17ª Revista Mazup - Para onde vai seu tempo?

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não recomendada < 18 anos.

eDIção 17 Ano 3 - Set-out/15 DiStRibUiÇÃo FREE

pARA ONdE vai seU temPo?










ROLÉ PELA EDIÇÃO

LETRA DE QUEM LEU

NOSSA CAPA

eXpediente

12 Trash Net 14 Beer Session / Muito além dos 50 tons de loiras 20 Quem nunca? / Mentindo para o chefe 21 Conversar com estranhos nos deixa mais felizes 22 Horóscopo maldito / Falsiane 24 #TemCuPaEu / Efeitos colaterais 26 Nem oito, nem oitenta / Mais bom senso, por favor! 28 Capa / A moeda mais valiosa da atualidade 36 Quando o Brasil descobre a Europa 32 Troninho / Para sempre, crise 41 J.K. Rowling revela detalhes sobre a família Potter

44 Economia Colaborativa: a nova alma do negócio 48 Não seja de tretas, seja de boas 49 Xô, fumaceira 50 Coluna do Lucas / A música e seus resgates 52 Publieditorial / Felicidade, futebol e encontros emocionantes marcam alunos gaúchos 56 Conversa Casual / A curva do rio 58 Desabafo / Click!

Entrevistas e artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da Revista Mazup. Ficou na dúvida, tem sugestões ou quer dar letrinha? revista@mazup.com.br

Direção Maico Eckert maico@mazup.com.br

Redação Bárbara Corrêa revista@mazup.com.br

editora Kelly Raquel Scheid kelly@mazup.com.br

Bárbara Scheibler Delazeri revista@mazup.com.br

leitura experimental Bárbara Scheibler Delazeri

João Timotheo Esmerio Machado revista@mazup.com.br Kelly Raquel Scheid kelly@mazup.com.br

eduarda wildner johner “Tenho uma coleção de revistas Mazup em casa e sempre me surpreendo com as escolhas de fotos e ilustrações das matérias! Na edição 16, por exemplo, parabenizo as imagens de Verdades discutíveis, além do texto: adoro as matérias que exploram conteúdos mais filosóficos. Os textos que trazem assuntos mais descontraídos também curto muito!”.

Lucas George Wendt revista@mazup.com.br Márcio Grings revista@mazup.com.br Rodrigo Nascimento revista@mazup.com.br Produção de capa e matéria principal Bianca dos Reis e Gustavo Tomazi


Karine Ciceri Fernandes “Acompanho as revistas Mazup e, sempre, o que mais me atrai é o quadro Horóscopo Maldito – dou boas risadas com ele! Na última edição, me surpreendi com O amor em tempos de diversidade: nunca tinha lido uma matéria tão real e bem retratada, ao mesmo tempo, por ainda trazer um assunto tão polêmico e que divide as opiniões das pessoas. Foi escrita de um modo muito claro e gostoso de ler”.

Comercial Douglas Kerber douglas@mazup.com.br

Aline Horn “Sempre garanto a minha revista Mazup, a cada edição! Em Sociedades Alternativas, tive o prazer de ler mais uma matéria incrível, abordando a tendência das cervejas artesanais, que vêm conquistando muitas pessoas, inclusive, as mulheres. Na nossa região do Vale do Taquari cresce o número de cervejeiros, mostrando que elas vieram para ficar. Acredito que a matéria reuniu atualidade, informação, história e um assunto que eu amo: cervejas!”.

Projeto gráfico Pedro Augusto Carlessi

Maico Eckert maico@mazup.com.br

Diagramação Dobro Comunicação Felipe Johann

Modelos Amanda Natacha Appelt

Impressão e CTP Grafocem

Agradecimentos Amanda Natacha Appelt e Stock Shop (Lajeado)

Carolina Berwanger “A revista Mazup é simplesmente genial! Os assuntos são abordados com uma leveza incrível e nos fazem refletir sobre nosso cotidiano, indiretamente. A última edição trouxe a nova tendência masculina de colorir barba e cabelo e, confesso, que o cara de cabelo e barba azul me fez lembrar aquele monstrinho azul – Sullivan – do filme Monstros S.A.. Parabéns, pessoal! A revista está incrível!”.

(51) 3748-2459 Rua Júlio May, 217/03 Lajeado/RS Mazup é um veículo multiplataforma de comunicação jovem.

Adrieli Souza Braga “Embora tenha lido uma edição, curti a revista Mazup! Ela conquista o interesse das pessoas para a leitura e, como sou jovem, gosto de estar por dentro dos assuntos do momento, além de conhecer coisas diferentes – como os assuntos trazidos no quadro Trash Net. Não apenas eu, claro: afinal, a revista é top demais!”.

mazup.com.br revista@mazup.com.br tonomazup mazup tonomazup


trash net

MUSIC EMOJIS Já pensou se seu artista ou banda favorita tivesse um emoji? Massa, né? Para o diretor de arte Bruno Leo Ribeiro o desejo não ficou só na imaginação: o cara, através do tumblr Music Emojis, transformou importantes nomes da música nas figuras famosas entre os donos de smartphones. O projeto do brasileiro ainda está em fase de ampliação, mas quem sabe não vira realidade?

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VOCÊ TEM MAIS SUCESSO QUE IMAGINA No dicionário Merriam Webster, “sucesso” é sinônimo de grana e fama. Será que é só isso? Uma campanha da Strayer University, dos EUA, em parceria com a mídia A Plus, mostra o que as pessoas realmente acreditam significar o termo “felicidade”. No experimento You’re More Successful Than You Realize (vídeo no YouTube), os desafiados tiveram que dar uma nota para si mesmo e depois receber uma pontuação de alguém que ama. Dá o play e se emocione!

FITAS K7 REBOBINADAS Obsoletas, as fitas K7 podem, sim, ganhar um final feliz! As que caíram nas mãos do artista e designer francês Benoit Jammes não têm do que reclamar: depois de filtradas pelo imaginário do cara elas se tornaram a divertida série Cassete Relooking. Do Homer Simpsons a Kill Bill, do sanduba à jaula, vale a pena conferir as obras de arte no Flickr dele. O álbum dedicado às fitas cassetes é nomeado de [o-o].

E SE SEU CHEFE FOSSE UM GATO? Gatos são egoístas, independentes e acham você, humano, inferiores a eles – sim, a ciência já comprovou que os felinos enxergam seus donos como gatos gigantes. Agora, imagina se esse comportamento fosse... do seu chefe! Cogitando a possibilidade, o britânico Tom Fonder criou uma série em quadrinhos retratando como seria ter um superior com a personalidade de um gato. Traduzida em dez idiomas, As Aventuras do Gato Empresário pode ser conferida em businesscat.happyjar.com/pt-br/!



mUito alÉm dos 50 TONs dE LOIRAs São APenAS quATRo IngReDIenTeS PRInCIPAIS PARA TeMoS A TeRCeIRA BeBIDA MAIS APReCIADA PeloS quATRoS CAnToS Do MunDo, APóS águA e CHá: A CeRvejA. A FAMoSA “loIRA gelADA” SuRge DA MISTuRA De águA – que, DePenDenDo DA CeRvejA A SeR PRoDuzIDA, Deve eSTAR CoM Seu PH neuTRo enTRe 6,5 A 7,0 – CoM:

LÚpULO Planta que dá características sensoriais de aroma e sabor à bebida – que se torna mais amarga à medida que esse ingrediente é intensificado na receita. Predominantemente, as flores fêmeas são utilizadas por terem maior quantidade de óleos essenciais e resinas do que os brotos masculinos. É responsável por condicionar as sensações cítricas, herbais, frutadas, florais e condimentadas da cerveja, aumentar o potencial de conservação da mesma e contribuir na retenção da espuma;


MALTE

LEVEdURAs / Fermento

Cereal ou composição de cereais que, durante o processo de brassagem, estimula – por hidrólise – a fragmentação do amido dos grãos. Além de contribuir com o aroma e o sabor, o malte influencia principalmente na coloração e densidade da cerveja. Importante entender que, apesar de todo o cereal poder virar malte, não significa que qualquer planta caracterize uma receita de cerveja, pois o cereal escolhido interfere muito no sabor da bebida. Por isso a cevada é o principal cereal transformado em malte na produção do líquido - no entanto, outros cerais podem cumprir a função tão bem quanto ela, como o trigo e o centeio;

Fungos unicelulares que se alimentam da quebra do amido, processo que acaba na formação de álcool e gás carbônico, além de outros subprodutos derivados da fermentação. Dependendo da temperatura, os micro-organismos podem atuar na superfície ou no fundo do fermentador e, ainda, de forma espontânea.

obviamente, outros ingredientes podem ser adicionados à fórmula de uma cerveja, como os polêmicos cereais não maltados. Costumeiramente, eles são inclusos em uma receita para atenuar ou acrescentar sabor ou ainda baratear o custo de produção, como ocorre com as massificadas. também clareiam o líquido, contribuem para a fermentação e dão uma força para uma das missões do lúpulo: a de estender o prazo de validade.

No caso das cervejas brasileiras, cujas quais a legislação permite que tenham até quase metade de suas receitas compostas por cereais não maltados, a adição de milho ou arroz nas industrializadas também visa tornar a bebida mais leve para agradar o paladar brasileiro, já que vivemos em um país de clima predominantemente quente - além do bolso, claro. A opção também é um reflexo da escassez de cevada produzida no território nacional. Além da cevada, trigo, centeio, milho e arroz já citados, a aveia e o sorgo também são cereais liberados para compor cervejas produzidas e comercializadas no Brasil. A padronização ainda prevê que, assim como cereais – maltados ou não – possam substituir parte do malte de cevada, carboidratos de origem vegetal também são permitidos. No entanto, o acréscimo de cereais não maltados vai contra a Lei da Pureza da Cerveja, a Reinheitsgebot, promulgada pelo duque Guilherme IV da Baviera, em 23 de abril de 1516. Venerado até os dias de hoje, o decreto alemão instituiu que a bebida fosse fabricada apenas com água, lúpulo e malte de cevada – determinações sobre a fermentação e o malte de trigo, por exemplo, foram inclusas séculos mais tarde.


