa desses acontecimentos volume desta história.
cor-
religiões
Um dos fenômenos mais notáveis da vida religiosa norteamericana, durante o século XIX, foi o aparecimento de vários movimentos doutrinas,
de inspiração foram,
cristã,
pos surgidos dessa forma, os mais notáveis são os dos mons, os Testemunhas de Jeová e a Ciência Cristã.
mór-
os anos
Joseph
religiões.
da sua juventude,
Smith,
eram camponeses que estado de Nova Iorque,
novas
por suas práticas gru-
Durante
disso,
mas que,
Dos muitos
monismo,
antes
pareceu
ser
o fundador um fracasso.
e
do morSeus
pais
haviam emigrado de Vermont para o em busca de melhores condições eco-
nômicas, porém sem êxito. O jovem Joseph não tinha nenhum interesse nos trabalhos agrícolas, e dedicou-se a procurar tesouros ocultos, com base em supostas visões. Tais atividades ocasionaram-lhe conflitos com a lei, e em termos gerais o futuro profeta não era bem visto na comunidade. Então ele declarou que o "anjo Moroni" havia lhe aparecido, mostrandolhe uma coleção de placas de ouro, escritas em hieroglifos egípcios. Ademais, Moroni entregou-lhe duas "pedras de vidente" que lhe permitiram ler os hieroglifos. Escondido atrás de uma cortina, Smith dedicou-se a traduzir as placas em alta voz,
enquanto
que
outras
pessoas,
do outro
lado
da cortina,
52 - A Era dos Novos Horizontes
escreviam
o que
publicado
em 1830. No princípio
ele
ditava.
Assim
o Livro
surgiu
do livro
de Mórmon,
incluía-se
o testemu-
nho de várias pessoas que diziam ter visto as placas originais, antes de Smith declarar que Moroni as havia reclamado e levado de volta. No mesmo livro narrava-se a origem dos índios americanos, a partir da confusão de Babel. Depois de uma longa luta entre os índios bons e os maus, só dois restaram dos bons:
Mórmon
placas anjo,
de
e seu filho
ouro,
até
que
mostrou -as a Smith. Pouco tempo depois
Moroni.
Estes
Moroni,
dois
esconderam
as
reaparecendo
na forma
de
de publicado
o seu livro,
Smith
con-
tava com bom número de seguidores. Quando uma das muitas comunidades religiosas que então existiam nos Estados Unidos uniu-se a eles, os mórmons começaram a organizar-se em vida comunitária. tianismo
Segundo
eles, a sua nova religião
o que este havia sido
ção.
Smith
cada
vez
continuava mais
tendo
era para o cris-
para o judaísmo: novas
do cristianismo
visões,
ortodoxo.
a sua culminaque
o afastavam
Depois
de estabele-
cer-se durante algum tempo em Ohio, Smith e os seus mudaram pra Illinois, onde fundaram uma comunidade autõnoma com sua milícia própria, e que chegou a chamar Smith de "Rei do Reino
de Deus".
As tensões
com a sociedade
circunvizinha
tornaram-se cada vez maiores, ao mesmo tempo declarava candidato à presidência dos Estados primia
toda
oposição
ba enfurecida os linchou. A direção gham
Young,
às suas idéias.
agarrou do
o profeta
movimento
que guiou
que Smith se Unidos e su-
Posteriormente,
e um dos seus ficou
os mórmons
então
uma tur-
seguidores,
nas
mãos
(oficialmente
e
de Bri-
chamados
de "Igreja de jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias") para a região de Utah. Ali, eles fundaram um estado aut n o rn o , até ô
que, em 1850, em sua expansão na direção do Oeste, os Estados Unidos se apossaram daquela região. Isto ocasionou novos conflitos, particularmente porque dois anos depois Young clarou que Smith havia tido uma visão, até então guardada segredo, ordenando entre os mórmons
a poligamia. e os Estados
Em 1857, explodiu Unidos. Mais tarde,
deem
a guerra os mór-
mons foram se amoldando à vida norte-americana, deixando de lado o seu espírito visionário e comunitário, acomodandose à classe média e, por fim, em 1890, abandonando a poligamia de modo oficial, embora muitos tenham continuado a praticá-~a
por
muito
tempo.
A
partir
de
então,
eles
se torna-
Horizontes Po/fticos: os Estados Unidos - 53 ram
uma
dores.
grande
E através
força
política
da sua obra
no estado
versas partes do mundo. Os testemunhas de Jeová são muitas pessoas nos Estados Unidos onde
esperavam
pos futuros Russell, foi arraigado
encontrar
de Utah
missionária,
chaves
e seus arre-
estenderam-se
a di-
resultado do modo como começaram a ler a Bíblia
escondidas
acerca
dos tem-
e do fim do mundo. O seu fundador, Charles Taze também expressão do sentimento profundamente
nas classes
mais
inferiores,
contra
a ordem
política,
econômica e religiosa. Por isso, ele declarou que os três grandes instrumentos de Satanás eram o governo, os negócios e as igrejas. Além disso, pronunciou-se contra a doutrina trinitariana e a da divindade vinda
havia tido O ano
de Jesus,
lugar
de 1914,
e declarou
que a sua segunda
em 1872, e que o fim ocorreria embora
tenha
trazido
em 1914.
a Primeira
Guerra
Mundial, não trouxe o esperado Armagedom, e Russell morreu dois anos depois. O seu sucessor foi Joseph F. Rutherford, mais conhecido como "o juiz Rutherford". Foi este que, em 1931, deu ao movimento e o organizou na forma publicitária, ao mesmo de Russell,
de acordo
o movimento do.
cresceu
A Ciência de uma
Cristã
grande
vários pontos maniqueísmo
o nome
de "Testemunhas
de Jeová",
de uma grande máquina tempo que reinterpretava
com os novos rapidamente
A partir
em diversas
é a principal
tradição
tempos.
religiosa
expressão que
missionária e as profecias partes
de então, do mun-
norte-americana
temos
encontrado
em
da presente História, ao abordar o gnosticismo, o e o espiritualismo de Swedenborg. Em termos
gerais, esta tradição afirma que o mundo material é, ou imaginário ou de importância secundária; que o propósito da vida humana está em viver em harmonia com o Espírito universal; e que
as Escrituras
chave muns.
espiritual, A fundadora
devem
ser interpretadas
geralmente da Ciência
desconhecida Cristã,
Mary
com
base em uma
pelos Baker
cristãos Eddy,
co-
sofreu
diversas enfermidades desde a sua juventude, aparentemente várias delas de caráter emocional. Casada e enviuvando duas vezes, pobre e enferma, vítima de dores que a levaram ao uso inútil
da morfina,
Mary
Baker
recorreu,
por fim,
a P. P. Ouim-
by, que sustentava que a enfermidade não passava de um erro, e que o conhecimento da verdade bastava para curá-Ia. Curada por Ouimby, ela se dedicou a tornar conhecidas as suas idéias,
54 - A Era dos Novos Horizontes
até que,
por ocasião
da morte
sua principal expoente. Vários anos depois, meira
edição
do seu mestre,
em 1875,
Mary
converteu
Baker
-se em
publicou
a pri-
Fé e Ciência, com chave das Escritu-
do seu livro
ras. Este livro,
que durante a vida de sua autora foi publicado 382 vezes, tornou-se o manifesto fundamental da nova doutrina. Nele, Mary Baker (que tomou de seu terceiro esposo o sobrenome xia cristã etc.),
de Eddy) utilizava ("Deus", "Cristo",
ao
mesmo
tempo
os termos tradicionais "Jesus", "Salvação",
que
tual"diferente
do tradicional.
interpretações
gnósticas
lhes
dava
Nisto
um
da ortodo"Trindade",
sentido
"espiri-
ela nos leva a recordar
da Bíblia,
onde
palavras
como
as
"ver-
dade", "vida" e outras tomavam um sentido diferente do comumente adotado. Em todo caso, de maneira semelhante a Quimby, Mary Baker Eddy sustentava que as enfermidades não eram nada mais do que um erro mental, resultado de uma perspectiva correr
equivocada,
a médicos
e que
nem
para
curá-Ias
que Jesus empregou, e que agora ela havia igual modo, o conhecimento dessa "ciência" dade
e prosperidade
-
segundo
no rte - a merica na. Em 1879, fundou-se Cristo,
que
logo
adeptos
a classe
a Igreja em
re-
espiritual
redescoberto. De produziria felici-
as entendia
oficialmente
congregou
não se devia
mas à "ciência"
a remédios,
média
Científica
diversas
de
partes
do
país, e dois anos depois Mary Baker fundou em Boston "Colégio Metafísico" onde se adestravam os "praticantes"
um (e
não "pastores") da nova fé. Mary Baker Eddy dedicou-se então, a centralizar cada vez mais o governo da Ig reja Científica de Cristo. A de Boston foi declarada "Igreja verdadeiramente
Mãe", à qual deviam pertencer todos os que quisessem ser membros da Igreja Científica
de Cristo. Ao mesmo tempo, tomaram-se algumas medidas para evitar que se introduzissem mudanças doutrinárias no movimento.
Mary
Baker
Eddy declarou
que a segunda
vinda
de
Cristo havia acontecido na inspiração divina que a tinha dirigido a escrever o seu livro. Para evitar qualquer desvio doutrinário,
os
leitura Eddy,
alternada de textos "a fim de que não
doutrina
sermões
divinamente
foram
proibidos, selecionados se misturem
inspirada".
sendo
substituídos
pela
da Bíblia e do livro de erros humanos com a
Esses textos,
selecionados
e
ordenados por Mary Baker Eddy, são lidos até o dia de hoje no culto da Igreja Científica de Cristo, alternadamente, por um
Horizontes
Políticos:
homem e uma mulher, pois as mulheres de destaque no movimento.
os Estados
tiveram
Unidos - 55
sempre
lugar
A "Igreja Mãe" de Boston Apesar da saúde e da felicidade que suas doutrinas prometiam, os últimos anos da vida de Mary Baker Eddy foram períodos de dor e desassossego. Suas dores físicas não eram
56 - A Era dos Novos Horizontes
aliviadas,
a não ser com
doses
repetidas
gústia espiritual era tal que ela achava de estar rodeada dos seus seguidores
de morfina,
e sua an-
que tinha a necessidade para evitar as ondas de
"magnetismo animal" de seus inimigos. Assim terminamos o nosso rápido panorama do cristianismo norte-americano durante o primeiro século posterior
à independência apresenta um norte-americana, acerca
do
país.
Ficou
claro
mosaico tão complexo e que talvez o leitor
de um número
ções" e movimentos. seguiram, marcaram
tão grande
que
várias
regiões
cristianismo
e complicado
de "denomina-
Porém esses anos, e as décadas que os a grande época de expansão da influência
norte-americana; portanto, o cristianismo estudar, com todas as suas características te-americanas,
esse
como o da sociedade se sinta confuso ao ler
deixou do mundo.
a sua
marca
sobre
que acabamos de peculiarmente noro cristianismo
em
II Horizontes Políticos: Europa Não existe sistema religioso nem superstição alguma que não se baseie no desconhecimento das leis da natureza. Os criadores e defensores de tais disparates não previram o progresso da mente humana. Convencidos de que em sua época se sabia tudo o que se deveria saber, ... construírem os seus sonhos sobre as opiniões daquele tempo. Antoine-Nicolas
Na
Europa,
profundas nha
havido
reram
abalos
na França,
Revolução
os últimos
convulsões
anos
políticas
em diversos na série
de Condorcet
do século
e sociais. países,
XVIII
trouxeram
Embora, os mais
de acontecimentos
de fato,
te-
notáveis
ocor-
conhecidos
como
Francesa.
A Revolução Francesa Luiz XVI (o mesmo que em 1787 decretou a tolerância para os protestantes franceses) não foi administrador hábil nem político nómicas da
sábio. França
Durante o seu reinado, as condições ecose deterioraram, ao mesmo tempo que os
gastos do Rei e de sua corte aumentaram desmesuradamente. Desprovida de fundos, a coroa procurou obtê-los do clero e da nobreza, dois grupos que tradicionalmente sempre haviam sido isentos de impostos. Diante da resistência que era de se esperar, Estes
o Rei e seus eram
"ordens":
uma o clero,
do Rei era utilizar
ministros
espécie
convocaram
de parlamento,
a nobreza os Estados
e a burguesia. Gerais
os Estados
Gerais.
constituído
por
Como
o propósito
para vencer
três
a resistência
58 - A Era dos Novos Horizontes
do clero
e da nobreza,
vocação
se fizesse
a
burguesia,
duas.
tivesse
Sob a direção
os seus ministros
de tal modo maior
representação
do primeiro
sugeriram
que a Terceira ministro
do
que a con-
Ordem, que
Necker,
a saber, as outras
um banquei-
Luiz XVI ro protestante em quem o Rei confiava para obter os fundos necessários, os Estados Gerais foram convocados. Além de dar
Horizontes
à Terceira breza vam
Ordem
somados, que
entre
não apenas
tanta
representação
a convocação
ca, mas também
dos
quanto
e as regras
os representantes
da hierarquia,
do clero
em sua quase
curas
locais,
Políticos:
gente
Europa - 59
a do clero
de eleição
e no-
assegura-
houvesse
delegados
totalidade
aristocráti-
do povo
que se mos-
traria
disposta a tomar medidas contra a aristocracia. Quando, por fim, foram abertas as sessões dos Estados Gerais, em 4 de maio de 1789, a Terceira Ordem contava com
mais representantes do que as outras tre os quase trezentos representantes
duas combinadas, do clero, menos
terço
curas
era de prelados.
Os demais
eram
do povo,
ao mesmo tempo que representavam a igreja, da simpatia para com as queixas da população. Tão
logo
foram
convocados
os quais,
sentiam
os Estados
Gerais,
e ende um profun-
o conflito
surgiu. A Terceira reunir-se em uma
Ordem insistia em que a assembléia devia única câmara, e as decisões deviam ser to-
madas
de votos.
por maioria
te, preferiam
as sessões
O clero
e votações
e a nobreza, em separado,
por sua parde modo
que
ambos os grupos tiveram dois burguesia. Todavia, a Terceira
votos frente ao voto único da Ordem mostrou-se inflexível.
Uns poucos
com
curas,
desgostosos
prelados, uniram-se junho, declarou-se de qualquer
forma,
à Terceira "Assembléia contava
a atitude
Ordem que, Nacional",
com
a maioria
aristocrática
dos
por fim, em 17 de reclamando que, dos votos
dos Esta-
dos Gerais. Dois dias depois, o clero votou a favor da união com essa assembléia. No dia seguinte, quando os delegados dessa assem bléia verificaram que o governo havia fechado a sua sala de sessões, ele se reuniram em uma quadra de tênis e fizeram um voto solene de não se dispersarem enquanto não dessem uma constituição à França. Nesse
ínterim,
as dificuldades
econômicas
iam aumentan-
do, e a fome se fazia cada vez mais geral entre as baixas camadas da população. O Rei e os seus, por sua parte, aquartelaram tropas nas cercanias de Paris, e se desfizeram de Necker. A reação
popular
não
se fez esperar.
Por
toda
a cidade
houve
motins que chegaram ao auge quando, em 14 de julho de 1789, o povo amotinado se apoderou da Bastilha, um castelo velho que servia
de prisão
para os inimigos
do Rei.
A partir de então, os acontecimentos se sucederam vertiginosa rapidez. O Rei capitulou ao ordenar à nobreza
com e ao
clero que se reunissem com a Terceira Ordem para formar uma Assembléia Constituinte. Esta assembléia promulgou então a
60 - A Era dos Novos Horizontes
A tomada da Bastilha foi o início simbólico de uma revolução irresistível. Declaração dos direitos do homem e cidadão, que veio a ser um dos documentos tanto na França
fundamentais dos movimentos democráticos, quanto em outras partes do mundo. Quando o
Rei se negou a aceitar esta e outras ações da Assembléia, o povo de Paris se sublevou, e a partir de então a família real ficou praticamente prisioneira em Paris. Seguindo
as linhas
direitos, e pelos filósofos rior,
que
bléia
reorganizou
assuntos timo
advogavam políticos
traçadas por sua própria Declaração de a que nos referimos no volume ante-
uma
ordem
o governo e fiscais,
o passo decisivo ção civil do clero, em 1790. séculos
a igreja
foi
diferente,
não apenas
mas também
campo,
Durante
política
nacional,
religiosos.
a promulgação
francesa
havia
a Assemquanto Neste
aos úl-
da Constitui-
se orgulhado
de
Horizontes
suas "liberdades
gau lesas",
Políticos:
à autoridade
frente
Europa - 61
romana.
Logo,
a Assembléia Constituinte, que se considerava depositária da soberania nacional, tinha razões para se considerar também autorizada a reorganizar a vida eclesiástica. Essa reorganização de qualquer forma muitos. Os altos cargos totalidade por membros
era necessária, pois os abusos eram eclesiásticos, ocupados quase em sua da aristocracia, não eram utilizados
para pastorear a grei, mas para o benefício pessoal dos homens que os ocupavam. Vários dos antigos mosteiros e abadias haviam se tornado centros de folgança, e altos salários eram
pagos
aos privilegiados.
Tudo
isto
requeria
também havia na Assembléia Constituinte delegados que se consideravam instruídos igreja
não passava
de um baluarte
Em
geral,
Quase
o tudo
propósito o que
da
Mas
um bom número de e que criam que a
de superstição
gios sociais. Assim, na promulgação ro conjugaram-se diversos interesses igreja.
reforma.
e de privilé-
da Constituição e opiniões.
Constituição
nela se estipulava
civil do cle-
era
reformar
beneficiava
a
a vida
religiosa. O problema estava na questão de se a Assembléia tinha ou não o direito de reformar a igreja, como diziam alguns, "sem consultar a igreja". Quem era essa "igreja" que devia ser consultada, não estava claro. Alguns defendiam um concílio nacional. Mas a Assembléia Constituinte não podia se dar ao luxo de convocar tal concílio, que seria dominado pelos prelados e daria nova culminância aos Outros sugeriam que se consultasse
privilégios da aristocracia. o papa, e esse foi o cami-
nho que o Rei seguiu antes de sancionar o que fora promulgado pela Assembléia. Mas isto por si mesmo parecia ser uma violação da soberania nacional. Ao mesmo tempo, visto que a própria Assembléia havia revogado as leis sobre os dízimos, parecia necessário que ela mesma se fizesse responsável pela reorganização e sustento da igreja. Quando o papa, na epóca Pio VI, comunicou ao Rei que a Constituição roso
pela
era cisrn átl ca e que não a aceitaria,
reação
da Assembléia,
o Rei, teme-
não deu a conhecer
a decisão
pontifícia, e continuou fazendo dasse de opinião. Posteriormente,
gestões para que o papa mulevada a posições cada vez
mais
decretou
extremadas,
a Assembléia
vessem cargos eclesiásticos a Constituição civil do clero, cargos.
Já a essa altura
pressão
da Assembléia,
que todos
os que ti-
deviam aceitar com juramento sob pena de perder os referidos
o Rei havia e se havia
capitulado declarado
mais a favor
uma vez à da Consti-
62 - A Era dos Novos Horizontes
tuição civil, com a ressalva
de que esperava
que o papa a apro-
vasse. O resultado teoria,
o único
seria
foi
que toda
castigo
a deposição
a igreja
que os "não
de seus cargos.
francesa
se dividiu.
juramentados" Com
Em
receberiam
base na Declaração
dos
direitos, não se lhes podia privai" sua liberdade de consciência, e quem quisesse continuar a considerá-los como sacerdotes poderia fazê-lo, com a única ressalva de que precisariam cobrir os seus próprios gastos, enquanto que os "juramentados" seriam
sustentados
dade logo mentados,
economicamente
pelo
governo.
Mas na reali-
se desencadeou a perseguição contra os não-juraa quem se considerava suspeitos de falta de patrio-
tismo
ou de sentimentos anti-revolucionários. Enquanto isso, no resto da Europa, os elementos revolucionários, que pouco antes haviam sido derrotados em diversas intentonas nos Países Baixos (Holanda) e Suíça, cobravam novo
alento,
ao mesmo
cracias
temiam
cutisse
em
mais
força
que
seus
Meio
no novo
ano
Prússia,
próprios
mais
fato
sucedendo
grupo
havia
muito
lugar menos
declarava
que se iniciou
por
deu
Quando,
em
à Assembléia vozes
guerra
uma série
reper-
sua vez,
na França.
cedeu
a França
e as aristo-
na França
Isto,
extremistas
Constituinte
tarde,
com
que as monarquias
territórios.
aos elementos
1791, a Assembléia gislativa,
tempo
o que estava
Le-
moderadas.
à Áustria
de conflitos
e à
bélicos,
que continuaram quase sem interrupção até o fim das guerras napoleônicas, em 1815. Quando a guerra com a Áustria e a Prússia tomou um rumo indevido, a inimizade da Assembléia se voltou contra o Rei, de todas as formas simpatizantes dos aristocratas batalha
e dos
de Valmy,
monarcas em que,
estrangeiros. por
fim,
No dia
os franceses
seguinte
à
conseguiram
deter o avanço dos prussianos, a Convenção Nacional ocupou o lugar da Assembléia Legislativa. Em sua primeira sessão, a Convenção
aboliu
a monarquia
e proclamou
a república.
Qua-
tro meses mais tarde, o Rei, condenado por alta traição, era executado. Em poucos meses, na região de Vendée, produziuse um levante sanguinolento, especialmente por parte de camponeses pobres exasperados com o governo da bu rguesia, que só havia conseguido desmantelar a economia sem resolver as dificuldades
da classe
baixa
rural.
A pressão
por
parte
das po-
tências estrangeiras aumentava. Em todo o país desencadeouse uma onda de terror que, um apó so ut r o , foi levando para a guilhotina todos os principais chefes revolucionários.
Horizontes
A tudo cristianismo,
Polfticos:
isto se acrescentou uma forte tanto protestante como católico.
Europa - 63
reação contra o Os novos chefes
da revolução estavam convencidos de que eram arautos de uma nova era em que a ciência e a razão se sobreporiam a todas as superstições e sistemas religiosos, que, afinal de contas, não passavam de produtos da ignorância humana. Com o nascimento dessa nova era, chegava o tempo de deixar de lado as superstições da velha era. Foi com base nessas idéias que a Revolução Francesa criou a sua própria religião, que se chamou primeiramente "Culto à Razão", e depois "Culto ao Ser Supremo". Levada a seus extremos,
a Revolução
não se ocupou
mais
de fazer valer
a Constituição civil do clero, mas preferiu criar a sua própria religião, com suas cerimônias próprias. A princípio, isto não foi política oficial do governo, país, onde pessoas ilustres, gião
se conformasse
campanha
de
com
mas surgiu procurando a nova
em diversas partes do fazer com que a reli-
era, começaram
"descristianização".
uma grande
Ulteriormente,
o governo
nacional assumiu a direção do novo movimento. Como dele, aboliu-se o velho calendário e criou-se um outro "razoável", com nomes de meses tomados "Bruma rio", "Vendimiário" e "Termidor",
parte mais
da natureza, como e com semanas de
dez dias. A isto se acrescentaram grandes cerimônias que ocuparam o lugar das antigas festividades religiosas. A primeira delas foi a procissão e as cerimônias que acompanharam o traslado dos restos mortais de Voltaire para o "Panteão da República". Depois foram construídos templos à Razão, foram criados "santuários" que incluíam, junto com Jesus, Sócrates, Marco Aurélio e Rousseau, e foram inventadas cerimônias para os casamentos, dedicação de filhos à Liberdade e funerais. De certo modo, os esforços da parte do governo para criar uma nova religião com base em cerimônias civis e em decretos oficiais fazem-nos lembrar as tentativas fracassadas de Juliano, o apóstata, muitos anos antes, de ressuscitar o antigo paganismo. De maneira
semelhante
ao paganismo
de Juliano,
ao Ser Supremo" carecia de força vital, e desapareceu deixou de ser política oficial do governo. Tudo
isto
não passaria
milhares de vidas bar dos "galileus" tores
da nova
liberalidade.
de algo
ridículo,
que custou. Juliano se havia e a fomentar o paganismo.
religião
francesa
Teoricamente,
usaram
o culto
tão logo
a não ser pelas limitado a zomMas os promo-
da guilhotina
cristão
o "Culto
com cruel
era permitido.
Mas
64 - A Era dos Novos Horizontes
qualquer clérigo que se negasse a prestar juramento à Liberdade, ou qualquer pessoa que tivesse o menor contato com forças ou idéias opostas às da Revolução, era guilhotinado. sim morreram entre dois mil e cinco mil sacerdotes, várias
Asde-
zenas
que
de
freiras
morreram
e numerosos
nos cárceres
também
leigos. foi
E o
número
avultado.
dos
Posteriormente,
não somente a igreja dos que se haviam negado a prestar juramento, mas também a dos juramentados, e a protestante, sofreram tais pressões que quase chegaram a desaparecer. (É triste dizê-lo, mas o protestantismo francês, a antiga "igreja do deserto", não contou nessa hora com os vigorosos heróis que foram refa
de
a glória
do catolicismo.
reconstrução
do
Passada
protestantismo
a Revolução,
foi,
portanto,
a tamuito
mais árdua do que a do catolicismo). Embora a onda de terror tivesse amainado em 1795, a política do governo continuou sendo anti-cristã. Ao mesmo tempo, as vitórias militares do regime revolucionário na Suíça, Itália rios.
e na Holanda
estenderam
Em 1798, os franceses
e da própria
pessoa
a França. Porém,
no fim
essa
política
se apossaram
de Pio VI, a quem do século,
levaram
Napoleão
a novos
territó-
dos territórios
papais
prisioneiro
Bonaparte
para
ia adqui-
rindo proeminência na França, até que se apossou do poder mediante o golpe de estado de 18 de Brumário do ano VIII da Revolução (9 de novembro de 1799). Pio VI havia falecido, ainda nas mãos
dos franceses,
alguns
meses antes.
Mas Napoleão
estava convencido de que a melhor política não era a de tornar-se inimigo da igreja católica, mas ao contrário. Logo ele começou negociações com o novo papa, Pio VII. Conta-se que, ao enviar um emissário a Roma, Napoleão o mandou dizer ao papa que desejava "presenteá-lo" com quarenta milhões de franceses".
Por fim,
em 1801, chegou -se a um acordo
entre
o
papado e o governo francês. Nesse tratado reconhecia-se que a religião católica era a da maioria dos franceses, e estabelecia-se
a forma
pela
qual
os bispos
e curas
seriam
nomeados,
de tal modo que se salvaguardaram tanto os interesses do Estado como os da igreja. Três anos mais tarde, quando Napoleão decidiu que o título de "cônsul" não lhe bastava, assumiu o de "imperador", Nossa tempo
e como
Senhora de Paris, que se aproximava
nado a liberdade
religiosa
talo
coroou
Pio VII,
na catedral
de
a 2 de dezembro de 1804. Ao mesmo de Roma, Napoleão havia determipara os p r o te st a nte s.
Horizontes
Pottticos:
Europa - 65
De certo modo, o papado saiu ganhando de todas estas vicissitudes. Até então, as "Iiberdades da igreja gaulesa" haviam
z elo sarne nte
sido
como
pelos
defendidas,
bls po's, ~o país.
tanto
Mas agora,
pelos
reis
ao chegar
franceses
o momento
de reorganizar a vida eclesiástica da França, Napoleão rou manter negociações diretas com o papa, que por assumiu sobre a igreja francesa, com o beneplácito dor, uma autoridade que os seus predecessores podido exercer. Mas aquela ções
do
paz
imperador
não
durou
muito
tempo.
com
a firmeza
se chocaram
viu seus territórios invadidos sioneiro dos franceses. Ainda
procusua vez
do irn o e r anão tinham
Logo
as ambi-
do papa,
que
de novo, e por fim acabou prino meio do seu cativeiro, Pio VII
negou-se a dobrar-se diante do Imperador, cujo divórcio de Josefina lhe acarretou novos conflitos com a Igreja Católica. Estes conflitos não amainaram até a queda de Napoleão, quando
Pio
VII,
uma anistia e intercedeu
restaurado
à sua
sede
em
Roma,
concedeu
geral a todos os que haviam sido seus inimigos, perante os ingleses para que estes garantissem
que Napoleão
seria
tratado
digna
e humanamente.
A nova Europa As parte
guerras
napoleônicas
da Europa.
candinávia,
várias
pois
da derrota
viam
vencido
ciaram
entre
haviam
Na Espanha,
casas reinantes
de Napoleão, -
Inglaterra,
si a forma
o caos
a boa
Itália,
Holanda
e Es-
sido
destruídas.
haviam
as principais Aústria,
que
levado
Portugal,
Prússia
passaria
a ter
potências e Rússia o mapa
De-
que o ha-
nego-
político
da
Europa. A França riores à Revolução,
regressou às suas antigas fronteiras antee a casa de Bourbon foi restaurada na pes-
soa de Luiz
irmão
XVIII,
de Luiz
XVI.
Fernando
VII,
da Espa-
nha, e outros vários monarcas depostos por Napoleão, foram restaurados. João VI, de Portugal, que se havia refugiado no Brasil, demorou algum tempo a voltar a Lisboa, e quando o fez, deixou o governo do Brasil nas mãos de seu filho Pedro. Holanda e Bélgica ficaram unidas sob uma só coroa. Na Suécia continuou
reinando
Napoleão,
que havia
O que
Bernardotte, dado
se esperava
provas com
um dos antigos
marechais
de ser bom governa
esses
arranjos
de
nte.
era garantir
a paz
na Europa, que de certa forma estava aos cuidados das quatro potências vencedoras de Napoleão. E de fato, com exceção da guerra da Criméia, de 1854 a 1856, e da guerra entre Fra nça
66 - A Era dos Novos Horizontes e Inglaterra,
entre
1870 e 1871,
em relativa paz internacional. Todavia, debaixo dessa de cada origem nos.
país
e em
a repetidas
Um dos
alemão
cada
principais
motivos
Esses dois política
do século
paz internacional
região,
conspirações,
e italiano.
do a sua unidade
o resto
transcorreu
existiam,
tensões
internas
revoltas
e quedas
de tensão
países ainda
dentro
que
deram
de gover-
era o nacionalismo não haviam
alcança-
e em cada um deles se debatia
acerca
do modo de alcançá-Ia. A tais aspirações se opunha a Áustria, cujos domínios careciam de unidade cultural e nacional, e incluíam extensas porções da Alemanha e da Itália. Sob a direção de Metternich, chanceler da Áustria, criou -se todo um sistema de espionagem internacional, com o propósito avanço de movimentos nacionalistas na Alemanha das correntes
liberais
e socialistas
que existiam
de deter e Itália,
em toda
o e
a Eu-
ropa.
o
liberalismo
confundir
com
econômico
e
o teológico)
era
político
(que
expressão
não
dos
se
interesses
deve da
crescente burguesia mercantil e capitalista. Esta classe via com bons olhos a teoria econômica do laissez-faire - do "deixar fazer" - segundo a qual a lei da oferta e da procura bastava para regular a ordem econômica. Os governos não deviam para regulamentar o comércio nem o uso do capital. essa fosse sando
a época
o seu
também
era
precisamente
em que
maior a época
impacto
a revolução sobre
em que
se criaram
a base do laissez-faire.
industrial
o continente
estava europeu,
os grandes
Quanto
intervir Embora cauessa
capitais,
às classes
sociais
baixas, pensava-se simplesmente que, com o desenvolvimento industrial, a sua condição econômica melhoraria, e desse modo todos
sairiam ganhando. A essas idéias econômicas
se uniam
freqüentemente,
em-
bora não sempre, as do liberalismo político, que punha grandes esperanças no sufrágio universal (embora quase sempre unicamente
das pessoas
do sexo masculino),
constitucionais ao estilo inglês. A luta entre estas idéias e o absolutismo diversos veu.
Na
e nas monarquias tradicional
teve
resultados,
de acordo
com o país em que se desenvol-
Espanha,
Fernando
VII
regressou
ao
absolutismo
pré-revolucionário. Na França, Luiz XVIII, mais prudente, estabeleceu um sistema parlamentar. Na Alemanha, a Prússia tornou-se campeã do nacionalismo, enquanto que a Áustria sustentava a velha ordem social. Na Itália, uns buscavam a
Horizontes
Pollticos:
Europa - 67
unidade nacional, sob a direção do Reino de Piemonte e Sardenha; outros procuravam estabelecer uma república; e ainda outros viam no papado o centro da futura Em 1830, a Bélgica tornou-se independente sa luta
as questões
religiosas
tiveram
unidade nacional. da Holanda, e nes-
um
papel
importante,
pois a Bélgica era católica, enquanto que a Holanda testante. Nesse mesmo ano, elementos republicanos ram derrotar a monarquia francesa. cançado o seu objetivo, conseguiram sucedido
a seu irmão
lipe de Orleans, se coroado
Luiz XVIII,
um monarca
era proprccura-
Embora não tivessem alque Carlos X, que havia
fosse
de idéias
deposto, muito
e que Luiz Fe-
mais liberais,
fos-
em seu lugar.
O ano de 1848 trouxe Grã-Bretanha, promulgou derrotado,
novas
Suíça e França
revoluções.
houve
Na Itália,
motins
e levantes.
uma nova constituição. E, na França, e proclamou-se a Segunda República,
até 1851, quando
Luiz
Napoleão,
sobrinho
Bélgica, A Suíça
Luiz Felipe foi que perdurou
do falecido
Impera-
dor, apoderou-se do poder e assumiu o título de imperador, com o nome de Napoleão III. Também em 1848 caiu Metternich na Áustria. E - fato que a princípio passou quase despercebido -
nesse
mesmo
ano
Marx
e Engels
o Manifesto co-
publicaram
munista. milo
O mapa da Itália começou de Cavou r foi nomeado
Piemonte, (Napoleão
a mudar, primeiro
pouco depois que Caministro do Reino de
em 1852. Com a ajuda de Luiz Napoleão, da França III), Cavou r começou a tarefa de unificação italiana.
Por ocasião novo Reino
da sua morte, em 1861, só não tinham se unido da Itália os territórios de Veneza e de Roma.
primeiros foram contra a Áustria.
anexados
em
1866,
Os estados
pontifícios
seguiram
ao Os
com
a ajuda
da Prússia
uma
história
acidentada
durante todo esse período. Em 1849, a onda revolucionária que varreu a Europa levou à criação de uma "República Romana", e o papa
Pio IX, refugiado
em territórios
taurado pelas tropas de Napoleão ça, os estados papais conseguiram constantemente tre
França
apoderou-se Víctor
ameaçada.
e Alemanha,
Por fim,
por ocasião
em 1870, o rei Víctor
de Roma e com isso completou Manuel
napolitanos,
concedeu
então
foi
res-
III. Sob a proteção da Franmanter uma independência da guerra
Manuel,
a unidade
ao papa, além
en-
da Itália, nacional.
de uma
boa
renda anual, os palácios do Vaticano, de Latrão e de Castelgandolfo, com direitos de extra-territorialidade e de soberania.
68 - A Era dos Novos Horizontes
Porém,
Pio IX declarou
passaram-se liano,
anos
que isso não era aceitável
de tensão
entre
o Vaticano
até que em 1929, ao se firmarem
papado aceitou E nquanto norte
da
os tratados
os fatos consumados. acontecia tudo isto na Itália,
Europa
a figura
e, portanto,
e o governo
dominante
era
ita-
de Latrão,
na Alemanha Otto
von
o
e no
Bismarck,
que, em 1862, havia chegado à posição de chanceler da Prússia. A tarefa de Bismarck consistiu em excluir a Áustria da Confederação Alemã, e então criar uma nação constituída dos diversos Estados independentes que formavam essa confederação. Depois de dez anos de hábil diplomacia e conquistas militares, que culminaram na guerra com a França, em 1870 e 1871,
a Alemanha
se uniu
sob o reinado
do rei Guilherme
da
Prússia, que assumiu o título de Imperador da Alemanha. A política religiosa de Bismarck dirigiu-se principalmente contra
o catolicismo
romano.
