14ª Revista Mazup - Os novos loucos

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Não recomendada < 18 anos.

eDIção 14 Ano 3 - Mar-Abr/15 DISTRIBUIÇÃO FREE

os noVos Loucos






ROLÉ PELA EDIÇÃO

LETRA DE QUEM LEU

NOSSA CAPA

expediente

10 Trash Net 12 Coluna do João 14 Apocalipse laranja 16 As ruas verdes e amarelas de Lajeado 18 Quem nunca? 19 A odisseia em busca da identidade 22 Horóscopo Maldito / Pau de selfie 24 #TemCuPaEu / Bala trocada não dói 26 Nem oito, nem oitenta / A liberdade de expressão vista sobre o fundamentalismo religioso 28 Capa / De visíveis a invisíveis 36 É singular... o tal padrão de beleza 41 Barsa, cadê você? 42 Resenha / Tips da Mari

43 Considerações sobre o fim da ingenuidade 48 Troninho / Por que o inglês é a língua universal? 50 A bordo de uma Kombi, a América cabe no banco do carona 54 Coluna do Lucas 56 Conversa Casual / Crônicas parisienses: uma breve história sobre sobrancelhas 58 Desabafo

Diúlia ávila dos santos “O Mazup é a cara dos jovens. Cobrindo os eventos mais legais da região, nos trazendo informações sobre bandas internacionais e nacionais, carregada de entretenimento e gente bonita. Adorei a última edição do Horóscopo Maldito, sobre o Carnaval! Muito engraçado! Sou geminiana e, realmente, detesto que grudem em mim feito chiclete e adoro viajar no mundo da leitura!”.

Entrevistas e artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da Revista Mazup. Ficou na dúvida, tem sugestões ou quer dar letrinha? revista@mazup.com.br

Direção Maico Eckert maico@mazup.com.br

redação Bárbara Corrêa revista@mazup.com.br

supervisão geral Douglas Kerber douglas@mazup.com.br

Bárbara Scheibler Delazeri barbara@mazup.com.br

editora Kelly Raquel Scheid kelly@mazup.com.br

Ed Gomes revista@mazup.com.br João Timotheo Esmerio Machado revista@mazup.com.br

Kelly Raquel Scheid kelly@mazup.com.br Rodrigo Nascimento revista@mazup.com.br Comercial Douglas Kerber douglas@mazup.com.br Maico Eckert maico@mazup.com.br

Colaboração João Timotheo Esmerio Machado Lucas Wendt Márcio Grings Márcio Meyer Fotografia Gustavo Tomazi, Douglas Kerber e divulgação Projeto gráfico Pedro Augusto Carlessi


Jeferson Alf “A revista Mazup em si, promove um pluralismo cultural muito bacana, misturando todos os ritmos em textos de linguagem descomplicada. Fica bem claro que é uma revista para todos os públicos. Na edição anterior, me chamou atenção o texto À margem do senso comum, que trata explicitamente de cultura, das diferenças e aceitações. A cada edição me surpreendo ainda mais! Obrigado, Mazup!”.

Diagramação Dobro Comunicação Felipe Johann Leitura experimental Bárbara Delazeri Produção de capa e matéria principal Estúdio de Moda Voga e Kelly Raquel Scheid

Bianca Cristina Martinez “A revista Mazup me cativou desde sua primeira edição. Com seu diálogo atraente e compreensível, me propõe a refletir sobre cada tema tratado. A matéria À margem do senso comum é o legítimo texto de reflexão sobre nossa sociedade. Mas admito que a cada edição, em primeiro lugar, procuro o Trash Net que sempre traz os baphos que estão rolando nas redes, hahaha. Obrigada, Mazup, por fazer uma revista que é tão a minha cara!”.

Ilustração Divulgação

Impressão e CTP Grafocem

Modelos Augusto Diehl, Bruna Cornelius e Sabrina Simonetti

Tiragem 6 mil exemplares

Agradecimentos Augusto Diehl, Bruna Cornelius, Deise Mantovani - A casa das noivas e Sabrina Simonetti

(51) 3748-2459 Rua Júlio May, 217/03 Lajeado/RS Mazup é um veículo multiplataforma de comunicação jovem.

Guilherme Guterres “O que eu mais admiro na revista é o quanto ela nos surpreende a cada edição. Os assuntos são o que estão na cabeça da galera e isso é muito bacana, pois ter um meio de comunicação que nos entenda e aborde o que pensamos com verdade e naturalidade é muito raro. Eu adoro ter uma revista voltada para o público jovem e feita por ele! As matérias, muito bem produzidas, trazem conteúdos em alta e nos mantêm firmes na leitura. Por isso, a Mazup já faz parte da minha biblioteca particular”.

mazup.com.br revista@mazup.com.br tonomazup mazup tonomazup

Fabrini Zago “O que mais gosto na Revista Mazup é a diversidade dos assuntos abordados e a maneira informal de se construir as matérias. Gostei de ler a Coisificação, que fala da frieza das mentes perturbadas. Na minha visão, todo o indivíduo que faz mal ao próximo é um perturbado e se os autores das ‘pequenas maldades’ fossem julgados como criminosos, talvez não teriam a oportunidade de ir mais longe, tornandose assassinos”.




trAsH net

a letra das pessoas

para o amor, somos iguais

morte verde

cliques Hardcore

Papel e caneta: você ainda recorda deles? Talvez nem da sua letra lembre, né? Um movimento no Instagram anda recuperando isso, o #ALetraDasPessoas. A bola de neve surgiu em um post no Twitter, da ilustradora carioca Clarinha Gomes, e tem conquistado cada vez mais igers a compartilharem suas letras cursivas na rede social. E aí, como é a sua? Jogue para o mundo sua letra cursiva usando a hashtag!

O que significa uma radiografia gigante no meio de uma praça californiana misturada a gestos afetuosos? Uma baita prova de que, para o amor, não há diferenças! Primeiro os esqueletos, depois a surpresa: independente de cor, sexo, religião e saúde que se revelavam, o sentimento era igual para todas as pessoas. A ação foi da organização norteamericana Ad Council e tem vídeo no YouTube, o Diversity & Inclusion – Love Has No Labels.

Os designers Citelli e Raoul Bretzel estão querendo revolucionar o modo como as pessoas são enterradas, com o projeto Capsula Mundi – ainda não permitido pela lei italiana. Ao invés de caixões, os corpos seriam postos dentro de uma cápsula orgânica, em posição fetal, e enterrados embaixo de uma árvore. Assim, os cemitérios deixariam daquela arquitetura de sobreposição espacial e assumiriam o visual de um bosque sagrado. Uma opção sustentável à atual. Toparia?

Brincar de luzes em fotografias é massa e tem gente que curte tanto a ideia que elevou o nível da técnica. É o caso de Darren Pearson! Aumentando o tempo da exposição de suas capturas, o fotógrafo tá conquistando milhares de seguidores no Instagram com seus desenhos complexos, criados apenas a partir de uma câmera e luzes LEDs. As inspirações do cara foram fotografias de Gjon Mili, que, usando a mesma técnica, clicou Pablo Picasso, décadas atrás.

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Uma discussão profunda sobre o nada A Humanidade tem vários problemas insolúveis. Um deles é como acabar com o uso abusivo de drogas. Todos que me lêem, por favor, acordem

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É impossível banir as substâncias psicotrópicas, psicoativas e alucinógenas da sociedade. Desde a pré-história os povos se chaparam, seja para falar com deuses, por lazer químico ou para controlar os indivíduos. Uma das maluquices deste assunto polêmico é a diferença que fazemos entre drogas lícitas – como o álcool e o tabaco – e as ilícitas. Esta divisão é uma estupidez, pois ela pressupõe que existem diferenças entre as dependências químicas, deixando nas entrelinhas a ideia de que o álcool e o tabaco causam menos mal à saúde física e mental do que a maconha, a cocaína e o crack. Segundo a revista Isto É, após uma pesquisa feita pela University of South Wales, de Sydney, atualmente, para cada pessoa que morre por uso abusivo de drogas ilícitas, morrem dez por alcoolismo e quase vinte por tabagismo.

Outra questão importante para se pensar é que a repressão policial – a principal forma que o Estado combate as drogas - mata muito mais do que seu consumo. Como entender uma política pública que visa proteger o cidadão do vício e que acaba matando mais do que a própria dependência química? Como entender um Estado que faz vista grossa a bares infestados de bêbados, mesmo sabendo que o álcool é o estopim de quase toda violência doméstica? Não se pode combater um problema social demonizando ele. As drogas não estão ligadas ao mal ou a Satanás. As


substâncias psicoativas fazem parte da nossa cultura e, para serem combatidas, devem ser entendidas não só como uma epidemia química, mas também como um fenômeno psicossocial. Basta observar, por exemplo, as famílias dos dependentes químicos, que são as mais afetadas pelo problema da drogadição. Na maioria das vezes, o viciado acha que não tem problema algum, deixando a vida “freak” a hora que quiser. E a reação da família, normalmente, é culpar agentes externos – as más companhias – ao invés da escolha que seus membros fizeram pela vida de alucinação química. Pesquisas mostram que na grande maioria das famílias dos dependentes de crack, existem alcoólatras e fumantes compulsivos. Será que isto é apenas uma coincidência? Outra grande porcaria são as campanhas de combate às drogas. Sempre são peças mal feitas e completamente equivocadas. Pior ainda, é quando o Estado e as empresas de comunicação promovem grandes debates, que não levam a lugar algum. Juntam um religioso (que quer mandar todos para o inferno), um oficial da força de repressão policial (que quer mandar todo mundo para cadeia) e dois ou três professores universitários (que a droga mais pesada que consumiram na vida foi Aspirina), que sentados em torno de uma mesa redonda conseguem apenas alimentar seus enormes egos e discutir coisa nenhuma.

Na realidade, as pessoas envolvidas nestas empreitadas enfadonhas conhecem absolutamente nada sobre o que sente e pensa um dependente químico e o mundo em que ele vive. Não conhece a vida desse submundo. Nunca entrou num hotel barato, cheio de prostitutas e drogados. Passam entrincheirados dentro de seus gabinetes e escritórios, mergulhados nos seus livros, vivendo num mundo que a maioria das pessoas desconhece. Estas pessoas sabem parcialmente o efeito devastador das drogas na estrutura da família e da sociedade. E este é o grande problema. No fundo, o real motivo de se combater as drogas é porque elas anulam os indivíduos físico e mentalmente, incapacitando as pessoas para o mundo do trabalho, gerando prejuízo financeiro às empresas, instituições e, finalmente, para o Estado, que acaba tendo de gastar milhões no tratamento dos dependentes químicos. Querem saber? Esta vida é uma merda mesmo! Era o que tinha para ser dito. E assim foi.

João Timotheo Esmerio Machado é professor de História, produtor cultural, cronista, poeta e escritor de realismo fantástico. Ilustração Patrick Rigon


Apocalipse laranja Gente, os ruivos estão ameaçados de extinção e, se a Terra continuar esquentando, nem adianta gritar “ajuda, Luciano!”. Segundo reportagem divulgada pelo jornal The Independent, o gene responsável pelos cabelos “foguinho” (brinks) seria uma adaptação ao tempo nublado.

