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Planos oferecem opções para complementar benefício do INSS. Página 4
Aplicar em vinhos e moedas garante retorno e satisfação pessoal. Página 5
Internet facilita acesso do investidor individual ao pregão. Página 6
Olimpíadas, Copa e UPPs tornam mercado imobiliário atrativo. Página 7
A tendência de elevação da taxa de juros para combater a alta da inflação torna aplicações em renda fixa atraentes. Mas há outros nichos promissores na Bolsa e em fundos de renda variável. Analistas apontam as melhores opções para 2011.
Como colher bons resultados ano que vem
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Investimentos 2- O Globo.indd 1
s incertezas que marcaram os mercados financeiros este ano, especialmente o de ações, deverão continuar presentes em 2011. As economias de países desenvolvidos, como os EUA - onde a taxa de desemprego está no nível mais alto desde 1982 - deverão continuar a apresentar baixo crescimento. Além disso, as dúvidas quanto à solvência das economias de países europeus como Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha também contribuirão para que a aversão a risco nos mercados globais continue elevada ano que vem. O Brasil poderá ser, de alguma forma, impactado por esse ambiente. Some-se a isso a elevação da taxa básica de juros de curto prazo (taxa Selic), que deverá começar, segundo as projeções do mercado financeiro, a subir no início de 2011, como parte das medidas que o Banco Central tem tomado para conter a inflação. Apesar disso, é possível dizer que as perspectivas por aqui são positivas. A economia brasileira, ao que tudo indica, continuará a apresentar bom crescimento, acima da média mundial. A taxa de desemprego, por sua vez, deverá se manter baixa e a massa salarial, em crescimento. Tudo isso cria ambiente propício para que ações de empresas voltadas para o mercado interno sejam as mais beneficiadas. Nesse contexto, ações de empresas ligadas a consumo e ao mercado imobiliário devem apresentar valorização acima da média, avalia Abílio Ferreira, administrador de carteiras registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Segundo ele, existem várias formas de um investidor pessoa física aproveitar essas oportunidades. Uma delas, a mais óbvia, é a compra direta de ações de empresas dos segmentos promissores. Existe outra forma, menos conhecida, que tem ganhado cada vez mais importância. São as aplicações em ETFs (Exchange Traded Funds) – fundos de índice formados por ações de várias empresas que têm suas cotas negociadas como ações na Bolsa de Valores. “A alternativa é interessante porque o investidor pode fazer uma aplicação com pouco dinheiro (em geral, a aplicação inicial é inferior a R$ 1 mil) e comprar, de uma só vez, várias ações, diversificando o risco”, analisa. Ou seja, mesmo que a alta dos juros torne mais atrativas as aplicações em ren-
da fixa, e as incertezas da economia internacional afetem as Bolsas, não deixam de existir nichos rentáveis, mesmo a curto prazo, de investimento em ações e fundos de renda variável. O surgimento de novas modalidades, como os fundos imobiliários, e a abertura a aplicadores individuais de alternativas tradicionalmente associadas aos investidores institucionais, como as debêntures, ampliam as possibilidades de ganhos. Papéis indexados a preços, como as Notas do Tesouro Nacional (NTNs), são boa opção para os mais conservadores, mas exigem atenção para fatores como os prazos de vencimento, mais longos do que a média. A previdência privada também é apontada como alternativa atraente. O mercado aposta na expansão e em taxas de crescimento robustas de 17% a 25% ao ano e trabalha com cenário de redução gradual e a médio prazo das taxas de juros no Brasil, acreditando que as empresas saberão se ajustar às mudanças na economia nacional. “O sucesso do mercado de previdência complementar é consequência de um arcabouço legal muito bem estruturado, o que o torna capaz de garantir uma aplicação atraente, com a menor tributação em aplicações financeiras no Brasil”, diz Osvaldo do Nascimento, diretor executivo do Itaú Unibanco e vicepresidente da Federação Nacional de Previdência e Vida (Fenaprevi). O otimismo prevalece na maioria dos prognósticos para 2011, como o do vicepresidente da área de Investimentos da SulAmérica, Marcelo Mello. O fundamento desse otimismo, mesmo em ambiente de turbulência externa, está nos ganhos de maturidade da economia e do mercado de capitais no país. Mello espera cenário neutro para o dólar, sem maiores oscilações, e alta da taxa Selic (remuneração dos títulos públicos) para 12,75% ao longo do ano. Economista-chefe da Icatu Seguros, Victoria Werneck, prevê que a inflação oficial em 2010 deverá ficar em 6%, muito próxima do teto da meta, de 6,5%. Ela aponta a inflação como a maior preocupação no cenário econômico, de resto virtuoso, com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) menor do que o deste ano, mas ainda elevado e mais compatível com a taxa de investimento do país. Em linhas gerais, essa é a previsão que predomina no mercado financeiro, com nuances que não chegam a desfazer a impressão de quase consenso.
O surgimento de novas modalidades, como os fundos imobiliários, e a abertura a aplicadores individuais de alternativas tradicionalmente associadas aos investidores institucionais, como as debêntures, ampliam as possibilidades de ganhos.
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Especialistas recomendam fundos imobiliários e fundos de índice - novidade que conjuga ações de várias empresas de um mesmo setor - como opções para diversificar a carteira e obter ganhos adicionais à renda fixa, uma das promessas de 2011.
inda que o cenário para investimentos em 2011 seja promissor, há quem se mostre cauteloso, como Rafael Paschoarelli, economista da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Atuariais, Contábeis e Financeiras). Ele prefere esperar as primeiras medidas do novo governo. “O mercado aponta subida das taxas nos contratos mais longos, o que indicaria a manutenção do pragmatismo atual”, avalia. Para o vice-presidente da área de Investimentos da SulAmérica, Marcelo Mello, essa é a hipótese mais provável. Os grandes investidores institucionais já estariam, inclusive, se antecipando ao provável movimento do Banco Central, com os mercados futuros de DI (Depósitos Interbancários) embutindo alta em torno de 2 pontos na taxa Selic. Nesse quadro, a renda fixa surge como a opção mais óbvia, mas é possível identificar boas oportunidades de ganho na renda variável. A SulAmérica evita citar nomes de ações, mas chama atenção para setores promissores, mesmo numa conjuntura instável para as Bolsas. É o caso das empresas de mineração. As Bolsas são sempre melhores para quem aposta em horizonte mais largo, de quatro a 10 anos, mas a diversificação crescente do mercado brasileiro abre nichos interessantes. É o caso, para Mello, dos Fundos Imobiliários, capazes de captar a recuperação da construção civil, cujos investimentos cresceram mais do que a média da indústria, ou dos Fundos de Recebíveis, sensíveis ao bom momento do comércio. Paschoarelli, da Fipecafi, corrobora essa análise, lembrando que as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) estão isentas de imposto.
Com experiência de 40 anos no mercado de corretagem, a UM Investimentos mostra visão otimista para as aplicações em Bolsa ano que vem. Uma das líderes no atendimento a pessoas físicas, em volume de operações, a UM espera grande aumento nas ofertas públicas e IPOs (sigla inglesa para abertura de capital) em 2011. Este ano, a Petrobras fez capitalização enorme, atraindo capitais do mundo inteiro e inibindo outros lançamentos. “A Ernst&Young, uma das maiores consultorias e auditorias do planeta, divulgou relatório listando grande quantidade de IPOs e ofertas sendo preparadas para o ano que vem”, adianta Paulo Hegg, operador da UM.
Proteção contra a inflação O cenário de alta de juros não costuma favorecer investimentos em renda variável, mas em renda fixa. Mesmo assim, Paulo Hegg destaca papéis de setores que contam com boa proteção contra a inflação, como o bancário, que ganha na margem com a alta na Selic, e as concessionárias de rodovias, que têm tarifas reajustadas pelo Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M). Na diversificação, Hegg recomenda atenção especial para os Fundos Imobiliários. “A Copa do Mundo de 2014, as Olímpiadas de 2016 e o programa ‘Minha Casa, Minha Vida’ impulsionam a construção civil. Os fundos têm vantagens fiscais e reduzem os riscos da concentração em papéis que fiquem fora dos principais programas oficiais”, diz. “Para o investidor mais conservador, o Tesouro Direto é modalidade interessante, pois o risco é baixo, pela garantia do Tesouro Nacional”, conclui.
