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mais académica. Sem comprometer o rigor, no CEHLA abordam-se temáticas da Antiguidade, da Idade Média ou Moderna, mas também aspetos etnográficos mais recentes, do século XX, usam-se os documentos que estão nos arquivos, mas as pessoas também são os arquivos. Deste modo ganhou-se muito, conseguiu-se um público, face à diversidade de abordagens, de temáticas e de tempos. Por outro lado, mesmo os não “encartados” na escrita da História, sentiram que aquilo que tinham para contar cabia aqui.

E entretanto, como surgiu a Zahara?

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A ideia de ter uma revista surgiu desde muito cedo. Escolheu-se o título “Zahara” pois pensou-se que tendo uma ligação a Abrantes, onde estamos sediados, é também lendário e simbólico para todo este território, que esteve ocupado pelos muçulmanos e se libertou no século XII, num processo conjunto, que fez parte da construção de um país. Fiquei com a incumbência de coordenar a revista, isto é, de ser o seu diretor. Foi uma enorme responsabilidade, mas foi também um projeto que me deu um gozo brutal, que constituiu uma aprendizagem incrível, não apenas do mundo da edição, mas sobretudo do contacto com gente boa, altruísta, disponível para trabalhar para a comunidade, naquele que se assume também como um voluntariado social, por vezes com pouca visibilidade. Para além dos colaboradores, que publicaram imagens e textos, deixo uma palavra para o Paulo Passos, autor do design inicial do miolo da revista, para o Pedro Falcão, que concebeu a capa quase até ao n.º 30, e para o Nuno Mil-Homens que paginou a publicação nos primeiros anos.

A mim, competiu-me coordenar este projeto, enquanto elo de ligação entre todos os envolvidos, vendo-me obrigado a aprender a fazer muitas coisas que nunca equacionara. Foi muito gratificante. Quis, desde sempre, que este não fosse um projeto editorial fugaz, mas sim consistente. A maneira como o pensámos, a capacidade que tivemos para envolver, tudo isso contribuiu para essa consistência, mas a responsabilidade, o “vestir a camisola”, determinou que chegássemos aqui. Em várias ocasiões foi necessário um “forcing” de que poucos se aperceberam, algumas vezes peguei no meu carro enquanto decorriam as Jornadas de História Local e fui à gráfica buscar 50 exemplares, porque quando me comprometo as coisas acontecem.

No que à “Zahara” diz respeito, devemos ter uma palavra de gratidão para a Teresa Aparício, não apenas enquanto colaboradora, mas também como divulgadora e distribuidora, pois se não tivermos leitores não faz sentido publicar uma revista.

E a parceria com a Palha de Abrantes?

O CEHLA nasceu na Palha de Abrantes. Se temos uma associação que trabalha no domínio da cultura, regionalmente, integrarmo-nos nela surge com naturalidade, pois liberta-nos de trabalho administrativo. Sempre trabalhámos autonomamente, ainda que num diálogo constante com a Palha de Abrantes e a sua direção. Recentemente, quando comemorámos os 20 anos, fizémo-lo conjuntamente com o Espalhafitas, um projeto da Palha de Abrantes para o cinema, também com duas décadas de existência, que tem uma excelente produção em termos de documentários, mas não só… tudo isto encaixa e faz sentido. Temos gente local, que trabalha por vezes com auxílio externo, garantindo qualidade, a produzir sobre o que é nosso. O caminho só pode ser por aqui, de outro modo ficamo-nos pelos “fogachos” que apenas darão mais umas notícias…

/ A capa da primeira Zahara / A Zahara número 40

São 40 edições de Zahara, milhares de páginas de história local dos sete concelhos. A revista tem um público fiel ou nota que há mais interesse dependendo dos textos e dos concelhos que lá vêm representados?

Tirando dois ou três números temáticos, apenas temos possibilidade de ter este tipo de revista, que publica aquilo que recebe. Obviamente que quem escreve já percebeu claramente que género de publicação somos. Depois é importante que, em termos de paginação se consiga algum equilíbrio e se possa captar a atenção do leitor. Obviamente que não estamos consolidados do mesmo modo em todos os concelhos que temos como alvo, pois de alguns nem sempre temos trabalhos, logo torna-se difícil fidelizar o público, enquanto noutros, por trabalharem de forma mais consistente as questões da História e do Património, é mais fácil encontrar espaços para distribuir a “Zahara” e temos mais leitores.