Os donos do cabelo “cor-ímã-da-atenção-dorestante-dos-mortais” e representantes de apenas cerca de 2% da população mundial estão sucumbindo. (gritos)

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Resumidamente, a característica, somada à pele pálida, se desenvolveu para potencializar a absorção de vitamina D em habitantes de regiões pouco atingidas por raios solares - como países da Escócia, Irlanda e norte da Inglaterra. No entanto, em decorrência das mudanças climáticas, para o pesquisador e diretor da Galashiels-based ScotlandsDNA, Alistair Moffat, o gene vai ser sim afetado para se adaptar melhor a um ambiente cada vez mais

quente, ou seja, nossos morangos do napolitano podem estar “derretendo” da face da Terra! Calma, ruivos! Nada irá acontecer com vocês quando terminarem de ler esta matéria - seus lindos, chamativos e mutantes alaranjados! Vale continuar com o cuidado redobrado com a proteção solar, já que vocês são mais sensíveis à luz e propensos a danos causados por sol e câncer de pele. Além disso, se essa mutação genética for mesmo comprovada, tal extinção levará umas centenas de anos para acontecer. Ufa!

Kelly Raquel Scheid / kelly@mazup.com.br Foto Moacyr Lopes Junior / Folhapress



AS RUAS VERDES E AMARELAS DE LAJEADO Sobre quando cantamos “verás que um filho teu não foge à luta”. Tá aí um movimento lindo, intenso, no Brasil todo, para provar que o brasileiro não desiste nunca, mesmo! Por uma reforma política no país, de forma pacífica, apartidária e sem bloqueios de vias, Lajeado também foi às ruas no dia 15 de março. Por ainda acreditarmos em ti, gigante, chegamos junto e registramos este momento: foram cerca de 3,5 mil cidadãos revigorando seus anseios! Mais cliques você vê em mazup.com.br. Fotos Douglas Kerber / Mazup

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A odisseia em busca da identidade A felicidade e plena realização todo mundo busca, é óbvio. Mas tem gente que, para conquistar seu espaço no mundo que é seu, precisa encarar um misto de conto de fadas com ficção científica, com direito a viver todas as maravilhas e horrores que esses gêneros de narrativa trazem

A transexualidade é algo que abre horizontes bastante originais e é um tema que precisa ser tratado com a delicadeza de um lorde inglês. Ou, neste contexto, de um lord escocês, que usa saias e tem barba na cara. Uma cerveja bem gelada, um Trident e um cigarro Gudang Garam, avulso. Tudo aliado a algumas partidas de sinuca. Uma compra que somaria 10 reais e 25 centavos foi o que fez Lucia de Almeida se deparar com uma situação que mudaria totalmente a maneira com que ela se apresentava ao mundo. Foi um baque com o peso de um punho que fechou seu olho esquerdo com um hematoma, mas abriu seu olhar para a vida. A mesma que ela vivia e sentia como se não fosse sua, mas que insistia em repetir há 23 anos. Quando nasceu, o médico a tirou do útero de sua mãe por meio de uma cesariana e decretou que ela era uma menina, baseado na racha que ela tinha no meio das pernas. E ela seguiu essa verdade imposta até tomar uma surra de consciência. Já faz três anos. Era quase duas horas da manhã, Lucia preferia sair nesse horário. Quando pouca gente estava pela rua é que a guria se sentia à vontade

para fugir da toca e se divertir jogando uma sinuca. A mania de mascar dois chicletes Trident ao mesmo tempo funcionava como recurso para tirar o gosto de tabaco indonésio e aliviava suas mandíbulas sempre cerradas pelo estresse de sua realidade escondida. “É de madrugada que todos os gatos são pardos”, lembra Lucia. E é no escurecer, também, que as gatas, se bem camufladas, passam por machos para quem fita de longe e acredita que a sexualidade não é feita só de feromônios ou identidades impostas. Após se cansar de perder duas partidas de sinuca para seus amigos meninos, ela empunhou o oitavo chiclete da noite, comprou a ceva saideira e saiu do barzinho rumo à sua casa. Lucia já estava acostumada a ser chamada de menina – e até mesmo de mulher – por mais que não se sentisse assim. O cabelo já era curto, as roupas mais largas e os pés sempre rentes ao chão. As chacotas e apontadas de indicador, feitas na maioria das vezes por brutamontes que não conhecem nada além de seus próprios mundinhos, já não lhe causavam mais estranheza. Contudo, naquela noite, tudo passou dos limites.

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Quando estava a menos de duas quadras de casa um homem parou Lucia e pediu um cigarro. “Compro avulso, cara. Não tenho aqui”, ela disse. “Então me dá um real. Compro um avulso pra mim”, disse o mal encarado. Lucia tirou, então, algumas moedas do bolso e deu para o cara, achando que a sede dele era por uma tragada. Mas não era. “Não sou assaltante, sua merda. Nem estuprador. Só não gosto de gente esquisita como você”. São essas as palavras que ela lembra ter ouvido antes do zunido que tomou conta da sua cabeça após um soco bem dado nas fuças. Caída e ainda tonta, levou uma cuspida. “Tu é mulher, porra. Vai colocar um salto e dar essa buceta. Eu sou macho, você é fêmea. Enquanto achar que é homem tu vai é apanhar mesmo”, disparou o cara. Na pia do banheiro de casa Lucia tirou a baba da intolerância da cara e limpou o sangue que corria do supercílio. De frente para o espelho, ela fez uma promessa. O baque mecânico do soco não foi maior do que o baque existencial. “Sou homem ou sou mulher?”, ela se questionou, em voz alta. A resposta veio mentalmente. “Sou os dois e não sou nenhum. Sou eu mesma. E é assim que vou viver a partir de agora”. Lucia nunca mais mascou dois chicletes de uma só vez. Suas mandíbulas não serravam mais de ansiedade e não clamavam por massagem. Lucia virou Lucio, pediu para que a chamassem assim e agora

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namora Carina. Encarar as divergências entre o seu corpo e a maneira como se sentia no mundo foi o melhor remédio para a surra cotidiana que é fugir de si mesmo vivida por todos os transexuais.

A jornada de uma pessoa em busca da identidade A odisseia transgênera começa bem antes do que se imagina. Na maioria dos casos, na tenra infância. A edição de fevereiro deste ano da revista Nova Escola trouxe o caso do pequeno Romeo Clarke, de cinco anos, que adora usar seus mais de cem vestidos de princesas para as atividades do dia a dia. Ele virou notícia em maio do ano passado, no Reino Unido, quando o projeto de contra-turno que ele frequentava, na cidade de Rugby, considerou as roupas impróprias. O menino ficou afastado até que decidisse “se vestir de acordo com seu gênero” – palavras da instituição. O caso de Clarke não é ímpar. Situações em que crianças e jovens que descumprem as regras socialmente impostas sobre ser homem ou mulher – seja de forma intencional ou por não segurá-las - fazem parte da rotina escolar. Quando o machismo toma espaço, a homofobia ou o preconceito aos transgêneros recebe panos quentes. Isso por parte dos professores e pais, na maioria das vezes. “A escola, espaço para aprendizado e que deveria ensinar também sobre as diferenças costuma ser o lugar mais opressivo para os

transgêneros”, acredita Clara Freitas, 27 anos, ativista contra a homofobia. “Muitos ainda abandonam as salas de aula por não se sentirem bem nesse espaço”, completa Beto de Jesus, secretário para América Latina e Caribe da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, pessoas Trans e Intersex (Ilga, na sigla em inglês).

Se pra maioria de nós é difícil entender a condição de ser flagrado em um mundo errado, imagina para uma criança que olha para seus brinquedos e não se identifica. Ou melhor, se identifica como um estranho. Para seguir o nosso papo, vamos para uma diferenciação básica:


A orientação sexual é definida pelo “eu” objeto de desejo. Se você é atraído por alguém do mesmo sexo, é homossexual ou bissexual. Geralmente, a pessoa que é homossexual se sente satisfeita em seu corpo. Para o transexual, o caso é mais complicado. Muitas vezes ele se sente aprisionado num corpo errado e sente a necessidade de adaptar seu corpo ao gênero de sua cabeça. Uma pessoa que se propõe a atravessar as fronteiras de gênero não faz uma transformação. Sente como se estivesse apenas se adequando ao gênero que acredita pertencer. A transformação precisa se dar em quem está perto desta pessoa, desde o antes e o depois,

expressão do gênero Feminina

Andrógina

Masculina

identidade do gênero Mulher

Genderqueer

Homem

orientação sexual Heterossexual

Bissexual

sexo biológico Mulher

Intersex

Homem

Homossexual

a família. A mãe de Lucia – que levou o tal soco, no início do texto - lembra bem das preferências da filha desde pequena. “Depois dos dois anos de idade já vi que não ia para o lado feminino. Tinha em casa uma menina descontente com o corpo que tinha e hoje tenho um rapaz feliz e bem sucedido”, afirma. Depois de se entender com o seu “eu” mesmo e a família, a pessoa que se propõe a explorar a fronteira entre os gêneros precisa enfrentar o resto do mundo. E o resto do mundo não é necessariamente amigável.

Cirurgia de mudança de gênero

habitantes. Quem fez o levantamento foi a Organização das Nações Unidas (ONU), e uma pequena filipina de nome Danica, nascida em Manila, foi escolhida inicialmente para simbolizar os desafios planetários de crescimento demográfico. É muita gente nesse planeta, NÉ? Cada uma com diferentes origens e culturas, cada indivíduo com uma história singular. Para viver em sociedade é preciso aceitar as diferenças. Mas, infelizmente, estamos longe desse ideal. Muitas minorias são vítimas de crimes de ódio, principalmente quando o assunto é a diversidade sexual.

Intolerância, até quando?

O Brasil é líder de assassinatos por discriminação contra transgêneros. Segundo relatório da ONG internacional Transgender Europe, a transfobia, violência contra transgêneros, é alarmante no país. Entre janeiro de 2008 e abril de 2013 foram registradas 486 mortes de travestis e transexuais em território nacional. A estatística coloca o país como o líder entre os assassinatos por discriminação de identidade de gênero, com quatro vezes mais mortes do que o México, segundo colocado com mais casos registrados. O relatório é baseado no número de casos reportados, o que indica que ele pode ser ainda maior. A cada cinco ou seis transgêneros assassinados no mundo quatro são brasileiros.

Em 31 de agosto de 2011, por volta das 4h da madruga, a população mundial alcançou a marca dos 7 bilhões de

Ed Gomes / revista@mazup.com.br Ilustração Felipe Johann

Pelo senso comum, a cirurgia de mudança de sexo deveria ser a etapa final dessa jornada transgênera. Mas não é tão simples assim. Tem gente do gênero feminino que não dispensa seu tico, assim como homens que se sentem bastante à vontade com suas vaginas. Lembram da verdadeira história de Ariel, a princesa dos mares? Ela queria perder sua cauda para viver no mundo dos humanos, mas perdeu a voz quando ganhou pernas. Trangênero é quem não concorda com o corpo que nasceu e ponto. O que cada um faz a respeito disso é algo bem pessoal.

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HORÓSCOPO MALDITO A sensação do verão – e não, não são as paletas mexicanas – conquistaram até estas páginas roxas. Com vocês, como cada signo reagiu ao pau de selfie!

