Devoção e Esquecimento - Presença do Barroco na Baixada Fluminense

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Devoção e Esquecimento Presença do Barroco na Baixada Fluminense


Comitê de Organização Curadoria Marcus Monteiro Coordenação Dalva Lazaroni de Moraes Consultoria Especializada Cristina Ávila Chanceler da Diocese de Duque de Caxias Padre Paulo de Oliveira Reis Pároco de Magé Padre José Luiz Montezano Diretor do Arquivo da Cúria Diocesana de Nova Iguaçu Antonio Lacerda de Menezes Arquiteta Ana Cristina Pires Duarte Diretora de Projetos da Casa França-Brasil Mariana Várzea Museóloga Marta Gerudi Oficina de Restauro Wallace Caldas / Ópera Prima Gilson Silva de Andrade Responsável pela preparação das obras Oswaldo Parada Manoel Batista Filho

Programa Nova Baixada Subsecretário de Captação de Recursos Adir Bem Kauss Superintendente Claudio Maximiano Superintendente de Desenvolvimento Comunitário Dilza Terra Coordenadora de Atividade de Geração de Trabalho e Renda Verônica Coelho Coordenadora de Eventos Maria Inês Garcia Coordenador de Cultura e Articulação Comunitária João Grilo


Devoção e Esquecimento Presença do Barroco na Baixada Fluminense


Comitê de Honra Governador do Estado do Rio de Janeiro Anthony Garotinho Vice-Governadora Benedita da Silva Secretária de Estado de Cultura Helena Severo Subsecretária de Cultura Graça Salgado Superintendente de Cultura da Baixada Fluminense Marcus Monteiro Secretário de Planejamento, Desenvolvimento Econômico e Turismo Tito Ryff Subsecretário de Captação de Recursos / SPDET Adir Bem Kauss Presidente da Fundação Casa França-Brasil Dalva Lazaroni Presidente da Associação de Amigos da Casa França-Brasil João Maurício Pinho Bispo de Duque de Caxias Dom Mauro Morelli Bispo de Nova Iguaçu Dom Werner Siebenbrock Bispo de Petrópolis Dom José Carlos de Lima Vaz


Devoção e Esquecimento Presença do Barroco na Baixada Fluminense

Marcus Monteiro Curadoria Dalva Lazaroni Coordenação

Exposição de 19 de novembro a 16 de dezembro de 2001 Casa França-Brasil


Aparência do Rio de Janeiro, mapa de João Teixeira Albernaz, “o Moço” (Mapoteca do Itamaraty), mostrando a baía de Guanabara em 1666, com as localidades da Baixada Fluminense, à direita


À memória dos artistas anônimos que assinaram a história do barroco na Baixada Fluminense e àqueles que souberam, quiseram e conseguiram preservar este imaginário, pelo milagre que realizaram.



Quando falamos na Baixada Fluminense, freqüentemente associamos a região à violência, marginalidade, criminalidade e exclusão social. Iniciativas como a exposição Devoção e esquecimento – Presença do barroco na Baixada Fluminense, patrocinada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, contribuem decisivamente para transformar estes conceitos, relacionando sua história ao processo de povoamento e desenvolvimento urbano da capital fluminense, além de tornar público um valioso acervo de arte sacra revelado por cuidadosa e dedicada pesquisa histórica e arqueológica. A beleza e a exuberância das peças aqui apresentadas falam mais alto do que os preconceitos ainda existentes em relação à Baixada. Demonstram, ainda, que esta região tem na sua história, memória e cultura vivas, pulsantes e atuantes, motivos de orgulho para seus habitantes. Estamos certos de que a preservação e a difusão deste rico acervo devem ser estimuladas, conscientizando as futuras gerações sobre a sua importância para formar o verdadeiro cidadão.

Anthony William Matheus Garotinho Governador do Estado do Rio de Janeiro


A exposição Devoção e esquecimento – Presença do barroco na Baixada Fluminense, montada no ambiente majestoso da Casa França-Brasil, tem um significado especial, principalmente por revelar ao grande público valiosas relíquias da memória e da história de uma região mais conhecida por suas enormes carências. A história do recôncavo da baía de Guanabara e do processo de ocupação desta região, recentemente denominada de Baixada Fluminense, acompanha a própria formação da cidade do Rio de Janeiro, com a instalação de fazendas e engenhos a partir dos primórdios do século XVI, e a construção de capelas e igrejas no decorrer do século seguinte, muitas das quais desapareceram. Algumas das imagens que ornavam estes templos, fruto do trabalho de mestres santeiros do século XVII ou de escultores portugueses que aportaram ao Brasil no século XVIII atraídos pelo ouro das Minas Gerais, escaparam ao descaso e à ação do tempo, constituindo um importante acervo de arte religiosa a ser preservado e divulgado, para orgulho de toda a população fluminense. Parte desta riqueza histórica e cultural vem sendo desvendada por iniciativa do pesquisador Marcus Monteiro, atual Superintendente da Baixada da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro e curador da exposição, sobrepondo-se à imagem geralmente difundida desta região como um reduto de violência e de marginalidade social. A revelação deste rico acervo, constituído através dos séculos, certamente contribuirá para reforçar os laços de identidade e o sentido de pertencimento de um povo às suas origens.

Helena Severo Secretária de Estado de Cultura do Rio de Janeiro


A gestão do governador Anthony Garotinho tem se pautado pelo compromisso com o povo fluminense, principalmente com as populações mais carentes do Estado. A Baixada Fluminense, que se caracterizava por ser uma região abandonada pelo poder público, altera seu perfil por meio de intervenções profundas operadas de forma integrada pelo Governo do Estado. Um exemplo disso é essa belíssima e oportuna exposição promovida pela Secretaria de Cultura e a SEPDET. A Casa França-Brasil, espaço de excelência que abriga a exposição, atesta a importância desse raro acervo, com peças confeccionadas por artistas da própria Baixada Fluminense entre os séculos XVI e XVIII, com relevância internacional, e que muito contribuirá para elevar a auto-estima e resgatar a cidadania da população da região no encontro com sua arte e história, o que por si só já justifica a iniciativa. A nós, da Secretaria de Estado de Planejamento, Desenvolvimento Econômico e Turismo, muito nos honra a parceria em torno desse evento. Por meio do Programa Nova Baixada, que conta com parceiros como o BID e a Unesco e que se objetiva na melhoria da qualidade de vida da Baixada Fluminense, atuamos na urbanização e saneamento básico daquela região e também no desenvolvimento dos programas sociais, que entre vários itens contempla a arte e a cultura. Daí nosso total envolvimento com essa exposição. Compreendemos que a área cultural tem importância estratégica na formação do povo brasileiro rumo à construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Assim, fomentar a produção artística de nosso povo, expondo nossa riqueza cultural, é uma das facetas dos projetos sociais do Governo Anthony Garotinho.

Tito Ryff Secretário de Estado de Planejamento, Desenvolvimento Econômico e Turismo


Agradecimentos Deputado Manuel Rosa Neca Presidente da Comissão de Educação e Cultura da ALERJ Padre Ady Mytial Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Rosa dos Ventos. Diocese de Nova Iguaçu Padre José Fernandes de Sá Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Queimados. Diocese de Nova Iguaçu Cônego Sérgio Antonio Bernardi Seminário Diocesano Paulo VI. Diocese de Nova Iguaçu Irmã Anita Gonçalves Vieira Casa de Oração Frei Jordão Mai. Diocese de Nova Iguaçu Monsenhor Ildeu Ferreira Malta Paróquia de Nossa Senhora D’Ajuda de Guapimirim. Diocese de Petrópolis Padre Gilmar de Castro Paróquia de Nossa Senhora da Guia de Pacobaíba. Diocese de Petrópolis Padre Pedro Paulo de Carvalho Rosa Paróquia de São Nicolau de Suruí. Diocese de Petrópolis Padre Ivanildo Ribeiro de Moura Paróquia de Santo Aleixo e Nossa Senhora da Conceição. Diocese de Petrópolis Padre Milton Antonio Mecabô Paróquia de Nossa Senhora da Piedade de Inhomirim. Diocese de Petrópolis Padre Ernande Nascimento Paróquia da Imaculada Conceição de Inhomirim, Raiz da Serra. Diocese de Petrópolis Paróquia de Nossa Senhora das Graças de Xerém Diocese de Duque de Caxias Paróquia de Nossa Senhora do Pilar Diocese de Duque de Caxias Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro Arquivo da Cúria Diocesana de Nova Iguaçu Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC) Dr. José Luiz Teixeira Dr. Rogério Selgueiras Teixeira Mário Larrubia Kátia Vidal Nelson Freitas Paulo César Fidéles da Silva