Essa era
a religião
dos súditos da Áustria, e por isso o Chanceler católicos em seus próprios territórios sentissem Áustria. boas
Ademais,
relações
dos católicos vir
para
a política
com
alemães,
devolver
internacional
o Reino
da Itália,
no sentido
de Bismarck
requeria
e a insistência
por
de que o seu país devia
ao papa os seus estados,
venientes. O Chanceler estava convencido era essencialmente obscurantista, e que berai se adaptava dava a Alemanha
da maioria
temia que os simpatias pela
causava-lhe
parte interincon-
de que o catolicismo o protestantismo li-
melhor à grande missão histórica que aguarem futuro próximo. Por todas essas razões,
sob o governo de Bismarck tomaram-se medidas que não foram bem vistas pelos católicos. A Alemanha rompeu relações com o papado, ao mesmo tempo que várias ordens religiosas eram expulsas do país e alguns dos subsídios que até então os bispos recebiam do estado eram cortados. Embora em 1880, por motivos de conveniência, Bismarck tenha reatado as relações diplomáticas com o papa, e logo se ab-rogassem muitas das medidas contra o catolicismo, o conflito com Bismarck foi um dos muitos fatores que convenceram Pio IX, papa de 1846 a 1878, de que existia uma oposição inevitável entre o catolicismo
romano
discutiremos
e a idéia em outro
moderna capítulo
de Estado. deste
volume.
A este Por
respeito
enquanto,
basta sublinhar que a posição do papado na nova Europa, que surgiu depois das guerras napoleônicas, foi em extremo incômoda, e que, por isso, os papas do séculos XIX dirigiram a Igreja Católica no período mais reacionário da sua história.
Horizontes
Polfticos:
Europa - 69
Otto von Bismarck Sem se contarem as correntes teológicas e a obra missionária de que falaremos em outros capítulos, os fatos mais notáveis no protestantismo do continente europeu durante o século XIX derivaram da crescente separação entre a igreja e o Estado.
Depois
protestantismo
da Reforma triunfou,
do século
XVI, nos países em que o
estabeleceu-se
entre
ele e o Estado
uma relação semelhante à que antes havia existido com a Igreja Católica. Contudo, com a Revolução Francesa, esse estado de coisas começou a mudar. Na Holanda, por exemplo, a
70 - A Era dos Novos Horizontes
união
entre
a Igreja
Reformada
e o estado
rompeu-se,
quando
os franceses conquistaram o país e criaram a República de Batávia. Depois da Restauração, a aliança entre igreja e Estado nesse país tornou -se muito menos estreita do que havia sido antes.
Algo
semelhante
aconteceu
em diversas
regiões
da Ale-
manha, onde as leis que fomentavam a uniformidade religiosa foram moderadas para beneficiar a unidade nacional. Na Escandinávia,
o impacto
do liberalismo
bém conseqüências semelhantes. Em parte devido a estas novas parte
devido
houve
um
ao individualismo grande
político
acarretou
tam-
políticas,
e em
condições
que caracterizou
incremento
do
pietismo
o século
XIX,
e das "igrejas
li-
vres", ou seja, aquelas de que se é membro por decisão própria, e cujos membros as sustêm, em contraste com as igrejas sustentadas dão desse território Ao
pelo Estado, das quais se é membro Estado. Os metodistas e os batistas na Alemanha
mesmo
maior
tempo,
e em outros
o pietismo
ímpeto, e causou Como assinalamos
países
luterano
por ser cidaconquistaram
do norte
e reformado
europeu. alcançou
forte impacto na teologia da época. anteriormente, o pietismo car acte rf-
zou-se por seu profundo interesse missionário. Assim, o incremento do pietismo no século XIX foi uma das principais causas da grande expansão missionária protestante desse século. A outra causa foi a expansão econômica, comercial e política
das potências
protestantes.
A Alemanha
lítica e a economia do continente Holanda criaram vastos impérios
dominava
europeu. Tanto intercontinentais,
a po-
ela como a embora
nenhum deles tenha chegado a ter a extensão do Império Britânico. Dadas essas circunstâncias, protestantes de tendências pietistas criaram várias sociedades missionárias, cujo propósito era levar o evangelho às colônias do além-mar. Na Alemanha e Holanda
surgiram
várias
dessas
sociedades.
E o mesmo
fenômeno logo apareceu também em países que não tinham tais impérios, como é o caso da Sociedade Missionária Evangélica de Basiléia e da Aliança Missionária Sueca. Ao mesmo tempo, organizavam-se outras sociedades que se ocupavam dos problemas internos da Europa. Na Dinamarca, o luterano N. F. S. Grundtvig agrícola.
Na
"diaconisas"
dedicou
Alemanha
os seus esforços
e outros
consagraram-se
orfanatos
e outras
nizações
dedicadas
instituições. ao serviço
países,
ao serviço Por toda
ao cooperativismo as organizações
em hospitais, parte
dos nece ssttados:
surgiram
de
asilos, orga-
Horizontes
Durante curso
todo
paralelo
Industrial
esse
período,
ao do resto
causou
Essa revolução
a Grã-Bretanha
da Europa.
impacto,
foi
porém
benéfica
Pollticos:
seguiu
Ali também
mais
cedo
para a classe
Europa - 71
e em maior
média
um
a Revolução grau.
e os capitalis-
tas, ao mesmo tempo que causou prejuízo à velha aristocracia e às classes mais pobres. Estas últimas se viram submersas em tristes condições de trabalho e de moradia. O crescimento das cidades, consigo viam
graças ao apogeu da indústria e do comércio, trouxe o aparecimento de vastas zonas em que os pobres se
obrigados
a viver
praticamente
amontoados.
Ao
mesmo
tempo, o liberalismo econômico e político avançava rapidamente, dando cada vez mais poder à Câmara dos Comuns em relação à dos Lordes. Essas condições produziram vários resultados. Um deles foi
uma
grande
Estados
onda
Unidos,
migratória,
mas também
não somente ao Canadá,
em direção
Austrália,
aos
Nova
Ze-
lândia e sul da África. Outro, foi o surgimento do movimento trabalhista. No princípio do século, os sindicatos eram proibidos;
mas em 1825 foram
o Partido
Trabalhista
também
na
condições volveu
Inglaterra,
as suas teorias isto
Ao
estourar
estava
praguejada antes
também
a Revolução por
na igreja
e no início
uma grande do
muitos medieval:
que
do século
XX
política.
Foi
força
espetáculo
londrinense,
econômicas
causou
Igreja. existido
diante
do proletariado
Tudo
legalizados,
tornou-se
quotidiano Karl
Marx
das desen-
e políticas. um
grande
Francesa, dos
males
impacto a Igreja que
o absenteísmo,
sobre
a
Anglicana
vimos
terem
o pluralismo
e a falta de dedicação por parte de muitos membros da alta hierarquia, em sua maioria membros da aristocracia. Durante o século
XIX,
houve
um
grande
despertamento
dentro
dessa
igreja. O governo promulgou reformas práticas, proibindo os abusos mais extremos. Porém, houve também fortes correntes de reforma dentro da própria igreja. Uma dessas correntes, a dos anglicanos evangélicos, estava particularmente interessada em dar à Igreja Anglicana um tom mais protestante, às vezes com características semelhantes às do pietismo que ocorria no continente europeu. sobre
A outra corrente reformadora que causou grande impacto a Igreja Anglicana foi o "movimento de Oxford". Esse
foi um movimento anglo-católico, cujo objetivo era dar realce às grandes tradições cristãs. Para os membros desse movimento, a sucessão apostólica e a autoridade dos antigos es-
72 - A Era dos Novos Horizontes
critores
cristãos
era
de grande
importância,
como
também
o
sacramento da comunhão, centro do culto cristão. Um dos principais chefes desse movimento, John Henry Newman, con verteu -se ao catolicismo, e posteriormente foi feito cardeal, embora
sempre
tenha
sido
mal visto
pelos
católicos
conserva-
dores, devido a suas opiniões sobre a evolução dos dogmas. Todavia, a maioria dos membros permaneceu dentro da comunidade
anglicana,
tradição cristã, como resultado na ordens Várias
monásticas,
dessas
enfermos. Contudo, vitalidade
ordens
tanto
um firme
fundamento
na
homens
as igrejas
o século
XIX.
como
ao serviço
de mulheres.
dos pobres
e dos
dissidentes
que houve
maior
A elevação
da classe
média
a elevação das igrejas dissidentes, que eram fortes dessa classe. Os metodistas, batistas e congregacio-
deram
mostras
de grande
crescimento numérico, fundaram para ajudar ciais
de
se dedicaram
foi entre
durante
acarretou no meio nais
e deu a essa igreja
unido a uma espiritualidade profunda. Também dessas tendências, surgiram na Igreja Anglica-
e levar
vitalidade,
não apenas
em seu
mas também nas muitas sociedades que os necessitados, remediar os males so-
o evangelho
para o resto
do mundo.
Para alcançar
as massas pobres e analfabetas, esses grupos organizaram as escolas dominicais, que depois se tornaram prática comum em quase todas as igrejas protestantes. Outros organizaram a Associação Cristã de Moços (YMCA) e sua correspondente para mulheres (YWCA). Também surgiram novas denominações, tais
como
mente
o Exército
como
de Salvação,
um veículo
pobrecidas. Todos
esses grupos,
evangélica,
preocuparam-se
ca. Foi com
o apoio
fundado
para alcançar juntamente
urbanas
com os anglicanos
com os males
dos metodistas,
em 1864, precisa-
as massas
sociais
quacres
emda ala
de sua épo-
e outros,
que se
organizaram sindicatos de trabalhadores, defendeu-se forma dos cárceres, e se criaram leis contra os abusos
a rede que
as crianças eram objeto, particularmente no trabalho. Talvez a coisa mais importante que os cristãos conseguiram
durante
este
período
foi
a abolição
britânicos da escrava-
tura. Já havia muito tempo, os quacres e os metodistas tinham se colocado contra essa abominável instituição. Contudo, foi no século X IX, graças aos esforços de William Wilberforce e de outros cristãos de profunda convicção, que o governo britânico adotou
medidas
contra
a escravidão.
Em 1806 e-1811,
o Parla-
Horizontes
Pottticos:
Europa
- 73
John Henry Newman mento
promulgou
leis
proibindo
o tráfico
de
escravos.
Em
1833, determinou-se que todos os escravos das colónias britânicas no Caribe fossem colocados em liberdade, e isto se cumpriu em 1838. Pouco depois, adotaram-se medidas semelhantes,
com respeito a marinha
tempo,
de escravos
às demais colónias dedicava-se
britânica
realizado
por
outras
britânicas. a interromper
nações,
firmando
Ao
mesmo o tráfico
com
elas
tratados que proibiam o tráfico de escravos em alto mar. Pouco tempo depois, a maior parte dos países ocidentais havia abolido a escravidão. Resumindo,
o
perído
iniciado
com
as revoluções
havi-
76 - A Era dos Novos Horizontes
A esquadra Aqui
vemos,
britânica dedicou-se a combater o tráfico de escravos. a bordo de um navio inglês, um grupo de escravos
recentemente
libertados.
cravidão
e outros
a Igreja
Católica
trema,
muitos
males
sociais.
O resultado
encarava
os novos
protestantes
os viam
tempos com
foi que, enquanto com
excessivo
suspeita
ex-
otimismo.
Isto se notou particularmente no liberalismo protestante, que já analisamos nos Estados Unidos, mas que alcançou sua maior popularidade e suas formas mais extremas na Alemanha, conforme veremos no capítulo No entanto, antes de passar deter na consideração XIX ocasionou novos
de outra horizontes
IV do presente volume. a esse tema, devemos
nos
região do mundo onde o século políticos: a América Latina.
III Horizontes Políticos: América Latina Uma cadeia mais sólida e mais brilhante do que os astros do firmamento liga-nos novamente com a igreja de Roma, que é a fonte do céu. Os descendentes de São Pedro foram sempre nossos pais (padres), mas a guerra nos havia deixado órfãos, como o cordeiro que bale em vão pela mãe que perdeu. A mãe, cheia de ternura, o buscou e o fez voltar ao redil; ela nos deu pastores dignos da Igreja e dignos da República. Simón Boltver
As novas
nações
Os grandes abalos políticos que ocorreram na América do Norte e na Europa fizeram-se sentir também na América Latina. Havia surgido aqui uma classe relativamente abastada de crioulos, descendentes de espanhóis e portugueses, que, no entanto, não gozavam dos mesmos privilégios que os peninsulares.
Embora
todas
feitas na Espanha, panha, elas quase dos
quais
quando
viam
chegavam
as nomeações
de importância
para cargos nos países colonizados sempre recaíam sobre peninsulares,
pela
primeira
para
vez
governá-Ias.
as terras
do
Enquanto
fossem pela Esmuitos
Novo
Mundo
esses
recém-
chegados ocupavam altos cargos, aos crioulos estavam praticamente vedadas as mais altas posições, tanto civis como eclesiásticas. Essas condições portar, porque os crioulos,
faziam-se tanto mais difíceis de suesquecendo o suor dos índios, ne-
78 - A Era dos Novos Horizontes
gros e mestiços, estavam convencidos produziam a maior parte das riquezas ses crioulos, fiéis virtude das quais Península, que vivam
de que eram eles que da região. Contudo, es-
súditos da coroa, ressentiam-se das leis em o comércio resultava em benefícios para a
e não para as colônias (entenda -se: dos nelas). Sobretudo, visto que muitos crioulos
sem com os meios onde traziam idéias
necessários, republicanas
viajavam contrárias
para a Europa, de à ordem estabele-
cida. Assim, a classe crioula desempenhou pei semelhante ao da burguesia na França. Ainda
assim,
quase
todos
os
da Espanha,
Fernando
VII,
na América
crioulos
fiéis súditos da coroa, e os movimentos alcançado pequeno êxito, se não fossem que tiveram lugar na Europa. Em 1808, e fez coroar
crioulos contas-
um pa-
consideravam-se
republicanos teriam pelos acontecimentos Napoleão depôs o rei seu irmão
José
Bona-
parte, a quem os espanhóis deram o apelido de "Pepe Garrafa". A resistência contra o usurpador retirou-se em ordem para
Cá diz,
onde
monarca deposto. a usurpação que
uma
junta
tomou
o governo,
em
nome
do
Napoleão pretendeu fazer valer na América havia ocorrido na Espanha, mas as colónias
negaram-se a aceitar esse fato e organizaram as suas próprias juntas de governo. Embora os peninsulares afirmassem que tais juntas deviam sujeitar-se à de Cádiz, os crioulos argumentavam que as colónias eram "reinos", todos sujeitos ao mesmo monarca, mas diferentes tanto cada junta devia governar
uns dos outros, e que pordiretamente em nome do so-
berano deposto. Dadas as circunstâncias do momento, e diante da falta de poder da Junta de Cá diz, a opinião dos crioulos prevaleceu, e as colônias espanholas na América passaram a governar-se a si mesmas, embora sempre em nome do Rei. Fernando
foi
restaurado
em 1814, quando
Napoleão
caiu.
Porém, longe de mostrar gratidão aos súditos que haviam conservado as suas possessões, ele se dedicou a desfazer grande parte do que havia sido feito pelas juntas. A de Cádiz havia promulgado, em 1812, uma constituição relativamente liberal, e Fernando a ab-rogou. Na Península, a reação não se fez esperar, ao ponto que em 1820 o Rei se viu obrigado a restaurar a constituição. Nas colônias, crioulos que haviam nosprezados, promulgado
a reação governado
e as leis foram
liberais
revogadas.
foi ainda em nome que
mais marcante. da coroa foram
as diversas
Em conseqüência,
juntas
Os me-
haviam
os mesmos
Horizontes
crioulos, rebelavam
que antes se haviam contra
ela.
Polfticos:
mostrado
Em La Plata,
fiéis
eles
América
Latina - 79
à coroa,
agora
simplesmente
se
conti-
nuaram governando o país, supostamente em nome do Rei, até que o Congresso de Tucuman, em 1816, declarou a independência. Três anos antes, o Paraguai se havia declarado inde-
a
José Bonaparte, rafa". pendente
tanto
Orientai",
o
quem os espanhóis
da Espanha
Uruguai,
teve
quanto uma
chamaram
de Buenos história
de "Pepe
Aires.
turbulenta,
"A até
Gar-
Parte que
80 - A Era dos Novos Horizontes
conseguiu
a sua independência
em 1828.
Enquanto
isso,
José
de San Martin havia atravessado os Andes e invadido o Chile, que se declarou independente em 1810. Dali, com a ajuda de uma
esquadra
passou para Guaiaquil.
sob o
as ordens
Peru,
onde
de Lord
Thomas
se entrevistou
Cochrane,
ele
Bolívar,
em
com
E nquanto tudo isto acontecia no sul do continente, mais ao norte Simón Bolívar empreendia uma campanha semelhante. Depois de vários esforços fracassados, em 1819 ele derrotou
o exército
realista
em Boyacá,
invadiu
Bogotá
e declarou
a
independência da Grande Colômbia (as atuais repúblicas de Colômbia, Venezuela e Panamá). Depois de esmagar os realistas em Carabobo (1821), e dar ao país a Constituição de Cúcuta, Bolívar dirigiu-se para o Sul, onde o seu lugar-tenente Sucre obteve a vitória de Pichincha. O resultado dessa batalha foi a independência do Equador, que se uniu à Grande Colômbia. Bolívar marchou então sobre o Peru, onde, depois vista de Guaiaquil, San Martin lhe deixou o campo
da entrelivre. Em
Ayacucho, Sucre obteve uma vitória surpreendente e decisiva que praticamente deu fim ao poderio espanhol na América do Sul. Contudo, os sonhos de Bolívar, no sentido de criar uma grande
nação
democrática
que
abrangesse
a maior
parte
do
continente, não se realizaram, na região de fala espanhola. A Grande Colômbia se desmembrou nas repúblicas independentes de Venezuela, Colômbia e Equador. O Alto Peru insistiu em sepa ra r -se do Peru, a dotou o nome de "Repú blica Boi íva r" (hoje Bolívia) e ofereceu a presidência a Sucre. Por todas as partes, os crioulos lutavam entre si, procurando tornar-se donos do poder.
O último
sonho
de Bolívar,
de uma grande
federação hispano-americana, se desfez no Congresso namá (1826), onde ficou claro que os interesses dos
con-
de Pagrupos
que governavam cada região se opunham entre si, e se sobrepunham aos do continente. Cinco anos depois, oito dias antes de morrer, o Libertador declarou: "A América é ingovernável. Os que serviram à revolução araram no mar". A independência
do México
seguiu
um curso
diferente.
As
notícias da deposição de Fernando VII haviam criado uma situação política instável, e um grupo de crioulos se preparava para
dar
um
golpe
contra
os peninsulares
quando
chegou
a
notícia de que havia sido descoberta uma conspiração. Um dos conspiradores, o padre Miguel Hidalgo y Costilla, decidiu a-
Horizontes
Po/fticos:
América
Latina - 81
diantar-se aos acontecimentos. No Grito de Dolores tembro de 1810), Hidalgo proclamou a independência co, e depressa
se encontrou
à frente
de um
(16 de sedo Méxi-
exército
de ses-
senta mil índios e mestiços. Aprisionado e executado, Hidalgo foi sucedido por outro padre, o mestiço José Maria Morelos. Portanto, desde os seus primórdios, a independência mexicana contou
com o apoio
e a direção
de mestiços
e índios.
Embora,
sob a direção de Agustin Iturbide, os crioulos voltassem a se colocar à testa da situação, sempre houve fortes correntes que lutavam em prol dos índios e mestiços. Particularmente na época de Benito Juarez, e depois na Revolução Mexicana, essas correntes deixaram a sua marca indelével na sociedade mexicana. A Capitania
Geral
da Guatemala,
que
fazia
parte
do vi-
ce-reinado de Nova Espanha, tornou-se independente ern 1821. Depois de um breve período de submissão ao governo do México, tentou-se conseguir a unidade da região mediante uma confederação. Mas esta se dissolveu e deu lugar às atuais repúblicas de Guatemala, EI Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa
Rica. (O Panamá
fez parte
da Colômbia
até 1903, quando
os Estados Unidos, insatisfeitos com as condições que a Colômbia impunha para a construção do Canal, intervieram na região.) Também o Brasil conseguiu a sua independência como conseqüência das guerras napoleônicas. Em 1807, fugindo das tropas invasoras de Napoleão, a corte de Lisboa refugiou-se no Brasil.
Em 1816, terminadas
as guerras,
João
VI foi procla-
mado rei de Portugal e Brasil. Depois de tão prolongada permanência no Rio de Janeiro, o Rei não tinha nenhuma pressa de voltar a Lisboa, e não o teria feito, se não fossem as circunstâncias políticas que o obrigaram a tanto, em 1821. Como regente, ficou no Brasil Dom Pedro, filho do Rei. No ano seguinte, tugal,
quando
o príncipe
negou-se
a fazê-lo.
pendência
ou morte!"
recebeu
ordens
No Ipiranga,
Pedro
proclamou
de voltar
com o grito sua ruptura
para
Por-
de "Indecom
Lis-
boa. Depois de breve resistência, todas as guarnições acederam à nova ordem, e três meses depois o príncipe era coroado como Pedro I, imperador do Brasil. Em 1825, Portugal aceitou o fato consumado, e reconheceu a independência de sua antiga colônia.
A
contragosto,
porque
as circunstâncias
exigiam, Pedro I acedeu a um regime do, posteriormente ele se viu obrigado
políticas
o
parlamentarista. Contua abdicar a favor de seu
82 - A Era dos Novos Horizontes
Horizontes
Políticos:
América
filho Pedro II. Depois de um turbulento período Pedro II assumiu o poder em 1840. Durante quase ele levou o país por caminhos de prosperidade. por
fim
também
escravatura
havia
se viu ganho
obrigado
a abdicar,
para
ele a inimizade
pois
Latina - 83
de regência, meio século, No entanto, a abolição
dos
da
latifundiá-
rios, e sua insistência para que o exército permanecesse alheio à política não era bem vista pelos militares. Em 1889, p ro cl amou-se a república, e o país entrou em um período de dificuldades políticas e econômicas semelhantes àquelas que a América espanhola vinha sofrendo havia bastante tempo.
Dom Pedro" A Revolução Francesa foi dência do Haiti. Nessa colônia
a causa imediata da indepenfrancesa, uma exígua minoria
branca era dona de grande número de escravos rebelaram tão logo os acontecimentos ocorridos varam vários
negros, que se na França pri-
os brancos do apoio militar da metrópole. Depois de anos de confusão, Toussaint L'Ouverture conseguiu ins-
84 - A Era dos Novos Horizontes
taurar
certa
ram dele
medida
de ordem,
mediante
um ardil,
mas os franceses
e ele morreu
se apodera-
prisioneiro
na Fran-
ça. Todavia, isso não pôs fim à rebelião, e, em 1804, Jean Jacques Dessalines proclamou a independência do Haiti. Com a morte
de Dessalines,
e um Pierre
reino ao norte. Boyer conquistou
conquistou
também
seu poder
opunham
idéias
a porção
em do
em uma república 1820, norte.
espanhola
ao
reconhecimento
o marco
Mas essas
de uma
casos,
procedentes ideológico
revoluções
de uma classe crioula
da ilha,
em
a nova
na-
Os Estados Uniescravagistas se
nação um
dos Estados
sempre
que ficou
reconheceu
das revoluções
quase (ou,
vemos
nascida
curso
de uma
paralelo.
Unidos
As
e da Fran-
latino-americanas.
redundaram
no caso do Haiti,
ao sul
o presidente Jean Dois anos depois,
fez o mesmo logo depois. em 1862, pois os estados
de escravos. vários desses
republicanas
ça foram
Por fim, o reino
até 1844. Em 1825, a França
ção, e a Inglaterra dos só o fizeram rebelição Em
o país se dividiu
em benefício
de caudilhos
mili-
tares) que se ocupou do bem-estar das massas. Os latifundiários, que mal haviam existido no período colonial, continuaram e se desenvolveram na época republicana. Em meados do século, começou um período de desenvolvimento económico com base em grandes capitais estrangeiros e na exportação de produtos agrícolas. Isto, por sua vez, propiciou novo incremento dos latifúndios, e freqüentemente criou alianças entre os latifundiários nacionais e os capitalistas estrangeiros. Ao mesmo tempo, surgia nas cidades uma classe média de comerciantes e empregados civis que raras vezes teve grande poder, mas que encontrava os seus interesses unidos ao desenvolvimento económico que estava acontecendo. O que se esperava e se prometia repetidamente era que, com o desenvolvimento do comércio, da indústria e da educação, todas as classes sociais se beneficiariam, pois até os mais pobres receberiam uma parte da nova riqueza que estava sendo criada. Todavia, para que houvesse tal progresso económico era necessário manter a ordem, e assim se justificaram dezenas de ditaduras que podiam mostrar que o capital estrangeiro e o progresso económico se concentravam Durante
nos países de maior estabilidade política. todo o século XIX, o grande debate ideológico
na
América Latina foi então entre "liberais" e "conservadores". Em geral, os chefes de ambas as facções pertenciam às classes mais abastadas. Porém, enquanto os conservadores tinham sua
Horizontes
Políticos:
América
Latina - 85
maior força na aristocracia dos grandes proprietários, os liberais a tinham entre os comerciantes e intelectuais das cidades. Os conservadores temiam as idéias novas como a liberdade de consciência e a livre empresa. Os liberais as defendiam, porque pensavam que eram necessárias para que o país pudesse fazer parte do concerto das nações modernas, e porque essas idéias se ajustavam aos seus interesses. Em termos gerais, os conservadores tinham um olho na Espanha, enquanto que os liberais olhavam para a Grã-Bretanha, França e Estados Unidos. Contudo, nem uns nem outros estavam dispostos a altera r a ordem social e econômica de tal modo que todos pudessem participar igualmente. O resultado foi uma série de ditaduras, tanto conservadoras como liberais, de golpes de estado e de violências. Por isso, até o fim do século eram muitos os que concordavam com as tristes palavras de Bolívar no sentido de que a América era ingovernável. A igreja
e as novas
nações
Como registramos anteriormente, colonial a igreja na América espanhola
durante todo o período e portuguesa foi gover-
nada pelo regime de patronato real. Conseqüentemente, a divisão entre peninsulares e crioulos, que se fazia sentir em toda a sociedade, quia
estava
presente
era constituída
pela coroa, maior parte
enquanto do baixo
também
principalmente
na igreja,
cuja alta
de peninsulares
que os crioulos e mestiços formavam a clero. Houve alguns bispos que apoiaram
a causa da independência. Mas, em termos gerais, do hispano-americano (ou de origem portuguesa, Brasil) diante
hierar-
escolhidos
o episcopano caso do
tomou o partido do Rei, a quem procurou apoiar menumerosas proclamações "pastorais" em que se conde-
nava a "sedição" dos separatistas. Posteriormente, muitos deles tiveram que abandonar as suas sedes, e os que permaneceram, o fizeram mediante tensões constantes com os novos governos. O resultado foi que numerosas dioceses importantes, e até países inteiros, viram-se repentinamente sem bispos. Esta situação tornou-se ainda pior, porque dificuldades para a nomeação de novos bispos.
havia enormes A Espanha ne-
gava-se a reconhecer a independência de suas antigas colônias, e insistia em exercer sobre a igreja localizada nelas as suas antigas prerrogativas por sua parte, reclamavam de todos
dos direitos
do patronato real. As novas nações, que seus governos, como herdeiros
da coroa
espanhola,
deviam
exercer
so-
86 - A Era dos Novos Horizontes
bre a ig reja
um
patronato
nacional.
sabia que atitude tomar, seus aliados na Europa, parte
formava
uma
encíclica
Etsi tongíssimo (1816) falava
zos da rebelião" Fernando, vosso obrigado encíclica mo
considerável
e de "nosso Rei Católico";
a adotar
uma
da grei
por
sua parte,
postura
e a Fernando
romana.
não
Pio VII,
dos "gravíssimos
caríssimo contudo
na
prejuí-
filho em Jesus posteriormente
Cristo, viu -se
neutra. Em 1824, Leão XI, na ao movimento separatista co-
Etsi iam dlu , referiu-se
"cizânia",
Roma,
pois Espanha e Portugal ainda eram mas a população das novas nações
como
"nosso
mui
amado
filho
Fernando, rei católico das Espanhas". Na Europa, não só a Espanha, mas também a França, a Rússia e a Áustria opunham-se ao reconhecimento implícito das novas nações que teria lugar se o papa nomeasse bispos para elas, fazendo caso omisso do p atr o n at o real. Por fim, em 1827, Leão XII decidiu nomear os primeiros bispos para a Grande Colômbia, e essa foi a ocasião das palavras de Bolívar que citamos no princípio deste capítulo. Todavia, isto não pôs fim à questão, pois Fernando rompeu relações com Roma, e Leão XII teve de desfazer muita coisa que havia sido feita. Com seus altos e baixos, a questão só se resolveu quando o governo espanhol, nas mãos do partido liberai, perdeu o apoio de Roma, e Gregório VII, na década de 30, deu vários passos na direção do reconhecimento oficial das novas
repúblicas. Devido ao a falta de bispos gentes
caráter sacramental do catolicismo romano, significava muito mais do que a falta de diri-
ou administradores.
denações;
e sem
nem vários outros número de clérigos torai
elas,
não
Sem
bispos
pode
haver
não podem comunhão
sacramentos. Logo, em diminuiu drasticamente,
das massas tornou-se
sumamente
difícil
haver
or-
(eucaristia)
muitas regiões o e o cuidado pase superficial.
A atitude do baixo clero, em sua maior parte constituído de crioulos e mestiços, foi muito diferente da dos bispos. No México, dizem que três de cada quatro sacerdotes apoiaram a insurreição.
Dezesseis,
entre
as vinte
e nove pessoas
que as-
sinaram a Declaração de Independência argentina, eram sacerdotes. Além disso, é preciso dizer que quando o conflito começou, as idéias de independência tinham pequeno apoio popular, e que foram os párocos locais que mais contribuíram para formar esse apoio. Foi precisamente por isso que, embora tanto os bispos como os papas pastorais e encíclicas ordenando
tenham a igreja
publicado numerosas hispano-americana a
Horizontes
apoiar
a causa realista,
não obtiveram
Pottticos:
América
Latina - 87
o efeito
desejado.
Por todas essas razões, a atitude dos chefes da independência para com o catolicismo foi complexa. Todos eles se proclamavam católicos, e nas diversas constituições que surgiram
nos
primeiros
anos,
afirmava-se
repetidamente
que
a
religião do país era a católica. Mas as tensões com Roma eram tais que se chegou a temer que acontecesse um cisma entre o catolicismo
hispano-americano
cialmente
no México,
a formação obediência mente,
de uma igreja a Roma. Tais
mas haveria
e a Santa
chegaram
a propor
católica projetos
de surgir
que alimentou mexicana. Depois servadores
projetos
da independência,
bos os grupos.
os interesses
de uma igreja
a tensão
também
Enquanto
quando
com os do país. O caso mais na segunda metade do século,
para a formação
manifestou-se
espe-
defendendo
nacional, separada de toda não desapareceram total-
novamente
de Roma pareceram chocar-se notável foi o de Benito Juarez,
Sé. Alguns,
tal cisma,
entre
na política
os conservadores
nacional
liberais
e con-
religiosa
de am-
advogavam
a con-
tinuação das antigas prerrogativas berais opunham-se a muitas delas.
da igreja e do clero, os liFoi então que boa parte do
clero
mudanças
nativo,
antes
aliou -se ao com o povo pai ponto
partidário
das
revolucionárias,
partido conservador, e fez uso de seus contatos para promover as idéias conservadoras. O princi-
de atrito
neste sentido
era até que ponto
o governo
devia encarregar-se das diversas funções antes exercidas pela igreja. Os liberais defendiam a abolição de um foro pessoal para o clero, que os excluía da jurisdição dos tribunais civis; a abolição do dízimo como imposto obrigatório; a supressão da inquisição, etc. Em todos estes pontos, os liberais ganharam a disputa, e pouco a pouco foram sendo eliminadas, nos diversos países, todas
estas práticas
e instituições
que eram
relíquias
do
velho regime. Igualmente, estabeleceu-se o registro civil, cujas atas de nascimento substituíram as antigas "certidões de bati srn o". e se instaurou o matrimônio civil. A tudo isto se opunham os conservadores, mas a sua causa foi derrotada. Em seus primórdios, o liberalismo hispano-americano consiperava-se eram
vistas
católico,
como
e suas medidas
reformas
da igreja,
no campo
e não como
da religião
atos de opo-
sição a ela. Se o clero se opunha a essas medidas, isso se devia, na opinião dos liberais, não ao fato de elas serem por si mesmas
anticatólicas,
mas
sim
em
razão
de
se
oporem
à
88 - A Era dos Novos Horizontes
mentalidade
estreita
de um
clero
que,
embora
nativo,
ainda
considerava a Espanha como centro do universo. Muitos dos primeiros liberais estavam convencidos de que as suas medidas emprestariam à igreja uma nova vitalidade, e que ela posteriormente
se
ocorrendo. Na segunda a filosofia
benificiaria metade
positivista
com
as
do século,
de Comte
reformas
o liberalismo
para
convencido segundo
restem
vestígios
dade atravessa
agora
sociedade está sendo segundo os princípios
com
um movimento
entre os intelectuais. fundador da sociologia
de que a sociedade podia e devia reoros ditames da razão. Segundo Comte, a
humanidade passou por três etapas teológica, a metafísica e a científica ainda
estavam
uniu-se
produzir
muito mais anti-católico, particularmente Augusto Comte foi um filósofo francês, moderna, ganizar-se
que
das duas o limiar
etapas
da etapa
de ou
desenvolvimento: a "positiva". Embora
anteriores, científica
a humanie, portanto,
a
chamada para uma reorganização radical do pensamento "positivo" ou científico.
Na nova sociedade, haverá uma separação completa entre a autoridade e o poder temporal. Este último deverá ser colocado nas mãos de comerciantes e capitalistas, que são os que melhor entendem as necessidades da sociedade. Quanto à autoridade espiritual, ela pode corresponder a uma nova "igreja católica", desprovida de seu "Deus sobrenatural", e dedicada à "religião da humanidade". Estas idéias ganharam grande número de seguidores entre a pujante burguesia latino-americana, particularmente no Brasil, mas também em outros países como Argentina e Chile, onde as idéias procedentes da França haviam sempre gozado de grande prestígio. Visto que o sistema positivista concordava com os interesses da burguesia liberai, esta abraçou muitas das doutrinas do filósofo francês. O resultado foi uma nova série de conflitos com a igreja, ao mesmo tempo que os estados se secularizavam cada vez mais. Pouco a pouco a igreja foi perdendo muitos dos seus antigos privilégios,
e a separação
entre
ela e o estado
tornou-se
princípio comum para muitas nações latino-americanas. A segunda metade do século XIX também trouxe fortes ondas de imigração para o Peru, especialmente péia, mas também chinesa. A imigração era necessária programa de desenvolvimento econômico da burguesia nante. para
Os imigrantes a indústria
propiciavam
e o comércio,
a mão e além
de obra
disso
um
consigo europara o domi-
necessária
serviam
de ele-
Horizontes
Políticos:
América
Latina - 89
mento de equilíbrio para contrabalançar as massas de índios e negros, por um lado, e a velha aristocracia conservadora por outro.
Além
disso,
eram portadores lhor ao progresso A imigração
para muitos
liberais
os imigrantes
europeus
de idéias e tradições que se amoldavam medo país. teve enorme importância para a vida religio-
sa do continente. Muitos dos que ansiavam por imigrar eram protestantes, e por isso vários países promulgaram a liberdade religiosa, primeiro apenas para os imigrantes, e depois para todos os cidadãos. Contudo, o principal impacto da imigração foi o número crescente de católicos, porém totalmente carentes de cuidado pastoral, e instrução religiosa. Assim, o catolicismo latino-americano foi se tornando cada vez mais superficial. Nas enormes cidades que resultaram da onda migratória, particularmente Buenos Aires e São Paulo, quase todos os habitantes continuaram a se chamar de católicos. Porém, eram relativamente poucos os que participavam ativamente da vida eclesiástica. Diante
de tudo
isto,
a hierarquia
católica
reagiu
com ten-
tativas cada vez mais inúteis de deter o curso da história, ou de regressar ao passado. Quando mais se difundiam as novas idéias, mais a hierarquia as condenava. O resultado final foi que, para boa parte dos católicos bou sendo algo que se sustentava posição Portanto,
contrária quando
à hierarquia
latino-americanos, independentemente
da igreja
o protestantismo
a fé acae até em
e seus ensinamentos.
fez a sua aparição
nesse
campo, encontrou-o branco para a ceifa. Todavia, o curso do protestantismo na América Latina corresponde a outro capítulo da nossa história.
