Banco do Brasil apresenta e patrocina
PROGRAMAÇÃO CONCERTOS • TERÇAS-FEIRAS • 12h30 e 19h
6/4/2010
A Imperial Academia de Música e Ópera Nacional Adriana Clis (mezzo-soprano), Veruschka Mainhard (soprano), André Cardoso (regente) e Orquestra de Câmara Imperial
13/4/2010
Valsas, tangos e maxixes: uma homenagem a Henrique Alves de Mesquita Art Metal Quinteto
20/4/2010
Clube Beethoven: berço da estética republicana Quarteto de Cordas da UFF
27/4/2010
A música vernácula: música e poesia para uma nação Trio da Canção Brasileira
4/5/2010
Uma vizinhança perigosa: a música popular urbana nas mágicas, revistas e paródias Soraya Ravenle (canto), Alfredo Del Penho (canto), Andréa Ernest Dias (flauta), Hugo Pilger (cello) e Paulo Malaguti (piano e arranjos)
7/4/2010 • QUARTA-FEIRA • 10h15 às 18h30 SEMINÁRIO
A invenção de um Brasil musical: o século XIX
O
Banco do Brasil apresenta a série A Invenção de um Brasil Musical: O Século XIX (1857-1900), um mergulho na produção da música brasileira dessa época. Nos cinco concertos programados e no seminário dedicado ao tema, intérpretes, musicólogos e historiadores pretendem revelar ao público um dos mais profícuos momentos de nossa história, revertendo a pouca ao quase inexistente realização de apresentações que abranjam a produção artística nacional desse período. Assim, o Centro Cultural Banco do Brasil contribui para o resgate do trabalho de grandes artistas da época do império e convida o público a refletir sobre a formação da identidade musical brasileira. Centro Cultural Banco do Brasil
Casaca, maxix e e contr aponto: maxixe contra a pr odução m usical br asileir a produção musical brasileir asileira no século XIX A produção musical brasileira do século XIX é comumente qualificada como uma arte menor. Villa-Lobos, por exemplo, a definia como “lindas bonecas de biscuit, barro chinês, celulóide ou de massa, com olhares ternos de brasilienses, mas muito bem vestidas à maneira e costumes estrangeiros”. Entretanto, de um projeto de nação que cultivava a imagem de uma civilização europeia transplantada para a América tropical – edificada e afirmada por meio do Estado e da Coroa –, aos ecos da cultura popular urbana – que tomava conta dos palcos nacionais –, revela-se, dinâmica e vigorosa, a invenção de um Brasil musical. No Segundo Reinado, assistimos as tentativas de criação de uma ópera nacional, o estabelecimento do Conservatório de Música, a forte presença dos “clubs” musicais e as produções do teatro musicado caracterizadas pelo uso das formas da música popular urbana. Estas diferentes espacialidades demandavam práticas musicais diversas que marcariam a produção e o consumo da música em nosso país. Os ventos republicanos trariam as tentativas de se pôr a “casaca do contraponto” no maxixe – usando uma expressão forjada pelo crítico musical Guanabarino. Tratava-se de impor não somente um controle sobre a atuação dos músicos, como uma visão de mundo e de prática musical baseada em princípios rígidos, que dividiam a sociedade entre os que podiam alcançar os sentidos mais profundos da verdadeira obra de arte e os que não podiam. Neste sentido, a música popular urbana, principalmente o maxixe – forma gerada a partir de um gestual negro –, era indubitavelmente considerada uma expressão artística menor e, portanto, não digna desta nova ordem que se estabelecia. Não demoraria que a produção artística das lideranças republicanas viesse a ser incluída, juntamente com a que tentava sufocar, na terrível qualificação de arte-menor, de imitação pretensiosa, como se refeririam à produção musical do século XIX os envolvidos no movimento modernista, na década de 1920. É por influência dessa ótica que a representativa produção cultural do século XIX – em especial a música e as manifestações do teatro musicado – permanece com tanto a ser desvendado, apropriado e, sobretudo, utilizado com a propriedade devida nos debates que envolvem questões como identidade, nação e arte brasileira. E é exatamente sobre isso que vamos ouvir, falar e, principalmente, tocar no projeto “A invenção de um Brasil musical”, através de apresentações musicais e um seminário. Este projeto, longe da pretensão de ser conclusivo ou de preencher lacunas, propõe-se como um instrumento de auxílio e motivação para a intensificação desses debates.
Antonio Augusto
CONCERTOS TERÇA-FEIRA •
6/4/2010 • 12h30 e 19h
A Imperial A cademia de Academia Música e Óper a Nacional Ópera Adriana Clis (mezzo-soprano) Veruschka Mainhard (soprano) André Cardoso (maestro) Orquestra de Câmara Imperial
Arcângelo Fiorito (1813-1887)
Trattenimento*
Elias Álvares Lobo (1834-1901)
Rondó final da ópera A noite de São João* Solista: Veruschka Mainhard, soprano
Henrique Alves de Mesquita (1830-1906)
Abertura da ópera A noite no castelo**
Henrique Alves de Mesquita (1830-1906)
“Quando sereno e vívido” romance da ópera O Vagabundo.* Solista: Adriana Clis, mezzo-soprano
Carlos Gomes (1836-1996)
Mamma dice**
Carlos Gomes (1836-1996)
“Joanna de Flandres”: intermezzo do II ato**
Solista: Adriana Clis, mezzo-soprano
Solista: Eduardo Monteiro, flauta
“Foram-me os anos de infância”: ária** Solista: Veruschka Mainhard, soprano
“Joanna e Margarida”: dueto do 4º ato** Solistas: Adriana Clis, mezzo-soprano Veruschka Mainhard, soprano
*
Partituras do acervo da Divisão de música da Biblioteca Nacional.
** Partituras do acervo da Biblioteca Alberto Nepomuceno. Escola de Música da UFRJ. As obras de Elias Álvares Lobo, Henrique Alves de Mesquita e Carlos Gomes foram adaptadas para orquestra de câmara por Daniel Havens.
Adriana Clis mezzo-soprano
Natural do Rio de Janeiro, iniciou seus estudos musicais com sua mãe, Marcilda Clis. Estudou canto com Regina Deboer, Carmo Barbosa, Leilah Farah, Eiko Senda e Píer Miranda Ferraro por meio de uma bolsa fornecida pela Fundação Vitae (Itália). Ganhou o 1o prêmio em vários concursos, entre eles o mais importante, o IV Concurso Internacional de Canto “Bidu Sayão” (2003 – Belém). Recebeu o Prêmio Carlos Gomes de 2002, na categoria “revelação”. Foi uma das finalistas das “Audições para Novas Vozes Líricas” do Teatro Colón (Argentina), onde integrou a ópera “Die Walküre”. Participou do elenco do “Anel dos Nibelungos”, de Wagner, em Manaus. Vem se apresentando a frente das maiores orquestras do Brasil. Atualmente, prepara seu repertório com Ricardo Ballestero.
