A história ilustrada do cristianismo 9

Page 1


A ERA DOS NOVOS HORIZONTES


JUSTO L. GONZALEZ

E até aos confins da terra: Uma história ilustrada do cristianismo

A ERA DOS NOVOS HORIZONTES


© 1987 de Justo L. González Título do original: Y hasta lo último de la tierra: Una Historia Ilustrada deI Cristianismo Tomo 9 - La Era de los Nuevos Horizontes 1~ edição: 1988 Reimpressões: 1991, 2000 Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados por SOCIEDADE RELIGIOSA EDiÇÕES VIDA NOVA,

Caixa Postal 21486, São Paulo-SP 04602-970 Proibida a reprodução por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos, gravação, estocagem em banco de dados, etc.), a não ser em citações breves, com indicação de fonte. Capa: Mural da catedral de Port-au-Prince, pintado por Wilson Bigaud Printed in Brazilllmpresso

no Brasil

no Haiti,


Dedicatรณria A Catherine, que comigo vai, saudando novos horizontes.


,

Conteudo Lista

de ilustrações

9

Cronologia

11

I. Horizontes

políticos:

Os Estados

A independência A imigração

das Treze

O Segundo

Grande

O "Destino

Manifesto"

políticos:

17 18 23

Avivamento

27

e a guerra

A questão da escravatura Da Guerra Civil à Guerra Novas religiões II. Horizontes

Unidos Colónias

com o México

e a Guerra Mundial

Civil

Europa

Horizontes políticos: As novas nações A igreja

e as novas

57 65

América

Latina

nações

A obra

de Schleiermacher de Hegel

V. Horizontes

100

e a história

intelectuais:

O papado

90 90 95 98

de Kierkegaard

O cristianismo

77 77 85

IV. Horizontes intelectuais: A teologia protestante As novas correntes do pensamento A teologia O sistema

37 43 51 57

A Revolução Francesa A nova Europa III.

31

103

A teologia

e a Revolução

católica

Francesa

106 106

Pio IX Leão XIII

108 113

Pio

116

X

VI. Horizontes

geográficos:

O século

do colonialismo

117


8 - A Era dos Novos Horizontes

VII.

Horizontes

geográficos:

índia O Sudeste

128 129 140 144 150 155

Ásia

da índia

China Japão Coréia VIII.

Horizontes

geog ráficos:

158 159 161 162 164

Oceania

Filipinas Indonésia Austrália As Ilhas

e Nova

Zelândia

do Pacífico

IX. Horizontes geográficos: África e o mundo muçulmano O mundo muçulmano

172 172

175

África X. Horizontes

XI.

geográficos:

América

Latina

186

A imigração

187

As missões Os cismas

202

Horizontes

ecumênicos

190

205


Lista de Ilustrações 1.

A comunidade de Efrata Avivamento ao ar livre

26

2. 3.

Escravo

torturado

4.

Escravo

fugitivo

38 39 40

5.

Escravos

6. 7. 8. 9.

Igreja Mãe da Ciência Luiz XVI A tomada da Bastilha

10. 11 .

John Henry Newman Fundação das escolas Crianças trabalhando

12. 13. 14. 15.

Otto

cruzando

von

30

a fronteira

entre

dois

estados

Cristã

55

58 60 69 73

Bismarck

Escravos libertados José Bonaparte

dominicais

74

75

por navio

de guerra

britânico

76 79 82

Museu do Ipiranga Dom Pedro II Charles Darwin Schleiermacher Pio IX

83 92 95 109

Ordenação de missionários Igreja em ruínas no Ceilão Aula bíblica no Ceilão Batismo na índia

125 130 131 133

24. 25.

Sati

136 139

26.

Judson

ao terminar

27.

J udson

é preso

16. 17.

18. 19. 20. 21.

22. 23.

Ramabai

e sua filha de traduzir

a Bíblia

142 143

28.

Capela

29.

Missionários

30. 31.

Igreja em ruínas, na China Congregação chinesa

150 151

32.

Catedral católica de Nagasáqui O bispo Nicolai Casa Metodista de Publicações,

152

33. 34. 35. 36.

do Bom Pastor,

Trabalho Tradutores

na Birmânia

na China

médico

148

no Japão

da Bíblia

144

na Coréia

152 em Tóquio

153 154 155


10 - A Era dos Novos Horizontes

37.

Órfãos

na Coréia

156

38. 39.

Culto nas Filipinas Capela católica em G uam

160 165

40.

Cristãos

166 167

de Samoa

41. Oficina em Fiji 42,43. Igreja na Melanésia 44.

Ato

45. 46. 47.

Mapa:

48.

da posse África

Cena de uma Robert Moffat

168 - 169

americana

170

no Havaí

176

em 1914 aldeia

sul-africana

179 181

49.

David Livingstone Pastor zulu com sua família

182 183

50. 51.

Martírios em Madagascar All e n Gardiner

185

52. 53. 54.

O bispo Stirling com missionários Igreja no Chaco Escola dominical no Brasil Médico em Porto Rico

55. 56. 57.

Colportor bíblico Missionários no Brasil

58. 59. 60. 61.

Colportora no Chile Antigo Hospital Presbiteriano, Culto ao ar livre Publicações protestantes

62.

191 e convertidos

Igreja

Metodista

Episcopal,

195 196 197 198 em Porto

Conferência

64.

Congresso

Rico

199 200 201 202

em Concepción, 203

no Chile 63.

193 194

de Edimburgo, do Panamá

1910

209 211


N O'l

r-V>

o oCO

Ol CO

a... V>

o

Q)

•...

c:: Q)

o

.I:. Q)

Ol

M 00

c::

o

CO

>

L.Cl

r-r--

UJ

<O

r-r--

O

•...

CO

c:: CO

CU

.cn

O O

C

O

• o

(.)

O'l

C/)

O

I-

r--

00 <O

Z

r--

:e:

~

w

W

O O U

Z

oCO

o I-

O

o

« C/)

« a.. O Z

a::

a..

O

O

Q)

•...

O

c::

c:: Q)

00

c:: c::

"'C CO

•.•.....

Q)

:::J

:::J

Q)

CO

"'C

O oCO

oCO CO (.)

CO

O

a.

a. :::J CO

I-

>

Q)

CO

"'C

CO

c:: :::J

O oCO Q)

cr ..c Q)

> <.9 o ~ cc

c::

O'l O'l o

L.Cl

r-"""r-- r-r--

Q)

E Q)

u

O'l <O

r--

> O

a...

...-O E CO

CO

O'l

CO

o

u.

.•CO..

u,

(.)

CO

-

<Q)

-

CO

V> Q)

CO

"'C

c::

•...

O

CO

u. a. CO

CO

:::J

Q)

CO

.....J L.Cl

- ._ - os- .~ -- ._ (.)

CO

o

~

c::

c::

t::

CO

~

CO

a...

V>

:::J

>

(/)

Ol

CO

Q)

0(3

CO

"'C

.~ o

(.).,

(.)

"'C

CO

....J

c, o I\J

CO

'Q)

CO

CO

O

(.)

CO

V>

CO

CO Z al

O

oCO

oc:: Q)

>

Q)

CO

"'C Q)

c::

(.)

(/)

O

O (f)

CO

"'C

Q)

N

:::J .....J

Q)

CO

U

'co

E

O

E

(/)

Q) CO

c::

>-

Q)

•...

CO

c::

O (.)

c::

CO

<CO

.••.....

Q)

Q)

O

U I-

O (/)

"'C "'C

O

CO

(/)

•... ~

CO

O

"'C

CO

'-

r--

oCO

c:: u,

x

> ><

c::

<O O'l

Q)

c::

CO U.

(.)

Q)

r--

r--

:::J

"'C

Q) V>

u

M O'l

O

"'C

CO

V>

I- (..)«(..)

r--

CO

c::

(/)

«

c::

M O'l

~

Q)

Q)

CO

Z m

'Q)

•...

•...

u,

~ ~ .• .. ..c ..c ~ "'C ~ E E ~ c:: II) o~ E c: O ~._ O o U c::

•...

M O'l

c:: .I:.

O

o ._

CO

r--

O

a...

::",::

CO

O'l 00

c:: r-CO

c::

c» .•CO.. r-- u, c::

c::

"'C

(.)

r--

u.r--

Q)

CO

N O'l

r--

CO

Z

a.

r--

O'l 00

CO

.-•... -

'CO

Q)

"'C

L.Cl O'l

CO

O'l

V>

CO

(.)

"'C

CO

<O

r-- E a. r-- «

Q)

Q)

(.)

a. c::

CO

r--

CO

"'C

"'C

o

o

"'C

(.)

<Q)

N 00

O

<Q)

c::

r--

V>

CO

CO

Q)

« a.. « a..

Q)

Ol

> >< C/)

CO

(/)

c::

Ol

""" 00

•... ::) Q) E UJ

a. Q) CO "'C u c:: "'C

CO

«

(.)

o:

•...

..c (/)

O


12 - A Era dos Novos Horizontes

o 00 C/)

co

•...

Q)

r-.

O) ~

(j)

c co

r-.

•...

C/)

o

UJ

"O

C/) Q)

C

::J

'<t

C/)

00

'0

o

o

C/) C/)

CO

CO

+'

o

00

C/)

r-. 00 (j)

o r-.

CIJ

+'

Q)

(j) (j)

c Q)

Q)

(j) (j)

r-,

CO

(j) (j)

O)

(V')

r-,

CO

•...

C/)

UJ

CO

c Q)

C/)

(.)

(.)

(f)

(f)

(.)

(f)

(V')

N

o o

00

> o (L

::J

....J

co

'<t

Q)

00

CO

o

CIJ

(.)

(.)

CO

o

oc

00

Q)

'<t

o

(.)

<CO

•...

o E "O

co I

o •... co .• .. "O

CIJ

Q.

UJ

C

00

Q)

•...

c:o ro (.)

co s:

(.)

(.)

::J UJ (f)

O

o Q.

eo

z

c

co

O) Q. O)

"O

"O

c

Q)

I

o

00 CIJ

CO

O) CO

CO

CO (L

CO Q. C/)

C/) C/)

o

..-

Q) (.)

o (j)

(.)

(.)

(.)

--,

--,

c <Q)

"O

c Q) Q. Q)

+' CO

..-

N

(L

N

Q)

CO

s:

"O

C

CO

CO

C/) C/) '::J

+'

'<t 00

c:o ex:: CO

•... c

·CO

<.9 Q)

«

"O C

::J

Q)

UJ

"O

O)

o

+'

o

.co Q)

o Q.

co Z Q)

•...

"O

CIJ .co c s: o- O) c co co CIJ co •.•..... Q. (.)

CIJ

....J 00

Q)

CO (.)

CO

'<t

00

o

s:

:s

Q)

C/)

E o c' o E UJ c:o ex:: Q) o o co U "O Q E "O 00 Q) (/) Q) o Q) CIJ "O s: C ::JQ. .• .. C/) co co -o Q)' Q) c u o +' •... o co o .~ C/) CIJ c O> Q) Q. o •... ~ C/) eo Cl O) C/) Q) C E o C c: Q) Q) c o "O « c E co c:o co •... o +' <CO C '+- ,O) +' c c: C/) C/) Q) o ::J c:o u, O <.9

.•..

C

CO ::J

c

c

Q)

"O

::J N Q)

CO Q.

"O CO

00

Q)

>

(.)

E Q. o E c c:o <O) O) o "O "O « ·CO Q)

Q)

Q. C/)

~

0)00

+'

o

00

..<D

co

CO

•...

00

•... .•CO..

00

00 Q)

c

o

(j) (j)

(j) E o~ O) c (j) r-. CO CO "O r-. CO CIJ "O > •.CO 00 .. (j) o eo co E ex:: > LL r-. Q) « Q) CIJ ....J •... Q).• .. Q) .... 'co Q) c o "O ' ' " co co c '+c co co •... ,« "O o C o s: u c •... Q)•... co LL co C/) ::J Q) E (j) O) c C/) (j) Q) c E eo Q) O) O) Q. ~ C o o (j) o •... "O "O C/) E O) C/) +' o c o •... co "O o O) "O O) o co ·CO -'< co co Q. <> E .c ::J CIJ O) "O 'O)-'" O) co ::J '::J "O "O > > E Q. C C C o o O) o ::J CIJ o > u (L ex:: U LL > (j) Cl « (.)

O)

r-.

o

C/)

UJ

c

~

<D

"O

o

00

+'

C/)

O)

C/) CO

C/)

00

CIJ

C "O

c

o o

o •...

"O

CO

<Q)

+' ::J C/) Q)

00

(.)

Ln

Q)

Q)

o co

'co-'" 3::

N

c co O)

"O C

E o

Q)

"O

Q)

o

"O

·CO

co

~

CIJ

+'

c CO (.)

•... Q)

E

+'

·CO

..<D

o ex::

CIJ (.)

.n

c:o O)

"O

'-"'co co "O co Q) (.)

::J O) O) CIJ co Q) Cl <.9 U ex:: c:o Cl

(.)

o (j)


- 13

Cronologia

<D N 00

N 00

ro '-'" c

-

rn

•...

rn

•...

c

Q)

Q)

U

E

ro

Q)

(.) N •... N -Q)

N

(/)

<Q)

Ol

C

Q)

:r:

N

O")

N 00

o

ro

Q)

oro ro c

'-'" > o o - E m ~ o

Q)

ro

E

Ol

~.;c

Q)

"0.0

c

o

(.) x

o....

-Q)

ro

N

o u

o M M 00

o

-

<ro

•...

Q)

.o

-00

Q)

E

"'"

O")

C

M 00

"t

00

UM Q)OO

rn<D~

C'O~OOr:

<D

"'"

rn

0000"0

«~ Q)

N

tntnl-

o

E .--

00

00 M 00

a.

o Ol o

u,

.o

•...

ro U

o

"O

c

.-e "'" E

::::l o

"'" ~oo-'" ro •... ~ o Q) a.

Q)

-

rn

-o

Q)

o o co (/) o

"O

o

"O

o

"O

o

t(O

cu

C

'-'" •...•... • Q)

Q)

o > .o ::::l o «QQ

<D

-eo O")

N

o

M 00

M M N 00

O")

N 00

>

>< o

>< o

oro

•...

>

-o Ol

o

Q)

Q)

_J

o....

Q

•...


14 - A Era dos Novos Horizontes

LO

.q 00

r-..

o

00

LO

·CO "'C

o

>

·CO "'C

co

•...

>

(.)

UI Q)

co

•...

(.)

co "'C

UI Q)

co

co "'C

UI

::J

co

co

UI

(.)

::J

r-.. .q

o o..

co (.)

00

o o..

Q) UI

E Q)

(")

.q 00

LO

.q 00

"'C

> "'C

00

.q CD

•...

.q

00

::J UI Q)

"'C CO

c:

(.)

Q)

..••...... Q) .• .. '<2: CO

c:

Q)

c:

o

+-' cn Ol

UJ UI

UI

o o c:

"'C

UI

o

+-'

CO

+-' UI

UI o.. Q) +-' ..•... CO E s: Q) c:

"'C CO CO Ol Cll

~

•...

Q)

'Q)

.c

o

_J

(.)

'Q)

co "'C

~

co

X

Q)

Cll

UI

+-'

+-' UI

CO

UJ

CO

•...

c:

Cll

(.)

c: <Cll "'C

c:

.•CO.. Cll o.. o Cll Cll

"'C

c: -"'" UI Q) +-' > Cll O Cll _J

::>

E o

c:

~

UJ

00

CO

00

CO

+-'

N

o

o ::> ::> <2: CO UJ

::>

r-.. CO .• .. .q

.o <2: <2:

...q

CD

UI

00

CO

<2:

::J

<..?

00

r-..,

>< o a...

00

CO

•...

Ol

E CO "'C

Q)

CO

o c: r-..

E CO (.)

o E

CD

o LO

00

00

.q 00

Q)

~

.~

.o c::

Q) LO

00

O)

00

Ol

c:

Q)

CO

a...

"'C

c:

-

c:

•...

co

o.. E: E o Cll o cc: (.) CO

f-

o

Q)

Cll "'C

CO

CO "'C

c: ::J Ol Cll (/)

:::l

.8

(.)

"'C

o

.co

a...

co

CO

Q)

::J

.q

o

.co

LO

Q)

00

(.)

"'C CO

•...

(.)

CO "'C CO

UJ

--, CO

c:

LO

CO "'C

CO

c:

UI

LO LO

"'C

o

vl o

UI

CO

o Q) ::J >00 o 09.• .. ..- c: > o.. .• .. CO E co Q) CO U •... UIo E a... Q) CO Cll "'C "'C CO o :r: o o o lCO "'C o o .o UI .co (.)

(.)

c:

O)

CD 00

LO

00

00

::>'-=

·CO

o

"'C

<2:

o o o.. c:

LO

r-..

"'C

00

<> ..-

..-

00

Q)

>

LO

N

.• .. E o

.q

CO

Cll

c:

LO

+-'

.q

LI..

E

00

00

c: '::J CO

.q

.q

·CO

<>

Q) UI

LO

<> o.. c: o CO

E o c: LI..

"'C

,

o o..

c:

·CO

•...

--,

o~ CO

O Q)

CO

o

s: ~ '::J

"'C 'Cll Ol CO

•...

Cll

co"'C

c:

CO

"'C CJ) Q)

Ou 'Q)

Q.. U) Q) U)

::J

--, CO

::J

--, CO

CD 00

+-'

l::I

Q)

c:

UI UI

CD 00

CO

c:

co

CO (.)

o x

t"(l

c: Cll E .. Cll E: Q) Q) o E o > •.o.. oe: o.. .aQ) Ol o.. E s: o~ > > o CO o o o UI Cll '- o t"(l Q) Cll •... ~ cc: cc: f- <..? Z ou :r: O cc: O ~ U)

o

CD 00

Q)

oCO

~

CO "'C

CO

o

Q)

Ol

c:

Cll

cc:

::J

LO

CD

,

CD 00 UI

CO

c: CO

CO

+-'

c: Q)

(.)

•...

Q)

O

E UI CO o +-'

Q)

CO X

N CD 00

•...

+-'

cc: Q)

o o c: "'C "'C o ·CO o t: > <> CO o u Ol Q) o CO •... •... ·CO UI UI

•...

Q)

::J

Ol

c:

o

~ o u


Cronologia

- 115

•.....

•.o ...•

,

CD

co

LO

CD

oo

rn N O)

(1)

•...

ro ::J

co

<{ rn

Ol

o e

::J

;:) •.....

o ,ro oro

(1)

::J

CD eo m ro E e

Ol

(1)

.•...

LO

e

CD

co

•...

O U

u

ro o -o rn

u

c

o <;t ·ro CD 'o .•... <> co ro ro u

>

ro

<O (f) ..c: <O u -o

-'"u o .•..

CI)

._._

O (I) (I)

"O

u

Vl

x <::::

00 UJ

O

•... .•...

(1)

e

(1)

eo

•... E ,O)

rn

ro ro

e

<;t

eo

Q)

ro e

s: m ro U

'::J CD o... co

Q)

-

'(1)

ro

-o

.•Ol ..

<{ ro co

CD

co rn rn

(1)

LO

CD

N

O

.Q (II

C/)

.••......

e

O U

(1)

.•rn.. O)

o...

.<0

rn rn

~

•....• o 'ro e o O) •....• ro CI) .•... (II rn ..c: co o o ::J •..... •..... N .• ...• .2 <{ .•... oo rn ro oo eo .;:: -ro ro s: (.) u CI) rn e ro ro ro >LU O oCl. -o -o .•... o e ro e •..... ro E ro o CI) ro •... o "O(II ... O) Cl. > .•rn LL CD -c e ~ (I) .•... co -o ::. E <;t

._

(1)

(1)

(1)

(1)

(1)

(1)

O)

eo

o

rn

-o

•...

rn 0'-

•...

O

..Cl

u

-

e ro

.•...

<O

> 'o

ro e <O

-o ro

(1)

ro

(1)

(1)

-o

<> ro O e u .ro <> •.ro.. LL (1)

.•.•.....

..Cl

'::J Cl. (1)

e c::

(1)

<O

<O

•...

(1)

o...

(1)

o

u

(II

.c: (.)

E

ro O

Ol

(.)

(1)

•... ci

ro ro

•...

o O)

.•... oo

e c:o

.•ro ... rn

.•...

rn

o

ro

Cl.

rn

rn

O

•...

O

~

Cl. O)

c::

E

._::J (I)

E (1)

(1)

u

•...

a: -c

Cl.

::J (f)

CD O)

co

rn

._

'::J

Vl

ex)

::J o rn o- -o .•O ... 'o l- ro e e (1) (1) ::J E E -o ..Cl ::J <O o •... -o (II -o Ie ::. <O O Cl. O ::J

rn

(I)

LO

O)

UJ

..Cl

::J (1) 'Q) O (.9 I- o... li...

<{

O)

rn

o

ro e

co ;:)

..Cl

'u

Cl.

<{

ro e

O

(1)

>

ro

U

(1)

O) O)

co co O) co

o

,(1)

rn

O)

rn

ro

(1)

o

Ol (1)

o -o Cl. '-(.) ro '<o u <O c:: c:: •.• <(I) e

.• .. E u E .• .. u ._ E e Ol O) •... E .•...

::J (.9,;:)

•...

•....• <;t co cc co

(1)

ro

ro O Cl. ::J -o Ol ro O ro e .ro (1) <O -o E o... e •.(1).. o rn O -o u O

-o O o <O •... '<0 o- <O Cl. ::J Ol o •.<O..

(1)

LO

o

u

e

-'"ro 5: .•ro ... e

;:) U ro o o UJ e O)

co (1)

-o O

- .-

(1)

ro

rn

e ro

Cl. rn UJ

.•.•..... •...

(1)

•..... ro o

rn

::J

o 'ro ..Cl e : ro

<O

(1)

(1)

X

rn

O

.<0

O) ..Cl

::J O) U (.9 (.9 c::

u rn Cl.

ro (1)

-o ::J O) LL

ro ::J e O

.•...

e (1)

> >

O)

._

(I)

:§ E

O

"O

~

(.)

CI) (II

<{ Q..

o O)

<;t

M

o O)

X

o

X

O) __J

o o...

·ro

.!!?

E c: (I)

<O

M

co •....• co

O)

N

-c

e -o (1) o <O

O)

rn

s: •...

(1)

<O

CD

o

s:


16 - A Era dos Novos Horizontes

<O O'l

'co

E

co c: co

a...

co c:

..--co _J

o

co

O'l

o

Q)

O'l

u

o

o 00

o O'l

co O'>

"1:J

Q)

c:

O'l

-, ..--

o

o

O'>

(f)

Q)

m o O'>

Q)

"1:J

co

c: .o o

u

o

._

rn

a...

co u ..--

o

CfJ

"1:J

CfJ ,Q)

o

Q)

'co oco co X

Q)

c:

«

o

Q)

'Q)

"1:J

o co

Q)

._

a.

E

(.)

c: o "1:J

'Q)

Q)

c:

O'l '<j"

"1:J LU

"1:J

..-~

'<j"

O'l

(.) ::::l c: Q) a. ..-- .c .s: c: E U co Q)

'Q)

~,

N

Q)

o co

(.)

E

00

o o

CfJ

O'l

'Q)

s:

'co a. co co

O'l

._

(.)

co "1:J Q)

._ o ::::l ~u d

« co c: 'co

..--

._ ._co CfJ

U O'l

co "1:J

c: .o ::::l ::::l O Q) ~ co CfJ

O

Q)

"1:J

._co._ .o._

Q)

Q) CfJ

co 'Q)

.o

E

Q) CfJ CfJ

«

::::l

<..9

._co

o CfJ

o

CfJ CfJ Q)

Q)

._

E

c:

a...

N N '<j"

~

O'l

> X

o "1:J Q)

c: Q)

m

O'>

o

u


I Horizontes Políticos: Os Estados Unidos Aqui termina o século XVIII. O século XIX começa com uma bela brisa matutina do sudoeste; e o horizonte polftico também aparece promissor sob a administração de Jefferson ... com o avanço irresistfvel dos direitos humanos, a erradicação da hierarquia, da opressão, da superstição e da tirania sobre o mundo ... Diário de Nathaniel Ames, 31 de dezembro de 1800.

Os últimos trouxeram

diram a Europa essas mudanças idéias

anos

consigo

políticas

do século

uma

série

XVIII

e os primeiros

de mudanças

políticas

do XIX que sacu-

e o Hemisfério Ocidental. Em termos gerais, foram o resultado da convergência das novas a que

nos

referimos

no volume

anterior,

com

os interesses da pujante burguesia. Durante a segunda metade do século XVIII, tanto na França, quanto em todo o Hemisfério Ocidental, econômíco. seguido

maior

comércio queza

uma nova classe havia feito crescer o seu poder Na França, tratava-se da burguesia, que havia connotoriedade

e da indústria.

devia-se

com

o crescimento

No Hemisfério

principalmente

das cidades,

Ocidental,

à agricultura

a nova

e ao comércio

do rique

resultava dela, e que deu origem a uma abastada classe crioula, que bem poderia chamar-se de nova aristocracia. Os interesses dessa aristocracia, vam-se com os da velha

e os da burguesia francesa, chocaaristocracia por nascimento. Na Fran-

ça, os burgueses, e por trás deles os artesãos sociais mais baixas, viam boa parte do produto ços acabar

nas arcas

da coroa

e dos nobres,

e outras classes dos seus esfor-

que esbanjavam

o


18 - A Era dos Novos Horizontes

dinheiro

em

passatempos

e diversões.

No

Novo

Mundo,

a

aristocracia crioula, e junto com ela as classes mais baixas, suspeitavam das autoridades européias, cujo interesse parecia ser enriquecer a velha aristocracia por nascimento, com base no produto de seus esforços. levou à independência dos Francesa. para

Neste

capítulo,

no próximo

Por fim, esse choque de interesses países americanos e à Revolução trataremos

abordarmos

da

a França

América

e depois

do

Norte,

a América

La·

tina. A independência Ao terminar vezes e variados costa

atlântica

como

vários

das Treze Colônias o volume anterior, vimos como, por diversas meios, os ingleses haviam estabelecido na da América

do

acontecimentos

certo sentimento embora durante

Norte

haviam

de comu nidade o século XVIII,

uma

série

de colônias,

paulatinamente

entre treze a Inglaterra

criado

e um

delas. Visto que passara por um

período de grandes incertezas políticas - recorde-se a revolução puritana e a deposição dos Estuardo - foi pouco o que ela quis ou póde fazer para impor a sua vontade e seus interesses às suas

colónias

ultramarinas.

Por isso,

essas

colónias,

algu-

mas das quais haviam gozado, desde o princípio, de certo grau de autonomia, acostumaram-se a dirigir os seus próprios destinos, particularmente o seu comércio, não segundo os interesses da metrópole, mas segundo os delas próprias. Muitas das leis elaboradas lónias,

na Inglaterra,

cumpriam-se

apenas

plesmente omitidas. Já no fim do século

para pela

XVIII,

regular metade,

o governo

o comércio

eram

britânico

começou

tomar medidas para governar as colónias de reta, e a partir de então, os conflitos foram vez mais agudos. As principais causas de três. Uma delas foi a presença de dezessete nicos

nas colónias.

Posto

que a defesa

requerer contingente militar um instrumento de repressão nicas e como

uma

vam acostumados. principais causas autoridades viam cobrir mentos,

ameaça

às liberdades

a

não parecia

muitos os viam das autoridades

como britã-

a que os colonos

esta-

A presença desses regimentos foi uma das do segundo motivo de atrito: os impostos. As

da metrópole determinaram que uma parte substancial dos gastos

assim

sim-

maneira mais dise tornando cada desavença foram regimentos britâ-

das colónias

tão forte, nas mãos

das co-

e outras

como

com outras

funções

as colónias decom esses regi-

do governo.

Com este


Horizontes

propósito que

estabeleceram

se tornaram

nas colônias

altamente

os Estados Unidos - 19

Polfticos:

uma

impopulares.

série

Visto

de impostos que

na Ingla-

terra se aceitara, havia muito tempo, o princípio de que o lançamento de tributos devia ficar nas mãos de uma assembléia representativa

(o parlamento),

os colonos

sentiam-se

justifica-

dos em sua negativa de aceitar os impostos que a metrópole determinava sem lhes consultar. Por fim, a terceira causa de conflitos foi a questão das terras dos índios. Movidas por uma série de considerações tanto morais quanto de conveniência, as autoridades britânicas proibiram a ocupação de territórios localizados popular

além

dos

montes

nas colônias,

visto

Apalaches.

que muitos

Esta pobres

era uma

iei im-

desejavam

esta-

belecer-se como agricultores nas terras que agora se encontravam vedadas, enquanto que entre a aristocracia existiam especuladores que haviam formado companhias para explorar esses territórios. De fato, vários dos capitães da independência dos Estados Unidos tinham inversões nessas companhias. Por

todas

metrópole

foi

estas

causas,

aumentando.

os colonos

respondiam

obstinada.

Em

entre

A medidas

com

1770,

uma multidão, em Diante das ameaças

a tensão uma

as tropas Boston, desses

cada

as colônias vez mais

desobediência inglesas

e a

severas,

cada vez mais

abriram

fogo

e cinco pessoas foram regimentos estrangeiros,

sobre

mortas. as milí-

cias coloniais se tornaram mais ativas e aumentaram o seu material de guerra. Em 1775, quando um contingente britânico se dispunha

a destruir

um

ceu-lhe resistência, e com dência none-americana. ciadas

No dia 4 de julho as hostilidades,

dos em um congresso sua independência e a Espanha

u ni qp s tivesse fato aconteceu.

continental

declararam-se

como

colonial,

a milícia

a Guerra

ofere-

da Indepen-

de 1776, mais de um ano depois os delegados das trezes colônias,

da coroa

que a Inglaterra pôde dígenas, que temiam

arsenal

isso começou

em Filadélfia,

britânica. aliadas

proclamaram

Imediatamente, da nova

de inireunia

a França

nação,

enquanto

contar com o apoio de muitas tribos inque a i n de pe nd n ci a daqueles estados ê

conseqüência

a sua destruição,

Por fim, em 1782, chegou-se a um acordo confirmado no ano seguinte, no Tratado de Paris.

como

de

provisório, Segundo os

termos desse tratado, a Inglaterra reconhecia a independência dos Estados Unidos, cujo território se estendia até o Mississipi, e cedia a Flórida à Espanha. Por sua parte, os cidadãos norte-


20 - A Era dos Novos Horizontes

americanos

deviam

súditos

coroa

da

proteger

honrar

as dívidas

britânica,

os direitos

que tinham

e medidas

de quem,

nas colônias,

trado fiel à coroa. Portanto, como da história do hemisfério ocidental,

para com os

seriam

tomadas

se havia

em tantos outros episódios os verdadeiros perdedores

daquela guerra acabaram sendo os índios, cujas ocupadas imediatamente por aquela nova nação. Tudo

isto teve

grande

para

demons-

impacto

na vida

terras

religiosa

foram

estaduni-

dense. Boa parte da ideologia que serviu de base para o movimento separatista, e para o estabelecimento da democracia capitalista norte-americana, consistia de uma religiosidade "ilustrada"

e antidogmática,

pa, conforme

à razão"

relatado

como

a que vimos

no volume

difundiu-se

entre

anterior

a aristocracia

surgir

desta

na Euro-

obra.

crioula,

O "culto

e junto

com

ela uma atitude de ceticismo para com tudo o que não fizesse parte de uma "religião natural", ou no melhor dos casos, de um "cristianismo

essencial".

Por conseguinte,

as doutrinas

diversos grupos eclesiásticos deviam ser abandonadas gadas a segundo plano. A Providência era sobretudo cípio

de progresso.

gresso

humano.

A nova

As doutrinas

no que era absolutamente uma época passada, lastro progresso

universal.

Diante

nação

era prova

e as práticas

palpável

de tais

idéias

do pro-

eclesiásticas,

essencial, pareciam desnecessário que

dos

ou releum prinexceto

ser restos se opunha

da parte

de ao

de muitos

dos principais personagens da nova república, não é de estranhar que logo boa parte da população estivesse participando delas. Estas

idéias

tomaram

forma

institucional

em deis

movi-

mentos, a princípio independentes, mas que se entrelaçaram: o unitarismo e o urríver-sa+ismô. O primeiro surgiu praticamente junto com a independência norte-americana, e principalmente no seio de igrejas anglicanas e congregacionais que não estavam dispostas a seguir a ortodoxia tradicional. Embora essas igrejas nas",

tivessem porque

recebido

rejeitavam

o nome

de "anitárias"

a doutrina

da Trindade,

ou "unitariao fato

é que

elas diferiam da ortodoxia em muito mais do que isto. EI-as ram essencialmente racionalistas, que sublinhavam a liberdae e o intelecto mistério divino disseminou-se da sociedade G

humanos frente' ênfase móis tr adie+o-aaf no e no pecado. Em geral, o movimento unitário

principalmente entre as classes mercantil da Nova Inglaterra.

iversalismo,

em outras

palavras,

mais

a âoutrina

elevadas segun

o


Horizontes

qual elos,

todos

1:1-0 de se salvar,

pouco

antes

que se haviam

çáo

da

convencido

de que

o a mor

eles organizaram

igreja. Posteriormente, ram. Foi principalmente mento

dos

Ralph

Waldo

os Estados

foi introduzido

indep.endência,

de algu ns negava

pendência,

Políticos:

Unidos - 21

nos Estados

por. metodistas a doutrina

de Deus. na Nova

da eterna

Emerson.

Inglaterra

cujo

Nesse

perdi-

Po uco de po is da i n dea sua primeira

os unitários e os universalistas entre unitários que surgiu

"tr.anscedentalistas",

Uni-

inglese-s

principal

movimento

se unio movi-

expoente

foi

se misturavam

as

e

idéias do romantismo e do idealismo europeus. que se sublinhava era a capacidade do indivíduo de se conhecer a si mesmo, corno meio de entender o universo e o seu propósito. Como o unitarismo, o transcedentalismo conseguiu os seus principais adeptos entre as classes altas, embora várias de suas idéias

pouco

a pouco

Contudo,

tenham

a principal

penetrado

dificuldade

em todo que

o país.

as diversas

igrejas

das treze colônias tiveram de enfrentar foi a de suas relações com a Grã-Bretanha. Como era de se esperar, a que mais sofreu devido às suas conexões com a metrópole foi a Igreja da Inglaterra. Desde muito antes da independência, considerasse os bispos anglicanos como agentes portanto, lônias.

se opunham Quando

pole, a Igreja rios da coroa

a que se-nomeassem

aumentaram

as tensões

havia quem da coroa e,

bispos

entre

estas

para as coe a metró-

da Inglaterra se distinguiu pelos muitos partidáque nela havia. Como conseqüência da guerra e

da independência norte-americana, várias dezenas de milhares de anglicanos partiram para a Inglaterra e o Canadá . Po r fim, em

1783, ·os anglicanos

que

ram a Igreja Protestante aristocracia americana.

permaneceram

Episcopal,

que

no país organizaincluía

boa

parte

da

A princípio, o metodismo sofreu reveses parecidos e por causas semelhantes. John Wesley era partidário decidido da coroa, e exortou os metodistas norte-americanos a obedecerem os editos reais. 19-e-fl0is :a dectar aç ão de inâependência, todos

os

@ressaram tornaram-se Todavia, americano e recrutou

pregadores

metodistas

ingleses,

exceto

Asbury,

re~

à Grã-Bretanf:ía. Por estas razões, os metodistas impopulares entre os patriotas norte-americanos. graças

à tenacidade

recuperou a sua novos pregadores.

cia de Natal", sua hierarquia

de Asbury,

o rrre:toaismo

norte-

própria forma e independência, Por fim, em 1784, na "Conferên-

organizou-se a Igreja Metodista própria, separada tanto da

Americana, com Igreja Episcopal


22 - A Era dos Novos Horizontes

quanto

do metodismo

metodismo

britânico.

norte-americano

pos, cuja autoridade

Ao contrário

ficou

era grande.

A partir

décadas, Q etoclism'o continuou O outro grupo que obteve mórdios

da independência

mentou

notavelmente

dali

estendeu

se

Kentucky. As outras

debaixo

foi o dos os

igrejas

crescimento,

os batistas.

novos

seguiram

zar-se,

embora

As demais

segundo

aaüst~,

diversos

que

resultou

da experiência

dá a entender

que

mente Daqui

e

Os congrega-

quanto

os metodistas

dedicaram-se política,

norte-americana.

e a reparar

"de:nominação", do cristianismo A própria

são

"igrejas"

e

a reorgani-

pala-

na [ealidade

doutrinas das igrejas eram questão de pouca imou até de valor negativo. Estas idéias, levadas para

o âmbito grupos

e

quer dizer, norn es diferentes que o cristãos Já indicamos que, para muitas pessoas, as

"denemhíações"; dila a si próprios. diferentes portância,

au-

do sul,

de> Tennessee

rumos.

situação

as diversas

pri-

regiões

os danos causados pela guerra. Esta palavra que acabamos de empregar, representa uma das características principais vra

nos

número

que lhes havia dado o seu para os territórios coloniOs presbiterianos tiveram

não tanto

a nova

o

de bis-

e por várias

cujo

territórios

denominações

requeria

de então,

e outras

cio n ais, apesar do grande prestígio apoio à revolução, só se estenderam zados a partir da Nova Inglaterra. algum

último,

crescendo no país. grande crescimento

na Virgínia

para

deste

da direção

da vida

eclesiástica,

ou "igrejas'"

não

"denominações" surge um modo

vez mais

e consiste voluntárias

que

ser "a

os' distintos

igreja",

mas

so-

que os cristãos davam a si mesmos. de ver a igreja que se generalizou cada

no cristianismo

é invisível, ganizações

subentendiam

pretendiam

norte-americano:

a Igreja

verdadeira

de todos os crentes; as "igrejas" são orde membros da Igreja, que se reúnem

segundo as suas convicções e desejos. Uma conseqüência prática deste modo de ver a "Igreja" e as "igrejas" é que os grandes debates que dividiram o cristianismo greja",

norte-americano -não se limitaram a uma ou outra "imas atravessaram as barreiras "denominacionais". As-

sim, por exemplo, temas como a escravidão, da teoria da evolução, o fundamentalismo,

as atitudes diante o liberalismo e as

lutas

ao mesmo

raciais,

dividiram

e os partidários supostas

barreiras

várias

denominações

de determinada denominacionais.

posição

uniram-se

tempo,

através

das


Horizontes

Um dos resultados

mais

as "denominações" foi dores desse movimento, der,

do evangelhe

bell , que

logo

interessantes

os Estados Unidos - 23 desse

modo

de ver

a formação dos "discíp_ulos". Os iniciaThomas Ca rnp b el l e seu filho Alexanuma nova igreja; contudo, de sejavajn à unidade cris_tã,__j])_e_dig_nte a procla-

não queriam fundar os crentes

mação

Polfticos:

em sua pureza

se tornou

chefe

original.

Atexan der Camp-

do movimento,

era um homem

em quem se combinavam algo do racionalismo comum em sua época e um profundo sentido da autoridade do Novo Testamento. Por ele, boa parte da sua interpretação do Novo Testamento tomava forma parecida com a dos racionalistas, mas com um zelo que não se encontrava entre eles. Convencido de que a sua interpretação do cristianismo primitivo levaria à unida de cristã, Carnpbe ll lançou-se a um plano de reforma que, posteriormente, Cristã

produziu

(Discípulos

pensamento fluências

uma

de Cristo).

do

próprio

posteriores,

nova

denominação,

Devido

às tensões

Ca mp b e l l, assim os

"discípulos"

como

a

Igreja

presentes

no

a várias

in-

abrigaram,

através

da

sua história, uma ala racionalista e uma outra muito mais conservadora. Todavia, em geral, todos conservaram o seu interesse original

na unidade

A imigração As treze

colónias

que,

tados Unidos, haviam maioria da Inglaterra, giões da Europa. durante o século gratória

sadas

da Europa

para os Estados

disponíveis

às grandes

Católica,

da nova nação.

que

A outra

regimes, grande

ocasião

para as igrejas

Assim,

por

da independência

com uma pequena fração da população, XIX havia se tornado a mais numerosa

em na cau-

etc. e,

pareciam

estar imigra-

dos escravos procedentes da África, dimensões, segundo foi aumentando

notabilíssimas.

que por

a ser os Es-

Isto se deveu,

de alguns

de terra

cessidade de mão de obra barata. As conseqüências de tudo isto foram

Unidos.

a tirania

extensões

ao ocidente

ção, a involuntária, bém assumiu novas

ricanas

vieram

mudanças que estavam acontecendo napoleónicas, as convulsões sociais

pela industrialização,

parte,

ulteriormente,

sido fundadas por imigrantes, em sua mas também da Alemanha e outras re-

Contudo, já quase no fim do século XVIII, e XIX, desencadeou-se uma grande onda mi-

parte, às drásticas Europa - as guerras em

cristã.

tama ne-

norte-ame-

exemplo,

a Igreja

não contava

senão

nos meados do século de todas as igrejas do


24 - A Era dos Novos Horizontes

país. A princípio, quase todos os católicos norte-americanos eram de origem inglesa, aos quais, depois, se juntaram franceses e alemães. Porém, por volta de 1846, houve uma grande fome

na Irlanda,

que durou

várias

décadas,

e logo os imigran-

tes irlandeses e seus descendentes tornaram-se o grupo mais numeroso dentro da Igreja Católica. Tudo isto, por sua vez, ocasionou nacional.

tensões dentro dessa igreja, tanto a nível local como Na paróquia, os diversos grupos de imigrantes viam

na igreja culturais dotes

um dos principais meios e, por isso, os irlandeses

irlandeses,

alemães, a haver

ao mesmo

e assim lutas

por exemplo,

tempo

por diante.

pelo

poder

que os alemães

Em nível

da parte

os católicos

de manter as suas tradições queriam paróquias e sacernacional,

dos diversos

irlandeses

os queriam

logo

começou

grupos,

não estavam

porque,

dispostos

a

se submeter a uma tensões continuaram

hierarquia completamente inglesa. Estas através dos anos, à medida que outros

grupos

acrescentados

foram

os poloneses pela compra Porto

sendo

Rico, por conquista Tudo

à grei católica:

e outros por imigração; desse território, e os

isto

militar.

deu origem

a um catolicismo

te-americano, que difere do catolicismo cisamente por sua diversidade cultural diversidade poder

e as tradições

tradicional

negaram

um

Assim,

pastor

tipicamente

nor-

de outros países, e pela forma como

democráticas

da hierarquia.

a aceitar

os italianos,

os franceses da Luisiana, hispânicos do México e

do houve

de outra

país

limitaram

paróquias

origem

preessa o

que se

cultural,

e a

hierarquia viu -se obrigada a ceder às suas exigências. Pelo menos até data bem avançada no século XX, continuaram existindo essas tensões no seio da Igreja Católica norte-americana. O crescimento da Igreja Católica também criou uma forte reação em vários centros. Já no princípio do século XIX, havia pessoas

que

alegando testante, conceito

que a democracia norte-americana, de origem proera incompatível com o catolicismo romano e seu hierárquico de autoridade, e que o crescente número

de católicos Klux contra tendo

Klan

se opunham

era uma desencadeou

os negros, como

à imigração

ameaça

para

ilimitada

a nação.

Mais

o seu fan atis rno xenófobo,

mas também

base a mesma

idéia

contra

os católicos

de que os Estados

de católicos,

tarde,

não

a Ku

apenas

e os judeus, Unidos

ha-

viam sido chamados para ser uma nação branca, protestante e democrática, e que estas três características eram inseparáveis.


Horizontes

Quando,

em 1864, o papa Pio IX condenou

"erros",

entre

damentais

os quais

da

isto teve como conseqüência contra o catolicismo durante século XX.

princípio,

a quase

várias

estadunidense,

norte-americanos, tanto liberais ram nesse ato uma confirmação respeito aos desígnios políticos

A outra confissão seu número de adeptos

uma lista de oitenta

se encontravam

democracia

os Estados Unidos - 25

Polfticos:

das teses

houve

fun-

numerosos

como conservadores, que vide seus piores temores com do catolicismo romano. Tudo

uma forte resistência e antipatia todo o século XIX e boa parte do

cristã que recebeu graças à imigração

totalidade

dos

grande aumento em foi o tllterani-smo. A

imigrantes

luteranos

era de

origem gentes

alemã. Mas depois somaram-se a eles fortes continprocedentes dos países escandinavos. Cada um desses

grupos

trouxe

principal tempo, deviam

do

foi o modo relacionar-se

Além

as suas tradições luteranismo

como entre

dos católicos

presentavam nitas,

consigo

agenda

todos

morávios,

com

ao complicadíssimo dos.

diversos

e luteranos,

husitas,

esses, juntamente

esses si.

os outros

próprias

e, por isso, a

norte-americano,

os novos

matizes

ortodoxos

gregos fizeram

muito

eclesiásticos imigrantes

da tradição

os judeus,

caleidoscópio

por

corpos

cristã:

e russos,

re-

meno-

etc. Todos

a sua contribuição

religioso

dos

Estados

Uni-

Uma conseqüência notável das muitas ondas de imigração foi a fundação de comunidades religiosas. Desde os primórdios da colonização

britânica

sos que haviam bilidade Atrás

trazido

de se criar

uma

nova

parecidos, fundaram

do Norte,

um dos impul-

a estas plagas

sociedade

do Mayflower

dos peregrinos

com sonhos Os morávios

na América os europeus

vieram

embora diferentes suas comunidades

era a possi-

em uma

nova

milhares

de pessoas

terra.

em alguns pontos. na Pensilvânia, e o

mesmo fizeram os menonitas e outros anabatistas, buscando um lugar onde lhes fosse possível praticar seu pacifismo e separar-se

da corrupção

mães

fundaram

várias

outras,

do resto

no mesmo tanto

da sociedade.

estado

na Pensilvânia

Os pietistas

a comunidade como

em Ohio.

ale-

de Efrata,

e

Em alguns

casos, essas experiências comunitárias chegaram a extremos, como na comunidade de Oneida, onde se chegou a praticar não apenas

a comunhãó/

de bens, mas também

"matrimônio complexo", casados entre si.

em que todos

o que chamavam

os adultos

diziam

de

estar


26 - A Era dos Novos Horizontes

A comunidade

de Efrata,

na Pensilvânia,

uma das muitas

que fo-

ram fundadas. Provavelmente dos shakers Lee Stanley, Lee.

o mais

notável

ou "tremedores",

Em seus

conhecida

dentro

primórdios,

desses

redor,

para a América do Norte. talvez pelos muitos outros eles decidiram

levar

da profetisa

do movimento

os shakers

as suas aspirações na sua Inglaterra riormente as pressões sociais foram emigrar pirados

experimentos

sob a direção tentaram

como viver

foi

o

Ann

Mãe Ann segundo

natal. Contudo, postetais que eles decidiram

Nos novos territórios, insexemplos que viam ao seu

uma vida comunitária.

As doutrinas

dos shekers , e suas práticas, eram únicas. A Mãe Ann Lee dizia ser a Segunda Vinda de Cristo, que havia regressado agora em


Horizontes

forma

feminina,

Ulteriormente munidade Nesse

como todos

havia

se salvariam

de crentes

ínterim,

antes era

Políticos:

ser

era necessário

vindo

os Estados

em forma

e, portanto,

masculina.

a função

a vanguarda abster-se

Unidos - 27

da co-

da salvação

do sexo,

final.

que era a raíz

de todo mal. No culto, uma das características dos shakers era o baile com que adoravam a Deus. Durante umas poucas décadas, esse movimento floresceu, e fundaram-se dades. Como experiência de vida comunitária,

várias comunieles foram um

verdadeiro êxito, pois as condições que as da sociedade circunjacente.

de vida eram melhores do Todavia, depois, por falta

de convertidos

eles desapareceram.

e de novas

gerações,

o

Segundo Grande Avivamento No fim do século XVIII começou na Nova Inglaterra um Segundo Grande Avivamento, semelhante ao primeiro, do qual

tratamos

nas

últimas

páginas

do volume

anterior.