IV Horizontes Intelectuais: A Teologia Protestante Peça por peça vai sendo abandonado
o método de interpretação que atribui os fenômenos a uma vontade análoga à vontade humana, que opera mediante processos semelhantes aos humanos processos. Visto que esta família de crenças, antigamente inumerável, perdeu a imensa maioria dos seus membros, não é demais confiar que o pequeno número que ainda resta também desaparecerá. Herber Spencer
Os desafios intelectuais cristianismo foram enormes,
que o século XIX apresentou ao e tanto o protestantismo como o
catolicismo viram-se obrigados a lhes responder. No entanto, enquanto o catolicismo o fez, condenando e rejeitando quase todas
as idéias
modernas,
boa parte
do protestantismo
incorporando essas idéias, talvez algumas vezes Portanto, embora os desafios que mencionaremos tenham
sido
comuns
a ambos
os ramos
capítulo limitar-nos-emos a discutir reagiu a eles, para depois consignar próximo capítulo. As novas correntes Quando
da igreja,
o fez,
em demasia. em seguida no presente
como o protestantismo a resposta católica no
do pensamento
o século
XIX
começou,
via causado grande impacto sobre sobre algumas regiões da América.
a revolução
industrial
ha-
quase toda a Europa, e até Essa revolução afetou não
Horizontes
Intelectuais:
A Teologia
Protestante
só a economia, mas também todos os aspectos movimentos populacionais tornaram-se notáveis,
- 91
da vida. Os pois o povo
precisava acorrer para onde havia trabalho, em outras palavras, aos grandes centros industriais, sem se considerar que se lhes negava o uso das terras dedicadas agora à produção de matérias dustriais
primas para a indústria. Muitos desses centros innão tinham as acomodações necessárias para abrigar
os recém-chegados, que precisavam então viver em péssimas condições. Ao mesmo tempo, a fluidez da sociedade tendia a romper os laços da família extensa - pais, tios, parentes - e, portanto, a família viu-se reduzida são mínima:
pai, mãe e filhos,
e se perdiam
avós e demais à sua expres-
muitas
das raízes e
tradições familiares. Isto, por sua vez, ocasionou um crescente individualismo, pois cada pessoa precisava considerar-se responsável por sua própria vida. Portanto, o tema do "eu" e seu desenvolvimento
ocupou
boa
parte
do
pensamento
e da lite-
ratura
do século XIX. A revolução industrial também contribuiu para a idéia do progresso. Até pouco antes, a opinião mais comum era de que as idéias eram mais certas quanto mais antigas fossem. Na época do Renascimento e da Reforma, por exemplo, o que se procurava era regressar às antigas fontes do conhecimento, da arte e da religião, fontes que o Renascimento tigüidade clássica, enquanto que a Reforma Escrituras.
Contudo,
agora
os povos
procurava na anas procurava nas
olhavam,
não para o pas-
sado, mas para o futuro. A ciência aplicada havia se mostrado capaz de produzir riquezas e recursos que antes não existiam. As possibilidades futuras não pareciam ter limites. Diante dos olhos das classes dirigentes da sociedade, os problemas criados pela revolução industrial eram passageiros. Logo a aplicação da técnica lhes daria solução, e então toda a sociedade se beneficiaria com a nova ordem. E, visto que muitos dos intelectuais da época pertenciam a essas classes, tais idéias de progresso imediatamente encontraram eco em suas obras. De certo modo, a Teoria da Evolução, de Darwin, é uma expressão dessa confiança no progresso, levada agora para o campo das ciências naturais. Não foi apenas a humanidade que progrediu, mas também o resto dos seres animados. O progresso faz parte
da
progresso
estrutura social,
do
universo.
não se trata
Todavia,
de forma
de um avanço
luta dura e cruel em que os mais aptos sobrevivência fazem progredir a espécie
fácil,
igual
ao
mas de uma
sobrevivem, e nessa toda. O título com-
92 - A Era dos Novos Horizontes
pleto
do famoso
livro
de Darwin,
publicado
em 1859,
mostra
isso: Sobre a origem das espécies mediante a seleção natural, ou
a preservação das raças ta vorecidas na luta pela vida. Se o progresso é elemento tão importante na vida da humanidade, e mesmo do universo, também deve sê-lo a história, pois, o que é a história senão o progresso do passado? O século
XIX
acautelou-se
como
nenhum
outro
em
relação
às
Charles Darwin, criador da Teoria da Evolução e contribuinte para as missões na Patagônia
Horizontes
mudanças
radicais
contribuiu crescente
não somente contato com
mente na África de que os seres suas perspectivas
que tiveram
referência
gresso
levava
históricos
Protestante
na vida humana.
- 93
Para isto
a revolução industrial, mas também o povos de outras culturas, particular-
a Augusto
Comte,
da mentalidade
e desta à "científica". biente do século XIX. dos
lugar
A Teologia
e no Pacífico. Assim, chegou -se à conclusão humanos não foram sempre iguais, e que as religiosas e intelectuais também evoluíram.
Já fizemos que
Intelectuais:
que
que falava
"teológica"
de um pro-
à "metafísica",
Tais idéias eram a expressão O resultado foi toda uma série
puseram
em dúvida
grande
parte
do amde estudo que
antes se havia aceito como definitivo acerca do passado. No campo da religião, estes estudos, aplicados à Bíblia, produziram fortes abalos e extensos debates. cial
Ao mesmo tempo, havia alguém que via o alto custo sodo progresso causado pela revolução industrial. Muitos
cristãos
procuraram
particular, cais, com desligada Exército curaram
responder
às necessidades
de grupos
em
e assim se criaram, por exemplo, as escolas dominio propósito de alcançar uma população que estava dos meios tradicionais de ensinamento cristão. O de Salvação, a ACM e muitas alcançar as massas urbanas,
outras instituições proe aliviar a sua miséria.
Mas os problemas e sua solução estavam além dos casos individuais ou daquilo que algumas instituições pudessem fazer pelos necessitados. Muitas pessoas começaram a pensar na necessidade de uma mudança radical na ordem social. Se era certo que havia progresso e que a sociedade havia mudado radicalmente nas últimas décadas, por que não falar de outras mudanças na sociedade? Como já dissemos, Comte, a quem se considera como fundador da sociologia moderna, propôs um projeto de reforma social. Tais esforços abundaram através de todo o século XIX, e a revolução fracassada de 1848 foi uma tentativa de colocá-los em ação. O socialismo, em seus muitos matizes,
veio a ser tema
vam com a ordem convictas. Como
social
comum
das pessoas
e suas injustiças,
se sabe, de todos
que se preocupa-
muitas
os pensadores
delas
socialistas,
cristãs aquele
que posteriormente causaria impacto mais explosivo seria Karl Marx, cujo Manifesto comunista foi publicado em 1848. Em seu sistema, viam
Marx
proposto.
história
ia além
das utopias
O seu pensamento
e da sociedade
socialistas era todo
de sua época.
que
muitos
ha-
ele uma análise
Parte fundamental
da
dessa
94 - A Era dos Novos Horizontes
análise era que as idéias, por muito que pareçam construções puramente intelectuais, têm funções políticas e sociais. A classe dominante desenvolve uma ideologia que parece puramente racional, mas cuja função é sustentar a ordem própria religião faz parte de toda essa estrutura poderosos,
e daí a famosa
acusação
de que
existente. A de apoio aos
ela é "o
ópio
do
povo". Todavia, a história avança, e o seu próximo passo será a grande revolução proletária, que levará à "ditadura do proletariado", e daí a uma sociedade sem classes, onde nem sequer o Estado será necessário: a sociedade comunista. No entanto, Marx, cuja obra seria um grande desafio para os cristãos do século
XX,
O que estava um período a forma .Já vos
passou claro
relativamente
era que a ordem
de grande
fluidez,
in adve r ti d o no século social
e que o que estava
futura da vida humana. no fim do século XIX, na obra
desafios
começaram
a aparecer.
ocupado em diversas disciplinas, cionamento da mente humana, subconscientes.
Com
estava
de Sigmund Depois
de
XIX.
passando
por
em jogo
era
Freud, longos
noanos
Freud interessou-se pelo funparticularmente em seus níveis
base em muitos
anos de observação,
ele
chegou à conclusão de que a mente humana é guiada, não somente por aquilo que se percebe conscientemente, mas também por elementos que nunca surgem no nível da consciência. Isto é particularmente certo em relação a experiências e instintos que, por pressão social ou por outra razão, a mente reprime, mas não consegue destruir. Os instintos do sexo e da opressão, por exemplo, continuam atuando na mente, mesmo quando são reprimidos. Tudo isto abriu novos horizontes para a ciência psicológica, e também para a Teologia, particularmente no que se refere à doutrina do pecado e, em um nível mais prático, ao cuidado das almas. Embora tenham vivido no século Freud se fizeram sentir principalmente
XIX, tanto Marx no século XX.
quanto Porém,
ambos são exemplos do que estava acontecendo em seu tempo, quando se começou a aplicar o raciocínio científico, já não apenas ao conhecimento da natureza, mas também ao conhecimento da sociedade e da psicologia humanas. Por isso, é no século nomia,
XIX que têm Antropologia
disciplinas trabalhar.
raízes as disciplinas como Sociologia, Ecoe Psicologia. E foi no contexto dessas
que os teólogos
do século
XX se viram
obrigados
a
Horizontes
A teologia
Intelectuais:
A Teologia
Protestante
- 95
de Schleiermacher
No volume anterior, ao tratar do racionalismo, vimos como a obra de Kant pôs fim ao racionalismo do século XVIII. Se a "razão pura", ao ser aplicada a questões como a existência de Deus e da alma,
ou da vida depois
cos sem saída, que caminho seguirá e de outras questões de importância pensamento
se encontram
da morte,
só chega a be-
a teologia, ao tratar destas vital? Se as estruturas do
na própria
mente,
e não
necessa-
riamente fora dela, como haveremos de falar das últimas realidades? Para responder a estas perguntas, havia três caminhos
Schleiermacher possíveis. seguiram
E,
visto
que
no
ora este, ora aquele,
tes nos interessaremos A primeira
consiste
século
XIX
houve
teólogos
que
nesta seção e nas duas seguin-
nessas três soluções em buscar
outro
possíveis. ponto
de apoio
para
96 - A Era dos Novos Horizontes a religião,
que
não
seja
a razão
pura.
O próprio
Kant,
como
vimos, tentou fazer isto em sua Crítica da razão prática. Segundo ele, equivocamonos ao pensar que a religião é basicamente uma questão intelectual, pois de fato a religião encontra seu lugar, não no que é puramente racional, mas no que é ético. Nós, seres humanos, somos com base nessa moralidade inata
por natureza seres morais, e é possível provar a existência
de Deus e da alma, a imortalidade, a liberdade e a vida futura. Em certo sentido, o que Kant fez aqui foi tratar de salvar alguma coisa do parecia destruir.
racionalismo cristão E o fez, procurando
que a sua obra anterior para a religião um ponto
de apoio fora dos limites da "razão pura". Algo semelhante foi o que fez Friedrich nos princípios
do século
XIX,
embora
na razão, seja esta "pura" ou Schleiermacher nasceu e foi criado mado
de tendências
morávias,
Schleiermacher
baseando
a religião,
"prática", mas no no lar de um pastor
que colocou
não afeto. refor-
a educação
de seu
filho nas mãos dos morávios. Embora Schleiermacher fosse reformado, o impacto do pietismo morávio pode verificar-se em toda macher época
a sua teologia. passou
por
De qualquer
um período
fez com que lhe fosse
fundamentais
do cristianismo.
a sair de tal situação.
forma,
o jovem
Schleier-
em que o racionalismo
difícil
aceitar
várias
Foi o romantismo
O romantismo,
de sua
das doutrinas
que conseguiu
que o ajudou grande
su-
cesso precisamente durante a juventude de Schleiermacher, afirmava que o ser humano era muito mais do que a razão fria e calculista,
e, com
base nessa percepção,
Schleiermacher
co-
meçou a sair das dificuldades em que o havia colocado o racionalismo. A sua primeira obra importante, Discursos sobre a religião dirigidos às pessoas cultas que a desprezam (1799), foi precisamente uma tentativa de mostrar a um auditório profundamente imbuído do romantismo que a religião devia ocupar um lugar importante na vida humana. Nessa obra, o argum ento fu nda me nta I de Sch leie rm ache r é q ue a relig i ão não é um conhecimento, como pretendem tanto os racionalistas como os ortodoxos mais ferrenhos, nem é tampouco uma moral. A religião
não se baseia
na razão pura,
nem tampouco
na razão
prática ou moral, mas no afeto (em alemão, Gefühl). Embora nos seus Discursos Schleiermacher não tenha clarecido
o conteúdo
exato
desse
"afeto",
ele
es-
o faz em sua
obra mais madura, A doutrina da fé. Ali se vê claramente que o "a feto" religioso não é uma coisa sentimental, nem ao menos
Horizontes
uma emoção
passageira,
mentaneamente, permite tomar
Intelectuais:
A Teologia
ou uma experiência
mas é, antes, o sentimento consciência de modo direto
quele que é a base de toda a existência, do mundo que nos rodeia. Sobretudo,
Protestante
que aparece
- 97
mo-
profundo que nos da existência dA-
tanto a nossa como a este "afeto", embora
não se baseie nas faculdades racionais nem no sentimento moral, tem conseqüências importantes tanto na exposição racionai como na responsabilidade ética. E também não se trata de um afeto
de caráter
fico é um sentimento
indefinido,
mas o seu conteúdo
de dependência
especí-
absoluta.
Além disso, esse afeto religioso toma forma específica em cada comunidade religiosa, cuja função é comunicar a experiência constitutiva da comunidade, de tal forma que todos possam participar do mesmo afeto. No caso de Schleiermacher, o que o interessa é a comunidade protestante, que, segundo ele, se baseia em dois momentos históricos fundamentais: Jesus e o impacto que Ele causou em seus primeiros discípulos, por um lado, e a Reforma do século XVI, por outro. A função da teologia está em expor o que este sentimento de dependência subentende, tanto em nossas relações com o mundo
em nosso próprio ser, como e com Deus. Portanto, tudo
o que não se relacione com esse sentido de dependência não tem lugar verdadeiro na teologia. Tomemos, por exemplo, a doutrina
da criação.
sentimento
Esta
doutrina
de dependência,
somente nossa, Negar a criação
pois
é importantíssima indica
para
que a existência,
o
não
mas de tudo quanto existe, depende de Deus. seria negar a dependência, que é parte funda-
mentai do afeto religioso cristão. Mas isto não quer dizer que tenhamos que afirmar um modo particular de criação. A narrativa
da criação
da maneira
como
aparece
em Gênesis
pode
ser
ou não um fato histórico - o próprio que o fosse - mas, em todo caso, não teologia deva se ocupar, pois o modo acontecer não tem implicação alguma
Schleiermacher não cria é uma questão da qual a por que a criação veio a para o nosso sentimento
de dependência.
de Moisés
certas, cher,
reveladas "os
dados
Embora de
um
específicos
as histórias modo
sobrenatural,
nunca seriam
ten ham
diz
artigos
sido
Schleierma-
de fé em nos-
so sentido da palavra, porque o nosso sentimento de dependência absoluta não recebe deles nenhum novo conteúdo, nem uma nova forma, nem uma definição mais clara". E o mesmo deve se dizer de outras questões, tais como a existência dos anjos, de Satanás, etc. Pelas mesmas razões, a distinção entre
98 - A Era dos Novos Horizontes
o que é natural e o que é sobrenatural porque se oponha à ciência moderna, ção
limitaria
àqueles
o
nosso
momentos
sentimento
ou lugares
deve ser rejeitada, não mas porque essa distin-
de
dependência
de
em que se manifestam
Deus
as coisas
sobrenaturais. O caráter de nossa dependência, que é absoluta em todo momento, não permite que façamos essas distinções. Deste modo, insistindo em que a religião não é conhecimento' Schleiermacher pode interpretar as doutrinas fundamentais do cristianismo, de tal maneira que não se oponham à ciência.
A questão
importância conta tratar
do modo
nenhuma
da ciência. da criação
para
exato
por que
a teologia,
que
Deus cria pode
não tem
deixá-Ia
por
Mas ao mesmo tempo a ciência não pode em seu verdadeiro sentido, ou seja, como
afirmação de que tudo quanto existe depende de Deus. O impacto de Schleiermacher foi grande. Em uma época em que muitas
pessoas
diziam
sado, as igrejas ficavam bretudo Schleiermacher posteriores, alemão".
o
sistema
a ponto
cheias deixou
que a religião
era coisa do pas-
quando ele pregava. Mas soo seu selo sobre as gerações
de ser chamado
de "pai
do
liberalismo
de Hegel
O segundo caminho que ainda estava aberto como conseqüência da obra filosófica de Kant era concordar com ele na afirmação de que a mente imprime nhecimento, mas depois, em lugar
o seu selo sobre todo de declarar que isto
code-
monstra os limites da razão, afirmar o contrário, que a razão é a própria realidade. A razão não é algo que esteja em nossas mentes, e que então empreguemos para entender a realidade. Não. A razão é a realidade, a única realidade que existe. Este foi o caminho tomado por George Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), que começou a sua carreira intelectual ocupando-se particularmente da teologia, mas depois chegou à conclusão de que o modo pelo qual ele havia concebido a teologia era demasiadamente estreito, pois devia procurar meios pelos quais pudesse entender não só o fenômeno religioso, mas também toda a realidade. E era necessário realidade, não como uma série de elementos
entender díspares,
essa mas
como uma unidade, como em várias de suas obras,
ciências Hegel
filosóficas
propõe
um todo. Isto foi o que Hegel propôs particularmente na Enciclopédia das em compêndio, publicada em 1817. O que
é a identificação
da razão
com a realidade.
Não
Horizontes
se trata
simplesmente
Intelectuais:
A Teologia
de que a razão
possa
Protestante
entender
- 99
a reali-
dade, ou que a realidade estabeleça limites à razão. Trata-se, antes, de que a razão é a realidade, e a única realidade é a razão. "O que é racional existe, e o que existe é racionai". Contudo,
ao falar
em "razão"
Hegel
não se refere
ao en-
tendimento estático, à idéia fixa e determinada, mas ao próprio processo que é o pensar. Ao pensar, não nos colocamos diante de uma idéia fixa, para contemplá-Ia. Pelo contrário, propomos uma idéia, examinamo-Ia ou negamos com outra idéia ceira
idéia
que
inclui
o que
de tal modo que a superamos e, por fim, chegamos a uma terhá de valor
nas duas
anteriores.
Este processo de propormos uma idéia ou "tese", de questioná-Ia mediante uma "antítese" e de chegar por fim, a uma "síntese", é a razão. Trata-se então de uma razão dinâmica, de um processo,
de um movimento
que avança
constantemente.
Essa razão não é tampouco minha mente. A razão universal,
algo que exista unicamente na o Espírito, como a chama He-
gel, às vezes
Tudo
é a realidade
não esse pensar,
dia lético
toda.
e dinâmico,
quanto
existe
não é se-
do Espírito.
Sobre esta base Hegel construiu um imponente sistema em que pretendia incluir toda a história como o pensamento do Espírito. As diversas cos, as diversas ordens mentos no pensamento
religiões, os diversos sistemas filosófisociais e políticas, não passam de modo Espírito. E, nesse pensamento, nada
que aconteceu é negado, mas é superado e incluído em uma nova síntese. Assim, o presente inclui todo o passado, pois o resume, e todo o futuro, que não deverá ser nada mais do que o desenvolvimento racional do presente. Hegel estava convencido de que o cristianismo era "a religião absoluta". Mas isso não se deve, segundo Hegel o entendia, ao fato de o cristianismo ser a negação das demais religiões, mas, ao contrário, ao fato de que é a sua culminação, na qual se resume o pensamento que se foi desenvolvendo em todo o progresso religioso da humanidade. O tema fundamentai da religião é a relação entre Deus e o ser humano. E essa relação chega ao seu ponto culminante na doutrina cristã da encarnação, em que Deus e o ser humano se unem completamente.
Essa unidade,
giões desde o princípio, doutrina da enca rnação. idéia
que estava aparece
implícita agora
em todas
as reli-
em sua plenitude
De igual modo, a doutrina da Trindade é a culminação de Deus, pois afirma o caráter dinâmico da realidade
na da fi-
100 - A Era dos Novos Horizontes
n al. A dialética trinitária apresenta idéia eterna, em si e por si, mesmo
três movimentos. independentemente
Deus é do de-
senvolvimento da realidade racional no que chamamos de criação. Este é o "reino do Pai", que não é outra coisa senão Deus considerado
em si mesmo.
O "reino
do
Filho"
é o que
nor-
malmente chamamos de "criação", ou seja, o mundo no espaço e no tempo, e culmina com a encarnação de Deus, que mostra a identificação entre o ser humano e Deus. O "reino do Espírito" é o que se segue à encarnação, à união entre Deus e a humanidade, e se manifesta na presença de Deus na comunidade.
Tudo
isto é o "reino
na vida ética alto conceito).
de Deus",
que se realiza
na história,
e na ordem do estado (Hegel tinha o estado em Assim surge uma filosofia completamente livre,
que não precisa sujeitar-se a dogmas, mas que, graças ao Espírito, cujo pensamento é toda a realidade, pode sobrepor-se a todas
as limitações de sistemas parciais. Este amplo esquema da realidade,
controu
inúmeros
admiradores.
que Hegel
Por fim,
parecia
propôs,
en-
que a huma-
nidade havia conseguido ver a totalidade em seu conjunto. E os seq u id o r es de Hegel se dedicaram a mostrar como diversos elementos
da realidade
se encaixavam
dentro
do grande
ma hegeliano. De certo modo, as teorias de Darwin, em meados do século, são expressão do dinamismo aplicado
às ciências
alcançado namarquês
naturais.
Foi como
protesto
"agora
contra
o êxito
pelas idéias de Hegel, que o filósofo e teólogo diSõr e n Kierkegaard, de quem nos ocuparemos a se-
guir, zombou do otimismo dos hegelianos, mente que todos os problemas estão a ponto dos,
siste-
expostas de Hegel
que o Sistema
está completo
tará completo até domingo que vem". Por outro lado, o sistema de Hegel
dizendo de serem
jocosaresolvi-
ou, se não está, esteve
impacto,
mesmo
entre as pessoas que não o aceitaram, porque os obrigou a levar a sério a história. A partir de Hegel, a história não seria um interesse secundário para as pessoas que não se interessavam por realidades eternas, mas seria o lugar em que as realidades eternas se tornariam conhecidas. Esta perspectiva, que é eminentemente bíblica, nós a devemos a Hegel e em geral ao século XIX. A obra de Kierkegaard Um dos mais interessantes personagens do século o dinamarquês Soren Aabye Kierkegaard (1813-1855).
XIX foi Criado
Horizontes
Intelectuais:
A Teologia
Protestante
- 101
em um severo lar luterano que lhe deixou marcas profundas, Kierkegaard sempre foi um personagem estranho. Fisicamente débil, e com um corpo moderadamente retorcido, desde menino ele se viu objeto de zombarias que não cessaram durante toda a sua vida. Porém, logo se convenceu de que os seus indubitáveis dotes intelectuais o chamavam a uma missão especial, e que diante dessa missão todos os outros interesses precisavam promisso
ceder. com
Foi assim a jovem
que ele decidiu
Regina
Olsen,
romper
a quem
o seu com-
amava
profun-
damente. O matrimônio, pensava Kierkegaard, o teria feito feliz, mas ao mesmo tempo o impediria de ser o cavaleiro solitário da fé, que se sentia chamado a ser. Anos depois, Kierkegaard compararia sua decisão de não se casar com Regina com a decisão
de Abraão
de sacrificar
seu filho.
E confessaria
tam-
bém que alguns de seus livros foram escritos "por causa dela". Diante do desafio de Kant, ficava aberto um caminho diferente daqueles de Schleiermacher e de Hegel: declarar que, embora
a razão
fosse
incapaz
de penetrar
a realidade
última,
a
fé pode fazê-lo. A "razão pura" de Kant não pode provar nem a existência de Deus, nem a sua inexistência; mas a fé conhece a Deus diretamente. sua racionalidade, gel, nem consiste como o pretendia
O cristianismo,
portanto,
tão de fé; de fé no D~us que se revelou sus Cristo. mais
não se baseia
na
nem faz parte de um sistema como o de Heem um sentimento de dependência absoluta, Schleiermacher. O cristianismo é uma ques-
Se isto fosse tudo, do que o sempre
nas Escrituras
e em Je-
Kierkegaard não estar ia dizendo disseram os que se .:-efugiaram
nada na fé
para não precisar enfrentar os desafios do momento. Essa "fé" suposta não o é, em verdade, diria Kierkegaard, pois a fé nunca é coisa fácil, nem tampouco é remédio para tornar a vida mais tranqüila. Pelo contrário, a fé é um risco, uma aventura, que necessariamente levará o ser humano à negação de si mesmo e dos gozos do mundo. É por isso que Kierkegaard condenou um dos mais famosos pregadores da sua época, dizendo que ...
Quando alguém conseguiu, mediante a pregação do cristianismo, todos os bens materiais pos stveis e todas as alegrias do mundo, dizer que é testemunha da verdade é tão ridículo como falar de uma virgem rodeada da multidão de seus filhos... Querer ter todos os bens e as vantagens do mundo, e ao mesmo tempo ser
102 - A Era dos Novos Horizontes
testemunha da verdade... não é apenas monstruoso, mas até impossível, como uma ave que seja ao mesmo tempo peixe ou um instrumento de metal feito de madeira. Para
Kierkegaard,
cristandade, tão. Alguém maometano. idéia acerca
a grande
negação
do cristianismo
é a
que se dedicou a tornar fácil a tarefa de ser crisé cristão simplesmente porque não é judeu nem Porém, o certo é que, precisamente por ter essa do que é ser cristão, na realidade se é pagão. Tal
cristianismo "barato", sem custo nem dor, é como os jogos de guerra, em que se movem exércitos e se faz ruído, mas não há risco nem dor. Mas também não há vitória. O que chamamos de "cristianismo", diz Kierkegaard, não passa de "brincar de cristianismo". E para essa brincadeira contribuem os que pregam o evangelho, dando a entender que ele é coisa fácil e atraente.
"Em
meia
hora,
com
o simples
gesto
de levantar
a
mão, se acerta todo o assunto da eternidade, e então se pode gozar a vida plenamente." Quando acontece tal coisa, se está cometendo o "crime da cristandade", que consiste em "brincar de cristianismo
e considerar
é que ninguém
percebe
ma, como
se a Palavra
como
Deus um bobo". é ridículo
tratar
E o mais trágico Deus dessa for-
de Deus não fosse cortante.
Na magnífica catedral, o Honorável e Mui-Reverendo-Superintendente-Geral-Pregador, o favorito escolhido das pessoas da moda, aparece perante um auditório seleto e prega emocionada mente sobre o texto que escolheu: "Deus escolheu os vis deste mundo, e os desprezados". E ninguém se ri! Em tais circunstâncias, Kierkegaard concebeu a sua missão como a de "tornar difícil ser cristão". Com isto ele não queria
dizer
que ia persuadir
tava equivocada. que lhes haviam
as pessoas
de que a fé cristã
Não, mas ia persuadir-lhes pregado e ensinado estava
es-
de que a fé fácil muito distante da
verdadeira fé. Em outras palavras, que para ser verdadeiramente cristão é preciso informar-se do preço da fé, e pagar esse preço. Sem isso, pode-se ser membro da cristandade, mas não se é cristão. O verdadeiro cristianismo é questão da própria existência do indivíduo, e não somente do intelecto. Este é o ponto principal em que Kierkegaard se vê obrigado a rejeitar o sistema de
Horizontes
Hegel,
ao qual
Hegel
e seus
edifício
chama
no qual
não
A Teologia
sarcasticamente
seguidores
essa existência
Intelectuais:
fizeram
há lugar
que acontece
de "o
foi
para
Protestante
Sistema".
construir
um
a existência
em meio
- 103
O que
imponente
humana,
para
dúvida
e de-
a angústia,
sespero. É como quem constrói uma linda mansão e passa a viver em seu estábulo, porque a mansão é tão luxuosa que ele não se sente bem nela. Esta ênfase na prioridade da existência em relação à essência que valeu a Kierkegaard "fundador do existencialismo", embora os seus posturas diferissem modernos.
muito
dos de boa parte
o título de interesses e
dos existencialistas
A existência é uma luta constante, uma luta por vir a ser, por nascer. E isto quer dizer que, ao colocar a existência no centro, é necessário abandonar, não apenas o sistema de Hegel, mas também todos os outros quer dizer que não existe nenhum realidade tema
é um sistema
para quem
tência
Todavia, cristã.
sistemas. "Será que isto sistema? Não ... A própria
- para Deus, mas não pode ser um sis-
está no meio da existência."
a existência E la também
que importa a Kierkegaard é a exisnão pode ser reduzida a um sistema.
E a tragédia da cristandade, do cristianismo fácil, é que a existência cristã deixou de ser uma aventura e um risco constante na presença de Deus, para se converter em uma moral ou em um sistema de doutrinas. Daí o que Kierkegaard chamaria de grande problema: como no meio da cristandade.
o
cristianismo
chegar
a ser cristão
quando
se vive
e a história
O interesse na história, que vimos no rru cro deste capítulo, e que encontrou o seu grande expoente filosófico em Hegel, influenciou
também
bíngia, o erudito desenvolvimento esquema raiz
do
de Novo
os estudos
F. C. Baur da teologia
Hegel.
Para
Baur
Testamento
bíblicos
e teológicos.
(1792-1860) dedicou-se do Novo Testamento e seus
encontra-se
seguidores, o conflito
Em Tua expor segundo
o o
na própria entre
o cris-
tianismo judaizante de Pedro e os interesses mais universais de Paulo. E esta tese e antítese se resolvem em uma síntese que, para alguns, é o Quarto Evangelho e, para outros, o cristianismo do século II. Além desenvolvimento teológico que este ou aquele atribu ído.
livro
disso, com base neste esquema do da igreja antiga, alguns disseram
não podia
datar
da época
a que era
104 - A Era dos Novos Horizontes
Isto, por sua vez, levou a grandes debates entre eruditos, acerca de mil questões relacionadas com a literatura bíblica; por exemplo, quem escreveu talou qual livro, e em que data, ou se o livro
em si é obra
de um só autor,
ou de vários.
meio a esses debates, muitos sentiram que a sua fé foi çada. Outros procuraram redefinir o que era a fé cristã. co a pouco se foram desenvolvendo melhores métodos tudo bíblico que, posteriormente, ajudariam e entender a Bíblia. Igreja.
Em
ameaE poude esmelhor
Algo semelhante aconteceu com os estudos de história da A idéia de que as doutrinas cristãs se haviam desenvol-
vido apossou-se da mentalidade do século XIX. Para alguns, essa evolução não era nada mais do que um desenvolvimento do que já estava implícito na mensagem original. como o famoso historiador Adolph von Harnack viam na história dos dogmas da Igreja o abandono da mensagem
original
de Jesus,
Mas outros, (1851-1930), progressivo
que não era acerca de Jesus.
Segundo Harnack, o que Jesus pregou foi a paternidade de Deus, a fraternidade universal, o valor infinito da alma humana e o mandamento do amor. Foi de po ls, por um processo que levou anos, que Jesus veio a ser o centro da mensagem. Boa parte destas idéias de Harnack foram emprestadas de um dos mais influentes teólogos do século XIX, Albrecht Ritschl (1822-1889), a quem Harnack chegou a chamar de "o último dos pais da igreja". Semelhantemente a Schleiermacher, Ritschi respondeu ao desafio de Kant, colocando a religião em uma esfera diferente da "razão pura" ou especulativa. Mas Ritschl não podia concordar com Schleiermacher, cuja insistência no "sentimento de dependência absoluta" lhe parecia demasiado subjetivista.
Segundo
Ritschl,
a religião,
e muito
particular-
mente o cristianismo, não é uma questão de especulação racionai, nem de sentimento subjetivo, mas de vida prática. O racionalismo especulativo é demasiadamente frio, e não obriga a quem segue esse caminho a um compromisso de fé. O misticismo, por outro lado, é subjetivo e individualista, e presta pouca atenção à necessidade de uma comunidade de crentes. Contudo, o cristianismo precisa ser prático também no sentido de que se deve basear no conhecimento prático dos acontecimentos e, em particular, do acontecimento de Jesus. O importante é a revelação de Deus dada na história, na pessoa de Jesus Cristo. Quando a teologia esquece este fato, cai no racionalismo
ou no misticismo.
Este estudo
histórico,
segundo
Horizontes
"organização
da
Foi
A Teologia
Protestante
- 105
à conclusão de que o centro dos ensinameno Reino de Deus, e a ética do Reino, que é a
Ritschl, leva-nos tos de Jesus foi amor".
Intelectuais:
em
humanidade virtude
mediante
desses
a ação
ensinamentos
inspirada
no
Ritschl
deu
que
impulso ao pensamento de Rauschenbush sobre o evangelho social, a que nos referimos anteriormente (no capítulo I). Tudo isto resultou no que foi chamado de "a busca do Jesus histórico". Por trás do Jesus da fé, a quem a igreja adora, se pensava, e mesmo por trás dos Evangelhos, havia um Jesus histórico a quem é necessário redescobri r para se saber ou conhecer a ciência correta que é o cristianismo. ca se dedicaram muitos eruditos. Posteriormente, pios do século XX, Schweitzer, famoso músico e teólogo, declarava que, afinal busca do Jesus supostamente histórico em encontrar um homem do século XIX, trado,
mas
sim
a sua
própria
A esta busnos princí-
missionário, médico, de contas, toda essa havia se empenhado e não o havia encon-
imagem.
Portanto,
declarava
Schweitzer, "é bom que o Jesus histórico de verdade deponha o Jesus moderno, se levante contra o espírito moderno e traga sobre o mundo não paz, mas espada ... A quem o obedecer, quer sábios, quer ignorantes, Ele se dará a conhecer nas lutas, conflitos e sofrimentos que eles deverão passar em sua companhia e, com mistério inefável, saberão por experiência própria quem
é Ele".
Os teólogos
que
mencionamos
neste capítulo
alguns
dos muitíssimos
que poderiam
século
XIX
períodos
foi
um
em toda a história para nos dar uma opiniões lectual
dos
de maior
atividade
do cristianismo. Mas estes idéia da enorme variedade
que surgiram
no protestantismo,
que essa diversidade
manifesta.
são apenas
ser mencionados,
pois o
teológica
poucos bastam de posições e
e da vitalidade Naturalmente,
inte-
em toda
essa agitação se expuseram idéias e opiniões que logo precisariam ser corrigidas. Mas o fato é que, com todos os erros de que
ela possa
ser acusada,
que o protestantismo tuais do momento.
a teologia
não temia
do século
enfrentar
XIX
mostrou
os desafios
intelec-
V Horizontes Intelectuais: A Teologia Católica Estamos horrorizados, veneráveis irmãos, ao ver as monstruosas doutrinas, ou melhor, os enormes erros que nos oprimem. São amplamente disseminados por uma multidão de livros, panfletos e outros escritos pequenos no tamanho, mas grandes em sua maldade. Gregório XVI
Enquanto
muitos
nho do liberalismo, os seus teólogos outro
que
lhes
teólogos
desse
livre
entende, se recordarmos passou durante o período
o
protestantes
seguiam
o cami-
a hierarquia católica procurava evitar que seguissem o mesmo caminho ou qualquer acesso
às idéias
modernas.
as grandes vicissitudes que estamos estudando.
papado e a Revolução Francesa Ao estourar a Revolução Francesa,
papal. Muito antes, em 1775, este pontificado publicando uma bula,
Pio VI ocupava
papa onde
Isto
se
que o papado
o trono
havia começado o seu atacava as idéias dos
filósofos que advogavam uma nova ordem social. Portanto, desde os primórdios da Revolução, o papa fez tudo o que pôde para impedir o seu progresso. Isto dificultou sobre a Constituição civil do clero, a que nos riormente. esforçou-se
Como para
resposta, debilitar
o governo o papado,
as negociações referimos ante-
republicano não apenas
da França na França,
onde se promulgou o "culto ao Ser Supremo", mas também na própria Roma, onde agentes franceses semeavam idéias republicanas.