Por prezar por cervejas “puro malte” – composta apenas com cereais maltados – é que a artesanais se sobressaem às massificadas, porém vale o parêntese: quando dar de cara por aí com a descrição “puro malte” em um rótulo, não significa que a cerveja em questão tenha sido fabricada seguindo à risca a Lei da Pureza. Na verdade, a indicação garante que a bebida foi produzida sem a presença de cereais não maltados e que você vai consumir um produto que respeita os delicados e paulatinos padrões de qualidade, estipulados por uma das mais antigas regulamentações alimentícias, mas que pode conter outros ingredientes. Sendo assim, uma cerveja artesanal pode receber frutas, ervas e especiarias em sua receita e manter a qualidade exigida pela Reinheitsgebot e este é outro fator que dá créditos às artesanais: enquanto elas buscam transcender a gama de aromas e sabores oriundos do lúpulo, malte e ação das leveduras agregando ingredientes megainovadores – de bacon (Estados Unidos) a chocolate (Inglaterra) – as cervejas massificadas, produzidas em alta escala, adicionam aditivos químicos como corantes, conservantes e estabilizantes, prejudicando a nutrição do líquido, apenas com o objetivo de acelerar a produção e tornar o produto mais competitivo financeiramente.

Kelly Raquel Scheid / kelly@mazup.com.br

pROcEssO dE pROdUÇÃO

MOsTURA 1) Cereal passa pela moagem para que o amido fique exposto; 2) Após, é macerado com água quente, processo em que as cadeias de amido são quebradas em cadeias de menores de açúcares, formada por duas moléculas de glicose; 3) A pasta é filtrada sobrando apenas o líquido açucarado, chamado de mosto. Nesta etapa, cereais não maltados são adicionados (caso a receita contenha esse ingrediente).

FERVURA E REsFRIAMENTO 1) O mosto é fervido para esterilização, por cerca de 90 minutos. Durante o processo, as proteínas coagulam e os extratos do lúpulo são adicionados aos poucos, conferindo o amargor; 2) Na decantação, as proteínas coaguladas afundam; 3) O mosto é resfriado em temperaturas que variam de acordo com o tipo de receita, considerando a etapa de fermentação.


FERMENTAÇÃO 1) Já em tanque apropriado, os açúcares do mosto são consumidos pelas leveduras por cerca de cinco a dez dias. Aqui, a temperatura também é controlada, em função do tipo de cerveja desejada.

MATURAÇÃO E FINALIZAÇÃO 1) Podendo durar de dias a semanas – até mais de um mês – e ocorrendo em baixas temperaturas, a maturação permite que as substâncias do mosto fermentado se misturem; 2) O líquido é submetido a uma última filtragem – nem todas as cervejas passam por esse processo; 3) Para neutralizar qualquer levedura viva entra a pasteurização, aumentando em seis meses a validade da cerveja. Tal etapa não ocorre com o chope, que deve ser consumido em cerca de 15 dias.





Conversar com estranhos nos deixa mais felizes Acha um saco dar atenção para pessoas desconhecidas quando elas puxam papo no elevador, na fila do banco ou em uma sala de espera? Putz, melhor mudar: você pode estar perdendo doses diárias de felicidade.

Contrariando tudo que ouvimos na infância, lá vem a ciência. Um estudo da Universidade de Chicago Booth School of Business testou passageiros de um metrô para comprovar o benefício.

Em estudo realizado no transporte público de Chicago — por investigadores da Universidade Booth School of Business —, três grupos de passageiros foram convidados a falar com um estranho em um metrô, se sentar tranquilamente sozinho ou apenas fazer o que eles fazem normalmente em seu trajeto. Após, eles responderam um questionário sobre como se sentiram durante a viagem e aí vem o grand finale: aqueles que conversaram com desconhecidos relataram experiências mais prazerosas do que aqueles que ficaram solitários.

As respostas foram comparadas com o terceiro grupo, que ficou encarregado de prever como se sentiria em situações parecidas. De longe, a maioria concordou que trocar uma ideia com estranhos no metrô faria, sim, o dia delas bem mais feliz. A experiência, ocorrida no fim do ano passado, mostrou ainda que temos a equívoca impressão de que as pessoas não têm vontade de bater um papo. Errooou: com exceção dos mal-humorados ou dos que tiveram um dia ruim, parece que conversar com estranhos deixa melhor o dia de qualquer um.

Kelly Raquel Scheid kelly@mazup.com.br Foto divulgação

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HORÓSCOPO MALDITO Depois de exaustivas observações e traumatizantes convivências, desvendamos o lado Falsiane de cada nativo do zodíaco. Se você não as conhece, sorte a sua: extremamente engenhosas, elas costumam se fazer de “amiguinhas”, transbordam elogios e conselhos – ambos falsos – e não medem esforços para descobrir todos os seus podres só para fofocar depois.

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ÁRIES (21 de março a 20 de abril) A mais “pirigosa” de todas! Sabe aquela sua amiga com cara meiga? Meigalinha? Então, não se iluda com ela, afinal, se tem uma pessoa de quem a Ariane está querendo ficar mais íntima é do seu boy, hein. O pior de tudo é que a fura-olho só faz essa escrotice para provar que é melhor do que você. TOURO (21 de abril a 20 de maio) Você mal dá “oi” para alguém e ela já começa com drama, lágrimas e a ordem: “ela ou eu?”. Tourianes, além de não dividirem amizades, são péssimas em conquistar novas. Você

deveria processar esta sanguessuga por todas as amigas perdidas zilhões de vezes melhores que ela! GÊMEOS (21 de maio a 20 de junho) Vive falando mal pelas suas costas, mas é só você aparecer para a mágica acontecer. Tcharan! Ela se transforma na amiga mais preocupada que alguém poderia desejar. “Seje menas” sonsa, queridinha. Gemiane, lava estas duas caras no Piscinão de Ramos, tá? CÂNCER (21 de junho a 21 de julho) A Canceriane é a nativa que mais coleciona papeis de trouxa. Carente, ela é


a primeira a abandonar você assim que um “ombro amigo” aparece, para depois, claro, voltar correndo para os seus braços e choramingar as mágoas deixadas pelos “homi”.

achar superior às outras Falsianes, mas, na verdade, é superdependente da aceitação alheia. É aquela sua amiga que você também pode considerar inimiga, tá, flor?

LEÃO (22 de julho a 22 de agosto) A que mais pega carona no brilho e glamour dos outros. Banca a “amiguinha” só para passar de coadjuvante a atriz nos 15 minutos de fama alheios. Facilmente identificada por sua compulsividade em se “amostrar” onde e quando for. Apenas, pare, Leoniane!

ESCORPIÃO (23 de outubro a 21 de novembro) Escorpiane, você não tinha nem que estar lendo isso, querida. Marcadas pela desconfiança, estas nativas não dão créditos nem à própria sombra e induzem você a acreditar que só pode confiar nelas em toda a face da Terra.

VIRGEM (23 de agosto a 22 de setembro) Falsiane-vai-com-as-outras total! Quase tão trouxa quando a Canceriane, a coitada morre de medo de ser desprezada! Além de pagar de tapete para os outros pisarem, a Virgiane é aquela criatura que vive dando explicações e vive imitando você. Um encosto, literalmente!

SAGITÁRIO (22 de novembro a 21 de dezembro) Rainha das crises existenciais, só procura você quando está com algum problema - e nunca, nunca, pergunta como está a sua vida. Quando você compra ou ganha uma coisa nova, Sagitianes são as primeiras a soltar “que lindo! Ai, quero emprestado!”. Se orienta, queridinha!

LIBRA (23 de setembro a 22 de outubro) Julgar é seu hobby. As Librianes são experts em disseminar fofocas, também conhecidas por “leva e traz”. Adora se

CAPRICÓRNIO (22 de dezembro a 20 de janeiro) A Capriane sempre acha que você é burra e que seus conselhos são ruins. Adora

detonar você e, de preferência, no meio de todo mundo. Normalmente, com patadas ou brincadeiras em forma de elogios. Agora, faça o mesmo com ela: você é quem vai assumir o papel de lobo mau. AQUÁRIO (21 de janeiro a 19 de fevereiro) Melhor Falsiane! Aliás, pior! Dissimulada, ela consegue unir cada “superpodre” de cada Falsiane do zodíaco e imperar sobre todos os outros signos. Não tente se vingar: Aquarianes sempre vão estar à frente em algum ponto e deixar você com o corpo nos trilhos de trem.

PEIXES (20 de fevereiro a 20 de março) Mais sonsa não tem! A Peixiane vive se fazendo de desentendida. O pior é que a fofa tem uma cara linda e sempre consegue o papel de vítima. É típico desta nativa postar indiretas nas redes sociais, porque, pessoalmente, não tem peito para isso. Põe a cara no sol, mana!


#TEMCUPAEU

às vezes, é do chão molhado ou da vontade de “saber se ele (a) sentia minha falta, porque eu não sinto”. “Socorr”, não sei quem é mais hipócrita: essas criaturas que não aceitam que eu só as dei coragem para fazerem o que já tinham vontade ou esses que sequer admitem que, sim, beberam um pouco além da conta a ponto de se deixarem levar pelas emoções. Que mal tem tomar umas biras com a galera, gargalhar sem precedentes e rir mais no dia seguinte por lembrar da noitada anterior? Desde quando curtir a vida com amigos é motivo para se envergonhar? Mico mesmo é encher a cara e pegar o carro.