20 anos de CEHLA, 40 edições de Zahara. Qual é o sentimento que fica quando olha hoje para

“não posso deixar de lamentar o facto de ficarmos com revistas em armazém”

“há quem não mereça o que temos feito...”

trás e vê todo o trabalho que já foi produzido?

Já o disse, um orgulho brutal. Apesar de, a título individual, ter publicados livros na área da História, este projeto, com a sua dimensão e consistência, numa junção de tantas e tão boas vontades, provoca-me uma realização pessoal indescritível. Uma revista de História Local/Regional, nascida no seio de uma associação, com uma periodicidade semestral nunca interrompida é um projeto único a nível nacional.

Ainda que contemos com o apoio das autoridades locais, não posso deixar de lamentar o facto de ficarmos com revistas em armazém cada vez que sai um novo número. Não consigo aceitar e entristece-me que uma revista com esta qualidade e com um valor de capa irrisório, publique 500 exemplares e fique com 100 ou 200 em casa. Trabalhamos para sete concelhos, onde vivem mais de 100 mil habitantes, onde há centenas de escolas, de juntas de freguesia, de associações, dezenas de bibliotecas públicas, muitas dessas entidades e pessoas que as lideram não perceberam a riqueza que é ter esta revista. Custa-me dizê-lo, mas um dia muitos chorarão a morte da “Zahara”, ainda que nada por ela façam enquanto está viva. Perdoem-me o desabafo, mas há quem não mereça o que temos feito...

Afirmou que “tem sido um trabalho para as pessoas, para as atuais e para as vindouras, feito por uma infinidade de pessoas”. É esse o objetivo final? Deixar o registo do que foi para podermos perceber o que poderá vir a ser?

À medida que os anos passaram que as questões ligadas ao Património Imaterial foram ganhando expressão, percebemos que estávamos a fazer um trabalho, também de registo, que de outro modo se teria perdido. Quantos trabalhos saíram na “Zahara” que hoje já não seriam viáveis, porque quem deu o testemunho já não está entre nós? Esta não é a nossa única função, mas urge que este movimento de recolha se alargue, também com registos audiovisuais, cada dia que passa é tempo que se está a perder se ficarmos de braços cruzados.

Realizaram já 19 edições de Jornadas de História Local. Que balanço se pode fazer de um evento que “arrasta” as pessoas de um território a relembrar as suas memórias?

As Jornadas têm sido um importante momento de partilha e de encontro. O balanço é, obviamente, muito positivo. Em 2022 tivemos uma edição mais descentralizada, pelos concelhos que integram o projeto. Talvez o caminho deva ir por aí, aumentar o número de sessões, sem pensar em eventos de um dia inteiro, e fazê-las chegar aos vários concelhos, contribuindo para a construção deste diálogo.

Aqui chegados, também houve muitos Passeios com História. Como tem corrido esta iniciativa?

Esta é uma componente do projeto que arrancou com grande dinâmica. Porém, devido à pandemia, foi a ação do CEHLA que mais força perdeu. É uma valência que não podemos perder, pois o contacto direto com as realidades, o conhecimento das mesmas, é determinante para percebermos a sua importância. Só se ama o que se conhece.

Até onde pode ir o vosso trabalho no CEHLA? Há algum objetivo maior no futuro?

O CEHLA atinge o fim de um ciclo, quase todos aqueles que estão mais envolvidos são os mesmos de há 20 anos. É necessária uma renovação de pessoas, porque aqueles que têm estado mais ligados a tudo isto precisam de quem os auxilie. É fundamental que o projeto possa definitivamente impor-se no mundo do digital, para chegar a um público mais abrangente e, sobretudo, para captar gente mais jovem. Urge que o CEHLA assuma uma componente audiovisual, com uma base de dados de registo efetuada e disponibilizada em novos suportes.

