Publicações

Page 1

Quinta-feira, 21 de junho de 2012

Suplemento Encontro da Indústria para a Sustentabilidade

Transição acelerada para a

economia verde 100%

do papel produzido no país é de florestas plantadas

97%

das embalagens de alumínio são recicladas

20

©iStockphoto.com

88,8%

da matriz elétrica brasileira tem fontes renováveis, superando a média mundial que é de 19,5%

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), representando o setor produtivo, participou ativamente da construção da posição brasileira na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). Como parte desses esforços, promoveu, dia 14 de junho, no Hotel Sofitel (RJ), o Encontro da Indústria para a Sustentabilidade, que reuniu cerca de 800 empresários para discutir a relação da indústria com os temas em pauta na Conferência, particularmente os desafios para promoção do desenvolvimento sustentável, considerando os pilares econômico, social, ambiental e cultural. Durante o encontro, a CNI divulgou documento inédito, que traz radiografia detalhada dos avanços da indústria brasileira no campo da sustentabilidade. Resultado de mobilização que envolveu 16 segmentos representativos do setor produtivo que, juntos, respondem por 90% do PIB industrial, o levantamento surpreendeu ao identificar avanços concretos na adoção de práticas sustentáveis nos últimos anos (desde a ECO 92). De acordo com os dados do documento, entregue pelo presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, à ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o Brasil tem feito o seu dever de casa, reduzindo gradativamente as emissões de gases de efeito estufa, reciclando, usando insumos renováveis e reaproveitando a água. O país tem um dos maiores índices de reciclagem de embalagens de alumínio do mundo, cerca de 97%. O papel produzido no país, classificado como grande responsável pelo desmatamento, é proveniente, integralmente, de florestas plantadas, preservando as nativas. As emissões de CO² na indústria química foram reduzidas em 47% na última década. E a participação das fontes renováveis de energia na matriz elétrica brasileira atingiu, no ano passado, a meta traçada para 2020, chegando a 88,8%, superando a média mundial, de 19,5%. Criadora do conceito de desenvolvimento sustentável, a ex-primeira-ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland destacou, durante o encontro, a importância da parceria entre setor público e privado para o desenvolvimento da cultura de sustentabilidade no país.

Novo modelo atribui valor aos recursos naturais e define as necessidades de investimentos em conservação. Página 2

Diagnóstico feito em 16 setores industriais revela os avanços no campo da sustentabilidade. Páginas 4 e 5

Pesquisa da CNI aponta as práticas sustentáveis incorporadas ao dia a dia das organizações. Página 6


2 l Quinta-feira, 21 de junho de 2012

ENTREVISTA

Suplemento Encontro da Indústria para a Sustentabilidade

ROBSON Braga de ANDRADE/Presidente da CNI

“Precisamos de cortes nos impostos“ O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, alerta que, apesar dos avanços concretos da indústria no campo da sustentabilidade, ainda há muito por fazer em relação às polí­ticas tributária e de incentivos para que a adoção de novas práticas sustentáveis resulte efetivamente em ganhos de eficiência e competitividade. Por que a Confederação Nacional da Indústria resolveu elaborar documento sobre sustentabilidade com 16 associações nacionais setoriais da indústria? Como está mencionado no próprio documento, A Indústria Brasileira no Caminho da Sustentabilidade, estamos mostrando à sociedade, ao governo e aos atores internacionais envolvidos com a questão ambiental a visão da indústria sobre a agenda do desenvolvimento sustentável. O documento, resultado de amplo processo de articulação com as federações de indústrias e as 16 associações setoriais nacionais que representam 90¨% do PIB industrial, comprova que fizemos o dever de casa. Com investimentos e inovação, a indústria brasileira reduziu consideravelmente o impacto de sua atividade no meio ambiente nos últimos 20 anos, desde a Eco-92. Diminuimos as emissões de gases de efeito estufa, ampliamos a reciclagem e o uso de insumos renováveis, reaproveitamos a água, entre várias outras iniciativas bem sucedidas de sustentabilidade. Houve conquistas importantes. A indústria não é a vilã da preservação ambiental no país.

Se a indústria não é a vilã da preservação ambiental, o que mudou? Que avanços foram feitos? São muitos os exemplos práticos desses avanços. Vários deles estão sintetizados no documento. Hoje, 97,6% das embalagens de alumínio são recicladas no país, um dos mais altos índices do mundo. A celulose e o papel produzidos no Brasil provêm integralmente de florestas plantadas, enquanto a indústria química reduziu em 47% suas emissões de CO² em dez anos. A geladeira fabricada atualmente no país consome 60% menos energia do que há uma década e cada automóvel usa 30% menos água no processo de produção. A prosaica sardinha enlatada brasileira, que você compra numa delicatessen ou na bodega da beira de estrada, é certificada internacionalmente em critérios da FAO, a instituição da ONU especializada em alimentação e agricultura, para preservação da biodiversidade marinha. Esses são apenas alguns dos diversos exemplos de práticas sustentáveis disseminadas na indústria do país. O que está faltando para que a indústria brasileira avance ainda mais

na transição para um modelo econômico de maior sustentabilidade? Falta muita coisa. É verdade que a crise econômica internacional, como se revelou nas negociações da Rio+20, não favorece avanços institucionais significativos globalmente. No caso do Brasil, especificamente, persistem fatores conjunturais e estruturais que minam a competitividade da indústria brasileira. Como mencionei no seminário Encontro da Indústria para a Sustentabilidade, na semana passada, no Rio, as políticas tributárias, monetárias e de crédito são tímidas para estimular os investimentos produtivos. Os custos de produção são altos no Brasil, a infraestrutura é deficiente, a burocracia sufoca, o câmbio ainda sobrevalorizado atrapalha. Não só são necessários aperfeiçoamentos, como eles são possíveis. Em que direção? Não é apenas fundamental resgatar a competitividade da indústria brasileira, como é preciso que esse resgate ocorra respeitando o meio ambiente. Isso pode ser feito com um corte de impostos mais agressivo para as empresas que usam com eficiência os recursos naturais e adotam processos sustentáveis de produção. É sabido que o aparelho tributário é normalmente avesso a abrir mão de receitas, mas ele tem de considerar a dimensão ambiental da atuação das empresas. A transição para um

Houve muitos avanços. A indústria não é a vilã da preservação ambiental Países que são nossos concorrentes diretos no mercado internacional já adotam nas suas políticas industriais o apoio à sustentabilidade O desafio do desenvolvimento sustentável é enorme, mas o Brasil, com certeza, pode, sim, superá-lo

modelo econômico mais sustentável passa por riscos e aumento de custos, por exigir investimentos. É preciso que esses riscos e custos sejam atenuados por iniciativas governamentais amplas e efetivas de apoio às empresas. Países que são nossos concorrentes diretos no mercado internacional já adotam nas suas políticas industriais o apoio à sustentabilidade. Não podemos ficar para trás. O Brasil tem alguma vantagem em relação a esses países? Muitas. É esse nosso diferencial competitivo que tem de ser aproveitado. Quando a discussão sobre a sustentabilidade é um fenômeno globalizado, reforçado pela realização da Rio+20, a hora é essa. Senão vejamos: temos uma matriz energética das mais limpas do mundo, em que quase metade da energia produzida vem de fontes renováveis. Nossa biodiversidade é riquíssima: possuímos 15% das espécies conhecidas pela ciência e 30% das florestas tropicais. Nossa área florestal, a segunda mais extensa do planeta, corresponde a 60% do território e inclui a maior área de floresta tropical do mundo. O Brasil detém cerca de 12% da disponibilidade de água superficial do planeta e é dono do maior estoque de carbono armazenado na biomassa florestal. O desafio do desenvolvimento sustentável é enorme, mas o Brasil, com certeza, pode, sim, superá-lo. Eduardo Uzal/Infoglobo

Novo Sistema de Contas atribuirá valor aos recursos naturais, permitindo mensurar custos de conservação e degradação do meio ambiente

O preço da biodiversidade No Encontro da Indústria para a Sustentabilidade foi divulgado documento inédito que, pela primeira vez, dimensiona o valor econômico da biodiversidade para o setor de negócios no Brasil e identifica oportunidades de práticas sustentáveis, assim como os custos da conservação e da degradação do meio ambiente. O valor da biodiversidade no planeta é estimado em US$ 33 trilhões por ano, valor dez vezes maior do que a quantia gasta por governos, indústrias e ONGs em proteção ambiental. Os custos de sua conservação no Brasil são estimados em US$ 36 bilhões anuais, 12% do valor da biodiversidade no mundo. O Brasil é o país com maior biodiversidade terrestre, tendo entre 15% e 20% dos 1,5 milhão de espécies descritas na Terra. Suas

florestas contribuem com serviços no valor de US$ 4,7 trilhões anuais, como ciclagem de nutrientes, provisão de matérias primas, regulação do clima e controle de erosão. Ciclagem de nutrientes é o serviço ecossistêmico de maior valor: US$ 17 trilhões do total de US$ 33 trilhões. O TEEB, sigla em inglês de A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade, é a primeira experiência metodológica para atribuir valor econômico aos recursos naturais, ativos denominados de capital natural. A partir desse relatório, o Brasil vai criar um novo Sistema de Contas Nacionais e começar a regular a inserção dos ecossistemas na cadeia produtiva dos setores industriais e nas suas decisões de investimento. A ideia é que, uma vez va-

lorizado e negociável economicamente, o capital natural passe a ser objeto de ações de preservação e investimento por parte das empresas. A iniciativa brasileira de elaborar o estudo, que quantifica o valor da biodiversidade, é coordenada pela ONG Conservação Internacional (CI-Brasil), em parceria com a CNI, o Centro de Monitoramento da Conservação Mundial (UNEP-WCMC) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Tem o apoio das empresas Monsanto, Petrobras, Vale e Natura.

Ativo lucrativo

Pavan Sukhdev, líder do TEEB global e consultor da ONU para a economia verde, quantificou o valor deste capital: “É o maior

ativo em desenvolvimento. São US$ 5 trilhões em serviços ambientais, nas diferentes áreas e setores da economia envolvidos com biodiversidade e ecossistemas”, disse. O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Roberto Cavalcanti, informou que o MMA está trabalhando na incorporação de valores de serviços de ecossistemas e de biodiversidade nas contas do governo. “O TEEB nos dará subsídios para criar um novo Sistema de Contas Nacionais”, afirmou. A diretora de Relações Institucionais da CNI, Mônica Messenberg, ressaltou que a compreensão do valor econômico da biodiversidade é o primeiro passo para uma política de conservação e uso sustentável.

Já o diretor-executivo da Conservação Internacional, Andre Guimarães, lembrou que o Brasil cresceu 34% de 1990 a 2010, mas “se descontarmos o custo ambiental, o crescimento é de apenas 3%”. Guimarães destacou a importância de analisar o impacto do solo degradado no aumento da produção de alimento – 40% entre 2006 e 2012 – e alertou para o problema dos oceanos: “Se continuar a degradação nos termos atuais, em 2050 acaba a pesca comercial”, advertiu. Outro alerta do presidente da Conservação Internacional: 42% dos remédios para câncer são advindos de recursos da biodiversidade.“Não conhecemos todos os recursos e eles já estão sendo excluídos”, assinalou.


Quinta-feira, 21 de junho de 2012 l 3

Suplemento Encontro da Indústria para a Sustentabilidade

Mobilização inédita da CNI em 16 setores da indústria aponta que a sustentabilidade já faz parte da agenda estratégica das empresas Eduardo Uzal/Infoglobo

Encontro da Indústria para a Sustentabilidade reuniu, no Rio de Janeiro, 800 representantes da indústria. Durante o evento foi divulgado documento sobre iniciativas do setor produtivo brasileiro para promoção do desenvolvimento sustentável

Indústria brasileira sela pacto pela sustentabilidade No mesmo dia em que o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), o Global Reporting Initiative (GRI) e o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) pediram ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que endossasse a recomendação das três entidades de tornar obrigatória a publicação de relatórios de sustentabilidade pelas empresas, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou, no Encontro da Indústria para Sustentabilidade, o documento que mostra a redução do impacto da indústria brasileira no meio ambiente nos últimos 20 anos. O documento lançado no dia 14, no Hotel Sofitel, em Copacabana, para plateia de mais de 800 representantes da indústria, expressa o esforço inédito da indústria nacional de informar à sociedade o seu desempenho sustentável. “Sabemos que o cenário internacional não favorece saltos institucionais significativos. No entanto, aperfeiçoamentos são fundamentais e devem ter como eixo a criação de incentivos e a remoção de obstáculos para a adoção de novos padrões de produção e consumo”, ressaltou no encontro o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

O documento apresentado pela CNI alinha os avanços na conservação do meio ambiente de 16 setores da indústria, responsáveis por 90% do PIB industrial.

Agenda estratégica Segundo o presidente da CNI, que representa 27 federações de indústrias nos estados e no Distrito Federal, mais de mil sindicatos patronais associados e 196 mil estabelecimentos industriais, o desenvolvimento nacional vem impondo um nível de crescimento da produção e do consumo que responda aos objetivos de distribuição de renda, prioritários, sem que sejam comprometidos os recursos ambientais e os ecossistemas sensíveis. A sustentabilidade passou a fazer parte da agenda estratégica das empresas, conforme mostra pesquisa da CNI com 60 CEOs de diversos segmentos industriais. “Hoje, as indústrias brasileiras não tratam da sustentabilidade como manifestação de boas intenções. Elas incorporam seus princípios nos planos de negócios”, sustentou Andrade. Lembrou que o Brasil conta, hoje, com quase metade da oferta energética oriunda de fontes

Eduardo Uzal/Infoglobo

Sem a participação da indústria, nenhum país é capaz de implementar uma nova agenda na Rio+20 Antônio Patriota

Estamos numa nova fase de diálogo entre indústria, governo e sociedade Izabella Teixeira

Hoje, as indústrias brasileiras não tratam da sustentabilidade como manifestação de boas intenções Robson Braga de Andrade

renováveis no mundo; 15% do número de espécies conhecidas pela ciência e a segunda maior extensão de florestas do planeta, o maior estoque de carbono armazenado na biomassa florestal e cerca de 12% da disponibilidade de água superficial do planeta.

Principais impactos Os principais impactos, desde a Eco-92, ocorreram na redução das emissões de gases de efeito estufa graças à reciclagem, uso de insumos renováveis e reaproveitamento da água. Andrade anunciou, ainda, o compromisso da CNI de divulgar os avanços da indústria em sustentabilidade a cada quatro anos e propôs ao governo desonerações tributárias para a produção que preserve o meio ambiente. A ministra do Meio Ambiente destacou como fundamental a atuação da indústria na agenda da sustentabilidade. “Estamos saindo do idealismo para o pragmatismo, numa nova fase de diálogo entre indústria, governo e sociedade”, disse ela, acrescentando que o desenvolvimento de novas práticas no setor industrial reduziu custos, aumentou a renda e gerou empregos. O ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, ressaltou a

“O desenvolvimento sustentável dá resultados”

participação da CNI na elaboração de documento inédito do governo brasileiro, submetido à ONU, sobre o valor e os custos dos ecossistemas e da biodiversidade. “Sem a participação da indústria, nenhum país é capaz de implementar uma nova agenda na Rio+20”, enfatizou. Também participaram da abertura do encontro o senador Luiz Henrique (PMDB-SC), chefe da delegação do Congresso Nacional para a Rio+20, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Aroldo Cedraz, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, e o vice-prefeito do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Muniz. Na primeira mesa do dia, Oportunidades e Desafios para Sustentabilidade Empresarial em Países Emergentes -, a ex-primeira ministra da Noruega, Gro Herlen Brundtland, defendeu a importância da parceria entre o setor público e privado para o desenvolvimento da cultura de sustentabilidade no país. Na parte da tarde, mais três sessões de discussões: Inovação e Pesquisa Tecnológica para Sustentabilidade, Uso Sustentável dos Recursos Naturais e Crescimento Sustentável com Inclusão Social.

O que podemos esperar em termos de governança global para o desenvolvimento da sustentabilidade? Deve-se estabelecer o diálogo e a troca de experiências de aprendizado entre os diversos setores das indústrias. É a única forGro Harlem Brundtland é política, diplomata, médica e líder internacional em ma de conseguirmos um resultadesenvolvimento sustentável e saúde pública. Ex-primeira-ministra da Noruega, do melhor para a sociedade. O que ainda pode e deve ser feito? presidiu a Comissão para o Meio Ambiente da ONU e, depois, publicou o relatório Se pudermos economizar ainO Nosso Futuro Comum, quando ‘criou’ o conceito de desenvolvimento sustentável. da mais energia e reduzir ainda mais o desperdício, teremos subQuais foram os principais avanços Como a crise econômica mundial sídios reduzidos, o que pode gerar no desenvolvimento sustentável nes- pode afetar a questão da sustentabi- investimentos sociais constantes. tes 20 anos? lidade? Nenhum país quer continuar deHouve mudança considerável Os países, principalmente os de- gradando o meio ambiente. no uso de energia, nos padrões de senvolvidos, não devem abrir mão Como o Brasil se enquadra na eficiência energética. As coisas es- da sustentabilidade em meio à crise economia verde? tão acontecendo, ainda que lenta- econômica porque, a longo prazo, A desaceleração do desmatamente. os investimentos nessa área trarão mento da Amazônia está muiQual o aspecto mais importante muitos retornos. to melhor agora do que quando para se criar uma cultura de sustenQuais os resultados da prática da estive aqui em 1985. Eu achava tabilidade? sustentabilidade? uma estupidez os ambientalisEm todo o mundo é crescente O desenvolvimento sustentável tas virem dizer o que fazer com a o ganho de capital. Como na épo- dá resultados. A pobreza no mundo Amazônia. Cubatão, um dos caca da Eco-92, há 20 anos atrás, a diminuiu, as pessoas hoje têm mais sos mais graves de poluição inunião entre o setor público e o pri- acesso à energia, à comida, ao bem- dustrial, hoje é um exemplo de vado é crucial. -estar, mas ainda falta muito. como as coisas mudam.


4 l Quinta-feira, 21 de junho de 2012

Suplemento Encontro da Indústria para a Sustentabilidade

Quinta-feira, 21 de junho de 2012 l 5

Suplemento Encontro da Indústria para a Sustentabilidade

Investimentos feitos nos últimos 20 anos elevaram a indústria brasileira a novo patamar de sustentabilidade no cenário mundial

Indústria brasileira faz a sua parte A Lafarge, empresa da área de cimento, é referência no uso de resíduos industriais, como pneus e óleos, para produção de energia. A substituição gradual de sua fonte de energia vem reduzindo a emissão de CO². Em relação a 1990, a queda nas emissões foi de 22%. Em 2011, em parceria com a WWF, anunciou meta para chegar a 33% até 2020. A Siemens desenvolveu portfólio de soluções com a marca d’água de sustentabilidade, que hoje responde por mais de 40% das vendas.

A

Confederação Nacional da Indústria (CNI) fez levantamento inédito junto a 16 associações setoriais para mapear iniciativas das empresas na direção do desenvolvimento sustentável e, ao mesmo tempo, identificar expectativas e desafios envolvidos na transição para a economia verde. O resultado detalhado desse trabalho foi reunido em um documento, apresentado durante o Encontro da Indústria para a Sustentabilidade. As informações reunidas a partir do levantamento surpreenderam: a indústria registrou avanços enormes na adoção de práticas sustentáveis nos últimos 20 anos (desde a ECO 92). “A expectativa é de que o documento contribua para desfazer a percepção equivocada de que nada vem sendo feito ou de que a indústria é a grande vilã do meio ambiente”, observou a diretora de Relações Institucionais da CNI, Mônica Messenberg. O que fica evidente, segundo ela, é que hoje a indústria é parceira da sustentabilidade, considerando os pilares social, econômico, ambiental e cultural. O avanço foi generalizado, em particular no que diz respeito à utilização de fontes de energia renováveis e alternativas. Como consequência, o que se verifica é uma redução das emissões de CO². Em outra frente, houve integração de diferentes setores para gestão e aproveitamento dos resíduos industriais; e, por fim, ocorreu a adoção de novas técnicas de compensação e manejo florestal para redução dos impactos da atividade industrial na biodiversidade.

Mais competitividade A Iso-Block fez da sustentabilidade um negócio. Desenvolveu uma técnica para o aproveitamento de resíduos industriais na construção. Os blocos feitos pela empresa são resistentes, mais leves e ambientalmente corretos. A ALPEX se destaca no segmento de logística reversa no Brasil. Dentro do setor de alumínio, a reciclagem é de quase 100%. As empresas que exploram a bauxita, matéria-prima do alumínio, fazem o replantio de mudas nativas. A Vale considera as ações de sustentabilidade como vantagens competitivas por reduzirem custos de combustível e água. A empresa desenvolveu um combustível próprio, à base de óleo de dendê, e faz beneficiamento de minério a seco, com praticamente consumo zero de água. A Pepsico desenvolveu um programa para reutilização das caixas de papelão usadas para a entrega de salgadinhos e mais de 200 agricultores participam de iniciativa que ensina técnicas de racionalização de água no plantio de batatas. A Klabin, da área de papel e celulose, mantém parceria com 19 mil proprietários que cultivam 15 mil hectares de florestas. A madeira que a empresa adquire deles totaliza 10% do total consumido pelo grupo. Em 2012, esse volume deverá alcançar 20%.

O levantamento apontou, ainda, que existe entendimento por parte da indústria de que a economia de energia e a racionalização de água são fatores importantes no ganho de competitividade, uma vez que estes recursos têm impacto direto nos custos e na eficiência da produção. Outro aspecto que merece destaque é o aumento dos investimentos da indústria em inovação, especialmente para desenvolvimento de equipamentos e produtos menos poluentes e com mais eficiência energética.

Aço

Uso do carvão a partir de florestas plantadas, com certificações, faz com que as emissões de CO² sejam compensadas pela fotossíntese. Cerca de 11% da produção brasileira é obtida a partir do uso do carvão vegetal de origem renovável como redutor em substituição ao coque. As empresas estão buscando projetos de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) para gerar crédito de carbono.

Eletro-Eletrônica Oferece cada vez mais serviços e produtos que demandam menos energia e consumo de água, a exemplo de sistemas de automação predial, geladeiras mais econômicas, que consomem menos energia, computadores e sistemas de TI utilizados em praticamente todas as áreas da chamada economia verde.

Automotivo

A prioridade são motores mais eficientes, de menor consumo e emissões, bem como o uso de combustíveis alternativos. O setor fez inovações, expandiu o uso de etanol em veículos, motocicletas e aviões. Um carro fabricado hoje emite 28 vezes menos poluentes do que o produzido 30 anos atrás. Reduziu em 30% a quantidade de água utilizada para produção de um veículo (de 5,5 m³ para 3,92 m³).

Alumínio

Tem um dos mais elevados índices de reciclagem. É campeão há dez anos consecutivos na reciclagem de latas para bebidas, e a proporção de sucata de alumínio recuperada é superior a 36%, contra 28% da média mundial. O alumínio do país é “verde” em sua origem, com matriz energética limpa e renovável. O metal oferece reciclabilidade absoluta.

Celulose e papel

Mantém 2,2 milhões de hectares de florestas plantadas para fins industriais e 2,9 milhões de hectares de áreas preservadas. A cada hectare de floresta com finalidades produtivas preservase entre 0,7 a 1 hectare de ambiente natural. Dos 5,1 milhões de hectares de florestas, 2,7 milhões são certificados por instituições de reconhecimento internacional (FSC e PEFC).

Cimento

A indústria brasileira do setor é amais ecoeficiente do mundo. De 1990 a 2002, a produção aumentou 50%. A emissão de CO² variou apenas 38%, resultante da redução das emissões, que caíram 8%. Levantamento do Cement Sustainability Intiative (CSI) em mais de 900 unidades fabris de 46 grupos industriais do mundo identificou o Brasil como o de menor emissão específica de CO².

Sucroenergético

Usinas de açúcar e etanol usam o próprio bagaço da cana-de-açúcar para gerar energia. Nos canaviais, fertilizantes industrializados estão sendo substituídos por adubos minerais. Desenvolve sistema de certificação voluntário que estabelecerá padrões para práticas responsáveis na produção de açúcar e etanol (combustível limpo e renovável, que reduz as emissões de gases de efeito estufa em cerca de 90%.)

Mineração

Reciclagem e o reaproveitamento de água chegam a 90% na exploração de ferro, ouro, bauxita e carvão mineral. Outros minérios têm índice igual ou superior a 50%. Construção de hidrelétricas próprias, utilização de painéis solares e biomassa são tendência no setor. Nas ações para preservação da biodiversidade, em 2010, foram mantidos 1,1 mil hectares de área protegida, houve 7 mil hectares de revegetação e se criaram 5 milhões de viveiros de mudas. O Grupo Orsa possui um programa desde 2001 que incentiva produtores rurais a plantar eucalipto e pinus em áreas ociosas e degradadas de suas propriedades. São 16 mil hectares plantados.

Construção

Firmou na Rio+20 compromisso de desenvolver indicadores nacionais e metas de redução dos efeitos das mudanças climáticas. Adota projetos ambientais que incluem a reciclagem de materiais e a redução de gases de efeito estufa, além do uso do Light Steel Framing, que substitui paredes comuns por estruturas de aço revestidas, reduzindo o consumo de cimento, brita e areia.

Alimentação

Dos 198 projetos de crédito de carbono, 85 são ligados à cadeia de alimentação. Até 2020 terão retirado da atmosfera ou evitado a emissão de 34,8 milhões de toneladas de CO². Em 2011, 43% dos projetos de crédito de carbono envolveram o setor industrial. Nada menos do que 95% da sua matriz energética é renovável; 75% da energia consumida vem do bagaço de cana-de-açúcar.

A Votorantim Metais passou a reaproveitar rejeitos de sua mina em Morro Agudo, em São Paulo. Com o aprimoramento dos processos debeneficiamento de minério a empresa transformou o pó de calcárioindustrial em pó de calcário agrícola, usado para correção da acidez do solo em áreas de plantio de café, milho e soja.

Florestas Nativas Indústria de manejo sustentável produz cerca de 26 milhões de m³ de toras para serrarias e laminação de folhosas, o que representa 11% do comércio mundial. Em 2010, produziu 16 milhões de m³ de serrados de folhosas ou 15% da produção mundial. Garante a produção contínua de madeira com conservação da biodiversidade da floresta.

Petróleo e gás

Reduziu a geração de resíduos da produção de petróleo. O volume médio de derrames de petróleo e derivados para o meio ambiente é 20 vezes inferior à média mundial. Adotou medidas para diminuir as emissões de gases de efeito estufa inovando no processo de refino. Produção nacional de etanol e biodiesel hoje equivale a 27% da produção nacional de petróleo.

Máquinas e equipamentos

Desenvolve o projeto Carbono Zero, que busca promover novo modelo de gestão a ser adotado pelas empresas para diminuir a emissão de CO². A estimativa da Abimaq é de que 90% das empresas adotam políticas para reduzir o impacto ambiental de suas atividades, a exemplo da produção de máquinas ecoeficientes. É pouco intensivo no consumo de energia.

Têxtil e confecção

Lançou o selo Algodão Responsável Brasileiro (ABR) para premiar quem investe em práticas sustentáveis. Investe em iniciativas de certificação e autoregulamentação, a exemplo do Selo QUAL. Usa novas técnicas de estamparia, sem vaporização e processos de lavagens. Neutraliza e trata efluentes. Elabora projetos de coleta e reciclagem de sobras de confecção.

Energia elétrica

Cerca de 70% da capacidade da produção nacional é composta por usinas hidrelétricas. Investiu na constituição de matriz energética renovável e sustentável, apoiada por boas práticas de gestão socioambiental. A matriz brasileira é 7,5 vezes mais limpa do que a mundial, porque a sua característica é de uso de fonte não fóssil.

Química Manteve a estabilidade das emissões de CO²

entre 2001 e 2010. O crescimento das emissões de processos químicos foi inferior ao da produção na última década. Reduziu em 60% a intensidade de efluentes. Desafio é a redução de resíduos, que acompanhou o aumento da produção. Vai investir US$ 3,3 bilhões em manutenção, melhorias de processo, segurança e troca de equipamentos.

A Samarco alcançou a marca de 90% de reuso de água nos seus processos industriais na unidade de Mariana (MG). Isso só é possível porque a mineradora utiliza equipamentos de alta tecnologia (espessadores) na produção. A Lorenzetti desenvolveu um chuveiro híbrido, que é um aquecedor solar com um chuveiro elétrico no ponto de uso. Estudo elaborado pelo Centro Internacional de Referência em Reuso de Água revela que esse sistema de aquecimento de água é o mais econômico. Um banho de oito minutos custa, em média, R$ 0,27 no chuveiro híbrido, contra os R$ 0,59 dos aquecedores a gás e R$ 1,08 com boiler. O produto é utilizado no programa Minha Casa Minha Vida do Governo Federal. A Anglo American, da área de mineração, apoia o programa Biodiversidade Vai à Escola em Barro Alto e Niquelância (GO), desenvolvido pela Universidade Federal de Goiás (UFG). A iniciativa inédita estabelece a capacitação científica de professores para ensinar sobre a riqueza da fauna e flora do Cerrado e a distribuição gratuita de material didático para as escolas da região.


6 l Quinta-feira, 21 de junho de 2012

Suplemento Encontro da Indústria para a Sustentabilidade

Pesquisa realizada com 60 dirigentes de empresas brasileiras aponta que práticas sustentáveis já são uma realidade e elevam a eficiência e a competitividade

Uma nova lógica empresarial

MAIS

SAIBA

©iStockphoto.com

A indústria mudou e o empresário brasileiro passou vos asseguram que projeto algum sai do papel ou recebe a enxergar a sustentabilidade como uma necessidade no autorização de investimento se não tiver incorporado mundo dos negócios. Pesquisa inédita da Confederaconceitos de sustentabilidade. ção Nacional da Indústria (CNI), feita com 60 executivos Entretanto, 70% dos entrevistados disseram que a susde grandes empresas do país, aponta que, para a maiotentabilidade traz custos adicionais e, para 30%, essa é a ria deles, ser sustentável tem impacto positivo na comprincipal barreira para a adoção de novas práticas. Na vipetividade. E, por outro lado, não aderir a essa postura, são dos executivos, a redução de custos depende, fundapara 39%, coloca em risco a sobrevivência da empresa mentalmente, de ações em três frentes: políticas de inono mercado. Outros 18% temem imagem negativa da vação e de incentivo e mudança cultural, em especial no corporação. que diz respeito ao comportamento de consumo. Há con“Hoje, o empresário tem noção clara de que a sua senso de que o papel do governo é importantíssimo nesmanutenção no médio e longo prazos no mercado só se processo, em particular na criação de instrumentos forse dará de forma sustentável. Mas a velocidade com mais que possam garantir condições de competitividade que isso vai se processar depende de estímulos à inoàs empresas que abraçam a lógica da sustentabilidade. vação”, afirmou a diretora de RelaO levantamento, inspirado em esções Institucionais da CNI, Monica forço semelhante desenvolvido pela Há certeza por parte Messenberg. Global Compact, das Nações Unidas, Inédita no Brasil, a pesquisa, feita em 2010, com 766 executivos de 10 pada indústria de que pelo Instituto FSB neste ano, não só íses, aponta, ainda, haver convicção por a transição para uma reforça os avanços registrados na inparte da indústria de que a transição economia sustentável dústria como demonstra a maturidade para uma economia sustentável é comde algumas empresas em relação ao patível com os objetivos de crescimené compatível com os desenvolvimento sustentável. Algueconômico e melhoria das condições objetivos de crescimento to mas das corporações ouvidas já nascede competitividade. E que esse é o caeconômico ram sob essa lógica, e muitos executiminho para o futuro.

Principais resultados da pesquisa

70%

Economia verde

dizem que ser sustentável representa custo adicional para a empresa. Geralmente, gera custos e reduz a rentabilidade no curto prazo, mas compensa em médio e longo prazo (Custo, nesse caso, deve ser visto como investimento em consultorias especializadas, P&D e inovação e capacitação e treinamento, entre outros)

Mais inclusão social, menos impacto ambiental

93%

consideram alto o impacto da sustentabilidade nas políticas de inovação da empresa – como a procura por soluções de eficiência para o menor uso de recursos naturais e para o atendimento de demanda dos consumidores.

Economia verde é aquela que resulta em melhoria do bem-estar humano e em mais igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos ambientais e a escassez de recursos naturais. Tem algumas características preponderantes: é pouco intensiva em carbono, eficiente no uso de recursos naturais e socialmente inclusiva. A ideia da economia verde ganhou força nos últimos anos e passou a ser um dos principais eixos de debate da Rio+20. Para os executivos entrevistados pela CNI, a economia verde, de forma simplificada, significa: produzir mais, para atender às demandas da humanidade, dos mercados emergentes, dos mais excluídos, com mais inteligência e menos impacto. O equilíbrio e a harmonia apontados pela maioria aparecem como indutores de justiça social e um reflexo da ética e integridade nos negócios.

83%

relacionam sustentabilidade à economia verde ou aos três pilares do conceito de sustentabilidade (ambiental, econômico e social) – o que demonstra visão mais contemporânea e consciente em relação ao tema, em que já se superou a dicotomia crescimento econômico X preservação do meio ambiente.

76%

acreditam que os investimentos em sustentabilidade vão crescer nos próximos dois anos e 19% dizem que a tendência é a estabilidade, enquanto 4% crêem em redução.

86% 65% 86%

das empresas concentram as ações de sustentabilidade no topo do organograma – estão na presidência, diretoria ou vice-presidência.

das empresas têm áreas específicas para tratar de questões ligadas à sustentabilidade. das empresas ouvidas monitoram suas ações de sustentabilidade. Muitas utilizam ferramentas sofisticadas – seja por sistemas próprios ou se submetem às regras rígidas de programas internacionais (como Global Reporting Initiative). Fonte: Instituto FSB Pesquisa

próximos passos

Consulta a executivos e empresários buscou reunir conjunto de propostas comuns para desenvolvimento de ações futuras

A pesquisa realizada pela CNI apontou que os desafios para os próximos 20 anos são tão grandes quanto os das duas últimas décadas. Nesse sentido, as principais conclusões da pesquisa apontam para ações do setor produtivo em três frentes: para dentro do próprio setor, no país e na esfera global.

Setor produtivo l Promover a troca de experiências entre as empresas e o conjunto do setor produtivo, por meio da CNI e das associações setoriais;

do setor privado com ONGs e outras instituições da sociedade civil pode contribuir de forma importante para o fortalecimento e ampliação do diálogo entre os diversos segmentos industriais;

l Criar centros de inovação Ações para o país setoriais, promover fóruns sobre l É preciso construir políticas sustentabilidade e qualificação do conceito de economia verde, de incentivos e subsídios para superar o desafio da formação da a inovação e a sustentabilidade, mão-de-obra e da questão social; o que inclui debate sobre compras sustentáveis por parte do governo e parcerias entre o l Mapear e relatar experiências Estado e a iniciativa privada; bem-sucedidas de parcerias

Mobilizar governo, sociedade e setor produtivo para a compreensão de que somente a inovação e a busca da eficiência vão criar um ambiente de negócios para produtos sustentáveis;

l

l É preciso avançar na definição de métricas com base em referências sólidas e confiáveis e na capacidade de avaliação e mensuração de impactos na área social.

Governança internacional Fomentar fóruns e articulações do setor produtivo de diferentes setores e partes do mundo para troca de ideias e, principalmente, de visões e soluções para o desenvolvimento sustentável dentro da lógica

l

da competitividade, de bons ambientes de negócios, de segurança social, jurídica, ambiental; Mobilizar incentivos e subsídios de inovação para a sustentabilidade, no nível global, com fundos específicos para a promoção da produção e consumo sustentáveis em países em desenvolvimento, bem como a transferência de tecnologias para esses países por parte dos países desenvolvidos;

l

l Avançar

na criação de padrões mínimos globais de sustentabilidade, buscando evitar barreiras à importação de produtos intensivos no uso de recursos naturais e nas emissões de gases de efeito estufa.


