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NAÇÃO
Os Grandes Business da Actualidade
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Os mercados vivem uma era em que uma regra válida hoje pode cair em desuso amanhã. Um empreendimento rentável de manhã pode dar prejuízos à tarde… Tudo acontece de forma tão rápida que requer atenção redobrada e conhecimento sólido sobre qualquer passo que se pretenda dar no mundo dos negócios. E isso nem sempre está ao alcance dos potenciais empreendedores, sobretudo em países como Moçambique, com défice de capital humano, capital financeiro e tecnologia. Então, como identificar os empreendimentos transformadores?
Especialistas já iden-
tificaram os sectores de actividade capazes de provocar mudanças importantes rumo ao desenvolvimento do País. Unânimes, apontam para grandes possibilidades de sucesso dos negócios ao nível dos Transporte e Logística, Energia, Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), Mercado de Capitais, Agro-negócio, Banca, Seguros e Têxtil.
Se for verdade que a imprensa ajuda a identificar “negócios do momento” em função do número de vezes que os sectores de actividade são citados em notícias, então fica mais uma vez confirmado o potencial da banca, seguros e sector energético, segundo Pedro Correia, Country Manager da Flying Submarine, empresa que faz a monitorização da audiência da media (televisão, rádio e imprensa escrita).
Há um contexto específico que coloca cada um destes sectores entre os pilares da disrupção que se projecta para o País, quer ao nível da rentabilidade dos negócios, quer da própria transformação estrutural que se vislumbra na economia.
Em comum, será o facto de todos estes sectores estarem ao alcance dos investidores nacionais em termos de potencial, além de terem um mercado consumidor interno e global bastante amplo, segundo o economista e presidente da Associação dos Economistas de Moçambique (AMECON), Pedro Cossa.
O Agro-negócio
Com um crónico défice de produção alimentar – o País importar tudo o que consome –, e com uma população a crescer a um ritmo próximo dos 2,5% ao ano, o agro-negócio tem se notabilizado entre as áreas mais promissoras, seja para os pequenos ou para os grandes empreendedores.
O destaque vai para a produção do frango, por exemplo, que foi multiplicada de 6000 unidades, há uma década, para os actuais 100 000 por ano, nível muito próximo de cobrir o consumo interno e que já faz os produtores sonharem com excedentes para a exportação num futuro próximo.
O investimento na produção da banana é também uma grande mais-valia da actualidade. No ano passado, chegou a assegurar 40 milhões de dólares só em exportações de apenas 22 empresas da cadeia Bananalândia, que empregam cerca de 2500 pessoas. Relativamente nova, a produção da macadâmia é também tão rentável e exposta aos mercados internacionais que vê aumentar consideravelmente o interesse dos investidores nacionais e estrangeiros (principalmente holandeses e sul-africanos), espalhados por vários pontos de produção do norte ao sul do País.
Ao mesmo tempo, Moçambique assiste ao aumento de iniciativas que visam dar força ao potencial do sector do agro-negócio, com destaque para a GAPI-SI que, só em 2017, investiu cerca de 500 milhões de meticais financiando, em 80 distritos, mais de 300 negócios de pequenas empresas, tendo outras beneficiado de assistência técnica em vários domínios.
Ainda nesta área, há espaço para investir com sucesso na cadeia de processamento (basta olhar para a projecção do investimento português Sumol+Compal), que está actualmente em défice.
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Energia
O défice de acesso a energia em Moçambique, estimado em cerca de 70%, abre um mercado que desperta cada vez maior interesse dos investidores nas renováveis. O contexto é oportuno, por ser dominado pelo processo de transição energética imposto pela comunidade internacional em nome do equilíbrio ambiental. Hoje assiste-se a uma espécie do fim do monopólio da empresa pública Electricidade de Moçambique (EDM), com a entrada de muitos provedores privados, parte dos quais parceiros da própria EDM.
A E&M tem contado a história das empresas do ramo das renováveis no caderno Especial Energias Renováveis e a experiência mostra que, mesmo
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sendo empresas de pequena dimensão, com 10 a 50 funcionários, apostam em investimentos que variam entre 500 mil e 1 milhão de dólares (conforme a dimensão do projecto). E porque são fornecedores de energia (sobretudo solar) às populações mais pobres, criam facilidades de pagamento faseadas que variam entre 300 e 700 meticais mensais por períodos que vão até dois anos e meio. Ainda assim, relatam benefícios financeiros substanciais, porque o mercado ainda é virgem.
Banca e Mercado de Capitais
Um dos sinais de que o mercado de capitais cresce a olhos vistos e constitui uma oportunidade de investimento a tomar em consideração na actualidade é o rápido crescimento da capitalização bolsista da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), que cresceu de 61,8 mil milhões de meticais para 126 mil milhões de meticais em 2021.
Sobre as opções de investimento neste mercado, o Presidente do Conselho de Administração da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), Salim Valá, fez menção à possibilidade de realizar empreendimentos de sucesso nos diversos produtos negociados em bolsa, nomeadamente acções, obrigações e papel comercial.
Valá referiu-se também à possibilidade de diversificação dos investimentos, vantagens fiscais e prestígio pessoal de ser accionista de grandes empresas e/ou grandes projectos. Ou seja, qualquer pessoa pode tornar-se empreendedora e investir em empresas rentáveis que garantam retornos importantes.
Por exemplo, hoje, quem pretender investir no capital da Cervejas de Moçambique, onde cada acção está avaliada em 2 meticais, se comprar 5000 acções vai gastar 10 000 meticais. Mas se o valor das acções, por hipótese, duplicar em resposta ao aumento das vendas, no fim do exercício este investidor recebe, em dividendos, 20 000 meticais. Apesar de rentável, este mercado tem riscos associados, obviamente. “Trata-se de uma possibilidade real que o mercado moçambicano já oferece, apesar de a BVM ser de reduzida dimensão, com pouca liquidez e profundidade. Mas não podemos perder de vista que tem, por isso, muito espaço para crescer, inovar e expandir-se nos próximos 20 anos”, argumentou o PCA da BVM.
Em relação aos riscos, Valá aconselha os potenciais investidores do mercado de capitais a informarem-se, antes de avançar, sobre aspectos como o comportamento dos mercados accionista e obrigacionista, compra de acções cotadas na bolsa, monitoramento da execução da sua ordem, penalizações no caso de desinvestimentos, principais tendências das empresas cotadas na bolsa, etc.
“Há empresas que estão em franco crescimento num contexto de crise económica, como as ligadas à saúde, tecnologia, produção alimentar, logística de produção e distribuição e serviços financeiros”, enfatizou Salim Valá, elucidando as grandes oportunidades de investimento que há neste mercado.
