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EnErgia rEvigora intErior do país

O GET.invest é um programa europeu que apoia investimentos em projectos descentralizados de energia renovável em países em desenvolvimento. Com foco na África Subsaariana, aponta agora para o Centro e Norte de Moçambique

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faz parte da plataforma europeia

get.pro implementada pela GIZ - Cooperação Alemã para o Desenvolvimento e opera em diferentes segmentos de mercado de energia renovável descentralizada, incluindo pequenos produtores independentes de energia (IPPs), energia comercial e industrial, mini-redes, sistemas solares autónomos, bem como soluções de cozinha limpa. É apoiado pela União Europeia (UE), Alemanha, Suécia, Holanda e Áustria. O GET.invest tem o objectivo de mobilizar o sector privado, fornecendo informações de mercado, estimulando a procura, procurando o estabelecimento de parcerias através de eventos e fortalePrOvínCIA niassa

CAPITAL: Lichinga áreA 122 827 km² POPULAÇÃO: 1,8 miLhões regIÃO norte

cendo associações que acrescentem verdadeiro valor a uma cadeia produtiva que é preciso incentivar. Além de tudo isto, apoia o desenvolvimento de um pool de projectos através de formação e consultoria (Finance Catalyst), desenvolvimento de documentos de projecto e criação de capacidades públicas e privadas para apoiar um “ambiente propício” ao surgimento de novos projectos relacionados com energia renovável descentralizada. Até porque, ainda hoje, mais de 70%, dos cerca de 28 milhões de moçambicanos não tem acesso à energia eléctrica nem sequer uma perspectiva de que isso possa acontecer num futuro breve.

Lançamento Neste contexto, no passado dia 20 de Novembro, o Ministério de Recursos Minerais e Energia de Moçambique (MIREME) apadrinhou o evento de lançamento da Facilidade de Preparação de Energias Renováveis, organizado pela Delegação da União Europeia em Moçambique, uma iniciativa que faz parte da PROMOVE, uma estratégia abrangente de desenvolvimento rural desenvolvida pela UE em estreita coordenação com o Governo moçambicano. A Facilidade de Preparação de Projectos da PROMOVE anunciou, então, um programa de apoios através da criação de um Centro de Recursos com a função de capacitar o sector público ligado às energias renováveis de Moçambique, responsável por fornecer à entidade reguladora de energia no país e ao MIREME todo o apoio técnico com vista ao desenvolvimento de projectos públicos, que visem incrementar a utilização de sistemas de energias limpas. A começar pelo investimento necessário à instalação de empresas que os promovam. Depois, o GET.invest, que tem precisamente o seu foco no aumento do investimento do sector privado nas energias sustentáveis, é um programa que mobilizará empresas e promotores privados e irá desenvolver um pipeline de projectos de energia renovável em todo o território nacional, com especial enfoque nas zonas rurais do Centro e Norte do país, regiões onde a cobertura da rede energética, e por razões óbvias relacionadas com a geografia, é, ainda hoje, demasiado baixa. No evento realizado no Hotel Polana, em Maputo, foram então apresentados os detalhes da estratégia do PROMOVE em Moçambique (414 milhões de euros dedicados a uma resposta integrada com maior foco nas províncias de Niassa, Nampula, Zambézia e Cabo Delgado) e anunciadas as actividades específicas do Centro de Recursos e do GET.invest. Para Antonio Sanchez-Benedito, Embaixador da UE em Moçambique, “alavancar a iniciativa privada é um dos grandes objectivos deste mecanismo, bem como reforçar a capacitação das instituições públicas como a EDM, o Mitader ou a FUNAE nesse sentido.” E prosseguiu: “o grande objectivo é desenvolver o potencial das energias renováveis e os interesses do sector privado para que, até 2030, se consiga esse grande desígnio nacional que é o acesso universal à energia”.