Em 1789, os franceses
ocuparam
militarmente
a cida-
Horizontes
de de Roma, estava
onde
deposto
Intelectuais:
proclamaram
o papa
como
A Teologia
a república soberano
Católica
e declararam
temporal.
Este
- 107
que ficou
praticamente prisioneiro dos franceses, e morreu no ano seguinte. Com a proteção do imperador Francisco II da Áustria, inimigo
da França,
os cardeais
reuniram-se
então
em Veneza
e
elegeram Pio VII como papa. Eram os anos em que Napoleão subiu ao poder, e posteriormente, em 1801, a França assinou com o papa o acordo a que nos referimos anteriormente. Embora
Napoleão
não fosse
pessoa
religiosa,
ele não via a neces-
sidade de desperdiçar as suas forças em conflitos com o papado e, por isso, Pio VII, restaurado em sua sede romana, pôde reinar
em relativa
Papa viajou para perador, embora soluta,
tivesse
calma
por algum
tempo.
No fim
de 1804, o
Paris, a fim de consagrar Napoleão como este último, em sinal da sua autoridade
tomado
a coroa
das mãos
imab-
do papa e a tivesse
ele mesmo colocado na cabeça. Mas, no ano seguinte, o então imperador se fez coroar também rei da Itália, e as suas tropas invadiram de novo a Península. Em 1808, ocuparam elas a cidade de Roma. O papa, negando-se a fugir, excomungou a todos os que fizeram
violência
contra
a igreja,
e foi levado
para o
desterro pelos exércitos vitoriosos. Ali ficou, até que a queda de Napoleão em 1814 permitiu que voltasse para Roma, onde a sua primeira ação foi proclamar o perdão a todos os seus inimigos. A mesma coisa fez pelo derrotado Napoleão, em favor de quem intercedeu diante das potências vencedoras. Pio VII morreu em 1823, dois anos depois que Napoleão, e Leão XII o sucedeu. Tanto ele como seus sucessores Pio VIII e Gregório XVI puderam reinar em relativa paz. Mas sempre a memória da Revolução Francesa fez com que eles se sem para o conservadorismo político e teológico. Por petidamente eles condenaram o catolicismo liberal, curava somar-se às novas correntes políticas. O caso
inclinasisso, reque promais no-
tável foi o do teólogo Félicité Robert de Lamennais, que se havia distinguido por seus ataques contra os intentos de Napoleão de governar sobre a igreja. Depois de uma complicada peregrinação intelectual, Lamennais chegou à conclusão de que os monarcas absolutos sempre procurariam governar a igreja çar-se apoio vogar
e que, portanto, em
um
esforço
o que os cristãos em
prol
deviam
da liberdade
fazer política,
era lancom
o
e sob a direção do papado. Para isso, o papa devia ada liberdade de imprensa, que seria a vanguarda da nova
108 - A Era dos Novos Horizontes
ordem. Se o papa se convencesse desse projeto, pensava Lamennais, a igreja poderia reclamar o seu devido lugar na nova ordem. Enquanto Lamennais se limitou a atacar aqueles governos que não respeitavam as prerrogativas da igreja, Roma viu nele o seu grande campeão, e portanto Leão XII até chegou a pensar em torná-lo cardeal. Mas quando Lamennais começou a advogar uma aliança entre o papado e o liberalismo político, perdeu o apoio de Roma, que ainda tremia diante da recordação da Revolução Francesa. Lamennais foi para Roma com a esperança de convencer o Papa, mas este, na época Gregório XVI,
condenou
então,
as suas
abandonou
idéias
o seio
em duas
da igreja,
encíclicas.
e junto
Lamennais,
com
ele
saíram
muitas outras pessoas que tinham idéias democráticas. Enquanto acontecia tudo isto, na Itália ia aumentando o sentimento nacionalista, que sonhava com a unidade nacional. Uma
facção
centro
importande
ao redor
o medo
que
do qual
os papas
desse devia tinham
movimento
se formar de tudo
via
a nova o que
no
papado
nação.
pudesse
o
Porém, parecer
sedição, e seu desejo de agradar os monarcas absolutos do resto da Europa, que tinham interesse em ver a Itália dividida, fizeram com que logo o movimento nacionalista tomasse rumos opostos
aos interesses
Pio IX O pontificado
de Pio
dos papas.
IX (1846-1878),
o mais
extenso
de
toda a história, foi um tempo de paradoxos para o papado. O principal deles foi que, ao mesmo tempo que os papas perdiam definitivamente o seu poder temporal, promulgava-se a sua infalibilidade. A revolução de 1848, que sacudiu boa parte da Europa, se fez sentir também em Roma, onde, no ano seguinte, proclamou-se a República Romana. Foi necessária uma nova intervenção por parte da França, desta vez a favor do papa, para que este pudesse reg ressar a Roma. Depois da sua restauração, em lugar de dar continuidade a algumas das liberdades introduzidas
pelos
republicanos,
Pio IX procurou
como soberano absoluto. Ao mesmo choque com Cavou r, o alto funcionário
governar
tempo, ele entrou em do Reino de Piemonte,
cuja política era a unificação da Itália. O papa se aliou à Áustria, enquanto que Cavou r recorreu aos franceses. Depois de complicadas vicissitudes, as quais não precisamos recordar aqui, as tropas do Reino da Itália tomaram os estados pontifícios
no dia 20 de setembro
de 1870.
Embora
o papa
se tenha
Horizontes
Intelectuais:
A Teologia
Católica
- 109
Pio IX negado
a aceitar
o fato
temporal do papado, ao Vaticano e outros nha tomavam-se
consumado,
esse foi
o fim
do poder
cuja autoridade soberana ficou limitada dois palácios. Enquanto isso, na Alema-
medidas
contra
o poderio
da igreja,
e outras
potências européias seguiam o exemplo de Bismarck. Portanto, o pontificado de Pio IX marca o fim do poder político dos papas, que havia conseguido o seu apogeu no século XIII, sob o pontificado de I nocêncio II I. va-se
Ao mesmo tempo em que Pio perdia o seu poder, esforçapor afirmá-lo, embora apenas em matérias puramente re-
ligiosas. Assim, em 1854, ele mesmo proclamou o dogma da imaculada conceição de Maria. Segundo este dogma, a própria Maria,
em virtude
de sua eleição
para ser a Mãe do Salvador,
foi preservada de todo pecado, inclusive do pecado original. Este era um ponto que os teólogos católicos haviam debatido durante séculos, e sobre o qual nunca houve consenso absolu-
110 - A Era dos Novos Horizontes
to.
Porém,
o importante,
do ponto
ao declarar igreja, Pio
que a imaculada IX foi o primeiro
si mesmo,
sem a ajuda
bula
Ineffabilis,
ceição
de
pela
Maria,
de nenhum
qual
foi
um
de vista
histórico,
foi que,
conceição de Maria era dogma da papa a promulgar um dogma por
Pio
concílio.
IX promulgou
ensaio
para
ver
De certa
forma,
a imaculada que
reação
a
conhaveria
diante da idéia de que o papa podia promulgar sozinho um novo dogma. Visto que a bula não provocou maiores protestos, o cenário estava pronto para a promulgação da infalibilidade papaI. Enquanto isso, o papa não cessou sua luta contra as novas idéias que se iam fazendo sentir em toda a Europa e América. Em 1864, publicou ele a encíclica Quanta cura, que estava acompanhada de uma lista ou Sflabo de erros, condenando oitenta proposições modernas que os católicos não podiam aceitar. Visto que esta lista mostra o espírito do papado no século XIX, vale a pena citar alguns dos erros que nela são condenados: 13) Que o método e os princípios, mediante os quais antigos doutores escolásticos cultivaram a teologia, não adaptam
às necessidades
de hoje
nem
ao progresso
os se
das ciên-
cias; 15) Que cada ser humano que lhe pareça
verdadeira,
pode adotar
segundo
e seguir
a religião
a luz da razão;
18) Que o protestantismo é nada mais do que uma forma diferente da mesma religião cristã, em que é possível se agradar a Deus tanto como 21) Que a igreja que a religião 24) Que
na verdadeira Igreja Católica; não pode determinar dogmaticamente
da Igreja Católica a igreja não tem
é a única verdadeira; autoridade para usar
de força.
nem tem nenhum poder temporal, seja direto ou indireto; 30) Que a imunidade da igreja e das pessoas eclesiásticas se baseia na lei civil; 37) Que podem ser instituídas igrejas nacionais, separadas e completamente independentes do pontífice romano; 38) Que a conduta arbitrária dos pontífices romanos contribuiu
para a divisão entre a igreja oriental o governo das escolas
45) Que todo educa
a juventude
de um Estado
cristão,
e a ocidental; em que se
públicas
com a única
e parcial
exceção dos seminários, pode e deve ficar nas mãos do poder civil, de tal modo que não se permita que outra autoridade se
Horizontes
intrometa concessão
Intelectuais:
A Teologia
Católica
- 111
no governo das escolas, a direção dos estudos, de títulos ou a escolha e aprovação dos mestres;
a
47) Que a melhor ordem da sociedade civil requer que as escolas públicas, abertas para crianças de todas as classes, e em geral todas as instituições públicas que se dedicam a ensinar literatura
e ciência,
e a educar
a juventude,
estejam
livres
de toda autoridade por parte da igreja, de toda sua influência moderadora, e fiquem sujeitas unicamente à autoridade civil e política, de modo que sejam conduzidas de acordo com as opiniões dos governantes civis e a opinião comum da época; 55) Que a igreja deve ser separada do Estado, e o Estado da igreja. 77) Que em nossos tempos já não é mais conveniente que a religião católica seja a única do Estado, nem que se excluam todos os outros cultos; 78) Que, portanto, deve se louvar o fato de que em alguns países católicos se permitiu, por lei, que os imigrantes pratiquem publicamente os seus próprios cultos; 79) Que é falso
que, se for
dada liberdade
civil
a todos
os
cultos, e se for permitido a todos declarar publicamente as suas opiniões e idéias, quaisquer que sejam elas, isso facilitará a corrupção
da moral
e das mentes,
diferentismo; e 80) Que o pontífice concordar derna.
com
romano
o progresso,
Como vimos, extenso pontificado
e difundirá
pode
e deve
o liberalismo
a praga
do in-
reconciliar-se
e a civilização
e mo-
o tom geral deste documento, e de todo de Pio IX, se opunha a inovações como
o a
separação entre a igreja e o Estado, a liberdade de cultos, a liberdade de imprensa, e as escolas públicas sob a supervisão do Estado. Ao mesmo tempo, o papa insistia em sua autoridade, e nos
males
que surgiriam
se a sua autoridade
não fosse
acatada. Tudo isto chegou ao apogeu no Primeiro Concílio Vaticano, convocado por Pio IX, que começou as suas sessões no fim de 1869. Em sua constituição promulgou a infalibilidade papal:
Pastor aeternus,
o Concílio
Visto que em nossos dias, quando mais do que nunca se requer o efeito saudável do ottcio apostólico, há não poucos que se opõem à sua autoridade, consideramos que é necessário afirmar solenemente a prer-
112 - A Era dos Novos Horizontes
rogativa a que o Filho Unigênito de Deus dignou unir o sumo offcio pastoral. Portanto, aderindo fielmente à tradição que vem desde o infcio da fé cristã, para a glória de Deus nosso Salvador, para a exaltação da religião católica, e para a saúde dos povos cristãos, com a aprovação do Sagrado Concflio, ensinamos e definimos como dogma revelado por Deus que o pontffice romano, quando fala ex cathedr a, quando define, por sua autoridade apostólica suprema como pastor e doutor de todos os cristãos, uma doutrina de fé ou de costumes que deva ser aceita pela igreja universal, tem, pela assistência divina que lhe foi prometida no bem-aventurado Pedro, aquela infalibilidade com que nosso divino Redentor quis que a igreja contasse, ao definir questões de fé ou de moral. Portanto, tais definições do pontffice romano são irreformáveis em si mesmas, e não em virtude do consenso da igreja. E se alguém (Deus não o permita) se atreve a contradizer esta nossa definição, seja anátema. Deste
modo
ficava
promulgada
a infalibilidade
do papa,
como doutrina da Igreja Católica. Note-se que o texto não indica que o papa seja sempre infalível, mas unicamente quando fala "ex cathedra". Estas palavras foram incluídas no texto da declaração
para responder
o papa Honório, tico. A resposta aceitar
uma
às objeções
dos que indicavam
por exemplo, havia incorrido a tal objeção seria então
doutrina
heterodoxa,
não o havia
que
em erro dogmáque Honório, ao feito
"ex
cathe-
dra", mas como pessoa particular. Em todo caso, dos poucos mais de seiscentos bispos presentes, 522 votaram a favor, dois se opuseram, e mais de uma centena se absteve de votar. A doutrina da infalibilidade papal não causou a oposição que era de se esperar. Na Holanda, Áustria e Alemanha, alguns católicos se separaram da comunhão romana e fundaram a Igreja
Católica
Antiga.
moderados. O que acontecia seu poder, o papado
Mas,
em geral,
os protestos
e críticas
foram
bate acerca
era que, tendo perdido grande parte do já não precisava mais ser temido. O de-
da autoridade
do papa
havia
dividido
os católicos,
particularmente na França, entre "gauleses" e "ultramontanos". Os primeiros eram os que insistiam nas antigas prerro-
Horizontes
gativas
da igreja
guardasse do partido autoridade
francesa,
Intelectuais:
A Teologia
e esperavam
que
Católica
o Estado
- 113
salva-
essas prerrogativas. Os ultramontanos, ou seja, os de "além dos montes", queriam a centralização da eclesiástica no papado. No Primeiro Concílio do
Vaticano, os ultramontanos pareceram haver ganho a disputa. Mas isto se deu porque o papado já havia perdido grande parte do poder real que os gauleses temiam. Prova disso é que a infalibilidade papal foi promulgada em 18 de julho de 1870, e no dia 20 de setembro do mesmo ano Roma capitulou diante das tropas do Reino de Itália, e o papado perdeu o seu poder temporal. Quanto a Pio IX, ele se declarou prisioneiro do rei Víctor Manuel,
e se negou
a aceitar
os fatos
consumados.
Além
do
mais, os papas haviam perdido o governo de Roma muitíssimas vezes, e sempre algum soberano havia acudido para restaurá-los. Mas nesta ocasião ninguém acorreu. Por fim, 1929 o papa - nessa ocasião Pio XI - aceitou oficialmente que havia sido realidade por mais de meio século. Leão XIII Ao papado excepcionalmente
de Pio
IX seguiu-se
extenso
o de Leão
(1878-1903).
Devido
XIII,
em o
também
às condições
políticas da Itália, Leão XIII, que continuava insistindo nos direitos temporais do papado sobre a cidade de Roma e seus arredores, proibiu que os católicos votassem nas eleições legislativas
do país. Esta proibição,
que continuaria
até bem de-
pois do início do século XX, em grande parte teve resultado contraproducente, pois fez muita falta o impacto que os católicos poderiam
ter causado
va nação italiana. Todavia, ao conservadora
durante
mesmo
na Itália,
tempo
os anos de formação em
Leão reconheceu
que
seguiu
da no-
esta
a necessidade
política de ceder
em outros campos. Assim, ele conseguiu que na Alemanha a política anticatólica de Bismarck fosse moderada. E na França, onde a Terceira República continuou uma política marcadamente anticlerical, o papa fez tudo adotar medidas conciliatórias. Em de aconselhar o clero francês que anti-republicana, e isto apesar de
Immortale Dei, ter declarado com a autoridade
da igreja.
o papa, ao mesmo
tempo
era moderna,
considerava
o que lhe era possível para 1892, ele chegou ao ponto abandonasse a sua atitude alguns anos antes, na bula
que a democracia era incompatível O que estava acontecendo era que
que procurava a autoridade
as novas papal
realidades
em termos
da
muito
114 - A Era dos Novos Horizontes
semelhantes a Pio IX, continuando a sonhar com uma sociedade católica, debaixo da direção de princípios formulados pelo papado. Isto de todo
pode
promulgada então pouco tre
ser verificado
o pontificado
de
no mais Leão,
importante
a sua
documento
Rerum novarum,
bula
em 15 de maio de 1891. O tema dessa bula, até tratado pelos papas, é a questão das relações en-
trabalhadores
e patrões.
que o desenvolvimento meça afi rmando que
Leão
reconhece
as dificuldades
do capitalismo havia delineado, e coo conflito presente pode ser verificado
"nas enormes fortunas de uns poucos indivíduos, e na pobreza extrema das massas". Por isso, é necessário lançar-se à difícil tarefa "de definir os direitos relativos e as obrigações mútuas dos ricos e dos pobres, do capital e do trabalho". Estas relações tornaram-se tanto mais tristes quanto nos tempos mo-. dernos desapareceram as antigas organizações trabalhistas, e "um pequeno número de homens muito ricos puderam colocar sobre as massas dos trabalhadores pobres um jugo que é só um pouco melhor do que o da própria escravidão". Embora seja um erro pensar que entre os pobres e os ricos não pode deixar
de haver
dos pobres
um conflito
precisa
merecer
de classes, uma atenção
é verdade
que a defesa
especial,
pois os ricos
têm muitas maneiras de se proteger, enquanto que os pobres não têm outro recurso senão a proteção do Estado. Por isso, as leis
precisam
direitos de todo
ser
de tal
dos pobres. trabalhador
forma
que
sejam
Em particular, deve-se a um salário que baste
salvaguardados
os
defender o direito para sustentá-lo e
à sua família,
sem que ele seja obrigado a trabalhar além dos limites justos. Tudo isto deve ser feito, porque "o próprio Deus parece inclinar-se a favor dos que sofrem infortúnio". Por outro as opiniões
lado,
dos
isto
não quer
socialistas,
pois
dizer
que devam
a propriedade
ser aceitas
privada
é um
direito estabelecido pelo próprio Deus, como também a herança. Ademais, as diferenças existentes na ordem social devemse, em parte humanos,
siguais". O que ricos
pelo
menos,
"e a fortuna o papa
pratiquem
a diferenças
desigual
pede,
a caridade.
então, Isto
naturais
é o resultado
é, em primeiro quer
dizer
entre
os seres
de condições lugar,
de-
que os
que ninguém
está
obrigado a dar o que lhe faz falta, não apenas para as suas necessidades mais imediatas, mas também para manter "a sua condição de vida". Porém, uma vez que essas necessidades
Horizontes
estejam sobrar". contra
satisfeitas,
"é
Intelectuais:
obrigação
dar
A Teologia
Católica
aos necessitados
- 115
o que
Os pobres, por sua parte, não devem ficar cheios de ódio os ricos, mas devem lembrar que a pobreza é um estado
honroso, rial.
e que a prática
leva à prosperidade
da vi rtude
mate-
Contudo, o papa sabe que isto não basta, e por isso, além do que mencionamos acima sobre a obrigação do Estado de defender os pobres, advoga a formação de sindicatos de trabalhadores, para defender os direitos dos operários. Estes direitos incluem não somente os salários e as horas de trabalho, mas também o direito de praticar a religião católica como é devido dicatos
e, portanto, Leão exorta em favor da formação de sincatólicos, nos quais não haverá inimizade e rixas que
existem gião.
quando
a pobreza
não conta
com a companhia
da reli-
Em conclusão, declara Leão XIII: "A condição das classes trabalhadoras é a questão mais urgente dos dias de hoje ... Mas será fácil aos trabalhadores cristãos resolvê-Ia corretamente, se formarem associações, escolherem sábios dirigentes e seguirem o caminho em que antes marcharam os seus pais, com tanto
proveito para si mesmos e para a sociedade". Esta encíclica deu novo alento aos muitos católicos
fazia
algum
problemas cente
tempo
estavam
apresentados
capitalismo.
procurando
pela revolução
Alguns,
chamados
solução industrial
à ação
que já
para os muitos por
e pelo
cres-
essa
bula,
mais tarde chegariam à conclusão de que as soluções por ela apresentadas eram demasiado simplistas. Outros enfatizaram os elementos mais conservadores desse documento, como, por exemplo, o fato de que os sindicatos devem ser católicos, para se oporem ao sindicalismo moderno. Portanto, a bula Rerum
novarum, que marcou tólico lência
o começo
contemporâneo, também de Leão a respeito destas A mesma
ambigüidade
do movimento é uma indicadora questões.
pode
ser verificada
trabalhista
ca-
da ambivana atitude
de
Leão XIII com relação aos estudos modernos. Este foi o papa que abriu os arquivos do Vaticano para o exame dos historiadores, convencido de que a verdade oriunda dos estudos históricos serviria para fortalecer, e não para debilitar a autoridade da igreja.
Ao mesmo
tempo,
havia
na Igreja
Católica
quem
aspirasse a realizar estudos históricos sobre a Bíblia, semelhantes aos que estavam acontecendo entre os protestantes na
116 - A Era dos Novos Horizontes
Alemanha
e na Grã-Bretanha. Deus, na qual
videntissimus
Este foi o tema da encíclica ProLeão afirmava o valor dos novos
estudos e descobrimentos acerca da Bíblia e da igreja. Portanto, os "modernistas" que advogavam uma liberdade maior no estudo crítico das Escrituras, tanto quanto os que se lhes opunham, cia. Pio
puderam
declarar
que a encíclica
papal
lhes favore-
X
O papa que sucedeu a Leão XIII, e que dirigiu os destinos da Igreja Católica até o começo da Primeira Guerra Mundial, foi
Pio X (1903-1914).
conservadora
A política
do novo
do que a de seu antecessor,
papa foi
muito
e aproximou-se
mais mais
da de Pio IX. O resultado foi um distanciamento maior das correntes da sociedade e pensamento modernos, por um lado, e o catolicismo ortodoxo, por outro. Sob a direção do papa, o Santo Ofício promulgou um decreto condenando muitas das pessoas que se haviam atrevido a aplicar os novos métodos de estudo his t r ico a questões teológicas e bíblicas. Estes eram os ó
chamados o francês
"modernistas", dos quais os mais famosos foram A. F. Loisy, o inglês George Tyrrell e o alemão Her-
mann Schell. Pouco depois, na encíclica Pascendi domini gregis, Pio X confirmou o que havia sido feito pelo Santo Ofício. O resultado
foi
que
muitos
dos
"modernistas"
deixaram
a igreja,
enquanto que um bom número de católicos aprendeu a sê-lo sem prestar demasiada atenção às declarações pontifícias ... Em resumo, durante os anos que vão desde a Revolução Francesa até a Primeira Guerra Mundial, o cristianismo, tanto protestante como católico, teve de enfrentar novas realidades políticas, econômicas, sociais e intelectuais. Em termos gerais, enquanto o protestantismo procurou meios pelos quais pudesse levar em conta essas realidades, e às vezes pelos quais pudesse adaptar-se ceções - seguiu XX começou,
a elas, o catolicismo um curso contrário.
as diferenças
entre
- com notabilíssimas exPor isto, quando o século
católicos
muito mais marcantes do que em qualquer incluindo o período da Reforma.
e protestantes período
eram
anterior,
VI Horizontes Geográficos: O Século do Colonialismo Afirmo que somos a primeira raça do mundo, e que quanto maior for a parte do mundo que povoemos, mais se beneficiará a humanidade. Cecil Rhodes
Desde o fim viam duas
do século
XV, varias
nações
européias
se ha-
lançado à empresa da colonização do resto do mundo. As potências que tomaram a iniciativa foram Espanha e
Portugal, e à sua expansão colonizadora e missionária dedicamos nossa atenção no volume VII desta história. Nos meados do século XVI, segundo registramos ali, a Grã-Bretanha começou também
suas atividades
América
do
Norte
Portugal
começavam
e, portanto,
colonizadoras,
particularmente
e no Caribe.
Ao mesmo
a perder
sua hegemonia
a sua expansão
colonial
ram em cena, dinamarqueses.
além dos britânicos, Portanto, durante
sas potências versas regiões
foram estabelecendo do globo.
tempo, sobre
se deteve.
na
Espanha
e
os mares
Então,
entra-
os franceses, holandeses e os séculos XVII e XVIII, esenclaves
coloniais
em
di-
O propósito dessa colonização não era a conquista militar, ao estilo dos espanhóis no México, mas o estabelecimento de relações comerciais. Por exemplo, o que os ingleses desejavam tros
não era criar um vasto império povos a aceitarem seu idioma
feito criar
os espanhóis as condições
britânico, nem forçar oue religião, como haviam
e portugueses. O seu objetivo era, antes, necessárias para que posteriormente se pu-
dessem beneficiar economicamente dos produtos de uma região. Para isso, a conquista militar não era sempre necessária, e muitas vezes podia acabar sendo contraproducente. Já Portugal havia dado o exemplo desse tipo de colonização, na Ásia, onde,
em lugar
de procurar
conquistar
regiões
inteiras
- coisa
118 - A Era dos Novos Horizontes
que em todo caso teria sido tabelecer centros comerciais
impossível - contentou-se em escomo Goa, na índia, e Macau, na
China. Igualmente, os interesses portugueses em Angola e Moçambique se limitaram às costas ou litorais, cuja posse lhes garantia
lugares
de abastecimento
vam em direção ao Oriente. Quando Grã-Bretanha são colonial,
este
não foi
para os navios
e Holanda
começaram
um empreendimento
havia sido a conquista da América Pelo contrário, o empreendimento
que navegaa sua expan-
nacional,
como
pela Espanha e Portugal. colonizador foi colocado
nas mãos de interesses privados que se encarregaram da criação, exploração e governo das colônias. Isto foi o que vimos ao discutir a fundação das colônias britânicas na América do Norte, várias das quais foram criadas por companhias comerciais, enquanto que outras foram postas à disposição de nobres ingleses. Igualmente, durante as primeiras décadas da colonização britânica na índia, esse empreendimento esteve nas mãos da Companhia Britânica das índias Orientais. E os holandeses colocaram suas colônias sob a supervisão da Companhia Holandesa das índias Orientais. O governo limitou-se a reconhecer
essas companhias,
que se encarregaram
do gover-
no de seus enclaves comerciais intercontinentais. Quando começou o século XIX, podia se pensar que colonialismo europeu estava chegando ao fim. Particularmente no hemisfério ocidental, as potências européias maior parte de suas colônias. A independência Unidos ilhas
deixou
para a Grã-Bretanha,
no Caribe
franceses
e porções
perderam
além
da costa
o Haiti.
perderam a dos Estados
do Canadá,
de Belize
E a Espanha,
e, portanto,
era natural
ria muita energia para ser dedicada Todavia, o que aconteceu foi ras
napoleônicas
Grã-Bretanha do Napoleão europeu, naval.
contribuíram
todos
supor-se
Os
os seus terriaté o fim esgota-
que não resta-
à empresa colonial. bem ao contrário. As guer-
para
concentrar
a atenção
da
sobre as colônias francesas e espanholas. Quanchegou à conquista de quase todo o continente
a Grã-Bretanha Os navios
cruzassem
algumas
e a Guiana.
tórios, exceto Cuba e Porto Rico, os quais conservaria do século. Ao mesmo tempo, as guerras napoleônicas ram a Europa
o
ingleses,
o Canal
se susteve além
da Mancha,
graças
à sua superioridade
de impedir dedicaram-se
que
os franceses
a interceptar
trânsito entre a Europa continent~1 (França, Espanha, Holanda e Portugal. todas sob o domínio napoleônico) e suas colônias.
o
Horizontes
o
público
vitórias
britânico,
glesa
desalentado
do Imperador
cias de feitos impedia
algum
para
francês,
à Europa
a chegada
cessitava
em praias
forte
sua máquina
coincidiu européia
Foi precisamente gou a tal grau novos dução
remotas,
que
nas notí-
a marinha
uma
batalha
in-
naval
que o Imperador O resultado
ne-
foi que,
ao
a Inglaterra se havia tornaantigas colônias francesas e
com a principal no século XIX: época
- 119
das constantes alento
onde
ou onde
de recursos
de desenvolvimento
causa da enorme exa revolução industrial.
a revolução
industrial
que começaram
che-
a fazer falta
Segundo se foi aplicando a tecnologia à proessa produção foi requerendo cada vez
mercados. industrial,
maiores países
nessa
notícias
encontrava
de guerra.
terminar as guerras napoleônicas, do a dona dos mares e de várias holandesas. Tudo isto pansão colonial
O Século do Colonialismo
pelas
na Europa,
de guerra
destruía
Geográficos:
capitais
e mercados
da Europa
ocidental
mais amplos. competiam
mento industrial, e procuravam os produtos estrangeiros, era
Visto
entre
que vários
dos
si no desenvolvi-
fechar os seus mercados necessário encontrar ou
para criar
mercados fora desse âmbito. Até certo ponto, esses mercados existiam na Europa não industrializada, mas não bastavam para satisfazer as necessidades das grandes indústrias que começavam a aparecer. os franceses, alemães
Por isso, e outros,
os ingleses lançaram-se
vos mercados
além
Um dos industrializadas
resultados dessa competição foi o "neocolonialismo"
primeiro, e depois em busca de no-
dos mares. entre as potências na América Latina.
Nem bem as antigas colônias espanholas se haviam tornado independentes, e o Brasil deixava de ser colônia portuguesa, quando os britânicos, ram a competir entre
franceses e norte-americanos começasi pelo domínio dos novos mercados. De
fato,
que se criou
foi
nessa
época
o termo
"América
Latina",
cunhado pelos franceses para indicar que eles, como latinos, tinham mais afinidade com as novas repúblicas do que os britânicos ou norte-americanos. Mas ulteriormente a França, carente do desenvolvimento industrial que a Grã-Bretanha possuía, perdeu a disputa. Ao começar a Primeira Guerra Mundial, as inversões
de capital
vam cerca de oito quais três bilhões lhão e setecentos um
bilhão
estrangeiro
na América
Latina
soma-
bilhões e quinhentos milhões de dólares, dos e setecentos milhões eram ingleses, um bimilhões norte-americanos, e pouco mais de
franceses.
Esses
investimentos
se fizeram
com
o
120 - A Era dos Novos Horizontes
consentimento portanto,
e o
apoio
se estabeleceu
das uma
classes
crioulas
aliança
entre
abastadas
o capital
e,
estran-
geiro e o nacional. Visto que esse capital podia funcionar melhor em governos oligárquicos, a cargo da aristocracia crioula, esses governos encontraram apoio internacional, e tornou -se mais
difícil
novos
produzir
radicais
na estrutura
social
dos
países.
À medida ses
mudanças
que se foi desenvolvendo
industrializados,
essa
situação
a tecnologia
foi
se tornando
mais tensa. Assim, enquanto a princípio ses estavam interessados principalmente nos da América
Latina
e nos produtos
para
exportação,
e da monocultura.
com
o conseqüente A mesma
cada
os investidores nos mercados agrícolas
tidos nos portos, por volta de 1870, com vias, tornou-se possível explorar melhor Por exemplo, enquanto que a Argentina cinqüenta quilômetros de ferrovias em no país mais de trinta mil quilômetros sultado foi o aparecimento da grande dios
dos paívez
ingleurba-
facilmente
ob-
a construção de ferroo interior dos países. contava com menos de 1860, já em 1914 havia de vias férreas. O reagricultura e pecuária
crescimento
coisa
aconteceu
dos
latifún-
no resto
do
continente. Na Ásia, a revolução industrial européia teve conseqüências semelhantes, embora posteriormente chegou-se à colonização não apenas econômica, mas também política, mediante a conquista militar. Ali também o propósito das potências industrializadas
foi
criar
novos
mercados
e, por
isso,
elas
se
contentaram em estabelecer centros de comércio na índia, China e outros lugares. Mas em sua maior parte, muitas vezes a contragosto, elas tiveram de intervir militarmente, e governar diretamente grandes porções dos territórios com os quais haviam desejado apenas comerciar. O que acontecia era que, de vez em quando,
os comerciantes,
vendo
ameaçados por algum movimento político za do governo local ou pela proximidade dustriai,
apelavam
a seus próprios
os seus interesses
no país, pela fraquede outra potência in-
governos,
que se viam
çados a intervir militarmente. Por volta de 1870, com o novo desenvolvimento triai, essa situação se agravou. Já não se procuravam mercados
para
os produtos
manufaturados,
for-
indusapenas
mas também
para
matérias primas. Então a Europa começou a cobiçar territórios a que antes havia dado pequena atenção, particularmente no interior da África. Além disso, mais ou menos à mesma época,
Horizontes
produziu-se
uma
modificação
peus consideravam despertado interesse missionários. imperialista. notarem,
Geoqréticos:
na maneira
pela
qual
-
121
os euro-
as colônias. Até então, estas só haviam da parte dos comerciantes, marinheiros e
Mas agora As demais
se produzia em toda nações perceberam
a Grã-Bretanha
continental. um império
O Século do Colonialismo
havia
Unicamente semelhante,
criado
Europa um furor que, quase sem
um vasto
império
inter-
a França se havia ocupado em criar embora muito menor. Começou então
a circular na Europa a idéia de que, para ser uma potência européia, era necessário possuir um império ultramarino, e países como a Bélgica, Itália e Alemanha, que até então pouco se haviam
ocupado
do
resto
do
mundo,
se lançaram
tá-lo. Particularmente na África, produziu-se ritorial onde quase todo o continente acabou alguma ilhas
potência
européia.
do Pacífico,
que
impérios coloniais. Tudo isto foi possível do desenvolvimento
E a mesma
logo
foram graças
tecnológico
coisa
repartidas a outra
a conquis-
uma divisão tersob o domínio de aconteceu
entre
grande
do Ocidente:
nas
os diversos
conseqüência
a sua superiori-
dade militar. O Ocidente contava com armas que não tinham rival no armamento dos países colonizados, e com as quais era possível derrotar exércitos muito mais numerosos. A infantaria contava com rifles de alta precisão e armas de repetição; a artilharia, com canhões de grande alcance e relativamente fáceis de transportar. A marinha, de 1880 em diante, com navios de guerra a vapor, capazes de destruir frotas inteiras de barcos a vela, de subir rios para atacar o interior dos países e de interromper
o tráfego
de cabotagem
ao largo
das costas.
Ante
tal
superioridade militar, até os impérios mais orgulhosos e antigos - o da China, por exemplo - tiveram que se humilhar. Só alguns países da Ásia e da África conseguiram conservar a sua independência política, e até a esses não se permitiu conservar
a sua independência
por exemplo, tências
embora
ocidentais,
foram
litar, a se abrir para mente, e pela primeira
econômica.
não tenham forçados,
sido
A China
e o Japão,
conquistados
pelas po-
mediante
a intervenção
o comércio internacional. vez na história, o mundo
mi-
Economicapassou a ser
uma vasta rede comercial. Na Europa
e nos Estados
Unidos
se discutia
amplamente
o que estava acontecendo. Houve quem se opusesse a diversos empreendimentos coloniais, por considerá-los contrários ao interesse nacional. E algumas vezes relativamente isoladas se
122 - A Era dos Novos Horizontes
levantaram em protesto contra o mOdr~elo qual se tratavam os habitantes dos territórios colonizados. Contudo, em termos gerais, os colonizadores estavam convencidos de que a sua empresa se justificava devido aos benefícios que as populações colonizadas receberiam. A ci taçâo jfe Ceci I Rhodes que encabeI
ça este capítulo é característica do espírito da época. Deus havia colocado nas mãos dos europeus e dos brancos norteamericanos os benefícios dp civilização ocidental, incluindo a fé cristã, para que eles os compartilhassem com o resto do mundo. Essa responsabilidade era vista como "encargo do homem branco", que devia levar ao resto do mundo as bênçãos da industrialização, o capitalismo, a democracia e o cristianismo. Se os empreendimentos colonizadores destruíam de passagem as velhas culturas, ou as antigas de uma civilização, isto se desculpava, pois cultura todos.
e as novas
bases
econômicas
bases econômicas mais tarde a nova
redundariam
no bem
de
Tais argumentos não eram sem base. Os progressos da ciência médica, por exemplo, chegaram a lugares antes ilhados.