Quinta-feira, 21 de junho de 2012 l 7

Suplemento Encontro da Indústria para a Sustentabilidade

Projetos e ações de empresas brasileiras evidenciam que é possível alinhar interesses organizacionais aos da sociedade

Desenvolvimento com cidadania Em vinte anos, de vilão a mocinho

Divulgação

A produção mundial de cimento, produto listado como um dos grandes poluidores do planeta, aumentou em 170% desde 1992. Mas a indústria brasileira não veste a carapuça de poluidora. Está no topo da lista dos países de melhor performance energética e ambiental e de maior potencial de redução de CO², de acordo com análise da Agência Internacional de Energia. A emissão total de CO² pelo Brasil é de 1,4%, índice abaixo da média mundial. Quase todo o cimento no país é hoje produzido por via seca, em fornos equipados com pré-aquecedores e calcinadores.

Menos poluentes Seus fabricantes passaram também a adicionar outros resíduos menos poluentes. O uso de combustíveis alternativos representa hoje 9% da matriz energética do setor. O consumo aumentou de 40 milhões de toneladas para 65 milhões de toneladas ao ano entre 2006 e 2011. A capacidade instalada dos 13 fabricantes passou de 63 milhões anuais para 78 milhões. “A demanda elevou a expectativa para mais 33 milhões de toneladas por ano até 2016”, informou José Antônio Carvalho, presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC).

Com a mecanização da colheita, ex-cortadores de cana estão sendo qualificados para exercer outras atividades profissionais, como a de soldador

Aprovação popular

Vida depois do corte de c ana A indústria de cana-de-açúcar de São Paulo firmou, em 2007, o Protocolo Agro-ambiental do Setor Sucroalcooleiro Paulista, com o objetivo de antecipar para 2014 a data estipulada para o fim da queima da palha, 2021. Com isso, a colheita mecanizada deverá alcançar 70% de toda a produção já na safra de 2011/2012. Bom para o meio ambiente, pois consolida o etanol e

demais produtos como sustentáveis, e para a evolução tecnológica das empresas. Mas o que fazer com milhares de trabalhadores que têm no corte da cana o seu principal meio de sustento? Para não deixá-los sem meios de sobrevivência, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única) desenvolveu amplo programa de requalificação profissional.

Maria Luiza Barbosa, gerente de Responsabilidade Corporativa da entidade, diz que os participantes não cortam mais cana, recebem salários, todos os benefícios e estudam. O RenovAção já capacitou 4.550 trabalhadores rurais em 30 diferentes segmentos. Ao todo, as 140 usinas vinculadas à Única já requalificaram 22 mil trabalhadores.

Fred Jordão/Divulgação

Franklin L. Feder é o presidente para a América Latina e Caribe da Alcoa Alumínio, gigante do setor. Mas nunca tinha administrado uma cidade. Pois foi o que teve de aprender depois dos investimentos de US$ 2 bilhões feitos pela Alcoa para extrair bauxita em Juruti, cidade de 45 mil habitantes na divisa entre Pará e Amazonas. O município fica a 12 horas de barco de Santarém e algumas de suas mais de 200 localidades só são acessíveis por barco. As reservas de bauxita – insumo do alumínio – são estimadas em 700 milhões de toneladas. O povo de Juruti vivia da economia de subsistência. Nunca tinha visto de perto sequer uma autoridade pública, até a chegada da Alcoa e de seus 1.500 trabalhadores, em 2005. “Tivemos que aprender a ser ambientalmente e socialmente responsáveis. Sem isso, não conseguiríamos implantar a mina e muito menos integrá-la ao município”, afirmou o executivo.

Planejamento e capacitação

Projeto de implantação de cisternas no semiárido nordestino garante abastecimento de água para três milhões de moradores da região

Esperança que nunca seca Só chove durante três meses na região do semiárido nordestino, onde vivem 22 milhões de pessoas. O resto é estio e esperança da volta da chuva. Claudia Pires, gerente Sênior de Sustentabilidade e presidente do Instituto PepsiCo, apostou no projeto da ASA – Articulação do Semiárido, que constrói cisternas. “A empresa resolveu investir R$ 3,5 milhões em projetos de levar água para três milhões

de pessoas que vivem na região”, disse Claudia. O projeto de construção de cisternas de água para beber é transformador.“Muitas mulheres voltam a estudar, porque deixam de caminhar 10 quilômetros com lata de água na cabeça”, revelou. Noventa por cento das cisternas têm nome de mulher. No sertão da Bahia, a 150 quilômetros de Feira de Santana, não chove há 19 meses. O

que impressiona Claudia: as pessoas nunca deixam de sorrir, de confiar que a chuva vai voltar a cair. Outro projeto, em uma localidade a 220 quilômetros de Recife (PE), capital pernambucana, já resultou na construção de 450 cisternas de água potável. “Elas têm, cada uma, 18 mil litros. As famílias gerenciam a água de tal maneira que uma cisterna garante que cinco pessoas de uma família bebam água o ano inteiro”, diz.

Lixo com valor de mercado A Camargo Corrêa se especializou em recolher e tratar o lixo dos canteiros, cozinhas e escritórios das grandes obras da empresa: restos de óleo, baterias, pneus, papéis, plásticos, madeiras e cinzas. A meta é preservar florestas e reduzir gases de efeito estufa em 37% até 2020 e diminuir resíduos e cus-

tos da construtora. Ela lucra com o esforço de ser sustentável: o preço da sucata metálica, por exemplo, subiu de 60% a 80%, passando de 12 para 18 centavos o quilo. A troca das baterias de caminhões dá desconto na compra das novas. A empresa administra centrais de triagem e composta-

gem de lixo e áreas especiais de armazenamento para coleta seletiva, em parceria com prefeituras locais e cooperativas de catadores. “Este ano, 47% dos resíduos serão destinados à reciclagem, 10% a mais do que em 2011”, adiantou o coordenador ambiental Ricardo Sampaio Fernandes.

Como sobra lixo, a empresa criou a Bolsa de Resíduos online, por meio da qual encontrou interessado em reciclar os 80 mil copinhos de plásticos usados pelos trabalhadores da Usina Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia. O projeto deu tão certo que vai se expandir para as construções fora do país, na Argentina e no Peru.

Os dirigentes da Alcoa tiveram que tomar decisões tradicionalmente de competência exclusiva de administradores públicos, para reduzir o impacto de um empreendimento que incluiu a construção de um porto em pleno rio Amazonas e de uma ferrovia de 55 quilômetros para transportar o minério. Franklin Feder disse que a parceria com ONGs foi fundamental. A “administração” do município pela Alcoa incluiu desde a criação de Conselhos com participação de moradores para planejar o futuro da cidade, até Fundos cujos recursos são destinados a capacitar empreendedores locais. A Fundação Getúlio Vargas foi contratada para, com a população, mensurar indicadores sociais de saúde, educação, etc. Deu certo. A gigante do alumínio obteve 90% de aprovação da população local, segundo pesquisa do Ibope realizada a cada dois ou três anos. “Mas o projeto será avaliado de fato pela nossa capacidade de devolver a área minerada do mesmo jeito que encontramos”, assinalo Feder.

Coordenação de Produção: Link Comunicação Integrada Edição: Cláudia Bensimon Subeditor: Maurício Scheleder Reportagem: Henrique Brandão, Márcia Gomes e Rosane de Souza Produção: Bia Pinilla Fotografia: Eduardo Uzal/Infoglobo, Fred Jordão e Divulgação Desenho: João Carlos Guedes Apoio editorial: FSB Comunicações Supervisão Geral: Carlos Alberto Barreiros, Diretor de Comunicação da Confederação Nacional da Indústria A responsabilidade pela apuração das informações deste suplemento é da Link Comunicação Integrada


l Segunda-feira, 24 de de 2011 Segunda-feira, 24 outubro de outubro de 20111

e seus impactos na sociedade Brasileiros ainda desconhecem os riscos da pirataria de medicamentos

P

esquisa inédita do Ibope sobre a informalidade no mercado de medicamentos revelou que um em cada dez brasileiros pede orientação ao balconista das farmácias antes de adquirir o medicamento prescrito. Do universo de 2002 entrevistados em todo o país, 17% afirmaram, ainda, que pedem a indicação de remédio aos familiares; 16% ouvem a opinião dos farmacêuticos; 8% dos balconistas; 6% dos amigos; 4% consultam a internet; 1% compra em barracas de vendas de ervas naturais; e 2% não hesitam em adquirir remédios que veem em propaganda de televisão. O levantamento do Ibope foi apresentado no seminário A Informalidade e seus Impactos na Sociedade, promovido pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), e preocupou os palestrantes. Entre eles, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que anunciou a intenção de desenvolver ações educativas de amplo alcance social, além de destacar o Plano Estratégico de Fronteiras, primeira ação que articula várias forças governamentais para vigiar os 17 mil quilômetros de fronteira terrestre do Brasil. O presidente-executivo da Interfarma, Antônio Britto, apoia a iniciativa, pois acredita que o tamanho do país torna a situação mais preocupante, já que a vasta fronteira territorial e a complexidade do mercado fazem do Brasil alvo preferencial da falsificação e do roubo de medicamentos. O ministro, por sua vez, diz que está clara a necessidade de esclarecimento público sobre os riscos contidos no consumo de medicamentos produzidos e distribuídos fora dos canais legais. A mesma pesquisa do Ibope mostrou que 47% dos entrevistados jamais ouviram falar do selo de segurança – ou “raspadinha” – contido nas embalagens dos remédios.

ANÚNCIO O Globo - Interfarma 5.indd 1

08/08/2012 14:04:15


2 l Segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Marcelo de Jesus/Infoglobo

Leis mais duras

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o presidente-executivo da Interfarma, Antonio Britto alertaram sobre riscos dos medicamentos ilegais

Seminário debate informalidade Contrabando, sonegação e falsificação ameaçam saúde dos brasileiros

A Produção: Link Comunicação Integrada Coordenação e edição Cláudia Bensimon Editor assistente Maurício Schleder Desenho João Carlos Guedes Reportagem Eduardo Carvalho, Rosane de Souza e Verônica Couto Fotografia Marcelo de Jesus/ Infoglobo, Agência O Globo Produtora Bia Pinilla A apuração das informações deste suplemento é de responsabilidade da Link Comunicação Integrada

O Globo - Interfarma 5.indd 2

parceria entre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária e o Ministério da Justiça para combater a informalidade resultou, desde 2007, em 170 operações, com 648 prisões, 2.611 locais inspecionados e 978 interditados. As apreensões incluíram, entre outros itens, 143.572 unidades de medicamentos falsos e contrabandeados (em comprimidos ou ampolas), 420.996 caixas de medicamentos controlados e 425 toneladas de medicamentos sem registro, vencidos ou impróprios. As informações foram dadas pelo diretor presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, durante o seminário Informalidade e seus Impactos na Sociedade, promovido pela Interfarma, no último dia 17, no auditório do Jornal O Globo, no Rio de Janeiro. São números que impressionam. “A informalidade na área de medicamentos é fatal, daí serem necessá-

rias atitudes muito firmes”, enfatizou o presidente-executivo da Interfarma, Antonio Britto. Segundo ele, quando se fala em pirataria, imediatamente o que vem à cabeça é algo relacionado a cópias não autorizadas de filmes, músicas ou software. “A falsificação de medicamentos é a mais nociva e a menos percebida”, alertou. “A Indústria, o Ministério da Justiça e a Anvisa têm atuado em conjunto, mas essa situação só poderá ser revertida com a conscientização e a fiscalização da sociedade”, afirmou Britto, ressalvando que a intenção não é alarmar as pessoas, mas ampliar o debate e buscar soluções consistentes capazes de proteger a população. Na opinião do presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual, Paulo Abrão, o dado mais alarmante da pesquisa indica que 1/5 dos brasileiros já compraram remédios tarjados sem antes consultar

o médico, enquanto 6% assumiram que são habituais clientes dos camelôs – na Região Norte este percentual chega a 18%. Sete em cada dez também já pediram aos balconistas a indicação de um remédio mais barato do que o receitado pelo médico, dos quais 100% optaram pelo de menor custo, e 30% jamais checaram a validade dos medicamentos. Para o presidente do Fórum Nacional contra a Pirataria e a Ilegalidade, Edson Vismona, os desvios de conduta nessa área deveriam ser taxados sempre de ilegalidades, uma vez que, na sua opinião, a teia do crime - que sempre atua com práticas entrelaçadas – envolve contrabando, sonegação, corrupção, danos à saúde, tráfico de drogas e armas, trabalho escravo e subemprego. Pelas contas de Vismona, o Brasil deixa de arrecadar cerca de R$ 40 bilhões ao ano com o mercado ilegal e de oferecer mais 2 milhões de empregos.

Mudanças normativas buscam facilitar a fiscalização dos medicamentos. O PL 8.052/2011, em tramitação, quer permitir a análise dos itens apreendidos por amostragem de lotes e autorizar a destruição dos produtos antes do fim do processo – para liberar os armazéns da Policia Federal, atualmente lotados. Já no Senado, há três projetos, informou o senador Humberto Costa (PT/PE), da Frente Parlamentar Mista de Combate à Pirataria e Sonegação Fiscal da Câmara. O 163/2011 institui a Política Nacional de Combate à Pirataria de Produtos Submetidos à Vigilância Sanitária, que formaliza as parcerias entre órgãos e instâncias de governo, e conceitua a pirataria. Já o PL 464 permite suspender cautelarmente o funcionamento de empresas envolvidas em ilícitos com medicamentos. E o PL 368 dá competência à PF para apurar crimes de falsificação, corrupção e adulteração, incluindo venda irregular pela Internet, quando houver repercussão interestadual. O projeto revê decisão do STJ que entende que a PF só deve apurar casos com ramificação internacional.

08/08/2012 14:04:17


Segunda-feira, 24 de outubro de 2011 l 3

ENTREVISTA: JOSÉ EDUARDO CARDOZO, MINISTRO DA JUSTIÇA

‘A atitude do cidadão faz toda a diferença’ Fotos de Marcelo de Jesus/Infoglobo

Há projetos concretos de combate à pirataria de medicamentos? O ministério fala em aprimorar e desenvolver mecanismo de apoio à fiscalização, prevenção e repressão do comércio ilegal, a exemplo do sistema de rastreamento de medicamentos e do Siscomex Marcas. Há alguma previsão de implantação dos dois mecanismos de prevenção à pirataria de medicamentos? O Conselho Nacional de Combate à Pirataria (CNCP) mantém acordo de cooperação técnica e operacional entre a Anvisa, o Departamento de Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal visando ações conjuntas no combate aos medicamentos falsificados, sem registro e contrabandeados. Desde a assinatura desse acordo as apreensões anuais, por exemplo, aumentaram de 28 para 360 toneladas entre 2008 e 2009. O sistema de rastreabilidade é um projeto da Anvisa que prevê um numero único do medicamento, o que possibilitará acompanhá-lo desde a sua fabricação e distribuição até os pontos de venda. Isso facilitará a fiscalização de toda a ca-

deia produtiva legal. Aqui, no CNCP, está em desenvolvimento o Diretório Nacional de Titulares de Marcas - DNTM, ferramenta de facilitação do contato direto das autoridades envolvidas nas ações repressivas à pirataria com os representantes das marcas que tenham seus direitos de propriedade intelectual violados. Este diretório deve estar pronto até o fim do ano. Há projetos de envolver a população brasileira na luta contra o mercado ilegal de remédios, que movimenta quantias milionárias, mais de US$ 35 bilhões, segundo a Organização Mundial de Saúde? A Anvisa é a responsável direta pela fiscalização de medicamentos e tem desenvolvido campanhas educativas voltadas à população. No Ministério da Justiça, nós temos a Campanha Brasil Original, que esclarece os danos sobre o consumo e comercialização de todo e qualquer produto pirata. Que papel o senhor atribui à mobilização da sociedade na luta contra medicamentos falsos e à

parceria com a indústria e os demais agentes envolvidos no processo de fabricação e distribuição de remédios seguros? O papel da sociedade na luta contra o mercado ilegal de medicamentos é extremamente importante. Um consumidor consciente toma cuidado com os locais e formas de aquisição dos medicamentos. Sabemos que a lei de mercado é a de que, onde houver demanda, haverá oferta. Por isso, uma sociedade bem informada adquire medicamentos exclusivamente no comércio legal, nunca em sites, feiras ou de indivíduos nas ruas. Esta é uma singela, mas importante, atitude do cidadão que faz toda a diferença à saúde e à segurança de todos.

Consumidor consciente toma cuidado com os locais e formas de aquisição dos medicamentos

Existe um projeto para enquadrar o roubo de carga como crime hediondo, da mesma forma como a falsificação de medicamentos... Mais importante que o rigor da pena é a aplicação efetiva da lei atual. O que precisamos é intensificar cada vez mais a fiscalização em nossas rodovias e fronteiras e já trabalhamos nesse sentido.

Venda de remédios via Internet é preocupação global O crescimento da venda de remédios pela Internet preocupa o grupo norte-americano The Partnership for Safe Medicine, voltado à formação de parcerias governamentais para o combate ao uso de medicamentos falsificados, fora de padrão e outros que ofereçam risco. Além do grande alcance proporcionado pela distribuição online, estes produtos têm agora o cuidado de não provocarem danos evidentes ou imediatos. E podem até usar o mesmo princípio ativo do original, mas em quantidades ínfimas, para o paciente ter falsa impressão de eficácia. O alerta foi dado por Scott A.

O Globo - Interfarma 5.indd 3

LaGanga, diretor executivo da entidade e vice-presidente para o Desenvolvimento de Alianças Governamentais e Assuntos Públicos da PhRMA, associação de pesquisadores e indústrias farmacêuticas dos EUA. O especialista citou produtos biológicos indicados contra malária, que, mal acondicionados, têm provocado resistência aos tratamentos para tuberculose em pacientes da África subsaariana, de acordo com observação feita pela ONU. No mundo, os mais copiados, segundo o Pharmaceutical Security Institute (PSI), dos EUA, são aqueles para oncologia, se-

guidos pelos indicados para o sistema nervoso central e para disfunção erétil. Dados do mesmo PSI apontam 2.054 ocorrências com medicamentos falsificados no mundo, em 2010, considerando que uma ocorrência pode envolver a apreensão de um caminhão inteiro. Para LaGanga, as ações de combate aos medicamentos não seguros precisam articular tecnologia de rastreamento, programas educativos e de esclarecimento para profissionais do setor de saúde e para consumidores, e ações de políticas públicas, nas áreas normativa e de repressão.

Scott A. LaGanga

08/08/2012 14:04:18


4 l Segunda-feira, 24 de outubro de 2011

ANĂšNCIO

O Globo - Interfarma 5.indd 4

08/08/2012 14:04:18


Segunda-feira, 24 de outubro de 2011 l 5

ANĂšNCIO

O Globo - Interfarma 5.indd 5

08/08/2012 14:04:18


6 l Segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Genérico, de marca ou similar?

É

OPÇÂO PELO TIPO DE MEDICAMENTO VARIA DE ACORDO COM O PROFISSIONAL

prática corriqueira o farmacêutico, ou mesmo o balconista de farmácias, recomendar espontaneamente a troca do medicamento prescrito pelo médico por um similar ou genérico, assegurando que, de diferente, os dois só têm o preço. Quatro em cada dez brasileiros aceitam a sugestão. A prática tem feito com que alguns médicos façam observações nos receituários, proibindo a troca do remédio prescrito. Há os que preferem receitar os de marca, os que prescrevem só os genéricos e há aqueles que mesclam os dois tipos de medicamentos na mesma receita. O secretário geral do Conselho Estadual de Medicina do Estado do Rio de

Janeiro (Cremerj), Pablo Vasquez, afirma que a opção por um ou outro tipo de medicamento varia de acordo com o conhecimento do profissional. Há casos de médicos que, por alguma experiência anterior, atribuem o insucesso do tratamento a determinado remédio, diz, acrescentando não existir nada de condenável nessa prática. Mas defende que o remédio vendido ao paciente tem que ser o prescrito. “O farmacêutico não pode trocá-lo, nem sugerir outra opção”. Os remédios de marca são os que têm eficácia, segurança e qualidade comprovadas cientificamente no processo de registro no Ministério da Saúde e na Anvisa. Qualquer outro fabricado com o mesmo princípio ativo precisa

ter as mesmas propriedades, fazer o mesmo efeito. Além de ser obrigatório o uso do mesmo princípio ativo, os genéricos devem ser bem sucedidos nos testes de bioequivalência, que medem se a formulação do produto é a mesma em comparação ao princípio ativo e todos os excipientes farmacêuticos do produto original. Já os similares não podem substituir completamente os de marca, segundo alguns especialistas. Os técnicos da Anvisa garantem a qualidade e a eficácia dos similares, mas advertem que estes medicamentos não são iguais aos genéricos, os únicos equivalentes terapêuticos dos remédios cujas marcas se tornaram conhecidas mundialmente.

Rastreabilidade mobiliza a indústria

O

mercado aguarda com expectativa a definição do modelo tecnológico de rastreabilidade de medicamentos em estudo na Anvisa. O tema está na pauta do dia de muitos países. De acordo com o assessor-chefe de Segurança Institucional da agência, Ricardo Sampaio, Itália e Estados Unidos, além de representantes da indústria, vêm discutindo as melhores formas de atualizar estratégias para rastrear, monitorar e autenticar medicamentos. A rastreabilidade está prevista no Sistema de Nacional de Controle de Medicamentos, por meio da Lei 11.903, de janeiro de 2009, que depende de regulamentação. Além de contribuir para

O Globo - Interfarma 5.indd 6

combater roubos de carga, a tecnologia permitirá saber quem fabricou o produto, por quem ele foi vendido, quem o despachou, quando chegou ao distribuidor, à farmácia, etc. “Todos os participantes da cadeia de produção e distribuição serão identificáveis”, explica Marcelo Liebhardt, diretor da Área Econômica da Interfarma. O sistema a ser utilizado no Brasil será definido a partir da regulamentação. A solução deverá ser adotada por fabricantes e distribuidores do atacado e do varejo. Idealmente, diz Liebhardt, uma tecnologia digital para fazer esse acompanhamento pode chegar até o receituário médico. A indústria chegou a propor ao governo o uso de um código bidimensional

(2D), chamado Datamatrix, similar ao código de barra usado no comércio. O código gerado seria transmitido da linha de produção para vários pontos, incluindo uma base de dados central, núcleo do processo de rastreamento. A regulamentação proposta será apresentada em consulta pública. Código de conduta -Todas as 43 empresas associadas à Interfarma são obrigadas a seguir um Código de Conduta, em vigor desde 2008, cujo objetivo é assegurar boas práticas e padrões de qualidade de medicamentos. Qualquer pessoa pode denunciar à entidade casos de desrespeito ao Código, que está disponível no site da Interfarma (www.interfarma.com.br).

Combate à receita falsa O presidente executivo da Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sérgio Mena Barreto, defende mudança no sistema de controle de medicamentos, dizendo que só assim haverá segurança na prescrição médica. “O Brasil não avançou no combate à receita falsa. Continuamos usando papel com o carimbo do médico, que qualquer um pode reproduzir”. Mena Barreto é favorável ao uso dos receituários eletrônicos, em modelo similar aos tokens dos bancos. “O Conselho Federal de Medicina poderia munir cada médico com um token para autenticar documentos digitais ou físicos com uma senha segura.” O médico daria ao paciente uma receita em papel, com o número gerado pelo token e, na farmácia, o atendente consultaria se o número está associado ao profissional responsável pela prescrição. A Abrafarma representa as 28 maiores redes de farmácias, responsáveis por 36,7% do mercado. Do total de 65 mil farmácias em operação no Brasil, 13 mil vendem 75% de todos os medicamentos comercializados, sendo que 65% delas estão no Sul e no Sudeste. As grandes redes estão em apenas 400 dos 5.565 municípios brasileiros.

08/08/2012 14:04:19


Segunda-feira, 24 de outubro de 2011 l 7

Desvios são maiores no Sudeste

R

Para a organização mundial de saúde, cerca de 30% dos remédios em circulação no país são falsos

oubo, contrabando e distribuição de remédios falsos ou ilegais movimentam anualmente entre R$ 5 bilhões e R$ 8 bilhões no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 30% dos remédios em circulação no país são falsos – para taxa de 10%, no mundo. A Receita Federal apreendeu, só no primeiro semestre de 2011, R$ 618 milhões em mercadorias por contrabando, falsificação e pirataria, aumento de 51% em relação ao mesmo período de 2010. A apreensão de cargas de medicamentos cresceu 180,5% em comparação com o ano anterior,

atrás apenas de carregamentos ilegais de munições (aumento de 445%) e de bolsas e acessórios (423%). A maioria dos desvios ocorre no Sudeste. As polícias do Rio e de São Paulo estimam pelo menos 50 grupos especializados no roubo de carga de medicamentos agindo no país, quase todos a partir dos dois estados. Em julho deste ano, a descoberta de dezenas de caixas de medicamentos com rótulos em mandarim, em depósito na Zona Norte do Rio, revelou a participação de uma quadrilha de chineses no roubo e na distribuição de remédios falsificados e ilegais até para farmácias da cidade. Dados da Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial

(DRCPIM) do Rio mostram que são constantes as apreensões de medicamentos vindos da China e do Paraguai nos mercados populares. Em geral, os produtos são vendidos no mercado paralelo por valores que representam de 30% a 40% do preço de mercado. O delegado titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Saúde Pública (DRCCSP) do Rio, Marcos Cipriano, diz que o número de registros desse tipo de crime vem diminuindo na especializada que comanda: 91 ocorrências em 2009, 61 em 2010 e 39 de janeiro a setembro deste ano. Mas alerta que pode se tratar, na verdade, de subnotificação. Dados sobre a movimentação das cargas são confidenciais e sigilosos, como esti-

pulado nos contratos com as empresas embarcadoras e transportadoras. “Mas podemos afirmar que a indústria cada vez mais tem implantado controles com reconhecimento internacional de eficiência, como etiquetas padronizadas e identificação por rádio frequência, por exemplo”, diz Ruy Gouvêa, diretor de Planejamento e Estratégia da Associação Brasileira das Empresas de Gerenciamento de Riscos e de Rastreamento e Monitoramento. A Câmara Federal analisa o Projeto de Lei 627/11, do deputado Octavio Leite (PSDB-RJ), que transforma em crime hediondo o roubo ou furto de medicamentos. A proposta altera a Lei 8.072/90, que já inclui entre os crimes hediondos a falsificação ou adulteração de remédios.

Agência O Globo

A Receita Federal apreendeu, no primeiro semestre do ano, R$ 618 milhões em mercadorias por contrabando, falsificação e pirataria: 51% a mais do que no mesmo período de 2010

Medicamentos populares são os mais visados Medicamentos para o tratamento de disfunção erétil e anabolizantes ocupam o topo do ranking de remédios roubados no Brasil, segundo as polícias do Rio de Janeiro e de São Paulo. No Rio, entre os mais apreendidos estão também abortivos, anticoncepcionais, antidepressivos e antitérmicos. Em São Paulo, também figuram no topo das apreensões, entre 2008 e 2010, relaxantes musculares e colírios.

O Globo - Interfarma 5.indd 7

Para os especialistas, a escolha dos criminosos por medicamentos mais populares não se dá por acaso. Remédios de uso crônico e com alto custo são mais facilmente identificados pelos usuários, que conhecem em detalhes as características dos produtos, desde a embalagem até a composição. Mas há também muitos registros relacionados à apreensão de remédios para o tratamento de câncer,

problemas cardíacos e disfunções psiquiátricas. Nestes casos, o atrativo para os criminosos é o fato de que mesmo cargas consideradas pequenas em volume têm alto valor de mercado. Além disso, há o fato de que a ineficácia pode ser “creditada” à doença e não aos medicamentos. “Cargas de remédios caros, utilizados no tratamento de doenças mais graves, como o câncer, são alvos das quadrilhas pelo alto va-

lor que têm, mesmo em pequenas quantidades. E também porque, no caso de ineficiência – já que muitos, além de roubados, são falsificados ou estão fora de validade –, esses medicamentos geram menos desconfiança: a doença, por ser grave, serve como desculpa para o não funcionamento daquele produto”, diz o delegado Marcos Cipriano, da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Saúde Pública do Rio.

08/08/2012 14:04:21


8 l Segunda-feira, 24 de outubro de 2011

ANĂšNCIO

O Globo - Interfarma 5.indd 8

08/08/2012 14:04:21


Domingo, 18 de dezembro de 2011

Agência O Globo

Cidade em debate

Transformação radical Na esteira dos eventos esportivos, prioridade é mais qualidade de vida para o carioca

E

ncerrados os eventos esportivos – a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 -, o Rio de Janeiro deverá ser outra cidade. Investimentos públicos e privados em volume recorde e convergência política entre três instâncias de poder – federal, estadual e municipal – promovem transformações radicais nas áreas de infraestrutura, transportes, meio ambiente, habitação, saúde. Para onde vamos e em que cenário desembarcaremos em 2017 foi o tema do Seminário Cidade em Debate, realizado pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro, com apoio dos jornais O Globo e Extra, nos dias 12 e 13 deste mês, no hotel Sheraton. Como definiu o presidente da Câmara, vereador Jorge Felippe (PMDB), a intenção foi avaliar impactos ambientais, econômicos e sociais dos grandes investimentos, analisar estratégias e gerar informações para o planejamento dessa transformação. “Todo o desenvolvimento acarreta inconvenientes; o objetivo desse encontro é, com a experiência dos palestrantes, produzir alternativas, para evitar que eles possam nos atingir”. Para isso, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, prevê que “os eventos programados para a cidade, com destaque para a Copa do MunJuntos – do 2014 e a Olimpíada 2016, servirão de morepresentantes delo para as transformações que ainda não do Executivo, fomos capazes de fazer.” Uma revolução, diz da Câmara e ele, inspirada “no conceito olímpico, que da sociedade traz a ideia de superação. Precisamos imagi– poderemos nar que será um momento, de fato, de granprestar des transformações. Elas vão acontecer e, uma grande por isso, o debate é muito importante”. contribuição à O prefeito visitou cidades que já foram cidade do Rio “ escolhidas para sediar Jogos Olímpicos. Londres (2012), Atenas (2004) e Barcelona (1992). Jorge Felippe As duas últimas teriam maior similaridade Presidente da Câmara Municipal com as condições brasileiras. “Barcelona vido Rio de Janeiro rou uma cidade completamente diferente. Ficava de costas para o mar, agora está de frente. Investiu na indústria criativa e melhorou a vida das pessoas”. Para as mudanças terem qualidade, o prefeito destaca que, além dos recursos públicos e privados, o segundo vetor de mudanças é a gestão. “Entre as medidas implementadas na administração municipal, todas as áreas (cobrindo 85% dos serviços públicos) passaram a ter acordos de resultado. O que significa que, dependendo do desempenho, os servidores podem receber 14º ou até 15ª salários.” O legado dos eventos foi destaque no seminário. A presidente da Empresa Olímpica Municipal, Maria Silvia Bastos Marques, assegurou que também o meio ambiente está na mira das ações municipais, sobretudo na Zona Oeste, com a despoluição de rios e lagoa. Segundo o superintendente executivo do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Marcus Vinicius Freire, a entidade tem profissionais dedicados a analisar o panorama pós-jogos. “O Parque Aquático Maria Lenk é legado dos jogos panamericanos de 2007, e estamos investindo naquele espaço. Tudo vai ficar, independentemente das olimpíadas”. O presidente do Instituto Pereira Passos e coordenador da UPP Social, Ricardo Henriques, explicou que o controle armado das favelas impedia a existência de regras de convivência. “Com a retomada dos espaços, iniciamos um processo de regularização urbanística, formalização de serviços e atividades e, mais do que isso, de redefinição de direitos e deveres.”

O Globo - RIO - cópia (2).indd 1

Sintonia fina para tocar a transformação da cidade

UPP Social invade favelas e reconstrói o mapa do Rio

Cidadania e serviços chegam de vez às favelas

Transformação vai redesenhar o futuro para o carioca

Página 2

Página 3

Página 6

Página 8

08/08/2012 14:18:16


2 l Domingo, 18 de dezembro de 2010

Marcelo de Jesus/Infoglobo

Gallia est omnis divisa in partes tres, quarum unam incolunt Belgae, aliam Aquitani, tertiam qui ipsorum lingua Celtae, nostra Galli appellantur. [2] Hi omnes

A realização de grandes investimentos no Rio de Janeiro não resulta apenas da disponibilidade de recursos públicos e privados, mas reflete uma sintonia política entre as três instâncias de poder – federal, estadual, municipal -, como o carioca não via há cerca de 30 anos Jorge Felippe Presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro

Sintonia fina para tocar a cidade Após décadas de enfrentamentos, as três instâncias de poder trabalham juntas A realização de grandes investimentos no Rio de Janeiro não resulta apenas da disponibilidade de recursos públicos e privados, mas reflete sintonia política entre as três instâncias de poder – federal, estadual, municipal- como o carioca não via há cerca de 30 anos, na avaliação do presidente da Câmara, vereador Jorge Felippe. Segundo ele, a cidade vive momento privilegiado de convergência de objetivos, após embates históricos que teriam provocado sua gradativa degradação. O efeito visível é o andamento acelerado dos projetos. “As lendas estão se tornando realidade, como o Porto Maravilha, de que ouvimos falar há 30 anos; em dois meses, foi aprovado” exemplifica. Ele se refere à autorização para a Prefeitura emitir e vender títulos públicos, os Cepacs (Certificados de Potencial Adicional Construtivo), aos interessados em construir

na zona portuária – são exigidos a partir do segundo andar, até o máximo de 50. Todos os papéis foram comprados e geraram R$ 3,5 bilhões para financiar obras na região. Uma solução criativa que, para Felippe, só foi possível graças à sinergia atual entre Executivo e Legislativo. Fato raro, após décadas de embates com prejuízos à população. As dificuldades, observou, datam da transferência da capital da República para Brasília, passam pelo fim do Estado da Guanabara e criação do Estado do Rio, e persistiram mesmo com a redemocratização. “A partir de 1983, as prefeituras estiveram sempre em confronto - com o governo federal ou com os governadores de Estado”, diz. “Até que, em 2007, o governador Sergio Cabral, por sua capacidade de agregar e percepção política, fez a aproximação com o governo federal, e conseguimos uma

A instalação de uma vila de mídia na região do Porto é outro exemplo de como usar os Jogos Olímpicos em benefício da cidade. A decisão de trazer a vila para o Porto requer um ativismo estatal forte, via incentivos.O mantra dessa atitude é que o Rio é uma prioridade Eduardo Paes Prefeito do Rio

relação harmoniosa, numa parceria que se estende à prefeitura”. Resultado dessa sincronia, ele destaca a escolha, em 2009, do Rio para sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Mais que isso, começaram a fluir na Câmara os projetos para reordenar a cidade. “Acabou o rolo compressor”, afirma Felippe, numa referência à prática de prefeitos anteriores de pressionarem a Câmara. “Não se impõe à Câmara o pensamento do governo.” Para se ter ideia da diferença, ele lembra que a cidade não tinha ainda um Plano Diretor. “Esteve em discussão por uma década. Na atual legislatura, bastaram dois anos para a aprovação, com grande representatividade - 16 audiências públicas -, 1.453 emendas acolhidas.” Esta, na opinião de Felippe, é a “mais profícua legislatura desde os idos de 1976.”

