9ª Revista Mazup - Força para mudar

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não recomendada < 18 anos.

EDIÇão 9 ano 2 - mai-Jun/14 disTribuição free

ForÇA para mUdar




ROLÉ PELA EDIÇÃO

LETRA DE QUEM LEU

6 Trash Net 8 O local do esquecimento coletivo 10 Coragem e insensatez: misture e viva seu sonho 12 O Haiti é quase aqui 14 Páginas roxas 16 dante 18 Pole dance 20 Coragem para mudar 28 Editorial de moda 34 Banda Frida 36 Conversa Casual 38 desabafo

alana Bohnenberger Medina “devo concordar com a matéria da edição 8 da revista - ‘Quem tem sogra perto é mais feliz’ - por experiência própria. Nos dias de hoje, a pessoa com quem tenho mais contato é a minha sogra e sou muito feliz por isso. Para mim, ela é uma segunda mãe: se preocupa sempre com os mínimos detalhes da minha rotina e hoje conforta a ausência que tenho da minha mãe, que mora em outra cidade há três anos. Sogra é união, paciência e tolerância, importantíssima no bem-estar de qualquer família.”

Entrevistas e artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da Revista Mazup.

NOSSA CAPA

eXpediente

Ficou na dúvida, tem sugestões ou quer dar letrinha? revista@mazup.com.br

Direção geral Maico Eckert maico@mazup.com.br Supervisão geral César Krunitzky revista@mazup.com.br redação Raquel Carneiro revista@mazup.com.br

Kelly Raquel Scheid kelly@mazup.com.br Colaboração João Timotheo Esmerio Machado Taís Grün leitura experimental Adriana Mellos


nicholas Kellermann “Acompanho a revista desde a primeira edição e já estou à espera da próxima, hehehe. Ela se supera cada vez mais, com matérias interativas e que abordam assuntos superinteressantes, sempre acompanhadas de uma visão totalmente diferente do que estamos acostumados. Temas, como da última edição, me fazem ficar preso à revista! Curti muito a matéria que fala que homens sofrem mais com o fim de relacionamentos do que as mulheres. Ah, além disso, uma das minhas páginas favoritas - e que acompanho sempre - é o Horóscopo Maldito.”

Fernanda Cadore “Curti muito a oitava edição da Revista Mazup! ‘Apertando os olhinhos’ é sensacional, afinal, é fantástico saber que a partir da visão ‘embaçada’ de artistas é que saíram obras maravilhosas que são lembradas e estudadas até hoje. Melhor ainda: descobrir que as mulheres não são o sexo frágil (como muitos homens por aí pregam) nos términos de relacionamentos, por meio do ‘Testosterona fresca’. Esse ecletismo da revista me encanta! E por possuir essa diversidade nas abordagens, ‘dá gosto’ de cair na leitura!”

Fotografia Luca Lunardi e divulgação

Comercial diogo Bertussi diogo@mazup.com.br

Ilustração Jéssica Bagatini

douglas Kerber douglas@mazup.com.br

Projeto gráfico Pedro Augusto Carlessi

Impressão e CTC: Grafocem

Editoração eletrônica dobro Comunicação

Tiragem: 6 mil exemplares

Mazup é um veículo multiplataforma de comunicação jovem. Empresa integrante do Grupo RVC.

augusto Brock “Não acompanhei todas as edições, mas, desde umas das primeiras que havia conferido, é perceptível que ela está cada vez mais ‘redondinha’ - tanto na parte gráfica quanto na editorial. Ah, só daria uma dica para ser analisada: quando o texto for diagramado sobre fundo com cor, cuidar um pouco com a espessura da tipografia, para facilitar a leitura e não tornar a página pesada e cansativa. No mais, deixo meus parabéns!”

revista@mazup.com.br @tonomazup fb.com/tonomazup instagram.com/mazup 51 3726 6741


trash net

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Nus a vácuo

Mostrando a banana

Quem chora mais?

PCs e Macs também sonham

A sex shop japonesa Condomania, de Tóquio, deu um basta nas mensagens de sexo seguro e médicos “blá-blá-blá” dando dicas de saúde. Ela recorreu à arte para apoiar a campanha de uso de preservativos no Japão embalando casais nus a vácuo! Respira! Na série fotográfica, produzida por Photographer Hal, os modelos eram dispostos - lembrando o formato de corações - dentro de embalagens plásticas que logo tinham todo o ar sugado. Eles ficam naquela situação sufocante durante dez segundos, tempo em que o fotógrafo, que já fez trabalhos similares com o amor como temática, captava as imagens.

A atitude inteligente e bemhumorada do jogador Daniel Alves, lateral do Barcelona, surpreendeu o mundo durante o Campeonato Espanhol: o brasileiro, em vez de ignorar ou se exaltar, simplesmente comeu a banana atirada por torcedor racista do Villarreal. E em terra de selfie e hashtag, logo após o jogo, Neymar postou foto em que ele e o filho seguram a fruta, com a #somostodosmacacos viralizando o movimento de apoio a Alves pelas redes sociais. E aí, o que não faltou foram famosos e anônimos “mostrando a banana” em selfies. Ah, marcas (do próprio Neymar e do apresentador Luciano Huck) também entraram na vibe antirracismo e promoveram seus produtos e campanhas.

Pela Terra do Sol Nascente, não cola essa de “quem pode mais, chora menos”. Lá, no Concurso de Bebês Chorões - que está na lista de “coisas que o Ocidente não compreenderá” -, ganha o baby que for o melhor em matéria de “abrir o berreiro”. Conhecido por Naki Sumo, Nakizumo e, ainda, Sumo Konaki Festival, o certame é realizado há quatro séculos em diferentes partes do Japão e faz parte de uma tradição anual para que as crianças cresçam felizes e saudáveis. O mais bizarro são os responsáveis por segurar os bebês no ringue: lutadores de sumô! Hahaha, vai ver, foram escolhidos por também serem rechonchudinhos. Ganha a criança que chorar primeiro depois de o juiz gritar “naki, naki!”, ou “chora, chora!”.

Quem disse que máquinas não podem sonhar? A imagem acima é prova de que isto é possível e foi formada a partir de ondas captadas pelo Eletric Sheep, um programa capaz de recriar fenômenos reproduzidos por computadores no modo sleep. O software é responsável por acordar as máquinas, que passam a se comunicar entre si por meio de animações abstratas chamadas sheeps - cada computador recebe informações matemáticas algorítmicas e, após envio a um servidor, as obtém animadas. Curtiu a ideia? Saiba que o programa é administrado por milhares de pessoas e pode ser instalado aí no seu PC ou Mac! Se até quem é de ferro anda vivendo de sonho, partiu sonhar?