Sumário

13 Devoção e esquecimento Dalva Lazaroni

21 Presença do barroco na Baixada Fluminense Marcus Monteiro

33 As imagens

84 Glossário

86 Créditos


Santana Mestra

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Devoção e esquecimento Dalva Lazaroni Presidente da Fundação Casa França-Brasil

Sobre o tempo, sobre a taipa, a chuva escorre. As paredes que viram morrer os homens, que viram fugir o ouro, que viram finar-se o reino, que viram, reviram, viram, já não vêem. Também morrem. A história esquecida da Vila da Estrela Carlos Drummond de Andrade

A Baixada Fluminense já nasce contando sua história de exploração e submissão às várias formas de violência quando registra em seus domínios o primeiro seqüestro ocorrido no Brasil. Américo Vespúcio, em 1503 ou 1504, teria realizado uma viagem de exploração às costas brasileiras, como noticiou em uma das discutidas cartas sobre sua expedição. E é por intermédio do relatório do marquês do Lavradio ao vice-rei Luiz de Vasconcelos e Souza que tomamos conhecimento da atuação do navegador em terra da Baixada Fluminense. Convém mencionar, antes de se passar adiante, que na sua passagem em 1504, em Cabo Frio, Américo Vespúcio realizou (28 de junho) a primeira estada que se menciona na nossa história, indo até o “rio São João de Meriti, 40 léguas no interior”, e que no seu retorno para Portugal, na célebre nau Bretoa, levou “5.000 toros de pau-brasil, 22 tuins, 16 sagüis, 16 gatos, 15 papagaios, 3 macacos, tudo avaliado em 24$220 e 40 peças de escravos, na maioria mulheres, avaliados ao preço médio de 4$000”. (Grifo nosso). Capistrano de Abreu também faz referências a estes fatos. Não afirmamos que os “5.000 toros de pau-brasil” tenham sido retirados das terras banhadas pelo rio Meriti, mas os índios, com certeza, foram seqüestrados da tribo jacutinga, que habitava as terras hoje pertencentes à Baixada Fluminense. Este seqüestro, por si só, justifica o apoio que os índios da região deram aos franceses durante a invasão ao Rio de Janeiro. Mas a Baixada Fluminense é pura devoção. Tanto que seu patrimônio histórico, mais precisamente do recôncavo da baía de Guanabara, no Estado do Rio de Janeiro, é dos mais valiosos do País, embora menos famoso que os demais. E é este patrimônio que atesta a importância da região para o desenvolvimento do Brasil Colônia.

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Várias obras, algumas delas tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), merecem atenção, tanto pelos seus valores arquitetônicos, históricos, artísticos, quanto pelo literal “tombamento” a que estão submetidas. Falar destes bens causa um misto de orgulho e tristeza, somado a muita humilhação e vergonha. Trinta anos depois de descoberto o Brasil, nem o direito sobre as terras nem o sistema de simples guarda-costas volantes eram suficientes para afugentar os franceses, que chegaram a se estabelecer na baía de Guanabara, projetando a criação da denominada França Antártica. O que fazer então para defender a propriedade descoberta? A solução encontrada foi a doação das terras em sesmarias. E foi a Baixada Fluminense, localizada na zona fisiográfica da baía de Guanabara, uma das regiões mais disputadas no período de conquista e do povoamento da província do Rio de Janeiro, a partir de seus rios, dentre outros, o Meriti, o Iguaçu e o Pilar, altamente navegáveis. No ano de 1565, a 5 de setembro, Estácio de Sá doou uma sesmaria a Cristóvão Monteiro, o primeiro ouvidor geral do Rio de Janeiro, às margens do rio Iguaçu. Mais tarde, a viúva de Cristóvão Monteiro doou essas terras aos beneditinos. Posteriormente, aqueles monges foram comprando outras propriedades na região, aumentando seus domínios. Assim, dos anos 1565 a 1591, o Mosteiro de São Bento vai adquirindo terras, às margens do rio Iguaçu, constituindo desta maneira a maior e uma das mais antigas fazendas do Brasil, implantada em terras hoje pertencentes ao município de Duque de Caxias: a Fazenda Iguaçu.. Por volta de 1613, ali foi instalado um moderno engenho, onde ainda podemos ver a sede da fazenda com seu casarão assobradado. Uma das alas, a que fica colada à capela dedicada à Nossa Senhora do Rosário, “conserva a severidade das frontarias conventuais e a outra ala apresenta avarandado corrido, com elegantes colunas de

Capela de Nossa Senhora do Rosário da Fazenda Beneditina do Iguaçu, Duque de Caxias, RJ

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alvenaria no sobrado e assente sobre galeria de arcadas no térreo”. Diga-se de passagem, a capela dedicada à Nossa Senhora do Rosário, cuja construção é primitiva, tendo sofrido poucas alterações, erigida provavelmente entre os anos de 1645 e 1648, acaba de desabar. Este complexo arquitetônico, situado no município de Duque de Caxias, na Avenida Presidente Kennedy, quilômetro nove, por Decreto-Lei nº 15.036, de 4 de outubro de 1921, foi desapropriado pelo Governo Federal e tombado mais tarde pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Mas que vive hoje seu mais doloroso momento. É melancólico o cenário. A visão do reboco caído, do teto desabado, de buracos e fendas enormes nas paredes, é a constatação do desdém para com a memória nacional. O assoalho do balcão do interior da capela, todo de pinho-de-riga, desabou; a madeira do balaústre, que compõe este mesmo balcão, não suportou os cupins. Cenas de um insensível Brasil desmemoriado. No entanto, surpreendente é “descobrirmos” que as imagens barrocas, algumas mutiladas pelos cupins, pelas traças, resistem bravamente. Imagens esculpidas em madeira, em terracota, policromadas, com douração a ouro, datadas dos séculos XVII, XVIII e XIX, relíquias que milagrosamente foram salvas e continuam dentro dos domínios da Baixada Fluminense. A igreja Nossa Senhora do Pilar do Iguaçu, outro bem tombado pelo IPHAN, situada a alguns quilômetros da Fazenda do Iguaçu, faz parte do ciclo do ouro. No século XVI, os párocos foram advertidos que deveriam reedificar as igrejas, por “perceberem avultadas rendas, provenientes das suas administrações e de negócios dos mineiros, que no porto do rio Pilar paravam no giro das Minas Gerais”. Assim foi feita e construída a igreja dedicada à Nossa Senhora do Pilar, às margens do rio do mesmo nome. Depois de inaugurado, o templo recebeu o título de paróquia, por alvará Igreja de Nossa Senhora do Pilar, Duque de Caxias, RJ

de 18 de janeiro de1696. O templo de Nossa Senhora do Pilar pode ser considerado um exemplar de notável mérito arquitetônico, possuindo cinco altares em talha, com dosséis de coroamento e grande número de figuras escultóricas de vulto. A madeira trabalhada, filetada a ouro e com detalhes de pintura da época, forma os nichos dedicados à Santana, à Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora da Conceição, São Miguel Arcanjo, e o altar-mor, erigido à padroeira Senhora do Pilar do Iguaçu.

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No entanto, as marcas do tempo e de mãos criminosas são visíveis. Os cupins aos poucos vão consumindo a madeira artisticamente trabalhada e os ladrões continuam roubando o pouco que ainda resta daqueles altares. As belíssimas imagens barrocas, que antes estavam nos nichos exclusivamente preparados para elas, não existem mais ali. Foram heroicamente salvas por abnegados cristãos. Em 28 de agosto de 1928, foi inaugurada a Estrada Rio-Petrópolis, atual Avenida Presidente Kennedy, que passa aproximadamente a dez metros da porta de entrada da igreja do Pilar. Nesta importante rodovia trafegam hoje, diariamente, centenas de veículos pesados que estão abalando a estrutura da igreja. A Fundação Roberto Marinho, o IPHAN e a Fundação Pró-Memória patrocinaram, na década de oitenta, a restauração do prédio da igreja do Pilar, sem restaurar os cinco altares, que continuam sendo descaracterizados. De que vale fazer o formal tombamento de uma obra, considerada de valor histórico ou artístico, entregá-la à sua própria sorte e assistir à queda lenta de parede por parede? Cruzam-se os braços e a Fazenda do Iguaçu e a igreja de Nossa Senhora do Pilar, dois dos últimos complexos coloniais da Baixada Fluminense formalmente tombados, aos poucos estão desaparecendo, comprometendo a história de um povo. A Constituição Federal vigente determina