ÁRIES (21 de março a 20 de abril) Desde que foram apresentados, ele se tornou seu companheiro inseparável! O pau de selfie agora ocupa o topo da sua lista “o que levar para a trip”. Se antes você se achava o rei das selfies nos picos mais bacanas, o acessório veio a calhar para se exibir ainda mais nas redes sociais. TOURO (21 de abril a 20 de maio) Diz que acha mó bobagem esta de pau de selfie e ainda xinga quem usa o adereço com “vai trabalhar”! Mas na real, você adoraria ter um! Sim, porque ele seria uma mão na roda na hora dos seus autorretratos. Todos estes resmungos têm uma razão: o bastão não é tão barato assim e você não tem vergonha na cara para se assumir como pão duro!

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GÊMEOS (21 de maio a 20 de junho) Nem você sabe por que comprou um. Talvez, por um momento, tenha lhe parecido uma ideia bacana ter um ou... tenha pensado que tirando a selfie mais de longe, ficaria mais fácil disfarçar o duas caras que você é! #prontofalei #nãosefazdemorto CÂNCER (21 de junho a 21 de julho) Não ter o acessório, enquanto seus amigos ostentavam fotos usando o bastão, começou a deixar você ~mei~ depressivo. Na verdade, você nem podia gastar com isso, mas se sentir diferente, de escanteio, foi insuportável! Awn, sem falar que cabe bem mais gente na selfie agora e aquele sentimento de não-podercaber-todo-mundo não trará mais sofrimento.


LEÃO (22 de julho a 22 de agosto) Suspeitamos que foi você quem apresentou o pau de selfie para os usuários das redes sociais! Afinal, mostrar as coisas que você “acha” incríveis no Instagram, Facebook, WhatsApp, Twitter, Pinterest, Tumblr e tals ficou bem mais interessante no quesito “ostentação”, né? VIRGEM (23 de agosto a 22 de setembro) Ainda está completando a lista sobre os benefícios e malefícios que um pau de selfie pode trazer para sua vida. O acessório dispensaria aquela função de timer e você não precisaria mais correr para aparecer na foto, mas ele ainda não é tão acessível (R$R$R$) e nem parece ser tão prático para carregar na mala quando for viajar. LIBRA (23 de setembro a 22 de outubro) Sabe aquela pessoa que se enfia na foto de um bando de desconhecidos? É um libriano! Um esperto de um libriano! Depois da popularização do pau de selfie – principalmente em versões abrasileiradas do

Festival Holi e Carnaval -, há boatos que seus contatos em redes sociais aumentaram. Sociável você, não? ESCORPIÃO (23 de outubro a 21 de novembro) Comprou por compulsividade mesmo! E o maior pau de selfie que viu! E que não lhe repreendam na hora do “xis”! Sem essa de “proibido tirar foto”, porque aí o pau de selfie ganha outra função, rsrsrs. Ele faz foto onde querê, do que querê, como querê. SAGITÁRIO (22 de novembro a 21 de dezembro) Que pau de selfie o que! Dos criadores de “pau de belfie”, vem aí “vassoura de selfie”, “espeto de selfie”, “aspirador de piscina e de selfie” – até “piroca de selfie” (brink’s)! É, o sagitariano foi quem provavelmente satirizou o acessório nas redes sociais e usou seu bom humor para criar os genéricos. CAPRICÓRNIO (22 de dezembro a 20 de janeiro) Pesquisou preço, avaliou o melhor modelo e pá, garantiu o seu! Acabou

se arrependendo de ter comprado o pau de selfie, pois achou que o usaria mais. Para acabar com a melancolia, anda postando umas selfies com pau desnecessárias na internet, só para fazer valer a pena o valor investido. AQUÁRIO (21 de janeiro a 19 de fevereiro) No início até cogitou a possibilidade de possuir o adereço, mas quando viu quase todo mundo tendo pau no meio da foto achou ri-dí-cu-lo. Deve até ser o criador daquele tumblr Pau de Selfie Sem o Pau, só para deixar bem claro seu posicionamento de como a sociedade é levada por modinhas.

PEIXES (20 de fevereiro a 20 de março) Pisciano, pau de selfie! Pau de selfie, pisciano! Devidamente apresentados – alguém precisava fazer isso. Sem mais ficar pensando “que diabos é este ferro” nas fotos que vê pelos feeds, okay? Ah, se você é um “peixe” que já tá sabendo e inclusive tem um pau de selfie, apostamos que ainda não o usou, pois ainda está idealizando como inaugurar o acessório, né?


#TEMCUPAEU

Bala trocada não dói Dizem que eu sou o lugar onde os bandidos vivem soltos, a terra onde leis são uma ova e tudo aqui tem um sobrenome em comum: “corrupção”. Soltam cobras e lagartos a meu respeito, como se eu tivesse ganhado o direito de escolha em ser ou não ser o palco de toda esta demagogia. Ser o coração do país tem dessas. Mas, auto lá! Eu não sou de ferro e, sim, tenho olhos boníssimos, que apesar dos meus quase 55 anos – completo eles no dia 21 de abril, hein –, ainda me permitem ver coisas que, ah, se eu pudesse “desver”... Os mesmos brasileiros que atiram pedras em mim estão furando filas em lotéricas, mercados e bancos. Colam na prova, ultrapassam sinal vermelho, falsificam carteirinha estudantil – e até RG para entrar na balada –, batem ponto pelo colega de trabalho, e, sim, sentem orgulho dos seus feitos, caso sequer uma alma tenha percebido as

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astúcias. Tapam o olho, se fazem de desentendidos e inventam estarem atrasados se alguém pedir uma ajuda ou uma informação. E gente do meu Brasééél! Se eu começar a falar do comportamento destes falantes hipócritas em redes sociais, então? Ai, desculpa, esqueci que no “faice” ninguém tem teto de vidro e todo mundo dá para “grande pensador contemporâneo” quando o assunto é integridade. Nééé? É muita gente falsa reclamando de falsidade! Ladies and gentlemen, eu, a Capital da Esperança, como Martin Luther King Jr., também tenho um sonho. Tenho sonho de um dia ser lembrada pela politicagem sem burocracia ou malandragem. Ainda quero ouvir da nação “Brasília me representa!”.

Foto dgarkauskas / Flickr



Nem oito, nem oitenta

A liberdade de expressão vista sobre o

fundamentalismo religioso Atentado contra o jornal francês Charlie Hebdo é considerado um crime onde a lei maior está no campo da razão

“Je suis Charlie”. Foi assim que o mundo ocidental declarou que a liberdade de expressão ainda é um bem a ser preservado. No país do iluminismo e da razão, foi possível perceber que na Terra existem dois mundos: um ditado pela isenção do poder no Estado laico, outro comandado pela fé e pela tradição, onde a discussão de ideias não tem espaço. Nele, é 8 ou 80. A França, sede do humorístico Charlie Hebdo foi o primeiro país que rompeu de vez com o poderio da Igreja. Quando correu com a monarquia e lançou ao mundo “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, decretou que todos os homens são iguais perante a lei. Quem morou lá, sabe o que isso significa. O doutor em sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Valter Freitas diz que a constituição francesa é uma espécie de lei “aberta”.

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Na qual, a cada novo instante, podem ser revistas, ampliadas e melhoradas as regras de convívio social. Freitas também diz que a França é um dos poucos países que reduziu a zero a interferência religiosa na política. Por isso legitima sua liberdade de expressão ao permitir que se desenhe as sátiras do Charlie. “Não é crime. Não é ofensa. É um ponto de vista. Lê quem quer, quem tem vontade. Lá (França) é assim. Se eu não gostar de alguma coisa, fica por isso mesmo”. Já na terra de Maomé, o riscado é outro. Mahatma Gandhi, fundador do “moderno” estado indiano, definia muito bem a liberdade de expressão vista sob o fundamentalismo religioso. Para ele, o Oriente não tem sociedade civil. A religião e o Estado são o mesmo. É por isso que para os muçulmanos choca ver uma imagem “sagrada”


profanada na arte contemporânea do humor francês. Para eles não existe liberdade de expressão. Não do jeito que o mundo ocidental conhece. “A liberdade de expressão é uma conquista no ambiente de relação entre as classes. Eu sou livre para expressar minha vontade, sob o que diz a lei. Para se ter uma ideia, na França eu posso andar nu dentro de casa. Se alguém enxergar, e se ofender, estará cometendo um crime, e atentando contra a minha liberdade”.

A importância do estado laico

“A liberdade de expressão é uma conquista no ambiente de relação entre as classes. Eu sou livre para expressar minha vontade, sob o que diz a lei.” Valter Freitas, doutor em sociologia da UFRGS

Quando repetimos a célebre frase, que o governo brasileiro adora professar em embates religiosos “vivemos sob um Estado laico”, estamos repetindo uma história que não foi bem contada. Quem rompeu com a Igreja Católica foi Dom Pedro II, porque a Santa Sé condenava a presença da Maçonaria nas sociedades modernas. Rompeu, mas nem tanto. Considerado o maior país em número de católicos no mundo, a laicidade tem perna curta. “Uma prova disso é a importância da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que vira e

mexe se manifesta diante de decisões do governo”, compara Freitas. Num estado laico, por exemplo, uma “bancada religiosa” na Câmara dos Deputados não teria esse nome. Friedrich Nietzsche disse: “Deus está morto” e desde então a ciência e a religião travam uma queda de braços para saber quem tem a razão. “O homem vai precisar encontrar outra forma de conviver com a vida e com a natureza, considerando a possibilidade de Deus não existir”, propõe o doutor em sociologia, ateu convicto. Será que mais contestações como a Charlie Hebdo serão punidas com o rigor da crença? “Je suis Charlie”, em tempos de fundamentalismo é sentença de morte para quem vive sua liberdade de expressão. Por outro lado, muitas pessoas questionaram o episódio francês dizendo que a liberdade de expressão termina onde começa o direito e respeito pelo outro. E então, qual seria a solução? Nada justifica matar pessoas, por outro lado, justifica faltar com respeito à crença de milhares de fiéis? Encontremos um ponto de equilíbrio: nem 8, nem 80!

Rodrigo Nascimento / revista@mazup.com.br Ilustração Rénald Luzier

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de VisÍVeis a inVisÍVEis


Segundo a psicologia, a loucura é uma condição da mente humana, caracterizada por pensamentos considerados anormais pela sociedade. É o sintoma da doença mental, quando não a própria doença. Atualmente, o diagnóstico da demência de um indivíduo é feito por profissionais e técnicos que trabalham na área da saúde mental, como os psicólogos e os psiquiatras

Portanto, o doente mental é o louco, um adjetivo que os dicionários descrevem como “aquele que perdeu a razão”, sendo sinônimo de alienado, doido, demente, maluco, insensato, temerário, furioso, alucinado, desatinado, insano. Assim, em um primeiro momento, percebemos que a definição de louco ou loucura é simples. Simples? Determinar quem é, foi ou será louco pode ser muito difícil. Em primeiro lugar, porque definir quais são os “pensamentos considerados anormais pela sociedade”, é muito complicado, visto que aquilo que foi

considerado normal no passado – sejam pensamentos, ações, crenças, tabus, atitudes ou mesmo a moral – pode ser, atualmente, completamente anormal. Queimar mulheres consideradas bruxas, crucificar condenados, acreditar em monstros marinhos, participar de orgias e acreditar que a Terra é o centro do Universo – que atualmente poderiam ser classificados como “coisa de louco” – foram atos humanos considerados completamente plausíveis e normais na antiguidade. Esta percepção da loucura também pode variar de um grupo humano para outro, dentro do mesmo tempo histórico. Para muitos de nós, matar animais degolados pode ser considerado coisa de um indivíduo insano. Mas para muitas religiões mundo afora, sacrificar animais para agradar, acalmar ou enfurecer deuses e entidades é completamente normal e aceitável. E hoje, no nosso mundo globalizado e conectado, a questão da loucura se tornou mais complexa ainda. Nossos pais viveram em um mundo muito diferente do nosso. No passado, os comportamentos humanos eram mais previsíveis e fáceis de definir.