Entre as grandes empresas cotadas na BVM, além da Cervejas de Moçambique (CDM), destaca-se a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), a Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos (CMH) e a Empresa Moçambicana de Seguros (EMOSE). À semelhança do mercado de capitais, a banca é tida como canal de financiamento, mas é, também, uma oportunidade de negócio rentável em Moçambique.
Prova disso é o facto de os bancos apresentarem balanços estáveis mesmo em tempo de crise. Por exemplo, em Junho do ano passado, em pleno tempo de pandemia, o activo total do sector bancário moçambicano ascendeu a 797,9 mil milhões de meticais, um crescimento de 1,48% e 11,43%, em relação a Dezembro e Junho de 2020. Será também por isso que se assiste, nos últimos anos, à entrada de novos operadores bancários no mercado, como aconteceu com o antigo Banco Único (agora NedBank) e o Acess Bank que comprou o BancABC.
OS INVESTIMENTOS DISRUPTIVOS
Segundo alguns especialistas, o País tem muito a ganhar se mantiver foco nas seguintes áreas de actividade, algumas das quais já a apresentarem desempenho visível:
TRANSPORTE E LOGÍSTICA
É transversal, associada à indústria do gás, a outros recursos naturais, à agricultura, entre outras áreas. É de difícil implementação por exigir grande capacidade financeira e investimentos públicos em infra-estruturas de mobilidade.
As renováveis são o grande motor do crescimento por causa do ainda elevado défice de acesso e da necessidade de acelerar a cobertura até atingir toda a população moçambicana dentro de oito anos.
É o negócio do momento. Uma aposta séria dos jovens, e até pública, lembrando que o Parque de Ciência e Tecnologia da Maluana está apostado em tornar-se numa verdadeira incubadora das TIC.
Com muita gente por alimentar, perante a fraca capacidade de produção interna, o espaço está aberto e começa a ser já explorado com alguma agressividade, principalmente por privados. Mas ainda há muito por explorar.
É um dos sectores mais resistentes à crise e que oferece muitas oportunidades de crescimento em economias carentes de desenvolvimento como Moçambique. É um canal de financiamento, mas é também uma grande oportunidade de negócio.
É ocasionada pelo aumento da área dos serviços e da expansão da literacia financeira, num País ainda com fraca penetração dos serviços de seguros. A concorrência tem crescido a olhos vistos e os investimentos garantem retornos.
O País já teve uma indústria têxtil pujante. Agora não há grandes investimentos na cadeia de valor, apesar do potencial de produção de algodão. A revitalização necessita de investimentos altos, mas há mercado para o sucesso.
ENERGIA
TIC
AGRO-NEGÓCIO
BANCA
SEGUROS
TÊXTIL Transportes e Logística, e as TIC
Investir em Transporte e Logística é oneroso, mas com muito espaço para crescer graças à cadeia da indústria do gás que já dá sinais de avanço em Cabo Delgado, segundo o Partner Advisory da consultora Ernst & Young, Bruno Dias. Estando também relacionada com o eventual aumento da produção alimentar, o grande obstáculo aqui é, no entanto, a disponibilidade de infra-estruturas de mobilidade, nomeadamente estradas, pelo que o Governo é chamado a fazer a sua parte para o crescimento deste sector.
Já as TIC são o futuro, basta olhar para o suporte que dão à eficiência dos serviços em todas as áreas, incluindo os novos investimentos em startups que revolucionam a forma de estar das empresas e da socieda-
QUANDO É QUE UM NEGÓCIO É CONSIDERADO BOM?
A resposta é simples: quando é rentável. Mas o que parece uma pergunta desnecessária por ter resposta fácil, cuja maioria das pessoas acredita que sabe, é capaz de esconder aspectos complexos para se chegar à conclusão sobre o potencial de um determinado business. O que quer isto dizer? A ciência explica que “um negócio lucrativo nem sempre é rentável. Há diferença entre lucratividade e rentabilidade”. Em termos de cálculos, para chegar à rentabilidade, basta dividir o lucro da empresa num determinado período pelo valor do investimento inicial. O resultado em percentual representará a rentabilidade do empreendimento no período correspondente. Por exemplo, se em fase de planeamento, com estimativa de facturação bruta mensal de 25 mil meticais e lucro líquido de 1250 meticais, o cálculo será 1.250,00/25.000,00. Portanto, o lucro líquido equivale a 5% da facturação, ou seja, a lucratividade mensal desse negócio é de 5%. Se o investimento inicial total for de 80 mil meticais e o resultado final do fluxo de caixa anual for de 3,2 mil meticais, calcula-se 3200,00/80 000,00. Assim, a rentabilidade anual desse empreendimento é de 4% ao ano. É possível, ainda, aferir que o prazo de retorno seria de 25 meses, dividindo o valor do investimento inicial total pelo resultado médio mensal do fluxo de caixa. Neste caso, o empreendimento é lucrativo e rentável.
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O agro-negócio é uma das janelas que oferecem grande oportunidades de multiplicar ganhos de investimentos em Moçambique, graças a um mercado de consumo que cresce a olhos vistos
de, cuja aposta já move o Parque da Ciência e Tecnologia da Maluana a ambicionar tornar-se no novo pólo de investimentos num futuro breve.
Ainda na área das TIC, e de olho na nova dinâmica da actividade empresarial, a consultora Ernst & Young (EY) está a capacitar jovens informáticos que já trabalham em projectos de peso dentro e fora do País. A E&M conversou com Lázaro Júnior, jovem formado em engenharia informática e que integra o quadro técnico da EY nessa área. Explicou que ele e os seus oito colegas moçambicanos fornecem serviços de análise de dados, ciber-segurança e robótica, sendo que, neste momento, um dos seus maiores clientes de peso é o Governo de Portugal, para o qual estão a desenvolver meios que ajudam a gerir os fundos relacionados com o combate à pandemia do covid-19. Garante que a sua prestação tem merecido uma apreciação positiva do Executivo português.
Patrícia Marques, da EY, esclareceu que, em Moçambique, “ainda não há muito mercado para serviços desta natureza, mas vai começar a haver. E é por isso que a equipa de novos técnicos de tecnologias está a crescer e estamos preparados para atender à crescente demanda do mercado”.
E ao nível micro?
Porque a economia não é feita apenas na perspectiva dos grandes empreendimentos, existem estudos que, baseando-se nas características dos mercados de consumo em Moçambique, publicam ideias de investimento que podem ser transformadoras ao nível dos negócios de pequena dimensão. As áreas mais consensuais, em todas as publicações disponíveis, aconselham os potenciais pequenos empreendedores a olharem para actividades como serviços de beleza,
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serviços gráficos (empresa de design gráfico para fornecer panfletos, anúncios digitais, pósteres e outros materiais visuais para pequenas e médias empresas), serviços de criação de empresas (muito procurados por pessoas que as querem abrir, mas não têm tempo nem paciência para tratar da burocracia), serviços de contabilidade, de limpeza, catering, escola de línguas, etc.