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Aposta na diversificação O ABC da renda fixa
Fundos imobiliários
Isenção de IR é atrativo Fundos de investimento: Ao investir R$ 1.000,00 em um fundo de investimento, você está comprando participação em uma carteira que inclui várias aplicações em renda fixa ao mesmo tempo, o que reduz o risco das suas aplicações. Fundo referenciado DI: Aplica em títulos pós-fixados, preferencialmente títulos de dívida pública, e tem como objetivo replicar o desempenho da variação do CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Fundos de renda fixa: Diversificam suas aplicações ao direcionar parte dos recursos captados para títulos de dívida pública pré-fixados. Fundos de renda fixa crédito: Buscam obter ganhos mais elevados, aplicando boa parte dos recursos em títulos de dívida privada, que em geral pagam juros mais altos do que os títulos públicos. : “Contudo, é preciso cuidado, pois, além de poder estar exposto a uma alta dos juros, você pode ser impactado pela situação financeira das empresas emissoras do título.” Fundos de renda fixa multi-índices: Buscam obter ganhos mais elevados aplicando no mercado futuro de índices de inflação ou de juros. Títulos de renda fixa: Você pode investir diretamente em títulos de renda fixa, comprando debêntures, CDBs, LTNs, etc, ou aplicar indiretamente por meio de fundos de investimento. As aplicações em renda fixa são organizadas de acordo com seus emissores: Governo (LTNs, NTNs, etc.), bancos (CDBs, RDBs, letras hipotecárias, letras cambiais) e empresas (debêntures, commercial papers). Títulos prefixados: São aqueles cuja remuneração é determinada no momento da aplicação. Isto significa que você já sabe o quanto receberá no vencimento. Títulos pós-fixados: Quando você investe em um pós-fixado, só saberá o quanto vai receber no final da aplicação. Esses títulos têm o seu rendimento atrelado ao CDI ou fixado como sendo a soma da variação da inflação (medida pelo IGP-M ou IPCA) mais uma taxa de juros predeterminada.
Títulos Públicos Assim como as empresas e os bancos, os governos federal, estadual e municipal também precisam de dinheiro para financiar suas obras e cobrir suas despesas. Os títulos emitidos por estas entidades são chamados de títulos de dívida pública e podem ser pré ou pós-fixados. O pequeno investidor, desde janeiro de 2002, pode aplicar diretamente em títulos de dívida pública pela Internet. A negociação é feita pelo site do Tesouro Direto, por sistema seguro que só dará acesso à área exclusiva mediante validação do CPF e senha. O valor mínimo é de R$ 200,00 (por mês), para cada operação, e o valor máximo, R$ 200 mil (por mês). O sistema permite a compra de LFTs, LTN e três tipos de NTN: as NTN-C, NTN-B e NTN-F. Todas as NTNs pagam juros semestrais, sendo que a principal diferença é que as NTN-C estão atreladas ao IGP-M, as NTN-B ao IPCA e as NTN-F têm rentabilidade definida acrescida de juros. Para efetuar a compra será preciso preencher formulário incluindo alguns dados pessoais, além do número do CPF e endereço eletrônico. Quando tiver completado o formulário, dirija-se a instituição habilitada com os documentos exigidos (CPF e comprovantes de residência e de renda), para que a instituição possa confirmar seu cadastro junto à CBLC (Central Brasileira de Liquidação e Custódia). Assim que o cadastramento estiver concluído e confirmado, você receberá por email a confirmação de cadastro e senha de acesso à área fechada do site, onde poderá efetuar sua oferta de compra. www.tesouro.fazenda.gov.br.
Títulos Privados CDB: Ao comprar o CDB você está emprestando o dinheiro para o banco e recebendo em troca o pagamento de juros. Já o RDB tem a mesma característica de um CDB, com a diferença de que não admite negociação antes de seu vencimento. Letras Hipotecárias: As letras hipotecárias são uma forma de captação usada pelos bancos para financiar certas linhas de crédito imobiliário. As LH são emitidas com juros pré-fixados, flutuantes e pós-fixados em TR ou TJLP com prazo mínimo de 180 dias. As letras são oferecidas apenas com vencimentos pré-definidos, que variam entre seis meses a dois anos, e não existe a possibilidade de saque dos recursos antes do prazo estabelecido. Debêntures: Ao contrário dos CDBs e das letras hipotecárias, as debêntures são títulos de renda fixa emitidos por empresas não financeiras com capital aberto que buscam obter recursos de médio e longo prazos para financiar as suas atividades ou quitar dívidas. Existem ainda as debêntures conversíveis, que podem ser trocadas por ações da empresa emissora na data de exercício. Essa conversão não é obrigatória. Commercial Papers: Assim como as debêntures, os commercial papers são títulos de dívida emitidos por empresas, que podem ou não ser financeiras. Ao contrário das debêntures, têm prazo mais curto de duração, e são indicados para interessados em aplicações de curto prazo. O prazo mínimo dos commercial papers é de 30 dias e o máximo de 360 dias. Fonte: UM Investimentos
Mordida do Leão
Fundos de índice
Planejamento, a arma contra o ‘come-cotas’
Garimpo rentável Num ano em que o Ibovespa andou de lado, o investidor mais antenado teve que buscar inovações. Quem optou pelos ETFs (Exchange Traded Funds), fundos referenciados nos índices setoriais e negociáveis no pregão, teve acesso a ganhos de até 27,73%. A Black Rock, uma das líderes mundiais em gestão de fundos, chegou ao Brasil para aumentar a concorrência no segmento, até então limitado ao PIBB (referenciado no Ibovespa). Saulo Mendes, diretor de Mercado de Capitais da Black Rock, conta que o BOVA11, referenciado ao Ibovespa, gira R$ 30 milhões por dia. No vencimento de opções, esse montante chega a alcançar R$ 70 milhões. Com esse aumento de liquidez, foi possível reduzir o lote mínimo negociável de 100 para 10 cotas. “Com R$ 690, pode-se aplicar num instrumento inovador, mas seguro. Em outros fundos do gênero, dá para investir menos ainda, R$ 200, graças ao novo limite”, explica. O fundo monta uma cesta de ações que garanta, no mínimo, a rentabilidade do
índice de referência setorial. O Brax11 segue o IBrX; o CSMO11 segue o Índice BM&FBovespa de consumo, formado por ações de empresas desse setor, e assim por diante. O investidor pode diversificar a carteira, diluindo seu risco por universo mais amplo de ações. “O BOVA11 tem 68 ações na carteira”, exemplifica. O MOBI11, que segue a carteira do Índice BM&FBovespa Imobiliário, aplica em 14 empresas diferentes. As de maior liquidez, como Gafisa, Cyrela e PDG, estão representadas, com limite de 20% de participação. O investimento no setor imobiliário com o ‘Minha Casa, Minha Vida’ foi 50% maior do que a média da economia. “As empresas mais badaladas estavam fora do ‘Minha Casa, Minha Vida’, o que muita gente no mercado ignorava. Nosso fundo tem as mais conhecidas no segmento de imóveis de luxo, mas também a MRV, de forte presença nos programas de habitação popular”, conta Saulo Dantas, da Black Rock.
Quem aplica em fundos de investimento certamente já ouviu falar do ‘come-cotas’. Para efeitos de Imposto de Renda, os fundos são classificados em três grandes categorias: fundos de ações, fundos de curto prazo e fundos de longo prazo. Nos fundos de ações o Imposto de Renda é pago apenas no resgate e calculado com base em alíquota fixa de 15%. Já nas duas outras categorias o recolhimento é feito na fonte, e as alíquotas variam de acordo com o prazo de aplicação. Recolhimento semestral - O cálculo do imposto retido na fonte dos fundos de curto prazo e longo prazo é feito com base no sistema ‘come-cotas’, com
o recolhimento feito no último dia útil dos meses de maio e novembro. Caso o prazo de investimento seja inferior a seis meses no caso dos fundos de curto prazo ou de dois anos no caso dos fundos de longo prazo, será preciso recolher a diferença do imposto devido, já que a alíquota a ser aplicada seria menor do que a alíquota mínima. Para diminuir o impacto do ‘come-cotas’, o essencial é se planejar para poder manter uma reserva investida e destinar aos fundos de curto prazo somente recursos que não sejam necessários nos próximos seis meses. Nos fundos de longo prazo, o raciocínio é o mesmo, só que o tempo mínimo de espera é de dois anos. ( Fonte: IGF)
O mercado de fundos imobiliários movimentou R$ 5 bilhões este ano e é uma das apostas dos especialistas para 2011. Não que o investimento nesses fundos seja isento de riscos. Se o investidor compra, por exemplo, cotas de um fundo que investe num galpão para aluguel comercial e o locatário não paga, o rendimento cai. Por outro lado, essa possibilidade é minimizada pela estrutura de gestão, que inclui advogados e administradores. Ainda há a proteção adicional da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o mercado de fundos. É o que explica Bruno Nahon, sócio diretor da gestora de fundos Aria Capital, que vem ampliando sua atuação no ramo imobiliário. Segundo Nahon, outra vantagem dos fundos está na tributação. O investidor pessoa física não paga Imposto de Renda sobre os rendimentos, caso o fundo possua cotas negociadas em Bolsas de Valores ou no mercado secundário e tenha, no mínimo, 50 cotistas. Para comprar cotas, o investidor precisa participar da oferta pública ou adquirir as cotas de alguém que queira se desfazer do investimento. Existem também fundos de oferta restrita, para no máximo 20 cotistas – mas estes não têm a vantagem de isenção de IR. Há em torno de 80 diferentes fundos imobiliários, de diferentes tipos, no mercado. Os fundos de renda regular, por exemplo, remuneram seus cotistas principalmente com o pagamento de aluguéis; os de ganho de capital visam a valorização das cotas a partir da valorização dos imóveis adquiridos; os de investimentos gerais mesclam remuneração com aluguéis e a valorização dos imóveis. “Os fundos oferecem a possibilidade de investimento para o pequeno investidor em condições semelhantes às oferecidas aos grandes investidores e com acesso a investimentos de primeira linha”, acrescenta o executivo.