As gerações anteriores não tinham a possibilidade dos contatos em rede, sem restrições e sem fronteiras, que nos mostrou e mostra todas as formas possíveis de viver da humanidade. Esta revolucionária forma de se comunicar e viver está construindo uma nova sociedade, cosmopolita, efêmera e em constante transformação. Podemos transitar entre gêneros, estilos de vida, religiões, gostos musicais, formas de comprar e consumir, e todo o tipo de possibilidades socioculturais sem medo de críticas ou represálias sociais. Hoje podemos fazer afirmações, tais como “acredito em Deus, sou espiritualizado, mas não tenho religião” ou contar para todo mundo que perdeu a virgindade sem ser execrado e considerado maluco. O resultado desta revolução comportamental foi que muitos loucos tradicionais puderam ser incorporados à nova sociedade, e transitam entre nós sem problemas. Mas o caminho libertário e polivalente que absorveu o louco foi muito longo, desde a Antiguidade Clássica se discute a loucura.

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Na Idade Média a loucura passou a ser associada à magia e a possessão demoníaca, algo não humano, vinculada às forças do mal e intimamente ligada aos vícios e à má conduta. Este pensamento medieval foi corrente até o século XVII, época da consolidação do sistema mercantilista - a base capitalismo - e que tem como valor social maior o lucro e a acumulação de riqueza. Assim, neste período era considerado louco todo aquele que não pudesse contribuir com o processo de produção e comércio de mercadorias. Esta nova definição de loucura estava ligada a um novo tipo de controle social, necessário para as novas relações homem vs. trabalho, servindo para disciplinar as novas massas trabalhadoras.

DO CIRCO AO AMPARO

Para Sócrates (469 a.C. - 399 a.C), os loucos eram pessoas que podiam ser possuídas pelos deuses – os profetas – ou por espíritos. Para o filósofo grego, além destes tipos de loucuras, existia também a loucura amorosa, produzida por Afrodite, e a loucura poética, produzida pelas musas. Neste período da história, os malucos não eram separados e segregados. Na sociedade da Grécia Antiga os dementes eram respeitados e até temidos.

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Um dos maiores problemas desta fase era retirar do convívio social os páreas, que deturpavam a nova ordem social determinada pelo mundo do trabalho. Assim, a partir do fim do século XVIII, asilos, casas de alienados e hospícios se disseminaram pela Europa. Este conceito de depósito de indesejáveis não era novo e tinha surgido na Inglaterra no século XIV, com a fundação em 1337 do Bethlem Royal Hospital of London, considerado o hospital psiquiátrico mais antigo do mundo. O local, uma sucursal do inferno na Terra, era famoso pela forma desumana como tratava os doentes

mentais. Lá era permitido que visitantes pagassem para assistir aos “espetáculos” protagonizados pelos internos, como em um verdadeiro circo de horrores. Os hospícios, por séculos, foram os locais onde a sociedade depositou aquilo que considerava “lixo” - como velhos, crianças abandonadas, mendigos, portadores de doenças venéreas, epiléticos e loucos. Estes primeiros campos de prisioneiros nunca tiveram por intenção tratar os internados, tendo como única função a simples e cruel segregação. Os indesejáveis eram sujeitos a trabalhos forçados e castigos, visando apenas à punição e expiação. Os primeiros passos rumo à tentativa de entender a loucura aconteceram depois da Revolução Francesa. Deflagrada em 1789, seus pensadores e intelectuais possuíam o discurso de valorização e igualdade dos homens. Apesar dos considerados dementes continuarem encarcerados durante e após a revolução, surgiram os primeiros discursos e ações de incorporação dos excluídos, nascendo os benefícios sociais, como auxílios financeiros e casas de necessitados, semelhantes aos asilos e casas de passagem atuais. É neste contexto de mudança que surge Philippe Pinel. O médico, nascido na França em 1745, considerado o pai da psiquiatria, alterou a noção da loucura ao ligá-la à razão. Foi o primeiro cientista a separar o louco do criminoso, afastando


o aspecto de julgamento moral que constituía até então o principal parâmetro da definição da loucura. Foi ele que, pela primeira vez, considerou que os seres humanos que sofriam de perturbações mentais eram enfermos e que, ao contrário do que acontecia na época, deviam ser tratados como doentes e não de forma violenta. Pinel foi o primeiro médico a tentar descrever e classificar algumas perturbações mentais. Para o francês, a alienação mental está relacionada aos distúrbios das funções intelectuais do sistema nervoso e, como o cérebro é o órgão principal e centro deste sistema, é nele que se manifesta a loucura. Foi Pinel que, também pela primeira vez, dividiu os sintomas dos loucos em quatro classes: demência, melancolia, mania e idiotismo. O médico ainda definiu a loucura como “um desarranjo das faculdades cerebrais” e dividiu os motivos da demência em dois: causas físicas – de origem cerebral, como pancadas na cabeça, más formações do cérebro e hereditariedade – e causas morais, devido aos excessos e paixões intensas. Estas definições e compreensão da história nos ajudaram a entender os malucos. Mas quando convivemos com dementes, estas premissas e conhecimento acabam gerando mais dúvidas. É que o discurso construído pela academia e pela ciência, muitas vezes, fica longe da realidade e da prática.


Basta observar que, durante nossas vidas, algumas vezes somos acusados de nos comportarmos, momentaneamente (espero), como loucos. Como a família e a sociedade podem chegar a este diagnóstico de doença mental?

EnTrE Loucos, sEJaMos Loucos Uma das experiências mais marcantes da minha vida como cientista humano e pesquisador histórico aconteceu em novembro de 2001, quando integrei o grupo de pesquisadores e técnicos responsáveis pela prospecção e organização do material originário do acervo e reserva técnica do Memorial da Loucura do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre. Junto com outros cinco profissionais, fui cedido ao hospício e frequentei a casa dos alienados por quase meio ano. É como cair num abismo profundo e escuro. Depois da passagem dos muros, mergulhamos no mundo dos ditos loucos. E mesmo eu, um cientista humano, desconhecia a realidade daqueles esquecidos pela sociedade. Lá dentro, os dementes perambulam por praticamente todos os espaços físicos e edificações. Visivelmente medicados, se misturam entre visitantes, profissionais da área da saúde mental e burocratas do hospital. O hospício para muitos é o seu lar e sua única referência. Alguns, inclusive, têm

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Os motivos alegados pelo Estado para manter indivíduos asilados no hospício são as suas doenças mentais. Oficialmente, vivem ali doentes mentais puros (os que nascem loucos), depressivos suicidas, esquizofrênicos crônicos, psicóticos, maníacos, compulsivos, dependentes químicos variados e outros malucos clássicos. Na realidade, todos os pacientes residentes do Hospital Psiquiátrico São Pedro têm uma causa comum para estarem internados: são pessoas abandonadas por suas famílias.

Depois de embasados no hospital, nós, técnicos cedidos, juntamente com o pessoal do memorial, partimos para o trabalho braçal, de coleta, higienização, catalogação, depósito e descarte de acervo. Milhares de itens foram retirados dos depósitos subterrâneos escuros e úmidos do hospício. Encontramos todo o tipo de instrumental, equipamentos médicos e mobiliários de hospital - e outros artefatos perdidos e esquecidos, que mostravam como os dementes eram tratados no fim do século XIX e início do século XX, como camisas de força, eletrochoques, vibradores e instrumentos de lobotomia.

Pouquíssimos pacientes são perigosos. Os indivíduos agressivos se encontram trancados dentro de salas de contenção, locais que não tivemos acesso, mas que sabíamos onde ficavam. As celas eram habitadas por pacientes que poderiam colocar em risco a integridade física deles ou de outras pessoas.

Mas o mais impressionante foram os livros, documentos e relatórios dos primeiros administradores, funcionários e psiquiatras da instituição, além dos diários das enfermarias e centenas de anotações dos médicos. Documentos que descreviam as doenças e as formas de tratamento dos pacientes.

autorização para dar uma volta, como ir ao supermercado ou tomar um sorvete na rua.

Os ricos materiais possuíam outras informações importantes para o entendimento de quem era considerado louco, em várias épocas da nossa história. Alguns documentos descreviam os motivos da internação – como gritar na praça, adultério, masturbação compulsiva ou atravessar a nado o rio Jacuí - ou quem tinha solicitado o recolhimento do louco para o hospício. Normalmente, no começo do século XX, quem determinava quem era louco e sua prisão, era o intendente ou prefeito. Era uma forma



rápida e eficaz do poder público “limpar a cidade”, retirando de circulação mendigos, bêbados, adúlteros, desafetos políticos, epiléticos e outros páreas que “infestavam” a sociedade. Apesar de chocante, os documentos que encontramos no Hospício São Pedro não me causaram estranhamento. Basta ver como definimos o louco e a loucura atualmente.