Capela de Nossa Senhora de Guadalupe, século XVIII, Nova Iguaçu, RJ. Está sendo restaurada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro

que as obras, monumentos e documentos históricos e de valor artístico, bem como os monumentos naturais, as paisagens e os locais de particular beleza, fiquem sob a proteção do Poder Público. O Código Penal Brasileiro, em seu art. 165, do dano contra o patrimônio nacional, prevê a detenção de seis meses a dois anos e multa para quem destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico ou histórico. A lei cobre com a sua tutela coisas que interessam a todos e que integram a vida da Nação, como indícios de sua origem, civilização e cultura. A lei procura proteger as tradições, as artes ou a história de seu povo, por isso ela comina pena mais severa para estas do que para o dano comum. O Decreto-Lei nº 25, de 30/11/37, organizou a proteção do patrimônio histórico nacional, fazendo assim o espólio dos bens materiais móveis e imóveis produzidos por nossos antepassados que juntos representam a identidade da Nação brasileira. A subsistência deles é que comprova, melhor do que qualquer outra coisa, o nosso direito de propriedade sobre o território que habitamos. O Decreto-Lei nº 25, veda, taxativamente, que esses bens

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sejam demolidos, destruídos, ou mutilados, ou mesmo reparados, pintados ou restaurados, sem licença do órgão competente, sob pena de multa. Cumpre acentuar que também a omissão é crime, punido pelo Código Penal. E a quem deve a lei punir? Neste texto as referências feitas são apenas dos bens oficialmente tombados. E o patrimônio não tombado pelo IPHAN, mas de igual valor? A Baixada Fluminense, a exemplo do que ocorreu com a prédio da Fazenda São Bernardino, Igreja de Nossa Senhora da Piedade de Magé, Magé, RJ

no município de Nova Iguaçu, vê seu patrimônio arquitetônico depredado a cada dia que passa, e com ele parte da memória brasileira. Atearam fogo na casagrande da Fazenda São Bernardino, característica das fazendas de café, de gosto apurado, enfeitada com elementos arquitetônicos e decorativos, com objetos requintados, salões nobres, de baile, de música, com tetos estucados e de pinturas murais. A igreja de Nossa Senhora da Estrela dos Mares, às margens do rio Estrela, no fundo da baía de Guanabara, no município de Magé, imortalizada por Rugendas, está em ruínas. O mesmo acontece com a igreja de Inhomirim, onde foi batizado o Patrono do Exército Brasileiro, o duque de Caxias; com a mais antiga estrada de ferro do Brasil, inaugurada por Dom Pedro II, realizada pelo barão de Mauá, lá na Estação de Guia de Pacobaíba; sem falar de Marapicu, Iguaçu e tantas outras.

Ruínas da igreja de Nossa Senhora da Estrela dos Mares, Magé, Magé, RJ

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Quem vai pagar por tudo isto? Por outro lado, quem disse que os santos não fazem milagres? As imagens barrocas da Senhora dos Mares, da Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu, de Santo Antonio do Jacutinga, de São João Batista de Trairaponga, de Nossa Senhora da Piedade de Inhomirim, de Nossa Senhora de Marapicu, de Nossa Senhora da Guia de Pacobaíba, de São Nicolau de Suruí, de Santo Aleixo, de Santa Rita da Posse, e outras tantas, ainda existem. Deus! O barroco fluminense está aqui para quem quiser ver, graças a pessoas como os padres José Montezano e Paulo de Oliveira Reis, e a abnegados como o Antonio Menezes e fiéis das paróquias citadas. E é um presente participar do processo que viabilizou a exposição Devoção e esquecimento – Presença do barroco na Baixada Fluminense. É bom demais contribuir para a recuperação deste referencial, principalmente para mim que sou produto desta sacrificada região. Depois, assinar, com meu amigo de tantos anos Marcus Monteiro, colecionador incorrigível, este resgate da nossa história comum, é muito mais do que sonhei. E como sonhei!

Igreja de Santo Antonio de Jacutinga, Nova Iguaçu, RJ

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Por isso é impossível calar. Impossível é ignorar que este patrimônio corre sérios riscos de se perder para sempre, levando consigo a memória de um povo. O silêncio pode significar o pior. E se assim o fizermos, estaremos procedendo covarde e mesquinhamente para com a história das gentes brasileiras, tornando-nos indignos de nossa cidadania, na qual não basta ser brasileiro. O que importa é o exercício do direito da brasilidade.

Capela de São Matheus, construída em 1637, Nilópolis, RJ

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Altar lateral da igreja Nossa Senhora do Pilar, séculos XVII e XVIII. Diocese de Duque de Caxias, RJ

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Presença do barroco na Baixada Fluminense Marcus Monteiro Curador

Quando iniciamos a elaboração do projeto Catálogo de Arte Sacra na Baixada

Fluminense, não esperávamos fazer uma exposição deste acervo. A idéia era registrar, mesmo que precariamente, imagens que porventura ainda se encontrassem na região, que desde o século XVI contribui de forma significativa para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil. No momento, ocupando o cargo de Superintendente de Cultura na Secretaria de Estado de Cultura com a atribuição de desenvolver e implantar o Programa de Redenção Cultural relativo à Baixada Fluminense, e contando com o apoio irrestrito e contagiante da historiadora e atual presidente da Fundação Casa França-Brasil, Dalva Lazaroni, apresentei o Projeto à secretária de Estado de Cultura, Helena Severo. Com extrema sensibilidade, ela anteviu a importância, não só de catalogar, mas também de expor e iniciar o processo de restauração desse acervo. É importante destacar que o Governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria de Estado de Cultura, está restaurando a capela de Nossa Senhora de Guadalupe, do século XVIII, situada em Marapicu, Nova Iguaçu, numa demonstração do merecido destaque que o patrimônio histórico da Baixada Fluminense vem recebendo da gestão do governador Anthony Garotinho e de Helena Severo. É a primeira intervenção do governo estadual, em todos os tempos, no sentido de restaurar e preservar algo importante na formação e ocupação dessa região. Depois de encontros com os bispos das dioceses de Petrópolis, Dom José Carlos de Lima Vaz, de Nova Iguaçu, Dom Werner Siebenbrock, e de Duque de Caxias, Dom Mauro Morelli – que autorizaram a retirada das imagens e deram todo o apoio necessário para que pudéssemos valorizar, proteger e tornar público esse acervo pouquíssimo conhecido –, começamos a trabalhar. Com o advento do Concílio Vaticano II, em 1962, a Igreja Católica resolveu concentrar todo o seu trabalho de evangelização na figura de Nosso Senhor Jesus Cristo, recomendando que as imagens dos outros santos, novas ou antigas, fossem retiradas dos seus altares. Assim, contribuiu, mesmo que involuntariamente, para o desaparecimento de parte desse precioso acervo. Para a maioria terminava assim o tempo da devoção, e ao esquecimento elas foram relegadas.

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O ciclo histórico do barroco nas artes abrangeu os séculos XVII e XVIII. No entanto, o termo barroco já aparecia em documentos do século XV para designar as pérolas imperfeitas, defeituosas e assimétricas. É, portanto, lícito concluir que o barroquismo, como conceito de expressão formal e estética, é bem mais antigo e independe de época. Assim, com peças dos séculos XVII ao XIX, a presente exposição mostra a Presença do barroco na Baixada Fluminense,, não tendo por objetivo mostrar apenas a estética de gosto fácil, do esvoaçante, ou do ouro em profusão, apesar de estarem contidos também, mas sim contar um pouco da história do Rio de Janeiro por intermédio de uma das artes maiores: a escultura. Esculturas das imagens religiosas da Baixada Fluminense. As imagens foram expostas da maneira como foram encontradas, algumas mutiladas ou repintadas. Sem restauro ou maquiagem, refletem o estado lastimável do patrimônio histórico e artístico dessa região que, silenciosamente, espera por atenção e cuidados. Pretendemos também com este registro expor as imagens contra um contexto histórico capaz de revelar os hábitos e costumes da população da região desde os primeiros dias da colonização. Apesar da presença de visitantes ter se dado de forma intermitente – alguns demoravam-se mais, outros menos –, a ocupação das terras do recôncavo da baía de Guanabara (que a partir do início do século XX tomou o nome de Baixada Fluminense), começa efetivamente com a doação de sesmarias, em setembro de 1565. Pelos rios Meriti, Sarapuí, Iguaçu, Inhomirim, Suruí, Iriri, Magé e Guapimirim chegaram os primeiros colonizadores, fincando raízes às suas margens e próximo ao litoral. Outros, retardatários, embrenharam-se pelo sertão. Com as casas de pau-a-pique, ou taipa de pilão, chão batido e cobertura de palha, surgiam os engenhos e as toscas capelinhas, nas quais os rudes e embrutecidos desbravadores levavam as preces aos santos de sua devoção. Também se aproveitavam delas, algum tempo depois, para fugir às desconfianças do Santo Ofício. Dessas capelinhas, surgiram as paróquias, normalmente mantendo o mesmo padroeiro ou padroeira, em terras doadas pelos proprietários das fazendas onde se encontravam. Como estas igrejas eram primitivas, construídas também sem grandes apuros técnicos, de forma bastante precária, arruinavam-se pouco tempo depois, sem que nada nos chegasse desses primórdios do recôncavo. Na maioria dos casos, sequer localizamos o local exato de suas fundações, quer pela vulnerabilidade da matéria com que foram construídas, quer pela ignorância daqueles que deviam zelar por esse precioso patrimônio. Como exemplo, citamos as primitivas capelas de Nossa Senhora das Neves, fundada em 1612 por Domingos Nunes Sardinha e sua mulher Maria da Cunha, próxima ao Pilar; de Nossa Senhora da Piedade, no Monte da Piedade, em Magé, fundada pelo