O local do esquecimento coletivo

Trabalho dentro de museus há quase 20 anos. Comecei a mexer com acervos históricos em 1997, quando fui chamado para organizar o Museu Itinerante da Companhia Carris de Porto Alegre.

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E foi nessa época que notei que esses espaços não eram só locais de preservação da memória muito antes pelo contrário. Museus também são lugares destinados ao esquecimento coletivo.

documentos e livros que descreviam os procedimentos clínicos usados pelos médicos da instituição nos pacientes dementes. Mais uma vez fui chamado pela chefia. E mais uma vez fui censurado.

Esse sentimento perverso sempre me perseguiu. Foi no Museu Itinerante da Companhia Carris de Porto Alegre que essa sensação se fez materializar pela primeira vez. A Carris é a empresa de ônibus mais antiga do Estado e foi ela a operadora dos bondes de Porto Alegre por quase cem anos. Certa vez, pesquisando dentro do Arquivo Público, achei centenas de documentos e processos judiciais sobre os acidentes causados pelos bondes e de suas vítimas. Imediatamente fui chamado à direção da organização, que veladamente - me proibiu de produzir qualquer texto a respeito.

Hoje, aprendi: nem tudo deve ser exposto. É por isto que não se mostram ao público leigo os acervos da escravidão ou do nazismo no Vale do Taquari. E essas coleções existem. Como também existe a vergonha histórica de algumas famílias tradicionais de Lajeado que enriqueceram vendendo negros ou porque seus membros sujaram as mãos espancando e matando populações civis inocentes durante a Segunda Guerra Mundial.

O mesmo aconteceu quando fui trabalhar na organização do Museu da Loucura, do Hospício São Pedro. Revirando seus arquivos, achei

A vida é mesmo uma merda! Era o que tinha pra ser dito. E assim foi.

Por João Timotheo Esmerio Machado Professor e pesquisador histórico Ilustração Jéssica Bagatini



Uma dose de coragem, outra de insensatez:

misture bem e viva seu sonho

Dia desses saí de casa com o objetivo de comprar massa para pastel. Fazia tempo que eu não comia pastel. Tomei o metrô rumo a um tradicional mercadinho português. Chegando lá, que surpresa agradável! Por entre corredores estreitos, descobri tesouros empilhados sobre prateleiras abarrotadas de produtos portugueses e brasileiros. Não só achei a desejada massa de pastel, mas também batata palha, goiabada, mistura para pão de queijo, requeijão, farofa temperada - ignorava que existissem tantos tipos de farofa -, guaraná, e segue a lista. Era como se eu tivesse encontrado um oásis no deserto. Você, caro(a) leitor(a), deve estar pensando: “Grande coisa. Tem tudo isso na quitanda mais próxima”. É verdade, sortudo(a). A diferença é que todos esses itens foram localizados a milhares de quilômetros da procedência. Bem, na hora de pagar pelas minhas tâmaras, digo, compras, a moça portuguesa do caixa, certa da minha nacionalidade, revelou: - Temos leite condensado brasileiro. Mal ela completou a frase, e eis que surge, diante dos meus olhos, uma latinha que estava escondida atrás do balcão. Como se não bastasse, acrescentou: - E também creme de leite. Outra latinha se materializa. Como recusar?

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do convívio com pessoas que amo. Quando penso nisso, dou-me conta de que foi preciso uma certa dose de coragem e outra de insensatez para seguir o coração e encarar uma nova vida.

Saí do minimercado com duas sacolas de produtos que saciariam momentaneamente minha gula. Senti que, finalmente, minha sobrevivência estava quase garantida no Canadá. Normalmente, minhas reservas de saudade, como gosto de chamar essas iguarias típicas da nossa culinária, fazem a viagem de Lajeado a Montreal espremidas entre roupas, calçados e livros, em duas malas pesando 32 quilos. Cada uma. Mas veja bem, eu disse que minha sobrevivência estava quase garantida. Ainda me falta tanto por aqui... Há sete anos, vivo longe da minha família, dos meus amigos de fé, das praias, do clima do Brasil. Um dia, abracei o sonho de viver no exterior, abrindo mão do meu então emprego de repórter, do meu lar e, sobretudo,

Tive que me reinventar. Imigrar é como renascer. É preciso reaprender a falar, a se vestir, a comer, a se integrar a uma sociedade diferente. Nesse processo, entre as descobertas, conquistas e alegrias, também se tropeça, cai, chora e pensa em voltar voando para casa. E quando digo casa, isso significa para o país natal. Sim, mesmo depois de tanto tempo longe do Brasil, ainda cogito percorrer o caminho de volta ao meu porto seguro e não apenas para gozar férias. O problema, agora, é que essa ideia vem acompanhada de angústia. Será que vou me readaptar? Enquanto a dúvida persiste, sigo por aqui. Por ora, sei ao menos onde posso me reabastecer com as “reservas de saudade”. Ou seriam reservas de coragem?

Taís Grün é jornalista, tradutora, revisora e sobrevivente de sete invernos no Canadá. Foto Douglas Kerber



/abusedoseuestilo

O HAiti É QUase aQUi uma Terra grande, Cheia de perspeCTivas e boas referênCias para uma nova vida. são essas as Crenças Trazidas por milhares de haiTianos ao Cruzarem a fronTeira do brasil, pelo aCre. a onda imigraTória, pós-TerremoTo em 2010, vem fasCinando um JornalisTa que ama ConTar hisTórias. Com uma CÂmera na mão, álvaro andrade embarCa nesTe mês para um proJeTo ousado: doCumenTar a avenTura desses homens por Terras brasileiras. e o ponTo de parTida da viagem é aqui do lado, em enCanTado.

A ideia de realizar um documentário começou por causa da chegada de um grupo de haitianos que vieram trabalhar no abate e corte de carne suína, em um frigorífico da cidade. Logo a mão de obra se espalhou por outros segmentos, como a construção civil. O assunto chamou a atenção de um jornalista que, desde pequeno, era apaixonado, não só pelas

R. 3 DE OUTUBRO, 249. BAIRRO LANGUIRU . TEUTÔNIA/RS (51) 3762-1292

revistas de viagem por causa dos destinos turísticos, mas também por contar sobre a cultura dos povos. Aos 29 anos, o jornalista e radialista Álvaro Andrade decidiu fazer, do assunto, tema de seu primeiro documentário. Para retratar as condições e desafios vividos por esses trabalhadores, que em sua maioria são muito mais qualificados em seus diplomas e se sujeitam a ganhar menos do que um salário mínimo, ele viaja para o Acre, a principal porta de entrada dos imigrantes. O destino inicial é Brasileia, um município que mantinha um abrigo para 800 pessoas, o qual chegou a superlotar em decorrência da cheia do Rio Madeira, com cerca de quatro mil haitianos. Embora saiam com algum dinheiro e pertences do Haiti, essas pessoas são extorquidas de todas as maneiras no meio do caminho, por coiotes no Peru e facilitadores, chegando ao Acre apenas com a roupa do corpo. Entre 2009 e 2012, o pico de crescimento de haitianos, no Brasil, chegou a 2.000%, com estimativa de dois mil só no Rio Grande do Sul, empregados em funções braçais, repelidas por brasileiros.