Fotos: Marcelo de Jesus/Infoglobo

Paes acredita que o Rio está diante de uma “oportunidade única”, que Felippe atribui à “convergência” das instâncias de poder

Uma chance para viver melhor Edição: Xico Vargas e Cláudia Bensimon Desenho: João Carlos Guedes Reportagem: Rosane de Souza e Verônica Couto Fotografia: Marcelo de Jesus/ Infoglobo, Agência O Globo, Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro A jornalista responsável pela apuração das informações deste caderno é Cláudia Bensimon

O Globo - RIO - cópia (2).indd 2

“Esta cidade tem uma oportunidade única”, afirmou o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, em referência à possibilidade de desenvolvimento proporcionada pelos eventos esportivos. O expressivo crescimento do orçamento municipal já reflete esse potencial: de 2009 para cá, o valor praticamente aumentou 70%, saindo de 12, 6 bilhões para os R$ 21 bilhões previstos para 2012. As transformações vislumbradas para 2016, contudo, não vão se limitar à infraestrutura. Segundo Paes, todos os esforços estão sendo feitos no sentido de aumentar a qualidade de vida do carioca, promoven-

do melhorias na saúde, nos transportes, no meio ambiente e na cultura. Durante o Seminário Cidade em Debate, o prefeito apontou alguns ganhos dessa expansão, alinhados às metas do Plano Estratégico, definido em 2009. A cobertura primária de saúde, por exemplo, passou de 3,5% para 27% em três anos e meio, e deve chegar a 35% ou 40% até 2013. A população que usa transportes de alta capacidade, hoje em torno de 15%, deve alcançar 60% em 2016, com os BRTs. Parte das iniciativas de reordenamento urbano, as atividades do aterro sanitário de Gramacho

Harmonia entre os Poderes A convergência de objetivos entre Executivo e Legislativo em torno dos interesses da população carioca é evidente no balanço das atividades da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O Plano Diretor da Cidade foi aprovado com 41 votos a favor, apenas quatro contrários. E o histórico de engavetamento das legislaturas anteriores ficou para trás. De acordo com o presidente da Câmara, Jorge Felippe, os vereadores rejeitaram 165 mensagens do Executivo entre 1997 e 2009 - das quais 59 entre 1997 e 2000; 60, de 2001 a 2004; e 46 de 2005 a 2008 e apenas seis na atual gestão, iniciada em 2009. Em compensação, a Prefeitura teve 75 matérias aprovadas, nos últimos três anos. O desempenho, segundo Felippe, traduz uma relação política baseada em debates e consultas de ambas partes e no entendimento comum de que a prioridade é o desenvolvimento do Rio .

Matérias Aprovadas 2009 35 2010 18

serão encerradas no primeiro semestre de 2012. Um centro de tratamento de resíduos já está em operação em Seropédica, com tecnologias sustentáveis. “O meio ambiente é um patrimônio econômico; as pessoas vêm morar, investem ou não no Rio, devido a seus atrativos.” A instalação de uma vila de mídia na região do Porto seria outro exemplo de como usar os Jogos Olímpicos em benefício da cidade. A decisão de trazer a vila para o Porto requer um ativismo estatal forte, via incentivos. “O mantra dessa atitude é que o Rio é uma prioridade”, ressaltou.

2011 22 Total 75

Matérias rejeitadas De 1997 a 2000

59

De 2001 a 2004

60

De 2005 a 2008

46

Atual 06

08/08/2012 14:18:18


Domingo, 18 de dezembro de 2010 l 3

UPP Social derruba muros e reconstrói o mapa do Rio A Prefeitura vai urbanizar todas as favelas da cidade até 2020 Agência O Globo

O secretário municipal de Obras, Jorge Bittar, acredita que a principal tarefa da prefeitura, hoje, é a de reintegrar à cidade formal imensa parte do território do Rio de Janeiro que se tornou refém do tráfico, da violência e do medo. Ele anunciou a urbanização de todas as favelas até o ano de 2020, em painel que reuniu também o presidente do Instituto Pereira Passos e coordenador da UPP Social, Ricardo Henriques, o jornalista Zuenir Ventura, o arquiteto Jaime Lerner e o vereador Eliomar Coelho (PSOL/RJ), para debater os desafios e as soluções para tornar o Rio uma metrópole sustentável. O secretário informou que o programa Morar Carioca vai consumir R$ 8 bilhões na construção de unidades residenciais para 256 mil moradores de favelas. Inicialmente, serão investidos R$ 2, 1 bilhões para construir 72.952 domicílios. Outras 89.059 residências populares, ao custo de R$ 2,4 bilhões, serão erguidas na segunda fase do programa.O Morar Carioca prevê, ainda, mais R$ 2,5 bilhões na construção de 93.746 apartamentos. A urbanização das favelas, disse Bittar, requer investimentos em obras de infraestrutura, na abertura de vias públicas, na construção de praças, quadras esportivas e áreas de lazer. En-

A retomada por forças de segurança de territórios dominados pelo tráfico permitiu a chegada às favelas de serviços sociais básicos, como educação e saúde volve a construção de espaços culturais, salas de cinema, centros tecnológicos e de inclusão digital nas comunidades de baixa renda, assim como a regularização fundiária, o reassentamento, a remoção de locais de risco, o controle da ocupação e a educação ambiental. Insalubridade e doença na Rocinha Ao lembrar a história da ocupação das áreas em torno do maciço da Tijuca, Jorge Bittar citou as condições de insalubridade da população

da Rocinha, onde o excesso de domicílios colados uns aos outros impede a entrada da luz solar e, em conseqüência, faz com que o índice de pessoas acometidas por tuberculose atinja 18% em pleno século XXI. Com a experiência de arquiteto e bem-sucedido gestor de Curitiba, no Paraná, Jaime Lerner advertiu os cariocas de que nunca acontece coisa boa quando pessoas são reunidas tendo como critério renda, idade ou religião. Muito menos se foge da pobreza

ou se evita a violência com a construção de muros. “Quanto mais alto se ergue o muro, mais gente te espera na saída”, disse ele, antes de mencionar o que considera a receita dos bons projetos: “Se quer criatividade, corte um zero do orçamento; se o objetivo for sustentabilidade corte dois”, assinalou o arquiteto. Para ele, a mobilidade é outra fórmula infalível de humanização de metrópoles, cuja composição básica inclui sociodiversidade, tolerância e convivência pacífica.

Em sua intervenção, o engenheiro e vereador Eliomar Coelho, criticou o Plano Diretor da cidade por entender que foram desconsiderados os 17 municípios vizinhos que poderiam ser a rota para o crescimento do Rio. Disse, ainda, que o Estatuto da Cidade exige planejamento e não intervenções pontuais para abrigar megaeventos. “A aceleração de obras sem controle social e a privatização demasiada só contribuem para alargar o fosso da cidade partida”, advertiu.

Agência O Globo

“Uma obra de séculos” O presidente do Instituto Pereira Passos, Ricardo Henriques, que também coordena a implantação das UPPs Sociais, se inspira em Nelson Rodrigues para explicar a extrema desigualdade ainda existente no Rio de Janeiro: “Subdesenvolvimento não se improvisa, é uma obra de séculos”. O coordenador da UPP Social lembrou que a cidade colhe hoje os frutos de décadas em que imperou a fria indiferença frente à ocupação desordenada e a uma agenda orientada para a remoção. “Isso ampliou a divisão entre as duas cidades e agravou a situação de violência”, assinalou. Ricardo Henriques diz que a favela é um bairro limitado por uma fronteira muito clara, a da inexistência da malha de serviços públicos já presente em outros locais. “O Rio é uma cidade partida em múltiplas direções. A UPP Social é a construção de soluções, com a participação dos moradores. Ela começa com a prestação de serviços públicos de infraestrutura, coleta de lixo, iluminação, conservação e, em alguns casos, transporte”, disse o presidente do Instituto Pereira Passos. O coordenador da UPP Social explica que o controle armado das favelas

O Globo - RIO - cópia (2).indd 3

Flávio Negão, o primeiro que conheci em Vigário Geral, traduziu as aspirações da comunidade, dizendo que o povo queria saneamento, educação, saúde, asfalto e iluminação. A UPP Social é a invasão de cidadania citada pelo Flávio Negão e tão sonhada por Betinho” Zuenir Ventura Jornalista e escritor, autor do livro “Cidade Partida

Marcelo de Jesus/Infoglobo

Décadas de indiferença em relação à ocupação desordenada ampliou a divisão da cidade e agravou a situação de violência impedia a existência de regras de convivência. “Com a retomada dos espaços, iniciamos um processo de regularização urbanística, formalização de serviços e atividades e, mais do que isso, de redefinição de direitos e deveres. Essas pessoas estão há 20, 30 anos sem estado de direito. Portanto, é preciso combinar regras, determinar o que pode e o que não pode ser feito”, concluiu. Ele citou como exemplo a criação de uma nova ocupação, a de guardiãs do lixo, para proteger os rios das comunidades de baixa renda. “Ele deve ser contratado na própria comunidade, para que seu vizinho, até por solidariedade, evite jogar geladeira ou sofás no curso dos rios”.

Marcelo de Jesus/Infoglobo

Henriques considera favela um bairro sem serviços públicos

O jornalista Zuenir Ventura confessou que ninguém mais do que ele espera o dia em que a cidade seja reunificada. “Eu espero que seja em 2014, não por causa da Copa do Mundo, mas por ser o vigésimo ano de lançamento do livro que me colocou nesse jogo”, disse ele, em referência à Cidade Partida, de sua autoria, lançado em 1994 pela editora Cia. das Letras. Segundo Zuenir, o próprio traficante Flávio Negão, de 24 anos, o primeiro que conheceu em Vigário Geral, traduziu as aspirações da comunidade, dizendo que o povo queria saneamento, educação, saúde, asfalto e iluminação. “A UPP Social é a invasão de cidadania citada pelo Flávio Negão e tão sonhada por Betinho”.

Se quer criatividade, corte um zero do orçamento; se o objetivo for sustentabilidade corte dois. A mobilidade é outra fórmula infalível de humanização de metrópoles, cuja composição inclui sociodiversidade, tolerância e convivência pacífica Jaime Lerner Arquiteto e urbanista

08/08/2012 14:18:21


4 l Domingo, 18 de dezembro de 2010

Retomada dos territórios abriu caminho à chegada do poder público

Cidadania e serviços invadem as favelas Só a reconquista de territórios ocupados pelo tráfico abriu caminho à chegada de serviços públicos às favelas do Rio de Janeiro. Nos espaços recém-retomados da Rocinha e do Vidigal ainda está em curso o levantamento para garantir melhorias na iluminação pública e na conservação de vias, além de eficiência na coleta de lixo e no transporte. Mas nas 18 comunidades, que sequer faziam parte da cartografia oficial da cidade, o desmonte do controle armado demonstrou ser fundamental para o avanço dos programas sociais e para a oferta de serviços essenciais, como saúde e educação, ou programas como os Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDIs) ou, ainda, o Rio em Forma, que instala equipamentos de ginástica.

O Globo - RIO - cópia (2).indd 4

No seminário Cidade em Debate, promovido pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, o presidente do Instituto Pereira Passos e coordenador da UPP Social, Ricardo Henriques, lembrou que até há pouco as favelas eram apenas manchas brancas no mapa oficial da cidade. Agora não só estão sendo incorporadas à paisagem como, até o próximo ano, 18 vão receber investimentos de R$ 1 bilhão em programas de urbanização, habitação, cultura, educação, saúde e limpeza urbana. Além disso, como lembrou o secretário municipal de Habitação, Jorge Bittar, mais R$ 8 bilhões serão destinados ao projeto Morar Carioca, que vai beneficiar 256 mil famílias. O coordenador da UPP Social revelou que o principal ganho na execução

de tantos e tão ambiciosos projetos tem sido o aprendizado. “Hoje, sabemos que não adianta implantar pacotes de programas sociais, porque não vão encaixar em nenhuma realidade”. Como exemplo de ineditismo cita o projeto Vamos Combinar, de coleta de lixo, que adquire contornos próprios em cada comunidade.Quem se adapta é a Comlurb, para fazer uma coleta de lixo apropriada à topografia das favelas, de ruas estreitas e inclinadas, e áreas que não permitem o armazenamento do lixo ou o tráfego de caminhões. O morro do Borel, primeiro a receber a novidade, aprovou. O lixo é armazenado em 21 pontos de coletas e em 126 contêineres distribuídos em locais escolhidos pelos moradores e retirado em triciclos e microtratores.

08/08/2012 14:18:26


Domingo, 18 de dezembro de 2010 l 5

O Globo - RIO - c贸pia (2).indd 5

08/08/2012 14:18:31


6 l Domingo, 18 de dezembro de 2010

Um alerta para as mudanças no clima Rio enfrentará urgência para proteger a população das enchentes A falta de normas e leis que obriguem a adaptações e correções de infraestrutura é um dos pontos frágeis das políticas de meio ambiente. Nossa lei é bastante relevante do ponto de vista da mitigação, mas tímida em relação à adaptação “ Flávio Villela Ahmed Presidente da Comissão de Direito Ambiental da Ordem dos Advogados do Brasil

Nos próximos anos, o aquecimento global vai ingressar, inevitavelmente, “no limite do perigo”, de acordo com o economista Sergio Besserman, que esteve no Seminário Rio - Cidade em Debate, nos últimos dias 12 e 13. Para o Rio de Janeiro, isso significa que são urgentes as ações de prevenção e as intervenções na infraestrutura para proteger as pessoas das enchentes inescapáveis que virão. “A adaptação às mudanças climáticas passa a ser o eixo estratégico do planejamento da cidade.” Junto aos esforços para redução dos gases de efeito estufa (GEE), também devem estar nas diretrizes das obras, afirmou.

A preocupação do economista deriva dos resultados da COP-17, a conferência do clima de Durban, na África do Sul, encerrada no último dia 11. Ele avalia que o encontro trouxe ganhos diplomáticos, como a extensão do acordo de Kyoto, mas não avançou nos compromissos de curto prazo para mitigação das emissões de gases de efeito estufa, postergados para 2020. Em 2009, na conferência de Copenhague, os líderes mundiais cravaram 2 graus centígrados como o máximo tolerável para o aquecimento global. Teto que, segundo Besserman, já se sabe que não poderá ser obedecido. “Se tudo

funcionar, e, a partir de 2020, houver uma revolução, a mais acelerada transição tecnológica da humanidade, teremos um aquecimento de 3 graus, 50% acima do limite de perigo.” Ou seja, vai chover mais, mais fortemente, e o nível do mar ficará mais alto, dificultando o escoamento da água. “Enchentes como a de abril de 2010 vão voltar a acontecer. Não vai demorar nem dez anos para isso”, adverte. O cenário do aquecimento, insiste Besserman, precisa ser considerado, por exemplo, nas obras de saneamento básico da Zona Oeste, nos projetos de revitalização da zona portuária, nos novos

Projetos de Estruturação Urbana (PEUs) , e em todo o ordenamento urbano. Ele critica, em especial, o PEU proposto para Vargem Grande e alerta para os riscos que corre a Baía de Sepetiba. “Se não fizermos alguma coisa, a química da Baía de Sepetiba será alterada; ela deixará de existir.” Como os cientistas esperam o aumento principalmente nas temperaturas mínimas, o carioca também terá que conviver com o mosquito da dengue durante todo o ano, e não apenas no verão, explica. A falta de normas e leis que obriguem a adaptações e correções de infraestrutura, contudo, é um dos pon-

tos frágeis das políticas de meio ambiente. A avaliação é do advogado Flávio Villela Ahmed, presidente da Comissão de Direito Ambiental da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), para quem instrumentos jurídicos são fundamentais para cobrar iniciativas do poder público. “Nossa lei é bastante relevante do ponto de vista da mitigação, mas tímida em relação à adaptação, que fica por conta do administrador.” E um efeito perverso da mudança climática, destaca, é que atinge mais as populações de baixa renda. “A melhor ferramenta da democracia é a lei”, defende. Agência O Globo

A principal política pública de meio ambiente deve enfatizar a educação e os transportes, ainda o maior emissor de gases do efeito estufa, com 5,5 milhões de toneladas por ano de CO2” Paulo Messina Vereador (PV/RJ) Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro

A contínua e acelerada ocupação de encostas, e a consequente destruição da vegetação é um dos perigos que ainda rondam o Rio e desafiar o poder público

Marcelo de Jesus/Infoglobo

A adaptação às mudanças climáticas passa a ser o eixo estratégico do planejamento da cidade. Junto aos esforços para redução dos gases do efeito estufa, também devem estar nas diretrizes das obras” Sergio Besserman Presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável e Governança Metropolitana da Prefeitura do Rio de Janeiro

O Globo - RIO - cópia (2).indd 6

Muniz destacou a necessidade de mudança de cultura e hábitos da população

Besserman considera o clima eixo estratégico no planejamento das cidades

Preservação ambiental é prioridade Para proteger a população e prevenir os impactos do aquecimento global, o vice-prefeito e secretário municipal de Meio Ambiente, Flávio Alberto Muniz, esclarece que um novo centro de operações já monitora nível da água, qualidade do ar e da areia, emissões na atmosfera e outros parâmetros ambientais. Também aponta como iniciativas de prevenção os mutirões de reflorestamento e o início das licitações para os piscinões da Praça da Bandeira, que vão acelerar o escoamento das águas e incluir trata-

mento de resíduos e reflorestamento do entorno. Muniz reconhece, no entanto, que persistem barreiras culturais a políticas ambientais. E exemplifica: “recebemos muitos protestos contra o serviço de aluguel de bicicletas porque desalojamos estacionamentos. É necessária uma mudança de cultura e de hábitos”, defende. Em 2012, a Prefeitura divulga um novo inventário de emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE), que passará a ter atualização mensal, informa o secretário. O levantamento hoje dispo-

nível, de 2005, registra uma média de emissões na cidade de 1,9 toneladas por habitante, inferior à média do Estado (4,5 t/hab) e do Brasil (9,4 t/hab). “A principal política pública de meio ambiente deve enfatizar a educação e os transportes, ainda o maior emissor de GEE, com 5,5 milhões toneladas por ano de CO2 equivalente, ou 66% do total”, diz o vereador Paulo Messina, da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, também presente ao Seminário Cidade em Debate.

A Lei 5248/2011 estabeleceu as metas da cidade para redução de GEE (8%, em 2012; 16%, em 2016; 20%, em 2020), mas Messina critica a exclusão do complexo siderúrgico do cálculo. Entre as áreas problemáticas, ele cita, ainda, a concentração de gás metano nas águas poluídas, e o tratamento inadequado do lixo. Nesse sentido, o secretário municipal destacou os investimentos para fomentar o uso de trens, BRTs e bicicletas, e a criação do centro de tratamento de resíduos.

08/08/2012 14:18:36


Domingo, 18 de dezembro de 2010 l 7

O desafio da integração na cidade partida Preocupação maior é incluir a população desassistida no desenvolvimento O desafio maior da transformação em curso no Rio de Janeiro é fazer chegar os benefícios às populações historicamente ignoradas pelo poder público e integrar, finalmente, a cidade dividida. Algumas estratégias incluem a formação de arranjos produtivos locais, reordenamento urbano, economia solidária, construção de infraestrutura em áreas de baixa renda.“Depois da Olimpíada, que cidade teremos? Qual Rio de Janeiro prosseguirá depois desses tempos de esperança?”, pergunta o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Sergio Magalhães. “To-

dos queremos que seja mais democrática, um ambiente para que as pessoas possam se desenvolver plenamente.” Para saldar essa dívida antiga, o vereador Adilson Pires (PT/RJ) acredita que “os políticos do Rio estão tendo a criatividade para aproveitar o momento”. E cita, como exemplo, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), que, reconhece o vereador, devem ser provisórias e acompanhadas por iniciativas que assegurem um “ambiente de tranquilidade permanente nas comunidades, sem que elas precisem estar todo o tempo em situação de intervenção”.

Nessa linha, o Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico Solidário do Rio de Janeiro, Marcelo Henrique Costa, articula a criação de polos regionais. Entre eles, o do Mercado São Sebastião, que estava a caminho da decadência e, agora, tornou-se âncora para a integrar as comunidades do entorno da Penha, na Zona Norte. Outra vertente do desenvolvimento local está em Guaratiba, segundo ele, “um ecossistema frágil, com uma atividade econômica de grande sutileza”. Na região, mais de 500 famílias trabalham com plantas ornamentais, perto do Parque Burle Marx.

“Com toda a expansão prevista, se não houver uma mitigação dos riscos, o mal pode aparecer, por exemplo, como sumiço dessa comunidade”, alerta. Ao todo, são 21 APLs em operação pela pasta, incluindo atividades diversas, muitas da chamada economia criativa. A “economia das favelas” também está na pauta. “A pacificação traz um ambiente de otimismo. As pessoas que tinham medo de empreender, especialmente da milícia, podem se inserir em diversas cadeias produtivas”, afirma Costa. Por exemplo, diz, na coleta de resíduos sólidos. Hoje, a coleta formal

não chega a 1% da cidade, mas ele adianta que está trabalhando com o BNDES para que o índice chegue a 5%, em cinco anos. O projeto RIO ECOSOL, de economia solidária, atua em direção semelhante, ao oferecer estrutura logística, capacitação e apoio à distribuição de produtos feitos nas comunidades. Foi implantando em Manguinhos, Santa Marta e na Cidade de Deus. Nesta última, conta até com moeda social própria – a CDD --, que serve para negociar os produtos locais e podem ser trocadas nos postos do Banco Comunitário. Ano que vem, chega ao Complexo do Alemão.

As ações da Secretaria tentam evitar que se concretizem as preocupações do economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, que fez pesquisa comparando as UPPs do Complexo do Alemão e da Rocinha. Ele adverte para os riscos de expansão desordenada nas comunidades pacificadas. E critica a concentração de investimentos no topo da pirâmide social e podem não beneficiar a base. “Estamos a cinco anos dos Jogos Olímpicos, uma oportunidade que passa de cem em cem anos na vida da cidade, e não podemos perdê-la”, diz.

Agência O Globo

As UPPs devem ser provisórias e acompanhadas por iniciativas que assegurem um ambiente de tranquilidade permanente nas comunidades, sem que elas precisem estar todo o tempo em situação de intervenção”

A Transolímpica, a Transcarioca e os BRTs, vão melhorar a mobilidade urbana incrivelmente e terão impacto direto na ocupação da Zona Oeste, onde o mercado imobiliário tem apresentando excelente liquidez”

Adilson Pires Vereador (PT/RJ)

José Conde Caldas Presidente da Associação de Dirigentes de Empresas de Mercado Imobilário (Ademi)

A expansão e seus limites Para evitar a ocupação desordenada, o secretário Municipal de Urbanismo, Sergio Dias, informou que a Prefeitura está regularizando todas as áreas de interesse social: limitou as construções a 12 pavimentos, e proibiu novas em áreas frágeis. “A política é dar o ‘habite-se’ aos moradores que cumprem o regulamento. Ao reconhecer os direitos das pessoas que estão dentro da norma, também desestimulamos a especulação informal”, argumenta. Para a melhoria da qualidade de vida, Sérgio Magalhães, do IAB, defende a concentração das atividades urbanas. “Pensar na cidade em expansão é um equívoco, capaz de prejudicar as esperanças que hoje estamos construindo. Além disso, a cidade apresenta um passivo socioambiental extraordinário.” Segundo ele, o Rio já tem área suficiente para acolher todos. “Seria ideal tornar essa cidade mais compacta.” O arquiteto adverte, para os riscos trazidos por alguns dos investimentos que estão sendo feitos. Não gostaria que a Transoeste fosse um vetor de crescimento, ameaçando as terras frágeis de Guaratiba, nem que a especulação imobiliária avançasse nas vargens, ou que a região do Arco Metropolitano fosse área de ocupação, nem industrial nem habitacional. “Se deixarmos a cidade continuar avançando, não teremos como dar conta de oferecer esgoto, lixo, iluminação, segurança, serviços públicos, democraticamente bem distribuídos”.

O Globo - RIO - cópia (2).indd 7

A região do Porto Maravilha receberá R$ 8 bilhões, dos quais R$ 3,5 bilhões já estão garantidos pela venda dos títulos Cepacs

Para redescobrir o Rio Ao enumerar os investimentos e os principais projetos de urbanização da prefeitura para os próximos anos, o secretário municipal de Urbanismo, Sérgio Moreira Dias, confessou o seu espanto por descobrir que apenas 16% dos cariocas se deslocam pela cidade em sistema de transporte de massas, seja ônibus, metrô ou trens. Outra estatística mais assustadora comprovou a falência do transporte ferroviário: por ele só trafegam 2% dos moradores do Rio. O desafio da atual gestão da cidade é conseguir, portanto, que pelo menos 65% dos trabalhadores do município deixem seus carros em casa, comecem a experimentar o transporte coletivo, andem a pé ou de bicicleta e redescubram o centro da cidade. Para isso, no entanto, é preciso reduzir o tempo das

viagens nos coletivos, por meio da construção de corredores de transporte - Transoeste, Transcarioca, Transolímpico e Transbrasil - e da expansão do metrô, além de criar alternativas de transporte de pequena distância no Centro (anéis de transporte

de massa), que voltará a ser o palco das atenções com a revitalização da área portuária e sua dinamização como pólo turístico. “Hoje, já há uma reversão da lógica de só construir na Barra: em 2005, 67% das licenças de construção eram dadas a Marcelo de Jesus/Infoglobo

A baixa ocupação do transporte ferroviário espantou o secretário

projetos na Barra da Tijuca; em 2009, esse percentual caiu para 37%, diz Sergio Dias, acrescentando que, na Zona Norte, as licenças de construção subiram de 7% para 18% no mesmo período. Na área de Planejamento 1, que engloba o centro da cidade, a zona portuária, os bairros de São Cristovão, Santa Tereza e Rio Comprido, houve um aumento de 6% para 10% de 2005 a 2009. No Porto Maravilha, de acordo com o secretário, serão investidos R$ 8 bilhões, através de uma parceria entra o estado e a iniciativa privada. Ele disse ainda que, desse total, R$ 3,5 bilhões já estão garantidos pela venda do lote único dos títulos Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs) para o Fundo de Investimento Imobiliário Porto Maravilha da Caixa Econômica.

A Câmara Municipal aprovou uma lei que assegura o aumento de 5% para 40% da cobertura de esgoto, até 2015, na Zona Oeste, que abrange Campo Grande, Santa Cruz, Guaratiba e Realengo. Essa região ficou abandonada durante muito tempo, mas tem sido tratada de maneira especial pela Câmara. O programa Clínica da Família já tem cobertura de 90% nessa região” Dr. Jairinho Vereador (PSC/RJ)

08/08/2012 14:18:38


8 l Domingo, 18 de dezembro de 2010

Feito para durar Como contrapartida ao uso, os americanos investirão US$ 450 mil em melhorias na sede. O bom momento do Rio se reflete em resultados nos campos, quadras e piscinas. Temos que aproveitar esse momento. Os clubes que não se prepararem e não investirem vão ficar para trás.” Patrícia Amorim Vereadora

Toda a cidade, hoje, é um canteiro de obras. Nos bairros da Zona Norte por onde passarão BRTs, já há valorização dos imóveis. Em alguns lugares, um apartamento que custava R$ 60 mil você não compra por menos de R$ 120 mil. Esses projetos levam outras melhorias de infraestrutura, como drenagem e saneamento” Rosa Fernandes Vereadora

O Laboratório Olímpico de Ciências conta com câmeras que captam cada milésimo de segundo do movimento de um atleta. Já o Instituto Olímpico Brasileiro está formando gestores esportivos, treinadores e auxilia ex-atletas a escolherem outra carreira, depois que param de atuar. Tudo isso vai ficar” Marcus Vinícius Freire Superintendente Executivo do COB

Desde que assumi, há três meses, estou pensando em como estabelecer um divisor de águas para a cidade, que separe passado e futuro. Acho que jogos podem ser esse divisor. Esses eventos nos impõem um regime de urgência. Temos uma data. O Rio está se passando a limpo em várias esferas”

Eventos esportivos de 2014 e 2016 vão trazer para o Rio R$ 50 bilhões e criar 90 mil empregos O futuro é logo ali. Esse é, ou deveria ser, o lema que rege o ritmo de trabalho de quem está envolvido com os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, ambos no Rio. Para discutir os desafios impostos pela aproximação dos dois megaeventos, se reuniram no Hotel Sheraton, no Leblon, a presidente da Empresa Olímpica Municipal, Maria Silvia Bastos Marques, o superintendente executivo de Esportes do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Marcus Vinicius Freire, além do economista Mauro Osório e das vereadores Rosa Fernandes e Patrícia Amorim, presidente do Flamengo. Sob diferentes aspectos, eles apontaram alternativas para deixar heranças duradouras à cidade depois que o circo for desmontado. Entre elas o Maracanã, reformado pelo governo do Estado. Os números revelam a medida exata do desafio. De acordo com um levantamento feito pela consultoria PricewaterhouseCoopers, Copa e Olimpíada vão atrair investimentos de mais de R$ 50 bilhões, gerando aproximadamente 90 mil empregos diretos e indiretos. “É importantíssimo olhar para o aspecto esportivo dos jogos, mas sabemos que temos uma oportunidade única, maior, de fazer muito pelo Rio de Janeiro”, defendeu Maria Silvia Bastos Marques. A presidente da Empresa Olímpica Municipal elencou os quatro eixos que norteiam seu trabalho: transportes, infraestrutura urbana, meio ambiente e desenvolvimento social. O primeiro tem como carro-chefe a instalação dos BRTs (sistema de ônibus articulados), que vão transportar alguns milhões de passageiros diariamente, por quatro grandes corredores exclusivos: Transcarioca, ligando a Barra da Tijuca ao aeroporto Internacional do Galeão, e que ainda prevê a construção do túnel da Grota Funda e a duplicação da avenida das Américas; TransOeste, unindo a Barra a Santa Cruz; TransOlímpica (Deodoro à Barra) e a TRansBrasil, que cortará a avenida Brasil, de Deodoro à avenida Presidente Vargas, pela Francisco Bicalho. Umas das principais intervenções na estrutura urbana é a reformulação completa da Zona Portuária, com o projeto Porto Maravilha. A região sofrerá mudanças de impacto, como a demolição do Elevado da Perimetral, que dará lugar a mergulhões. O programa prevê a chegada de grandes empresas e o aumento significativo do número de moradores, entre outras alterações.

Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro

O Centro Integrado de Comando e Controle ganha forma na praça Onze, onde ficará o quartel general da Segurança Pública Agência O Globo

As galerias avançam em direção a Ipanema, para integrar a Linha 4 à malha por onde já correm as composições do o metrô

Cidade inteira já reflete as mudanças Como exemplo de políticas sociais e da urgência nas transformações, Maria Silvia citou o ensino de Inglês nas escolas municipais. “Perguntam se não devemos ensinar bem o Português para, só então, pensar em outro idioma. Mas não há tempo. Temos de trocar as rodas do avião com ele voando”, explicou. Outros legados estão em marcha para integrar o cotidiano do Rio. Prioridade máxima, a Segurança Pública terá seu quartel general, na praça Onze. Lá, operários erguem o Centro

Integrado de Comando e Controle, que vai abrigar o sistema de atendimento e monitoramento das forças de segurança. Os aeroportos Galeão e Santos Dumont também estão em obras, que vão do alargamento da pista, no internacional, a melhoramentos nos terminais, em ambos. Com recursos em caixa, máquinas e homens trabalhando, o desenvolvimento avança. Mas, para o economista Mauro Osório, algumas estratégias devem ser analisadas com cautela. Embora reconheça os avan-

ços, questionou a expansão do sistema de transportes que, acredita, pode estar na direção errada. “Olhando para a população, vemos que a Zona Oeste tem um percentual de moradores muito menor do que a Zona Norte. Será que é melhor priorizar o BRT para a Barra?”, indagou. A vereadora Rosa Fernandes, com militância política na Zona Norte, não tem dúvidas de que os jogos já produzem melhorias em bairros como Barros Filho, Costa Barros, Guadalupe e Madureira.

Em sua exposição, o superintendente executivo do COB, Marcus Vinicius, garantiu que, no esporte, não há braços cruzados ou olhos apenas para o futuro próximo. O painel foi encerrado pela vereadora e presidente do Flamengo, Patricia Amorim, que fez referências bem humoradas aos rubro-negros presentes. Patricia confirmou que a delegação dos Estados Unidos usará as dependências do Flamengo, na Gávea, em 2016, e investirá em melhorias na sede do clube. Agência Globo

O parque aquático Maria Lenk já é legado de 2007 e o Maracanã, amplamente reformado, receberá eventos esportivos e shows

Maria Silvia Bastos Marques Presidente da Empresa Olímpica Municipal

O Globo - RIO - cópia (2).indd 8

08/08/2012 14:18:42


O GLOBO Projetos de Marketing

Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Crescimento com responsabilidade Vocação natural para a cultura e o esporte impulsiona o desenvolvimento da nova cidade do petróleo

Convento São Boaventura

ITABORAÍ 2.indd 1

10/01/2012 14:24:46


ITABORAÍ 2.indd 3

10/01/2012 14:24:46


06

10

14

16

Fábrica local de manilhas permitiu estender 41 Km de rede de esgoto em um ano

Moradias construídas com o PAC para retirar a população que vive em áreas de risco

Esporte está integrado à vida da cidade, que trabalha para instalar a sua Vila Olímpica

História rica, com raízes na cerâmica, e o horizonte no desenvolvimento do Estado

20

22

O crescimento acelerado da população tem aumentado a demanda na área de Saúde

Arco Metropolitano produzirá um salto ainda maior na economia de toda a região

Municípios na região do Comperj terão câmeras de vigilância para segurança Edição: Cláudia Bensimon e Xico Vargas Subeditor: Mauricio Schleder Desenho: João Carlos Guedes Reportagem: Henrique Brandão e Verônica Couto

11 Exigência da expansão, 5 novas escolas oferecerão mais 7 mil vagas em 2012

Produção: Bia Pinilla Fotografia: Marcelo de Jesus/Infoglobo, Agência O Globo, Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, Sandro Giron/ Prefeitura Municipal de Itaboraí e Sellix

lA

5

A reinvenção de uma cidade

Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

09

Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011 l

O GLOBO Projetos de Marketing

O GLOBO Projetos de Marketing

apuração das informações deste suplemento é de responsabilidade da Link Comunicação Integrada Ltda.