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milhões de euros Os fundOs dispOnibilizadOs pela uniãO eurOpeia e que fazem dO GeT.invesT, O maiOr prOGrama de apOiO aO invesTimenTO em prOjecTOs de enerGias nO país

Neste mesmo âmbito, a promoção de fogões melhorados, a geração de energia através da produção independente, o PRODER (Programa Nacional das Energias Renováveis), ou o ELECTRIFY, que já está a ser aplicado pelo sector privado, são, na opinião de António Sanchez-Benedito, “mecanismos essenciais para aumentar a produção energética nacional e, até, criar uma importante e única oportunidade de exportação de energia para a região adjacente. Mas todo este esforço conjunto tem como base o engajamento e as políticas do Governo neste sentido. Queremos que a UE lidere em parceria com as entidades públicas. Serão, para já, investidos 172 milhões de euros, os recursos não faltam e as ideias também não. Queremos ajudar a transformar este país.” Já Peter Toffman, director da GIZ em Moçambique, explica que “a mobilização de investimentos em energias renováveis e em projectos ongrid, ligados à rede e isolados ou offgrid, fazem parte daquilo a que chama um ‘scalling up’ de outros programas na área dos sistemas solares e energia para cozinhar, por exemplo, mecanismos que, com a ajuda do sector privado, podem fazer a diferença na vida de milhões de moçambicanos. Temos um projecto de Finance Catalyst onde já recebemos mais de 500 candidaturas, já temos mais de 100 projectos aprovados de 25 fontes de financiamento diferentes. É uma janela de investimentos, que segue o trabalho que havia antes, mas cada vez com maior foco no futuro”, explica. O ministro dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela, sublinha a importância da iniciativa. “A UE tem sido um grande parceiro para o sector da energia moçambicano, que é, como sabemos, um dos vectores mais importantes do desenvolvimento económico e social do nosso país. Foi precisamente por isso que lançámos o Programa Energia para Todos. As energias renováveis gozam de um grande privilégio, e no quadro da implementação do Plano Integrado de Estruturas de Distribuição de Energia, contamos que as renováveis venham a constituir 20% de toda a energia gerada em Moçambique num prazo de 20 anos. É nas renováveis que está a solução óptima de menor custo para os locais mais remotos de Moçambique”, concluiu.

OPINIÃO

Decifrando Greta Thunberg, uma Líder incomum

Margarita Maio • PhD. Professora da IE University

em maio de 2019, Greta Thunberg foi capa da prestigiada revista TIME que a elegeu como a “líder da próxima geração” pelo seu activismo político contra as mudanças do clima. Pouquíssimos jovens de 16 anos conseguem obter este reconhecimento devido à sua liderança. A Amnistia Internacional concedeu a Greta o prémio anual de Embaixadora de Consciência. Considerada “um exemplo importantíssimo para a sociedade”, chegou a Espanha no início de Dezembro de 2019 para a Cimeira do Clima (COP 25) que reuniu líderes políticos, cientistas e empresários de todo o mundo com quase 25 000 participantes. No entanto, o seu estilo inusitado também foi alvo de muitas críticas e ataques pessoais invocando problemas de saúde mental. O Presidente Donald Trump fez piadas sobre a sua cara de felicidade e a primeira-ministra Theresa May não via com bons olhos que Greta perdesse aulas para protestar contra as mudanças climáticas.

Como decifrar o estilo de liderança de Greta Thunberg?

O perfil psicológico de Greta como líder da próxima geração é frequentemente comentado. Aos 11 anos ela sofreu uma forte depressão e, finalmente, foi diagnosticada com síndrome de Asperger. Vistas como excêntricas, muitas crianças e adolescentes com este perfil neurológico podem passar por períodos de depressão. O estigma social faz com que a síndrome de Asperger seja um transtorno pouco conhecido, embora tenha sido descoberto há mais de 50 anos. O pediatra vienense, Hans Asperger, identificou um grupo de crianças com uma capacidade intelectual acima do normal, mas que tinham dificuldades de criar empatia com os demais e fazer amigos. A enorme lista de génios que foram diagnosticados com síndrome de Asperger ou os “Aspies”, como são chamados coloquialmente, é longa, incluindo Albert Einstein, Wittgenstein ou Thomas Jefferson. Com coragem, Greta transformou o que alguns consideram uma doença num “super poder” para despertar a humanidade de sua letargia contra as alterações climáticas e fez isso adoptando quatro estratégias básicas associadas à síndrome de Asperger.

