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ProvÍncIa
Uma receita de sUcesso qUe passoU a crise e agora bUsca a revitalização
A Matola ficou, ao longo dos anos, conhecida como a casa das máquinas e o dormitório do país, algo que nem sempre gerou uma convivência pacífica. Agora, depois de anos de abrandamento económico, há sinais de retoma
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Quando se fala de indústria no país,
nenhuma cidade moçambicana é símbolo maior dessa realidade do que a Matola. Algo que se afere até pelo facto de a maior parte das suas receitas fiscais terem proveniência precisamente aí, no sector industrial. É aqui mesmo, nos arredores de Maputo, que, as diversas (e grandes) indústrias instaladas respondem por praticamente 80% das receitas da cidade e de toda a província de Maputo. E se a capital financeira e administrativa de Moçambique fica alguns quilómetros ProvínCia Maputo
Cidade Matola área 333 kM² PoPulação 1,6 Milhões região sul
a caminho do Índico, a capital industrial do país é, efectivamente, a cidade da Matola. Até por ser ali que foi instalado o parque de Beluluane, o maior pólo industrial do país (e onde se encontra a fábrica de alumínio da Mozal). Mas é também naquele distrito que encontramos outras grandes indústrias de referência, como a Companhia Industrial da Matola, uma das maiores da área alimentar no país, a par da concorrente Merec, a poucos quilómetros, na Avenida das Indústrias, na Machava. Há também a Cimentos de Moçambique
e o terminal de combustíveis, que alimenta todo o mercado nacional. Claro que, sendo uma região eminentemente residencial (mais de milhão e meio de pessoas), há problemas relacionados com a poluição de muitas destas grandes empresas que se colocam no dia-a-dia de muitos moçambicanos e que, mais cedo ou mais tarde, terão de ser resolvidos, a bem das populações e de um crescimento económico sustentável.
o sol volta a brilhar Olhando meramente ao contexto económico, os últimos anos foram complicados na região, fruto do abrandamento económico súbito que se abateu sobre o país na segunda metade da década, e que levou algumas indústrias à falência (pequenas e médias empresas de construção e comércio local, essencialmente) enquanto outras sobreviviam num aperto partilhado pelos moçambicanos. Mas desde o ano passado que o pior parece ter ficado para trás, e notam-se pequenos sinais de que a economia local está a a ganhar alento. À E&M, o director provincial da Indústria e Comércio de Maputo, Ernesto Mafumo, confirma esta tendência e revela que nos últimos dois anos o volume global de investimentos cresceu para 2,2 mil milhões de dólares o que conferiu à província o segundo lugar em termos de investimentos a nível nacional, logo a seguir à cidade de Maputo, que registou 2,9 mil milhões de dólares, e antecedendo a província de Cabo Delgado. No entanto, embora a Matola volte a dar sinais, ténues é certo, de recuperação, nota-se que ainda não conseguiu atingir os níveis da retoma a que se assistiam antes da crise, quando o crescimento económico anual rondava os 5%. O director da Indústria e Comércio lembra “a quebra de 2016 e 2017”, quando o crescimento se quedou apenas nos 2%, mas confirma que “o sector industrial registou uma ligeira recuperação para um crescimento de 3,5%. Esperamos para este ano uma continuação dessa recuperação, já que não se espera a queda do preço do alumínio”, fenómeno que em 2017 prejudicou o mercado, com reflexos claros na redução da produção global da província. “A Mozal sempre foi determinante para as receitas do sector industrial da província”, recorda Mafumo. Mas onde se nota a recuperação não é apenas nos grandes projectos, havendo novos e diversificados investimentos de pequena e média dimensão que estão a
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mil milhões de dólares É o volume global de investimentos registado nos últimos dois anos. dessa fatia a indústria transformadora foi responsável por 550 milhões de dólares
gerar emprego e, sobretudo, novas e importantes fontes de colecta de receitas fiscais para o Estado. Com isso o Governo distrital já esfrega as mãos de contente, visto que só a indústria transformadora que por ali se estabeleceu nos últimos anos trouxe um investimento global de 550 milhões de dólares.