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sargento-mor João de Antas; de São Francisco, fundada em 1616 por Francisco Dias Machado e sua mulher Isabel Esteves, no Suruí; de Nossa Senhora da Conceição de Sarapuí; de Nossa Senhora do Bonsucesso, fundada por Manoel de Marins, em Maxambomba; de São Nicolau, construída por Nicolau Baldim, em 1628, no Suruí. Outras, como a de São Matheus, construída em 1637, no engenho que deu origem à cidade de Nilópolis, e a de São João Batista de Trairaponga, atual igreja de Santa Terezinha do Parque Lafayete, em Duque de Caxias, ainda desafiam o tempo. Desse período primitivo, apesar dos imponderáveis do tempo, chegaramnos imagens que deram origem à devoção de algumas freguesias da Baixada. A imagem de Nossa Senhora da Piedade da antiga capela do Monte da Piedade, em Magé, esculpida em barro por Sebastião Toscano no início do século XVII, representa bem a finura do trabalho que alcançaram os mestres santeiros da região. São também de barro as primitivas e ainda existentes imagens de Nossa Senhora da Piedade de Iguaçu; do Menino Jesus da igreja de Nossa Senhora da Piedade de Magé; de Nossa Senhora do Carmo de Magé; de Nossa Senhora da Piedade do Inhomirim, e a de São Bento, que foi da capela de Nossa Senhora do Rosário da Fazenda de São Bento de Iguaçu, hoje no Mosteiro São Bento, 1645, barro cozido, autoria de frei Agostinho de Jesus

de São Bento do Rio de Janeiro, todas do século XVII. A imagem de barro do padroeiro da igreja de Santo Aleixo, do século XVII, que nos remete de pronto às imagens coimbrãs do século XV, e a de Nossa Senhora da Conceição, encontrada na Matriz de Nossa Senhora da Piedade de Magé, assinada por Palacoli e datada de 1571, são impressionantes. Esta última tem o símbolo da Companhia de Jesus gravado em baixo-relevo sob os pés e características renascentistas marcantes. A primeira capela dedicada à Nossa Senhora de Copacabana em terras brasileiras também situava-se na Baixada, na localidade que viria a se tornar a freguesia de São Nicolau de Suruí. Esta imagem da padroeira é a mesma que teria ficado por algum tempo em um altar lateral na capela de Nossa Senhora da Misericórdia, fundada em 1585, contígua à Santa Casa na cidade do Rio de Janeiro.

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Em 1647, a capela de Nossa Senhora de Copacabana, em Suruí, já era paróquia, mas ficou em ruínas antes do século XVIII e teve a imagem da padroeira transferida para a ermida edificada no rochedo da praia de Sacopenapan, atual Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. A partir da segunda metade do século XVII começam a surgir na Baixada Fluminense as construções de pedra e cal, que utilizavam o processo ciclópico, ou seja, argamassa de cal de marisco e óleo de baleia, piso de tijoleira ou lajota, e cobertura de telhas canal, produzidas com o excelente barro local. É desse período a atual capela de Nossa Senhora do Rosário da Fazenda São Bento de Iguaçu. Segundo o Santuário Mariano, de frei Agostinho de Santa Maria, impresso em Lisboa no ano de 1723, as imagens de Nossa Senhora, nas suas várias invocações existentes no Recôncavo Nossa Senhora da Purificação, 1645, madeira

de Guanabara (Baixada Fluminense), eram as seguintes: • Nossa Senhora das Neves da Marinha do Rio de Janeiro. • Nossa Senhora da Luz do Sítio de Itaoca. • Nossa Senhora da Piedade do Monte da Piedade. • Nossa Senhora do Carmo do Sertão. • Nossa Senhora da Guia da Marinha. • Nossa Senhora de Bonsucesso de Maxambomba. • Nossa Senhora do Livramento do Bayro de Serapoy. • Nossa Senhora da Ajuda de Serapoy. • Nossa Senhora da Conceição dos Gayas. • Nossa Senhora do Rosário do rio Guaguaçu. • Nossa Senhora do Pilar do Morabahi. • Nossa Senhora da Estrela de Inhomirim. • Nossa Senhora da Piedade de Inhomirim. • Nossa Senhora do Desterro da Serra dos Órgãos. • Nossa Senhora do Loreto do Bayro de Tinguá. • Nossa Senhora da Soledade do Bayro de Tinguá. • Nossa Senhora do Rosário de Guapimirim. • Nossa Senhora da Conceição de Guapimirim. • Nossa Senhora da Ajuda de Guapimirim. • Nossa Senhora do Rosário do Bayro de Tinguá.

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Com o enriquecimento da região no século XVIII, em função do forte comércio do Rio de Janeiro com as Minas Gerais, proporcionado pela descoberta do ouro, novos templos, maiores e enriquecidos com ricos altares, passaram a ser construídos, e as pequenas imagens de barro cozido foram sendo substituídas por outras maiores, de madeira, algumas vindas da metrópole. Esse fato ocorreu nas três freguesias que tiveram como orago Nossa Senhora da Piedade. Por conseqüência, a imagem de Nossa Senhora da Piedade de Magé, com 27,5 centímetros, foi substituída por uma com 1,10 metro; a de Nossa Senhora da Piedade de Inhomirim, com 47 centímetros, por uma com 1,81 metro; e a de Nossa Senhora da Piedade de Iguaçu, com 70 centímetros, por uma com 95 centímetros. Nas antigas fotografias das imagens, hoje desaparecidas, da belíssima igreja de Nossa Senhora do Pilar de Iguaçu, verificamos que também sumiram as duas imagens da padroeira, uma do século XVII, de aproximadamente 70 centímetros, e outra bem maior, do século XVIII, com mais de 1,20 metro. Nas capelas fundadas na segunda metade do século XVIII, as imagens que escaparam à sanha devastadora da ambição e do descaso chegam até nós com a beleza com que foram produzidas e entronizadas em seus altares, como, por exemplo, as magníficas imagens de Nossa Senhora da Conceição de Marapicu e da padroeira da igreja de Santa Rita, em Xerém. Em conseqüência do desenvolvimento, a região subdividiu-se em novas freguesias, com as respectivas datas dos alvarás de criação. São elas: • São João Batista de Meriti – 26/2/1647 • Nossa Senhora da Piedade de Magé – 18/1/1696 • Nossa Senhora do Pilar – 18/1/1696 • Nossa Senhora da Piedade do Inhomirim – 12/4/1698 • São Nicolau de Suruí – 11/1/1755 • Nossa Senhora d’Ajuda de Guapimirim – 15/1/1755 • Santo Antonio de Jacutinga – 24/1/1755 • Nossa Senhora da Piedade de Iguaçu – 27/1/1755 • Nossa Senhora da Guia de Pacobaíba – 14/12/1755 • Nossa Senhora da Conceição de Marapicu – 4/2/1759 Nas suas Visitas pastorais, de 1794, monsenhor Pizarro, autor do livro Memórias histó-

ricas do Rio de Janeiro, publicado pela imprensa régia em 1820, descreveu os altares e inventariou as imagens de todas as igrejas Matrizes do recôncavo, deixando um legado de importantes informações para um levantamento abalizado do que hoje ainda se encontra na região. São elas:

• Igreja São João Batista de Meriti Consta de 5 altares, com o Maior. Neste conserva-se o Sacrário, e a Imagem do seu padroeiro. No 1º da parte do Evangelho, a imagem de N. Sra. da Conceição;

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no 2º, a de S. Antonio. No 1º da parte da epístola, a da Senhora do Rosário; no 2º, a de São Miguel. Todos eles muito mal preparados, como logo direi, e necessitados de grande reforma que me persuado tiveram já. Imagens: As imagens não foram dadas em inventário pelo R. Vigário.