Contraria-

mente ao que se poderia pensar, este avivamento não se caracterizou por grandes explosões emotivas, mas o que sucedia era que, de modo

inusitado,

as pessoas

começavam

a encarar

a

sua fé com maior seriedade, reformando os seus costumes para se ajustarem melhor às exigências dessa fé. A assistência aos cultos

aumentou

notavelmente,

soas

contavam

experiências

que

este

avivamento

que

caracterizaram

abriu

os matizes

outros

avivamentos.

muitos

dos mais

A

anti-intelectuais

Pelo

contrário,

ele

va Inglaterra, e logo um de seus principais pregadores nou o presidente da Universidade de Vale, Timothy

se torDwight,

de Jonathan centros

Edwards.

docentes,

Nessa

notou-se

notáveis

as pesprincípio,

da No-

neto

entre

não teve

numerosas

conversão.

teólogos

outros

caminho

também

e eram de

universidade, um

grande

e em

muitos

despertamento

religioso, que encontrava eco no resto da comu nidade. Como resultado daquela primeira fase do avivamento, fundaram-se dezenas de sociedades com o propósito de difundir a mensagem do evangelho. Dentre elas, as mais importantes foram

a Sociedade

Bíblica

Americana,

fundada

em 1816, e a

Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras, fundada seis anos antes. Esta última foi o resultado de um compromisso al qu n s anos

mútuo que um grupo antes, quando, reunidos

de estudantes havia feito sobre um monte de feno,

haviam decidido se dedicar às missões estrangeiras. Quando um dos missionários enviados por essa organização, Adoniram J udson, se tornou batista, os batistas norte-americanos senti-


28 - A Era dos Novos Horizontes

ram-se chamados a deixar um pouco de lado o seu congregacionalismo e organizar uma convenção geral cujo propósito original era apoiar missionários batistas em outras partes do mundo. Outra

ocredaâes

vamerrro

slugidas

e deijjca~am

ab-ol-ição

da

a diversas

escravatuca

tr atár erno s mais

adiante)

srrclais; tais como a

causas

(a Sociedade e a guerra

Colonizadora,

de

cOIl_tra o âlcool

que

(a Socie-

dé de Americana 1826). mais culo,

para a Promoção da Temperança, fundada mulheres foram ocupando uma posição cada

As

destacada nesta última causa. Na segunda metade sob a direção de Frances Willard, a União Feminina

pró- Temperança reitos

femininos.

norte-americano mento. Nova abrir quais

tornou-se Em tem

Entretanto, I nglaterra

um

grande

instrumento

medida,

suas origens

o avivamento e das classes

na luta

portanto,

no Segundo

havia mais

em vez

do séCristã

pelos

di-

o feminismo Grande

Aviva-

rompido as barreiras educadas, começando

da a

caminho entre as pessoas menos instruídas, muitas das se dirigiam para os novos territórios do oeste. (É bom

recordar que, segundo o Tratado de Paris, os Estados Unidos tinham o direito de colonizar todas as terras entre os Apalaches e o Mississipi.) Muitas das pessoas que se dirigiam para o oeste levavam consigo a fé vibrante que as primeiras fases avivamento haviam despertado, e em seus novos lugares residência

procuraram

manter

viva

essa chama.

Embora

do de

ali a

situação fosse diferente, logo o despertamento religioso assumiu um tom mais popular, mais emotivo, e menos intelectual, até o ponto Talvez sido

o

ganizado da igreja

em que, mais tarde, se tornou o passo mais notável dessa

ivamento

de eane

Riage,

anti-intelectual. transformação

no estado

tenha

de Kentucky,

or-

- na medida em que o foi - pelo pastor presbiteriano local. Com o fim de despertar a fé dos habitantes da

comarca, aquele pastor avivamento, ou "reunião

anunciou uma grande assembléia de d arramp arrrérrto ". Ao chegar o dia

marcado, dezenas de milhares de pessoas se congregaram. Em uma região em que eram poucas as oportunidades para reunirse e festejar,

o anúncio

daquele

pastor

atraiu

toda

classe

de

pessoas. Muitos foram por motivos religiosos. Outros foram para jogar e embriagar-se. Possivelmente muitos nem sabiam ao certo por que estavam indo. Além do pastor presbiteriano do lugar, havia outros pregadores batistas e metodistas. En-


Horizontes

quanto uns Um inimigo

os Estados Unidos - 29

Polfticos:

jogavam e outros bebiam, os pastores pregavam. do movimento chegou a dizer que em Cane Ridge

se conceberam mais almas do que as que se salvaram. Inesperadamente, começaram a ocorrer inauditas expressões de emoção, pois uns choravam, outros riam, outros tremiam, alguns saíam /

correndo,

Aquela

reunião

e não faltavam perdurou

por

pessoas uma

muitos estavam convencidos de que forma de dar a conhecer a mensagem então,

nos

ção"

ou

Estados

em

Unidos,

com os de Cane Ridge. costume de se organizar Embora

a reunião

vam contra

acontecendo. os pastores

ne Ridge, territórios

se falou

pensava-se

de Cane Ridge

Logo

dali

em "evangeliza-

em termos

Logo em muitos um "avivamento"

por um pastor presbiteriano, bons olhos as manifestações

e ao sair

aquela era a verdadeira do Senhor. A partir de

quando

"avivamento",

que latiam ...

semana,

parecidos

círculos começou todos os anos.

tivesse

sido

o

organizada

essa denominação não via com de emoção desenfreada que estase

tomaram

que participavam

e a Igreja Presbiteriana, o impacto que tiveram

medidas

de cultos

disciplinares

no estilo

de Ca-

por isso, não teve nos novos os batistas e os metodistas.

Estas duas denominações tiveram a idéia de celebrar "reuniões de acampamento" e, embora poucas tenham chegado aos extremos

de Cane Ridge,

esse foi o seu principal

balho nos novos territórios. mos, a aessoas não tinga

Em lugares

des multl dôe s, o "avivalTlents" de necessidade, Outra que essas apresentar

método

em que,

como

c ca si âe de se reunirem per+ódico preenchia

não só religiosa,

mas também

de tradisse-

em granuma gran-

social.

das razões do crescimento batista e metodista foi duas denominações se demonstraram dispostas a a sua mensagem da forma mais simples possível, e

a utilizar para isso pregadores de escassa preparação. Enquanto as outras denominações careciam de pessoal, porque não havia onde nem como ministrar instrução a candidatos, os rne4:0-'üsta_ e batistes estava d·sQostos a uti~izar a quem se eram

chamado pe+o Sen oro A vanguarda os pregadores leigos, a quem se permitia

não recebessem

ordenação.

Alguns

dos metodistas pregar, embora

deles tinham

de pregação, no que se chamava um "circuito". pastores ordenados, que em sua maioria tinham ção, nunca haviam sido soas que os pregadores gens simples, no idioma

vários

lugares

Os escassos mais instru-

capazes de alcançar o número de pesleigos influenciavam com suas mensado povo. Tudo isto, todavia, se encon-


30 - A Era dos Novos Horizontes

._

<li

~._ (1J

c (1J

(/)

c

'-o

(1J

~(1J

._

<ll


Horizontee

trava

sob o governo

rígido

batistas, por seu lado, viviam do seu trabalho Era essa igreja

que

os Estados Unidos - 31

Pottücos:

da "conexão"

utilizavam e serviam

e de seus bispos.

sobretudo agricultores de pastores na igreja

os ordenava

e lhes

dava

Os

que local.

autorização

para

pregar. Quando se abria algum território novo, nunca faltava entre os novos colonos algum batista disposto a tomar sobre si as

responsabilidades

métodos

do

diversos,

ministério

os batistas

da

pregação.

e metodistas

Assim,

conseguiram

gar-se nos novos territórios e, em meados do século principais denominações protestantes do país. Uma

conseqüência

Avivamento,

a que

contribuiu novos

para

batistas

presbiterianos

importante

a história

romper

desse

da igreja

as barreiras

e metodistas escoceses

da origem

havia

as

Grande

foi

étnica.

ex-luteranos

e ex-católicos

eram

Segundo

se refere,

por arrai-

que

ele

Entre

os

alemães,

irlandeses.

ex-

Portanto,

embora ainda em termos gerais, tenha continuado a ser verdade que as divisões denominac.ionais coincidiram com a origem de diversos

de irn i qr arite s. essa coincidência

grupos

tornou-se

menor.

o

"l!)-esttn-o-Manifesto"

e a 'g-uerra com o México

Desde a chegada dos "peregrinos" do Mayflower, existia a idéia de que as colônias britânicas da América do Norte haviam

sido

fundadas

missão

providencial.

América

do Norte

berdade.

com

o auxílio

Para muitos era uma terra

Para os porta-vozes

divino,

para

cumprir

dos imigrantes prometida

uma

posteriores,

de abundância

da independência,

a e li-

era uma

nova

experiência que marcaria a pauta que o mundo deveria seguir, no caminho para a liberdade e o progresso. Freqüentemente, tais idéias se entrelaçavam com a da superioridade do protestantismo sentiu

sobre que

católicos

o catolicismo.

as suas

espanhóis

e por

isso

causa

protestante.

colônias

Desde

ao sul, e pelos

considerava

muito

estavam

católicos

as suas colônias

A tudo

isto

cedo,

sendo

franceses

como

se juntava

a Inglaterra

ameaçadas um

uma

pelos

ao norte,

baluarte

atitude

da

racista

que considerava como fato provado que a raça branca era superior, e que servia para justificar tanto a escravidão dos negros

quanto o roubo das terras dos índios. Embora tudo isto estivesse presente

americana,

desde

muito

antes,

vez a frase

"oostinorTranifesto",

na

em 1845 apareceu

história

norte-

pela primeira


32 - A Era dos Novos Horizontes

assinalado

pela

nos caminhos presidente

divina

James

doutrina cursões "destino"

dos

havia

vencidos

Monroe

Estados

tivesse

o resto

do mundo

Embora

proclamado

Unidos

em 1823 o

a sua

famosa

notado

que

muitos

de que o resultado

debaixo

parecia

particularmente

norte-americanos final

seria

do poderio

ser

ino

a esse hemisfério. À mesma do México nos Estados Uni-

que se referia Plenipotenciário

cia hispano-americanas baria

de guiar

e da liberdade.

de que ~\ Estados Unidos não tolerariam novas colonizadoras européias no hemisfério ocidental,

"manifesto" no época, o Ministro dos

providência

do progresso

estavam

das façanhas

que boa parte

dos Estados

con-

de independên-

do continente

aca-

Unidos.

Quando apareceu pela primeira vez, em 1845, a frase "destino manifesto", ela se referia particularmente à expansão do país gon,

na direção

que

estava

territórios Embora

que

do em

Pacífico,

disputa

o México

a questão

ocupando

com

possuía

acerca

o território

a G rã- Bretanha, a oeste

do Oregon

dos

Estados

se tenha

O expansionismo antes,

ao estado

norte-americano

no caso

mexicano

do Texas.

a imigração de dissuadir

pacífica outros

çou a permitir pre

que

havia

sido

pacifi-

pendente

manifestado que

pertencia

invadido

em 1819

Long, senão com o beneplácito, pelo dos Estados Unidos. Essa invasão foi mexicano, e pouco depois começou

de norte-americanos aventureiros como

a imigração

fossem

se havia

Esse território,

de Coahuila,

pelo aventureiro James menos sem a oposição derrotada pelo exército

estava

os

Unidos.

resolvido

camente, através de negociações, o que ainda era a posse do território mexicano. desde

de Oree todos

de colonos

católicos

e que

para o Texas. A fim Long, o México comenorte-americanos,

ju rassem

sem-

a sua adesão

à sua

nova pátria, o México. Entretanto, o que resultou foi uma grande imigração de norte-americanos que se faziam nominalmente católicos, a fim de obter terras, e que, como brancos, se sentiam superiores aos mestiços que governavam a província em nome que

do México.

"durante

quinze

americanizar eram

"uma

misturados No

Entretanto,

anos

o Texas",

trabalhei

e acrescentaria

povoação

de índios,

e inimigos

naturais

caso

do

Texas,

Estêvão como

declararia

escravo

para

que seus competidores

mexicanos dos brancos

o "destino

Austin um

e renegados,

todos

e da civilização".

manifesto"

dos

Estados

Unidos se uniu com a questão da escravatura e a da especulação de terras. Quando o México declarou a abolição da escra-


Horizontes

vidão

os Estados Unidos - 33

Polfticos:

em 1829, os norte-amer,icanos

residentes

no Texas,

que

estavam enriquecendo às custas do trabalho dos seus escravos, responderam com o subterfúgio de declará-los livres, para em seguida obrigá-los a assinar contratos de servidão vitalícia. Além disso, considerando que tal situação não podia deram novo impulso às conspirações que já existiam

perdurar, anterior-

mente,

aos Esta-

com

vistas

a separar-se

do México

e unir-se

dos Unidos. Isto, por sua vez, ganhou o apoio dos estados escravagistas do Sul norte-americano, que começavam a temer as conseqüências do movimento anti-escravagista e viam no Texas um possível aliado. Além disso, havia nos Estados Unidos e entre dades

os americanos

de se enriquecerem

se o Texas Estados

se tornasse

texanos,

alguns

às custas

que viam

das terras

independente,

possibili-

dos mexicanos,

ou fosse

anexado

aos

Unidos.

O governo norte-americano mostrava-se interessado em adquirir o território texano, até o ponto que o legado estadunidense perante o governo do México tentou subornar um alto oficial ele

mexicano

fizesse

Estados mais

oferecendo-lhe

gestões

que

duzentos

resultassem

mil dólares

na venda

do

para que Texas

aos

Unidos.

Por fim estourou soldados, mas

a guerra. Os mexicanos contavam com os texanos norte-americanos estavam

melhor armados, com rifles cujo alcance maior do que o dos mosquetes mexicanos. Álamo,

em San Antonio,

ram frente

a todo

menos

um exército

era quase três vezes Na antiga missão EI

de duzentos

mexicano.

defensores

fize-

A luta foi feroz,

pois

além da superioridade de seus rifles, os rebeldes contavam com vinte canhões, frente aos dez dos mexicanos. Por fim, os últimos defensores se renderam e foram executados por ordem do Presidente do México, Santa Anna. A versão que correu nos Estados Unidos, e que posteriormente se tornou oficial, foi que eles haviam morrido lutando até o último homem. A partir de então Álamo)

o

lema

de

tornou-se

"Remember grito

de guerra

the

Alamo"

(lembre-se

dos rebeldes,

de

e foi usado

EI nos

Estados Unidos para recrutar reforços e arrecadar fundos. De fato, os historiadores têm mostrado que a maioria dos defensares de E I Álamo não eram verdadeiramente texanos, mas aventureiros recém-chegados, e que a mesma coisa acontecia com o exército rebelde que lutou pela causa da independência. Portanto, mexicanos

a rebelião texana tornou-se uma confrontação entre e norte-americanos. Repetidamente, os primeiros


34 - A Era dos Novos Horizontes

venceram

os

últimos,

mas,

em

abril

comandando um forte deu o quartel general

contingente de Santa

pessoa.

não

Diante

disso,

de

1836,

Sam

Houston,

norte-americano, surpreenAnna e se apoderou de sua

restou

ao

presidente

cativo

outra

saída, senão concordar com a independência do Texas. Pouco depois, Houston foi eleito presidente da República do Texas.

O México consentiu com essa decisão, contanto que o Texas continuasse sendo independente e não se anexasse aos Estados Unidos, pois conhecia os impulsos expansionistas que existiam nessa nação. Em 1844, esses impulsos obtiveram uma grande vitória cia, e mesmo seu cargo, tados no.

mediante

Unidos, Contudo,

partido

com a eleição de James K. Polk para a presidênantes que o novo presidente tomasse posse do resolução

o Texas isto

passou

conjunta

não bastava

expansionista.

1845 foi o ano em que se cunhou to" estadunidense. Esse destino,

meio

senão

provocar

de que, como

a uma

dos Estados Unidos, pelo menos essa expansão, não havia outro

uma guerra

possível

de Polk e do já registramos,

a frase do "destino manifese diversos interesses econó-

com o México,

Polk se engendrou com esse objetivo. No entanto, havia nos Estados Unidos opu nham

dos Es-

norte-america-

para os desígnios

Lembre-se

micos, requeriam a expansão até o Pacífico. Para conseguir

do Congresso

a ser um estado

guerra

com

e a política

sentimentos

o México,

ela era injusta. Esses sentimentos haviam sido 1836 pelo ex-presidente John Quincy Adams,

por

de

que se crer

que

expressos em que declarou,

perante a Câmara de Representantes, que nessa guerra "os estandartes da liberdade serão os do México; e os de vocês, fico ruborizado ao dizê-lo, serão os da escravidão". Por essas razões, era necessário povo norte-americano gança. Com contingente (mais

tarde

voado mais

esse objetivo, o presidente Polk ordenou que um militar, sob as ordens do general Zachary Taylor presidente

de Corpus

terreno

da república)

Ch r isti , que

em disputa

tarde,

provocar o México, de tal forma que o se sentisse agredido e requeresse vin-

o então

entre

o México

tenente

ocupasse

se encontrava

o pequeno em uma

e os Estados

Ulysses

S. Grant

po-

faixa

Unidos. declarou:

de

Anos "En-

viaram-nos para provocar uma guerra, mas era necessário que fosse o México que a iniciasse". Quando os mexicanos se limitaram a protestar, sem atacar as tropas de Taylor, este re-


Horizontes

cebeu

ordens

nuou

marchando

abriram

para

fogo.

adentrar nele

o território

até

O presidente

que Polk,

o Congresso norte-americano, tamente não-justificado por seguiu

uma

declaração

Pottticos: os

os

em

Estados

Unidos - 35

disputa,

e conti-

mexicanos,

então,

exasperados,

apresentou-se

perante

e com base no ataque susposparte do exército mexicano, con-

de guer,ra.

Grant,

a quem

citamos

aci-

ma, estava convencido de que por trás de tudo isto havia uma conspiração para aumentar o número dos estados escravagistas. A guerra foi breve. Taylor atacou Monterrey e, devido a numerosas baixas, viu-se obrigado a permitir que o exército mexicano se retirasse da cidade sem se render. viou reforços comandados pelo general Winfield sembarcou perto de Veracruz, chou contra a capital. Nessa talhas sangrentas, culminando cadetes conhecidos na história róis" preferiram jogar-se num invasor.

Taylor

exército

mexicano

entrou

então

continuasse

Então Polk enScott, que de-

sitiou e invadiu a cidade, e marmarcha tiveram lugar várias bacom a de Chapultepec, onde os mexicana como "meninos heabismo a render-se ao exército vitorioso

na capital.

oferecendo

Embora

resistência

rior do país, a guerra estava perdida, e então negociações com vistas a um tratado de paz.

o

no inte-

começaram

as

Nos Estados Unidos, as opiniões estavam divididas quanto ao que se devia fazer. Uns poucos, em sua maioria cristãos de profunda convicção, continuavam declarando que a guerra era injusta, e que Deus não se agradaria dessas conquistas

territoriais.

Outros

dos Estados Unidos devia mexicano, e assim estender

criam

que

o "destino

manifesto"

levá -lo a anexar todo o território a essas terras os benefícios da de-

mocracia e do progresso estadunidenses. Muitos se opunham a tal anexação, não por considerá-Ia injusta, mas por que temiam a inclusão, no país, de número tão grande de católicos, índios e mestiços. Posteriormente, ainda contra a vontade do presidente Polk, que aspirava a maiores concessões territoriais, chegou-se ao tratado de Guadalupe-Hidalgo (1848). Nesse acordo, o México cedia aos Estados Unidos, em troca de quinze milhões de dólares, um território de mais de três milhões de quilômetros quadrados (os atuais estados de Novo México,

Arizona,

Califórnia,

Utah,

Nevada

e parte

do Colorado)

e, além disso, reconhecia o Rio Grande como fronteira entre Texas e México. Os Estados Unidos, por sua parte, garantiam certos direitos aos mexicanos que decidissem permanecer


36 - A Era dos Novos Horizontes

dentro do território conquistado. Como nos muitos acordos com os índios, esta segunda parte do tratado cumpriu

cabalmente,

e os mexicanos

que

casos de nunca se

permaneceram

baixo da soberania estadunidense bem depressa foram de discriminação por parte dos novos residentes. Para as igrejas norte-americanas, tudo isto teve

deobjeto varias

conseqüências. Uma que se pode citar foi o debate que teve lugar dentro delas, acerca da justiça da causa estadunidense, que

freqüentemente

se entrelaçou

com

outro

debate

que tra-

taremos mais adiante, em torno da escravatura. Porém, uma vez firmado o tratado de Guadalupe-Hidalgo, quase todos os norte-americanos esqueceram os métodos por que eles haviam adquirido essas terras, e começaram a colonizá-Ias, como se não tivessem nenhum dono. Junto com os colonizadores foram pregadores e missionários todos esses acontecimentos via aberto para a pregação

de diversas igrejas, que viam em uma "grande porta" que Deus hado evangelho. Semelhantemente ao

que havia acontecido nos outros territórios recentemente tomados dos índios, a princípio foram os batistas e metodistas que conseguiram maior aumento no número de seus membros. Para a igreja católica, a conquista dos novos territórios teve conseqüências diferentes. A principal foi que se agregou ao seu rol um número considerável de fiéis que pertenciam a uma cultura diferente da norte-americana. Em lugar de aceitar essa diferença, e procurar servir aos católicos de origem mexicana segundo

as suas próprias

dunidense se dedicou de 1850, o catolicismo rarquia

da região

norte-americana,

hispana

foi

tradições,

a igreja

à "americanização" passou

e o número

diminuindo.

Além

católica

de sacerdotes

disso,

esta-

desses fiéis. A partir para as mãos da hie-

alguns

de tradição

historiadores

têm

registrado um contraste entre os novos sacerdotes, que se dedicavam a servir principalmente as novas classes ricas de origem

anglo-saxônica,

demonstravam

e os velhos

verdadeira

sacerdotes

compaixão

pelo

vam em ajudá-lo em problemas de toda Isto se pode verificar no conflito José

Martinez,

conhecido

como

"o

cura

mexicanos, povo,

sorte. entre

e se ocupa-

o padre

de Taos",

que

Antonio

e o vigário

geral para o Novo México, Jean B. Lamy. Embora de origem francesa, Lamy trabalhava sob as ordens da diocese de Baltimore, e era amigo de muitos dos novos cidadãos da região, entre eles Kit Carson, famoso por seus abusos contra os mexicanos. Desde 1824, Martinez havia dirigido um seminário em


Horizontes

Taos, co.

onde

se havia

Embora

não

formado

fosse

o tinham por santo, sidades dos pobres. este começou gissem

os

boa parte

celibatário,

para

os Estados

do clero

muitos

pois se ocupava O contraste com

a insistir

dízimos

Poltticos:

do Novo

dos

fiéis

Méxi-

da região

assiduamente das necesLamy era notável, e logo

que os sacerdotes

e as primícias

Unidos - 37

dos

mexicanos

exi-

Martinez

e os

pobres.

seus o contestaram, dizendo que era imoral tomar o dinheiro dos pobres, e se negaram a fazê-lo. Lamy excomungou o cura desobediente

e seus

administrando

seguidores,

os sacramentos

porém

Martinez

e servindo

de sua morte, em 1867, houve obra por algum tempo. Depois

aos

continuou

pobres.

Depois

outros que continuaram a sua diminuiu o número de sacer-

dotes mexicanos, e a hierarquia eclesiástica se "americanizou", a tal ponto que só bem mais tarde, no século XX, houve na região bispos de origem hispânica. A questão

da escravatura

A questão te-americana

e a Guerra

da escravatura desde

a era

época da independência, taram que a nova nação mal. Todavia, a fim de

havia

colonial.

Civil ferido

a consciência

Quando

nor-

se aproximou

a

não faltaram as pessoas que sustendevia nascer limpa de tão execrável poder apresentar uma frente unida

\toam

A essa

prática

se opunham

ram do seu seio metodistas, que mesmo cluíam

os Amigos,

que

em 1776 expulsa-

as pessoas que insistiam em ter escravos; em sua Conferência de Natal de 1784,

os ao

tempo que organizavam a igreja norte-americana, exdela os donos de escravos; e os batistas, que não to-

maram medidas semelhantes por carecer da organização necessária para tal, mas que sustentavam posturas abolicionistas. Essas atitudes

temporãs,

no entanto,

foram

do com o correr do tempo. Unicamente contavam com grande número de aaeptos

se modifican-

os Amigos, que não no sul do país, per-

maneceram firmes. Tanto os metodistas como os batistas, a fim de atrair os brancos do Sul, amoldaram-se progressivamente ao fato da escravidão, até o ponto em que, em 1843, havia cerca

de mil

e quinhentos

escravos

nas mãos

ministros e pregadores metodistas. Outras denominações adotaram posturas bíguas. Por exemplo, em 1818, a Assembléia

de mil

e du-

zentos

igualmente amGeral da Igreja


38 - A Era dos Novos Horizontes

Os escravos eram submetidos a torturas cruéis. Presbiteriana, ao mesmo tempo em que declarava que a escravidão era contrária à lei de Deus, declarava-se também contrária

à sua abolição,

ses abolicionistas. Durante esses

e depunha primeiros

um ministro anos

por

do século,

sustentar

te-

os sentimentos

e be rtá-f o s+e -de olvê-l"Os ao con'tiFre'F1t qüência dos seus esforços, fundou-se na África

a República

da


Horizontes

Escravo

Polfticos:

os Estados Unidos - 39

fugitivo de fato

esse trabalho

escravos do que para se desfazer todos os seus esforços, o número Pouco

a pouco,

o sentimento

serviu,

mais para libertar

de negros libertos. Apesar de escravos não diminuiu. abolicionista

de

foi se concen-

trando no Norte, enquanto que no Sul, onde a economia dependia da escravidão em grau muito maior, começou-se a buscar justificativas para continuá-Ia. A isto se acrescentava o te-


40 - A Era dos Novos Horizontes

mor dos brancos sulistas de que, uma vez libertados, os negros, que eram em número elevadíssimo, se tornassem uma ameaça.

Tais

opiniões

que,

em 1831, foi

com

outros

pareceram

dirigida

episódios

pelo

confirmar-se pregador

semelhantes.

ção no sul se dedicou

Logo

a demonstrar

com a rebelião

negro

como

Nat Turner,

boa parte

e

da prega-

a escravidão

era da

gista. vontade

divina,

e como

era grande

se tivessem permanecido mensagem do evangelho.

a ganância

na África, Enquanto

dos negros,

que,

nunca teriam ouvido a isso, no Norte, o senti-

mento anti-escravagista ia aumentando. A novela de Harrie Beecher Stowe, A cabana do Pai Tomás, sacudiu as consciências.

Na

começaram

Igreja

Metodista

a exigir

ti-escravagistas.

os abolicionistas

que se regressasse

Quando

em

norte-americanos

às antigas

1844 os abolicionistas

ram que a Conferência Geral condenasse que era dono de escravos, os metodistas

posturas

an-

consegui-

o Bispo da Geórgia, sulistas se separaram


Horizontes

do resto dista tas,

da igreja.

Episcopal pois

No ano

aconteceu

missionária

para formar a Convenção em 1857, os presbiterianos

Metodista

a igreja

Meto-

com

os batis-

se negou

a comis-

recomendado pela Convenção da Geórgia, os batistas desse estado e do resto do sul

da Igreja Presbiteriana Todas essas divisões Igreja

fundaram

parecido

a sua agência

sionar um elemento que tinha escravos, se reuniram Ihantemente,

seguinte,

do Sul. Algo

quando

os Estados Unidos - 41

Polfticos:

Batista do Sul. Semedo Sul se separaram

e fundaram sua própria perduraram até o século

conseguiu

reunir-se.

Também

denominação. XX, quando

a

os presbiteria-

nos voltaram a reunir-se, enquanto que os batistas do sul continuaram separados dos do norte. Das principais igrejas denominacionais, permanecer

somente a católica e a episcopal unidas, dando-se por desentendidas

conflito e seus motivos. Em 1861, seis estados

sulistas

romperam

conseguiram em relação ao com

o resto

nação e fundaram os Estados Confederados da América. depois, nesse mesmo ano, estourou o conflito armado. guerra,

tanto

as igrejas

do sul como

as do norte

respectivas causas: as do norte proclamando era desumana, e as do sul argumentando dela sem condená-Ia.

Embora,

vessem conseguido penetrar guerra mudou, e o principal cou devastado. sua derrota,

Quando,

a princípio,

apoiaram

suas

que a escravatura que a Bíblia falava as tropas

sulistas

ti-

no norte do país, logo o cu rso da campo de conflito foi o sul, que fi-

por fim,

o seu ressentimento

E esse ressentimento

da

Pouco Nessa

aumentou

quando, a pretexto de reconstruir se dedicaram a explorá-lo.

a Confederação

reconheceu

para com o norte na época o sul,

a

era grande.

da "Reconstrução", numerosos

nortistas

Nessas circunstâncias, as igrejas do sul preferiram permanecer separadas de suas supostas irmãs do Norte, e se tornaram

porta-vozes

da causa

perdida.

Entre

os brancos

do Sul

havia grande temor dos negros libertos, e houve numerosos púlpitos dos quais se fomentou esse temor e até se chegou a conclamar os brancos a tomar medidas contra os negros. Quando esses temores deram origem à Ku Klux Klan e seus atropelos, não faltaram pregadores que manifestassem o seu regozijo. De fato, até ocasião bem avançada no século XX, boa parte

dos membros

do Klan eram também

membros

de igrejas.

Enquanto isso, ao período da Reconstrução seguiu-se um acordo tácito entre os magnatas econômicos do Norte e os brancos do Sul. Deu-se liberdade a estes últimos para dirigir


42 - A Era dos Novos Horizontes

os assuntos vissem tado

políticos

e sociais

de obstáculos

foi

que a região

do norte

e reduzida

da região,

aos interesses acabou

sempre

nortistas

convertida

a condições

que não ser-

no sul.

em colônia

econômicas

O resul-

econômica

deploráveis.

Como

reação a essas condições, o ódio dos sulistas para com os brancos nortistas (os "yankees") e para com os negros se exacerbou ainda mais. Posto que os brancos sulistas não podiam exercer de maefetiva o seu ódio contra os "yankees", eles o manifes-

neira taram

contra

toda

idéia

que procedesse

ou parecesse

proceder

do Norte. Por isso, as igrejas continuaram separadas por muito tempo. Além disso, visto que tradicionalmente os principais centros

docentes

estavam

no

Norte,

logo

um anti-intelectua-

lismo agudo se apossou da mentalidade sulista. Toda idéia que, de algum modo, pudesse proceder do Norte era rejeitada unicamente vinham

por

essa

do Norte,

razão.

E, visto

o Sul se tornou

que

muitas

idéias

novas

cada vez mais conservador.

Por outro lado, o ódio contra os negros podia tornar-se efetivo. Durante o período da Reconstrução, o racismo sulista foi obrigado a se conter. Mas, depois, explodiu em uma série de práticas e leis, em prejuízo dos negros. Quando, em 1829, o Supremo Tribunal aprovou negros podiam ser tratados de",

surgiu

"leis

de Jim

uma

onda

Crow".

Enquanto

os tempos

entre

por

fim

as igrejas

os

negros

brancas

receberam

do

sul

e o macaco.

igrejas

uma jurisdição separada para ção se dissolveu e se integrou

freqüentado

essas mesmas

a que du-

igrejas

a nti= b lb lica , "o elo perdiXX, quando

se reuniram,

os negros. Depois, ao resto da igreja.

palavra's estão sendo os antigos territórios

leis

continuavam

Recomendou-se

Até o século

metodistas

de

ao voto,

pública, etc. Tais do século XX.

as haviam

Embora

o nome

o acesso

da evolução, por considerá-Ia às vezes que os negros eram

o ser humano

data em que estas Sudeste, que inclui

racistas.

que

da escravidão.

as diversas

que

declarando que os mas com eqüida-

aos negros

e as suas práticas

rejeitassem a teoria nelas se ouvia dizer do"

leis,

à melhor educação senão em meados

isso,

as abandonassem rante

dessas

Foi negado

aos lugares públicos, não foram ab-rogadas sua mensagem

a segregação, "separadamente,

criou-se

essa jurisdiPorém, até a

escritas, a Jurisdição da Confederação, não


Horizontes

os Estados Unidos - 43

Poltticos:

que Ao

mesmo

tempo,

as igrejas

brancas

depois

do Norte,

se

particu-

larmente a presbiteriana e a metodista, dedicaram-se a trabalhar entre os negros libertos do Sul. Assim, aconteceu que a maioria dos negros presbiterianos no Sul pertencia à igreja do Norte.

E o mesmo

acontecia

nião das igrejas. Todavia, também e desde

antes

nações bertos

no Norte

da Guerra

negras

Episcopal

por Richard do diácono

Allen, pelos

zou uma igreja petidos

Civil

que depois

do Sul: a Igreja

Metodista

os metodistas existiu

haviam

tiveram

Africana

com

da reu-

a discriminação

racial,

surgido

ali duas denomi-

impacto

Episcopal

de Sião.

um liberto metodistas

antes

grande

Metodista

metodista

conflitos

com

A primeira

que foi o primeiro norte-americanos.

para negros

a hierarquia

desta

vez

na

cidade

Igreja Metodista Episcopal minações desempenharam gros

do

Norte

e, depois

de

Nova

os li-

e a Igreja foi

fundada

negro Allen

ordenaorgani-

em Filadélfia, branca

porém

resultaram

riormente na fundação de uma denominação negros. Cinco anos mais tarde, em 1821, outro lhante,

entre

Africana

re-

poste-

separada para episódio seme-

Iorque,

deu

à

origem

Africana de Sião. Estas duas denoum papel importante entre os neda Guerra

Civil,

entre

os libertos

do

Sul. Ademais, elas se distinguiram por suas missões à África. Estas duas igrejas, e as muitas outras resultantes da expulsão

dos

negros

das

igrejas

brancas,

logo

se constituíram

numa das principais instituições da sociedade negra. Visto que a única posição de prestígio a que os negros tinham acesso relativamente livre era o ministério, durante um século, muitos dos negros mais notáveis foram pastores. Em algumas dessas igrejas se pregava a submissão à injustiça reinante, ligada à espera mais

da vida radical.

celestial. Porém,

Em outras

todas

negra o sentido de identidade tarde haveria de se manifestar

Da Guerra

Civil à Guerra

Os anos

se pregava

contribuíram

e de coesão que cem anos mais em sua luta pelos direitos civis.

Mundial à Guerra

que se seguiram

uma mensagem

para dar à população

Civil

testemunharam

a


44 - A Era dos Novos Horizontes

complicação das décadas

ainda maior dos problemas anteriores. O Sul, convertido

econômicos em colônia

e sociais econômi-

ca do Norte, se entrincheirou em seu racismo e an ti-In tetec-, tualismo. No Norte, a imigração produziu um enorme aumento da população

urbana,

e as estru-turas

eclesiásticas

ram cada vez menos capazes de responder desafio dessa população ou ao de muitos do Sul, que chegavam da.

No Oeste

em busca de melhores

continuou

a pressão

Em meio buíam destino

a tal diversidade,

para unificar providencial

condições

inexorável

dos índios, e a população de origem objeto de humilhação cada vez maior.

se mostra-

adequadamente ao negros procedentes sobre

espanhola

de vi-

as terras

estava

um dos elementos

sendo

que contri-

o país era a idéia de que este tinha para o bem do resto da humanidade.

um Em

geral, esse destino era visto em termos de superioridade racial, religiosa e institucional, ou seja, da superioridade da raça anglo-saxônica, da fé protestante e do governo democrático. Assim,

por exemplo,

já nos fins

do século,

o secretário

geral

da

Aliança Evangélica, Josiah Strong, declarava que Deus estava adestrando a raça anglo-saxônica para um grande momento, "a competição final entre as raças, para a qual a anglo-saxônica está sendo preparada". Então essa raça, que representaria "a mais ampla liberdade, o cristianismo mais puro e a mais elevada civilização", cumpriria o seu destino de desapossar as mais fracas,

assimilar

outras

e moldar

as demais,

até que hou-

vesse "anglo-saxonizado a humanidade". E esses sentimentos, expressos por um dos chefes da ala conservadora do protestantismo

norte-americano,

do liberalismo, reito de pensar

eram

semelhantes

que sustentavam livremente eram

aos dos

que o protestantismo a grande contribuição

chefes e o didas ra-

ças nórdicas, em comparação com o catolicismo e a tirania das raças do Sul da Europa, e que, portanto, os nórdicos tinham a responsabilidade resto do mundo. Tais

idéias,

de

civilizar

no entretanto,

as

raças

mais

contrastavam

"atrasadas" com

do

a realidade

urbana dos próprios Estados Unidos, onde os novos imigrantes viviam em condições de promiscuidade e exploração terríveis, carentes de todo as protestantes.

cantata

com as igrejas,

particularmente

O protestantismo respondeu a esse desafio de diversos modos. Um deles foi a fundação de várias organizações que se distinguiram por seu trabalho nas cidades. Delas, as que mais


Horizontes

êxito

tiveram

foram

Pottticos:

as sociedades

os Estados Unidos - 45

de jovens:

a Young

Men's

Christian Association (YMCA; no Brasil, ACM) para rapazes e a Young Women's Christian Association (YWCA) para mulheres. Trazidas

da Europa

em meados

ções se distinguiram viços

pelo

e programas,

do século

modo

como

não somente

XIX,

propiciavam

religiosos,

essas instituivários

mas também

serde la-

zer e educação. Outro modo pelo qual as igrejas protestantes responderam às necessidades das massas foi a escola dominical. Em uma época em que não se podia considerar como certo o fato de que as pessoas

estudavam

a Bíblia

no seio de suas famílias,

e em que o conhecimento das Escrituras parecia diminuir, esta instituição preencheu um grande vazio, ao ponto que chegou a haver igrejas em que a escola dominical passou a ter mais importância do que o culto. Em 1872, as principais denominações adotaram a prática de coordenar os textos bíblicos que estudavam a cada domingo, e isto por sua vez contribuiu para uma aproximação maior entre as igrejas. Contudo, os principais métodos, testantismo dos

respondeu

"avivamentos"

ao desafio

ao contexto

novas denominações. A principal figura meiros anos foi Dwight

através

urbano,

dos quais

foram

das cidades

e a formação

ele se dedicou

a levar

pessoas

em Chicago

uma igreja

no trabalho

independente. da ACM,

Ao mesmo

onde

evangelístico. Foi em 1872, enquanto virtude do seu trabalho com a ACM, pregar.

O resultado

se sentiu chamado meiro na Inglaterra do

constituía-se

foi tão bom a pregar e depois numa

que,

de vida cidade.

à sua igreja,

era congregacional. Mas, em 1861, decidiu dedicar-se mente a suas atividades religiosas, e dois anos depois envolveu

de

dos avivamentos urbanos em seus priL. Moody. Ele era um vendedor de sa-

patos em Chicago, que se sentiu comovido com a falta religiosa entre as massas populares daquela grande Primeiramente

o pro-

a adaptação

se distinguiu

tempo,

que

inteirafundou ele se

por seu zelo

estava em Londres em que se viu convidado a a partir

de então,

Moody

às grandes massas urbanas, prinos Estados Unidos. O seu méto-

pregação

simples

e emotiva,

concla-

mando as pessoas ao arrependimento e aceitar a salvação oferecida em Cristo Jesus. A sua mensagem tocava a alma das massas urbanas, embora não se ocupasse diretamente com os grandes problemas da cidade. Conforme Moody esperava, a conversão das massas levaria à melhora das condições de vida


46 - A Era dos Novos Horizontes

na cidade. Logo Moody teve numerosos imitadores, uns com maior do que outros. O "avivamento" tornou-se um dos fenô-

êxito

menos sores

característicos de Moody

das cidades

começaram

norte-americanas.

a fazer

Os suces-

uso das práticas

de organi-

zação e publicidade que se utilizavam nas empresas comerciais. Muitos tomaram providências para conseguir popularidade, convertendo as suas campanhas em grandes espe táculos. Por tudo isso, mente criticado.

no fim

do

século,

o movimento

era

forte-

A outra forma pela qual o protestantismo respondeu ao desafio urbano foi a criação de novas denominações, particularmente de inspiração wesleiana. dista, tanto nos Estados Unidos muitas

pessoas

que

deploravam

Dentro da tradição como na Inglaterra, a maneira

como

todista havia abandonado vários aspectos da Wesley. Isto havia acontecido paulatinamente, metodismo foi avançando na direção das classes pando-se

menos

com

os pobres,

particularmente

metohavia

a Igreja

Me-

pregação de conforme o médias, ocunas cidades.

Na Inglaterra, isto deu origem ao Exército de Salvação, fundado pelo pregador metodista William Booth e por sua esposa Catherine

Munford,

também

pregadora,

pois

uma das caracte-

rísticas do Exército de Salvação foi a sua ênfase na igualdade de sexos. O Exército de Salvação, ao contrário de muitas outras denominações surgidas de semelhantes impulsos, ocupouse das massas urbanas, religiosa, mas também sidades

materiais,

pobres,

dando-lhes

condições nominação

não apenas no que se refere à sua vida no que se relaciona com as suas neces-

e se distinguiu comida,

por

abrigo,

sua obra trabalho,

de auxílio etc.

Devido

aos às

de vida urbana nos Estados Unidos, esta nova deencontrou campo fértil nas cidades norte-america-

nas. sos

Ao mesmo tempo, surgiam nos Estados Unidos numerogrupos, quase todos de origem metodista, que sentiam a

necessidade

de voltarem

a se ocupar

das classes

mais

humil-

des, como Wesley havia feito. Como esses grupos enfatizassem a doutrina wesleiana da santificação, passou-se a chamá-los de "igrejas de santidade". A princípio, tais grupos não guardavam relações

i nstitucionais

entre

si, mas,

pouco

a pouco,

foram

se

organizando em novas denominações, das quais a mais numerosa foi a Igreja do Nazareno, surgida em 1908 da união de vários

grupos

de santidade.

Não

obstante,

a maior

força

do


Pottticos:

Horizontes

movimento

residiu

denominações

nas

muitas

minúsculas,

igrejas

os Estados

Unidos - 47

independentes,

que estavam

e nas

disseminadas

por todo

o país. A princípio, muitas das igrejas de santidade se caracterizavam por cultos em que se manifestavam os "dons do Espírito": as línguas, os milagres de cura, a profecia, etc. Embora muitos tenham paulatinamente abandonado tais práticas, estas apareceram de novo com redobrada força em 1906, na Missão da Rua Azusa, em Los Angeles. A partir desse "avivamento da Rua Az u sa ", o "fogo pentecostal" foi se espalhando por todo o país.

Visto

que

aquela

missão

tinha

membros

brancos

e ne-

gros, logo ocorreu um forte movimento pentecostal entre os negros. Ao mesmo tempo, entre os brancos, o movimento se estendeu não apenas entre pessoas de tradição wesleiana, mas em 1914, o diretor

de

uma publicação pentecostal convocou uma grande reunião "crentes no batismo do Espírito Santo", e de lá surgiram

de as

também

entre

Assembléias Estados grande como

batistas

de Deus,

Unidos. êxito

rurais,

e outros.

principal

Esta

entre

denominação

denominação,

as massas

e bem

Por fim,

depressa

norte-americanas, contaram

com

diversas partes do mundo. Outra denominação que tomou forma época, mas que havia estado em processo muito antes, é a dos Adventistas do século XIX, o batista William se a estudar dados

a Bíblia,

tirados

dos

outras,

tiveram

tanto

urbanas

missionários

em

definitiva por essa de formação desde

do Sétimo Dia. No princípio Miller, de Vermont, dedicou-

particularmente

de Daniel

vros da Bíblia, voltaria à terra

pentecostal

e muitas

com alguns

o livro

de Daniel.

de Gênesis

Miller chegou à conclusão no ano de 1843. A princípio,

Unindo

e de outros

li-

de que o Senhor ele não divulgou

essa convicção. Porém, logo se sentiu chamado a pregar e a convidar as pessoas a se prepararem para a Segunda Vinda. O seu êxito, e o de outros "1J.,jeimediatamente começaram a pregar

a mesma

mensagem,

foi enorme.

Centenas

de milhares

de

pessoas se convenceram de que o fim viria em 1843. Quando chegou essa data e nada aconteceu, quase todos os seguidores de Miller se sentiram enganados. Contudo, um pequeno grupo se reuniu ao redor dele e formou em Vermont uma igreja que continuava Cristo.

Assim

aguardando se passaram

a ns io sa rn e nte os anos,

a

Segunda

e o movimento

existindo até que apareceu a profetisa Ellen Harmon, me de casada era White. A sra. White, além de ter

Vinda

de

continuou cujo noinúmeras


48 - A Era dos Novos Horizontes

visões, foi uma magnífica organizadora que popularizou suas profecias em uma série de publicações. Pouco a pouco, diversos grupos surgidos, devido à pregação de Miller e outros como ele, foram se reunindo ao redor da sra. White, que,

em 1868, teve

lugar

a primeira

ventistas. Mediante o impulso demonstraram grande interesse

conferência

geral

as os de até

dos ad-

da sra. White, os adventistas por Medicina, dietética e mis-

sões. Além disso, mesmo desde antes da intervenção da sra. White, devido em parte aos seus contatos com os Batistas do Sétimo Dia, os adventistas haviam começado a guardar o sábado em lugar do domingo. 1915, o movimento contava

Quando a sra. White morreu em com milhares de adeptos, tanto

nos Estados Unidos como em várias outras nações. Por outro lado, o protestantismo norte-americano

tinha

de enfrentar desafios de caráter intelectual. Da Europa chegavam continuamente, além de imigrantes, novas idéias que colocavam derado

em dúvida como

grande

definitivo.

parte

do que antes

A Teoria

Darwin, criou uma grande agitação, tória da criação registrada no Gênesis. logos

tiveram

maior

cos que estavam Alemanha. Esses histórica

de vários

metodologia

livros

por

pois desafiava Todavia, entre

os estudos

consi-

proposta

históricos

por

a hisos teóe críti-

feitos na Europa, especialmente na punham em dúvida a autenticidade da Bíblia.

dos que se dedicavam

negar a veracidade nário ou milagroso. terizava-se

importância

sendo estudos

se havia

da Evolução,

Em muitos

casos, a própria

a esses estudos

os levava

a

de tudo o que pudesse parecer extraordiAdemais, esse ambiente intelectual carac-

um grande

otimismo

quanto

ao ser humano

e

suas possibilidades. Graças à Teoria da Evolução e ao progresso que ela acarretava, parecia aproximar-se o momento em que os humanos se mostrariam capazes de re so lver problemas que até então pareciam insolúveis. Tais idéias deram origem ao "<tit';erallsmo1', que antes de tudo foi uma tentativa para se compreender a fé cristã, de tal modo que ela se mostrasse compatível com aquelas idéias. O liberalismo não foi de forma co. Pelo contrário, a própria

alguma um movimento noção de "liberalismo"

monolítiimplicava

em liberdade para pensar de diferentes formas, desde se caísse no que os liberais chamavam de "superstição". aconteceu pessoas corrente

foi viram havia

uma

ampla

corrente

como uma negação um pequeno número

de pensamento

que não O que

que muitas

da fé cristã. Dentro dessa de radicais - os chamados


Horizontes

"modernistas" uma

-

religião

livros.

em geral

alguma tempo,

livro

entre

os liberais

pessoas da classe da época pareciam sociais

esse

muitas eram

eram

religiões

pessoas

obrigadas intelectuais

no nordeste

apenas e muitos

de profunda

por essa mesma do momento, e fir-

do país, e sobretudo

entre

média, para quem as questões intelectuais ser um desafio mais urgente do que as con-

dos trabalhadores

urbanos.

liberalismo causou pequeno impacto. A resposta não se fez esperar, rava

e a Bíblia

fé ao ser humano moderno. cabe-nos dizer que o liberalismo

principalmente

dições

a fé cristã

religiosa, que se sentiam a responder aos desafios

a tornar possível Ao mesmo mou-se

quem

e um grande

To davia,

erudição erudição

para

os Estados Unidos - 49

Poltticos:

liberalismo

uma

No Sul e no Oeste,

pois

muita

ao

próprio

ameaça

gente

o

conside-

centro

da fé

cristã. Em nível popular, o que mais se discutiu foi a Teoria da Evolução, e houve até tentativas para se dirimir a questão nos tribunais de justiça. Até o fim do século XX, continuava-se discutindo, em algumas regiões dos Estados Unidos, se as escolas públicas deviam ou não expor a Teoria da Evolução, e como deviam fazê-lo, para não contradizer a Bíblia. Entre os teólogos conservadores,

porém,

a questão

da evolução

era somente

um exemplo da forma como as novas idéias ameaçavam os "fundamentos" da fé, negando a autoridade das Escrituras. Logo a palavra "fundamentos" tornou-se o tema caracteda reação antiliberal, que por isso recebeu o nome de mentalismo'''. Em 1846, quando esse movimento começava a conside _ma ame-aça à

como perto cinco

das cataratas "fundamentos"

teriana

adotou

fe.

Todavia,

avam

o libe,alismo

foi em 1895, em uma reunião

do Niágara, que o movimento anunciou os da fé que não podiam ser negados sem

princípios

semelhantes.

