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O jOgO da sOrte Ou dO azar?

Nos últimos anos começaram a surgir casas de apostas que aparecem como cogumelos, nas zonas de maior concentração de pessoas da cidade de Maputo e arredores. Da Baixa ao Zímpeto, anunciam-se prémios chorudos e os moçambicanos tentam a sua sorte. Para azar das suas carteiras, nem sempre ganham, alimentando uma indústria que está, de facto, a crescer. E não é só em Moçambique. A E&M olha este novo mercado

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de uma loja de rua em manchester, bem perto de um pub, aos trabalhadores

de escritório de Lagos, na Nigéria, descendo até à Baixa da cidade de Maputo, as mesmas apostas desportivas oferecem o mesmo destino aos apostadores: uma oportunidade de riqueza instantânea. Claro que o destino não é mais do que uma promessa e é preciso chegar à frente com o dinheiro e fazer um depósito na sorte. E tudo depende do resultado. Mas não são apenas as apostas no futebol que estão a crescer por toda a África. Casinos, lotarias e jogos pela Internet estão a crescer exponencialmente, alavancados pelo crescimento económico de uma classe média tenuamente emergente que procura entretenimento. Uma pesquisa de 2017 da GeoPoll constatava que 54% dos jovens em seis países da África Subsaariana (Nigéria, África do Sul, Gana, Tanzânia, Uganda e Quénia) já tinham jogado. O Quénia era o mercado com maior número de jogadores, com 76%, seguido pelo Uganda com 57%. Os quenianos entrevistados assumiram que o fazem, em média, uma vez por semana,

1,7

milhões de dólares É a receita mensal estimada de todas as 15 empresas que se dedicam a jogos de sorte e azar em moçambique. cerca de 65% do mercado É ainda dominado pelo retalho, sendo que os jogos online têm vindo a crescer

principalmente no futebol, gastando cerca de 50 dólares por mês. Percebendo o modelo de negócio da maioria destas novas agências de jogos, entende-se que África é o continente ideal para o seu crescimento. Já lá vamos.

Moçambique dá sorte. dá? Desde 2009, o país tem um verdadeiro quadro legal regulatório daquilo a que se convencionou chamar de jogos de fortuna e azar. Nessa reforma legislativa, com o objectivo fundamental de revisão de uma lei de 1994, a ideia era tornar o sector mais atractivo para os investidores, através da adopção de medidas susceptíveis de reforçar o fomento de empreendimentos promotores de desenvolvimento económico e social. Pensava-se nos casinos, mas estavam já previstos os jogos online que começavam a ganhar terreno por todo o mundo, estipulando-se regras claras para legalizar o mercado e facilitar a entrada de novos operadores. Na prática, em Moçambique, todas as entidades que queiram actuar neste mercado devem solicitar uma li-

Nação

O quE Está A fAZEr O JOgO crEscEr?

Classe média emergente, peso das comunicações móveis e facilidade nos pagamentos estão a alimentar um mercado com apetite voraz

telecomunicações

O sector das telecomunicações e o fornecimento de produtos e serviços móveis acessíveis permitiram o crescimento da indústria. E a maioria das empresas de telecomunicações está, também ela, envolvida no sector de jogos, seja através de pagamentos, marketing, soluções USSD ou, até mesmo, parcerias directas de jogos, como a Safaricom, a MTN e a Airtel.

Banca

O sector bancário alavancou o crescimento de produtos e soluções móveis. Depois, a Visa (reina na África Oriental) e a Mastercard (lidera na parte Ocidental) cresceram e ganharam milhões de clientes, facilitando os pagamentos. E os bancos também começaram a criar aplicativos e carteiras para transacções de pagamentos transfronteiriços.

E-commerce

Beneficiou do crescimento da social media em África. Com empresas como a Konga, Jumia, Iroko, Hellofoods, flowers.za e até lojas tradicionais como a Longarina ou o Pick and Pay trouxeram novas soluções ao mercado. E todas a apontar para a massificação dos dispositivos móveis.