maior procura por espaços Anualmente, a Matola tem vindo a registar uma crescente pressão de empresários nacionais e estrangeiros que procuram por espaço para instalar as suas indústrias e empresas. Com efeito no preço por metro quadrado. A aposta dos investidores deve-se ao facto de estar nas imediações das Estradas Nacionais número 4 e 1 (EN4 e EN1), consideradas como principais corredores para a entrada de matéria-prima e para o escoamento de mercadorias para o resto do país e toda a região da África Austral, via África do Sul. É por isso que, apesar de nos últimos anos estarem a surgir novos focos industriais, sobretudo no Centro e Norte do país, em resultado dos mega-projectos, o director provincial da Indústria e Comércio, em Maputo, não tem dúvidas de que Matola “vai continuar a ser o maior parque industrial do país.” Aliás, Mafumo revela à E&M que Matola quer “posicionar-se cada vez mais como um player na prestação de serviços para os mega-projectos”. Segundo o Governo local, existe um programa que surge de uma iniciativa da Anadarko para o desenvolvimento de fornecedores, que preconiza a criação de uma unidade de desenvolvimento empresarial na qual a Matola se vai encaixar como pólo principal de prestador de serviços. “É um programa que não nos permite ficar de fora e apenas a depender de circunstâncias, pois tem uma acção direccionada para reforçar estas ligações da nossa indústria às oportunidades que vão nascer nos próximos anos”, considera.
parque industrial de beluluane ganha uma nova vida Considerado o maior do país e dotado de capacidade para acomodar mais de 500 empresas, o Parque Industrial de Beluluane andou durante anos desprovido de investimentos. O baixo nível de exploração da capacidade instalada no parque, que até ao ano passado tinha apenas 38 empresas em funcionamento (7,6% da sua capacidade), denunciava problemas
província
Para Ernesto Mafumo, director provincial da Indústria e Comércio de Maputo, a “Matola quer posicionar-se na prestação de serviços para os mega-projectos”
conjunturais e estruturais, como a fraca disponibilidade de energia e água para o seu normal funcionamento. No entanto, existem várias mudanças em curso. De acordo com a administradora do distrito da Matola, Anastácia Quitane, “há novos ramos de actividade que vêm permitindo a diversificação das indústrias” e que, com isso, levaram mais investimento para dentro do parque. E dá exemplos: “Assistimos à expansão da indústria química de produção de materiais de construção, de tubagem, reservatórios e outros utensílios”, exemplifica. Ernesto Mafumo concorda, e explica esse movimento recorrendo ao exemplo da recém-criada “infra-estrutura que permitiu a disponibilidade de mais energia no parque e o que de bom isso trouxe.” Já para o gestor de desenvolvimento de infra-estruturas no Parque Industrial de Beluluane, Onório Manuel, “o futuro só pode ser de sucesso” porque, prossegue, “os constrangimentos enfrentados a nível de fornecimento de energia e de água já estão a ser acautelados. Caminhamos para termos um nível de infra-estruturas estáveis, situação que, conjuntamente com a janela de oportunidades que representa para as empresas estarem ali, nos deixa esperançados de que poderemos, de facto, fazer aumentar o número de empresas das actuais cerca de 50 para mais perto das 500, de acordo com o nosso plano estratégico”, garante. Se a Matola já viu chegar e partir empresas históricas como a Vidreira de Moçambique, a Texlom, a Zuid, a Metal Box, a Ceres, a Fábrica de Cápsulas, a Lusalite ou a Tudor, hoje há novos e diversificados investimentos de pequena, média e grande dimensão que estão a gerar emprego e, sobretudo, receitas para o Estado. E até se assiste ao regresso de algumas das antigas fábricas que faliram há várias décadas. Como a antiga Texlom agora convertida em Moztex, unidade fabril detida pela Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN). Será assim que se tecem os novos tempos da Matola.