Verusc hka Mainhar d eruschka Mainhard soprano
Musicista versátil, mestre em flauta transversa barroca e música antiga pela Escola Superior de Utrecht (Holanda), pianista laureada em vários concursos, Veruschka Mainhard descobriu no canto sua real vocação. Realizou estudos com Carol McDavit e Martha Herr no Brasil, Uta Spreckelsen na Alemanha e Marianne Blok na Holanda. Participou de diversas “masterclasses” ministradas por Jean-Paul Fouchécourt, Susie le Blanc, Monique Zanetti e Maria Venuti. Como bolsista da Fundação do estado de Baden – Württemberg, aperfeiçoou-se ainda com Roland Hermann, Mitsuko Shirai, Hartmut Höll, Hilde Zadek e Jeffrey Gall, na Alemanha, e com Jorge Chaminé, na Fundação Calouste Gulbenkian de Paris.
André Car doso Cardoso maestro
Violista e Regente graduado pela Escola de Música da UFRJ, com Mestrado e Doutorado em musicologia pela Uni-Rio. Estudou regência com os maestros Roberto Duarte e David Machado. Recebeu, durante três anos, bolsa da Fundação Vitae para curso de aperfeiçoamento na Argentina com o Maestro Guillermo Scarabino, na Universidade de Cuyo (Mendoza), e no Teatro Colón, em Buenos Aires. Em 1994 foi o vencedor do Concurso Nacional de Regência da Orquestra Sinfônica Nacional, passando a atuar à frente das mais importantes orquestras brasileiras. Foi durante sete anos maestro assistente da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Atualmente é o Diretor da Escola de Música da UFRJ, onde é professor de regência e prática de orquestra, além de diretor artístico e regente da Orquestra Sinfônica da UFRJ.
Or questr a de Câmer a Imperial Orquestr questra Câmera VIOLINOS
BAIXO
Ana Oli veir a, spalla Oliv eira er eir a Per ereir eira Fernando P Vinicius Amar al Amaral Car los Roberto Mendes Carlos Tomaz Pir es Soar es Soares Pires Flávia de Castr o Castro
Andr e Geiger Andre
VIOLAS
FLAUTA
Eduar do Monteir o Eduardo Monteiro CLARINETE
Cristiano Alv es Alves FAGOTE
Iv an Zandonai Ivan Rubia Siqueir a Siqueira
Ariane P etri Petri
CELLO
TROMPAS
Hugo Pilger teus Cecca to Ma Mateus Ceccato
Philip Do yle Doyle Eliez er Conr ado Eliezer Conrado
CONCERTOS TERÇA-FEIRA •
13/4/2010 • 12h30 e 19h
Valsas es: alsas,, tangos e maxix maxixes: uma homenagem a Henrique Alv es de Mesquita Alves Art Metal Quinteto Jessé Sadoc (trompete) David Alves (trompete) Antônio Augusto (trompa) Marco Della Fávera (trombone) Eliezer Rodrigues (tuba)
Henrique Alves de Mesquita (1830-1906)
Bailado das nações Da mágica A coroa de Carlos Magno Pequena Fantasia para piston Abertura da ópera O vagabundo Mágica Ali Babá: tango, marcha turca, e batuque característico O Vampiro Polca Carlos Gomes Oferecida ao maestro Santanna Gomes
Todas as partituras, com exceção da Abertura de O vagabundo, são do acervo da Divisão de Música da Biblioteca Nacional Arranjos: Antonio Augusto e Jessé Sadoc
Art Metal Quinteto O Art Metal Quinteto é um raro exemplo de longevidade na música de câmara brasileira. Desfruta a reputação de ser um dos melhores quintetos de metais brasileiros e é reconhecido pela sua virtuosidade, carisma e dedicação em expandir o repertório brasileiro para esta formação. O primeiro Cd do grupo, Da Renascença ao Jazz – Velas, 1995 –, foi aclamado pelo jornal O Estado de S. Paulo como o melhor lançamento instrumental do ano. Em janeiro de 2000, em parceria com a Banda Anacleto de Medeiros, lançou o CD Sempre Anacleto (Kuarup, 2000), inteiramente dedicado à obra de Anacleto de Medeiros, um dos pilares da música brasileira e um dos primeiros compositores a escrever para banda no Brasil. Este CD teve enorme repercussão na imprensa, com matérias publicadas nos principais jornais do Brasil. O Art Metal Quinteto celebrou, em 2008, o lançamento de mais um CD completamente dedicado à música brasileira: Dezenovevinteum – uma história para ouvir. Novamente o quinteto resgata a memória e a obra de compositores como João Elias da Cunha, Bonfiglio de Oliveira e Zulmira Canavarros e apresenta a primeira composição gravada de Jessé Sadoc Junior. Assim, o quinteto apresenta a trajetória da música brasileira para metais do século XIX aos nossos dias, revelando a prática de instrumentistas-compositores que inscrevem, com seu talento, a sonoridade dos metais no imaginário da música nacional. Em 2009, destacaram-se em sua temporada as apresentações e masterclasses realizadas em Quito, no Equador; durante a Mostra Internacional de Música de Olinda (Mimo) e no circuito Musica Brasilis. Em fevereiro de 2010, o quinteto realizou apresentações ao lado do compositor Guinga, no Sesc Pompéia, em São Paulo. Em seus 15 anos de existência o Art Metal Quinteto se apresentou nas melhores salas de concerto do Brasil, gravou para rádio e televisão e é constantemente convidado pelos produtores culturais a trazer para o público sua pesquisa dos clássicos brasileiros e internacionais, sempre com a preocupação de observar as qualidades originais e seus detalhes históricos.
CONCERTOS TERÇA-FEIRA •
20/4/2010 • 12h30 e 19h
Clube Beetho ven: berço Beethov da estética r epub licana re publicana Quarteto de Cordas da UFF Ana Oliveira (violino) Ubiratã Rodrigues (violino) Nayran Peçanha (viola) David Chew (cello)
Sant’ Anna Gomes (1834-1908)
Saudade*
Alexandre Levy (1864-1892)
Quarteto* I Allegro cômodo II Allegro assai giocoso III Adágio molto IV Allegro
Alberto Nepomuceno (1864-1920)
Quarteto nº 3 “Brasileiro” I Allegro II Andante III Intermezzo IV Allegreto
*
Acervo da Divisão de Música da Biblioteca Nacional.