Pagamentos

Cresceram com a introdução de uma estratégia móvel em todo o continente. Aqui, entram as Fintech que têm desenvolvido novas formas adaptadas à realidade africana para facilitar as transacções em dinheiro. Os comerciantes africanos e várias empresas confiam cada vez mais nos agregadores e em novas soluções de pagamento móvel para alcançar um mercado de escala.

cença de jogo à Inspeção Geral de Jogos. E foi o que se fez. Hoje serão 15 os operadores do mercado. Quatro casinos (Pemba, Nacala, e dois em Maputo), e 11 empresas que disponibilizam jogos mais convencionais (lotarias, totoloto, totobola e joker), e plataformas de apostas desportivas (futebol, basquetebol, ténis, futsal) e lotarias virtuais. Alguns deles, e são esses que lideram o mercado, fazem-no através de lojas físicas onde os apostadores se podem dirigir e depositar as suas apostas, acompanhando os eventos desportivos ou outros ali mesmo. É o caso da Premier Loto que terá, hoje, a maior fatia deste mercado de retalho, o mais procurado, dizem-nos, por questões relacionadas com alguma desconfiança que ainda existe relativamente aos sites de internet locais, aos pagamentos dos prémios e segurança de dados. Depois, porque grande parte dos apostadores nacionais ainda o fazem em numerário, até porque a utilização de cartões de crédito, que muitos dos sites de apostas requerem para carregamento dos plafonds, ainda não estão generalizados pela população. Assim, se antes eram os casinos que mais lucravam, alavancados, primeiro, pelo turismo de negócios do início da década e depois pela migração oriental (proveniente da China) da segunda metade da década, esse cenário mudou. É por isso que, o já antigo Casino Polana, decidiu entrar também no mundo virtual, abrindo

um casino virtual, uma tendência seguida em outros mercados também. Olhando ao quadro geral, Moçambique tem agora uma das leis de jogo mais liberais do continente, depois de a legislação ter aberto o mercado, colocando os casinos em maus lençóis, e enfrentando a concorrência do admirável mundo novo dos jogos. De acordo com Anuário Khan, da Trevo da Sorte, os jogos de apostas online são, ainda assim, um mercado em evolução: “é mais fácil para as casas de jogos online expandir os seus serviços, porque a partir de agora uma pessoa com um simples smartphone pode fazer uma aposta para qualquer tipo de desporto”. De resto, também para os cofres do Estado, este crescimento do jogo tem sido benéfico. De acordo com dados fornecidos pela AT à E&M, actualmente está em vigor um imposto especial de 35% sobre as receitas brutas do jogo e, em 2018, essa receita chegou aos 643 milhões de meticais.

57

milhões de meticais o valor pago, atÉ 19 de outubro, pela sojogo em prÉmios em todos os seus jogos (lotaria, totobola, totoloto e joker

Buscar a sorte em tempos de azar O grande boom do mercado aconteceu a partir de 2016, quando verdadeiramente começaram a existir sites moçambicanos de apostas deportivas online a operar no mercado nacional, sendo que, até essa altura, a única opção era apostar nos sites de apostas estrangeiros. E numa altura de recessão económica o que, muitas vezes, não é despiciendo do crescimento do número de jogadores em busca da sorte, em tempos de azar. Não faltam, de resto, exemplos concretos dessa constatação. Em Portugal, durante a crise económica de 2012, registou-se um pico de crescimento das receitas das raspadinhas (um jogo de resultado imediato) de 81,7%, atingindo um valor astronómico de 376,5 milhões de euros em receitas. Moçambique é, no entanto, apenas um exemplo (ainda tímido) do crescimento deste mercado que, no mundo, atingiu, no final do ano passado, um valor de 449,3 mil milhões de dólares, com taxas de crescimento anual de 4,1% desde 2014. Espera-se que chegue aos 565,4 mil milhões de dólares até 2022, diz um estudo recente da consultora KPMG sobre o jogo em África. E é no continente africano que os números, ainda que menos expressivos, demonstram a dimensão da oportunidade para quem quer entrar negócio do jogo. O tamanho combinado da indústria de jogos de azar no Quénia, Nigéria e África do Sul, os mercados que lideram ao nível do número de jogadores e volume de negócio, ultrapassava, no final do ano passado, os 37 mil milhões, em 2018. Sensivelmente três vezes o PIB de Moçambique. Por cá, e de acordo com o que apurámos junto de alguns operadores devidamente certificados, esse valor anda na casa dos 1,7 milhões de dólares por mês, perfazendo 20,4 milhões por ano, de forma agregada. Desse volume, 65% do mercado está na área do retalho, sendo que o restante será online. Uma fatia que, garantem-nos, tenderá a crescer. E muito.