Efeitos colaterais

“O álcool entra e a verdade sai”: ah, como eu sou inspirador! O que foi? Nem me olha com esta cara de quem comeu e não gostou, aliás, de quem bebeu e fez coisas que, literalmente, gostaria de beber mais para esquecer. De escorregar e ficar deitado no chão a mandar mensagem para ex... Já recebi relatos e soube de boatos que, nada pessoal, mas me fizeram sentir vergonha alheia. Ah, e a culpa? Minha – nem preciso dizer, né? Quer dizer,

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Indigno é desrespeitar a vida – tanto a sua como a dos outros. Indecente é julgar hábitos e companhias que permitem que você seja, transparentemente, você mesmo. Desonesto é mentir para si próprio e para o mundo sobre as coisas que dão felicidade a você. Ah, vale a lembrança: se beber, jamais dirija. Um brinde, Álcool

Ilustração Felipe Johann



Nem oito, nem oitenta

Mais bom senso, por favor! E menos “eu tenho direito, que outros respeitem isso e cumpram seus deveres”. Essa situação lembra você de algum contexto? Poderia se encaixar em vários, né? Mas existe um em que o comportamento “cada um olhando para o seu umbigo” já é figurinha carimbada: o trânsito.

Convenhamos, está para ser criado ambiente de convívio a céu aberto com tanta gente parida por puta, corna e, obviamente, sem papas na língua. Português cede lugar para “xingamento”, língua nativa do ringue em que ninguém fica na torcida. Tanto pedestres como motoristas são os astros das batalhas. Quem vence? Nesse ambiente, nada de vilões ou mocinhos: ninguém fica com o papel de cordeiro. Tanto que, as punições previstas pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) não são destinadas unicamente a condutores de veículos motorizados. Pedestres também receberam algumas das atuais 454 multas – total que pode variar com a influência de leis municipais e/ou estaduais. Surpreso? Não é para menos. Afinal, já viu ser infracionado alguém que esteja andando por aí? A verdade é que desde que o CTB entrou em vigor, em 1998,

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os órgãos que atuam no controle de trânsito tomam um chá de cadeira do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) sobre qual será o mecanismo para a aplicação de autuações em pedestres. É óbvio que a teoria de certas leis foi pensada sem a sua exequibilidade. Culpar os caras de Brasília também é óbvio. Mas não são apenas eles a raiz do problema. A política é um espelho da sociedade, enfrentemos. Reflita: se nós, cidadãos, tivéssemos a cultura do “bom senso” será mesmo que estaríamos nessa discussão sobre leis que não funcionam na prática e a falta de habilidade para a fiscalização dos setores responsáveis? Quantos casos de absurdos que presenciou no trânsito você deve estar se lembrando agora – todos esses, cometidos pelos outros. Por você? “Não que eu me lembre”! Em terra de “cada um olhando para o seu umbigo” também é comum a hipocrisia.


Sejamos sinceros que ninguém vai deixar de atravessar uma rua na metade da quadra só porque a faixa de pedestres está lá na esquina. Assim como nenhum motorista freia para todo o pedestre que está na beira da calçada esperando chegar no outro lado. É assim que funciona, autoridades! A prática não é perfeita como, um dia, sonharam ao formular a legislação. Provavelmente, nem você nem eu conseguiremos seguir piamente tudo o que está determinado pelo Código Brasileiro de Trânsito e o porquê está explicado na própria pauta principal desta revista: o tempo. Infelizmente essa é a realidade do mundo contemporâneo e capitalista e as pessoas parecem fazer questão de não mudar isso. O relógio e cada tic-tac a menos que desperdiçamos até o próximo destino ou afazer, lamentavelmente, parece nos condicionar ao erro. Pesar no bolso, como forma de punir, pode até ser uma solução, no entanto, sempre será uma medida superficial: as pessoas aprendem a respeitar as leis e, ops, cadê a consideração pelas... pessoas? Punir com grana só nos deixa mais egoístas do que já somos. Precisamos mudar valores humanos e não materiais, para conseguirmos respeito genuíno. Vamos começar? Você e eu?

Em locais onde não há semáforos ou faixas destinadas à travessia, pedestres têm, sim, prioridade sobre veículos, mas a preferência não é absoluta, como muitos estão enganados – ou fingem desconhecer. Quando há uma sinaleira na história quem dita quem anda e quem para é a cor de luz da mesma – e, não, não é a sinalização horizontal. Bora, pedestre, respeitar o sinal verde para os veículos e não fazer uso abusivo das faixas de travessia e do argumento “eu sou o mais frágil do trânsito”? Ah, e motoras, “de boas” se vocês não pararem para alguém que está precisando atravessar a rua quando são os únicos a dirigirem na via. Mas, poxa, quando há dezenas de vocês, parem na faixa de pedestres para a galera que está a pé e também precisa chegar a algum lugar – ainda mais se estiver chovendo! Afinal, em algum momento do dia vocês também são pedestres. Gentileza gera gentileza.

Kelly Raquel Scheid kelly@mazup.com.br Ilustração Felipe Johann

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CAPA

A MOEdA mais valiosa da atUalidade ReFlexõeS SoBRe A FíSICA, FIloSoFIA e SoCIologIA Dão ConTA De que A InvenTIvIDADe Do HoMeM eSBARRA nA InCAPACIDADe De ReCRIAR o TeMPo. Ao ConTRáRIo, PARA gAnHá-lo, noS ToRnAMoS eSCRAvoS De noSSAS AngúSTIAS e DeSejoS. enTRe, SenTe-Se e DeSlIgue o CRonôMeTRo. SejA BeM-vInDo à eRA DA FAlTA De TeMPo!

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Um prólogo sobre o tempo, sobre a sociedade... Pare um pouco o que está fazendo e dedique um tempo a estas páginas. Neste momento, pense em nada. Tente fazer isso por cinco, dez, quinze minutos, depende do tempo que leva para ler. Prometemos ser breves, talvez, mas, com certeza, úteis. No mesmo tempo em que você está lendo esta reportagem, sobre o tempo, milhares de mensagens via celular são enviadas. Milhões de cliques em páginas da internet são dados. Milhões de perfis, em redes sociais são visitados e bilhões de likes em fotos e comentários são feitos, ao redor do mundo. O homem conseguiu recriar e inventar quase tudo, menos o tempo. Tornou-se escravo dele e hoje lamenta os minutos perdidos – inclusive, sobre aquele dedicado a uma boa leitura. Não há tempo para coisa alguma. Todos correm em um frenético vai e vem, apressados para ganhar dinheiro, fazer algo a mais para si, a fim de garantir uma boa escola para os filhos ou aquela viagem de férias e esquecem de que o tempo que se esgota nessa busca incessante não volta. É impossível de ser freado, comprado, retrocedido.

Está com tempo ainda? Siga com a gente. Para a física, o tempo está dentro de uma concepção realista, ou seja, ele existe mesmo. Em dimensões diferentes, caminhos e distâncias, o tempo cruza por nossas vidas e altera o curso dos acontecimentos. Contudo, na própria física ele causa controvérsia. Isaac Newton acreditava em uma linearidade absoluta. Para ele o tempo era único. Seu colega, Albert Einstein, já via o tempo com outros olhos. O físico alemão explicou que o tempo é relativo. Que está ligado a uma dimensão. Em outras palavras, falar de tempo é falar do espaço. Qual é o seu espaço? Se sua dimensão está entre o mundo virtual e o real, você sente a falta de tempo, pois o tempo presencial é diferente do virtual. Adolf Hitler acreditava que dominaria o mundo com o uso do telégrafo. Pobre ditador. Se tivesse conhecido os modernos smartphones, riria de si mesmo.

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O tempo das experiências

Para o professor de filosofia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise, Júlio Bernardes, o tempo visto por meio do pensamento – psique –, está ligado às experiências pessoais de cada indivíduo. Quando essas experiências são permeadas pela tecnologia, a contagem do tempo é distorcida e é aí que mora o perigo. “Por isso que temos a impressão de que estamos

vivendo um delay (atraso) em relação ao que acontece. Parece que o tempo já passou, porque a experiência é outra, o estar presente é diferente”. O que a filosofia quer dizer é que, pelo simples fato de agregar a tecnologia ao nosso cotidiano, quebramos a linearidade do tempo. Reinventamos a lógica do viver conectado e por isso temos a impressão de que estamos sempre atrasados. Georg Wilhelm Friedrich Hegel: você já ouviu falar dele? O filósofo alemão, que viveu na época do vapor e não do digital, já previa que o tempo é dialético, ou seja, antecipou Einstein: é relativo. O pensamento de Hegel diz que o passado se repete no presente, pois continua naquilo que já aconteceu e projeta no futuro uma continuidade do passado. Meio maluco? É, falar de tempo é assim.

O tempo e a modernidade Estudiosos contemporâneos atribuem à pós-modernidade a culpa pela velocidade do tempo. Municiamonos de equipamentos eletrônicos para acelerar nossas tarefas. Para ficar mais tempo livre? Negativo: justamente para fazer mais, produzir mais. Ganhar mais!

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O revés da tecnologia vem a galope, com a força de um alazão sobre nossas temporárias vidas. Quanto tempo você acredita que essa reportagem levaria para ser escrita, impressa e distribuída no modo antigo? Como os jornais do início do século XX? Arriscamos calcular: vamos pensar em uma época em que não existia internet, as ligações telefônicas eram difíceis – não que isso tenha mudado muito, afinal, o sinal de celular ainda nos deixa na mão nos dias atuais -, a forma de escrevê-la seria por meio de uma máquina de escrever, a montagem das páginas seria manual e a impressão quase que artesanal... Seria um tempão! Algo em torno de duas a três semanas – desde a concepção da ideia, pesquisa, entrevista e redação, revisão e finalização, falando apenas desta pauta e sem considerar um grande número de tiragem e período que precisaria ser dedicado à disseminação dos exemplares. Esse texto, com mais de dez mil toques, levou apenas três dias – não consecutivos – para ser redigido, corrigido e adequado ao formato da revista. Obviamente, além da consulta a especialistas, a pesquisa pode ser feita sem sair de casa, através de cliques. Mas, se tratando de produção, percebe em quanto reduzimos o tempo entre inicialização e finalização? Mais ou menos dez vezes.