Quarteto da UFF O Quarteto de Cordas da UFF está entre os melhores conjuntos desse gênero no Brasil, em suas concepções estéticas e interpretativas. Seus integrantes são músicos de prestígio no cenário nacional e internacional da música de concerto. Apresentou-se nas principais cidades brasileiras, além de seguir um calendário de temporadas com apresentações no Teatro da UFF. Participou dos principais festivais de música do País, onde seus integrantes exerceram também a função de professores. Executou diversas obras brasileiras em primeira audição. Gravou na Rádio BBC de Londres obras de compositores brasileiros, sendo transmitido para toda a América Latina e Inglaterra, em 1988. O quarteto inclui, em seu repertório, obras de músicos como Mozart, Beethoven, Haydn, Schubert, Janacek, Ives, Debussy, Villa-Lobos, A. Nepomuceno, Siqueira, Dvorak, Borodin, Gnatalli, S. D’Amico, entre outros.
CONCERTOS TERÇA-FEIRA •
27/4/2010 • 12h30 e 19h
A música v ernácula: música vernácula: e poesia par a uma nação para Trio da Canção Brasileira Dione Colares (soprano) Antonio Augusto (trompa) Terão Chebl (piano)
Anônimo
Rompendo o fogo
J. Arvellos (1836-1890)
Xic Xic Xoc* Dizem que sou borboleta*
F. C. Conceição (?-?)
O pica-pau atrevido: fado mineiro*
Manoel Joaquim Maria (1853?-1874)
Cateretê da paródia O Orpheu na roça: Fado brasileiro* Letra: Correia Vasques
Salvador Fabregas (1820-1880)
O gandoleiro do amor*
Xisto Bahia (1841-1894)
A mulata: canção baiana*
Letra: Castro Alves
Letra: Mello Moraes Filho
Luiza Leonardo (1860-1926)
Ôntem* Inocência* Letra: Louis Guimarães Junior
Carlos Cavalier Darbilly (1846-1918)
Letra: Luiz Edmundo
Eu te amo!*
Meneleu Campos (1872-1927)
O baile na flor O ideal Letra: Castro Alves
Alberto Nepomuceno (1864-1920)
A jangada Anoitece Ao amanhecer Letras: Juvenal Galeno, Adelina Vieira e Anna Baptista
*
Acervo da Divisão de Música da Biblioteca Nacional. Arranjos: Daniel Havens.
Trio da Canção Br asileir a Brasileir asileira O “Trio da Canção Brasileira” é fruto da pesquisa da pianista Terão Chebl e do seu desejo de divulgar a música de câmera brasileira. Reconhecida como uma intérprete dedicada ao repertório pianístico contemporâneo, nas últimas décadas Terão tem traçado uma consistente trajetória na prática de música de câmara, que inclui parcerias com renomados artistas brasileiros. Ao lado de obras originais para esta formação, o Trio executa arranjos e adaptações especialmente compostos para o grupo pelo reconhecido maestro e compositor Daniel R. Havens. No ano de 2009, o Trio dedicou-se a um repertório que abrangia obras folclóricas de diferentes regiões brasileiras, bem como obras de Villa-Lobos, Vilani Cortes, Radamés Gnattali e dos compositores da Amazônia Waldemar Henrique e Altino Pimenta. O Trio já realizou inúmeras apresentações no Brasil e no exterior. Em 2005, foi convidado a participar do projeto de circulação de música de concerto (Funarte), realizando concertos em Brasília, Manaus, Goiânia e Belém. É frequentemente convidado pelas mais diversas instituições oficiais para realizar recitais e apresentações de caráter didático, em uma rara oportunidade de agregar literatura e música brasileira em um mesmo produto de qualidade. Em sua primeira versão o trio incluía a participação, além do piano e da voz, de um violoncelo. Recentemente, esta formação foi alterada com a entrada do trompista Antonio Augusto, que passou a integrar este grupo juntamente com a soprano Dione Colares e a pianista Terão Chebl. Com esta nova formação o Trio realizou, em 2009, uma tournée pela América Central, que incluiu cinco concertos, masterclasses e gravação para TV, em países como Costa Rica, Guatemala e Panamá.
CONCERTOS TERÇA-FEIRA •
4/5/2010 • 12h30 e 19h
Uma vizinhança perigosa: a música popular urbana nas mágicas evistas e paródias mágicas,, r re Soraya Ravenle (canto) Alfredo Del Penho (canto) Andréa Ernest Dias (flauta) Hugo Pilger (cello) Paulo Malaguti (piano e arranjos)
Ch. Dereval
Valsa O Gato preto*
Barroso Neto (1881-1941)
Maxixe da pataca Da mágica A Rainha da Noite
Abdon Milanez (1858-1927)
Tango A corça do Bosque Da mágica A corça do Bosque*
Costa Júnior (1868-1917)
Duo do pão e café Da revista fantástica O Jocotó*
Abdon Milanez
Marcha Bico de papagaio* Coplas de Vulcano. Da mágica A chave do Inferno*
Costa Júnior
Maxixe Da revista Dengo Dengo* Duo Caboclo e Bahiana Da revista Dengo Dengo*
Chiquinha Gonzaga (1847-1935)
Solo violãocelo O crime de Padre Amaro* Romance da princesa Da Mágica a Bota do diabo*
Costa Junior
Tango do comendador (engrossa) Da Revista de 1899*
Chiquinha Gonzaga
Forrobodó: “puxa fieira”, maxixe da mulata e não se impressione
*
Acervo da Divisão de música da Biblioteca Nacional.
Sor aya Ra venle Sora Rav A atriz, cantora e bailarina é uma das artistas mais presentes nas fichas técnicas dos espetáculos de teatro musical apresentados nos últimos anos — Estrela Dalva, Teatro Musical Brasileiro, Samba Valente de Assis, Metralha, Tuhu – o menino Villa Lobos, Viva o Zé Pereira, Número Faz Favor e Dolores. Por sua interpretação em Dolores, Soraya recebeu o Prêmio Shell de Melhor Atriz de 1999; foi escolhida a personalidade teatral do ano pelo jornal O Globo e uma das 20 personalidades mais marcantes de 1999 pela revista Veja Rio.