Porque aumenta a procura Para além dos motivos conjunturais (baixa económica e aumento generali-

Nação

O JOgO EM MOçAMBiquE?

A oferta é claramente dominada por lojas físicas onde se depositam apostas desportivas, casino e lotos. Premier Loto domina o mercado

em percentagem da quota de mercado JOgOs sOciAis/ APOstAs MútuAs 5%

LOtAriA iNstANtâNEA 3%

37%

DistriBuiçãO DE LOtO/KENO 55%

rEtALhO

trevo da Sorte Sojogo Premier Loto e Lotto Moçambique Permier Loto, Megagame, Sepels, Casino Polana online, Hollywood, Arena, Velabet

fonte fonte

zado dos preços), os ingredientes deste crescimento, e isso não é exclusivo de Moçambique, são a urbanização rápida que propicia grandes aglomerados populacionais, o crescimento da utilização do telemóvel, o aumento do uso da social media por onde a publicidade a este tipo de jogos muitas vezes é disseminada e, como pano de fundo, a melhoria dos sistemas de pagamentos (via USSD e carteiras móveis). No mundo, o segmento das lotarias ainda é o maior do mercado de jogos de azar, com 46,1%, e movimentando 207,3 mil milhões de dólares. No entanto, as apostas online ganham cada vez mais espaço no mercado, num segmento que cresce na casa dos 6,9% ao ano. Olhando ao mapa-mundo dos jogos, a zona Ásia-Pacífico é, sem surpresa, a dominadora do mercado de jogos de azar, respondendo por 32,7% do mercado global em 2018. Segue-se a América do Norte e Europa Ocidental. Mas espera-se que África venha a ser a região que mais crescerá, na casa dos 7,7% ao ano. seveni, Presidente do Uganda, assume mesmo que o jogo desportivo on-line está “a desviar a atenção dos jovens do trabalho duro”. E não é a primeira vez que o país toma medidas para conter o jogo. Há dois anos, o Conselho Regulador Nacional de Lotarias e Jogos do Uganda introduziu um imposto de receita de 35% nas actividades de jogos de azar. Agora, endureceu a posição. Assim como vários outros países da região. Por exemplo, o Quénia, o terceiro maior mercado de jogos de azar na África, depois da Nigéria e da África do Sul (não é alheio a este posicionamento o facto de serem os três mercados africanos com maiores taxas de penetração de serviços móveis), anunciou, em Maio passado, a preparação de uma legislação específica para ‘domar’ o crescente vício e a expansão desenfreada desta indústria multibilionária. Por enquanto, a publicidade de jogos de azar em todas as plataformas de social media foi proibida, assim como os anúncios entre as 6h e as 22h na rádio e

a resposta dos governos Em África, a penetração das apostas em desportos já se disseminou por 35 dos 54 países africanos, num mercado cujo maior volume de facturação é alavancado pelos grandes mercados da Nigéria, Maurícias, Gana, Quénia, Uganda, Senegal, Botsuana, Tanzânia, Costa do Marfim e África do Sul Fruto desta “explosão”, alguns governos africanos começaram a encarar esta, como uma importante fonte de receita, mas, alguns deles, foram ‘obrigados’ a ponderar o reverso da moeda, e os problemas sociais que daí advêm. Em Fevereiro, o Uganda tomou a acção, determinando que não fossem emitidas novas licenças para empresas de apostas desportivas e outros jogos de sorte e azar. Além disso, as licenças existentes não serão renovadas quando expirarem. Tudo porque a indústria cresceu demasiado no país, o que criou preocupações sérias com os vários problemas de dependência detectados, principalmente entre a população jovem. Yoweri Mu-