Álvaro e Rodrigo Lopes no acampamento de jornalistas, na base do local onde os mineiros ficaram soterrados no Chile, em 2011

Entrevistando o governador Tarso Genro para a Rádio Gaúcha

Álvaro (e) e o jornalista de zero Hora, Rodrigo Lopes (c) ao término da cobertura do resgate dos mineiros soterrados no Chile, em 2011

Fotos álvaro andrade (arquivo pessoal)

realidade NUa e crUa A questão é que o governo não está preparado para que se dê espaço, não se criminalize, que se dê emprego. A inserção do imigrante no Brasil não está sendo feita pelo Poder Público, e sim pela Igreja Católica, que, como se não bastasse, até dá aulas de português! Por isso, Álvaro já sabe que não será fácil. Poder apurar, mergulhar num universo e contar essa vivência sozinho parece loucura, um desafio sem tamanho. Mas ele acredita e vai conseguir. “Eu estou

muito mais por curtir e fazer todo esse percurso do que com o destino, que seria finalizar e pôr isso num cinema. Se eu conseguir viajar, fazer o vídeo e depois colocar um lençol lá em Encantado, para mostrar aos meus amigos e haitianos, eu já vou estar satisfeito”, confessa o jornalista. Para quem já acompanhou o resgate dos mineiros soterrados em 2011, no Chile, com tanto empenho e dedicação, fica a certeza de que vem um grande filme por aí.


HORÓSCOPO MALDITO

Ops, revelamos seu calcanhar de Aquiles

Sorry, pode ir guardando a raivinha aí, pois se o assunto é horóscopo maldito, não podíamos deixar para escanteio os pontos fracos de cada signo. Sim, descobrimos seu ladinho vulnerável e, ainda, damos “toques” para quem está querendo se livrar de você! Muuahahaha, chuva de “foras”!

Áries (21 de março a 20 de abril) Arianos são metidos a conquistadores - pelo menos é assim que se sentem, independentemente do “ser ou não ser” - e prezam “litros” por sua liberdade. Ser o dono do pedaço é uma verdadeira massagem para o ego deles, e se você está querendo acabar seu relacionamento com um nativo de Áries, é só bancar o grude ciumento da vez. Ligue perguntando como está, se dormiu bem, seus planos para o dia, e você volta para a pista em menos tempo do que imagina. Arianos não gostam de ser vigiados, nem cuidados. Touro (21 de abril a 20 de maio) Se você é daqueles “chiclezinhos” e mi-mi-mi aqui e mi-mi-mi lá, os braços de um taurino são a sua

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morada. De rude só o nome do signo mesmo, porque os nativos de Touro adoram ser cuidados e mimados. Se a ideia é mandar para longe um taurino, faça pouco caso, sendo indiferente e mão de vaca. Ele vai detestar esse seu lado mesquinho, tanto no afeto quanto nas demonstrações de consideração. Gêmeos (21 de maio a 20 de junho) Reza a lenda que geminianos são “galinhas”. Mas para recuperar uns pontinhos, eles megaaapreciam conversas com pessoas inteligentes. Então, se você cansou dos “blá-blá-blás” de algum geminiano, há um antídoto infalível para o nativo de Gêmeos dar no pé: bancar a “mulher sem cérebro” ou “homem papo furado” e, ainda, revelar um gênio controlador - é tiro e queda.


Câncer (21 de junho a 21 de julho) Eta, cancerianos parecem que sempre estão em busca de uma mãe e de um colo. São do tipo que não abrem mão de uma atençãozinha aqui e outra lá. Querendo o “até nunca mais”? Experimente ficar sem telefonar para saber como foi seu dia ou se melhorou do resfriado que pegou na semana passada. Sensíveis, em um clique, os nativos ficam rancorosos pela falta de consideração e preocupação - não demorando muito para acabar com a depressão no ombro da próximo da fila.

brincar de terapeuta funciona como um golpe fatal para qualquer relacionamento com esse signo.

Leão (22 de julho a 22 de agosto) Fazer um leonino ficar nervosinho é bem fácil, ah vá! Não olhe para a pessoa, esqueça de dizer o quanto ela está linda, não fale o quanto ela é especial e melhor que todas as outras - todas as alternativas vão deixar o nativo de Leão megairritado. A indiferença a tantas qualidades e realeza faz o “gatinho” fugir para bem longe de você.

Escorpião (23 de outubro a 21 de novembro) Este é um signo cheio de características individuais bastante singulares, em que a sensualidade marca forte presença. Então, se a ideia é dar um chega pra lá na pessoa de Escorpião, esfrie “valendo”. Sem beijo na boca, carinhos e, principalmente, sexo com direito a uma desculpa a cada vez que ela(e) quiser transar. O objetivo de se livrar do escorpiano é alcançado “rapidinho”.

Virgem (23 de agosto a 22 de setembro) Invasão de privacidade: funciona como um alerta vermelho para qualquer virginiano. Se você tentar ocupar esse espaço, é certo que o detalhista, minucioso, organizado e reservado amor de um virginiano voe para bem longe de você. São pessoas inteligentes e trabalhadoras, mas que detestam ser invadidas. Ah, e sem essa de adivinhar suas emoções, pois

Libra (23 de setembro a 22 de outubro) Discretos, refinados e altamente sociáveis, librianos transitam com facilidade em ambientes diferentes e lidam com qualquer tipo de pessoa. Enjoou de nosso amigo de Libra? Comece a ficar alterado demais em uma discussão - de preferência em algum lugar público, claro, blé. O libriano(a) certamente achará o “ó”, sairá à francesa e você terá seu problema resolvido.