Psicologia econômica
Quando a emoção vence a razão O Brasil escapou dos efeitos mais perniciosos da crise global de 2008, mas os investidores estão sujeitos aos mesmos comportamentos que levaram às turbulências no mercado americano, adverte a psicóloga Vera Rita Mello Ferreira. Doutora em Psicologia Econômica pela Universidade de São Paulo (USP) e representante no País da Iarep, uma das principais associações mundiais do setor, Vera identi-
fica o otimismo excessivo e a autoconfiança exagerada como distorções comuns na percepção dos aplicadores, ainda mais nas altas. Associadas aos períodos expansionistas, as condutas irracionais revelam-se em todo o seu esplendor nas quedas de Bolsa e recessões. Por trás disso, está a aversão a perdas, que acaba alimentando os prejuízos tão temidos. “É de certa forma como os viciados em jogo. O sujeito
perde na roleta, e arrisca mais a cada rodada para recuperar o que perdeu”, compara. “É difícil ter a clareza necessária do momento de entrar e sair”, diz. Com três livros voltados para o investidor, explicando como aplicar os princípios da Psicologia Econômica, Vera Rita admite que não é fácil a tarefa de livrar-se das armadilhas mentais mais comuns. É o caso do apego a um papel que se desvaloriza continuamente, só
para não ver o prejuízo efetivar-se com a venda. “O mais razoável, mesmo nesses tempos em que a Internet facilita operações financeiras, é recorrer a ajuda especializada. Por maior que seja o preparo intelectual do investidor individual, quando isolado, ele está mais sujeito a ser traído pelas emoções do que os operadores profissionais. Para evitar isso, o melhor caminho é reconhecer os próprios limites”, aconselha.
Produção: Link Comunicação Integrada Edição: Cláudia Bensimon Editor Assistente: Maurício Schleder Desenho: João Carlos Guedes Fotografia: Marcelo de Jesus Reportagem: Eduardo Carvalho, Cezar Faccioli, Larissa Morais, Márcia Gomes, Rosane de Souza e Verônica Couto A apuração das informações deste suplemento é de responsabilidade da Link Comunicação Integrada
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Dez anos de aplicações constantes, equilibrando segurança, risco e rentabilidade, fizeram de Leandro Martins um milionário aos 28 anos. “Não há fórmula perfeita. O importante é evitar a ambição, a pressa e a ganância”, ensina.
De R$ 1 mil a R$ 1 milhão...
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os 28 anos, o consultor financeiro Leandro Martins conseguiu juntar R$ 1 milhão. Foram dez anos, ao todo, em exercício de persistência, disciplina e aprendizado, que, segundo ele, está ao alcance de mais gente do que se supõe. É verdade que Martins, desde criança, foi sempre o que mais poupava entre os colegas. “Eu preferia não gastar minha mesada com doces, para poder comprar uma bicicleta, por exemplo”, conta o consultor, que decidiu cedo seguir carreira de economista. No primeiro ano da faculdade, quando tinha 18 anos, o pai faleceu. Para cuidar da avó, da mãe e da irmã mais nova, largou “a vida de playboy” e assumiu a gestão do capital que a empresa empregadora do pai pagou à família. “Devorei livros e revistas sobre investimentos”. Na época, Martins já trabalhava e decidiu fazer sua própria reserva pessoal de capital, com aplicação inicial de R$ 1 mil. Começou de forma conservadora e evoluiu para maiores riscos, à medida que acumulava experiência e conhecimento sobre o mercado. Em 1997, 90% dos recursos foram investidos em fundo de renda fixa, e 10% em ações. Dez anos depois, a distribuição do capital era exatamente o contrário. A cada ano, aumentou em 10% a participação das aplicações feitas em Bolsa de Valores, e diminuiu a parcela destinada ao fundo de renda fixa na mesma proporção. “No final dos anos 90, a renda fixa ficava com a maior parte dos investimentos. Foi quando a Selic (taxa de juros básica, definida pelo Banco Central) chegou a patamares acima de 40% ao ano”. Atualmente, ele reconhece que o cenário é bem diferente. “Para apresentar o mesmo potencial de retorno, é inevitável pensar em ações”.
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Com essa estratégia básica, Martins calcula que obteve taxas líquidas mensais de 1% a 2,5% com a renda fixa. E, na Bolsa de Valores, apesar de períodos de baixa, chegou a registrar taxas superiores a 5% ao mês. A migração gradual foi importante para entender como lidar com o mercado. Ele usa sempre a “Análise Técnica de Ações”, metodologia na qual se especializou e que é tema de cursos que oferece há cinco anos. Durante o processo de aprendizagem, algumas vezes apostou errado, principalmente no mercado de opções, no qual são negociados direitos de compra e venda de ações com preços e em prazos predeterminados. “As perdas aconteceram, quando me antecipei nesse mercado, sem ter conhecimento pleno do seu funcionamento.” Martins não definiu previamente a meta de R$ 1 milhão. Mas obrigou-se a poupar. Segundo ele, o percentual mínimo de renda destinada à aplicação recomendado pelos especialistas é de 10% do salário ou do rendimento mensal. “Deve-se, contudo, buscar aumentar esse percentual”. Ele adverte que não há fórmula perfeita nem única para ganhar R$ 1 milhão. As melhores escolhas precisam considerar contexto econômico, comportamento do mercado e a situação objetiva de cada pessoa. “O importante é evitar a ambição, a pressa, a ganância”. Tanta dedicação virou especialidade. Martins é analista chefe da corretora Walpires, autor do livro “Aprenda a Investir” (Atlas), criou os sites www.seuconsultorfinanceiro.com.br e www. analisetecnicaacoes.com.br, e é professor de cursos de análise técnica e gráfica de ações e operações de day trade. “Meu objetivo maior sempre foi obter liberdade financeira, minha independência. Parar de trabalhar para o dinheiro, deixar o dinheiro trabalhar por mim.” Palavra de quem entende do riscado.
Leandro Martins: ganhar o primeiro milhão está ao alcance de mais gente do que se supõe
Quanto e onde investir* Milionário até as Olimpíadas Rentabilidade Aplicação mensal mensal
2016 (74 meses)
1,5% 2,5% 3,5%
R$ 1.000.000,00 R$ 1.000.000,00 R$ 1.000.000,00
R$ 7.300,00 R$ 5.000,00 R$ 3.000,00
De três em três
Resultado da aplicação de R$ 3,00 ao dia, com taxa de retorno de 1% ao mês, a juros compostos. 1 ano = R$ 1.153,00 5 anos = R$ 7.424,00 10 anos = R$ 20.911,00 20 anos = R$ 89.923,00 30 anos = R$ 317.692,00 45 anos = R$ 1.950.232,00
1. Câmbio (dólar) – Para hedge (proteção). 2. Caderneta de poupança – Baixa rentabilidade (muito próxima à inflação) e possibilidade de perda de rentabilidade nos resgates fora do vencimento; sua vantagem é a isenção de Imposto de Renda e cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). 3. Imóveis – Baixa liquidez e baixa rentabilidade, com risco de depreciação e de inadimplência, além de custos adicionais com taxas e reformas; a seu favor, tem oferecido alta valorização nos últimos anos. 4. Previdência privada – Taxas altas (carregamento, entrada e saída), carências, baixa rentabilidade (nos casos de gestão ineficiente) e metodologia de cálculo do pagamento futuro com base em critérios superestimados. Vantagem: investimento programado e aportes feitos por empresas. 5. Ações - Maior potencial de retorno. Possibilidade de aplicação por meio de fundos de ações, clubes de investimentos, carteira administrada ou compra direta (mediante cadastro feito em alguma corretora). Mas requer aprendizado. * Dicas do especialista
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Planos de previdência oferecem a possibilidade de manutenção da qualidade de vida na aposentadoria. Há opções para todos os bolsos. Na hora de escolher é importante analisar o valor das taxas de administração cobradas pelos bancos e seguradoras.