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O advento eletrônico transformou o mundo em digital, conectado e sem tempo. O que Alvin Toffler, estudioso norte-americano, previa em 1980 como a “terceira onda” ou a “era da informação”, já estaria, considerando o que o autor entendia por pós-moderno, na quinta ou sexta onda. Quiçá, um tsunami sobre nossas pobres cabeças mortais e sem tempo.

O homem contemporâneo chegou ao clímax da tecnologia, mas se esqueceu de gozar enquanto havia tempo. Agora, corre atrás do prejuízo e tenta descobrir um meio de frear a correria das horas, dias e minutos para conseguir respirar. Possível? Você pode ter essa resposta!


A síndrome da falta de tempo Quando olhamos sem parar para o relógio e nos sentimos atrasados – e isso acontece mais que uma vez por dia –, sofremos da síndrome da falta de tempo. No campo da psique, a impotência é tratada como uma psicopatologia causada pelo efeito colateral da tecnologia. No entanto, algumas pessoas conseguem escapar dessa moléstia: colocam o valor do tempo – o capital intangível que mencionamos no início desta discussão – como o mais valioso de suas vidas e elevam sua condição. Não pouco comum, em um movimento contra-contemporâneo, é possível observar profissionais que deixam seus afazeres corridos para retornar ao campo, que um dia tirou as famílias da vida natural para açoitá-las com a falta de tempo na selva de pedras.

Desligar o celular da rede de dados pode ser um bom exercício para deixar de viver no movimento alucinado da informação. Lembra quando discutíamos quanto tempo se leva para escrever uma reportagem?

O desafio do tempo Quanto tempo você levava para transmitir uma mensagem a alguém sem dispositivos móveis e recursos online? Estamos falando de cerca de cinco anos atrás, quando o advento da comunicação tanto mobile quanto por aplicativos se tornou de massa. Pois é... Quantas vezes, ao ler esse texto, você mexeu em seu smartphone, para ver quem está ativo no WhatsApp, leu uma mensagem ou até mesmo respondeu para suas dezenas de contatos ou grupos? Se você está nessa, amigo, você sofre da síndrome da falta de tempo – desculpa aí. Hegel, aquele velhinho simpático que lá atrás falou em tempo cíclico, ou que se repete, acreditava também que na ânsia de dominar a natureza, suas forças e a própria vida na Terra, o homem tenta controlar o tempo. De certa forma, consegue. Enquanto você devora os recados em seu telefone, está escravizado. Consumindo o conteúdo, dispondo de

seu tempo, que passa a ser menor, por conta dos minutos e horas que dedica a comunicação digital. O tiro acertou o pé. Inventamos um mecanismo para controlar o tempo, distorcendo espaço e dimensão – como diria Einstein –, e nos prendemos a ele. A máquina do tempo da modernidade consome a experiência presente, que parece estar sempre no passado e todo o resto no futuro.

O tempo e o trabalho Olhe a sua volta. Quantos equipamentos fazem você trabalhar mais, em menos tempo. O professor de Administração, Celso Cardoso Pitta, mestre da Universidade Paulista (Unip), frisa que é no ambiente de trabalho que estão as maiores armadilhas do tempo. Segundo ele, o mercado de trabalho contemporâneo defende a lógica da “rapidez como sinônimo da eficácia”. Comum é ver seu chefe dizer: “Fulano, isso é para ontem!”. A primazia na execução das tarefas, tendo o relógio como o escravizador, é confundida com a administração do desempenho. Pitta diz que essa linguagem administrativa “viola as regras básicas da convivência e dificulta a formação do pensamento criativo”.

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Será que o mundo acelerou? Desde a década de 1950, estudiosos do mundo todo dedicam seu tempo – olha só –, para estudar a falta dele. Uma das teorias mais famosas - e uma das mais controversas também – é a Ressonância Schumann. Ainda há tempo de ler? Está ficando mais interessante... O físico alemão W.O. Schumann constatou em 1952 que a Terra é cercada por um campo eletromagnético poderoso que se forma entre o solo e a parte inferior da ionosfera que fica cerca de cem quilômetros acima de nós, criando o que se chamou de “cavidade Schumann”. Nesse espaço, de acordo com o físico, se produz 7,83 hertz por segundo, em uma espécie de pulsação. É como se fosse o

marca-passo da Terra, garantindo a manutenção da vida no planeta. Essa frequência – 7,83 hertz – também é a mesma encontrada no cérebro da maioria dos seres vivos. Ao aplicar a teoria de Schumann, a partir dos anos 1980 e de forma mais acentuada a partir dos anos 1990, a frequência passou de 7,83 para 11 e, após, para 13 hertz por segundo. O “coração” da Terra disparou e parece que acelerou tudo junto com ele, especialmente, seu tempo precioso. Embora controverso, o físico alemão é defendido por outros estudiosos de renome. O teólogo brasileiro Leonardo Boff acredita que a frequência da

Terra – os 7,83 hertz por segundo, impactam, sim, a vida dos seres humanos. Em um de seus escritos, Boff cita que os astronautas, ao ficarem muito tempo fora do campo magnético do planeta, sofrem os efeitos, também da ausência dessa frequência. No entanto, nem mesmo a ciência confirma a teoria de Schumann. E existe “um milhão” de métodos empíricos e teses para tentar desacelerar o cérebro de quem, assim como propõe o físico alemão, disparou junto com a Terra. Uma das alternativas é tentar ficar livre da tecnologia pelo menos um dia por semana. Você é capaz?

Prozac não cura falta de tempo Embora psicanálise e filosofia desfrutem de áreas distintas do conhecimento, entrelaçam-se no conceito, pois ambas trabalham com o pensamento. As ciências admitem que chegará ainda o tempo da doença causada pela falta de tempo. A doença da alma, cujo tratamento do pensamento – a psicanálise – ficará represada nos consultórios. “A lógica cotidiana é outra. Quem tem tempo de ficar duas horas em um consultório falando de seus problemas? É muito mais fácil tirar a

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dor da alma com o Prozac ou com o Rivotril. Sobra mais tempo”, reflete o filósofo Júlio. Prozac, para os menos íntimos é a famosa Fluoxetina – agora você sabe de quem estamos falando. Porém, nem toda Fluoxetina do mundo é capaz de curar a ânsia da humanidade por tempo, pelo consumo da presença, pelo afeto, pelo espaço dedicado a si e suas angústias. “Chegarão novas disfunções, neuroses patológicas causadas pela fuga do

‘eu’ e dos problemas, antes curados com a psicanálise, hoje estancados pelos medicamentos”, prevê Júlio Bernardes. Para não ficar doente, desconecte-se, viva mais para si e seja menos ansioso. Será que é possível? Tentar não custa, a não ser um pouco de tempo. Se você conseguiu chegar até aqui, pode dar certo.

Rodrigo Nascimento revista@mazup.com.br Fotos Gustavo Tomazi Fotografia



QUando o Brasil dEscObRE A EUROpA


Entre os primeiros acordes e a repercussão nacional

Pela primeira vez no continente, o músico estrelense Conrado Vier encarou 25 dias pelo Velho Mundo, carregando na mala um violão e o sonho de embalar os europeus.

“Desde os 19 anos de idade, quando gravei meu primeiro disco, pensava em mostrar minha música para o mundo!”. Dito e feito: Conrado Vier, hoje com seis anos a mais, desbravou o oceano Atlântico para materializar um pedaço deste antigo desejo. Além de 13 estados brasileiros e os Estados Unidos, o estrelense levou sua música para cinco países do Velho Mundo, do qual retornou no fim de agosto. Sempre com um álbum novo para cada viagem, o terceiro CD, Grow Up – sucessor de Primeiro Passo e Música da Vida –, foi o parceiro inseparável do músico durante os 25 dias pela Alemanha, Espanha, França, Holanda e Portugal.

Formado em Canto, pela EST, e acadêmico em Direito, na Univates, arriscou seus primeiros acordes no violão com 12 anos de idade, interesse que surgiu ao ver o irmão mais velho tocando. No entanto, sua relação com a música iniciou ainda na infância: “Antes mesmo de começar a tocar já me interessava por conhecer músicos diferentes, suas letras e histórias. Na escola aprendi a tocar flauta e sempre gostei de cantar. Ao ver o instrumento, fiquei muito curioso e tentei a aprender”. O músico, por conta de uma má formação, nasceu sem uma parte do braço esquerdo, obstáculo que Conrado Vier sempre encarou como uma motivação para superar a si mesmo, rotineiramente. Com a música não foi diferente e, de dificuldades em dificuldades, o estrelense não economizou tentativas para encontrar a adaptação ideal, provando que muitas das nossas limitações existem mais no campo psíquico do que no físico.

foram muito eficientes”, lembra o artista, que também tentou se adequar a um artigo de couro, mas era pouco flexível. “A melhor opção encontrada foi uma tornozeleira, que se moldou bem ao meu braço. Colocamos uma borracha e uma palheta na ponta: funcionou!”. Obviamente, Vier continuou inovando a adaptação, tanto que até hoje realiza melhorias nela – a ideia funcionou tão bem que Conrado a replicou para mais três pessoas no Brasil. Além do violão, piano e gaita de boca também são grandes paixões, surgidas ainda quando ele tinha 14 anos de idade. Ingressou em várias bandas, sendo a Stark Blue – extinta em 2006 - a primeira delas. À frente do grupo, ocupando a função de vocalista, o artista compôs sua primeira música solo, Liberdade dos Pássaros. O single foi apresentado em concursos como o Festival de Bandas, da Univates e em competição da Rádio Atlântida FM, de Porto Alegre.