À espera da chegada dos recursos, Itaboraí se reconstrói como centro para formação de atletas olímpicos

E

nquanto não começa a funcionar a primeira refinaria do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj) e não chegam os royalties do petróleo, Itaboraí prepara sua transformação em polo esportivo e cultural. Amparada em suas raízes históricas, a cidade quer se tornar a primeira do país na formação de atletas olímpicos, com Jogos da Juventude anuais, já a partir de 2012, além de criar agenda de eventos culturais inspirada na tradição de artistas como João Caetano, no teatro, e Joaquim José de Macedo, autor de A Moreninha, na literatura. Sede do Comperj, o município vive o desafio de crescer de forma sustentável, apesar de os recursos para os investimentos públicos em infraestrutura, pelo menos num primeiro momento, não aumentarem na mesma velocidade com que a cidade se expande. Com a entrada em operação da primeira refinaria do Comperj, prevista para 2013, a expectativa do prefeito Sérgio Alberto Soares é ver o orçamento de Itaboraí passar dos R$ 603 milhões,

registrados este ano, para R$ 1 bilhão, em 2014. Por mês, o total de royalties recolhidos pela Petrobras à cidade deve aumentar dos R$ 900 mil de hoje para cerca de R$ 10 milhões. O prefeito ressalva que o cálculo considera as condições atuais de distribuição dos recursos, e não as mudanças no rateio entre os estados, em proposta que tramita no Congresso. Até que se concretize este aumento de receita, contudo, Soares destaca que é preciso administrar a delicada transição de realidade econômica, e as expectativas em torno dela. O início das obras do Comperj produziu uma sequência de lançamentos imobiliários e o crescimento acelerado da população. Tudo isso tornou mais urgentes as intervenções na infraestrutura. Só na área hoteleira, são dois hoteis e dez flats em construção na cidade. Mas ainda não foi definida a fonte para financiar os investimentos em saneamento básico – água e esgoto –, demanda urgente, estimada em R$ 350 milhões, a serem gastos possivelmente ao longo da próxima década. O prefeito afirma que o governo do estado e a Petrobras devem

anunciar em breve a maneira como os recursos serão liberados. Possivelmente, parte deles por meio de convênio com a Cedae e parte, da Petrobras. “Temos de esperar que todos os municípios envolvidos no Comperj possam se beneficiar com investimentos que as populações há muito tempo aguardam”, diz ele. Paralelamente, a Prefeitura prepara uma série de ações, como a abertura de novas escolas e hospitais, ampliação de programas sociais e obras de pavimentação, entre outras que possam resolver os problemas mais urgentes. Por exemplo, a construção de 666 moradias, com recursos próprios e verba do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para comunidades localizadas em áreas de risco. Em outra frente, define uma estratégia concentrada em iniciativas culturais e esportivas, para desenvolver a cidade quando o dinheiro chegar, e Itaboraí der um salto em seu potencial de investimentos. “Ou mesmo independentemente dele”, diz o chefe de gabinete da Prefeitura, José Roberto Fernandes Salles.

À espera dos novos recursos, a Prefeitura enfrenta o cescimento acelerado da cidade com atenção às demandas mais urgentes nas áreas de saneamento, saúde, educação e habitação, como as moradias construídas com recursos próprios e participação do Programa de Aceleração do Crescimento – para moradores de áreas de risco –, a unidade do Odonto Móvel, a farmácia popular, o Hospital Municipal e a abertura de novas escolas na rede municipal

ITABORAÍ 2.indd 5

10/01/2012 14:24:58


Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O GLOBO Projetos de Marketing

Infraestrutura avança com recursos próprios

A fabricação própria de manilhas

l7

e coleta de esgoto sanitário

Apenas este ano, e com recursos próprios, a Prefeitura já asfaltou 40 quilômetros de ruas e estendeu 41 quilômetros de redes de saneamento básico

Enquanto não se definem os aportes estadual e federal para financiar a expansão da infraestrutura de Itaboraí, a Prefeitura pretende, até março, colocar asfalto, dutos de esgoto e drenagem em todo o Centro da região de Manilha. As obras já foram iniciadas pelo bairro da Vila Brasil, na mesma área. As metas para 2012 incluem mais 40 quilômetros de asfalto e 60 quilômetros de saneamento básico. Além disso, todos os 24 mil pontos de iluminação pública da cidade também serão substituídos por novos modelos, com luminosidade 60% maior e consumo 25% menor. Ao todo, a Prefeitura já concluiu este ano, com recursos próprios, mais de 41 quilômetros de rede de saneamento básico e outros 40 quilômetros de ruas asfaltadas, segundo o secretário municipal de Serviço Público, Márcio Chaves, e interino na Secretaria de Obras. Para se ter ideia, a cidade tem 1.620 quilômetros de ruas, das quais

200 quilômetros (12%) são pavimentadas e 450 quilômetros (27%) contam com saneamento básico misto (rede de drenagem e de captação de esgoto sanitário). “No caso das obras de saneamento, só foi possível atingir essa marca”, explica Chaves, “porque fizemos nossas próprias manilhas, com fábricas recuperadas nesta gestão.” Só em 2011, foram 23.406 manilhas produzidas. O orçamento municipal também permitiu estender mais 27,6 quilômetros de asfalto, que se somaram a outros 12 quilômetros pagos por meio de convênios: 6,5 quilômetros na estrada de Cabuçu, como parte do programa estadual Somando Forças; 3,1 quilômetros do Parque Industrial da Reta, também com o governo do estado; e 2,5 quilômetros com verba estadual e federal, do programa Avadan (Avaliação de Danos), destinado a reparar estragos causados pela enchente do ano passado.

permite acelerar as obras de expansão das redes de drenagem

Desde 2009, já limpamos e drenamos 6,2 mil quilômetros de córregos e canais” Sérgio Alberto Soares

Prefeito de Itaboraí

Todos os pontos de iluminação pública foram substituídos por lâmpadas com luminosidade 60% maior e consumo 25% menor

ITABORAÍ 2.indd 7

10/01/2012 14:25:04


8 l Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O GLOBO Projetos de Marketing

Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O GLOBO Projetos de Marketing

l9

Novas viaturas e câmeras de vigilância

A fábrica local de manilhas tem permitido acelerar as obras de saneamento básico na cidade. O crescimento da população também aumentou o número de garis (abaixo) na coleta de lixo: 10% entre 2009 e este ano

Recebidas do governo do Estado, 42 novas viaturas ampliarão a cobertura da segurança na região

Itaboraí recebeu do governo do estado 42 novas viaturas, para policiar a cidade e os municípios de Tanguá, Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu e Silva Jardim. Além disso, a Prefeitura vai abrir concurso para dobrar o efetivo da Guarda Municipal, hoje com 60 agentes, e criar uma ronda escolar distrital. Outra providência é a instalação de câmeras de vigilância de ruas nos municípios que recebem influência do Complexo Petroquímico. O Consórcio de Desenvolvimento do Leste Fluminense (Conleste), que reúne os 15 municípios afetados pelo Complexo Petroquímico

do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), também pretende montar em Itaboraí um Centro de Monitoramento policial para acompanhar as cidades que o compõem. A proposta será avaliada pela Fundação Getúlio Vargas, para ser apresentada aos ministérios da Justiça e das Cidades, e à Petrobras. Está orçada em R$ 6,2 milhões, incluindo 12 câmeras para os municípios do Consórcio. Modelo de Centro de Monitoramento foi instalado há três meses em Itaboraí, com 16 câmeras. Custou R$ 1,2 milhão, com financiamento do Ministério da Justiça.

A área mais avançada, em termos de infraestrutura, é a que envolve o tratamento de lixo. Entre 2009 e 2011, a coleta diária aumentou 27%, de 120 toneladas para 147 toneladas. O que significa, nos cálculos do secretário, que Itaboraí deve ter ganho, nesse período, 53.440 novos moradores. Essa conta usa a estimativa do IBGE, que aponta a média diária de meio quilo de lixo por pessoa. Mas os números em Itaboraí podem ser algo menores, observa Chaves, porque, em rendas mais baixas – como são as famílias da cidade, em sua maioria –, esse volume deve cair para 300 gramas ou menos. Ele destaca, ainda, os esforços feitos na prevenção dos estragos provocados por enchentes. ”Desde 2009, já limpamos e drenamos 1.855.288 metros quadrados (ou 6,2 mil quilômetros) de córregos e canais.”

ITABORAÍ 2.indd 9

10/01/2012 14:25:08


Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O GLOBO Projetos de Marketing

Crescimento exige cinco novas escolas em 2012 Serão sete mil novas vagas para somar com 32 mil existentes e três creches para ampliar a atual rede de 18

A expansão de Itaboraí tem reflexo direto no aumento da demanda educacional, que vem crescendo, nos últimos dois anos, à média de mil alunos por ano para o ensino fundamental. Por isso, a Prefeitura vai inaugurar cinco novas escolas em 2012, o equivalente a 7 mil novas vagas, que se somarão às 32 mil existentes. Também serão criadas mais três unidades para ampliar a atual rede de 18 creches, informa a secretária de Educação, Rosana da Silva Rosa. Para a comunidade de fora das escolas, a Prefeitura inaugurou, este mês, um Centro Tecnológico Educacional que oferece acesso gratuito à Internet. Além de supervisionar os laboratórios de informática, presentes em 60 das 79 escolas da rede, o espaço tem um Núcleo Tecnológico Municipal (NTM), telecentro com dez computadores, conexão banda larga e equipe de monitores para ajudar os usuários, que podem navegar na Internet durante uma hora.

A Secretaria de Educação também mantém o Itaboraí 100% Alfabetizado, parte do programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Atualmente, são 21 escolas do EJA - em comparação a sete, em 2009 -, com cerca de 3 mil alunos matriculados. E, para estudantes que apresentam dificuldade de aprendizado, a Prefeitura ampliou o Núcleo de Atendimento Psicopedagógico da Educação Municipal (Napem), com a abertura de dois novos polos. Da educação infantil ao EJA, as três casas do Napem (nos bairros Nancilândia, Manilha e Reta) dão assistência a mil alunos, com apoio de psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, assistentes sociais e fisioterapeutas. Os responsáveis pelos estudantes, que, muitas vezes, precisam acompanhá-los às aulas, contam com oficinas de pintura e orientação familiar. A cidade tem uma rede de 79 escolas, das quais 19 reformadas nos

A maioria das habitações para quem hoje vive em áreas de risco será entregue ainda em 2012, com ruas pavimentadas, saneamento instalado e coleta de lixo

Casas para uma vida longe das enchentes Populações que ocupam margens de rios e córregos receberão moradias construídas fora das áreas de risco até o fim de 2013

ITABORAÍ 2.indd 10-11

Um total de 666 novas habitações será entregue até o final de 2013, a maioria ainda em 2012, para moradores de Itaboraí que ocupam casas nas principais áreas de risco da cidade, principalmente às margens de rios e córregos. As obras têm recursos do PAC (Plano de Aceleração do Cescimento), contrapartida da Prefeitura, e incluem ruas pavimentadas, saneamento básico (água e esgoto), coleta de lixo e, em alguns casos, creches para crianças no entorno. “Vamos atender a população de comunidades que sofrem muito com as enchentes e as inundações”, explica o secretário de Integração Regional de Habitação, Janô Bezerra de Araújo. Ao mesmo tempo, está sendo realizado Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS), diagnóstico do setor habitacional do município, exigido pelo Ministério das Cidades para financiamento de moradias populares, previsto para início de 2012. Quando o Plano estiver pronto, diz Araújo, será possível identificar as demais áreas que são prioridade para as novas unidades.

Das construções em andamento, a de Itambi tem 63% das obras realizadas e a entrega deverá ocorrer entre maio e junho, com 256 unidades habitacionais. Terá posto de saúde, creche, centro comunitário e ciclovia. Custou R$ 18 milhões ao governo federal e R$ 2,8 milhões à Prefeitura de Itaboraí. Outra obra do PAC (R$ 10,8 milhões em recursos federais; R$ 12 milhões municipais) começou em novembro e será concluída no final do próximo ano. Será em Vila Portuense, em Porto das Caixas, e terá 160 unidades, também com creche, horta comunitária e quadra poliesportiva. Outras moradias vão contar com recursos, além do PAC, do programa Minha Casa Minha Vida, também federal. É o caso do atendimento a 160 famílias do Parque do Rato Molhado, às margens do Rio Várzea (R$ 19 milhões federais e R$ 1 milhão municipal), e a 90 moradores que ficam à beira do Canal Lava-Pés. Este último ainda aguarda parecer técnico da Caixa Econômica Federal para ser licitado. Conta com R$ 10,9 milhões do PAC, R$ 4,9 milhões do Minha Casa Minha Vida e R$ 2,2 milhões do município.

l 11

últimos dois anos, sendo 13 delas por meio de convênio com o governo do estado, como parte do apoio para recuperação dos estragos feitos pela enchente do ano passado. A Escola de Arte também foi recuperada e atende, agora, a 1,4 mil alunos, informa Rosana. Trabalhos culturais são desenvolvidos, ainda, no Projeto Arte Balé, atualmente com 350 alunos, distribuídos em três pólos: Manilha, Centro e Reta Velha. De acordo com a secretária, uma medida importante foi a terceirização de serviços como merenda e limpeza, que permitiram concentrar a atenção no ensino e nas ações de fortalecimento pedagógico. “Conseguimos dar capacitação para todos os profissionais da rede, desde o inspetor até o diretor. Trabalhamos com questões como evasão, reforço escolar e gestão de pessoal. Isso é fundamental, porque, muitas vezes, o processo emperra por falta de pessoas mais sensíveis, envolvidas com o trabalho.”

Formação tecnológica

666

Itaboraí vai ganhar um Instituto Federal de Ensino Tecnológico (IF), o antigo CEFET. O decreto federal para sua criação foi assinado em setembro de 2011, e a instalação está prevista para meados de 2013. A presença do IF fortalece a capacitação profissional de jovens e, como resultado, também a empregabilidade da comunidade local, segundo o prefeito Sérgio Alberto Soares. Segundo ele, a Prefeitura vai doar terreno de 3,5 mil metros quadrados ao governo federal e as obras devem começar em janeiro.

o total de unidades

2012 terá maioria das unidades prontas

A demanda por ensino tem registrado a média de cinco mil alunos por ano, o que levará à criação de sete mil vagas em 2012

10/01/2012 14:25:09


ITABORAÍ 2.indd 12-13

10/01/2012 14:25:09


Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O GLOBO Projetos de Marketing

l 15

Jogos da Juventude ajudarão a construir o sonho olímpico

‘Alzirão’ será reaberto com herança do Maracanã Com as novas instalações no estádio, Itaboraí quer receber equipes na preparação para os Jogos Olímpicos de 2016

ITABORAÍ 2.indd 14-15

Como não poderia deixar de ser, o futebol é o carro chefe na preferência esportiva de Itaboraí. Pelo menos no coração do prefeito, um dos fundadores da ADI (Associação Desportiva Itaboraí), time de futebol que disputa a terceira divisão estadual. Ano passado, por muito pouco o time não subiu. Mantido com recursos da prefeitura, a prioridade é tentar de novo ano que vem. O técnico que dirigiu o time este ano é conhecido dos cariocas: Valdir Bigode, centro avante que fez carreira no Vasco. Os jogos da ADI são disputados no estádio Alziro de Almeida, carinhosamente chamado de “Alzirão”, um dos poucos estádios em pleno funcionamento para jogos oficiais no interior do Estado do Rio. “Enfrentamos dificuldades para manter o estádio aberto, cumprindo as exigências do Estatuto do Torcedor. Muitas cidades também têm estádios, mas não abrem os portões”, afirma Everardo Lindemayer, sub-secretário de Esportes. Ano que vem, o torcedor da cidade poderá acompanhar os jogos

com mais conforto. “Ganhamos mil cadeiras do antigo Maracanã. Reabriremos com elas já instaladas”, anuncia a secretária de Esportes, Rosangela Felipe Silva. Com as novas instalações, Itaboraí pretende se candidatar a receber equipes de futebol para treinamento durante as Olimpíadas de 2016, tirando proveito da sua localização privilegiada: a apenas 40 quilômetros do Rio e do aeroporto internacional. Mas não apenas de futebol vive Itaboraí. O projeto Rio 2016, desenvolvido em parceira com o governo do estado, oferece aos jovens entre sete e 17 anos futsal, vôlei, handebol e basquete. Tudo isso no Ginásio Municipal localizado em Manilha. O projeto De Bem Com A Vida põe a população para malhar. São 12 núcleos distribuídos por diversos bairros, onde duas vezes por semana são ministradas aulas matinais de ginástica, para todas as idades e ambos os sexos. Para a secretária Rosangela, além da parte física, vale destacar também o aspecto social do projeto:

“Nesta atividade promovemos a sociabilidade entre pessoas do mesmo bairro que, muitas vezes, sequer se conheciam. Isso para nós é fundamental”. Outro projeto importante é o Programa de Apoio à Escolinha Comunitária (PAEC), que a secretaria desenvolve junto às escolinhas locais, contribuindo com fornecimento de material esportivo e capacitação técnica, além de promover o intercâmbio entre as comunidades. Mas a menina dos olhos de Itaboraí é a construção de uma Vila Olímpica na cidade. “O prefeito quer que participemos intensamente de todo o processo olímpico, já que é um sonho dele a criação da Vila Olímpica, projeto que já encaminhamos ao governo federal”, afirma entusiasmada a secretária. E no que couber a Itaboraí o sonho vai virar realidade. O município já fez a sua parte e desapropriou o terreno necessário para a construção da Vila. Agora começam os entendimentos com o governo federal para levar adiante o sonho olímpico.

Itaboraí quer se tornar a primeira cidade brasileira especializada na formação de atletas olímpicos. Para isso, a Prefeitura negocia parceria com Cuba e ano que vem realiza a primeira edição dos Jogos da Juventude, que devem ocorrer anualmente na cidade. O chefe de gabinete da Prefeitura, José Roberto Fernandes Salles, informa que os Jogos vão começar sempre em maio, para fechar as comemorações do aniversário da cidade, no dia 22 de maio. Área de 80 mil metros quadrados está sendo desapropriada e o município tentará obter R$ 40 milhões do Ministério dos Esportes para a construção de uma Vila Olímpica. Para desenvolver o projeto, foi formado um grupo de trabalho com professores das redes de escolas municipais, estaduais e privadas, e também de academias e cursos de idiomas. Todos vão participar, cedendo espaços e estrutura para os Jogos, que contam, ainda, com o Estádio Municipal Alziro de Almeida (Alzirão). “Estamos montando um projeto esportivo e educacional”, resume Salles. “Já negociamos com a Câmara de Vereadores, e o prefeito vai encaminhar projeto de lei para oferecer incentivo fiscal aos estabelecimentos que oferecerem bolsas de estudo aos atletas. Vai valer para universidades, academias e cursos de idiomas.” A cidade já conta com a Faculdade Anhanguera e a Faculdade Cenecista de Itaboraí (Facnec).

Uma equipe de especialistas do 5º Jogos Mundiais Militares – realizado em julho, no Rio, pelo Conselho Internacional do Esporte Militar (Cism), com cinco mil participantes – visitou as instalações existentes na cidade e vai apoiar, fornecendo logística para o evento. De acordo com o chefe de gabinete, o objetivo é reunir de 3 mil a 3,5 mil atletas nos Jogos da Juventude de Itaboraí, distribuídos entre 16 a 18 modalidades esportivas, no primeiro ano. “Estamos pedindo material dos Jogos Militares às Forças Armadas, apoio da Suderj (Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro) e das federações olímpicas, que poderão capacitar os professores, ajudar na formação do grupo de arbitragem e no treinamento para a identificação de talentos. Com essa rede de parcerias, teremos um custo baixo.” Outra colaboração importante, diz Salles, pode vir de Cuba, país de grande tradição olímpica. Conversas já foram iniciadas com o Consulado de Cuba em São Paulo e com o Minis-

tério das Relações Exteriores para formalizar acordo de intercâmbio para capacitar treinadores. A Prefeitura de Itaboraí também vai instalar cobertura em quadras esportivas de seis escolas e construir quadra em uma escola que ainda não a tem. Além disso, pretende obter recursos para um piscinão, que servirá aos treinamentos. Também vai usar a Lei de Incentivo ao Esporte para buscar patrocínio das empresas que estão chegando à cidade. Como parte da iniciativa, alunos de cursos de esporte e professores vão trabalhar juntos em outros projetos sociais. O movimento, conta Salles, começou com o Mais Esporte, programa que leva estudantes de Educação Física para trabalhar em comunidades de baixa renda nos fins de semana. “O esporte muda uma cidade”, justifica ele. ”É um caminho importante para a construção de uma identidade para Itaboraí. Trata-se de um projeto estruturante, que faz diferença.” Ele também destaca a importância da atividade no contexto econômi-

co local. Lembra que as alterações no projeto do Comperj incluíram a construção de uma segunda refinaria de combustível, mas não avançaram na definição sobre a instalação da indústria petroquímica. “O impacto principal para Itaboraí, nesse caso, está na empregabilidade. As refinarias contratam por concurso público e são altamente automatizadas; as manufaturas finalistas, de peças de plástico, é que respondem pela grande ocupação da mão de obra local, e precisariam da atração da matéria prima petroquímica.” Nesse sentido, o projeto Itaboraí Cidade Olímpica também é alternativa à indústria de plásticos. E, segundo Salles, mais afinada com o aspecto cultural que está se fortalecendo na região. De qualquer forma, ele acredita que cerca de 50 a 100 empresas devem operar em torno da refinaria, envolvendo produtos e serviços de alimentação, transporte, logística, segurança, manutenção de equipamentos, informática, tecnologia, entre outros. Isso aumentará a arrecadação do município.

Com o ‘Alzirão’ reformado e os Jogos da Juventude anuais, a cidade quer ser referência na preparação de atletas

10/01/2012 14:25:13


16 l Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O GLOBO Projetos de Marketing

Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O GLOBO Projetos de Marketing

“Pedra Bonita” corre de novo atrás da riqueza

l 17

Em 1650, a Ordem Fraciscana ergueu o Convento São Boaventura (abaixo), sua quinta obra no Brasil. A Matriz (ao lado) sucedeu a Capela São João Batista

Cidade guarda as lembranças na história para voltar à liderança na atração de novos investimentos Itaboraí tem muita história para contar. Sua trajetória está intimamente ligada ao desenvolvimento econômico do Estado do Rio de Janeiro. Antes de se tornar município, em 1890, a região, ainda no período colonial, já era importante entreposto comercial. Em Porto das Caixas, atual distrito de Itaboraí, às margens do Rio Aldeia, no século XVIII a produção agrícola do interior fluminense e a de açúcar dos engenhos locais eram encaixotadas rumo à Europa. Daí o nome da localidade, que não nasceu ao acaso. Com a inauguração da Estrada de Ferro Carril Niteroiense, em 1874, e a consequente decadência do

ITABORAÍ 2.indd 16-17

transporte fluvial, a região entrou em declínio, mas muitas construções do período continuam de pé, a lembrar um pouco do passado importante. Além da proximidade com rios navegáveis, a região era cortada pela estrada aberta no século XVII para ligar Campos a Niterói. À beira dessa estrada, no alto da colina de Itaboraí, havia uma fonte sob um bosque, que se tornou local de descanso para os tropeiros. A história conta que, no fundo da fonte, um pedaço de quartzo chamava a atenção dos índios, que o batizaram de Itaboraí ou “pedra bonita escondida na água”. Graças ao ponto de parada das

tropas, a região foi sendo colonizada. Em 1650, foi construído o Convento São Boaventura, quinta obra da Ordem Franciscana no Brasil. Em 1672, por iniciativa dos tropeiros, a região ganhou a Capela de São João Batista, que mais tarde deu lugar à Igreja Matriz – construída em 1784. A partir de então, surgiram vários engenhos e a principal atividade econômica tornou-se a produção de açúcar, o que durou até meados do século XX. Com o declínio da produção açucareira, e seguindo a vocação agrícola, surgiu na região uma nova economia baseada na cultura da laranja. Ita-

boraí chegou a ser o maior produtor de laranja do estado e o segundo do Brasil. O destaque como “Terra da Laranja”, que começou em 1929 e se manteve até meados do século XX, entrou em declínio como resultado de uma sucessão de equívocos que se estenderam da técnica de plantio à colheita, ao transporte e à falta de cuidados com a terra. A arte em cerâmica esteve sempre presente na cultura e na economia do município, desde os índios. Na época dos engenhos de açúcar, eles tinham pequenas olarias para confecção em argi-

la das embalagens para transporte de açúcar. A tradição se firmou e na década de 1940 ganhou novas tecnologias que modernizaram a produção. Até hoje, olarias de cerâmica têm peso econômico e cultural importante na região. Durante as últimas décadas a região passou por esvaziamento econômico e transformou-se em cidade-dormitório. Atualmente Itaboraí vive um momento de inversão econômica, atraindo novos investimentos para a região e recuperando a condição de pólo de atração dos municípios vizinhos e centro gerador de riqueza.

10/01/2012 14:25:18


18 l Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O dia em que Darwin conheceu Itaboraí

ITABORAÍ 2.indd 18-19

No dia quatro de abril de 1832, Charles Darwin, então um jovem naturalista, desembarcou do navio Beagle no Rio de Janeiro. Suas anotações da viagem ao redor do mundo deram origem à Teoria da Evolução das Espécies, publicada 26 anos depois, em 1858. A estadia no Rio durou três meses, durante os quais fez várias incursões pelos morros e matas da cidade. Também fez uma expedição até Macaé, passando por vários lugares no percurso de ida e volta. Um deles foi Itaboraí, assim descrito por Darwin em seu diário:

O GLOBO Projetos de Marketing

23 de abril “Avistamos casas bonitas e alegres quando nos aproximamos da cidade. Durante o dia, passamos por uma floresta de acácias, cuja folhagem formava um delicado véu contra o céu e projetava sobre o chão um agradável tipo de sombras. Devido à delicadeza das folhas, nenhum farfalhar se ouvia, quando a brisa as movimentava.” Charles Darwin Mas não apenas as observações do pai da Teoria da Evolução garantem a Itaboraí

Charles Darwin

Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O GLOBO Projetos de Marketing

destaque na história. Mais que isso, há o fato de ter sido berço de personagens de indiscutível importância na construção política e social da época. Entre esses nomes encontra-se Joaquim José Rodrigues Torres, o Visconde de Itaboraí, que veio a ser o primeiro presidente da Província do Rio de Janeiro, o que equivalia ao posto de governador hoje. Com grande influência política, Torres foi também ministro da Fazenda, ministro da Marinha cinco vezes e presidente do Conselho de Ministros, além de presidente do Banco do Brasil.

Não menos importância teve Alberto de Seixas Martins Torres, que marcou sua passagem como último presidente do Estado do Rio de Janeiro por grandes investimentos em educação e agricultura. Jurista que cultuava os fundamentos da lei, chegou a ser ministro do STF. Fundador do jornal O Povo e nacionalista convicto, Martins Torres envolveu-se com vigor nas campanhas abolicionistas e na luta pelo estabelecimento da República, além de ter influenciado inúmeras gerações de políticos.

l 19

Outras propostas na cultura Não só de patrimônio histórico vive a cultura de Itaboraí. Preservar a memória é importante, mas dotar a cidade de equipamentos culturais também é prioridade. Para isso, entre os planos está a criação da Lona Cultural Dado Villa Lobos, em convênio com a Secretaria de Cultura, para atender a cerca de 500 crianças por dia. No cinema está prevista a construção do Cine-Ita, o

primeiro de Itaboraí, que já tem projeto, mas precisa de R$ 2 milhões. Para shows ao ar livre, pretende-se construir uma Concha Acústica com capacidade para 5.000 pessoas por fim de semana. Para ajudar os 840 artistas cadastrados no departamento de Difusão Cultural e Patrimônio Imaterial, a intenção é criar um estúdio de música e vídeo por R$ 400 mil.

10/01/2012 14:25:18


Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O GLOBO Projetos de Marketing

l 21

FARMÁCIA POPULAR

Remédio barato e atenção personalizada A inaguração da policlínica, o hospital municipal e o posto de saúde 24 horas atendem ao objetivo de descentralizar o atendimento para facilitar o acesso aos serviços médicos com deslocamentos menores

Esforço na Saúde para acompanhar a expansão Objetivo é

descentralizar o

atendimento para

encurtar o caminho da população em busca de exames e tratamento

ITABORAÍ 2.indd 20-21

Itaboraí não para de crescer. Com o avanço da instalação do Comperj, a tendência em pouco tempo é o ritmo de crescimento da população aumentar. Isto significa novas demandas em todas as áreas de atendimento. Na Saúde, a cidade tem se esforçado para atender à exigência. Prova disto é a inauguração, há um ano, da Policlínica de Especialidades Médicas Vereador José Oliveira Filoco. Até novembro foram 72.522 atendimentos ambulatoriais nas mais diversas áreas, tais como exames laboratoriais, eletroencefalografia, eletrocardiologia, ortopedia, neurologia e dermatologia. Localizada em Manilha, a Policlínica atende também ao distrito vizinho de Itambi, uma das áreas que mais crescem em Itaboraí. “Este hospital é um projeto do prefeito para levar atendimento de saúde às populações carentes desses lugares. Descentralizando o atendimento, o morador não precisa se deslocar até o Centro de Itaboraí para ser atendido”, diz a diretora da Policlínica, doutora Simone Figueiras Pires.

Em breve, Itambi também ganhará um Posto de Saúde 24 horas. A obra está pronta e a previsão é de ser inaugurada no próximo ano. Também previsto para o início do ano que vem, Manilha ganhará uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), em convênio com o governo do estado. A unidade contará com atendimento de emergência em pediatria, ortopedia, clínica médica, cardiologia e odontologia. Além da emergência, a UPA terá com leitos para internação. A unidade está pronta; o problema é que o município não pode arcar com o custo de manutenção, de R$ 1,2 milhão mensais, e aguarda a liberação dos recursos (metade do governo do estado, metade da União). “Com a UPA, desafogaremos a emergência do Hospital Municipal Leal Jr. e iremos melhorar a qualidade da saúde”, afirma com convicção a doutora Simone. Localizado no Centro de Itaboraí, o movimento no Hospital Municipal Leal Jr., o principal da cidade, é grande. São em média 16.000 atendimen-

tos mensais em diversas áreas. Só em cirurgia geral foram 1.145 operações. Ortopedia, 2.231. Em Clínica Médica, 7.804 atendimentos, com 435 internações. Em suas instalações funciona ainda uma policlínica para atendimento ambulatorial, que chega a realizar 75.000 consultas ao ano, envolvendo o trabalho de 50 médicos em várias especialidades. Apesar dos números robustos, a doutora Simone não se apavora. “Na Policlínica que dirijo ainda não chegamos à capacidade total. Se for necessário, dá para dobrar o número de atendimentos e absorver parte da demanda do Hospital Leal Jr.”, diz. Além dos hospitais e policlínicas, o município tem 34 Postos de Saúde da Família, que contam com 45 equipes que assistem cada uma, em média, a 2.500 pessoas. Os portadores de HIV também têm atenção especial, com ambulatório próprio para atendimento, onde recebem remédios específicos e contam com dentistas, clínicos, psicólogos e assistentes sociais.

A Prefeitura de Itaboraí inaugurou este mês uma unidade da Farmácia Popular do Brasil, que oferece medicamentos a 10% do preço de mercado. Os consumidores também têm acesso a atendimento personalizado de farmacêuticos profissionais, para orientação sobre o uso correto dos remédios. O programa é mantido pelo Ministério da Saúde e executado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Conta com 97 medicamentos considerados essenciais, que, de acordo com o secretário de Saúde de Itaboraí, Luiz Cezar Faria Alonso, cobrem 80% das doenças que atingem a população. Segundo ele, um comprimido de Sinvastatina, para controle do colesterol, sai por R$ 3,00 no mercado, e por R$ 0,38 na Farmácia Popular do Brasil. Na Farmácia Popular, recéminaugurada, os medicamentos custam, em média, 10% do preço de mercado

34

postos de Saúde da Família

45

equipes médicas em cada posto

Odonto Móvel

O cuidado bucal sobre rodas Projeto conduzido com carinho pela Secretaria de Saúde é o Odonto Móvel. São duas unidades que percorrem as escolas do município fazendo trabalho preventivo de saúde bucal. Cada unidade tem um dentista que examina a garotada, aplica flúor, cuida de eventuais cáries e distribui um kit com escova, pasta de dente e fio dental para as crianças, além de conversar sobre a importância de fazer diariamente a higiene bucal. O projeto é feito em parceria com a Secretaria de Educação.

Em cada unidade do Odonto Móvel, além do atendimento, os jovens recebem um kit e orientação sobre higiene bucal

1,2

milhão de reais é o custo mensal de uma UPA

10/01/2012 14:25:23


Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O GLOBO Projetos de Marketing

l 23

profundidade. Dali os equipamentos seguirão até o local do empreendimento. Após a redução das operações de abastecimento do Complexo, a infraestrutura será aproveitada para um terminal de passageiros que utilizarão o transporte por barcas.

Água e esgoto

Maior obra estruturante da região, o Arco Metropolitano deverá estar pronto no final de 2012, ligando Itaboraí ao porto de Itaguaí. Pronto, atrairá dezenas de empresas por onde cruzar

Arco Metropolitano dará passagem ao desenvolvimento da região Mobilidade e logística serão os maiores atrativos na área cortada pela rodovia

ITABORAÍ 2.indd 22-23

A região de Itaboraí é hoje uma das que mais crescem no Estado do Rio de Janeiro. Ali está em execução o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), que é o maior investimento da história da Petrobras e deve entrar em operação em 2014. A cidade – uma das 15 na área de influência do empreendimento – começa a receber grande volume de recursos. Para pavimentar e impulsionar o desenvolvimento da região, o poder público está fazendo grandes obras de mobilidade urbana – como o Arco Metropolitano, rodovia que interligará oito municípios, e a futura Linha 3 do metrô (Niterói-São Gonçalo-Itaboraí) – e de infraestrutura. A maior obra estruturante para a região é o Arco Metropolitano, parceria dos governos federal e estadual. A rodovia, que deve estar pronta em dezembro de 2012, terá 140 quilômetros e ligará exatamente o Comperj, em Itaboraí, ao porto de Itaguaí, unindo as principais rodovias federais que passam pelo estado. As obras do chamado trecho virgem, que tem 70,9 quilômetros de extensão e é de responsabilidade do

governo estadual, tiveram o ritmo acelerado a partir do segundo semestre de 2011, depois da solução de problemas de arqueologia, licenciamento ambiental e desapropriações. Para o governador Sérgio Cabral, a rodovia vai atrair dezenas de empresas dos mais variados setores econômicos. “O governo do Rio está fazendo o dever de casa, que é estimular o empreendedor e trabalhar para levar mais infraestrutura para os municípios do nosso estado. É o caso do Arco Metropolitano, que será uma grande artéria em uma região que terá ocupação inteligente por parte de dezenas de empresas comerciais, industriais, de serviços e de logística, interligando todas as rodovias federais que passam pelo estado”, diz Cabral. O vice-governador e coordenador de Infraestrutura do estado, Luiz Fernando Pezão, destaca mobilidade e logística como os dois maiores atrativos de empresas para a região cortada pelo Arco Metropolitano. “A concretização do sonho do Arco Metropolitano já desencadeou o

processo, esperado, de aproximação de grandes empresas devido às excelentes perspectivas de mobilidade e acessibilidade. O arco vai viabilizar o Comperj, na cabeceira leste, em Itaboraí, e o complexo industrial e portuário de Itaguaí, na cabeceira oeste”, garante Pezão. A médio e longo prazos, dois projetos prometem transformar a qualidade de mobilidade urbana da região. Um deles é a Linha 3 do metrô, que ligará Niterói a Itaboraí, passando por São Gonçalo. A via, cujo custo total deve chegar a R$ 2,5 bilhões – incluindo obras civis, equipamentos, sinalização e material rodante –, poderá transportar 40 mil passageiros/hora. A fase de obras vai gerar cerca de 15 mil empregos diretos e indiretos. O outro é o porto Praia da Beira, que será construído em parceria do governo estadual com a Petrobras em São Gonçalo e possibilitará, primeiramente, que os grandes equipamentos do Comperj sejam transportados. O porto terá um cais de 100 metros e dragagem que atingirá 40 metros de

As frentes de obras são muitas. No último mês de outubro, o Governo do Rio inaugurou a ampliação da Estação de Tratamento de Água (ETA) de Porto das Caixas, em Itaboraí. O empreendimento, que contou com recursos da ordem de R$ 70 milhões, abastecerá a fase de obras do Comperj e também parte da população da região. Com a ampliação, a produção de água na ETA passa de 160 para 260 litros por segundo. Metade destes 100 litros de água a mais por segundo será encaminhada para a rede distribuidora da Cedae, beneficiando diretamente mais de 20 mil moradores da região. Além disso, um acordo firmado entre a Secretaria Estadual do Ambiente e a Petrobras definiu que, como contrapartida ao Comperj, a empresa será responsável pela implantação de rede de esgoto em Itaboraí.