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Um olhar para o futuro
IBGE deu uma boa notícia, recentemente, ao anunciar que os brasileiros já vivem, em média, mais dez anos. É um bom motivo para que, neste fim de ano, as pessoas façam mais do que balanços de vida e promessas de mudar de hábitos e de comportamento em 2011. É tempo de arriscar um pouco mais, elaborar planos de longo prazo e reorganizar os investimentos, para neles incluir o projeto de manter padrão financeiro suficiente para realizar a viagem dos sonhos quando parar de trabalhar, garantir o pagamento do plano de saúde na velhice, assegurar a universidade dos filhos e a previdência dos netos ou apenas complementar o benefício mensal da previdência pública. Afinal, o INSS pode jogar água no chope das comemorações de aniversários futuros, uma vez que essa maior expectativa de vida – 73 anos, para os homens, e 77, para as mulheres – de imediato altera o Fator Previdenciário, usado para calcular o valor das aposentadorias por tempo de serviço. A nova tabela já incide nos benefícios requeridos a partir do primeiro dia de dezembro. Portanto, usar uma parte do 13º salário para contratar um plano de previdência privada pode ser uma boa saída para não depender de amigos, filhos e parentes na velhice e, de quebra, obter benefícios fiscais em 2011. Quem optar pelo Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) pode abater, no próximo ano, até o limite de 12% da renda tributável, o dinheiro gasto com o investimento. Os recursos podem ser aplicados de uma única vez, por meio de cota única, com aportes financeiros periódicos, para aumentar os vencimentos futuros. Os depósitos também podem ser mensais. Na hora do resgate, o investidor pode escolher receber os rendimentos de uma única vez ou em parcelas mensais, vitalícias. Os planos de previdência são bem mais lucrativos do que a caderneta de poupança, chamada pelos economistas de “ilusão monetária”, pois seus rendimentos ficam sempre abaixo da inflação. “As pessoas não percebem, mas perdem dinheiro com a poupança. Em novembro, por exemplo, a inflação ficou em 0.8%, enquanto a taxa fixada para a poupança foi de 0.5%”, diz Luiz Calado, economista da consultoria Brain Brasil.
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“Opção pela tabela regressiva é uma boa escolha para quem deseja investir a longo prazo: o IR cai 5% a cada dois anos, chegando a 10% após dez anos de aplicação.” Luís Martinez, diretor da Icatu Hatford
Ciclos de vida
Quanto mais cedo melhor
Produtos se sofisticam com o tempo
40 anos de contribuição*
35 anos de contribuição*
30 anos de contribuição*
Idade inicial Reserva 25 anos em R$
Idade inicial Reserva 30 anos em R$
Idade inicial Reserva 35 anos em R$
Aos 30 Aos 35 Aos 40 Aos 45 Aos 50 Aos 55 Aos 60 Aos 65
Aos 35 58.666,00 Aos 40 144.866,00 Aos 45 271.521,00 Aos 50 457.620,00 Aos 55 731.059,00 Aos 60 1.132.832,00 Aos 65 1.723.168,00
Aos 40 Aos 45 Aos 50 Aos 55 Aos 60 Aos 65
58.666,00 144.866,00 271.521,00 457.620,00 731.059,00 1.132.832,00 1.723.168,00 2.590.565,00
58.666,00 144.866,00 271.521,00 457.620,00 731.059,00 1.132.832,00
Idade de aposentadoria: 65 anos; contribuições anuais: R$ 10.000,00 (ao fim de cada ano); rentabilidade anual: 8% - rentabilidade nominal projetada e líquida da taxa de administração Na simulação, um intervalo de 10 anos no tempo de contribuição equivale a uma diferença de 56% no acúmulo de reservas (início aos 25 anos versus início aos 35 anos).
A evolução das reservas R$ 3.000.000,00 R$ 2.500.000,00 R$ 2.000.000,00 R$ 1.500.000,00
Como escolher seu plano
R$ 500.000,00
Início aos 30 anos
Início aos 35 anos
Simulações: Icatu
Rentabilidade acumulada de acordo com o tipo de fundo* Carteira
30 dias
Previdência Renda Fixa Multimercado sem renda variável Prev.Renda Fixa Médio e Alto Risco Multimercado com renda variável Previdência referenciado DI Balanceados
0.83% 10.31% 0.77% 10.18% 0.86% 9.99% -1,64% 7,18% 0.80% 9,03% -2,05% 4,20%
12 meses
*Rentabilidade dos fundos em que são aplicados os recursos dos planos de previdência privada. Sofre alteração diária e sobre ela recaem as taxas cobradas pelos administradores (dados de 13/12/2010). Fonte: Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais – Anbima
Planos para todos os bolsos Os planos de previdência complementar existem no Brasil há mais um século. Mas a recente preocupação dos brasileiros em manter a qualidade de vida futura, aliada à criação de regras seguras para esses tipos de aplicação - Lei 6.435, de julho de 1977, e Lei Complementar 109, de maio de 2001 - tornou o mercado um dos mais atraentes e lucrativos do Brasil. Ele cresceu 80 vezes num intervalo de apenas 15 anos. “Em 1993, o montante das reservas era de R$ 3 bilhões. Este ano, deve ultrapassar a marca dos R$ 220 bilhões”, informa Osvaldo do Nascimento, diretor executivo do Itaú-Unibanco e vice-presidente da Federação Nacional de Previdência e Vida (Fenaprevi).
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Outro segmento em expansão é o de planos de previdência empresarial, cada vez mais adotados por empresas de grande e pequeno portes, para reter funcionários uma vez que também contribuem para acumulação de reservas -, e os planos “instituídos”, dirigidos a associações de classe, cooperativas e sindicatos, para impedir a corrosão do padrão de renda dos seus filiados. As operadoras de planos de previdência complementar também esperam que até o primeiro semestre de 2011 o governo dê o sinal verde para o lançamento de produtos para as áreas de saúde e educação: o PrevSaúde e o PrevEducação serão destinados à formação de poupanças para despesas médicas dos mais velhos e custeio da educação dos jovens brasileiros.
O dentista Eduardo Costa fez as contas há oito anos e descobriu que a aposentadoria concedida pela previdência oficial não seria o suficiente para manter o padrão de vida que tem hoje. Um amigo corretor o ajudou a equacionar a questão, aconselhando-o a fazer um plano de previdência privada. Ele não pensou duas vezes para aceitar a sugestão do amigo, apesar de, na época, pouco saber sobre o assunto. Especialista em prótese e implantes dentários, decidiu, depois de ampla consulta, contratar um plano de previdência privada com o objetivo de complementar os benefícios futuros do INSS com a renda extra. “Como sou profissional liberal, sei que a renda do INSS não me proporcionará uma vida sossegada”. Casado e pai de dois filhos, o dentista diz que pensou em todos os parentes ao consultar os planos oferecidos pelo mercado brasileiro. Ao fim, optou por um tipo de aplicação em previdência complementar que, no caso de sua “ausência”, contemple sua mulher. “Eu pago uma parcela maior do valor, uma espécie de seguro, para transferir os benefícios futuros para meus dependentes”. Faz parte dos seus projetos imediatos amparar a velhice dos seus filhos, de seis e dois anos. “Já estou providenciando para eles um plano de previdência complementar que assegure vida tranquila, no caso de minha falta”.
Taxas de administração em queda
R$ 1.000.000.00
R$ 0,00 Início aos 25 anos
O mercado oferece hoje produtos mais sofisticados, como os batizados de ciclos de vida, que se adaptam às fases de vida comuns a todas as pessoas, ao ajustar os percentuais de investimento da reserva acumulada em fundos de renda fixa ou variável (estes, até o limite de 49% dos recursos), de acordo com o prazo do resgate. “Essa carteira pode garantir rendimentos mais elevados, porque busca investimentos mais agressivos”, diz Richard Michael Seegerer, superintendente-executivo do grupo de previdência privada do Santander. É indicado, por exemplo, para os mais jovens, que podem arriscar mais. Ao longo do tempo, os investimentos tornam-se mais conservadores, reduzindo o percentual aplicado em renda variável, para assegurar o patrimônio do cliente.
Aposta numa vida sossegada
O consumidor também vem lucrando com a expansão do mercado. Renato Russo, vice-presidente de Pessoas e Previdência da SulAméica e também da Fenaprevi, conta que a rentabilidade média dos fundos que combinam aplicações de renda fixa com as de renda variável (ações em Bolsa) tem sido de 16,88% ao ano. Com o boom do mercado, surgiram opções de planos que cabem no bolso da maioria dos brasileiros. O diretor de Marketing da seguradora Mongeral Aegon, Luiz Claudio Friedheim, adverte, contudo, que o consumidor precisa ter certeza de que o produto que está comprando vai atendê-lo pelo resto da vida. ”Muita gente só precisa repor a inflação que
corrói o benefício da aposentadoria oficial. Este tipo de investimento é muito barato e pode ser feito até por quem já tem 60 anos”, assinala O presidente da Brasilprev, Sérgio Rosa, lembra que poucos trabalhadores receberão o teto do INSS, hoje de R$ 3.500, daí a importância de investir numa renda complementar ao regime público de previdência. “Há planos de R$ 25 mensais ou de aporte único de mil reais que garantem uma boa renda futura para uma criança”. Já o superintendente de Produtos da empresa, João Batista Mendes Ângelo, assinala que o dinheiro aplicado na previdência complementar pode ser a reserva financeira segura para suportar um período de desemprego.