Sagitário (22 de novembro a 21 de dezembro) Nossos sagitarianos, decididamente, detestam qualquer tipo de grude. “Pegação”, carinho e “melação” até podem dentro de uma relação, mas com a condição de terem momento e lugar adequados para acontecer. Quer colocar um desses a quilômetros de distância? Dê uma

de carrapato e fique “babando” sobre a maravilhosa noite anterior ou fique de “I love you” três vezes ao dia: eles vão odiar! Capricórnio (22 de dezembro a 20 de janeiro) Capricornianos costumam ser sérios, discretos e bastante sociais e refinados, mas exageram na necessidade de convencionalismo, protocolos e regras. Se estiver querendo paz de um desses, bancar o moderno e contemporâneo do pedaço pode ser o suficiente, desde o modo de se vestir a agir: mostre indiferença às predeterminações sociais. Casamento? Uma instituição falida, hahaha. Pronto, bye capricorniano. Aquário (21 de janeiro a 19 de fevereiro) Na contramão dos caros e caras de Capricórnio, este é o signo da modernidade. Portanto, para garantir repugnância de um aquariano, que ainda não sacou que você

não quer nada com ele, banque o convencional e certinho. Insista na importância do cumprimento das convenções sociais e, inclusive, no tal do casar de véu e grinalda. Vai ser demais para o coração de Aquário. Peixes (20 de fevereiro a 20 de março) Peixes, normalmente, ocupam o posto do signo mais desprotegido do zodíaco, ou é como curtem serem vistos pelo sexo oposto. Portanto, amam um “chicle” - tem gosto para tudo, né? Quanto mais grude você for, melhor. Do contrário, baby, nosso peixinho vai ficar “deprê” e, percebendo a indiferença com seu sofrimento, o nativo desse signo não vai hesitar em migrar para outras águas mais mornas.


VAI QUE É TUA, DANTE! Provavelmente, você é um dos milhares de brasileiros que mesmo sendo torcedor de futebol até pouco tempo não sabia quem era Dante Bonfim. O zagueiro do FC Bayern de Munique e dos craques da Seleção Brasileira percorreu um longo e difícil caminho até vestir a amarelinha. Por isso, vale a pena conhecer um pouco mais uma daquelas histórias de pessoas que conseguem transformar todos os “nãos” que receberam na cara em vitórias.

Mais uma história clichê do mundo futebolístico? Sim, ela seria se todos os atletas da bola conseguissem ficar milionários, gordos e, ao se aposentarem, fossem parar nas propagandas de TV. Mesmo assim, estaríamos falando de cerca de 1% dos profissionais do esporte que conseguem chegar a esse nível na carreira.

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Aos 30 anos e no seu melhor momento, Dante faz parte desse porcentual. Para chegar até o time do FC Bayern de Munique, tudo foi bastante penoso, afinal, ele não começou a jogar cedo. Com 16 anos, em 1998, passou por times pequenos na Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, até parar em Caxias do Sul, no Juventude. Certa vez, o treinador, na época, o viu jogar e disse que ele era bom. Então, Dante ligou de um orelhão: “Professor, eu quero muito fazer um teste no Caxias. O senhor me consegue a passagem de ônibus?”. O técnico disse que não teria como pagar a volta. “Mas o senhor não vai precisar, porque eu passarei e ficarei em Caxias”, respondeu, determinado. E foi o que aconteceu.

Hora de seguir Filho de um restaurador de arte e de uma comerciante, Dante não foi aceito em muitos clubes. Quando passou em um, ainda teve que comprar os próprios talheres e pratos, porque o clube não fornecia na concentração. No Juventude, a história foi diferente. A permanência, durante dois anos, o alçou em 2004 para o OSC Lille, na França, e, em seguida, foi para o Sporting du Pays de Charleroi, da Bélgica. “Fui parar na França com 20 anos e não falava nada de francês! Eu não esqueço a dificuldade que eu passei e sofri muito”, relembra. Em 2008, foi contratado pelo Borussia Möchengladbach e, em 2012, deu a entender que sairia do time, antes de o contrato acabar, o que

aconteceria naquele ano. Ele tinha o passe comprado pelo FC Bayern. Com a equipe, Dante conquistou o Campeonato Alemão, a Copa da Alemanha, Liga dos Campeões e SuperCopa da Uefa. Para arrematar, foi convocado por Felipão para a Copa das Confederações, jogo de estreia na Arena Fonte Nova, em Salvador, sua cidade natal. Ainda por cima, marcou o primeiro gol da Seleção Brasileira. “Quando eu era pequeno, falava que um dia jogaria na Seleção e dali a pouco você olha para trás e, poxa, eu consegui realmente! O importante é aproveitar cada minutinho desse momento bom para conseguir levar a carreira e depois a gente tira de letra”, conta. O cabelo black power já se tornou febre entre os torcedores do Bayern. E mesmo com tanto confete, a ideia é permanecer com aquela mesma humildade e carinho com os quais foi criado na periferia de Salvador, cheio de fé nos projetos e sonhos. “Procuro pensar o seguinte: você não tem tempo para comemorar demais uma vitória, nem tempo para chorar demais uma derrota. Você precisa estar focado, sempre trabalhando”, aconselha. Recado anotado, Dante! A gente leva pra vida.


trust me, love me, fuck me. Um cenário escuro, permeado por uma luz vermelha, abajures em formato de pernas sensuais e sofás confortáveis. Cortinas de algemas. Ao andar por entre mesas, eu olhava quadros de mulheres seminuas, lustres e o letreiro piscando IN PORN WE TRUST. Onde estaria a barra, a vara? Eu queria encontrála. No canto da sala, tendo como pano de fundo uma tv exibindo apenas rostos com reações na hora do orgasmo. Sim, lá estava o poste. Era alto, cromado, polido, brilhante. “Você tem reserva?”, me pergunta a atendente. “Sim”, digo entretida com os rostos gemendo por todos os televisores do bar. “Por aqui, por favor.” Eu a sigo. Vou parar em um sofá vermelho, bem em frente do palco. A visão seria perfeita. Acomodo-me e puxo da bolsa o cartão de consumação.


Hum, Valentina, o bar para quem gosta da coisa... “O que me indicas para beber?”, indago o garçom. Comidinhas? Pratos como chupito, rapidinhas, preliminares, na hora H... “Não, não quero comer agora. Ah, um drink! Por gentileza, eu quero um Champs-Élysées!” Participar de uma confraria de pole dance, com licor de pêssego, morango e espumante brut será gostoso. Sabor, aroma, morango pendurado na taça. Mais uns goles. Mais olhares para rostos gemendo. Pego a bebida, circulo pelo bar ansiosa pelo início do espetáculo. Passo por uma banheira cheia de paus de borracha e com um vidro por cima. Agora é uma mesa de centro bem mais bonita. O vídeo muda. Duas mulheres no escuro, lambuzadas de óleo. Mãos, beijos, línguas. Meu drinque acaba. Peço outro e me acomodo na poltrona. O burburinho e cochichos aumentam na confraria. “Ela vem vindo, ela vem vindo!” Alta, com cílios brilhantes e dentes brancos, me cumprimenta. “Quando eu chegar perto do poste, aumenta a música, tá?”, ela diz a um moço que a seguia. Inspeciona o pau e acena com a cabeça. Era Gigi Octave, uma morena com quase 1,90 metro por conta de plataformas altas que tinham luzes que piscavam em forma de raios na sola. Braços fortes, coxas, peito, bunda. Começa com jogadas