“Comecei a tocar violão com esparadrapo, mas me machucava muito. Juntamente com meu irmão, meu pai e minha família, pensei em várias possibilidades e, apesar das primeiras tentativas serem válidas, não

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Califórnia e Nevada. Dois anos depois, durante o Rock in Rio, o músico se arriscou pelos arredores da Cidade do Rock, Jacarepaguá, e vendeu mais de 500 cópias. Ano passado, em 2014, mais um check-in no Rio de Janeiro: o estrelense continuou a divulgação do seu trabalho na FIFA FanFest. Ensinar também é uma arte que o músico preza. Já foi professor de canto coral, violão e teclado no Serviço Social da Indústria (Sesi), de Estrela e, atualmente, trabalha como produtor cultural da Univates. Também retornou a ser responsável pelas aulas de técnica vocal na Casa de Cultura da sua cidade. Aos 18 anos já havia composto mais de 20 canções e, com o dinheiro acumulado nas apresentações da Stark Blue, gravou o seu primeiro EP de estúdio, com o produtor musical James Liberato. Em 2009, a produção foi misturada a um mochilão pelo país, no qual o peregrino chamou a atenção como artista de rua na praia fluminense de Copacabana e sua história virou pauta em rede nacional, através do programa global Mais Você.

Após a Cidade Maravilhosa, Conrado ecoou sua música pelas capitais dos estados do Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Foi em Fortaleza, após três meses de itinerário, que ele decidiu retornar ao lar, doce lar. Devido à repercussão, Vier voltou ao Rio de Janeiro e pelo estado de São Paulo ministrou palestras motivacionais para Organizações Não Governamentais (ONGs). Ainda em 2009, agosto nada teve a ver com desgosto para o cara: era o CD Música da Vida vindo ao mundo. As 12 canções foram ouvidas, ao vivo, em feiras e bares do Vale do Taquari, nos litorais gaúcho e catarinense e nos estados norte-americanos de

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Além dos limites terrestres Depois de cidades, estados e países, a sede por tocar na rua, conhecer músicos e descobrir outras culturas permanecia insaciável. O sonho precisava ultrapassar o continente americano. No dia 15 de julho, Conrado Vier rumou para a Europa, mais precisamente para a cidade alemã Wetzlar. O roteiro da trip havia sido pré-definido com base em troca de experiências antes de partir, mas o planejamento mesmo rolava três dias antes de rumar para um novo destino: “Tinha que ser sentido lá”, declara o músico.


Durante o tour, vários amigos, que souberam da aventura do estrelense, entraram em contato para dar dicas de locais que ele não poderia deixar de tocar, pousadas e transportes — principalmente quando esteve na Espanha, França e Portugal. Claro que os empurrões iniciais partiram do primo que reside em Wetzlar, quem também ajudou ele a conseguir regulamentos destinados a artistas de rua na Alemanha: “No país, por exemplo, cada local demarcado permite que o artista toque por 30 minutos, para que haja rotatividade de músicos. Na França, no entanto, tive muitos contratempos quanto a isso: tocar na rua não possuía regras definidas, então, por vários momentos fui barrado por policiais — mesmo a lei permitindo liberdade de expressão”.

tour europa


“Eu respeito você” “Sou apaixonado por essa história de tocar na rua. Quando estou nela, dependo da bondade das pessoas, tanto financeiramente como pela realização profissional – quando elas param e se interessam pelo meu álbum, minhas músicas, minha história. Nesse momento, ao me apresentar em uma praça ou esquina, sinto a presença gratificante das pessoas”, descreve. Por várias vezes, o brasileiro relata que, além de perceber o interesse e admiração do público por sua atitude e superação, ficou emocionado com a forma como era tratado. “Senti, na Europa, muito respeito pelos artistas. ‘Eu respeito você’ foi a frase que eu mais ouvi dos europeus”. O que torna a figura de um artista importante para as pessoas? O que faz elas mudarem sua direção por uma singela apresentação? Conrado Vier jamais vai esquecer do valor que europeus dão àqueles que os emocionam e alegram durante seus caminhos, no dia-a-dia.

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“Senti, na Europa, muito respeito pelos artistas. ‘Eu respeito você’ foi a frase que eu mais ouvi dos europeus” Conrado Vier, músico e artista de rua

Os filhos da rua Um dos grandes objetivos do peregrino era compreender como os músicos locais e estrangeiros sobrevivem com sua arte, sacar os estilos e as formas que fazem música. Construiu contatos e ouviu relatos de alemão e francês a inglês e japonês... Além deles, absorver o modo de vida dos europeus e como a sociedade está configurada também era um passatempo. “Quando eu transitava na cidade, fazia questão de andar em metrôs ou em ônibus e estudar o comportamento daquelas pessoas, entender a cultura de como vivem, a confiança que eles têm entre si. Procurei lugares de reflexão: ver a vida de longe é fascinante também!”.

A ligação que o músico criou com o público europeu é o maior presente que esperava desses 25 dias explorando o Velho Mundo e os personagens que o configuram. “A música Grow Up — tema da turnê, que significa ‘crescer’ em português - acabou resumindo o significado que a viagem trouxe para mim. Quando a cantava na rua, fazia sentido total! Muitas pessoas me procuraram e disseram o que sentiram com minhas músicas, letra e melodias. Esse é o pós que esperava do Tour na Europa”. Atualmente, Conrado Vier integra o No Pictures Live — projeto que reúne DJs e músicos do Vale do Taquari e mescla electro house e progressive house com os clássicos do rock e hip hop — e mantém a Conrado Vier & Banda. Sobre a próxima viagem? Ah, ele não nega que já pensa em explorar mais um destino: “Um novo álbum, uma nova trip... penso muito no continente australiano ou América Latina”.

Kelly Raquel Scheid kelly@mazup.com.br Fotos divulgação/arquivo pessoal


J.K. Rowling revela detalhes sobre a família Potter O cara desenvolveu vários remédios que viraram poções para os bruxos. O resultado desse trabalho foi a fortuna da família Potter, que ele dividiu entre seus sete filhos.

Harry Potter lovers, aí vai uma boa pra vocês: no fim de setembro, a escritora J.K. Rowling divulgou o texto The Potter family – no site pottermore.com – explicando a linhagem da família Potter desde o século XII, começando com o bruxo Linfred of Stinchcombe. Seu apelido é The Potterer (como é chamado quem trabalha com cerâmica), mas depois se tornou Potter.

“O filho mais velho de Linfred, Hardwin, se casou com uma linda bruxa, Iolanthe Peverell, que veio do vilarejo Godric’s Hollow. Ela era neta de Ignotus Peverell. Como não haviam herdeiros homens, ela, a mais velha de sua geração, ficou com a capa de invisibilidade de seu avô (aquela que o Harry ganhou). Era tradição na sua família que a posse dessa capa permanecesse em segredo e o seu marido respeitou isso. Daquele dia em diante, a capa foi passada para o mais velho de cada nova geração”, diz um trecho do texto de Rowling. Depois disso, um dos Potter’s, Fleamont, conseguiu quadruplicar a herança da família, produzindo uma poção de alisamento de cabelo. O bruxo e sua esposa, Euphemia tiveram Tiago Potter: “Fleamont e Euphemia viveram tempo suficiente para ver Tiago se casar com

uma moça nascida trouxa, Lily Evans, mas não para conhecer seu neto, Harry. Varíola de dragão os levou a dias um do outro, e James Potter então herdou a capa de invisibilidade de Ignotus Peverell”. Mas essas não são as únicas novis, pessoal: o site, que tem tudo sobre o bruxinho mais querido do mundo, ganhou uma repaginada no dia 22, do mesmo mês. Desde então, foca em informações inéditas sobre as gravações do spin-off da franquia, Animais Fantásticos e Onde Habitam. Se liguem nele!

Bárbara Scheibler Delazeri revista@mazup.com.br Foto divulgação

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Troninho

Para sempre,

crise Em 1975, meu pai trabalhava como gerente de vendas da Petrobrás, no Rio Grande do Sul. Morávamos no bairro Azenha, em Porto alegre. Naquela época, a região não comportava o trânsito denso, que hoje entope suas estreitas ruas calçadas com pedras. Os pátios tinham pomares, era uma região quase bucólica, exclusivamente de imóveis residenciais.

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Lembro-me como se fosse hoje da primeira vez que a palavra “crise” me afetou. Eu estudava no turno da manhã em uma escola que ficava a umas duas quadras da casa da minha família. Em um fim de manhã frio e ensolarado, cheguei da aula faminto. Posta a mesa, junto com meu pai, mãe e irmão caçula, ouvia os adultos conversarem sobre o fim do petróleo no planeta. Naquele longínquo 1975, estimava-se que as reservas do ouro negro durariam mais 15 anos. Meu pai foi taxativo: a crise do combustível levaria ao colapso do modelo de transporte, baseado em veículos com motores à explosão. Ou seja, eu e o meu irmão jamais dirigiríamos um carro e, pior, teríamos todos que nos adaptar a viver usando animais de tração – como cavalos e bois – puxando carroças.