Interesse e paixão obsessiva

Ter áreas de interesse muito específicas e dedicar-lhes muita energia faz com que estas pessoas sejam realmente brilhantes no que quer que seja que lhes interessa. Exemplo disso é o facto de, desde que tinha 11 anos, Greta ter mostrado o seu interesse pelas mudanças do clima. E assim, em 2018 e com apenas 15 anos, iniciou um movimento de greve escolar faltando às aulas todas as sextas-feiras para protestar contra o aquecimento global em frente ao Parlamento sueco, em Estocolmo. O seu acto ficou conhecido como “Sextas para o Futuro” (Fridays For Future). Um ano depois, quase um milhão de estudantes aderiu ao movimento realizando protestos similares contra as mudanças climáticas. O seu objectivo é consciencializar sobre a gravidade da crise climática e pressionar os parlamentares para que apoiem uma lei mais rigorosa contra as emissões de carbono. Este contágio social é uma das chaves do seu sucesso como líder.

Rotina e compromisso

Estabelecem rotinas que seguem rigorosamente. Ela mesma é um exemplo disso. Greta decidiu não viajar de avião para evitar as emissões de carbono causadas pelos aviões. No dia 13 de Novembro, partiu junto com seu pai, de Virgínia, Estados Unidos, com destino a Madrid, a bordo de um

Todo este protagonismo é difícil de ser assimilado para uma adolescente como Greta que não está acostumada a ser o centro das atenções nem a falar para grandes audiências

Jovem sueca tem inspirado milhões de pessoas por todo o mundo. Mas também tem gerado controvérsia

catamarã tripulado por um casal de youtubers e o seu filho. Quando participou do Fórum Económico Mundial em Davos, também foi de comboio, acompanhada com o seu pai. Este comportamento faz com que muitos jovens a vejam como uma referência e um verdadeiro modelo a seguir. Começou o seu activismo ambiental em casa, convencendo os seus pais a mudarem o seu estilo de vida, incluindo não viajar de avião, o que até afectou negativamente a carreira da sua mãe como cantora de ópera.

Linguagem contundente

Expressam as suas ideias de forma categórica e repetitiva. Greta questiona os líderes mundiais sobre o “preço climático” que pagamos por pensarmos unicamente no sucesso financeiro. Muitas vezes no seu discurso pergunta: “Como é que vocês ousam?” (How dare you?). E recrimina a falta de acções concretas contra as mudanças climáticas de forma categórica dizendo: “vocês roubaram os meus sonhos e a minha infância”. Esta forma de expressar as suas ideias até pode parecer arrogante e dar a impressão de que só estão preocupados com seu próprio protagonismo. Mas esta é uma ideia totalmente equivocada. Várias vezes, Greta tem vindo a assegurar que o seu único e verdadeiro objectivo é lutar por uma causa que é muito maior do que ela mesma.

Comunicação directa

Concentram-se em conversas que estão directamente ligadas aos seus interesses. No dia 20 de Fevereiro de 2019, o New York Times descreveu Greta como “irónica, directa e, muitas vezes, sarcástica”. Na Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas de 2018 (COP 24) ela referiu-se de forma irónica a como os líderes políticos enfatizam que “os jovens são a esperança”, mas “são os líderes políticos os que passaram 30 anos sem fazer nada”. E é por isso que Greta pede, incessantemente, ao longo dos últimos meses, que sejam tomadas medidas urgentes para solucionar a crise do clima quando afirma “que o tempo está a esgotar-se”. Todo este protagonismo é difícil de ser assimilado para uma adolescente como Greta que não está acostumada a ser o centro das atenções nem a falar para grandes audiências. Ela mesma se refere à grande dificuldade desta mudança quando diz: “toda a minha vida fui a menina invisível lá no fundo, que não dizia nada. De um dia para o outro, as pessoas passaram a ouvir o que tenho para dizer. É um contraste estranho. É difícil”. Deve, de facto, ser difícil. Poucos poderiam imaginar que uma jovem de apenas 16 anos pudesse despertar a consciência de tantos milhões de pessoas de tão longínquos pontos do Globo. Todos unidos a favor de uma concreta acção global contra as alterações climáticas que, a todos, ameaçam. Alan Turing, o pai da inteligência artificial, foi outra das grandes figuras diagnosticadas com síndrome de Asperger. Sofreu por isso, também, apesar do brilhantismo. No biopic “O Jogo da Imitação”, ele mostra como “às vezes, as coisas mais surpreendentes vêm de quem menos esperávamos”.

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