Como
cido
de que o único
veremos
mais modo
adiante, pelo
Livingstone
qual
estava
conven-
deter
o tráfico
se poderia
de escravos era abrir a África para o comércio internacional, e provavelmente ele tinha razão. Nas nações colonizadas, houve muitas
pessoas
que receberam
a nova ordem
e que se beneficiaram com ela. Mas o sistema todo se baseava e cultural
que
logo
acarretaria
com entusiasmo,
em uma arrogância
o repúdio
dos
povos
étnica
coloniza-
dos. Já no fim do século XIX, havia nesses povos pessoas que assinalavam com argumentos convincentes o fato de que muitos dos supostos benefícios do regime colonial em verdade não eram
benefícios.
Outros
muitos,
ao mesmo
tempo
que estavam
dispostos a aceitar a tecnologia, não estavam dispostos a aceitar a tutela ocidental. Assim surgiu o movimento anti-colonialista que seria uma das características distintivas do século XX. A igreja participou de todas estas circunstâncias. O século XIX, que foi a época da expansão das potências protestantes, foi também o período do grande avanço das missões protestantes. A relação entre ambos missões, é demasiado complexa,
os elementos, colonialismo e segundo veremos no restante
deste volume. Não é totalmente exato dizer que os missionários (oram agentes do colonialismo, pois, em algumas vezes, se
Horizontes
opuseram práticas. entrou seja
a ele,
e em
Tampouco pelas
verdade
Geográficos:
muitíssimos
é certo
portas que
O Século do Colonialismo
abertas
muitas
casos
que a grande pelo
vezes
criticaram
expansão
colonialismo,
as colônias
- 123
as suas
missionária pois,
foram
se bem
a porta
de
entrada para os missionários, também é verdade que houve lugares em que os missionários chegaram muito antes dos comerciantes e colonizadores e que, em muitos casos, as autoridades
coloniais
bitável,
à obra missionária.
se opuseram
e o restante
deste
volume
provará
O que é indu-
por completo,
é que
uma inumerável hoste de cristãos, levada por motivos muito sinceros e por um inegável amor ao resto da humanidade, lan-
à tarefa
çou-se
de
evangelizar
mesma época em que outros o resultado foi que, no fim um território afastado dade que não louvasse Ásia,
Considerando no Pacífico,
o
mundo,
precisamente
se dedicavam a explorá-lo, do século XIX, dificilmente
do mundo onde existisse o nome de Jesus Cristo.
na e que havia
uma comuni-
a forma como essa obra se realizou na África e na América Latina, dedicaremos
na o
restante do presente volume à sua descrição. Mas antes de passar a narrar esses fatos, devemos prestar atenção a algumas características gerais desse grande movimento missionário. Talvez o fato mais notável desse fundação de inúmeras sociedades, cujo
período objetivo
tenha sido era apoiar
a a
obra missionária. Algumas dessas sociedades trabalhavam exclusivamente entre os membros de uma determinada denominação. Outras atravessavam as barreiras denominacionais. Mas todas eram sociedades voluntárias, de tal modo que o sustento financeiro
da obra
missionária
não procedia
normalmente
dos
cofres oficiais da igreja como instituição, mas das contribuiçôes dos membros da igreja que se interessavam pela evangelização
do mundo.
Algumas
dessas
sociedades
foram
fundadas
muito antes do período que estamos estudando. Entre as mais antigas se encontram a Sociedade para Promoção do Conhecimento Cristão (Society for Promoting Christian Knowledge, ou S.P.C.K.l e a Sociedade para a Propagação do Evangelho em Terras Estrangeiras (Society for the Propagation of the Gospel in Foreign Parts, ou S.P.G.l. A primeira foi fundada em 1698, e a segunda,
em
1701.
Ambas
eram
anglicanas,
e durante
muito
tempo a maior parte do seu trabalho teve lugar entre os britânicos que viviam além-mar, embora elas também se tenham ocupado dos habitantes nativos das colônias britânicas. Duran-
124 - A Era dos Novos Horizontes
te o século XVIII, devido ao impacto dos pietistas, mo r avro s e metodistas, foram fundadas outras sociedades com propósitos rnis si o nári o s. Porém, o auge das sociedades missionárias aconteceu no fim do século XVIII, e durante todo o século XIX. Em 1792, graças ao empenho de William Carey - de quem trataremos
mais
cu~ar para assumiu o depois, em Sociedade ou L.M.S.) rianos Igreja
adiante
- foi fundada
a Sociedade
Batista
Parti-
Propagar o Evangelho entre os Pagãos, que depois nome de Sociedade Missionária Batista. Três anos parte devido ao exemplo dos batistas, foi fundada a Missionária de Londres (London Missionary Society, constituída principalmente de metodistas, presbite-
e congregacionais. Anglicana fundou
Em 1799, a ala mais evangélica da a Sociedade Missionária da Igreja Society, ou C.M.S.). A partir de então, as
(Church Missionary
sociedades missionárias se multiplicaram. Na Inglaterra foram fundadas várias dezenas delas com fins específicos, tais como a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (1804). Dali o movimento
se transferiu
para
outras
partes
da Europa
e para
os
Estados Unidos. Logo foram fundadas sociedades semelhantes na Holanda, Suíça, Dinamarca, Alemanha e outros países. Na França apareceram sociedades tanto protestantes como católicas. Nos Estados Unidos foi fundada entre os congregacionais a Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras (American Board of Commissioners for Foreign Missions). Quando niram
uma
pessoa
Judson,
dentre
se tornou
os seus enviados, batista,
o famoso
essa denominação
impulsionada a organizar a sua própria sociedade e posteriormente foi dessa sociedade que surgiu Batista
Americana.
Outras
sociedades
foram
consignamos, para devolver escravos combater o uso do álcool, para abolir 1816, foi fundada A existência
missionária, a Convenção
fundadas,
toridades civis. Desde os tempos des "haviam apoiado decididamente
como
já
libertos à Àfrica, para a escravidão, etc. Em
a Sociedade Bíblica Americana. de todas essas sociedades é uma
de outra característica do enorme século XIX: esse avanço teve lugar
Ado-
se sentiu
indicação
progresso missionário do com escasso apoio das aude Constantino, as autoridaa expansão da fé cristã. Re-
cordemos, por exemplo, a conversão forçada dos saxões por parte de Carlos Magno, ou a conquista da América pelos espanhóis e portugueses. Mas agora, no século XIX, a maioria dos governos Por muito
europeus se fez alheio às atividades missionárias. tempo, a Companhia Britânica das índias Orientais
Horizontes
Ordenação dos primeiros Comissionados
Geográficos:
O Século do Colonialismo
missionários
- 125
da Junta Americana
de
procurou impedir a entrada de missionários nos territórios que estavam a seu cargo. Os governos europeus, e o dos Estados Unidos, geralmente adotaram em face das missões uma atitude neutra. Os missionários desses países, pelo menos em teoria, não deviam contar com mais proteção do que a que era estendida a outros cidadãos da mesmas nações. Essa proteção era importante, e em mais de uma ocasião uma potência ocidental acudiu em defesa dos seus missionários. Mas como um todo, as missões não eram empreendimento oficial dos governos, e raras vezes contaram com subsídios precisamente por isso que as sociedades naram tão necessárias, pois eram elas
governamentais. Foi missionárias se torque arrecadavam os
126 - A Era dos Novos Horizontes
fundos
e recrutavam
mentos
missionários
Como
o pessoal
necessário
para os empreendi-
e evangelísticos.
conseqüência
de tudo
isso,
pela
primeira
vez
na
história os empreendimentos missionários cativaram o interesse dos membros comuns das igrejas. Naturalmente, os que verdadeiramente se interessavam foram apenas uma parte deles. Mas todos podiam contribuir de algum modo. Até para as crianças foram fundadas sociedades missionárias, para cujos fundos cada criança contribuía com uma pequena quantidade semanal ou mensal. As sociedades missionárias também se ocupavam em dar conhecer a seus membros o que acontecia na Ásia ou na África, e assim se tornaram uma das principais fontes de informação a respeito de outras civilizações com que o Ocidente entrou em contato. Logo, graças às sociedades missionárias,
começou
acerca dos lugares China ou da índia. As
mulheres
a haver
um
que tinham
notícias
ou dos costumes papel
importante
da em
os missionários eram homens, embora e acompanhados de suas esposas. Pocomeçaram a ocupar um lugar destaca-
do, tanto nas sociedades rias denominações foram Algumas
pessoas da África,
desempenharam
tudo isso. A princípio, muitos deles casados, rém, logo as mulheres
mulheres.
muitas
mais remotos
delas
como no pessoal missionário. Em váfundadas sociedades missionárias de enviaram
missionárias
de cujo
sus-
tento se ocuparam. Entre os católicos, essas mulheres eram geralmente freiras, e se ocupavam de tarefas semelhantes às que desempenhavam em seus países: o ensino, o cuidado dos enfermos, os asilos para órfãos e para anciãos, etc. Entre os protestantes, muitas mulheres começaram a exercer funções que lhes eram vedadas em suas próprias igrejas, tais como a pregação.
Naturalmente,
isto
se devia
a uma atitude
de supe-
rioridade racial e cultural, que considerava como certo o fato de que as mulheres brancas dos Estados Unidos, por exemplo, não podiam pregar a norte-americanos, mas sim a pessoas de outras culturas e raças. Em todo caso, posteriormente o exemplo das estavam
missionárias, que assumiam responsabilidades proibidas a suas irmãs na Europa e nos Estados
dos, encontrou
eco em seus países de origem,
que Uni-
e por isso o mo-
vimento feminista no protestantismo ocidental tem algumas de suas raízes na participação das mulheres no movimento missionário. Por fim,
uma
das conseqüências
mais
notáveis
do movi-
Horizontes
Geográficos:
O Século do Colonialismo
- 127
mento missionário, p a r trcu i a r rn e n te entre os protestantes, foi o espírito de cooperação que começou a aparecer entre as diversas denominações. As rivalidades que pareciam ser justificadas na Europa ou nos Estados Unidos eram um verdadeiro tropeço para a obra missionária na índia ou na China. Por isso, os missionários primeiro, e depois os dirigentes nacionais das novas igrejas, procuraram métodos para romper as antigas barreiras entre as denominações. Várias sociedades missionárias que mencionamos contavam com membros de várias denominações. Nos campos missionários, os cristãos se viram diante da necessidade de apresentar uma frente única, desenvolvendo estratégias baseadas na cooperação, e não na competição. Assim foi que protestantes,
o movimento ecumênico, pelo menos entre os surgiu em boa parte a partir do movimento mis-
sionário do século XIX, pítulo deste volume.
tema
a que dedicaremos
o último
ca-
VII Horizontes ,Geográficos: Asia Não discutirei o caráter particular dos missionários, alguns dos quais, antes de se tornarem apóstolos, foram fabricantes de anil . ... Em lugar de fermentar uma erva, o que se faz em vinte e quatro horas, eles se dedicaram a fermentar todo o pafs, e os seus resultados se farão sentir durante anos. William F. Elphinstone, Diretor da Companhia das índias Orientais
Durante fascinado rumores
do Oriente
haviam
os europeus. Em livros medievais incluíam-se acerca dos estranhos costumes e dos incríveis
séculos,
as antigas
civilizações
vagos mons-
tros que havia nessa região. As viagens de Marco haviam levado à Europa notícias de fabulosas cortes
da China
tabeleceram de então
e da índia.
contatos
o comércio
interrupção. reclamaram
No século
permanentes entre
Logo que a sua parte
a Europa
XVI,
com
os portugueses
essa região,
e o Oriente
puderam, outras nesse rico butim.
Polo e outros riquezas das es-
e a partir
continuou
sem
potências européias Embora o seu objeti-
vo não fosse realizar ciar com eles, pouco
conquistas entre os asiáticos, mas comera pouco a necessidade de conseguir ou de
manter
ou
concessões
vantagens
comerciais
foi
levando
as
potências européias a intervir militarmente, até que, ao começar a Primeira Guerra Mundial, eram poucos os territórios que não estavam sob o domínio colonial. J unto com essa expansão económica, militar e política, marcharam os missionários, às vezes ao lado dos colonizadores, outras vezes atrás deles, outras antes. Em todo caso, ao terminar o século XIX, havia poucas regiões do Oriente em que não se conhecia, pelo menos
Horizontes
superficialmente,
a mensagem
de Jesus
Geogréfficos:
Asia - 129
Cristo.
índia
o mente,
território onde, em primeiro se fez sentir o impacto colonial
continente
hindu
-
correspondente
lugar e mais e missionário
à índia,
hoje
profundafoi o subPaquistão,
Bangladesh e Sri-Lanka. Ali existia desde tempos imemoriais, como registramos em nosso primeiro volume, uma igreja cristã que dizia
haver
sido fundada
pelo apóstolo
Tomé.
igreja teve contatos com os jacobitas da Síria, a eles em seu esforço para rejeitar o Concílio motivo por que foi apelidada de '''monofisita''. tólicos
chegaram
no século
XVI,
procuraram
Depois,
essa
e então se uniu de Calcedônia, Quando os caforçar
a conver-
são desses antigos "cristãos de São Tomé", com o resultado de que alguns se tornaram católicos e outros continuaram em sua antiga fé. Esse remanescente recebeu mais tarde o impacto do protestantismo, particularmente anglicano, e como conseqüência disso alguns se separaram da antiga igreja e formaram a Igreja de Mar Thoma, protestante em suas doutrinas, ao mesmo tempo que guarda a sua liturgia e costumes tradicionais. Essa igreja é forte especialmente no sul da índia, onde se tem distinguido por seu trabalho evangelístico. Os católicos, que chegaram no século XVI debaixo da bandeira portuguesa, continuaram o trabalho iniciado por Francisco Xavier, o grande missionário jesuíta. Mas a decadência do poderio
português acarretou-lhes grandes dificuldades. do que anotamos no caso da América Latina, dificuldades foram devidas principalmente a disputas
À semelhança estas
com respeito ao patronato que coroa portuguesa sobre a igreja
os papas haviam em suas colônias.
concedido à Roma dese-
java retirar os antigos direitos e privilégios que Portugal considerava seus perpetuamente. Por fim, Gregório XVI, que tinha profundos
interesses
diretamente lonialismo
nos territórios antigamente reservados para o coportuguês. Em 1833, o governo português rompeu
no trabalho
missionário,
decidiu
intervir
com Roma, e esta fez com que fossem enviados para a índia e outras regiões do Oriente fortes contingentes de missionários, particularmente jesuítas, que logo entraram em conflito com as autoridades portuguesas, tanto civis como eclesiásticas. O resultado
final
desses
conflitos,
savam
mutuamente
de hereges
século
XIX as missões
católicas
em que ambas e cismáticos, avançaram
as partes
se acu-
foi que durante muito
lentamente.
o
130 - A Era dos Novos Horizontes
A decadência
portuguesa
deixou
muitas
igrejas
católicas
em ruí-
nas (cena no Ceilão). Enquanto índia.
isso,
os protestantes
Os primeiros
a fazê-lo
se haviam
foram
estabelecido
comerciantes
que
na
não ti-
nham grande interesse na conversão dos naturais do país. Pelo contrário, muitos desses comerciantes temiam que a pregação do evangelho aos hindus acarretasse motins que redundariam em prejuízo para o comércio. Todavia, como vimos no volume anterior,
o século
profundo interesse meço desse século
XVIII
foi
a época
do pietismo,
e este tinha
na obra missionária. Portanto, desde o cohouve pessoas na Europa que se interessa-
ram pela pregação do evangelho aos hindus. Uma dessas pessoas foi o rei Frederico IV da Dinamarca, que decidiu enviar missionários à índia. Em particular, o rei pensava
que a pequena
estação
dinamarquesa
que desde 1620 se havia dedicado bém um centro missionário. Visto foi
possível
encontrar
ministros
ao comércio, que em toda dispostos
de Tranquebar, devia ser tamDinamarca não
a empreender
essa
tarefa, o rei recorreu à universidade alemã de Halle, centro intelectual do pietismo, e então I he foram enviados dois missionários. Esses chegaram a Tranquebar em 1706, e ali começaram
uma
obra
que perduraria
até o século
XX, com quotas
de
Horizontes
contribuição
tanto
Os missionários
dinamarquesas de Tranquebar
quanto
Geográ fico: : AI l n
alemãs
traduziram
/.1/
e britânica.
as Escrituras
para
vários idiomas da índia, e até a segunda metade do século XVIII conseguiram tal respeito dos naturais do país, que em mais de uma o casi ão o missionário alemão Christian Friedrich Schwartz foi chamado para intervir, entre diversos potentados hindus.
evitando
encontros
bélicos
Uma aula bíblica no Ceilão No entanto, lugar derio índia
o grande
progresso
missionário
na índia
teve
no século XIX, que foi também a época do crescente pobritânico. Durante o século anterior, embora o mapa da fosse um mosaico de estados relativamente independen-
tes, o poderio
do Grã-Mogul
lhe dava certa
unidade
à região,
e
nenhum europeu sonhou em conquistá-Ia. Em 1717, mediante donativos e serviços médicos, a Companhia Britânica das índias Orientais
conseguiu
algumas
concessões
do Grã-Mogul.
A
132 - A Era dos Novos Horizontes
partir
de
então,
enquanto
o
poderio
dos
grão-mongols
se
desfazia, o da Companhia aumentava. Nos princípios do século XVIII, quase toda a costa oriental da índia estava sob o governo da Companhia. Além disso, em 1796, os britânicos invadiram
a ilha
de Ceilão,
hoje
Sri-Lanka.
Em
meados
do século
XIX, quase toda a índia estava sob o domínio direto ou indireto da Companhia. Mas em 1857 e 1858 produziu-se uma grande rebelião. Os "cipaios", soldados hindus a serviço dos britânicos, clamou
tiveram
uma
imperador
parte
da índia
do os britânicos
ativíssima
o último
conseguiram
na revolta,
que
dos grão-mongóis.
esmagar
os rebeldes,
pro-
Quan-
enviaram
o
pressuposto imperador para o exílio, onde morreu, e resolveram tirar das mãos da Companhia o governo da índia, colocando-o
diretamente
sob o domínio
da coroa
e dando
ao go-
vernador o título de vice- rei. A Companhia Britânica das índias Orientais opunha-se ao trabalho missionário, pois temia que a pregação cristã, e em particular a conversão de alguns hindus, pudesse causar uma reação por parte destes, e que isso redundaria em prejuízos para o comércio. Por isso, durante quase um século não houve nenhum missionário entre as colônias britânicas, mas somente capelões cujo ministério se limitava aos europeus que viviam no lugar. Ademais, tal política por parte da Companhia não provocava grande oposição na Grã-Bretanha, onde o interesse missionário
era
escasso,
e o pouco
que
havia
era
dedicado
principalmente aos índios da América do Norte. Por todas estas razões, pode se dizer que o fundador das missões modernas, pelo menos no que se refere à Grã-Bretanha, foi William Carey. Ele havia sido criado no lar de um professor anglicano, e em sua mocidade, depois de uma profunda
experiência
religiosa,
havia
se tornado
batista.
De seu
lar havia adquirido o hábito da leitura, que nunca abandonou, e lendo acerca das viagens do capitão Cook e outros, despertou-se nele um profundo interesse por terras distantes e culturas diferentes. Isso o levou a preparar um mapa do mundo que incluía notas acerca da cultura e da religião de cada lugar, e a estudar, o italiano. Tudo tante
isto,
estudo
de pregar dada
além
do latim,
juntamente
das aos
a toda
apóstolos,
e o hebraico,
com a sua profunda
Escrituras,
o evangelho
apenas
o grego
convenceu-o humanidade como
muitos
o holandês
e
fé e seu cons-
de que a obrigação não era uma ordem pensavam
naquela
Horizontes
Batismo
do primeiro
convertido
da missão
Geográficos:
Ásia -
133
de Carey
época, mas era também a obrigação dos cristãos de todas as gerações. Depois de publicar um ensaio onde propunha esta tese,
em
1792
pregou
perante
a Associação
de Ministros
tistas um famoso sermão de exortação às missões, sultado de que logo se fundou a Sociedade Batista para
Propagar
o Evangelho
entre
os Pagãos.
O seu objetivo
era coletar fundos para enviar missionários, e recrutar idôneas para essa tarefa. No entanto, posteriormente tado foi que o próprio pessoalmente a tarefa
Carey se sentiu missionária.
chamado
Ba-
com o reParticular pessoas o resul-
a empreender
Em 1793, William Carey desembarcou em Calcutá, em companhia de sua família e do Dr. John Thomas, que esperava
134 - A Era dos Novos Horizontes
utilizar sua renda como médico para sustentar a todos. Visto que a Companhia das índias Orientais se opunha ao trabalho missionário, eles não declararam a sua intenção. Mas as primeiras dificuldades não foram resultados da oposição da Companhia, mas do manejo deficiente das finanças por parte do Dr. Thomas, que já na Inglaterra se vira imerso em dívidas, e agora se inclinava para o mesmo caminho. continuou em seu empenho, dedicando-se ção que lhe parecia a produção índigo, pítulo.
de anil
oferecer mediante
de sustento.
a fermentação
Uma
de folhas
delas foi e talos
de
e é a isto que se refere a citação que encabeça este caNo momento de maiores dificuldades ele escreveu a
seus amigos na Inglaterra: vel. .. Há dificuldades por frente. ficou
meios
Apesar disso, Carey a qualquer ocupa-
Portanto,
precisamos
sem recompensa.
fundos
necessários
panhantes, dificuldades
"A minha toda parte,
Logo
para
seguir
posição já é insustentáe muitas mais à minha avante".
chegaram
a subsistência
Tal
firmeza
da Inglaterra, de Carey
não
além dos
e seus acom-
outros missionários dispostos a sofrer e participar da mesma aventura.
as mesmas
Visto que a Companhia das índias Orientais não permitiu que os recém -chegados desembarcassem em Calcutá, eles se estabeleceram na colônia dinamarquesa de Serampore, fronteiriça a Calcutá. Mais tarde, Carey se uniu a eles, e a partir de então Serampore foi o centro da obra missionária batista na região. Ali os missionários se dedicaram a múltiplas tarefas, todas com o propósito de dar a conhecer o evangelho aos hindus. O próprio Carey, que possuía habilidades lingüísticas extraordinárias, dedicou-se a traduzir a Bíblia em diversos idiomas da índia. Por ocasião de sua morte, havia ele traduzido as Escritu r as, ou porções delas, para trinta e cinco idiomas. Outro dos missionários, Ward, era impressor, e produziu as matrizes necessárias para a impressão das traduções de Carey. Outro, Marshman, dedicou-se ao ensino, e logo se formou em Serampore uma escola de estudos superiores, onde estudavam tanto hindus como europeus. A ambos os grupos se ensinavam as Escrituras cristãs, a ciência ocidental e os livros sagrados da índia. Deste modo esperava-se que os europeus chegassem a compreender posteriormente diversas
melhor a cultura do país, e que os naturais, que seriam encarregados de levar o evangelho às
regiões
da índia,
cimento, não apenas hindus e budistas.
pudessem
das Escrituras
fazê-lo cristãs,
com mas
pleno
conhe-
também
das
Horizontes
Geográficos:
Ásia - 135
Tudo isto indica que Carey e os seus sentiam um profundo respeito pela cultura e pelas tradições da índia. O seu propósito
era criar
uma igreja
que isso não se opusesse
que fosse fiel a essa cultura, aos mandamentos
sempre
bíblicos.
Havia dois costumes na índia que horrorizavam a Carey e seus companheiros: os sacrifícios de crianças no rio Ganges e a queima das viúvas nas piras fúnebres de seus esposos. O governador Wellesley demonstrava desejos de proibir os sacrifícios de crianças, mas não se atrevia a fazê-lo se com isso contradissesse Por isso, respeito.
o que
era
ordenado
nos livros
sagrados
da índia.
pediu a Carey que lhe apresentasse um estudo a esse Quando, depois de minuciosa pesquisa, Carey lhe
informou que os sacrifícios nhum apoio nos seus livros,
de crianças mas eram,
não encontravam neantes, um costume de
origem obscura, Wellesley proibiu que se continuasse sacrificando crianças. A principio foi necessária uma vigilãncia constante para evitar que esse costume continuasse. Mas, pouco a pouco, em parte convencidos pelos argumentos de Carey, os próprios hindus concordaram em abandoná-Ia. O costume de queimar viúvas nas piras fúnebres de seus esposos - ritual chamado sati - foi muito mais difícil de dessarraigar. O próprio Carey conta que na primeira vez que presenciou
tão
horrível
rito,
ao ver
o que estava
para
acontecer,
dirigiu-se aos presentes, apelando aos sentimentos humanos que tivessem, acabando por chamá-los de assassinos. Mas tudo foi em vão; a própria viúva, zombando da sensibilidade do missionário,
dançou
ao redor
da pira,
ver de seu esposo. Então colocaram fortes, e a ataram toda, de tal forma tar-se. viúva
Quando devia
Carey
morrer
protestou,
e encostou-se
em cima dela duas varas que não conseguia levan-
dizendo
voluntariamente
ao cadá-
que se supunha
e que,
atada,
que a
ela não po-
deria abandonar a pira ao sentir as chamas, disseram-lhe que as varas e a corda não eram para amarrar a viúva, mas para que a lenha não se espalhasse. Além disso, convidaram-no a ir embora, dizendo que não se intrometesse nos assuntos alheios. Mas Carey decidiu permanecer no meio daquela turba hostil, disposto a saltar e a livrar queixa. Quando puseram fogo na meçaram a dar gritos de júbilo, e nunca soube se a viúva gritou de então sati.
ele ficou
convencido
a viúva diante da sua menor pira, todos os presentes cofoi tal a algazarra que Carey dor ou não. Mas a partir de
da necessidade
de abolir
o ritual
do
136 - A Era dos Novos Horizontes
cu cn
.g tu
.2
o;::
o
Horizontes
A luta
foi
árdua.
As autoridades
Geográficos:
britânicas,
Á"ln
I:J I
int
r s-
mais
sadas no comércio do que em qualquer outra coisa, temiam que a proibição do sati resultasse em motins que interrompessem o comércio.
Carey
mais
uma vez se dedicou
a demonstrar
que esse costume não encontrava nenhum apoio grados. Sobretudo, ele e os seus companheiros, formações
e correspondências
criaram
nos livros mediante
na Inglaterra
sain-
uma f o rte
corrente de opinião pública contra o sati. Por fim, depois de longa luta, chegou o edito que proibia tal rito. Era o dia do Senhor, e alguns dos missionários achavam que deviam dedicarse a assuntos religiosos, deixando a tradução do edito para segunda-feira. Contudo, recordando o exemplo do Senhor ao curar no dia de descanso, e pensando que o peso em suas consciências seria de sua negligência,
enorme se uma só viúva morresse por causa correram a traduzir e imprimir o edito.
Se nos detivemos de Carey,
isto
para
é porque
narrar
a obra
com tantos
dele
serviu
detalhes
a obra
de inspiração
e de
exemplo para boa parte do trabalho missionário realizado durante o século XIX. As informações de Carey despertaram o interesse missionário, não apenas entre batistas, mas também entre outros cristãos, tanto na Grã-Bretanha como nos Estados Unidos. Logo se formaram as muitas sociedades missionárias a que
nos
referimos
no
último
capítulo.
Não
apenas
na índia,
mas também em outras regiões, a obra de Carey foi a medida que muitos missionários aplicaram a si mesmos. E, graças ao caráter amplo da visão de Carey, que incluía os estudos lingüísticos e culturais, a educação de ministros nativos, a tradução das Escrituras e o conhecimento e apreço pela cultura do lugar, muitos dos missionários do século XIX gozaram da mesma
amplidão
de horizontes.
No que se refere à índia, a partir de então o trabalho missionário avançou rapidamente. Em 1813, ao expirar a concessão que o Parlamento havia feito à Companhia das índias Orientais, incluiu-se na nova lei de concessão uma cláusula que garantia o livre acesso de missionários britânicos à índia, sem os empecilhos sado. Vinte
que até então
anos mais tarde,
às sociedades
missionárias
Provavelmente
o
a Companhia
esses privilégios de outros
missionário
lhes havia foram
cau-
estendidos
países. mais
notável
da
segunda
geração foi o escocês Alexander Duff, que estava convencido de que o melhor modo de evangelizar o país era mediante a educação. Era a época em que um crescente número de hindus
138 - A Era dos Novos Horizontes
desejava
aprender
péia e, assim,
tudo
a obra
o que pudesse
de Duff
acerca
no campo
da técnica
da educação
euro-
teve gran-
de êxito. Duff estava convencido de que a tecnologia ocidental era incompatível com as antigas religiões da índia, e que, portanto, ao introduzir essa tecnologia, ele estava minando essas religiões. Em todo caso, mais tarde todo o sistema de educação na índia foi organizado segundo os padrões de Duff. Um dos resultados dessa obra foi que, quando um século mais tarde a índia conseguiu a sua independência, muitos dos dirigentes da nova nação, se não eram cristãos, pelo menos haviam recebido o impacto de professores cristãos. Enquanto mais educadas,
essa obra abria brechas no meio produziam-se grandes movimentos
são em massa o princípio,
nas classes
mais
os missionários
inferiores
das classes de conver-
da sociedade.
protestantes
se haviam
Desde
colocado
em franca oposição ao sistema de castas, por considerá-lo contrário ao evangelho. Nisto eles diferiam dos católicos, que em geral seguiam os métodos que indicamos no volume VII desta História, e que, portanto, tão radicalmente culo XIX, houve crentes
ao sistema nos templos
das diferentes
anunciava-se conseguinte,
ao falar de Nobili não se opuseram
de castas. Até os princípios do sécatólicos divisões para separar os
castas.
E ntre
os protestantes,
que o evangelho abolia como era de se esperar,
todavia,
toda idéia de casta. logo muitas pessoas
Por das
castas mais desprezadas começaram a acudir às igrejas, onde pela primeira vez eram tratadas com dignidade. Assim, tiveram lugar conversões em massa entre as castas mais baixas. Algo semelhante
aconteceu
viam vivido
marginalizadas
O cristianismo tro
grupo
com
causou
de pessoas
algumas
tribos
na sociedade também
até então
ha-
hindu.
grande
marginalizadas,
que
impacto
as mulheres.
entre
ou-
O costume
do sati era apenas um entre muitos que indicavam que as mulheres eram pessoas menos dignas do que os homens. O infanticídio feminino era relativamente comum. E em geral se considerava que as mulheres não deviam receber maior educação. Os missionários, e particularmente as missionárias, ocuparam-se das mulheres desde cedo. Em 1857, Alexander Duff fundou a primeira escola diária para meninas. Mas o melhor exemplo da obra entre as mulheres foi a hindu Ramabai. Ramabai havia sido criada em um lar excepcional, onde sua mãe se preocupou com que ela aprendesse o sânscrito, e que
recebesse
uma
educação
esmerada.
Depois
de várias
tr a -
Horizontes
Geográficos:
Ásia -
139
Ramabai e sua filha gédias
em sua família,
Ramabai
decidiu
de meninas e jovens viúvas. Visto prometer e casar as meninas desde mui tenra idade, e Ramabai dedicou na a cuidar convencidos a Inglaterra, na Inglaterra,
ao cuidado
delas. Foi então que alguns missionários cristãos, do valor da sua obra, animaram-na a viajar até para ali se preparar melhor. Durante a sua estada ela se converteu,
e decidiu
que se havia dedicado, agora então, Depois de visitar os Estados Unidos, os seus
dedicar-se
que na índia era costume a infância, havia viúvas de o seu tempo e a sua fortu-
projetos,
ela voltou
à índia.
continuar
a obra
a
com uma ênfase cristã. onde obteve apoio para Ali
fundou
um
lar
para
viúvas, e depois outro para órfãs. Convencida de que as mulheres eram dignas de uma educação tão esmerada como a que os homens recebiam, Ramabai aplicou esse princípio a seus
140 - A Era dos Novos Horizontes
lares,
de onde
sariam mabai índia.
o
saíram
forte impacto constitui um
sudeste
mulheres,
muitas
delas
cristãs,
que cau-
na vida do país. Portanto, a obra de Ramarco na emancipação das mulheres na
da Ásia
Também no sudeste da Ásia fez-se sentir nizador. No centro dessa região encontrava-se
o impacto coloo reino de Sião,
que antes havia sido muito grande, mas que então estava limitado a uma faixa que dividia a região em duas. A leste de Sião, foram os franceses que colonizaram a região, hoje Vietnã, Laos e Camboja (Campuche'ia), enquanto que a Birmânia, oeste, ficou sob a administração britânica da índia. Na zona missionários
de influência que
francesa,
provocaram
freqüentemente
o avanço
foram
do colonialismo.
a os
Foi o
que aconteceu nos reinos de Anam e Cochinchina, onde os católicos, perseguidos pelos governos locais, apelaram para as autoridades
francesas,
que
acabaram
por
dominar
a região.
Além disso, a fim de facilitar a vida cristã aos novos convertidos, estes foram reunidos em aldeias católicas. Visto que, graças a seus conhecimentos técnicos e à ajuda proveniente da França,
as
prósperas
aldeias
católicas
que as budistas,
freqüentemente logo
outras. Essa inimizade perdurou culo XX, quando se manifestou taram a região.
houve
inimizade
acabavam entre
mais umas e
até data bem avançada no sénos graves conflitos que açoi-
Na Birmânia, a figura missionária mais notável foi o norte-americano de origem congregacional Adoniram Judson, um dos fundadores da Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras, a que nos referimos anteriormente. Depois de muitas vicissitudes, Judson e sua esposa embarcaram para a índia. Durante a viagem, eles se dedicaram a estudar o Novo Testamento, e chegaram à conclusão de que o batismo de crianças, prática comum entre os congregacionais, não era bíblico. Ao chegar à índia, eles estabeleceram contato com Carey e os seus auxiliares, e foram batizados como batistas. Naturalmente, isto queria dizer que eles renunciavam ao sustento da Junta Norte-Americana de Comissionados e, portanto, foi necessário fundar nos Estados Unidos, como já registramos, uma sociedade missionária batista. Assim, neste caso deu-se
a estranha
missionários
circunstância
e depois
de que
uma sociedade
primeiramente
para sustentá-los.
houve
Horizontes
Embora nejado
a principio
estabelecer-se
lhes antepuseram empreender
Judson
perto
muitos
a sua
obra
Geográficos:
e sua esposa
de Carey,
houvessem
as autoridades
empecilhos,
Ásia - 141
pla-
britânicas
e por isso eles decidiram
na Birmânia,
onde
um
dos
filhos
de
Carey, Félix, era médico, e onde o poderio britânico ainda não se havia estendido. A travessia foi difícil, e nela ocorreu o nascimento prematuro e sem vida do primogênito dos missionários. Na Birmânia, o Dr. Carey lhes prestou um apoio insuficiente. Apesar disso, os Judson continuaram a sua obra, seguindo em grande parte o padrão estabelecido por Carey. Eles se dedicaram especialmente ao estudo dos idiomas e à tradução das Escrituras. Ambos aprenderam o birmanês, e além disso ele estudou o antigo idioma pali, em que estavam escritos os livros budistas, e ela, o tai, que se falava em Sião (Tailândia). Os batistas norte-americanos enviaram um impressor, e em 1817 apareceu a tradução birmanesa do Evangelho de Mateus. Dois anos mais tarde, eles batizaram o primeiro convertido, e por fim os seus esforços começaram a produzir resultados quando explodiu a guerra entre a Birmânia e a Grã-Bretanha. Judson havia recebido, através da Inglaterra, fundos procedentes dades
dos
batistas
birmanesas
norte-americanos,
suspeitaram
que
e por
ele estava
isso as autoriservindo
como
agente britânico, e o encarceraram. A sua esposa interveio a seu favor, e depois de várias semanas ele foi colocado em liberdade, embora com a saúde prejudicada. Nos Estados Unidos, as notícias da sua prisão e da heróica atitude de sua esposa despertaram novo interesse pela missão na Birmânia. Mas as semanas de angustiosa incerteza afetaram a saúde da senhora Judson, que faleceu em 1826. Judson continuou em seu empenho
e, por
em birmanês.
fim,
Nesse
em
1834,
mesmo
terminou
a tradução
ano ele se casou
com
da Bíblia a viúva
de
outro heróico missionário, George D. Boardman, que havia morrido prematuramente três anos antes. Em 1845, a segunda esposa de Judson ficou enferma, e ambos decidiram regressar aos Estados Unidos. Mas ela faleceu durante a viagem, e no ano seguinte Judson, depois de contrair novas núpcias, voltou à Birmânia, onde passaria o resto de seus dias. Judson e os primeiros missionários viram poucas conversões. Todavia, pouco depois, graças a um convertido da tribo dos ka r e n s, Ko Tha Byu, começou a conversão em massa dos membros dessa tribo. Até o dia de hoje, a principal força numérica dos protestantes na Birmânia está entre os karens. Esta
142 - A Era dos Novos Horizontes
Adoniram Judson dá graças a Deus, ao terminar de traduzir a Bíblia para o birmanês tribo,
que se considerava
bons
olhos
o crescente
trou mais disposta pelos missionários.
oprimida poderio
pelos
britânico,
do que os birmaneses
Sião (Tailândia),
como
dissemos,
birmaneses, e por a aceitar
foi o único
deste da Ásia que conservou a sua independência. do século, as autoridades siamesas (tailandesas)
isso
viu com se mos-
a fé pregada reino
do su-
Até meados começaram a
Horizontes
Geogrรกficos:
ร sia - 143
144 - A Era dos Novos Horizontes
Capela do Bom Pastor, na Blrménie permitir
a obra
missionária,
tanto
E mbora tenham havido breves fim do século ambos os grupos congregações
em vários
lugares
católica
como
protestante.
períodos de perseguição, até o haviam conseguido estabelecer do país. Ali também
os católi-
cos manifestaram a tendência de viver em comunidades fechadas, separados do resto da população. Os protestantes distinguiram-se particularmente na educação pública, mediante a qual causaram um forte impacto sobre o país.