O PGBL é um plano atraente para quem contribui para o INSS e declara IR pelo modelo completo, pois permite a dedução de 12% do imposto. No momento de resgatar a aplicação, porém, o imposto é descontado sobre o total dos rendimentos. Já o plano Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) é ideal para quem não se insere na previdência oficial, é isento de IR ou declara no modelo simplificado. Neste caso, o pagamento do imposto é adiado até o momento do resgate do benefício, e incide apenas sobre a sua rentabilidade. O diretor de Produtos, Previdência e Investimentos da Icatu Hartford, Luís Martinez, assinala que a pessoa tem que optar, no ato da aquisição, se vai pagar o IR pela tabela progressiva (que obedece ao padrão dos assalariados, de 0 a 27,5%) ou regressiva. Esta última é uma boa escolha para quem deseja investir a longo prazo: o IR cai 5% a cada dois anos, chegando
a 10% após dez anos de aplicação. Os dois produtos podem ser resgatados de uma única vez ou em parcelas mensais e vitalícias, para complementar a aposentadoria pública. Os serviços de previdência complementar prestados pelos bancos e seguradoras embutem taxas de administração que variam de 1% a 5%. O sócio diretor da consultoria Moneyplan, Fernando Meibak, alerta que é preciso tomar cuidado com esses custos: “só com a redução de 3% para 2% na taxa de administração uma pessoa que aplicar R$ 10 mil durante 20 anos vai ter 22% a mais nos seus rendimentos”, calcula. Renato Russo, em contrapartida, diz que essas taxas estão em queda livre, em função da redução dos juros “Hoje, elas estão numa média de 1,50% a 1,70% e a tendência é cair mais”, avalia, dizendo que todos vem se adequando ao perfil de renda dos investidores e ao risco do negócio.
Fidelidade
Mulher solteira procura... Há uma forte presença de mulheres nos investimentos em previdência privada. Estudos realizados por Icatu e Brasilprev apontam que elas adquirem planos de previdência mais cedo do que os homens, o que evidencia
uma maior consciência no planejamento financeiro de longo prazo. A maior parte é solteira e, em geral, fiel aos planos, pois a escolha recai, em sua maioria, pelo modelo de tributação regressiva dos rendimentos.
Portabilidade
Cliente pode trocar de instituição Se estiver insatisfeito com o serviço, o cliente pode transferir para outro banco ou seguradora o dinheiro investido na aposentadoria fu-
tura. “A legislação permite a transferência de reservas entre empresas”, esclarece Richard Seegerer, executivo do banco Santander.
“Eu pago uma parcela maior do valor para transferir os benefícios futuros para meus dependentes.” Eduardo Costa, dentista
Essas preocupações fizeram com que ele, morador de Niterói, quase se tornasse um expert em mercado financeiro. Eduardo diz que acompanha de perto os rendimentos do seu plano e até mesmo o comportamento das ações negociadas na Bolsa de Valores. Como seguro só morreu de velho, o dentista, formado há 16 anos, diversificou a sua cesta de aplicações para atingir a meta de bons dias futuros. “Hoje eu tenho também uma caderneta de poupança e ações na Bolsa”. Com isso, espera que, pelo menos, algum desses benefícios não lhe falte no futuro. “Estou garantindo o retorno de um desses investimentos, caso os outros enfrentem algum tipo de problema”.
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As chances de obter ganhos no mercado de objetos raros ou de luxo são maiores para quem tiver disposição e gosto para estudá-los. A rentabilidade compensa, mas é opção para quem não tem pressa.
Vinhos finos, moedas raras Fotos de arquivo pessoal
S
Em breve: fundo de investimento lastreado em vinho
air do convencional e aplicar em ativos menos óbvios, como vinhos, moedas, obras de arte, exige mais do que capital. Esses investidores quase sempre têm laços subjetivos com seu patrimônio e conhecimento dos mercados em que resolveram atuar que os protege dos riscos, geralmente altos. A rentabilidade muitas vezes compensa, mas essa não é opção para quem tem pressa. Para quem sabe, há casos especiais. O empresário paulista Thiago Corazza conta que uma garrafa do italiano Alzero de sua adega valorizou mais de 100% em um ano. E Eduardo Capocchi, engenheiro e numismata, cita um tostão – moeda de prata de 100 réis, de 1844 – vendido por US$ 120 mil em um leilão de abril deste ano, com valorização de 45% em dois anos. Segundo Capocchi, a numismática movimenta 6 bilhões de dólares por ano no mundo. De uma década para cá, ele diz que estão mais apreciados os patacões, moedas de 960 réis cunhadas no Brasil sobre a prata de moedas de outros países da América Latina, da época de D. João VI até 1834. Sabia-se pouco sobre elas, até que, a partir dos anos 80, começaram a surgir livros documentando as coleções de patacões e suas variedades, vindas da Argentina, Peru, México. Resultado: um patacão que custasse R$ 40,00 em 2000, atualmente deve estar cotado a R$ 200,00. Há dois anos, a empresa de leilões de moedas Heritage, dos EUA, leiloou peças raras brasileiras por centenas de milhares de dólares.
Com safras ou patacas, contudo, o investidor precisa conhecer a história e os mecanismos que dão valor aos produtos. Cappochi herdou a coleção de moedas do avô paterno, que tinha tomado gosto pela numismática para agradar ao sogro, numismata e ourives. Uma dica dos colecionadores é desconfiar de ofertas muito impressionantes e de negócios que precisam ser fechados com urgência. No Brasil, não há muito lugar onde negociar moedas. Mas as associações especializadas, como a Sociedade Numismática Brasileira, realizam juntas cerca de 50 leilões por ano. A negociação de vinhos também é restrita no País. Os interessados buscam principalmente leilões europeus, como os da Sotheby’s, em Londres, ou de casas especializadas em Nova York. A bolsa Liv-ex (London International Vintners Exchange) negocia principalmente vinhos de Bordeaux, mas também de outras regiões da França, da Itália, Alemanha, Espanha, entre outras, pela internet e pelo telefone. Corazza aposta no potencial desse segmento no País. “Acredito na valorização futura de grande parte da minha adega e que um dia exista no Brasil um sistema para comercializálos”. Enquanto isso, ele busca adquirir vinhos de 1990 para a frente, pesquisando safras, notas, preços internacionais. As suas preferências incluem os italianos Amarone, da região do Vêneto, e Barolo, do Piemonte; e os franceses de Bordeaux.
Ainda não é uma bolsa de vinhos, mas a Cultinvest Asset Management está em fase de registro do que deve ser o primeiro fundo de investimentos da América Latina com títulos lastreados em vinho. Segundo o conselheiro editorial da revista DiVino, Marcel Miwa, os mais valorizados vêm das regiões de Bordeaux e Borgonha, na França, ou, na Itália, do Piemonte e da Toscana. Em um patamar um pouco menos sofisticado, mas ainda de bastante valor, estão os vinhos espanhóis de Rioja e, num mercado menor, os vinhos do Porto e Madeira, que têm vida longa. A Bolsa de Bordeaux é o principal mercado de vinhos, aberto a lojas ou pessoas físicas. Os produtores das outras regiões, contudo, negociam exclusividade com importadores, inclusive os que trazem os vinhos para o Brasil. Eles chegam aqui ainda mais caros. Um Château Latour de 1990, a US$ 750 na Grã-Bretanha, sai no mercado nacional a R$ 7,5 mil. “Em média, o valor do vinho convertido em dólar, multiplicado por dez, dá o preço cobrado aqui”, diz Miwa. A conta para investir em vinho deve considerar o preço da garrafa, mais infraestrutura, diz Corazza. Para começar, uma adega climatizada para armazenar 200 garrafas sai por cerca de R$ 10 mil. “É importante ter cautela. Primeiro, deve-se eleger entre os diferentes tipos aquele que mais lhe agrada; depois, aqueles adequados à sua capacidade econômica. E aproveitar as oportunidades.”
Patacão de 960 réis: relíquia dos tempos da realeza
ANÚNCIO
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A Internet democratizou o acesso ao universo da Bolsa de Valores. A BM&FBovespa estima que mais da metade dos investidores individuais que operam na Bolsa utilizam o sistema de Home Broker. Marcelo de Jesus
Glossário “Fui aprendendo aos poucos. No começo, investia em ações de perfil mais conservador, de empresas grandes. Depois, passei a estudar o mercado e a acompanhar tendências.”
A l Ação - Título
negociável que representa a menor parcela em que se divide o capital de uma sociedade anônima.
B l Blue chip - Em geral,
ações de empresas tradicionais e de grande porte, com grande liquidez e procura no mercado de ações.
Gustavo Elias, engenheiro
l Bolsa de Valores Associação civil sem fins lucrativos, cujos objetivos básicos são, entre outros, manter local ou sistema de negociação eletrônico, adequados à realização, entre seus membros, de transações de compra e venda de títulos e valores mobiliários.
C l Corretagem - Taxa de
remuneração cobrada pela corretora para a intermediação das operações realizadas em Bolsa.