violentas de pernas que faziam seus pés passarem quase raspando na minha poltrona. De repente, ela sobe alto, de costas e desce devagar até deitar no chão. Me olha e abre um sorriso. Registro em foto preto e branco. Como faz isso tão fácil?, pensei. Enquanto ela rodopiava, entendia o porquê de ser uma “confraria”, uma reunião para promover o culto a um santo. Mordi o morango do segundo drinque. A vara, o pau, a beleza da sensualidade. Olhei a foto. Aplausos, assovios! Ela desce do tablado e passa por mim. “Você gostou do show?”, pergunta a moça que se sentava ao meu lado. “Achei lindo”, disse, tomando os últimos goles da bebida. “Ela é minha professora, sabia?”, continuou. “Interessante, porque eu também gostaria de saber fazer isso”, falei. Ela volta ao palco, balançando aqueles cabelos negros, presos em rabo de cavalo, com franja pin-up. Pede licença, sorri, atende as pessoas e se aproxima de mim. “Gigi, ela quer fazer aulas contigo”, diz a moça. Me mira e pisca os cílios postiços brilhantes. Os dentes brancos. Simpática, diz: “Adoro! Quando começamos?” “Você é fantástica!”, eu disse. Santa Gigi



coragem para mudar Fotos Luca Lunardi

Você começa a contar os minutos. Termina, sexta-feira, termina! Quer folga do trabalho, dos colegas, do chefe! O relógio, na velocidade de uma lesma, tampouco ajuda. As tarefas se arrastam, e o estresse é tanto que leva para aquela miragem de uma cerveja com os amigos, na beira da praia, sentindo a brisa gostosa, com os pés na areia. Mais do que isso: você fica realmente triste só em pensar que o fim de semana acaba e segunda-feira é dia de recomeçar a rotina. As mesmas tarefas, os mesmos colegas e o “querido” chefe o esperam. Então, você surta! Parem o mundo, eu quero descer! Hey, mas não seria o contrário? Chega logo, segundafeira, eu amo o que eu faço e adoro a minha vida? Talvez o problema não seja o trabalho chato, e sim, você, que precisa de uma palavra: mudança!

Por que é necessário que algo nos deixe insatisfeitos para que a gente diga “chega”, basta”, “não quero mais isso”? O nosso esforço e dedicação com um trabalho que só explora e já não preenche as expectativas ou, ainda, uma relação familiar que mais parece cena de guerra dos filmes do Spielberg, é apenas uma situação do cotidiano que pode nos fazer chegar ao limite, arrancar os cabelos, chorar, ter dores de cabeça, fazer terapia. Muitas pessoas, mesmo infelizes, aguentam resignadas, acomodadas. O que não é o seu caso, querido leitor. Se for, este texto vai fazê-lo levantar a bunda do sofá e pensar: “Cara, a vida é agora!”.

DESPRENDA-SE! Uma vez, um rapaz chamado Alexander Supertramp, no dia seguinte ao de sua formatura na faculdade, pegou seu carro velho, uma mochila e seguiu rumo ao Alasca. Seu sonho era conhecer aquele lugar paradisíaco e estar no meio da natureza, sem contato humano, afinal, tinha raiva do materialismo e das mentalidades da década de 1990. No meio do caminho, abandonou o automóvel por problemas mecânicos, queimou grande parte dos seus pertences e o pouco dinheiro que tinha. Decidiu chegar ao seu destino pegando

carona e arrumando trabalhos ao longo do caminho. Com pais que só pensavam em grana e carreira e que pouco sabiam sobre os desejos e anseios do filho, Alex se fortalece nessa realidade para dar rumo à própria vida. A insatisfação extrema fez com que fosse em busca daquilo que o realizaria. A história real do norte-americano Alex, ou melhor, Christopher MacCandless, virou o filme Na Natureza Selvagem, dirigido pelo ator Sean Penn. Bem, o seu desejo, querido leitor, pode não ser largar a revista agora e ir para o Alasca. Porém, você sabe que tem planos e sonhos que, se colocados em prática, o fariam uma pessoa bem mais feliz, não é? É nesse momento que a cabeça enche-se de dúvidas: será que devo arriscar? Como juntar coragem e confiança para me lançar em algo novo?

ACREDITE! A palavra confiar vem do latim con fides, ou seja, com fé. Traduzindo, ter confiança significa ter fé, uma palavra que não tem a ver só com religião. É ela o incentivo que nos faz insistir num projeto, num relacionamento, numa mudança de vida. Acreditar com todas as forças em um objetivo é meio caminho andado para concretizá-lo. Não é assim que muitas pessoas se curaram, apesar de desenganadas por médicos? Mas como vencer essa barreira chamada “medo”?

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OUSE!

Por causa desse sentimento é que frequentemente evitamos nos abrir para a novidade. Segundo o psicólogo Rafael Mohr, o medo serve como um método de proteção à espécie. “Graças a esse poderoso mecanismo, o ser humano pode evoluir e se adaptar. Porém, o problema reside quando o medo está baseado em crenças, muitas vezes erradas, sobre a nossa capacidade para lidar com uma situação nova”, ressalta. O medo serve para induzir cuidado, para deixar nossa atenção aprimorada, para que possamos reagir rapidamente a qualquer estímulo. Em vez de nos condicionarmos, ter medo deveria propiciar um efeito contrário. E para muitos, isso funciona.

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Na infância, ele vivia pendurado em árvores e conhecia como a palma da mão as trilhas do Morro Itacolomi, área rural de Gravataí, Região Metropolitana de Porto Alegre. Com 37 anos, o alpinista Cristiano Backes, o “Nativo”, é um apaixonado por adrenalina desde 1992, quando iniciou a escalada esportiva. Logo percebeu que encontraria dificuldades com a modalidade, por não ter grana para adquirir equipamentos e viajar. Houve um período em que chegou a escalar descalço. Porém, os amigos e entusiastas do esporte o incentivaram a continuar, como, por exemplo, patrocinando sua inscrição no primeiro Campeonato Brasileiro, com escaladores de todo o Brasil, o qual se realizou aqui no Estado. Não tenha dúvidas, o Nativo ficou com o primeiro lugar. Desde então, as dificuldades, não somente a de enfrentar penhascos, mas a dureza no bolso, o impulsionaram a escalar ainda mais e a competir mais vezes. Com o tempo, foi aprimorando a técnica e levando troféus, o que lhe rendeu patrocínios. Fora o talento, a determinação já o levou para a Patagônia e Cordilheira dos Andes, para desbravar o Cerro Plata e, algumas vezes, o Aconcágua. O amor por esportes radicais não se resumiu a escalar. O Nativo manda bem no high line, uma modalidade que o faz atravessar picos de montanhas, literalmente na “corda bamba”. É adepto do freeride, que nada mais é do que andar de bike em lugares bastante inclinados. Como a adrenalina já está no sangue, por que não unir diversão e trabalho? Foi assim que se tornou um alpinista profissional não só de montanhas, mas da área industrial. Recentemente, ele coordenou uma equipe de cinco alpinistas na construção dos