• Igreja de Nossa Senhora da Piedade de Magé Tem 5 Altares com o Maior. Neste acha-se colocada a Imagem da Sra. Padroeira, e o Sacrário. Na Imagem dita por ser a mesma que esteve na 1ª Igreja Matriz, têm tanta fé os moradores deste distrito, que jamais se resolvem a pôr outra de maior vulto, quando vêem que esta por ser de altura de 2 palmos, quase não se divisa no lugar, em que está colocada. Por zêlo, e eficácia do R. Vigário, depois da nova e última reforma no material da Capela, ficou ornado este Altar com novo retábulo, que se conserva com asseio. Da parte do Evangelho estão: 1º – da Senhora do Rosário; 2º – de São Benedicto. Da parte da epístola, 1º – de S. Miguel, e nele faz as vezes de orago o Senhor dos Passos, cuja Imagem é veneranda e muito perfeita, por estar colocada em meio, em razão de sua altura. 2º – da Senhora da Conceição. Todos eles estavam asseados, porém de alguns fiz retirar as Imagens de Cristo, por imperfeitas e se todos fossem iguais em seus retábulos, ao do Altar Maior, seria esta Igreja uma das melhores, na sua formosura interna, assim como é na sua perspectiva; que eu podia ver entre as do recôncavo. Imagens: do Senhor dos Passos; de Santa Bárbara; de Santa Quitéria; de Sant’ana; de São Joakim; do Menino Deus.

• Igreja de Nossa Senhora do Pilar do Iguaçu Altares tem 5 com o Maior. Neste está colocada a Imagem de N. Sra. do Pilar, Padroeira e o Sacrário, da parte do Evangelho. 1º de N. Sra. do Rosário; 2º de N. Sra. da Conceição. Da parte da epístola, 3º de São Miguel, 4º de S. Ana; todos eles de madeira talhada e doirada, menos o de S. Miguel, que ainda se conserva por doirar e do gosto antigo, à exceção do da Conceição. Imagens: do Santo Crucifixo; do Senhor dos Passos; de São Francisco; de São João; da Senhora da Conceição; do Espírito Santo; de Santa Ana; de São Joakim; de São José; do Menino Deus.

• Igreja de Nossa Senhora da Piedade de Inhomirim Tem 7 Altares, com o Maior. Neste acha-se colocado o Sacrário, e a Imagem da Padroeira. No primeiro da parte do Evangelho está a Imagem de N. Sra. do Rosário, que tem nos seus lados as de São Benedicto, e São Vicente Ferreira, no 2º, da mesma parte da Sra. das Dores. No 1º da parte da Epístola, a de S. Miguel; e nos lados, a de São Francisco de Paula e S. Luzia. No 2º, as imagens de Jesus, Maria e José, que fazem o termo da Sra. do Desterro, e se recolheram a esta Matriz, depois que se demoliu a capelinha que havia na Fazenda intitulada da Capelinha, da qual é hoje Senhor, José Coelho Viana, onde esteve por algum tempo a pia desta Matriz, por se achar arruinada a 1ª Igreja, até que se concluísse a 2ª presente, como já disse. Neste mesmo altar, colocou-se também a Imagem do

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Esp. Santo no 3º, a Imagem de Sto. Antonio. Todos eles conservam-se sofrivelmente asseados, e com suas banquetas de madeira talhada e doirada. Em alguns faltavam as pedras d’Aras, que mandei se pusessem. À exceção dos que pertencem às Irmandades, os demais estão a cargo da Fábrica; das esmolas dos fiéis. As Imagens Santas, que nos mesmos se acham colocadas, estão perfeitas. Imagens: de Nossa Senhora da Piedade, de 8 palmos de altura; de Nossa Senhora da Piedade, de 2 palmos de altura; de Nossa Senhora; de São José; do Menino Jesus; recolhidas à esta Matriz por demolição de uma capela do termo da Senhora do Desterro; do Espírito Santo; do Menino Deus, de l l/2 palmo; de Santo Antonio, de 4 palmos; da Senhora das Dores de Roca, de 6 palmos; do Crucifixo.

• Igreja de São Nicolau do Suruí Tem 3 Altares com o Maior. Neste vê-se colocado o sacrário, e a imagem do Padroeiro; no da parte do evangelho, está a Senhora do Rosário; e no da epístola, a imagem S. Miguel; todos eles com fracos ornatos. Imagens: de São Nicolau; de Crucifixos.

• Igreja de Nossa Senhora D’Ajuda de Guapimirim Tem 5 Altares. No 1º, que é o Maior, está colocado o sacrário, e a Imagem da Senhora Padroeira; o 2º é de São Miguel; o 3º de São Benedito; ambos estes da parte do Evangelho; o 4º é de N. Sra. do Rosário; o 5º é de N. Sra. do Parto; ambos da parte da Epístola. Imagens: de Nossa Senhora D’Ajuda; do Menino Jesus; do Santo Crucifixo.

• Igreja de Santo Antonio de Jacutinga Tem 3 Altares. No 1º, que é o maior, está a imagem do Sto. Padroeiro, e o Sacrário. O seu ornato, que corre por conta da Irmandade e da Fábrica, é decente, e por zelo ativo do atual Vigário acha-se hoje pintado e doirado o seu retábulo, com gosto, tendo sido feita a sua talha em madeira, pelo R. Vigário antecessor, Manoel Pinto do Pinho. No 2º, ao lado da Epístola, vê-se a imagem da Senhora do Rosário, e de S. Luzia, e S. Benedito; e é ornado pela Irmandade do Rosário, e mais devotos. No 3º, ao lado do Evangelho, está a imagem da Sra. do Socorro, e no mesmo, a de São Miguel, cujo culto é por conta da Irmandade das Almas, que não tem Altar próprio; e a de S. Ana, a do Spirito Santo, à custa dos devotos, e a da Sra. da Piedade, que tem um Patrimônio de 800$réis incorporados no Engenho chamado Brejo, do R. Antonio Maciel da Costa. Imagens: de Santo Antonio, e outra do menino; do Santo Crucifixo de Latão.

• Igreja de Nossa Senhora da Piedade de Iguaçu Ornam o interior desta Igreja, 5 Altares, com o Maior. Neste vê-se colocado o Sacrário, e a imagem da Padroeira. Da parte do Evangelho estão: 1º – O da Senhora do Rosário; 2º – O da Senhora da Conceição. Da parte da Epístola, 3º – De São Miguel; 4º – O da Senhora do Terço, que ainda estava por concluir, e por isso não se via nele colocada a Imagem própria. À exceção do Altar

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Maior, em todos achei toalhas pouco asseadas, principalmente as inferiores, e alguns, uma só toalha. No da Sra. do Rosário, a Cruz não tinha Imagem de Cristo: no de São Miguel, estava a Imagem de Cristo muito imperfeita pela antigüidade da sua doiradura. Sobre todas estas necessidades, dei as necessárias providências. Imagens: de Nossa Senhora da Piedade; de Cristo.

• Igreja de Nossa Senhora da Guia de Pacobaíba Tem 4 Altares com o Maior. Neste está colocado o Sacrário, e a Imagem da Padroeira, e a sua nova talha, ainda se conserva com a primeira pintura branca. Da parte do Evangelho está: 1º – De N. Sra. do Rosário; 2º – De N. Sra. da Conceição, ambos em figuras de Capelas fundas, e seus retábulos, posto que são de antigo gosto. Da parte da Epístola só o de S. Miguel, com talhas de novo gosto, e bem pintado. Todos eles estavam ornados com decência e asseio. Imagens: de Nossa Senhora com o Menino Jesus, de madeira; do Espírito Santo; de São José, colocado no altar mor, outra na sacristia, de marfim; de S. Ana, do Santo Crucifixo no altar mor, outra na sacristia, de marfim; de Nossa Senhora na sacristia, de marfim.

• Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Marapicu Altares tem 3. Do 1º, que é o Maior, está colocada a Imagem da Sra. Padroeira e o Sacrário; no 2º lateral, a Senhora do Rosário; no 3º, São Miguel. Todos eles se conservam asseados, decentemente ornados, pelo zelo do atual Vigário. Imagens: De Nossa Senhora da Conceição; do Santo Crucifixo, do Espírito Santo.

Devido ao intenso comércio desenvolvido no recôncavo da baía do Rio de Janeiro, a imaginária da Baixada Fluminense sofreu todo tipo de influência, sendo muito difícil, a não ser em casos raros e isolados, estabelecer a sua origem, mas, indubitavelmente, a influência portuguesa foi uma constante no estilo daquilo que se produziu na região. Não obstante, encontramos imagens com características das escolas mineira, baiana e até mesmo pernambucana, numa região onde estabeleceram-se beneditinos e carmelitas, cujos escultores migravam de norte a sul da Colônia, conforme a necessidade que havia de confecção de imagens. Tudo isso aliado à proximidade com a cidade do Rio de Janeiro, que já despontava como a principal do Brasil, cumprindo assim o que profetizou Estácio de Sá no dia de sua fundação em 1º de março de 1565: “Para que El Rei, a Pátria, o Brasil e o mundo todo conheçam o nosso denodado valor, levantemos esta cidade que ficará por memória do nosso Heroísmo, e exemplo às vindouras gerações, para ser a rainha das províncias e o Empório das riquezas do mundo”. Obviamente, muitas imagens da Baixada Fluminense hão de ser de origem portuguesa, importação que vamos encontrar em todas as regiões litorâneas do Brasil e principalmente no Rio de Janeiro, que, ao contrário da Bahia, Minas e Pernambuco, não as produziu em larga escala com o fito de exportá-las para as outras regiões.