Qualificação de mão de obra Um ciclo de investimentos como esse gera uma enorme demanda por mão de obra qualificada. Em Itaboraí, a secretaria estadual de Ciência e Tecnologia possui um Centro Vocacional Tecnológico (CVT), com dezenas de cursos nas áreas de construção civil, informática e idiomas. A área de construção civil é uma que tem demanda diretamente influenciada pelo Comperj. Já em São Gonçalo, o governo tem um CVT na área de pesca. Alguns cursos formam profissionais para atuar em embarcações, também atendendo a demandas do Complexo. Em Niterói, a Escola Técnica Estadual Henrique Lage forma profissionais de nível técnico, com cursos de construção naval, máquinas navais, edificações, eletrotécnica e eletrônica. Os cursos de construção e máquinas navais, especificamente, formam profissionais que já são aproveitados por empresas da região, exatamente por causa do Comperj.

Com a inauguração da Estação de Tratamento de Porto das Caixas, mais 20 mil moradores da região foram atendidos com abastecimento

Linha 3 do metrô A Secretaria estadual de Obras deve iniciar a construção da Linha 3 do metrô no primeiro trimestre de 2012. Com uma de suas estações projetada por Oscar Niemeyer, a Linha 3 vai atender 1,7 milhão de moradores e servirá a 350 mil passageiros por dia.

O trecho Niterói-São Gonçalo terá 14 estações, com custo estimado de R$ 1,5 bilhão. A ideia do governo do estado é fazer, numa primeira etapa, seis estações: Araribóia, Jansen de Melo, Barreto, Neves, Vila da Laje e Paraíso. Ao todo, serão 22 quilômetros, sendo 17,7 quilômetros sobre viadutos e 4,3 quilômetros em superfície.Numa segunda etapa,

deverá ser construída uma extensão até Itaboraí. “A Linha 3 será grande obra de mobilidade, que dará rapidez e conforto para as populações de Niterói e São Gonçalo. Com isso, teremos o desenvolvimento de novas atividades e também o incremento de antigas vocações econômicas das regiões impactadas”, afirma Luiz Fernando Pezão.

No caminho do metrô entre Niterói e Itaboraí, Guaxindiba, bairro de São Gonçalo, terá uma das 14 estações previstas para a Linha 3

10/01/2012 14:25:26


ITABORAÍ 2.indd 24

10/01/2012 14:25:26


Domingo, 18 de dezembro de 2011

Agência O Globo

Cidade em debate

Passagem dos eventos esportivos deixará mais qualidade de vida para a população

E

ncerradas a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, o Rio de Janeiro deverá ser outra cidade. Volume recorde de investimentos públicos e privados e convergência política entre os governos federal, estadual e municipal estão produzindo transformações radicais em infraestrutura, transportes, meio ambiente, habitação, saúde. Qual será o resultado disso até 2017 foi o tema do Seminário Cidade em Debate, realizado pelos jornais O Globo e Extra, com apoio da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, nos dias 12 e 13 deste mês, no hotel Sheraton. Como definiu o presidente da Câmara, vereador Jorge Felippe (PMDB), a intenção foi avaliar impactos ambientais, econômicos e sociais dos grandes investimentos, analisar estratégias e gerar informações para o planejamento da mudança. “Todo o desenvolvimento acarreta inconvenientes; o objetivo desse encontro é,

Sem título-1 1

com a experiência dos palestrantes, produzir alternativas, para evitar que eles possam nos atingir”. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, prevê que “os eventos programados para a cidade, com destaque para a Copa do Mundo e a Olimpíada, servirão de modelo para as transformações que ainda não fomos capazes de fazer”, afirmou. “Precisamos imaginar que será um momento, de fato, de grandes transformações. Elas vão acontecer e, por isso, o debate é muito importante”. Para garantir qualidade às mudanças, o prefeito destacou que, além dos recursos públicos e privados, é preciso gestão. “Entre as medidas implementadas na administração municipal, todas as áreas (cobrindo 85% dos serviços públicos) passaram a ter acordos de resultado. O que significa que, dependendo do desempenho, os servidores podem receber 14º ou até 15º salários.”

Na herança que os eventos deixarão, a presidente da Empresa Olímpica Municipal, Maria Silvia Bastos Marques, incluiu o meio ambiente, principalmente na Zona Oeste, com a despoluição de rios e lagoas. O superintendente executivo do Comitê Olímpico Brasileiro, Marcus Vinicius Freire, informou que o COB tem funcionários que analisam o que a cidade terá após os jogos. “O Parque Aquático Maria Lenk é legado dos Jogos Panamericanos de 2007, e estamos investindo naquele espaço. Tudo vai ficar, independentemente da Olimpíada”, garantiu. O presidente do Instituto Pereira Passos e coordenador da UPP Social, Ricardo Henriques, explicou que o fim do controle armado abriu as favelas ao poder público. “Com a retomada dos espaços, iniciamos um processo de regularização urbanística, formalização de serviços e atividades e, mais do que isso, de redefinição de direitos e deveres.”

Sintonia fina para tocar a transformação da cidade

UPP Social invade favelas e reconstrói o mapa do Rio

Cidadania e serviços chegam às comunidades

Projetos vão redesenhar o futuro para o carioca

Página 2

Página 3

Página 6

Página 8

08/08/2012 14:24:25



O GLOBO Projetos de Marketing

Foto de Alexandre Diniz

Vida selvagem

Av. Paulista, principal via da cidade que nunca dorme

Pela madrugada adentro Com mais de 15 mil bares e muitas danceterias, São Paulo tem vocação boêmia. Foi o berço do after-hours no Brasil, mais exatamente na Hell’s Club, que agora está de volta ao Beat Club, na Rua Augusta, onde também se pode dançar até de manhã no Beco 203 ou assistir a apresentações stand up no Comedians Comedy Club, enquanto houver espectadores. Se bater a fome, bem perto, na Rua Haddock Lobo, a padaria Bella Paulista fica aberta 24 horas, com cardápio variado e serviço de entrega ininterrupto. Outra opção é a Galeria dos Pães, nos Jardins, que também não fecha e oferece, no outono e inverno, além de pedidos à la carte, um bufê de sopas. Em muitos bairros de São Paulo é possível passar a madrugada no circuito de danceterias, padarias, restaurantes. Ou fazer compras. Algumas unidades das redes de livraria Nobel e Siciliano ficam abertas até de madrugada, assim como a doceria Ofner, com unidades Este conteúdo é de responsabilidade da São Paulo Turismo

abertas 24 horas na Alameda Campinas, no Itaim, em Pinheiros e Moema. São particularmente famosos pela vida noturna, além da região central e dos Jardins, o bairro da Vila Madalena, de Pinheiros, a Vila Olímpia, o Itaim Bibi, Higienópolis, com estilos diferentes. Em quase todos, a presença das padarias notívagas é garantida. A St. Etienne, que está também nos Jardins e no Alto de Pinheiros, serve sushis e pizzas. No Itaim, a Josephine é uma danceteria inspirada nas casas noturnas de Amsterdã e Berlim, com cortinas de veludo, lustres de cristal, escadas de ferro. Preferido pelo pessoal da moda, o Café de la Musique foi projetado por estilistas famosos, que assinam diferentes ambientes da casa, com música eletrônica e espaço para apresentações ao vivo. A Praça Vilaboin, em Higienópolis, é cercada de bares e restaurantes e conta com uma banca de jornal 24 horas.

A Fundação Parque Zoológico de São Paulo oferece um “Passeio Noturno” para os visitantes observarem os animais de hábitos crepusculares e noturnos. Além de acompanhar a vida dos hóspedes tradicionais - hipopótamos, tamanduás-bandeira, onças, leões, tigres, lobos -, em geral mais ativos depois que a noite cai, animais da fauna nativa, como gambás, corujas e morcegos, podem ser vistos passeando livremente pelo parque. O passeio começa às 19 horas, com duração de cerca de três horas. A atração é muito procurada e é preciso comprar os ingressos com bastante antecedência. A partir de 1º de junho, a Fundação começa a vender ingressos para as próximas datas do passeio, realizado quinzenalmente às sextas-feiras, em dias pré-estabelecidos. O agendamento deve ser feito pelo telefone (11) 5073-0811, ramais 2119 ou 2141. Foto de Carlos Nader

As visitas noturnas são bastante procuradas

Visite www.cidadedesaopaulo.com


O GLOBO Projetos de Marketing

Temporada de imersão nos SPAs urbanos

Celestino

Foto de Divulgação

anderley Foto de W

Cada vez mais cariocas aderem às temporadas de imersão nos SPAs urbanos de São Paulo, em busca de relaxamento, tratamentos estéticos, experiências estimulantes. Ou vão à cidade descobrir os territórios de silêncio, as áreas verdes, os parques que a cidade guarda dentro de seu desenho cosmopolita. Há várias opções de preços, estilos e métodos entre os SPAs. Um dos mais sofisitcados, o SPA Cidade Jardim conta com tratamentos sob medida, preparados com apoio de nutricionistas, fisioterapeutas, especialistas em fitness, beleza, odontologia, psicólogos, dermatologistas, fisioteraupetas. Mantido pela empresa de cosméticos, o SPA L’Occitane tem design inspirados nas águas e dunas de areia da região de Camargue, na França. Oferece estações de tratamento, butique e um café, com cardápio que harmoniza com os ingredientes dos produtos da marca, baseados em matérias-primas da Provence. Para equilibrar as energias, o Kennzur, ao lado do Parque Ibirapuera, adota a medicina ayurvédica, da Índia. Tem salas integradas a áreas verdes, hidroterapias, “espaço sinérgico” (ambiente do chá, de águas e de leitura), solarium de relaxamento Este conteúdo é de responsabilidade da São Paulo Turismo

Acima: sessão de hidroterapia no Kennzur, no alto: a beleza relaxante do Horto Florestal

com vista para o parque, jardim de contemplação. Um serviço especial, chamado Tríade Sensorial, combina cromoterapia, aromaterapia e musicoterapia. O Tivoli São Paulo-Mofarrej também aposta no Oriente, com o Elements Spa by Banyan Tree, prestigiada marca tailandesa. Oferece massagens com óleos de ingredientes naturais em um ambiente sofisticado e privativo. Já o Grand Hyatt Hotel dedica seu espaço de bem-estar, o Amanary SPA, às práticas relaxantes para o corpo e mente, com tratamentos clássicos e outros específicos contra o estresse.

São Paulo natural A maior metrópole da América Latina é também um destino para contemplar e explorar a natureza. São Paulo tem mais de 75 parques e áreas verdes, incluindo as Áreas de Proteção Ambiental -- Bororé-Colônia e Capivari-Monos, ambas na zona sul,

com cachoeiras, trilhas, rios e córregos limpos, ninhal de garças. Na zona norte, o Horto Florestal é uma reserva que integra o Parque Estadual da Cantareira, com locais para piquenique, pista de cooper, equipamentos de ginástica, bicas de água potável e lagos. Quem quiser descansar dos ruídos urbanos, pode visitar o Parque do Jaraguá e percorrer a Trilha do Silêncio. No fim do trajeto, o público é convidado a se concentrar na temperatura, nos aromas e sons da natureza. Aliás, um dos maiores espaços do Brasil dedicados à meditação fica na região sul da cidade: o Solo Sagrado de Guarapiranga, às margens da represa de mesmo nome. Tem 327.500 m², jardins de diferentes tons e vários santuários orientais. Visite www.cidadedesaopaulo.com


O GLOBO Projetos de Marketing Foto de divulgação

Priscila fica em cartaz até dia 27 de maio Foto de Guga Melgar

José Mayer encabeça o grande elenco do musical “Um Violinista no Telhado”, em cartaz no Teatro Alfa

Cantando na garoa São Paulo já é chamada de Broadway brasileira, dada a quantidade de musicais em cartaz o ano inteiro na cidade. No momento, são pelo menos quatro espetáculos para o carioca escolher, comprar o ingresso online e partir para Sampa. Desses, três são inspirados em sucessos do cinema: “A Família Addams”; “Priscilla, a Rainha do Deserto” e “Fame, o Musical”. Já “O Violinista no Telhado” revisita um clássico da história dos musicais na Rússia melancólica dos czares. O sucesso do gênero revela a consolidação de uma excelência nacional para essas produções, que envolvem grandes desafios cenográficos, de direção e escolha de elencos numerosos e com aptidões musicais específicas. ”Priscilla, Rainha do Deserto” fica em cartaz só até 27 de maio, no Teatro Bradesco. Estreou em Sidney, Este conteúdo é de responsabilidade da São Paulo Turismo

em 2006, e, no ano passado, desembarcou nos palcos da Broadway. “A Família Addams”, em cartaz no Teatro Abril, também faz no País sua primeira montagem fora dos EUA, onde estreou na Broadway, em 2010. A atriz Marisa Orth e o ator Daniel Boaventura protagonizam os personagens da família bizarra, criados pelo cartunista Charles Addams. “Fame, o Musical”, dirigido por Billy Johnstone, está programado para até 29 de julho, no Teatro Shopping Frei Caneca. A história dos jovens que buscam uma vaga na New York High School of Performing Arts, já foi apresentada em 30 países. Um clássico imperdível A premiada dupla Charles Möeller e Claudio Botelho assina a maioria dos

musicais bem-sucedidos no País. É dela a produção de “Um Violinista no Telhado”, no Teatro Alfa, com canções clássicas, compostas para a montagem original, nos EUA, por Sheldon Harnick em parceria com Jerry Bock. Estreou na Broadway em 1964 e ganhou versão para cinema na década de 70. Retrata a vida de um leiteiro judeu (vivido pelo ator José Mayer) em um vilarejo russo, que enfrenta ao mesmo tempo hostilidades antissemitas do regime czarista e uma crise provocada pela recusa das filhas em aceitar casamentos arranjados. A produção tem 32 atores, 17 músicos, quase 200 figurinos. Visite www.cidadedesaopaulo.com


O GLOBO Projetos de Marketing Foto de Caio Pimenta

Mosteiro de São Bento

Avenidas e esquinas da história Amantes da história e da arquitetura têm muitos caminhos a percorrer em São Paulo. Pode-se começar pelo Pateo do Collegio, marco da fundação da cidade, em 1554, passar ao Triângulo Histórico - formado pelo Mosteiro de São Bento, a Igreja de São Francisco e a Igreja da Ordem Terceira do Carmo - de quando a vila, em 1872, tinha pouco mais de 30 mil habitantes, e chegar até os marcos da memória recente, como o antigo prédio do DEOPS, transformado em Memorial da Resistência. Todos na região central. O Mosteiro de São Bento é um dos poucos remanescentes no mundo do estilo alemão Beuronense – que integra arte e arquitetura. O interior da basílica, adornado do chão ao teto, conta com pinturas, esculturas, vitrais e mosaicos que combinam elementos das artes egípcia, bizantina e românica. O centro histórico da cidade traça um largo arco de mudanças de valores sociais e de comportamento das diferentes gerações paulistanas, refletidas na arquitetura da cidade. Estão lá os pontos de referência do Modernismo, movimento que sintetizou os novos caminhos abertos em todos os campos da arte brasileira. A vocação para a vanguarda também está registrada no Edifício Martinelli, erguido em 1929 como o mais alto fora dos Estados Unidos. E vale a pena ver, ainda, o Edifício Altino Arantes, o Banco do Brasil, na Praça Antonio Prado, e o Tribunal de Justiça, todos os três em estilo art déco; o Solar da Marquesa de Santos, na Rua Roberto Simonsen; a Catedral da Sé; a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, entre muitos exemplos das transformações vividas pela cidade.

Foto de Jefferson Pancieri

Memória recente O Memorial da Resistência de São Paulo ocupa o prédio do antigo Departamento Estadual de Ordem Política e Social do Estado de São Paulo – DEOPS/SP, transformado em centro de preservação da memória da repressão durante a ditadura militar (1964 a 1985). O Museu está organizado em quatro tópicos. O primeiro trata do próprio edifício, construção do início do século XX, que abrigou primeiro os armazéns da Estrada de Ferro Sorocabana e depois o DEOPS/SP. O segundo eixo aborda o funcionamento da repressão e da resistência desde a Proclamação da República. E, o terceiro, as vivências nas celas do DEOPS no período do regime militar. Este conteúdo é de responsabilidade da São Paulo Turismo

O estilo neogótico da Catedral da Sé

Visite www.cidadedesaopaulo.com


O GLOBO Projetos de Marketing Fotos de Caio Pimenta

No MASP, grande acervo fixo de arte europeia

A arte como destino Não é por acaso que a capital paulistana realiza o maior evento de artes plásticas do País - a Bienal Internacional de Arte de São Paulo, programada para setembro. A cidade conta com nada menos do que 110 museus e 40 centros culturais, cenário perfeito para uma imersão nas diferentes escolas e tendências da história da arte. Nesse roteiro, destacam-se, entre outros, o Museu de Arte Moderna Assis Chateaubriand (MASP), um dos maiores acervos de arte europeia na América Latina, a Pinacoteca do Estado, o Museu Lasar Segal, o Museu de Arte Contemporânea (MAC), o Museu Afro Brasil, o Museu de Arte Moderna (MAM),

além de importantes galerias, como a Fortes Vilaça ou a Bia Doria. O MASP, além do acervo fixo com obras de Cézanne, Monet, Renoir, Toulouse-Lautrec, Van Gogh, El Greco, traz seleções indispensáveis da produção brasileira, com nomes como Lasar Segall, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Portinari. Em cartaz, apresenta a exposição Deusas e Madonas – A arte do sagrado, com 40 trabalhos de mestres dos séculos 14 ao 19, inclusive a obra-prima São Jerônimo Penitente no Deserto (1451), de Andrea Mantegna, à mostra pela primeira vez depois de restaurada na França. Também sem previsão de encerramento, Roman-

tismo: a arte do entusiasmo, com os expoentes desse movimento. Na Pinacoteca, até 17 de junho, a primeira retrospectiva no Brasil do escultor, pintor e desenhista Alberto Giacometti (1901-1966), com 280 trabalhos; e outra dedicada a Lygia Pape. A exposição Sentir pra Ver :gêneros da pintura traz, ainda, reproduções fotográficas em padrões de acessibilidade para visitantes em cadeira de rodas, ou que tenham perda parcial ou total de visão, com recursos de apoio multissensoriais (reproduções em relevo, maquetes, extratos sonoros, poemas e textos com letras ampliadas e em Braille).

Obras-primas pelas ruas O graffiti e a street art paulistana podem ser vistos em galerias especializadas e pelas ruas. A pé ou de carro, deve-se prestar atenção aos trabalhos expostos em muros e paredes, principalmente no chamado Beco do Batman e no Beco do Aprendiz, ambos no bairro boêmio da Vila Madalena; no Túnel da Paulista que dá acesso à Avenida Rebouças; e na Avenida 23 de Maio. Entre as galerias, a dica é procurar a QUAZ e Spray; a Choque Cultural; a Zipper; a Galeria Marília Razuk; e a Almeida e Dale que, há mais de dez anos, consolidou um acervo de obras modernistas e latino-americanas. Arte contemporânea também é a vocação da Casa Triângulo, com trabalhos experimentais de artistas emergentes, e da Galeria Leme, com fotografias, instalações, vídeos e esculturas. Olhos abertos para ver o melhor da street art mais sofisticado

Este conteúdo é de responsabilidade da São Paulo Turismo

Visite www.cidadedesaopaulo.com


O GLOBO Projetos de Marketing

Fotos de Caio Pimenta

De tudo um pouco, na 25

Rua 25 de Março (no alto) e a Oscar Freire: do comércio popular ao mais sofisticado

O paraíso das compras São Paulo se consolidou como o grande centro de compras da América Latina. Reúne 240 mil lojas, 77 shoppings, ruas de comércio especializado. Só o segmento de luxo movimenta R$ 4 bilhões por ano na cidade, com lojas de grifes nacionais e internacionais, carros importados, cosméticos, jóias, objetos de decoração e design, etc. Entre as dez mais luxuosas do mundo, de acordo com a consultoria internacional Excellence Mystery Shopping, está a Rua Oscar Freire, nos Jardins. Arborizada e convidativa, oferece cafés e restaurantes sofisticados, grifes como Ermenegildo Zegna, Giorgio Armani, Osklen, joalherias como H. Stern e Antonio Bernardo, entre outras, em um conjunto de 220 lojas. Este conteúdo é de responsabilidade da São Paulo Turismo

Toda a região oferece muitas opções de lojas para compras de itens de qualidade. Para amantes de automóveis, não muito longe, na Avenida Europa, é possível visitar show rooms da Porsche, Maserati, Ferrari, etc. Entre os shoppings, o Cidade Jardim (onde há uma loja exclusiva de brinquedos Lego) e o Iguatemi (com butiques da estilista Diane Von Furstenberg e do designer de sapatos Christian Louboutin) têm lojas-conceito e itens exclusivos. Já para quem procura preços mais baixos, São Paulo oferece muitas alternativas de pontas de estoque multimarcas. Na Rua Cristiano Viana, em Pinheiros, por exemplo, há uma concentração de outlets de marcas conhecidas.

A famosa Rua 25 de Março, em São Paulo, é a via principal a partir da qual se desdobram várias ruas de comércio especializado, com imensa diversidade de produtos a preços baixos, que atraem consumidores finais e comerciantes de muitas partes do Brasil. Estima-se um movimento de 400 mil pessoas por dia nas 350 lojas da região, que inclui as ruas Santa Ifigênia (eletrônicos), José Paulino (roupas), Paula Souza (artigos para bares e cozinhas), Tiradentes (uniformes profissionais), São Caetano (noivas), Oriente (enxovais), Florêncio de Abreu (máquinas e ferramentas), General Osório (instrumentos musicais), Barão de Paranapiacaba e Barão de Itapetininga (jóias) e Conselheiro Crispiniano (material fotográfico). Como o lugar tem ruas estreitas e sempre tomadas por pedestres, o ideal é ir às compras sem carro. De metrô, deve-se descer na estação São Bento e sair pela Ladeira Porto Geral. Se der fome, há ótimas opções por perto, como, por exemplo, o Café Martinelli Midi, com decoração ambientada na década de 20, ou a Padaria do Mosteiro de São Bento, onde se pode provar o bolo Dom Bernardo, feito com chocolate, café, nozes, pêssego, gengibre e conhaque. Visite www.cidadedesaopaulo.com


O GLOBO Projetos de Marketing

Temporada de imersão nos SPAs urbanos

Celestino

Foto de Divulgação

anderley Foto de W

Cada vez mais cariocas aderem às temporadas de imersão nos SPAs urbanos de São Paulo, em busca de relaxamento, tratamentos estéticos, experiências estimulantes. Ou vão à cidade descobrir os territórios de silêncio, as áreas verdes, os parques que a cidade guarda dentro de seu desenho cosmopolita. Há várias opções de preços, estilos e métodos entre os SPAs. Um dos mais sofisitcados, o SPA Cidade Jardim conta com tratamentos sob medida, preparados com apoio de nutricionistas, fisioterapeutas, especialistas em fitness, beleza, odontologia, psicólogos, dermatologistas, fisioteraupetas. Mantido pela empresa de cosméticos, o SPA L’Occitane tem design inspirados nas águas e dunas de areia da região de Camargue, na França. Oferece estações de tratamento, butique e um café, com cardápio que harmoniza com os ingredientes dos produtos da marca, baseados em matérias -primas da Provence. Para equilibrar as energias, o Kennzur, ao lado do Parque Ibirapuera, adota a medicina ayurvédica, da Índia. Tem salas integradas a áreas verdes, hidroterapias, “espaço sinérgico” (ambiente do chá, de águas e de leitura), solarium de relaxamento Este conteúdo é de responsabilidade da São Paulo Turismo

Acima: sessão de hidroterapia no Kennzur, no alto: a belza relaxante do Horto Florestal

com vista para o parque, jardim de contemplação. Um serviço especial, chamado Tríade Sensorial, combina cromoterapia, aromaterapia e musicoterapia. O Tivoli São Paulo-Mofarrej também aposta no Oriente, com o Elements Spa by Banyan Tree, prestigiada marca tailandesa. Oferece massagens com óleos de ingredientes naturais em um ambiente sofisticado e privativo. Já o Grand Hyatt Hotel dedica seu espaço de bem-estar, o Amanary SPA, às práticas relaxantes para o corpo e mente, com tratamentos clássicos e outros específicos contra o estresse.

São Paulo natural A maior metrópole da América Latina é também um destino para contemplar e explorar a natureza. São Paulo tem mais de 50 parques e duas Áreas de Proteção Ambiental -- Bororé-Colônia e Capivari-Monos, ambas na zona sul, com cachoeiras,

trilhas, rios e córregos limpos, ninhal de garças. Na zona norte, o Horto Florestal é uma reserva que integra o Parque Estadual da Cantareira, com locais para piquenique, pista de cooper, equipamentos de ginástica, bicas de água potável e lagos. Quem quiser descansar dos ruídos urbanos, pode visitar o Parque do Jaraguá e percorrer a Trilha do Silêncio. No fim do trajeto, o público é convidado a se concentrar na temperatura, nos aromas e sons da natureza. Aliás, um dos maiores espaços do Brasil dedicados à meditação fica na região sul da cidade: o Solo Sagrado de Guarapiranga, às margens da represa de mesmo nome. Tem 327.500 m², jardins de diferentes tons e vários santuários orientais. Visite www.cidadedesaopaulo.com


O GLOBO Projetos de Marketing Fotos de Priscilla Vilariño

São Paulo espera receber mais de 400 mil turistas na edição de 2012 da Parada do Orgulho LGBT

Sem medo de ser feliz A Parada do Orgulho LGBT de São Paulo 2012 chega à sua 16ª edição na avenida Paulista, dia 10 de junho, às 12h, com o tema “Homofobia tem cura: educação e criminalização! – Preconceito e exclusão, fora de cogitação!”. É o segundo maior evento de São Paulo, superado apenas pela Fórmula 1, e atraiu, no ano passado, cerca de 400 mil turistas. A cidade está entre os cinco melhores destinos gay friendly do mundo, segundo pesquisa feita pelo portal GayCities.com, em parceria com a American Airlines, ao lado de Tel Aviv, no topo do ranking, seguida por Nova York, Toronto, além de Madri e Londres, empatadas em quarto lugar. Conta com hotéis, bares, danceterias e extensa programação voltada ao público LGBT. A Parada de 2011 reuniu 16 trios elétricos e quase 4 milhões de pessoas. Para este ano, estão programados ciclos de debates, feira cultural LGBT, o 12º Prêmio de Cidadania em Respeito Este conteúdo é de responsabilidade da São Paulo Turismo

à Diversidade e o 12º Gay Day, além da caminhada contra a homofobia. Vive em São Paulo a maior comunidade LGBT da América Latina: mais de 1,5 milhão de moradores. Este ano, ganhou o primeiro hotel dedicado exclusivamente ao público gay masculino, o Chilli Pepper Single Hotel, no Largo do Arouche, no Centro. No quesito balada, a lista de opções é infindável. Na região central, restaurantes bastante frequentados são o estiloso Drosophyla, na Consolação, o Exquisito, com cardápio latino (ceviche, saltenha, chili), e o Mestiço. E, na Praça da República, o Café Vermont, com shows de MPB. O Ritz, nos Jardins, existe desde 1981, e é uma referência na história GLS da cidade. Na rua Frei Caneca as opções são os restaurantes Gato Drinks & Arts, para happy hours ou preparação da balada, e o Frey Café e Coisinhas, com espaço para festas e diversos eventos.

Eventos o ano todo Além de ter a maior Parada LGBT do mundo, São Paulo oferece para os visitantes uma programação extensa. Em agosto acontecerá a Semana da Visibilidade Lésbica; em setembro é a vez do Mister Gay Brasil e do Passeio Ciclístico da Diversidade Sexual. Novembro é o mês do Festival Mix Brasil de Cinema e Vídeo da Diversidade Sexual e do Festival Cultural da Diversidade Sexual. E encerrando a programação de 2012, Corrida Gay de São Silvestre, em dezembro. Visite www.cidadedesaopaulo.com


O GLOBO Projetos de Marketing Foto de Agnaldo Pedro

Em agosto acontecerá a 22ª Bienal do Livro

Foto de divulgação

O Salão Internacional do Automóvel, que acontercerá em outubro, já faz parte do calendário das grandes feiras que acontecem na cidade

O grande circuito das feiras de negócios São Paulo é o principal destino de negócios na América do Sul, com uma programação quase diária de feiras comerciais, congressos e convenções. Na agenda deste segundo semestre, não se pode perder a segunda edição do São Paulo Fashion Week, principal evento de moda do País, de 11 a 16 de junho no Parque Ibirapuera. Outros dois grandes programas, que costumam mobilizar multidões de visitantes, são a 22ª Bienal do Livro, de 9 a 19 de agosto, e o Salão Internacional do Automóvel, de 24 de outubro a 9 de novembro, ambos no Anhembi Parque. Também estão previstos encontros setoriais importantes, como o Salão Moda Brasil (3 a 5 de junho), no Expo Center Norte, ou a Francal-Feira Internacional da Moda em Calçados Este conteúdo é de responsabilidade da São Paulo Turismo

e Acessórios (26 a 29 de junho), no Anhembi. De acordo com o Observatório do Turismo, núcleo de estudos da São Paulo Turismo (SPTuris), de cada 20 turistas que visitaram a cidade no ano passado, 15 (75%) vieram atraídos pela intensa atividade econômica da capital. São mais de 86 mil m² de salas destinadas a eventos nos meios de hospedagem, ao lado de grandes centros de exposições equipados com infraestrutura completa. Estima-se que, a cada dia, uma feira de negócios aconteça em São Paulo. Destaque para eventos dos setores médicos, científicos e tecnológicos, industriais e educacionais. As feiras se desdobram, ano a ano, em novas especializações. Nos dias 6 e 7 de agosto, a cidade recebe a 2ª Nails Fashion Week, com últimas

tendências em esmaltes, na Vila dos Ipês, sofisticada casa para eventos na Vila Leopoldina. Antes disso, de 3 a 7 de julho, artistas e artesãos podem conferir a Mega Artesanal-12ª Feira de Arte e Técnicas de Artesanato. Ainda este ano, os profissionais devem se preparar, entre outros, para o Salão São Paulo de Turismo 2012 (20 a 22 de junho), a Promo Bríndice 201219ª Feira de Brindes, Promoção e Relacionamento (10 a 13 de julho), a Fipan-Feira Internacional de Panificação, Confeitaria e do Varejo Independente de Alimentos (17 a 20 de julho). Visite www.cidadedesaopaulo.com


Quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

s

Planos oferecem opções para complementar benefício do INSS. Página 4

Aplicar em vinhos e moedas garante retorno e satisfação pessoal. Página 5

Internet facilita acesso do investidor individual ao pregão. Página 6

Olimpíadas, Copa e UPPs tornam mercado imobiliário atrativo. Página 7

A tendência de elevação da taxa de juros para combater a alta da inflação torna aplicações em renda fixa atraentes. Mas há outros nichos promissores na Bolsa e em fundos de renda variável. Analistas apontam as melhores opções para 2011.

Como colher bons resultados ano que vem

Arte sobre fotos de arquivo

A

Investimentos 2- O Globo.indd 1

s incertezas que marcaram os mercados financeiros este ano, especialmente o de ações, deverão continuar presentes em 2011. As economias de países desenvolvidos, como os EUA - onde a taxa de desemprego está no nível mais alto desde 1982 - deverão continuar a apresentar baixo crescimento. Além disso, as dúvidas quanto à solvência das economias de países europeus como Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha também contribuirão para que a aversão a risco nos mercados globais continue elevada ano que vem. O Brasil poderá ser, de alguma forma, impactado por esse ambiente. Some-se a isso a elevação da taxa básica de juros de curto prazo (taxa Selic), que deverá começar, segundo as projeções do mercado financeiro, a subir no início de 2011, como parte das medidas que o Banco Central tem tomado para conter a inflação. Apesar disso, é possível dizer que as perspectivas por aqui são positivas. A economia brasileira, ao que tudo indica, continuará a apresentar bom crescimento, acima da média mundial. A taxa de desemprego, por sua vez, deverá se manter baixa e a massa salarial, em crescimento. Tudo isso cria ambiente propício para que ações de empresas voltadas para o mercado interno sejam as mais beneficiadas. Nesse contexto, ações de empresas ligadas a consumo e ao mercado imobiliário devem apresentar valorização acima da média, avalia Abílio Ferreira, administrador de carteiras registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Segundo ele, existem várias formas de um investidor pessoa física aproveitar essas oportunidades. Uma delas, a mais óbvia, é a compra direta de ações de empresas dos segmentos promissores. Existe outra forma, menos conhecida, que tem ganhado cada vez mais importância. São as aplicações em ETFs (Exchange Traded Funds) – fundos de índice formados por ações de várias empresas que têm suas cotas negociadas como ações na Bolsa de Valores. “A alternativa é interessante porque o investidor pode fazer uma aplicação com pouco dinheiro (em geral, a aplicação inicial é inferior a R$ 1 mil) e comprar, de uma só vez, várias ações, diversificando o risco”, analisa. Ou seja, mesmo que a alta dos juros torne mais atrativas as aplicações em ren-

da fixa, e as incertezas da economia internacional afetem as Bolsas, não deixam de existir nichos rentáveis, mesmo a curto prazo, de investimento em ações e fundos de renda variável. O surgimento de novas modalidades, como os fundos imobiliários, e a abertura a aplicadores individuais de alternativas tradicionalmente associadas aos investidores institucionais, como as debêntures, ampliam as possibilidades de ganhos. Papéis indexados a preços, como as Notas do Tesouro Nacional (NTNs), são boa opção para os mais conservadores, mas exigem atenção para fatores como os prazos de vencimento, mais longos do que a média. A previdência privada também é apontada como alternativa atraente. O mercado aposta na expansão e em taxas de crescimento robustas de 17% a 25% ao ano e trabalha com cenário de redução gradual e a médio prazo das taxas de juros no Brasil, acreditando que as empresas saberão se ajustar às mudanças na economia nacional. “O sucesso do mercado de previdência complementar é consequência de um arcabouço legal muito bem estruturado, o que o torna capaz de garantir uma aplicação atraente, com a menor tributação em aplicações financeiras no Brasil”, diz Osvaldo do Nascimento, diretor executivo do Itaú Unibanco e vicepresidente da Federação Nacional de Previdência e Vida (Fenaprevi). O otimismo prevalece na maioria dos prognósticos para 2011, como o do vicepresidente da área de Investimentos da SulAmérica, Marcelo Mello. O fundamento desse otimismo, mesmo em ambiente de turbulência externa, está nos ganhos de maturidade da economia e do mercado de capitais no país. Mello espera cenário neutro para o dólar, sem maiores oscilações, e alta da taxa Selic (remuneração dos títulos públicos) para 12,75% ao longo do ano. Economista-chefe da Icatu Seguros, Victoria Werneck, prevê que a inflação oficial em 2010 deverá ficar em 6%, muito próxima do teto da meta, de 6,5%. Ela aponta a inflação como a maior preocupação no cenário econômico, de resto virtuoso, com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) menor do que o deste ano, mas ainda elevado e mais compatível com a taxa de investimento do país. Em linhas gerais, essa é a previsão que predomina no mercado financeiro, com nuances que não chegam a desfazer a impressão de quase consenso.

O surgimento de novas modalidades, como os fundos imobiliários, e a abertura a aplicadores individuais de alternativas tradicionalmente associadas aos investidores institucionais, como as debêntures, ampliam as possibilidades de ganhos.