Nação

Jogos da Premier League concentram as atenções de apostadores por toda a áfrica

televisão, uma medida destinada a proteger os consumidores dos efeitos do jogo: “Queremos lembrar de que o jogo é um bem de demérito que tem o potencial de prejudicar o consumidor, com a possibilidade de levar ao vício e a algum distúrbio”, disse, então, o director da comissão regulatória do jogo no Quénia, Liti Wambua. O governo queniano já havia introduzido, também, um imposto de 35% sobre as operadoras de jogos de apostas no início do ano passado. Mas essa medida seria posteriormente reduzida para 15% após um esforço de lobby da indústria de jogos de azar. Tiveram sorte, neste caso. Presentemente, é difícil de medir o verdadeiro impacto do jogo nos países do continente, porque o mercado continua a ser pouco estudado, até por ser alvo de um crescimento exponencial demasiado recente. Além disso, há um poderoso lobby de defesa da indústria. E a política de jogo afecta o emprego, os negócios, o turismo, o entretenimento, a prestação de serviços sociais, património cultural e religião. A este respeito, é interessante notar que a proibição é que esta simplesmente empurrará o jogo para a marginalidade, o que contribuiria para um aumento geral da criminalidade, incidentes de manipulação de resultados e perda significativa de receitas dos governos. “Os níveis de corrupção destas sociedades tendem a criar um cenário em que há um benefício percebido no dinheiro rápido e fácil. A forte publicidade dos fornecedores mostra milionários instantâneos. E esta é uma proposta incrivelmente atraente para quem precisa de esperança por causa do alto desemprego“, diz Victor Owuor, pesquisador associado da OEF Research. “O meu problema com estes jogos é que eles podem transformar-se em algo inimaginável, e a sua disseminação em cada esquina é claramente o maior perigo” diz. O que nos leva a pensar que há ainda muito jogo pela frente, para que se chegue ao resultado final. Qual será? Vai uma aposta?

quase todos os países de maioria muçulmana proíbem o jogo por motivos religiosos. Com excepção dos casinos, países como os Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Jordânia, Líbano, Brunei, Somália, Sudão, Egipto, Indonésia, Qatar e Líbano têm uma proibição oficial sobre o jogo. E as proibições de jogos de azar são motivadas por preocupações relacionadas com lavagem de dinheiro, vício em jogos e, no caso de apostas desportivas, questões relacionadas com a integridade do próprio desporto. E a verdade é que as apostas desportivas têm estado, nos últimos anos, no centro de uma série de casos relacionados com actividades ilegais, como manipulação de resultados de grandes ligas europeias. Do outro lado, e para além das casas de apostas, estão outros defensores do jogo online, como a American Gaming Association, a Professional Golfers Association e a National Basketball Association, que argumentam que a proibição de apostas reduz a receita necessária ao crescimento económico dos seus negócios. Um segundo argumento avançado contra

Na voz de...

“Há um potencial de crescimento grande”

alcinda santiago Directora-geral da Sojogo

a sojogo existe em moçambique desde 2004, uma épo-

ca em que o mercado dos jogos de sorte e azar era substancialmente diferente do que é hoje, em que essencialmente é dominado pelas apostas e os novos jogos online. A esse respeito, o facto de ser uma associação sem fins lucrativos inspirada no modelo da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, em que parte das receitas da lotaria, totobola, totoloto e joker são aplicadas, para além do pagamento dos prémios, em fins de cariz social, faz da Sojogo um caso diferente no panorama nacional. Numa altura de mudanças de paradigma neste segmento, não só em Moçambique como por todo o continente africano, Alcinda Santiago explica à E&M os próximos passos da Sojogo para competir com os novos players digitais do mundo dos jogos e poder cumprir, na plenitude, a sua missão de contribuir para projectos sociais.

Como é que a Sojogo tem estado a evoluir, 15 anos após ter entrado no mercado?

A Sojogo começou em 2004, a pedido da ELAM (Empresa de Lotarias e Apostas Mútuas de Moçambique) para a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (cujo departamento de jogos tem por objectivo assegurar a exploração dos jogos sociais do Estado português em regime de exclusividade), entrar nesta associação sem fins lucrativos. A Santa Casa entrou com o material e com o know-how.

Entre 2004 e 2015 a operação, pelo menos do ponto de vista exterior, parecia não ter grande expressão no mercado. O que mudou desde então?