Mas há também que destacar uma tendência recente dos jovens moçambicanos. Começam a manifestar interesse e até a investir em mercados financeiros novos e com retornos elevadíssimos, como o Forex e as criptomoedas, uma área controversa por razões relacionadas com riscos de segurança e falta de regulação e, por isso, desaconselhada pelo Banco de Moçambique.
Apostar, sim! Mas Fazer Bem o
ˈTrabalho de Casa'ˊ Estruturalmente, como País, é preciso adicionar na equação do desenvolvimento outros elementos que vão fazer dos negócios a chave da mudança, defende João Gomes, líder da Jason Moçambique.
O especialista introduz este debate questionando: porque é que em concursos como o das 100 Maiores Empresas de Moçambique, da KPMG, são sempre as mesmas empresas no TOP 10 em termos de rentabilidade? Que tipo de investimento os países ricos estão a desenvolver, mas que os pobres não?
O responsável explica que, eventualmente, se vai concluir que os países ricos (com o PIB per capita acima de 15 mil dólares) falharam muito até lá chegar e percorreram um caminho em que aprenderam muito com os erros. Mas, do lado oposto, os países pobres não têm demonstrado capacidade de aprender com os erros. O que quer isto dizer?
Enquanto os países ricos disseminam, guardam e partilham a informação sobre os processos bem e mal-sucedidos do seu percurso, os menos desenvolvidos não têm instituições que o façam. “Tudo isto quer dizer que o papel do conhecimento é
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Há que destacar uma tendência recente dos jovens, marcada pelo interesse de investir em mercados financeiros novos e com retornos elevadíssimos, como o Forex e as criptomoedas
relevante no mundo do investimento em negócios, ao criar condições para que gerações seguintes de investidores minimizem os riscos de falhar”, esclareceu. Entretanto, é errado pensar que se deve enveredar pelo caminho do Copy-Paste. O correcto é escolher bem quem imitar. “Se há projectos de sucesso em Moçambique ou na África Austral, é preciso identificá-los, olhar para eles com atenção e tirar lições, mesmo que isso signifique a espionagem industrial, o que implica ser agressivo e buscar a informação a todo o custo. É por isso que os investimentos, sejam a título individual ou institucional, devem ser feitos a longo prazo e não para amanhã. É por isso que os empresários mais bem-sucedidos no mundo são os que investiram depois de estudarem muito e de acompanharem, durante muitos anos, a performance das companhias na cadeia de valor, tal como fizeram os chineses”.
Para João Gomes, o segredo está em conseguir relacionar os três pilares do grande negócio, nomeadamente a actividade agrícola, a transformação e exportação. Como? Buscando a vantagem comparativa natural, acrescentar-lhe conhecimento e depois exportar, como fez, por exemplo, a Etiópia, uma referência de produção e exportação de um produto natural “completamente fora de caixa: flores”.
No caso de Moçambique, a matriz de oportunidades vai muito além da agricultura.
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João Gomes • Partner @ JASON Moçambique
Caminhos para Industrialização: Podem os Países Africanos em Vias de Desenvolvimento ser Competitivos?
Vem este artigo a propósito da série1 que tenho dedicado ao tema da industrialização2 em África, e com o intuito de partilhar, com os meus car@s leitores possíveis respostas para a pergunta:
Em que condições podem os Países Africanos em Vias de Desenvolvimen-
to (i.e. com rendimento anual per capita < USD 1.000) competir3 industrialmente com os países de médio (i.e. >= USD 1.000 e < USD 12.000) e alto (i.e. >= USD 12.000) rendimento?
Na procura das respostas socorrer-me-ei de uma pequena fábula. Em viagem, o grande panda, transportando o pequeno dragão no seu dorso, perguntava “o que é mais importante, pequeno dragão, o caminho ou o destino?” Ao que o pequeno dragão ripostou: “a companhia, meu caro amigo, a companhia!”. Vejamos sucessivamente: 1- O destino da viagem para a industrialização competitiva dos Países Africanos em Vias de Desenvolvimento (adiante PAVD). 2- Os (im)possíveis caminhos das políti-
cas industriais nos PAVC.
1. O destino da viagem para a industrialização competitiva dos PAVD.
Uma primeira observação dramática: o gap de produtividade4 que separa hoje os PAVD dos países industrializados é muito maior do que a lacuna que os países industriais, agora desenvolvidos retardatários (i.e. USA; Alemanha), tiveram que superar, no século XIX, para alcançar a Grã-Bretanha (Chang 2003)5 .
Ou seja, os PAVD para efectuarem os estágios de transição de uma indústria baseada na agricultura (Estágio 1: Orientada para os factores naturais), para uma indústria baseada na manufactura (Estágio 2: Orientada para a Melhoria da Eficiência), e mais para além no horizonte, para uma indústria baseada no conhecimento (Estágio 3: Orientada para a Inovação [Indústria 4.0]), encontram a linha da meta colocada muito mais à frente! E a nossa dupla da fábula vai ter de percorrer uma distância maior para poder chegar lá!
Sendo que o lá (o destino da viagem) é infinitamente mais volátil, incerto, complexo e ambíguo6. Deste modo, as políticas industriais, visando a riqueza das nações dos PAVD, têm hoje que considerar a necessidade de incluir paragens em estações extra que Adam Smith, quando escreveu a famosa obra “Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações”7, jamais sonharia, tais como: - A inclusão dos mais pobres, do género e das minorias; - A inclusão da resiliência às alterações climáticas, e a revolução verde; - A inclusão digital; - A recuperação dos efeitos da pandemia COVID19; - E tudo a desenrolar-se a uma velocidade vertiginosa, numa arena muito maior que o espaço estreito das fronteiras nacionais: no mercado regio-
nal e no mercado global.
O que acima se acaba de dizer pode ser um bom teste, e uma grelha de leitura crítica, dos documentos de política e estratégia industrial dos PAVD8: saber até que ponto neles foram consideradas as cinco paragens/dimensões acima referidas como o “destino” da industrialização?
2- Os (im)possíveis caminhos das políticas industriais nos PAVD.
Sabido que a linha da meta para a jornada da industrialização dos PAVD, comparativamente ao século XIX, foi drasticamente empurrada para a frente, vamos cuidar de saber se o caminho da dupla da nossa fábula, do grande panda e do pequeno dragão, será duro e espinhoso?