China Repetidamente no cu rso desta história fizemos referência ao cristianismo na China. E várias vezes o vimos desaparecer, ou pelo
menos
passar
mente se encontraram cristianismo à grande
por
períodos
tão
obscuros
que dificil-
vestígios dele. Os primeiros a levar nação oriental foram os nestorianos,
o a
Horizontes
quem
nos referimos
no terceiro
volume
Geogr~ficos:
Ásia -
da presente
145
História,
e
cujos últimos vestígios desapareceram no século IX. Depois, na chamada "era dos altos ideais", os franciscanos enviaram missionários à China. Mas também essa semente malogrou devido à perseguição e ao fato de que os católicos europeus não contaram com os recursos necessários para continuar a sua obra em país tão dista~~ Por fim, Mateus Ricci nários jesuítas conseguiram estabelecer-se
e seus co r r e li q iopermanentemente
em Pequim,
é descendente
reto
e o catolicismo
de sua obra.
estamos
Mas
estudando,
que uma pequena pois a China
havia
estrangeiro. O século grandes
essa obra minoria, voltado
XIX
então
não estava
a se fechar
para todo
que
considerado
e doutrinas
estranhos.
mente
a mais discutida, Como em tantos missionário protestante
de quem
um
até
vão
nem
di-
que agora
alcançando
em condições
diã de conhecimentos imemoriais repentinamente se viu humilhada, exércitos
o período
e se achava
na China,
se havia
de hoje
começou
e os anos
modificações
que até
romano
quando
mais
do
precárias,
contato
com o
1914 ocasionaram
sempre
o centro
felizes.
A nação
do mundo,
guar-
e fonte de toda civilização, dividida e conquistada por Uma
dessas
doutrinas,
certa-
era o cristianismo. outros casos, as origens do interesse na China remontam à obra de Carey,
dos acompanhantes,
duzir a Bíblia para o chinês Morrison quis empreender
Marshman,
começou
a tra-
em 1806. Depois, o escocês Robert uma obra semelhante, mas as au-
toridades britânicas não viam com bons missionários na China, fato que poderia
olhos a presença de impedir o comércio
que então começava a florescer. Por isso, Morrison se viu obrigado a viajar primeiro para os Estados Unidos, onde obteve passagem para Cantão. Ali se estabeleceu, disposto a seguir um método semelhante ao usado anos antes pelo jesuíta Ricci. Conhecedor de medicina e astronomia ocidentais, Morrison dedicou-se a estudar profundamente tanto a cultura como o idioma chineses. Visto que o interior do país lhe estava vedado pelas leis chinesas, ele fez a maior parte do seu trabalho mediante
a produção
de literatura
em chinês,
que algum convertido a levasse a outras que gerações posteriores de missionários a sua obra.
Assim,
com
a ajuda
com a esperança
de um contingente
do país, ele traduziu para o chinês toda livros. Depois de sete anos de trabalho,
de
partes da nação, ou pudessem aproveitar de naturais
a Bíblia e vários outros batizou o primeiro de
146 - A Era dos Novos Horizontes
seus convertidos, que sempre foram poucos. As notícias da sua obra e a existência da Bíblia em chinês despertaram o interesse de outros cristãos tros missionários chinês,
com
na Europa e nos Estados Unidos. Logo ouforam se instalar nas fronteiras do império
a esperança
de encontrar
uma forma
pela qual
os
seus ensinamentos pudessem penetrar na grande nação. Contudo, as autoridades do país, que persistiam em considerar os estrangeiros como bárbaros, permitiram apenas a presença, em zonas muito ciantes europeus.
restritas,
de um
número
limitado
de comer-
Então, produziu-se um dos mais sufocantes atropelos de toda a era colonial, a Guerra do Ópio. Os comerciantes europeus, especialmente britânicos, tinham interesse em obter seda e outros produtos chineses, para vendê-los com enormes lucros na Europa. Mas os produtos maior interesse entre os chineses, ferior.
A Companhia
Britânica
europeus não despertavam por serem de qualidade in-
das índias
Orientais
encontrou
a
solução de pagar os produtos chineses com ópio produzido na índia. Este comércio teve tanto êxito, que logo a seda não bastou para com metais
pagar o ópio, e os chineses começaram a pagar preciosos. Embora a importação do ópio tivesse
sido proibida por edito imperial desde cio continuava ao abrigo da corrupção Por
fim,
que
o ópio
o governo
interveio,
causava,
como
1800, o nefando das autoridades
preocupado pela
sangria
tanto
comérlocais.
pelos
econômica
que
danos esse
comércio representava para o país. Em 1839, um delegado imperial chegou a Cantão, onde confiscou mais de um milhão de libras esterlinas em ópio que estava nas mãos de comerciantes estrangeiros.
A reação
não se fez esperar.
clararam que a honra britânica mento inglês, a questão foi muitos
afirmavam
que acudir
Os comerciantes
de-
havia sido ultrajada. No parladebatida calorosamente, pois do tráfico
de ópio era
uma desonra maior do que qualquer outra que os dessem ter perpetuado. Posteriormente, o partido ciantes acabou vencedor, e em 1840 começaram des. Desde o princípio, a superioridade da marinha impôs, e vários portos chineses foram ocupados A guerra durou pouco mais de um ano, e por fim
em defesa
chineses pudos comeras hostilidabritânica se pelo invasor. a China, hu-
milhada pelos bárbaros ocidentais, se viu obrigada a firmar o tratado de Nanquim, que concedia à Grã-Bretanha a ilha de Hong-Kong, e além disso garantia aos comerciantes ingleses o livre acesso a cinco importantes portos chineses. A partir de
Horizontes
Geográficos:
Asia - 147
então, em uma série de guerras cada vez mais humilhantes, China se viu obrigada a fazer concessões sempre crescentes várias potências européias, século, ao Japão.
aos
Estados
Unidos
a a
e, no fim
do
A França, na ocasião sob o governo de Napoleão III, viu nessas condições a oportunidade para aparecer como a grande paladina do catolicismo. Por isso, assegurou-se de que em seus tratados com a China se garantissem não apenas o's direitos
dos
comerciantes,
mas
também
os
dos
missionários.
Embora a Grã-Bretanha temesse envolver-se em questões religiosas, posteriormente também se viu obrigada a seguir o exemplo francês, estendendo sua proteção aos súditos britânicos que serviam como missionários na China. Isto chegou a tal ponto que a proteção estrangeira se estendeu não apenas aos missionários, mas também aos convertidos chineses, que ficaram fora
da jurisdição
dos tribunais
nacionais.
O resultado
foi
que a conversão ao cristianismo acabou parecendo vantajosa para muitos chineses, que se fizeram batizar mais por conveniência do que por convicção. Em geral, os moderada. Embora
protestantes seguiram uma política mais muitos se tenham oposto à participação
britânica
do Ópio,
fato
na Guerra
como
uma
"porta
aberta"
em grande
parte
para a pregação
eles viram
esse
do evangelho.
Mas ainda assim muitos dos missionários protestantes, conhecedores do ressentimento que a intervenção estrangeira havia causado, negaram-se a apelar à proteção de seus países de origem.
Apesar
desta
atitude
da parte
dos missionários
mais
sábios, do ponto de vista do chinês médio todo cristão era estrangeiro, em certa medida, embora por raça fosse chinês, e contra
ele se dirigia
a fobia
que
os chineses
sempre
haviam
sentido para com os estrangeiros, e que a essa época se havia exacerbado devido às repetidas humilhações a que o país fora submetido. Uma conseqüência inesperada das missões foi a rebelião de T'ai P'ing - o Reino celestial. Este movimento foi iniciado por
um professor
que leu nove tratados
cristãos
e decidiu
que
havia chegado a hora de estabelecer o Reino Celestial da grande paz, cujo rei seria ele. Nesse reino, todas as coisas seriam possuídas em comum, haveria igualdade entre homens e mulheres, e a prostituição seria proibida, bem como o adultério, a escravidão, o costume de amarrar os pés das meninas, o ópio, o tabaco e as bebidas alcoólicas. Em 1850 esse movimento ex-
148 - A Era dos Novos Horizontes
plodiu melhor
em uma rebelião militar, e as tropas disciplinadas do que as do governo
do Reino celestial, chinês, consegui-
ram importantes vitórias. Em 1853, eles estabeleceram a "Capital celestial" em Nanquim, e com base ali ameaçaram até a própria capital imperial de Pequim. Enquanto isso, as potências ocidentais continuavam em seu empenho de enfraquecer o império
chinês,
repartindo
os despojos
entre
si. Em 1860, os
franceses e britânicos invadiram Pequim e incendiaram o palácio imperial. Posteriormente, com a ajuda de contingentes ocidentais, as tropas imperiais chinesas esmagaram a rebelião de T'ai P'ing. Cerca de vinte milhões de pessoas morreram durante
os quinze anos que durou essa revolta. Foi durante a rebelião de T'ai P'ing que,
pela
primeira
à China aquele que seria um de seus missionários mais famosos, J. Hudson Taylor. Essa primeira visita foi interrompida quando Taylor precisou regressar à Inglaterra por
vez, chegou
motivos de saúde. Ali, ele se dedicou a promover o interesse do povo pelas missões na China, e começou a organizar a Missão para o Interior da China (China Inland Mission), sob cujos
Três missionários
na China (o da esquerda
é J. Hudson
Taylor)
Horizontes
ausprci
o s regressou
à China.
Geográfl
A organização
os: AI III
criada
por
i"/I
T n v lo r
tinha o propósito de evangelizar o interior da China, sem introduzir no país as divisões que existiam entre os protestantes no Ocidente. A Missão para o Interior da China aceitava missionários de todas as denominações, sempre que se mostrassem desejosos de proclamar o evangelho. As questões referentes à organização da igreja, a administração dos sacramentos
e outros
assuntos
semelhantes
em que as diversas
nominações diferiam, ficavam a cargo dos cristãos gião da China. Além disso, Taylor julgava que
de-
em cada reo apoio por
parte das potências estrangeiras, embora parecesse facilitar o trabalho missionário, na realidade o dificultava, pois ao mesmo tempo que criava incentivos para falsas conversões, provocava animosidade entre os chineses. Por isso, quase todos os missionários da Missão para o Interior da China se negavam a recorrer às autoridades estrangeiras quando obra era ameaçada. Embora essa política fosse difícil, sempre tenha sido cumprida cabalmente, ela contribuiu
a sua e nem para
mostrar a alguns chineses que nem todos os cristãos concordavam com as atitudes das potências invasoras. A questão de qual devia ser a atitude dos chineses para com
idéias
e costumes
recentemente
introduzidos
continuou
ocupando o centro do cenário político chinês através de todo o século XIX e boa parte do XX. EM 1899-1901, a rebelião dos "boxers", ajudada por certos elementos da corte imperial, foi a máxima manifestação do ódio que havia contra tudo o que fosse estrangeiro. Os rebeldes dirigiram a sua fúria contra os missionários
e seus convertidos,
potências contados
estrangeiras, aos milhares.
ruínas.
As
legações
que lhes pareciam
ser aliados
das
a saber, ocidentais. Os mortos foram Por toda parte, as igrejas ficaram em
estrangeiras
em
Pequim,
que
até
pouco
antes se havia dedicado a repartir entre si os despojos da China, se viram sitiadas, até que uma forte coluna internacional abriu passagem até a capital e libertou os sobreviventes. Perto do fim
de 1901, esmagado
aquele
movimento,
o governo
chi-
nês, que o havia alimentado, foi humilhado uma vez mais, e forçado a fazer novas e enormes concessões às potências ocidentais, inclusive uma indenização de mais de 738 milhões de dólares. \ Co~hecedoras do ressentimento que entre os chineses, várias agências missionárias aceitar
toda
reconstruir
a indenização os edifícios
que fosse
destruídos.
além
isto causava se negaram a
do necessário
para
150 - A Era dos Novos Horizontes
A rebelião dos "boxers"
Mais
tarde,
do Império.
o impacto
ocidental
Em 1911, a revolução
o Imperador República ocidentais
deixou muitas igrejas
abdicou.
na China
explodiu,
Com isso ficou
em ruínas.
aberto
à queda
levou
e no ano seguinte o caminho
para a
das Províncias Unidas da China. As idéias e as armas haviam destruído o velho império que, cem anos
antes, se considerava o céu. Durante
centro
esse anos,
do mundo
havia
muitos
e ponte
entre
que sonhavam
a terra com
e
uma
grande conversão da China, semelhante ao que havia acontecido no Império Romano nos séculos IV e V. Os missionários protestantes na China eram dezenas de milhares. Em todas as províncias havia igrejas, muitas delas florescentes, e começavam a aparecer chineses capazes de assumir a direção nascente. O tutu ro se mostrava cheio de promessas.
da igreja
Japão Durante a primeira metade do século XIX, o Japão tez o que pode para evitar todo contato com os estrangeiros, particularmente com as potências ocidentais. Estas procuraram es-
Horizontes
Geográficos:
Ásia - 151
Congregação chinesa na frente de seu templo, chamado "Salão da Verdadeira Doutrina" tabelecer
contatos
comerciais
com
o Japão
varias
vezes,
mas
sempre fracassaram. Em 1854, o comodoro Perry, da marinha norte-americana, apresentou-se na baía de Edo, hoje Tóquio, com uma forte meiro tratado
esquadra, comercial
Grã-Bretanha,
França,
e forçou os japoneses a firmar com uma potência ocidental.
Holanda
e Rússia conseguiram
o priLogo
tratados
semelhantes e, em 1864, uma expedição conjunta de britânicos, holandeses e norte-americanos esmagou toda resistência. Este fato iniciou um período vencidos da superioridade técnica
em que os japoneses, condo ocidente, dedicaram-se a
absorver dela o quanto puderam. O processo de industrialização, com o conseqüente desaparecimento do poderio dos antigos senhores feudais, foi rapidíssimo. Já no fim do século havia no país mais de cinco mil quilômetros de vias férreas, várias centenas de fábricas modernas e uma rede nacional de telégrafo. Ao mesmo tempo, o exército se havia reorganizado e armado segundo padrões franceses e alemães. Tudo isto fez do Japão uma potência capaz de derrotar os chineses e os russos,
152 - A Era dos Novos Horizontes
Catedral
o bispo
catรณlica
Nikolai,
de Nagasรกqui
da Igreja Ortodoxa
Japonesa
Horizontes
Geográficos:
anexando a si o antigo reino da Coréia (1910). O catolicismo havia chegado ao país, como mos, g raças à obra
de Francisco
Xavier
Ásia - 153
já observa-
e seus sucessores.
Mas
depois de uma violenta perseguição, e após o Japão se ter fechado para todo contato com o estrangeiro, parecia que aquela obra havia sido destruída. Portanto, grande foi a surpresa dos missionários protestantes que na segunda metade do século XIX descobriram, na região de Nagasáqui, mais de cem mil pessoas que ainda conservavam certos rudimentos da fé católica. Destes,
muitos
voltaram
ao catolicismo,
e outros
se tornaram
protestantes. Com base nesse núcleo católico, e em outra obra missionária, o catolicismo no Japão continuou crescendo até que, em 1891, estabeleceu-se uma hierarquia eclesiástica para o Japão, sob a direção do arcebispado no século XX (1937) esse arcebispado
de Tóquio. foi ocupado
Porém, só por um ja-
ponês.
Casa Metodista de Publicações, em Tóquio Também é interessante notar que os ortodoxos russos começaram uma obra missionária no Japão em 1861, sob a direção do sacerdote russo Nicolai. Ele fundou a Igreja Orto-
154 - A Era dos Novos Horizontes
doxa
Japonesa,
e foi o seu primeiro
bispo.
Essa igreja
foi ver-
dadeiramente japonesa, ao ponto de, em 1904, quando se desencadeou a guerra entre Rússia e Japão, Nicolai aconselhar a seus fiéis japoneses que fossem leais a sua pátria, e que não demonstrassem simpatia para com a Rússia, apesar de terem recebido a sua fé desse país. Os protestantes chegaram pouco depois da assinatura do primeiro tratado entre Japão e Estados Unidos, e eram em sua maior parte norte-americanos. trabalho foi duro, e por volta
Durante os primeiros anos, o de 1872 somente uma dezena de
japoneses se havia batizado. O período de rápida industrialização trouxe consigo uma grande avidez de aprender tudo quanto tantismo
os ocidentais cresceu
pudessem
a passos
Trabalho médico no Japão
ensinar,
gigantescos,
e por
isso o protes-
particularmente
entre
Horizontes
as classes
mais
educadas,
onde
Geográficos:
o impacto
do
As/s - 15
Ocidente
ra
mais marcante. Por isso, logo houve dirigentes nativos, que se ressentiam de alguns dos erros cometidos na obra missionária. Provavelmente
o mais
sério
desses
erros
tenha
sido
a divisão
que se havia importado dos Estados Unidos e da Europa, e que constituía um verdadeiro escândalo para os japoneses que se interessavam pelo evangelho. Por essa razão, vários cristãos japoneses começaram a trabalhar pela união das igrejas protestantes e, em 1911, fundaram uma associação com esse objetivo. Rapidamente, a igreja japonesa ia se tornando uma igreja
verdadeiramente
nacional.
Coréia O catolicismo chegou pela primeira vez à Coréia em 1777, ao que parece levado por chineses convertidos em Pequim pelos jesuítas. Logo milhares, apesar da
os católicos coreanos se contavam oposição das autoridades do país.
aos Em
1865, essa oposição acabou em perseguição, e durante os cinco anos seguintes morreram mais de dois mil católicos, incluindo alguns missionários franceses que se haviam infiltrado no país.
Equipe de tradutores
da Bíblia, na Coréia
156 - A Era dos Novos Horizontes
À
mesma sem êxito,
fim,
época, diversas potências ocidentais conseguir tratados comerciais com
em 1876, foram
os japoneses
procuravam, a Coréia. Por
que, mostrando
que haviam
aprendido bem a lição do comodoro Perry, obrigaram os coreanos a firmar o primeiro tratado. Logo vieram outros tratados com os Estados Unidos (1882), Grã-Bretanha (1883) e Rússia (1884).
Órfãos aos cuidados de uma missionária na Coréia Em
1884,
primeiros Unidos.
sob
a proteção
missionários Eles eram
e tiveram
grande
desses
protestantes,
principalmente êxito.
Parte
tratados,
chegaram
procedentes metodistas
dos
os
Estados
e presbiterianos,
da sua estratégia
consistia
em
fundar igrejas que desde os seus primórdios conseguiram sustentar-se, com dirigentes nacionais, e capazes, por sua vez, de serem centros de obra missionária. Por essa razão, o protestantismo
coreano
cresceu
rapidamente.
Embora
a dorn ina-
ção dos japoneses, que anexaram esse país em 1910, tenha zido novas dificuldades, o cristianismo estava firmemente
traes-
Horizontes
tabelecido, tãos
e soube
coreanos,
sobrepor-se
espalhados
por
a elas. outros
Geográficos:
No século países
por
Ásia - 157
XX, os criscausa
de re-
petidas guerras, dariam mostras da constância de sua fé. Tudo isto nos indica por que dissemos que o século
XIX
foi uma época de novos horizontes para o protestantismo na Ásia. Ao se iniciar esse século, havia na região nada mais io que uns poucos protestantes, principalmente na índia. Em 1914, quando se desencadeou via não apenas missionários, ções, muitas cífico,
em
quase
todas
a Primeira Guerra Mundial, hamas também fortes congrega-
as principais
cidades
aldeias remotas. Este fenômeno, na África e na América Latina,
do
Oriente
maior importância para a história do cristianismo debates que se realizavam em círculos teológicos a interminável multiplicidade nos Estados Unidos.
e em
que se repetiu no Paa longo prazo seria de
de denominações
do que os europeus ou
que apareciam
VIII Horizontes Geográficos: Oceania A princípio, as pessoas sentavam-se na igreja sobre esteiras no piso. Mas, pouco a pouco, sentiram a necessidade de ter assentos. Quando um homem tinha calças domingueiras, e uma mulber tinha um vestido branco, ou de algodão estampado, a próxima coisa era ter um assento na igreja, para manter limpas as suas novas vestimentas. Rufus Anderson, Secretário da Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras
No fim do século XVIII, as viagens do capitão inglês James Cook despertaram na Europa um novo interesse nas terras do Pacífico. Alguns desses territórios, como as Filipinas e a Indonésia, haviam sido colonizados pelos europeus muito tempo antes. Outros, particularmente a Austrália e a Nova Zelândia, foram invadidos por ondas migratórias de tal magnitude que, posteriormente,
os
europeus
e seus
descendentes
acabaram
constituindo a maioria da população. Por fim, as inúmeras ilhas da Melanésia, Micronésia e Polinésia, exploradas, colonizadas
e evangelizadas
por
europeus,
norte-americanos
e aus-
tralianos, ficaram debaixo do domínio das potências ocidentais, embora, em geral, a maior parte da população tenha continuado
sendo
das regiões
nativa.
Neste
capítulo,
colonizadas
antes
do início
começaremos do século
XIX,
falando ou seja,
as Filipinas e a Indonésia, para depois passar às novas nações ocidentais fundadas na região, Austrália e Nova Zelândia, e terminar
com um rápido
panorama
das ilhas
recentemente
co-
Horizontes
Geográficos:
Oceania
- ., 9
Ionizadas. Filipinas O primeiro europeu a chegar a essas ilhas foi Magalhães, que morreu em uma delas em 1521. A partir de então, elas foram motivo de discórdia entre espanhóis e portugueses, pois uns e outros as reclamavam com base nos direitos de conquista
e evangelização
que
sob a direção de Miguel preenderam a conquista
Roma
lhes
havia
dado.
Em
1565,
Lopez de Legazpi, os espanhóis emdas ilhas em disputa, onde Legazpi
fundou a cidade de Manila, em 1571. Visto que em 1580 a coroa de Portugal foi unida à de Espanha (até 1640), a rivalidade entre
as duas
nações
ibéricas
cessou.
Mas
logo
os holandeses
e ingleses começaram a disputar com a Espanha o comércio da região, que era governada do México pelo vice-rei de Nova Espanha. exemplo
Durante a segunda metade do século XIX, seguindo o das novas repúblicas americanas, muitos filipinos
começaram a reclamar a independência, que proclamaram em 1896, no Grito de Balintawak. O mais notável promotor da independência, José Rizal y Mercado, foi fuzilado pelos espanhóis' pouco depois de estourar a rebelião, e Emílio Aguinaldo ficou então à testa do movimento. Em 1898, aproveitando a guerra entre Espanha e Estados Unidos, os patriotas organizaram
urn
governo
republicano,
cujo
primeiro
presidente
foi
Aguinaldo. Quando se assinou a paz, no fim desse mesmo ano, a Espanha cedeu as Filipinas aos Estados Unidos. Os filipinos insistiram em sua independência, e continuou uma cruenta luta armada, até que Aguinaldo, capturado mediante gema, submeteu-se ao governo norte-americano.
um estrataEmbora as
hostilidades tenham continuado por algum tempo, elas foram amainando e, pouco a pouco. com a promessa de permitir algum dia a independência do país, os governadores norte-americanos conseguiram estabelecer a sua autoridade. das.
No meio de tudo isto, o catolicismo sofreu grandes perOs sacerdotes, quase todos leais à Espanha, foram o pri-
meiro meio de espionagem mediante o qual as autoridades espanholas se inteiravam das conspirações e golpes que eram preparados. Em conseqüência, Aguinaldo e os seus desejavam a criação de um catolicismo que se relacionasse diretamente com Roma, e que estivesse sob a direção de sacerdotes filipinos. Mas as gestões que o governo revolucionário fez perante Roma
não tiveram
o resultado
desejado,
e os patriotas
se se-
160 - A Era dos Novos Horizontes
pararam
de Roma,
criando
a Igreja
a direção do sacerdote filipino que depois tomou emprestada
Filipina
Independente,
sob
Gregório Aglipay. Essa igreja, dos protestantes alguns costu-
mes e doutrinas, ainda existe. Os protestantes não haviam demonstrado grande interesse nas Filipinas até que, inesperadamente, essas ilhas passaram a se colocar
sob o governo
norte-americano.
E ntão várias
agências missionárias, louvando a Deus por essa "porta aberta", prepararam-se para empreender uma obra ali. Antes de fazê-lo,
contudo,
Um culto protestante
consultaram-se
ao
ar livre,
mutuamente,
nas Filipinas
e
distribuí-
(ao fundo,
a
igreja
católica) ram entre si o território, de modo que, exceto em Manila, cada lugar houvesse missionários e igrejas de uma única nominação.
Ao mesmo
tempo,
fizeram
com respeito a Cuba e Porto Rico. Visto que a obra missionária
-se acordos
protestante
em de-
semelhantes
só começou
no
Horizontes
Geogrdfl
0':
)('111111111
III I
fim do século, em 1914, ao terminar o período que agora o s tu damos, as congregações protestantes eram ainda relativamente pequenas e, em muitos sentidos, o trabalho estava apenas começando. Indonésia Os primeiros europeus a se estabelecerem no arquipélago indonésio, hoje correspondente à I ndonésia e Malásia Oriental, foram os portugueses. O interesse deles não era o de conquistar as ilhas, mas estabelecer nelas bases que os ajudassem a manter o seu monopólio sobre o comércio com a China. Ademais,
eles
desejavam
gião, de quem obtinham vam altos preços. Mas
comerciar
com
os habitantes
da re-
especiarias que, na Europa, alcançalogo os holandeses e britânicos, que
não estavam dispostos a ser excluídos de comércio tão lucrativo, começaram a ameaçar os interesses portugueses na região. Os holandeses estabeleceram-se em Sumatra, em 1596, e os ingleses
em Java,
em 1602. A longo
prazo,
os holandeses
saí-
ram vencedores nessa competição tripla, embora tanto Portugal quanto a Inglaterra tenham retido importantes territórios. O catolicismo, estabelecido séculos antes, graças à obra de Francisco dido grande foi cedendo duas
Xavier, continuou a sua obra, embora tenha perparte do seu impulso, na medida em que Portugal lugar a Holanda e G rã- Bretanha. Visto que essas
potências
eram
majoritariamente
protestantes,
o protes-
tantismo avançou na região. Esse avanço não foi fácil, pois a Companhia Holandesa das índias Orientais opunha-se ao trabalho missionário, temendo que ele provocasse a animosidade dos naturais, e que isso interrompesse o comércio. Esse temor era ainda maior, porque em algumas ilhas os muçulmanos eram numerosos, e repetidamente eles se haviam mostrado oponentes
da
pregação
cristã.
Mas,
em
1798,
a Companhia
Holandesa das índias Orientais foi desfeita, e pouco depois foram organizadas na Holanda sociedades missionárias que se interessaram pelo trabalho na Indonésia. Pouco a pouco, as principais denominações norte-americanas, foram tre a população animista,
holandesas, e outras britânicas e penetrando na região, sobretudo enembora também tenham conseguido
convertidos entre os muçulmanos de Java. Contudo, o governo holandês demonstrava a governar com mão de ferro vam debaixo da sua jurisdição.
estar
disposto
os territórios que se encontraEm 1820, ele decretou a união
162 - A Era dos Novos Horizontes
de todas as igrejas protestantes da Indonésia - decreto que só veio a se cumprir em 1854. E, em 1830, introduziu um sistema de controle sobre a agricultura, que determinava o que os naturais deviam cultivar, como e quando, e a que preço deviam vender os produtos. No campo econômico, isto criou um sistema
de exploração
e opressão.
No campo
religioso,
a uma igreja do Estado, cujo zelo missionário necessária uma grande campanha de protesto
deu lugar
diminuiu. por parte
Foi dos
cristãos na Holanda, para que, em 1870, o governo abolisse os mais rígidos controles sobre a agricultura e o comércio. Então, inspirada por seus irmãos da Holanda, a Igreja das índias Orientais recobrou novo vigor. no
Um dos episódios mais interessantes que tiveram arquipélago, no século XIX, foi o êxito alcançado
lugar pelo
aventureiro inglês James Brooke, a quem o sultão de Brunei, no norte de Bornéo, tornou rajá da região de Sarawak. Sob o governo de Brooke (1841-68), de seu sobrinho Charles Brooke (1868-1917) e do filho de Charles, Vyner (1917-46), Sarawak permaneceu sob o protetorado britânico. James Brooke destruiu a pirataria na região e depois, interessado em melhorar as condições ingleses
de vida
de seus
a se estabelecerem
súditos,
em seus
convidou domínios.
missionários Os primeiros
missionários na educação, conseguiram
introduziram importantes melhoras na medicina e produziram literatura no idioma do país, e logo um bom número de conversões. Com motivos
semelhantes
aos de seu tio,
tingente mínios,
de que disseminassem como
Charles
entre
os conhecimentos
Austrália
convidou
um con-
e Nova
os seus vizinhos
depois
tanto
a fé cristã
de agricultura.
Zelândia
No século XVII, navegantes explorado as costas da Austrália que
Brooke
de chineses metodistas a se estabelecer em seus doonde lhes ofereceu terras e proteção, com a esperança
deles
visitaram
holandeses haviam visitado e e Nova Zelândia. Os europeus
a região
foram
os ingleses
que
acompanharam o capitão Cook. Os informes de James Cook despertaram interesse na Grã-Bretanha, particularmente sobre a região situada na costa oriental da Austrália, que Cook havia chamado de Nova Gales do Sul. Pouco depois, discutia-se na Inglaterra portados estabelecer
o que fazer
com os condenados
para as colônias colônias
que antes
norte-americanas.
de deportados
na África
eram
de-
Uma tentativa
de
não
havia
tido
Horizontes
maior
êxito,
e logo
se achou
Geográficos:
a solução
Oceania - 163
de se usarem
as exten-
sas terras da Nova Gales do Sul para esse objetivo. Os primeiros réus chegaram em 1788, e a partir de então os sentenciados continuaram
a chegar
de 1793 começaram aumentando
à Austrália a chegar
até ultrapassar
até 1867. Além
colonos
livres,
disso,
cujo
o de condenados.
a partir
número
foi
Isto se deveu
ao
desenvolvimento da criação de ovelhas, cuja lã era exponada para a Europa, e sobretudo ao descobrimento de grandes minas de ouro, em 1851. Devido ao caráter dos primeiros colonos e à febre
do ouro
nias inglesas
que surgiu
na Austrália
depois,
foram
por muito
difíceis
tempo
as colô-
de governar.
A filiação religiosa desses colonos era semelhante à das Ilhas Britânicas, embora, mais tarde, tanto quanto nos Estados Unidos, as "igrejas livres", a saber, não-anglicanas, tenham chegado a incluir Quem mais
uma proporção muito maior da população. sofreu como conseqüência de tudo isto foram
os habitantes originais do continente suas terras se tornaram lucrativas,
australiano. Logo que as graças à ovicultura, eles
foram empurrados para territórios desérticos. Se eles insistiam em voltar, eram mortos como animais. Por volta de 1820, os aborígenes, exasperados, começaram a dar mostras de resistência, com o que só conseguiram fúria assassina ainda maior. No meio dessas circunstâncias, curaram
remediar
a situação.
ser
perseguidos
houve
Os protestos
com
uma
que
pro-
cristãos perante
o governo
de Londres, embora repetidos, não tiveram maiores conseqüências. O capelão anglicano Samuel Marsden, cujas responsabilidades oficiais se limitavam aos brancos, começou um trabalho missionário entre os aborígenes, em 1795, embora com pouco êxito. Outros, tanto protestantes como católicos, seguiram um método semelhante ao que os jesuítas haviam gado no Paraguai, procurando convencer os aborígenes em aldeias. O resultado desse método também Embora muitos dos naturais do país se tivessem
emprea viver
foi pequeno. convertido, a
população, dizimada pelos crimes que contra ela se cometiam, por enfermidades introduzidas pelos brancos e pela destruição de seus costumes e tradições, parecia destinada a desaparecer, até que, no século XX, medidas mais eficazes foram tomadas para a sua proteção. A história da Nova trália, é diferente. do capitão Cook.
Zelândia,
embora
paralela
à da Aus-
Ali também os holandeses chegaram antes E ali também se estabeleceram alguns ele-
164 - A Era dos Novos Horizontes
mentos
pouco
ganizou Zelândia,
desejáveis.