SOCIEDADE CHAPADA Ainda associamos o maluco e a doença mental com comportamentos sociais desviantes e, muitas vezes, com o mal. Isto é inevitável. Como explicar o comportamento de Edward Theodore Gein, psicopata americano (1906/1984) que foi considerado mentalmente incapaz e encarcerado para sempre numa clínica psiquiátrica, até sua morte? Gein assassinou pelo menos oito mulheres. Ele as decapitou, esfolou e produziu artesanato com partes dos seus corpos, como abajures, bainhas, meias e sofás de pele humana, pratos e tigelas feitos de crânios, puxadores de janela feitos com lábios, seios transformados em cintos e seguradores de copos. Será que Edward Theodore Gein não representava o mal? E o que pensar de Jorge Negromonte, Isabel Cristina e Bruna Cristina, conhecidos como “os canibais de Garanhuns”, que mataram oito jovens, produziram

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salgadinhos e coxinhas das suas carnes e venderam no centro da cidade pernambucana? Como não os vincular ao mal? Mas a loucura destes dementes assassinos e perversos nos parece óbvia. A questão é os outros loucos que estão por aí, livres. O Ministério da Saúde estima que 23 milhões de pessoas (12% da população) necessitam de algum atendimento em saúde mental e que, pelo menos, cinco milhões de brasileiros (3% da população) sofrem com transtornos mentais graves e persistentes. Uma questão instigante é: como milhões de malucos transitam entre os ditos normais sem serem notados? Acho que encontrei uma parte da resposta. Como já foi citado, vivemos na sociedade libertária e polivalente, que tem como premissa a inclusão social de todos os indivíduos, inclusive os doentes mentais. Nos últimos 40 anos, somada com a nova tendência de trazer todos para dentro da sociedade civilizada e democrática, houve uma enorme melhoria da qualidade de vida das pessoas, causada pelo desenvolvimento da tecnologia, da medicina e da farmacologia. Isso fez com que os malucos visíveis ficassem invisíveis. Hoje em dia, a sociedade produz outros tipos de loucos, como gente que troca a vida social para ficar “dentro” da internet, motoristas que acham que são deuses, e profissionais

da saúde que seProdução consideram Tanatos, o executiva: Ana Luísa Johann deus da morte. Sem falar em ciumentos Fotografia: Karina Jacques patológicos, punheteiros compulsivos da e Marcos Castellan web, anarco parasitas (punks de boutique (Droid Studio) sustentados pelos pais), parasitas zumbis Tratamento de imagem: (caminham pelos shoppings em círculos Karina Jacques sem gastar ou ver as vitrines), (Droid Studio) exibicionistas de internet, sindrômicos de Narciso Styling: Paulo Saul virtuais (fazem centenasede selfies ficam se Ana LuísaeJohann admirando), os que têmGraziella medo doda fimCosta do Beleza: Modelo: Betina Haag mundo e neuróticos eletrônicos em geral (Premier Models Mgt) (aqueles que enlouquecem sem tecnologia). Agradecimento: Danisa Para sorte da sociedade, a maioria está controlada com remédios, como a Centralina, a Fluoxetina e o Lítio. A nova sociedade está quimicamente instrumentalizada para conter os malucos. Talvez seja a única forma de entender a quantidade de farmácias existente nos centros urbanos. Somos uma população controlada de forma química, consumindo calmantes, soníferos, relaxantes musculares, ansiolíticos, sais reguladores de comportamento. Somos como as pessoas que caminham sem rumo, pelos pátios do Hospital Psiquiátrico São Pedro. Um bando de gente chapada perambulando por aí.

João Timotheo Esmerio Machado revista@mazup.com.br Fotos Gustavo Tomazi / Estúdio de Moda Voga



É singular... O tal padrão de beleza Em tempos em que a mulher conquistou tantas posições de honra, é questionável o porquê de falarmos tanto sobre o temido padrão de beleza. Se já viramos presidentes, rainhas, deputadas, empresárias e donas de si, por que estamos na constante luta pelo perfeccionismo, tachado em um determinado conceito imposto por alguns?


Quem não ouviu falar sobre o caso da menina de Canguçu, cidade interiorana do Rio Grande do Sul, que virou polêmica após se inscrever no concurso estadual Garota Verão? A adolescente de 15 anos mostrou para muita mulher adulta como se comportar quando o assunto é estar bem consigo mesma. Considerada como candidata “fora dos padrões do concurso”, Vanessa Braga desfilou de biquíni esbanjando os seus 70 Kg. “No início acreditei que o desfile não era pra mim, porque eu sou mais cheinha que as outras. Mas minha mãe me disse que não devemos ter vergonha do nosso corpo”, disse ela, em uma entrevista para a televisão. Vanessa “ahazou”! Sua foto no Facebook teve mais de 10 mil curtidas. O que surpreende é que ainda falamos sobre atitudes como esta, com tom de fato heroico, de pura coragem. Vanessa se tornou, em poucos dias, um ícone de ousadia, uma personalidade! E, ao contrário do que muitas meninas fariam, ela decidiu

que não quer emagrecer, porque se sente feliz assim e não precisa que outros a admirem por ser magra já que a admiração veio com a sua personalidade. A adolescente remou contra a necessidade de milhares de mulheres brasileiras: a dificuldade de aceitar a si mesma.

Aliado às grandes mídias, os produtos da indústria de consumo se apresentaram variados. Após lançar o corpo ideal, o mercado mostrou todos os caminhos para se chegar até lá - pílulas, sucos, receitas, aparelhos, novos exercícios, revistas, tutoriais, cosméticos e cirurgias plásticas.

Calma! A busca pelo corpo ideal não é de hoje, muito menos esta concepção do belo que encontramos estampados nas capas de revistas de moda. Essa “nóia” feminina vem sendo implantada desde os áureos tempos da 2ª Guerra Mundial. Passamos a viver bombardeadas por uma indústria que visa o lucro e que, quanto mais influencia, mais vende.

A perda de peso acabou se tornando o motivo norteador dos objetivos da maioria na ala feminina - como já mencionou o escritor Augusto Cury: “Estamos mais ricos financeiramente hoje, mas muito mais miseráveis e infelizes interiormente”. A indústria de consumo e beleza extrapolou nossos limites, virou obcessão doentia. Se não buscamos as melhores roupas, sapatos e makes mais descolados da estação, começamos a nos desconectar do que a sociedade de consumo nos impõe como correto e alinhado.

“Estamos mais ricos financeiramente hoje, mas muito mais miseráveis e infelizes interiormente” Augusto Cury

Também no século XX e ainda no século anterior - com a conquista do voto, a igualdade de trabalho e o direito ao estudo -, muitas portas se abriram para que a indústria do consumo tomasse forma e conquistasse o seu público mais fiel: a mulherada.

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AS ESTILISTAS jÁ sabem! Para a estilista Andrequiele Helena Gelbhar, a moda criou esta nova visão do padrão de beleza desde que a britânica Twiggy Lawson (Lesley Hornby) foi lançada ao mundo, em 1966, pelo fotógrafo Justin de Villeneuve, como a primeira top model. A visão do belo foi repensada e perdura

DÁ UMA OlHADA NESTA BREvE lINHA DO TEMPO, CONSEGUIMOS IDENTIFICAR AS INFlUÊNCIAS QUE OS HUMANOS SOFRERAM ENTRE OS CORPOS ROlIÇOS AOS BUSTOS SIlICONADOS:

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até hoje, sendo perseguida loucamente pela massa feminina. A cintura fina e a magreza se instituíram, fazendo com que mulheres dos quatro cantos da Terra cometessem absurdos para serem “aceitas pela sociedade”. Segundo ela, além deste padrão estético, também se criou um ainda mais complexo com o surgimento da internet e os disseminadores blogs da moda. “O que pode parecer fútil para muitos, acaba ditando ferozmente o que deve ou não ser usado por milhões de mulheres que acompanham as tendências, influenciando seus comportamentos e principalmente o mercado no mundo”, comenta.

A estilista ressalta que o novo cenário, de blogueiras de moda como referência, possui um papel importante no imaginário feminino à medida que difere tendências e estilos de vida: “Quem ousa estar fora deste padrão é considerado out fashion (fora de moda), gerando muitas vezes até a distorção da identidade pessoal, sendo que, na maioria das vezes, toda essa imagem é uma grande ilusão e um tanto impalpável”. É essa loucura que tem determinado o padrão da moda no mundo e, entre as trends de cada estação, o desejo de consumo aumenta e interfere nas escolhas e preferências de cada ser.

pré-História

1.200 a.c

Se para você, as mulheres que aparentam ter uns quilos a mais não são consideradas sexy, jamais conseguiria viver nesse período da história. Segundo arqueólogos, as peças encontradas em torno de 20 mil anos atrás representam um modelo de beleza feminina que valorizava os corpos redondos, robustos e rechonchudos.

Com o surgimento dos complexos esportivos na Grécia, a educação física se tornou um pilar na formação dos homens. Além de treinar para se tornarem soldados, eles jogavam e estudavam filosofia, literatura e música. O corpo atlético veio como consequência dos árduos treinos gregos.

idade média A forte influência da Igreja fez com que a população deixasse de se preocupar com a estética, herança dos gregos. A beleza era uma afronta às leis divinas. Conseguimos perceber esta influência nas obras de arte, em que o corpo aparece poucas vezes.


Ketherin Kaffka, uma blogueira gaúcha kaffka.com.br - que vem sendo reconhecida no estado pelo seu talento e visibilidade neste ramo do mercado, conversou conosco sobre essa louca sociedade de consumo e o padrão de beleza que está estampado em distintas marcas mundiais, dias depois de voltar de Nova Iorque - viagem que fez com a marca Calvin Klein. Apesar de fazer e vender a moda, Ketherin mantém uma opinião bem posicionada sobre os fatos. Ela acredita que, inconscientemente, somos manipulados

pelo consumo, já enraizado em todos os segmentos – o que não se restringe unicamente ao mercado fashion – e que, desde os primórdios da humanidade, existem padrões (como antigamente, em que o bonito era mulheres gordinhas, com seios grandes e barriga saliente). Hoje em dia, temos a mídia assumindo um papel influenciador, fazendo com que as pessoas se apeguem a necessidades de “ser” e “ter” que antes não teriam. Para ela, o segredo de não enlouquecer nessa pressão toda é o amor próprio que a mulher deve cultivar por meio do autoconhecimento: é ele que se torna necessário na hora das escolhas, evitando cair na “ladainha” do consumo.

“Cada mulher tem um estilo, um dom e uma personalidade diferente, e cada corpo acaba representando diferentes detalhes que devem se valorizados. Não existe certo ou errado, temos que nos acostumar com isso. O mundo é total diversidade, e é nela que estão as características mais legais”, destaca a blogueira. O problema de padronização não é só deste mundo moderno, como a Ketherin mencionou. A história já revelou distintos estereótipos que amedrontavam as mulheres da época e que se modificaram de acordo com as necessidades e as novas tendências das gerações.

renascimento

1920

1960

1990

Nesse período, os valores humanistas foram resgatados, assim como a admiração pelos padrões de beleza. As mulheres passam a exibir longos cabelos, formas roliças e até mesmo uma “pochetezinha”.

Nessa época, a expressão sex-appeal surgiu. Ela caracterizava a sensualidade não apenas pelo corpo, mas no jeito de andar e falar. Aqui as mulheres já estavam incorporadas no mercado de trabalho e adotavam cabelos curtos com roupas de modelagem reta e simétrica.

A época deu lugar a mulher-violão, de seios fartos, cintura fina e quadris avantajados. Brigitte Bardot virou ícone de beleza, assim como a top model inglesa Twiggy, que apresentava um corpo magricelo com ausência de curvas.

O período ficou conhecido como “A Era das Supermodelos”. Altas, magras e curvilíneas, elas ganharam as passarelas e também a influência sobre uma geração. Desde lá as modelos de passarela estampam um corpinho magricelo.

Já deu pra perceber que vivemos na época mais libertadora de todas, que apesar dos padrões, temos condições de escolher sobre o que ser e o que vestir. Chegamos à era de sermos responsáveis pelo nosso próprio corpo, só precisamos concordar com isso!

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PERSONAGEM real

para a autoestima. Mas isso tudo não foi suficiente e a guria entrou numa doença complicada e embarcou na depressão.

Taciana Colombo tem 32 anos, é jornalista, curte tendências e discursa muito bem sobre o estudo de comportamentos. Dona de uma personalidade superextrovertida, eu jamais imaginaria a história que a acompanhava. Sua autoestima é cativante e em alguns minutos perto dela já se pode contaminar por tamanho alto astral.

Hoje, muito bem resolvida com os seus 78 quilos, ela afirma na maior gargalhada: “Se quero entrar em um biquíni, vou lá e compro um! No meu próprio mundo o meu blog não faz mais sentido. Ele poderia ser útil em relação a uma vida saudável, mas hoje não completaria minha autoestima”.