Fiquei apavorado com aquela profecia apocalíptica. Pronto: meu sonho de dirigir e ter uma moto tinha ido por água abaixo. Naquela noite não dormi. A década de 1970 foi muito confusa e perigosa. Aqui no Brasil, desde 1968, vivíamos o recrudescimento do Regime Militar, resultante de uma crise interna do próprio Exército entre os moderados – que queriam entregar o poder aos civis mediante eleições diretas – e os “linha dura”, que defendiam a Ditadura Militar para salvaguardar o país de uma possível Revolução Comunista, financiada pela União Soviética. Sabemos o desfecho dessa história, mas muitas vezes esquecemos que a truculência do Regime fez brotar da terra banhada de sangue mais de 30 grupos armados e a Guerrilha do Araguaia. Os anos 1970 foram a época do fim da Guerra do Vietnã e do medo do apocalipse nuclear que seria causado pela próxima Guerra Mundial. Vivíamos imersos em eternas crises econômicas, políticas e comportamentais. Falava-se em “crise da família” e da “sociedade cristã burguesa”. E, olhando para o passado, notamos que superamos muitas crises, mas nos atolamos em outras.


Afinal, existe um momento“sem crise”? Bom, se analisarmos a semântica da palavra “crise”, chegaremos à explicação de que ela significa uma ocasião perigosa e difícil da sociedade ou de um processo (adolescência, envelhecimento e menopausa, por exemplo), que pode acompanhar um período de desordem – esse, muitas vezes, culminando em uma penosa solução. Na crise da Monarquia, estopim da Revolução Francesa, a penosa solução foi linchar e guilhotinar os nobres. Esses momentos de crise podem ser acompanhados de carência, depressão, falta, penúria, deficiência, fome, peste, pobreza, vingança ou desestruturação dos grupos sociais, levando ao enfraquecimento e à queda das instituições humanas. Assim sendo, a resposta é “não”. Não existe possibilidade de vivermos fora da crise.

mergulharam a sociedade em outras crises. Resolvemos momentaneamente o problema da falta de petróleo, inclusive porque melhoramos as tecnologias de busca e extração do ouro negro. Atualmente – caso não se achem outras reservas – temos combustíveis fósseis por mais 40 anos. A solução do problema da crise do petróleo da década de 1970 maximizou as emissões de gases, criando o efeito estufa e gerando crises climáticas, que, consequentemente, prejudicaram a agricultura e a economia. E quanto mais acontecerem mudanças sociais, estruturais e comportamentais, mais crises surgirão. O problema é que, até a metade do século XX, a dinâmica da sociedade era lenta e previsível. Hoje, não é mais. A velocidade das mudanças sociais é rápida e anárquica, gerando uma crise sobreposta à outra. E, isto, (in)felizmente, pode ser o início do fim, que levará a implosão completa da sociedade e do Estado como conhecemos.

Vejamos... Muitos dos conflitos sociais dos anos 1970, citados anteriormente, foram resolvidos. Mas a solução das crises geraram outros problemas, que

João Timotheo Esmerio Machado revista@mazup.com.br Foto divulgação


Economia Colaborativa: a nova alma do negócio Você deve estar pensando que este é mais um texto sobre o blablablá chato da economia e, convenhamos, estamos em uma época péssima para falar sobre o assunto. Mas esta é a nossa nova proposta: pensar sobre o tema de um jeito diferente, inovador e, o melhor de tudo, colaborativo.

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Falar sobre economia nunca me pareceu tão acessível e palpável. Esta nova tendência do mercado, a tal economia colaborativa, rema contra os impulsos da sociedade capitalista e, a cada ano, tem se mostrado uma ótima opção para quem prefere dividir, ao invés de acumular. A capacidade de desapegar e dar um novo destino para os mais diferentes objetos e serviços vem ao encontro do plano de traçar um mundo melhor. Esta ideia de lucrar, acumulando menos e ganhando mais, tem crescido nos últimos anos e conquistando, a cada dia, mais adeptos.


Já imaginou compartilhar a carona do carro com seu vizinho? Dividir o espaço da sua horta caseira com a galera do condomínio? Trocar as roupas antigas por outras peças e objetos mais úteis para o seu cotidiano? Atitudes como essas têm agregado mais seguidores ao movimento. Como é o caso da relações públicas de Santa Rosa, Luana Cappellari: no ano de 2013, ela e mais um grupo de amigas criaram um brechó de garagem, para compartilhar a política do troca-troca com muita risada e desapego. O negócio deu certo, começou a virar coisa séria e à medida que a quantidade de roupas ia diminuindo

no armário, o número de edições do brechó aumentava. “O brechó é uma tendência que tem ganhado bastante espaço no Brasil, sendo considerado um comportamento que está diretamente ligado ao consumo consciente e reaproveitamento de produtos que poderiam ser descartados por falta de uso. Ao vender uma peça sem uso, a ex-dona pode usar o dinheiro para outros fins, evitando também a acumulação de artigos desnecessários”, explica ela. Os brechós online também receberam vez no mercado e, diariamente, agregam mais internautas. Um dos modelos bem-sucedidos é o Enjoei —

enjoei.com.br. O “bom, bonito e barato” agora ganhou mais uma característica: o acessível. Você se cadastra, vende seu produto e a entrega acontece em todo país. É aquele lance de que tudo acontece em um click, sem sair de casa. Essa onda comprova que estamos mais interessados em melhorar no cooperativismo. Segundo uma pesquisa realizada pela consultoria Nielsen, em 2013, 70% das pessoas na América Latina estariam dispostas a participar de serviços de compartilhamento, contra 52% na América do Norte.

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Já um estudo realizado pela University George Mason, em Washington, mostra que o aumento das pessoas que começam a compartilhar casas, carros e outros serviços na chamada economia colaborativa irá transformar o modelo econômico. O estudo aponta para cinco segmentos desse modelo: finanças (crowdfunding), recrutamento de pessoal online, alojamento, compartilhamento de carros e reprodução online de vídeos e de músicas. Calcula-se que, somados, esses setores alcançarão uma receita de US$ 335 bilhões até 2025 no mundo todo. Será um imenso salto com relação à receita atual, de US$

A economia do bem

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15 bilhões. Tá vendo? É por isso que chamamos de “economia” a atitude que faz girar a engrenagem dos negócios. O movimento crowdfunding deve ganhar o Brasil em alguns anos. Com as taxas abusivas e as infinitas barreiras para se abrir o próprio negócio, essa tendência chega para mostrar que nós podemos, juntos, dividir, criar e elaborar bons projetos que podem virar grandes empresas e gerar lucros. No Brasil, o pioneiro no movimento foi o Catarse — catarse.me/pt. Essa galera acredita que “ter um projeto não basta. É preciso ter acesso a pessoas interessadas e aos recursos necessários”. É assim que você financia

Para a fotógrafa Marina Cunha Venâncio, de Caxias do Sul, a economia colaborativa veio somar na solidariedade. Ela e uns amigos criaram uma vaquinha online, através do site vakinha.com.br para arrecadar dinheiro e apoiar o tratamento de saúde de Geones Medeiros, um dos amigos do grupo. Ele sofreu um acidente e não tinha condições de bancar todo o processo, então, a galera se mobilizou na rede e reuniu, até o fechamento desta reportagem (dia 9/09), R$ 7.774.

o seu projeto no site, conhece investidores e faz o negócio acontecer. Os realizadores têm até 60 dias para captar a verba necessária e, em troca, oferecem recompensas criativas. Outra grande ideia de economia colaborativa nos negócios é o coworking. O modelo já deixou de ser apenas tendência e passou a ser necessidade para pessoas que buscam padrões mais viáveis. Os coworkers incentivam profissionais, de diferentes áreas, a compartilharem um único escritório físico. Ao adotar a prática você ainda leva para casa um saldo de milhares de ideias novas, compartilhado com uma galera que produz no mesmo espaço.

Os amigos começaram a ajudar e até rolou matéria em um jornal local. “O assunto ficou conhecido nas redes sociais e, logo, muita gente estava sabendo. A facilidade e a rapidez que chegaram as notícias com o Vakinha foi inacreditável! As pessoas começaram a doar e compartilhar. A internet muda tudo”, comenta Marina.


Hey! Você, compartilha desse pensamento colaborativo? Conheça mais ideias superbacanas que estão rolando no Brasil e no mundo e aproveita para se inspirar e compartilhar:

viagens CouchSurfing (couchsurfing. com): para, literalmente, “surfar” no sofá de alguém. É totalmente gratuito, porém não tem muito a ver para quem busca conforto. Airbnb (airbnb.com.br) e o Wimbu (wimdu.com): ambos oferecem o mesmo serviço, no entanto, um é americano e mais popular, enquanto o outro, alemão, e está conquistando fãs. Você paga para o dono do lugar um valor a ser definido entre quem aluga e quem se hospeda e todo mundo ganha! Caronas e carros emprestados Uber (uber.com/pt): uma plataforma de tecnologia que conecta motoristas particulares a passageiros - aquele que deu alto bafafá com os taxistas aqui no Brasil, mas já foi liberado, lembra? Você pode pegar carona e pagar alguma coisa para o motorista ou rachar as despesas dos dois. Massa, né?

Fleety (fleety.com.br): a primeira do Brasil a viabilizar o compartilhamento de veículos (carsharing) entre pessoas. Você pode alugar o carro de alguém que o deixa parado durante o dia todo no estacionamento, assim os dois saem lucrando. Variedades Tem Açúcar (temacucar. com): uma plataforma de compartilhamento de objetos entre vizinhos. Faltou açúcar, café, arroz, um martelo, furadeira? Mundo pet DogHero (doghero.com.br): uma empresa, também brasileira, que está beneficiando pessoas que gostam de cachorros a adotarem esta alternativa mais humanizada, ao contrário dos famosos hotéis de animais.