Continuámos a vender quatro jogos: lotaria, totobola, totoloto e joker (acoplado ao totoloto ou ao totobola). Mas, em 2016, verificámos que a empresa precisava realmente de um refresh, porque o mundo estava a mudar, especialmente com as apostas. Chegámos à conclusão que a Sojogo estava desactualizada nos canais de distribuição e havia alguns constrangimentos logísticos. A mudança começou quando percebemos que aqui em Moçambique uma grande aceitação do uSSd, das carteiras móveis, e começámos a estudar a hipótese de pôr os

QuANdo NoS dEfiNiMoS ENQuANto ASSoCiAção SEM fiNSLuCrAtivoS EStipuLáMoS QuE uMA pArtE dE todAA rECEitAENtrA pArA préMioS, ENQuANto QuE o rEStANtE é dEStiNAdo A fiNANCiAr A opErAção EA diStribuir oS LuCroS pELoS projECtoSE ASSoCiAçõES dE SoLidAriEdAdE SoCiAL doS NoSSoS pArCEiroS

nossos jogos nessa plataforma utilizando as capacidades da carteira móvel do bCi. tínhamos de nos preparar para toda esta mudança que já se sabia que aí vinha e que agora verificamos pelo ritmo da abertura de casas de jogo, em que até os sites começaram a crescer no mercado.

Há uma diferença dos jogos sociais da Sojogo e os demais. Em que medida?

Quando nos definimos enquanto associação sem fins lucrativos nas apostas múltiplas — totobola, totoloto e joker — estipulámos que uma parte de toda a receita, neste caso 50% da semanal desse jogo especificamente, entra para prémios, enquanto que restante é destinado a financiar a operação e a distribuir os lucros pelos projectos e associações de solidariedade social dos nossos parceiros. A distribuição de resultados é feita directamente às 13 associações definidas nos estaturos (fundação Lurdes Mutola, fundação de desporto e Acção Social entre outras) e aos seus projectos sociais. Ainda não conseguimos atingir este objectivo mas esperamos que venha a acontecer brevemente, quando os resultados desta mudança operacional estiverem consumados.

A confiança por parte do mercado é fundamental. Imagino que os custos em segurança sejam elevados, é assim?

Sem dúvida. A extracção semanal da lotaria que é transmitida pela tvM, por exemplo, obriga-nos a um júri que

Na voz de...

tem sempre alguém da inspecção-geral de jogos aqui mesmo nas instalações que inaugurámos. o sorteio não avança enquanto todos os boletins não estão digitalizados e devidamente arquivados e guardados no servidor. E há muitas outras regras de segurança, acompanhadas de uma avaliação constante dos procedimentos. A Santa Casa vende jogos há mais de 200 anos e sempre foi assim. .

Apesar de tudo, os prémios têm uma dimensão considerável para a realidade nacional...

Sim, mas há um potencial de crescimento ainda grande em Moçambique. E, devo dizer, a operação já foi bem maior, já tivemos muito mais apostadores do que aqueles que temos hoje. A lotaria é um jogo bancado, ou seja, quando imprimimos os bilhetes com cinco fracções, (como exemplo, se forem 50 mil bilhetes, falamos de 250 mil fracções), sabemos que cada bilhete se habilita a um prémio total de dois milhões, dois milhões e meio, ou quatro milhões de meticais. A lotaria é um jogo diferente que muitas vezes dá prejuízo a quem o promove até. posso dizer-lhe que, só este ano, a Sojogo já pagou oito primeiros prémios perfazendo um valor agregado de 17 milhões de meticais. E, no total, em todos os seus jogos (Lotaria, totobola, totoloto e joker), esse valor ultrapassa já os 57 milhões de meticais.