“A ideia é aprender a nos conhecer primeiro para depois reconhecer, entendendo por que sentimos, o que sentimos e quando sentimos” RAFAEL MOHR

estádios Mané Garrincha, em Brasília, e o Allianz Parque, estádio do Palmeiras, em São Paulo. “Durante todo esse tempo, a paixão pela escalada foi aumentando e você quer buscar aquilo que gosta de fazer. Fui atrás de qualificação a fim de trazer o esporte para a indústria, como grandes construções, chaminés, telecomunicação, e as pessoas estão começando a reconhecer a importância do alpinista em canteiro de obras”, conta. Mas e a sensação de estar cara a cara com o medo todos os dias, ao escalar montanhas e estruturas de ferro? Para o Nativo, tudo isso jamais foi problema. “O prazer naquilo que faço acaba com o medo.” O ideal é que possamos aprender a lidar com o medo a nosso favor, sem entrar em pânico ou dilemas. Ninguém gosta de sentir culpa, raiva, angústia, reações naturais diante de situações do cotidiano e que são baseadas em nossas aprendizagens. Porém, quanto mais entendemos a maneira como funcionamos, mais reconhecemos o que nos coloca em estado de defesa, de escudo, o que faz com que nos acomodemos, deixando os sonhos de lado. “A ideia é aprender a nos conhecer primeiro, para depois reconhecer, entendendo por que sentimos, o que sentimos e quando sentimos”, afirma o psicólogo Rafael Mohr.


DesAFie-se! Ninguém decidiu ir para o Alasca, ou sair pelo mundo desbravando montanhas. Mas, no mesmo bairro do Nativo, em Gravataí, dois meninos resolveram perder o medo e se jogaram em um sonho, sem sair de casa. Ao lado do irmão, o estudante de Redes de Computadores da Ulbra João Paulo Gomes Garcia criou há dois anos a Sonido Art, uma empresa de sonorização. Hoje, eles são parte de um terço dos 11 milhões de brasileiros empreendedores que decidiram abrir o próprio negócio. O pontapé inicial para tirar a empresa do papel se chamou Julia. Ter uma filha aos 25 anos fez com que João Paulo sentisse a necessidade de ganhar melhor. Além disso, no emprego antigo, embora fosse bem remunerado, ele exercia uma função completamente diferente da qual vinha estudando. “Era um local com boas

oportunidades, mas minhas tarefas e rotina também não me satisfaziam. No fim, por causa da minha filha, eu acabei me descobrindo no meu próprio negócio. Percebo que hoje, eu trabalho mais, mas me sinto bem mais feliz”, conta. Embora o início da própria empresa seja sempre difícil financeiramente, nada substitui o conforto em ter uma pausa para o almoço com a comida da mãe, poder dar uma caminhada no pátio do sítio ou brincar com os cães quando o estresse pega. Para João Luís, o irmão mais novo, ter um home office é sinônimo de liberdade. “Além do apoio dos nossos pais no negócio, podemos estar realmente junto deles, fazemos os nossos horários de trabalho e, para lidar com todo o nosso equipamento, basta eu dar alguns passos até a nossa oficina, nos fundos da casa”, explica.

PermitA-se! Aos 16 anos, o paulista José Milton Reis já fazia planos de um dia ir para outro lugar. O desejo aumentava à medida que experimentava diariamente o lado ruim do nosso país: fome, falta de moradia e de boas oportunidades e a perda da mãe. Um dia, caminhando por São Paulo, ao sentir pisarem no seu calcanhar, se vira para trás e uma arma encosta na sua nuca. O assaltante o manda continuar caminhando na “manha”. O perigo daquela situação fez com que se agarrasse na própria confiança e na vontade de mudar. Assim, Milton iniciou contatos com os amigos que estavam por terras estrangeiras. “Andei tanto na manha que acabei chegando à Alemanha”, conta rindo. Sem lenço, mas com muitos documentos, ele conheceu um engenheiro alemão que o levou para museus, ensinou-lhe a apreciar vinhos e

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o inteirou do sistema político do país. “Aquele homem sem saber de praticamente nada da minha vida no Brasil, me devolveu, com esses gestos, a dignidade de ser visto como gente.” Hoje, com 40 anos, metade deles vivida fora do país, Milton não se considera brasileiro ou alemão, mas um cidadão do mundo. Sendo negro, homossexual e estrangeiro, ele diz que nem sempre é possível viver coisas boas, mas procura dar valor à sorte e às pequenas vitórias do dia a dia, cheio de orgulho da profissão de carteiro. Após ter pernoitado sem ter para onde ir em bancos na frente do Teatro Municipal de São Paulo, ele ainda continua a dormir em bancos. “Os cochilos são, agora, à margem do Rio Sena, em parques públicos da Europa, quando estou em férias”, conta.



AbrA-se! Ter medo de arriscar é um sentimento natural que nos protege. O que não pode é querer enxergar as situações apenas através dele. Não há uma fórmula mágica, uma receita para ter confiança e coragem a fim de se atirar de olhos fechados naquele projeto tão sonhado, porém, há mecanismos que dão uma mãozinha: uma pausa na correria do “trampo” para um café, tirar uns minutos do dia para escutar aquela música preferida, colocar os pés para cima, pegar o carro e ir à praia, fazer uma caminhada. São essas pequenas atitudes de reflexão que fazem a diferença por nos conduzir a um estado de espírito menos preocupado e ansioso. O que deixa você bem? Ler um livro, ver os amigos, ficar em silêncio? Talvez pratique um esporte, tenha uma fé (no sentido religioso) ou um mantra.

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Em Sidarta, romance escrito pelo alemão Hermann Hesse, ganhador do Nobel de Literatura em 1946, ele nos coloca uma fórmula bacana: saber pensar, saber esperar e saber jejuar. Se soubermos pensar corretamente, vamos encontrar a melhor decisão. Se aprendermos a esperar, vamos ter paciência para ver o resultado de nossa decisão. E se soubermos jejuar, conheceremos tão profundamente o nosso corpo, que saberemos, inclusive, controlar a nossa ansiedade.