Bárbara Corrêa revista@mazup.com.br Fotos divulgação/arquivo pessoal

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nÃo seJa detretas, sEJA dE bOAs vAMoS FAlAR De CoISA BoA? neM PIoR, neM MelHoR; neM De HuMAnAS, neM De exATAS. De BoAS! nA InTeRneT – PRInCIPAl CenáRIo onDe A novA FIloSoFIA De vIDA PRegA e ConveRTe ADePToS -, o TReTISMo, AoS PouCoS, PeRDe lugAR PARA o DeBoíSMo. Grandes pensadores contemporâneos discutem os fatores socioculturais que originaram a “nova ordem”, já conhecida internacionalmente como De Boas Way Of Life. Uma das principais teorias defende que seu surgimento é um reflexo, como um grito de socorro, da grande falta de respeito às opiniões e escolhas alheias. Apesar de ainda não terem respostas e elaborarem limites para todas as indagações, como “o Tretismo zoeira não seria uma forma de ficar de boas?” ou “qual a linha que divide o Deboísmo da apatia?”, os defensores garantem que o Deboísmo é o estilo de vida mais consumido no país e tem ajudado inúmeros brasileiros a evitar problemas e estresses, conviver em harmonia com o próximo e, inclusive, cuidar do meio ambiente e amar os animais.

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Os 10 MANdAMENTOs dO dEbOísMO Não tretarás com seu próximo; Pequenos problemas não lhe atingirão; 3 Ser de boas também significa respeitar opiniões alheias; 4 Contagie o Deboísmo; 5 Não importa sua natureza sexual, faça amor e fique de boas; 6 Sua mente vai responder a maioria das perguntas se você aprender a relaxar e ficar de boas; 7 Um dos meios de se chegar à verdade é por meio de um bom sono; 8 Ouça boas músicas: elas têm o poder de lhe deixar de boas; 9 Para que tudo fique bem, mantenha corpo, mente e alma saudáveis e, assim, você será de boas; 10 Respeite a Mãe Terra, pois ela estava de boas antes de existirmos. 1

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Para se tornar um deboísta é simples, prático e instantâneo: não se esforce para ser um sujeito normal, largue as bad vibes e “imagine all the people living life de boas”. Passe a conviver sem excluir, segregar ou julgar seu próximo: apenas agregue e espalhe paz e amor! Menos “seu recalque bate no meu brilho e volta” e mais “sua treta bate no meu deboísmo e volta”! Porque no Deboísmo é assim: mil tretatarão ao teu lado, dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido, pois é de boas. Tenho dito!

Kelly Raquel Scheid / kelly@mazup.com.br Foto divulgação


XÔ, FUMACEIRA DeCIDIR PARAR De FuMAR não é InCoMuM, já FAzeR ISSo De FoRMA DeFInITIvA é Algo que, InFelIzMenTe, PouCAS PeSSoAS ConSegueM. SABenDo DeSSA DIFICulDADe, o InSTITuTo onCoguIA lAnçou uM SeRvIço FRee PARA DAR uM HelP à gAleRA que queR jogAR eSSe víCIo PRA longe:PARAR De FuMAR vAle A PenA – ACeSSe A FAnPAge Do FACeBooK.

Funciona assim: você liga para o número 0800.773.1666, recebe infos e indicações de locais que oferecem tratamento gratuito contra o tabagismo, além de conhecer o risco de desenvolver câncer de pulmão. A iniciativa é uma parceria entre a ONG e o Amigoh, do Hospital Israelita Albert Einstein. Segundo a presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz, “A ideia é inspirar, motivar e orientar”.

• Nos primeiros 20 minutos, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal; • Duas horas depois, a nicotina desaparece do sangue; • Em oito horas, o nível de oxigênio se normaliza; • Os pulmões funcionam.

Bárbara Scheibler Delazeri revista@mazup.com.br Foto Dominik Martin

POR QUE PARAR DE FUMAR? Além de manter seus pulmões limpos e diminuir consideravelmente o risco de câncer, quando se para de fumar, os benefícios são sentidos rapidamente:

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coluna do lucas

A música e seus resgates A contemporaneidade evoca, de quando em quando, êxitos do passado que voltam remodelados ao gosto popular. Hoje nada dura muito mais do que semanas, salvo exceções raras, no topo das paradas. O fato oferece um ótimo instrumento para a análise da música enquanto variante sociocultural de uma comunidade.

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Ouvidos atentos certamente percebem a clara referência aos anos 1980 que lançamentos recentes trazem consigo. Vivemos em um período de reciclagem de hábitos e o mercado fonográfico, assim como a moda, por exemplo, frequentemente busca referências naquilo que já esteve em voga e ressuscita determinadas tendências. De acordo com a perspectiva sociológica de entendimento da música, ela respeita contextos sociais de produção e circulação. Alguns exemplos práticos a seguir. Recentemente, Brandon Flowers, o vocalista do The Killers, lançou o segundo registro de estúdio, o álbum The Desired Effect. O disco veio carregado de sintetizadores e batidas que levaram toda uma década – e continuam levando

– às pistas, em 1980. Samples, sonorizações características de Smalltown Boy (1984), canção da Bronski Beat, um dos maiores sucessos daquela década, são usados na canção I Can Change, recriando toda uma estética que já esteve muito presente na história da música. Ainda, a década de 1980 tornou-se notória pela popularização do videoclipe com o surgimento da MTV, tanto que hoje, registros visuais para canções alcançam a casa do bilhão em número de visualizações. Um gigante da EDM (electronic dance music), o produtor italiano Giorgio Moroder, com 75 anos, lançou seu mais recente álbum, o Déjà Vu, em 2015. Moroder foi responsável, entre as décadas de 1970 e 1980, por inovar a disco music – a música de discoteca –, incluindo os sintetizadores. O passo, aparentemente sem importância, foi aquilo que liderou o surgimento da música eletrônica logo depois. Moroder possui mais de 20 álbuns lançados e para as músicas de Déjà Vu ele reuniu um time de peso que empresta vocais às faixas do registro. São artistas que trabalham com diversos gêneros: as colaborações incluem Britney Spears, Kylie Minogue, Charli XCX e


Kelis, por exemplo, flertando com o eletrônico de 1980 e deixando-se embalar pela disco music, um dos sons característicos da década. Ao longo daquilo que chamamos de anos 1980, os gêneros hip hop e synthpop (estilo cujo principal instrumento é o sintetizador) surgiram e se tornaram muito populares, influenciando quase que a totalidade dos grandes nomes da música pop atual. A importância do sintetizador na música independente também é indiscutível. Brandon e Moroder são um claro reflexo de uma tendência em termos de música, especialmente. Por outro lado, neste ano, um estudo da University of Reading, nos Estados Unidos, com envolvimento de Mark Pagel, analisou todas as músicas que estiveram, desde 1960, no Hot 100 da Billboard – a parada de hits americana –, e encontrou evidências algorítmicas de que a década de 1980 foi a mais repetitiva da história da música. A análise das canções deu-se a partir de duas características: timbre e harmonia.

em suas listas de canções playlists dedicadas ao resgate de grandes sucessos das décadas passadas. Músicas de 20, 30 ou mesmo 40 anos atrás estão entre as mais ouvidas em serviços de streaming e não é por acaso. Pesquisadores sociais costumam dizer que para que se entenda o presente é necessário olhar para o passado. Essa prática pode ser aplicada ao analisarmos o conjunto de elementos da cultura popular, sendo a música uma das bases para o nosso entendimento da realidade – devido à sua extrema volatilidade de mercado.

Lucas George Wendt gosta do que está entre aspas e além das reticências, das batidas da música, das cores, do movimento e das letras. Ilustração Felipe Johann

Criativamente ou não, foi esse um período de saltos na história da produção humana. Aplicativos como o Spotify e o Superplayer têm

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publieditorial

Felicidade, futebol e encontros emocionantes marcam alunos gaúchos Oitavos e nonos anos do Ensino Fundamental de escolas de Arroio do Meio, Lajeado e Montenegro foram presenteados pela Coca-Cola com um dia memorável por Porto Alegre. Entre as visitas, os estádios da dupla Gre-Nal e a Fábrica da Felicidade estavam na rota, além do encontro surpresa com Marcelo Grohe, goleiro titular do Grêmio.

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Carregar aquele brilho nos olhos por poder contar que esteve dentro do cofre que guarda a fórmula secreta da bebida mais famosa do mundo e ainda que pisou no gramado da “casa” do seu time de futebol é uma realidade para estudantes arroio-meenses, lajeadenses e montenegrinos.

Uma coisa em comum caracterizou os cinco grupos: a animação, que rolou solta desde o primeiro checkin. Na Fábrica da Felicidade, a atmosfera lúdica dos ambientes e o clima de descontração garantido pela equipe guia cativou a galera. A pilha só aumentava a cada nova descoberta!

No dia 17 de agosto, a galera que está concluindo o Ensino Fundamental do Instituto de Educação São José, de Montenegro, foi quem recebeu esse presente de formatura da CocaCola. Já nas datas de 26 e 28 de agosto, turmas do Colégio Estadual Presidente Castelo Branco foram as responsáveis por curtir cada momento do Tour da Felicidade. Por fim, em 11 e 18 de setembro, eram os alunos de Arroio do Meio, da Escola Estadual de Ensino Médio Guararapes, que completavam a missão moleza de ser feliz.

Visitar o Beira-Rio e a Arena do Grêmio levou os estudantes ao delírio, afinal, eles tiveram a oportunidade de conhecer até a estrutura interna de cada estádio – ou seja, os vestiários!


Érico Klein Silveira / Montenegro Na Arena do Grêmio, as camisetas de todos os atuais jogadores expostas no vestiário foram devidamente registradas pelo guri. “Tirei foto de todas!”, garantiu o gremista, que desde criança frequenta as partidas do time do coração: “Meu pai sempre me levou junto e era sócio na época em que o Grêmio estava no Olímpico e, desde então, vou ao estádio. Agora, na Arena, também já fui a vários jogos”.