O pregão na sala de estar
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cado sempre abaixo de 1% ao mês. Então, cresceu a procura por alternativas mais arriscadas, que dão retorno maior“, afirma. Na opinião do coach financeiro Alan Soares, o crescimento da classe C é outro fator a influenciar o aumento do contingente de investidores individuais. “É um mercado novo, há mais gente com dinheiro para investir. O crescimento da classe C, que inclui pessoas com renda mensal de até R$ 5 mil, é uma realidade. São pessoas que estão ganhando mais e algumas já começam a perceber que, em vez de conDivulgação
Aquiles Mosca: Internet democratizou o pregão trair dívidas, é interessante adquirir ativos financeiros“, diz. Mas, como em qualquer negócio, o marinheiro de primeira viagem precisa estar atento para não cometer erros que comprometam o seu investimento e até mesmo o seu patrimônio. “O erro principal do investidor iniciante é acreditar que dominar a utilização do Home Broker lhe dará qualidade para investir. Tem que estudar o mercado e ter planejamento porque, junto com ações, você também compra riscos”, afirma Soares. Outro erro comum de quem começa é entrar e sair do mercado acionário constantemente, tentando acertar o momento bom para comprar e o momento bom para vender. “Até para especialistas isso é difícil. A dica é: comece a investir em ações regularmente e mantenha sua posição visando ao longo prazo. No curto prazo, a sua chance de ganhar é praticamente meio a meio, ou
seja, é semelhante a lançar uma moeda no ar para ver se dá cara ou coroa”, avalia Pujado. Mosca acredita que o investidor novato deve começar aos poucos e nunca perder de vista o longo prazo. “A primeira coisa é que só vale a pena investir na Bolsa se o dinheiro for ficar aplicado por no mínimo 12 meses. A partir dessa decisão, ele deve buscar auxílio para traçar o seu perfil de tolerância ao risco. Quem nunca investiu deve começar com parcela pequena do que tem para aplicar, a meu ver nunca acima de 10%”, aconselha. Foi o que fez o engenheiro Gustavo Passos Elias, de 32 anos. Há seis anos, ele descobriu o mundo dos investimentos online. Até então, sempre havia investido em fundos DI e renda fixa. Lendo sobre a possibilidade de investir diretamente pela Internet, resolveu aplicar em ações parte do dinheiro que já poupava. E não se arrepende. “Fui aprendendo aos poucos. No começo, investia em ações de perfil mais conservador, de empresas grandes, como Petrobras, Vale e AmBev. Depois, passei a estudar o mercado e a acompanhar tendências. Hoje, metade do que invisto é ‘conservador’, e metade é ‘arriscado’. Em média, por ano, o retorno que tenho tido é duas vezes maior do que teria se tivesse aplicado em investimentos de renda fixa“, conta Gustavo. Ele dá uma dica para quem está chegando agora: “Procurar sites especializados e também fóruns de discussão na Internet. E só investir na Bolsa um dinheiro de que não precise. Assim, se perder, não estará arriscando o patrimônio”, alerta.
Sites relacionados www.bovespa.com.br www.traderbrasil.com.br * www.practa.com.br * www.investeducar.com.br * www.easynvest.com.br www.apregoa.com.br www.maximatrade.com.br www.investshop.com.br www.shopinvest.com.br www.investbolsa.com.br www.linktrade.com.br www.agorainvest.com.br www.wintrade.com.br * escolas de investidores/educação financeira
Conjunto de operações de transferência de recursos financeiros de prazo médio, longo ou indefinido, efetuadas entre agentes poupadores e investidores, por meio de intermediários financeiros.
O que você precisa saber Veja alguns dos principais custos e benefícios que devem ser levados em conta pelo investidor na hora de escolher uma corretora de Home Broker. E ainda as vantagens desse sistema de investimento em ações.
Custos l
l
l l
l
P l Pregão - Sessão
Corretagem é fixa, independentemente do volume financeiro? Cobra custódia mensal? Requer mínimo de ordens para não cobrar custódia? Exige mínimo para abertura de conta? Exige gasto mínimo de corretagem para ter acesso ao sistema? Cobra taxa mensal pelo sistema?
durante a qual se efetuam negócios com papéis registrados em uma Bolsa de Valores, diretamente na sala de negociações e/ou pelo sistema de negociação eletrônica da Bovespa.
Benefícios
V l Valor nominal da ação
Há quanto tempo a corretora existe? l Fornece análises? l Permite falar diretamente com o analista? l Fornece um sistema de análise técnica, ou gráfica, gratuitamente, com indicadores e recursos interativos avançados? l Tem promoções para abertura de conta ou fornece algum tipo de benefício se você operar muito?
- Valor mencionado no estatuto social de uma empresa e atribuído a uma ação representativa de seu capital.
l
Vantagens Baixo investimento inicial (algumas corretoras sequer exigem investimento mínimo) l Acesso a cotações e investimentos em tempo real l Relatórios de análises gratuitos l Transparência no envio das ordens e acompanhamento das mesmas, pois todas as ordens são enviadas para a Bolsa sem a intervenção humana l
Entrevista Rosário Pujado planejadora financeira
‘Tenha sempre horizonte de longo prazo’ 1 - Investir em ações é uma boa? Sim, desde que você já tenha reserva de emergência em ativos conservadores e horizonte de tempo de longo prazo. 2 - Quais são as vantagens de investir na Bolsa? O investidor em ações vira sócio da empresa emissora. Isto significa que ele recebe, enquanto mantiver as ações em carteira, distribuição de lucros na forma de dividendos e/ou juros sobre capital próprio. O investidor em Bolsa acredita no potencial das empresas emissoras e assume
Divulgação
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omo quase tudo nas últimas duas décadas, a compra e a venda de ações também ganhou novo impulso no Brasil quando a Bolsa de Valores entrou na Internet, há 11 anos. Implantado pela BM&FBovespa em 1999, o Home Broker democratizou o mercado ao permitir que o investidor doméstico passasse a se conectar diretamente ao pregão para negociar. O público tem acesso ao sistema por meio de corretoras de valores credenciadas pela Bolsa (veja box com o ‘custo x benefício’ do investimento via Home Brokers). De acordo com dados da BM&FBovespa, atualmente há mais de 550 mil pessoas físicas operando na Bolsa (contra 94 mil, em 2003). Calcula-se que 55% delas operam pelo sistema online – em 2002, essa fatia não superava 3%. Só em 2009, os investidores domésticos movimentaram cerca de R$ 470 bilhões. A estimativa da Bovespa é de que o número de investidores individuais cresça quase 10 vezes até 2015, chegando a 5 milhões de pessoas. Para especialistas, esse crescimento se deve a dois fatores principais: a estabilização macroeconômica, já que o fim da inflação e a consequente queda dos juros fizeram com que os investidores passassem a ter condições de planejar e investir no longo prazo; e o desenvolvimento do Home Broker, que permitiu que corretoras de valores passassem a atender clientes de menor patrimônio, uma vez que todas as operações são enviadas para a Bolsa sem a necessidade de intervenção humana. “A estabilidade econômica do Brasil impulsionou os investimentos em Bolsa nos últimos anos. No longo prazo (acima de cinco anos), a Bolsa tende a ganhar sempre da poupança e da renda fixa“, analisa a planejadora financeira Rosário Pujado. Segundo o estrategista de investimentos pessoais Aquiles Mosca, a Internet contribuiu de forma decisiva para a democratização do acesso ao pregão. “Além disso, a principal razão para o aumento do número de investidores pessoa física é que, nos últimos anos, a rentabilidade dos investimentos em renda fixa tem fi-
M l Mercado de capitais -
o risco da empresa emissora em busca de maior retorno. 3 - Home Broker é uma boa opção para o pequeno investidor? Sim, mas o pequeno investidor deve ficar muito atento aos custos cobrados pelas corretoras, que, em alguns casos, inviabilizam as operações. No entanto, hoje em dia, devido à concorrência acirrada entre as corretoras, esse custo já está bem mais baixo do que no início desse sistema.
l Valor patrimonial da ação - Resultado da divisão entre o patrimônio líquido e o número de ações da empresa. l Volatilidade - Indica o grau médio de variação das cotações de um título em determinado período.
4 - Por que só recentemente o brasileiro acordou para a Bolsa? Basicamente porque o mercado acionário brasileiro ainda é incipiente. Já evoluiu bastante, mas ainda tem longo caminho a percorrer. É preciso que as empresas listadas em Bolsa se comprometam com maior transparência para todos os acionistas. 5 - Qual seria uma dica valiosa para o investidor novato? Comece investindo pequeno percentual dos seus recursos. Não entre neste mercado porque o seu vizinho ganhou dinheiro, ou porque o seu chefe também investe. Tenha sempre horizonte de longo prazo, esteja ciente dos riscos envolvidos e avalie a sua tolerância a esses riscos.