08/08/2012 14:15:49


2 l Quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Especialistas recomendam fundos imobiliários e fundos de índice - novidade que conjuga ações de várias empresas de um mesmo setor - como opções para diversificar a carteira e obter ganhos adicionais à renda fixa, uma das promessas de 2011.

inda que o cenário para investimentos em 2011 seja promissor, há quem se mostre cauteloso, como Rafael Paschoarelli, economista da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Atuariais, Contábeis e Financeiras). Ele prefere esperar as primeiras medidas do novo governo. “O mercado aponta subida das taxas nos contratos mais longos, o que indicaria a manutenção do pragmatismo atual”, avalia. Para o vice-presidente da área de Investimentos da SulAmérica, Marcelo Mello, essa é a hipótese mais provável. Os grandes investidores institucionais já estariam, inclusive, se antecipando ao provável movimento do Banco Central, com os mercados futuros de DI (Depósitos Interbancários) embutindo alta em torno de 2 pontos na taxa Selic. Nesse quadro, a renda fixa surge como a opção mais óbvia, mas é possível identificar boas oportunidades de ganho na renda variável. A SulAmérica evita citar nomes de ações, mas chama atenção para setores promissores, mesmo numa conjuntura instável para as Bolsas. É o caso das empresas de mineração. As Bolsas são sempre melhores para quem aposta em horizonte mais largo, de quatro a 10 anos, mas a diversificação crescente do mercado brasileiro abre nichos interessantes. É o caso, para Mello, dos Fundos Imobiliários, capazes de captar a recuperação da construção civil, cujos investimentos cresceram mais do que a média da indústria, ou dos Fundos de Recebíveis, sensíveis ao bom momento do comércio. Paschoarelli, da Fipecafi, corrobora essa análise, lembrando que as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) estão isentas de imposto.

Com experiência de 40 anos no mercado de corretagem, a UM Investimentos mostra visão otimista para as aplicações em Bolsa ano que vem. Uma das líderes no atendimento a pessoas físicas, em volume de operações, a UM espera grande aumento nas ofertas públicas e IPOs (sigla inglesa para abertura de capital) em 2011. Este ano, a Petrobras fez capitalização enorme, atraindo capitais do mundo inteiro e inibindo outros lançamentos. “A Ernst&Young, uma das maiores consultorias e auditorias do planeta, divulgou relatório listando grande quantidade de IPOs e ofertas sendo preparadas para o ano que vem”, adianta Paulo Hegg, operador da UM.

Proteção contra a inflação O cenário de alta de juros não costuma favorecer investimentos em renda variável, mas em renda fixa. Mesmo assim, Paulo Hegg destaca papéis de setores que contam com boa proteção contra a inflação, como o bancário, que ganha na margem com a alta na Selic, e as concessionárias de rodovias, que têm tarifas reajustadas pelo Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M). Na diversificação, Hegg recomenda atenção especial para os Fundos Imobiliários. “A Copa do Mundo de 2014, as Olímpiadas de 2016 e o programa ‘Minha Casa, Minha Vida’ impulsionam a construção civil. Os fundos têm vantagens fiscais e reduzem os riscos da concentração em papéis que fiquem fora dos principais programas oficiais”, diz. “Para o investidor mais conservador, o Tesouro Direto é modalidade interessante, pois o risco é baixo, pela garantia do Tesouro Nacional”, conclui.

Arte sobre fotos de arquivo

A

Aposta na diversificação O ABC da renda fixa

Fundos imobiliários

Isenção de IR é atrativo Fundos de investimento: Ao investir R$ 1.000,00 em um fundo de investimento, você está comprando participação em uma carteira que inclui várias aplicações em renda fixa ao mesmo tempo, o que reduz o risco das suas aplicações. Fundo referenciado DI: Aplica em títulos pós-fixados, preferencialmente títulos de dívida pública, e tem como objetivo replicar o desempenho da variação do CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Fundos de renda fixa: Diversificam suas aplicações ao direcionar parte dos recursos captados para títulos de dívida pública pré-fixados. Fundos de renda fixa crédito: Buscam obter ganhos mais elevados, aplicando boa parte dos recursos em títulos de dívida privada, que em geral pagam juros mais altos do que os títulos públicos. : “Contudo, é preciso cuidado, pois, além de poder estar exposto a uma alta dos juros, você pode ser impactado pela situação financeira das empresas emissoras do título.” Fundos de renda fixa multi-índices: Buscam obter ganhos mais elevados aplicando no mercado futuro de índices de inflação ou de juros. Títulos de renda fixa: Você pode investir diretamente em títulos de renda fixa, comprando debêntures, CDBs, LTNs, etc, ou aplicar indiretamente por meio de fundos de investimento. As aplicações em renda fixa são organizadas de acordo com seus emissores: Governo (LTNs, NTNs, etc.), bancos (CDBs, RDBs, letras hipotecárias, letras cambiais) e empresas (debêntures, commercial papers). Títulos prefixados: São aqueles cuja remuneração é determinada no momento da aplicação. Isto significa que você já sabe o quanto receberá no vencimento. Títulos pós-fixados: Quando você investe em um pós-fixado, só saberá o quanto vai receber no final da aplicação. Esses títulos têm o seu rendimento atrelado ao CDI ou fixado como sendo a soma da variação da inflação (medida pelo IGP-M ou IPCA) mais uma taxa de juros predeterminada.

Títulos Públicos Assim como as empresas e os bancos, os governos federal, estadual e municipal também precisam de dinheiro para financiar suas obras e cobrir suas despesas. Os títulos emitidos por estas entidades são chamados de títulos de dívida pública e podem ser pré ou pós-fixados. O pequeno investidor, desde janeiro de 2002, pode aplicar diretamente em títulos de dívida pública pela Internet. A negociação é feita pelo site do Tesouro Direto, por sistema seguro que só dará acesso à área exclusiva mediante validação do CPF e senha. O valor mínimo é de R$ 200,00 (por mês), para cada operação, e o valor máximo, R$ 200 mil (por mês). O sistema permite a compra de LFTs, LTN e três tipos de NTN: as NTN-C, NTN-B e NTN-F. Todas as NTNs pagam juros semestrais, sendo que a principal diferença é que as NTN-C estão atreladas ao IGP-M, as NTN-B ao IPCA e as NTN-F têm rentabilidade definida acrescida de juros. Para efetuar a compra será preciso preencher formulário incluindo alguns dados pessoais, além do número do CPF e endereço eletrônico. Quando tiver completado o formulário, dirija-se a instituição habilitada com os documentos exigidos (CPF e comprovantes de residência e de renda), para que a instituição possa confirmar seu cadastro junto à CBLC (Central Brasileira de Liquidação e Custódia). Assim que o cadastramento estiver concluído e confirmado, você receberá por email a confirmação de cadastro e senha de acesso à área fechada do site, onde poderá efetuar sua oferta de compra. www.tesouro.fazenda.gov.br.

Títulos Privados CDB: Ao comprar o CDB você está emprestando o dinheiro para o banco e recebendo em troca o pagamento de juros. Já o RDB tem a mesma característica de um CDB, com a diferença de que não admite negociação antes de seu vencimento. Letras Hipotecárias: As letras hipotecárias são uma forma de captação usada pelos bancos para financiar certas linhas de crédito imobiliário. As LH são emitidas com juros pré-fixados, flutuantes e pós-fixados em TR ou TJLP com prazo mínimo de 180 dias. As letras são oferecidas apenas com vencimentos pré-definidos, que variam entre seis meses a dois anos, e não existe a possibilidade de saque dos recursos antes do prazo estabelecido. Debêntures: Ao contrário dos CDBs e das letras hipotecárias, as debêntures são títulos de renda fixa emitidos por empresas não financeiras com capital aberto que buscam obter recursos de médio e longo prazos para financiar as suas atividades ou quitar dívidas. Existem ainda as debêntures conversíveis, que podem ser trocadas por ações da empresa emissora na data de exercício. Essa conversão não é obrigatória. Commercial Papers: Assim como as debêntures, os commercial papers são títulos de dívida emitidos por empresas, que podem ou não ser financeiras. Ao contrário das debêntures, têm prazo mais curto de duração, e são indicados para interessados em aplicações de curto prazo. O prazo mínimo dos commercial papers é de 30 dias e o máximo de 360 dias. Fonte: UM Investimentos

Mordida do Leão

Fundos de índice

Planejamento, a arma contra o ‘come-cotas’

Garimpo rentável Num ano em que o Ibovespa andou de lado, o investidor mais antenado teve que buscar inovações. Quem optou pelos ETFs (Exchange Traded Funds), fundos referenciados nos índices setoriais e negociáveis no pregão, teve acesso a ganhos de até 27,73%. A Black Rock, uma das líderes mundiais em gestão de fundos, chegou ao Brasil para aumentar a concorrência no segmento, até então limitado ao PIBB (referenciado no Ibovespa). Saulo Mendes, diretor de Mercado de Capitais da Black Rock, conta que o BOVA11, referenciado ao Ibovespa, gira R$ 30 milhões por dia. No vencimento de opções, esse montante chega a alcançar R$ 70 milhões. Com esse aumento de liquidez, foi possível reduzir o lote mínimo negociável de 100 para 10 cotas. “Com R$ 690, pode-se aplicar num instrumento inovador, mas seguro. Em outros fundos do gênero, dá para investir menos ainda, R$ 200, graças ao novo limite”, explica. O fundo monta uma cesta de ações que garanta, no mínimo, a rentabilidade do

índice de referência setorial. O Brax11 segue o IBrX; o CSMO11 segue o Índice BM&FBovespa de consumo, formado por ações de empresas desse setor, e assim por diante. O investidor pode diversificar a carteira, diluindo seu risco por universo mais amplo de ações. “O BOVA11 tem 68 ações na carteira”, exemplifica. O MOBI11, que segue a carteira do Índice BM&FBovespa Imobiliário, aplica em 14 empresas diferentes. As de maior liquidez, como Gafisa, Cyrela e PDG, estão representadas, com limite de 20% de participação. O investimento no setor imobiliário com o ‘Minha Casa, Minha Vida’ foi 50% maior do que a média da economia. “As empresas mais badaladas estavam fora do ‘Minha Casa, Minha Vida’, o que muita gente no mercado ignorava. Nosso fundo tem as mais conhecidas no segmento de imóveis de luxo, mas também a MRV, de forte presença nos programas de habitação popular”, conta Saulo Dantas, da Black Rock.

Quem aplica em fundos de investimento certamente já ouviu falar do ‘come-cotas’. Para efeitos de Imposto de Renda, os fundos são classificados em três grandes categorias: fundos de ações, fundos de curto prazo e fundos de longo prazo. Nos fundos de ações o Imposto de Renda é pago apenas no resgate e calculado com base em alíquota fixa de 15%. Já nas duas outras categorias o recolhimento é feito na fonte, e as alíquotas variam de acordo com o prazo de aplicação. Recolhimento semestral - O cálculo do imposto retido na fonte dos fundos de curto prazo e longo prazo é feito com base no sistema ‘come-cotas’, com

o recolhimento feito no último dia útil dos meses de maio e novembro. Caso o prazo de investimento seja inferior a seis meses no caso dos fundos de curto prazo ou de dois anos no caso dos fundos de longo prazo, será preciso recolher a diferença do imposto devido, já que a alíquota a ser aplicada seria menor do que a alíquota mínima. Para diminuir o impacto do ‘come-cotas’, o essencial é se planejar para poder manter uma reserva investida e destinar aos fundos de curto prazo somente recursos que não sejam necessários nos próximos seis meses. Nos fundos de longo prazo, o raciocínio é o mesmo, só que o tempo mínimo de espera é de dois anos. ( Fonte: IGF)

O mercado de fundos imobiliários movimentou R$ 5 bilhões este ano e é uma das apostas dos especialistas para 2011. Não que o investimento nesses fundos seja isento de riscos. Se o investidor compra, por exemplo, cotas de um fundo que investe num galpão para aluguel comercial e o locatário não paga, o rendimento cai. Por outro lado, essa possibilidade é minimizada pela estrutura de gestão, que inclui advogados e administradores. Ainda há a proteção adicional da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o mercado de fundos. É o que explica Bruno Nahon, sócio diretor da gestora de fundos Aria Capital, que vem ampliando sua atuação no ramo imobiliário. Segundo Nahon, outra vantagem dos fundos está na tributação. O investidor pessoa física não paga Imposto de Renda sobre os rendimentos, caso o fundo possua cotas negociadas em Bolsas de Valores ou no mercado secundário e tenha, no mínimo, 50 cotistas. Para comprar cotas, o investidor precisa participar da oferta pública ou adquirir as cotas de alguém que queira se desfazer do investimento. Existem também fundos de oferta restrita, para no máximo 20 cotistas – mas estes não têm a vantagem de isenção de IR. Há em torno de 80 diferentes fundos imobiliários, de diferentes tipos, no mercado. Os fundos de renda regular, por exemplo, remuneram seus cotistas principalmente com o pagamento de aluguéis; os de ganho de capital visam a valorização das cotas a partir da valorização dos imóveis adquiridos; os de investimentos gerais mesclam remuneração com aluguéis e a valorização dos imóveis. “Os fundos oferecem a possibilidade de investimento para o pequeno investidor em condições semelhantes às oferecidas aos grandes investidores e com acesso a investimentos de primeira linha”, acrescenta o executivo.

Psicologia econômica

Quando a emoção vence a razão O Brasil escapou dos efeitos mais perniciosos da crise global de 2008, mas os investidores estão sujeitos aos mesmos comportamentos que levaram às turbulências no mercado americano, adverte a psicóloga Vera Rita Mello Ferreira. Doutora em Psicologia Econômica pela Universidade de São Paulo (USP) e representante no País da Iarep, uma das principais associações mundiais do setor, Vera identi-

fica o otimismo excessivo e a autoconfiança exagerada como distorções comuns na percepção dos aplicadores, ainda mais nas altas. Associadas aos períodos expansionistas, as condutas irracionais revelam-se em todo o seu esplendor nas quedas de Bolsa e recessões. Por trás disso, está a aversão a perdas, que acaba alimentando os prejuízos tão temidos. “É de certa forma como os viciados em jogo. O sujeito

perde na roleta, e arrisca mais a cada rodada para recuperar o que perdeu”, compara. “É difícil ter a clareza necessária do momento de entrar e sair”, diz. Com três livros voltados para o investidor, explicando como aplicar os princípios da Psicologia Econômica, Vera Rita admite que não é fácil a tarefa de livrar-se das armadilhas mentais mais comuns. É o caso do apego a um papel que se desvaloriza continuamente, só

para não ver o prejuízo efetivar-se com a venda. “O mais razoável, mesmo nesses tempos em que a Internet facilita operações financeiras, é recorrer a ajuda especializada. Por maior que seja o preparo intelectual do investidor individual, quando isolado, ele está mais sujeito a ser traído pelas emoções do que os operadores profissionais. Para evitar isso, o melhor caminho é reconhecer os próprios limites”, aconselha.

Produção: Link Comunicação Integrada Edição: Cláudia Bensimon Editor Assistente: Maurício Schleder Desenho: João Carlos Guedes Fotografia: Marcelo de Jesus Reportagem: Eduardo Carvalho, Cezar Faccioli, Larissa Morais, Márcia Gomes, Rosane de Souza e Verônica Couto A apuração das informações deste suplemento é de responsabilidade da Link Comunicação Integrada

Investimentos 2- O Globo.indd 2

08/08/2012 14:15:51


Quarta-feira, 15 de dezembro de 2010 l

3

Dez anos de aplicações constantes, equilibrando segurança, risco e rentabilidade, fizeram de Leandro Martins um milionário aos 28 anos. “Não há fórmula perfeita. O importante é evitar a ambição, a pressa e a ganância”, ensina.

De R$ 1 mil a R$ 1 milhão...

A

os 28 anos, o consultor financeiro Leandro Martins conseguiu juntar R$ 1 milhão. Foram dez anos, ao todo, em exercício de persistência, disciplina e aprendizado, que, segundo ele, está ao alcance de mais gente do que se supõe. É verdade que Martins, desde criança, foi sempre o que mais poupava entre os colegas. “Eu preferia não gastar minha mesada com doces, para poder comprar uma bicicleta, por exemplo”, conta o consultor, que decidiu cedo seguir carreira de economista. No primeiro ano da faculdade, quando tinha 18 anos, o pai faleceu. Para cuidar da avó, da mãe e da irmã mais nova, largou “a vida de playboy” e assumiu a gestão do capital que a empresa empregadora do pai pagou à família. “Devorei livros e revistas sobre investimentos”. Na época, Martins já trabalhava e decidiu fazer sua própria reserva pessoal de capital, com aplicação inicial de R$ 1 mil. Começou de forma conservadora e evoluiu para maiores riscos, à medida que acumulava experiência e conhecimento sobre o mercado. Em 1997, 90% dos recursos foram investidos em fundo de renda fixa, e 10% em ações. Dez anos depois, a distribuição do capital era exatamente o contrário. A cada ano, aumentou em 10% a participação das aplicações feitas em Bolsa de Valores, e diminuiu a parcela destinada ao fundo de renda fixa na mesma proporção. “No final dos anos 90, a renda fixa ficava com a maior parte dos investimentos. Foi quando a Selic (taxa de juros básica, definida pelo Banco Central) chegou a patamares acima de 40% ao ano”. Atualmente, ele reconhece que o cenário é bem diferente. “Para apresentar o mesmo potencial de retorno, é inevitável pensar em ações”.

Divulgação

Com essa estratégia básica, Martins calcula que obteve taxas líquidas mensais de 1% a 2,5% com a renda fixa. E, na Bolsa de Valores, apesar de períodos de baixa, chegou a registrar taxas superiores a 5% ao mês. A migração gradual foi importante para entender como lidar com o mercado. Ele usa sempre a “Análise Técnica de Ações”, metodologia na qual se especializou e que é tema de cursos que oferece há cinco anos. Durante o processo de aprendizagem, algumas vezes apostou errado, principalmente no mercado de opções, no qual são negociados direitos de compra e venda de ações com preços e em prazos predeterminados. “As perdas aconteceram, quando me antecipei nesse mercado, sem ter conhecimento pleno do seu funcionamento.” Martins não definiu previamente a meta de R$ 1 milhão. Mas obrigou-se a poupar. Segundo ele, o percentual mínimo de renda destinada à aplicação recomendado pelos especialistas é de 10% do salário ou do rendimento mensal. “Deve-se, contudo, buscar aumentar esse percentual”. Ele adverte que não há fórmula perfeita nem única para ganhar R$ 1 milhão. As melhores escolhas precisam considerar contexto econômico, comportamento do mercado e a situação objetiva de cada pessoa. “O importante é evitar a ambição, a pressa, a ganância”. Tanta dedicação virou especialidade. Martins é analista chefe da corretora Walpires, autor do livro “Aprenda a Investir” (Atlas), criou os sites www.seuconsultorfinanceiro.com.br e www. analisetecnicaacoes.com.br, e é professor de cursos de análise técnica e gráfica de ações e operações de day trade. “Meu objetivo maior sempre foi obter liberdade financeira, minha independência. Parar de trabalhar para o dinheiro, deixar o dinheiro trabalhar por mim.” Palavra de quem entende do riscado.

Leandro Martins: ganhar o primeiro milhão está ao alcance de mais gente do que se supõe

Quanto e onde investir* Milionário até as Olimpíadas Rentabilidade Aplicação mensal mensal

2016 (74 meses)

1,5% 2,5% 3,5%

R$ 1.000.000,00 R$ 1.000.000,00 R$ 1.000.000,00

R$ 7.300,00 R$ 5.000,00 R$ 3.000,00

De três em três

Resultado da aplicação de R$ 3,00 ao dia, com taxa de retorno de 1% ao mês, a juros compostos. 1 ano = R$ 1.153,00 5 anos = R$ 7.424,00 10 anos = R$ 20.911,00 20 anos = R$ 89.923,00 30 anos = R$ 317.692,00 45 anos = R$ 1.950.232,00

1. Câmbio (dólar) – Para hedge (proteção). 2. Caderneta de poupança – Baixa rentabilidade (muito próxima à inflação) e possibilidade de perda de rentabilidade nos resgates fora do vencimento; sua vantagem é a isenção de Imposto de Renda e cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). 3. Imóveis – Baixa liquidez e baixa rentabilidade, com risco de depreciação e de inadimplência, além de custos adicionais com taxas e reformas; a seu favor, tem oferecido alta valorização nos últimos anos. 4. Previdência privada – Taxas altas (carregamento, entrada e saída), carências, baixa rentabilidade (nos casos de gestão ineficiente) e metodologia de cálculo do pagamento futuro com base em critérios superestimados. Vantagem: investimento programado e aportes feitos por empresas. 5. Ações - Maior potencial de retorno. Possibilidade de aplicação por meio de fundos de ações, clubes de investimentos, carteira administrada ou compra direta (mediante cadastro feito em alguma corretora). Mas requer aprendizado. * Dicas do especialista

ANÚNCIO

Investimentos 2- O Globo.indd 3

08/08/2012 14:15:51


4 l Quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Planos de previdência oferecem a possibilidade de manutenção da qualidade de vida na aposentadoria. Há opções para todos os bolsos. Na hora de escolher é importante analisar o valor das taxas de administração cobradas pelos bancos e seguradoras.

O

Um olhar para o futuro

IBGE deu uma boa notícia, recentemente, ao anunciar que os brasileiros já vivem, em média, mais dez anos. É um bom motivo para que, neste fim de ano, as pessoas façam mais do que balanços de vida e promessas de mudar de hábitos e de comportamento em 2011. É tempo de arriscar um pouco mais, elaborar planos de longo prazo e reorganizar os investimentos, para neles incluir o projeto de manter padrão financeiro suficiente para realizar a viagem dos sonhos quando parar de trabalhar, garantir o pagamento do plano de saúde na velhice, assegurar a universidade dos filhos e a previdência dos netos ou apenas complementar o benefício mensal da previdência pública. Afinal, o INSS pode jogar água no chope das comemorações de aniversários futuros, uma vez que essa maior expectativa de vida – 73 anos, para os homens, e 77, para as mulheres – de imediato altera o Fator Previdenciário, usado para calcular o valor das aposentadorias por tempo de serviço. A nova tabela já incide nos benefícios requeridos a partir do primeiro dia de dezembro. Portanto, usar uma parte do 13º salário para contratar um plano de previdência privada pode ser uma boa saída para não depender de amigos, filhos e parentes na velhice e, de quebra, obter benefícios fiscais em 2011. Quem optar pelo Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) pode abater, no próximo ano, até o limite de 12% da renda tributável, o dinheiro gasto com o investimento. Os recursos podem ser aplicados de uma única vez, por meio de cota única, com aportes financeiros periódicos, para aumentar os vencimentos futuros. Os depósitos também podem ser mensais. Na hora do resgate, o investidor pode escolher receber os rendimentos de uma única vez ou em parcelas mensais, vitalícias. Os planos de previdência são bem mais lucrativos do que a caderneta de poupança, chamada pelos economistas de “ilusão monetária”, pois seus rendimentos ficam sempre abaixo da inflação. “As pessoas não percebem, mas perdem dinheiro com a poupança. Em novembro, por exemplo, a inflação ficou em 0.8%, enquanto a taxa fixada para a poupança foi de 0.5%”, diz Luiz Calado, economista da consultoria Brain Brasil.

Divulgação

“Opção pela tabela regressiva é uma boa escolha para quem deseja investir a longo prazo: o IR cai 5% a cada dois anos, chegando a 10% após dez anos de aplicação.” Luís Martinez, diretor da Icatu Hatford

Ciclos de vida

Quanto mais cedo melhor

Produtos se sofisticam com o tempo

40 anos de contribuição*

35 anos de contribuição*

30 anos de contribuição*

Idade inicial Reserva 25 anos em R$

Idade inicial Reserva 30 anos em R$

Idade inicial Reserva 35 anos em R$

Aos 30 Aos 35 Aos 40 Aos 45 Aos 50 Aos 55 Aos 60 Aos 65

Aos 35 58.666,00 Aos 40 144.866,00 Aos 45 271.521,00 Aos 50 457.620,00 Aos 55 731.059,00 Aos 60 1.132.832,00 Aos 65 1.723.168,00

Aos 40 Aos 45 Aos 50 Aos 55 Aos 60 Aos 65

58.666,00 144.866,00 271.521,00 457.620,00 731.059,00 1.132.832,00 1.723.168,00 2.590.565,00

58.666,00 144.866,00 271.521,00 457.620,00 731.059,00 1.132.832,00

Idade de aposentadoria: 65 anos; contribuições anuais: R$ 10.000,00 (ao fim de cada ano); rentabilidade anual: 8% - rentabilidade nominal projetada e líquida da taxa de administração Na simulação, um intervalo de 10 anos no tempo de contribuição equivale a uma diferença de 56% no acúmulo de reservas (início aos 25 anos versus início aos 35 anos).

A evolução das reservas R$ 3.000.000,00 R$ 2.500.000,00 R$ 2.000.000,00 R$ 1.500.000,00

Como escolher seu plano

R$ 500.000,00

Início aos 30 anos

Início aos 35 anos

Simulações: Icatu

Rentabilidade acumulada de acordo com o tipo de fundo* Carteira

30 dias

Previdência Renda Fixa Multimercado sem renda variável Prev.Renda Fixa Médio e Alto Risco Multimercado com renda variável Previdência referenciado DI Balanceados

0.83% 10.31% 0.77% 10.18% 0.86% 9.99% -1,64% 7,18% 0.80% 9,03% -2,05% 4,20%

12 meses

*Rentabilidade dos fundos em que são aplicados os recursos dos planos de previdência privada. Sofre alteração diária e sobre ela recaem as taxas cobradas pelos administradores (dados de 13/12/2010). Fonte: Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais – Anbima

Planos para todos os bolsos Os planos de previdência complementar existem no Brasil há mais um século. Mas a recente preocupação dos brasileiros em manter a qualidade de vida futura, aliada à criação de regras seguras para esses tipos de aplicação - Lei 6.435, de julho de 1977, e Lei Complementar 109, de maio de 2001 - tornou o mercado um dos mais atraentes e lucrativos do Brasil. Ele cresceu 80 vezes num intervalo de apenas 15 anos. “Em 1993, o montante das reservas era de R$ 3 bilhões. Este ano, deve ultrapassar a marca dos R$ 220 bilhões”, informa Osvaldo do Nascimento, diretor executivo do Itaú-Unibanco e vice-presidente da Federação Nacional de Previdência e Vida (Fenaprevi).

Investimentos 2- O Globo.indd 4

Outro segmento em expansão é o de planos de previdência empresarial, cada vez mais adotados por empresas de grande e pequeno portes, para reter funcionários uma vez que também contribuem para acumulação de reservas -, e os planos “instituídos”, dirigidos a associações de classe, cooperativas e sindicatos, para impedir a corrosão do padrão de renda dos seus filiados. As operadoras de planos de previdência complementar também esperam que até o primeiro semestre de 2011 o governo dê o sinal verde para o lançamento de produtos para as áreas de saúde e educação: o PrevSaúde e o PrevEducação serão destinados à formação de poupanças para despesas médicas dos mais velhos e custeio da educação dos jovens brasileiros.

O dentista Eduardo Costa fez as contas há oito anos e descobriu que a aposentadoria concedida pela previdência oficial não seria o suficiente para manter o padrão de vida que tem hoje. Um amigo corretor o ajudou a equacionar a questão, aconselhando-o a fazer um plano de previdência privada. Ele não pensou duas vezes para aceitar a sugestão do amigo, apesar de, na época, pouco saber sobre o assunto. Especialista em prótese e implantes dentários, decidiu, depois de ampla consulta, contratar um plano de previdência privada com o objetivo de complementar os benefícios futuros do INSS com a renda extra. “Como sou profissional liberal, sei que a renda do INSS não me proporcionará uma vida sossegada”. Casado e pai de dois filhos, o dentista diz que pensou em todos os parentes ao consultar os planos oferecidos pelo mercado brasileiro. Ao fim, optou por um tipo de aplicação em previdência complementar que, no caso de sua “ausência”, contemple sua mulher. “Eu pago uma parcela maior do valor, uma espécie de seguro, para transferir os benefícios futuros para meus dependentes”. Faz parte dos seus projetos imediatos amparar a velhice dos seus filhos, de seis e dois anos. “Já estou providenciando para eles um plano de previdência complementar que assegure vida tranquila, no caso de minha falta”.

Taxas de administração em queda

R$ 1.000.000.00

R$ 0,00 Início aos 25 anos

O mercado oferece hoje produtos mais sofisticados, como os batizados de ciclos de vida, que se adaptam às fases de vida comuns a todas as pessoas, ao ajustar os percentuais de investimento da reserva acumulada em fundos de renda fixa ou variável (estes, até o limite de 49% dos recursos), de acordo com o prazo do resgate. “Essa carteira pode garantir rendimentos mais elevados, porque busca investimentos mais agressivos”, diz Richard Michael Seegerer, superintendente-executivo do grupo de previdência privada do Santander. É indicado, por exemplo, para os mais jovens, que podem arriscar mais. Ao longo do tempo, os investimentos tornam-se mais conservadores, reduzindo o percentual aplicado em renda variável, para assegurar o patrimônio do cliente.

Aposta numa vida sossegada

O consumidor também vem lucrando com a expansão do mercado. Renato Russo, vice-presidente de Pessoas e Previdência da SulAméica e também da Fenaprevi, conta que a rentabilidade média dos fundos que combinam aplicações de renda fixa com as de renda variável (ações em Bolsa) tem sido de 16,88% ao ano. Com o boom do mercado, surgiram opções de planos que cabem no bolso da maioria dos brasileiros. O diretor de Marketing da seguradora Mongeral Aegon, Luiz Claudio Friedheim, adverte, contudo, que o consumidor precisa ter certeza de que o produto que está comprando vai atendê-lo pelo resto da vida. ”Muita gente só precisa repor a inflação que

corrói o benefício da aposentadoria oficial. Este tipo de investimento é muito barato e pode ser feito até por quem já tem 60 anos”, assinala O presidente da Brasilprev, Sérgio Rosa, lembra que poucos trabalhadores receberão o teto do INSS, hoje de R$ 3.500, daí a importância de investir numa renda complementar ao regime público de previdência. “Há planos de R$ 25 mensais ou de aporte único de mil reais que garantem uma boa renda futura para uma criança”. Já o superintendente de Produtos da empresa, João Batista Mendes Ângelo, assinala que o dinheiro aplicado na previdência complementar pode ser a reserva financeira segura para suportar um período de desemprego.

O PGBL é um plano atraente para quem contribui para o INSS e declara IR pelo modelo completo, pois permite a dedução de 12% do imposto. No momento de resgatar a aplicação, porém, o imposto é descontado sobre o total dos rendimentos. Já o plano Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) é ideal para quem não se insere na previdência oficial, é isento de IR ou declara no modelo simplificado. Neste caso, o pagamento do imposto é adiado até o momento do resgate do benefício, e incide apenas sobre a sua rentabilidade. O diretor de Produtos, Previdência e Investimentos da Icatu Hartford, Luís Martinez, assinala que a pessoa tem que optar, no ato da aquisição, se vai pagar o IR pela tabela progressiva (que obedece ao padrão dos assalariados, de 0 a 27,5%) ou regressiva. Esta última é uma boa escolha para quem deseja investir a longo prazo: o IR cai 5% a cada dois anos, chegando

a 10% após dez anos de aplicação. Os dois produtos podem ser resgatados de uma única vez ou em parcelas mensais e vitalícias, para complementar a aposentadoria pública. Os serviços de previdência complementar prestados pelos bancos e seguradoras embutem taxas de administração que variam de 1% a 5%. O sócio diretor da consultoria Moneyplan, Fernando Meibak, alerta que é preciso tomar cuidado com esses custos: “só com a redução de 3% para 2% na taxa de administração uma pessoa que aplicar R$ 10 mil durante 20 anos vai ter 22% a mais nos seus rendimentos”, calcula. Renato Russo, em contrapartida, diz que essas taxas estão em queda livre, em função da redução dos juros “Hoje, elas estão numa média de 1,50% a 1,70% e a tendência é cair mais”, avalia, dizendo que todos vem se adequando ao perfil de renda dos investidores e ao risco do negócio.

Fidelidade

Mulher solteira procura... Há uma forte presença de mulheres nos investimentos em previdência privada. Estudos realizados por Icatu e Brasilprev apontam que elas adquirem planos de previdência mais cedo do que os homens, o que evidencia

uma maior consciência no planejamento financeiro de longo prazo. A maior parte é solteira e, em geral, fiel aos planos, pois a escolha recai, em sua maioria, pelo modelo de tributação regressiva dos rendimentos.

Portabilidade

Cliente pode trocar de instituição Se estiver insatisfeito com o serviço, o cliente pode transferir para outro banco ou seguradora o dinheiro investido na aposentadoria fu-

tura. “A legislação permite a transferência de reservas entre empresas”, esclarece Richard Seegerer, executivo do banco Santander.

“Eu pago uma parcela maior do valor para transferir os benefícios futuros para meus dependentes.” Eduardo Costa, dentista

Essas preocupações fizeram com que ele, morador de Niterói, quase se tornasse um expert em mercado financeiro. Eduardo diz que acompanha de perto os rendimentos do seu plano e até mesmo o comportamento das ações negociadas na Bolsa de Valores. Como seguro só morreu de velho, o dentista, formado há 16 anos, diversificou a sua cesta de aplicações para atingir a meta de bons dias futuros. “Hoje eu tenho também uma caderneta de poupança e ações na Bolsa”. Com isso, espera que, pelo menos, algum desses benefícios não lhe falte no futuro. “Estou garantindo o retorno de um desses investimentos, caso os outros enfrentem algum tipo de problema”.

08/08/2012 14:15:52


Quarta-feira, 15 de dezembro de 2010 l

5

As chances de obter ganhos no mercado de objetos raros ou de luxo são maiores para quem tiver disposição e gosto para estudá-los. A rentabilidade compensa, mas é opção para quem não tem pressa.

Vinhos finos, moedas raras Fotos de arquivo pessoal

S

Em breve: fundo de investimento lastreado em vinho

air do convencional e aplicar em ativos menos óbvios, como vinhos, moedas, obras de arte, exige mais do que capital. Esses investidores quase sempre têm laços subjetivos com seu patrimônio e conhecimento dos mercados em que resolveram atuar que os protege dos riscos, geralmente altos. A rentabilidade muitas vezes compensa, mas essa não é opção para quem tem pressa. Para quem sabe, há casos especiais. O empresário paulista Thiago Corazza conta que uma garrafa do italiano Alzero de sua adega valorizou mais de 100% em um ano. E Eduardo Capocchi, engenheiro e numismata, cita um tostão – moeda de prata de 100 réis, de 1844 – vendido por US$ 120 mil em um leilão de abril deste ano, com valorização de 45% em dois anos. Segundo Capocchi, a numismática movimenta 6 bilhões de dólares por ano no mundo. De uma década para cá, ele diz que estão mais apreciados os patacões, moedas de 960 réis cunhadas no Brasil sobre a prata de moedas de outros países da América Latina, da época de D. João VI até 1834. Sabia-se pouco sobre elas, até que, a partir dos anos 80, começaram a surgir livros documentando as coleções de patacões e suas variedades, vindas da Argentina, Peru, México. Resultado: um patacão que custasse R$ 40,00 em 2000, atualmente deve estar cotado a R$ 200,00. Há dois anos, a empresa de leilões de moedas Heritage, dos EUA, leiloou peças raras brasileiras por centenas de milhares de dólares.