Mas,
em 1814, Samuel
Marsden
or-
uma obra missionária entre os habitantes da Nova os maoris. Embora ele mesmo não tenha permaneci-
do muito
tempo
na Nova
Zelândia,
fundou
em seu lar na Aus-
trália um seminário onde chefes maoris se preparavam para voltar e pregar em sua terra natal. Além disso, a Bíblia foi traduzida para o maori e, em 1842, foi nomeado o primeiro bispo anglicano para a Nova Zelândia. Enquanto isso, outros britânicos haviam chegado às ilhas, e em 1840, mediante um tratado com várias centenas de chefes maoris, tânica.
a Nova Zelândia colocou-se debaixo da soberania briOs abusos por parte dos colonos provocaram duas re-
beliões de maoris, uma em 1843-1848 e outra em 1860-70. Ambas foram esmagadas pelas autoridades britânicas, com a ajuda de alguns chefes nativos que não participaram das rebeliões. Quando em 1861 se descobriu ouro, ficou selada a sorte dos maoris,
que logo
perderam
quase
todas
as terras
que lhes
restavam. Os ingleses louvavam a si mesmos por terem erradicado o canibalismo que os maoris praticavam antes de sua chegada e, portanto, por havê-los "civilizado". Mas a verdade é que, sem se contar a intervenção benéfica caridosas, e em particular dos missionários pacto dos europeus Um
na Nova Zelândia
fenômeno
interessante,
de algumas e pastores,
almas o im-
foi devastador.
que
se
repetira
em
outras
partes do mundo, foi o modo por que alguns elementos tomados do cristianismo foram combinados com outros extraídos da tradição
maori
para
produzir
movimentos
religiosos
e polí-
ticos. Durante a segunda rebelião maori, por volta de 1860, surgiram dois movimentos com essas características. O primeiro, conhecido como jau-jau ou Pai ma rire , foi fundado por um profeta que dizia haver visto o anjo Gabriel, e em cujas doutrinas estava incluída grande parte da pregação bíblica a respeito do reino de justiça e do triunfo dos filhos de Deus. Algum tempo depois, o profeta religioso e chefe guerrilheiro Te Kooti fundou a seita chamada Ringatu, também com base em doutrinas cristãs unidas com tradições dos maoris e a suas ânsias de justiça. Esses movimentos, e outros semelhantes, contaram com bom número de seguidores entre os maoris, pelo menos
até boa parte
do século
As ilhas do Pacífico A leste das Filipinas,
XX.
da Indonésia
e da Austrália,
há um
Horizontes
número
enorme
de ilhas
que
Geogri4ficos:
os geógrafos
Oceania
- 165
classificaram
em
três grupos: Micronésia, a leste das Filipinas; Melanésia, ao sul da Micronésia; e Polinésia, a leste dos dois grupos anteriores. Desde os tempos gueses,
de Magalhães,
holandeses,
britânicos
marinheiros e franceses
espanhóis, haviam
portuvisitado
Capela católica em uma aldeia de Guam uma ou outra dessas ilhas. Mas as suas viagens não despertaram maior interesse até o fim do século XVIII, quando os descobrimentos do capitão Cook e de outros que o seguiram, criaram na imaginação européia sonhos de ilhas fabulosas, com climas paradisíacos, formosas mulheres e riquezas insuspeitadas. Até então, as ilhas só atraíam exploradores, caçadores de baleias, aventureiros e outros homens que as visitavam apenas de passagem. Os primeiros europeus a se estabelecerem permanentemente nelas foram os amotinados do famoso navio cujos
inglês Bounty , que desembarcaram na ilha descendentes, de mulheres nativas, ainda
de Pitcairn e vivem nessa
166 - A Era dos Novos Horizontes
ilha. Depois chegaram os primeiros mis si o ná r io s, que se estabeleceram no Taiti, e mais tarde nas ilhas Marquesas. Esses missionários eram protestantes, mas logo tiveram de enfrentar a competiçào dos católicos. Assim, entre aventu reiros, comerciantes, colonos e missionários, o mundo ocidental foi deixando a sua marca sobre aquelas ilhas. Os quadros idílicos de climas maravilhosos e habitantes dóceis e amáveis nem sempre eram corretos. Enquanto em algumas ilhas manifestavam-se demonstrações de inusitada hospitalidade, em outras se praticava o canibalismo, ou se caçavam cabeças, ou as viúvas eram estranguladas. Entre algumas delas havia contato algum. dos
Tudo isto europeus.
guerras
endêmicas.
mudou, para Provavelmente
E ntre
outras
não
havia
bem e para mal, com a chegada o maior impacto foi causado
Dois cristãos de Samoa, no século XIX inconscientemente
pelos
ram enfermidades
contra
recém-chegados, as quais
pois
os naturais
eles introduzi-
das ilhas
não ha-
viam desenvolvido imunidade e que, portanto, dizimaram a população. Em alguns casos, o efeito foi semelhante ao da peste bubônica na Europa, no fim da Idade Média. Além disso,
Horizontes
Geográficos:
Oceania
- 167
Oficina em uma escola industrial missionária, em Fiji os europeus introduziram armas de fogo, com as quais as constantes guerras se tornaram muito mais mortíferas. Os comerciantes e aventureiros usavam os seus conhecimentos técnicos
para
enganar
os nativos,
taram os que estabeleceram túcia e no engano.
ou para dominá-los,
pequenos
reinos
com
e não falbase na as-
Durante quase toda a primeira metade do século XIX, as potências européias não se interessaram verdadeiramente pelas ilhas do Pacífico. Foi no meio do século, com o aumento da competição
imperialista,
que cada nação
se lançou
sobre
a sua
parte no butim. Posteriormente os britânicos, cuja marinha era mais eficiente, tomaram a maior parte das ilhas. Mas nessa repartição foram beneficiadas também a França, a Alemanha, os Estados Unidos, a Austrália e a Nova Zelândia. Quando se desencadeou a Primeira Guerra Mundial, dificilmente restava no Pacífico uma rocha que alguma potência não reclamasse para si. Devido ao grande número de ilhas em questão, não podemos seguir aqui a história do cristianismo em cada uma de-
168 - A Era dos Novos Horizontes
Interior las. meiro
de uma igreja
Portanto,
basta
é que, quanto
na Metené sie fazer
alguns
comentários
ao que se refere
ao apoio
que mais gozaram dele foram os católicos, França era usar as missões católicas como
gerais.
O pri-
do Estado,
os
pois a política da veículo para o au-
Horizontes
Geogrรกficos:
Oceania
- 169
170 - A Era dos Novos Horizontes
mento
do seu império.
Por isso, quando
negava a permitir a presença qüentemente ele era persuadido um
navio
ocasião
de guerra
diante
as dificuldades
peçaram
levaram
Ao contrário, contou com
fato
que os missionários
da bandeira
notável
é que,
zelo
as igrejas missionário.
nas ilhas Assim
E em mais
se
de uma
católicos
da soberania
tro-
francesa.
protestantes não por vezes temiam
lhes pudessem
na maioria
do Pacífico que
nativo
católicos, freda presença de
causar.
norte-americana.
ge~ho nã.o chegou a uma ilha levado por missionários naturais de alguma cedo,
chefe
que os missionários
ao estabelecimento
ficou debaixo
Outro
da sua aldeia.
com
a maior parte dos missionários o apoio de seus governos, que
as complicações
o Havaí
algum
de missionários a isso, através
a igreja
das vezes,
o evan-
por cristãos brancos, ilha próxima. Desde se distinguiram se estabelecia
por
mas logo seu
em um lu-
Horizontes
gar, havia voluntários outro lugar. Em mais luntários,
ansiosos por de uma ocasião
ao chegarem
à ilha
onde
Geográficos:
Oceania
- 171
levar a mensagem para aconteceu que esses voiam
pregar
o amor,
eram
mortos e comidos por aqueles a quem esperavam converter. Então, ao terem notícia do que acontecera, apareciam outros dispostos a continuar tão perigosa missão. Além
disso,
convém
assinalar
que
logo
houve
pastores
nativos na maior parte das igrejas, embora tenha havido missionários que resistiram à tendência de colocar sobre os seus ombros maiores responsabilidades. Em Fiji e outros lugares, foram fundados seminários missionários para as diversas Por seu
poder
fim,
não faltaram
para
proclamar
onde ilhas.
se
potentados
preparavam nativos
o evangelho,
que
pastores
e
usaram
o
e o evangelho
para
estender o seu poderio, como o fizeram tantos governantes através da história. Talvez o mais notável destes tenha sido o rei de Tonga, que se batizou com o nome de Jorge - em honra ao Rei da Inglaterra várias ilhas circunjacentes, gelho fosse pregado.
- e que estendeu o seu poderio a onde também fez com que o evan-
Em todo caso, ao terminar o século XIX, a maioria dos polinésios eram cristãos, e havia igreja em quase todas as ilhas da Melanésia e da Micronésia. Unicamente em regiões remotíssimas,
como
que não tinham Oceania, como horizontes
o interior
da
Nova
Guiné,
restavam
pessoas
nenhuma notícia do cristianismo. Portanto, no resto do mundo, o século XIX ampliou
da igreja,
de não se louvava
ao ponto
o nome
de serem
de Cristo.
poucos
os lugares
na os on-
IX Horizontes Geográficos: , A Africa e o Mundo Muçulmano Oportunidade não falta. Há tribos e aldeias sem número, ao norte e a leste daqui, e todas ficariam orgulhosas em ter um homem branco. Não sei de nenhum obstáculo à obra missionária em todo o território ao norte do Zambese e em direção ao centro do continente. E todos os dias recebemos notícias de como o comércio está se estendendo em todas as direções. David Livingstone Durante
séculos,
a expansão
européia
deste havia sido impedida pelo poderio territórios muçulmanos que bordejavam ca,
encontravam-se
regiões
para
o sul e o su-
muçulmano. Ao sul dos o litoral norte da Áfri-
desérticas,
e além
havia
selvas tropicais. Nem uma coisa nem outra despertou resse das potências européias, que, por muito tempo, mundo muçulmano e a África negra como obstáculos rodeados, antes de se chegar às promissoras Mas no curso do século XIX, e nos últimos meira
Guerra
Mundial,
essa situação
O mundo muçulmano Quando começou Próximo e da costa mano, cujo governo
o século
XIX,
densas o inteviram o a serem
terras do Oriente. anos antes da Pri-
mudou.
a maior
parte
do Oriente
norte da África pertencia ao Império Otoestava nas mãos do sultão, em Istambul,
antiga Constantinopla. Mas esse vasto império começava a apresentar mostras de desintegração. Em 1830, declarando que
Horizontes
era necessário gelinos,
Geoçréticos:
destruir
os franceses
A África
a pirataria invadiram
e
o
Mundo Muçulmano
que florescia a Argélia,
- 173
nos litorais
onde
ar-
haveriam
de
permanecer por mais de um século. Pouco depois, o governador do Egito, Mohamed Ali, rebelou-se contra o Sultão, e em seguida conseguiu estabelecer um reino independente. Foi com as autoridades desse reino que os franceses negociaram para a construção do Canal de Suez. Os ingleses opunham-se a esse
empreendimento,
que
Oriente. Mas, ulteriormente, rítimo em 1869. Seis anos
daria
à
as dificuldades econômicas do governo ações que este possuía na Companhia lhões
de francos.
França
A Tunísia
e invadiu
fácil
ao
foi
egípcio, e comprou as do Canal, por cem mi-
invadida
pelos
1881. No ano seguinte, uma rebelião contra provocou a intervenção da Grã-Bretanha, Alexandria
acesso
o canal foi aberto ao tráfego madepois, a Grã-Bretanha aproveitou
o Cairo.
franceses
em
o soberano egípcio que bombardeou
Essa intervenção,
que teorica-
mente seria passageira, continuou indefinidamente, e em 1914 proclamou-se oficialmente o "protetorado" da Grã-Bretanha sobre o Egito. Três anos antes, em 1911, a Itália havia se estabelecido na Líbia. Portanto, quando Guerra Mundial, o Império Otomano parte
de seus territórios.
ção do sultanato,
Esse processo
teve havia
início a Primeira perdido uma boa
continuaria
em 1922, e a proclamação
até a aboli-
da república,
em
1923. No Oriente Próximo continuavam existindo várias das mais antigas igrejas cristãs. Foi nessas terras que o cristianismo nasceu e viveu alguns dos seus dias mais gloriosos. Portanto, quando raiou o século XIX, já havia ali antiqüíssimas igrejas cristãs, às quais nos referimos anteriormente: os có p ticos do Egito, os jacobitas da Síria, os ortodoxos disseminados por toda a região, etc. Todas essas igrejas haviam conservado a sua fé através de longos anos de dominação muçulmana. Mas, em meio a circunstâncias extremamente adversas, elas haviam perdido o seu zelo evangelístico. Em países onde se permitia que os cristãos vivessem em paz, sempre que não parecessem desonrar o nome do Profeta, e onde a conversão ao cristianismo era castigada com a morte, não é de estranhar que os cristãos acabaram por se contentar em conservar a sua fé e transmiti-Ia
a seus descendentes.
Essa fé era alimentada
principalmente pelo culto divino e, por isso, a liturgia uma importância vital para as antigas igrejas, que por tempo
haviam
sobrevivido
à sombra
do Islã.
tinha tanto
174 - A Era dos Novos Horizontes
A decadência das potências possibilidade
do Império
ocidentais, de começar
Otomano,
e a crescente
pujança
levaram muitas pessoas a pensar na uma obra missionária na região. Ao
mesmo tempo, visto que já havia ali outros cristãos, todos os missionários, tanto católicos como protestantes, precisavam enfrentar a questão de como se relacionar com eles. atrair
Em geral, os católicos continuaram a política de procurar igrejas inteiras à comunhão romana e à obediência ao
papa. Desse modo, eles provocaram cismas na maior parte das igrejas antigas, pois enquanto um ramo delas aceitou a autoridade papal, outro a rejeitou. Assim, foram criadas em toda a região "igrejas orientais unidas" que conservam os seus rituais e tradições antigos, mas doutrinariamente são católicas. Cada
um
desses
grupos
se distingue,
então,
como
um "rito"
dentro do catolicismo, e para se ocupar deles criou-se em Roma, em 1862, a Congregação dos ritos orientais. Em geral, nem as antigas igrejas orientais nem os seus ramos que se uniram a Roma se distinguiram por seu zelo missionário. Alguns católicos europeus procuraram converter çulmanos. Deles o mais notável foi o bispo de Argel, M. A. Lavigerie,
que fundou
os muCharles
a Sociedade dos missionários conhecida como "os
Nossa Senhora da África, comumente
dres brancos". Todavia, embora o propósito ganização fosse pregar entre os muçulmanos ca, posteriormente
os seus sucessos
mais
orientais
antigas
foi
de lhes
prestar
campo da educação, esperando sem nova vida. Essa política posteriormente
surgiram
gumas das idéias resultado de que antigas
igrejas.
inicial dessa ordo norte da Áfri-
notáveis
gar entre a população negra, mais ao sul. A política da maioria dos protestantes ajuda,
de pa-
tiveram
perante
lu-
as igrejas
particularmente
no
que, desse modo, elas recebesteve um êxito moderado. Mas
conflitos
entre
os que aceitavam
al-
protestantes e os que as rejeitavam, com o alguns cismas tiveram lugar em várias das
Foi desses
cismas
que as igrejas
protestantes
obtiveram a maioria dos seus membros, embora também tivessem conseguido alguns convertidos do Islã. Desse modo foram fundadas algumas igrejas protestantes na região, particularmente no Egito, Síria e Líbano. Porém tendo dito tudo isto, é necessário observar que o século XIX, era dos novos horizontes missionários, não presenciou no mundo muçulmano do cristianismo que teve lugar
o mesmo crescimento numérico no Oriente ou na África neg ra.
Horizontes
Geográficos:
A África
e o Mundo Muçulmano
- 175
África Quando começou o século XIX, as possessões européias na África eram relativamente pequenas. A Espanha tinha no litoral norte algumas em séculos anteriores. português tráfico
praças fortes, Em Angola
se limitava
de escravos.
ao Em
litoral,
1652,
conquistadas e Moçambique, dedicado
dos mouros o domínio
principalmente
os holandeses
haviam
fundado
uma colônia no Cabo da Boa Esperança, no extremo continente. Pouco depois, os franceses estabeleceram queno posto comercial na costa do Senegal. da, para escravos libertos, a colônia britânica Num contraste marcante com essa desencadeou a Primeira Guerra Mundial vam na África
outros
pia e a Libéria. nação africana, como
Estados
lar para os negros
No princípio relativamente
sul do um pe-
Em 1799, foi criade Serra Leoa.
situação, quando se em 1914, não resta-
independentes,
a não ser a Etió-
Esta última, na verdade, não era uma antiga mas havia sido criada pelos Estados Unidos, livres
que desejassem
Todo o resto do continente estava uma ou outra potência européia. foi
ao
do século lento.
XIX,
voltar
sob o governo
esse processo
Em 1806, os britânicos
à África.
colonial
de
de colonização tomaram
a co-
lônia holandesa no Cabo da Boa Esperança. As leis britânicas, opostas à escravidão e aos abusos cometidos contra os trabalhadores neg ro s, não foram bem vistas pelos colonos de origem holandesa (os "bo er s". de uma palavra holandesa que significa "camponês") e, por volta de 1835, estes começaram a emigrar
para o nordeste,
o Estado
Livre
onde
de Orange
criaram
a República
e a República
de Natal,
de Transvaal.
e
Todos
esses Estados tinham o objetivo de evadir-se às leis britânicas, particularmente no que se referia ao tratamento dispensado aos negros. Segundo diziam os boers, eles faziam isso como cristãos, porque as leis britânicas se opunham às de Deus, ao colocar os escravos no mesmo nível dos cristãos. Em todo caso, assim África. negros dente
se expandiu
a colonização
européia
para o interior
da
Enquanto isso, em 1820, haviam chegado os primeiros norte-americanos à Libéria, que se tornou indepenem 1847. Mas, até então,
os territórios
colonizados
eram
somente uma fração do continente. E então, em meados do século, o interesse das potências européias em relação ao continente rios
neg ro começou como
pertaram
Livingstone, a imaginação
a crescer. de quem
As explorações falaremos
de cristãos
mais
interessados
de missionáadiante,
des-
na obra
mis-
176 - A Era dos Novos Horizontes
Potências
coloniais:
Grã-Bretanha Alemanha França Portugal Itália Espanha Bélgica
A colonização
da África,
1914
Horizontes
sionana.
GeogrAficos:
Em muitos
casos,
giões onde o poderio de evitar uma invasão
penetravam
que enviavam
de 1870, começou
levaram
Mundo Muçulmano
os missionários
à cruenta
tropas
a corrida
ca de colônias africanas. Em 1867, foram minas de diamantes no sul do continente. motivos
o
e
- 177
em re-
colonial não chegava; mas então, a fim da parte de alguma tribo vizinha, apela-
vam às autoridades coloniais, por anexar o território. Por volta
A África
"Guerra
e acabavam
precipitada,
em bus-
descobertas grandes Depois, este e outros
dos Boers",
em que a Grã-
Bretanha acabou vencedora e anexou os antigos territórios dos boers. Enquanto isso, a França, temerosa do avanço britânico, começou a estender as suas possessões, com o objetivo final de criar um vasto império que fosse desde a Argélia até o Senegal.
Em
1884,
a Alemanha
entrou
nessa
nhoreando-se da África Sudoeste Alemã do II da Bélgica, que em seu país tinha
competição,
asse-
- a Namíbia. Leopolapenas os poderes li-
mitados de um monarca constitucional, assumiu a colonização do Congo como empresa pessoal, e fez da nova colônia uma possessão direta da coroa belga, até que, em 1908, por ação do Parlamento, criou-se o Congo Belga. Em 1885, o governo espanhol reclamou para si Rio do Ouro e a Guiné Espanhola. Pouco depois, a Itália reclamou a Eritréia. Enquanto isso, outros empreendimentos britânicos, franceses e alemães haviam completado a repartição do continente. Em todo esse processo, Estados Unidos um crescente ca. Isto aconteceu tanto entre tes. Em termos tólicos tiveram belgas, alemãs. As conflitos tigos rios
despertou-se na Europa e nos interesse pelas missões na Áfricatólicos como entre protestan-
gerais, embora com notáveis exceções, os casua base de operações nas colônias francesas,
italianas
e espanholas;
os protestantes,
missões católicas foram debilitadas de jurisdição. Portugal continuava
direitos
de patronato
que supostamente
sobre
lhe haviam
a igreja sido
nas britânicas
pelos constantes reclamando os an-
em todos concedidos
A França e a Bélgica disputavam entre si o vale cada uma temia que os missionários procedentes fossem Leopoldo dos
a vanguarda II reclamou
protestantes
permitido lhes prestou
-
de uma para coisa
empresa
si o Congo, que
e
a Grã-Bretanha
Roma.
do Congo, e da sua rival
colonizadora. sem
os territópor
proibir não
Quando a entrada lhe
havia
Roma mostrou-se extremamente suspeita, e não grande apoio às missões empreendidas pelo Rei.
178 - A Era dos Novos Horizontes
Além
disso,
freqüentemente
se encontra
nos documentos
da
época o temor constante de que os africanos se tornassem protestantes, e em mais de uma ocasião foi esse temor, e não o impulso missionário, que inspirou o estabelecimento de missões católicas em uma ou outra região. O catolicismo contou com notáveis missionários que dedicaram a sua vida à África. Já mencionamos os "padres brancos" de Lavigerie, a quem as autoridades romanas confiaram o trabalho missionário no interior da África. Além deles, estabeleceu-se na ilha de Zanzíbar um centro missionário que teve certo leste.
êxito limitado Porém, apesar
foi, na África como missões protestantes. A obra demos
na penetração do continente destes e de outros esforços, no resto
protestante
descrevê-Ia
Leoa trabalharam
do mundo,
na África
foi
adequadamente missionários
o grande
mais
aqui.
a partir do o século XIX século
extensa,
Na Libéria
norte-americanos,
das
e não poe em Serra
muitos
deles
negros enviados pelas igrejas negras dos Estados Unidos, a que nos referimos anteriormente. Os anglicanos fundaram em Serra Leoa uma igreja de grande vigor, e o mesmo fizeram em Nigéria,
Gana e outras
ca que se iniciaram notáveis. Durante muito britânicos da África mensagem
cristã
um colono
holandês
colônias.
Mas foi a partir
os empreendimentos tempo, do Sul
alguns haviam
para os naturais escreveu
do sul da Áfri-
missionários
mais
dos colonos holandeses se interessado em levar
do país. Assim,
em seu diário,
e a
por exemplo,
em 1758:
17 de abril. Começamos a ter escola para os jovens escravos, sob a responsabilidade de um capelão. Para estimular a atenção dos escravos, e para induzilos a aprender as orações cristãs, prometemos a cada um que, ao terminar a sua tarefa, daríamos a cada um uma garrafa de bebida e duas polegadas de tabaco. Mas esse interesse era muito limitado, cançava alguém além dos limites da colônia,
e raras vezes alaté que no século
XIX começou um despertamento, que convenceu muitos holandeses e britânicos de que eles tinham a obrigação de levar o evangelho para o interior da África. A figura mais notável entre os missionários dessa primeira geração foi o holandês Johannes Theodorus Vander-
Horizontes
Geogrรกficos:
A ร trice e o Mundo
MuรงlJlnlllllO
IIU
180 - A Era dos Novos Horizontes
kemp.
Ao
não cria
contrário
dos
boers
na superioridade
que
o rodeavam,
dos brancos
Vanderkemp
e de sua civilização
so-
bre os negros e a deles. Pelo contrário, ele sentia verdadeiro apreço pelos costumes dos africanos, que considerava admiravelmente
adaptados
ao ambiente
africano,
enquanto
pensava
que era absurdo o desejo dos brancos de criar na África uma nova Europa. Vanderkemp chegou ao Cabo da Boa Esperança em 1799, enviado sob os auspícios da Sociedade Missionária de Londres. dos cafires, quem
Depois de uma tentativa fracassada entre a tribo dedicou-se ao trabalho entre os hotentotes, para
estabeleceu
um
centro
instruídos. Logo as críticas bretudo quando Vanderkemp
onde
para se casar com ela. Contudo, kemp continuou a sua obra, rios oriundos da Inglaterra. núpcias
com
imoralidade
mulheres e de
trabalhavam
e eram
apesar
dessas críticas,
Vander-
com a ajuda de outros missionáQuando vários desses contraíram
hotentotes,
subverter
eles
dos colonos se fizeram ouvir, socomprou e libertou uma escrava,
a ordem
eles
foram
acusados
estabelecida
por
de
Deus.
Sobretudo, visto que os missionários enviavam para a Inglaterra relatórios acerca dos maus tratos aplicados aos negros, conseguindo que se empreendessem reformas, os boers se convenceram
de que os missionários
eram
seus inimigos
acér-
rimos
e também inimigos de Deus. Outro missionário notável foi Robert Moffat, que se estabeleceu entre os bantus, para cujo idioma traduziu a Bíblia e
outros livros. Conhecedor de técnicas agrícolas, esforçou-se muito para melhorar a alimentação dos bantus. Além disso, as suas explorações, e os relatórios que enviava para a Grã-Bretanha,
fizeram
com que um exército
de jovens
oferecesse para seguir o seu exemplo. Mas a figura culminante das missões
missionários
à África
se
em todo
o
século XIX, foi, sem dúvida, David Livingstone. Nascido na Escócia, em 1813, em um humilde lar de profunda convicção cristã, Livingstone não pôde se prestar ao luxo de uma educação formal. Desde bem pequeno, ele teve de trabalhar em uma fábrica de algodão, onde colocava um livro diante de si, e o lia ao mesmo tempo que trabalhava. Assim ele chegou a possuir cultura
regular,
de tal
modo
que, quando
se decidiu
dedicar
obra missionária, pôde estudar na Universidade de Glasgow sem maiores dificuldades. O seu propósito era ir para a China, e para isso se preparou Missionária de Londres.
seguindo as indicações da Sociedade Mas a Guerra do Ópio não lhe permi-
à
Horizontes
Geoçréticos:
A África
e
o
Mundo Muçulmano
- 181
Robert Moffat tiu partir para
e, então,
a África.
depois
Pouco
de conhecer
antes
de partir,
Robert
Moffat,
decidiu
em 1840, recebeu
ir
o di-
p~oma de médico, e foi ordenado. Em meados de 1841, chegou à cidade do Cabo, e dali marchou mais de mil quilômetros em direção ao norte, para se estabelecer na avançada missão que Moffat
havia fundado
em Kuruman.
Depois de dois anos de aprendizagem Moffat, partiu para Mabotsa, a trezentos
sob a orientação de quilômetros de dis-
tância. Ali fundou uma missão e construiu uma casa que compartilhava com sua esposa Mary, filha de Moffat. O seu plano era permanecer ali. Mas teve desentendimentos com outro missionário,
e decidiu
deixar
o campo
livre,
marchando
mais
para o norte, para a aldeia de Chonuana. Depois de três anos de trabalho, batizou o chefe da tribo. Mas uma seca obrigou a tribo a emigrar, e Livingstone, sua esposa e filhos, partiram
182 - A Era dos Novos Horizontes
David Livingstone com a tribo, em direção a outras terras. Quando, em uma segunda migração, as condições físicas se tornaram difíceis, a família
de Livingstone
ficou
para trás,
enquanto
o missionário
se ocupava em procurar um bom lugar onde a tribo pudesse se estabelecer. Pouco depois, ao receber notícias de que outro chefe se interessava pelo evangelho, Livingstone e sua família partiram para essa aldeia, onde o trabalho teve certo êxito. Mas o clima não era bom, e Livingstone acompanhou sua família até o Cabo, de onde esta partiu para a Inglaterra, enquanto
ele regressava
Então explorador. causados
para o interior
do país.
começou a famosa carreira O missionário havia visto
pelo tráfico
de escravos,
de Livingstone como os horríveis estragos
e além disso estava
conven-
Horizontes
Um pastor cido abrir
o centro comércio
seguiriam, receberia
A África
e o Mundo Muçulmano
-
183
zulu com sua família
de que o tráfico
desse
Geográficos:
não cessaria
do continente seriam
então
enquanto
para
não se conseguisse
o comércio
as mesmas
lícito.
As rotas
que os m issi o n r io s á
e a África, além de ficar livre do tráfico de escravos, a luz do evangelho. Portanto, para Livingstone, as
suas explorações e o seu trabalho missionário eram duas faces da mesma moeda. Por toda parte ele falava do evangelho aos nativos.
Mas o seu propósito
não era conseguir
pessoalmente
a
sua conversão, mas med.iante as suas explorações, abri r o caminho para outros contatos que, posteriormente, trariam mais missionários, comerciantes honestos e felicidade para a região. Algumas vezes sobre o lombo de um boi, ao qual deu o nome de Simbad, e outras vezes em canoas, Livingstone percorreu milhares de quilômetros, tomando notas de tudo quanto via,
184 - A Era dos Novos Horizontes
fazendo gando
observações
astronômicas,
o evangelho,
africanos.
Vinte
e em
geral
e sete vezes
zes de matar um saúde melhorava,
curando
ganhando
ele foi
enfermos,
pre-
a boa vontade
prostrado
por febres
dos capa-
homem menos robusto. Mas logo que a sua empreendia de novo as suas viagens. Em
certa ocasião, ao chegar ao litoral, enfermo e cansado, encontrou ali um navio que se ofereceu para levá-lo de volta à Inglaterra. Embora o propósito de Livingstone fosse voltar à Inglaterra,
ele
se negou
a aceitar
aquela
oferta,
porque
havia
prometido ao chefe dos carregadores que o acompanhavam que regressaria com eles à sua aldeia. Quando, por fim, Livingstone chegou à Grã-Bretanha, depois de dezesseis anos de ausência, foi recebido como herói. A Real Sociedade Geográfica havia recebido os seus relatórios, e lhe conferira as mais elevadas honras. Nas universidades onde ele falou, foram muitos os estudantes que decidiram dedicar a sua vida às missões na África. As suas descrições do tráfico de escravos sacudiram a consciência da Europa. nário,
Livingstone mas como
regressou então à África, não como missioagente do governo. Visto que estava conven-
cido de que a sua obra devia consistir em abrir o interior do continente para o comércio e as missões, Livingstone continuava considera ndo-se missionário. Repetidamente ele se entranhou no coração da África. Sua esposa, que havia regressado à África
alguns
meses
antes,
morreu
em
1862.
Profunda-
mente abalado, o explorador interrompeu suas viagens gum tempo. Mas logo as empreendeu de novo, movido impulso via sido
por alpor um
irresistível. Em 1866 chegaram notícias de que ele hamorto por um bando de africanos. Durante cinco anos,
pouca coisa se soube dele, até que as escassas notícias que chegaram fizeram duvidar da veracidade de sua morte. Para sanar as dúvidas, o diário New York Herald organizou uma expedição,
sob a direção
missionário, que o velho mente
de Henry
M. Stanley,
que encontrou
o
fraco e enfermo na remota aldeia de Uyiyi, sendo missionário deixou o seu selo impresso indelevel-
sobre o jovem jornalista. Livingstone continuou as suas
viagens,
até que
os seus
amigos africanos o encontraram morto, de joelhos junto à sua cama, com as mãos unidas, em atitude de oração. Segundo o seu desejo, enterraram o seu coração e suas vísceras em solo africano, e embalsamaram o seu corpo, que levaram para o litoral. Dali os restos fúnebres foram levados
então para a
Horizontes
Martírios
que aconteceram
tado por um cristão Grã-Bretanha, ficas
Geográficos:
e o Mundo Muçulmano
em Madagascar,
- 185
em 1849. Quadro pin-
de Madagascar
onde foram
na Abadia
A África
enterrados
de Westminster,
local
com cerimônias em
que
honorí-
repousam
os
grandes vultos daquela nação. Não houve mais digno representante da "era dos novos horizontes" do que este explorador, para quem cada horizonte era um desafio; este missionário, para quem cada aldeia além do horizonte
era um chamado.
X Horizontes Geográficos: América Latina A suprema necessidade da América Latina é a proclamação, a cada república e a cada indivíduo, do evangelho em sua pureza, simplicidade e poder, e o cumprimento das funções de igrejas evangélicas bem organizadas. Congresso do Panamá
No capítulo III, ao tratar das novas condições políticas da América Latina, assinalamos as conseqüências que estas condições tiveram para o catolicismo, mas pouco ou nada dissemos
acerca
capítulo América
do
protestantismo.
dos que falam dos um duplo propósito:
isto
para
"horizontes geográficos", em primeiro lugar, deste
mos que a penetração durante o século XIX, tante
Fizemos
dedicar
um
separado ao desenvolvimento do protestantismo na Latina. Agora, ao colocar o presente capítulo depois
ocorrida
verificamos ao colocar
naquela ao falar
este
do protestantismo na América fez parte da grande expansão época,
da Ásia
capítulo
fazemo-lo com modo assinala-
produto
dos mesmos
ou da África;
depois
dos
que
outras regiões, fazemo-lo para indicar protestantes da Europa e dos Estados
fatores
em segundo falam
Latina, protes-
acerca
que lugar,
dessas
que o interesse dos Unidos, em r e laçá o à
América Latina, foi menor do que o demonstrado para com outras regiões, e, em muitos casos, posterior a ele. Para muitos protestantes europeus e norte-americanos, os novos-horizontes geográficos a América ibérica,
que se abriam para as missões não incluíam descoberta e colonizada por cristãos, sécu-
los antes. Por outro lado, ao projetar este capítulo, duas alternativas. Uma seria repassar país por
consideramos país, apresen-
Horizontes
Geográficos:
Amórlcn
t.nttnn
/ fJ!
tando os nomes dos principais missionários, e resumincl o ro sultado de sua obra. Descartamos esta alternativa, que não nos permitiria
nada
mais
do que
dar
uma
longa
lista
de nomes
e
datas, e que em todo caso foi feito em um trabalho anterior, para seguir outro caminho. Este consiste em escolher alguns exemplos
ou episódios
que
mostram
las quais o protestantismo penetrou rica Latina. Estas são principalmente sões e o cisma, guma
outra
seja
dentro
as diferentes
formas
e se desenvolveu três: a imigração,
do catolicismo,
seja
pe-
na Améas mis-
dentro
de al-
igreja.
A imigração Durante
a época
colonial,
Espanha
manter as suas colónias fechadas para geiro. Esta política servia para proteger
e Portugal
mércio que tanto beneficiava efeito também para proteger
a metrópole, os habitantes
"contágio"
o protestantismo.
terminar
com a época
idéias colonial,
como
muitos
procuraram
todo contato o monopólio
estrando co-
mas era levada a das colónias do Portanto,
dos dirigentes
das novas
ao na-
ções seguiram uma política diamentralmente oposta. Conforme viam as coisas, era necessário fomentar o contato com outros países, especialmente a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, cujo desenvolvimento industrial e económico pelas novas nações. Ao mesmo tempo, esses tes seguiram o princípio estabelecido pelo clarou que "governar é povoar". Para que o
devia ser imitado mesmos dirigenestadista que depaís possa ser in-
dustrializado, pensavam eles, é necessário povoar o interior, abrir caminhos, estabelecer contatos com as nações industrializadas e introduzir as idéias e a experiência dessas nações. Por isso, durante todo o século XIX, os governos mais progressistas da América Latina fomentaram a imigração européia e norte-americana, embora nem sempre o resultado tenha sido de que os imigrantes eram as pessoas mais progressistas de seus países de origem, como se pode ver no caso dos sulistas norte-americanos que emigraram para o Brasil, depois da Guerra Civil, nos E.U.A., abolição da escravatura.
e ali
se opuseram
mais
Para fomentar a imigração, era necessário o fato de que muitos dos possíveis imigrantes tantes que não estavam dispostos so, era necessário garantir-lhes em países
onde
a religião
católica
uma
vez
à
levar em conta eram protes-
a abandonar a sua fé. Por isa liberdade de culto, mesmo era até então
a única
permi-
188 - A Era dos Novos Horizontes
tida
para o resto
gruência
dos habitantes.
Mas logo
de se dar aos imigrantes
tinham
e, por
isso,
gou-se
à liberdade
em uns
países
de culto
se verificou
direitos antes
para toda
a incon-
que os nativos que em outros,
a população.
não che-
Portanto,
a
política de estimular a imigração teve como conseqüência posterior a disseminação do protestantismo em meio à população. Os primeiros imigrantes eram em sua maioria britânicos, mais
particularmente
escoceses.
cujo desenvolvimento muitos imitar, e por isso se estimulou
A Grã-Bretanha
de nossos em particular
era um país
países desejavam a imigração britâ-
nica. Assim, por exemplo, o primeiro contingente notável de imigrantes na Argentina foi um grupo de escoceses que chegou ao país em 1825, mediante um contrato com o governo. Em Valparaíso, que veio a ser a base de operações para uma esquadra britânica, desde muito cedo houve um grupo de oficiais navais, a que depois se somaram alguns comerciantes. Depois dos escoceses, chegaram os alemães, que se estabeleceram
em
vários
países
no
sul
do
continente.
A
imigração
norte-americana durante todo o século XIX foi escassa, se excluirmos os que se assenhorearam dos territórios anteriormente
mexicanos,
porque
era a época
em que os Estados
Uni-
dos estavam se estendendo para oeste, e essas terras atraíam quem de outro modo poderia ter pensado em emigrar para América
Latina.