Lucas Kindel Sartor / Montenegro Ele também já é “de casa” no BeiraRio, no entanto, estar na altura do gramado foi incomparável a qualquer outro sentimento que ele já teve no estádio. “Também nunca tinha visitado o museu do clube e tocar e ver de perto as taças que meu time conquistou, como a da Libertadores, foi demais!”, recordou o torcedor.

Fernanda Silveira / Lajeado A guria não perde uma partida do time tricolor e garante que o 28 de agosto de 2015 ficará para sempre marcado para ela. “Foi um dos dias mais felizes da minha vida, pois conheci a Arena e o Marcelo Grohe, goleiro do Grêmio, meu ídolo. Foi muito emocionante e ele foi maravilhoso e atencioso com todos!”, contou Fernanda, que de tanta felicidade, transbordou em lágrimas no estádio. Estar do lado dele era um dos maiores sonhos da tricolor que também adorou descobrir que o segredo da Coca-Cola é a felicidade: “Essa é a mais pura verdade!”.


Leonardo Fagundes / Lajeado “Para mim, esse dia vai ficar marcado para sempre, pois foi a primeira vez que pisava no estádio do meu time do coração, o Grêmio. Foi um sonho estar lá, conhecer as cabines de narração dos jogos, camarotes, arquibancadas, sala de coletiva de imprensa e, na hora de conhecer o vestiário, quem nos recebeu foi meu ídolo, o nosso grande goleiro Marcelo Grohe! Ele nos recebeu muito bem, tirou várias fotos, conversou conosco e nos acompanhou até o gramado”, comentou o gremista que ainda complementou que “o Tour da Felicidade proporcionou momentos inesquecíveis, que se não fosse a Coca-Cola não iriam acontecer”.

Fotos Douglas Kerber, Gustavo Tomazi e Luca Lunardi

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Débora Raquel Silveira da Silva / Arroio do Meio Ela acreditava que conhecer a Fábrica da Felicidade era apenas visualizar os processos de produção, no entanto, se surpreendeu com os aprendizados adquiridos por lá: “Conhecemos a história da Coca-Cola, recebemos várias explicações sobre a fabricação, assistimos a um filme depois de atravessarmos a passagem secreta e ainda passeamos com o ônibus da Fábrica da Felicidade”.

Guilherme Gabineski Arroio do Meio “Valeu a pena acordar cedo e viajar de Arroio do Meio até Porto Alegre! Curti muito a equipe que nos acompanhou durante o Tour da Felicidade e, na fábrica da Coca-Cola, achei bem criativa a passagem secreta do cofre, além dos outros ambientes e presentes recebidos”, comentou o guri, que estendeu elogios às guias da Fábrica da Felicidade, Bruna e Patrícia. Guilherme também adorou que a Guararapes foi escolhida para participar do projeto: “Por sermos uma escola pública, essa oportunidade foi única para gente, pois seria muito difícil conhecermos os estádios do Grêmio e do Inter por conta própria”.


Marcelo Grohe, o ídolo que (re)conquistou os torcedores No dia 28, o Tour da Felicidade proporcionou à galera um encontro que ficará registrado na memória tanto de gremistas como de colorados: Marcelo Grohe, o goleiro titular do time tricolor.

Durante a ida à capital gaúcha, o cara era unanimidade entre os torcedores do Grêmio no quesito “favoritismo”. A humildade que o jogador transparece na televisão encantou ainda mais quando vista de perto. Foi quando Grohe conseguiu cativar a galera do Castelinho pela segunda vez.

As borboletas no estômago não foram apenas sentidas pelos fãs, já que era a primeira vez que o goleiro recepcionava uma turma. O encontro, que rolou no vestiário do clube, foi de muitas fotos, entregas de cartas, autógrafos e, claro, chororô. Marcelo, que já foi e permanece fã de atletas – como do emblemático goleiro gaúcho da Copa do Mundo Fifa 1994, Cláudio Taffarel –, mostrou responsabilidade e consciência sobre seu papel de ídolo. “Já estive do lado deles e sei o quanto é importante esse contato com jogadores, pois na minha infância também era difícil ir a jogos e conhecer alguém que admirava. Então, procuro, nestes

momentos, dar atenção e receber o carinho de volta”, garantiu o titular, que ainda frisou o quanto é gratificante para ele receber e saber da admiração que as pessoas têm por seu trabalho. Sempre em defesa do Grêmio, Grohe atua no clube desde 2005 e garante que seu legado no futebol, para quem o acompanha e torce por ele, é de “fazer o trabalho com amor e dedicação, honrar a camisa e mostrar a raça! Dar aos torcedores o que esperam da gente dentro do campo, para no fim de tudo proporcionar a alegria e o prazer da vitória”.

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conversa casual A curva do rio Acorda com aquela sensação estranha de não-pertencimento. Como se fosse um monstro horroroso precisando se esconder do mundo. Peixe fora d’água, um estrangeiro, um marciano tentando se adaptar ao planeta Terra. Levanta da cama se esquivando dos espelhos da casa. Lembra-se de um sonho estranho sonhado ainda há pouco.

Estava dirigindo seu carro pelas ruas de Porto Alegre, no entanto, completamente perdido, não tinha ideia de onde estava. Parou o automóvel e colocou as mãos na cabeça, consternado pela inabilidade de chegar até destino algum. Mas para onde ir? Como chegar lá? E qual seria esse caminho? Um amigo, de carona com ele, ria da sua consternação. Ele também riu. Ao lavar o rosto no banheiro, o correr da água da torneira refresca uma memória vívida na infância. Lembra-se daquela curva do rio Ibicuí. No caminho para São Sepé. Era sempre nesse lugar que pescava lambaris com o pai, isso quando tinha uns 12 ou 13 anos. Ainda é possível sentir o cheiro da água doce repleta de confetes vegetais alçados pelas árvores ribeirinhas. O anzol dançando nas profundezas e a linha da vara de pescar atravancando o

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caminho. Folhas desencarnadas da planta original. A gosma das minhocas semimortas impregnando os polegares. A sensação de fisgar um daqueles bichos gerava no menino um misto de dor e complacência com o pai. Tinha pena de acabar com a vida dos peixes, no entanto, era um daqueles raros momentos em que havia um diálogo natural entre o velho e seu filho (no caso, ele). E assim, dezenas daqueles bichinhos iam sendo lançados no


bem pontiagudo após ser apontado. Talvez porque aprecie a coceirinha e os ruídos evocados por esse movimento de rabiscar tão arcaico e peculiar”. E, no fim, a coisa termina assim: “Elmo... Élders, Thoreaus, largos e profundos! Boa leitura”. É. Nada como um fato novo para alterar a ordem das coisas. Os lambaris da memória, ainda aprisionados naquela curva de rio, profetizaram algo inusitado. Pelo menos isso, mesmo que igual ao sonho de estar perdido dentro de si na cidade onde mora, não passa de uma gotejante sensação viva como carne crua. Tecidos recém-extraídos de algum bicho morto. balde. Logo mais virariam uma frugal refeição de sábado à noite. Lambaris fritos com polenta. Sabor de infância e confraternização em família. Ainda acompanhado de um humor cadavérico, vai até a frente do pátio e abre a caixa do correio. Há um pacote lá. Abre. Um livro do Leminski: Catatau. Lê um bilhete fixado junto à embalagem, escrito a lápis. Tem um trecho bem no início que diz: “Sempre gostei de escrever a lápis,

Márcio Grings é escritor, jornalista e radialista. Esta e outras histórias leia no blog do cara: portalbei.com.br/grings Foto divulgação


DESABAFO Click! Como foi que a gente pulou da edição jan/fev para a edição set/out? O que fizeram com os meses que as separaram? Por onde andamos, com quem e por quê? Aprendemos a ser multifuncionais. Recursos físicos e virtuais para produzirmos mais em menos tempo nos são ofertados cada vez com mais frequência. Parece que as tecnologias nos transformaram em deuses, pois somos capazes de criar e produzir em escalas muito maiores que gerações passadas. Ganhamos grana, status e bens materiais, afinal, é independência ou morte! Mas por qual trincheira a tal da “vida” ficou para trás? Será que quando lembramos dela ainda somos os titereiros? Ou assumimos o papel de marionetes? Com certeza, a segunda opção. Enquanto nos preocupamos em “não perder tempo”, estamos, literalmente, perdendo “o tempo”. Ah, ironicamente, ainda pior é o tempo que demoramos para concluir isso.

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Tentem calcular quantas vezes vocês já se sentiram esmagados pela rotina, abriram mão de conviver com as pessoas que amam, deixaram de cuidar da saúde – seja ela física ou mental –, perderam algum programa ou hábito cultural ou deixaram de estudar para “compromissos que só dão a vocês lucros materiais”? A conta acima pode se tornar imensa e eu entendo. Este desabafo não é só sobre a revista ou a edição 17: é pessoal. Já me senti na pele de Michael Newman, interpretado por Adam Sandler, do filme Click. Como ele, convivi por um bom tempo com a sensação de sempre ter algo mais importante para fazer do que aquilo que eu estava fazendo naquele instante. Uma vítima do sistema e das exigências da sociedade, assim como as milhares de pessoas que vão ler isso. Chamei este fase de “crise dos 20”. Por sorte, tive um “click” e percebi em tempo que poderia sair da carona e ser motorista da tal da “vida”. Reconhecer meus limites e estabelecer prioridades foi essencial. Ao invés de mergulhar no mundo dei uma “ponta” no meu

mundo e só compartilho isso com vocês, pois espero, de verdade, que também reconheçam o que importa nas suas vidas, mudem hábitos e se permitam chutar o balde, volta e meia e meia volta. A reflexão sobre “tempo” e o que vocês têm feito com ele é muito maior do que as páginas desta revista poderiam narrar. No entanto, sintam-se convidados a começar (para ontem): o conteúdo das páginas 28 a 34 vai ajudar!

Kelly Raquel Scheid / kelly@mazup.com.br Foto divulgação




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