Governo garante apoio aos trabalhadores da Central do Pego até ao fim de 2023

O Ministério do Ambiente e da Ação Climática (MAAC) confirmou no dia 15 de dezembro que, através do Fundo Ambiental, renova, até 31 de dezembro de 2023, o apoio aos trabalhadores da Central do Pego. De acordo com uma informação do Ministério este apoio é concedido no quadro de uma transição justa, num valor máximo de 3,5 milhões de euros, distribuídos por três anos (2021, 2022 e 2023).

O ministério indica ainda que a atribuição da compensação é aplicável “enquanto se mantiverem válidas as condições de elegibilidade do beneficiário, decorrendo o prazo de apresentação das candidaturas ao incentivo desde o dia 9 de dezembro de 2021 até 30 de novembro de 2023.”

Na mesma informação é indicado que o pagamento será efetuado mensalmente para a conta do beneficiário identificada no processo de submissão, e este “receberá a notificação através da plataforma do Fundo Ambiental”, assim que estejam reunidas as condições para o exercício do direito à compensação, até final de 2023.

Recorde-se que a 27 de novembro o presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, tinha indicado a um grupo de trabalhadores da Central do Pego que “todos aqueles que ficarem desempregados irão ter apoio nos empresas prestadoras de serviços à Central, bem como na dinâmica económica do território onde se insere.

O Fundo Ambiental abriu, em meados de dezembro de 2021, a fase de candidaturas ao mecanismo de compensação para uma transição justa, destinado a mitigar impactos socioeconómicos aos trabalhadores da Central Termoelétrica do Pego, que para se candidatarem ao apoio devem, nomeadamente, frequentar formação.

Além dos 28 trabalhadores que receberam as cartas de despedimento da Tejo Energia, a medida, que implica a adesão ao processo formativo, abrange também os trabalhadores de empresas prestadoras de serviços identificados como estando a trabalhar exclusivamente na central a carvão.

O Ministério dá conta ainda que, aquando o encerramento em 2021, estava em curso o “Procedimento concursal para a atribuição de reserva de capacidade de injeção na rede elétrica de serviço público do Pego” e o “Apoio à diversificação económica para uma Transição Justa no Médio Tejo ‘INOVAÇÃO PRODUTIVA’”. Projetos que segundo o governo “contribuirão para gerar novos empregos no território em apreço, pelo que importava mitigar os impactes socioeconómicos sobre os trabalhadores mais diretamente afetados.”

O governo diz que o “Mecanismo de compensação para uma transição justa” prossegue os objetivos de uma transição justa, nomeadamente na componente social e de proteção dos trabalhadores afetados pela transição para uma economia neutra em carbono.

Nota ainda o Ministério do Ambiente que o projeto vencedor do concurso para o Ponto de Injeção na Rede da Endesa “permitirá absorver parte destes trabalhadores”, pelo que o apoio aos ex-trabalhadores da Central do Pego vai manter-se em 2023.

seus vencimentos, de acordo com aquilo que era o vencimento que recebiam na central, e irão ter formação”.

A Central Pego, nomeadamente os dois grupos a carvão, encerrou a sua atividade a 30 de novembro de 2021, com implicações no emprego direto e indireto, junto das

Jerónimo Belo Jorge

SMA atualizam tarifas da água, RSU e saneamento para 2023

// Na reunião de Câmara de dia 13 de dezembro, foram aprovadas por maioria, com o voto contra do vereador Vasco Damas, eleito pelo Movimento ALTERNATIVAcom, as propostas de atualização do tarifário dos Serviços Municipalizados de Abrantes (SMA) para o ano de 2023.

“A elevada incerteza e as consequências da guerra, sobretudo no mercado energético internacional, com a escalada dos preços da energia, e não se tendo realizado uma atualização tarifária em 2022 a pensar nas famílias e empresas” foram as razões apontadas pelo presidente da Câmara de Abrantes para a “necessidade de proceder à atualização das tarifas da água, resíduos sólidos e urbanos (RSU) e saneamento para o ano de 2023”.