A partir

de então,

e por

várias décadas, o fundamentalismo conseguiu a adesão maioria dos protestantes, particularmente no Sul do país. Por

outro

damentalismo ele também

lado,

é interessante

se declarasse serviu

para

defensor

dar origem

notar

que,

embora

da ortodoxia à novas

da

o fun-

tradicional,

interpretações

da


50 - A Era dos Novos Horizontes

mensagem bíblica. A sua ênfase na infalibilidade absoluta das Escrituras, e a sua rejeição de boa parte dos estudos históricos acerca da Bíblia, tornavam possível a criação de interpretações em que diversos textos se justapunham, para, assim, criar novas doutrinas. De todos esses esquemas, o que mais êxito teve foi o "dispensacionalismo", que assumiu várias formas, das quais a mais conhecida é a proposta por Cyrus Scofield. Esse teólogo dividia a história humana em sete "dispensações", das quais a sexta é a atual. Em 1906, ele publicou a "Bíblia de Scofield",

que

logo

obteve

grande

popularidade

em diversos

cír-

culos fundamentalistas. Assim o fundamentalismo aliou-se dispensacionalismo, embora nem sempre seguindo todos detalhes do esquema de Scofield. Nesse ínterim, o liberalismo

fazia

a sua contribuição

notável, mediante o que veio a ser chamado de "evangelho cial". A maior parte dos liberais, por pertencer às classes dias e instruídas,

não estava

interessada

nos graves

ao os mais somé-

problemas

das massas urbanas. Por isso, a maioria dos liberais não seguiu o caminho do evangelho social. No entanto, um pequeno núcleo dedicou-se com afinco a mostrar as relações entre as exigências

do evangelho

viam as massas urbanas. evangelho social, Walter tória

eclesiástica,

desde

e as condições

deploráveis

O mais famoso Rauschenbush,

em que vi-

dos proponentes do foi professor de his-

1897 até falecer,

em 1918. Todavia,

que o tornou famoso foi a sua insistência ajustar o sistema econômico norte-americano

na necessidade às exigências

o de do

evangelho. Segundo "ele, 'o liberalismo econômico, ou seja, a doutrina de que a lei da oferta e da demanda basta para regular a economia, resulta em grande desigualdade e injustiça social. Portanto, a tarefa dos cristãos é pôr limites a esse liberalismo e ao poder desenfreado do capitalismo. Ao mesmo tempo, os cristãos precisam ocupar-se da promulgação de leis que reorganizem a sociedade, de tal modo que se alivie o sofrimento

dos pobres,

e se faça mais justí

ç

a."

• 1. (Nota dos Editores) Alguns liberais de fato levantaram um clamor em favor das massas oprimidas de trabalhadores urbanos. Por outro lado, o liberalismo apressou a ruptura entre os crentes no evangelho da graça salvadora e os que apenas apoiavam mudanças sociais e pouco se interessavam no destino eterno dessas massas urbanas. Esta divisão se mantém até hoje; os liberais, dominando as denominações que aderem ao Conselho Mundial de Igrejas; e os evangélicos, esforçando-se para crescer numericamente, fundando igrejas e enviando missionários a todos os campos abertos para os receber.


Horizontes

o

ponto

em geral

de união

entre

era o seu otimismo

progresso

da sociedade.

Pottucos:

o evangelho

os Estados

social

e o liberalismo

à capacidade

quanto

No entanto,

Unidos - 51

humana

os proponentes

e ao

do evan-

gelho social não concordavam com os demais liberais, para quem bastava confiar no progresso natural da criatura humana e da sociedade capitalista. Para os proponentes do eva n qe l ho social, o progresso devia dirigir-se no sentido da justiça social. Tanto o liberalismo como o fundamentalismo o seu apogeu em períodos em que o progresso político México,

dos Estados Unidos parecia garantido. a abolição da escravatura e a guerra

alcançaram econômico e

A guerra com o com a Espanha,

em 1898 (que levou à anexação de Porto Rico e à independência de Cuba e, muito depois, das Filipinas), pareciam indicar que os Estados Unidos, e as raças nórdicas que neles predominavam, estavam destinados a guiar o mundo para uma época de progresso e prosperidade. Então estourou a Primeira Guerra

Mundial,

e muitas

esperanças. Todavia, responde ao próximo Novas

pessoas

começaram

a duvidar

de tais

a narrativa desses acontecimentos volume desta história.

cor-

religiões

Um dos fenômenos mais notáveis da vida religiosa norteamericana, durante o século XIX, foi o aparecimento de vários movimentos doutrinas,

de inspiração foram,

cristã,

pos surgidos dessa forma, os mais notáveis são os dos mons, os Testemunhas de Jeová e a Ciência Cristã.

mór-

os anos

Joseph

religiões.

da sua juventude,

Smith,

eram camponeses que estado de Nova Iorque,

novas

por suas práticas gru-

Durante

disso,

mas que,

Dos muitos

monismo,

antes

pareceu

ser

o fundador um fracasso.

e

do morSeus

pais

haviam emigrado de Vermont para o em busca de melhores condições eco-

nômicas, porém sem êxito. O jovem Joseph não tinha nenhum interesse nos trabalhos agrícolas, e dedicou-se a procurar tesouros ocultos, com base em supostas visões. Tais atividades ocasionaram-lhe conflitos com a lei, e em termos gerais o futuro profeta não era bem visto na comunidade. Então ele declarou que o "anjo Moroni" havia lhe aparecido, mostrandolhe uma coleção de placas de ouro, escritas em hieroglifos egípcios. Ademais, Moroni entregou-lhe duas "pedras de vidente" que lhe permitiram ler os hieroglifos. Escondido atrás de uma cortina, Smith dedicou-se a traduzir as placas em alta voz,

enquanto

que

outras

pessoas,

do outro

lado

da cortina,


52 - A Era dos Novos Horizontes

escreviam

o que

publicado

em 1830. No princípio

ele

ditava.

Assim

o Livro

surgiu

do livro

de Mórmon,

incluía-se

o testemu-

nho de várias pessoas que diziam ter visto as placas originais, antes de Smith declarar que Moroni as havia reclamado e levado de volta. No mesmo livro narrava-se a origem dos índios americanos, a partir da confusão de Babel. Depois de uma longa luta entre os índios bons e os maus, só dois restaram dos bons:

Mórmon

placas anjo,

de

e seu filho

ouro,

até

que

mostrou -as a Smith. Pouco tempo depois

Moroni.

Estes

Moroni,

dois

esconderam

as

reaparecendo

na forma

de

de publicado

o seu livro,

Smith

con-

tava com bom número de seguidores. Quando uma das muitas comunidades religiosas que então existiam nos Estados Unidos uniu-se a eles, os mórmons começaram a organizar-se em vida comunitária. tianismo

Segundo

eles, a sua nova religião

o que este havia sido

ção.

Smith

cada

vez

continuava mais

tendo

era para o cris-

para o judaísmo: novas

do cristianismo

visões,

ortodoxo.

a sua culminaque

o afastavam

Depois

de estabele-

cer-se durante algum tempo em Ohio, Smith e os seus mudaram pra Illinois, onde fundaram uma comunidade autõnoma com sua milícia própria, e que chegou a chamar Smith de "Rei do Reino

de Deus".

As tensões

com a sociedade

circunvizinha

tornaram-se cada vez maiores, ao mesmo tempo declarava candidato à presidência dos Estados primia

toda

oposição

ba enfurecida os linchou. A direção gham

Young,

às suas idéias.

agarrou do

o profeta

movimento

que guiou

que Smith se Unidos e su-

Posteriormente,

e um dos seus ficou

os mórmons

então

uma tur-

seguidores,

nas

mãos

(oficialmente

e

de Bri-

chamados

de "Igreja de jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias") para a região de Utah. Ali, eles fundaram um estado aut n o rn o , até ô

que, em 1850, em sua expansão na direção do Oeste, os Estados Unidos se apossaram daquela região. Isto ocasionou novos conflitos, particularmente porque dois anos depois Young clarou que Smith havia tido uma visão, até então guardada segredo, ordenando entre os mórmons

a poligamia. e os Estados

Em 1857, explodiu Unidos. Mais tarde,

deem

a guerra os mór-

mons foram se amoldando à vida norte-americana, deixando de lado o seu espírito visionário e comunitário, acomodandose à classe média e, por fim, em 1890, abandonando a poligamia de modo oficial, embora muitos tenham continuado a praticá-~a

por

muito

tempo.

A

partir

de

então,

eles

se torna-


Horizontes Po/fticos: os Estados Unidos - 53 ram

uma

dores.

grande

E através

força

política

da sua obra

no estado

versas partes do mundo. Os testemunhas de Jeová são muitas pessoas nos Estados Unidos onde

esperavam

pos futuros Russell, foi arraigado

encontrar

de Utah

missionária,

chaves

e seus arre-

estenderam-se

a di-

resultado do modo como começaram a ler a Bíblia

escondidas

acerca

dos tem-

e do fim do mundo. O seu fundador, Charles Taze também expressão do sentimento profundamente

nas classes

mais

inferiores,

contra

a ordem

política,

econômica e religiosa. Por isso, ele declarou que os três grandes instrumentos de Satanás eram o governo, os negócios e as igrejas. Além disso, pronunciou-se contra a doutrina trinitariana e a da divindade vinda

havia tido O ano

de Jesus,

lugar

de 1914,

e declarou

que a sua segunda

em 1872, e que o fim ocorreria embora

tenha

trazido

em 1914.

a Primeira

Guerra

Mundial, não trouxe o esperado Armagedom, e Russell morreu dois anos depois. O seu sucessor foi Joseph F. Rutherford, mais conhecido como "o juiz Rutherford". Foi este que, em 1931, deu ao movimento e o organizou na forma publicitária, ao mesmo de Russell,

de acordo

o movimento do.

cresceu

A Ciência de uma

Cristã

grande

vários pontos maniqueísmo

o nome

de "Testemunhas

de Jeová",

de uma grande máquina tempo que reinterpretava

com os novos rapidamente

A partir

em diversas

é a principal

tradição

tempos.

religiosa

expressão que

missionária e as profecias partes

de então, do mun-

norte-americana

temos

encontrado

em

da presente História, ao abordar o gnosticismo, o e o espiritualismo de Swedenborg. Em termos

gerais, esta tradição afirma que o mundo material é, ou imaginário ou de importância secundária; que o propósito da vida humana está em viver em harmonia com o Espírito universal; e que

as Escrituras

chave muns.

espiritual, A fundadora

devem

ser interpretadas

geralmente da Ciência

desconhecida Cristã,

Mary

com

base em uma

pelos Baker

cristãos Eddy,

co-

sofreu

diversas enfermidades desde a sua juventude, aparentemente várias delas de caráter emocional. Casada e enviuvando duas vezes, pobre e enferma, vítima de dores que a levaram ao uso inútil

da morfina,

Mary

Baker

recorreu,

por fim,

a P. P. Ouim-

by, que sustentava que a enfermidade não passava de um erro, e que o conhecimento da verdade bastava para curá-Ia. Curada por Ouimby, ela se dedicou a tornar conhecidas as suas idéias,


54 - A Era dos Novos Horizontes

até que,

por ocasião

da morte

sua principal expoente. Vários anos depois, meira

edição

do seu mestre,

em 1875,

Mary

converteu

Baker

-se em

publicou

a pri-

Fé e Ciência, com chave das Escritu-

do seu livro

ras. Este livro,

que durante a vida de sua autora foi publicado 382 vezes, tornou-se o manifesto fundamental da nova doutrina. Nele, Mary Baker (que tomou de seu terceiro esposo o sobrenome xia cristã etc.),

de Eddy) utilizava ("Deus", "Cristo",

ao

mesmo

tempo

os termos tradicionais "Jesus", "Salvação",

que

tual"diferente

do tradicional.

interpretações

gnósticas

lhes

dava

Nisto

um

da ortodo"Trindade",

sentido

"espiri-

ela nos leva a recordar

da Bíblia,

onde

palavras

como

as

"ver-

dade", "vida" e outras tomavam um sentido diferente do comumente adotado. Em todo caso, de maneira semelhante a Quimby, Mary Baker Eddy sustentava que as enfermidades não eram nada mais do que um erro mental, resultado de uma perspectiva correr

equivocada,

a médicos

e que

nem

para

curá-Ias

que Jesus empregou, e que agora ela havia igual modo, o conhecimento dessa "ciência" dade

e prosperidade

-

segundo

no rte - a merica na. Em 1879, fundou-se Cristo,

que

logo

adeptos

a classe

a Igreja em

re-

espiritual

redescoberto. De produziria felici-

as entendia

oficialmente

congregou

não se devia

mas à "ciência"

a remédios,

média

Científica

diversas

de

partes

do

país, e dois anos depois Mary Baker fundou em Boston "Colégio Metafísico" onde se adestravam os "praticantes"

um (e

não "pastores") da nova fé. Mary Baker Eddy dedicou-se então, a centralizar cada vez mais o governo da Ig reja Científica de Cristo. A de Boston foi declarada "Igreja verdadeiramente

Mãe", à qual deviam pertencer todos os que quisessem ser membros da Igreja Científica

de Cristo. Ao mesmo tempo, tomaram-se algumas medidas para evitar que se introduzissem mudanças doutrinárias no movimento.

Mary

Baker

Eddy declarou

que a segunda

vinda

de

Cristo havia acontecido na inspiração divina que a tinha dirigido a escrever o seu livro. Para evitar qualquer desvio doutrinário,

os

leitura Eddy,

alternada de textos "a fim de que não

doutrina

sermões

divinamente

foram

proibidos, selecionados se misturem

inspirada".

sendo

substituídos

pela

da Bíblia e do livro de erros humanos com a

Esses textos,

selecionados

e

ordenados por Mary Baker Eddy, são lidos até o dia de hoje no culto da Igreja Científica de Cristo, alternadamente, por um


Horizontes

Políticos:

homem e uma mulher, pois as mulheres de destaque no movimento.

os Estados

tiveram

Unidos - 55

sempre

lugar

A "Igreja Mãe" de Boston Apesar da saúde e da felicidade que suas doutrinas prometiam, os últimos anos da vida de Mary Baker Eddy foram períodos de dor e desassossego. Suas dores físicas não eram


56 - A Era dos Novos Horizontes

aliviadas,

a não ser com

doses

repetidas

gústia espiritual era tal que ela achava de estar rodeada dos seus seguidores

de morfina,

e sua an-

que tinha a necessidade para evitar as ondas de

"magnetismo animal" de seus inimigos. Assim terminamos o nosso rápido panorama do cristianismo norte-americano durante o primeiro século posterior

à independência apresenta um norte-americana, acerca

do

país.

Ficou

claro

mosaico tão complexo e que talvez o leitor

de um número

ções" e movimentos. seguiram, marcaram

tão grande

que

várias

regiões

cristianismo

e complicado

de "denomina-

Porém esses anos, e as décadas que os a grande época de expansão da influência

norte-americana; portanto, o cristianismo estudar, com todas as suas características te-americanas,

esse

como o da sociedade se sinta confuso ao ler

deixou do mundo.

a sua

marca

sobre

que acabamos de peculiarmente noro cristianismo

em


II Horizontes Políticos: Europa Não existe sistema religioso nem superstição alguma que não se baseie no desconhecimento das leis da natureza. Os criadores e defensores de tais disparates não previram o progresso da mente humana. Convencidos de que em sua época se sabia tudo o que se deveria saber, ... construírem os seus sonhos sobre as opiniões daquele tempo. Antoine-Nicolas

Na

Europa,

profundas nha

havido

reram

abalos

na França,

Revolução

os últimos

convulsões

anos

políticas

em diversos na série

de Condorcet

do século

e sociais. países,

XVIII

trouxeram

Embora, os mais

de acontecimentos

de fato,

te-

notáveis

ocor-

conhecidos

como

Francesa.

A Revolução Francesa Luiz XVI (o mesmo que em 1787 decretou a tolerância para os protestantes franceses) não foi administrador hábil nem político nómicas da

sábio. França

Durante o seu reinado, as condições ecose deterioraram, ao mesmo tempo que os

gastos do Rei e de sua corte aumentaram desmesuradamente. Desprovida de fundos, a coroa procurou obtê-los do clero e da nobreza, dois grupos que tradicionalmente sempre haviam sido isentos de impostos. Diante da resistência que era de se esperar, Estes

o Rei e seus eram

"ordens":

uma o clero,

do Rei era utilizar

ministros

espécie

convocaram

de parlamento,

a nobreza os Estados

e a burguesia. Gerais

os Estados

Gerais.

constituído

por

Como

o propósito

para vencer

três

a resistência


58 - A Era dos Novos Horizontes

do clero

e da nobreza,

vocação

se fizesse

a

burguesia,

duas.

tivesse

Sob a direção

os seus ministros

de tal modo maior

representação

do primeiro

sugeriram

que a Terceira ministro

do

que a con-

Ordem, que

Necker,

a saber, as outras

um banquei-

Luiz XVI ro protestante em quem o Rei confiava para obter os fundos necessários, os Estados Gerais foram convocados. Além de dar


Horizontes

à Terceira breza vam

Ordem

somados, que

entre

não apenas

tanta

representação

a convocação

ca, mas também

dos

quanto

e as regras

os representantes

da hierarquia,

do clero

em sua quase

curas

locais,

Políticos:

gente

Europa - 59

a do clero

de eleição

e no-

assegura-

houvesse

delegados

totalidade

aristocráti-

do povo

que se mos-

traria

disposta a tomar medidas contra a aristocracia. Quando, por fim, foram abertas as sessões dos Estados Gerais, em 4 de maio de 1789, a Terceira Ordem contava com

mais representantes do que as outras tre os quase trezentos representantes

duas combinadas, do clero, menos

terço

curas

era de prelados.

Os demais

eram

do povo,

ao mesmo tempo que representavam a igreja, da simpatia para com as queixas da população. Tão

logo

foram

convocados

os quais,

sentiam

os Estados

Gerais,

e ende um profun-

o conflito

surgiu. A Terceira reunir-se em uma

Ordem insistia em que a assembléia devia única câmara, e as decisões deviam ser to-

madas

de votos.

por maioria

te, preferiam

as sessões

O clero

e votações

e a nobreza, em separado,

por sua parde modo

que

ambos os grupos tiveram dois burguesia. Todavia, a Terceira

votos frente ao voto único da Ordem mostrou-se inflexível.

Uns poucos

com

curas,

desgostosos

prelados, uniram-se junho, declarou-se de qualquer

forma,

à Terceira "Assembléia contava

a atitude

Ordem que, Nacional",

com

a maioria

aristocrática

dos

por fim, em 17 de reclamando que, dos votos

dos Esta-

dos Gerais. Dois dias depois, o clero votou a favor da união com essa assembléia. No dia seguinte, quando os delegados dessa assem bléia verificaram que o governo havia fechado a sua sala de sessões, ele se reuniram em uma quadra de tênis e fizeram um voto solene de não se dispersarem enquanto não dessem uma constituição à França. Nesse

ínterim,

as dificuldades

econômicas

iam aumentan-

do, e a fome se fazia cada vez mais geral entre as baixas camadas da população. O Rei e os seus, por sua parte, aquartelaram tropas nas cercanias de Paris, e se desfizeram de Necker. A reação

popular

não

se fez esperar.

Por

toda

a cidade

houve

motins que chegaram ao auge quando, em 14 de julho de 1789, o povo amotinado se apoderou da Bastilha, um castelo velho que servia

de prisão

para os inimigos

do Rei.

A partir de então, os acontecimentos se sucederam vertiginosa rapidez. O Rei capitulou ao ordenar à nobreza

com e ao

clero que se reunissem com a Terceira Ordem para formar uma Assembléia Constituinte. Esta assembléia promulgou então a


60 - A Era dos Novos Horizontes

A tomada da Bastilha foi o início simbólico de uma revolução irresistível. Declaração dos direitos do homem e cidadão, que veio a ser um dos documentos tanto na França

fundamentais dos movimentos democráticos, quanto em outras partes do mundo. Quando o

Rei se negou a aceitar esta e outras ações da Assembléia, o povo de Paris se sublevou, e a partir de então a família real ficou praticamente prisioneira em Paris. Seguindo

as linhas

direitos, e pelos filósofos rior,

que

bléia

reorganizou

assuntos timo

advogavam políticos

traçadas por sua própria Declaração de a que nos referimos no volume ante-

uma

ordem

o governo e fiscais,

o passo decisivo ção civil do clero, em 1790. séculos

a igreja

foi

diferente,

não apenas

mas também

campo,

Durante

política

nacional,

religiosos.

a promulgação

francesa

havia

a Assemquanto Neste

aos úl-

da Constitui-

se orgulhado

de


Horizontes

suas "liberdades

gau lesas",

Políticos:

à autoridade

frente

Europa - 61

romana.

Logo,

a Assembléia Constituinte, que se considerava depositária da soberania nacional, tinha razões para se considerar também autorizada a reorganizar a vida eclesiástica. Essa reorganização de qualquer forma muitos. Os altos cargos totalidade por membros

era necessária, pois os abusos eram eclesiásticos, ocupados quase em sua da aristocracia, não eram utilizados

para pastorear a grei, mas para o benefício pessoal dos homens que os ocupavam. Vários dos antigos mosteiros e abadias haviam se tornado centros de folgança, e altos salários eram

pagos

aos privilegiados.

Tudo

isto

requeria

também havia na Assembléia Constituinte delegados que se consideravam instruídos igreja

não passava

de um baluarte

Em

geral,

Quase

o tudo

propósito o que

da

Mas

um bom número de e que criam que a

de superstição

gios sociais. Assim, na promulgação ro conjugaram-se diversos interesses igreja.

reforma.

e de privilé-

da Constituição e opiniões.

Constituição

nela se estipulava

civil do cle-

era

reformar

beneficiava

a

a vida

religiosa. O problema estava na questão de se a Assembléia tinha ou não o direito de reformar a igreja, como diziam alguns, "sem consultar a igreja". Quem era essa "igreja" que devia ser consultada, não estava claro. Alguns defendiam um concílio nacional. Mas a Assembléia Constituinte não podia se dar ao luxo de convocar tal concílio, que seria dominado pelos prelados e daria nova culminância aos Outros sugeriam que se consultasse

privilégios da aristocracia. o papa, e esse foi o cami-

nho que o Rei seguiu antes de sancionar o que fora promulgado pela Assembléia. Mas isto por si mesmo parecia ser uma violação da soberania nacional. Ao mesmo tempo, visto que a própria Assembléia havia revogado as leis sobre os dízimos, parecia necessário que ela mesma se fizesse responsável pela reorganização e sustento da igreja. Quando o papa, na epóca Pio VI, comunicou ao Rei que a Constituição roso

pela

era cisrn átl ca e que não a aceitaria,

reação

da Assembléia,

o Rei, teme-

não deu a conhecer

a decisão

pontifícia, e continuou fazendo dasse de opinião. Posteriormente,

gestões para que o papa mulevada a posições cada vez

mais

decretou

extremadas,

a Assembléia

vessem cargos eclesiásticos a Constituição civil do clero, cargos.

Já a essa altura

pressão

da Assembléia,

que todos

os que ti-

deviam aceitar com juramento sob pena de perder os referidos

o Rei havia e se havia

capitulado declarado

mais a favor

uma vez à da Consti-


62 - A Era dos Novos Horizontes

tuição civil, com a ressalva

de que esperava

que o papa a apro-

vasse. O resultado teoria,

o único

seria

foi

que toda

castigo

a deposição

a igreja

que os "não

de seus cargos.

francesa

se dividiu.

juramentados" Com

Em

receberiam

base na Declaração

dos

direitos, não se lhes podia privai" sua liberdade de consciência, e quem quisesse continuar a considerá-los como sacerdotes poderia fazê-lo, com a única ressalva de que precisariam cobrir os seus próprios gastos, enquanto que os "juramentados" seriam

sustentados

dade logo mentados,

economicamente

pelo

governo.

Mas na reali-

se desencadeou a perseguição contra os não-juraa quem se considerava suspeitos de falta de patrio-

tismo

ou de sentimentos anti-revolucionários. Enquanto isso, no resto da Europa, os elementos revolucionários, que pouco antes haviam sido derrotados em diversas intentonas nos Países Baixos (Holanda) e Suíça, cobravam novo

alento,

ao mesmo

cracias

temiam

cutisse

em

mais

força

que

seus

Meio

no novo

ano

Prússia,

próprios

mais

fato

sucedendo

grupo

havia

muito

lugar menos

declarava

que se iniciou

por

deu

Quando,

em

à Assembléia vozes

guerra

uma série

reper-

sua vez,

na França.

cedeu

a França

e as aristo-

na França

Isto,

extremistas

Constituinte

tarde,

com

que as monarquias

territórios.

aos elementos

1791, a Assembléia gislativa,

tempo

o que estava

Le-

moderadas.

à Áustria

de conflitos

e à

bélicos,

que continuaram quase sem interrupção até o fim das guerras napoleônicas, em 1815. Quando a guerra com a Áustria e a Prússia tomou um rumo indevido, a inimizade da Assembléia se voltou contra o Rei, de todas as formas simpatizantes dos aristocratas batalha

e dos

de Valmy,

monarcas em que,

estrangeiros. por

fim,

No dia

os franceses

seguinte

à

conseguiram

deter o avanço dos prussianos, a Convenção Nacional ocupou o lugar da Assembléia Legislativa. Em sua primeira sessão, a Convenção

aboliu

a monarquia

e proclamou

a república.

Qua-

tro meses mais tarde, o Rei, condenado por alta traição, era executado. Em poucos meses, na região de Vendée, produziuse um levante sanguinolento, especialmente por parte de camponeses pobres exasperados com o governo da bu rguesia, que só havia conseguido desmantelar a economia sem resolver as dificuldades

da classe

baixa

rural.

A pressão

por

parte

das po-

tências estrangeiras aumentava. Em todo o país desencadeouse uma onda de terror que, um apó so ut r o , foi levando para a guilhotina todos os principais chefes revolucionários.


Horizontes

A tudo cristianismo,

Polfticos:

isto se acrescentou uma forte tanto protestante como católico.

Europa - 63

reação contra o Os novos chefes

da revolução estavam convencidos de que eram arautos de uma nova era em que a ciência e a razão se sobreporiam a todas as superstições e sistemas religiosos, que, afinal de contas, não passavam de produtos da ignorância humana. Com o nascimento dessa nova era, chegava o tempo de deixar de lado as superstições da velha era. Foi com base nessas idéias que a Revolução Francesa criou a sua própria religião, que se chamou primeiramente "Culto à Razão", e depois "Culto ao Ser Supremo". Levada a seus extremos,

a Revolução

não se ocupou

mais

de fazer valer

a Constituição civil do clero, mas preferiu criar a sua própria religião, com suas cerimônias próprias. A princípio, isto não foi política oficial do governo, país, onde pessoas ilustres, gião

se conformasse

campanha

de

com

mas surgiu procurando a nova

em diversas partes do fazer com que a reli-

era, começaram

"descristianização".

uma grande

Ulteriormente,

o governo

nacional assumiu a direção do novo movimento. Como dele, aboliu-se o velho calendário e criou-se um outro "razoável", com nomes de meses tomados "Bruma rio", "Vendimiário" e "Termidor",

parte mais

da natureza, como e com semanas de

dez dias. A isto se acrescentaram grandes cerimônias que ocuparam o lugar das antigas festividades religiosas. A primeira delas foi a procissão e as cerimônias que acompanharam o traslado dos restos mortais de Voltaire para o "Panteão da República". Depois foram construídos templos à Razão, foram criados "santuários" que incluíam, junto com Jesus, Sócrates, Marco Aurélio e Rousseau, e foram inventadas cerimônias para os casamentos, dedicação de filhos à Liberdade e funerais. De certo modo, os esforços da parte do governo para criar uma nova religião com base em cerimônias civis e em decretos oficiais fazem-nos lembrar as tentativas fracassadas de Juliano, o apóstata, muitos anos antes, de ressuscitar o antigo paganismo. De maneira

semelhante

ao paganismo

de Juliano,

ao Ser Supremo" carecia de força vital, e desapareceu deixou de ser política oficial do governo. Tudo

isto

não passaria

milhares de vidas bar dos "galileus" tores

da nova

liberalidade.

de algo

ridículo,

que custou. Juliano se havia e a fomentar o paganismo.

religião

francesa

Teoricamente,

usaram

o culto

tão logo

a não ser pelas limitado a zomMas os promo-

da guilhotina

cristão

o "Culto

com cruel

era permitido.

Mas


64 - A Era dos Novos Horizontes

qualquer clérigo que se negasse a prestar juramento à Liberdade, ou qualquer pessoa que tivesse o menor contato com forças ou idéias opostas às da Revolução, era guilhotinado. sim morreram entre dois mil e cinco mil sacerdotes, várias

Asde-

zenas

que

de

freiras

morreram

e numerosos

nos cárceres

também

leigos. foi

E o

número

avultado.

dos

Posteriormente,

não somente a igreja dos que se haviam negado a prestar juramento, mas também a dos juramentados, e a protestante, sofreram tais pressões que quase chegaram a desaparecer. (É triste dizê-lo, mas o protestantismo francês, a antiga "igreja do deserto", não contou nessa hora com os vigorosos heróis que foram refa

de

a glória

do catolicismo.

reconstrução

do

Passada

protestantismo

a Revolução,

foi,

portanto,

a tamuito

mais árdua do que a do catolicismo). Embora a onda de terror tivesse amainado em 1795, a política do governo continuou sendo anti-cristã. Ao mesmo tempo, as vitórias militares do regime revolucionário na Suíça, Itália rios.

e na Holanda

estenderam

Em 1798, os franceses

e da própria

pessoa

a França. Porém,

no fim

essa

política

se apossaram

de Pio VI, a quem do século,

levaram

Napoleão

a novos

territó-

dos territórios

papais

prisioneiro

Bonaparte

para

ia adqui-

rindo proeminência na França, até que se apossou do poder mediante o golpe de estado de 18 de Brumário do ano VIII da Revolução (9 de novembro de 1799). Pio VI havia falecido, ainda nas mãos

dos franceses,

alguns

meses antes.

Mas Napoleão

estava convencido de que a melhor política não era a de tornar-se inimigo da igreja católica, mas ao contrário. Logo ele começou negociações com o novo papa, Pio VII. Conta-se que, ao enviar um emissário a Roma, Napoleão o mandou dizer ao papa que desejava "presenteá-lo" com quarenta milhões de franceses".

Por fim,

em 1801, chegou -se a um acordo

entre

o

papado e o governo francês. Nesse tratado reconhecia-se que a religião católica era a da maioria dos franceses, e estabelecia-se

a forma

pela

qual

os bispos

e curas

seriam

nomeados,

de tal modo que se salvaguardaram tanto os interesses do Estado como os da igreja. Três anos mais tarde, quando Napoleão decidiu que o título de "cônsul" não lhe bastava, assumiu o de "imperador", Nossa tempo

e como

Senhora de Paris, que se aproximava

nado a liberdade

religiosa

talo

coroou

Pio VII,

na catedral

de

a 2 de dezembro de 1804. Ao mesmo de Roma, Napoleão havia determipara os p r o te st a nte s.


Horizontes

Pottticos:

Europa - 65

De certo modo, o papado saiu ganhando de todas estas vicissitudes. Até então, as "Iiberdades da igreja gaulesa" haviam

z elo sarne nte

sido

como

pelos

defendidas,

bls po's, ~o país.

tanto

Mas agora,

pelos

reis

ao chegar

franceses

o momento

de reorganizar a vida eclesiástica da França, Napoleão rou manter negociações diretas com o papa, que por assumiu sobre a igreja francesa, com o beneplácito dor, uma autoridade que os seus predecessores podido exercer. Mas aquela ções

do

paz

imperador

não

durou

muito

tempo.

com

a firmeza

se chocaram

viu seus territórios invadidos sioneiro dos franceses. Ainda

procusua vez

do irn o e r anão tinham

Logo

as ambi-

do papa,

que

de novo, e por fim acabou prino meio do seu cativeiro, Pio VII

negou-se a dobrar-se diante do Imperador, cujo divórcio de Josefina lhe acarretou novos conflitos com a Igreja Católica. Estes conflitos não amainaram até a queda de Napoleão, quando

Pio

VII,

uma anistia e intercedeu

restaurado

à sua

sede

em

Roma,

concedeu

geral a todos os que haviam sido seus inimigos, perante os ingleses para que estes garantissem

que Napoleão

seria

tratado

digna

e humanamente.

A nova Europa As parte

guerras

napoleônicas

da Europa.

candinávia,

várias

pois

da derrota

viam

vencido

ciaram

entre

haviam

Na Espanha,

casas reinantes

de Napoleão, -

Inglaterra,

si a forma

o caos

a boa

Itália,

Holanda

e Es-

sido

destruídas.

haviam

as principais Aústria,

que

levado

Portugal,

Prússia

passaria

a ter

potências e Rússia o mapa

De-

que o ha-

nego-

político

da

Europa. A França riores à Revolução,

regressou às suas antigas fronteiras antee a casa de Bourbon foi restaurada na pes-

soa de Luiz

irmão

XVIII,

de Luiz

XVI.

Fernando

VII,

da Espa-

nha, e outros vários monarcas depostos por Napoleão, foram restaurados. João VI, de Portugal, que se havia refugiado no Brasil, demorou algum tempo a voltar a Lisboa, e quando o fez, deixou o governo do Brasil nas mãos de seu filho Pedro. Holanda e Bélgica ficaram unidas sob uma só coroa. Na Suécia continuou

reinando

Napoleão,

que havia

O que

Bernardotte, dado

se esperava

provas com

um dos antigos

marechais

de ser bom governa

esses

arranjos

de

nte.

era garantir

a paz

na Europa, que de certa forma estava aos cuidados das quatro potências vencedoras de Napoleão. E de fato, com exceção da guerra da Criméia, de 1854 a 1856, e da guerra entre Fra nça


66 - A Era dos Novos Horizontes e Inglaterra,

entre

1870 e 1871,

em relativa paz internacional. Todavia, debaixo dessa de cada origem nos.

país

e em

a repetidas

Um dos

alemão

cada

principais

motivos

Esses dois política

do século

paz internacional

região,

conspirações,

e italiano.

do a sua unidade

o resto

transcorreu

existiam,

tensões

internas

revoltas

e quedas

de tensão

países ainda

dentro

que

deram

de gover-

era o nacionalismo não haviam

alcança-

e em cada um deles se debatia

acerca

do modo de alcançá-Ia. A tais aspirações se opunha a Áustria, cujos domínios careciam de unidade cultural e nacional, e incluíam extensas porções da Alemanha e da Itália. Sob a direção de Metternich, chanceler da Áustria, criou -se todo um sistema de espionagem internacional, com o propósito avanço de movimentos nacionalistas na Alemanha das correntes

liberais

e socialistas

que existiam

de deter e Itália,

em toda

o e

a Eu-

ropa.

o

liberalismo

confundir

com

econômico

e

o teológico)

era

político

(que

expressão

não

dos

se

interesses

deve da

crescente burguesia mercantil e capitalista. Esta classe via com bons olhos a teoria econômica do laissez-faire - do "deixar fazer" - segundo a qual a lei da oferta e da procura bastava para regular a ordem econômica. Os governos não deviam para regulamentar o comércio nem o uso do capital. essa fosse sando

a época

o seu

também

era

precisamente

em que

maior a época

impacto

a revolução sobre

em que

se criaram

a base do laissez-faire.

industrial

o continente

estava europeu,

os grandes

Quanto

intervir Embora cauessa

capitais,

às classes

sociais

baixas, pensava-se simplesmente que, com o desenvolvimento industrial, a sua condição econômica melhoraria, e desse modo todos

sairiam ganhando. A essas idéias econômicas

se uniam

freqüentemente,

em-

bora não sempre, as do liberalismo político, que punha grandes esperanças no sufrágio universal (embora quase sempre unicamente

das pessoas

do sexo masculino),

constitucionais ao estilo inglês. A luta entre estas idéias e o absolutismo diversos veu.

Na

e nas monarquias tradicional

teve

resultados,

de acordo

com o país em que se desenvol-

Espanha,

Fernando

VII

regressou

ao

absolutismo

pré-revolucionário. Na França, Luiz XVIII, mais prudente, estabeleceu um sistema parlamentar. Na Alemanha, a Prússia tornou-se campeã do nacionalismo, enquanto que a Áustria sustentava a velha ordem social. Na Itália, uns buscavam a


Horizontes

Pollticos:

Europa - 67

unidade nacional, sob a direção do Reino de Piemonte e Sardenha; outros procuravam estabelecer uma república; e ainda outros viam no papado o centro da futura Em 1830, a Bélgica tornou-se independente sa luta

as questões

religiosas

tiveram

unidade nacional. da Holanda, e nes-

um

papel

importante,

pois a Bélgica era católica, enquanto que a Holanda testante. Nesse mesmo ano, elementos republicanos ram derrotar a monarquia francesa. cançado o seu objetivo, conseguiram sucedido

a seu irmão

lipe de Orleans, se coroado

Luiz XVIII,

um monarca

era proprccura-

Embora não tivessem alque Carlos X, que havia

fosse

de idéias

deposto, muito

e que Luiz Fe-

mais liberais,

fos-

em seu lugar.

O ano de 1848 trouxe Grã-Bretanha, promulgou derrotado,

novas

Suíça e França

revoluções.

houve

Na Itália,

motins

e levantes.

uma nova constituição. E, na França, e proclamou-se a Segunda República,

até 1851, quando

Luiz

Napoleão,

sobrinho

Bélgica, A Suíça

Luiz Felipe foi que perdurou

do falecido

Impera-

dor, apoderou-se do poder e assumiu o título de imperador, com o nome de Napoleão III. Também em 1848 caiu Metternich na Áustria. E - fato que a princípio passou quase despercebido -

nesse

mesmo

ano

Marx

e Engels

o Manifesto co-

publicaram

munista. milo

O mapa da Itália começou de Cavou r foi nomeado

Piemonte, (Napoleão

a mudar, primeiro

pouco depois que Caministro do Reino de

em 1852. Com a ajuda de Luiz Napoleão, da França III), Cavou r começou a tarefa de unificação italiana.

Por ocasião novo Reino

da sua morte, em 1861, só não tinham se unido da Itália os territórios de Veneza e de Roma.

primeiros foram contra a Áustria.

anexados

em

1866,

Os estados

pontifícios

seguiram

ao Os

com

a ajuda

da Prússia

uma

história

acidentada

durante todo esse período. Em 1849, a onda revolucionária que varreu a Europa levou à criação de uma "República Romana", e o papa

Pio IX, refugiado

em territórios

taurado pelas tropas de Napoleão ça, os estados papais conseguiram constantemente tre

França

apoderou-se Víctor

ameaçada.

e Alemanha,

Por fim,

por ocasião

em 1870, o rei Víctor

de Roma e com isso completou Manuel

napolitanos,

concedeu

então

foi

res-

III. Sob a proteção da Franmanter uma independência da guerra

Manuel,

a unidade

ao papa, além

en-

da Itália, nacional.

de uma

boa

renda anual, os palácios do Vaticano, de Latrão e de Castelgandolfo, com direitos de extra-territorialidade e de soberania.


68 - A Era dos Novos Horizontes

Porém,

Pio IX declarou

passaram-se liano,

anos

que isso não era aceitável

de tensão

entre

o Vaticano

até que em 1929, ao se firmarem

papado aceitou E nquanto norte

da

os tratados

os fatos consumados. acontecia tudo isto na Itália,

Europa

a figura

e, portanto,

e o governo

dominante

era

ita-

de Latrão,

na Alemanha Otto

von

o

e no

Bismarck,

que, em 1862, havia chegado à posição de chanceler da Prússia. A tarefa de Bismarck consistiu em excluir a Áustria da Confederação Alemã, e então criar uma nação constituída dos diversos Estados independentes que formavam essa confederação. Depois de dez anos de hábil diplomacia e conquistas militares, que culminaram na guerra com a França, em 1870 e 1871,

a Alemanha

se uniu

sob o reinado

do rei Guilherme

da

Prússia, que assumiu o título de Imperador da Alemanha. A política religiosa de Bismarck dirigiu-se principalmente contra

o catolicismo

romano.

Essa era

a religião

dos súditos da Áustria, e por isso o Chanceler católicos em seus próprios territórios sentissem Áustria. boas

Ademais,

relações

dos católicos vir

para

a política

com

alemães,

devolver

internacional

o Reino

da Itália,

no sentido

de Bismarck

requeria

e a insistência

por

de que o seu país devia

ao papa os seus estados,

venientes. O Chanceler estava convencido era essencialmente obscurantista, e que berai se adaptava dava a Alemanha

da maioria

temia que os simpatias pela

causava-lhe

parte interincon-

de que o catolicismo o protestantismo li-

melhor à grande missão histórica que aguarem futuro próximo. Por todas essas razões,

sob o governo de Bismarck tomaram-se medidas que não foram bem vistas pelos católicos. A Alemanha rompeu relações com o papado, ao mesmo tempo que várias ordens religiosas eram expulsas do país e alguns dos subsídios que até então os bispos recebiam do estado eram cortados. Embora em 1880, por motivos de conveniência, Bismarck tenha reatado as relações diplomáticas com o papa, e logo se ab-rogassem muitas das medidas contra o catolicismo, o conflito com Bismarck foi um dos muitos fatores que convenceram Pio IX, papa de 1846 a 1878, de que existia uma oposição inevitável entre o catolicismo

romano

discutiremos

e a idéia em outro

moderna capítulo

de Estado. deste

volume.

A este Por

respeito

enquanto,

basta sublinhar que a posição do papado na nova Europa, que surgiu depois das guerras napoleônicas, foi em extremo incômoda, e que, por isso, os papas do séculos XIX dirigiram a Igreja Católica no período mais reacionário da sua história.


Horizontes

Polfticos:

Europa - 69

Otto von Bismarck Sem se contarem as correntes teológicas e a obra missionária de que falaremos em outros capítulos, os fatos mais notáveis no protestantismo do continente europeu durante o século XIX derivaram da crescente separação entre a igreja e o Estado.

Depois

protestantismo

da Reforma triunfou,

do século

XVI, nos países em que o

estabeleceu-se

entre

ele e o Estado

uma relação semelhante à que antes havia existido com a Igreja Católica. Contudo, com a Revolução Francesa, esse estado de coisas começou a mudar. Na Holanda, por exemplo, a


70 - A Era dos Novos Horizontes

união

entre

a Igreja

Reformada

e o estado

rompeu-se,

quando

os franceses conquistaram o país e criaram a República de Batávia. Depois da Restauração, a aliança entre igreja e Estado nesse país tornou -se muito menos estreita do que havia sido antes.

Algo

semelhante

aconteceu

em diversas

regiões

da Ale-

manha, onde as leis que fomentavam a uniformidade religiosa foram moderadas para beneficiar a unidade nacional. Na Escandinávia,

o impacto

do liberalismo

bém conseqüências semelhantes. Em parte devido a estas novas parte

devido

houve

um

ao individualismo grande

político

acarretou

tam-

políticas,

e em

condições

que caracterizou

incremento

do

pietismo

o século

XIX,

e das "igrejas

li-

vres", ou seja, aquelas de que se é membro por decisão própria, e cujos membros as sustêm, em contraste com as igrejas sustentadas dão desse território Ao

pelo Estado, das quais se é membro Estado. Os metodistas e os batistas na Alemanha

mesmo

maior

tempo,

e em outros

o pietismo

ímpeto, e causou Como assinalamos

países

luterano

por ser cidaconquistaram

do norte

e reformado

europeu. alcançou

forte impacto na teologia da época. anteriormente, o pietismo car acte rf-

zou-se por seu profundo interesse missionário. Assim, o incremento do pietismo no século XIX foi uma das principais causas da grande expansão missionária protestante desse século. A outra causa foi a expansão econômica, comercial e política

das potências

protestantes.

A Alemanha

lítica e a economia do continente Holanda criaram vastos impérios

dominava

europeu. Tanto intercontinentais,

a po-

ela como a embora

nenhum deles tenha chegado a ter a extensão do Império Britânico. Dadas essas circunstâncias, protestantes de tendências pietistas criaram várias sociedades missionárias, cujo propósito era levar o evangelho às colônias do além-mar. Na Alemanha e Holanda

surgiram

várias

dessas

sociedades.

E o mesmo

fenômeno logo apareceu também em países que não tinham tais impérios, como é o caso da Sociedade Missionária Evangélica de Basiléia e da Aliança Missionária Sueca. Ao mesmo tempo, organizavam-se outras sociedades que se ocupavam dos problemas internos da Europa. Na Dinamarca, o luterano N. F. S. Grundtvig agrícola.

Na

"diaconisas"

dedicou

Alemanha

os seus esforços

e outros

consagraram-se

orfanatos

e outras

nizações

dedicadas

instituições. ao serviço

países,

ao serviço Por toda

ao cooperativismo as organizações

em hospitais, parte

dos nece ssttados:

surgiram

de

asilos, orga-


Horizontes

Durante curso

todo

paralelo

Industrial

esse

período,

ao do resto

causou

Essa revolução

a Grã-Bretanha

da Europa.

impacto,

foi

porém

benéfica

Pollticos:

seguiu

Ali também

mais

cedo

para a classe

Europa - 71

e em maior

média

um

a Revolução grau.

e os capitalis-

tas, ao mesmo tempo que causou prejuízo à velha aristocracia e às classes mais pobres. Estas últimas se viram submersas em tristes condições de trabalho e de moradia. O crescimento das cidades, consigo viam

graças ao apogeu da indústria e do comércio, trouxe o aparecimento de vastas zonas em que os pobres se

obrigados

a viver

praticamente

amontoados.

Ao

mesmo

tempo, o liberalismo econômico e político avançava rapidamente, dando cada vez mais poder à Câmara dos Comuns em relação à dos Lordes. Essas condições produziram vários resultados. Um deles foi

uma

grande

Estados

onda

Unidos,

migratória,

mas também

não somente ao Canadá,

em direção

Austrália,

aos

Nova

Ze-

lândia e sul da África. Outro, foi o surgimento do movimento trabalhista. No princípio do século, os sindicatos eram proibidos;

mas em 1825 foram

o Partido

Trabalhista

também

na

condições volveu

Inglaterra,

as suas teorias isto

Ao

estourar

estava

praguejada antes

também

a Revolução por

na igreja

e no início

uma grande do

muitos medieval:

que

do século

XX

política.

Foi

força

espetáculo

londrinense,

econômicas

causou

Igreja. existido

diante

do proletariado

Tudo

legalizados,

tornou-se

quotidiano Karl

Marx

das desen-

e políticas. um

grande

Francesa, dos

males

impacto a Igreja que

o absenteísmo,

sobre

a

Anglicana

vimos

terem

o pluralismo

e a falta de dedicação por parte de muitos membros da alta hierarquia, em sua maioria membros da aristocracia. Durante o século

XIX,

houve

um

grande

despertamento

dentro

dessa

igreja. O governo promulgou reformas práticas, proibindo os abusos mais extremos. Porém, houve também fortes correntes de reforma dentro da própria igreja. Uma dessas correntes, a dos anglicanos evangélicos, estava particularmente interessada em dar à Igreja Anglicana um tom mais protestante, às vezes com características semelhantes às do pietismo que ocorria no continente europeu. sobre

A outra corrente reformadora que causou grande impacto a Igreja Anglicana foi o "movimento de Oxford". Esse

foi um movimento anglo-católico, cujo objetivo era dar realce às grandes tradições cristãs. Para os membros desse movimento, a sucessão apostólica e a autoridade dos antigos es-


72 - A Era dos Novos Horizontes

critores

cristãos

era

de grande

importância,

como

também

o

sacramento da comunhão, centro do culto cristão. Um dos principais chefes desse movimento, John Henry Newman, con verteu -se ao catolicismo, e posteriormente foi feito cardeal, embora

sempre

tenha

sido

mal visto

pelos

católicos

conserva-

dores, devido a suas opiniões sobre a evolução dos dogmas. Todavia, a maioria dos membros permaneceu dentro da comunidade

anglicana,

tradição cristã, como resultado na ordens Várias

monásticas,

dessas

enfermos. Contudo, vitalidade

ordens

tanto

um firme

fundamento

na

homens

as igrejas

o século

XIX.

como

ao serviço

de mulheres.

dos pobres

e dos

dissidentes

que houve

maior

A elevação

da classe

média

a elevação das igrejas dissidentes, que eram fortes dessa classe. Os metodistas, batistas e congregacio-

deram

mostras

de grande

crescimento numérico, fundaram para ajudar ciais

de

se dedicaram

foi entre

durante

acarretou no meio nais

e deu a essa igreja

unido a uma espiritualidade profunda. Também dessas tendências, surgiram na Igreja Anglica-

e levar

vitalidade,

não apenas

em seu

mas também nas muitas sociedades que os necessitados, remediar os males so-

o evangelho

para o resto

do mundo.