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Os desafios da industrialização em África são muito mais complexos do que os dos países hoje avançados
Atalhando uma discussão longa sobre o tema da direcção da industrialização nos PAVD: nos estudos9 efectuados sobre experiências10 de industrialização (mal e bem sucedidas) constata-se uma generalizada falha simultânea nos dois
principais mecanismos de alocação de
recursos escassos: A Governação + o
Mercado.
Chamarei a esta falha a “dupla guilhotina da competitividade industrial dos
PAVD”.
O caminho inteligente e possível dos PAVD, de modo a evitarem a “dupla guilhotina”, e aproximá-los dos países industrializados, implica, na minha opinião: a) Por uma lado, superar falhas críticas da Governação através i) Do co-desenho e co-implementação com a iniciativa privada (para todos os efeitos, o motor da industrialização), e da avaliação independente dos seus efeitos, ii) de um programa nacional visio-
nário e inspirador para uma transformação industrial inclusiva,
iii) que seja “puxa-corda” (que não megaprojectos!11) e agregador de projectos em fileiras industriais12 promissoras, em termos de criação de em-
prego jovem,
iv) e da exportação de produtos ino-
vadores, com valor acrescentado
(mas que sejam, por ora, baseados em tecnologias convencionais) para ni-
chos de mercado,
iv) e com efeito de protecção degressiva (mas que não seja por via da substituição de importações!13), qualifica-
ção e integração dos produtores nacionais em cadeias de valor globais,
v) e na direcção do “destino” (ver secção acima). Assim, por exemplo na Etiópia, a indústria das flores de corte; no Chile, a indústria do salmão; na Coreia, a indústria automóvel; no Brasil, a indústria aeronáutica. b) E por outro, superar falhas críticas do mercado através i) Da substituição da prática centenária da exportação de matérias-primas (Orientação para os factores naturais)
sem prévia transformação),
ii) evitando eternizar a manutenção da “armadilha da pobreza”: i.e., especializar na exportação de commodities, com rendimentos decrescentes, no comércio internacional14 , iii) e diminuindo a grande exposição ao mercado doméstico, tipicamente pouco exigente em termos de standards de qualidade, diversidade e níveis de serviço, puxando pouco pela capacidade de inovar das empresas sediadas nos PAVD, iv) indústrias essas com alto nível de latitude para falhar prazos de entrega, níveis de qualidade, entrega de serviços de assistência técnica pós-venda que os mercados exportadores, por natureza muito competitivos, raramente toleram, v) tornando os PAVD destinos muito pouco atractivos para o IDE - Investimento Directo Estrangeiro, vi) e reduzindo drasticamente a oportunidade daqueles procederem à im-
portação/transferência de know-how.
Em conclusão
Os Países Africanos em Vias de Desenvolvimento (PAVD) enfrentam desafios de direcção/destino das suas políticas industriais muito mais complexos que os hoje países avançados encontraram nos seus Estágio 1 “Orientação para os factores naturais”, originando entre eles um alargado “gap de produtividade”.
Simultaneamente, os PAVD, no exacto momento em que enfrentam múltiplas falhas de mercado, os seus governos não dispõem nem de maturidade institucional, nem dos recursos para fazer face à “dupla guilhotina”.
Consequentemente, o caminho possível para a industrialização dos PAVD passa por estes, simultaneamente, lançarem mão de políticas que neutralizem quer as
falhas críticas de governação, quer as falhas críticas do mercado.
Até lá, e para fechar a nossa fábula, o grande panda carregará o pequeno dragão e ambos desfrutarão da companhia um do outro.
1GOMES, João “Localização Industrial - Uma ferramenta de competitividade”. Revista E&M - Outubro de 2021. GOMES, João “O Link(age) Perdido”. Revista E&M - Março 2021. GOMES, João “Servicificar, um salto de gigante”. Revista E&M - Fevereiro 2021. 2 Definição de industrialização: é um tipo de processo histórico e social através do qual a indústria se torna o sector dominante de uma economia, mediante a substituição de instrumentos, técnicas e processos de produção, resultando em aumento da produtividade dos factores e a geração de riqueza. 3 Definição de competitividade: significa a obtenção de uma rentabilidade igual ou superior aos rivais no mercado. 4 Definição de produtividade: como sendo o quociente obtido pela divisão do produzido por um dos factores de produção. Dessa forma, pode-se falar da produtividade do capital, das matérias-primas, da mão-de-obra, materiais, energia, etc.. Por isso, associa-se a produtividade à eficiência e ao tempo: quanto menor for o tempo levado para obter o resultado pretendido, mais produtivo será o sistema. 5 Chang, H.-J. (1996): “The political economy of industrial policy”, second edition, Houndmills et al. 6 Acrónimo VICA - Volátil, Incerto, Complexo, Ambíguo. 7 Publicada em 1776, composta por cinco livros, é a obra mais famosa do filósofo e economista britânico. 8 Por exemplo, em Moçambique: “PEI - Política e Estratégia Industrial 2016-2015”, Ministério da Indústria e Comércio (2016). 9 OQUBAY, Arkebe “Made in Africa – Industrial Policy in Ethiopia”, Oxford University Press. 10 ALTENBURG, Tilman “Industrial Policy in Developing Countries – Overview and lessons from seven country cases” German Development Institute. 11 GOMES, João “Suca daqui, a maldição dos recursos”. Revista E&M - Setembro 2020. 12 Explorando efeitos de agregação, através da facilitação de linkagens activas (Backward e Forward) e promovendo a eficiência colectiva. 13 GOMES, João “Síndrome da Substituição de Importações”. Revista E&M - Dezembro 2021. 14 Quando, por sua vez, os países mais avançados, apostam em produtos manufacturados, com tendência crescente de rendimentos.
É Necessária Uma Perspectiva de Longo Prazo Para Criar um Bom Negócio”
Não há melhor do que uma consultora de negócios para falar com legitimidade sobre os segredos de um bom investimento. A EY fê-lo através do seu Partner Advisory, Bruno Dias, que vê, sem surpresa, a cadeia do gás como o principal ‘gancho’ dos futuros investimentos
Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva
Sobre os obstáculos a fazer negócios no País, não há grandes novidades, eles são sobejamente conhecidos de todos. Mas quanto às formas de os ultrapassar e às áreas que vão dominar o panorama económico e, especialmente, fazer crescer novos negócios a partir de 2022, há dados que interessa explorar. Bruno Dias, Partner Advisory da EY, uma das ‘big five’ do mundo da consultoria, aborda à E&M as áreas-chave onde há potencial real de crescimento.