Alfr edo Del-P enho Alfredo Del-Penho É cantor, violonista, pesquisador e compositor. Atua na área da Música Popular Brasileira tradicional, sobre a qual tem vários discos lançados: Dois Bicudos (2004), Lamartiníadas (2005), Cachaça dá Samba (2007), todos esses ao lado de seu parceiro Pedro Paulo Malta, elogiados pela crítica e indicados a prêmios. Atuou e trabalhou como preparador na minissérie Dalva e Herivelto, da TV Globo. Atualmente produz o disco de Soraya Ravenle, atua no musical Sassaricando, grava o disco É Com Esse Que Eu Vou (sobre o musical homônimo) e trabalha como consultor no projeto Novo MIS.
Andréa Ernest Dias Desde o início dos anos 80, é presença constante nos palcos e na discografia da MPB, da música sinfônica e de câmara. Bacharel em flauta pela Universidade de Brasília e Mestre pela UFRJ, apresentou a dissertação A Expressão da Flauta Popular Brasileira – Uma Escola de Interpretação. Teve como professores os flautistas Odette Ernest Dias, Pierrre-Yves Artaud, Celso Woltzenlogel e Aurèle Nicolet. Flautista da Orquestra Sinfônica Nacional – UFF, integra ainda os grupos Pife Muderno, Quinteto Pixinguinha, Ouro Negro e Banda de Câmara Anacleto de Medeiros.
Hugo Pilger Um dos mais destacados violoncelistas brasileiros. Já se apresentou como solista das mais importantes orquestras nacionais e diversos países, como Inglaterra, Portugal, Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai, Bolívia, México, Espanha, França, Alemanha, Hungria, Dinamarca e Noruega. É primeiro violoncelo da Orquestra Petrobras Sinfônica (Opes) e professor de violoncelo da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).
Paulo Malaguti Arranjador, pianista , compositor e maestro de corais. Aluno de piano de Homero de Magalhães, Luis Eça e Ran Blake. Fundou e liderou o conjunto vocal Céu da Boca nos anos 80. Aluno de regência de Carlos Alberto Figueiredo, no Brasil, e Frank Battisti, nos EUA. Desde os anos noventa é arranjador, compositor, pianista e cantor do Arranco de Varsóvia, quinteto vocal dedicado exclusivamente ao samba, com três CD’s gravados. O 3º CD do grupo, “Na cadência do samba”, de 2005, foi contemplado com o prêmio Tim de melhor grupo de samba. Em 2010 o Arranco lança seu 1º DVD/CD “Pãozinho de Açúcar”, dedicado à obra de Martinho da Vila.
Antonio A ugusto Augusto
Concepção e direção artística Doutor em História Social (IFCS/UFRJ), Mestre em trompa pela Escola de Música da UFRJ e especializado no Royal Welsh College of Music and Drama, Grã-Bretanha, Antonio Augusto nasceu com a marca cosmopolita dos paraenses de Belém, Pará. Iniciou seus estudos na Escola de Música da UFPA, indo a seguir para Universidade de Brasília, onde foi aluno do professor Bohumil Med, para depois chegar a São Paulo, como aluno do professor Daniel Havens. Em 1986, bolsista do Conselho Britânico, viajou à Grã-Bretanha e, a convite do Mtº. Adrian Sheperd apresentou-se como solista da Welsh Chamber Orchestra, no Georgian Bath Festival, e durante uma tournée pela Inglaterra e o País de Gales. Realizou, também, recitais em Cardiff e Bristol. De volta ao Brasil, Antonio assumiu a função de primeira trompa na OSB. E foi ali que, motivado pelo desejo de fazer música de câmera, fundou com outros solistas o Art Metal Quinteto. Gravou o CD “Da Renascença ao Jazz” (Velas), 1995, que o jornal O Estado de São Paulo considerou “o melhor lançamento de música instrumental do ano”. Expandindo o repertório dos metais, fundou a Banda Anacleto de Medeiros, onde atua como regente e divulga a obra deste importante compositor brasileiro. A Banda – junto com o Art Metal Quinteto –, lançou, em 2000, o CD Sempre Anacleto, obtendo um enorme sucesso junto à crítica especializada. Atuou como solista junto às orquestras Sinfônica de Campinas, de Câmara de Brasília, da Osesp, Petrobras Sinfônica, do Sesi-Minas e, em diversas ocasiões, da Orquestra Sinfônica Brasileira – OSB. No ano de 2008, Antonio participou como convidado no Festival Internacional de Música de Câmara de Belém, na Mostra Internacional de Música de Olinda, além de lançar o CD do Art Metal Quinteto – Dezenovevinteum, uma história para ouvir – apresentando o resultado de sua pesquisa sobre a história da música brasileira para metais. Em 2009, foi aprovado em concurso público para o cargo de professor de música de câmara da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e realizou, com o Trio da Canção Brasileira, uma tournée pela América Central, que incluiu gravação para TV, masterclasses e concertos em Guatemala, Costa Rica e Panamá. Recentemente, na Mostra Internacional de Música de Olinda, foi professor da Oficina de Metais e apresentou com o Art Metal Quinteto a estreia de sua versão para quinteto de metais da abertura da ópera O Vagabundo (1863), de Henrique Alves de Mesquita.