Para alcançar

as massas pobres e analfabetas, esses grupos organizaram as escolas dominicais, que depois se tornaram prática comum em quase todas as igrejas protestantes. Outros organizaram a Associação Cristã de Moços (YMCA) e sua correspondente para mulheres (YWCA). Também surgiram novas denominações, tais

como

mente

o Exército

como

de Salvação,

um veículo

pobrecidas. Todos

esses grupos,

evangélica,

preocuparam-se

ca. Foi com

o apoio

fundado

para alcançar juntamente

urbanas

com os anglicanos

com os males

dos metodistas,

em 1864, precisa-

as massas

sociais

quacres

emda ala

de sua épo-

e outros,

que se

organizaram sindicatos de trabalhadores, defendeu-se forma dos cárceres, e se criaram leis contra os abusos

a rede que

as crianças eram objeto, particularmente no trabalho. Talvez a coisa mais importante que os cristãos conseguiram

durante

este

período

foi

a abolição

britânicos da escrava-

tura. Já havia muito tempo, os quacres e os metodistas tinham se colocado contra essa abominável instituição. Contudo, foi no século X IX, graças aos esforços de William Wilberforce e de outros cristãos de profunda convicção, que o governo britânico adotou

medidas

contra

a escravidão.

Em 1806 e-1811,

o Parla-


Horizontes

Pottticos:

Europa

- 73

John Henry Newman mento

promulgou

leis

proibindo

o tráfico

de

escravos.

Em

1833, determinou-se que todos os escravos das colónias britânicas no Caribe fossem colocados em liberdade, e isto se cumpriu em 1838. Pouco depois, adotaram-se medidas semelhantes,

com respeito a marinha

tempo,

de escravos

às demais colónias dedicava-se

britânica

realizado

por

outras

britânicas. a interromper

nações,

firmando

Ao

mesmo o tráfico

com

elas

tratados que proibiam o tráfico de escravos em alto mar. Pouco tempo depois, a maior parte dos países ocidentais havia abolido a escravidão. Resumindo,

o

perído

iniciado

com

as revoluções

havi-




76 - A Era dos Novos Horizontes

A esquadra Aqui

vemos,

britânica dedicou-se a combater o tráfico de escravos. a bordo de um navio inglês, um grupo de escravos

recentemente

libertados.

cravidão

e outros

a Igreja

Católica

trema,

muitos

males

sociais.

O resultado

encarava

os novos

protestantes

os viam

tempos com

foi que, enquanto com

excessivo

suspeita

ex-

otimismo.

Isto se notou particularmente no liberalismo protestante, que já analisamos nos Estados Unidos, mas que alcançou sua maior popularidade e suas formas mais extremas na Alemanha, conforme veremos no capítulo No entanto, antes de passar deter na consideração XIX ocasionou novos

de outra horizontes

IV do presente volume. a esse tema, devemos

nos

região do mundo onde o século políticos: a América Latina.


III Horizontes Políticos: América Latina Uma cadeia mais sólida e mais brilhante do que os astros do firmamento liga-nos novamente com a igreja de Roma, que é a fonte do céu. Os descendentes de São Pedro foram sempre nossos pais (padres), mas a guerra nos havia deixado órfãos, como o cordeiro que bale em vão pela mãe que perdeu. A mãe, cheia de ternura, o buscou e o fez voltar ao redil; ela nos deu pastores dignos da Igreja e dignos da República. Simón Boltver

As novas

nações

Os grandes abalos políticos que ocorreram na América do Norte e na Europa fizeram-se sentir também na América Latina. Havia surgido aqui uma classe relativamente abastada de crioulos, descendentes de espanhóis e portugueses, que, no entanto, não gozavam dos mesmos privilégios que os peninsulares.

Embora

todas

feitas na Espanha, panha, elas quase dos

quais

quando

viam

chegavam

as nomeações

de importância

para cargos nos países colonizados sempre recaíam sobre peninsulares,

pela

primeira

para

vez

governá-Ias.

as terras

do

Enquanto

fossem pela Esmuitos

Novo

Mundo

esses

recém-

chegados ocupavam altos cargos, aos crioulos estavam praticamente vedadas as mais altas posições, tanto civis como eclesiásticas. Essas condições portar, porque os crioulos,

faziam-se tanto mais difíceis de suesquecendo o suor dos índios, ne-


78 - A Era dos Novos Horizontes

gros e mestiços, estavam convencidos produziam a maior parte das riquezas ses crioulos, fiéis virtude das quais Península, que vivam

de que eram eles que da região. Contudo, es-

súditos da coroa, ressentiam-se das leis em o comércio resultava em benefícios para a

e não para as colônias (entenda -se: dos nelas). Sobretudo, visto que muitos crioulos

sem com os meios onde traziam idéias

necessários, republicanas

viajavam contrárias

para a Europa, de à ordem estabele-

cida. Assim, a classe crioula desempenhou pei semelhante ao da burguesia na França. Ainda

assim,

quase

todos

os

da Espanha,

Fernando

VII,

na América

crioulos

fiéis súditos da coroa, e os movimentos alcançado pequeno êxito, se não fossem que tiveram lugar na Europa. Em 1808, e fez coroar

crioulos contas-

um pa-

consideravam-se

republicanos teriam pelos acontecimentos Napoleão depôs o rei seu irmão

José

Bona-

parte, a quem os espanhóis deram o apelido de "Pepe Garrafa". A resistência contra o usurpador retirou-se em ordem para

Cá diz,

onde

monarca deposto. a usurpação que

uma

junta

tomou

o governo,

em

nome

do

Napoleão pretendeu fazer valer na América havia ocorrido na Espanha, mas as colónias

negaram-se a aceitar esse fato e organizaram as suas próprias juntas de governo. Embora os peninsulares afirmassem que tais juntas deviam sujeitar-se à de Cádiz, os crioulos argumentavam que as colónias eram "reinos", todos sujeitos ao mesmo monarca, mas diferentes tanto cada junta devia governar

uns dos outros, e que pordiretamente em nome do so-

berano deposto. Dadas as circunstâncias do momento, e diante da falta de poder da Junta de Cá diz, a opinião dos crioulos prevaleceu, e as colônias espanholas na América passaram a governar-se a si mesmas, embora sempre em nome do Rei. Fernando

foi

restaurado

em 1814, quando

Napoleão

caiu.

Porém, longe de mostrar gratidão aos súditos que haviam conservado as suas possessões, ele se dedicou a desfazer grande parte do que havia sido feito pelas juntas. A de Cádiz havia promulgado, em 1812, uma constituição relativamente liberal, e Fernando a ab-rogou. Na Península, a reação não se fez esperar, ao ponto que em 1820 o Rei se viu obrigado a restaurar a constituição. Nas colônias, crioulos que haviam nosprezados, promulgado

a reação governado

e as leis foram

liberais

revogadas.

foi ainda em nome que

mais marcante. da coroa foram

as diversas

Em conseqüência,

juntas

Os me-

haviam

os mesmos


Horizontes

crioulos, rebelavam

que antes se haviam contra

ela.

Polfticos:

mostrado

Em La Plata,

fiéis

eles

América

Latina - 79

à coroa,

agora

simplesmente

se

conti-

nuaram governando o país, supostamente em nome do Rei, até que o Congresso de Tucuman, em 1816, declarou a independência. Três anos antes, o Paraguai se havia declarado inde-

a

José Bonaparte, rafa". pendente

tanto

Orientai",

o

quem os espanhóis

da Espanha

Uruguai,

teve

quanto uma

chamaram

de Buenos história

de "Pepe

Aires.

turbulenta,

"A até

Gar-

Parte que


80 - A Era dos Novos Horizontes

conseguiu

a sua independência

em 1828.

Enquanto

isso,

José

de San Martin havia atravessado os Andes e invadido o Chile, que se declarou independente em 1810. Dali, com a ajuda de uma

esquadra

passou para Guaiaquil.

sob o

as ordens

Peru,

onde

de Lord

Thomas

se entrevistou

Cochrane,

ele

Bolívar,

em

com

E nquanto tudo isto acontecia no sul do continente, mais ao norte Simón Bolívar empreendia uma campanha semelhante. Depois de vários esforços fracassados, em 1819 ele derrotou

o exército

realista

em Boyacá,

invadiu

Bogotá

e declarou

a

independência da Grande Colômbia (as atuais repúblicas de Colômbia, Venezuela e Panamá). Depois de esmagar os realistas em Carabobo (1821), e dar ao país a Constituição de Cúcuta, Bolívar dirigiu-se para o Sul, onde o seu lugar-tenente Sucre obteve a vitória de Pichincha. O resultado dessa batalha foi a independência do Equador, que se uniu à Grande Colômbia. Bolívar marchou então sobre o Peru, onde, depois vista de Guaiaquil, San Martin lhe deixou o campo

da entrelivre. Em

Ayacucho, Sucre obteve uma vitória surpreendente e decisiva que praticamente deu fim ao poderio espanhol na América do Sul. Contudo, os sonhos de Bolívar, no sentido de criar uma grande

nação

democrática

que

abrangesse

a maior

parte

do

continente, não se realizaram, na região de fala espanhola. A Grande Colômbia se desmembrou nas repúblicas independentes de Venezuela, Colômbia e Equador. O Alto Peru insistiu em sepa ra r -se do Peru, a dotou o nome de "Repú blica Boi íva r" (hoje Bolívia) e ofereceu a presidência a Sucre. Por todas as partes, os crioulos lutavam entre si, procurando tornar-se donos do poder.

O último

sonho

de Bolívar,

de uma grande

federação hispano-americana, se desfez no Congresso namá (1826), onde ficou claro que os interesses dos

con-

de Pagrupos

que governavam cada região se opunham entre si, e se sobrepunham aos do continente. Cinco anos depois, oito dias antes de morrer, o Libertador declarou: "A América é ingovernável. Os que serviram à revolução araram no mar". A independência

do México

seguiu

um curso

diferente.

As

notícias da deposição de Fernando VII haviam criado uma situação política instável, e um grupo de crioulos se preparava para

dar

um

golpe

contra

os peninsulares

quando

chegou

a

notícia de que havia sido descoberta uma conspiração. Um dos conspiradores, o padre Miguel Hidalgo y Costilla, decidiu a-


Horizontes

Po/fticos:

América

Latina - 81

diantar-se aos acontecimentos. No Grito de Dolores tembro de 1810), Hidalgo proclamou a independência co, e depressa

se encontrou

à frente

de um

(16 de sedo Méxi-

exército

de ses-

senta mil índios e mestiços. Aprisionado e executado, Hidalgo foi sucedido por outro padre, o mestiço José Maria Morelos. Portanto, desde os seus primórdios, a independência mexicana contou

com o apoio

e a direção

de mestiços

e índios.

Embora,

sob a direção de Agustin Iturbide, os crioulos voltassem a se colocar à testa da situação, sempre houve fortes correntes que lutavam em prol dos índios e mestiços. Particularmente na época de Benito Juarez, e depois na Revolução Mexicana, essas correntes deixaram a sua marca indelével na sociedade mexicana. A Capitania

Geral

da Guatemala,

que

fazia

parte

do vi-

ce-reinado de Nova Espanha, tornou-se independente ern 1821. Depois de um breve período de submissão ao governo do México, tentou-se conseguir a unidade da região mediante uma confederação. Mas esta se dissolveu e deu lugar às atuais repúblicas de Guatemala, EI Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa

Rica. (O Panamá

fez parte

da Colômbia

até 1903, quando

os Estados Unidos, insatisfeitos com as condições que a Colômbia impunha para a construção do Canal, intervieram na região.) Também o Brasil conseguiu a sua independência como conseqüência das guerras napoleônicas. Em 1807, fugindo das tropas invasoras de Napoleão, a corte de Lisboa refugiou-se no Brasil.

Em 1816, terminadas

as guerras,

João

VI foi procla-

mado rei de Portugal e Brasil. Depois de tão prolongada permanência no Rio de Janeiro, o Rei não tinha nenhuma pressa de voltar a Lisboa, e não o teria feito, se não fossem as circunstâncias políticas que o obrigaram a tanto, em 1821. Como regente, ficou no Brasil Dom Pedro, filho do Rei. No ano seguinte, tugal,

quando

o príncipe

negou-se

a fazê-lo.

pendência

ou morte!"

recebeu

ordens

No Ipiranga,

Pedro

proclamou

de voltar

com o grito sua ruptura

para

Por-

de "Indecom

Lis-

boa. Depois de breve resistência, todas as guarnições acederam à nova ordem, e três meses depois o príncipe era coroado como Pedro I, imperador do Brasil. Em 1825, Portugal aceitou o fato consumado, e reconheceu a independência de sua antiga colônia.

A

contragosto,

porque

as circunstâncias

exigiam, Pedro I acedeu a um regime do, posteriormente ele se viu obrigado

políticas

o

parlamentarista. Contua abdicar a favor de seu


82 - A Era dos Novos Horizontes


Horizontes

Políticos:

América

filho Pedro II. Depois de um turbulento período Pedro II assumiu o poder em 1840. Durante quase ele levou o país por caminhos de prosperidade. por

fim

também

escravatura

havia

se viu ganho

obrigado

a abdicar,

para

ele a inimizade

pois

Latina - 83

de regência, meio século, No entanto, a abolição

dos

da

latifundiá-

rios, e sua insistência para que o exército permanecesse alheio à política não era bem vista pelos militares. Em 1889, p ro cl amou-se a república, e o país entrou em um período de dificuldades políticas e econômicas semelhantes àquelas que a América espanhola vinha sofrendo havia bastante tempo.

Dom Pedro" A Revolução Francesa foi dência do Haiti. Nessa colônia

a causa imediata da indepenfrancesa, uma exígua minoria

branca era dona de grande número de escravos rebelaram tão logo os acontecimentos ocorridos varam vários

negros, que se na França pri-

os brancos do apoio militar da metrópole. Depois de anos de confusão, Toussaint L'Ouverture conseguiu ins-


84 - A Era dos Novos Horizontes

taurar

certa

ram dele

medida

de ordem,

mediante

um ardil,

mas os franceses

e ele morreu

se apodera-

prisioneiro

na Fran-

ça. Todavia, isso não pôs fim à rebelião, e, em 1804, Jean Jacques Dessalines proclamou a independência do Haiti. Com a morte

de Dessalines,

e um Pierre

reino ao norte. Boyer conquistou

conquistou

também

seu poder

opunham

idéias

a porção

em do

em uma república 1820, norte.

espanhola

ao

reconhecimento

o marco

Mas essas

de uma

casos,

procedentes ideológico

revoluções

de uma classe crioula

da ilha,

em

a nova

na-

Os Estados Uniescravagistas se

nação um

dos Estados

sempre

que ficou

reconheceu

das revoluções

quase (ou,

vemos

nascida

curso

de uma

paralelo.

Unidos

As

e da Fran-

latino-americanas.

redundaram

no caso do Haiti,

ao sul

o presidente Jean Dois anos depois,

fez o mesmo logo depois. em 1862, pois os estados

de escravos. vários desses

republicanas

ça foram

Por fim, o reino

até 1844. Em 1825, a França

ção, e a Inglaterra dos só o fizeram rebelição Em

o país se dividiu

em benefício

de caudilhos

mili-

tares) que se ocupou do bem-estar das massas. Os latifundiários, que mal haviam existido no período colonial, continuaram e se desenvolveram na época republicana. Em meados do século, começou um período de desenvolvimento económico com base em grandes capitais estrangeiros e na exportação de produtos agrícolas. Isto, por sua vez, propiciou novo incremento dos latifúndios, e freqüentemente criou alianças entre os latifundiários nacionais e os capitalistas estrangeiros. Ao mesmo tempo, surgia nas cidades uma classe média de comerciantes e empregados civis que raras vezes teve grande poder, mas que encontrava os seus interesses unidos ao desenvolvimento económico que estava acontecendo. O que se esperava e se prometia repetidamente era que, com o desenvolvimento do comércio, da indústria e da educação, todas as classes sociais se beneficiariam, pois até os mais pobres receberiam uma parte da nova riqueza que estava sendo criada. Todavia, para que houvesse tal progresso económico era necessário manter a ordem, e assim se justificaram dezenas de ditaduras que podiam mostrar que o capital estrangeiro e o progresso económico se concentravam Durante

nos países de maior estabilidade política. todo o século XIX, o grande debate ideológico

na

América Latina foi então entre "liberais" e "conservadores". Em geral, os chefes de ambas as facções pertenciam às classes mais abastadas. Porém, enquanto os conservadores tinham sua


Horizontes

Políticos:

América

Latina - 85

maior força na aristocracia dos grandes proprietários, os liberais a tinham entre os comerciantes e intelectuais das cidades. Os conservadores temiam as idéias novas como a liberdade de consciência e a livre empresa. Os liberais as defendiam, porque pensavam que eram necessárias para que o país pudesse fazer parte do concerto das nações modernas, e porque essas idéias se ajustavam aos seus interesses. Em termos gerais, os conservadores tinham um olho na Espanha, enquanto que os liberais olhavam para a Grã-Bretanha, França e Estados Unidos. Contudo, nem uns nem outros estavam dispostos a altera r a ordem social e econômica de tal modo que todos pudessem participar igualmente. O resultado foi uma série de ditaduras, tanto conservadoras como liberais, de golpes de estado e de violências. Por isso, até o fim do século eram muitos os que concordavam com as tristes palavras de Bolívar no sentido de que a América era ingovernável. A igreja

e as novas

nações

Como registramos anteriormente, colonial a igreja na América espanhola

durante todo o período e portuguesa foi gover-

nada pelo regime de patronato real. Conseqüentemente, a divisão entre peninsulares e crioulos, que se fazia sentir em toda a sociedade, quia

estava

presente

era constituída

pela coroa, maior parte

enquanto do baixo

também

principalmente

na igreja,

cuja alta

de peninsulares

que os crioulos e mestiços formavam a clero. Houve alguns bispos que apoiaram

a causa da independência. Mas, em termos gerais, do hispano-americano (ou de origem portuguesa, Brasil) diante

hierar-

escolhidos

o episcopano caso do

tomou o partido do Rei, a quem procurou apoiar menumerosas proclamações "pastorais" em que se conde-

nava a "sedição" dos separatistas. Posteriormente, muitos deles tiveram que abandonar as suas sedes, e os que permaneceram, o fizeram mediante tensões constantes com os novos governos. O resultado foi que numerosas dioceses importantes, e até países inteiros, viram-se repentinamente sem bispos. Esta situação tornou-se ainda pior, porque dificuldades para a nomeação de novos bispos.

havia enormes A Espanha ne-

gava-se a reconhecer a independência de suas antigas colônias, e insistia em exercer sobre a igreja localizada nelas as suas antigas prerrogativas por sua parte, reclamavam de todos

dos direitos

do patronato real. As novas nações, que seus governos, como herdeiros

da coroa

espanhola,

deviam

exercer

so-


86 - A Era dos Novos Horizontes

bre a ig reja

um

patronato

nacional.

sabia que atitude tomar, seus aliados na Europa, parte

formava

uma

encíclica

Etsi tongíssimo (1816) falava

zos da rebelião" Fernando, vosso obrigado encíclica mo

considerável

e de "nosso Rei Católico";

a adotar

uma

da grei

por

sua parte,

postura

e a Fernando

romana.

não

Pio VII,

dos "gravíssimos

caríssimo contudo

na

prejuí-

filho em Jesus posteriormente

Cristo, viu -se

neutra. Em 1824, Leão XI, na ao movimento separatista co-

Etsi iam dlu , referiu-se

"cizânia",

Roma,

pois Espanha e Portugal ainda eram mas a população das novas nações

como

"nosso

mui

amado

filho

Fernando, rei católico das Espanhas". Na Europa, não só a Espanha, mas também a França, a Rússia e a Áustria opunham-se ao reconhecimento implícito das novas nações que teria lugar se o papa nomeasse bispos para elas, fazendo caso omisso do p atr o n at o real. Por fim, em 1827, Leão XII decidiu nomear os primeiros bispos para a Grande Colômbia, e essa foi a ocasião das palavras de Bolívar que citamos no princípio deste capítulo. Todavia, isto não pôs fim à questão, pois Fernando rompeu relações com Roma, e Leão XII teve de desfazer muita coisa que havia sido feita. Com seus altos e baixos, a questão só se resolveu quando o governo espanhol, nas mãos do partido liberai, perdeu o apoio de Roma, e Gregório VII, na década de 30, deu vários passos na direção do reconhecimento oficial das novas

repúblicas. Devido ao a falta de bispos gentes

caráter sacramental do catolicismo romano, significava muito mais do que a falta de diri-

ou administradores.

denações;

e sem

nem vários outros número de clérigos torai

elas,

não

Sem

bispos

pode

haver

não podem comunhão

sacramentos. Logo, em diminuiu drasticamente,

das massas tornou-se

sumamente

difícil

haver

or-

(eucaristia)

muitas regiões o e o cuidado pase superficial.

A atitude do baixo clero, em sua maior parte constituído de crioulos e mestiços, foi muito diferente da dos bispos. No México, dizem que três de cada quatro sacerdotes apoiaram a insurreição.

Dezesseis,

entre

as vinte

e nove pessoas

que as-

sinaram a Declaração de Independência argentina, eram sacerdotes. Além disso, é preciso dizer que quando o conflito começou, as idéias de independência tinham pequeno apoio popular, e que foram os párocos locais que mais contribuíram para formar esse apoio. Foi precisamente por isso que, embora tanto os bispos como os papas pastorais e encíclicas ordenando

tenham a igreja

publicado numerosas hispano-americana a


Horizontes

apoiar

a causa realista,

não obtiveram

Pottticos:

América

Latina - 87

o efeito

desejado.

Por todas essas razões, a atitude dos chefes da independência para com o catolicismo foi complexa. Todos eles se proclamavam católicos, e nas diversas constituições que surgiram

nos

primeiros

anos,

afirmava-se

repetidamente

que

a

religião do país era a católica. Mas as tensões com Roma eram tais que se chegou a temer que acontecesse um cisma entre o catolicismo

hispano-americano

cialmente

no México,

a formação obediência mente,

de uma igreja a Roma. Tais

mas haveria

e a Santa

chegaram

a propor

católica projetos

de surgir

que alimentou mexicana. Depois servadores

projetos

da independência,

bos os grupos.

os interesses

de uma igreja

a tensão

também

Enquanto

quando

com os do país. O caso mais na segunda metade do século,

para a formação

manifestou-se

espe-

defendendo

nacional, separada de toda não desapareceram total-

novamente

de Roma pareceram chocar-se notável foi o de Benito Juarez,

Sé. Alguns,

tal cisma,

entre

na política

os conservadores

nacional

liberais

e con-

religiosa

de am-

advogavam

a con-

tinuação das antigas prerrogativas berais opunham-se a muitas delas.

da igreja e do clero, os liFoi então que boa parte do

clero

mudanças

nativo,

antes

aliou -se ao com o povo pai ponto

partidário

das

revolucionárias,

partido conservador, e fez uso de seus contatos para promover as idéias conservadoras. O princi-

de atrito

neste sentido

era até que ponto

o governo

devia encarregar-se das diversas funções antes exercidas pela igreja. Os liberais defendiam a abolição de um foro pessoal para o clero, que os excluía da jurisdição dos tribunais civis; a abolição do dízimo como imposto obrigatório; a supressão da inquisição, etc. Em todos estes pontos, os liberais ganharam a disputa, e pouco a pouco foram sendo eliminadas, nos diversos países, todas

estas práticas

e instituições

que eram

relíquias

do

velho regime. Igualmente, estabeleceu-se o registro civil, cujas atas de nascimento substituíram as antigas "certidões de bati srn o". e se instaurou o matrimônio civil. A tudo isto se opunham os conservadores, mas a sua causa foi derrotada. Em seus primórdios, o liberalismo hispano-americano consiperava-se eram

vistas

católico,

como

e suas medidas

reformas

da igreja,

no campo

e não como

da religião

atos de opo-

sição a ela. Se o clero se opunha a essas medidas, isso se devia, na opinião dos liberais, não ao fato de elas serem por si mesmas

anticatólicas,

mas

sim

em

razão

de

se

oporem

à


88 - A Era dos Novos Horizontes

mentalidade

estreita

de um

clero

que,

embora

nativo,

ainda

considerava a Espanha como centro do universo. Muitos dos primeiros liberais estavam convencidos de que as suas medidas emprestariam à igreja uma nova vitalidade, e que ela posteriormente

se

ocorrendo. Na segunda a filosofia

benificiaria metade

positivista

com

as

do século,

de Comte

reformas

o liberalismo

para

convencido segundo

restem

vestígios

dade atravessa

agora

sociedade está sendo segundo os princípios

com

um movimento

entre os intelectuais. fundador da sociologia

de que a sociedade podia e devia reoros ditames da razão. Segundo Comte, a

humanidade passou por três etapas teológica, a metafísica e a científica ainda

estavam

uniu-se

produzir

muito mais anti-católico, particularmente Augusto Comte foi um filósofo francês, moderna, ganizar-se

que

das duas o limiar

etapas

da etapa

de ou

desenvolvimento: a "positiva". Embora

anteriores, científica

a humanie, portanto,

a

chamada para uma reorganização radical do pensamento "positivo" ou científico.

Na nova sociedade, haverá uma separação completa entre a autoridade e o poder temporal. Este último deverá ser colocado nas mãos de comerciantes e capitalistas, que são os que melhor entendem as necessidades da sociedade. Quanto à autoridade espiritual, ela pode corresponder a uma nova "igreja católica", desprovida de seu "Deus sobrenatural", e dedicada à "religião da humanidade". Estas idéias ganharam grande número de seguidores entre a pujante burguesia latino-americana, particularmente no Brasil, mas também em outros países como Argentina e Chile, onde as idéias procedentes da França haviam sempre gozado de grande prestígio. Visto que o sistema positivista concordava com os interesses da burguesia liberai, esta abraçou muitas das doutrinas do filósofo francês. O resultado foi uma nova série de conflitos com a igreja, ao mesmo tempo que os estados se secularizavam cada vez mais. Pouco a pouco a igreja foi perdendo muitos dos seus antigos privilégios,

e a separação

entre

ela e o estado

tornou-se

princípio comum para muitas nações latino-americanas. A segunda metade do século XIX também trouxe fortes ondas de imigração para o Peru, especialmente péia, mas também chinesa. A imigração era necessária programa de desenvolvimento econômico da burguesia nante. para

Os imigrantes a indústria

propiciavam

e o comércio,

a mão e além

de obra

disso

um

consigo europara o domi-

necessária

serviam

de ele-


Horizontes

Políticos:

América

Latina - 89

mento de equilíbrio para contrabalançar as massas de índios e negros, por um lado, e a velha aristocracia conservadora por outro.

Além

disso,

eram portadores lhor ao progresso A imigração

para muitos

liberais

os imigrantes

europeus

de idéias e tradições que se amoldavam medo país. teve enorme importância para a vida religio-

sa do continente. Muitos dos que ansiavam por imigrar eram protestantes, e por isso vários países promulgaram a liberdade religiosa, primeiro apenas para os imigrantes, e depois para todos os cidadãos. Contudo, o principal impacto da imigração foi o número crescente de católicos, porém totalmente carentes de cuidado pastoral, e instrução religiosa. Assim, o catolicismo latino-americano foi se tornando cada vez mais superficial. Nas enormes cidades que resultaram da onda migratória, particularmente Buenos Aires e São Paulo, quase todos os habitantes continuaram a se chamar de católicos. Porém, eram relativamente poucos os que participavam ativamente da vida eclesiástica. Diante

de tudo

isto,

a hierarquia

católica

reagiu

com ten-

tativas cada vez mais inúteis de deter o curso da história, ou de regressar ao passado. Quando mais se difundiam as novas idéias, mais a hierarquia as condenava. O resultado final foi que, para boa parte dos católicos bou sendo algo que se sustentava posição Portanto,

contrária quando

à hierarquia

latino-americanos, independentemente

da igreja

o protestantismo

a fé acae até em

e seus ensinamentos.

fez a sua aparição

nesse

campo, encontrou-o branco para a ceifa. Todavia, o curso do protestantismo na América Latina corresponde a outro capítulo da nossa história.


IV Horizontes Intelectuais: A Teologia Protestante Peça por peça vai sendo abandonado

o método de interpretação que atribui os fenômenos a uma vontade análoga à vontade humana, que opera mediante processos semelhantes aos humanos processos. Visto que esta família de crenças, antigamente inumerável, perdeu a imensa maioria dos seus membros, não é demais confiar que o pequeno número que ainda resta também desaparecerá. Herber Spencer

Os desafios intelectuais cristianismo foram enormes,

que o século XIX apresentou ao e tanto o protestantismo como o

catolicismo viram-se obrigados a lhes responder. No entanto, enquanto o catolicismo o fez, condenando e rejeitando quase todas

as idéias

modernas,

boa parte

do protestantismo

incorporando essas idéias, talvez algumas vezes Portanto, embora os desafios que mencionaremos tenham

sido

comuns

a ambos

os ramos

capítulo limitar-nos-emos a discutir reagiu a eles, para depois consignar próximo capítulo. As novas correntes Quando

da igreja,

o fez,

em demasia. em seguida no presente

como o protestantismo a resposta católica no

do pensamento

o século

XIX

começou,

via causado grande impacto sobre sobre algumas regiões da América.

a revolução

industrial

ha-

quase toda a Europa, e até Essa revolução afetou não


Horizontes

Intelectuais:

A Teologia

Protestante

só a economia, mas também todos os aspectos movimentos populacionais tornaram-se notáveis,

- 91

da vida. Os pois o povo

precisava acorrer para onde havia trabalho, em outras palavras, aos grandes centros industriais, sem se considerar que se lhes negava o uso das terras dedicadas agora à produção de matérias dustriais

primas para a indústria. Muitos desses centros innão tinham as acomodações necessárias para abrigar

os recém-chegados, que precisavam então viver em péssimas condições. Ao mesmo tempo, a fluidez da sociedade tendia a romper os laços da família extensa - pais, tios, parentes - e, portanto, a família viu-se reduzida são mínima:

pai, mãe e filhos,

e se perdiam

avós e demais à sua expres-

muitas

das raízes e

tradições familiares. Isto, por sua vez, ocasionou um crescente individualismo, pois cada pessoa precisava considerar-se responsável por sua própria vida. Portanto, o tema do "eu" e seu desenvolvimento

ocupou

boa

parte

do

pensamento

e da lite-

ratura

do século XIX. A revolução industrial também contribuiu para a idéia do progresso. Até pouco antes, a opinião mais comum era de que as idéias eram mais certas quanto mais antigas fossem. Na época do Renascimento e da Reforma, por exemplo, o que se procurava era regressar às antigas fontes do conhecimento, da arte e da religião, fontes que o Renascimento tigüidade clássica, enquanto que a Reforma Escrituras.

Contudo,

agora

os povos

procurava na anas procurava nas

olhavam,

não para o pas-

sado, mas para o futuro. A ciência aplicada havia se mostrado capaz de produzir riquezas e recursos que antes não existiam. As possibilidades futuras não pareciam ter limites. Diante dos olhos das classes dirigentes da sociedade, os problemas criados pela revolução industrial eram passageiros. Logo a aplicação da técnica lhes daria solução, e então toda a sociedade se beneficiaria com a nova ordem. E, visto que muitos dos intelectuais da época pertenciam a essas classes, tais idéias de progresso imediatamente encontraram eco em suas obras. De certo modo, a Teoria da Evolução, de Darwin, é uma expressão dessa confiança no progresso, levada agora para o campo das ciências naturais. Não foi apenas a humanidade que progrediu, mas também o resto dos seres animados. O progresso faz parte

da

progresso

estrutura social,

do

universo.

não se trata

Todavia,

de forma

de um avanço

luta dura e cruel em que os mais aptos sobrevivência fazem progredir a espécie

fácil,

igual

ao

mas de uma

sobrevivem, e nessa toda. O título com-


92 - A Era dos Novos Horizontes

pleto

do famoso

livro

de Darwin,

publicado

em 1859,

mostra

isso: Sobre a origem das espécies mediante a seleção natural, ou

a preservação das raças ta vorecidas na luta pela vida. Se o progresso é elemento tão importante na vida da humanidade, e mesmo do universo, também deve sê-lo a história, pois, o que é a história senão o progresso do passado? O século

XIX

acautelou-se

como

nenhum

outro

em

relação

às

Charles Darwin, criador da Teoria da Evolução e contribuinte para as missões na Patagônia


Horizontes

mudanças

radicais

contribuiu crescente

não somente contato com

mente na África de que os seres suas perspectivas

que tiveram

referência

gresso

levava

históricos

Protestante

na vida humana.

- 93

Para isto

a revolução industrial, mas também o povos de outras culturas, particular-

a Augusto

Comte,

da mentalidade

e desta à "científica". biente do século XIX. dos

lugar

A Teologia

e no Pacífico. Assim, chegou -se à conclusão humanos não foram sempre iguais, e que as religiosas e intelectuais também evoluíram.

Já fizemos que

Intelectuais:

que

que falava

"teológica"

de um pro-

à "metafísica",

Tais idéias eram a expressão O resultado foi toda uma série

puseram

em dúvida

grande

parte

do amde estudo que

antes se havia aceito como definitivo acerca do passado. No campo da religião, estes estudos, aplicados à Bíblia, produziram fortes abalos e extensos debates. cial

Ao mesmo tempo, havia alguém que via o alto custo sodo progresso causado pela revolução industrial. Muitos

cristãos

procuraram

particular, cais, com desligada Exército curaram

responder

às necessidades

de grupos

em

e assim se criaram, por exemplo, as escolas dominio propósito de alcançar uma população que estava dos meios tradicionais de ensinamento cristão. O de Salvação, a ACM e muitas alcançar as massas urbanas,

outras instituições proe aliviar a sua miséria.

Mas os problemas e sua solução estavam além dos casos individuais ou daquilo que algumas instituições pudessem fazer pelos necessitados. Muitas pessoas começaram a pensar na necessidade de uma mudança radical na ordem social. Se era certo que havia progresso e que a sociedade havia mudado radicalmente nas últimas décadas, por que não falar de outras mudanças na sociedade? Como já dissemos, Comte, a quem se considera como fundador da sociologia moderna, propôs um projeto de reforma social. Tais esforços abundaram através de todo o século XIX, e a revolução fracassada de 1848 foi uma tentativa de colocá-los em ação. O socialismo, em seus muitos matizes,

veio a ser tema

vam com a ordem convictas. Como

social

comum

das pessoas

e suas injustiças,

se sabe, de todos

que se preocupa-

muitas

os pensadores

delas

socialistas,

cristãs aquele

que posteriormente causaria impacto mais explosivo seria Karl Marx, cujo Manifesto comunista foi publicado em 1848. Em seu sistema, viam

Marx

proposto.

história

ia além

das utopias

O seu pensamento

e da sociedade

socialistas era todo

de sua época.

que

muitos

ha-

ele uma análise

Parte fundamental

da

dessa


94 - A Era dos Novos Horizontes

análise era que as idéias, por muito que pareçam construções puramente intelectuais, têm funções políticas e sociais. A classe dominante desenvolve uma ideologia que parece puramente racional, mas cuja função é sustentar a ordem própria religião faz parte de toda essa estrutura poderosos,

e daí a famosa

acusação

de que

existente. A de apoio aos

ela é "o

ópio

do

povo". Todavia, a história avança, e o seu próximo passo será a grande revolução proletária, que levará à "ditadura do proletariado", e daí a uma sociedade sem classes, onde nem sequer o Estado será necessário: a sociedade comunista. No entanto, Marx, cuja obra seria um grande desafio para os cristãos do século

XX,

O que estava um período a forma .Já vos

passou claro

relativamente

era que a ordem

de grande

fluidez,

in adve r ti d o no século social

e que o que estava

futura da vida humana. no fim do século XIX, na obra

desafios

começaram

a aparecer.

ocupado em diversas disciplinas, cionamento da mente humana, subconscientes.

Com

estava

de Sigmund Depois

de

XIX.

passando

por

em jogo

era

Freud, longos

noanos

Freud interessou-se pelo funparticularmente em seus níveis

base em muitos

anos de observação,

ele

chegou à conclusão de que a mente humana é guiada, não somente por aquilo que se percebe conscientemente, mas também por elementos que nunca surgem no nível da consciência. Isto é particularmente certo em relação a experiências e instintos que, por pressão social ou por outra razão, a mente reprime, mas não consegue destruir. Os instintos do sexo e da opressão, por exemplo, continuam atuando na mente, mesmo quando são reprimidos. Tudo isto abriu novos horizontes para a ciência psicológica, e também para a Teologia, particularmente no que se refere à doutrina do pecado e, em um nível mais prático, ao cuidado das almas. Embora tenham vivido no século Freud se fizeram sentir principalmente

XIX, tanto Marx no século XX.

quanto Porém,

ambos são exemplos do que estava acontecendo em seu tempo, quando se começou a aplicar o raciocínio científico, já não apenas ao conhecimento da natureza, mas também ao conhecimento da sociedade e da psicologia humanas. Por isso, é no século nomia,

XIX que têm Antropologia

disciplinas trabalhar.

raízes as disciplinas como Sociologia, Ecoe Psicologia. E foi no contexto dessas

que os teólogos

do século

XX se viram

obrigados

a


Horizontes

A teologia

Intelectuais:

A Teologia

Protestante

- 95

de Schleiermacher

No volume anterior, ao tratar do racionalismo, vimos como a obra de Kant pôs fim ao racionalismo do século XVIII. Se a "razão pura", ao ser aplicada a questões como a existência de Deus e da alma,

ou da vida depois

cos sem saída, que caminho seguirá e de outras questões de importância pensamento

se encontram

da morte,

só chega a be-

a teologia, ao tratar destas vital? Se as estruturas do

na própria

mente,

e não

necessa-

riamente fora dela, como haveremos de falar das últimas realidades? Para responder a estas perguntas, havia três caminhos

Schleiermacher possíveis. seguiram

E,

visto

que

no

ora este, ora aquele,

tes nos interessaremos A primeira

consiste

século

XIX

houve

teólogos

que

nesta seção e nas duas seguin-

nessas três soluções em buscar

outro

possíveis. ponto

de apoio

para


96 - A Era dos Novos Horizontes a religião,

que

não

seja

a razão

pura.

O próprio

Kant,

como

vimos, tentou fazer isto em sua Crítica da razão prática. Segundo ele, equivocamonos ao pensar que a religião é basicamente uma questão intelectual, pois de fato a religião encontra seu lugar, não no que é puramente racional, mas no que é ético. Nós, seres humanos, somos com base nessa moralidade inata

por natureza seres morais, e é possível provar a existência

de Deus e da alma, a imortalidade, a liberdade e a vida futura. Em certo sentido, o que Kant fez aqui foi tratar de salvar alguma coisa do parecia destruir.

racionalismo cristão E o fez, procurando

que a sua obra anterior para a religião um ponto

de apoio fora dos limites da "razão pura". Algo semelhante foi o que fez Friedrich nos princípios

do século

XIX,

embora

na razão, seja esta "pura" ou Schleiermacher nasceu e foi criado mado

de tendências

morávias,

Schleiermacher

baseando

a religião,

"prática", mas no no lar de um pastor

que colocou

não afeto. refor-

a educação

de seu

filho nas mãos dos morávios. Embora Schleiermacher fosse reformado, o impacto do pietismo morávio pode verificar-se em toda macher época

a sua teologia. passou

por

De qualquer

um período

fez com que lhe fosse

fundamentais

do cristianismo.

a sair de tal situação.

forma,

o jovem

Schleier-

em que o racionalismo

difícil

aceitar

várias

Foi o romantismo

O romantismo,

de sua

das doutrinas

que conseguiu

que o ajudou grande

su-

cesso precisamente durante a juventude de Schleiermacher, afirmava que o ser humano era muito mais do que a razão fria e calculista,

e, com

base nessa percepção,

Schleiermacher

co-

meçou a sair das dificuldades em que o havia colocado o racionalismo. A sua primeira obra importante, Discursos sobre a religião dirigidos às pessoas cultas que a desprezam (1799), foi precisamente uma tentativa de mostrar a um auditório profundamente imbuído do romantismo que a religião devia ocupar um lugar importante na vida humana. Nessa obra, o argum ento fu nda me nta I de Sch leie rm ache r é q ue a relig i ão não é um conhecimento, como pretendem tanto os racionalistas como os ortodoxos mais ferrenhos, nem é tampouco uma moral. A religião

não se baseia

na razão pura,

nem tampouco

na razão

prática ou moral, mas no afeto (em alemão, Gefühl). Embora nos seus Discursos Schleiermacher não tenha clarecido

o conteúdo

exato

desse

"afeto",

ele

es-

o faz em sua

obra mais madura, A doutrina da fé. Ali se vê claramente que o "a feto" religioso não é uma coisa sentimental, nem ao menos


Horizontes

uma emoção

passageira,

mentaneamente, permite tomar

Intelectuais:

A Teologia

ou uma experiência

mas é, antes, o sentimento consciência de modo direto

quele que é a base de toda a existência, do mundo que nos rodeia. Sobretudo,

Protestante

que aparece

- 97

mo-

profundo que nos da existência dA-

tanto a nossa como a este "afeto", embora

não se baseie nas faculdades racionais nem no sentimento moral, tem conseqüências importantes tanto na exposição racionai como na responsabilidade ética. E também não se trata de um afeto

de caráter

fico é um sentimento

indefinido,

mas o seu conteúdo

de dependência

especí-

absoluta.

Além disso, esse afeto religioso toma forma específica em cada comunidade religiosa, cuja função é comunicar a experiência constitutiva da comunidade, de tal forma que todos possam participar do mesmo afeto. No caso de Schleiermacher, o que o interessa é a comunidade protestante, que, segundo ele, se baseia em dois momentos históricos fundamentais: Jesus e o impacto que Ele causou em seus primeiros discípulos, por um lado, e a Reforma do século XVI, por outro. A função da teologia está em expor o que este sentimento de dependência subentende, tanto em nossas relações com o mundo

em nosso próprio ser, como e com Deus. Portanto, tudo

o que não se relacione com esse sentido de dependência não tem lugar verdadeiro na teologia. Tomemos, por exemplo, a doutrina

da criação.

sentimento

Esta

doutrina

de dependência,

somente nossa, Negar a criação

pois

é importantíssima indica

para

que a existência,

o

não

mas de tudo quanto existe, depende de Deus. seria negar a dependência, que é parte funda-

mentai do afeto religioso cristão. Mas isto não quer dizer que tenhamos que afirmar um modo particular de criação. A narrativa

da criação

da maneira

como

aparece

em Gênesis

pode

ser

ou não um fato histórico - o próprio que o fosse - mas, em todo caso, não teologia deva se ocupar, pois o modo acontecer não tem implicação alguma

Schleiermacher não cria é uma questão da qual a por que a criação veio a para o nosso sentimento

de dependência.

de Moisés

certas, cher,

reveladas "os

dados

Embora de

um

específicos

as histórias modo

sobrenatural,

nunca seriam

ten ham

diz

artigos

sido

Schleierma-

de fé em nos-

so sentido da palavra, porque o nosso sentimento de dependência absoluta não recebe deles nenhum novo conteúdo, nem uma nova forma, nem uma definição mais clara". E o mesmo deve se dizer de outras questões, tais como a existência dos anjos, de Satanás, etc. Pelas mesmas razões, a distinção entre


98 - A Era dos Novos Horizontes

o que é natural e o que é sobrenatural porque se oponha à ciência moderna, ção

limitaria

àqueles

o

nosso

momentos

sentimento

ou lugares

deve ser rejeitada, não mas porque essa distin-

de

dependência

de

em que se manifestam

Deus

as coisas

sobrenaturais. O caráter de nossa dependência, que é absoluta em todo momento, não permite que façamos essas distinções. Deste modo, insistindo em que a religião não é conhecimento' Schleiermacher pode interpretar as doutrinas fundamentais do cristianismo, de tal maneira que não se oponham à ciência.

A questão

importância conta tratar

do modo

nenhuma

da ciência. da criação

para

exato

por que

a teologia,

que

Deus cria pode

não tem

deixá-Ia

por

Mas ao mesmo tempo a ciência não pode em seu verdadeiro sentido, ou seja, como

afirmação de que tudo quanto existe depende de Deus. O impacto de Schleiermacher foi grande. Em uma época em que muitas

pessoas

diziam

sado, as igrejas ficavam bretudo Schleiermacher posteriores, alemão".

o

sistema

a ponto

cheias deixou

que a religião

era coisa do pas-

quando ele pregava. Mas soo seu selo sobre as gerações

de ser chamado

de "pai

do

liberalismo

de Hegel

O segundo caminho que ainda estava aberto como conseqüência da obra filosófica de Kant era concordar com ele na afirmação de que a mente imprime nhecimento, mas depois, em lugar

o seu selo sobre todo de declarar que isto

code-

monstra os limites da razão, afirmar o contrário, que a razão é a própria realidade. A razão não é algo que esteja em nossas mentes, e que então empreguemos para entender a realidade. Não. A razão é a realidade, a única realidade que existe. Este foi o caminho tomado por George Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), que começou a sua carreira intelectual ocupando-se particularmente da teologia, mas depois chegou à conclusão de que o modo pelo qual ele havia concebido a teologia era demasiadamente estreito, pois devia procurar meios pelos quais pudesse entender não só o fenômeno religioso, mas também toda a realidade. E era necessário realidade, não como uma série de elementos

entender díspares,

essa mas

como uma unidade, como em várias de suas obras,

ciências Hegel

filosóficas

propõe

um todo. Isto foi o que Hegel propôs particularmente na Enciclopédia das em compêndio, publicada em 1817. O que

é a identificação

da razão

com a realidade.

Não


Horizontes

se trata

simplesmente

Intelectuais:

A Teologia

de que a razão

possa

Protestante

entender

- 99

a reali-

dade, ou que a realidade estabeleça limites à razão. Trata-se, antes, de que a razão é a realidade, e a única realidade é a razão. "O que é racional existe, e o que existe é racionai". Contudo,

ao falar

em "razão"

Hegel

não se refere

ao en-

tendimento estático, à idéia fixa e determinada, mas ao próprio processo que é o pensar. Ao pensar, não nos colocamos diante de uma idéia fixa, para contemplá-Ia. Pelo contrário, propomos uma idéia, examinamo-Ia ou negamos com outra idéia ceira

idéia

que

inclui

o que

de tal modo que a superamos e, por fim, chegamos a uma terhá de valor

nas duas

anteriores.

Este processo de propormos uma idéia ou "tese", de questioná-Ia mediante uma "antítese" e de chegar por fim, a uma "síntese", é a razão. Trata-se então de uma razão dinâmica, de um processo,

de um movimento

que avança

constantemente.

Essa razão não é tampouco minha mente. A razão universal,

algo que exista unicamente na o Espírito, como a chama He-

gel, às vezes

Tudo

é a realidade

não esse pensar,

dia lético

toda.

e dinâmico,

quanto

existe

não é se-

do Espírito.

Sobre esta base Hegel construiu um imponente sistema em que pretendia incluir toda a história como o pensamento do Espírito. As diversas cos, as diversas ordens mentos no pensamento

religiões, os diversos sistemas filosófisociais e políticas, não passam de modo Espírito. E, nesse pensamento, nada

que aconteceu é negado, mas é superado e incluído em uma nova síntese. Assim, o presente inclui todo o passado, pois o resume, e todo o futuro, que não deverá ser nada mais do que o desenvolvimento racional do presente. Hegel estava convencido de que o cristianismo era "a religião absoluta". Mas isso não se deve, segundo Hegel o entendia, ao fato de o cristianismo ser a negação das demais religiões, mas, ao contrário, ao fato de que é a sua culminação, na qual se resume o pensamento que se foi desenvolvendo em todo o progresso religioso da humanidade. O tema fundamentai da religião é a relação entre Deus e o ser humano. E essa relação chega ao seu ponto culminante na doutrina cristã da encarnação, em que Deus e o ser humano se unem completamente.

Essa unidade,

giões desde o princípio, doutrina da enca rnação. idéia

que estava aparece

implícita agora

em todas

as reli-

em sua plenitude

De igual modo, a doutrina da Trindade é a culminação de Deus, pois afirma o caráter dinâmico da realidade

na da fi-


100 - A Era dos Novos Horizontes

n al. A dialética trinitária apresenta idéia eterna, em si e por si, mesmo

três movimentos. independentemente

Deus é do de-

senvolvimento da realidade racional no que chamamos de criação. Este é o "reino do Pai", que não é outra coisa senão Deus considerado

em si mesmo.

O "reino

do

Filho"

é o que

nor-

malmente chamamos de "criação", ou seja, o mundo no espaço e no tempo, e culmina com a encarnação de Deus, que mostra a identificação entre o ser humano e Deus. O "reino do Espírito" é o que se segue à encarnação, à união entre Deus e a humanidade, e se manifesta na presença de Deus na comunidade.