Quando uma entidade, individual ou institucional, que pretende investir num determinado negócio e ter sucesso, olhar para o panorama geral de Moçambique ao nível macroeconómico, para a estrutura produtiva e outros aspectos de mercado - como identificar potenciais interessados para os seus produtos ou serviços -, o que é que vê na sua frente? Mais dificuldades do que oportunidades ou vice-versa? E em que áreas estão as oportunidades?
O panorama dos últimos anos não foi animador, especialmente tendo em conta as expectativas criadas. Sabemos que houve um ano de recessão económica que não estava previsto. Mas, olhando para o futuro, há várias coisas que me surpreendem em Moçambique.
Para já, há uma camada empreendedora que não vejo noutros países africanos, ao nível das Micro, Pequenas e Médias Empresas, além de iniciativas interessantes como o Programa Emprega, recentemente lançado pelo Governo, e que visa captar e financiar pequenos empreendedores. Ao nível do tecido das empresas de pequena dimensão há muita vontade de fazer coisas diferentes e crescer. Relativamente aos grandes investimentos, os últimos anos foram atípicos, mas, porque sou optimista, acredito que as coisas vão novamente entrar nos eixos.
Quanto aos sectores promissores que temos visto, o destaque vai para os que estão à volta da cadeia de valor do gás, nomeadamente Transporte e Logística, onde vai, de certeza, haver muito investimento independentemente de ser rodoviário, ferroviário ou fluvial, incluindo investimentos ao nível dos portos. E já há movimentações de empresas internacionais para investimentos nessa área. Outro sector interessante é o da Energia.
Além do mega-projecto de Mpanda Nkuwa e dos mega-investimentos do gás, tem havido investimentos importantes ao nível das centrais de energias renováveis, nomeadamente solares.
Na matriz dos negócios da actualidade e do futuro está também o das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), que incluem as Startups, de onde algumas empresas aparecem com iniciativas de negócio interessantes.
O mundo está em constante mudança e as formas de fazer negócios vão sofrendo alterações muito rápidas, acompanhando a evolução tecnológica. Num país com muitas carências de ordem financeira e de disciplina empresarial, será ou não justo aferir que há, neste aspecto, barreiras para investir num negócio competitivo?
Há aqui um paradigma engraçado, mas que eu vejo com total tranquilidade. Por exemplo, quando começou o Covid-19, confesso que me assustei porque ficámos todos em casa e não sabia como íamos conseguir trabalhar. Mas, felizmente, tudo correu bem. Na nossa empresa, particularmente, conseguimos que as pessoas tivessem meios para fazer o trabalho remoto. Mas como muitas outras não tinham as mesmas condições, na altura assustou-me muito. Contudo, como disse, acabou por correr muito melhor do que aquilo que todos estávamos à espera. Ou seja, quando as pessoas são postas à prova sabem dar a volta às adversidades. E, em África, incluindo em Moçambique, há coisas de cariz tecnológico muito mais desenvolvidas do que noutras partes do mundo. Exemplo disso são o Mpesa e os sistemas de pagamento móveis, que estão muito mais desenvolvidos do que no mercado europeu.
Além disso, os currículos académicos dos jovens que saem das universidades, como os que estão a ser formados pela EY, se calhar não são como os europeus, mas estão a trabalhar em produtos de clientes de
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“Quando as pessoas são postas à prova, sabem dar a volta às adversidades... em Moçambique, há coisas de cariz tecnológico mais desenvolvidas do que noutras partes do mundo”, Bruno Dias
primeira linha em Angola, Portugal e noutros países europeus, integrados em equipas multidisciplinares. Portanto, é possível correr em paralelo com a velocidade da tecnologia e o mercado está a prová-lo.
Enquanto consultora com muita experiência no mercado nacional, como é que a EY vê as soluções para instalar negócios bem-sucedidos num país com estrutura produtiva fraca, com quase tudo em falta, incluindo mão-de-obra qualificada, passando pela dificuldade de acesso aos canais de financiamento? Como se resolvem estes problemas?
Moçambique faz muito bem uma coisa, que é captar financiamentos multilaterais e há vários programas desse âmbito a financiarem a classe empresarial, o que é, por si, muito importante. Depois, acredito que tudo o que for Conteúdo Local nos grandes programas de gás também vai ser importante nas indústrias transformadoras.
Isto diz-nos que vai haver a necessidade de capacitar os moçambicanos em vários domínios, não só das TIC, mas que também tem de se dar profundidade à formação em vários tipos de job roles, que são de nicho actualmente, e a questão da Lei de Conteúdo Local é muito importante por ser uma forma de financiar o crescimento da economia.
Como instalar um negócio lucrativo? Quais são os principais ingredientes que a EY aconselharia às empresas de uma economia como a de Moçambique?
O primeiro ingrediente é ter uma linha de liderança e de chefia preparada, que saiba o que é gerir uma empresa e que tenha uma visão de médio a longo prazo. Tenho a percepção de que é isso que por vezes falha aqui em Moçambique. Olha-se muito para o curto prazo e as pessoas não estão preparadas para gerir um negócio. Em segundo lugar, ter uma empresa bem estruturada e organizada nos procedimentos, nas certificações, na transparência e com alguma dimensão que seja auditável é muito importante, porque isso dá credibilidade à empresa. Por fim, o segredo está no capital humano, isto é, recrutar pessoas com as competências apropriadas para a actividade que se pretende desenvolver. Estes ingredientes vão, seguramente, compor uma boa empresa.
Sente que existe consciência da necessidade de busca destes ingredientes por parte dos empresários moçambicanos, grosso modo?
A maioria dos empresários moçambicanos ainda não estão preparados porque têm empreendimentos muito tradicionais, por vezes até familiares com foco no curto prazo, e não têm os processos montados. Mas já há alguns exemplos que começam a aparecer que contrariam esta tendência.
Com liderança visionária, na sua maioria jovens que constroem um plano de negócios no princípio da operação, vão buscar financiamento estruturado com esse plano de negócios, recrutam mão-de-obra, não em quantidade mas em qualidade, e estão preocupados pela forma como vão estruturar as suas empresas. Então, eu acho que é um caminho que se está a fazer paulatinamente.
Nota-se, nos últimos anos, uma corrida dos jovens para investirem em negócios considerados controversos e até desaconselhados por alguns especialistas por serem considerados perigosos para o equilíbrio do mercado monetário. Refiro-me a investimentos financeiros conhecidos como Forex ou as criptomoedas, entre outros. Qual é a percepção da EY a este respeito?