A in venção de um Br asil m usical: inv Brasil musical: o século XIX (1857-1900) Notas rápidas sobr eor epertório sobre re Os cinco concertos do projeto foram organizados de maneira a oferecer um painel das diversas práticas e formas musicais. Iniciamos com a tentativa de construção de uma ópera nacional, berço das primeiras apresentações de Elias Álvares Lobo, Henrique Alves de Mesquita e Carlos Gomes. Destaca-se neste programa a inclusão da obra Trattenimento, de Arcângelo Fiorito, datada em 7 de abril de 1861, ela é um raro exemplar de música puramente instrumental deste período. A partitura manuscrita encontra-se com uma pequena parte queimada, tendo sido necessário um criterioso trabalho de reconstituição da obra. Arcângelo Fiorito veio para o Brasil na comitiva da Imperatriz Tereza Cristina, em 1843, sendo no mesmo ano nomeado para o coro da Capela Imperial. Foi professor do Conservatório de Música e, por muitos anos, Mestre da Capela Imperial. A segunda apresentação, uma homenagem a Henrique Alves Mesquita, reflete a produção deste grande compositor primeiro brasileiro a ser agraciado com uma bolsa de estudos no exterior; primeiro compositor a publicar um tango brasileiro, e também a indexar esta forma musical à mágica, inscrevendo definitivamente a presença da música popular urbana nos respeitáveis palcos cariocas. De compositor de óperas a mestre do teatro musicado, Mesquita revela uma trajetória intrigante marcada pela incrível reverência de seus contemporâneos e o ostracismo, imposto por D. Pedro II, após a controvertida estadia do compositor em Paris. A terceira apresentação pretende recriar a atmosfera do Club Beethoven, criado em 1882, onde atuavam aqueles que seriam os líderes musicais da República. Leopoldo Miguez e Alberto Nepomuceno estão entre os que frequentavam e atuavam nas apresentações deste espaço, onde, entre as novas práticas musicais que apresentava, destacava-se a existência permanente de um quarteto de cordas, bem como a introdução de um repertório camerístico altamente influenciado por compositores germânicos como Schumann, Schubert e Mendelsohn. A quarta apresentação é dedicada à produção da música vernácula. Dos célebres lundus de J. Arvellos até a produção expressiva de Alberto Nepomuceno (reconhecido como o pai da canção de câmera brasileira) trilharemos os caminhos da canção nacional, com suas ricas representações do cotidiano, do imaginário e da construção de valores da sociedade brasileira oitocentista. É importante ressaltar a presença nesse repertório de compositores como Luiza Leonardo – célebre pianista carioca, que aos nove anos de idade encantou D. Pedro II com seu talento – e Cavalier Darbilly, ambos artistas de prestígio em sua época e esquecidos nos nossos tempos. A quinta apresentação remete à perigosa vizinhança da música popular urbana, que não tardaria a sobrepujar o projeto estético republicano. A profusão do teatro musicado, com suas revistas, operetas e paródias, conquista o espaço pretendido junto ao público e afirma sua potencialidade como expressão de uma população que agora dispensa a interlocução de intelectuais em seus processos de identificação. Não existe mais espaço para uma única identidade, mas para as várias identidades musicais que dialogam entre si e que representam uma sociedade multifacetada e heterogênea.
A in venção de um Br asil inv Brasil musical nas “histórias da música br asileir a” brasileir asileira” Martha Abreu1 “O mistério de nossa música é o mistério do Brasil mesmo, diz-me o que cantas e eu te direi quem és. Mas nós cantamos tanta coisa e tão diferentes... Que seremos nós?” Renato Almeida Revista Movimento Brasileiro, 1928
Apesar do papel central da música no Brasil, assim como da música brasileira nas imagens da nação, as histórias da música produzidas e disponíveis hoje ainda estão longe de contentar os especialistas ou os interessados no tema. As histórias da música no Brasil, especialmente para o século XIX, ainda precisam de pesquisas e de historiadores. Nos últimos tempos, é verdade, com o crescimento dos programas de pós-graduação na década de 1990, a aproximação entre história e música, e entre historiadores e músicos, tem crescido em meio à dificuldade dos historiadores em conhecer teoria musical e à dos músicos, que não dominam os instrumentos da pesquisa histórica. Encontros como o que o Banco do Brasil está proporcionando ajudam a estreitar esses laços e a aprofundar a discussão sobre a história da música, ou melhor, sobre as histórias da música no Brasil. Até pouco tempo atrás, a dificuldade de aproximação entre historiadores e músicos era muito visível em obras insuficientes e muito gerais, na maior parte das vezes construídas por memorialistas. Muitas dessas obras são demasiadamente sintéticas ou reproduzem indefinidamente modelos que já cumpriram seu papel, em especial voltados para a construção de uma identidade musical nacional, como proposto por intelectuais desde o final do século XIX e pelos chamados modernistas nos anos 1920. Entretanto, não se pode esquecer sua existência ou menosprezar o poder desse tipo de produção intelectual, que, entre o final do século XIX e os anos 20, investiu na complicada construção (ou invenção) da versão musical (talvez uma das mais fortes visões) da suposta identidade nacional brasileira. Nas décadas posteriores, e até hoje, suas pioneiras versões sobre a “música brasileira”, origens e características, encontram-se presentes nos trabalhos sobre o tema ou em diversos locais de divulgação cultural. Sem uma boa dose de crítica e atenção, não é fácil o aproveitamento desses trabalhos pelo historiador. Em geral, essas obras pioneiras tiveram a singular e semelhante pretensão de produzir uma síntese histórica da “música brasileira”, 1
Este texto está baseado num trabalho mais amplo, “Histórias da Música Popular Brasileira, uma análise da produção sobre o período colonial”, publicado no livro Festa: Cultura e Sociabilidade na América Portuguesa, organizado por Jancsó, I. e Kantor I., pela Imprensa Oficial, Hucitec, Edusp, Fapesp, 2001.
definindo-a positivamente e orgulhosamente, para o passado ou para o futuro, como um produto da mestiçagem racial de índios, portugueses e negros. O resultado do esforço desses intelectuais tendeu a ser a reprodução geral da teoria da mestiçagem, aplicada também para outros campos, sobre uma realidade musical múltipla e multifacetada, demonstrando como o recurso da “fábula das três raças” foi (e é) recorrente também nas construções sobre a brasilidade musical. Para além da terra, região e raça, intelectuais ligados à música, entre o final do XIX e primeiras décadas do XX, estavam engajados na definição sobre a música popular e na construção de uma história da música brasileira, sempre valorizando seus traços mestiços. Entre muitos autores, como Mello Moraes Filho, Santa-Ana Néri, Alexina de Magalhães Pinto, Pereira da Costa e Mário de Andrade, alguns trabalhos podem ser citados para representar essa produção: “A Música no Brasil” (1908), de Guilherme T. P. de Mello, “A História da Música Brasileira”, de Renato Almeida (1926), e “Estudos de Folclore” (publicado em 1933, mas com textos datados de 1928), de Luciano Gallet. Guilherme Mello, bibliotecário do Instituto Nacional de Música e que se autodenominava professor de música, publicou “A Música no Brasil”, em 1908. Logo de início, avisava ao leitor que não produziu uma história completa da música no Brasil, pois não teve os recursos necessários, nem conseguiu visitar todos os estados. A maior parte de seus exemplos refere-se à Bahia e ao Rio de Janeiro; a pesquisa concentrou-se no Instituto Geográfico da Bahia e no Real Gabinete Português de Leitura. Apesar destes limites, afirmou, em termos bem entusiasmados e pretensiosos, que realizou o livro... “com o desejo ardente de mostrar-vos com provas exuberantes, de que não somos um povo sem arte e sem literatura, como geralmente dizem, e que pelo menos a música no Brasil tem feição característica e inteiramente nacional”. (grifos meus)
Guilherme de Mello partiu de uma constatação de que a música era a “arte mais sociológica”, a “mais leal do sentimento humano”. Defendeu que o “sentimento musical” era muito diferente entre diferentes partes do mundo. Dependia do indivíduo e da raça a que pertencia. Para o reconhecimento da arte musical de um país, segundo o autor, era necessário verificar a “influência dos povos que contribuíram para a constituição de sua nacionalidade”. Aplicando suas premissas com muito otimismo, Mello declarou que no Brasil não havia dúvidas da grande vitalidade da “música popular brasileira” (ou da “música nacional brasileira”). O “nosso estilo característico” (independentemente se na cidade ou na zona rural) – a modinha, o lundu e a tirana – ter-se-ia constituído da “fusão do elemento indígena com o português, o africano e o espanhol”. Para o autor, o Brasil era a terra por excelência da música, onde não se sabia dizer qual a qualidade mais exuberante: se a flora, se a fauna, se a música. Mesmo as formas mais pobres de harmonia ou menos ricas de melodia, menos ritmadas ou com menos temas não deveriam ser desprezadas ou abandonadas. Todas teriam seu valor relativo conforme o lugar em que eram executadas e a sua aplicação histórica. Assim, aproximando a “música nacional” de outras marcas da nacionalidade, perguntava-se...