Se a Matola já viu chegar e partir empresas históricas como a Vidreira de Moçambique, a Texlom, a Zuid, a Metal Box, a Ceres, a Fábrica de Cápsulas, a Lusalite ou a Tudor, hoje há novos e diversificados investimentos de pequena, média e grande dimensão que estão a gerar emprego e, sobretudo, receitas para o Estado. E até se assiste ao regresso de algumas das antigas fábricas que faliram há várias décadas
OPINIÃO
Três mitos sobre o emprego jovem em África e as estratégias para a mudança
Louise Fox • Chief Economist da USAID
mito um: a África Subsaariana enfrenta um desafio demográfico único. África enfrenta um desafio sem precedentes em relação ao emprego para jovens. Os factos para sustentar apontam para a causa demográfica, e por ser o continente mais jovem do mundo, dizendo-se muitas vezes que, até 2050, o número estimado de jovens a entrar no mercado de trabalho será superior ao do resto do mundo combinado. Mas os dados contam uma história diferente. É verdade que as transformações demográficas e económicas em África estão bem atrás do resto do mundo - em parte porque a maioria dos países africanos iniciou esses processos mais tarde, com instituições económicas, sociais e políticas menos desenvolvidas. Mas a juventude dos africanos, ou a parcela de sua população em idade activa no seu nível máximo, chegou a cerca de metade do pico das populações jovens do Leste Asiático, sendo mesmo 20% menor do que o pico registado no sul da Ásia. Na verdade, a força dos jovens africanos na força de trabalho atingiu o pico neste século, com 38% (apenas 4% acima dos picos asiáticos), e agora até está em declínio. E todas as outras regiões passaram por este período de pico de participação, sem enfrentar uma crise.
Mito dois: o dividendo demográfico. O que é único em África é a lentidão com que a participação dos jovens na população em idade activa deverá diminuir. Enquanto se pensa que a elevada participação de jovens na força de trabalho gerará um dividendo demográfico que ajudará a impulsionar o crescimento económico, os dados históricos voltam a contar uma história bem diferente dessa. Sendo que os dez países com maior fertilidade estão, de facto, em África. No Quénia ou no Gana, por exemplo, essa taxa tem diminuído constantemente na exacta medida em que aumenta a expectativa de vida, que é a essência da transição demográfica. No entanto, mesmo nesses países, a transição não fará o rápido progresso que pudemos observar noutras regiões, em parte devido à teimosa parcela de jovens mulheres com filhos, abaixo dos 18 anos (8% no Quénia e 7% no Gana, comparados com apenas 4% no sul da Ásia).
Mito três: formação é a solução para a situação de de-
semprego da juventude. A melhoria dos sistemas educacionais poderia ser decisiva para a construção das capacidades fundamentais da futura força de trabalho no continente. No entanto, instituições educacionais não criam empregos. Empresas e pessoas é que o fazem. O emprego assalariado surge com novas empresas, ou quando as existentes expandem a produção, encontrando novos mercados. Isso leva tempo, provavelmente décadas. Na verdade, pode argumentar-se que, devido à melhor política educacional do que económica, os jovens africanos são excessivamente qualificados para as suas economias, o que é uma das razões pelas quais o desemprego é, estatisticamente, mais elevado entre os jovens mais instruídos. Na falta de oportunidades de usar as suas capacidades, a maioria dos jovens africanos, de todos os níveis de competências, terá de aproveitar para criar a sua própria vida através do trabalho por conta própria, muitas vezes com membros da família, em explorações agrícolas ou em sectores não agrícolas. Algumas pessoas, tipicamente 2% a 5% da força de trabalho, serão capazes de criar um negócio orientado para o crescimento e empregar cinco ou mais pessoas. Isso desafia o impulso maciço em direcção ao empreendedorismo juvenil como a solução para o desafio do desemprego na região. Infelizmente, as empresas jovens - operando em ambientes económicos hostis, com capital, redes e know-how limitados - tendem a permanecer pequenas e sustentáveis, servindo os mercados locais. A educação é necessária para, mais do que ganhar dinheiro, possibilitar todos os aspectos da transição da juventude da dependência para a independência. Perguntemos se todo o dinheiro gasto em pequenos projectos de jovens com resultados minúsculos fosse investido em infra-estruturas, conectividade, facilitação do comércio e melhor gestão nos sectores público e privado para facilitar a criação de empregos no sector formal? Difícil de fazer, mas é o que os jovens realmente precisam.