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Investi mentos
Imobi liários
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Expansão do crédito, Copa, Olimpíadas e UPPs alavancam o mercado de imóveis no Rio. No Centro, Vila Isabel e Tijuca, por exemplo, a valorização superou os 50% entre janeiro e novembro deste ano. Especialistas dizem que o setor continuará crescendo até 2014.
Um teto para sonhar com lucros I
nvestir em imóveis foi um excelente negócio em 2010, especialmente no Rio de Janeiro. O crédito farto, o aquecimento da economia, os dois eventos esportivos mundiais que constam da agenda da cidade para os próximos 6 anos e até mesmo o sucesso do projeto de implantação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em favelas de várias áreas provocaram um forte aumento nos preços de imóveis residenciais e comerciais. Os ganhos muitas vezes ultrapassaram 50% para quem investiu na compra direta de um imóvel ou optou pela modalidade dos fundos imobiliários que vêm ganhando espaço no mercado. “Nos últimos 20 anos, nunca houve uma fase como essa no mercado imobiliário”, resume Leonardo Schneider , vice-presidente do Secovi Rio (sindicato que reúne empresas de diversos segmentos do ramo habitacional). Levantamento da entidade feito com base em anúncios de compra e venda de imóveis usados na cidade indica que, de janeiro a novembro deste ano, a valorização chegou a 84,5%. Essa foi a alta do preço dos imóveis de quatro quartos na Gávea – área nobre do Rio onde a oferta é reduzida. Outros destaques da pesquisa foram a alta de 72,1% no valor de apartamentos de um quarto no Centro, bairro que vem sendo revitalizado, e de 57,7% em Vila Isabel, que sofre influência positiva da chegada das Unidades de Polícia Pacificadora às favelas da região. Pelo mesmo motivo, os imóveis de um e dois quartos na Tijuca valorizaram respectivamente 55,3% e 49,5%. O aumento de preços também foi forte em Ipanema e no Leblon. Lá, os imóveis de um quarto ficaram 53% mais caros e os de 3 quartos, 51,9%. “Como a oferta é pequena, os preços seguem subindo. Quando erguem um prédio, as unidades são vendidas na hora”, afirma. Já a Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes, onde a valorização chegou a 40,4%, são beneficiados por projetos de melhoria de infraestrutura urbana para a Copa e as Olimpíadas O desempenho do setor de imóveis neste ano animou o casal Ricardo Felipe Ramos Nobile e Renata Ataídes Pontinho a trocar de imóvel residencial e ainda comprar um apartamento na planta para investir. O três quartos comprado como investimento fica no condomínio Freedom, na Avenida Abelardo Bueno. “Essa é uma das áreas que mais vai concentrar investimentos por conta das Olimpíadas. Nossa expectativa é de uma valorização em torno de 40%. Também pretendemos ganhar alugando o imóvel por temporada, no período dos Jogos”, diz Nobile. O condomínio onde eles compraram o apartamento foi todo vendido em 24 horas. O casal só conseguiu uma unidade porque ficou no estande de vendas até de madrugada esperando alguma desistência. “Chegamos a fazer alguns investimentos na Bolsa de Valores, mas logo depois veio a crise global. Dali para a frente decidimos optar por investimentos mais seguros”, acrescenta Renata. Leonardo Schneider acredita que o movimento de valorização de imóveis na cidade vai continuar até o ano da Copa do Mundo. Para ele, entre as áreas mais promissoras estão justamente as que serão beneficiadas com investimentos por conta do Mundial e das Olimpíadas, como o Centro e a Barra da Tijuca. As áreas beneficiadas pela implantação de UPPs também tendem a recuperar valor.
Imóveis comerciais
A aposta dos especialistas De acordo com especialistas, para quem está pensando em investir, os imóveis comerciais são os mais indicados. Alexandre Fonseca, diretor de Operações da Brasil Brokers – companhia com negócios em intermediação e consultoria imobiliária – informa que atualmente um aluguel residencial pode render de 0,6% a 0,7% do valor do imóvel. Já um aluguel comercial rende em torno de 1%. “O investimento em imóveis é o único que combina rendimento acima do oferecido atualmente pela renda fixa, reserva de valor e potencial de valorização”, enumera Fonseca. O economista Luiz Callado, autor do livro “Imóveis – seu guia para fazer da compra e venda um grande negócio”, lembra, contudo, que o investimento imobiliário no Brasil tem seus pontos fracos. O principal, na opinião dele, é o ambiente jurídico ainda desfavorável. “Para se adquirir um imóvel são necessários muitos documentos e certidões, e mesmo assim não há garantia plena de que o bem adquirido não tem problemas. A compra e venda envolve riscos, principalmente quando se dispensa advogado”, diz. Nesse ponto, a desvantagem é grande em relação ao mercado de ações, onde cada transação é garantida por uma Câmara de Custódia. Outros riscos potenciais são a inadimplência no pagamento de aluguéis, a legislação favorável ao locatário e a possível deterioração patrimonial por conta de chuvas, raios, acidentes e outros imprevistos.
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Marcelo de Jesus
De olho nas Olimpíadas, o casal Ricardo e Renata investiu na compra de um imóvel na planta
Linhas de crédito para a compra de imóveis CAIXA ECONÔMICA federal Linha
Enquadramento
Valor de financiamento
Prazo de amortização
Taxa de juros anual pós-fixada
Cota máxima de financiamento
Carta de crédito SBPE / SFH Imóvel Residencial
Aquisição de imóvel novo ou usado de até R$ 500 mil
Até R$ 450 mil
Até 360 meses
8,20% a 10,5% (efetiva) + TR do valor tomado, dependendo do valor do imóvel e do modo de pagto.
90% em no máximo 360 meses
Carta de crédito SBPE / Fora do SFH Imóvel Residencial
Aquisição de imóvel novo ou usado acima de R$ 500.000,00
De acordo com a capacidade do proponente (acima de R$ 450 mil)
Até 360 meses
10,50% a 11,50% (efetiva) + TR, conforme modo de pagamento
90% em no máximo 360 meses
Carta de Crédito FGTS / SFH Imóvel Residencial
Aquisição de imóvel novo ou usado de até R$ 130 mil (para quem tem renda familiar até R$ 4.900)
Até R$ 130 mil (imóveis novos e usados)
300 meses (renda até R$ 2.325,00) a 360 meses (renda entre R$ 2.325,01 e R$ 4.900,00)
Juro nominal de 4,5% a 8,16%, dependendo da faixa de renda
Imóveis novos e usados: 80% (pgto. em 301 a 360 meses) 90% (pgto. de 241 a 300 meses) e 100% (pgto. em até 240 meses)
Carta de crédito FGTS pró cotista / SFH Imóvel Residencial*
Aquisição de imóvel novo ou usado de até R$ 500 mil
Até R$ 425 mil (imóvel novo) e R$ 400 mil (imóvel usado)
360 meses
8,66% nominal
80% (imóveis usados) a 85% (imóveis novos
* Só para quem tem ao menos 3 anos de trabalho com FGTS; conta FGTS ativa ou conta inativa com saldo de 10% do valor do imóvel
Banco do Brasil Linha
Enquadramento
Valor de financiamento
Prazo de amortização
Taxa de juros anual
Cota máxima de financiamento
BB Crédito Imobiliário Aquisição PF – SFH
Aquisição de imóvel residencial de até R$ 500 mil
Mínimo R$ 20 mil, Máximo R$ 450 mil
18 a 360 meses
Pós-fixada de TR mais 8,4% ou prefixada de 11,5%
Até 90% do valor do imóvel
BB Crédito Imobiliário Aquisição PF – CH
Aquisição de imóvel residencial de valor acima de R$ 500 mil
Máximo R$ 1,5 milhão
18 a 360 meses
Pós-fixada de TR + 11% ou prefixada de 16,56%
Até 90% do valor do imóvel
ITAÚ Linha
Enquadramento
Valor de financiamento
Prazo de amortização
Taxa de juros anual pós-fixada
Cota máxima de financiamento
Financiamento imobiliário Itaú
Financiamento de imóvel residencial de valor entre R$ 62,5 mil e R$ 500 mil (pode utilizar FGTS)
De R$ 50 mil a R$ 400 mil
Até 360 meses
Calculada de acordo com o perfil de crédito de cada cliente e o valor do imóvel.
Até 80% do valor do imóvel
Financiamento imobiliário Itaú
Financiamento de imóvel residencial de valor acima de R$ 500 mil (não pode utilizar FGTS)
Mínimo de R$ 50 mil. O limite máximo depende da renda do comprador.
Até 360 meses
Calculada de acordo com o perfil de crédito de cada cliente e o valor do imóvel.