Há seis anos, ela criou um blog que achou justo denominar de Quero Entrar num Biquíni. Taciana se comprometeu a emagrecer 20 quilos em 23 semanas, para se reconectar a uma boa saúde e reatar com a sua autoestima. Como jornalista, ela encontrou uma forma de dissipar suas percepções e dividir com outros suas expectativas. Com o apoio de uma nutricionista, ela mesma cozinhava, fotografava seus pratos e descrevia sobre sua luta. Um reality show, real, mesmo! Iniciou a aventura com 73 quilos, emagreceu 18 ao fim do desafio, mas chegou a pesar 53 quilos em 2010. O feedback dos leitores contribuía na persistência dos desafios e Quero Entrar num Biquíni servia quase como uma meta

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Não há um personagem melhor para encerrar esta reportagem! Taciana vive bem consigo, com a moda, a tendência, o comportamento e o julgamento dos

modistas de plantão. Em pleno século XXI ser singular é viver em uma geração que deve respeitar seus sentimentos, desejos e sua coragem de se resolver com sua própria autoestima, impondo os próprios padrões de felicidade! Obrigada pelos ensinamentos, Taciana! Que possamos perder muitos quilos de paranóias e obrigações com a balança - e aprendamos a priorizar a saúde! Agora, se liga no relato dela abaixo.

Bárbara Corrêa / revista@mazup.com.br Fotos dilvulgação

receita detox PARA FUGIR DOS CLICHêS “Estamos tão fartos de preconceitos e padrões de qualquer tipo, que fica difícil ditar uma regra, seja lá qual for. Aprendi a não me levar tão a sério. Ter humor e leveza compensa mais do que uma barriga negativa. Dá para conviver muito bem com um pneuzinho aqui, uma celulite ali. Eu sempre quis ser esse arco-íris e, por isso, lá em 2009, criei o blog Quero Entrar num Biquíni. Naquela época resolvi que estava na hora de encontrar equilíbrio físico e mental e debater sobre a relação da mulher com o seu corpo. Com disciplina e muito trote na esteira, cumpri parte da minha missão, que era emagrecer em seis meses, e influenciar outras pessoas com propósitos semelhantes.

Só que, certo dia, me olhei no espelho e não me reconheci. Estava magra e invisível. Linda e infeliz. Faminta. Meu desejo ia além da fita métrica. Dei um basta na história de me preocupar com as calorias. Entrei em depressão e tive transtorno de pânico. Problemas de saúde que estão relacionados ao medo, ansiedade, autoestima baixa e estresse emocional. Fiz um detox das expectativas. Gordinhas não são unanimidade no quesito admiração masculina, mas sábio é o Proust: ‘Vamos deixar as mulheres obviamente bonitas para os homens sem imaginação’”.


Barsa, cadê você? Quem não se lembra da primeira enciclopédia brasileira que circulava nas bibliotecas das escolas? Quando lançada, a edição se esgotou em oito meses. Por ora, a popularidade dos livros anda abafada, mas saiba que eles ainda existem por aí! A trajetória de sucesso vem desde 1964, quando iniciaram as publicações anuais e foram alcançados recordes de vendas. O nome “Barsa” é uma combinação entre os sobrenomes do casal Dorita Barrett (Bar) e seu marido, o diplomata brasileiro Alfredo de Almeida Sá (Sa). Segundo Sandra Cabral, a diretora de marketing da Planeta Educação, editora responsável pela enciclopédia no Brasil, “a Barsa é mais do que um megadicionário, pois atende aos temas constantes do currículo programático dos Ensinos Fundamental I, II e Médio de forma profunda e com facilidade para a interpretação”. Até hoje a Barsa despachou quatro milhões de cópias e ainda é vendida não mais com tiragem expressiva, já que os principais clientes são as bibliotecas

públicas, através de projetos do Ministério da Cultura, ou programas de leituras como o desenvolvido no RS, que adquiriu duas mil enciclopédias para as escolas em 2014. “O sucesso da Barsa está no fato de a editora sempre prezar por um corpo editorial de personalidades brasileiras. A primeira edição tinha como redatorchefe Antônio Callado e trazia textos de intelectuais como Gilberto Freyre, Antonio Houaiss, Jorge Amado e Oscar Niemeyer, com grande valor reflexivo. Além disso, a enciclopédia promoveu a atualização do conhecimento e a circulação de ideias de respeitados pensadores brasileiros em artigos exclusivos ao longo destas mais de cinco décadas”, conclui Sandra.

A Barsa 2.0 Outro fator que faz a Barsa persistir por gerações é o compromisso da editora com as novas tecnologias digitais. A enciclopédia foi a primeira brasileira em versão em CD e DVD ROM, com tecnologia em flash player (textos, som, movimento em 2 e 3D). Valeu até incorporar 100 novos elementos audiovisuais e novas interatividades para a galera adquirir novos conhecimentos através de um laboratório virtual. De quebra, ainda foi pioneira em lançar uma versão online, exclusivamente para escolas públicas e privadas: a Barsa na Rede. Atualizada diariamente por 750 especialistas, a versão digital interativa conta com ferramentas aprimoradas para navegação de seu conteúdo, com mais de 400 mil assuntos organizados de A a Z, milhares de filmes, sons, fotos e cartografia mundial. O site tem cinco seções principais, no canal Entender o Mundo: Biografias, Dossiês, Monografias, Artigos Temáticos e Atualidades. As seções abrangem as áreas de Tecnologia, História, Política, Sociedade, Cultura e Ciência.

Bárbara Scheibler Delazeri barbara@mazup.com.br Foto divulgação

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rese nha Em comemoração ao mês que lembra carinhosamente a ala feminina, a blogueira e consultora de moda, Mariana Simionato, lançou seu primeiro livro, o Tips da Mari. Com produção independente, a obra traz dicas de moda e imagem pessoal, maquiagem, autoestima e relatos de histórias e inspirações de mulheres que a escritora conheceu ao longo de sua carreira como palestrante. Um verdadeiro manual de estilo para aquelas que querem se vestir bem (e sem gastar muito), se conhecer e melhorar a autoestima!

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A gaúcha é consultora de moda e estilo pela Universidade de Caxias do Sul e editora do blog que leva seu nome - marianasimionato. com. Na página, Mari solta o verbo sobre moda, beleza e comportamento desde 2012 e é nela que o livro pode ser encomendado. Ela já morou na China e México e, atualmente, ministra palestras e cursos relacionados ao universo feminino. É líder brasileira do projeto Models For Christ – Modelos Para Cristo -, que atua no suporte da indústria da moda no mundo.

TIPS DA MARI AUTORa: MARIANA SIMIONATO 1ª EDIÇÃO | 2015 FORMATO: 17CM X 11CM 100 PÁGINAS R$ 15


CONSIDERAÇÕES SOBRE o fim da ingenuidade Humana O último militar veterano da Grande Guerra, conhecida também como 1ª Guerra Mundial, o marinheiro britânico Claude Choules, morreu dormindo aos 110 anos, na Austrália, no dia 05 de maio de 2011. Agora, definitivamente, este maldito conflito passa aos livros de história como mais uma memória dos mortos. Aqueles que combateram no ar, no mar e nos campos da morte não podem mais falar.

soldados do batalhão de rifle italiano, carregando suas bicicletas nas costas enquanto percorrem um monte / Agência, Getty Imprensa tópicos Images

No dia 28 de julho de 2014 foi comemorado o centenário do início da infame e esquecida 1ª Guerra Mundial. Nesta data, os austrohúngaros invadiram a Sérvia, dando início à batalha armada que durou quatro anos e mudou para sempre as

sociedades europeia e americana. O estopim da invasão foi o assassinato do arquiduque Francisco Fernando, da Áustria - herdeiro do trono da ÁustriaHungria - pelo nacionalista iugoslavo Gavrilo Princip, ocorrido em 28 de junho de 1914, em Sarajevo, na Bósnia. A 1ª Guerra Mundial foi um conflito de escala global, em que o teatro de operações se centrou principalmente na Europa, envolvendo todas as grandes potências do início do século XX. Os países que se engalfinharam naquele genocídio e massacre desumano se organizaram em duas alianças opostas: de um lado, os Aliados – também chamada de Tríplice Entente – encabeçada pelo Império Britânico, França e Império Russo, e do outro lado os Impérios Centrais – conhecida como Tríplice Aliança – comandada pelos Impérios Alemão, Austro-Húngaro e a Itália. Estes dois blocos belicosos arrastaram para a guerra suas colônias africanas, asiáticas e seus países aliados. Mais de 30 nações participaram da batalha direta ou indiretamente, colocando em combate 70 milhões de soldados e causando a morte de, pelo menos, 15 milhões de pessoas entre 28 de julho de 1914 e 11 de novembro de 1918. Cerca de 40 milhões de pessoas foram feridas ou mutiladas durante o conflito.

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Estes números absurdos de vítimas – na sua maioria civis - estão diretamente ligados aos avanços tecnológicos que determinaram um crescimento enorme na letalidade de armas, mas sem melhorias correspondentes em proteção ou mobilidade das tropas. A 1ª Guerra Mundial é considerada o primeiro conflito industrial da história.

Caminhão carregado de tropas sendo transportadas do porto de salônica, na Grécia / Agência, Getty Imprensa tópicos Images

soldados sérvios aliados em barracas feitas de galhos em um acampamento na sérvia / Central Press, Getty Images

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Naquele longínquo 1914, terminava a Belle Époque: o fim da ingenuidade da humanidade. Pela primeira vez, as vítimas de uma guerra eram contadas aos milhões. Lutas terminavam com dezenas de milhares de mortos. Uma matança em escala industrial, uma orgia sanguinária nunca vista, em que assassinos genocidas eram considerados heróis nacionais. A 1ª Guerra Mundial foi o embate do mundo moderno e industrial contra o mundo atrasado e agrário dos reinos e da aristocracia. Foi o confronto da cavalaria e das unidades de infantaria de bicicleta contra metralhadoras. Pela primeira vez numa guerra, cidades inteiras foram varridas do mapa com bombardeios maciços de artilharia. Foi nos campos de batalha da Grande Guerra que a aviação estreou como arma e navios de aço e ferro – que até então eram considerados indestrutíveis – foram

abatidos e afundados por aviões e submarinos. Lá, nos campos da morte, armas químicas foram utilizadas indiscriminadamente, como o DDT, o gás mostarda e o cloro. E novas tecnologias de matar surgiram, como os carros blindados e o lança-chamas. Este embate sangrento trouxe grandes mudanças para a humanidade. Uma delas foi a emancipação feminina. Como os homens foram para o front, os postos de trabalho nas cidades e no campo foram abandonados. Foi a partir deste momento que as mulheres ocidentais foram lançadas no mercado de trabalho, participando do esforço de guerra na produção de armas, munições e mantimentos, assumindo o lugar dos homens que estavam no teatro de operações. E este foi o caminho que levou ao direito de voto das mulheres e sua efetiva participação política, fazendo com que fossem transformadas em cidadãs. Se a 1ª Guerra Mundial não tivesse acontecido, possivelmente, as fêmeas da nossa espécie continuariam reclusas aos lares, longe do mercado de trabalho. Além disto, a medicina, a farmacologia, bem como as tecnologias ligadas ao automobilismo, à conservação dos alimentos, à aviação, à navegação e tantas outras estariam atrasadas em décadas.