Manuel Jorge Valamatos considerou “esmagadoras” as questões que se prendem com o preço da eletricidade e adiantou que “o orçamento inicial para 2022 era de 430 mil euros e neste momento, para 2023, temos um milhão e 600 mil euros. Um milhão a mais” do que no ano anterior, “para um orçamento de sete milhões de euros” dos Serviços Municipalizados. O autarca observou ainda os preços dos combustíveis, sendo que os SMA “têm oito camiões diariamente na rua, a fazerem centenas de quilómetros”. Nesta área, o aumento é de 70 mil euros. Na fatura de produtos químicos, o aumento é de 40 mil euros. Já no que diz respeito ao aumento dos salários, subsídio de refeição ou novas contratações, o aumento é de 260 mil euros nos Serviços Municipalizados.

Manuel Jorge Valamatos afirmou também que “aos dias de hoje, não somos o concelho que tem a fatura mensal mais elevada, (...) temos taxas médias no que é o Médio Tejo e a região”.

As tarifas

Assim sendo, no que se refere à fatura do Ambiente para 2023, num consumo de 10 m3 de água, os clientes domésticos irão pagar mais 3,36€ por mês e no caso dos clientes não domésticos, num consumo de água de 20 m3, vão pagar mais 15,67€ por mês (valores com IVA incluído). De referir que a maioria dos clientes domésticos dos Serviços Municipalizados de Abrantes consome uma média de 6,3 m3 de água, o que significa que nem todos terão o aumento de 3,36€/mês.

A tarifa relativa ao tratamento dos resíduos sólidos e urbanos também terá uma atualização em 2023, sendo que para um cliente do tipo doméstico, com um con/ A fatura de Ambiente poderá sofrer um aumento de até cinco euros para os consumidores domésticos

sumo de 10 m3 de água, haverá um aumento de mais 0,82€/mês (valor com IVA) de tarifas de RSU e no caso dos clientes não domésticos, com um consumo de água de 20 m3, irão pagar mais 2,56€ por mês (valor com IVA incluído).

Ao nível do saneamento, as tarifas terão um aumento com base no contrato de concessão existente com a Abrantáqua – Serviço de Águas Residuais Urbanas do Município de Abrantes, que se revela de mais 0,80€/mês para um cliente doméstico com um consumo de água de 10 m3 e no caso dos clientes não domésticos, o aumento será de mais 2,34€ por mês (valores com IVA incluído).

Manuel Jorge Valamatos, destacou o investimento superior a 10 milhões de euros que a Abrantáqua realizou ao nível do saneamento no concelho de Abrantes e referiu que 94% da população do concelho de Abrantes é servida por redes fixas de saneamento.

No global da fatura, o aumento em 2023 será de 4,99€/mês (valor com IVA) para um consumo de 10 m3, o que representa um acréscimo de 0,17€ por dia, “mas o consumidor normal não sentirá este aumento, que é inevitável, porque a média mensal dos clientes do tipo doméstico é de 6,3 m3”, referiu o autarca.

Relativamente aos clientes comércio/indústria, esta atualização de tarifas irá ter um impacto de mais 20,57€/mês para um consumo de 20 m3 de água, o que representa um aumento de 0,69€/ dia (valores com IVA incluído).

“Com uma utilização mais racional da água, podemos minimizar este aumento”, salientou Manuel Jorge Valamatos, apelando à população para que haja uma poupança efetiva da água e se evite o desperdício.

O presidente da Câmara Municipal de Abrantes destacou ainda a existência dos tarifários especiais dirigidos a famílias economicamente mais vulneráveis, nomeadamente o tarifário social para agregados familiares mais carenciados economicamente, em que a redução da fatura é de 42%, e ainda o tarifário para as famílias numerosas em que os agregados familiares constituídos por cinco ou mais elementos têm uma redução de 5% na fatura.

Manuel Jorge Valamatos concluiu referindo que “atendendo ao contexto atual e às perspetivas para 2023, esta atualização das tarifas é indispensável, pois sem a mesma não é possível manter o equilíbrio económico e financeiro dos SMA e, consequentemente, manter a qualidade e disponibilidade dos serviços prestados e uma capacidade mínima de investimento”, não descartando que “logo que haja condições e normalização dos preços da energia e dos combustíveis, estamos disponíveis para corrigir e atualizar as taxas dos SMA”.

“Aos dias de hoje, não somos o concelho que tem a fatura mensal mais elevada, (...) temos taxas médias”.