“como pois não termos uma música essencialmente nacional desde quando temos uma tradição, um clima e uns tantos costumes precisamente brasileiros”.
O livro de Renato Almeida, História da Música Brasileira, já incorporando uma perspectiva dita modernista, que levará muito longe a ideia de a “música popular” ser a base para a formação da “moderna música brasileira”, aproximou-se de muitas colocações de Guilherme de Mello. Considerava a “música popular” um fruto da mestiçagem e a marca positiva da identidade nacional (e vice-versa). Para o autor, que se tornará nas décadas seguintes um dos maiores articuladores do Movimento Nacional do Folclore, o “canto popular”, no Brasil, como nenhuma outra manifestação, expressava a nossa alma, a dor do conquistador e do conquistado, de portugueses e negros, frente ao magnífico cenário. Na avaliação de Renato Almeida, ainda estava cedo para se definir a influência da música indígena no canto popular. Apesar da presença de evidentes determinismos e preconceitos raciais, o seu entusiasmo pela “música popular” estava presente em várias manifestações. Na música de Ernesto Nazareth, por exemplo, destacava a presença “da riqueza prodigiosa de ritmos”, as características “incertas da alma popular, humilde, atrevida, voluptuosa, ardente e rústica, numa música cheia de brilhos e sugestões”. O seu maior exemplo foi o samba do carnaval, “a festa mais empolgante da terra”, que, em suas palavras, exprimia os “motivos puramente brasileiros”. Ao lado de expressões comprometedoras – como as que afirmam a existência de um espírito melancólico e de letras e músicas que não valiam muito – reconhecia a delícia do ritmo e declarava existir algo positivo em toda esta festa: “A criação popular do nosso samba é uma das maiores realizações do temperamento artístico brasileiro, inconfundível e humano”.
Luciano Gallet, por sua vez, um dos mais conhecidos pesquisadores da música popular no período, sem declarar textualmente suas evidentes ligações com o modernismo, também se preocupou com a construção da “música brasileira”. Destacou-se, principalmente ao longo da década de 20, pelas harmonizações (a palavra é sugestiva) de “músicas populares”. O livro, publicado em 1933, com prefácio de Mário de Andrade, é uma coletânea de seus escritos de 1928, organizados a partir da influência do índio e do negro na “música brasileira” (na parte final, algumas linhas sobre a contribuição portuguesa). A principal tese do autor, na primeira parte, foi demonstrar que o índio não contribuiu para a “formação de nossa música atual”, em função da destruição de sua “música primitiva” pelos jesuítas. O folclore brasileiro, no que se referia à música, era de origem luso-africana. Em suas palavras: “da fusão do elemento melódico expressivo português, latino, com o elemento rítmico africano, nasceu a música brasileira”.
O autor ainda valorizava a grande quantidade de material brasileiromusical em termos de formas, qualidades melódicas e características rítmicas. Além das influências externas assinaladas, “aqui” teriam
nascido – e se transformado – novas modalidades. A música brasileira, na dependência de sua própria raça, era vista como “rica de seiva, exuberante de sentimento, cheia de vida interior”. Pela sua observação, “vai atraindo a atenção de notabilidades musicais estrangeiras, que vêm aqui buscar a música nossa, para aproveitar o seu feitio novo”. Dentro em breve, arriscava o autor em tom muito otimista, “consciente de sua força, e de seus meios próprios, ela (a música brasileira) contribuirá pujante para a afirmativa da vitalidade brasileira”.
Esses exemplos já devem ser suficientes para evidenciar que, em meio a grandes elogios e entusiasmos em relação ao resultado musical da mestiçagem, os autores em questão (uns mais outros menos) não conseguiram escapar de certos determinismos preconceituosos que definiam a própria mistura racial, especialmente no que dizia respeito à influência negra e africana. Isto fica mais nítido quando procuraram demarcar – bem verdade que sem muito êxito – as características gerais da “música brasileira”, ou melhor, das marcas musicais da mestiçagem racial. Ao não irem além de referências pouco específicas sobre o ritmo, a melodia, a síncopa, os acentos e as cadências, esses primeiros estudiosos da história da música acabaram criando versões bastante subjetivas sobre a melancolia, a lascívia e a languidez da música mestiça. Sem jamais terem chegado a um acordo, o melhor recurso que os autores encontraram para definir as características gerais da música brasileira, nas sínteses históricas que procuraram construir, foi mesmo a eleição de alguns gêneros musicais, como o lundu e a modinha. Nesta operação, contraditoriamente, ao mesmo tempo em que buscavam valorizar a mestiçagem musical dos estilos, muitas vezes de uma forma muito próxima a uma depuração dos traços africanos, não conseguiram esconder a impossibilidade de se fazer uma síntese da identidade nacional musical, em função da variedade dos estilos e da significativa influência negra e africana apresentadas. Tais dificuldades revelam os limites das intenções de homogeneização do que procuravam definir como “música brasileira”. Diferentemente de Sílvio Romero, que nos estudos de literatura popular reconhecia as dificuldades para se encontrar a singularidade nacional, em função do peso da herança portuguesa, esses intelectuais ligados à música percebiam a existência, tanto nas ruas da cidade quanto no meio rural, de múltiplos estilos musicais, variadas influências e singulares misturas musicais presentes entre os mais diferentes segmentos da população. A música, mais do que a literatura, oferecia promissoras possibilidades para esses intelectuais identificarem a criação de estilos novos e originais – apesar da indisfarçável e “problemática” influência negra – com as marcas de uma pretensa identidade nacional. Procurando harmonizar musicalmente as melodias, os intelectuais da música analisados pareciam mesmo querer harmonizar – agora no sentido de conciliar e congraçar – as diferentes e variadas manifestações musicais dos setores populares num projeto mais amplo de construção da “música nacional” e de sua história. Guilherme de Mello afirmava, em 1908, com convicção, que na Europa a “música popular” havia contribuído para algo maior. Os grandes mestres