Irritado ao ouvir de Luke Skywalker, que ele faria uma “tentativa” de tirar a nave encalhada no pântano, o Mestre Yoda, no filme Star Wars - Guerreiros do Universo, diz: “Faça ou não faça, a tentativa não existe”. Pessoas que falam que vão apenas tentar estão querendo dizer que não vão conseguir. E você, caro leitor, não pertence a esse time? Assuma os riscos e prepare-se para eles. Transponha seus limites com fé, mas não esqueça de uma pitada de prudência. Você verá que os resultados serão surpreendentes!

Arrisque! Não existe um movimento que se faça sem que, com ele, venha o risco, porém, você tem 50% de chance de fracassar e 50% de ter sucesso ao se colocar um desafio. Você só alcançará um ou o outro vivendo. Por isso, se há um sonho, escreva, planeje, pense e faça! Theodor Roosevelt, que foi presidente dos Estados Unidos entre 1901 e 1908, tinha uma coisa muita bacana, a qual mostrava que nem todos os governantes norte-americanos foram bundões e pensavam em guerra. Uma vez disse: “Prefiro arriscar coisas grandiosas para alcançar triunfo e glória, mesmo expondo-me à derrota, do que formar fila com os pobres de espírito que não gozam, nem sofrem muito, porque vivem numa penumbra cinzenta que não conhece derrotas, nem vitórias”. Forte, né? Mas não há a menor possibilidade de conseguir vitórias se você não estiver disposto a suportar o medo, um fracasso ali, outro aqui. Há riscos, sim. E eles aparecem cada vez mais, se acumulam e não desaparecem enquanto não os enfrentamos, já notou?

DicAs Toda escolha é como um combo: junto vem uma perda. o que você perderá é muito importante? se consegue viver sem, já é! decidiu mudar agora? então, agora, é a hora! sempre acontece alguma merda, mas se tudo rolasse do jeito que planejamos, que graça teria? quer saber o que vai acontecer sempre? então fique assistindo à sessão da Tarde! o simples processo da mudança já vale, muitas vezes, mais do que a mudança. Tá ligado na frase “o importante não é o destino da viagem, mas o trajeto”? bem isso!



TENDÊNCIAS DE INVERNO

The winter is coming...

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Fotografia: Karina Jacques e Marcos Castellan (Droid Studio) Assistência de fotografia: Mauro Castellan Modelo: Jake Bisinela (Premier) Beleza: Fernanda Balbinotti Styling: Thais Faggion Assistência: Érika Silveira Conceito e produção executiva: Vanessa Fernandes Tratamento: Karina Jacques Agradecimentos: Las Gallas Brechó, Espaço Boho, Hype e Camelbird.


#lindasetensas

As mulheres vão achar o seu batom lindo, já os homens vão achar delicioso.

Com a nova Coleção Intense Brasil em Festa vai dar jogo.

Descubra-se a cada look.

Produto cosmético, não comestível. Imagens meramente ilustrativas.


É sem pressa, mas sem perder tempo. Talvez se esconda aí a fórmula para que uma banda consiga ultrapassar os anos sem perder o foco, alcançando o destino da viagem. Se funciona para todos, não se sabe, porém, para a FRIDA e OS VESPAS, o passo na estrada é esse. O MAZUP conversou com as duas bandas e foi muito bem recepcionado por Vinagre, o cão mascote do estúdio Seventies.

Conversas intermináveis ao som de whisky e blues Foto Raquel Carneiro

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Quando você ouvir que o tempo é o melhor remédio, jamais duvide disso. Até ontem, eles subiam ao palco do antigo Arca Pub, na Região Metropolitana de Porto Alegre e faziam o público cantar de cor canções que mais pareciam hinos. Ver um show da Frida era um transe, um rito. A adrenalina daquele momento era tanta que eles já não podiam esperar pelo amanhã. Queriam gravar disco, espalhar a música aos quatro ventos. No entanto, a urgência do hoje e as mudanças na formação puseram fim ao sonho. Mesmo mantendo contato, já não viam sentido em continuar juntos,


até ouvirem a voz daqueles que não queriam que o rito terminasse, os amigos. Foi assim que em 2011, Vinicius Braga (baixo), Andriel Cimino (guitarra) e Bruno Neves (bateria) se inscreveram no concurso da Rádio Oi FM, com bandas de todo o Brasil, e ficaram em primeiro lugar. Com esse gás de ânimo, estava reativada a Frida. “A vontade de voltar a tocar foi porque aprendemos o tempo da gente, como deveríamos fazer as coisas”, conta o guitarrista e vocal, Sandro Silveira. A ideia do disco havia desde 2009, quando o músico e produtor Marcelo Fruet disse que a “bolachinha” ficaria pronta no ano seguinte. “Ah, não dá! Queremos pra ontem! Daí, estamos em 2014, e com sorte, o disco sai em agosto, quatro anos depois! Esse amadurecimento, que o tempo nos deu, é o que está fazendo com que a banda consiga seguir. Crescemos pouco, mas todos os dias”, afirma Sandro. E por reduzir a velocidade é que as coisas começaram a acontecer. A Frida já está no setlist dos principais festivais do Sul do país, como A Noite do Senhor F, El Mapa de Todos, Acid Rock, Morrostock e FestiMalta.

vez, e o que é melhor, abrindo caminho para outras bandas”, observa. O público no centro do país aumenta e, por isso, vão agora investir um tempo na Terra da Garoa, coisa que nem passaria pela cabeça do Grei há alguns anos. Num acidente de trabalho, ele perdeu o dedo indicador da mão direita. Como tocar agora? “Eu sabia que não ia parar. Bateria, de repente, né? Mas não, eu vou dar um jeito de tocar guitarra, e eu consegui. Dizem que comecei a tocar mais depois disso. Me sinto melhor, à vontade e sem pressão”, ressalta.

The Southern Crown, o selo

Um whisky com gelo e blues, por favor!

Que o cenário musical gaúcho é muito mais do que só Porto Alegre, isso todo mundo sabe. Por isso, por que não reunir a galera que se encontra para tocar em festivais pelo Estado e juntar forças? A ideia é simples: uma banda faz uma festa na sua cidade e chama outras de fora para tocar junto. Sendo assim, além da Frida e Os Vespas, a Dr. Hank, Rocartê, por exemplo, são outros nomes de peso que participam desse trabalho coletivo. Os caras fazem pré-produção, mixagem, gravação, replicação, contatos no exterior. A ideia é realizar sonhos, não importando a viabilidade ou tamanho deles, trabalhar junto, levando o tempo que for.