É um fenómeno recente e creio que, como em qualquer investimento financeiro, os investidores desta área tinham de ter formação e conhecimen-
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to dos produtos que, como se sabe, são muito complexos e arriscados. Mas é preciso admitir que são produtos que vieram para ficar, num ambiente em que, infelizmente, há uma grande falta de regulação nesses domínios. Mas estes investimentos existem e vão aparecer mais tal como as blockchains, etc. Mas não é aconselhável investir em produtos que não se conhecem. O investidor deve-se informar e perceber como funciona antes de investir em criptomoedas.
Em Moçambique, a EY já teve alguma experiência de lidar com investimentos deste tipo?
Não. Em Moçambique não temos experiência de trabalho nesses domínios. Fora, sim, mas não é uma área em que eu esteja particularmente à vontade para abordar. O certo é que investimentos a este nível são uma realidade por toda a parte.
Pelo mundo, e principalmente em África, tomando como base a experiência e o conhecimento dos mercados pela EY, quais são os tipos de investimento que considera replicáveis em Moçambique pela sua lucratividade e capacidade de gerar um boom na empregabilidade, disciplina empresarial e desenvolvimento?
Acredito que todos os temas que têm que ver com o comércio electrónico podem ser muito práticos para Moçambique, sobretudo nos tempos pós-pandemia do covid-19 em que todos nós tivemos de recorrer a ambientes de trabalho remoto.
Como disse no princípio, os sectores que vão crescer mais são os de Transportes e Logística, alguns subsectores de Energia, como as renováveis, etc.. Depois, tudo terá que ver com a digitalização dos negócios tradicionais, lembrado que em Moçambique há aceleradores desta tendência como os concursos de empresariado, como o exemplo do que foi lançado recentemente pelo Standard Bank, sem falar no Projecto Emprega, a que já me referi anteriormente.
Se a EY tomasse decisões sobre o que tem de mudar estruturalmente no sentido de abrir espaço a favor dos investimentos que considera transformadores, que obstáculos elegeria para remover?
O acesso ao financiamento é o primeiro e isso resolve-se pelos programas transversais das multilaterais, criar planos de negócio que atraiam mais financiamentos. Mas o financiamento directo pela banca em Moçambique tem juros muito altos e esse é um problema complicado. Também é um grande problema ter acesso a pessoas formadas com qualidade. Por isso, Moçambique ainda tem muito trabalho a fazer na Educação, que é o pilar de qualquer economia.
Mas a EY tem tido surpresas muito boas na sua experiência interna com a sua equipa, o que já é sinal de que as coisas estão muito melhores do que há uns anos.
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No Mundo, os Negócios Caminham para o Terreno Virtual
A ideia de que o futuro do investimento passa pelo Metaverso está cada vez mais presente e o mundo já avança nesse sentido. Em relação ao ambiente de investimentos, os mercados estão fortemente ameaçados pela prevalência de inflação elevada. A BlackRock Investment Institute fala dos riscos e oportunidades
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R
Um artigo de análise recentemente publicado pelo analista financeiro português Jorge Duarte faz uma interessante abordagem sobre os corredores em que se irão mover os negócios do futuro – mesmo que já no presente – na era do metaverso. Claro, países em vias de desenvolvimento, nesta fase, serão meros espectadores da nova realidade, mas terão de acompanhar esta evolução para não perderem o barco da digitalização.
Metaverso, que significa “além do universo”, refere-se a um mundo virtual no qual as pessoas têm a possibilidade de interagir, como na vida real, através de um avatar (um cibercorpo inteiramente digital, uma figura gráfica de complexidade variada que empresta a sua vida simulada para o transporte identificatório de cibernautas para dentro dos mundos paralelos do ciberespaço) e com recurso a dispositivos de realidade virtual.
Numa primeira fase, espera-se uma nova versão das redes sociais, cujo âmbito ainda muito está por definir. Será uma versão moderna do jogo Second Life, uma simulação virtual da sociedade que surgiu nos anos 2000, mas que nunca vingou realmente, em parte devido às limitações tecnológicas da época.
Agora, o contexto é mais favorável com headsets que permitem uma melhor imersão em mundos virtuais, maior poder de processamento dos computadores e transmissão de dados digitais mais rápida (fibra óptica, 5G).
Que ligações tem com o mundo dos investimentos?
Para as empresas de videojogos, a evolução está em curso e algumas já estabeleceram as bases de um metaverso. O exemplo emblemático é o Fortnite, onde os participantes evoluem num mundo virtual no qual, além de jogar, podem até assistir a concertos. Por seu turno, a plataforma Roblox permite a 47 milhões de utilizadores criarem os seus próprios mundos e videojogos.
Hoje, faz parte do mundo popular que atrai grandes marcas. Por exemplo, a Nike está presente no Roblox e no Fortnite, onde vende sapatos e roupas virtuais para os avatares. As marcas de luxo também estão muito interessadas nestas novas interfaces para realizarem publicidade e vendas. Na plataforma de realidade aumentada open source OVR, lançada em 2018, são vendidas parcelas de terreno totalmente virtuais. A longo prazo, imagina-se universos com múltiplas aplicações em que as empresas poderão interagir, partilhar e colaborar com os seus fornecedores e clientes, recorrendo a ferramentas de simulação e desenvolvimento, lojas virtuais para e-commerce, etc.
A corrida para o metaverso e o valor no mercado de acções
O analista português entende que, neste momento, é cedo para saber se o metaverso será uma realidade. Contudo, há empresas que serão as beneficiárias do seu desenvolvimento. E a lista de exemplos práticos é extensa: o gigante americano dos videojogos, Activision Blizzard, conhecido pelo Call of Duty e World of Warcraft, está na vanguarda na renderização e animação 3D. As acções são consideradas como sendo de qualidade e com uma valorização atractiva.
A Matterport, empresa americana recentemente cotada em bolsa, desenvolve câmaras e software usado para captar imagens 3D, sobretudo para visitas virtuais a edifícios. O grupo ainda não gera lucros e as acções são consideradas demasiado arriscadas.
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O metaverso passou a estar também no centro da estratégia do gigante das redes sociais, Meta Platforms (antigo Facebook), tendo criado uma divisão dedicada, a Reality Labs. Planeou investimentos na ordem dos 10 mil milhões de dólares, em 2021, apenas no metaverso. A aquisição, em 2014, dos headsets de realidade virtual da Oculus lançou as bases para a sua nova estratégia. O grupo ambiciona alcançar mil milhões de utilizadores do metaverso em 2030, momento em que pode tornar-se lucrativo.