(Bach, Mozart, Haydn, Glinka e Grieg) teriam se baseado em melodias populares. Para Renato Almeida a “música popular” era a “voz da terra”, a “massa rude” que se haverá de moldar à arte brasileira. Em termos dos marcos divisórios desta história musical, os autores analisados aproveitaram as divisões políticas tradicionais, colônia, monarquia e república, e tenderam a fazer coincidir a “música brasileira” com os marcos da formação do Estado Nacional. Para o período colonial, com destaque para o século XVIII, foi atribuído um sentido especial, em função das buscas sobre evidências antigas, originais e típicas, do que os autores procuraram definir como música popular brasileira, muito antes da existência do próprio Brasil. Enfim, produzindo explicações a partir de misturas raciais, de harmonizações de estilos e de uma pretensa identidade nacional, grande parte da literatura sobre música brasileira manteve as versões e as premissas dos primeiros articuladores de uma “música nacional”. Além da busca de uma identidade nacional musical mestiça, desde o período colonial, percebe-se também que todas aquelas versões valorizavam mais os estilos musicais do que os significados da produção cultural para os diversos e diferentes agentes sociais. Distantes de nossas preocupações atuais com a história social da música, os primeiros trabalhos sobre a “música brasileira” tinham a visão de que os processos culturais – e musicais – ocorrem sem conflitos e sem a ação dos sujeitos sociais. Apesar dos problemas apontados, o resgate crítico destas obras pioneiras permanece como tarefa necessária e importante ao historiador, preocupado com a história da música popular, seja nos tempos coloniais, no século XIX ou no século XX. E não apenas pelo fato de indicarem importantes fontes e estilos musicais, mas também pelas suas recorrentes e insistentes presenças em produções atuais sobre o tema. Para além da necessidade, estas obras trazem aos historiadores de hoje grandes desafios e novas questões. Como interpretar e entender os constantes e observáveis trânsitos e sincretismos musicais entre negros e brancos, escravos e livres, populares e senhores, nascidos no Brasil e em Portugal, sem o viciado viés do “mito das três raças” e da identidade nacional mestiça? Se a discussão desses desafios não cabe nos limites deste texto, vale a pena registrar que modinhas, lundus, cateretês, chulas, sambas e maracatus abrem caminhos de pesquisa e são bons motivos para se buscar compreender historicamente as expressões e os hibridismos culturais produzidos por diferentes e variados agentes sociais. Esses velhos estilos musicais, certamente, merecem novos olhares e novas problematizações, livres dos indicadores das marcas inconfundíveis de uma pretensa identidade nacional, mestiça.
SEMINÁRIO QUARTA-FEIRA •
7/4/2010 • 10h15 às 18h30
A in venção de um Br asil inv Brasil musical: o século XIX Este seminário – reunindo representativos pesquisadores da musicologia histórica, da história social e do teatro-musical – está centrado na produção musical brasileira do século XIX, comumente relegada de nossas salas de concertos e da historiografia nacional. Esta produção, em muito imbricada com projetos de construção de identidade nacional, revela através de suas diferentes temporalidades os instrumentos ideários ao quais recorriam os envolvidos na invenção de um Brasil musical. Desta forma, além de oferecer um painel das formas, dos gêneros e das influências que marcaram o fenômeno musical do período proposto, pretendemos dialogar com estes campos de pesquisa observando as práticas musicais do período proposto e suas relações com os processos de criação identitária de uma sociedade em pleno processo de (re) invenção de suas tradições.
PALESTRA •
10h15 às 11h
Música, história e sociedade Conferencista: Prof. Drª. Martha Abreu (UFF) MESA-REDONDA •
11h30 às 12h45
Da ópera nacional a uma nação musical: a música e o Império do Brasil Prof. Dr. Marcos Bretas (UFRJ) Música e sociedade no Rio de Janeiro do século XIX Prof. Dr. André Cardoso (UFRJ) Organistas e organeiros da Capela Real e Imperial do Rio de Janeiro Prof. Dr. Antonio Augusto (OSB/UFRJ) A civilização como missão: o Conservatório de Música no Império do Brasil
MESA-REDONDA •
14h15 às 15h30
Tangos, polcas e maxixes: as formas populares sobem à cena Profª. Drª. Marta Tupinambá de Ulhôa (Unirio) Os “dançados nacionais” no teatro da corte em meados do século XIX Profª. Drª. Beatriz Magalhães Castro (UNB) “Quem (ou quando) foi...?”: expressões de identidade e hibridismo na música brasileira Profª. Drª. Monica Leme (Pedro II) Os editores e compiladores de música ligeira no século XIX e seu papel na invenção da “música popular brasileira” MESA-REDONDA •
15h45 às 17h
Mágicas aparatosas: o teatro musical e suas tensões Profª. Drª. Silvia Cristina Martins (UEL) “Que venham negros à cena com maracas e tambores”: jongo, teatro e campanha abolicionista no Rio de Janeiro Profª. Drª. Vanda Freire (UFRJ) A música e a construção de imagens dialéticas nas mágicas do Rio de Janeiro e de Lisboa Prof. Dr. Fernando Mencarelli (UFMG) A voz e a partitura: indústria e diversidade MESA-REDONDA •
17h15 às 18h30
A República musical: a re-significação da modernidade Prof. Dr. Aldrin Figueiredo (UFPA) Entre a coroa e o triunfo: a música e os círculos intelectuais no Pará entre fim do Império e o alvorecer da República Prof. Ms. Avelino Pereira (Unirio) Nação e modernidade em Leopoldo Miguez e Alberto Nepomuceno Prof. Dr. Samuel Araújo (UFRJ) Desordem e progresso: o som e a política no carnaval oitocentista do Rio de Janeiro
C O N F E R E N C I S TA
Martha Abr eu Abreu Professora do Departamento de Historia da UFF e pesquisadora do CNPQ. Publicou vários artigos sobre festas e música popular e sua relação com a construção da nação e da cidadania no Brasil, ao longo do século XIX e primeiras décadas do século XX.
P A RT I C I PA N T E S
Aldrin Mour a de F igueir edo Moura Figueir igueiredo Historiador, doutor em história pela Unicamp, pesquisador do CNPq, especialista em história social da arte e da intelectualidade na Amazônia e atualmente coordenador do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Pará.