Até 80% do valor do imóvel
Linha
Enquadramento
Valor de financiamento
Prazo de amortização
Taxa de juros
Cota máxima de financiamento
Carteira Habitacional SFH
Financiamento de imóvel residencial de valor até R$ 500 mil
Até R$ 400 mil
Até 360 meses
Imóveis de até R$ 150 mil :TR + 7,8%, nos 3 primeiros anos, 9,5% nos demais. Ou prefixada de 12,73% (imóveis entre R$ 150 mil e R$ 500 mil: TR + 10,5%
Até 80% do valor do imóvel
Carteira Habitacional (taxa de mercado)
Financiamento de imóvel residencial de valor entre R$ 500 mil e R$ 3 milhões
Até R$ 2,4 milhões
Até 360 meses
TR + 11,5% (com possibilidade de redução, conforme o relacionamento com o cliente)
Até 80% do valor do imóvel
Linha
Enquadramento
Valor de financiamento
Prazo de amortização
Taxa de juros
Cota máxima de financiamento
Crédito Imobiliário Parcelas Atualizáveis*
Financiamento de imóvel residencial de valor entre R$ 40 mil e R$ 120 mil
R$ 20 mil a R$ 96 mil
Até 30 anos
TR + 8,9% ao ano
Até 80% do valor do imóvel
Financiamento de imóvel residencial de valor acima R$ 120 mil e inferior a R$ 500 mil
R$ 20 mil a R$ 400 mil
Até 30 anos
TR + 10,5% ao ano
Até 80% do valor do imóvel
Financiamento de imóvel residencial de valor acima de R$ 500 mil
A partir de R$ 20 mil
Até 30 anos
TR + 11% ao ano
Até 80% do valor do imóvel
BRADESCO
santander
*O banco tem também a linha “Crédito imobiliário parcelas fixas”, com juros prefixados e reajuste pela tabela Price.
Expectativa de crescimento Se do ponto de vista do investidor a valorização dos imóveis no Rio foi motivo de comemoração, para quem está procurando moradia para comprar a elevação dos preços tem sido um obstáculo. “Tenho receio de fechar uma compra com o mercado valorizado e depois ficar amarrado por 30 anos num financiamento muito alto”, diz o professor universitário Helder Pordeus, que começou a procurar um apartamento de três quartos na região de Laranjeiras e arredores e, com o valor que pensava utilizar, está com dificuldades de achar um bom dois quartos. Na opinião de Alexandre Fonseca, diretor de Operações da Brasil Brokers, pessoas na mesma situação não devem ter receio de fechar negócio. Primeiro porque a tendência é de que os preços continuem subindo nos próximos anos, embora em patamares menos elevados do que os registrados em 2010. Mas também porque as condições de crédito oferecidas atualmente pelo sistema bancário são bastante favoráveis ao comprador. “Os financiamentos embutem juros mais a TR, que é bem menor do que a inflação. Desse modo, não há risco de a prestação subir descontroladamente, como no passado. Esse modelo embute um subsídio para o comprador”, diz. Aos candidatos a proprietários, o executivo recomenda apenas cautela na hora de definir o valor a ser financiado: a prestação não deve passar de 30% do valor da renda da família.
Crédito farto
Bancos expandem carteiras Os principais bancos públicos e privados ampliaram de modo consistente suas carteiras de crédito imobiliário neste ano e pretendem continuar expandindo sua atuação no segmento em 2011. Há linhas de crédito que financiam até 90% do valor do imóvel com prazos de até 360 meses (30 anos) e com juros que oscilam de 5,5% a 11,38% mais TR, dependendo da renda do comprador, do valor do empréstimo. O limite de crédito varia conforme a renda da família. Alguns bancos podem melhorar as condições do financiamento conforme o relacionamento com o cliente, por isso vale uma boa conversa com o gerente antes de fechar negócio. Líder de mercado no segmento de crédito imobiliário, a Caixa concedeu no ano passado R$ 64,5 bilhões em financiamentos, montante 70% superior ao registrado em 2009, e planeja crescer mais 20% no ano que vem. O valor inclui os R$ 27,7 bilhões concedidos no escopo do programa ‘Minha Casa, Minha Vida’, do Governo Federal. Já o Banco do Brasil, que entrou nesse mercado há apenas 3 anos, cresceu 80% e alcançou uma carteira de R$ 3 bilhões. O número ainda não reflete as operações feitas no escopo do Minha Casa Minha Vida – no qual o BB começou a atuar bem recentemente. Segundo o gerente executivo de Empréstimos e Financiamentos José Henrique Silva, o banco está pronto para atender a demanda que vier. A previsão é dobrar a carteira em 2011. O Itaú também vem apostando no segmento. Sua carteira de crédito imobiliário é a que mais cresce. No último balanço divulgado, de setembro, alcançou R$ 12 bilhões, com crescimento de 52,7% comparado ao de igual período de 2009. No Santander, a carteira cresceu 30,7% nos últimos 12 meses e soma R$ 11,23 bilhões. O diretor de Negócios Imobiliários José Roberto Machado acredita que o mercado continuará aquecido, já que o déficit habitacional do país ainda é muito grande. No Bradesco, a carteira somou R$ 10,5 bilhões até setembro. O volume de crédito concedido foi de R$ 7 bilhões e, como o movimento do último trimestre foi muito forte, a expectativa é encerrar o ano com crescimento de 70% em relação aos R$ 5,5 bilhões desembolsados no ano passado. É o que garante o diretor da área de Crédito Imobiliário Cláudio Borges. “No próximo ano, a acreditamos que o mercado continuará aquecido. A previsão é de de um crescimento de mais 20%”, diz.
08/08/2012 14:15:53
8 l Quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Disciplina e determinação são fundamentais para realizar projetos de vida. José de Ribamar, que deixou o emprego para abrir uma franquia, e a professora Márcia, que economiza para poder viajar, provam que vale a pena investir no próprio sonho.
Uma loja para chamar de sua No caso do Rei do Mate, o lojista paga 5% do faturamento bruto para usar a marca, mais cerca de R$ 20 mil em taxa de franquia. Sem contar o ponto, Ribamar calcula em R$ 250 mil o investimento médio em uma loja, entre obras, reformas, estoque, etc. O seu capital de giro varia. Na unidade da Gávea, é da ordem de um quarto do faturamento para cada mês. Ele deixou o emprego para “ficar mais livre” e ter mais perspectivas. “Posso ter duas, dez lojas; abrir de outra marca. Mas não pode deixar a franquia lá, e ir à praia.” O faturamento das duas unidades de ensino de inglês Wise Up da empresária Vilma Gambatto cresce à média mensal de 3% e vai somar R$ 2 milhões em 2010. Para os iniciantes, ela recomenda analisar a estrutura de apoio da franqueadora, o treinamento disponível, a forma de contato com o franqueado, a relação entre investimento inicial e retorno, a qualidade do produto e o suporte de mídia – a Wise Up, por exemplo, mantém campanha com o ator Rodrigo Santoro. O aquecimento das vendas do varejo, com o aumento do poder aquisitivo da classe C, promete, segundo especialistas, boas perspectivas para o comércio.
José de Ribamar já administra duas franquias do Rei do Mate
Arquivo pessoal
P
ara quem tem vocação para o comércio, mas tem medo de se aventurar, uma alternativa mais segura e com grande potencial é abrir uma franquia. Dono de duas lojas cariocas da rede Rei do Mate, José de Ribamar Pinto Filho estima de dois a três anos para retorno da aplicação. E a dona de duas franquias em São Paulo do curso de inglês Wise Up, Vilma Gambatto, garante que seu desembolso inicial, de cerca de R$ 400 mil, foi pago em um ano e rendeu 300% desde 2005, quando abriu sua primeira unidade. Em março do ano que vem, ela vai inaugurar a terceira. Ribamar deixou o emprego no mercado financeiro para tocar a franquia, também há cinco anos. Tem uma loja na Tijuca, dentro do hipermercado Açaí (do Grupo Pão de Açúcar), e outra, mais recente, no Shopping da Gávea. “Franquia é um negócio mais estável, porque envolve um produto conhecido, uma marca consagrada, o que diminui o risco”, diz. Outro aspecto atraente é o apoio assegurado pela rede franqueadora. Em geral, como aconteceu a Ribamar, o franqueado recebe treinamento, apoio no marketing e na escolha do ponto.
Marcelo de Jesus
Para ganhar o mundo A professora de inglês Márcia Campos vive de dar aulas, mas o que ela gosta mesmo é de viajar. “Abro mão de tudo que for preciso – restaurantes, roupas, carro novo–, mas me dou, todo ano, dois meses de férias para as viagens.” Em março, ela calcula quanto vai Márcia poder guardar na caderneta de e a filha poupança, em geral 10% do Laura: seu rendimento mensal. “Pelo viagens orçamento, já sei quanto vou ter em julho, e planejo a via-
gem com isso em mente. Em agosto, pago o que falta e, em setembro, começo tudo de novo.” Ela também está formando uma reserva para dar à filha Laura, de 13 anos, uma viagem pelo mundo durante seis meses, de presente de maioridade. Esse projeto começou quando a menina nasceu. Numa conta separada, o valor da viagem é descontado em débito automático, todos os meses, para uma previdência privada. Quando Laura fizer 18 anos, a intenção é que ela possa sacar R$ 30 mil para a viagem e para um carro.
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