Tudo

isto é o "reino

na vida ética alto conceito).

de Deus",

que se realiza

na história,

e na ordem do estado (Hegel tinha o estado em Assim surge uma filosofia completamente livre,

que não precisa sujeitar-se a dogmas, mas que, graças ao Espírito, cujo pensamento é toda a realidade, pode sobrepor-se a todas

as limitações de sistemas parciais. Este amplo esquema da realidade,

controu

inúmeros

admiradores.

que Hegel

Por fim,

parecia

propôs,

en-

que a huma-

nidade havia conseguido ver a totalidade em seu conjunto. E os seq u id o r es de Hegel se dedicaram a mostrar como diversos elementos

da realidade

se encaixavam

dentro

do grande

ma hegeliano. De certo modo, as teorias de Darwin, em meados do século, são expressão do dinamismo aplicado

às ciências

alcançado namarquês

naturais.

Foi como

protesto

"agora

contra

o êxito

pelas idéias de Hegel, que o filósofo e teólogo diSõr e n Kierkegaard, de quem nos ocuparemos a se-

guir, zombou do otimismo dos hegelianos, mente que todos os problemas estão a ponto dos,

siste-

expostas de Hegel

que o Sistema

está completo

tará completo até domingo que vem". Por outro lado, o sistema de Hegel

dizendo de serem

jocosaresolvi-

ou, se não está, esteve

impacto,

mesmo

entre as pessoas que não o aceitaram, porque os obrigou a levar a sério a história. A partir de Hegel, a história não seria um interesse secundário para as pessoas que não se interessavam por realidades eternas, mas seria o lugar em que as realidades eternas se tornariam conhecidas. Esta perspectiva, que é eminentemente bíblica, nós a devemos a Hegel e em geral ao século XIX. A obra de Kierkegaard Um dos mais interessantes personagens do século o dinamarquês Soren Aabye Kierkegaard (1813-1855).

XIX foi Criado


Horizontes

Intelectuais:

A Teologia

Protestante

- 101

em um severo lar luterano que lhe deixou marcas profundas, Kierkegaard sempre foi um personagem estranho. Fisicamente débil, e com um corpo moderadamente retorcido, desde menino ele se viu objeto de zombarias que não cessaram durante toda a sua vida. Porém, logo se convenceu de que os seus indubitáveis dotes intelectuais o chamavam a uma missão especial, e que diante dessa missão todos os outros interesses precisavam promisso

ceder. com

Foi assim a jovem

que ele decidiu

Regina

Olsen,

romper

a quem

o seu com-

amava

profun-

damente. O matrimônio, pensava Kierkegaard, o teria feito feliz, mas ao mesmo tempo o impediria de ser o cavaleiro solitário da fé, que se sentia chamado a ser. Anos depois, Kierkegaard compararia sua decisão de não se casar com Regina com a decisão

de Abraão

de sacrificar

seu filho.

E confessaria

tam-

bém que alguns de seus livros foram escritos "por causa dela". Diante do desafio de Kant, ficava aberto um caminho diferente daqueles de Schleiermacher e de Hegel: declarar que, embora

a razão

fosse

incapaz

de penetrar

a realidade

última,

a

fé pode fazê-lo. A "razão pura" de Kant não pode provar nem a existência de Deus, nem a sua inexistência; mas a fé conhece a Deus diretamente. sua racionalidade, gel, nem consiste como o pretendia

O cristianismo,

portanto,

tão de fé; de fé no D~us que se revelou sus Cristo. mais

não se baseia

na

nem faz parte de um sistema como o de Heem um sentimento de dependência absoluta, Schleiermacher. O cristianismo é uma ques-

Se isto fosse tudo, do que o sempre

nas Escrituras

e em Je-

Kierkegaard não estar ia dizendo disseram os que se .:-efugiaram

nada na fé

para não precisar enfrentar os desafios do momento. Essa "fé" suposta não o é, em verdade, diria Kierkegaard, pois a fé nunca é coisa fácil, nem tampouco é remédio para tornar a vida mais tranqüila. Pelo contrário, a fé é um risco, uma aventura, que necessariamente levará o ser humano à negação de si mesmo e dos gozos do mundo. É por isso que Kierkegaard condenou um dos mais famosos pregadores da sua época, dizendo que ...

Quando alguém conseguiu, mediante a pregação do cristianismo, todos os bens materiais pos stveis e todas as alegrias do mundo, dizer que é testemunha da verdade é tão ridículo como falar de uma virgem rodeada da multidão de seus filhos... Querer ter todos os bens e as vantagens do mundo, e ao mesmo tempo ser


102 - A Era dos Novos Horizontes

testemunha da verdade... não é apenas monstruoso, mas até impossível, como uma ave que seja ao mesmo tempo peixe ou um instrumento de metal feito de madeira. Para

Kierkegaard,

cristandade, tão. Alguém maometano. idéia acerca

a grande

negação

do cristianismo

é a

que se dedicou a tornar fácil a tarefa de ser crisé cristão simplesmente porque não é judeu nem Porém, o certo é que, precisamente por ter essa do que é ser cristão, na realidade se é pagão. Tal

cristianismo "barato", sem custo nem dor, é como os jogos de guerra, em que se movem exércitos e se faz ruído, mas não há risco nem dor. Mas também não há vitória. O que chamamos de "cristianismo", diz Kierkegaard, não passa de "brincar de cristianismo". E para essa brincadeira contribuem os que pregam o evangelho, dando a entender que ele é coisa fácil e atraente.

"Em

meia

hora,

com

o simples

gesto

de levantar

a

mão, se acerta todo o assunto da eternidade, e então se pode gozar a vida plenamente." Quando acontece tal coisa, se está cometendo o "crime da cristandade", que consiste em "brincar de cristianismo

e considerar

é que ninguém

percebe

ma, como

se a Palavra

como

Deus um bobo". é ridículo

tratar

E o mais trágico Deus dessa for-

de Deus não fosse cortante.

Na magnífica catedral, o Honorável e Mui-Reverendo-Superintendente-Geral-Pregador, o favorito escolhido das pessoas da moda, aparece perante um auditório seleto e prega emocionada mente sobre o texto que escolheu: "Deus escolheu os vis deste mundo, e os desprezados". E ninguém se ri! Em tais circunstâncias, Kierkegaard concebeu a sua missão como a de "tornar difícil ser cristão". Com isto ele não queria

dizer

que ia persuadir

tava equivocada. que lhes haviam

as pessoas

de que a fé cristã

Não, mas ia persuadir-lhes pregado e ensinado estava

es-

de que a fé fácil muito distante da

verdadeira fé. Em outras palavras, que para ser verdadeiramente cristão é preciso informar-se do preço da fé, e pagar esse preço. Sem isso, pode-se ser membro da cristandade, mas não se é cristão. O verdadeiro cristianismo é questão da própria existência do indivíduo, e não somente do intelecto. Este é o ponto principal em que Kierkegaard se vê obrigado a rejeitar o sistema de


Horizontes

Hegel,

ao qual

Hegel

e seus

edifício

chama

no qual

não

A Teologia

sarcasticamente

seguidores

essa existência

Intelectuais:

fizeram

há lugar

que acontece

de "o

foi

para

Protestante

Sistema".

construir

um

a existência

em meio

- 103

O que

imponente

humana,

para

dúvida

e de-

a angústia,

sespero. É como quem constrói uma linda mansão e passa a viver em seu estábulo, porque a mansão é tão luxuosa que ele não se sente bem nela. Esta ênfase na prioridade da existência em relação à essência que valeu a Kierkegaard "fundador do existencialismo", embora os seus posturas diferissem modernos.

muito

dos de boa parte

o título de interesses e

dos existencialistas

A existência é uma luta constante, uma luta por vir a ser, por nascer. E isto quer dizer que, ao colocar a existência no centro, é necessário abandonar, não apenas o sistema de Hegel, mas também todos os outros quer dizer que não existe nenhum realidade tema

é um sistema

para quem

tência

Todavia, cristã.

sistemas. "Será que isto sistema? Não ... A própria

- para Deus, mas não pode ser um sis-

está no meio da existência."

a existência E la também

que importa a Kierkegaard é a exisnão pode ser reduzida a um sistema.

E a tragédia da cristandade, do cristianismo fácil, é que a existência cristã deixou de ser uma aventura e um risco constante na presença de Deus, para se converter em uma moral ou em um sistema de doutrinas. Daí o que Kierkegaard chamaria de grande problema: como no meio da cristandade.

o

cristianismo

chegar

a ser cristão

quando

se vive

e a história

O interesse na história, que vimos no rru cro deste capítulo, e que encontrou o seu grande expoente filosófico em Hegel, influenciou

também

bíngia, o erudito desenvolvimento esquema raiz

do

de Novo

os estudos

F. C. Baur da teologia

Hegel.

Para

Baur

Testamento

bíblicos

e teológicos.

(1792-1860) dedicou-se do Novo Testamento e seus

encontra-se

seguidores, o conflito

Em Tua expor segundo

o o

na própria entre

o cris-

tianismo judaizante de Pedro e os interesses mais universais de Paulo. E esta tese e antítese se resolvem em uma síntese que, para alguns, é o Quarto Evangelho e, para outros, o cristianismo do século II. Além desenvolvimento teológico que este ou aquele atribu ído.

livro

disso, com base neste esquema do da igreja antiga, alguns disseram

não podia

datar

da época

a que era


104 - A Era dos Novos Horizontes

Isto, por sua vez, levou a grandes debates entre eruditos, acerca de mil questões relacionadas com a literatura bíblica; por exemplo, quem escreveu talou qual livro, e em que data, ou se o livro

em si é obra

de um só autor,

ou de vários.

meio a esses debates, muitos sentiram que a sua fé foi çada. Outros procuraram redefinir o que era a fé cristã. co a pouco se foram desenvolvendo melhores métodos tudo bíblico que, posteriormente, ajudariam e entender a Bíblia. Igreja.

Em

ameaE poude esmelhor

Algo semelhante aconteceu com os estudos de história da A idéia de que as doutrinas cristãs se haviam desenvol-

vido apossou-se da mentalidade do século XIX. Para alguns, essa evolução não era nada mais do que um desenvolvimento do que já estava implícito na mensagem original. como o famoso historiador Adolph von Harnack viam na história dos dogmas da Igreja o abandono da mensagem

original

de Jesus,

Mas outros, (1851-1930), progressivo

que não era acerca de Jesus.

Segundo Harnack, o que Jesus pregou foi a paternidade de Deus, a fraternidade universal, o valor infinito da alma humana e o mandamento do amor. Foi de po ls, por um processo que levou anos, que Jesus veio a ser o centro da mensagem. Boa parte destas idéias de Harnack foram emprestadas de um dos mais influentes teólogos do século XIX, Albrecht Ritschl (1822-1889), a quem Harnack chegou a chamar de "o último dos pais da igreja". Semelhantemente a Schleiermacher, Ritschi respondeu ao desafio de Kant, colocando a religião em uma esfera diferente da "razão pura" ou especulativa. Mas Ritschl não podia concordar com Schleiermacher, cuja insistência no "sentimento de dependência absoluta" lhe parecia demasiado subjetivista.

Segundo

Ritschl,

a religião,

e muito

particular-

mente o cristianismo, não é uma questão de especulação racionai, nem de sentimento subjetivo, mas de vida prática. O racionalismo especulativo é demasiadamente frio, e não obriga a quem segue esse caminho a um compromisso de fé. O misticismo, por outro lado, é subjetivo e individualista, e presta pouca atenção à necessidade de uma comunidade de crentes. Contudo, o cristianismo precisa ser prático também no sentido de que se deve basear no conhecimento prático dos acontecimentos e, em particular, do acontecimento de Jesus. O importante é a revelação de Deus dada na história, na pessoa de Jesus Cristo. Quando a teologia esquece este fato, cai no racionalismo

ou no misticismo.

Este estudo

histórico,

segundo


Horizontes

"organização

da

Foi

A Teologia

Protestante

- 105

à conclusão de que o centro dos ensinameno Reino de Deus, e a ética do Reino, que é a

Ritschl, leva-nos tos de Jesus foi amor".

Intelectuais:

em

humanidade virtude

mediante

desses

a ação

ensinamentos

inspirada

no

Ritschl

deu

que

impulso ao pensamento de Rauschenbush sobre o evangelho social, a que nos referimos anteriormente (no capítulo I). Tudo isto resultou no que foi chamado de "a busca do Jesus histórico". Por trás do Jesus da fé, a quem a igreja adora, se pensava, e mesmo por trás dos Evangelhos, havia um Jesus histórico a quem é necessário redescobri r para se saber ou conhecer a ciência correta que é o cristianismo. ca se dedicaram muitos eruditos. Posteriormente, pios do século XX, Schweitzer, famoso músico e teólogo, declarava que, afinal busca do Jesus supostamente histórico em encontrar um homem do século XIX, trado,

mas

sim

a sua

própria

A esta busnos princí-

missionário, médico, de contas, toda essa havia se empenhado e não o havia encon-

imagem.

Portanto,

declarava

Schweitzer, "é bom que o Jesus histórico de verdade deponha o Jesus moderno, se levante contra o espírito moderno e traga sobre o mundo não paz, mas espada ... A quem o obedecer, quer sábios, quer ignorantes, Ele se dará a conhecer nas lutas, conflitos e sofrimentos que eles deverão passar em sua companhia e, com mistério inefável, saberão por experiência própria quem

é Ele".

Os teólogos

que

mencionamos

neste capítulo

alguns

dos muitíssimos

que poderiam

século

XIX

períodos

foi

um

em toda a história para nos dar uma opiniões lectual

dos

de maior

atividade

do cristianismo. Mas estes idéia da enorme variedade

que surgiram

no protestantismo,

que essa diversidade

manifesta.

são apenas

ser mencionados,

pois o

teológica

poucos bastam de posições e

e da vitalidade Naturalmente,

inte-

em toda

essa agitação se expuseram idéias e opiniões que logo precisariam ser corrigidas. Mas o fato é que, com todos os erros de que

ela possa

ser acusada,

que o protestantismo tuais do momento.

a teologia

não temia

do século

enfrentar

XIX

mostrou

os desafios

intelec-


V Horizontes Intelectuais: A Teologia Católica Estamos horrorizados, veneráveis irmãos, ao ver as monstruosas doutrinas, ou melhor, os enormes erros que nos oprimem. São amplamente disseminados por uma multidão de livros, panfletos e outros escritos pequenos no tamanho, mas grandes em sua maldade. Gregório XVI

Enquanto

muitos

nho do liberalismo, os seus teólogos outro

que

lhes

teólogos

desse

livre

entende, se recordarmos passou durante o período

o

protestantes

seguiam

o cami-

a hierarquia católica procurava evitar que seguissem o mesmo caminho ou qualquer acesso

às idéias

modernas.

as grandes vicissitudes que estamos estudando.

papado e a Revolução Francesa Ao estourar a Revolução Francesa,

papal. Muito antes, em 1775, este pontificado publicando uma bula,

Pio VI ocupava

papa onde

Isto

se

que o papado

o trono

havia começado o seu atacava as idéias dos

filósofos que advogavam uma nova ordem social. Portanto, desde os primórdios da Revolução, o papa fez tudo o que pôde para impedir o seu progresso. Isto dificultou sobre a Constituição civil do clero, a que nos riormente. esforçou-se

Como para

resposta, debilitar

o governo o papado,

as negociações referimos ante-

republicano não apenas

da França na França,

onde se promulgou o "culto ao Ser Supremo", mas também na própria Roma, onde agentes franceses semeavam idéias republicanas.

Em 1789, os franceses

ocuparam

militarmente

a cida-


Horizontes

de de Roma, estava

onde

deposto

Intelectuais:

proclamaram

o papa

como

A Teologia

a república soberano

Católica

e declararam

temporal.

Este

- 107

que ficou

praticamente prisioneiro dos franceses, e morreu no ano seguinte. Com a proteção do imperador Francisco II da Áustria, inimigo

da França,

os cardeais

reuniram-se

então

em Veneza

e

elegeram Pio VII como papa. Eram os anos em que Napoleão subiu ao poder, e posteriormente, em 1801, a França assinou com o papa o acordo a que nos referimos anteriormente. Embora

Napoleão

não fosse

pessoa

religiosa,

ele não via a neces-

sidade de desperdiçar as suas forças em conflitos com o papado e, por isso, Pio VII, restaurado em sua sede romana, pôde reinar

em relativa

Papa viajou para perador, embora soluta,

tivesse

calma

por algum

tempo.

No fim

de 1804, o

Paris, a fim de consagrar Napoleão como este último, em sinal da sua autoridade

tomado

a coroa

das mãos

imab-

do papa e a tivesse

ele mesmo colocado na cabeça. Mas, no ano seguinte, o então imperador se fez coroar também rei da Itália, e as suas tropas invadiram de novo a Península. Em 1808, ocuparam elas a cidade de Roma. O papa, negando-se a fugir, excomungou a todos os que fizeram

violência

contra

a igreja,

e foi levado

para o

desterro pelos exércitos vitoriosos. Ali ficou, até que a queda de Napoleão em 1814 permitiu que voltasse para Roma, onde a sua primeira ação foi proclamar o perdão a todos os seus inimigos. A mesma coisa fez pelo derrotado Napoleão, em favor de quem intercedeu diante das potências vencedoras. Pio VII morreu em 1823, dois anos depois que Napoleão, e Leão XII o sucedeu. Tanto ele como seus sucessores Pio VIII e Gregório XVI puderam reinar em relativa paz. Mas sempre a memória da Revolução Francesa fez com que eles se sem para o conservadorismo político e teológico. Por petidamente eles condenaram o catolicismo liberal, curava somar-se às novas correntes políticas. O caso

inclinasisso, reque promais no-

tável foi o do teólogo Félicité Robert de Lamennais, que se havia distinguido por seus ataques contra os intentos de Napoleão de governar sobre a igreja. Depois de uma complicada peregrinação intelectual, Lamennais chegou à conclusão de que os monarcas absolutos sempre procurariam governar a igreja çar-se apoio vogar

e que, portanto, em

um

esforço

o que os cristãos em

prol

deviam

da liberdade

fazer política,

era lancom

o

e sob a direção do papado. Para isso, o papa devia ada liberdade de imprensa, que seria a vanguarda da nova


108 - A Era dos Novos Horizontes

ordem. Se o papa se convencesse desse projeto, pensava Lamennais, a igreja poderia reclamar o seu devido lugar na nova ordem. Enquanto Lamennais se limitou a atacar aqueles governos que não respeitavam as prerrogativas da igreja, Roma viu nele o seu grande campeão, e portanto Leão XII até chegou a pensar em torná-lo cardeal. Mas quando Lamennais começou a advogar uma aliança entre o papado e o liberalismo político, perdeu o apoio de Roma, que ainda tremia diante da recordação da Revolução Francesa. Lamennais foi para Roma com a esperança de convencer o Papa, mas este, na época Gregório XVI,

condenou

então,

as suas

abandonou

idéias

o seio

em duas

da igreja,

encíclicas.

e junto

Lamennais,

com

ele

saíram

muitas outras pessoas que tinham idéias democráticas. Enquanto acontecia tudo isto, na Itália ia aumentando o sentimento nacionalista, que sonhava com a unidade nacional. Uma

facção

centro

importande

ao redor

o medo

que

do qual

os papas

desse devia tinham

movimento

se formar de tudo

via

a nova o que

no

papado

nação.

pudesse

o

Porém, parecer

sedição, e seu desejo de agradar os monarcas absolutos do resto da Europa, que tinham interesse em ver a Itália dividida, fizeram com que logo o movimento nacionalista tomasse rumos opostos

aos interesses

Pio IX O pontificado

de Pio

dos papas.

IX (1846-1878),

o mais

extenso

de

toda a história, foi um tempo de paradoxos para o papado. O principal deles foi que, ao mesmo tempo que os papas perdiam definitivamente o seu poder temporal, promulgava-se a sua infalibilidade. A revolução de 1848, que sacudiu boa parte da Europa, se fez sentir também em Roma, onde, no ano seguinte, proclamou-se a República Romana. Foi necessária uma nova intervenção por parte da França, desta vez a favor do papa, para que este pudesse reg ressar a Roma. Depois da sua restauração, em lugar de dar continuidade a algumas das liberdades introduzidas

pelos

republicanos,

Pio IX procurou

como soberano absoluto. Ao mesmo choque com Cavou r, o alto funcionário

governar

tempo, ele entrou em do Reino de Piemonte,

cuja política era a unificação da Itália. O papa se aliou à Áustria, enquanto que Cavou r recorreu aos franceses. Depois de complicadas vicissitudes, as quais não precisamos recordar aqui, as tropas do Reino da Itália tomaram os estados pontifícios

no dia 20 de setembro

de 1870.

Embora

o papa

se tenha


Horizontes

Intelectuais:

A Teologia

Católica

- 109

Pio IX negado

a aceitar

o fato

temporal do papado, ao Vaticano e outros nha tomavam-se

consumado,

esse foi

o fim

do poder

cuja autoridade soberana ficou limitada dois palácios. Enquanto isso, na Alema-

medidas

contra

o poderio

da igreja,

e outras

potências européias seguiam o exemplo de Bismarck. Portanto, o pontificado de Pio IX marca o fim do poder político dos papas, que havia conseguido o seu apogeu no século XIII, sob o pontificado de I nocêncio II I. va-se

Ao mesmo tempo em que Pio perdia o seu poder, esforçapor afirmá-lo, embora apenas em matérias puramente re-

ligiosas. Assim, em 1854, ele mesmo proclamou o dogma da imaculada conceição de Maria. Segundo este dogma, a própria Maria,

em virtude

de sua eleição

para ser a Mãe do Salvador,

foi preservada de todo pecado, inclusive do pecado original. Este era um ponto que os teólogos católicos haviam debatido durante séculos, e sobre o qual nunca houve consenso absolu-


110 - A Era dos Novos Horizontes

to.

Porém,

o importante,

do ponto

ao declarar igreja, Pio

que a imaculada IX foi o primeiro

si mesmo,

sem a ajuda

bula

Ineffabilis,

ceição

de

pela

Maria,

de nenhum

qual

foi

um

de vista

histórico,

foi que,

conceição de Maria era dogma da papa a promulgar um dogma por

Pio

concílio.

IX promulgou

ensaio

para

ver

De certa

forma,

a imaculada que

reação

a

conhaveria

diante da idéia de que o papa podia promulgar sozinho um novo dogma. Visto que a bula não provocou maiores protestos, o cenário estava pronto para a promulgação da infalibilidade papaI. Enquanto isso, o papa não cessou sua luta contra as novas idéias que se iam fazendo sentir em toda a Europa e América. Em 1864, publicou ele a encíclica Quanta cura, que estava acompanhada de uma lista ou Sflabo de erros, condenando oitenta proposições modernas que os católicos não podiam aceitar. Visto que esta lista mostra o espírito do papado no século XIX, vale a pena citar alguns dos erros que nela são condenados: 13) Que o método e os princípios, mediante os quais antigos doutores escolásticos cultivaram a teologia, não adaptam

às necessidades

de hoje

nem

ao progresso

os se

das ciên-

cias; 15) Que cada ser humano que lhe pareça

verdadeira,

pode adotar

segundo

e seguir

a religião

a luz da razão;

18) Que o protestantismo é nada mais do que uma forma diferente da mesma religião cristã, em que é possível se agradar a Deus tanto como 21) Que a igreja que a religião 24) Que

na verdadeira Igreja Católica; não pode determinar dogmaticamente

da Igreja Católica a igreja não tem

é a única verdadeira; autoridade para usar

de força.

nem tem nenhum poder temporal, seja direto ou indireto; 30) Que a imunidade da igreja e das pessoas eclesiásticas se baseia na lei civil; 37) Que podem ser instituídas igrejas nacionais, separadas e completamente independentes do pontífice romano; 38) Que a conduta arbitrária dos pontífices romanos contribuiu

para a divisão entre a igreja oriental o governo das escolas

45) Que todo educa

a juventude

de um Estado

cristão,

e a ocidental; em que se

públicas

com a única

e parcial

exceção dos seminários, pode e deve ficar nas mãos do poder civil, de tal modo que não se permita que outra autoridade se


Horizontes

intrometa concessão

Intelectuais:

A Teologia

Católica

- 111

no governo das escolas, a direção dos estudos, de títulos ou a escolha e aprovação dos mestres;

a

47) Que a melhor ordem da sociedade civil requer que as escolas públicas, abertas para crianças de todas as classes, e em geral todas as instituições públicas que se dedicam a ensinar literatura

e ciência,

e a educar

a juventude,

estejam

livres

de toda autoridade por parte da igreja, de toda sua influência moderadora, e fiquem sujeitas unicamente à autoridade civil e política, de modo que sejam conduzidas de acordo com as opiniões dos governantes civis e a opinião comum da época; 55) Que a igreja deve ser separada do Estado, e o Estado da igreja. 77) Que em nossos tempos já não é mais conveniente que a religião católica seja a única do Estado, nem que se excluam todos os outros cultos; 78) Que, portanto, deve se louvar o fato de que em alguns países católicos se permitiu, por lei, que os imigrantes pratiquem publicamente os seus próprios cultos; 79) Que é falso

que, se for

dada liberdade

civil

a todos

os

cultos, e se for permitido a todos declarar publicamente as suas opiniões e idéias, quaisquer que sejam elas, isso facilitará a corrupção

da moral

e das mentes,

diferentismo; e 80) Que o pontífice concordar derna.

com

romano

o progresso,

Como vimos, extenso pontificado

e difundirá

pode

e deve

o liberalismo

a praga

do in-

reconciliar-se

e a civilização

e mo-

o tom geral deste documento, e de todo de Pio IX, se opunha a inovações como

o a

separação entre a igreja e o Estado, a liberdade de cultos, a liberdade de imprensa, e as escolas públicas sob a supervisão do Estado. Ao mesmo tempo, o papa insistia em sua autoridade, e nos

males

que surgiriam

se a sua autoridade

não fosse

acatada. Tudo isto chegou ao apogeu no Primeiro Concílio Vaticano, convocado por Pio IX, que começou as suas sessões no fim de 1869. Em sua constituição promulgou a infalibilidade papal:

Pastor aeternus,

o Concílio

Visto que em nossos dias, quando mais do que nunca se requer o efeito saudável do ottcio apostólico, há não poucos que se opõem à sua autoridade, consideramos que é necessário afirmar solenemente a prer-


112 - A Era dos Novos Horizontes

rogativa a que o Filho Unigênito de Deus dignou unir o sumo offcio pastoral. Portanto, aderindo fielmente à tradição que vem desde o infcio da fé cristã, para a glória de Deus nosso Salvador, para a exaltação da religião católica, e para a saúde dos povos cristãos, com a aprovação do Sagrado Concflio, ensinamos e definimos como dogma revelado por Deus que o pontffice romano, quando fala ex cathedr a, quando define, por sua autoridade apostólica suprema como pastor e doutor de todos os cristãos, uma doutrina de fé ou de costumes que deva ser aceita pela igreja universal, tem, pela assistência divina que lhe foi prometida no bem-aventurado Pedro, aquela infalibilidade com que nosso divino Redentor quis que a igreja contasse, ao definir questões de fé ou de moral. Portanto, tais definições do pontffice romano são irreformáveis em si mesmas, e não em virtude do consenso da igreja. E se alguém (Deus não o permita) se atreve a contradizer esta nossa definição, seja anátema. Deste

modo

ficava

promulgada

a infalibilidade

do papa,

como doutrina da Igreja Católica. Note-se que o texto não indica que o papa seja sempre infalível, mas unicamente quando fala "ex cathedra". Estas palavras foram incluídas no texto da declaração

para responder

o papa Honório, tico. A resposta aceitar

uma

às objeções

dos que indicavam

por exemplo, havia incorrido a tal objeção seria então

doutrina

heterodoxa,

não o havia

que

em erro dogmáque Honório, ao feito

"ex

cathe-

dra", mas como pessoa particular. Em todo caso, dos poucos mais de seiscentos bispos presentes, 522 votaram a favor, dois se opuseram, e mais de uma centena se absteve de votar. A doutrina da infalibilidade papal não causou a oposição que era de se esperar. Na Holanda, Áustria e Alemanha, alguns católicos se separaram da comunhão romana e fundaram a Igreja

Católica

Antiga.

moderados. O que acontecia seu poder, o papado

Mas,

em geral,

os protestos

e críticas

foram

bate acerca

era que, tendo perdido grande parte do já não precisava mais ser temido. O de-

da autoridade

do papa

havia

dividido

os católicos,

particularmente na França, entre "gauleses" e "ultramontanos". Os primeiros eram os que insistiam nas antigas prerro-


Horizontes

gativas

da igreja

guardasse do partido autoridade

francesa,

Intelectuais:

A Teologia

e esperavam

que

Católica

o Estado

- 113

salva-

essas prerrogativas. Os ultramontanos, ou seja, os de "além dos montes", queriam a centralização da eclesiástica no papado. No Primeiro Concílio do

Vaticano, os ultramontanos pareceram haver ganho a disputa. Mas isto se deu porque o papado já havia perdido grande parte do poder real que os gauleses temiam. Prova disso é que a infalibilidade papal foi promulgada em 18 de julho de 1870, e no dia 20 de setembro do mesmo ano Roma capitulou diante das tropas do Reino de Itália, e o papado perdeu o seu poder temporal. Quanto a Pio IX, ele se declarou prisioneiro do rei Víctor Manuel,

e se negou

a aceitar

os fatos

consumados.

Além

do

mais, os papas haviam perdido o governo de Roma muitíssimas vezes, e sempre algum soberano havia acudido para restaurá-los. Mas nesta ocasião ninguém acorreu. Por fim, 1929 o papa - nessa ocasião Pio XI - aceitou oficialmente que havia sido realidade por mais de meio século. Leão XIII Ao papado excepcionalmente

de Pio

IX seguiu-se

extenso

o de Leão

(1878-1903).

Devido

XIII,

em o

também

às condições

políticas da Itália, Leão XIII, que continuava insistindo nos direitos temporais do papado sobre a cidade de Roma e seus arredores, proibiu que os católicos votassem nas eleições legislativas

do país. Esta proibição,

que continuaria

até bem de-

pois do início do século XX, em grande parte teve resultado contraproducente, pois fez muita falta o impacto que os católicos poderiam

ter causado

va nação italiana. Todavia, ao conservadora

durante

mesmo

na Itália,

tempo

os anos de formação em

Leão reconheceu

que

seguiu

da no-

esta

a necessidade

política de ceder

em outros campos. Assim, ele conseguiu que na Alemanha a política anticatólica de Bismarck fosse moderada. E na França, onde a Terceira República continuou uma política marcadamente anticlerical, o papa fez tudo adotar medidas conciliatórias. Em de aconselhar o clero francês que anti-republicana, e isto apesar de

Immortale Dei, ter declarado com a autoridade

da igreja.

o papa, ao mesmo

tempo

era moderna,

considerava

o que lhe era possível para 1892, ele chegou ao ponto abandonasse a sua atitude alguns anos antes, na bula

que a democracia era incompatível O que estava acontecendo era que

que procurava a autoridade

as novas papal

realidades

em termos

da

muito


114 - A Era dos Novos Horizontes

semelhantes a Pio IX, continuando a sonhar com uma sociedade católica, debaixo da direção de princípios formulados pelo papado. Isto de todo

pode

promulgada então pouco tre

ser verificado

o pontificado

de

no mais Leão,

importante

a sua

documento

Rerum novarum,

bula

em 15 de maio de 1891. O tema dessa bula, até tratado pelos papas, é a questão das relações en-

trabalhadores

e patrões.

que o desenvolvimento meça afi rmando que

Leão

reconhece

as dificuldades

do capitalismo havia delineado, e coo conflito presente pode ser verificado

"nas enormes fortunas de uns poucos indivíduos, e na pobreza extrema das massas". Por isso, é necessário lançar-se à difícil tarefa "de definir os direitos relativos e as obrigações mútuas dos ricos e dos pobres, do capital e do trabalho". Estas relações tornaram-se tanto mais tristes quanto nos tempos mo-. dernos desapareceram as antigas organizações trabalhistas, e "um pequeno número de homens muito ricos puderam colocar sobre as massas dos trabalhadores pobres um jugo que é só um pouco melhor do que o da própria escravidão". Embora seja um erro pensar que entre os pobres e os ricos não pode deixar

de haver

dos pobres

um conflito

precisa

merecer

de classes, uma atenção

é verdade

que a defesa

especial,

pois os ricos

têm muitas maneiras de se proteger, enquanto que os pobres não têm outro recurso senão a proteção do Estado. Por isso, as leis

precisam

direitos de todo

ser

de tal

dos pobres. trabalhador

forma

que

sejam

Em particular, deve-se a um salário que baste

salvaguardados

os

defender o direito para sustentá-lo e

à sua família,

sem que ele seja obrigado a trabalhar além dos limites justos. Tudo isto deve ser feito, porque "o próprio Deus parece inclinar-se a favor dos que sofrem infortúnio". Por outro as opiniões

lado,

dos

isto

não quer

socialistas,

pois

dizer

que devam

a propriedade

ser aceitas

privada

é um

direito estabelecido pelo próprio Deus, como também a herança. Ademais, as diferenças existentes na ordem social devemse, em parte humanos,

siguais". O que ricos

pelo

menos,

"e a fortuna o papa

pratiquem

a diferenças

desigual

pede,

a caridade.

então, Isto

naturais

é o resultado

é, em primeiro quer

dizer

entre

os seres

de condições lugar,

de-

que os

que ninguém

está

obrigado a dar o que lhe faz falta, não apenas para as suas necessidades mais imediatas, mas também para manter "a sua condição de vida". Porém, uma vez que essas necessidades


Horizontes

estejam sobrar". contra

satisfeitas,

"é

Intelectuais:

obrigação

dar

A Teologia

Católica

aos necessitados

- 115

o que

Os pobres, por sua parte, não devem ficar cheios de ódio os ricos, mas devem lembrar que a pobreza é um estado

honroso, rial.

e que a prática

leva à prosperidade

da vi rtude

mate-

Contudo, o papa sabe que isto não basta, e por isso, além do que mencionamos acima sobre a obrigação do Estado de defender os pobres, advoga a formação de sindicatos de trabalhadores, para defender os direitos dos operários. Estes direitos incluem não somente os salários e as horas de trabalho, mas também o direito de praticar a religião católica como é devido dicatos

e, portanto, Leão exorta em favor da formação de sincatólicos, nos quais não haverá inimizade e rixas que

existem gião.

quando

a pobreza

não conta

com a companhia

da reli-

Em conclusão, declara Leão XIII: "A condição das classes trabalhadoras é a questão mais urgente dos dias de hoje ... Mas será fácil aos trabalhadores cristãos resolvê-Ia corretamente, se formarem associações, escolherem sábios dirigentes e seguirem o caminho em que antes marcharam os seus pais, com tanto

proveito para si mesmos e para a sociedade". Esta encíclica deu novo alento aos muitos católicos

fazia

algum

problemas cente

tempo

estavam

apresentados

capitalismo.

procurando

pela revolução

Alguns,

chamados

solução industrial

à ação

que já

para os muitos por

e pelo

cres-

essa

bula,

mais tarde chegariam à conclusão de que as soluções por ela apresentadas eram demasiado simplistas. Outros enfatizaram os elementos mais conservadores desse documento, como, por exemplo, o fato de que os sindicatos devem ser católicos, para se oporem ao sindicalismo moderno. Portanto, a bula Rerum

novarum, que marcou tólico lência

o começo

contemporâneo, também de Leão a respeito destas A mesma

ambigüidade

do movimento é uma indicadora questões.

pode

ser verificada

trabalhista

ca-

da ambivana atitude

de

Leão XIII com relação aos estudos modernos. Este foi o papa que abriu os arquivos do Vaticano para o exame dos historiadores, convencido de que a verdade oriunda dos estudos históricos serviria para fortalecer, e não para debilitar a autoridade da igreja.

Ao mesmo

tempo,

havia

na Igreja

Católica

quem

aspirasse a realizar estudos históricos sobre a Bíblia, semelhantes aos que estavam acontecendo entre os protestantes na


116 - A Era dos Novos Horizontes

Alemanha

e na Grã-Bretanha. Deus, na qual

videntissimus

Este foi o tema da encíclica ProLeão afirmava o valor dos novos

estudos e descobrimentos acerca da Bíblia e da igreja. Portanto, os "modernistas" que advogavam uma liberdade maior no estudo crítico das Escrituras, tanto quanto os que se lhes opunham, cia. Pio

puderam

declarar

que a encíclica

papal

lhes favore-

X

O papa que sucedeu a Leão XIII, e que dirigiu os destinos da Igreja Católica até o começo da Primeira Guerra Mundial, foi

Pio X (1903-1914).

conservadora

A política

do novo

do que a de seu antecessor,

papa foi

muito

e aproximou-se

mais mais

da de Pio IX. O resultado foi um distanciamento maior das correntes da sociedade e pensamento modernos, por um lado, e o catolicismo ortodoxo, por outro. Sob a direção do papa, o Santo Ofício promulgou um decreto condenando muitas das pessoas que se haviam atrevido a aplicar os novos métodos de estudo his t r ico a questões teológicas e bíblicas. Estes eram os ó

chamados o francês

"modernistas", dos quais os mais famosos foram A. F. Loisy, o inglês George Tyrrell e o alemão Her-

mann Schell. Pouco depois, na encíclica Pascendi domini gregis, Pio X confirmou o que havia sido feito pelo Santo Ofício. O resultado

foi

que

muitos

dos

"modernistas"

deixaram

a igreja,

enquanto que um bom número de católicos aprendeu a sê-lo sem prestar demasiada atenção às declarações pontifícias ... Em resumo, durante os anos que vão desde a Revolução Francesa até a Primeira Guerra Mundial, o cristianismo, tanto protestante como católico, teve de enfrentar novas realidades políticas, econômicas, sociais e intelectuais. Em termos gerais, enquanto o protestantismo procurou meios pelos quais pudesse levar em conta essas realidades, e às vezes pelos quais pudesse adaptar-se ceções - seguiu XX começou,

a elas, o catolicismo um curso contrário.

as diferenças

entre

- com notabilíssimas exPor isto, quando o século

católicos

muito mais marcantes do que em qualquer incluindo o período da Reforma.

e protestantes período

eram

anterior,


VI Horizontes Geográficos: O Século do Colonialismo Afirmo que somos a primeira raça do mundo, e que quanto maior for a parte do mundo que povoemos, mais se beneficiará a humanidade. Cecil Rhodes

Desde o fim viam duas

do século

XV, varias

nações

européias

se ha-

lançado à empresa da colonização do resto do mundo. As potências que tomaram a iniciativa foram Espanha e

Portugal, e à sua expansão colonizadora e missionária dedicamos nossa atenção no volume VII desta história. Nos meados do século XVI, segundo registramos ali, a Grã-Bretanha começou também

suas atividades

América

do

Norte

Portugal

começavam

e, portanto,

colonizadoras,

particularmente

e no Caribe.

Ao mesmo

a perder

sua hegemonia

a sua expansão

colonial

ram em cena, dinamarqueses.

além dos britânicos, Portanto, durante

sas potências versas regiões

foram estabelecendo do globo.

tempo, sobre

se deteve.

na

Espanha

e

os mares

Então,

entra-

os franceses, holandeses e os séculos XVII e XVIII, esenclaves

coloniais

em

di-

O propósito dessa colonização não era a conquista militar, ao estilo dos espanhóis no México, mas o estabelecimento de relações comerciais. Por exemplo, o que os ingleses desejavam tros

não era criar um vasto império povos a aceitarem seu idioma

feito criar

os espanhóis as condições

britânico, nem forçar oue religião, como haviam

e portugueses. O seu objetivo era, antes, necessárias para que posteriormente se pu-

dessem beneficiar economicamente dos produtos de uma região. Para isso, a conquista militar não era sempre necessária, e muitas vezes podia acabar sendo contraproducente. Já Portugal havia dado o exemplo desse tipo de colonização, na Ásia, onde,

em lugar

de procurar

conquistar

regiões

inteiras

- coisa


118 - A Era dos Novos Horizontes

que em todo caso teria sido tabelecer centros comerciais

impossível - contentou-se em escomo Goa, na índia, e Macau, na

China. Igualmente, os interesses portugueses em Angola e Moçambique se limitaram às costas ou litorais, cuja posse lhes garantia

lugares

de abastecimento

vam em direção ao Oriente. Quando Grã-Bretanha são colonial,

este

não foi

para os navios

e Holanda

começaram

um empreendimento

havia sido a conquista da América Pelo contrário, o empreendimento

que navegaa sua expan-

nacional,

como

pela Espanha e Portugal. colonizador foi colocado

nas mãos de interesses privados que se encarregaram da criação, exploração e governo das colônias. Isto foi o que vimos ao discutir a fundação das colônias britânicas na América do Norte, várias das quais foram criadas por companhias comerciais, enquanto que outras foram postas à disposição de nobres ingleses. Igualmente, durante as primeiras décadas da colonização britânica na índia, esse empreendimento esteve nas mãos da Companhia Britânica das índias Orientais. E os holandeses colocaram suas colônias sob a supervisão da Companhia Holandesa das índias Orientais. O governo limitou-se a reconhecer

essas companhias,

que se encarregaram

do gover-

no de seus enclaves comerciais intercontinentais. Quando começou o século XIX, podia se pensar que colonialismo europeu estava chegando ao fim. Particularmente no hemisfério ocidental, as potências européias maior parte de suas colônias. A independência Unidos ilhas

deixou

para a Grã-Bretanha,

no Caribe

franceses

e porções

perderam

além

da costa

o Haiti.

perderam a dos Estados

do Canadá,

de Belize

E a Espanha,

e, portanto,

era natural

ria muita energia para ser dedicada Todavia, o que aconteceu foi ras

napoleônicas

Grã-Bretanha do Napoleão europeu, naval.

contribuíram

todos

supor-se

Os

os seus terriaté o fim esgota-

que não resta-

à empresa colonial. bem ao contrário. As guer-

para

concentrar

a atenção

da

sobre as colônias francesas e espanholas. Quanchegou à conquista de quase todo o continente

a Grã-Bretanha Os navios

cruzassem

algumas

e a Guiana.

tórios, exceto Cuba e Porto Rico, os quais conservaria do século. Ao mesmo tempo, as guerras napoleônicas ram a Europa

o

ingleses,

o Canal

se susteve além

da Mancha,

graças

à sua superioridade

de impedir dedicaram-se

que

os franceses

a interceptar

trânsito entre a Europa continent~1 (França, Espanha, Holanda e Portugal. todas sob o domínio napoleônico) e suas colônias.

o


Horizontes

o

público

vitórias

britânico,

glesa

desalentado

do Imperador

cias de feitos impedia

algum

para

francês,

à Europa

a chegada

cessitava

em praias

forte

sua máquina

coincidiu européia

Foi precisamente gou a tal grau novos dução

remotas,

que

nas notí-

a marinha

uma

batalha

in-

naval

que o Imperador O resultado

ne-

foi que,

ao

a Inglaterra se havia tornaantigas colônias francesas e

com a principal no século XIX: época

- 119

das constantes alento

onde

ou onde

de recursos

de desenvolvimento

causa da enorme exa revolução industrial.

a revolução

industrial

que começaram

che-

a fazer falta

Segundo se foi aplicando a tecnologia à proessa produção foi requerendo cada vez

mercados. industrial,

maiores países

nessa

notícias

encontrava

de guerra.

terminar as guerras napoleônicas, do a dona dos mares e de várias holandesas. Tudo isto pansão colonial

O Século do Colonialismo

pelas

na Europa,

de guerra

destruía

Geográficos:

capitais

e mercados

da Europa

ocidental

mais amplos. competiam

mento industrial, e procuravam os produtos estrangeiros, era

Visto

entre

que vários

dos

si no desenvolvi-

fechar os seus mercados necessário encontrar ou

para criar

mercados fora desse âmbito. Até certo ponto, esses mercados existiam na Europa não industrializada, mas não bastavam para satisfazer as necessidades das grandes indústrias que começavam a aparecer. os franceses, alemães

Por isso, e outros,

os ingleses lançaram-se

vos mercados

além

Um dos industrializadas

resultados dessa competição foi o "neocolonialismo"

primeiro, e depois em busca de no-

dos mares. entre as potências na América Latina.

Nem bem as antigas colônias espanholas se haviam tornado independentes, e o Brasil deixava de ser colônia portuguesa, quando os britânicos, ram a competir entre

franceses e norte-americanos começasi pelo domínio dos novos mercados. De

fato,

que se criou

foi

nessa

época

o termo

"América

Latina",

cunhado pelos franceses para indicar que eles, como latinos, tinham mais afinidade com as novas repúblicas do que os britânicos ou norte-americanos. Mas ulteriormente a França, carente do desenvolvimento industrial que a Grã-Bretanha possuía, perdeu a disputa. Ao começar a Primeira Guerra Mundial, as inversões

de capital

vam cerca de oito quais três bilhões lhão e setecentos um

bilhão

estrangeiro

na América

Latina

soma-

bilhões e quinhentos milhões de dólares, dos e setecentos milhões eram ingleses, um bimilhões norte-americanos, e pouco mais de

franceses.

Esses

investimentos

se fizeram

com

o


120 - A Era dos Novos Horizontes

consentimento portanto,

e o

apoio

se estabeleceu

das uma

classes

crioulas

aliança

entre

abastadas

o capital

e,

estran-

geiro e o nacional. Visto que esse capital podia funcionar melhor em governos oligárquicos, a cargo da aristocracia crioula, esses governos encontraram apoio internacional, e tornou -se mais

difícil

novos

produzir

radicais

na estrutura

social

dos

países.

À medida ses

mudanças

que se foi desenvolvendo

industrializados,

essa

situação

a tecnologia

foi

se tornando

mais tensa. Assim, enquanto a princípio ses estavam interessados principalmente nos da América

Latina

e nos produtos

para

exportação,

e da monocultura.

com

o conseqüente A mesma

cada

os investidores nos mercados agrícolas

tidos nos portos, por volta de 1870, com vias, tornou-se possível explorar melhor Por exemplo, enquanto que a Argentina cinqüenta quilômetros de ferrovias em no país mais de trinta mil quilômetros sultado foi o aparecimento da grande dios

dos paívez

ingleurba-

facilmente

ob-

a construção de ferroo interior dos países. contava com menos de 1860, já em 1914 havia de vias férreas. O reagricultura e pecuária

crescimento

coisa

aconteceu

dos

latifún-

no resto

do

continente. Na Ásia, a revolução industrial européia teve conseqüências semelhantes, embora posteriormente chegou-se à colonização não apenas econômica, mas também política, mediante a conquista militar. Ali também o propósito das potências industrializadas

foi

criar

novos

mercados

e, por

isso,

elas

se

contentaram em estabelecer centros de comércio na índia, China e outros lugares. Mas em sua maior parte, muitas vezes a contragosto, elas tiveram de intervir militarmente, e governar diretamente grandes porções dos territórios com os quais haviam desejado apenas comerciar. O que acontecia era que, de vez em quando,

os comerciantes,

vendo

ameaçados por algum movimento político za do governo local ou pela proximidade dustriai,

apelavam

a seus próprios

os seus interesses

no país, pela fraquede outra potência in-

governos,

que se viam

çados a intervir militarmente. Por volta de 1870, com o novo desenvolvimento triai, essa situação se agravou. Já não se procuravam mercados

para

os produtos

manufaturados,

for-

indusapenas

mas também

para

matérias primas. Então a Europa começou a cobiçar territórios a que antes havia dado pequena atenção, particularmente no interior da África. Além disso, mais ou menos à mesma época,


Horizontes

produziu-se

uma

modificação

peus consideravam despertado interesse missionários. imperialista. notarem,

Geoqréticos:

na maneira

pela

qual

-

121

os euro-

as colônias. Até então, estas só haviam da parte dos comerciantes, marinheiros e

Mas agora As demais

se produzia em toda nações perceberam

a Grã-Bretanha

continental. um império

O Século do Colonialismo

havia

Unicamente semelhante,

criado

Europa um furor que, quase sem

um vasto

império

inter-

a França se havia ocupado em criar embora muito menor. Começou então

a circular na Europa a idéia de que, para ser uma potência européia, era necessário possuir um império ultramarino, e países como a Bélgica, Itália e Alemanha, que até então pouco se haviam

ocupado

do

resto

do

mundo,

se lançaram

tá-lo. Particularmente na África, produziu-se ritorial onde quase todo o continente acabou alguma ilhas

potência

européia.

do Pacífico,

que

impérios coloniais. Tudo isto foi possível do desenvolvimento

E a mesma

logo

foram graças

tecnológico

coisa

repartidas a outra

a conquis-

uma divisão tersob o domínio de aconteceu

entre

grande

do Ocidente:

nas

os diversos

conseqüência

a sua superiori-

dade militar. O Ocidente contava com armas que não tinham rival no armamento dos países colonizados, e com as quais era possível derrotar exércitos muito mais numerosos. A infantaria contava com rifles de alta precisão e armas de repetição; a artilharia, com canhões de grande alcance e relativamente fáceis de transportar. A marinha, de 1880 em diante, com navios de guerra a vapor, capazes de destruir frotas inteiras de barcos a vela, de subir rios para atacar o interior dos países e de interromper

o tráfego

de cabotagem

ao largo

das costas.