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Atraídos pela febre do ouro das recém-descobertas Minas Gerais e vislumbrando um mercado rico e promissor, muitos mestres escultores portugueses aportaram no Rio de Janeiro. Alguns merecem destaque: Francisco Xavier de Brito, Simão da Cunha, Pedro da Cunha e Domingos de Araújo Landim. Destaca-se também Valentim da Fonseca e Silva, conhecido como Mestre Valentim, e que morou algum tempo em Portugal. Da Fazenda Beneditina de Iguaçu, a já citada imagem de São Bento, de barro cozido, esculpida por volta de 1645, é de autoria de frei Agostinho de Jesus (1600–1661). Uma outra de madeira, também do Patriarca, com sua túnica finamente pregueada e estilosa, pode ser atribuída ao frei Domingos da Conceição (1643-1718). A da Senhora do Rosário, da mesma fazenda, é sem dúvida alguma obra de um dos grandes mestres escultores do século XVIII. Com exceção do citado Sebastião Toscano, no século XVII, não encontramos razões para acreditar que algum destes tenha se fixado no recôncavo, podendo, no entanto, terem trabalhado por encomenda para igrejas e capelas da região. Stanislaw Herstal, em sua obra Imagens religiosas do Brasil, diz: “Parece ter existido no século XVIII um Centro Artístico em Magé (Baixada Fluminense), cujas imagens de barro são caracterizadas por uma grande sobriedade e finura, tonalidade geral cinza e uso de ouro muito reduzido”. A compreensão dos aspectos mais expressivos da imaginária e da arquitetura colonial existente na Baixada Fluminense, bem como seu resgate e preservação, por certo fará com que diminua a grande dívida que temos com nosso patrimônio cultural. Por isso, é de suma importância que ele seja apresentado condignamente, com boas condições de visibilidade e visitabilidade pública. Que possam também ser utilizados como instrumentos de transformação social e de evolução do nosso povo. Depois de décadas de inércia e omissão daqueles que deveriam zelar por esse rico patrimônio, e diante do estado em que o mesmo se encontra, pode-se facilmente deduzir o quanto nos cabe realizar e investir para que esse débito com a cultura da Baixada Fluminense alcance patamares aceitáveis. E que possamos transmitir às futuras gerações páginas de um passado do qual devem se orgulhar de verdade. Mas quero crer que, muito progressivamente, se assiste a uma transformação na mentalidade dos detentores desse rico acervo. Alguns padres de paróquias da Baixada estão pesquisando, restaurando e protegendo seus acervos de forma eficaz e constante. Há de se destacar o trabalho realizado pelo pároco de Magé, padre José Luis Montezano, cujos milagres, no que se refere ao resgate do patrimônio histórico da região, a todos contagia e impressiona. Não menos importante é o empenho do chanceler da diocese de Duque de Caxias, padre Paulo de Oliveira Reis, e do diretor do arquivo de Cúria de Nova Iguaçu, Sr. Antonio Lacerda de Menezes, os quais, colocando em segundo plano afazeres profissionais, não pouparam esforços para a realização desta exposição.

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É necessário também que o Poder Público, quer municipal, estadual ou federal, participe com ações concretas e manifestações claras de apoio a essas iniciativas, investindo e prestando a assistência técnica necessária para que se possa levá-las a bom termo. Com o aprofundamento do estudo da arte da escultura barroca do Brasil e sua valorização por intermédio das exposições ocorridas nas comemorações dos 500 anos da Descoberta, a divulgação de exemplares únicos e desconhecidos por certo deslumbrará historiadores, colecionadores, artistas e amantes das artes em geral, contribuindo para descaracterizar o estigma de violência e miséria da Baixada Fluminense, obtido por meio do abandono e do descaso. O Governo do Estado do Rio de Janeiro, por intermédio da Secretaria de Estado de Cultura, Secretaria de Planejamento, Desenvolvimento Econômico e Turismo, Superintendência de Cultura da Baixada Fluminense e Fundação Casa França-Brasil, e aliado às dioceses de Petrópolis, Duque de Caxias e Nova Iguaçu, demonstra de forma inequívoca e concreta a vontade de resgatar e preservar um acervo que só agora começa a ser conhecido, e que a todos impressiona por sua magnitude e excelência artística. Pelo ineditismo do feito, a realização da exposição Devoção e esquecimento – Presença do barroco da Baixada Fluminense, com seu respectivo catálogo, é de fundamental importância para a história da arte no Brasil e o resgate do patrimônio cultural do Estado do Rio de Janeiro.

Altar-mor da igreja de Nossa Senhora do Pilar, séculos XVII e XVIII. Diocese de Duque de Caxias, RJ

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Imagens desaparecidas das igrejas da Baixada Fluminense

Nossa Senhora do Rosário, século XVII, da igreja de Nossa Senhora do Pilar. Diocese de Duque de Caxias, RJ

Nossa Senhora do Pilar, século XVIII, da igreja de Nossa Senhora do Pilar. Diocese de Duque de Caxias, RJ

Nossa Senhora da Conceição, século XVIII, da igreja de Nossa Senhora do Pilar. Diocese de Duque de Caxias, RJ

Santana Mestra, século XVIII, da igreja de Nossa Senhora do Pilar. Diocese de Duque de Caxias, RJ

Nossa Senhora da Guia, século XIX, da igreja de Nossa Senhora da Guia de Pacobaíba. Diocese de Petrópolis, RJ

São Miguel Arcanjo, século XVIII, da igreja de Nossa Senhora do Pilar. Diocese de Duque de Caxias, RJ

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Nossa Senhora da Piedade do Monte da Piedade Autor: Sebastião Toscano Século XVII Barro cozido, policromado e dourado 29,5 x 21 x 19 cm Paróquia de Nossa Senhora da Piedade de Magé. Diocese de Petrópolis, RJ



Santo Aleixo Século XVII Barro cozido e policromado 63,5 x 21,5 x 12 cm Paróquia de Santo Aleixo, Magé. Diocese de Petrópolis, RJ

Nossa Senhora da Piedade de Iguaçu Séculos XVII/XVIII Barro cozido, policromado e dourado 76,2 x 45,5 x 45,5 cm Diocese de Nova Iguaçu, RJ



Nossa Senhora da Conceição Menina Século XVII Barro cozido, policromado e dourado 34,5 x 12 x 11 cm Coleção particular, Nilópolis, RJ

Nossa Senhora da Piedade de Inhomirim Século XVII Barro cozido e policromado 55 x 33 x 28 cm Igreja de Nossa Senhora da Piedade de Inhomirim. Diocese de Petrópolis, RJ



São Francisco das Chagas do Croará Séculos XVII/XVIII Barro cozido e policromado 54 x 16,5 x 16,5 cm Igreja de São Francisco do Croará. Diocese de Petrópolis, RJ

Nossa Senhora da Conceição Século XVIII Barro cozido, policromado e dourado 19,5 x 7,5 x 7,5 cm Coleção particular, Nilópolis, RJ

Nossa Senhora da Piedade Século XVII Barro cozido e policromado 22 x 13 x 8,5 cm Coleção particular, Nilópolis, RJ

Menino Deus Século XVIII Barro cozido, policromado 41 x 18,5 x 12 cm Paróquia de Nossa Senhora da Piedade, Magé. Diocese de Petrópolis, RJ



Nossa Senhora do Carmo do Sertão Autor: Sebastião Toscano Século XVII Barro cozido e policromado 66 x 28 x 22 cm Convento Carmelita, em Iriri, Magé. Diocese de Petrópolis, RJ

São Sebastião (Índio) Século XVIII Madeira policromada 103 x 45 x 28 cm Coleção particular, Nilópolis, RJ



Nossa Senhora da Conceição Autor: Palacoli/Companhia de Jesus Século XVI (1571) Santa do pau ôco – imagem de vestir 161 x 37 x 37 cm Paróquia de Nossa Senhora da Piedade de Magé. Diocese de Petrópolis, RJ

Nossa Senhora da Purificação

Nossa Senhora da Conceição (detalhe dos pés)

Século XVIII Madeira entalhada, policromada e dourada 77,5 x 29 x 24 cm Diocese de Duque de Caxias, RJ




Nossa Senhora da Estrela dos Mares

São Bento Séculos XVII/XVIII Madeira entalhada e policromada 85,5 x 37,5 x 32 cm Capela de Nossa Senhora do Rosário da Fazenda de São Bento do Iguaçu. Diocese de Duque de Caxias, RJ

Séculos XVII/XVIII Madeira entalhada, policromada e dourada 130 x 51 x 40 cm Porto da Estrela, Magé. Diocese de Petrópolis, RJ