Com safras ou patacas, contudo, o investidor precisa conhecer a história e os mecanismos que dão valor aos produtos. Cappochi herdou a coleção de moedas do avô paterno, que tinha tomado gosto pela numismática para agradar ao sogro, numismata e ourives. Uma dica dos colecionadores é desconfiar de ofertas muito impressionantes e de negócios que precisam ser fechados com urgência. No Brasil, não há muito lugar onde negociar moedas. Mas as associações especializadas, como a Sociedade Numismática Brasileira, realizam juntas cerca de 50 leilões por ano. A negociação de vinhos também é restrita no País. Os interessados buscam principalmente leilões europeus, como os da Sotheby’s, em Londres, ou de casas especializadas em Nova York. A bolsa Liv-ex (London International Vintners Exchange) negocia principalmente vinhos de Bordeaux, mas também de outras regiões da França, da Itália, Alemanha, Espanha, entre outras, pela internet e pelo telefone. Corazza aposta no potencial desse segmento no País. “Acredito na valorização futura de grande parte da minha adega e que um dia exista no Brasil um sistema para comercializálos”. Enquanto isso, ele busca adquirir vinhos de 1990 para a frente, pesquisando safras, notas, preços internacionais. As suas preferências incluem os italianos Amarone, da região do Vêneto, e Barolo, do Piemonte; e os franceses de Bordeaux.

Ainda não é uma bolsa de vinhos, mas a Cultinvest Asset Management está em fase de registro do que deve ser o primeiro fundo de investimentos da América Latina com títulos lastreados em vinho. Segundo o conselheiro editorial da revista DiVino, Marcel Miwa, os mais valorizados vêm das regiões de Bordeaux e Borgonha, na França, ou, na Itália, do Piemonte e da Toscana. Em um patamar um pouco menos sofisticado, mas ainda de bastante valor, estão os vinhos espanhóis de Rioja e, num mercado menor, os vinhos do Porto e Madeira, que têm vida longa. A Bolsa de Bordeaux é o principal mercado de vinhos, aberto a lojas ou pessoas físicas. Os produtores das outras regiões, contudo, negociam exclusividade com importadores, inclusive os que trazem os vinhos para o Brasil. Eles chegam aqui ainda mais caros. Um Château Latour de 1990, a US$ 750 na Grã-Bretanha, sai no mercado nacional a R$ 7,5 mil. “Em média, o valor do vinho convertido em dólar, multiplicado por dez, dá o preço cobrado aqui”, diz Miwa. A conta para investir em vinho deve considerar o preço da garrafa, mais infraestrutura, diz Corazza. Para começar, uma adega climatizada para armazenar 200 garrafas sai por cerca de R$ 10 mil. “É importante ter cautela. Primeiro, deve-se eleger entre os diferentes tipos aquele que mais lhe agrada; depois, aqueles adequados à sua capacidade econômica. E aproveitar as oportunidades.”

Patacão de 960 réis: relíquia dos tempos da realeza

ANÚNCIO

Investimentos 2- O Globo.indd 5

08/08/2012 14:15:52


6 l Quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A Internet democratizou o acesso ao universo da Bolsa de Valores. A BM&FBovespa estima que mais da metade dos investidores individuais que operam na Bolsa utilizam o sistema de Home Broker. Marcelo de Jesus

Glossário “Fui aprendendo aos poucos. No começo, investia em ações de perfil mais conservador, de empresas grandes. Depois, passei a estudar o mercado e a acompanhar tendências.”

A l Ação - Título

negociável que representa a menor parcela em que se divide o capital de uma sociedade anônima.

B l Blue chip - Em geral,

ações de empresas tradicionais e de grande porte, com grande liquidez e procura no mercado de ações.

Gustavo Elias, engenheiro

l Bolsa de Valores Associação civil sem fins lucrativos, cujos objetivos básicos são, entre outros, manter local ou sistema de negociação eletrônico, adequados à realização, entre seus membros, de transações de compra e venda de títulos e valores mobiliários.

C l Corretagem - Taxa de

remuneração cobrada pela corretora para a intermediação das operações realizadas em Bolsa.

O pregão na sala de estar

Investimentos 2- O Globo.indd 6

cado sempre abaixo de 1% ao mês. Então, cresceu a procura por alternativas mais arriscadas, que dão retorno maior“, afirma. Na opinião do coach financeiro Alan Soares, o crescimento da classe C é outro fator a influenciar o aumento do contingente de investidores individuais. “É um mercado novo, há mais gente com dinheiro para investir. O crescimento da classe C, que inclui pessoas com renda mensal de até R$ 5 mil, é uma realidade. São pessoas que estão ganhando mais e algumas já começam a perceber que, em vez de conDivulgação

Aquiles Mosca: Internet democratizou o pregão trair dívidas, é interessante adquirir ativos financeiros“, diz. Mas, como em qualquer negócio, o marinheiro de primeira viagem precisa estar atento para não cometer erros que comprometam o seu investimento e até mesmo o seu patrimônio. “O erro principal do investidor iniciante é acreditar que dominar a utilização do Home Broker lhe dará qualidade para investir. Tem que estudar o mercado e ter planejamento porque, junto com ações, você também compra riscos”, afirma Soares. Outro erro comum de quem começa é entrar e sair do mercado acionário constantemente, tentando acertar o momento bom para comprar e o momento bom para vender. “Até para especialistas isso é difícil. A dica é: comece a investir em ações regularmente e mantenha sua posição visando ao longo prazo. No curto prazo, a sua chance de ganhar é praticamente meio a meio, ou

seja, é semelhante a lançar uma moeda no ar para ver se dá cara ou coroa”, avalia Pujado. Mosca acredita que o investidor novato deve começar aos poucos e nunca perder de vista o longo prazo. “A primeira coisa é que só vale a pena investir na Bolsa se o dinheiro for ficar aplicado por no mínimo 12 meses. A partir dessa decisão, ele deve buscar auxílio para traçar o seu perfil de tolerância ao risco. Quem nunca investiu deve começar com parcela pequena do que tem para aplicar, a meu ver nunca acima de 10%”, aconselha. Foi o que fez o engenheiro Gustavo Passos Elias, de 32 anos. Há seis anos, ele descobriu o mundo dos investimentos online. Até então, sempre havia investido em fundos DI e renda fixa. Lendo sobre a possibilidade de investir diretamente pela Internet, resolveu aplicar em ações parte do dinheiro que já poupava. E não se arrepende. “Fui aprendendo aos poucos. No começo, investia em ações de perfil mais conservador, de empresas grandes, como Petrobras, Vale e AmBev. Depois, passei a estudar o mercado e a acompanhar tendências. Hoje, metade do que invisto é ‘conservador’, e metade é ‘arriscado’. Em média, por ano, o retorno que tenho tido é duas vezes maior do que teria se tivesse aplicado em investimentos de renda fixa“, conta Gustavo. Ele dá uma dica para quem está chegando agora: “Procurar sites especializados e também fóruns de discussão na Internet. E só investir na Bolsa um dinheiro de que não precise. Assim, se perder, não estará arriscando o patrimônio”, alerta.

Sites relacionados www.bovespa.com.br www.traderbrasil.com.br * www.practa.com.br * www.investeducar.com.br * www.easynvest.com.br www.apregoa.com.br www.maximatrade.com.br www.investshop.com.br www.shopinvest.com.br www.investbolsa.com.br www.linktrade.com.br www.agorainvest.com.br www.wintrade.com.br * escolas de investidores/educação financeira

Conjunto de operações de transferência de recursos financeiros de prazo médio, longo ou indefinido, efetuadas entre agentes poupadores e investidores, por meio de intermediários financeiros.

O que você precisa saber Veja alguns dos principais custos e benefícios que devem ser levados em conta pelo investidor na hora de escolher uma corretora de Home Broker. E ainda as vantagens desse sistema de investimento em ações.

Custos l

l

l l

l

P l Pregão - Sessão

Corretagem é fixa, independentemente do volume financeiro? Cobra custódia mensal? Requer mínimo de ordens para não cobrar custódia? Exige mínimo para abertura de conta? Exige gasto mínimo de corretagem para ter acesso ao sistema? Cobra taxa mensal pelo sistema?

durante a qual se efetuam negócios com papéis registrados em uma Bolsa de Valores, diretamente na sala de negociações e/ou pelo sistema de negociação eletrônica da Bovespa.

Benefícios

V l Valor nominal da ação

Há quanto tempo a corretora existe? l Fornece análises? l Permite falar diretamente com o analista? l Fornece um sistema de análise técnica, ou gráfica, gratuitamente, com indicadores e recursos interativos avançados? l Tem promoções para abertura de conta ou fornece algum tipo de benefício se você operar muito?

- Valor mencionado no estatuto social de uma empresa e atribuído a uma ação representativa de seu capital.

l

Vantagens Baixo investimento inicial (algumas corretoras sequer exigem investimento mínimo) l Acesso a cotações e investimentos em tempo real l Relatórios de análises gratuitos l Transparência no envio das ordens e acompanhamento das mesmas, pois todas as ordens são enviadas para a Bolsa sem a intervenção humana l

Entrevista Rosário Pujado planejadora financeira

‘Tenha sempre horizonte de longo prazo’ 1 - Investir em ações é uma boa? Sim, desde que você já tenha reserva de emergência em ativos conservadores e horizonte de tempo de longo prazo. 2 - Quais são as vantagens de investir na Bolsa? O investidor em ações vira sócio da empresa emissora. Isto significa que ele recebe, enquanto mantiver as ações em carteira, distribuição de lucros na forma de dividendos e/ou juros sobre capital próprio. O investidor em Bolsa acredita no potencial das empresas emissoras e assume

Divulgação

C

omo quase tudo nas últimas duas décadas, a compra e a venda de ações também ganhou novo impulso no Brasil quando a Bolsa de Valores entrou na Internet, há 11 anos. Implantado pela BM&FBovespa em 1999, o Home Broker democratizou o mercado ao permitir que o investidor doméstico passasse a se conectar diretamente ao pregão para negociar. O público tem acesso ao sistema por meio de corretoras de valores credenciadas pela Bolsa (veja box com o ‘custo x benefício’ do investimento via Home Brokers). De acordo com dados da BM&FBovespa, atualmente há mais de 550 mil pessoas físicas operando na Bolsa (contra 94 mil, em 2003). Calcula-se que 55% delas operam pelo sistema online – em 2002, essa fatia não superava 3%. Só em 2009, os investidores domésticos movimentaram cerca de R$ 470 bilhões. A estimativa da Bovespa é de que o número de investidores individuais cresça quase 10 vezes até 2015, chegando a 5 milhões de pessoas. Para especialistas, esse crescimento se deve a dois fatores principais: a estabilização macroeconômica, já que o fim da inflação e a consequente queda dos juros fizeram com que os investidores passassem a ter condições de planejar e investir no longo prazo; e o desenvolvimento do Home Broker, que permitiu que corretoras de valores passassem a atender clientes de menor patrimônio, uma vez que todas as operações são enviadas para a Bolsa sem a necessidade de intervenção humana. “A estabilidade econômica do Brasil impulsionou os investimentos em Bolsa nos últimos anos. No longo prazo (acima de cinco anos), a Bolsa tende a ganhar sempre da poupança e da renda fixa“, analisa a planejadora financeira Rosário Pujado. Segundo o estrategista de investimentos pessoais Aquiles Mosca, a Internet contribuiu de forma decisiva para a democratização do acesso ao pregão. “Além disso, a principal razão para o aumento do número de investidores pessoa física é que, nos últimos anos, a rentabilidade dos investimentos em renda fixa tem fi-

M l Mercado de capitais -

o risco da empresa emissora em busca de maior retorno. 3 - Home Broker é uma boa opção para o pequeno investidor? Sim, mas o pequeno investidor deve ficar muito atento aos custos cobrados pelas corretoras, que, em alguns casos, inviabilizam as operações. No entanto, hoje em dia, devido à concorrência acirrada entre as corretoras, esse custo já está bem mais baixo do que no início desse sistema.

l Valor patrimonial da ação - Resultado da divisão entre o patrimônio líquido e o número de ações da empresa. l Volatilidade - Indica o grau médio de variação das cotações de um título em determinado período.

4 - Por que só recentemente o brasileiro acordou para a Bolsa? Basicamente porque o mercado acionário brasileiro ainda é incipiente. Já evoluiu bastante, mas ainda tem longo caminho a percorrer. É preciso que as empresas listadas em Bolsa se comprometam com maior transparência para todos os acionistas. 5 - Qual seria uma dica valiosa para o investidor novato? Comece investindo pequeno percentual dos seus recursos. Não entre neste mercado porque o seu vizinho ganhou dinheiro, ou porque o seu chefe também investe. Tenha sempre horizonte de longo prazo, esteja ciente dos riscos envolvidos e avalie a sua tolerância a esses riscos.

08/08/2012 14:15:52


Quarta-feira, 15 de dezembro de 2010 l

Investi mentos

Imobi liários

7

Expansão do crédito, Copa, Olimpíadas e UPPs alavancam o mercado de imóveis no Rio. No Centro, Vila Isabel e Tijuca, por exemplo, a valorização superou os 50% entre janeiro e novembro deste ano. Especialistas dizem que o setor continuará crescendo até 2014.

Um teto para sonhar com lucros I

nvestir em imóveis foi um excelente negócio em 2010, especialmente no Rio de Janeiro. O crédito farto, o aquecimento da economia, os dois eventos esportivos mundiais que constam da agenda da cidade para os próximos 6 anos e até mesmo o sucesso do projeto de implantação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em favelas de várias áreas provocaram um forte aumento nos preços de imóveis residenciais e comerciais. Os ganhos muitas vezes ultrapassaram 50% para quem investiu na compra direta de um imóvel ou optou pela modalidade dos fundos imobiliários que vêm ganhando espaço no mercado. “Nos últimos 20 anos, nunca houve uma fase como essa no mercado imobiliário”, resume Leonardo Schneider , vice-presidente do Secovi Rio (sindicato que reúne empresas de diversos segmentos do ramo habitacional). Levantamento da entidade feito com base em anúncios de compra e venda de imóveis usados na cidade indica que, de janeiro a novembro deste ano, a valorização chegou a 84,5%. Essa foi a alta do preço dos imóveis de quatro quartos na Gávea – área nobre do Rio onde a oferta é reduzida. Outros destaques da pesquisa foram a alta de 72,1% no valor de apartamentos de um quarto no Centro, bairro que vem sendo revitalizado, e de 57,7% em Vila Isabel, que sofre influência positiva da chegada das Unidades de Polícia Pacificadora às favelas da região. Pelo mesmo motivo, os imóveis de um e dois quartos na Tijuca valorizaram respectivamente 55,3% e 49,5%. O aumento de preços também foi forte em Ipanema e no Leblon. Lá, os imóveis de um quarto ficaram 53% mais caros e os de 3 quartos, 51,9%. “Como a oferta é pequena, os preços seguem subindo. Quando erguem um prédio, as unidades são vendidas na hora”, afirma. Já a Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes, onde a valorização chegou a 40,4%, são beneficiados por projetos de melhoria de infraestrutura urbana para a Copa e as Olimpíadas O desempenho do setor de imóveis neste ano animou o casal Ricardo Felipe Ramos Nobile e Renata Ataídes Pontinho a trocar de imóvel residencial e ainda comprar um apartamento na planta para investir. O três quartos comprado como investimento fica no condomínio Freedom, na Avenida Abelardo Bueno. “Essa é uma das áreas que mais vai concentrar investimentos por conta das Olimpíadas. Nossa expectativa é de uma valorização em torno de 40%. Também pretendemos ganhar alugando o imóvel por temporada, no período dos Jogos”, diz Nobile. O condomínio onde eles compraram o apartamento foi todo vendido em 24 horas. O casal só conseguiu uma unidade porque ficou no estande de vendas até de madrugada esperando alguma desistência. “Chegamos a fazer alguns investimentos na Bolsa de Valores, mas logo depois veio a crise global. Dali para a frente decidimos optar por investimentos mais seguros”, acrescenta Renata. Leonardo Schneider acredita que o movimento de valorização de imóveis na cidade vai continuar até o ano da Copa do Mundo. Para ele, entre as áreas mais promissoras estão justamente as que serão beneficiadas com investimentos por conta do Mundial e das Olimpíadas, como o Centro e a Barra da Tijuca. As áreas beneficiadas pela implantação de UPPs também tendem a recuperar valor.

Imóveis comerciais

A aposta dos especialistas De acordo com especialistas, para quem está pensando em investir, os imóveis comerciais são os mais indicados. Alexandre Fonseca, diretor de Operações da Brasil Brokers – companhia com negócios em intermediação e consultoria imobiliária – informa que atualmente um aluguel residencial pode render de 0,6% a 0,7% do valor do imóvel. Já um aluguel comercial rende em torno de 1%. “O investimento em imóveis é o único que combina rendimento acima do oferecido atualmente pela renda fixa, reserva de valor e potencial de valorização”, enumera Fonseca. O economista Luiz Callado, autor do livro “Imóveis – seu guia para fazer da compra e venda um grande negócio”, lembra, contudo, que o investimento imobiliário no Brasil tem seus pontos fracos. O principal, na opinião dele, é o ambiente jurídico ainda desfavorável. “Para se adquirir um imóvel são necessários muitos documentos e certidões, e mesmo assim não há garantia plena de que o bem adquirido não tem problemas. A compra e venda envolve riscos, principalmente quando se dispensa advogado”, diz. Nesse ponto, a desvantagem é grande em relação ao mercado de ações, onde cada transação é garantida por uma Câmara de Custódia. Outros riscos potenciais são a inadimplência no pagamento de aluguéis, a legislação favorável ao locatário e a possível deterioração patrimonial por conta de chuvas, raios, acidentes e outros imprevistos.

Investimentos 2- O Globo.indd 7

Marcelo de Jesus

De olho nas Olimpíadas, o casal Ricardo e Renata investiu na compra de um imóvel na planta

Linhas de crédito para a compra de imóveis CAIXA ECONÔMICA federal Linha

Enquadramento

Valor de financiamento

Prazo de amortização

Taxa de juros anual pós-fixada

Cota máxima de financiamento

Carta de crédito SBPE / SFH Imóvel Residencial

Aquisição de imóvel novo ou usado de até R$ 500 mil

Até R$ 450 mil

Até 360 meses

8,20% a 10,5% (efetiva) + TR do valor tomado, dependendo do valor do imóvel e do modo de pagto.

90% em no máximo 360 meses

Carta de crédito SBPE / Fora do SFH Imóvel Residencial

Aquisição de imóvel novo ou usado acima de R$ 500.000,00

De acordo com a capacidade do proponente (acima de R$ 450 mil)

Até 360 meses

10,50% a 11,50% (efetiva) + TR, conforme modo de pagamento

90% em no máximo 360 meses

Carta de Crédito FGTS / SFH Imóvel Residencial

Aquisição de imóvel novo ou usado de até R$ 130 mil (para quem tem renda familiar até R$ 4.900)

Até R$ 130 mil (imóveis novos e usados)

300 meses (renda até R$ 2.325,00) a 360 meses (renda entre R$ 2.325,01 e R$ 4.900,00)

Juro nominal de 4,5% a 8,16%, dependendo da faixa de renda

Imóveis novos e usados: 80% (pgto. em 301 a 360 meses) 90% (pgto. de 241 a 300 meses) e 100% (pgto. em até 240 meses)

Carta de crédito FGTS pró cotista / SFH Imóvel Residencial*

Aquisição de imóvel novo ou usado de até R$ 500 mil

Até R$ 425 mil (imóvel novo) e R$ 400 mil (imóvel usado)

360 meses

8,66% nominal

80% (imóveis usados) a 85% (imóveis novos

* Só para quem tem ao menos 3 anos de trabalho com FGTS; conta FGTS ativa ou conta inativa com saldo de 10% do valor do imóvel

Banco do Brasil Linha

Enquadramento

Valor de financiamento

Prazo de amortização

Taxa de juros anual

Cota máxima de financiamento

BB Crédito Imobiliário Aquisição PF – SFH

Aquisição de imóvel residencial de até R$ 500 mil

Mínimo R$ 20 mil, Máximo R$ 450 mil

18 a 360 meses

Pós-fixada de TR mais 8,4% ou prefixada de 11,5%

Até 90% do valor do imóvel

BB Crédito Imobiliário Aquisição PF – CH

Aquisição de imóvel residencial de valor acima de R$ 500 mil

Máximo R$ 1,5 milhão

18 a 360 meses

Pós-fixada de TR + 11% ou prefixada de 16,56%

Até 90% do valor do imóvel

ITAÚ Linha

Enquadramento

Valor de financiamento

Prazo de amortização

Taxa de juros anual pós-fixada

Cota máxima de financiamento

Financiamento imobiliário Itaú

Financiamento de imóvel residencial de valor entre R$ 62,5 mil e R$ 500 mil (pode utilizar FGTS)

De R$ 50 mil a R$ 400 mil

Até 360 meses

Calculada de acordo com o perfil de crédito de cada cliente e o valor do imóvel.

Até 80% do valor do imóvel

Financiamento imobiliário Itaú

Financiamento de imóvel residencial de valor acima de R$ 500 mil (não pode utilizar FGTS)

Mínimo de R$ 50 mil. O limite máximo depende da renda do comprador.

Até 360 meses

Calculada de acordo com o perfil de crédito de cada cliente e o valor do imóvel.

Até 80% do valor do imóvel

Linha

Enquadramento

Valor de financiamento

Prazo de amortização

Taxa de juros

Cota máxima de financiamento

Carteira Habitacional SFH

Financiamento de imóvel residencial de valor até R$ 500 mil

Até R$ 400 mil

Até 360 meses

Imóveis de até R$ 150 mil :TR + 7,8%, nos 3 primeiros anos, 9,5% nos demais. Ou prefixada de 12,73% (imóveis entre R$ 150 mil e R$ 500 mil: TR + 10,5%

Até 80% do valor do imóvel

Carteira Habitacional (taxa de mercado)

Financiamento de imóvel residencial de valor entre R$ 500 mil e R$ 3 milhões

Até R$ 2,4 milhões

Até 360 meses

TR + 11,5% (com possibilidade de redução, conforme o relacionamento com o cliente)

Até 80% do valor do imóvel

Linha

Enquadramento

Valor de financiamento

Prazo de amortização

Taxa de juros

Cota máxima de financiamento

Crédito Imobiliário Parcelas Atualizáveis*

Financiamento de imóvel residencial de valor entre R$ 40 mil e R$ 120 mil

R$ 20 mil a R$ 96 mil

Até 30 anos

TR + 8,9% ao ano

Até 80% do valor do imóvel

Financiamento de imóvel residencial de valor acima R$ 120 mil e inferior a R$ 500 mil

R$ 20 mil a R$ 400 mil

Até 30 anos

TR + 10,5% ao ano

Até 80% do valor do imóvel

Financiamento de imóvel residencial de valor acima de R$ 500 mil

A partir de R$ 20 mil

Até 30 anos

TR + 11% ao ano

Até 80% do valor do imóvel

BRADESCO

santander

*O banco tem também a linha “Crédito imobiliário parcelas fixas”, com juros prefixados e reajuste pela tabela Price.

Expectativa de crescimento Se do ponto de vista do investidor a valorização dos imóveis no Rio foi motivo de comemoração, para quem está procurando moradia para comprar a elevação dos preços tem sido um obstáculo. “Tenho receio de fechar uma compra com o mercado valorizado e depois ficar amarrado por 30 anos num financiamento muito alto”, diz o professor universitário Helder Pordeus, que começou a procurar um apartamento de três quartos na região de Laranjeiras e arredores e, com o valor que pensava utilizar, está com dificuldades de achar um bom dois quartos. Na opinião de Alexandre Fonseca, diretor de Operações da Brasil Brokers, pessoas na mesma situação não devem ter receio de fechar negócio. Primeiro porque a tendência é de que os preços continuem subindo nos próximos anos, embora em patamares menos elevados do que os registrados em 2010. Mas também porque as condições de crédito oferecidas atualmente pelo sistema bancário são bastante favoráveis ao comprador. “Os financiamentos embutem juros mais a TR, que é bem menor do que a inflação. Desse modo, não há risco de a prestação subir descontroladamente, como no passado. Esse modelo embute um subsídio para o comprador”, diz. Aos candidatos a proprietários, o executivo recomenda apenas cautela na hora de definir o valor a ser financiado: a prestação não deve passar de 30% do valor da renda da família.

Crédito farto

Bancos expandem carteiras Os principais bancos públicos e privados ampliaram de modo consistente suas carteiras de crédito imobiliário neste ano e pretendem continuar expandindo sua atuação no segmento em 2011. Há linhas de crédito que financiam até 90% do valor do imóvel com prazos de até 360 meses (30 anos) e com juros que oscilam de 5,5% a 11,38% mais TR, dependendo da renda do comprador, do valor do empréstimo. O limite de crédito varia conforme a renda da família. Alguns bancos podem melhorar as condições do financiamento conforme o relacionamento com o cliente, por isso vale uma boa conversa com o gerente antes de fechar negócio. Líder de mercado no segmento de crédito imobiliário, a Caixa concedeu no ano passado R$ 64,5 bilhões em financiamentos, montante 70% superior ao registrado em 2009, e planeja crescer mais 20% no ano que vem. O valor inclui os R$ 27,7 bilhões concedidos no escopo do programa ‘Minha Casa, Minha Vida’, do Governo Federal. Já o Banco do Brasil, que entrou nesse mercado há apenas 3 anos, cresceu 80% e alcançou uma carteira de R$ 3 bilhões. O número ainda não reflete as operações feitas no escopo do Minha Casa Minha Vida – no qual o BB começou a atuar bem recentemente. Segundo o gerente executivo de Empréstimos e Financiamentos José Henrique Silva, o banco está pronto para atender a demanda que vier. A previsão é dobrar a carteira em 2011. O Itaú também vem apostando no segmento. Sua carteira de crédito imobiliário é a que mais cresce. No último balanço divulgado, de setembro, alcançou R$ 12 bilhões, com crescimento de 52,7% comparado ao de igual período de 2009. No Santander, a carteira cresceu 30,7% nos últimos 12 meses e soma R$ 11,23 bilhões. O diretor de Negócios Imobiliários José Roberto Machado acredita que o mercado continuará aquecido, já que o déficit habitacional do país ainda é muito grande. No Bradesco, a carteira somou R$ 10,5 bilhões até setembro. O volume de crédito concedido foi de R$ 7 bilhões e, como o movimento do último trimestre foi muito forte, a expectativa é encerrar o ano com crescimento de 70% em relação aos R$ 5,5 bilhões desembolsados no ano passado. É o que garante o diretor da área de Crédito Imobiliário Cláudio Borges. “No próximo ano, a acreditamos que o mercado continuará aquecido. A previsão é de de um crescimento de mais 20%”, diz.

08/08/2012 14:15:53


8 l Quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Disciplina e determinação são fundamentais para realizar projetos de vida. José de Ribamar, que deixou o emprego para abrir uma franquia, e a professora Márcia, que economiza para poder viajar, provam que vale a pena investir no próprio sonho.

Uma loja para chamar de sua No caso do Rei do Mate, o lojista paga 5% do faturamento bruto para usar a marca, mais cerca de R$ 20 mil em taxa de franquia. Sem contar o ponto, Ribamar calcula em R$ 250 mil o investimento médio em uma loja, entre obras, reformas, estoque, etc. O seu capital de giro varia. Na unidade da Gávea, é da ordem de um quarto do faturamento para cada mês. Ele deixou o emprego para “ficar mais livre” e ter mais perspectivas. “Posso ter duas, dez lojas; abrir de outra marca. Mas não pode deixar a franquia lá, e ir à praia.” O faturamento das duas unidades de ensino de inglês Wise Up da empresária Vilma Gambatto cresce à média mensal de 3% e vai somar R$ 2 milhões em 2010. Para os iniciantes, ela recomenda analisar a estrutura de apoio da franqueadora, o treinamento disponível, a forma de contato com o franqueado, a relação entre investimento inicial e retorno, a qualidade do produto e o suporte de mídia – a Wise Up, por exemplo, mantém campanha com o ator Rodrigo Santoro. O aquecimento das vendas do varejo, com o aumento do poder aquisitivo da classe C, promete, segundo especialistas, boas perspectivas para o comércio.

José de Ribamar já administra duas franquias do Rei do Mate

Arquivo pessoal

P

ara quem tem vocação para o comércio, mas tem medo de se aventurar, uma alternativa mais segura e com grande potencial é abrir uma franquia. Dono de duas lojas cariocas da rede Rei do Mate, José de Ribamar Pinto Filho estima de dois a três anos para retorno da aplicação. E a dona de duas franquias em São Paulo do curso de inglês Wise Up, Vilma Gambatto, garante que seu desembolso inicial, de cerca de R$ 400 mil, foi pago em um ano e rendeu 300% desde 2005, quando abriu sua primeira unidade. Em março do ano que vem, ela vai inaugurar a terceira. Ribamar deixou o emprego no mercado financeiro para tocar a franquia, também há cinco anos. Tem uma loja na Tijuca, dentro do hipermercado Açaí (do Grupo Pão de Açúcar), e outra, mais recente, no Shopping da Gávea. “Franquia é um negócio mais estável, porque envolve um produto conhecido, uma marca consagrada, o que diminui o risco”, diz. Outro aspecto atraente é o apoio assegurado pela rede franqueadora. Em geral, como aconteceu a Ribamar, o franqueado recebe treinamento, apoio no marketing e na escolha do ponto.

Marcelo de Jesus

Para ganhar o mundo A professora de inglês Márcia Campos vive de dar aulas, mas o que ela gosta mesmo é de viajar. “Abro mão de tudo que for preciso – restaurantes, roupas, carro novo–, mas me dou, todo ano, dois meses de férias para as viagens.” Em março, ela calcula quanto vai Márcia poder guardar na caderneta de e a filha poupança, em geral 10% do Laura: seu rendimento mensal. “Pelo viagens orçamento, já sei quanto vou ter em julho, e planejo a via-

gem com isso em mente. Em agosto, pago o que falta e, em setembro, começo tudo de novo.” Ela também está formando uma reserva para dar à filha Laura, de 13 anos, uma viagem pelo mundo durante seis meses, de presente de maioridade. Esse projeto começou quando a menina nasceu. Numa conta separada, o valor da viagem é descontado em débito automático, todos os meses, para uma previdência privada. Quando Laura fizer 18 anos, a intenção é que ela possa sacar R$ 30 mil para a viagem e para um carro.

ANÚNCIO

Investimentos 2- O Globo.indd 8

08/08/2012 14:15:54


Liberdade em Debate Democracia e Liberdade de Expressão

Seminário discute como o excesso de regulação pode afetar a livre expressão, a vida dos cidadãos e até a economia QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011 l 1


ALEXANDRE BARROS

Ph.D. em Ciência Política pela Universidade de Chicago. Sócio gerente da Early Warning, consultoria que presta serviços a empresas brasileiras e estrangeiras. Foi Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação do Centro Universitário Euro Americano (UNIEURO), em Brasília, e Presidente do Fórum Empresarial Brasil.

O seminário Liberdade em Debate – Democracia e Liberdade de Expressão, iniciativa do Instituto Millenium, fez parte de amplo

PAULO UEBEL

Diretor Executivo do Instituto Millenium. Advogado, graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Especialista em Direito Tributário pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

programa desenvolvido pela

DAVID HARSANYI

Escritor e jornalista, é colunista do jornal Denver Post e colaborador do Wall Street Journal, Washington Post, Weekly Standard, National Review, Razão, Christian Science Monitor, Jerusalem Post, Toronto Globe & Mail, The Hill e O Globo.

entidade para debater as diversas formas de liberdade. A palestra de abertura foi feita por David Harsanyi, autor do livro “O Estado Babá – Como

PAULO TONET CAMARGO

Promotor e procurador de Justiça, Vice-Presidente institucional e jurídico do Grupo RBS, conselheiro da ABERT, diretor do Comitê de Relações Governamentais da ANJ, membro titular do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, do Conselho Consultivo da Telebrasil e do Conselho Superior do CONAR.

radicais, bons samaritanos,

GUSTAVO BINENBOJM

Doutor e mestre em Direito Público pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professor adjunto de Direito Constitucional e Administrativo da Faculdade de Direito da UERJ, da Escola de Direito da FGV e da EMERJ. Especialista em Direito Constitucional, Direito Administrativo e regulação econômica.

moralistas e outros burocratas cabeças-duras tentam infantilizar a sociedade”. Em seguida ocorreram três painéis, mediados pela

PEDRO PAULO CRISTOFARO

Professor de Direito Empresarial da PUC e diretor jurídico da Câmara de Conciliação e Arbitragem da Fundação Getúlio Vargas. Foi assistente do consultor jurídico do Ministério da Indústria e do Comércio (1963/1965) e procurador do Estado do Rio de Janeiro (1965/1993).

jornalista Mônica Waldvogel.

LEANDRO NARLOCH

Jornalista, foi repórter de Ciência e História da revista Veja e editor de Aventuras na História e Superinteressante. Seu primeiro livro, o “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”, está há 60 semanas nas listas dos mais vendidos do país.

O primeiro reuniu Ricardo

REINALDO AZEVEDO

Jornalista, colunista da revista Veja. Foi editor e colunista em jornais como Folha de S. Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo e nas revistas República, Primeira Leitura e Bravo!.

Gandour, Paulo Tonet Camargo, Marcos Troyjo e Alexandre Barros, que debateram o tema Cultura

MARCELO TAS

Jornalista, diretor, apresentador e roteirista de TV. Participou de alguns programas inovadores da televisão brasileira, entre eles o Programa Legal, da TV Globo. É âncora do CQC - Custe o Que Custar show ao vivo que mistura humor e jornalismo.

da Intervenção X Soberania Popular. Do segundo painel, sobre Liberdade X Regulação, participaram Patrícia Blanco, Gustavo Binenbojm e Pedro Paulo Cristofaro. O painel

MARCOS TROYJO

Diplomata, graduado em Ciência Política e Economia (USP) e doutor em Sociologia das Relações Internacionais (USP). É pesquisador do Centre d’Études sur l’ Actuel et le Quotidien (CEAQ) da Universidade Paris-Descartes (Sorbonne).

de encerramento tratou do tema Politicamente Correto e Liberdade de Expressão e teve como palestrantes Marcelo Tas, Rodrigo Constantino, Reinaldo

RICARDO GANDOUR

Jornalista e engenheiro civil com cursos de extensão em Administração de Empresas (FGV-SP), Publishing (Stanford University-EUA) e Gestão (Insead-França). É diretor de conteúdo do Grupo Estado, responsável pelo conteúdo de O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, estadao.com.br, Agência Estado e Rádio Eldorado.

RODRIGO CONSTANTINO

Economista, com MBA em Finanças pelo IBMEC. É colunista da revista Voto, do caderno Eu&Investimentos do jornal Valor Econômico, do jornal O Globo e do site OrdemLivre.org. É membro-fundador do Instituto Millenium e diretor do Instituto Liberal.

Azevedo e Leandro Narloch.

PATRÍCIA BLANCO

Relações Públicas, pós-graduada em Marketing pela ESPM; atua na área de Comunicação - Planejamento Estratégico, Comunicação Integrada, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas. É presidente do Instituto Palavra Aberta.