Desde 9 de Dezembro do ano passado, os americanos têm acesso à Horizon Worlds, uma plataforma de
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Pode demorar até 10 anos para que as principais características do metaverso se tornem comuns… seriam precisos processadores 1000 vezes mais potentes do que os actuais para gerar metaversos atractivos
realidade virtual e a primeira versão da sua visão do metaverso. As suas acções são de qualidade e a valorização em bolsa já está elevada. A gigante do software, Microsoft, pretende criar um metaverso para o mundo empresarial. No presente ano, prevê lançar o Mesh para o Teams com a capacidade de interagir com os colegas através de um avatar num universo 3D.
Além disso, o seu jogo Minecraft, por exemplo, já permite que os utilizadores criem e visitem universos virtuais. Também está activa nos headsets de realidade virtual. Dada a sua presença na cloud, a Microsoft também pode beneficiar do volume de dados para armazenar e gerir. Tem acções de qualidade e valorização razoável, tendo em conta os importantes trunfos do grupo.
A Nintendo, empresa japonesa de videojogos, colabora em realidade aumentada com a Niantic, editora do conhecido jogo para telemóveis Pokémon Go. Também tem acções de qualidade no mercado de capitais e já está muito valorizada. Nvidia, líder mundial em processadores gráficos (GPU), necessários para a renderização gráfica de mundos virtuais, já está presente no metaverso através da plataforma de código aberto Omniverse, lançada em 2020.
Permite que os utilizadores construam mundos virtuais, a reunir num universo virtual comum. As acções da empresa têm qualidade e perspectivas favoráveis.
Real, mas, ao mesmo tempo, incerto
O novo mercado está repleto de promessas. De acordo com a Bloomberg Intelligence, o potencial pode atingir 800 mil milhões de dólares até 2024. E, a longo prazo, tudo parece possível de acordo com a evolução tecnológica. Para o CEO da Nvidia, Jen-Hsun Huang, a economia do metaverso poderá um dia eclipsar a do mundo real. Esperam-se evoluções, em particular ao nível dos headsets, que ainda não
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O analista Jorge Duarte entende que, por mais atractivo que possa parecer, o novo universo levanta muitas questões. E avança como evidência as dúvidas que os mercados lançam a este respeito: quando é que se tornará uma realidade? Existirá um único metaverso ou vários irão coexistir? O que acontecerá aos dados pessoais, segurança informática, etc.?
O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, estima que pode demorar 5 a 10 anos até que as principais características do metaverso se tornem comuns. A Intel também indicou que seriam precisos processadores 1000 vezes mais potentes do que os actuais para gerar metaversos atractivos. Todo um enquadramento e infra-estrutura devem ser criados incontornavelmente com recurso a especialistas em software de design 3D.
E quanto ao ambiente geral dos mercados, o que esperar?
Em relação aos investimentos que poderão marcar o ano ao nível global, os analistas do BlackRock Investment Institute – empresa norte-americana criada em 1988, especializada na ges-
As melhores oportunidades de investimentos, ao nível global, estão nos mercados de tecnologias e financiamento da resiliência energética, ou seja, que estão na origem da corrida para a transição energética
tão de activos, que fornece informações sobre a economia global, os mercados, a geopolítica e a afectação de activos a longo prazo e que gere 9 biliões de dólares (isso mesmo “biliões”) – acabam de apresentar um overview que vale a pena abordar.
Segundo aqueles especialistas, as melhores oportunidades de investimentos, ao nível global, estão nos mercados de tecnologias e financiamento da resiliência energética, ou seja, relacionados com a questão das mudanças climáticas e que estão na origem da corrida para a transição energética (que estabelece emissão de carbono zero até 2050). Esta mudança de paradigma, segundo a BlackRock Investment Institute, também estará na origem da aposta, no presente ano, no mercado de veículos eléctricos, que é um dos mais prósperos da actualidade no sector automóvel. Já o comportamento do sector imobiliário será o mais difícil de descortinar, visto que continua a verificar-se uma vasta divergência entre um sector que é favorável - o da Logística (que exerce forte influência sobre o imobiliário) - e sectores como o dos escritórios, que é desfavorável.
A BlackRock Investment Institute também manifesta grande preocupação em relação aos níveis de inflação que permanecerão elevados em 2022 (no patamar dos 4,5% de acordo com o Banco Mundial), podendo levar os bancos centrais a adoptarem políticas restritivas, que terá como resultado a subida das taxas de juro.
Nos investimentos, esse cenário traduz-se em empresas que crescerão menos, o que não é positivo mau para as acções e para os custos fixos. Somam-se aos juros altos e estímulos menores as novas variantes do covid-19 e a crise de energia global. São incertezas que sinalizam a perda de ímpeto das economias.
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Jorge Ferrão • Reitor da Universidade Pedagógica de Maputo Patrício Langa • Sociólogo, Faculdade de Educação da UEM
O Decenário do Ensino Superior Moçambicano – 1962-1972[5/6]: Da Génese Ideológica do Status-Quo
Adecisão pelo estabelecimento do ensino superior nas colónias portuguesas de Angola e Moçambique foi, por um lado, tomada com muita hesitação e sob pressão interna dos colonos nessas províncias do ultramar colonial, e, por outro, externa, particularmente pelas Nações Unidas, devido ao intensificar dos movimentos reivindicativos das independências dos povos Africanos que já tinham na independência do Gana, em 1957, sob liderança do carismático Kwame Nkrumah, uma fonte de inspiração.
O ano de 1960 e subsequentes viram mais de 13 colónias Africanas a ascenderem à independência. Tanto os ambientes interno, na colónia, como o externo, não eram favoráveis ao status quo. Assim, o regime foi forçado a adoptar medidas de reforma do Estado, incluindo no sector da Educação. No seu âmago, as reformas não visavam alterar o carácter colonial do regime, mas mistificá-lo ideologicamente com um rosto mais humanista, particularmente em relação ao tratamento oferecido às populações nativas não brancas.
As ideias do luso-tropicalismo, isto é, da celebração da miscigenação racial e cultural atribuída pelo antropólogo Brasileiro Gilberto Freyre ao carácter idiossincrático do colonialismo português, foram inicialmente rejeitadas por Portugal nos anos 30 e 40 do Estado Novo. No entanto, o luso-tropicalismo passou a ser a ideologia do Estado colonial implementada nos anos 60, particularmente através de reformas propostas por Adriano Moreira, ministro Português do Ultramar, como forma de mitigar a crescente contestação ao regime colonial fascista e ao status quo.
A pergunta fundamental sobre o estatuto e o papel do ensino superior na sociedade mostra-se aqui relevante. Numa altura em que Portugal ainda sonhava e agia para a manutenção do status quo, é legítimo questionarmo-nos sobre para que projecto de sociedade a nova universidade estava a ser criada? Que função social a nova universidade iria cumprir? Seria a nova universidade o laboratório, por excelência, do experimento luso-tropicalista, no contexto das colónias africanas?