São Sebastião Século XVIII Madeira entalhada e policromada 64 x 27 x 17,5 cm Diocese de Nova Iguaçu, RJ

Santana Mestra Século XVIII Madeira entalhada, policromada e dourada 77 x 38 x 27 cm Diocese de Duque de Caxias, RJ




Nossa Senhora do Socorro São Joaquim Século XVII Madeira entalhada e policromada 84,2 x 32 x 31 cm Paróquia de Nossa Senhora da Piedade, Magé. Diocese de Petrópolis, RJ

Santana Século XVII Madeira entalhada e policromada 84,7 x 31 x 23 cm Paróquia de Nossa Senhora da Piedade, Magé. Diocese de Petrópolis, RJ

Século XVIII Madeira entalhada, policromada e dourada 112 x 50 x 30,5 cm Diocese de Nova Iguaçu, RJ


Santo Antonio de Lisboa Séculos XVII/XVIII Madeira entalhada e policromada 94 x 38 x 25 cm Antiga Igreja de Santa Rita da Posse, Xerém. Diocese de Duque de Caxias, RJ

Cristo da Ressurreição Século XVIII Madeira entalhada, policromada e dourada 102 x 41 x 31 cm Coleção particular, Nilópolis, RJ




São Miguel Arcanjo Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada e policromada 85,5 x 31 x 29 cm Diocese de Duque de Caxias, RJ

Nossa Senhora da Conceição de Marapicu Século XVIII Madeira entalhada, policromada e dourada 106,5 x 36 x 29 cm Diocese de Nova Iguaçu, RJ



Menino Deus Século XVIII Madeira entalhada, policromada e dourada 72 x 29 x 26 cm Diocese de Duque de Caxias, RJ

Nossa Senhora do Rosário Século XVIII Madeira entalhada e policromada 104,5 x 54 x 45 cm Capela de Nossa Senhora do Rosário, Fazenda de São Bento do Iguaçu. Diocese de Duque de Caxias, RJ


São Vicente de Paula Séculos XVIII/XIX Madeira policromada e dourada 50,5 x 16,5 x 10,5 cm Coleção particular, Nilópolis, RJ

Senhor dos Passos Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada e policromada 163 x 63 x 48 cm Paróquia de Nossa Senhora da Piedade de Magé. Diocese de Petrópolis, RJ



São Domingos de Gusmão Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada, policromada e dourada 55,2 x 21,3 x 21,4 cm Coleção particular, Nilópolis, RJ

Nossa Senhora da Ajuda de Guapimirim Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada e policromada 158 x 64 x 50 cm Paróquia de Nossa Senhora de Guapimirim. Diocese de Petrópolis, RJ



São Brás Século XVIII Madeira entalhada, policromada e dourada 66 x 29 x 28 cm Capela do Engenho de Jororó (Nova Marília), paróquia de Nossa Senhora da Piedade de Magé. Diocese de Petrópolis, RJ

Santana Mestra Século XVIII Madeira entalhada, policromada e dourada 88 x 62 x 51 cm Capela de Santana da Piedade, Magé. Diocese de Petrópolis, RJ




Nossa Senhora do Rosário Século XVIII Madeira entalhada, policromada e dourada 73 x 32 x 23,5 cm Diocese de Nova Iguaçu, RJ

Santo Antonio de Pádua

São Francisco das Chagas

Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada e policromada 57 x 23 x 18 cm Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Suruí, Magé. Diocese de Petrópolis, RJ

Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada e policromada 64,5 x 28 x 21 cm Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Suruí, Magé. Diocese de Petrópolis, RJ


Senhor Morto Século XVIII Madeira entalhada, policromada, couro 144 x 69 x 30,5 cm Paróquia de Nossa Senhora da Piedade de Magé. Diocese de Petrópolis, RJ

Cristo Crucificado Séculos XVII/XVIII Madeira entalhada e policromada 71,5 x 33 cm Coleção particular, Nilópolis, RJ

Santa Rita de Cássia da Posse Século XVIII Madeira entalhada, policromada e dourada 135 x 70 x 45 cm Igreja de Santa Rita da Posse, Xerém. Diocese de Duque de Caxias, RJ



Nossa Senhora da Conceição Século XVIII Madeira entalhada e policromada 88,3 x 35 x 26,5 cm Coleção particular, Nilópolis, RJ

Cristo Crucificado Século XVIII Madeira entalhada e policromada 95 x 41 x 11,5 cm Paróquia de Nossa Senhora da Piedade de Magé. Diocese de Petrópolis, RJ



Santa Escolástica Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada e policromada 92,2 x 30,5 x 26 cm Capela de Nossa Senhora do Rosário da fazenda de São Bento do Iguaçu. Diocese de Duque de Caxias, RJ

Sagrada Família Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada, policromada e dourada Maria: 90 x 40 x 28,5 cm Jesus: 57 x 39 x P 19 cm José: 88 x 36 x 33 cm Capela da Madre de Deus do Engenho da Posse. Diocese de Nova Iguaçu, RJ




São Joaquim Século XVIII Madeira entalhada, policromada e dourada 44,2 x 25 x 17 cm Coleção particular, Nilópolis, RJ

São João Batista Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada e policromada 98 x 52 x 25 cm Igreja Nossa Senhora da Piedade, Magé. Diocese de Petrópolis, RJ


São Francisco de Assis

Santo Antonio de Pádua

Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada e policromada 116,5 x 42 x 33 cm Diocese de Duque de Caxias, RJ

Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada e policromada 116 x 36 x 27 cm Diocese de Duque de Caxias, RJ

Nossa Senhora da Conceição de Suruí Século XVIII Madeira entalhada, policromada 91,2 x 31,5 x 22,5 cm Capela Nossa Senhora da Conceição de Suruí, Magé. Diocese de Petrópolis, RJ



Nossa Senhora da Soledade

São Benedito de Palermo

Século XVIII Madeira entalhada, policromada e dourada 48 x19,5 x 11 cm Coleção particular, Nilópolis, RJ

Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada, policromada e dourada 61,5 x 22,5 x 22 cm Diocese de Nova Iguaçu, RJ

Nossa Senhora da Conceição Século XVIII Madeira entalhada e policromada 111 x 47 x 30 cm Paróquia Nossa Senhora da Piedade, Magé. Diocese de Petrópolis, RJ



Santa Rita de Cássia Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada, policromada e dourada 76 x 36 x 21 cm Capela de Madre de Deus do Engenho da Posse. Diocese de Nova Iguaçu, RJ

Santo Antonio de Lisboa Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada e policromada 61,1 x 25 x 23 cm Capela da Madre de Deus do Engenho da Posse. Diocese de Nova Iguaçu, RJ



São Benedito das Flores

Nossa Senhora de Montesserat

Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada, policromada e dourada 47,5 x 14 x 13 cm Coleção particular, Nilópolis, RJ

Século XIX Madeira entalhada e policromada 42 x 23 x 9,5 cm Paróquia de Nossa Senhora da Piedade de Magé. Diocese de Petrópolis, RJ

Santo Antônio de Pádua Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada e policromada 111,7 x 44 x 26 cm Diocese de Nova Iguaçu, RJ




São Francisco de Assis Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada, policromada 88,5 x 32 x 31 cm Capela de Nossa Senhora da Guia de Mauá, Magé. Diocese de Petrópolis, RJ

São Sebastião Século XVIII Madeira entalhada e policromada 126 x 59 x 42,5 cm Igreja da Nossa Senhora da Conceição de Queimados. Diocese de Nova Iguaçu, RJ

São Miguel Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada e policromada 85 x 27,5 x 26,5 cm Paróquia de Nossa Senhora da Piedade, Magé. Diocese de Petrópolis, RJ


Sagrada Família Século XIX Madeira entalhada e policromada Maria: 125,5 x 40,5 x 24,5 cm Jesus: 71 x 45 x 16 cm José: 123 x 37 x 30 cm Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, Raiz da Serra, Magé. Diocese de Petrópolis, RJ

Santo Antonio de Pádua Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada e policromada 57 x 23 x 18 cm Igreja de São Nicolau de Suruí, Magé. Diocese de Petrópolis, RJ

Nossa Senhora da Conceição Séculos XVIII/XIX Madeira entalhada e policromada 78 x 31 x 25 cm Diocese de Duque de Caxias, RJ



Nomes da terra A terra era dos índios, que deram nomes aos rios, montes, mares, aves, animais... palavras sem equivalência em outra língua, por uma simples razão: é na Baixada Fluminense que encontramos seus verdadeiros significados.