Como dizia, o mercado mudou. Como é que se posicionam face a essa mudança, até dos hábitos de jogo dos moçambicanos?

desde 2017 que a operação sofreu um pouco com essa mudança, mas sobretudo pela concorrência. A legal, que é salutar para o mercado, mas também da desleal, que existe. Nós temos aqui a noção que, possivelmente, ainda não está “oQuE prEtENdEMoS é SiMpLESMENtE rEpoSiCioNArMoNoSNo MErCAdo pArA podEr diStribuir oS rECurSoS pArA o fiMSoCiALQuEEStá NA bASE dA idENtidAdE dA Sojogo AQui EM MoçAMbiQuE”

tudo regulamentado e que há muitos sites que só estão aqui em território moçambicano, mas nem pagam cá impostos, pelo que se sabe. Mas acreditamos que o regulador irá continuar a fazer um trabalho de acompanhamento do mercado. Estamos em contacto com o regulador no sentido de dar o nosso know-how, e sempre disponíveis a ajudar. o que pretendemos é simplesmente reposicionarmo-nos no mercado para poder distribuir os recursos para o fim social que está na base da identidade da Sojogo aqui em Moçambique.

Face a essa concorrência, a Sojogo pondera mudar o foco do negócio e adaptá-lo a essas novas tendências, por exemplo, das apostas desportivas e dos novos jogos online?

para já, não. temos neste momento 45 agentes espalhados por todo o Moçambique. o que pretendemos é diversificar e ampliar a forma como as apostas são colocadas, fazê-lo de forma digital, cortando nos custos e na complexidade operacional que envolve o envio de milhares de boletins semanalmente para Maputo. Avançando com todo o processo de jogar no totoloto ou outro jogo, de forma digital, mais prática e cómoda para o apostador de qualquer região do país, e com o capital de confiança que os apostadores foram adquirindo na Sojogo, irá, por si só, fazer uma grande diferença no nosso volume de apostas semanais e na receita operacional da Associação.

Como é que se controlam os valores dos impostos sendo que, na maioria destes jogos, não há facturas?

bem... eu sei como nós fazemos, e é tudo claro, há boletins, e está tudo contabilizado. Como os outros fazem, não sei. repare: quando os concursos fecham, toda a informação é gravada num Cd que é selado, e posto num cofre. é dada uma cópia também selada ao inspector dos jogos.

No dia seguinte, quando se faz o sorteio, efectua-se depois a validação do prémio. Como lhe dizia, é tudo digitalizado, desde as matrizes a toda a informação do jogo. portanto, nós temos uma dinâmica muito rígida em termos de segurança e de credibilidade. A todos os níveis. depois, a nossa receita, está no nosso site. Quando se vai consultar os resultados de cada um dos jogos, está lá informação toda, desde a receita de cada jogo até aos valores de cada prémio atribuído.

Qual é o futuro imediato da Sojogo?

A mudança efectuada em 2016 foi feita para pôr as contas em dia, fazer a reestruturação financeira, instituir auditorias anuais (Ernest&Young). depois, a segunda fase foi arranjar dois novos canais de distribuição (o uSSd e o site), e uma plataforma de jogo que gerisse essa parte. Hoje em dia, conseguimos pagar directamente os valores abaixo dos 25 mil meticais no dia seguinte através da carteira móvel do BCI. Por fim, a terceira fase é essa modernização e transição para o digital de toda a operação, ao nível nacional, de que falava.

Qual é o jogo que tem mais impacto e por que canais recebe o maior número de apostas?

A lotaria é o que tem mais peso, até porque, nesta altura, o digital não tem ainda o impacto que esperávamos.

Como é que uma lotaria semanal concorre com os novos jogos, mais imediatos e dinâmicos?

Neste tipo de jogos há, como é lógico, uma dinâmica diferente. falamos de algo semanal, não diário e os apostadores querem ganhar rápido, também sabemos. por isso é que temos de ser dinâmicos, e criar novos jogos e formas de interagir com as pessoas. Estamos a preparar dois jogos para o ano, com base numa nova dinâmica na nossa força de vendas. A lotaria e o totobola são jogos com apostadores muito fiéis, porque são jogos específicos. Verificámos isso quando o totobola não estava a sair e acumulou um jackpot de cerca de quatro milhões de meticais. Houve, de imediato, vendas brutais porque para além das pessoas que já apostavam regularmente o valor do prémio atraiu um grande número de novos apostadores. Em portugal, a Santa Casa tem sorteios todos os dias e cria essa dinâmica. Aqui, isso só acontece aos Sábados. Há ainda muito para crescer mas sabemos o que pretendemos fazer, de forma muito clara.

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