A quem, então, o regime Salazarista iria confiar a gestão das novas instituições de ensino superior em Angola e Moçambique, sabendo do potencial que as universidades podiam representar para o despertar da consciência nacionalista e da necessidade de transformação profunda da sociedade? Parte das respostas a estas questões encontram-se nas lideranças que Portugal identificou para conduzir os desígnios das novas universidades em Angola e Moçambique.
Os primeiros reitores da EGUM e ULM 1962-1970/6
José Veiga Simão (JVS) foi o primeiro de três reitores coloniais e aquele que mais tempo permaneceu no posto - quase oito anos - entre 21 Agosto de 1962 e 15 de Janeiro de 1970. A sua saída da reitoria foi por via de uma promoção a Ministro da Educação Nacional. Simão foi um exímio equilibrista entre a academia e a política, granjeando simpatia em ambos os campus. Nascido em Portugal, em 1929, veio a falecer em Lisboa em 2014. Cedo se formou em ciências físico-químicas na Universidade de Coimbra (UC), em 1951, com uma licenciatura e, depois, seguiu para o doutoramento em Física Nuclear na prestigiada Universidade de Cambridge, em Inglaterra.
De Reitor da Universidade de Lourenço Marques (ULM), passou ao cargo de Ministro da Educação Nacional até à altura da Revolução dos Cravos que
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O ensino superior em Moçambique foi sofrendo influência das diversas etapas da conjuntura política
destronou o regime fascista em Portugal. Entre 1974 e 1975, foi Embaixador de Portugal nas Nações Unidas e, mais tarde (1983-1985), deputado da Assembleia da República Portuguesa pelo Partido Socialista. Recebeu vários Doutoramentos Honoris Causa, incluindo um pela actual Universidade Eduardo Mondlane (UEM) que, quanto a nós, só pode ter sido resultado da amnésia histórica dos proponentes em relação ao papel de Simão na perpetuação mistificada e demagógica do status quo do regime fascista e colonial.
Os cerca de oito anos do mandato de Simão definiram o carácter colonial da ULM, mas sempre envolto num discurso demagógico reformista. Simão foi sucedido em 1970 e, ao que tudo indica, pelo seu delfim escolhido a dedo, Vitor Pereira Crespo (1932-2014), cujo reitorado foi apenas de dois anos, até Janeiro de 1972. Crespo viria, mais uma vez, a tomar o lugar de Simão, desta vez, como Ministro da Educação Nacional.
Tal como Simão, Crespo tinha formação de base em ciências físico-químicas, tendo feito o doutoramento em Química na Universidade de Berkeley, Califórnia, em 1962. Para além da gestão universitária, onde foi Director-Geral do Ensino Superior no Ministério de Educação Nacional (1972-1973) e, posteriormente, Ministro, Crespo foi deputado e Presidente da Assembleia da República (1987-1991) pelo Partido Social Democrata (PSD). Entre Janeiro de 1972 e 25 de Abril de 1974, altura do golpe de estado em Portugal, que colocou fim ao regime fascista de Salazar, José Alberto da Gama Fernandes de Carvalho assumiu o leme da ULM. O derradeiro reitor da ULM foi o terceiro de nome José, desta vez, José Marques Correia Neves entre 25 de Abril de 1974 e Janeiro de 1976. Geólogo de formação, rumou ao Brasil onde fez carreira na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), após abandonar Moçambique com o advento da independência.
Neves assistiu à génese da EGUM e à sua elevação ao estatuto de universidade em 1968, passando a designar-se ULM. A confiança do leme de uma instituição de ensino superior nova na colónia, num contexto volátil, de crescente contestação ao regime fascista de Salazar, tinha de recair sobre figuras que inspirassem alguma tranquilidade ao regime. Com efeito, o pecado original da submissão dos reitores das IES públicas, mesmo quando a retórica sugere o contrário, tem origens coloniais, com a tentativa de mistificação da inclusão social e democrática.
Cada reitor tornou-se e manteve-se em função da habilidade de servir ao regime e à liderança política. Apenas em sistemas democráticos, nos quais a governação universitária se emancipou das pressões políticas hodiernas, como nos Estados Unidos da América e na Europa, vemos líderes de IES públicas sucederem-se sem um lobby directo com o regime político do dia.
O presidente dos EUA, seja este republicano ou democrata, exerce quase nenhuma influência na nomeação ou demissão de reitores das universidades americanas. Com isto não queremos sugerir que o acto de nomeação seja meramente académico e não político. O Estado vê na autonomia efectiva do sistema universitário uma das condições da sua própria existência e credibilidade. Não quer isto significar que as políticas públicas do sector e a gestão das instituições, particularmente as públicas, não estejam sujeitas ao beneplácito das autoridades do Governo. Todavia, no caso da ULM, a nomeação do reitor tinha a mão directa do Ministro do Ultramar e do Governador da Província, sendo o reitor membro do Governo colonial.
A Universidade de Coimbra (UC) granjeava respeito ao nível da Europa como um centro de conhecimento com alguma autonomia académica e intelectual. Era à Universidade de Coimbra e à Universidade Técnica de Lisboa (UTL) que o Governo recorria para buscar quadros para gestão e implementação das suas políticas coloniais, incluindo as relativas ao ensino superior. Entretanto, era também na Universidade onde se refugiavam os desavindos, por alguma razão, com as políticas do status quo.
Marcelo Caetano, por exemplo, considerado um dos políticos reformistas do regime fascista e colonial de Salazar, fracassadas as tentativas de convencer o regime a ser mais condescendente, dialogante e menos beligerante no assunto da independência das colónias, após falhada a tentativa de convencer Eduardo Chivambo Mondlane a integrar o Governo de Salazar, retomou a sua cátedra na Universidade de Coimbra. Ou seja, a Universidade de Coimbra teve sempre uma relação ambivalente com o regime fornecendo os quadros para a manutenção do mesmo, mas também servindo de refúgio da actividade política directa.
O regime colonial procurou encontrar quadros e intelectuais com habilidade de mistificar a continuidade da Portugalidade nas colónias, projectando um discurso de inclusão e alargamento das oportunidades educativas para os colonos e para os nativos, desde que assimilados à cultura portuguesa.
A universidade criada e gerida em Moçambique pelos seus primeiros quatro reitores era uma universidade branca na sua composição demográfica e colonial na sua ideologia. Portugal, sob pressão das Nações Unidas e dos seus aliados, particularmente os Estados Unidos da América, insistia na integridade territorial e política entre a metrópole e os territórios do Ultramar. Os documentos oficiais insistiam na ideologia de construção de uma sociedade multi-racial e pluricultural.
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