Enquanto a Frida ensaia no aquário do Studio Seventies, Grei Silvano arruma o chapéu estilo panamá, se esparrama na cadeira e conta que estava com a mochila por fazer. Dali algumas horas, o vocalista e guitarrista de Os Vespas, ao lado de Marcelo Acosta e Luis Maulsoff, partiria para mais um show em São Paulo. “O trio está indo pela quarta

Ouça a Frida: soundcloud.com/fridanet Ouça Os Vespas: facebook.com/osvespas Conheça o Studio Seventies e Vinagre, o cão: facebook.com/StudioSeventies Saiba mais sobre o selo coletivo The Southern Crown: facebook.com/TheSouthernCrown


Evolua Empregos Grave este nome!

conversa casual À espera do 520

EM UMA PARAdA dA RUA 24 dE OUTUBRO, PASSAVA dAS 22H dE UM dIA dE INVERNO, UM CASAL JOVEM dEFINE SEU dESTINO. ELE NÃO ESTÁ PREOCUPAdO COM MINHA PRESENÇA, CONVERSA COM A MOÇA dE PEITO ABERTO:

Em breve

muitas novidades

- Porra, tu podia (sic) gostar mais um pouquinho a ponto de não sentir nojo se eu te beijar outra vez. Podia me desejar ao suportável, só para acordar contigo e poder conferir essas tuas páginas não publicadas, viver o voyer dessa tua literatura! - Te ver amassada, ansiosa e a roer as unhas e na outra mão a segurar uma xícara de café e também um cigarro, descabelada e dentro de uma camiseta minha que você tirou à força antes de foder forte e delicada. Seria uma bela cena de bom-dia para o resto da vida, que contaria a alguém dessa vontade de ser teu… - Entenda, essa vai ser agora uma poesia só tua, não posso mais escrever contigo, não sou uma boa mentirosa com o que venho sentindo. Ela caminha em direção oposta, abre e tateia o silêncio, busca no fundo da bolsa ocupação para não tocá-lo, era como assistir em câmera lenta as dores da partida.

Estamos contando as horas para gerar muitas oportunidades para você!

Ele respira fundo e dá passos distantes, contorna a parada, acende um cigarro, arruma seu capuz e, por

trás da armação de seus óculos, perante a luz dos faróis dos carros contra seu rosto, percebo que aquele gaudério chora a (in)certeza daquelas horas. Aproxima-se da parada um grupo de funcionários de uma confeitaria, presumo, pelos assuntos sobre maquinário, receitas e fornadas perdidas no fim da tarde. Aponta no semáforo próximo um ônibus da linha 520, linha que aguardava antes de presenciar tamanho prelúdio desse relacionamento que divido em intimidade breve. Ele presencia a movimentação na parada, também nota a aproximação do ônibus, arremessa seu cigarro ao chão, atravessa entre o grupo recémchegado, fica em frente a ela e tenta um último diálogo. Ela começa a desembaraçar seus fones, intimamente contorce seus ouvidos, engole as lágrimas e o mira embaçada de um amor incerto e vago. O ônibus para mediante o sinal


dado por um dos membros do grupo, posiciono-me na fila para embarque. Ele acaricia vagarosamente seus cabelos. E enquanto desvio devagar o olhar, ouço a provável de muitas despedidas: - Preciso ir, não quero chegar tarde. Chega dessa dor por hoje! - Amo você, faz faísca nova disso e me chama... Ele ainda percorre a mão sobre o braço dela enquanto a moça caminha em direção ao embarque. Nenhum passo a mais por ele foi dado. O ônibus fecha a porta dianteira. Passo a roleta e tomo posição irregular, em pé, no meio do ônibus, dentro da área de cadeirante a fim de ainda captar as expressões daquela hora tão íntima e tão coletiva solidão, sendo pertinente a todas as relações. Ali do meio do coletivo, a acompanho passar em busca de assento, percebo seus fones trocados, seu nariz vermelho e seu amor soluçando baixo.

Vital Lordelo é artista plástico e ilustrador. Nascido em Brasília, ele circula por Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte com a sua arte e #intimidadebreve.

Ilustração Vital Lordelo

flickr.com/photos/dom_vital/ facebook.com/vital.lordelo


DESABAFO Coragem e medo. Confiança e descrença. Mudar e acomodar. Jogar-se ou ficar parado, no lugar. A vida sempre nos apresenta diferentes caminhos e mil possibilidades para solucionarmos as equações do cotidiano que ela nos apresenta. Não raro, somos os únicos a criar nossos próprios chifres em cabeça de cavalo, como diz o dito popular. Achamo-nos feios, incapazes, presos, indefesos, temos medo de errar, de não ter um final feliz em nossas escolhas. Afinal, quase todo mundo, nas redes sociais tem, né? Mentira! O mundo de faz de conta virtual é bem diferente da vida dura daqui, do lado de fora, onde ninguém pode tomar as decisões por você. Logo, meu caro leitor, roubando a ideia de Chico Buarque, ou você fica vendo “a banda passar, cantando coisas de amor” ou você pula a janela, mesmo sem saber tocar um instrumento ou desafinado e vai badernar, sendo feliz com ela! Se você abrir qualquer página da revista, verá que continuamos a fazer um belo uso da mensagem subliminar, na verdade, descarada mesmo! Contamos histórias de pessoas, de carne e osso, que, em diferentes proporções, aceitaram o risco, o acaso e se jogaram com toda a coragem e força atrás de um lance chamado “sonho”. Por ele, você supera medos e incertezas, qualquer coisa! E mesmo que, lá no final,

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o resultado não tenha sido aquele desejado, esse povo todo ligou o botão do “dane-se!”. E sabe por quê? A vida nada mais é do que um simples momento. Isso significa um segundo, um minuto que vai passar quando você chegar ao final dessa linha, parceiro! O que realmente importa nessa coisa toda é o caminho que você percorreu até chegar ao que tanto queria. É no trajeto, na estrada que a mágica acontece! Você se torna uma pessoa melhor, amadurece, reflete, faz coisas que nem ao menos se julgaria capaz de um dia realizar. É no instante que nos propomos um desafio e nos lançamos ao desconhecido que começamos a ter real noção daquilo que verdadeiramente somos. Você não precisa pular de uma ponte amarrado num elástico, escalar montanhas, virar jogador de futebol, falar chinês, ir para a Índia como um monge ou viver numa tribo com índios, no Amazonas. Os cenários ajudam, mas a mudança começa bem mais perto, de dentro para fora, com os velhos hábitos e manias. Na matéria de capa, falamos de um sujeito que, assim como a gente, arrisca e aposta todas as fichas a cada edição; fez, da vida dele, uma grande aventura. Christopher McCandless tinha razão:

“A alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências e, portanto, não há maior alegria do que ter um horizonte infinitamente alterando a cada dia para ter um sol novo e diferente. Se você deseja obter mais da vida, você tem que perder sua tendência para a segurança monótona e adotar um estilo que, a princípio, parece que você é louco. Mas uma vez que você se acostuma com a vida, vai ver todo o seu significado e sua incrível beleza”. Bora ser um pouco louco, bora viver!




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