Acari: do tupi acary, peixe de água doce, cascudo e roncador. Bangu: (u)bang, barreira, anteparo, ú, negro; a barreira negra, o anteparo escuro. Ba, (m)ba, o que, ngu, beber água; o que bebe ou sorve água; o sorvedouro. Capivari: capivar(a) – capibar(a), o animal, capivara, i – y, rio; o rio das capivaras. Capivar(a), a capivara, í – im, pequeno; a pequena capivara, a capivarinha. Gericinó: jeri – yari, o cacho, a penca, cin-ó – cyn-ó, liso fechado; o cacho liso fechado. Mesmo que jericinó, giricinó e jericinó. Guanabara: gua, sio, colo, nã, semelhante, parecido, bará – (m)bará – (m) pará(m); seio semelhante ao mar; o lagamar; estuário amplo. É baía tão vasta que parece mar. Guandu: guan, quan, saltar, galopar, du – (n)du, estrépito; saltam ou galopam com estrépito; trotar. Quan, passar à frente, vencer na corrida, nhaund, costumeiro, habitual; costumam passar à frente; invencíveis na corrida. Gua, sujeito indeterminado, ndú – ndu(b), que estronda ou faz ruído. Guapi: gua, vale, api – apy(r), ápice, cume, cimo, topo; o cimo do vale; a cabeceira do rio. Gua, vale, várzea, pi – py, base, fundo, parte inferior; o fundo do vale, a parte baixa da várzea, a baixada, o baixão. Gua, sujeito indeterminado, api – apy(r), roçar, picar, pungir; os que roçam ou ferram.

Iguaçu: í – y , água, rio, guaçu, grande, amplo, grosso, volumoso; a água grande; o rio considerável; caudal volumoso; o estuário amplo. Pode expressar grande, grosso, encorpada, volumosa, considerável. Iguá – yguá, enseada, angra, baía, lagamar, açu, grande, amplo; a enseada ou angra; o amplo lagamar; bacia fluvial imensa. I – y, rio, água, guaçu – uaçu, o animal, veado; rio ou aguado dos veados. Imbariê: imba – mba(e), o que é ruim, ri, rio, água; pron. rel.: o, que, o cujo; aquele rio que é ruim; rio que tem mau gosto; aquele rio de gosto diferente; rio cuja água tem mau gosto; o rio de gosto acre, azedo. Inhomirim: nhu, campo, palha, erva, mirim, pequeno, miúdo; o campinho; a palhinha; a ervazinha; o capim miúdo. Mesmo que inhumirim, nhumirim e nhomirim. Irajá: ira – eira, mel, iá – yá, apoc. de yahar, o que faz ou produz; o que faz ou produz mel; a meleira, a colméia. Ira – eira, abelha, mel, já – yá, cabaça, fruta; a cabaça das abelhas ou do mel; a fruta das abelhas. Frei Agostinho de Santa Maria traduziu: lugar onde brota mel. Jacutinga: jacu – yacu, a ave, jacu, tinga, branco; o jacu branco. Diz-se da ave da família dos Cracídeas, Pepele jacutinga, a que chamam vulgarmente peru-do-mato. Na terminologia geográfica distingue a rocha friável e argilosa bem assim a jazida de ouro entranhada no itabirito. Mesmo que iacutinga e jacuti. Japeri: japé – yapé, ter ou ser de superfície, r’i – r’y, d’água; da superfície d’água; o que flutua; à tona d’água. Japé – yapii, a ave, japi, ri – ry, rio; o rio dos japis, isto é, das aves Oriolus. Pode expressar, ainda, a parelha, o pegado, o vizinho, contíguo. Mesmo que iaperí, iadiri e japer, ou japiri.

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Magé: ma – m(b)a, que, o que, aquele, gé – yé, que diz ou prediz: o que diz; aquele que prediz; o oráculo; o profeta; o santão. Mesmo que bagé, pagé, baié, maié, paié e uaié.

Saracuruna: saracura, ave animadora dos brejos que com o seu cantar estranho e ensurdecedor é prenúncio de bom tempo, una, preta; saracura preta.

Mantiqueira: man – (a)man, chuva, tiquira – tyquyra, gotejar; destilar, gota, pingo, goteira; o pingo ou gota de chuva; a goteira do céu; chuva pingada. Manti – (a)manty, chuva, queira – querá, dormida, a dormir; a dormida ou pouso da chuva. Mesmo que amantiqueira, amantiqura, amandiqueira e mantiquira.

Sarapuí: sarapu – çarapó, a anguia, peixe-faca, í – y, rio; o rio das enguias ou do peixe-faca. Mesmo que sarapoí e sarpuí. Suruí: suru çoo(ru)rú, sururu, mexilhão, í – y, rio; o rio dos sururus ou mexilhões. Pode significar, também, a termiteira, casa de cupim. Mesmo que sururuí e soruí. Taquara: tá, haste, tronco, fuste, quara – cuara, furado, oco; a haste furada; o tronco oco. Mesmo que tacoara, tacuara e taquar, diz-se da planta da família das Graniíneas, a que chamam também taboca, bambu e juruva.

Marapicu: mará – imará – ym(b)yrá, embira, pau, cipó vergânea, apicu – apecú, longo e chato, linguarão; a embira longa e chata; o cipó comprido e achatado; o vergalhão chato, em forma de língua. Mesmo que birapicu, mirapicum, imarapecum, marapecum, marapicu e marapicurn.

Tinguá: tin – tyn, ponta, nariz, focinho, guá – guá(r), furado, esburacado; a ponta furada; o nariz ou focinho esburacado; buraco do nariz; as ventas, as fossas nasais. Tin, nariz, ponta, guaá, curvo, aquilino; o nariz aquilino; a ponta curva ou encurvada. Tín, ponta, nariz, focinho, guá – quã, em riste, comprido e levantado; a ponta em riste; o nariz ou focinho comprido e empinado.

Mauá: ma – m(b)a, o que, aquele, uá – uã, erguer-se, elevar-se; o que se ergue; aquele que se eleva. Nome nobiliárquico de Irineu Evangelista de Sousa, pioneiro da revolução mecânica-industrial em nosso país. Meriti: meru – m(b)eru, mosca, vespa, mariposa, ti – ty, ferrão; a mosca de ferrão; a vespa pungente. Meru – m(b)eru, mosca, vespa, ti – ty, rio, água corrente; o rio das moscas. Meri – mirí, pouco, escasso, ti – ty, água, líquida; água pouca; líquido escasso. Pode derivar-se também de mbyryti, expressando o que emite líquido. Meriti é o nome de uma palmeira do Brasil. Mesmo que biriti, beruti, meriti e meruti.

Trairaponga: trair(a) – trayr(a), o peixe, traíra, ponga, tinido, bater de martelo; o peixe martelante. Muito comum em nossa região. Xerém: localidade. Sede do 4º distrito. Represa. 4º distrito, Xerém. Milho pilado grosso, que não passa na peneira. No Ceará designa certa dança popular.

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Fundação Casa França-Brasil Presidente Dalva Lazaroni Diretora de Projetos Mariana Várzea Diretora de Administração e Finanças Marisa Labanca Sampaio Assessora Eloísa Reis de Castro Leite Arquiteta Ana Cristina Pires Duarte Cinema – coordenação Fátima Santiago Museografia Ana Cristina Pires Duarte Marta Gerude Produtora Fátima Santiago Assessor de Informática Sérgio Henrique de Castro Assessora de Imprensa e Marketing Mírian Barbosa Assistente de Projetos André Couto Equipe Técnica Everson Alves de Souza Francisco José N. Vieira Marcia Pereira Soares Ricardo José da Silva Equipe Administrativa Fabiana Santos Oliveira Fernando Maurício de Carvalho Seabra Jurema Vianna da Silva Luis Carlos da Ponte Luk Hendrix Matins e Silva Nízia Correa Dias Roberto José dos Santos Napoleão Sandra Helena da Silva Tânia Maria Farias de Santana

Fundação Educacional Duque de Caxias (Feuduc) Presidente Antônio Octacílio Ticom Diretora da Faculdade Iris Proubel de Menezes Ferrari Coordenador da Equipe de Monitoria Antônio Augusto Braz Professores da Equipe de Monitoria Nielson Rosa Bezerra Ubiratam Cruz

Catálogo Edição e Coordenação Regina Zappa / Zappa Comunicação e Conteúdo Fotografia das obras Pedro Oswaldo Cruz Projeto Gráfico e Diagramação Mais Programação Visual Revisão Alcides Mello Fotos de arquivo (preto e branco) INEPAC Fotolito Rainer Rio Impressão J.Sholna

Equipe de Montagem Antonio Carlos de Jesus Celso José do Nascimento Hamilton Ferreira Jorge Carlos Guimarães de Jesus Ubirajara dos Santos Correa Estagiária Flavia Azevedo de Castro

Associação dos Amigos da Casa França-Brasil Presidente João Maurício de Araujo Pinho Vice-Presidente José Luiz Miranda

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Nossa Senhora da Purificação

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