2 l QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011

Síntese dos debates que aconteceram no Seminário Liberdade em Debate - Democracia e Liberdade de Expressão, realizado em 16 de março de 2011 Produção: Link Comunicação Integrada Edição: Cláudia Bensimon Editor Assistente: Maurício Schleder Desenho: João Carlos Guedes Fotografia: Marcelo de Jesus e Instituto Millenium Reportagem: Márcia Gomes, Rosane de Souza e Verônica Couto A apuração das informações deste suplemento é de responsabilidade da Link Comunicação Integrada


O seminário reafirmou a importância da qualidade da educação, da liberdade de imprensa, da transparência das informações, bem como da vigilância e participação da sociedade para que as decisões individuais sejam mais conscientes e qualificadas

Convite à reflexão

O

seminário Liberdade em Debate teve como objetivo analisar e discutir o tema “Democracia e liberdade de expressão” sob diferentes aspectos que afetam a vida do cidadão no seu dia-a-dia. Embora muitas vezes não seja perceptível, quando somamos todas as pequenas intromissões e restrições que nós cidadãos sofremos, fica claro que a sociedade é vista pelos nossos legisladores e dirigentes públicos, em sua maioria, como incapaz de fazer escolhas conscientes e ponderadas. O excesso de tutela do Estado parte da premissa de que a população é incapaz de resolver questões e não sabe proteger seus interesses de forma racional e efetiva. A palestra de abertura do escritor americano David Harsanyi, autor do recém-lançado livro “O Estado Babá”, serviu como diretriz para os debates realizados ao longo do dia. Afinal, até que ponto o excesso de regulação pode ser benéfico para a sociedade? Com exemplos dos Estados Unidos, Harsanyi mostrou que a infantilização dos cidadãos afeta a capacidade de discernimento e acomoda a sociedade, tornando as pessoas mais passivas e despreparadas para enfrentar problemas simples do dia-a-dia. A recorrente demanda da própria sociedade por restrições pontuais cria um arcabouço pesado e ineficiente, que prejudica o bom funcionamento das instituições públicas em suas atividades básicas e gera um grande mercado negro. O excelente grupo de painelistas permitiu que os temas Cultura da intervenção x soberania popular, Liberdade x regulação e Politicamente correto e liberdade de expressão fossem aprofundados sob diferentes perspectivas. A conclusão unânime é que o excesso de regulação é prejudicial para a sociedade e incompatível com o regime democrático, que pressupõe cidadãos ple-

namente capazes e autônomos, com direitos fundamentais inalienáveis. Essa premissa sustenta o conceito de soberania popular e não pode ser mitigada. O seminário reafirmou a importância da qualidade da educação, da liberdade de imprensa, da transparência das informações, bem como da participação da sociedade para que as decisões individuais sejam mais conscientes e qualificadas. Entretanto, foram rechaçadas as ideias de dirigismo estatal e de infantilização da sociedade, que são, muitas vezes, colocadas em prática sob os mais nobres motivos. Após os debates, as iniciativas de impor uma visão de mundo ideal por um pequeno grupo de “esclarecidos”, por meio de regulações e medidas restritivas de direitos, como a Anvisa tenta fazer, não parecem ser a forma mais democrática e eficaz para melhorar, por exemplo, a saúde pública. Campanhas de conscientização, informação em abundância e fiscalização ainda são os meios mais desejáveis de melhorar indicadores de saúde pública em um país com valores democráticos. O politicamente correto e a adoção de rótulos simplistas, muitas vezes, impedem um debate mais profundo e honesto, que pode contribuir para o desenvolvimento do Brasil. A produção intelectual e científica não pode ser contaminada por preconceitos existentes na sociedade, como fruto do politicamente correto. Por todas as razões acima expostas, entendo que o seminário Liberdade em Debate cumpriu seu objetivo, lançando reflexões importantes para que o debate continue. Certamente, sem o envolvimento de todos, não conseguiremos aprimorar a sociedade e suas instituições públicas. l

Paulo Uebel, Diretor Executivo do Instituto Millenium QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011 l 3


O papel do Estado

R

esoluções governamentais que interferem em ações individuais, projetos de lei que regulam atividades profissionais, propostas de controle dos meios de comunicação, entre outras iniciativas, configuram movimento crescente de ameaça aos fundamentos da democracia, na opinião de Paulo Uebel, Diretor Executivo do Instituto Millenium, que abriu o seminário Liberdade em Debate - Democracia e Liberdade de Expressão, realizado na última quarta-feira, dia 16, no Rio de Janeiro. De acordo com o acadêmico e escritor norte-americano David Harsanyi, presente ao evento, o fenômeno pode ser sintetizado no conceito de Estado Babá, nome de sua principal obra sobre o tema, e que traduz o que ele considera perigoso paternalismo em curso, mesmo nos EUA, considerado a maior democracia do mundo. “Temos que enfrentar essa visão elitista, de que um grupo de sábios define como nós devemos nos portar”, afirma Uebel. Nos últimos anos, segundo ele, “observa-se um avanço nessa tendência e no número de projetos de lei que restringem a liberdade. Só para tratar de liberdade de expressão comercial, tramitam no Congresso Nacional cerca de 200 projetos, segundo a Tendência Consultoria Integrada, que desenvolveu a pesquisa sobre os “Efeitos econômicos de restrições impostas à informação publicitária”, para o Instituto Palavra Aberta. Para regulamentar profissões, são outros 69 PLs, além das propostas de controle social da mídia, feitas durante a Conferência

4 l QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011


em foco

Temos que enfrentar essa visão elitista, de que um grupo de sábios define como nós devemos nos portar l

Paulo Uebel, Diretor Executivo do Instituto Millenium

Nacional de Comunicação (Cofecom), de 2009, e também no Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Todos esses movimentos inseridos num contexto do “politicamente correto”, que impõe limites diretos à expressão e à produção cultural. “Precisamos ter cuidado com a premissa da incapacidade popular”, alerta Uebel. Para o Diretor Executivo do Instituto Millenium, apenas um ambiente participativo, de imprensa livre, pode qualificar a democracia. “Não há atalhos.” Uebel defende maior debate sobre as regras que vêm sendo propostas pelas agências regulatórias, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Acredito que algumas medidas das agências trazem mais malefícios do que benefícios”, diz. Ele considera que essas medidas extrapolam as atribuições originais das agências, e, entre outras consequências, “fomentam um mercado ilegal, corrupção e desvios”. O evento, promovido pelo Instituto Millenium, reuniu 233 participantes, e teve o apoio do Instituto Palavra Aberta, da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert), da Associação Brasileira de Propaganda (ABP), da Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner), da Associação Brasileira das Agências de Publicidade (Abap) e o patrocínio da Souza Cruz. Contou com apresentações de cientistas políticos, advogados, especialistas em Direito Regulatório, jornalistas e economistas para debater os limites e os impactos do que se poderia denominar uma cultura da intervenção sobre a economia e o regime democrático. QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011 l 5


O ESTADO BABÁ

Assalto à liberdade individual

O

texano John Reader compartilhou com os clientes da Amazon, empresa de comércio eletrônico dos Estados Unidos, sua perplexidade com o nível de intolerância da sociedade norte-americana, ao divulgar na Internet sua resenha sobre o livro “O Estado Babá” (“The Nanny State”), do jornalista e escritor norte-americano David Harsanyi. Ele leu o livro ao voltar à terra natal, após longa temporada na Alemanha, e, usando as mesmas lentes de aumento do conterrâneo, detectou a mão da igreja conservadora dos EUA nessa onda de proibição a tudo o que os “incomodados” consideram perigoso. Esse foi o tema da palestra de David Harsanyi no seminário Liberdade em Debate - Democracia e Liberdade de Expressão, realizado no Hotel Windsor Atlântica, no Rio de Janeiro. Segundo ele, as leis restritivas, que caracterizam o Estado Babá, impostas por diversos governos no mundo limitam a liberdade de escolha e prestam um desserviço à cidadania. Para David Harsanyi, há hoje nos EUA um conjunto de proibições consideradas tolas, mas disseminadas a ponto de se constituírem em agressão à liberdade de escolha dos cidadãos. “Em um ano, Nova York proibiu as gorduras trans, o foie gras, a ida ao McDonalds e a competição entre os postos de gasolina. Em São Francisco, leis disciplinam o uso do quintal. No Colorado, o jogo de esconde-esconde das crianças foi banido. Em Chicago, o uso de microchips nos animais tornou-se obrigatório”, relatou. 6 l QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011

Nessa parafernália de leis, houve espaço para a criação das chamadas zonas de saúde ou preservadas em Los Angeles - de onde foram banidos os restaurantes de comidas consideradas pouco saudáveis -; para a proibição das brincadeiras de pique das crianças; e até mesmo para regulamentar a quantidade de água colocada nas vasilhas dos cachorros.

Ideologia destrutiva Segundo o autor do livro “O Estado Babá”, lançado no Brasil pela Editora Litteris, esses pequenos ataques à liberdade individual criam um precedente após o outro para ampliar o comportamento paternalista do Estado. O jornalista está convicto de que algumas pessoas consideram a liberdade corrosiva e destrutiva, e que o Estado Babá alimenta essa crença por meio da coerção. Na verdade, o governo, sob pressão da minoria Babá, está forçando todos à obediência. “Nos EUA, por causa de um garoto que se afogou, foi feita uma lei que cria um sistema de fiscalização em todas as piscinas. O custo é impressionante. Seria a mesma coisa que criar fiscais para ver como as crianças brincam nas praças, proibir as crianças de correr, e eu não quero viver em um país assim”, disse ele.

Maus hábitos dos patetas Outra iniciativa nos Estados Unidos é a cruzada contra o tabagismo. Na maioria das cidades americanas, de acordo com

relato do autor de “O Estado Babá”, já não se pode compartilhar esse hábito lícito de fumar em estabelecimento privado, mesmo quando o proprietário, todos os seus empregados e clientes concordem. O movimento para mandar na casa dos outros já existe: recentemente, a rica Belmont, na Califórnia, incluiu a proibição ao fumo nos prédios de vários andares ou muitas unidades residenciais. “Na Califórnia até em algumas ruas o fumo é proibido”, contou. Outras cidades têm tentado fazer o mesmo, tornando o que começou com a proibição de fumar nos locais de trabalho um ataque direto à propriedade individual e à liberdade de reunião e criando precedentes para coibir outros “maus hábitos”. A maioria dos norte-americanos está ciente das constantes agressões às liberdades individuais, mas parece não entender o seu alcance. Todos riram muito quando um parlamentar falou em abolir a palmada, ou em criar documento autorizando as crianças a saírem às ruas no Dia das Bruxas. “Vemos isso como surtos isolados e absurdos, mas não deveria ser assim”, comentou. Poucos reclamaram quando a cidade de Nova York baniu as gorduras trans. “Ninguém acha que elas são saudáveis, mas qual é o parâmetro para banir este ou aquele ingrediente?”, questionou o jornalista. Na visão do escritor, os “proibicionistas” ganharam espaço quando descobriram como impor as suas leis pessoais ao conjunto da sociedade. A estratégia de


TRECHOS DO LIVRO l (...) Chandler Goff, proprietário do Mulligan´s, certa vez afirmou que não havia forma prática de calcular o conteúdo calórico ou de gordura dos deliciosos pratos de seu restaurante. Acredito nele. Eu sou grato. Como serviço público, no entanto, Goff acrescenta uma observação em todos os cardápios, avisando aos usuários para “terem o bom senso de perceber que, embora seja uma delícia, não recomendamos comer frituras todos os dias”. Goff também incentiva seus clientes a se exercitarem regularmente e a fazerem um check up anual. (...) (...) Como ocorre com praticamente todo babysitterismo, a defesa antifumo começou com a noção ideológica de que o Estado deve estar disponível para ajudar. Mas, em algum momento, as advertências de saúde pública e outras ajudas razoáveis e justificáveis se transformaram em algo excessivo e invasivo. Uma advertência superficial se tornou uma cutucada e depois um empurrão duro, e agora temos intimidação do Estado, castigos de leis que prejudicam os direito sde propriedade e a liberdade básica de escolha. (...)

Em um ano, Nova York proibiu as gorduras trans, o foie gras, a ida ao McDonalds e a competição entre os postos de gasolina. Em São Francisco, leis disciplinam o uso do quintal e, no Colorado, o jogo de esconde-esconde das crianças foi banido atuação é simplista, porém convincente: “dê dois passos paternalistas para diante e um para trás. Argumente que o assunto tem a ver com as crianças ou com os pobres. Converta o tema em questão de segurança, moralidade e vício. Afinal, quem acredita que um pateta seja capaz de resistir à intoxicante sedução de um cheeseburger, de um refrigerante ou de um maço de cigarros?”, perguntou ele. QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011 l 7


CULTURA DA INTERVENÇÃO X SOBERANIA POPULAR

O difícil equilíbrio A tradição de estabelecer limites sociais a partir de uma ideia pré-definida de felicidade bate de frente com as novas tecnologias, que ampliam o poder de expressão dos cidadãos

“A

s tecnologias digitais aumentam a democratização infinitamente, e vão em caminho contrário ao da intervenção do Estado”, afirma o cientista político Alexandre Barros. Exemplo das mudanças em curso, “o governo do Egito caiu em uma revolta sem líder”, aponta Paulo Tonet Camargo, vice-presidente do Grupo RBS e diretor de Relações Gover-

8 l QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011

namentais da Associação Nacional de Jornais (ANJ). “Assistimos a um fenômeno fantástico no mundo, das revoluções sem líder”, diz ele. “As pessoas querem viver de acordo com sua própria consciência, dar opinião, exercer seu livre arbítrio. Esse é o novo modelo.” Para o diplomata, economista e sociólogo Marcos Troyjo, o mundo vive o momento de fundação de algo novo, em plena construção e ainda desconhecido.

Os três participaram do painel Cultura da Intervenção x Soberania Popular, no seminário Liberdade em Debate - Democracia e Liberdade de Expressão, promovido pelo Instituto Millenium, ao lado do jornalista Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Grupo Estado, que destacou, nessa virada de paradigma, a necessidade de fortalecer as instituições para a mediação equilibrada do exercício do poder em suas diferentes esferas. Para Troyjo, o


O Brasil tem leis severas contra preconceito, e é assim que tem ser. Mas sem patrulhamento, sem perder o humor e sem ameaçar a criação artística l Tonet Camargo

As tecnologias digitais aumentam a democratização infinitamente, e vão em caminho contrário ao da intervenção do Estado l

Alexandre Barros

Precisamos fortalecer nossa democracia, resgatando e restaurando, com força máxima, esses cânones básicos: equilíbrio e representatividade dos poderes; o poder mediador das instituições l Ricardo Gandour

novo ambiente político e social em formação vai se basear em alguns parâmetros principais, entre eles a dinâmica altamente acelerada das tecnologias, crucial para a liberdade de expressão e um desafio para as empresas de comunicação. “Para se ter uma ideia, o jornal New York Times tem, atualmente, 20% do número de assinantes de dez anos atrás; e o Google, uma das maiores empresas de mídia da atualidade, não produz um grama de conteúdo.” Ao permitir que cada vez mais gente tenha seu próprio canal de expressão, seja uma rádio online ou um blog, a Internet, segundo Barros, tornaria obsoletas as tradicionais alegações éticas e morais para

a intervenção do Estado na sociedade por meio de veículos públicos de comunicação. “A tecnologia torna a justificativa moral para intervenções nessa área menos crível.” Mas é preciso que a rede seja neutra e livre. “Por isso, a grande batalha para não controlar a Internet; por enquanto, dá para termos o Julian Assange no Wikileaks; daqui a pouco, não se pode mais”, afirma, numa referência ao diretor do site colaborativo que surpreendeu a mídia e os governos ao começar a divulgar, no ano passado, correspondências constrangedoras e secretas entre diplomatas americanos e de vários países. “Precisamos fortalecer nossa democracia, resgatando e restaurando, com força

máxima, esses cânones básicos: equilíbrio e representatividade dos poderes; o poder mediador das instituições”, diz Gandour. “E é nesse cenário que se deve entender a imprensa, o jornalismo, também como ente mediador.” Desse modo, assegurar a diversidade de anunciantes e a liberdade comercial de expressão das empresas pode representar, argumenta o jornalista, a independência e a liberdade de ação da mídia. Na avaliação dele, a Internet multiplica os canais de repercussão e interatividade e realimenta a produção de notícias, mas a maior parte do que se gera de informação primária na rede ainda nasce em redações tradicionais. Para Troyjo, passo importante

èèè

QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011 l 9


para deixar o modelo de Estado Babá (o padrão paternalista descrito pelo escritor americano David Harsanyi) é a sociedade recusar a tutela, ou, no caso da mídia, o excesso de investimento publicitário estatal. Na análise de Alexandre Barros, os estados são quase sempre arbitrários e desmedidos quando tentam intervir nas ações da sociedade ou do indivíduo. O especialista é cético mesmo em relação a regras defensivas, que visem a garantir a não regulação. Como exemplo, cita o filme “O povo contra Larry Flint”, em que o editor da Hustler recorre à primeira emenda da Constituição americana, mas precisa lutar nos tribunais para assegurar a circulação da revista. “O governo dos EUA, como todos, escorrega. Quando Assange diz que está havendo patifaria ali, o governo o ameaça.” Na opiniäo do cientista político, “é fundamental que exista liberdade tanto de pensamento como de circulação de ideias, de associação e de dissociação - quando alguém pode deixar uma religião, por exemplo, mesmo tendo sido batizado.” Atualmente, qualquer esforço de controlar conteúdos na sociedade “é ridículo“, na opinião do diretor da ANJ. “Antigamente, o que não saía no Repórter Esso, ninguém ficava sabendo. Hoje, se algum telejornal não der uma notícia, milhares de sites vão furá-lo em dois segundos”. Ou seja, diz Tonet, “o poder de decisão sobre a liberação ou não de uma informação não existe mais, embora alguns setores continuem discursando como se houvesse monopólio”. Na avaliação do executivo, ninguém está formulando no país uma teoria de comunicação para um Estado democrático de direito, no novo contexto tecnológico. “As universidades deveriam estar refletindo sobre isso”, sustenta.

Carnaval e inovação Tonet também critica a censura em nome do politicamente correto, como quase ocorreu, no ano passado, com “Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato. Em outubro, o Conselho Nacional de 10 l QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011

Defendo um “Estado farol”, que permite a autorregulação, que induz e estimula o bem comum, mas também coíbe l Marcos Troyjo

Educação (CNE) recomendou vetar, sob acusação de racismo, a distribuição do livro às escolas públicas - medida rejeitada pelo Ministério. “Não sei como ainda não proibiram as marchinhas de carnaval, por veicularem mensagens de discriminação: Amélia, O teu cabelo não nega, Cabeleira do Zezé. É preciso rejeitar essas interfe-

rências do Estado na decisão das pessoas sobre seu destino. O Brasil tem leis severas contra preconceito, e é assim que tem ser. Mas sem patrulhamento, sem perder o humor e sem ameaçar a criação artística.” “O excesso de regulamentação e a censura matam o progresso. Todo mundo que inventa é um excêntrico. O Henry Ford, quando inventou o carro, colocou um motor numa carruagem. Ele disse que não fez pesquisa antes do projeto, porque, se fossem consultadas sobre o que preferiam para melhorar o transporte, muitas pessoas iam querer um cavalo que andasse mais rápido”, afirma Alexandre Barros. A ausência total de regulação, contudo, também pode colocar em risco o próprio ideal de liberdade, na análise de Troyjo, por exemplo, devido ao alto alcance da Internet para disseminação de conteúdos de ódio, pornográficos, etc. Nesse sentido, ele defende um “Estado farol”, que permite a autorregulação, que induz e estimula o bem comum, mas também coíbe. Mantendo, contudo, sua prática distante dos dois extremos: do Estado Babá definido pelo escritor norte-americano David Harsanyi para conceituar modelos muito paternalistas; e do que chama de “Estado babão”, que deixa de agir, quando deveria. “É preciso resgatar a verdadeira agenda do Estado”, completa Gandour. “Cada um de nós busca a própria felicidade. Mas há um momento em que a minha felicidade conflita com a sua”, argumenta Barros. O problema das intervenções de cima para baixo para administrar esses contraditórios, afirma, “é que são exageradas, e o Estado se dá o direito de intervir sem perguntar ao cidadão”. Para Tonet, na base dessas iniciativas desequilibradas está a ideia de que as pessoas são “hiposuficientes para decidir seu destino.” Um pouco, diz ele, como fazia Jean-Paul Marat, um dos líderes da Revolução Francesa. “No jornal ‘O Amigo do Povo’, ele mostrava quem eram os inimigos do povo, os que não tinham virtude, que eram contra os ideais da revolução e tinham que ser perseguidos”.


LIBERDADE X REGULAÇÃO

Especialistas denunciam ressurgimento da censura Ações de vigilância sanitária são abusivas e inconstitucionais, na opinião de juristas. Estudo mostra que, além disso, provocam aumento do contrabando e piora na qualidade dos produtos

A

intervenção estatal na atividade econômica é inconstitucional e frequentemente abusiva, na avaliação dos professores Pedro Paulo Cristofaro e Gustavo Binenbojm, dois dos maiores conhecedores de Direito Regulatório no país. Além disso, estudo da Tendências Consultoria Integrada sobre os “Efeitos econômicos de restrições impostas à informação publicitária”, que analisou possíveis impactos da resolução RDC 24, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), voltada a determinados alimentos e bebidas, concluiu que a medida favorece a oferta de produtos de pior qualidade e o desinvestimento em melhorias e inovação nas empresas.

O trabalho da Tendências foi realizado a pedido do Instituto Palavra Aberta e apresentado pela presidente da ONG, Patrícia Blanco, durante o painel Liberdade x Regulação, no seminário Liberdade em Debate -Democracia e Liberdade de Expressão, do qual participaram os dois especialistas em Direito. “A regulação de vigilância sanitária é um polvo de muitos tentáculos, que espraia seu poder por diversos setores da economia”, diz Binenbojm. Para ele, a vigilância vem extrapolando suas atribuições, para tentar fazer as escolhas no lugar dos consumidores - “como se não fossem adultos que pudessem escolher as formas de ser e de viver, e sobretudo os riscos que desejam correr”. Na base desse modelo, explica, está o pressuposto de que o Estado tem maior capacidade de julgamento do

Existe uma onda regulatória crescente, que vem asfixiando o setor produtivo e fazendo com que empresas legalmente estabelecidas não possam atuar l Patrícia Blanco

èèè

QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011 l 11


Todas as constituições que o Brasil teve definiram a livre iniciativa como regime econômico. Mas a de 1988, além de consagrar o regime no capítulo próprio, elevou a livre iniciativa a um dos fundamentos da República, expresso no artigo primeiro da Constituição, ao lado da soberania e do respeito à dignidade humana l Pedro Paulo Cristofaro que o cidadão. A regulação de vigilância sanitária constitui um dos três exemplos “paradigmáticos” do que Binenbojm considera “formas redivivas de censura” à liberdade de imprensa e à liberdade de escolha dos indivíduos. Os outros seriam a tentativa de proibir a crítica de humor no período eleitoral, suspensa pelo Supremo Tribunal Federal; e a classificação indicativa nos cinemas, que, em vez de entendida como “indicação”, teria tomado caráter impositivo. Cristofaro adverte, ainda, para a inconstitucionalidade de grande parte das

resoluções e leis que interveem na atividade empresarial. “Todas as constituições que o Brasil teve – sete, mais duas grandes reformas – definiram a livre iniciativa como regime econômico. Mas a de 1988, além de consagrar o regime no capítulo próprio, elevou a livre iniciativa a um dos fundamentos da República, expresso no artigo primeiro da Constituição, ao lado da soberania e do respeito à dignidade humana. Esse é o quadro legal brasileiro.” Mesmo assim, o especialista lamenta que existam, no país, dez agências reguladoras federais, 31 estaduais e seis municipais, 47 ao todo.

O excesso de regras produz o que os especialistas chamam de “externalidades negativas”, ou seja, redução da livre concorrência, aumento do contrabando, fortalecimento de oligopólios, etc l

12 l QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011

Gustavo Binenbojm

“No fundo, não divergem muito da orientação intervencionista da administração pública direta. Vemos que, efetivamente, a livre iniciativa, regime consagrado na Constituição, não é tão livre assim.” O excesso de regras, avalia Binenbojm, produz o que os especialistas chamam de “externalidades negativas”, ou seja, redução da livre concorrência, aumento do contrabando, fortalecimento de oligopólios, etc. Foram basicamente esses efeitos que o estudo da Tendências sobre a RDC 24 identificou. “Constatou-se que os efeitos da resolução seriam mais danosos do que benéficos. E que, do ponto de vista do objetivo de coibir o consumo, ela seria inócua”, resume Patrícia. A RDC 24, de 15 de junho de 2010, exigia que as propagandas de alimentos com muito açúcar, gordura saturada, trans ou sódio e bebidas - consideradas pela agência de baixo teor nutricional - tivessem mensagem de alerta sobre os males que o produto poderia causar. Está atualmente suspensa por liminar. O primeiro impacto, diz a presidente do Palavra Aberta, seria o desestímulo aos gastos com publicidade: “Com isso, a empresa deixa de informar o consumidor, que, por sua vez, fica sem referencial para escolher e julgar a qualidade das diferentes ofertas.” Outra consequência é a piora na qualidade do produto. Sem poderem divulgar os ganhos e benefícios de suas marcas, as empresas tendem a reduzir


também os investimentos em tecnologia, em inovação e melhoria. Patrícia acredita que exista uma “onda regulatória crescente, que vem asfixiando o setor produtivo e fazendo com que empresas legalmente estabelecidas não possam atuar”. O resultado, afirma, é o aumento do contrabando. A consultoria também analisou a projeção dos efeitos de restrições à informação publicitária para outros setores, como cigarros, medicamentos e produtos infantis (mamadeiras, chupetas, etc.). “Há sempre uma justificativa muito boa”, diz a presidente do Instituto Palavra Aberta. “Por exemplo, no caso das mamadeiras, que desestimulam o aleitamento materno. Quem vai ser contra? Mas as mulheres que não podem amamentar não sabem mais como diferenciar o produto de qualidade”.

Autorregulamentação As regras, tanto quanto possível, segundo Patrícia, devem obedecer a três princípios: neutralidade, respeito ao funcionamento do mercado e simplicidade. Como o modelo do Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar), cita. “O pressuposto básico tem que ser a liberdade, tanto do mercado, de as empresas se reunirem em códigos de autorregulamentação, quanto do indivíduo, de escolher o que vai consumir.” Os casos de má conduta, como a venda de alimentos podres ou a fabricação de fogos de artifício que explodem e ferem os consumidores, devem ser tratados pela Justiça, sem normas setoriais, diz Cristofaro. ”São práticas proibidas para todos. Não há necessidade de regulação específica. O comportamento antissocial que possa ter o empresário é tão ilegal quanto o daqueles que não são empresários.” Para o especialista em Direito Regulatório, a liberdade é o principal valor a ser preservado. E se há falta de esclarecimento na sociedade, diz o professor, combata-se a ignorância. A hipótese de o consumidor ter um nível de analfabetismo funcional não pode, também na avaliação de Patrícia, ser

razão para deixar de circular a informação sobre os produtos. No caso da RDC 24, diz Binenbojm, “a cada efeito silenciador da regulação, você aumenta o grau de ignorância e piora a escolha do consumidor”. Ele lamenta que existam, atualmente, cerca de 200 projetos de lei no Congresso Nacional voltados à proibição de propaganda comercial, cujo fundamento “é controlar o que consumidor pode saber para protegê-lo contra si mesmo”. Por exemplo, uma dessas propostas quer proibir propaganda de microcrédito para evitar o superendividamento das pessoas. Além de contrário ao argumento de base de ações desse tipo, o doutor em Direito Público alerta para um

desdobramento adicional e indireto, que seria comprometer gradativamente a liberdade de imprensa e a liberdade de escolha. Esse efeito colateral “perverso e perigoso”, explica, acontece quando se restringe a publicidade privada e os veículos de comunicação passam a depender cada vez mais da propaganda governamental. “Por trás dessas propostas, podem haver outras intenções, de controle”, afirma, lembrando as propostas de controle social da mídia feitas pelo Governo Federal. Este ano, em apenas um mês e dez dias de funcionamento do Congresso Nacional, já surgiram quatro novos projetos de lei que restringem a liberdade de expressão comercial, informa Patrícia.

Perdas de R$ 5,2 bilhões Enquanto a resolução RDC 24, que trata de informações nos rótulos dos produtos alimentícios, foi temporariamente suspensa por medida liminar, outras duas propostas de regulação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estão em consulta pública até o dia 31 de março, com novas restrições, dessa vez ao mercado de cigarro. Se aprovadas, as CPs 112 e 117 podem representar perdas com evasão fiscal da ordem de R$ 5,2 bilhões, entre IPI, PIS, Cofins e ICMS não recolhidos. Os dados são de um trabalho da Fundação Getúlio Vargas, que detectou, como principal efeito das novas regras, a perda de consumidores no mercado legal, atraídos por cigarros vendidos no contrabando. O fortalecimento dos similares ilegais seria resultado direto, de acordo com a análise, da resolução 112, que quer proibir o uso de determinados ingredientes - flavorizantes, umectantes, ameliorantes, açúcares, responsáveis pelo sabor e aroma próprios de cada marca de cigarro. Basicamente porque

os produtos regulares vendidos em 420 mil pontos comerciais no país perderiam os atributos buscados pelo consumidor, que continuariam sendo oferecidos no mercado negro. A resolução 117 veda a exibição dos maços de cigarro no comércio e amplia as advertências contra o consumo nas embalagens. Além de também contribuir para a expansão do contrabando, pela dificuldade de acesso ao produto lícito, levantamentos feitos no Canadá e na Islândia, onde as mesmas determinações entraram em vigor em 2001, mostraram que elas não surtiram resultado, ou seja, não alteraram em nada os hábitos dos fumantes. Outros impactos identificados pela FGV das medidas em consulta pública seriam a redução de 140 mil postos formais de trabalho na cadeia produtiva de tabaco e de cigarros; prejuízos a 2 mil fornecedores, dos quais 500 sob risco de fechar as portas; redução de US$ 300 milhões/ano nas exportações (atualmente da ordem de US$ 3 bilhões). QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011 l 13


POLITICAMENTE CORRETO E LIBERDADE DE EXPRESSÃO

A arte de ser minoria Palestrantes apontam a necessidade de cultivar o princípio da tolerância e a capacidade de conviver com as diferenças e contradições, sem imposição de modelos

É um peso muito grande ser correto em tudo, o humor é uma forma de vacina contra isso l

Marcelo Tas

A

s dificuldades para fazer rir, escrever artigos ou mesmo um livro de história que passe longe do consenso foi o tema do painel Politicamente Correto e Liberdade de Expressão, reunindo o historiador paranaense Leandro Narloch, o apresentador do CQC Marcelo Tas, o colunista da Veja Reinaldo Azevedo, e o economista e articulista de O Globo Rodrigo Constantino. Autor do “Guia politicamente incorreto da história do Brasil”, Narloch já pensa em criar a Associação das Pessoas em Geral para se defender do que chama

14 l QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011

de imposição de felicidade pública. Mas admite ser uma farsa como militante do politicamente incorreto: “Eu sou um ativista da faixa de pedestre”, afirmou. Ele acredita que a máscara do cara errado fica melhor nos defensores do socialismo, por ser a melhor opção de manter o povo na pobreza: “só o cristianismo foi melhor para os pobres do que o capitalismo”. Marcelo Tas admite que desafia o coro do consenso por uma questão de saúde mental. “É um peso muito grande ser correto em tudo, o humor é uma forma de vacina contra isso”. Segundo ele, um defeito de fabricação, o de espírito de

porco, o defendeu do extremismo, muito comum em sua profissão: “Os jornalistas são os grandes responsáveis pela onda do politicamente certo. É a raça que mais acredita que é correta. Se acham os portavozes de Deus”, disse ele. O jornalista e blogueiro Reinaldo Azevedo contou que, hoje, aprecia mais a democracia pelo seu valor negativo; ou seja, pela possibilidade de as minorias dizerem o que pensam. “Nas ditaduras, também é permitido concordar. Pode-se dizer “sim” em Nova York, em Trípoli e em Pequim. A segurança para dizer “não” é que distingue os regimes”, afirmou. Na sua opinião, o teste da capacidade de conviver com a diferença é aceitar que o outro exponha a sua “verdade”, por mais estúpida que pareça. ”É preciso dizer com clareza e destemor o que se pensa, e não com o intuito de destruir o outro, de eliminar a contradição, de extirpar o adversário”, enfatizou. Rodrigo Constantino também defende uma sociedade aberta, em que todos podem se expressar, mas obedecendo aos princípios da tolerância. “Os socialistas podem até criar, se desejarem, uma comunidade do jeito deles. Só não podem impor seu modelo aos demais”, assinalou. Mas, na sua visão, há hoje no Brasil e no mundo uma ditadura velada do politicamente correto. “É parte inexorável da liberdade de expressão escutar o que não se gosta. Cabe ao governo garantir a todos se expressarem, com segurança, inclusive, através de veículos de imprensa


apropriados”. Azevedo acha que ninguém deve deixar se pautar, “senão enlouquece”: “No meu blog, eu apanho bastante, mas não escondo que ele tem um ponto de vista e é escrito para as pessoas com visões semelhantes”.

Os limites da perfeição

Existe atualmente uma compulsão à higienização e à saúde. Ninguém é contra ser saudável, mas é preciso equilíbrio para garantir o direito de escolha l

Reinaldo Azevedo

Há hoje, no Brasil e no mundo, uma ditadura velada do politicamente correto l

Rodrigo Constantino

Ao mediar o painel, a jornalista Mônica Waldvogel tentou estabelecer os limites de atuação ideal do politicamente correto, lembrando aos quatro participantes os avanços conquistados pelos seus militantes em relação às raças, mulheres e crianças. “Qual é a fronteira de sua atuação, já que sabemos que também existem iniciativas que beiram a área do atraso civilizatório?”, questionou. Marcelo Tas concorda que é preciso ter cuidado com a demonização do Estado e das ONGs. “Acho que o mais importante, na defesa da liberdade de expressão, é deixar as nossas almas se friccionarem livremente nos debates, para tentar salvar o que há de melhor no mundo”, assinalou. Na visão de Reinaldo Azevedo, deve ser garantido incondicionalmente o direito de escolha, inclusive das más escolhas, desde que elas não violem o direito dos outros. “Mas existe atualmente uma compulsão à higienização e à saúde. Ninguém é contra ser saudável, mas é preciso equilíbrio para garantir o direito de escolha”. O humorista do CQC também acredita que a pessoa tem o direito de beber e fumar, e o “Estado de proibir que dirijam embriagados”. “Calar a expressão de alguém é presunção de infalibilidade”, enfatizou Azevedo. Narloch lembrou que seu livro, apesar de criticado, ajudou a retirar a carga de vitimologia dos negros. Um deles escreveu elogiando a iniciativa. “Ele disse que, a partir dele, não precisou mais pensar nos seus antepassados só como vítimas ou rebeldes”. Para Rodrigo Constantino, o cerceamento social e governamental é uma marca divisória clara do tolerável. Na sua opinião, a seita religiosa mais influente hoje é o ambientalismo, com seu monopólio de virtudes. “Minha filha chegou em casa com instruções para fechar

a torneira ao lavar as mãos, para economizar água e salvar a humanidade. Ora, 75% de toda a água do mundo vão para a lavoura, subsidiada. Dizer a uma criança para fazer isso é ecoterrorismo, e uma medida que só servirá para deseducá-la e mantê-la de mãos sujas”. Para o humorista, três regras claras adotadas em seu blog impõem limites ao arbítrio: a proibição de xingamentos, denúncias vazias e propaganda de si mesmo. “No caso de dúvida, aconselho a observar o comportamento das crianças”, finalizou Marcelo Tas, lembrando que é a favor das cotas raciais, “um avanço inegável, em face da criminosa escravidão”. Azevedo discorda da tese. Segundo ele, a patrulha politicamente correta, orientada pela espírito da reparação e da correção das desigualdades e das injustiças, constitui-se, hoje, numa verdadeira polícia do pensamento. “Agride a liberdade de expressão e, muitas vezes, agride os fatos, impedindo até mesmo a avaliação da eficiência de determinadas políticas públicas, como no caso das cotas”, assinalou.

Penso em criar a Associação das Pessoas em Geral para me defender da imposição de felicidade pública l

Leandro Narloch

QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011 l 15


16 l QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2011


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.