O outro
grupo
que teve
o dos negros procedentes das colônias beleceram no Panamá e nas costas Central. Normalmente, vam
em seus
Muitos buscar
novos
os
contingentes
países
traziam consigo em seus países
muita
importância
britânicas, do Caribe, de
foi
que se estana América
imigrantes
as suas antigas
a a
práticas
continuareligiosas.
os seus pastores, ou os mandavam de origem. O seu objetivo, ao virem
para novas terras, não era pregar aos naturais do país e, por isso, a maioria dos imigrantes contentou-se em guardar para si a fé de seus antepassados. Em alguns casos, porém,
os imigrantes
também
tinham
o
objetivo de transmitir a sua fé aos seus novos vizinhos. Um episódio notável a esse respeito foi o que deu origem à Igreja Episcopal do Haiti. Depois de Guerra Civil norte-americana, manifestou-se entre os negros dos Estados Unidos certo interesse e admiração para com o Haiti, que havia se tornado independente da tutela branca, e agora era governado por aqueles que antes haviam sido escravos. Em 1855, o negro
Horizontes
Geográficos:
norte-americano
James
em vista começar
nele uma missão,
o melhor
método
de imigrantes. tros,
Holly
seria
estabelecer-se aos Estados
em 1861, um grupo partiu
para
melhores condições evangelho. O chefe
visitou
e voltou
De volta
e por fim,
te-americanos
Theodore
América
o Haiti,
Latina -
o país,
convencido
189
tendo de que
no país com um núcleo Unidos,
convenceu
de cento onde
de vida e, ao deles era Holly,
a ou-
e dez negros
esperavam
nor-
encontrar
mesmo tempo, que havia sido
pregar o ordenado
sacerdote episcopal. Os primeiros meses foram trágicos. Em um ano e meio, quarenta e três dos cento e dez imigrantes haviam morrido, vítimas
da malária
vam-se
cinco
e da febre
dos oito
tifóide.
membros
Entre
da família
os mortos
Holly.
conta-
A maior
parte
dos que restaram com vida resolveu abandonar o projeto. Alguns se mudaram para a Jamaica, e outros simplesmente voltaram para os Estados Unidos. No Haiti, ficaram o pastor Holly e um punhado de acompanhantes. Tal firmeza teve recompensa. Quando um bispo da Igreja Episcopal visitou o país, por convite de Holly, encontrou um bom número de haitianos prontos para serem confirmados, e alguns a quem Holly havia estado treinando para serem pastores. A partir de então, a obra continuou crescendo, até que a Igreja Episcopal dos Estados Unidos decidiu que a do Haiti devia ser uma igreja independente. Em 1876, Holly foi consagrado
pela
Igreja
Episcopal
para
ser
o primeiro
bispo
da Igreja
Apostólica Ortodoxa Haitiana. Quando Holly morreu, em 1911, essa igreja havia lançado fortes raízes em várias regiões do país, embora as condições e as circunstâncias do momento a tivessem levado a renunciar à sua independência e a tornar-se um distrito missionário da igreja norte-americana. Embora não se tratem de imigrantes, no sentido restrito,
também
cabe
mencionar
aqui
outro
mais
fenômeno
que
causou o desenvolvimento do protestantismo em alguns países: o retorno de exilados que se haviam tornado protestantes no estrangeiro. Isto aconteceu de maneira particularmente notável
no caso de Cuba,
mudanças partir
políticas
de 1868,
colônias
visto
ocorridas
se tivessem
de cubanos
que as constantes na Espanha,
estabelecido
exilados,
e que
guerras,
fizeram nos
alguns
com
Estados deles
e as que,
a
Unidos
pudessem
voltar à sua pátria, mesmo antes da independência. Em 1890, os dirigentes da Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos
surpreenderam-se,
ao
receber
uma
carta
assinada
pelo
190 - A Era dos Novos Horizontes
presbiteriano
Evaristo
Collazo,
informando-lhes
que
ele e sua
esposa haviam fundado em Cuba três congregações e uma escola para meninas, e pedindo-lhes o seu apoio. Pouco antes, o episcopal
Pedro
Duarte havia fundado em Matanzas a igreja a Jesus) e outras em toda a porção ocidental da ilha. Fatos semelhantes se repetiram em várias outras denominações e lugares.
Fieles a Jesús (Fiéis
As missões Quando as novas as missões protestantes
condições políticas tornaram possíveis para a América Latina, nem todos os
protestantes europeus e norte-americanos estavam convencidos de que era lícito empreender essa obra. Particularmente os anglicanos e episcopais pensavam que o continente já era cristão, por ser católico, e que era um erro sões entre os católicos, quando havia tantas na África
que
nem
s equ e r haviam
ala anglo-católica
da
Igreja
ouvido
Anglicana
empreender mispessoas na Ásia e
o nome
não
deseja
de Jesus.
A
ofender
os
católicos começando missões entre eles, e dando a entender com isso que os católicos não eram cristãos. Quase todos concordavam
em
que
o
catolicismo
latino-americano
muito a desejar. Mas os que se opunham que, em lugar de debilitar esse catolicismo, vais,
eles deviam
procurar
meios
tabelecer melhores contatos com se segundo as diretrizes bíblicas.
pelos
quais
ele, para
deixava
às missões arguíam criando igrejas rise pudessem
ajudá-lo
es-
a renovar-
Por estas razões, quando os anglicanos empreenderam missões na América Latina, o fizeram entre tribos que mal haviam
sido
alcançadas
na costa de Misquitia, e Terra do Fogo.
pelos
católicos,
na América
como
Central,
as que
habitavam
ou as da Patagónia
A missão anglicana à Terra do Fogo é um exemplo do sacrifício e do valor que algumas dessas obras requereram. Em 1830, chegaram à Inglaterra, levados como reféns por uma expedição
científica,
quatro
fueguinos,
a quem
o idioma inglês e os princípios da fé cristã. - o quarto havia falecido - desembarcaram
foram
ensinados
Em 1833, três deles em seu país de ori-
gem, acompanhados por um catequista britânico. (É interessante notar que Charles Darwin, na época ainda um jovem de vinte e dois anos, fazia parte da expedição que os levou a essas terras). Pouco depois, ao ver passar em canoas alguns fueguinos com
roupas
européias,
os ingleses
que haviam
transporta-
Horizontes
o capitão
Geográficos:
América
Latina
- 191
Allen Gardiner
do os missionários suspeitaram que algo ram ao posto da missão. Ali encontraram,
corria quase
mal, e voltalouco, o cate-
quista britânico, que contou que os índios o haviam maltratado e roubado tudo quanto possuía, e rogou que o levassem de volta à I nglaterra, pois temia por sua vida. Pouco depois, os três fueguinos que haviam sido a esperança da missão retornaram para os seus, e só de um deles voltou-se a ter notícia. Foi então que entrou em cena o personagem heróico do empreendimento missionário realizado no extremo sul do continente: o capitão Allen F. Gardiner. Ele havia sido capitão da marinha de guerra britânica e, em 1834, junto ao leito de morte de sua esposa, havia se consagrado fracassou repetidamente em seus
à obra intentos
missionária. missionários
Ele na
África, Nova Guiné, entre os araucanos no Chile, e em outros lugares. Os seus contatos com alguns caciques da Patagônia o levaram a sonhar com a sua dedicação ao trabalho nessa região, e depois de muito esforço conseguiu amigos e admiradores fundasse a Sociedade Patagônia.
De volta
havia mudado, com que antes
à Patagônia,
que um grupo de Missionária para a
ele descobriu
que a situação
e que não se materializou o apoio dos caciques havia contado. Então realizou um trabalho mis-
sionário na Bolívia durante cargo de obreiros espanhóis.
algum
tempo,
até que o deixou
Por fim, depois de outra viagem a Inglaterra e outra prolongada campanha para conseguir apoio econômico, empreen-
a
192 - A Era dos Novos Horizontes
deu a sua missão definitiva à Terra do Fogo. barco que o levou permaneceu ali, ajudando-o cer, por vinte
dias,
e ao zarpar
ficaram
A tripulação do a se estabele-
para trás
Gardiner,
um
catequista, um médico metodista, um carpinteiro e três marinheiros. Nem bem o navio desaparecera no horizonte, quando os missionários descobriram que, por erro, não havia sido desembarcada
a sua
reserva
de pólvora,
com
a qual
esperavam
conseguir a maior parte de sua alimentação, caçando. Além disso, os naturais da terra mostraram-se hostis, e só se aproximavam nham.
dos
missionários
para
lhes
roubar
Por fim, eles tiveram que abandonar Os seus amigos na Inglaterra e em
prometido enviar-lhes provisões meiro barco naufragou. Quando
Por fim,
com
que ti-
dali a seis meses. Mas o prise receberam notícias desse
naufrágio, outro barco foi enviado, gundo navio faltou com sua palavra, estavam.
do pouco
aquele lugar. Montevidéo haviam
mas o capitão e não apartou
um ano e meio
de atraso,
desse seonde eles
chegaram
as
provisões. Os que as levavam encontraram uma inscrição em uma pedra: "Cavem aqui/ Vão a Puerto Es p a o l/ Março 1851". ô
Debaixo
da pedra
estava
de como chegar onde com uma comovedora encontravam quando
enterrada
uma garrafa
com indicações
se haviam refugiado os missionários, e descrição do péssimo estado em que se haviam abandonado aquele lugar. Se-
guindo as instruções encontradas na garrafa, os que levavam as provisões chegaram por fim ao último refúgio dos exilados. Todos haviam morrido. Pelo diário de Gardiner, que sobreviveu aos demais, e que até poucos dias antes de morrer estivera escrevendo instruções acerca de como evangelizar os natu r ais, soube-se que as provisões haviam chegado tarde demais, por uma diferença de vinte dias. A última coisa que Gardiner escreveu foi: "Com quão grande e maravilhoso amor Deus me ama! Até aqui ele me tem conservado por quatro dias, sem sentir
fome nem sede, apesar de estar sem alimentos!" A tragédia despertou redobrado interesse nas missões
extremo paração, quartel Entre Allen
ao
sul do continente. Depois de um novo período de preiniciou-se de novo a missão. Esta estabeleceu o seu nas Malvinas,
como
os que participaram W. Gardiner, filho
Patagônia
e à Terra
antes
o havia
sugerido
Gardiner.
desse novo empreendimento do falecido capitão. Em uma
do Fogo,
encontraram
estava visita à
eles um dos antigos
reféns fueguinos, que ainda se lembrava do inglês e que concordou em trasladar-se para as ilhas Malvinas com sua família.
Horizontes
Depois outros fueguinos fizeram um pequeno grupo de fueguinos navam
o seu idioma
Geográficos:
América
Latina - 193
o mesmo, e assim criou-se que aprendiam inglês, ensi-
aos missionários
e se fizeram
cristãos.
Por
fim, os missionários decidiram que havia chegado o momento de estabelecer uma ponta de lança na Terra do Fogo. Para lá foram, entre outros, Gardiner e o antigo refém, agora, ao que parecia, genuinamente convertido. Contudo, poucos dias depois de estabelecidos, os missionários foram atacados e mortos, aparentemente graças à cumplicidade com o antigo refém e com outros que haviam estudado nas Malvinas. Somente sobreviveu o cozinheiro da expedição, e pôde contar o que aconteceu. Desalentados, os chefes da missão nas Malvinas decidiram voltar para a Inglaterra. O jovem Thomas Bridges ficou encarregado do posto; ele tinha 18 anos, e recusou-se a regressar. Por algum tempo, Bridges dedicou-se a travar uma amizade mais estreita com os fueguinos que viviam no posto missiona idioma.
o bispo
r i o das Malvinas. Assim, Em particular, ele se fez
Stirling
ele chegou a aprender o muito amigo do fueguino
com um grupo de missionários
e convertidos
194 - A Era dos Novos Horizontes
Horizontes
Jorge
D. Okoko,
Geográficos:
que se havia tornado
América
um cristão
Latina
- 195
de profundas
convicções. Quando chegou o novo superintendente, W. H. Stirling, Bridges e Okoko prepararam-se para uma nova visita ao lugar de tantas tragédias. Ali os esperavam os índios, represálias que perventura iriam ser tomadas
temerosos das por causa da
morte dos outros missionários. Mas tanto Okoko como Bridges lhes falaram em seu próprio idioma, e os naturais se surpreenderam com o espírito de perdão de pessoas tão estranhas. Assim, finalmente teve início uma obra que logo lançou raízes entre todos os habitantes da região. Okoko e outros treinados nas Malvinas estabeleceram centros missionários. No princípio de 1869, Stirling ordenou que o deixassem só, com provisões para
algum
Escola
tempo,
Dominical
em
no Brasil
uma
cabana
junto
ao litoral.
Quando
196 - A Era dos Novos Horizontes
seus amigos voltaram seis meses depois, verificaram que Stirling havia ganho o respeito dos índios, lançando as bases para uma missão permanente. Chamado para a Inglaterra para ser consagrado Montevidéo
bispo das Malvinas, Stirling encontrou-se com Bridges, que voltava de Londres, depois
em de
ter sido ordenado diácono. Em seguida ao regresso de ambos, a missão continuou, pois Stirling sempre se interessou por ela, e Bridges introduziu na região a criação de gado e o cultivo de várias espécies vegetais. (Além disso, antes de passar a outro tema, é interessante observar que um dos mais fiéis contribuintes para essa missão foi Charles Darwin, que havia visitado aquele país quando jovem, e a quem mais tarde muitas pessoas consideraram
inimigo
da fé.)
Os primeiros missionários protestantes que trabalharam entre a povoação de fala espanhola e portuguesa não procuraram fundar ig'rejas, mas difundir a Bíblia, lançar a semente e
Médico chegando
a
um dispensário
missionário
em Porto Rico
Horizontes
preparar
o caminho
desses precursores na América Latina na Escócia,
Geográficos:
para os que viriam
depois.
foi o escocês James como Diego Thomson.
ele se dedicou
ao estudo
América
Latina - 197
O mais
notável
Thomson, conhecido Como pastor batista
do espanhol
e do método
lancasteriano de educação, que fazia uso de leituras da Bíblia para que os alunos tomassem parte ativa na sua própria educação. tante
Em
1818,
da Sociedade
governo
argentino
a educação
pública
ele
chegou
Bíblica
a Buenos
Britânica
sentia
a urgente
sobre
novas
Aires
como
e Estrangeira. necessidade
bases,
represenVisto
que o
de estabelecer
ele foi muito
bem rece-
bido, e o governo o nomeou Diretor Geral de Escolas, com a responsabilidade específica de fundar uma escola modelo e treinar outros professores. Por dois anos Thomson se dedicou a isto e à difusão da Bíblia. Além disso, ele reuniu uma peque-
Colportor
bíblico,
no fim do século
XIX
198 - A Era dos Novos Horizontes
na congregação pois
de protestantes
de uma
breve
visita
de fala
ao Uruguai,
inglesa.
ele partiu
não antes de ter sido no nacional, deixando
declarado cidadão argentino organizada uma Sociedade
liar em Buenos
Depois
prosseguiu
Aires.
para
Porto Rico, estas Colômbia, fundou
Peru,
de um ano de estada
Equador,
Colômbia,
Em 1821, depara
o Chile,
pelo goverBíblica Auxino Chile,
México,
Cuba
ele e
duas últimas ainda colônias espanholas. Na uma Sociedade Bíblica. Em todos esses paí-
ses, evitou de todas as formas possíveis o conflito com o clero, e em alguns casos, como na Colômbia, encontrou entre os padres progressistas alguns de seus melhores aliados. Depois continuou para outros continentes, onde prosseguiu sua obra. Na América Latina, seguiram-se a ele outros representantes da Sociedade Bíblica. Um deles, Lucas Matthews, depois de percorrer Argentina, Chile, Bolívia, Peru e Colômbia, desapareceu neste
último
país
sem
que
jamais
se tenha
sabido
o que
lhe
aconteceu. Logo surgiram outros colportores bíblicos latino-americanos. O mais notável deles foi Francisco Penzotti, que se havia convertido durante um dos primeiros celebrados em Montevidéo. Penzotti foi
Missionários
acampados
no interior
cultos em castelhano enviado ao Peru para
do Brasil
Horizontes
Geográficos:
América
Latina - 199
Co/portora no Chile fazer
circular
a Bíblia,
mas decidiu
que era nece ss an o realizar
cultos como o que havia dado lugar à sua própria conversão. Visto que era proibido celebrar cultos públicos, antes da reunião ele distribuía folhetos aos que demonstravam interesse em assistir e, desse modo, pelo menos legalmente, o culto não era público. Ele foi encarcerado e mantido preso, apesar de ser repetidamente absolvido, por mais de oito meses. Por fim, o jornal New York Hera/d publicou a sua história, e o governo peruano, que desejava atrair imigrantes, precisou colocá-lo em liberdade. Dessa forma abriu-se uma brecha para que o protestantismo entrasse no Peru. E nquanto isso, por todas as partes começavam a aparecer pequenas congregações de fala espanhola. Algumas dessas, como as fundadas pelo escocês J. F. Thomson, em Buenos Aires e Montevidéo, surgiram devido ao interesse de alguns imigrantes em compartilhar a sua fé com os naturais do país. Thomson pregou o seu primeiro sermão em castelhano, na Argentina, em 1867, e pouco depois começou a pregar também em Montevidéo. Mais ou menos à mesma época, um missioná-
200 - A Era dos Novos Horizontes
rio norte-americano, igreja protestante
de
membros
igreja
chilenos,
David Trumbull, fala espanhola que mais
organizava no Chile,
tarde
se uniu
a primeira com quatro
à presbiteria-
na. Quase ao mesmo tempo, os metodistas norte-americanos começa ram a sua obra na região. Na Colômbia, surgiu uma congregação
em Cartagena,
mon Montsalvage, ao país o primeiro
fundada
pelo
ex-frade
catalão
Ra-
por volta de 1855. Na mesma época chegava missionário presbiteriano. No Brasil, a prin-
cipal força missionária nos meados do século foi um grupo de portugueses que se havia convertido na ilha portuguesa de Madeira, e que foram obrigados a se exilar no Brasil, devido a perseguições em sua terra natal. No México, embora também houvesse
protestantes
Primeiros
edifícios
co
antes
do Hospital
disso,
só na década
PreslJiteriano,
de 1870 é que
San Juan,
Porto
Ri-
Horizontes
Geográficos:
América Latina - 201
as principais denominações norte-americanas começaram a trabalhar. Em resumo, embora seja possível citar antecedentes vários
e até heróicos,
foi por volta
de 1870 que se estabeleceu
na América Latina a maior parte do trabalho protestante permanente. Para isso haviam aberto o caminho os agentes das Sociedades Bíblicas, alguns imigrantes, e um bom número de latino-americanos que, de uma forma do a conhecer o protestantismo. maior
Também é importante parte dos missionários
ou outra,
indicar que, protestantes
haviam
chega-
desde o princípio, a procurou dar teste-
munho de uma mensagem que se ocupava não apenas da salvação eterna, mas também dos outros aspectos da vida. Por isso, o protestantismo destacou-se devido às escolas, hospitais e outras instituições que fundou. Muitas pessoas que abraçaram o protestantismo foram educadas em escolas distas,
atendidas
albergues
Pregação
em hospitais
presbiterianos
congregacionais.
ao ar livre na América
Latina
nunca meto-
ou abrigadas
em
202 - A Era dos Novos Horizontes
Publicações protestantes em espanhol, México, 1905 Os cismas Em alguns
casos,
as novas
condições
e as idéias
meçavam a circular produziram cismas dentro da Igreja ca, da qual se separaram grupos que, posteriormente,
que coCatólise uni-
ram às igrejas protestantes. O mais notável desses cismas foi o iniciado pelo sacerdote mexicano Ramon Lozano, que, em 1861, se separou do catolicismo
e fundou
a Igreja
Mexicana,
com
estatutos
provi-
sórios. Poucos depois, o sacerdote Aguilar Bermúdez deu passos semelhantes. O presidente Benito Juárez, que não gostava das atitudes políticas do mento o seu apoio moral,
catolicismo, assistindo
um famoso
dominicano,
cismáticos,
e acabou
por concordar
nova
solicitou
ajuda
igreja
Manuel
Aguas,
prestou a esse moviaos seus cultos. Depois, dedicou-se
com eles.
dos episcopais
a refutar
Enquanto
os
isso, a
norte-americanos,
e
Horizontes
Geográficos:
Amôrtcn
Lntlnn
20:.1
se organizou com o nome de Igreja de Jesus. S I prlm 10 bispo, que morreu antes de ser consagrado, foi Manuel Aq u as. Posteriormente, Episcopal
dos
em
1909,
Estados
a Igreja
Unidos,
de Jesus
e veio
uniu-se
a ser
parte
à Igreja integrante
desse corpo. Em outros casos, os cismas aconteceram dentro das fileiras do protestantismo. Às vezes, o grupo que se separou chegou a se tornar maior do que sua igreja mãe. Foi esse o caso do cisma que teve lugar entre os metodistas chilenos, em 1910. Anos antes, na igreja de Valparaíso, o culto havia começado a assumir
características
do movimento
1910 a Conferência Anual do Chile condenou resultado foi a formação da Igreja Metodista inicialmente tinha apenas três congregações,
pentecostal,
e em
essas práticas. O Pentecostal, que mas logo se tor-
nou muito maior ocorreram cisoes atrito tenha sido
do que a Igreja Metodista. Em outros lugares semelhantes, embora nem sempre o ponto de a questão das práticas pentecostais. No Bra-
sil, por exemplo,
produziu-se
Igreja Metodista
Episcopal,
um cisma
Concepción,
oriundo
Chile
de atritos
en-
204 - A Era dos Novos Horizontes
tre os missionários e alguns dirigentes nacionais. E seria sível narrar episódios semelhantes em diversos países. ser
O que expusemos acima uma história das origens
não pretende de forma alguma do protestantismo na América
Latina. Para fazer justiça a esse tema, seria paço maior do que o que temos aqui. Antes, foi dar ao leitor uma visão pelos quais o protestantismo vá-lo
a ver que o panorama
pos-
necessário um eso que procuramos
panorâmica dos múltiplos meios penetrou na América Latina, e leé muito
mais
amplo
do que a his-
tória de uma denominação ou de um tipo de missões. Imigrantes, transeuntes, missionários internacionais como Diego Thomson, heróis como Gardiner e os que o seguiram, missionários europeus e norte-americanos, exilados latino-americanos que regressavam à sua pátria, católicos sinceros que acabavam convencidos de que algo faltava à sua religião, todos esses e muitos outros na América Latina.
foram
os introdutores
do protestantismo
Por outro lado, não devemos nos esquecer do fator comum que durante todo o século XIX e boa parte do século XX contribuiu para o sucesso alcançado pelo protestantismo. Esse fator foi o liberalismo político e econômico que nessa época chegou ao seu apogeu. Os mesmos crioulos que sonhavam com o estabelecimento de repúblicas alicerçadas sobre os ideais da Revolução Francesa, e que criam na livre empresa econômica, que é a base do capitalismo, eram os que estavam mais dispostos a colaborar com a introdução do protestantismo em seus países. Embora eles mesmos não estivessem dispostos gação
a se tornar protestante,
protestantes,
não obstante
e certamente
a imigração
criam
que a pre-
protestante,
abri-
riam o caminho para as promessas do mundo moderno. Portanto, o que faltava ver é o que aconteceria quando esse liberalismo
começasse
a perder
sua vigência.
XI Horizontes Ecuménicos Em meio às tristes discórdias e divergências que alienaram e separaram os corações, não apenas de indivfduos crentes entre nós, mas também de comunidades inteiras, a evangelização dos pagãos freqüentemente exerceu a sua influência suavizadora, saneadora e reunificadora. Alexander Ouff
Um modo
dos
pelo
fenômenos
qual
mais
os cristãos
notáveis
começaram
do
século
XI X foi
a se preocupar
o
com
aquilo que separava as denominações. Desde a época da Reforma, houve quem procurasse unir os diversos grupos que surgiram dela. Recorde-se, por exemplo, o Colóquio de Marburgo, entre Lutero e Zuínglio. Essas tentativas continuaram através dos séculos, embora com resultados quase nulos. Foi no século XIX, e depois no século XX, que o impulso em direção à unidade cristã adquiriu novas forças. Isto se deveu em grande parte às novas circunstâncias em que os cristãos se encontraram, em que muitas das antigas divisões perdiam importância. Nos Estados Unidos, onde se misturavam imigrantes de vários países, e onde, portanto, presbiterianos, metodistas, batistas e episcopais viviam em constante contato, as divisões do velho continente, embora tenham continuado, foram sobrepujadas por outras questões aparentemente mais urgentes. O debate acerca da escravidão cruzou as barreiras denominacionais, de tal modo que os abolicionistas de diversas denominações se consideravam aliados, cravagistas. Algo semelhante entre
fundamentalistas
diante da aliança oposta dos es ocorreu mais tarde no conflito
e liberais.
Portanto,
ao mesmo
tempo
206 - A Era dos Novos Horizontes
que apareciam nos Estados Unidos novas denominações surgidas de questões como a escravidão, a Guerra Civil e a autoridade da Bíblia, aumentavam os laços entre as denominações que adotavam Por
outro
posturas lado,
semelhantes também
diante
dessas
os avivamentos
questões.
e as muitas
or-
ganizações dedicadas a causas benéficas cruzaram as barreiras denominacionais. Quando um pregador chegava a uma aldeia para dirigir cultos de avivamento, poucos eram os que perguntavam tecia com
a que denominação ele pertencia. E o mesmo aconas reuniões da Sociedade Anti-escravagista, da Liga
da Temperança, etc. Um bom indicador deste estado de coisas foi a fundação da Igreja Cristã (Discípulos de Cr isto ) que, como já dissemos, surgiu precisamente com a esperança de pôr fim à divisão existente entre as diversas denominações, criando uma igreja que seguisse os padrões do Novo Testamento, e na qual todos pudessem se unir. Na Europa, onde os contatos entre pessoas de diversas tradições cristãs eram menos constantes, o sentimento ecumênico demorou mais a aparecer. Mas também ali se foi chegando à conclusão
de que
havia
questões
mais urgentes
do que os
velhos debates que haviam separado, por exemplo, presbiterianos de congregacionais, e que essas questões transcendiam as barreiras denominacionais. Assim surgiram várias sociedades
interdenominacionais,
tráfico
de escravos,
com
a proteção
objetivos
como
das crianças
que
a abolição
do
trabalham,
educação cristã mediante escolas dominicais, etc. Porém, o que deu verdadeiro ímpeto ao movimento
a ecu-
mênico foi o movimento missionário. Muitas das sociedades fundadas na Europa e nos Estados Unidos, com o objetivo de alcançar as nações que ainda não haviam ouvido a mensagem cristã, incluíam notabilíssimos trangeira
membros de diversas denominações. Exemplos disso foram a Sociedade Bíblica Britânica e Es-
e a Sociedade
Bíblica
Americana,
principais
promo-
toras da distribuição da Bíblia e fortes aliadas dos missionários que se dedicavam a traduzir as Escrituras para diversos idiomas. Enquanto na Europa e nos Estados Unidos os eruditos bíblicos se aproximavam uns dos outros em torno de seus estudos, nos campos missionários a tradução e a distribuição da Bíblia foram empreendimentos conjuntos nações. Quando uma denominação havia
de diversas denomitraduzido a Bíblia, as
outras
e, por
empregavam
a mesma
tradução
isso,
desde
o
Horizontes
princípio,
precisavam
reconhecer
a sua
;lO I
EcumtJnlcos
dívida
de gratidão
a
cristãos de outra confissão. Ao mesmo tempo, as divisões que na Europa ou nos Estados Unidos podiam parecer perfeitamente explicáveis, não o eram tanto ou até de forma alguma na China, na índia ou em Fiji.
Ao
apresentar
o evangelho
a pessoas
que
não
o conhe-
ciam, a questão de a igreja dever ser governada por presbíteros ou por bispos era, de qualquer prisma que se considerasse, secundária. O que é mais importante, tais questões tendiam a ocultar
a própria
mensagem,
tropeço para alguns crentes Ademais, devido aos
duas
acabavam
sendo do
duplicando o que outros já estavam com outros projetos missionários.
ou mais
pedra
igrejas
de denominações
diferentes
era nesem es-
fazendo, Por que
de uma
província,
quando
havia
necessário pregar? Por tudo isso, desde estágio nários verificaram a necessidade
tantas
outras
bem inicial, de colaborar
mente entre si. E o mesmo fizeram alguns dos, que, pouco a pouco, foram ocupando
ou ter
em uma al-
deia, quando havia centenas de aldeias sem nenhuma Por que competir uns com os outros na evangelização ilha,
de
empreendi-
e à enorme tarefa a ser realizada, esses recursos com sabedoria,
mento missionário cessário administrar banjá-los, competindo
e assim
e interessados. recursos limitados
igreja? de uma onde
era
algu ns missiomais estreita-
dos seus convertiposições de maior
importância nas novas igrejas. É verdade que houve missionários que insistiram com firmeza em suas posições denominacionais, havendo também 'Convertidos que seguiram o seu exemplo. Também é verdade que as novas igrejas se dividiram com lamentável freqüência. Mas, em termos gerais, o consenso dos que mais se preocupavam com a obra missionária e com a conversão de seus vizinhos era a urgente necessidade de que os cristãos se aproximassem mais, se não para unir-se em uma única
igreja,
pelo
missionária. O grande coisas,
foi
este grande missionária Cabo,
menos
precursor
Carey.
Desde
missionário internacional,
no extremo
para
projetar
de tudo logo
isto,
cedo,
em conjunto como no início
a sua obra
em tantas
outras
do século
XIX,
havia sonhado com uma conferência que deveria se reunir na Cidade do
sul da África,
em 1810. Essa cidade
parecia
ideal, por se achar no meio do caminho entre a Europa e os Estados Unidos, por um lado, e o Oriente, por outro. Ali de-
208 - A Era dos Novos Horizontes
viam se reunir, das sociedades
segundo a proposta de Carey, representantes missionárias que apoiavam o trabalho no
Oriente e na África, juntamente com grande número de missionários que trabalhavam nessas regiões. O que fariam seria intercambiar experiências, para aprender uns dos outros e, além disso, discutir os seus planos, de modo que os projetos de uma sociedade não repetissem desnecessariamente os de outra. E m uma época em que as divisões denominacionais eram ainda extremamente importantes, e quando os missionários
de um país freqüentemente
os de outro, Os próprios
competiam
abertamente
com
a proposta de Carey não encontrou receptividade. chefes da sociedade que apoiava a sua obra na ín-
dia declararam que a sua idéia, embora tivesse algum mérito, não poderia ser levada a efeito. Portanto, o sonho de Carey ficaria em suspenso por mais de cem anos. Enquanto isso, tiveram lugar muitas conferências semelhantes em menor escala. Nos países em que trabalhavam missionários, houve inúmeras reuniões onde ção da Bíblia, se repartiram experiências
se projetou a tradue frustrações e se
planejaram empreendimentos conjuntos. Nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha houve uma série de conferências missionárias: em Nova Iorque e em Londres em 1854, em Liverpool em 1860, de novo em Londres em 1878 e 1888, e por fim em Nova Iorque em 1900. Esta última foi chamada Conferência Ecumênica Missionária, usando ainda o termo "ecumênico" no seu sentido original de incluir "toda a terra habitada", ou seja, de ser uma conferência mundial. Pouco a pouco esse termo chegaria a ser usado para se referir ao movimento de colaboração e unidade entre os cristãos. Por fim, cem anos depois da conferência Carey, reuniu-se em Edimburgo, na Escócia,
projetada por a Conferência
Mundial Missionária, conhecida em círculos ecumênicos como "Edimburgo, 1910". Ao contrário das outras conferências anteriores, esta seria constituída por representantes oficiais das sociedades missionárias, cada uma das quais nomearia um determinado cipação
nário total. unicamente estavam América ou entre
número
(em termos
de delegados econômicos)
em proporção no empreendimento
à sua partimissio-
Além disso, estipulou-se que a conferência trataria das missões entre os não-cristãos, e que, portanto,
excluídas as missões protestantes entre católicos na Latina, ou as que algumas igrejas tinham na Europa as antigas igrejas orientais. Por muito tempo antes de ;0.-
Horizontes
Ecumênicos
- 209
se reunir essa conferência, realizaram-se estudos preliminares de que participaram centenas de pessoas em todo o mundo, especialmente mediante correspondência e reuniões regionais ou locais. Ao mesmo tempo, foram excluídas desses estudos, tanto como dos debates da própria conferência, todas as questões de fé e ordem. Excluindo esse tema, assim como as missões entre católicos e outros cristãos, os organizadores tornaram possível a participação de alguns grupos que, de outra forma, não teriam participado, como os anglicanos, que se opunham às missões na América Latina, e os alemães, que se opunham às missões batistas e metodistas entre luteranos.
Conferência
de Edimburgo,
1910
Quando a assembléia se reuniu, a maioria dos participantes era de britânicos e norte-americanos. Havia também um bom
número,
embora
menor,
de representantes
proceden-
210 - A Era dos Novos Horizontes
tes de outros países europeus. Das igrejas do das missões, havia somente dezessete
que haviam resultamembros - e estes,
não nomeados por suas igrejas, mas sim quatorze por sociedades missionárias e três convidados especiais da Comissão Executiva. Apesar
Assim, as limitações da conferência eram numerosas. disso, essa assembléia marca o começo do movimento
ecumênico contemporâneo. A principal contribuição
positiva
da
assembléia
para
o
movimento ecumênico foi que, pela primeira vez, houve uma reunião de tal magnitude de representantes oficiais de sociedades missionárias. Até então, haviam assistido às conferências as pessoas que assim o desejassem. Mas nesta conferência, os que assistiram a ela haviam sido nomeados por suas sociedades missionárias e, portanto, de certo modo eram representantes de suas igrejas, ou pelo menos de seu ern p re e n dimento missionário. O êxito da conferência para outras reuniões semelhantes, algumas
abriu o caminho sobre missões e
outras
sobre diferentes assuntos. Ademais, a conferência não se contentou tomar resoluções e dissolver-se, mas nomeou de Continuação,
da qual
surgiram
outros
em se reunir, uma Comissão
estudos,
e, posteriormente, no século XX, o Conselho ternacional. Outro resultado positivo da conferência
conferências
Missionário foi
dar
Inrealce
mundial a alguns personagens que por muito tempo seriam os principais propulsores do movimento ecumênico. Provavelmente, o principal deles foi o leigo metodista John R. Mott, produto do despertamento religioso evangélico nos Estados Unidos, que havia participado ativamente do movimento estudantil cristão, e que fez pa rte da comissão que organizou a conferência, assim como da Comissão de Continuação. No século
XX,
Mott
seria
o grande
promotor
e estadista
do movi-
mento
ecumênico. Por outro lado, mesmo naquilo que excluiu, a Conferência de Edimburgo causou impacto sobre o movimento ecumênico. Visto que as missões na América Latina as principais agências que se ocupavam
haviam dessas
sido excluídas, missões senti-
ram a necessidade de se reunirem para discutir assuntos de sua incumbência. Já em Edimburgo, de maneira extra-oficial, várias pessoas se reuniram para dar forma a esse projeto, e três
anos
América
depois Latina.
ficou
organizado
Em 1916, depois
o Comitê
de Cooperação
de uma série de estudos
na pre-
Horizontes
liminares,
teve
Cristã
América
na
lugar
no Panamá Latina,
que
evangélicos de todo o continente. cou encarregado de levar a cabo pelo Congresso.
um Congresso pela
primeira
Ecuménicos
sobre vez
- 211
a Obra
reuniu
os
O Comitê de Cooperação fio que havia sido projetado
Congresso do Panamá Outro
tema
excluído
da Conferência
de Edimburgo
foi to-
da questão de fé e de ordem. Desse modo se evitava qualquer discussão que pudesse dividir a assembléia, sem chegar a resultado positivo algum. Mas alguns dos presentes em Edimburgo sentiram a necessidade de se reunirem com outros cristãos para discutir esses temas que, afinal de contas, eram os que mais profundamente separavam as igrejas. Movimento de Fé e Ordem, que posteriormente
Assim seria
surgiu o uma das
212 - A Era dos Novos Horizontes
fontes
do Consel,ho
Mundial
de Igrejas.
Enquanto isso, as tensões internacionais iam aumentando, e os cristãos sentiram-se chamados a se reunir, não somente para discutir sas denominações,
os problemas mas também
das relações entre as diverpara procurar formas pelas
quais se pudessem resolver os conflitos internacionais. Em 2 de agosto de 1914, na cidade de Constanza, organizou-se a Aliança Universal para a Amizade Internacional através das Igrejas. Nesse mesmo dia estourou a Primeira Guerra Mundial.