Ante

tal

superioridade militar, até os impérios mais orgulhosos e antigos - o da China, por exemplo - tiveram que se humilhar. Só alguns países da Ásia e da África conseguiram conservar a sua independência política, e até a esses não se permitiu conservar

a sua independência

por exemplo, tências

embora

ocidentais,

foram

litar, a se abrir para mente, e pela primeira

econômica.

não tenham forçados,

sido

A China

e o Japão,

conquistados

pelas po-

mediante

a intervenção

o comércio internacional. vez na história, o mundo

mi-

Economicapassou a ser

uma vasta rede comercial. Na Europa

e nos Estados

Unidos

se discutia

amplamente

o que estava acontecendo. Houve quem se opusesse a diversos empreendimentos coloniais, por considerá-los contrários ao interesse nacional. E algumas vezes relativamente isoladas se


122 - A Era dos Novos Horizontes

levantaram em protesto contra o mOdr~elo qual se tratavam os habitantes dos territórios colonizados. Contudo, em termos gerais, os colonizadores estavam convencidos de que a sua empresa se justificava devido aos benefícios que as populações colonizadas receberiam. A ci taçâo jfe Ceci I Rhodes que encabeI

ça este capítulo é característica do espírito da época. Deus havia colocado nas mãos dos europeus e dos brancos norteamericanos os benefícios dp civilização ocidental, incluindo a fé cristã, para que eles os compartilhassem com o resto do mundo. Essa responsabilidade era vista como "encargo do homem branco", que devia levar ao resto do mundo as bênçãos da industrialização, o capitalismo, a democracia e o cristianismo. Se os empreendimentos colonizadores destruíam de passagem as velhas culturas, ou as antigas de uma civilização, isto se desculpava, pois cultura todos.

e as novas

bases

econômicas

bases econômicas mais tarde a nova

redundariam

no bem

de

Tais argumentos não eram sem base. Os progressos da ciência médica, por exemplo, chegaram a lugares antes ilhados.

Como

cido

de que o único

veremos

mais modo

adiante, pelo

Livingstone

qual

estava

conven-

deter

o tráfico

se poderia

de escravos era abrir a África para o comércio internacional, e provavelmente ele tinha razão. Nas nações colonizadas, houve muitas

pessoas

que receberam

a nova ordem

e que se beneficiaram com ela. Mas o sistema todo se baseava e cultural

que

logo

acarretaria

com entusiasmo,

em uma arrogância

o repúdio

dos

povos

étnica

coloniza-

dos. Já no fim do século XIX, havia nesses povos pessoas que assinalavam com argumentos convincentes o fato de que muitos dos supostos benefícios do regime colonial em verdade não eram

benefícios.

Outros

muitos,

ao mesmo

tempo

que estavam

dispostos a aceitar a tecnologia, não estavam dispostos a aceitar a tutela ocidental. Assim surgiu o movimento anti-colonialista que seria uma das características distintivas do século XX. A igreja participou de todas estas circunstâncias. O século XIX, que foi a época da expansão das potências protestantes, foi também o período do grande avanço das missões protestantes. A relação entre ambos missões, é demasiado complexa,

os elementos, colonialismo e segundo veremos no restante

deste volume. Não é totalmente exato dizer que os missionários (oram agentes do colonialismo, pois, em algumas vezes, se


Horizontes

opuseram práticas. entrou seja

a ele,

e em

Tampouco pelas

verdade

Geográficos:

muitíssimos

é certo

portas que

O Século do Colonialismo

abertas

muitas

casos

que a grande pelo

vezes

criticaram

expansão

colonialismo,

as colônias

- 123

as suas

missionária pois,

foram

se bem

a porta

de

entrada para os missionários, também é verdade que houve lugares em que os missionários chegaram muito antes dos comerciantes e colonizadores e que, em muitos casos, as autoridades

coloniais

bitável,

à obra missionária.

se opuseram

e o restante

deste

volume

provará

O que é indu-

por completo,

é que

uma inumerável hoste de cristãos, levada por motivos muito sinceros e por um inegável amor ao resto da humanidade, lan-

à tarefa

çou-se

de

evangelizar

mesma época em que outros o resultado foi que, no fim um território afastado dade que não louvasse Ásia,

Considerando no Pacífico,

o

mundo,

precisamente

se dedicavam a explorá-lo, do século XIX, dificilmente

do mundo onde existisse o nome de Jesus Cristo.

na e que havia

uma comuni-

a forma como essa obra se realizou na África e na América Latina, dedicaremos

na o

restante do presente volume à sua descrição. Mas antes de passar a narrar esses fatos, devemos prestar atenção a algumas características gerais desse grande movimento missionário. Talvez o fato mais notável desse fundação de inúmeras sociedades, cujo

período objetivo

tenha sido era apoiar

a a

obra missionária. Algumas dessas sociedades trabalhavam exclusivamente entre os membros de uma determinada denominação. Outras atravessavam as barreiras denominacionais. Mas todas eram sociedades voluntárias, de tal modo que o sustento financeiro

da obra

missionária

não procedia

normalmente

dos

cofres oficiais da igreja como instituição, mas das contribuiçôes dos membros da igreja que se interessavam pela evangelização

do mundo.

Algumas

dessas

sociedades

foram

fundadas

muito antes do período que estamos estudando. Entre as mais antigas se encontram a Sociedade para Promoção do Conhecimento Cristão (Society for Promoting Christian Knowledge, ou S.P.C.K.l e a Sociedade para a Propagação do Evangelho em Terras Estrangeiras (Society for the Propagation of the Gospel in Foreign Parts, ou S.P.G.l. A primeira foi fundada em 1698, e a segunda,

em

1701.

Ambas

eram

anglicanas,

e durante

muito

tempo a maior parte do seu trabalho teve lugar entre os britânicos que viviam além-mar, embora elas também se tenham ocupado dos habitantes nativos das colônias britânicas. Duran-


124 - A Era dos Novos Horizontes

te o século XVIII, devido ao impacto dos pietistas, mo r avro s e metodistas, foram fundadas outras sociedades com propósitos rnis si o nári o s. Porém, o auge das sociedades missionárias aconteceu no fim do século XVIII, e durante todo o século XIX. Em 1792, graças ao empenho de William Carey - de quem trataremos

mais

cu~ar para assumiu o depois, em Sociedade ou L.M.S.) rianos Igreja

adiante

- foi fundada

a Sociedade

Batista

Parti-

Propagar o Evangelho entre os Pagãos, que depois nome de Sociedade Missionária Batista. Três anos parte devido ao exemplo dos batistas, foi fundada a Missionária de Londres (London Missionary Society, constituída principalmente de metodistas, presbite-

e congregacionais. Anglicana fundou

Em 1799, a ala mais evangélica da a Sociedade Missionária da Igreja Society, ou C.M.S.). A partir de então, as

(Church Missionary

sociedades missionárias se multiplicaram. Na Inglaterra foram fundadas várias dezenas delas com fins específicos, tais como a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (1804). Dali o movimento

se transferiu

para

outras

partes

da Europa

e para

os

Estados Unidos. Logo foram fundadas sociedades semelhantes na Holanda, Suíça, Dinamarca, Alemanha e outros países. Na França apareceram sociedades tanto protestantes como católicas. Nos Estados Unidos foi fundada entre os congregacionais a Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras (American Board of Commissioners for Foreign Missions). Quando niram

uma

pessoa

Judson,

dentre

se tornou

os seus enviados, batista,

o famoso

essa denominação

impulsionada a organizar a sua própria sociedade e posteriormente foi dessa sociedade que surgiu Batista

Americana.

Outras

sociedades

foram

consignamos, para devolver escravos combater o uso do álcool, para abolir 1816, foi fundada A existência

missionária, a Convenção

fundadas,

toridades civis. Desde os tempos des "haviam apoiado decididamente

como

libertos à Àfrica, para a escravidão, etc. Em

a Sociedade Bíblica Americana. de todas essas sociedades é uma

de outra característica do enorme século XIX: esse avanço teve lugar

Ado-

se sentiu

indicação

progresso missionário do com escasso apoio das aude Constantino, as autoridaa expansão da fé cristã. Re-

cordemos, por exemplo, a conversão forçada dos saxões por parte de Carlos Magno, ou a conquista da América pelos espanhóis e portugueses. Mas agora, no século XIX, a maioria dos governos Por muito

europeus se fez alheio às atividades missionárias. tempo, a Companhia Britânica das índias Orientais


Horizontes

Ordenação dos primeiros Comissionados

Geográficos:

O Século do Colonialismo

missionários

- 125

da Junta Americana

de

procurou impedir a entrada de missionários nos territórios que estavam a seu cargo. Os governos europeus, e o dos Estados Unidos, geralmente adotaram em face das missões uma atitude neutra. Os missionários desses países, pelo menos em teoria, não deviam contar com mais proteção do que a que era estendida a outros cidadãos da mesmas nações. Essa proteção era importante, e em mais de uma ocasião uma potência ocidental acudiu em defesa dos seus missionários. Mas como um todo, as missões não eram empreendimento oficial dos governos, e raras vezes contaram com subsídios precisamente por isso que as sociedades naram tão necessárias, pois eram elas

governamentais. Foi missionárias se torque arrecadavam os


126 - A Era dos Novos Horizontes

fundos

e recrutavam

mentos

missionários

Como

o pessoal

necessário

para os empreendi-

e evangelísticos.

conseqüência

de tudo

isso,

pela

primeira

vez

na

história os empreendimentos missionários cativaram o interesse dos membros comuns das igrejas. Naturalmente, os que verdadeiramente se interessavam foram apenas uma parte deles. Mas todos podiam contribuir de algum modo. Até para as crianças foram fundadas sociedades missionárias, para cujos fundos cada criança contribuía com uma pequena quantidade semanal ou mensal. As sociedades missionárias também se ocupavam em dar conhecer a seus membros o que acontecia na Ásia ou na África, e assim se tornaram uma das principais fontes de informação a respeito de outras civilizações com que o Ocidente entrou em contato. Logo, graças às sociedades missionárias,

começou

acerca dos lugares China ou da índia. As

mulheres

a haver

um

que tinham

notícias

ou dos costumes papel

importante

da em

os missionários eram homens, embora e acompanhados de suas esposas. Pocomeçaram a ocupar um lugar destaca-

do, tanto nas sociedades rias denominações foram Algumas

pessoas da África,

desempenharam

tudo isso. A princípio, muitos deles casados, rém, logo as mulheres

mulheres.

muitas

mais remotos

delas

como no pessoal missionário. Em váfundadas sociedades missionárias de enviaram

missionárias

de cujo

sus-

tento se ocuparam. Entre os católicos, essas mulheres eram geralmente freiras, e se ocupavam de tarefas semelhantes às que desempenhavam em seus países: o ensino, o cuidado dos enfermos, os asilos para órfãos e para anciãos, etc. Entre os protestantes, muitas mulheres começaram a exercer funções que lhes eram vedadas em suas próprias igrejas, tais como a pregação.

Naturalmente,

isto

se devia

a uma atitude

de supe-

rioridade racial e cultural, que considerava como certo o fato de que as mulheres brancas dos Estados Unidos, por exemplo, não podiam pregar a norte-americanos, mas sim a pessoas de outras culturas e raças. Em todo caso, posteriormente o exemplo das estavam

missionárias, que assumiam responsabilidades proibidas a suas irmãs na Europa e nos Estados

dos, encontrou

eco em seus países de origem,

que Uni-

e por isso o mo-

vimento feminista no protestantismo ocidental tem algumas de suas raízes na participação das mulheres no movimento missionário. Por fim,

uma

das conseqüências

mais

notáveis

do movi-


Horizontes

Geográficos:

O Século do Colonialismo

- 127

mento missionário, p a r trcu i a r rn e n te entre os protestantes, foi o espírito de cooperação que começou a aparecer entre as diversas denominações. As rivalidades que pareciam ser justificadas na Europa ou nos Estados Unidos eram um verdadeiro tropeço para a obra missionária na índia ou na China. Por isso, os missionários primeiro, e depois os dirigentes nacionais das novas igrejas, procuraram métodos para romper as antigas barreiras entre as denominações. Várias sociedades missionárias que mencionamos contavam com membros de várias denominações. Nos campos missionários, os cristãos se viram diante da necessidade de apresentar uma frente única, desenvolvendo estratégias baseadas na cooperação, e não na competição. Assim foi que protestantes,

o movimento ecumênico, pelo menos entre os surgiu em boa parte a partir do movimento mis-

sionário do século XIX, pítulo deste volume.

tema

a que dedicaremos

o último

ca-


VII Horizontes ,Geográficos: Asia Não discutirei o caráter particular dos missionários, alguns dos quais, antes de se tornarem apóstolos, foram fabricantes de anil . ... Em lugar de fermentar uma erva, o que se faz em vinte e quatro horas, eles se dedicaram a fermentar todo o pafs, e os seus resultados se farão sentir durante anos. William F. Elphinstone, Diretor da Companhia das índias Orientais

Durante fascinado rumores

do Oriente

haviam

os europeus. Em livros medievais incluíam-se acerca dos estranhos costumes e dos incríveis

séculos,

as antigas

civilizações

vagos mons-

tros que havia nessa região. As viagens de Marco haviam levado à Europa notícias de fabulosas cortes

da China

tabeleceram de então

e da índia.

contatos

o comércio

interrupção. reclamaram

No século

permanentes entre

Logo que a sua parte

a Europa

XVI,

com

os portugueses

essa região,

e o Oriente

puderam, outras nesse rico butim.

Polo e outros riquezas das es-

e a partir

continuou

sem

potências européias Embora o seu objeti-

vo não fosse realizar ciar com eles, pouco

conquistas entre os asiáticos, mas comera pouco a necessidade de conseguir ou de

manter

ou

concessões

vantagens

comerciais

foi

levando

as

potências européias a intervir militarmente, até que, ao começar a Primeira Guerra Mundial, eram poucos os territórios que não estavam sob o domínio colonial. J unto com essa expansão económica, militar e política, marcharam os missionários, às vezes ao lado dos colonizadores, outras vezes atrás deles, outras antes. Em todo caso, ao terminar o século XIX, havia poucas regiões do Oriente em que não se conhecia, pelo menos


Horizontes

superficialmente,

a mensagem

de Jesus

Geogréfficos:

Asia - 129

Cristo.

índia

o mente,

território onde, em primeiro se fez sentir o impacto colonial

continente

hindu

-

correspondente

lugar e mais e missionário

à índia,

hoje

profundafoi o subPaquistão,

Bangladesh e Sri-Lanka. Ali existia desde tempos imemoriais, como registramos em nosso primeiro volume, uma igreja cristã que dizia

haver

sido fundada

pelo apóstolo

Tomé.

igreja teve contatos com os jacobitas da Síria, a eles em seu esforço para rejeitar o Concílio motivo por que foi apelidada de '''monofisita''. tólicos

chegaram

no século

XVI,

procuraram

Depois,

essa

e então se uniu de Calcedônia, Quando os caforçar

a conver-

são desses antigos "cristãos de São Tomé", com o resultado de que alguns se tornaram católicos e outros continuaram em sua antiga fé. Esse remanescente recebeu mais tarde o impacto do protestantismo, particularmente anglicano, e como conseqüência disso alguns se separaram da antiga igreja e formaram a Igreja de Mar Thoma, protestante em suas doutrinas, ao mesmo tempo que guarda a sua liturgia e costumes tradicionais. Essa igreja é forte especialmente no sul da índia, onde se tem distinguido por seu trabalho evangelístico. Os católicos, que chegaram no século XVI debaixo da bandeira portuguesa, continuaram o trabalho iniciado por Francisco Xavier, o grande missionário jesuíta. Mas a decadência do poderio

português acarretou-lhes grandes dificuldades. do que anotamos no caso da América Latina, dificuldades foram devidas principalmente a disputas

À semelhança estas

com respeito ao patronato que coroa portuguesa sobre a igreja

os papas haviam em suas colônias.

concedido à Roma dese-

java retirar os antigos direitos e privilégios que Portugal considerava seus perpetuamente. Por fim, Gregório XVI, que tinha profundos

interesses

diretamente lonialismo

nos territórios antigamente reservados para o coportuguês. Em 1833, o governo português rompeu

no trabalho

missionário,

decidiu

intervir

com Roma, e esta fez com que fossem enviados para a índia e outras regiões do Oriente fortes contingentes de missionários, particularmente jesuítas, que logo entraram em conflito com as autoridades portuguesas, tanto civis como eclesiásticas. O resultado

final

desses

conflitos,

savam

mutuamente

de hereges

século

XIX as missões

católicas

em que ambas e cismáticos, avançaram

as partes

se acu-

foi que durante muito

lentamente.

o


130 - A Era dos Novos Horizontes

A decadência

portuguesa

deixou

muitas

igrejas

católicas

em ruí-

nas (cena no Ceilão). Enquanto índia.

isso,

os protestantes

Os primeiros

a fazê-lo

se haviam

foram

estabelecido

comerciantes

que

na

não ti-

nham grande interesse na conversão dos naturais do país. Pelo contrário, muitos desses comerciantes temiam que a pregação do evangelho aos hindus acarretasse motins que redundariam em prejuízo para o comércio. Todavia, como vimos no volume anterior,

o século

profundo interesse meço desse século

XVIII

foi

a época

do pietismo,

e este tinha

na obra missionária. Portanto, desde o cohouve pessoas na Europa que se interessa-

ram pela pregação do evangelho aos hindus. Uma dessas pessoas foi o rei Frederico IV da Dinamarca, que decidiu enviar missionários à índia. Em particular, o rei pensava

que a pequena

estação

dinamarquesa

que desde 1620 se havia dedicado bém um centro missionário. Visto foi

possível

encontrar

ministros

ao comércio, que em toda dispostos

de Tranquebar, devia ser tamDinamarca não

a empreender

essa

tarefa, o rei recorreu à universidade alemã de Halle, centro intelectual do pietismo, e então I he foram enviados dois missionários. Esses chegaram a Tranquebar em 1706, e ali começaram

uma

obra

que perduraria

até o século

XX, com quotas

de


Horizontes

contribuição

tanto

Os missionários

dinamarquesas de Tranquebar

quanto

Geográ fico: : AI l n

alemãs

traduziram

/.1/

e britânica.

as Escrituras

para

vários idiomas da índia, e até a segunda metade do século XVIII conseguiram tal respeito dos naturais do país, que em mais de uma o casi ão o missionário alemão Christian Friedrich Schwartz foi chamado para intervir, entre diversos potentados hindus.

evitando

encontros

bélicos

Uma aula bíblica no Ceilão No entanto, lugar derio índia

o grande

progresso

missionário

na índia

teve

no século XIX, que foi também a época do crescente pobritânico. Durante o século anterior, embora o mapa da fosse um mosaico de estados relativamente independen-

tes, o poderio

do Grã-Mogul

lhe dava certa

unidade

à região,

e

nenhum europeu sonhou em conquistá-Ia. Em 1717, mediante donativos e serviços médicos, a Companhia Britânica das índias Orientais

conseguiu

algumas

concessões

do Grã-Mogul.

A


132 - A Era dos Novos Horizontes

partir

de

então,

enquanto

o

poderio

dos

grão-mongols

se

desfazia, o da Companhia aumentava. Nos princípios do século XVIII, quase toda a costa oriental da índia estava sob o governo da Companhia. Além disso, em 1796, os britânicos invadiram

a ilha

de Ceilão,

hoje

Sri-Lanka.

Em

meados

do século

XIX, quase toda a índia estava sob o domínio direto ou indireto da Companhia. Mas em 1857 e 1858 produziu-se uma grande rebelião. Os "cipaios", soldados hindus a serviço dos britânicos, clamou

tiveram

uma

imperador

parte

da índia

do os britânicos

ativíssima

o último

conseguiram

na revolta,

que

dos grão-mongóis.

esmagar

os rebeldes,

pro-

Quan-

enviaram

o

pressuposto imperador para o exílio, onde morreu, e resolveram tirar das mãos da Companhia o governo da índia, colocando-o

diretamente

sob o domínio

da coroa

e dando

ao go-

vernador o título de vice- rei. A Companhia Britânica das índias Orientais opunha-se ao trabalho missionário, pois temia que a pregação cristã, e em particular a conversão de alguns hindus, pudesse causar uma reação por parte destes, e que isso redundaria em prejuízos para o comércio. Por isso, durante quase um século não houve nenhum missionário entre as colônias britânicas, mas somente capelões cujo ministério se limitava aos europeus que viviam no lugar. Ademais, tal política por parte da Companhia não provocava grande oposição na Grã-Bretanha, onde o interesse missionário

era

escasso,

e o pouco

que

havia

era

dedicado

principalmente aos índios da América do Norte. Por todas estas razões, pode se dizer que o fundador das missões modernas, pelo menos no que se refere à Grã-Bretanha, foi William Carey. Ele havia sido criado no lar de um professor anglicano, e em sua mocidade, depois de uma profunda

experiência

religiosa,

havia

se tornado

batista.

De seu

lar havia adquirido o hábito da leitura, que nunca abandonou, e lendo acerca das viagens do capitão Cook e outros, despertou-se nele um profundo interesse por terras distantes e culturas diferentes. Isso o levou a preparar um mapa do mundo que incluía notas acerca da cultura e da religião de cada lugar, e a estudar, o italiano. Tudo tante

isto,

estudo

de pregar dada

além

do latim,

juntamente

das aos

a toda

apóstolos,

e o hebraico,

com a sua profunda

Escrituras,

o evangelho

apenas

o grego

convenceu-o humanidade como

muitos

o holandês

e

fé e seu cons-

de que a obrigação não era uma ordem pensavam

naquela


Horizontes

Batismo

do primeiro

convertido

da missão

Geográficos:

Ásia -

133

de Carey

época, mas era também a obrigação dos cristãos de todas as gerações. Depois de publicar um ensaio onde propunha esta tese,

em

1792

pregou

perante

a Associação

de Ministros

tistas um famoso sermão de exortação às missões, sultado de que logo se fundou a Sociedade Batista para

Propagar

o Evangelho

entre

os Pagãos.

O seu objetivo

era coletar fundos para enviar missionários, e recrutar idôneas para essa tarefa. No entanto, posteriormente tado foi que o próprio pessoalmente a tarefa

Carey se sentiu missionária.

chamado

Ba-

com o reParticular pessoas o resul-

a empreender

Em 1793, William Carey desembarcou em Calcutá, em companhia de sua família e do Dr. John Thomas, que esperava


134 - A Era dos Novos Horizontes

utilizar sua renda como médico para sustentar a todos. Visto que a Companhia das índias Orientais se opunha ao trabalho missionário, eles não declararam a sua intenção. Mas as primeiras dificuldades não foram resultados da oposição da Companhia, mas do manejo deficiente das finanças por parte do Dr. Thomas, que já na Inglaterra se vira imerso em dívidas, e agora se inclinava para o mesmo caminho. continuou em seu empenho, dedicando-se ção que lhe parecia a produção índigo, pítulo.

de anil

oferecer mediante

de sustento.

a fermentação

Uma

de folhas

delas foi e talos

de

e é a isto que se refere a citação que encabeça este caNo momento de maiores dificuldades ele escreveu a

seus amigos na Inglaterra: vel. .. Há dificuldades por frente. ficou

meios

Apesar disso, Carey a qualquer ocupa-

Portanto,

precisamos

sem recompensa.

fundos

necessários

panhantes, dificuldades

"A minha toda parte,

Logo

para

seguir

posição já é insustentáe muitas mais à minha avante".

chegaram

a subsistência

Tal

firmeza

da Inglaterra, de Carey

não

além dos

e seus acom-

outros missionários dispostos a sofrer e participar da mesma aventura.

as mesmas

Visto que a Companhia das índias Orientais não permitiu que os recém -chegados desembarcassem em Calcutá, eles se estabeleceram na colônia dinamarquesa de Serampore, fronteiriça a Calcutá. Mais tarde, Carey se uniu a eles, e a partir de então Serampore foi o centro da obra missionária batista na região. Ali os missionários se dedicaram a múltiplas tarefas, todas com o propósito de dar a conhecer o evangelho aos hindus. O próprio Carey, que possuía habilidades lingüísticas extraordinárias, dedicou-se a traduzir a Bíblia em diversos idiomas da índia. Por ocasião de sua morte, havia ele traduzido as Escritu r as, ou porções delas, para trinta e cinco idiomas. Outro dos missionários, Ward, era impressor, e produziu as matrizes necessárias para a impressão das traduções de Carey. Outro, Marshman, dedicou-se ao ensino, e logo se formou em Serampore uma escola de estudos superiores, onde estudavam tanto hindus como europeus. A ambos os grupos se ensinavam as Escrituras cristãs, a ciência ocidental e os livros sagrados da índia. Deste modo esperava-se que os europeus chegassem a compreender posteriormente diversas

melhor a cultura do país, e que os naturais, que seriam encarregados de levar o evangelho às

regiões

da índia,

cimento, não apenas hindus e budistas.

pudessem

das Escrituras

fazê-lo cristãs,

com mas

pleno

conhe-

também

das


Horizontes

Geográficos:

Ásia - 135

Tudo isto indica que Carey e os seus sentiam um profundo respeito pela cultura e pelas tradições da índia. O seu propósito

era criar

uma igreja

que isso não se opusesse

que fosse fiel a essa cultura, aos mandamentos

sempre

bíblicos.

Havia dois costumes na índia que horrorizavam a Carey e seus companheiros: os sacrifícios de crianças no rio Ganges e a queima das viúvas nas piras fúnebres de seus esposos. O governador Wellesley demonstrava desejos de proibir os sacrifícios de crianças, mas não se atrevia a fazê-lo se com isso contradissesse Por isso, respeito.

o que

era

ordenado

nos livros

sagrados

da índia.

pediu a Carey que lhe apresentasse um estudo a esse Quando, depois de minuciosa pesquisa, Carey lhe

informou que os sacrifícios nhum apoio nos seus livros,

de crianças mas eram,

não encontravam neantes, um costume de

origem obscura, Wellesley proibiu que se continuasse sacrificando crianças. A principio foi necessária uma vigilãncia constante para evitar que esse costume continuasse. Mas, pouco a pouco, em parte convencidos pelos argumentos de Carey, os próprios hindus concordaram em abandoná-Ia. O costume de queimar viúvas nas piras fúnebres de seus esposos - ritual chamado sati - foi muito mais difícil de dessarraigar. O próprio Carey conta que na primeira vez que presenciou

tão

horrível

rito,

ao ver

o que estava

para

acontecer,

dirigiu-se aos presentes, apelando aos sentimentos humanos que tivessem, acabando por chamá-los de assassinos. Mas tudo foi em vão; a própria viúva, zombando da sensibilidade do missionário,

dançou

ao redor

da pira,

ver de seu esposo. Então colocaram fortes, e a ataram toda, de tal forma tar-se. viúva

Quando devia

Carey

morrer

protestou,

e encostou-se

em cima dela duas varas que não conseguia levan-

dizendo

voluntariamente

ao cadá-

que se supunha

e que,

atada,

que a

ela não po-

deria abandonar a pira ao sentir as chamas, disseram-lhe que as varas e a corda não eram para amarrar a viúva, mas para que a lenha não se espalhasse. Além disso, convidaram-no a ir embora, dizendo que não se intrometesse nos assuntos alheios. Mas Carey decidiu permanecer no meio daquela turba hostil, disposto a saltar e a livrar queixa. Quando puseram fogo na meçaram a dar gritos de júbilo, e nunca soube se a viúva gritou de então sati.

ele ficou

convencido

a viúva diante da sua menor pira, todos os presentes cofoi tal a algazarra que Carey dor ou não. Mas a partir de

da necessidade

de abolir

o ritual

do


136 - A Era dos Novos Horizontes

cu cn

.g tu

.2

o;::

o


Horizontes

A luta

foi

árdua.

As autoridades

Geográficos:

britânicas,

Á"ln

I:J I

int

r s-

mais

sadas no comércio do que em qualquer outra coisa, temiam que a proibição do sati resultasse em motins que interrompessem o comércio.

Carey

mais

uma vez se dedicou

a demonstrar

que esse costume não encontrava nenhum apoio grados. Sobretudo, ele e os seus companheiros, formações

e correspondências

criaram

nos livros mediante

na Inglaterra

sain-

uma f o rte

corrente de opinião pública contra o sati. Por fim, depois de longa luta, chegou o edito que proibia tal rito. Era o dia do Senhor, e alguns dos missionários achavam que deviam dedicarse a assuntos religiosos, deixando a tradução do edito para segunda-feira. Contudo, recordando o exemplo do Senhor ao curar no dia de descanso, e pensando que o peso em suas consciências seria de sua negligência,

enorme se uma só viúva morresse por causa correram a traduzir e imprimir o edito.

Se nos detivemos de Carey,

isto

para

é porque

narrar

a obra

com tantos

dele

serviu

detalhes

a obra

de inspiração

e de

exemplo para boa parte do trabalho missionário realizado durante o século XIX. As informações de Carey despertaram o interesse missionário, não apenas entre batistas, mas também entre outros cristãos, tanto na Grã-Bretanha como nos Estados Unidos. Logo se formaram as muitas sociedades missionárias a que

nos

referimos

no

último

capítulo.

Não

apenas

na índia,

mas também em outras regiões, a obra de Carey foi a medida que muitos missionários aplicaram a si mesmos. E, graças ao caráter amplo da visão de Carey, que incluía os estudos lingüísticos e culturais, a educação de ministros nativos, a tradução das Escrituras e o conhecimento e apreço pela cultura do lugar, muitos dos missionários do século XIX gozaram da mesma

amplidão

de horizontes.

No que se refere à índia, a partir de então o trabalho missionário avançou rapidamente. Em 1813, ao expirar a concessão que o Parlamento havia feito à Companhia das índias Orientais, incluiu-se na nova lei de concessão uma cláusula que garantia o livre acesso de missionários britânicos à índia, sem os empecilhos sado. Vinte

que até então

anos mais tarde,

às sociedades

missionárias

Provavelmente

o

a Companhia

esses privilégios de outros

missionário

lhes havia foram

cau-

estendidos

países. mais

notável

da

segunda

geração foi o escocês Alexander Duff, que estava convencido de que o melhor modo de evangelizar o país era mediante a educação. Era a época em que um crescente número de hindus


138 - A Era dos Novos Horizontes

desejava

aprender

péia e, assim,

tudo

a obra

o que pudesse

de Duff

acerca

no campo

da técnica

da educação

euro-

teve gran-

de êxito. Duff estava convencido de que a tecnologia ocidental era incompatível com as antigas religiões da índia, e que, portanto, ao introduzir essa tecnologia, ele estava minando essas religiões. Em todo caso, mais tarde todo o sistema de educação na índia foi organizado segundo os padrões de Duff. Um dos resultados dessa obra foi que, quando um século mais tarde a índia conseguiu a sua independência, muitos dos dirigentes da nova nação, se não eram cristãos, pelo menos haviam recebido o impacto de professores cristãos. Enquanto mais educadas,

essa obra abria brechas no meio produziam-se grandes movimentos

são em massa o princípio,

nas classes

mais

os missionários

inferiores

das classes de conver-

da sociedade.

protestantes

se haviam

Desde

colocado

em franca oposição ao sistema de castas, por considerá-lo contrário ao evangelho. Nisto eles diferiam dos católicos, que em geral seguiam os métodos que indicamos no volume VII desta História, e que, portanto, tão radicalmente culo XIX, houve crentes

ao sistema nos templos

das diferentes

anunciava-se conseguinte,

ao falar de Nobili não se opuseram

de castas. Até os princípios do sécatólicos divisões para separar os

castas.

E ntre

os protestantes,

que o evangelho abolia como era de se esperar,

todavia,

toda idéia de casta. logo muitas pessoas

Por das

castas mais desprezadas começaram a acudir às igrejas, onde pela primeira vez eram tratadas com dignidade. Assim, tiveram lugar conversões em massa entre as castas mais baixas. Algo semelhante

aconteceu

viam vivido

marginalizadas

O cristianismo tro

grupo

com

causou

de pessoas

algumas

tribos

na sociedade também

até então

ha-

hindu.

grande

marginalizadas,

que

impacto

as mulheres.

entre

ou-

O costume

do sati era apenas um entre muitos que indicavam que as mulheres eram pessoas menos dignas do que os homens. O infanticídio feminino era relativamente comum. E em geral se considerava que as mulheres não deviam receber maior educação. Os missionários, e particularmente as missionárias, ocuparam-se das mulheres desde cedo. Em 1857, Alexander Duff fundou a primeira escola diária para meninas. Mas o melhor exemplo da obra entre as mulheres foi a hindu Ramabai. Ramabai havia sido criada em um lar excepcional, onde sua mãe se preocupou com que ela aprendesse o sânscrito, e que

recebesse

uma

educação

esmerada.

Depois

de várias

tr a -


Horizontes

Geográficos:

Ásia -

139

Ramabai e sua filha gédias

em sua família,

Ramabai

decidiu

de meninas e jovens viúvas. Visto prometer e casar as meninas desde mui tenra idade, e Ramabai dedicou na a cuidar convencidos a Inglaterra, na Inglaterra,

ao cuidado

delas. Foi então que alguns missionários cristãos, do valor da sua obra, animaram-na a viajar até para ali se preparar melhor. Durante a sua estada ela se converteu,

e decidiu

que se havia dedicado, agora então, Depois de visitar os Estados Unidos, os seus

dedicar-se

que na índia era costume a infância, havia viúvas de o seu tempo e a sua fortu-

projetos,

ela voltou

à índia.

continuar

a obra

a

com uma ênfase cristã. onde obteve apoio para Ali

fundou

um

lar

para

viúvas, e depois outro para órfãs. Convencida de que as mulheres eram dignas de uma educação tão esmerada como a que os homens recebiam, Ramabai aplicou esse princípio a seus


140 - A Era dos Novos Horizontes

lares,

de onde

sariam mabai índia.

o

saíram

forte impacto constitui um

sudeste

mulheres,

muitas

delas

cristãs,

que cau-

na vida do país. Portanto, a obra de Ramarco na emancipação das mulheres na

da Ásia

Também no sudeste da Ásia fez-se sentir nizador. No centro dessa região encontrava-se

o impacto coloo reino de Sião,

que antes havia sido muito grande, mas que então estava limitado a uma faixa que dividia a região em duas. A leste de Sião, foram os franceses que colonizaram a região, hoje Vietnã, Laos e Camboja (Campuche'ia), enquanto que a Birmânia, oeste, ficou sob a administração britânica da índia. Na zona missionários

de influência que

francesa,

provocaram

freqüentemente

o avanço

foram

do colonialismo.

a os

Foi o

que aconteceu nos reinos de Anam e Cochinchina, onde os católicos, perseguidos pelos governos locais, apelaram para as autoridades

francesas,

que

acabaram

por

dominar

a região.

Além disso, a fim de facilitar a vida cristã aos novos convertidos, estes foram reunidos em aldeias católicas. Visto que, graças a seus conhecimentos técnicos e à ajuda proveniente da França,

as

prósperas

aldeias

católicas

que as budistas,

freqüentemente logo

outras. Essa inimizade perdurou culo XX, quando se manifestou taram a região.

houve

inimizade

acabavam entre

mais umas e

até data bem avançada no sénos graves conflitos que açoi-

Na Birmânia, a figura missionária mais notável foi o norte-americano de origem congregacional Adoniram Judson, um dos fundadores da Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras, a que nos referimos anteriormente. Depois de muitas vicissitudes, Judson e sua esposa embarcaram para a índia. Durante a viagem, eles se dedicaram a estudar o Novo Testamento, e chegaram à conclusão de que o batismo de crianças, prática comum entre os congregacionais, não era bíblico. Ao chegar à índia, eles estabeleceram contato com Carey e os seus auxiliares, e foram batizados como batistas. Naturalmente, isto queria dizer que eles renunciavam ao sustento da Junta Norte-Americana de Comissionados e, portanto, foi necessário fundar nos Estados Unidos, como já registramos, uma sociedade missionária batista. Assim, neste caso deu-se

a estranha

missionários

circunstância

e depois

de que

uma sociedade

primeiramente

para sustentá-los.

houve


Horizontes

Embora nejado

a principio

estabelecer-se

lhes antepuseram empreender

Judson

perto

muitos

a sua

obra

Geográficos:

e sua esposa

de Carey,

houvessem

as autoridades

empecilhos,

Ásia - 141

pla-

britânicas

e por isso eles decidiram

na Birmânia,

onde

um

dos

filhos

de

Carey, Félix, era médico, e onde o poderio britânico ainda não se havia estendido. A travessia foi difícil, e nela ocorreu o nascimento prematuro e sem vida do primogênito dos missionários. Na Birmânia, o Dr. Carey lhes prestou um apoio insuficiente. Apesar disso, os Judson continuaram a sua obra, seguindo em grande parte o padrão estabelecido por Carey. Eles se dedicaram especialmente ao estudo dos idiomas e à tradução das Escrituras. Ambos aprenderam o birmanês, e além disso ele estudou o antigo idioma pali, em que estavam escritos os livros budistas, e ela, o tai, que se falava em Sião (Tailândia). Os batistas norte-americanos enviaram um impressor, e em 1817 apareceu a tradução birmanesa do Evangelho de Mateus. Dois anos mais tarde, eles batizaram o primeiro convertido, e por fim os seus esforços começaram a produzir resultados quando explodiu a guerra entre a Birmânia e a Grã-Bretanha. Judson havia recebido, através da Inglaterra, fundos procedentes dades

dos

batistas

birmanesas

norte-americanos,

suspeitaram

que

e por

ele estava

isso as autoriservindo

como

agente britânico, e o encarceraram. A sua esposa interveio a seu favor, e depois de várias semanas ele foi colocado em liberdade, embora com a saúde prejudicada. Nos Estados Unidos, as notícias da sua prisão e da heróica atitude de sua esposa despertaram novo interesse pela missão na Birmânia. Mas as semanas de angustiosa incerteza afetaram a saúde da senhora Judson, que faleceu em 1826. Judson continuou em seu empenho

e, por

em birmanês.

fim,

Nesse

em

1834,

mesmo

terminou

a tradução

ano ele se casou

com

da Bíblia a viúva

de

outro heróico missionário, George D. Boardman, que havia morrido prematuramente três anos antes. Em 1845, a segunda esposa de Judson ficou enferma, e ambos decidiram regressar aos Estados Unidos. Mas ela faleceu durante a viagem, e no ano seguinte Judson, depois de contrair novas núpcias, voltou à Birmânia, onde passaria o resto de seus dias. Judson e os primeiros missionários viram poucas conversões. Todavia, pouco depois, graças a um convertido da tribo dos ka r e n s, Ko Tha Byu, começou a conversão em massa dos membros dessa tribo. Até o dia de hoje, a principal força numérica dos protestantes na Birmânia está entre os karens. Esta


142 - A Era dos Novos Horizontes

Adoniram Judson dá graças a Deus, ao terminar de traduzir a Bíblia para o birmanês tribo,

que se considerava

bons

olhos

o crescente

trou mais disposta pelos missionários.

oprimida poderio

pelos

britânico,

do que os birmaneses

Sião (Tailândia),

como

dissemos,

birmaneses, e por a aceitar

foi o único

deste da Ásia que conservou a sua independência. do século, as autoridades siamesas (tailandesas)

isso

viu com se mos-

a fé pregada reino

do su-

Até meados começaram a


Horizontes

Geogrรกficos:

ร sia - 143


144 - A Era dos Novos Horizontes

Capela do Bom Pastor, na Blrménie permitir

a obra

missionária,

tanto

E mbora tenham havido breves fim do século ambos os grupos congregações

em vários

lugares

católica

como

protestante.

períodos de perseguição, até o haviam conseguido estabelecer do país. Ali também

os católi-

cos manifestaram a tendência de viver em comunidades fechadas, separados do resto da população. Os protestantes distinguiram-se particularmente na educação pública, mediante a qual causaram um forte impacto sobre o país.

China Repetidamente no cu rso desta história fizemos referência ao cristianismo na China. E várias vezes o vimos desaparecer, ou pelo

menos

passar

mente se encontraram cristianismo à grande

por

períodos

tão

obscuros

que dificil-

vestígios dele. Os primeiros a levar nação oriental foram os nestorianos,

o a


Horizontes

quem

nos referimos

no terceiro

volume

Geogr~ficos:

Ásia -

da presente

145

História,

e

cujos últimos vestígios desapareceram no século IX. Depois, na chamada "era dos altos ideais", os franciscanos enviaram missionários à China. Mas também essa semente malogrou devido à perseguição e ao fato de que os católicos europeus não contaram com os recursos necessários para continuar a sua obra em país tão dista~~ Por fim, Mateus Ricci nários jesuítas conseguiram estabelecer-se

e seus co r r e li q iopermanentemente

em Pequim,

é descendente

reto

e o catolicismo

de sua obra.

estamos

Mas

estudando,

que uma pequena pois a China

havia

estrangeiro. O século grandes

essa obra minoria, voltado

XIX

então

não estava

a se fechar

para todo

que

considerado

e doutrinas

estranhos.

mente

a mais discutida, Como em tantos missionário protestante

de quem

um

até

vão

nem

di-

que agora

alcançando

em condições

diã de conhecimentos imemoriais repentinamente se viu humilhada, exércitos

o período

e se achava

na China,

se havia

de hoje

começou

e os anos

modificações

que até

romano

quando

mais

do

precárias,

contato

com o

1914 ocasionaram

sempre

o centro

felizes.

A nação

do mundo,

guar-

e fonte de toda civilização, dividida e conquistada por Uma

dessas

doutrinas,

certa-

era o cristianismo. outros casos, as origens do interesse na China remontam à obra de Carey,

dos acompanhantes,

duzir a Bíblia para o chinês Morrison quis empreender

Marshman,

começou

a tra-

em 1806. Depois, o escocês Robert uma obra semelhante, mas as au-

toridades britânicas não viam com bons missionários na China, fato que poderia

olhos a presença de impedir o comércio

que então começava a florescer. Por isso, Morrison se viu obrigado a viajar primeiro para os Estados Unidos, onde obteve passagem para Cantão. Ali se estabeleceu, disposto a seguir um método semelhante ao usado anos antes pelo jesuíta Ricci. Conhecedor de medicina e astronomia ocidentais, Morrison dedicou-se a estudar profundamente tanto a cultura como o idioma chineses. Visto que o interior do país lhe estava vedado pelas leis chinesas, ele fez a maior parte do seu trabalho mediante

a produção

de literatura

em chinês,

que algum convertido a levasse a outras que gerações posteriores de missionários a sua obra.

Assim,

com

a ajuda

com a esperança

de um contingente

do país, ele traduziu para o chinês toda livros. Depois de sete anos de trabalho,

de

partes da nação, ou pudessem aproveitar de naturais

a Bíblia e vários outros batizou o primeiro de


146 - A Era dos Novos Horizontes

seus convertidos, que sempre foram poucos. As notícias da sua obra e a existência da Bíblia em chinês despertaram o interesse de outros cristãos tros missionários chinês,

com

na Europa e nos Estados Unidos. Logo ouforam se instalar nas fronteiras do império

a esperança

de encontrar

uma forma

pela qual

os

seus ensinamentos pudessem penetrar na grande nação. Contudo, as autoridades do país, que persistiam em considerar os estrangeiros como bárbaros, permitiram apenas a presença, em zonas muito ciantes europeus.

restritas,

de um

número

limitado

de comer-

Então, produziu-se um dos mais sufocantes atropelos de toda a era colonial, a Guerra do Ópio. Os comerciantes europeus, especialmente britânicos, tinham interesse em obter seda e outros produtos chineses, para vendê-los com enormes lucros na Europa. Mas os produtos maior interesse entre os chineses, ferior.

A Companhia

Britânica

europeus não despertavam por serem de qualidade in-

das índias

Orientais

encontrou

a

solução de pagar os produtos chineses com ópio produzido na índia. Este comércio teve tanto êxito, que logo a seda não bastou para com metais

pagar o ópio, e os chineses começaram a pagar preciosos. Embora a importação do ópio tivesse

sido proibida por edito imperial desde cio continuava ao abrigo da corrupção Por

fim,

que

o ópio

o governo

interveio,

causava,

como

1800, o nefando das autoridades

preocupado pela

sangria

tanto

comérlocais.

pelos

econômica

que

danos esse

comércio representava para o país. Em 1839, um delegado imperial chegou a Cantão, onde confiscou mais de um milhão de libras esterlinas em ópio que estava nas mãos de comerciantes estrangeiros.

A reação

não se fez esperar.

clararam que a honra britânica mento inglês, a questão foi muitos

afirmavam

que acudir

Os comerciantes

de-

havia sido ultrajada. No parladebatida calorosamente, pois do tráfico

de ópio era

uma desonra maior do que qualquer outra que os dessem ter perpetuado. Posteriormente, o partido ciantes acabou vencedor, e em 1840 começaram des. Desde o princípio, a superioridade da marinha impôs, e vários portos chineses foram ocupados A guerra durou pouco mais de um ano, e por fim

em defesa

chineses pudos comeras hostilidabritânica se pelo invasor. a China, hu-

milhada pelos bárbaros ocidentais, se viu obrigada a firmar o tratado de Nanquim, que concedia à Grã-Bretanha a ilha de Hong-Kong, e além disso garantia aos comerciantes ingleses o livre acesso a cinco importantes portos chineses. A partir de


Horizontes

Geográficos:

Asia - 147

então, em uma série de guerras cada vez mais humilhantes, China se viu obrigada a fazer concessões sempre crescentes várias potências européias, século, ao Japão.

aos

Estados

Unidos

a a

e, no fim

do

A França, na ocasião sob o governo de Napoleão III, viu nessas condições a oportunidade para aparecer como a grande paladina do catolicismo. Por isso, assegurou-se de que em seus tratados com a China se garantissem não apenas o's direitos

dos

comerciantes,

mas

também

os

dos

missionários.

Embora a Grã-Bretanha temesse envolver-se em questões religiosas, posteriormente também se viu obrigada a seguir o exemplo francês, estendendo sua proteção aos súditos britânicos que serviam como missionários na China. Isto chegou a tal ponto que a proteção estrangeira se estendeu não apenas aos missionários, mas também aos convertidos chineses, que ficaram fora

da jurisdição

dos tribunais

nacionais.

O resultado

foi

que a conversão ao cristianismo acabou parecendo vantajosa para muitos chineses, que se fizeram batizar mais por conveniência do que por convicção. Em geral, os moderada. Embora

protestantes seguiram uma política mais muitos se tenham oposto à participação

britânica

do Ópio,

fato

na Guerra

como

uma

"porta

aberta"

em grande

parte

para a pregação

eles viram

esse

do evangelho.

Mas ainda assim muitos dos missionários protestantes, conhecedores do ressentimento que a intervenção estrangeira havia causado, negaram-se a apelar à proteção de seus países de origem.

Apesar

desta

atitude

da parte

dos missionários

mais

sábios, do ponto de vista do chinês médio todo cristão era estrangeiro, em certa medida, embora por raça fosse chinês, e contra

ele se dirigia

a fobia

que

os chineses

sempre

haviam

sentido para com os estrangeiros, e que a essa época se havia exacerbado devido às repetidas humilhações a que o país fora submetido. Uma conseqüência inesperada das missões foi a rebelião de T'ai P'ing - o Reino celestial. Este movimento foi iniciado por

um professor

que leu nove tratados

cristãos

e decidiu

que

havia chegado a hora de estabelecer o Reino Celestial da grande paz, cujo rei seria ele. Nesse reino, todas as coisas seriam possuídas em comum, haveria igualdade entre homens e mulheres, e a prostituição seria proibida, bem como o adultério, a escravidão, o costume de amarrar os pés das meninas, o ópio, o tabaco e as bebidas alcoólicas. Em 1850 esse movimento ex-


148 - A Era dos Novos Horizontes

plodiu melhor

em uma rebelião militar, e as tropas disciplinadas do que as do governo

do Reino celestial, chinês, consegui-

ram importantes vitórias. Em 1853, eles estabeleceram a "Capital celestial" em Nanquim, e com base ali ameaçaram até a própria capital imperial de Pequim. Enquanto isso, as potências ocidentais continuavam em seu empenho de enfraquecer o império

chinês,

repartindo

os despojos

entre

si. Em 1860, os

franceses e britânicos invadiram Pequim e incendiaram o palácio imperial. Posteriormente, com a ajuda de contingentes ocidentais, as tropas imperiais chinesas esmagaram a rebelião de T'ai P'ing. Cerca de vinte milhões de pessoas morreram durante

os quinze anos que durou essa revolta. Foi durante a rebelião de T'ai P'ing que,

pela

primeira

à China aquele que seria um de seus missionários mais famosos, J. Hudson Taylor. Essa primeira visita foi interrompida quando Taylor precisou regressar à Inglaterra por

vez, chegou

motivos de saúde. Ali, ele se dedicou a promover o interesse do povo pelas missões na China, e começou a organizar a Missão para o Interior da China (China Inland Mission), sob cujos

Três missionários

na China (o da esquerda

é J. Hudson

Taylor)


Horizontes

ausprci

o s regressou

à China.