André Car doso Cardoso Violista e regente graduado pela Escola de Música da UFRJ, da qual é professor e o atual diretor. Possui mestrado e doutorado em musicologia pela Unirio. É o titular da Orquestra Sinfônica da UFRJ e membro da Academia Brasileira de Música.
Antonio JJ.. A ugusto Augusto Doutor em História Social (IFCS/UFRJ), professor de música de câmara da UFRJ e trompista do Art Metal Quinteto, da Petrobras Sinfônica e da Orquestra Sinfônica Brasileira.
Avelino Romer o P er eir a Romero Per ereir eira Historiador, pianista e bandoneonista, professor de História da música da Unirio, autor de Música, Sociedade e Política: Alberto Nepomuceno e a República Musical (EDUFRJ, 2007), mestre em História Social do Brasil pela UFRJ e doutorando em História Social pela UFF, onde desenvolve pesquisa sobre tango e sociedade na Argentina.
Bea triz Magalhães Castr o Beatriz Castro Primeiro prêmio do Conservatoire National Supérieur de Musique de Paris, como aluna de Jean-Pierre Rampal e Michel Debost. Doutorou-se pela The Juilliard School of Music e realizou pós-doutoramento em Musicologia na Universidade Nova Lisboa. Atualmente é professora-adjunta da Universidade de Brasília e editora da revista Música em Contexto.
Fernando Mencar elli Mencarelli Diretor teatral. Pesquisador do CNPq. Doutor e mestre pela Unicamp, na área de História Social da Cultura, com trabalhos sobre a história do teatro brasileiro. Coordenador do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. Foi Presidente da Abrace.
Mar cos Luiz Br etas Marcos Bretas Historiador e professor de História do Brasil da UFRJ, com doutorado pela The Open University do Reino Unido. Publicou recentemente História das Prisões no Brasil (Rocco, 2009)
Martha T upinambá de Ulhoa Tupinambá Professora titular em musicologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), professora no Instituto Villa Lobos e do Programa de Pós-Graduação em Música do Centro de Letras e Artes. Pesquisadora do CNPq. Realizou diversas publicações sobre vários gêneros de música brasileira popular e, mais recentemente, sobre música no Brasil no século XIX e sobre as gravações pioneiras da Casa Edison.
Mônica Leme Professora do Colégio Pedro II, onde coordena o Portal de Educação Musical. É doutora em História (UFF) e mestre em Música (Unirio). É autora de “Que Tchan é Esse? Indústria e produção musical no Brasil dos anos 90” (Annablume, 2003). Mônica é também bandolinista/ cavaquinista do grupo “Mulheres de Chico”, que faz uma releitura percussiva e original da obra de Chico Buarque, explorando ritmos como o samba, ijexá, jongo, coco, marchinha e funk.
Sam uel Ar aújo Samuel Araújo Professor associado da Escola de Música da UFRJ, onde coordena o Laboratório de Etnomusicologia. Organizou e editou os Estudos de Folclore e Música Popular Urbana, de César Guerra-Peixe (UFMG, 2007), e organizou, junto com Vincenzo Cambria e Gaspar Paz, a coletânea Música em Debate; Perspectivas Interdisciplinares (Ed. Mauad, 2008), além de inúmeras publicações em periódicos especializados no Brasil e no exterior.
Silvia Cristina Martins de Souza Doutora pela Unicamp e professora da Universidade Estadual de Londrina, onde atua no mestrado e na graduação nas áreas de História do Brasil e História da Cultura Afrobrasileira. É autora de As Noites do Ginásio: teatro e tensões culturais na Corte (1832-1868); O palco como tribuna: uma interpretação de “O Demônio Familiar”, de José de Alencar, e Carpinteiros Teatrais, cenas cômicas e diversidade cultural: ensaios de história social da cultura.
Vanda F reir e Fr eire Graduada em Piano, Composição e Regência e Doutora em Educação Brasileira pela UFRJ. Concluiu Pós-doutorado na Universidade Nova de Lisboa, na área de Musicologia Histórica. Tem publicações e trabalhos técnicos diversos nas áreas de Educação Musical e Musicologia e composições musicais.
P AT R O C Í N I O
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO
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Andréa Alves
REALIZAÇÃO
P R O D U Ç Ã O E X E C U T I VA
Centro Cultural Banco do Brasil
Janaína Santos
C O N C E P Ç Ã O E D I R E Ç Ã O A RT Í S T I C A
ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO
Antonio Augusto
Ana Caroline Araújo Carol Oliveira Raphael Baêta
A S S E S S O R I A D E I M P R E N SA
Flávia Tenório – LEAD Comunicação O P E RA D O R D E L U Z
P L A N E JA M E N T O
Fabiano Carneiro
Clarissa Verdial
SONORIZAÇÃO
F I N A N C E I R O E A D M I N I S T RAT I VO
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Helena Rodrigues Luciana Verde
Antônio Augusto Martha Abreu
APOIO DE PRODUÇÃO E A D M I N I S T RA Ç Ã O
REVISÃO DE TEXTOS
Carlos Henrique
Andrea Rausch
P R O D U Ç Ã O G E RA L
PROJETO GRÁFICO
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A G RA D E C I M E N T O S E S P E C I A I S
À Biblioteca Nacional; Sra. Rose Mary Amorim, Coordenadora do CAE; Elizete Higino, Bibliotecária chefe, e toda sua equipe; À Biblioteca Alberto Nepomuceno da Escola de Música da UFRJ; Dolores Brandão, chefe da biblioteca; Maria Luiza Neri de Carvalho, setor de manuscrito; À Orquestra Petrobrás Sinfônica. A G RA D E C I M E N T O S
André Cardoso; César Ribeiro Alves Augusto; Daniel Havens; Michael Alpert; Marcos Júlio Sergl; Martha Abreu; Martha Tupinambá de Olhoa; Ricardo Resende; Silvia Cristina Martins de Souza; Tania Maria Pereira e Victor Ribeiro Alves Augusto.
Centro Cultural Banco do Brasil – Teatro II Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro/RJ Informações: (21) 3808-2020 (terça a domingo, das 10h às 21h) bb.com.br/cultura | twitter.com/CCBB_RJ SAC 0800 729 0722 | Ouvidoria BB 0800 729 5678 Deficientes auditivos ou de fala 0800 729 0088 Ingressos: R$ 6,00 (inteira) | R$ 3,00 (meia) Seminário (7/4/2010): entrada gratuita com distribuição de senha.