Foi nesta batalha, geradora de milhões de mutilados, com pernas e braços amputados, que se melhorou a qualidade e eficácia de anestésicos, diminuiu os óbitos nas amputações de membros e se desenvolveu próteses. Sem a 1ª Guerra, muitas das modernas pernas artificiais articuladas e com amortecedores seriam apenas pernas de pau. Foi nos campos de combate da Europa de 1914 que se começou a pensar nas melhorias e conforto do transporte coletivo, pois o grande número de combatentes necessitava ser trasladado dos quartéis ao front. Foram naqueles anos conturbados que surgiram os primeiros amortecedores, freios a disco e motores silenciosos. Estaríamos andando, ainda, em calhambeques velhos, barulhentos e desconfortáveis se não fossem os avanços tecnológicos proporcionados pelo conflito. Mas, com lamentável certeza, a maior herança da 1ª Guerra Mundial foi a consolidação dos Estados Unidos como potência econômica e militar. No fim do século XIX, a França, a Alemanha e a Inglaterra eram os países mais ricos do mundo, possuíam enormes parques industriais e sociedades bem estruturadas

economicamente. Estes países europeus dominavam o mercado internacional e, juntos, eram um bloco econômico quase indestrutível. Os norte-americanos sabiam que a Europa era um enorme barril de pólvora, prestes a explodir. Naquele mesmo século, as grandes potências europeias tinham percorrido um longo caminho para manter o equilíbrio de poder em toda a Europa, resultando na existência de uma complexa rede de alianças políticas e militares em todo o continente. Isto se deveu principalmente à busca de matériasprimas para sustentar os gigantescos e crescentes parques industriais do Império Alemão, do Império AustroHúngaro, do Império Otomano, do Império Russo, do Império Britânico, da Terceira República Francesa e da Itália. Estas nações, que durante centenas de anos saquearam as Américas, agora voltavam suas políticas imperialistas para o continente africano, transformando aqueles territórios em suas colônias. Estas condições políticas levaram os impérios europeus a uma corrida armamentista, que fatalmente levaria à guerra.

Cruz vermelha atendendo soldados feridos no campo de batalha russo / Hulton Archive, Getty Images

oficial russo prendendo uma bomba ao lado do avião de guerra antes de decolar, por volta de 1915 / Hulton Archive, Getty Images

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Piloto da força aérea alemã se preparando para decolar em um voo de reconhecimento, por volta de 1915 / Hulton Archive, Getty Images

soldados alemães operando uma metralhadora, a partir de uma trincheira na frente oriental da rússia / Three Lions, Getty Images

Ambulâncias estacionadas em uma estrada na França / Hulton Archive, Getty Images

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Sabendo que a situação política europeia era extremamente delicada e prevendo uma crise que poderia levar a uma guerra de destruição total e sem precedentes dentro da Europa, os Estados Unidos começaram a transformar seu modesto parque industrial. As fábricas metal mecânicas americanas deixaram de produzir ferramentas e outros badulaques e passaram a produzir armas, bombas, blindados, veículos, munição, canhões, aviões, mantimentos, remédios, alimentos, uniformes e todos os equipamentos necessários para um grande combate. Os materiais foram vendidos e enviados para praticamente todos os países da Europa. Em quatro anos de guerra, os países, que poderiam concorrer com o mercado americano, foram arrasados, seus parques industriais destruídos e todos – sem exceção – ficaram endividados com os norte-americanos.

Os yankees entraram no conflito em 3 de fevereiro de 1917, quando praticamente todas as nações diretamente envolvidas na luta se encontravam esgotadas pelos quase três anos de guerra. O motivo teria sido uma represália aos ataques de submarinos alemães à marinha mercante dos norte-americanos. Na realidade, os Estados Unidos entraram na batalha para garantir sua parte no butim. Como a dívida dos países europeus era gigantesca, a forma de pagamento encontrada pelo governo foi de reconstruir a Europa com suas empresas. Assim, os países perdedores foram fracionados com o nefasto Tratado de Versalhes, que dava aos vencedores o controle das


soldados russos escrevendo, enquanto na frente oriental, por volta de 1915 / Hulton Archive, Getty Images

áreas ricas em minérios e recursos naturais do velho continente. É bom lembrar que foi esta imposição unilateral um dos motivos que levou à 2ª Guerra Mundial, que foi mais longa que a anterior e a mais sangrenta da história da humanidade. A reorganização das fronteiras europeias - que deram origem aos principais limites geográficos dos países do continente atuais -, desmantelou antigas monarquias e impérios, e derrubou reis e imperadores. Em seus lugares, políticos ou fantoches dos Estados Unidos assumiram o poder. Sem a 1ª Guerra Mundial, a Europa estaria, ainda, controlada por um punhado de aristocratas e nobres decadentes, desfilando em suas carruagens magníficas em meio à turba operária faminta.

E, possivelmente, sem a 1ª Grande Guerra, os Estados Unidos seriam uma nação agrícola, controlada por reacionários. O mais impressionante nesta história suja é que esta forma de agir dos yankees se repetiu durante todo século XX. Fomentam a guerra, vendem armas, endividam os países, atacam pobres nações, entram nos conflitos quase no seu término e reconstroem cidades e países, colocando goela abaixo seu “american way of life” e sua democracia discutível. Sempre à custa de milhões de vidas de inocentes.

João Timotheo esmerio Machado revista@mazup.com.br Legendas hid0141.blogspot.com.br


Troninho

Por que o inglês é a língua universal? É clichê dizer por aí que dominar a língua inglesa pode dar o que falta para apimentar o sucesso. Mas, afinal, o que credita tanta representatividade a este idioma? Por que é o inglês, e não o português ou alemão, por exemplo?

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Bem, é importante saber que nem sempre foi assim. Para início de conversa, antes de se impor como língua global, um idioma precisa ter um papel especial reconhecido em todo o mundo. Os caminhos que levaram o inglês ao status de internacional envolvem um longo e complexo processo histórico. A língua surgiu com os AngloSaxônicos por volta do século V, e incorporou elementos da língua nórdica antiga dos Vikings após as invasões dos séculos VIII e IX. Por muito tempo o inglês ficou restrito apenas à Grã Bretanha, mas as grandes navegações permitiram que ele fosse levado aos confins da terra, levando o crédito de “língua


importante” nas colônias inglesas. Os territórios dominados na África do Sul, Índia, Austrália, e muitos outros propagaram o idioma. Os Estados Unidos se tornaram independentes da Inglaterra em 1783. E este foi outro fator que contribuiu para o inglês ser globalizado. “Culpa” do enorme território americano, o domínio econômico que os Estados Unidos exerceram no século XX e seu crescimento enlouquecido atualmente, o país possui um PIB equivalente a mais de um quarto da produção econômica mundial. O poder, sempre o poder! É muito fácil notar a influência do inglês no nosso dia a dia. Muitas palavras usadas no nosso cotidiano provêm do idioma, como: jeans, outdoor, notebook, download, entre muitíssimas outras. Inclusive tem gente que aportuguesou palavras em inglês, como “deletar” – sim, esta palavra não existe, vem de “Del”, em inglês, e significa “apagar”. Enfim, a comunicação é a ferramenta que move o mundo contemporâneo, e o inglês é pra lá de importante. Nunca os diferentes povos estiveram tão conectados entre si em toda a história, como nos últimos tempos. Portanto,

nunca houve uma necessidade tão grande de uma língua universal. Nas entrevistas de emprego, as pessoas sempre serão reconhecidas se possuírem este diferencial. Aprimorar o inglês é um hábito que se pode agregar facilmente ao cotidiano, assistindo a filmes com legendas no idioma, ou até mesmo ouvindo uma boa música. Se você não quiser ficar para trás quando se trata de inglês, trate de apurar suas habilidades! Curiosidade: mesmo sendo o inglês a língua universal, não é a mais falada! Segundo a última edição do livro The Ethnologue: languages of the world, o mandarim domina tudo: são mais de um bilhão de falantes. Isso pode ser explicado pela gigantesca população que a China apresenta e, claro, a sua importância no cenário econômico mundial. A medalha de prata vai para o híndi, com 565 milhões de falantes nativos. O inglês fica com o bronze, com 545 milhões. O número de línguas existentes no mundo é nada menos que 6.912.

Bárbara Scheibler Delazeri barbara@mazup.com.br Foto divulgação


A bordo de uma Kombi, a AmĂŠrica cabe no banco do carona


Grupo de amigos de Cruzeiro do Sul e região atravessou cinco países e dez mil quilômetros em busca da cidade perdida Machu Picchu

O ano de 2015 mal havia começado. Um grupo de 15 aventureiros, entre eles três crianças e um adolescente, queria realizar um sonho: conhecer as ruínas de Machu Picchu, em Aguas Calientes, no Peru, a bordo de uma Kombi - ano 1977. Com medo de que a possante não fosse aguentar a falta de oxigênio na Cordilheira dos Andes, parte da expedição partiu em duas camionetes modelo Eco Sport. Uma não suportou o solavanco e voltou rebocada. No entanto, na bagagem vieram histórias de uma travessia de coragem, quebra de paradigmas e aventura de Ano Novo. O eletricista industrial Guilherme Pochmann (25) é o guia da revista Mazup. Ele é o dono da Kombi e um dos idealistas do projeto. Veterano na estrada, já havia levado sua

Kombi, aquisição da maior idade, até a Patagônia. O plano agora: atravessar a América. Pochmann diz que o maior desafio – dele e do grupo – foi mesmo a altitude, quando chegaram à Cordilheira dos Andes, quase no fim do trajeto. “A Kombi segurou firme, mesmo sem sistemas modernos de refrigeração”, lembra o orgulhoso. A aventura de Guilherme e seus amigos durou 19 dias. Tempo limite para muitos. Eles escolheram abrir mão da festa de Réveillon para conseguir chegar à cidade perdida dos Incas. “E foi mais custoso do que planejamos. Andamos por caminhos difíceis, tivemos que refazer a rota, entrar e sair de países. Mas foi muito bom!”, avalia. O grupo escolheu a rota Brasil – Paraguai – Argentina – Bolívia e Peru. Ao chegar ao Paraguai, a propina dos policiais afastou a expedição de Machu Picchu. “A polícia paraguaia é corrupta mesmo, e ainda queria que tivéssemos um lençol branco com uma capa de plástico, caso tivéssemos que transportar um corpo. Uma norma que não está na lei e uma possibilidade que não cogitamos jamais”, conta.

Por causa dos policiais, Guilherme e seus amigos mudaram de rota. Voltaram para a Argentina e seguiram até o Peru. “Entramos em caminhos ruins, até chuva e neve enfrentamos, em pleno verão. Mal sabíamos que estávamos, naquele dia, em um dos únicos lugares do Peru que neva no verão do hemisfério Sul”, diz.