Geográfl

A organização

os: AI III

criada

por

i"/I

T n v lo r

tinha o propósito de evangelizar o interior da China, sem introduzir no país as divisões que existiam entre os protestantes no Ocidente. A Missão para o Interior da China aceitava missionários de todas as denominações, sempre que se mostrassem desejosos de proclamar o evangelho. As questões referentes à organização da igreja, a administração dos sacramentos

e outros

assuntos

semelhantes

em que as diversas

nominações diferiam, ficavam a cargo dos cristãos gião da China. Além disso, Taylor julgava que

de-

em cada reo apoio por

parte das potências estrangeiras, embora parecesse facilitar o trabalho missionário, na realidade o dificultava, pois ao mesmo tempo que criava incentivos para falsas conversões, provocava animosidade entre os chineses. Por isso, quase todos os missionários da Missão para o Interior da China se negavam a recorrer às autoridades estrangeiras quando obra era ameaçada. Embora essa política fosse difícil, sempre tenha sido cumprida cabalmente, ela contribuiu

a sua e nem para

mostrar a alguns chineses que nem todos os cristãos concordavam com as atitudes das potências invasoras. A questão de qual devia ser a atitude dos chineses para com

idéias

e costumes

recentemente

introduzidos

continuou

ocupando o centro do cenário político chinês através de todo o século XIX e boa parte do XX. EM 1899-1901, a rebelião dos "boxers", ajudada por certos elementos da corte imperial, foi a máxima manifestação do ódio que havia contra tudo o que fosse estrangeiro. Os rebeldes dirigiram a sua fúria contra os missionários

e seus convertidos,

potências contados

estrangeiras, aos milhares.

ruínas.

As

legações

que lhes pareciam

ser aliados

das

a saber, ocidentais. Os mortos foram Por toda parte, as igrejas ficaram em

estrangeiras

em

Pequim,

que

até

pouco

antes se havia dedicado a repartir entre si os despojos da China, se viram sitiadas, até que uma forte coluna internacional abriu passagem até a capital e libertou os sobreviventes. Perto do fim

de 1901, esmagado

aquele

movimento,

o governo

chi-

nês, que o havia alimentado, foi humilhado uma vez mais, e forçado a fazer novas e enormes concessões às potências ocidentais, inclusive uma indenização de mais de 738 milhões de dólares. \ Co~hecedoras do ressentimento que entre os chineses, várias agências missionárias aceitar

toda

reconstruir

a indenização os edifícios

que fosse

destruídos.

além

isto causava se negaram a

do necessário

para


150 - A Era dos Novos Horizontes

A rebelião dos "boxers"

Mais

tarde,

do Império.

o impacto

ocidental

Em 1911, a revolução

o Imperador República ocidentais

deixou muitas igrejas

abdicou.

na China

explodiu,

Com isso ficou

em ruínas.

aberto

à queda

levou

e no ano seguinte o caminho

para a

das Províncias Unidas da China. As idéias e as armas haviam destruído o velho império que, cem anos

antes, se considerava o céu. Durante

centro

esse anos,

do mundo

havia

muitos

e ponte

entre

que sonhavam

a terra com

e

uma

grande conversão da China, semelhante ao que havia acontecido no Império Romano nos séculos IV e V. Os missionários protestantes na China eram dezenas de milhares. Em todas as províncias havia igrejas, muitas delas florescentes, e começavam a aparecer chineses capazes de assumir a direção nascente. O tutu ro se mostrava cheio de promessas.

da igreja

Japão Durante a primeira metade do século XIX, o Japão tez o que pode para evitar todo contato com os estrangeiros, particularmente com as potências ocidentais. Estas procuraram es-


Horizontes

Geográficos:

Ásia - 151

Congregação chinesa na frente de seu templo, chamado "Salão da Verdadeira Doutrina" tabelecer

contatos

comerciais

com

o Japão

varias

vezes,

mas

sempre fracassaram. Em 1854, o comodoro Perry, da marinha norte-americana, apresentou-se na baía de Edo, hoje Tóquio, com uma forte meiro tratado

esquadra, comercial

Grã-Bretanha,

França,

e forçou os japoneses a firmar com uma potência ocidental.

Holanda

e Rússia conseguiram

o priLogo

tratados

semelhantes e, em 1864, uma expedição conjunta de britânicos, holandeses e norte-americanos esmagou toda resistência. Este fato iniciou um período vencidos da superioridade técnica

em que os japoneses, condo ocidente, dedicaram-se a

absorver dela o quanto puderam. O processo de industrialização, com o conseqüente desaparecimento do poderio dos antigos senhores feudais, foi rapidíssimo. Já no fim do século havia no país mais de cinco mil quilômetros de vias férreas, várias centenas de fábricas modernas e uma rede nacional de telégrafo. Ao mesmo tempo, o exército se havia reorganizado e armado segundo padrões franceses e alemães. Tudo isto fez do Japão uma potência capaz de derrotar os chineses e os russos,


152 - A Era dos Novos Horizontes

Catedral

o bispo

catรณlica

Nikolai,

de Nagasรกqui

da Igreja Ortodoxa

Japonesa


Horizontes

Geográficos:

anexando a si o antigo reino da Coréia (1910). O catolicismo havia chegado ao país, como mos, g raças à obra

de Francisco

Xavier

Ásia - 153

já observa-

e seus sucessores.

Mas

depois de uma violenta perseguição, e após o Japão se ter fechado para todo contato com o estrangeiro, parecia que aquela obra havia sido destruída. Portanto, grande foi a surpresa dos missionários protestantes que na segunda metade do século XIX descobriram, na região de Nagasáqui, mais de cem mil pessoas que ainda conservavam certos rudimentos da fé católica. Destes,

muitos

voltaram

ao catolicismo,

e outros

se tornaram

protestantes. Com base nesse núcleo católico, e em outra obra missionária, o catolicismo no Japão continuou crescendo até que, em 1891, estabeleceu-se uma hierarquia eclesiástica para o Japão, sob a direção do arcebispado no século XX (1937) esse arcebispado

de Tóquio. foi ocupado

Porém, só por um ja-

ponês.

Casa Metodista de Publicações, em Tóquio Também é interessante notar que os ortodoxos russos começaram uma obra missionária no Japão em 1861, sob a direção do sacerdote russo Nicolai. Ele fundou a Igreja Orto-


154 - A Era dos Novos Horizontes

doxa

Japonesa,

e foi o seu primeiro

bispo.

Essa igreja

foi ver-

dadeiramente japonesa, ao ponto de, em 1904, quando se desencadeou a guerra entre Rússia e Japão, Nicolai aconselhar a seus fiéis japoneses que fossem leais a sua pátria, e que não demonstrassem simpatia para com a Rússia, apesar de terem recebido a sua fé desse país. Os protestantes chegaram pouco depois da assinatura do primeiro tratado entre Japão e Estados Unidos, e eram em sua maior parte norte-americanos. trabalho foi duro, e por volta

Durante os primeiros anos, o de 1872 somente uma dezena de

japoneses se havia batizado. O período de rápida industrialização trouxe consigo uma grande avidez de aprender tudo quanto tantismo

os ocidentais cresceu

pudessem

a passos

Trabalho médico no Japão

ensinar,

gigantescos,

e por

isso o protes-

particularmente

entre


Horizontes

as classes

mais

educadas,

onde

Geográficos:

o impacto

do

As/s - 15

Ocidente

ra

mais marcante. Por isso, logo houve dirigentes nativos, que se ressentiam de alguns dos erros cometidos na obra missionária. Provavelmente

o mais

sério

desses

erros

tenha

sido

a divisão

que se havia importado dos Estados Unidos e da Europa, e que constituía um verdadeiro escândalo para os japoneses que se interessavam pelo evangelho. Por essa razão, vários cristãos japoneses começaram a trabalhar pela união das igrejas protestantes e, em 1911, fundaram uma associação com esse objetivo. Rapidamente, a igreja japonesa ia se tornando uma igreja

verdadeiramente

nacional.

Coréia O catolicismo chegou pela primeira vez à Coréia em 1777, ao que parece levado por chineses convertidos em Pequim pelos jesuítas. Logo milhares, apesar da

os católicos coreanos se contavam oposição das autoridades do país.

aos Em

1865, essa oposição acabou em perseguição, e durante os cinco anos seguintes morreram mais de dois mil católicos, incluindo alguns missionários franceses que se haviam infiltrado no país.

Equipe de tradutores

da Bíblia, na Coréia


156 - A Era dos Novos Horizontes

À

mesma sem êxito,

fim,

época, diversas potências ocidentais conseguir tratados comerciais com

em 1876, foram

os japoneses

procuravam, a Coréia. Por

que, mostrando

que haviam

aprendido bem a lição do comodoro Perry, obrigaram os coreanos a firmar o primeiro tratado. Logo vieram outros tratados com os Estados Unidos (1882), Grã-Bretanha (1883) e Rússia (1884).

Órfãos aos cuidados de uma missionária na Coréia Em

1884,

primeiros Unidos.

sob

a proteção

missionários Eles eram

e tiveram

grande

desses

protestantes,

principalmente êxito.

Parte

tratados,

chegaram

procedentes metodistas

dos

os

Estados

e presbiterianos,

da sua estratégia

consistia

em

fundar igrejas que desde os seus primórdios conseguiram sustentar-se, com dirigentes nacionais, e capazes, por sua vez, de serem centros de obra missionária. Por essa razão, o protestantismo

coreano

cresceu

rapidamente.

Embora

a dorn ina-

ção dos japoneses, que anexaram esse país em 1910, tenha zido novas dificuldades, o cristianismo estava firmemente

traes-


Horizontes

tabelecido, tãos

e soube

coreanos,

sobrepor-se

espalhados

por

a elas. outros

Geográficos:

No século países

por

Ásia - 157

XX, os criscausa

de re-

petidas guerras, dariam mostras da constância de sua fé. Tudo isto nos indica por que dissemos que o século

XIX

foi uma época de novos horizontes para o protestantismo na Ásia. Ao se iniciar esse século, havia na região nada mais io que uns poucos protestantes, principalmente na índia. Em 1914, quando se desencadeou via não apenas missionários, ções, muitas cífico,

em

quase

todas

a Primeira Guerra Mundial, hamas também fortes congrega-

as principais

cidades

aldeias remotas. Este fenômeno, na África e na América Latina,

do

Oriente

maior importância para a história do cristianismo debates que se realizavam em círculos teológicos a interminável multiplicidade nos Estados Unidos.

e em

que se repetiu no Paa longo prazo seria de

de denominações

do que os europeus ou

que apareciam


VIII Horizontes Geográficos: Oceania A princípio, as pessoas sentavam-se na igreja sobre esteiras no piso. Mas, pouco a pouco, sentiram a necessidade de ter assentos. Quando um homem tinha calças domingueiras, e uma mulber tinha um vestido branco, ou de algodão estampado, a próxima coisa era ter um assento na igreja, para manter limpas as suas novas vestimentas. Rufus Anderson, Secretário da Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras

No fim do século XVIII, as viagens do capitão inglês James Cook despertaram na Europa um novo interesse nas terras do Pacífico. Alguns desses territórios, como as Filipinas e a Indonésia, haviam sido colonizados pelos europeus muito tempo antes. Outros, particularmente a Austrália e a Nova Zelândia, foram invadidos por ondas migratórias de tal magnitude que, posteriormente,

os

europeus

e seus

descendentes

acabaram

constituindo a maioria da população. Por fim, as inúmeras ilhas da Melanésia, Micronésia e Polinésia, exploradas, colonizadas

e evangelizadas

por

europeus,

norte-americanos

e aus-

tralianos, ficaram debaixo do domínio das potências ocidentais, embora, em geral, a maior parte da população tenha continuado

sendo

das regiões

nativa.

Neste

capítulo,

colonizadas

antes

do início

começaremos do século

XIX,

falando ou seja,

as Filipinas e a Indonésia, para depois passar às novas nações ocidentais fundadas na região, Austrália e Nova Zelândia, e terminar

com um rápido

panorama

das ilhas

recentemente

co-


Horizontes

Geográficos:

Oceania

- ., 9

Ionizadas. Filipinas O primeiro europeu a chegar a essas ilhas foi Magalhães, que morreu em uma delas em 1521. A partir de então, elas foram motivo de discórdia entre espanhóis e portugueses, pois uns e outros as reclamavam com base nos direitos de conquista

e evangelização

que

sob a direção de Miguel preenderam a conquista

Roma

lhes

havia

dado.

Em

1565,

Lopez de Legazpi, os espanhóis emdas ilhas em disputa, onde Legazpi

fundou a cidade de Manila, em 1571. Visto que em 1580 a coroa de Portugal foi unida à de Espanha (até 1640), a rivalidade entre

as duas

nações

ibéricas

cessou.

Mas

logo

os holandeses

e ingleses começaram a disputar com a Espanha o comércio da região, que era governada do México pelo vice-rei de Nova Espanha. exemplo

Durante a segunda metade do século XIX, seguindo o das novas repúblicas americanas, muitos filipinos

começaram a reclamar a independência, que proclamaram em 1896, no Grito de Balintawak. O mais notável promotor da independência, José Rizal y Mercado, foi fuzilado pelos espanhóis' pouco depois de estourar a rebelião, e Emílio Aguinaldo ficou então à testa do movimento. Em 1898, aproveitando a guerra entre Espanha e Estados Unidos, os patriotas organizaram

urn

governo

republicano,

cujo

primeiro

presidente

foi

Aguinaldo. Quando se assinou a paz, no fim desse mesmo ano, a Espanha cedeu as Filipinas aos Estados Unidos. Os filipinos insistiram em sua independência, e continuou uma cruenta luta armada, até que Aguinaldo, capturado mediante gema, submeteu-se ao governo norte-americano.

um estrataEmbora as

hostilidades tenham continuado por algum tempo, elas foram amainando e, pouco a pouco. com a promessa de permitir algum dia a independência do país, os governadores norte-americanos conseguiram estabelecer a sua autoridade. das.

No meio de tudo isto, o catolicismo sofreu grandes perOs sacerdotes, quase todos leais à Espanha, foram o pri-

meiro meio de espionagem mediante o qual as autoridades espanholas se inteiravam das conspirações e golpes que eram preparados. Em conseqüência, Aguinaldo e os seus desejavam a criação de um catolicismo que se relacionasse diretamente com Roma, e que estivesse sob a direção de sacerdotes filipinos. Mas as gestões que o governo revolucionário fez perante Roma

não tiveram

o resultado

desejado,

e os patriotas

se se-


160 - A Era dos Novos Horizontes

pararam

de Roma,

criando

a Igreja

a direção do sacerdote filipino que depois tomou emprestada

Filipina

Independente,

sob

Gregório Aglipay. Essa igreja, dos protestantes alguns costu-

mes e doutrinas, ainda existe. Os protestantes não haviam demonstrado grande interesse nas Filipinas até que, inesperadamente, essas ilhas passaram a se colocar

sob o governo

norte-americano.

E ntão várias

agências missionárias, louvando a Deus por essa "porta aberta", prepararam-se para empreender uma obra ali. Antes de fazê-lo,

contudo,

Um culto protestante

consultaram-se

ao

ar livre,

mutuamente,

nas Filipinas

e

distribuí-

(ao fundo,

a

igreja

católica) ram entre si o território, de modo que, exceto em Manila, cada lugar houvesse missionários e igrejas de uma única nominação.

Ao mesmo

tempo,

fizeram

com respeito a Cuba e Porto Rico. Visto que a obra missionária

-se acordos

protestante

em de-

semelhantes

só começou

no


Horizontes

Geogrdfl

0':

)('111111111

III I

fim do século, em 1914, ao terminar o período que agora o s tu damos, as congregações protestantes eram ainda relativamente pequenas e, em muitos sentidos, o trabalho estava apenas começando. Indonésia Os primeiros europeus a se estabelecerem no arquipélago indonésio, hoje correspondente à I ndonésia e Malásia Oriental, foram os portugueses. O interesse deles não era o de conquistar as ilhas, mas estabelecer nelas bases que os ajudassem a manter o seu monopólio sobre o comércio com a China. Ademais,

eles

desejavam

gião, de quem obtinham vam altos preços. Mas

comerciar

com

os habitantes

da re-

especiarias que, na Europa, alcançalogo os holandeses e britânicos, que

não estavam dispostos a ser excluídos de comércio tão lucrativo, começaram a ameaçar os interesses portugueses na região. Os holandeses estabeleceram-se em Sumatra, em 1596, e os ingleses

em Java,

em 1602. A longo

prazo,

os holandeses

saí-

ram vencedores nessa competição tripla, embora tanto Portugal quanto a Inglaterra tenham retido importantes territórios. O catolicismo, estabelecido séculos antes, graças à obra de Francisco dido grande foi cedendo duas

Xavier, continuou a sua obra, embora tenha perparte do seu impulso, na medida em que Portugal lugar a Holanda e G rã- Bretanha. Visto que essas

potências

eram

majoritariamente

protestantes,

o protes-

tantismo avançou na região. Esse avanço não foi fácil, pois a Companhia Holandesa das índias Orientais opunha-se ao trabalho missionário, temendo que ele provocasse a animosidade dos naturais, e que isso interrompesse o comércio. Esse temor era ainda maior, porque em algumas ilhas os muçulmanos eram numerosos, e repetidamente eles se haviam mostrado oponentes

da

pregação

cristã.

Mas,

em

1798,

a Companhia

Holandesa das índias Orientais foi desfeita, e pouco depois foram organizadas na Holanda sociedades missionárias que se interessaram pelo trabalho na Indonésia. Pouco a pouco, as principais denominações norte-americanas, foram tre a população animista,

holandesas, e outras britânicas e penetrando na região, sobretudo enembora também tenham conseguido

convertidos entre os muçulmanos de Java. Contudo, o governo holandês demonstrava a governar com mão de ferro vam debaixo da sua jurisdição.

estar

disposto

os territórios que se encontraEm 1820, ele decretou a união


162 - A Era dos Novos Horizontes

de todas as igrejas protestantes da Indonésia - decreto que só veio a se cumprir em 1854. E, em 1830, introduziu um sistema de controle sobre a agricultura, que determinava o que os naturais deviam cultivar, como e quando, e a que preço deviam vender os produtos. No campo econômico, isto criou um sistema

de exploração

e opressão.

No campo

religioso,

a uma igreja do Estado, cujo zelo missionário necessária uma grande campanha de protesto

deu lugar

diminuiu. por parte

Foi dos

cristãos na Holanda, para que, em 1870, o governo abolisse os mais rígidos controles sobre a agricultura e o comércio. Então, inspirada por seus irmãos da Holanda, a Igreja das índias Orientais recobrou novo vigor. no

Um dos episódios mais interessantes que tiveram arquipélago, no século XIX, foi o êxito alcançado

lugar pelo

aventureiro inglês James Brooke, a quem o sultão de Brunei, no norte de Bornéo, tornou rajá da região de Sarawak. Sob o governo de Brooke (1841-68), de seu sobrinho Charles Brooke (1868-1917) e do filho de Charles, Vyner (1917-46), Sarawak permaneceu sob o protetorado britânico. James Brooke destruiu a pirataria na região e depois, interessado em melhorar as condições ingleses

de vida

de seus

a se estabelecerem

súditos,

em seus

convidou domínios.

missionários Os primeiros

missionários na educação, conseguiram

introduziram importantes melhoras na medicina e produziram literatura no idioma do país, e logo um bom número de conversões. Com motivos

semelhantes

aos de seu tio,

tingente mínios,

de que disseminassem como

Charles

entre

os conhecimentos

Austrália

convidou

um con-

e Nova

os seus vizinhos

depois

tanto

a fé cristã

de agricultura.

Zelândia

No século XVII, navegantes explorado as costas da Austrália que

Brooke

de chineses metodistas a se estabelecer em seus doonde lhes ofereceu terras e proteção, com a esperança

deles

visitaram

holandeses haviam visitado e e Nova Zelândia. Os europeus

a região

foram

os ingleses

que

acompanharam o capitão Cook. Os informes de James Cook despertaram interesse na Grã-Bretanha, particularmente sobre a região situada na costa oriental da Austrália, que Cook havia chamado de Nova Gales do Sul. Pouco depois, discutia-se na Inglaterra portados estabelecer

o que fazer

com os condenados

para as colônias colônias

que antes

norte-americanas.

de deportados

na África

eram

de-

Uma tentativa

de

não

havia

tido


Horizontes

maior

êxito,

e logo

se achou

Geográficos:

a solução

Oceania - 163

de se usarem

as exten-

sas terras da Nova Gales do Sul para esse objetivo. Os primeiros réus chegaram em 1788, e a partir de então os sentenciados continuaram

a chegar

de 1793 começaram aumentando

à Austrália a chegar

até ultrapassar

até 1867. Além

colonos

livres,

disso,

cujo

o de condenados.

a partir

número

foi

Isto se deveu

ao

desenvolvimento da criação de ovelhas, cuja lã era exponada para a Europa, e sobretudo ao descobrimento de grandes minas de ouro, em 1851. Devido ao caráter dos primeiros colonos e à febre

do ouro

nias inglesas

que surgiu

na Austrália

depois,

foram

por muito

difíceis

tempo

as colô-

de governar.

A filiação religiosa desses colonos era semelhante à das Ilhas Britânicas, embora, mais tarde, tanto quanto nos Estados Unidos, as "igrejas livres", a saber, não-anglicanas, tenham chegado a incluir Quem mais

uma proporção muito maior da população. sofreu como conseqüência de tudo isto foram

os habitantes originais do continente suas terras se tornaram lucrativas,

australiano. Logo que as graças à ovicultura, eles

foram empurrados para territórios desérticos. Se eles insistiam em voltar, eram mortos como animais. Por volta de 1820, os aborígenes, exasperados, começaram a dar mostras de resistência, com o que só conseguiram fúria assassina ainda maior. No meio dessas circunstâncias, curaram

remediar

a situação.

ser

perseguidos

houve

Os protestos

com

uma

que

pro-

cristãos perante

o governo

de Londres, embora repetidos, não tiveram maiores conseqüências. O capelão anglicano Samuel Marsden, cujas responsabilidades oficiais se limitavam aos brancos, começou um trabalho missionário entre os aborígenes, em 1795, embora com pouco êxito. Outros, tanto protestantes como católicos, seguiram um método semelhante ao que os jesuítas haviam gado no Paraguai, procurando convencer os aborígenes em aldeias. O resultado desse método também Embora muitos dos naturais do país se tivessem

emprea viver

foi pequeno. convertido, a

população, dizimada pelos crimes que contra ela se cometiam, por enfermidades introduzidas pelos brancos e pela destruição de seus costumes e tradições, parecia destinada a desaparecer, até que, no século XX, medidas mais eficazes foram tomadas para a sua proteção. A história da Nova trália, é diferente. do capitão Cook.

Zelândia,

embora

paralela

à da Aus-

Ali também os holandeses chegaram antes E ali também se estabeleceram alguns ele-


164 - A Era dos Novos Horizontes

mentos

pouco

ganizou Zelândia,

desejáveis.

Mas,

em 1814, Samuel

Marsden

or-

uma obra missionária entre os habitantes da Nova os maoris. Embora ele mesmo não tenha permaneci-

do muito

tempo

na Nova

Zelândia,

fundou

em seu lar na Aus-

trália um seminário onde chefes maoris se preparavam para voltar e pregar em sua terra natal. Além disso, a Bíblia foi traduzida para o maori e, em 1842, foi nomeado o primeiro bispo anglicano para a Nova Zelândia. Enquanto isso, outros britânicos haviam chegado às ilhas, e em 1840, mediante um tratado com várias centenas de chefes maoris, tânica.

a Nova Zelândia colocou-se debaixo da soberania briOs abusos por parte dos colonos provocaram duas re-

beliões de maoris, uma em 1843-1848 e outra em 1860-70. Ambas foram esmagadas pelas autoridades britânicas, com a ajuda de alguns chefes nativos que não participaram das rebeliões. Quando em 1861 se descobriu ouro, ficou selada a sorte dos maoris,

que logo

perderam

quase

todas

as terras

que lhes

restavam. Os ingleses louvavam a si mesmos por terem erradicado o canibalismo que os maoris praticavam antes de sua chegada e, portanto, por havê-los "civilizado". Mas a verdade é que, sem se contar a intervenção benéfica caridosas, e em particular dos missionários pacto dos europeus Um

na Nova Zelândia

fenômeno

interessante,

de algumas e pastores,

almas o im-

foi devastador.

que

se

repetira

em

outras

partes do mundo, foi o modo por que alguns elementos tomados do cristianismo foram combinados com outros extraídos da tradição

maori

para

produzir

movimentos

religiosos

e polí-

ticos. Durante a segunda rebelião maori, por volta de 1860, surgiram dois movimentos com essas características. O primeiro, conhecido como jau-jau ou Pai ma rire , foi fundado por um profeta que dizia haver visto o anjo Gabriel, e em cujas doutrinas estava incluída grande parte da pregação bíblica a respeito do reino de justiça e do triunfo dos filhos de Deus. Algum tempo depois, o profeta religioso e chefe guerrilheiro Te Kooti fundou a seita chamada Ringatu, também com base em doutrinas cristãs unidas com tradições dos maoris e a suas ânsias de justiça. Esses movimentos, e outros semelhantes, contaram com bom número de seguidores entre os maoris, pelo menos

até boa parte

do século

As ilhas do Pacífico A leste das Filipinas,

XX.

da Indonésia

e da Austrália,

há um


Horizontes

número

enorme

de ilhas

que

Geogri4ficos:

os geógrafos

Oceania

- 165

classificaram

em

três grupos: Micronésia, a leste das Filipinas; Melanésia, ao sul da Micronésia; e Polinésia, a leste dos dois grupos anteriores. Desde os tempos gueses,

de Magalhães,

holandeses,

britânicos

marinheiros e franceses

espanhóis, haviam

portuvisitado

Capela católica em uma aldeia de Guam uma ou outra dessas ilhas. Mas as suas viagens não despertaram maior interesse até o fim do século XVIII, quando os descobrimentos do capitão Cook e de outros que o seguiram, criaram na imaginação européia sonhos de ilhas fabulosas, com climas paradisíacos, formosas mulheres e riquezas insuspeitadas. Até então, as ilhas só atraíam exploradores, caçadores de baleias, aventureiros e outros homens que as visitavam apenas de passagem. Os primeiros europeus a se estabelecerem permanentemente nelas foram os amotinados do famoso navio cujos

inglês Bounty , que desembarcaram na ilha descendentes, de mulheres nativas, ainda

de Pitcairn e vivem nessa


166 - A Era dos Novos Horizontes

ilha. Depois chegaram os primeiros mis si o ná r io s, que se estabeleceram no Taiti, e mais tarde nas ilhas Marquesas. Esses missionários eram protestantes, mas logo tiveram de enfrentar a competiçào dos católicos. Assim, entre aventu reiros, comerciantes, colonos e missionários, o mundo ocidental foi deixando a sua marca sobre aquelas ilhas. Os quadros idílicos de climas maravilhosos e habitantes dóceis e amáveis nem sempre eram corretos. Enquanto em algumas ilhas manifestavam-se demonstrações de inusitada hospitalidade, em outras se praticava o canibalismo, ou se caçavam cabeças, ou as viúvas eram estranguladas. Entre algumas delas havia contato algum. dos

Tudo isto europeus.

guerras

endêmicas.

mudou, para Provavelmente

E ntre

outras

não

havia

bem e para mal, com a chegada o maior impacto foi causado

Dois cristãos de Samoa, no século XIX inconscientemente

pelos

ram enfermidades

contra

recém-chegados, as quais

pois

os naturais

eles introduzi-

das ilhas

não ha-

viam desenvolvido imunidade e que, portanto, dizimaram a população. Em alguns casos, o efeito foi semelhante ao da peste bubônica na Europa, no fim da Idade Média. Além disso,


Horizontes

Geográficos:

Oceania

- 167

Oficina em uma escola industrial missionária, em Fiji os europeus introduziram armas de fogo, com as quais as constantes guerras se tornaram muito mais mortíferas. Os comerciantes e aventureiros usavam os seus conhecimentos técnicos

para

enganar

os nativos,

taram os que estabeleceram túcia e no engano.

ou para dominá-los,

pequenos

reinos

com

e não falbase na as-

Durante quase toda a primeira metade do século XIX, as potências européias não se interessaram verdadeiramente pelas ilhas do Pacífico. Foi no meio do século, com o aumento da competição

imperialista,

que cada nação

se lançou

sobre

a sua

parte no butim. Posteriormente os britânicos, cuja marinha era mais eficiente, tomaram a maior parte das ilhas. Mas nessa repartição foram beneficiadas também a França, a Alemanha, os Estados Unidos, a Austrália e a Nova Zelândia. Quando se desencadeou a Primeira Guerra Mundial, dificilmente restava no Pacífico uma rocha que alguma potência não reclamasse para si. Devido ao grande número de ilhas em questão, não podemos seguir aqui a história do cristianismo em cada uma de-


168 - A Era dos Novos Horizontes

Interior las. meiro

de uma igreja

Portanto,

basta

é que, quanto

na Metené sie fazer

alguns

comentários

ao que se refere

ao apoio

que mais gozaram dele foram os católicos, França era usar as missões católicas como

gerais.

O pri-

do Estado,

os

pois a política da veículo para o au-


Horizontes

Geogrรกficos:

Oceania

- 169


170 - A Era dos Novos Horizontes

mento

do seu império.

Por isso, quando

negava a permitir a presença qüentemente ele era persuadido um

navio

ocasião

de guerra

diante

as dificuldades

peçaram

levaram

Ao contrário, contou com

fato

que os missionários

da bandeira

notável

é que,

zelo

as igrejas missionário.

nas ilhas Assim

E em mais

se

de uma

católicos

da soberania

tro-

francesa.

protestantes não por vezes temiam

lhes pudessem

na maioria

do Pacífico que

nativo

católicos, freda presença de

causar.

norte-americana.

ge~ho nã.o chegou a uma ilha levado por missionários naturais de alguma cedo,

chefe

que os missionários

ao estabelecimento

ficou debaixo

Outro

da sua aldeia.

com

a maior parte dos missionários o apoio de seus governos, que

as complicações

o Havaí

algum

de missionários a isso, através

a igreja

das vezes,

o evan-

por cristãos brancos, ilha próxima. Desde se distinguiram se estabelecia

por

mas logo seu

em um lu-


Horizontes

gar, havia voluntários outro lugar. Em mais luntários,

ansiosos por de uma ocasião

ao chegarem

à ilha

onde

Geográficos:

Oceania

- 171

levar a mensagem para aconteceu que esses voiam

pregar

o amor,

eram

mortos e comidos por aqueles a quem esperavam converter. Então, ao terem notícia do que acontecera, apareciam outros dispostos a continuar tão perigosa missão. Além

disso,

convém

assinalar

que

logo

houve

pastores

nativos na maior parte das igrejas, embora tenha havido missionários que resistiram à tendência de colocar sobre os seus ombros maiores responsabilidades. Em Fiji e outros lugares, foram fundados seminários missionários para as diversas Por seu

poder

fim,

não faltaram

para

proclamar

onde ilhas.

se

potentados

preparavam nativos

o evangelho,

que

pastores

e

usaram

o

e o evangelho

para

estender o seu poderio, como o fizeram tantos governantes através da história. Talvez o mais notável destes tenha sido o rei de Tonga, que se batizou com o nome de Jorge - em honra ao Rei da Inglaterra várias ilhas circunjacentes, gelho fosse pregado.

- e que estendeu o seu poderio a onde também fez com que o evan-

Em todo caso, ao terminar o século XIX, a maioria dos polinésios eram cristãos, e havia igreja em quase todas as ilhas da Melanésia e da Micronésia. Unicamente em regiões remotíssimas,

como

que não tinham Oceania, como horizontes

o interior

da

Nova

Guiné,

restavam

pessoas

nenhuma notícia do cristianismo. Portanto, no resto do mundo, o século XIX ampliou

da igreja,

de não se louvava

ao ponto

o nome

de serem

de Cristo.

poucos

os lugares

na os on-


IX Horizontes Geográficos: , A Africa e o Mundo Muçulmano Oportunidade não falta. Há tribos e aldeias sem número, ao norte e a leste daqui, e todas ficariam orgulhosas em ter um homem branco. Não sei de nenhum obstáculo à obra missionária em todo o território ao norte do Zambese e em direção ao centro do continente. E todos os dias recebemos notícias de como o comércio está se estendendo em todas as direções. David Livingstone Durante

séculos,

a expansão

européia

deste havia sido impedida pelo poderio territórios muçulmanos que bordejavam ca,

encontravam-se

regiões

para

o sul e o su-

muçulmano. Ao sul dos o litoral norte da Áfri-

desérticas,

e além

havia

selvas tropicais. Nem uma coisa nem outra despertou resse das potências européias, que, por muito tempo, mundo muçulmano e a África negra como obstáculos rodeados, antes de se chegar às promissoras Mas no curso do século XIX, e nos últimos meira

Guerra

Mundial,

essa situação

O mundo muçulmano Quando começou Próximo e da costa mano, cujo governo

o século

XIX,

densas o inteviram o a serem

terras do Oriente. anos antes da Pri-

mudou.

a maior

parte

do Oriente

norte da África pertencia ao Império Otoestava nas mãos do sultão, em Istambul,

antiga Constantinopla. Mas esse vasto império começava a apresentar mostras de desintegração. Em 1830, declarando que


Horizontes

era necessário gelinos,

Geoçréticos:

destruir

os franceses

A África

a pirataria invadiram

e

o

Mundo Muçulmano

que florescia a Argélia,

- 173

nos litorais

onde

ar-

haveriam

de

permanecer por mais de um século. Pouco depois, o governador do Egito, Mohamed Ali, rebelou-se contra o Sultão, e em seguida conseguiu estabelecer um reino independente. Foi com as autoridades desse reino que os franceses negociaram para a construção do Canal de Suez. Os ingleses opunham-se a esse

empreendimento,

que

Oriente. Mas, ulteriormente, rítimo em 1869. Seis anos

daria

à

as dificuldades econômicas do governo ações que este possuía na Companhia lhões

de francos.

França

A Tunísia

e invadiu

fácil

ao

foi

egípcio, e comprou as do Canal, por cem mi-

invadida

pelos

1881. No ano seguinte, uma rebelião contra provocou a intervenção da Grã-Bretanha, Alexandria

acesso

o canal foi aberto ao tráfego madepois, a Grã-Bretanha aproveitou

o Cairo.

franceses

em

o soberano egípcio que bombardeou

Essa intervenção,

que teorica-

mente seria passageira, continuou indefinidamente, e em 1914 proclamou-se oficialmente o "protetorado" da Grã-Bretanha sobre o Egito. Três anos antes, em 1911, a Itália havia se estabelecido na Líbia. Portanto, quando Guerra Mundial, o Império Otomano parte

de seus territórios.

ção do sultanato,

Esse processo

teve havia

início a Primeira perdido uma boa

continuaria

em 1922, e a proclamação

até a aboli-

da república,

em

1923. No Oriente Próximo continuavam existindo várias das mais antigas igrejas cristãs. Foi nessas terras que o cristianismo nasceu e viveu alguns dos seus dias mais gloriosos. Portanto, quando raiou o século XIX, já havia ali antiqüíssimas igrejas cristãs, às quais nos referimos anteriormente: os có p ticos do Egito, os jacobitas da Síria, os ortodoxos disseminados por toda a região, etc. Todas essas igrejas haviam conservado a sua fé através de longos anos de dominação muçulmana. Mas, em meio a circunstâncias extremamente adversas, elas haviam perdido o seu zelo evangelístico. Em países onde se permitia que os cristãos vivessem em paz, sempre que não parecessem desonrar o nome do Profeta, e onde a conversão ao cristianismo era castigada com a morte, não é de estranhar que os cristãos acabaram por se contentar em conservar a sua fé e transmiti-Ia

a seus descendentes.

Essa fé era alimentada

principalmente pelo culto divino e, por isso, a liturgia uma importância vital para as antigas igrejas, que por tempo

haviam

sobrevivido

à sombra

do Islã.

tinha tanto


174 - A Era dos Novos Horizontes

A decadência das potências possibilidade

do Império

ocidentais, de começar

Otomano,

e a crescente

pujança

levaram muitas pessoas a pensar na uma obra missionária na região. Ao

mesmo tempo, visto que já havia ali outros cristãos, todos os missionários, tanto católicos como protestantes, precisavam enfrentar a questão de como se relacionar com eles. atrair

Em geral, os católicos continuaram a política de procurar igrejas inteiras à comunhão romana e à obediência ao

papa. Desse modo, eles provocaram cismas na maior parte das igrejas antigas, pois enquanto um ramo delas aceitou a autoridade papal, outro a rejeitou. Assim, foram criadas em toda a região "igrejas orientais unidas" que conservam os seus rituais e tradições antigos, mas doutrinariamente são católicas. Cada

um

desses

grupos

se distingue,

então,

como

um "rito"

dentro do catolicismo, e para se ocupar deles criou-se em Roma, em 1862, a Congregação dos ritos orientais. Em geral, nem as antigas igrejas orientais nem os seus ramos que se uniram a Roma se distinguiram por seu zelo missionário. Alguns católicos europeus procuraram converter çulmanos. Deles o mais notável foi o bispo de Argel, M. A. Lavigerie,

que fundou

os muCharles

a Sociedade dos missionários conhecida como "os

Nossa Senhora da África, comumente

dres brancos". Todavia, embora o propósito ganização fosse pregar entre os muçulmanos ca, posteriormente

os seus sucessos

mais

orientais

antigas

foi

de lhes

prestar

campo da educação, esperando sem nova vida. Essa política posteriormente

surgiram

gumas das idéias resultado de que antigas

igrejas.

inicial dessa ordo norte da Áfri-

notáveis

gar entre a população negra, mais ao sul. A política da maioria dos protestantes ajuda,

de pa-

tiveram

perante

lu-

as igrejas

particularmente

no

que, desse modo, elas recebesteve um êxito moderado. Mas

conflitos

entre

os que aceitavam

al-

protestantes e os que as rejeitavam, com o alguns cismas tiveram lugar em várias das

Foi desses

cismas

que as igrejas

protestantes

obtiveram a maioria dos seus membros, embora também tivessem conseguido alguns convertidos do Islã. Desse modo foram fundadas algumas igrejas protestantes na região, particularmente no Egito, Síria e Líbano. Porém tendo dito tudo isto, é necessário observar que o século XIX, era dos novos horizontes missionários, não presenciou no mundo muçulmano do cristianismo que teve lugar

o mesmo crescimento numérico no Oriente ou na África neg ra.


Horizontes

Geográficos:

A África

e o Mundo Muçulmano

- 175

África Quando começou o século XIX, as possessões européias na África eram relativamente pequenas. A Espanha tinha no litoral norte algumas em séculos anteriores. português tráfico

praças fortes, Em Angola

se limitava

de escravos.

ao Em

litoral,

1652,

conquistadas e Moçambique, dedicado

dos mouros o domínio

principalmente

os holandeses

haviam

fundado

uma colônia no Cabo da Boa Esperança, no extremo continente. Pouco depois, os franceses estabeleceram queno posto comercial na costa do Senegal. da, para escravos libertos, a colônia britânica Num contraste marcante com essa desencadeou a Primeira Guerra Mundial vam na África

outros

pia e a Libéria. nação africana, como

Estados

lar para os negros

No princípio relativamente

sul do um pe-

Em 1799, foi criade Serra Leoa.

situação, quando se em 1914, não resta-

independentes,

a não ser a Etió-

Esta última, na verdade, não era uma antiga mas havia sido criada pelos Estados Unidos, livres

que desejassem

Todo o resto do continente estava uma ou outra potência européia. foi

ao

do século lento.

XIX,

voltar

sob o governo

esse processo

Em 1806, os britânicos

à África.

colonial

de

de colonização tomaram

a co-

lônia holandesa no Cabo da Boa Esperança. As leis britânicas, opostas à escravidão e aos abusos cometidos contra os trabalhadores neg ro s, não foram bem vistas pelos colonos de origem holandesa (os "bo er s". de uma palavra holandesa que significa "camponês") e, por volta de 1835, estes começaram a emigrar

para o nordeste,

o Estado

Livre

onde

de Orange

criaram

a República

e a República

de Natal,

de Transvaal.

e

Todos

esses Estados tinham o objetivo de evadir-se às leis britânicas, particularmente no que se referia ao tratamento dispensado aos negros. Segundo diziam os boers, eles faziam isso como cristãos, porque as leis britânicas se opunham às de Deus, ao colocar os escravos no mesmo nível dos cristãos. Em todo caso, assim África. negros dente

se expandiu

a colonização

européia

para o interior

da

Enquanto isso, em 1820, haviam chegado os primeiros norte-americanos à Libéria, que se tornou indepenem 1847. Mas, até então,

os territórios

colonizados

eram

somente uma fração do continente. E então, em meados do século, o interesse das potências européias em relação ao continente rios

neg ro começou como

pertaram

Livingstone, a imaginação

a crescer. de quem

As explorações falaremos

de cristãos

mais

interessados

de missionáadiante,

des-

na obra

mis-


176 - A Era dos Novos Horizontes

Potências

coloniais:

Grã-Bretanha Alemanha França Portugal Itália Espanha Bélgica

A colonização

da África,

1914


Horizontes

sionana.

GeogrAficos:

Em muitos

casos,

giões onde o poderio de evitar uma invasão

penetravam

que enviavam

de 1870, começou

levaram

Mundo Muçulmano

os missionários

à cruenta

tropas

a corrida

ca de colônias africanas. Em 1867, foram minas de diamantes no sul do continente. motivos

o

e

- 177

em re-

colonial não chegava; mas então, a fim da parte de alguma tribo vizinha, apela-

vam às autoridades coloniais, por anexar o território. Por volta

A África

"Guerra

e acabavam

precipitada,

em bus-

descobertas grandes Depois, este e outros

dos Boers",

em que a Grã-

Bretanha acabou vencedora e anexou os antigos territórios dos boers. Enquanto isso, a França, temerosa do avanço britânico, começou a estender as suas possessões, com o objetivo final de criar um vasto império que fosse desde a Argélia até o Senegal.

Em

1884,

a Alemanha

entrou

nessa

nhoreando-se da África Sudoeste Alemã do II da Bélgica, que em seu país tinha

competição,

asse-

- a Namíbia. Leopolapenas os poderes li-

mitados de um monarca constitucional, assumiu a colonização do Congo como empresa pessoal, e fez da nova colônia uma possessão direta da coroa belga, até que, em 1908, por ação do Parlamento, criou-se o Congo Belga. Em 1885, o governo espanhol reclamou para si Rio do Ouro e a Guiné Espanhola. Pouco depois, a Itália reclamou a Eritréia. Enquanto isso, outros empreendimentos britânicos, franceses e alemães haviam completado a repartição do continente. Em todo esse processo, Estados Unidos um crescente ca. Isto aconteceu tanto entre tes. Em termos tólicos tiveram belgas, alemãs. As conflitos tigos rios

despertou-se na Europa e nos interesse pelas missões na Áfricatólicos como entre protestan-

gerais, embora com notáveis exceções, os casua base de operações nas colônias francesas,

italianas

e espanholas;

os protestantes,

missões católicas foram debilitadas de jurisdição. Portugal continuava

direitos

de patronato

que supostamente

sobre

lhe haviam

a igreja sido

nas britânicas

pelos constantes reclamando os an-

em todos concedidos

A França e a Bélgica disputavam entre si o vale cada uma temia que os missionários procedentes fossem Leopoldo dos

a vanguarda II reclamou

protestantes

permitido lhes prestou

-

de uma para coisa

empresa

si o Congo, que

e

a Grã-Bretanha

Roma.

do Congo, e da sua rival

colonizadora. sem

os territópor

proibir não

Quando a entrada lhe

havia

Roma mostrou-se extremamente suspeita, e não grande apoio às missões empreendidas pelo Rei.


178 - A Era dos Novos Horizontes

Além

disso,

freqüentemente

se encontra

nos documentos

da

época o temor constante de que os africanos se tornassem protestantes, e em mais de uma ocasião foi esse temor, e não o impulso missionário, que inspirou o estabelecimento de missões católicas em uma ou outra região. O catolicismo contou com notáveis missionários que dedicaram a sua vida à África. Já mencionamos os "padres brancos" de Lavigerie, a quem as autoridades romanas confiaram o trabalho missionário no interior da África. Além deles, estabeleceu-se na ilha de Zanzíbar um centro missionário que teve certo leste.

êxito limitado Porém, apesar

foi, na África como missões protestantes. A obra demos

na penetração do continente destes e de outros esforços, no resto

protestante

descrevê-Ia

Leoa trabalharam

do mundo,

na África

foi

adequadamente missionários

o grande

mais

aqui.

a partir do o século XIX século

extensa,

Na Libéria

norte-americanos,

das

e não poe em Serra

muitos

deles

negros enviados pelas igrejas negras dos Estados Unidos, a que nos referimos anteriormente. Os anglicanos fundaram em Serra Leoa uma igreja de grande vigor, e o mesmo fizeram em Nigéria,

Gana e outras

ca que se iniciaram notáveis. Durante muito britânicos da África mensagem

cristã

um colono

holandês

colônias.

Mas foi a partir

os empreendimentos tempo, do Sul

alguns haviam

para os naturais escreveu

do sul da Áfri-

missionários

mais

dos colonos holandeses se interessado em levar

do país. Assim,

em seu diário,

e a

por exemplo,

em 1758:

17 de abril. Começamos a ter escola para os jovens escravos, sob a responsabilidade de um capelão. Para estimular a atenção dos escravos, e para induzilos a aprender as orações cristãs, prometemos a cada um que, ao terminar a sua tarefa, daríamos a cada um uma garrafa de bebida e duas polegadas de tabaco. Mas esse interesse era muito limitado, cançava alguém além dos limites da colônia,

e raras vezes alaté que no século

XIX começou um despertamento, que convenceu muitos holandeses e britânicos de que eles tinham a obrigação de levar o evangelho para o interior da África. A figura mais notável entre os missionários dessa primeira geração foi o holandês Johannes Theodorus Vander-


Horizontes

Geogrรกficos:

A ร trice e o Mundo

MuรงlJlnlllllO

IIU


180 - A Era dos Novos Horizontes

kemp.

Ao

não cria

contrário

dos

boers

na superioridade

que

o rodeavam,

dos brancos

Vanderkemp

e de sua civilização

so-

bre os negros e a deles. Pelo contrário, ele sentia verdadeiro apreço pelos costumes dos africanos, que considerava admiravelmente

adaptados

ao ambiente

africano,

enquanto

pensava

que era absurdo o desejo dos brancos de criar na África uma nova Europa. Vanderkemp chegou ao Cabo da Boa Esperança em 1799, enviado sob os auspícios da Sociedade Missionária de Londres. dos cafires, quem

Depois de uma tentativa fracassada entre a tribo dedicou-se ao trabalho entre os hotentotes, para

estabeleceu

um

centro

instruídos. Logo as críticas bretudo quando Vanderkemp

onde

para se casar com ela. Contudo, kemp continuou a sua obra, rios oriundos da Inglaterra. núpcias

com

imoralidade

mulheres e de

trabalhavam

e eram

apesar

dessas críticas,

Vander-

com a ajuda de outros missionáQuando vários desses contraíram

hotentotes,

subverter

eles

dos colonos se fizeram ouvir, socomprou e libertou uma escrava,

a ordem

eles

foram

acusados

estabelecida

por

de

Deus.