Um lugar único A magia de Machu Picchu recompensa o esforço. Ao chegar à cidade perdida, Guilherme se deu conta de que o tempo era curto demais à contemplação. “Foi uma viagem longa para pouco tempo. Muitos não tinham mais do que 20 dias de férias. Mas, ao mesmo tempo em que não deu para ver tudo, fica na boca o sabor de quero mais”, comenta. A terra que esconde os segredos de uma das primeiras civilizações do mundo também motiva a trupe de Guilherme a seguir com sua Kombi 77. Eles conheceram pessoas, aprenderam novos costumes e curtiram férias diferentes. E o melhor: sem gastar muito. Morra de inveja

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Dicas para aventureiros #Documentos Carregue consigo todos os seus documentos. Quando transportar menores de idade, sem a presença de ambos os pais, leve uma autorização. Em algum lugar ela pode ser pedida; #Disposição Saiba que qualquer lugar pode ser a sua cama. Antes de chegar a Aguas Calientes, a expedição de Cruzeiro do Sul pernoitou nos Andes. O tempo estava bom, mas na madrugada choveu e caiu neve. Nem sempre é tão fácil ver o bonito;

quem pensa que ir ao Peru pode custar mais caro do que mil reais por pessoa. Foi mais ou menos o que consumiu a expedição de Cruzeiro do Sul. Isso contando a necessidade de alguns pernoites em hotel, comida comprada em locais onde não tinha oferta para cozinhar e contratempos, como o reboque de uma caminhonete do Mato Grosso até o Vale do Taquari. “Foi muito bom mesmo. A próxima viagem será em solo brasileiro, para que possamos aproveitar ainda mais as belezas daqui”, anuncia.

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#Grana Não precisa de muito dinheiro para encarar uma aventura em conjunto. A viagem dos 15 custou cerca de R$ 1 mil por pessoa, mas é sempre bom ter uma reserva; #Férias Tente deixar um tempo mais longo para fazer uma viagem-aventura. Conte com os imprevistos e não se esqueça de que é preciso tempo para conhecer tudo. O ideal para percorrer dez mil quilômetros até Machu Picchu, por exemplo, são 30 dias.

Rodrigo Nascimento / revista@mazup.com.br Fotos divulgação



spotify e a evolução da forma

como ouvimos música Nas últimas décadas temos acompanhado um mercado fonográfico que esteve (e está) em constante transformação. Em 2015, dificilmente vamos às lojas de CDs, não concorda? Por outro lado lotar os gigabytes dos discos rígidos de nossas máquinas com álbuns e discografias está se tornando pouco funcional. Especialmente porque queremos consumir mais e melhor e estamos sedentos pelo novo, musicalmente falando. A popularização da internet mudou também a forma como percebemos e ouvimos música. E mudou em duas frentes diferentes. Se antes fazíamos downloads, hoje o streaming é uma opção mais prática. Existem mais recursos à disposição quando queremos ouvir música e, ao mesmo tempo, infinitas opções de artistas com as sonoridades mais diversas à distância de um clique ou toque.

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As empresas de tecnologia da informação encontraram uma mina de ouro no streaming e investem pesado em sofisticados aplicativos que refinam a forma com que cada usuário ouve música, recebe sugestões de artistas, elaborando perfis musicais cada vez mais personalizados e minuciosos. No popular streaming, a mídia é reproduzida à medida que chega aos usuários - a velocidade de reprodução depende da conexão -, não ficando armazenada no disco rígido de quem reproduz o conteúdo. De uns tempos pra cá, especialmente dois aplicativos se tornaram comuns no Brasil: o Spotify e o Superplayer. Grooveshark, LastFm, Deezer e Rdio são outras opções às quais os usuários já estão familiarizados há um pouco mais de tempo. Ao redor do mundo o Spotify possui cerca de 60 milhões de usuários ativos em dados do fim do ano passado.


Deste percentual, cerca de 15 milhões são assinantes do serviço e pagam pela versão premium. O que diferencia o serviço de outros do mesmo segmento - o streaming de música - é o vasto catálogo oferecido. Um serviço do tamanho do Spotify é duplamente vantajoso. Quem ouve se beneficia, e quem produz, também. Isso porque o aplicativo é capaz de apresentar e sugerir qualquer novo artista em ascensão ou nova música em perfis próprios, playlists de usuários ou mesmo nas organizadas pelo próprio Spotify. O serviço que surgiu na Suécia possui algoritmos capazes de refinar e sugerir músicas de acordo localizações ou datas, primando pela experiência do usuário. Apesar de ser uma ótima alternativa, nem todos os artistas concordam o serviço. A cantora Taylor Swift, por exemplo, acionou a justiça em 2014 e retirou todas as suas músicas do Spotify. Recentemente, em entrevista, Björk disse que o streaming gratuito não parece ser uma coisa justa. “Não é sobre dinheiro, é sobre respeito, sabe?”, ela declarou no momento em que decidia não disponibilizar o Vulnicura, seu lançamento recente, no aplicativo. De fato o Spotify e os outros serviços de streaming pagam para o artista cada execução de suas músicas.

Obviamente o valor é menor do que aquele que o artista receberia se o usuário comprasse o álbum, por exemplo. No fim de 2013, cada artista recebia cerca de R$ 0,015 por execução. Ao passo em que temos quem discorde do serviço, e à Taylor Swift e Björk se junta Thom Yorke, do Radiohead, existem artistas - Lorde é um exemplo -, cuja visibilidade cresceu de forma estrondosa com a ajuda do Spotify. À Lorde se soma um grande número de artistas ascendentes que você pode ouvir se procurar playlists de músicas alternativas ou nos lançamentos recentes, como Bebe Rexha, American Authors, MisterWives, Zella Day, Vance Joy e James Bay. Dividindo ou não opiniões, o fato é que o Spotify e serviços similares são a evolução da forma como ouvimos música. E tão saudável quanto ouvir, é descobrir novas sonoridades e artistas, navegando por um sem-fim de opções, já que o novo é o que mais nos encanta.

Lucas George Wendt gosta do que está entre aspas e além das reticências, das batidas da música, das cores, do movimento e das letras. Ilustração Rafael Coala


conversa casual Crônicas parisienses: uma breve história sobre sobrancelhas Ângela mora em Paris desde setembro de 2014. É claro que ainda encontra alguma dificuldade em se expressar plenamente ou entender as minúcias e desdobramentos da língua de Rimbaud. Uma coisa foram as aulas de francês e todo o contato inicial com o idioma. No entanto, nada como o teste cotidiano de se deparar com os entraves da plena compreensão do vernáculo de um povo, isso dentro do território estrangeiro.

Enfim, o motivo de estar gastando seus sapatos na Europa passa principalmente por uma conclusão de doutorado. Contudo, é claro que aproveita seus raros momentos livres das obrigações acadêmicas para que assim, calmamente, possa desfrutar dos cafés, livrarias e vielas de Paris. Nada como absorver de verdade todo o brilho de uma cidade que pode ser (nunca demasiadamente) apreciada em filmes, poemas e cartões postais. Imagina ao vivo! No intuito de total absorção, mantém sempre os olhos bem abertos, aproveitando ao máximo tudo aquilo que a curiosidade insiste em imprimir dentro dela. Assim, aos poucos, o quebra-cabeça da língua começa a formar figuras e finalmente deixa de ser um emaranhado de formas descontínuas. Ângela já não mais ouve por ouvir, deixou de agir como um cego caçando imagens no escuro. Agora, ela realmente escuta. E

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desde então, passou a compreender detalhes da maneira de ser e sentir dos parisienses. Nada invasivo ou na intenção de xeretar a vida dos franceses. Apenas uma tentativa de aprender, compreender, melhorar o vocabulário e, principalmente, aumentar o repertório, abreviando dificuldades em se comunicar. Às vezes, até mesmo com palavras de uso não indicado em alguma aula, protocolo ou pela famosa “etiqueta” francesa, entretanto, nada como adentrar no jogo coloquial e estar inserido dentro do contexto diário. Era manhã de segunda-feira, Ângela caminhou pela Du Clos D’Orléans, rua em que fica a casa onde está hospedada, rumo à estação do metrô, próximo à Gare de Fontenay Sous Bois. Seu destino é a Sorbonne Nouvelle Paris 3, universidade na qual faz seu doutoradosanduíche. E então se senta atrás de duas amigas que conversavam e faziam


gestos sem parecer se importar com quem estava próximo. - O que eu faço? A última dele foi reclamar da minha sobrancelha. Disse que deveria ser mais delicada... Poxa, eu gosto da minha sobrancelha! - Ah, bom, Bela, porque se dissesse que ainda gosta dele, eu ia te xingar. Faz assim, sugere pra esse idiota procurar emprego numa estética. Assim, quem sabe ele mata a vontade de desenhar sobrancelhas o dia todo. Ah, e manda esse asno pastar, é óbvio! Ângela ficou rindo sozinha. “A velha busca do amor e da aceitação é um desejo universal”, refletiu. Claro que a essência não se resume ao fato de uma sobrancelha estar bem delineada ou não, contudo, é impressionante como as pessoas se submetem a minúcias como essa, em busca de migalhas de amor ou aceitação. E aquela moça do metrô era linda! Colocou o capuz e subiu as escadas da estação. Puxou o espelho de maquiagem da bolsa e concluiu que precisa encontrar uma esteticista para emparelhar suas sobrancelhas. Ah, essas mulheres! *Esse texto foi baseado numa história compartilhada pela amiga Carla Torres, jornalista que atualmente faz doutorado em Paris. A mademoiselle também colaborou na crônica, ao sugerir desdobramentos e as linhas finais.

Márcio Grings é escritor, jornalista e radialista. Esta e outras histórias, leia no blog do Grings: portalbei.com.br/grings Ilustração Felipe Johann


DESABAFO Prototipar é vital! “Ser beta”. Fofoco – hihihi - um dos pensamentos que tem (desde o princípio) servido de guia interno para nós, mazupers. Esta ideia de “permanecer em uma perna só” não só nos desagrada como também seria um tumor mortífero em nossas mentes. E desse medo de que as coisas continuem sempre iguais, inflexíveis e intolerantes, nasce o entendimento de que nada é perfeito e, logo, tudo pode ser lapidado até atingir sua melhor forma. Eis esta edição, como principal prova e testemunha: “juro falar somente a verdade!”. Sendo um protótipo de si mesma, você percebeu que a Os Novos Loucos assumiu várias matérias de capas – como as apelidamos. Sim, assim mesmo. A proposta de aprofundar as pautas secundárias e dar a elas mais páginas dentro da revista vai de encontro a outra bandeira nossa: o comprometimento com o coletivo!

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Não, não queremos, nunca pensamos e sequer mentalizamos a ideia de empurrar conceitos goela abaixo da sociedade. Como tudo tem, no mínimo, dois lados, o que nos torna mais “donos da razão” do que aqueles que debruçam seu tempo e sua curiosidade ao ler esta revista? As novis da número 14, antes de ganhar nossa conclusão sobre tais modificações, foram sugestões de quem a consome e não a faz. E é isso: atendemos os seus pedidos, pois com eles aprendemos que há um crescimento mútuo quando há respeito. Porque, leitor, se assuste, sinta medo, tenha preocupação, quando oferecerem a você verdades absolutas. Sempre há o “que” de desumanidade em declarações que negam que as realidades são, sim, multifacetadas. Chamamos de “beta” a edição da Velha Rasgada, mas admito: há 14 edições isso ainda não mudou.

Kelly Raquel Scheid / kelly@mazup.com.br Ilustração Davi Sommerfeld




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