Sobretudo, visto que os missionários enviavam para a Inglaterra relatórios acerca dos maus tratos aplicados aos negros, conseguindo que se empreendessem reformas, os boers se convenceram

de que os missionários

eram

seus inimigos

acér-

rimos

e também inimigos de Deus. Outro missionário notável foi Robert Moffat, que se estabeleceu entre os bantus, para cujo idioma traduziu a Bíblia e

outros livros. Conhecedor de técnicas agrícolas, esforçou-se muito para melhorar a alimentação dos bantus. Além disso, as suas explorações, e os relatórios que enviava para a Grã-Bretanha,

fizeram

com que um exército

de jovens

oferecesse para seguir o seu exemplo. Mas a figura culminante das missões

missionários

à África

se

em todo

o

século XIX, foi, sem dúvida, David Livingstone. Nascido na Escócia, em 1813, em um humilde lar de profunda convicção cristã, Livingstone não pôde se prestar ao luxo de uma educação formal. Desde bem pequeno, ele teve de trabalhar em uma fábrica de algodão, onde colocava um livro diante de si, e o lia ao mesmo tempo que trabalhava. Assim ele chegou a possuir cultura

regular,

de tal

modo

que, quando

se decidiu

dedicar

obra missionária, pôde estudar na Universidade de Glasgow sem maiores dificuldades. O seu propósito era ir para a China, e para isso se preparou Missionária de Londres.

seguindo as indicações da Sociedade Mas a Guerra do Ópio não lhe permi-

à


Horizontes

Geoçréticos:

A África

e

o

Mundo Muçulmano

- 181

Robert Moffat tiu partir para

e, então,

a África.

depois

Pouco

de conhecer

antes

de partir,

Robert

Moffat,

decidiu

em 1840, recebeu

ir

o di-

p~oma de médico, e foi ordenado. Em meados de 1841, chegou à cidade do Cabo, e dali marchou mais de mil quilômetros em direção ao norte, para se estabelecer na avançada missão que Moffat

havia fundado

em Kuruman.

Depois de dois anos de aprendizagem Moffat, partiu para Mabotsa, a trezentos

sob a orientação de quilômetros de dis-

tância. Ali fundou uma missão e construiu uma casa que compartilhava com sua esposa Mary, filha de Moffat. O seu plano era permanecer ali. Mas teve desentendimentos com outro missionário,

e decidiu

deixar

o campo

livre,

marchando

mais

para o norte, para a aldeia de Chonuana. Depois de três anos de trabalho, batizou o chefe da tribo. Mas uma seca obrigou a tribo a emigrar, e Livingstone, sua esposa e filhos, partiram


182 - A Era dos Novos Horizontes

David Livingstone com a tribo, em direção a outras terras. Quando, em uma segunda migração, as condições físicas se tornaram difíceis, a família

de Livingstone

ficou

para trás,

enquanto

o missionário

se ocupava em procurar um bom lugar onde a tribo pudesse se estabelecer. Pouco depois, ao receber notícias de que outro chefe se interessava pelo evangelho, Livingstone e sua família partiram para essa aldeia, onde o trabalho teve certo êxito. Mas o clima não era bom, e Livingstone acompanhou sua família até o Cabo, de onde esta partiu para a Inglaterra, enquanto

ele regressava

Então explorador. causados

para o interior

do país.

começou a famosa carreira O missionário havia visto

pelo tráfico

de escravos,

de Livingstone como os horríveis estragos

e além disso estava

conven-


Horizontes

Um pastor cido abrir

o centro comércio

seguiriam, receberia

A África

e o Mundo Muçulmano

-

183

zulu com sua família

de que o tráfico

desse

Geográficos:

não cessaria

do continente seriam

então

enquanto

para

não se conseguisse

o comércio

as mesmas

lícito.

As rotas

que os m issi o n r io s á

e a África, além de ficar livre do tráfico de escravos, a luz do evangelho. Portanto, para Livingstone, as

suas explorações e o seu trabalho missionário eram duas faces da mesma moeda. Por toda parte ele falava do evangelho aos nativos.

Mas o seu propósito

não era conseguir

pessoalmente

a

sua conversão, mas med.iante as suas explorações, abri r o caminho para outros contatos que, posteriormente, trariam mais missionários, comerciantes honestos e felicidade para a região. Algumas vezes sobre o lombo de um boi, ao qual deu o nome de Simbad, e outras vezes em canoas, Livingstone percorreu milhares de quilômetros, tomando notas de tudo quanto via,


184 - A Era dos Novos Horizontes

fazendo gando

observações

astronômicas,

o evangelho,

africanos.

Vinte

e em

geral

e sete vezes

zes de matar um saúde melhorava,

curando

ganhando

ele foi

enfermos,

pre-

a boa vontade

prostrado

por febres

dos capa-

homem menos robusto. Mas logo que a sua empreendia de novo as suas viagens. Em

certa ocasião, ao chegar ao litoral, enfermo e cansado, encontrou ali um navio que se ofereceu para levá-lo de volta à Inglaterra. Embora o propósito de Livingstone fosse voltar à Inglaterra,

ele

se negou

a aceitar

aquela

oferta,

porque

havia

prometido ao chefe dos carregadores que o acompanhavam que regressaria com eles à sua aldeia. Quando, por fim, Livingstone chegou à Grã-Bretanha, depois de dezesseis anos de ausência, foi recebido como herói. A Real Sociedade Geográfica havia recebido os seus relatórios, e lhe conferira as mais elevadas honras. Nas universidades onde ele falou, foram muitos os estudantes que decidiram dedicar a sua vida às missões na África. As suas descrições do tráfico de escravos sacudiram a consciência da Europa. nário,

Livingstone mas como

regressou então à África, não como missioagente do governo. Visto que estava conven-

cido de que a sua obra devia consistir em abrir o interior do continente para o comércio e as missões, Livingstone continuava considera ndo-se missionário. Repetidamente ele se entranhou no coração da África. Sua esposa, que havia regressado à África

alguns

meses

antes,

morreu

em

1862.

Profunda-

mente abalado, o explorador interrompeu suas viagens gum tempo. Mas logo as empreendeu de novo, movido impulso via sido

por alpor um

irresistível. Em 1866 chegaram notícias de que ele hamorto por um bando de africanos. Durante cinco anos,

pouca coisa se soube dele, até que as escassas notícias que chegaram fizeram duvidar da veracidade de sua morte. Para sanar as dúvidas, o diário New York Herald organizou uma expedição,

sob a direção

missionário, que o velho mente

de Henry

M. Stanley,

que encontrou

o

fraco e enfermo na remota aldeia de Uyiyi, sendo missionário deixou o seu selo impresso indelevel-

sobre o jovem jornalista. Livingstone continuou as suas

viagens,

até que

os seus

amigos africanos o encontraram morto, de joelhos junto à sua cama, com as mãos unidas, em atitude de oração. Segundo o seu desejo, enterraram o seu coração e suas vísceras em solo africano, e embalsamaram o seu corpo, que levaram para o litoral. Dali os restos fúnebres foram levados

então para a


Horizontes

Martírios

que aconteceram

tado por um cristão Grã-Bretanha, ficas

Geográficos:

e o Mundo Muçulmano

em Madagascar,

- 185

em 1849. Quadro pin-

de Madagascar

onde foram

na Abadia

A África

enterrados

de Westminster,

local

com cerimônias em

que

honorí-

repousam

os

grandes vultos daquela nação. Não houve mais digno representante da "era dos novos horizontes" do que este explorador, para quem cada horizonte era um desafio; este missionário, para quem cada aldeia além do horizonte

era um chamado.


X Horizontes Geográficos: América Latina A suprema necessidade da América Latina é a proclamação, a cada república e a cada indivíduo, do evangelho em sua pureza, simplicidade e poder, e o cumprimento das funções de igrejas evangélicas bem organizadas. Congresso do Panamá

No capítulo III, ao tratar das novas condições políticas da América Latina, assinalamos as conseqüências que estas condições tiveram para o catolicismo, mas pouco ou nada dissemos

acerca

capítulo América

do

protestantismo.

dos que falam dos um duplo propósito:

isto

para

"horizontes geográficos", em primeiro lugar, deste

mos que a penetração durante o século XIX, tante

Fizemos

dedicar

um

separado ao desenvolvimento do protestantismo na Latina. Agora, ao colocar o presente capítulo depois

ocorrida

verificamos ao colocar

naquela ao falar

este

do protestantismo na América fez parte da grande expansão época,

da Ásia

capítulo

fazemo-lo com modo assinala-

produto

dos mesmos

ou da África;

depois

dos

que

outras regiões, fazemo-lo para indicar protestantes da Europa e dos Estados

fatores

em segundo falam

Latina, protes-

acerca

que lugar,

dessas

que o interesse dos Unidos, em r e laçá o à

América Latina, foi menor do que o demonstrado para com outras regiões, e, em muitos casos, posterior a ele. Para muitos protestantes europeus e norte-americanos, os novos-horizontes geográficos a América ibérica,

que se abriam para as missões não incluíam descoberta e colonizada por cristãos, sécu-

los antes. Por outro lado, ao projetar este capítulo, duas alternativas. Uma seria repassar país por

consideramos país, apresen-


Horizontes

Geográficos:

Amórlcn

t.nttnn

/ fJ!

tando os nomes dos principais missionários, e resumincl o ro sultado de sua obra. Descartamos esta alternativa, que não nos permitiria

nada

mais

do que

dar

uma

longa

lista

de nomes

e

datas, e que em todo caso foi feito em um trabalho anterior, para seguir outro caminho. Este consiste em escolher alguns exemplos

ou episódios

que

mostram

las quais o protestantismo penetrou rica Latina. Estas são principalmente sões e o cisma, guma

outra

seja

dentro

as diferentes

formas

e se desenvolveu três: a imigração,

do catolicismo,

seja

pe-

na Améas mis-

dentro

de al-

igreja.

A imigração Durante

a época

colonial,

Espanha

manter as suas colónias fechadas para geiro. Esta política servia para proteger

e Portugal

mércio que tanto beneficiava efeito também para proteger

a metrópole, os habitantes

"contágio"

o protestantismo.

terminar

com a época

idéias colonial,

como

muitos

procuraram

todo contato o monopólio

estrando co-

mas era levada a das colónias do Portanto,

dos dirigentes

das novas

ao na-

ções seguiram uma política diamentralmente oposta. Conforme viam as coisas, era necessário fomentar o contato com outros países, especialmente a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, cujo desenvolvimento industrial e económico pelas novas nações. Ao mesmo tempo, esses tes seguiram o princípio estabelecido pelo clarou que "governar é povoar". Para que o

devia ser imitado mesmos dirigenestadista que depaís possa ser in-

dustrializado, pensavam eles, é necessário povoar o interior, abrir caminhos, estabelecer contatos com as nações industrializadas e introduzir as idéias e a experiência dessas nações. Por isso, durante todo o século XIX, os governos mais progressistas da América Latina fomentaram a imigração européia e norte-americana, embora nem sempre o resultado tenha sido de que os imigrantes eram as pessoas mais progressistas de seus países de origem, como se pode ver no caso dos sulistas norte-americanos que emigraram para o Brasil, depois da Guerra Civil, nos E.U.A., abolição da escravatura.

e ali

se opuseram

mais

Para fomentar a imigração, era necessário o fato de que muitos dos possíveis imigrantes tantes que não estavam dispostos so, era necessário garantir-lhes em países

onde

a religião

católica

uma

vez

à

levar em conta eram protes-

a abandonar a sua fé. Por isa liberdade de culto, mesmo era até então

a única

permi-


188 - A Era dos Novos Horizontes

tida

para o resto

gruência

dos habitantes.

Mas logo

de se dar aos imigrantes

tinham

e, por

isso,

gou-se

à liberdade

em uns

países

de culto

se verificou

direitos antes

para toda

a incon-

que os nativos que em outros,

a população.

não che-

Portanto,

a

política de estimular a imigração teve como conseqüência posterior a disseminação do protestantismo em meio à população. Os primeiros imigrantes eram em sua maioria britânicos, mais

particularmente

escoceses.

cujo desenvolvimento muitos imitar, e por isso se estimulou

A Grã-Bretanha

de nossos em particular

era um país

países desejavam a imigração britâ-

nica. Assim, por exemplo, o primeiro contingente notável de imigrantes na Argentina foi um grupo de escoceses que chegou ao país em 1825, mediante um contrato com o governo. Em Valparaíso, que veio a ser a base de operações para uma esquadra britânica, desde muito cedo houve um grupo de oficiais navais, a que depois se somaram alguns comerciantes. Depois dos escoceses, chegaram os alemães, que se estabeleceram

em

vários

países

no

sul

do

continente.

A

imigração

norte-americana durante todo o século XIX foi escassa, se excluirmos os que se assenhorearam dos territórios anteriormente

mexicanos,

porque

era a época

em que os Estados

Uni-

dos estavam se estendendo para oeste, e essas terras atraíam quem de outro modo poderia ter pensado em emigrar para América

Latina.

O outro

grupo

que teve

o dos negros procedentes das colônias beleceram no Panamá e nas costas Central. Normalmente, vam

em seus

Muitos buscar

novos

os

contingentes

países

traziam consigo em seus países

muita

importância

britânicas, do Caribe, de

foi

que se estana América

imigrantes

as suas antigas

a a

práticas

continuareligiosas.

os seus pastores, ou os mandavam de origem. O seu objetivo, ao virem

para novas terras, não era pregar aos naturais do país e, por isso, a maioria dos imigrantes contentou-se em guardar para si a fé de seus antepassados. Em alguns casos, porém,

os imigrantes

também

tinham

o

objetivo de transmitir a sua fé aos seus novos vizinhos. Um episódio notável a esse respeito foi o que deu origem à Igreja Episcopal do Haiti. Depois de Guerra Civil norte-americana, manifestou-se entre os negros dos Estados Unidos certo interesse e admiração para com o Haiti, que havia se tornado independente da tutela branca, e agora era governado por aqueles que antes haviam sido escravos. Em 1855, o negro


Horizontes

Geográficos:

norte-americano

James

em vista começar

nele uma missão,

o melhor

método

de imigrantes. tros,

Holly

seria

estabelecer-se aos Estados

em 1861, um grupo partiu

para

melhores condições evangelho. O chefe

visitou

e voltou

De volta

e por fim,

te-americanos

Theodore

América

o Haiti,

Latina -

o país,

convencido

189

tendo de que

no país com um núcleo Unidos,

convenceu

de cento onde

de vida e, ao deles era Holly,

a ou-

e dez negros

esperavam

nor-

encontrar

mesmo tempo, que havia sido

pregar o ordenado

sacerdote episcopal. Os primeiros meses foram trágicos. Em um ano e meio, quarenta e três dos cento e dez imigrantes haviam morrido, vítimas

da malária

vam-se

cinco

e da febre

dos oito

tifóide.

membros

Entre

da família

os mortos

Holly.

conta-

A maior

parte

dos que restaram com vida resolveu abandonar o projeto. Alguns se mudaram para a Jamaica, e outros simplesmente voltaram para os Estados Unidos. No Haiti, ficaram o pastor Holly e um punhado de acompanhantes. Tal firmeza teve recompensa. Quando um bispo da Igreja Episcopal visitou o país, por convite de Holly, encontrou um bom número de haitianos prontos para serem confirmados, e alguns a quem Holly havia estado treinando para serem pastores. A partir de então, a obra continuou crescendo, até que a Igreja Episcopal dos Estados Unidos decidiu que a do Haiti devia ser uma igreja independente. Em 1876, Holly foi consagrado

pela

Igreja

Episcopal

para

ser

o primeiro

bispo

da Igreja

Apostólica Ortodoxa Haitiana. Quando Holly morreu, em 1911, essa igreja havia lançado fortes raízes em várias regiões do país, embora as condições e as circunstâncias do momento a tivessem levado a renunciar à sua independência e a tornar-se um distrito missionário da igreja norte-americana. Embora não se tratem de imigrantes, no sentido restrito,

também

cabe

mencionar

aqui

outro

mais

fenômeno

que

causou o desenvolvimento do protestantismo em alguns países: o retorno de exilados que se haviam tornado protestantes no estrangeiro. Isto aconteceu de maneira particularmente notável

no caso de Cuba,

mudanças partir

políticas

de 1868,

colônias

visto

ocorridas

se tivessem

de cubanos

que as constantes na Espanha,

estabelecido

exilados,

e que

guerras,

fizeram nos

alguns

com

Estados deles

e as que,

a

Unidos

pudessem

voltar à sua pátria, mesmo antes da independência. Em 1890, os dirigentes da Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos

surpreenderam-se,

ao

receber

uma

carta

assinada

pelo


190 - A Era dos Novos Horizontes

presbiteriano

Evaristo

Collazo,

informando-lhes

que

ele e sua

esposa haviam fundado em Cuba três congregações e uma escola para meninas, e pedindo-lhes o seu apoio. Pouco antes, o episcopal

Pedro

Duarte havia fundado em Matanzas a igreja a Jesus) e outras em toda a porção ocidental da ilha. Fatos semelhantes se repetiram em várias outras denominações e lugares.

Fieles a Jesús (Fiéis

As missões Quando as novas as missões protestantes

condições políticas tornaram possíveis para a América Latina, nem todos os

protestantes europeus e norte-americanos estavam convencidos de que era lícito empreender essa obra. Particularmente os anglicanos e episcopais pensavam que o continente já era cristão, por ser católico, e que era um erro sões entre os católicos, quando havia tantas na África

que

nem

s equ e r haviam

ala anglo-católica

da

Igreja

ouvido

Anglicana

empreender mispessoas na Ásia e

o nome

não

deseja

de Jesus.

A

ofender

os

católicos começando missões entre eles, e dando a entender com isso que os católicos não eram cristãos. Quase todos concordavam

em

que

o

catolicismo

latino-americano

muito a desejar. Mas os que se opunham que, em lugar de debilitar esse catolicismo, vais,

eles deviam

procurar

meios

tabelecer melhores contatos com se segundo as diretrizes bíblicas.

pelos

quais

ele, para

deixava

às missões arguíam criando igrejas rise pudessem

ajudá-lo

es-

a renovar-

Por estas razões, quando os anglicanos empreenderam missões na América Latina, o fizeram entre tribos que mal haviam

sido

alcançadas

na costa de Misquitia, e Terra do Fogo.

pelos

católicos,

na América

como

Central,

as que

habitavam

ou as da Patagónia

A missão anglicana à Terra do Fogo é um exemplo do sacrifício e do valor que algumas dessas obras requereram. Em 1830, chegaram à Inglaterra, levados como reféns por uma expedição

científica,

quatro

fueguinos,

a quem

o idioma inglês e os princípios da fé cristã. - o quarto havia falecido - desembarcaram

foram

ensinados

Em 1833, três deles em seu país de ori-

gem, acompanhados por um catequista britânico. (É interessante notar que Charles Darwin, na época ainda um jovem de vinte e dois anos, fazia parte da expedição que os levou a essas terras). Pouco depois, ao ver passar em canoas alguns fueguinos com

roupas

européias,

os ingleses

que haviam

transporta-


Horizontes

o capitão

Geográficos:

América

Latina

- 191

Allen Gardiner

do os missionários suspeitaram que algo ram ao posto da missão. Ali encontraram,

corria quase

mal, e voltalouco, o cate-

quista britânico, que contou que os índios o haviam maltratado e roubado tudo quanto possuía, e rogou que o levassem de volta à I nglaterra, pois temia por sua vida. Pouco depois, os três fueguinos que haviam sido a esperança da missão retornaram para os seus, e só de um deles voltou-se a ter notícia. Foi então que entrou em cena o personagem heróico do empreendimento missionário realizado no extremo sul do continente: o capitão Allen F. Gardiner. Ele havia sido capitão da marinha de guerra britânica e, em 1834, junto ao leito de morte de sua esposa, havia se consagrado fracassou repetidamente em seus

à obra intentos

missionária. missionários

Ele na

África, Nova Guiné, entre os araucanos no Chile, e em outros lugares. Os seus contatos com alguns caciques da Patagônia o levaram a sonhar com a sua dedicação ao trabalho nessa região, e depois de muito esforço conseguiu amigos e admiradores fundasse a Sociedade Patagônia.

De volta

havia mudado, com que antes

à Patagônia,

que um grupo de Missionária para a

ele descobriu

que a situação

e que não se materializou o apoio dos caciques havia contado. Então realizou um trabalho mis-

sionário na Bolívia durante cargo de obreiros espanhóis.

algum

tempo,

até que o deixou

Por fim, depois de outra viagem a Inglaterra e outra prolongada campanha para conseguir apoio econômico, empreen-

a


192 - A Era dos Novos Horizontes

deu a sua missão definitiva à Terra do Fogo. barco que o levou permaneceu ali, ajudando-o cer, por vinte

dias,

e ao zarpar

ficaram

A tripulação do a se estabele-

para trás

Gardiner,

um

catequista, um médico metodista, um carpinteiro e três marinheiros. Nem bem o navio desaparecera no horizonte, quando os missionários descobriram que, por erro, não havia sido desembarcada

a sua

reserva

de pólvora,

com

a qual

esperavam

conseguir a maior parte de sua alimentação, caçando. Além disso, os naturais da terra mostraram-se hostis, e só se aproximavam nham.

dos

missionários

para

lhes

roubar

Por fim, eles tiveram que abandonar Os seus amigos na Inglaterra e em

prometido enviar-lhes provisões meiro barco naufragou. Quando

Por fim,

com

que ti-

dali a seis meses. Mas o prise receberam notícias desse

naufrágio, outro barco foi enviado, gundo navio faltou com sua palavra, estavam.

do pouco

aquele lugar. Montevidéo haviam

mas o capitão e não apartou

um ano e meio

de atraso,

desse seonde eles

chegaram

as

provisões. Os que as levavam encontraram uma inscrição em uma pedra: "Cavem aqui/ Vão a Puerto Es p a o l/ Março 1851". ô

Debaixo

da pedra

estava

de como chegar onde com uma comovedora encontravam quando

enterrada

uma garrafa

com indicações

se haviam refugiado os missionários, e descrição do péssimo estado em que se haviam abandonado aquele lugar. Se-

guindo as instruções encontradas na garrafa, os que levavam as provisões chegaram por fim ao último refúgio dos exilados. Todos haviam morrido. Pelo diário de Gardiner, que sobreviveu aos demais, e que até poucos dias antes de morrer estivera escrevendo instruções acerca de como evangelizar os natu r ais, soube-se que as provisões haviam chegado tarde demais, por uma diferença de vinte dias. A última coisa que Gardiner escreveu foi: "Com quão grande e maravilhoso amor Deus me ama! Até aqui ele me tem conservado por quatro dias, sem sentir

fome nem sede, apesar de estar sem alimentos!" A tragédia despertou redobrado interesse nas missões

extremo paração, quartel Entre Allen

ao

sul do continente. Depois de um novo período de preiniciou-se de novo a missão. Esta estabeleceu o seu nas Malvinas,

como

os que participaram W. Gardiner, filho

Patagônia

e à Terra

antes

o havia

sugerido

Gardiner.

desse novo empreendimento do falecido capitão. Em uma

do Fogo,

encontraram

estava visita à

eles um dos antigos

reféns fueguinos, que ainda se lembrava do inglês e que concordou em trasladar-se para as ilhas Malvinas com sua família.


Horizontes

Depois outros fueguinos fizeram um pequeno grupo de fueguinos navam

o seu idioma

Geográficos:

América

Latina - 193

o mesmo, e assim criou-se que aprendiam inglês, ensi-

aos missionários

e se fizeram

cristãos.

Por

fim, os missionários decidiram que havia chegado o momento de estabelecer uma ponta de lança na Terra do Fogo. Para lá foram, entre outros, Gardiner e o antigo refém, agora, ao que parecia, genuinamente convertido. Contudo, poucos dias depois de estabelecidos, os missionários foram atacados e mortos, aparentemente graças à cumplicidade com o antigo refém e com outros que haviam estudado nas Malvinas. Somente sobreviveu o cozinheiro da expedição, e pôde contar o que aconteceu. Desalentados, os chefes da missão nas Malvinas decidiram voltar para a Inglaterra. O jovem Thomas Bridges ficou encarregado do posto; ele tinha 18 anos, e recusou-se a regressar. Por algum tempo, Bridges dedicou-se a travar uma amizade mais estreita com os fueguinos que viviam no posto missiona idioma.

o bispo

r i o das Malvinas. Assim, Em particular, ele se fez

Stirling

ele chegou a aprender o muito amigo do fueguino

com um grupo de missionários

e convertidos


194 - A Era dos Novos Horizontes


Horizontes

Jorge

D. Okoko,

Geográficos:

que se havia tornado

América

um cristão

Latina

- 195

de profundas

convicções. Quando chegou o novo superintendente, W. H. Stirling, Bridges e Okoko prepararam-se para uma nova visita ao lugar de tantas tragédias. Ali os esperavam os índios, represálias que perventura iriam ser tomadas

temerosos das por causa da

morte dos outros missionários. Mas tanto Okoko como Bridges lhes falaram em seu próprio idioma, e os naturais se surpreenderam com o espírito de perdão de pessoas tão estranhas. Assim, finalmente teve início uma obra que logo lançou raízes entre todos os habitantes da região. Okoko e outros treinados nas Malvinas estabeleceram centros missionários. No princípio de 1869, Stirling ordenou que o deixassem só, com provisões para

algum

Escola

tempo,

Dominical

em

no Brasil

uma

cabana

junto

ao litoral.

Quando


196 - A Era dos Novos Horizontes

seus amigos voltaram seis meses depois, verificaram que Stirling havia ganho o respeito dos índios, lançando as bases para uma missão permanente. Chamado para a Inglaterra para ser consagrado Montevidéo

bispo das Malvinas, Stirling encontrou-se com Bridges, que voltava de Londres, depois

em de

ter sido ordenado diácono. Em seguida ao regresso de ambos, a missão continuou, pois Stirling sempre se interessou por ela, e Bridges introduziu na região a criação de gado e o cultivo de várias espécies vegetais. (Além disso, antes de passar a outro tema, é interessante observar que um dos mais fiéis contribuintes para essa missão foi Charles Darwin, que havia visitado aquele país quando jovem, e a quem mais tarde muitas pessoas consideraram

inimigo

da fé.)

Os primeiros missionários protestantes que trabalharam entre a povoação de fala espanhola e portuguesa não procuraram fundar ig'rejas, mas difundir a Bíblia, lançar a semente e

Médico chegando

a

um dispensário

missionário

em Porto Rico


Horizontes

preparar

o caminho

desses precursores na América Latina na Escócia,

Geográficos:

para os que viriam

depois.

foi o escocês James como Diego Thomson.

ele se dedicou

ao estudo

América

Latina - 197

O mais

notável

Thomson, conhecido Como pastor batista

do espanhol

e do método

lancasteriano de educação, que fazia uso de leituras da Bíblia para que os alunos tomassem parte ativa na sua própria educação. tante

Em

1818,

da Sociedade

governo

argentino

a educação

pública

ele

chegou

Bíblica

a Buenos

Britânica

sentia

a urgente

sobre

novas

Aires

como

e Estrangeira. necessidade

bases,

represenVisto

que o

de estabelecer

ele foi muito

bem rece-

bido, e o governo o nomeou Diretor Geral de Escolas, com a responsabilidade específica de fundar uma escola modelo e treinar outros professores. Por dois anos Thomson se dedicou a isto e à difusão da Bíblia. Além disso, ele reuniu uma peque-

Colportor

bíblico,

no fim do século

XIX


198 - A Era dos Novos Horizontes

na congregação pois

de protestantes

de uma

breve

visita

de fala

ao Uruguai,

inglesa.

ele partiu

não antes de ter sido no nacional, deixando

declarado cidadão argentino organizada uma Sociedade

liar em Buenos

Depois

prosseguiu

Aires.

para

Porto Rico, estas Colômbia, fundou

Peru,

de um ano de estada

Equador,

Colômbia,

Em 1821, depara

o Chile,

pelo goverBíblica Auxino Chile,

México,

Cuba

ele e

duas últimas ainda colônias espanholas. Na uma Sociedade Bíblica. Em todos esses paí-

ses, evitou de todas as formas possíveis o conflito com o clero, e em alguns casos, como na Colômbia, encontrou entre os padres progressistas alguns de seus melhores aliados. Depois continuou para outros continentes, onde prosseguiu sua obra. Na América Latina, seguiram-se a ele outros representantes da Sociedade Bíblica. Um deles, Lucas Matthews, depois de percorrer Argentina, Chile, Bolívia, Peru e Colômbia, desapareceu neste

último

país

sem

que

jamais

se tenha

sabido

o que

lhe

aconteceu. Logo surgiram outros colportores bíblicos latino-americanos. O mais notável deles foi Francisco Penzotti, que se havia convertido durante um dos primeiros celebrados em Montevidéo. Penzotti foi

Missionários

acampados

no interior

cultos em castelhano enviado ao Peru para

do Brasil


Horizontes

Geográficos:

América

Latina - 199

Co/portora no Chile fazer

circular

a Bíblia,

mas decidiu

que era nece ss an o realizar

cultos como o que havia dado lugar à sua própria conversão. Visto que era proibido celebrar cultos públicos, antes da reunião ele distribuía folhetos aos que demonstravam interesse em assistir e, desse modo, pelo menos legalmente, o culto não era público. Ele foi encarcerado e mantido preso, apesar de ser repetidamente absolvido, por mais de oito meses. Por fim, o jornal New York Hera/d publicou a sua história, e o governo peruano, que desejava atrair imigrantes, precisou colocá-lo em liberdade. Dessa forma abriu-se uma brecha para que o protestantismo entrasse no Peru. E nquanto isso, por todas as partes começavam a aparecer pequenas congregações de fala espanhola. Algumas dessas, como as fundadas pelo escocês J. F. Thomson, em Buenos Aires e Montevidéo, surgiram devido ao interesse de alguns imigrantes em compartilhar a sua fé com os naturais do país. Thomson pregou o seu primeiro sermão em castelhano, na Argentina, em 1867, e pouco depois começou a pregar também em Montevidéo. Mais ou menos à mesma época, um missioná-


200 - A Era dos Novos Horizontes

rio norte-americano, igreja protestante

de

membros

igreja

chilenos,

David Trumbull, fala espanhola que mais

organizava no Chile,

tarde

se uniu

a primeira com quatro

à presbiteria-

na. Quase ao mesmo tempo, os metodistas norte-americanos começa ram a sua obra na região. Na Colômbia, surgiu uma congregação

em Cartagena,

mon Montsalvage, ao país o primeiro

fundada

pelo

ex-frade

catalão

Ra-

por volta de 1855. Na mesma época chegava missionário presbiteriano. No Brasil, a prin-

cipal força missionária nos meados do século foi um grupo de portugueses que se havia convertido na ilha portuguesa de Madeira, e que foram obrigados a se exilar no Brasil, devido a perseguições em sua terra natal. No México, embora também houvesse

protestantes

Primeiros

edifícios

co

antes

do Hospital

disso,

só na década

PreslJiteriano,

de 1870 é que

San Juan,

Porto

Ri-


Horizontes

Geográficos:

América Latina - 201

as principais denominações norte-americanas começaram a trabalhar. Em resumo, embora seja possível citar antecedentes vários

e até heróicos,

foi por volta

de 1870 que se estabeleceu

na América Latina a maior parte do trabalho protestante permanente. Para isso haviam aberto o caminho os agentes das Sociedades Bíblicas, alguns imigrantes, e um bom número de latino-americanos que, de uma forma do a conhecer o protestantismo. maior

Também é importante parte dos missionários

ou outra,

indicar que, protestantes

haviam

chega-

desde o princípio, a procurou dar teste-

munho de uma mensagem que se ocupava não apenas da salvação eterna, mas também dos outros aspectos da vida. Por isso, o protestantismo destacou-se devido às escolas, hospitais e outras instituições que fundou. Muitas pessoas que abraçaram o protestantismo foram educadas em escolas distas,

atendidas

albergues

Pregação

em hospitais

presbiterianos

congregacionais.

ao ar livre na América

Latina

nunca meto-

ou abrigadas

em


202 - A Era dos Novos Horizontes

Publicações protestantes em espanhol, México, 1905 Os cismas Em alguns

casos,

as novas

condições

e as idéias

meçavam a circular produziram cismas dentro da Igreja ca, da qual se separaram grupos que, posteriormente,

que coCatólise uni-

ram às igrejas protestantes. O mais notável desses cismas foi o iniciado pelo sacerdote mexicano Ramon Lozano, que, em 1861, se separou do catolicismo

e fundou

a Igreja

Mexicana,

com

estatutos

provi-

sórios. Poucos depois, o sacerdote Aguilar Bermúdez deu passos semelhantes. O presidente Benito Juárez, que não gostava das atitudes políticas do mento o seu apoio moral,

catolicismo, assistindo

um famoso

dominicano,

cismáticos,

e acabou

por concordar

nova

solicitou

ajuda

igreja

Manuel

Aguas,

prestou a esse moviaos seus cultos. Depois, dedicou-se

com eles.

dos episcopais

a refutar

Enquanto

os

isso, a

norte-americanos,

e


Horizontes

Geográficos:

Amôrtcn

Lntlnn

20:.1

se organizou com o nome de Igreja de Jesus. S I prlm 10 bispo, que morreu antes de ser consagrado, foi Manuel Aq u as. Posteriormente, Episcopal

dos

em

1909,

Estados

a Igreja

Unidos,

de Jesus

e veio

uniu-se

a ser

parte

à Igreja integrante

desse corpo. Em outros casos, os cismas aconteceram dentro das fileiras do protestantismo. Às vezes, o grupo que se separou chegou a se tornar maior do que sua igreja mãe. Foi esse o caso do cisma que teve lugar entre os metodistas chilenos, em 1910. Anos antes, na igreja de Valparaíso, o culto havia começado a assumir

características

do movimento

1910 a Conferência Anual do Chile condenou resultado foi a formação da Igreja Metodista inicialmente tinha apenas três congregações,

pentecostal,

e em

essas práticas. O Pentecostal, que mas logo se tor-

nou muito maior ocorreram cisoes atrito tenha sido

do que a Igreja Metodista. Em outros lugares semelhantes, embora nem sempre o ponto de a questão das práticas pentecostais. No Bra-

sil, por exemplo,

produziu-se

Igreja Metodista

Episcopal,

um cisma

Concepción,

oriundo

Chile

de atritos

en-


204 - A Era dos Novos Horizontes

tre os missionários e alguns dirigentes nacionais. E seria sível narrar episódios semelhantes em diversos países. ser

O que expusemos acima uma história das origens

não pretende de forma alguma do protestantismo na América

Latina. Para fazer justiça a esse tema, seria paço maior do que o que temos aqui. Antes, foi dar ao leitor uma visão pelos quais o protestantismo vá-lo

a ver que o panorama

pos-

necessário um eso que procuramos

panorâmica dos múltiplos meios penetrou na América Latina, e leé muito

mais

amplo

do que a his-

tória de uma denominação ou de um tipo de missões. Imigrantes, transeuntes, missionários internacionais como Diego Thomson, heróis como Gardiner e os que o seguiram, missionários europeus e norte-americanos, exilados latino-americanos que regressavam à sua pátria, católicos sinceros que acabavam convencidos de que algo faltava à sua religião, todos esses e muitos outros na América Latina.

foram

os introdutores

do protestantismo

Por outro lado, não devemos nos esquecer do fator comum que durante todo o século XIX e boa parte do século XX contribuiu para o sucesso alcançado pelo protestantismo. Esse fator foi o liberalismo político e econômico que nessa época chegou ao seu apogeu. Os mesmos crioulos que sonhavam com o estabelecimento de repúblicas alicerçadas sobre os ideais da Revolução Francesa, e que criam na livre empresa econômica, que é a base do capitalismo, eram os que estavam mais dispostos a colaborar com a introdução do protestantismo em seus países. Embora eles mesmos não estivessem dispostos gação

a se tornar protestante,

protestantes,

não obstante

e certamente

a imigração

criam

que a pre-

protestante,

abri-

riam o caminho para as promessas do mundo moderno. Portanto, o que faltava ver é o que aconteceria quando esse liberalismo

começasse

a perder

sua vigência.


XI Horizontes Ecuménicos Em meio às tristes discórdias e divergências que alienaram e separaram os corações, não apenas de indivfduos crentes entre nós, mas também de comunidades inteiras, a evangelização dos pagãos freqüentemente exerceu a sua influência suavizadora, saneadora e reunificadora. Alexander Ouff

Um modo

dos

pelo

fenômenos

qual

mais

os cristãos

notáveis

começaram

do

século

XI X foi

a se preocupar

o

com

aquilo que separava as denominações. Desde a época da Reforma, houve quem procurasse unir os diversos grupos que surgiram dela. Recorde-se, por exemplo, o Colóquio de Marburgo, entre Lutero e Zuínglio. Essas tentativas continuaram através dos séculos, embora com resultados quase nulos. Foi no século XIX, e depois no século XX, que o impulso em direção à unidade cristã adquiriu novas forças. Isto se deveu em grande parte às novas circunstâncias em que os cristãos se encontraram, em que muitas das antigas divisões perdiam importância. Nos Estados Unidos, onde se misturavam imigrantes de vários países, e onde, portanto, presbiterianos, metodistas, batistas e episcopais viviam em constante contato, as divisões do velho continente, embora tenham continuado, foram sobrepujadas por outras questões aparentemente mais urgentes. O debate acerca da escravidão cruzou as barreiras denominacionais, de tal modo que os abolicionistas de diversas denominações se consideravam aliados, cravagistas. Algo semelhante entre

fundamentalistas

diante da aliança oposta dos es ocorreu mais tarde no conflito

e liberais.

Portanto,

ao mesmo

tempo


206 - A Era dos Novos Horizontes

que apareciam nos Estados Unidos novas denominações surgidas de questões como a escravidão, a Guerra Civil e a autoridade da Bíblia, aumentavam os laços entre as denominações que adotavam Por

outro

posturas lado,

semelhantes também

diante

dessas

os avivamentos

questões.

e as muitas

or-

ganizações dedicadas a causas benéficas cruzaram as barreiras denominacionais. Quando um pregador chegava a uma aldeia para dirigir cultos de avivamento, poucos eram os que perguntavam tecia com

a que denominação ele pertencia. E o mesmo aconas reuniões da Sociedade Anti-escravagista, da Liga

da Temperança, etc. Um bom indicador deste estado de coisas foi a fundação da Igreja Cristã (Discípulos de Cr isto ) que, como já dissemos, surgiu precisamente com a esperança de pôr fim à divisão existente entre as diversas denominações, criando uma igreja que seguisse os padrões do Novo Testamento, e na qual todos pudessem se unir. Na Europa, onde os contatos entre pessoas de diversas tradições cristãs eram menos constantes, o sentimento ecumênico demorou mais a aparecer. Mas também ali se foi chegando à conclusão

de que

havia

questões

mais urgentes

do que os

velhos debates que haviam separado, por exemplo, presbiterianos de congregacionais, e que essas questões transcendiam as barreiras denominacionais. Assim surgiram várias sociedades

interdenominacionais,

tráfico

de escravos,

com

a proteção

objetivos

como

das crianças

que

a abolição

do

trabalham,

educação cristã mediante escolas dominicais, etc. Porém, o que deu verdadeiro ímpeto ao movimento

a ecu-

mênico foi o movimento missionário. Muitas das sociedades fundadas na Europa e nos Estados Unidos, com o objetivo de alcançar as nações que ainda não haviam ouvido a mensagem cristã, incluíam notabilíssimos trangeira

membros de diversas denominações. Exemplos disso foram a Sociedade Bíblica Britânica e Es-

e a Sociedade

Bíblica

Americana,

principais

promo-

toras da distribuição da Bíblia e fortes aliadas dos missionários que se dedicavam a traduzir as Escrituras para diversos idiomas. Enquanto na Europa e nos Estados Unidos os eruditos bíblicos se aproximavam uns dos outros em torno de seus estudos, nos campos missionários a tradução e a distribuição da Bíblia foram empreendimentos conjuntos nações. Quando uma denominação havia

de diversas denomitraduzido a Bíblia, as

outras

e, por

empregavam

a mesma

tradução

isso,

desde

o


Horizontes

princípio,

precisavam

reconhecer

a sua

;lO I

EcumtJnlcos

dívida

de gratidão

a

cristãos de outra confissão. Ao mesmo tempo, as divisões que na Europa ou nos Estados Unidos podiam parecer perfeitamente explicáveis, não o eram tanto ou até de forma alguma na China, na índia ou em Fiji.

Ao

apresentar

o evangelho

a pessoas

que

não

o conhe-

ciam, a questão de a igreja dever ser governada por presbíteros ou por bispos era, de qualquer prisma que se considerasse, secundária. O que é mais importante, tais questões tendiam a ocultar

a própria

mensagem,

tropeço para alguns crentes Ademais, devido aos

duas

acabavam

sendo do

duplicando o que outros já estavam com outros projetos missionários.

ou mais

pedra

igrejas

de denominações

diferentes

era nesem es-

fazendo, Por que

de uma

província,

quando

havia

necessário pregar? Por tudo isso, desde estágio nários verificaram a necessidade

tantas

outras

bem inicial, de colaborar

mente entre si. E o mesmo fizeram alguns dos, que, pouco a pouco, foram ocupando

ou ter

em uma al-

deia, quando havia centenas de aldeias sem nenhuma Por que competir uns com os outros na evangelização ilha,

de

empreendi-

e à enorme tarefa a ser realizada, esses recursos com sabedoria,

mento missionário cessário administrar banjá-los, competindo

e assim

e interessados. recursos limitados

igreja? de uma onde

era

algu ns missiomais estreita-

dos seus convertiposições de maior

importância nas novas igrejas. É verdade que houve missionários que insistiram com firmeza em suas posições denominacionais, havendo também 'Convertidos que seguiram o seu exemplo. Também é verdade que as novas igrejas se dividiram com lamentável freqüência. Mas, em termos gerais, o consenso dos que mais se preocupavam com a obra missionária e com a conversão de seus vizinhos era a urgente necessidade de que os cristãos se aproximassem mais, se não para unir-se em uma única

igreja,

pelo

missionária. O grande coisas,

foi

este grande missionária Cabo,

menos

precursor

Carey.

Desde

missionário internacional,

no extremo

para

projetar

de tudo logo

isto,

cedo,

em conjunto como no início

a sua obra

em tantas

outras

do século

XIX,

havia sonhado com uma conferência que deveria se reunir na Cidade do

sul da África,

em 1810. Essa cidade

parecia

ideal, por se achar no meio do caminho entre a Europa e os Estados Unidos, por um lado, e o Oriente, por outro. Ali de-


208 - A Era dos Novos Horizontes

viam se reunir, das sociedades

segundo a proposta de Carey, representantes missionárias que apoiavam o trabalho no

Oriente e na África, juntamente com grande número de missionários que trabalhavam nessas regiões. O que fariam seria intercambiar experiências, para aprender uns dos outros e, além disso, discutir os seus planos, de modo que os projetos de uma sociedade não repetissem desnecessariamente os de outra. E m uma época em que as divisões denominacionais eram ainda extremamente importantes, e quando os missionários

de um país freqüentemente

os de outro, Os próprios

competiam

abertamente

com

a proposta de Carey não encontrou receptividade. chefes da sociedade que apoiava a sua obra na ín-

dia declararam que a sua idéia, embora tivesse algum mérito, não poderia ser levada a efeito. Portanto, o sonho de Carey ficaria em suspenso por mais de cem anos. Enquanto isso, tiveram lugar muitas conferências semelhantes em menor escala. Nos países em que trabalhavam missionários, houve inúmeras reuniões onde ção da Bíblia, se repartiram experiências

se projetou a tradue frustrações e se

planejaram empreendimentos conjuntos. Nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha houve uma série de conferências missionárias: em Nova Iorque e em Londres em 1854, em Liverpool em 1860, de novo em Londres em 1878 e 1888, e por fim em Nova Iorque em 1900. Esta última foi chamada Conferência Ecumênica Missionária, usando ainda o termo "ecumênico" no seu sentido original de incluir "toda a terra habitada", ou seja, de ser uma conferência mundial. Pouco a pouco esse termo chegaria a ser usado para se referir ao movimento de colaboração e unidade entre os cristãos. Por fim, cem anos depois da conferência Carey, reuniu-se em Edimburgo, na Escócia,

projetada por a Conferência

Mundial Missionária, conhecida em círculos ecumênicos como "Edimburgo, 1910". Ao contrário das outras conferências anteriores, esta seria constituída por representantes oficiais das sociedades missionárias, cada uma das quais nomearia um determinado cipação

nário total. unicamente estavam América ou entre

número

(em termos

de delegados econômicos)

em proporção no empreendimento

à sua partimissio-

Além disso, estipulou-se que a conferência trataria das missões entre os não-cristãos, e que, portanto,

excluídas as missões protestantes entre católicos na Latina, ou as que algumas igrejas tinham na Europa as antigas igrejas orientais. Por muito tempo antes de ;0.-


Horizontes

Ecumênicos

- 209

se reunir essa conferência, realizaram-se estudos preliminares de que participaram centenas de pessoas em todo o mundo, especialmente mediante correspondência e reuniões regionais ou locais. Ao mesmo tempo, foram excluídas desses estudos, tanto como dos debates da própria conferência, todas as questões de fé e ordem. Excluindo esse tema, assim como as missões entre católicos e outros cristãos, os organizadores tornaram possível a participação de alguns grupos que, de outra forma, não teriam participado, como os anglicanos, que se opunham às missões na América Latina, e os alemães, que se opunham às missões batistas e metodistas entre luteranos.

Conferência

de Edimburgo,

1910

Quando a assembléia se reuniu, a maioria dos participantes era de britânicos e norte-americanos. Havia também um bom

número,

embora

menor,

de representantes

proceden-


210 - A Era dos Novos Horizontes

tes de outros países europeus. Das igrejas do das missões, havia somente dezessete

que haviam resultamembros - e estes,

não nomeados por suas igrejas, mas sim quatorze por sociedades missionárias e três convidados especiais da Comissão Executiva. Apesar

Assim, as limitações da conferência eram numerosas. disso, essa assembléia marca o começo do movimento

ecumênico contemporâneo. A principal contribuição

positiva

da

assembléia

para

o

movimento ecumênico foi que, pela primeira vez, houve uma reunião de tal magnitude de representantes oficiais de sociedades missionárias. Até então, haviam assistido às conferências as pessoas que assim o desejassem. Mas nesta conferência, os que assistiram a ela haviam sido nomeados por suas sociedades missionárias e, portanto, de certo modo eram representantes de suas igrejas, ou pelo menos de seu ern p re e n dimento missionário. O êxito da conferência para outras reuniões semelhantes, algumas

abriu o caminho sobre missões e

outras

sobre diferentes assuntos. Ademais, a conferência não se contentou tomar resoluções e dissolver-se, mas nomeou de Continuação,

da qual

surgiram

outros

em se reunir, uma Comissão

estudos,

e, posteriormente, no século XX, o Conselho ternacional. Outro resultado positivo da conferência

conferências

Missionário foi

dar

Inrealce

mundial a alguns personagens que por muito tempo seriam os principais propulsores do movimento ecumênico. Provavelmente, o principal deles foi o leigo metodista John R. Mott, produto do despertamento religioso evangélico nos Estados Unidos, que havia participado ativamente do movimento estudantil cristão, e que fez pa rte da comissão que organizou a conferência, assim como da Comissão de Continuação. No século

XX,

Mott

seria

o grande

promotor

e estadista

do movi-

mento

ecumênico. Por outro lado, mesmo naquilo que excluiu, a Conferência de Edimburgo causou impacto sobre o movimento ecumênico. Visto que as missões na América Latina as principais agências que se ocupavam

haviam dessas

sido excluídas, missões senti-

ram a necessidade de se reunirem para discutir assuntos de sua incumbência. Já em Edimburgo, de maneira extra-oficial, várias pessoas se reuniram para dar forma a esse projeto, e três

anos

América

depois Latina.

ficou

organizado

Em 1916, depois

o Comitê

de Cooperação

de uma série de estudos

na pre-


Horizontes

liminares,

teve

Cristã

América

na

lugar

no Panamá Latina,

que

evangélicos de todo o continente. cou encarregado de levar a cabo pelo Congresso.

um Congresso pela

primeira

Ecuménicos

sobre vez

- 211

a Obra

reuniu

os

O Comitê de Cooperação fio que havia sido projetado

Congresso do Panamá Outro

tema

excluído

da Conferência

de Edimburgo

foi to-

da questão de fé e de ordem. Desse modo se evitava qualquer discussão que pudesse dividir a assembléia, sem chegar a resultado positivo algum. Mas alguns dos presentes em Edimburgo sentiram a necessidade de se reunirem com outros cristãos para discutir esses temas que, afinal de contas, eram os que mais profundamente separavam as igrejas. Movimento de Fé e Ordem, que posteriormente

Assim seria

surgiu o uma das


212 - A Era dos Novos Horizontes

fontes

do Consel,ho

Mundial

de Igrejas.

Enquanto isso, as tensões internacionais iam aumentando, e os cristãos sentiram-se chamados a se reunir, não somente para discutir sas denominações,

os problemas mas também

das relações entre as diverpara procurar formas pelas

quais se pudessem resolver os conflitos internacionais. Em 2 de agosto de 1914, na cidade de Constanza, organizou-se a Aliança Universal para a Amizade Internacional através das Igrejas. Nesse mesmo dia estourou a Primeira Guerra Mundial.



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.