A votação da oposição

Na votação da proposta, o vereador Vasco Damas mostrou-se “sensível aos argumentos” utilizados pelo presidente da Câmara, “nomeadamente em termos do disparar dos preços e da inflação ser neste momento aquilo que é”, mas afirmou que “há também alguns sinais que nos mostram que pode estar para breve uma retoma, inclusivamente já nos próprios combustíveis”. Assim, relativamente à proposta da maioria socialista para os tarifários, o vereador lembrou que “o ano passado, o aumento proposto foi de 0,10€, este ano é de 3,36€ só na água, o que pressupõe um aumento 33 vezes superior ao ano passado”. Vasco Damas considerou “não haver necessidade de fazer um aumento destes, tão grande, em relação à fatura da água”, lembrando que “este tem sido um assunto que nos tem distanciado desde o início”.

O vereador eleito pelo Movimento ALTERNATIVAcom votou contra a proposta.

Por parte do PSD, o vereador Vítor Moura justificou a sua aprovação da proposta pelo facto de “várias vezes aqui termos destacado quando Abrantes era cimeira no custo da fatura do Ambiente. De facto, não éramos o primeiro classificado na Comunidade Intermunicipal mas éramos o segundo. Agora, apesar deste aumento, que lamentamos, como é evidente, temos que reconhecer que há meia dúzia de municípios (talvez uns sete ou oito) na Comunidade Intermunicipal que já nos ultrapassaram no custo dessa fatura”. Para Vítor Moura, “Abrantes está a aguentar-se em termos da subida exponencial que se está a verificar nesta matéria”.

O vereador social-democrata disse ainda ser “verdade” que, comparativamente com os municípios da nossa região, “a situação está diferente a favor dos abrantinos”. Considerou ainda o aumento dos tarifários como “lamentável, mas talvez inevitável” porque, como afirmou, “compreendemos que nos custos com a energia, sobretudo, a Câmara teria de suportar um enormíssimo défice”. Acrescentou que “quando os Serviços Municipalizados não apresentarem lucros, o orçamento da própria Câmara é que tem que cobrir esse défice”.

Vítor Moura lembrou ainda a “perspetiva do PSD”, que defendeu que “deveria ter sido na devolução do IRS e no atenuar dos custos com o IMI que a Câmara podia e deveria ter atuado. Era o mínimo que deveria ter feito em sede de orçamento para 2023”.

Patrícia Seixas

Jorge Rosa agraciado com medalha de ouro da NERSANT

// No dia 13 de dezembro a Nersant organizou um jantar de homenagem a Jorge Rosa que durante 16 anos esteve como presidente e CEO da Mitsubishi Fuso Truck Europe e que desempenha desde 2017 o papel de presidente do Conselho Geral da associação.

A vida profissional de Jorge Rosa, engenheiro de Qualidade que entrou na Metalúrgica Duarte Ferreira em 1980, mistura-se e confunde-se com a Mitsubishi, ex-Tramagauto e atual Mitsubishi Fuso Truck Europe (MFTE).

Jorge Rosa deixou o cargo de presidente e CEO da MFTE no final de 2021, função que desempenhava desde 2005. Foi o final de um ciclo que, soube-se esta terça-feira, dia 13 de dezembro, foi preparado pelo próprio CEO da fábrica por forma a fechar um ciclo de liderança nesta unidade.

Jorge Rosa foi agraciado com a Medalha de Ouro da NERSANT, a mais alta distinção da associação, que a recebeu das mãos da Ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, do Presidente da Câmara Municipal de Abrantes e representante da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, Manuel Valamatos, do Presidente da AIP, José Eduardo Carvalho e do Presidente da Direção da NERSANT, Domingos Chambel.

Na plateia estavam diversas personalidades ilustres, tais como Nuno Mangas, Presidente do Compete, Maria Salomé Rafael, Administradora da Escola Profissional de Salvaterra de Magos, do Vale do Tejo, de Coruche e Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, associados NERSANT, outras individualidades e entidades da região.

Comecemos pelo fim. Jorge Rosa, após receber a medalha de ouro subiu ao púlpito para o agradecimento, lembrando o início conturbado da sua passagem pela Metalúrgica Duarte Ferreira e do tempo de crise económica e de “fome” no Tramagal por via de um desmembramento da Metalúrgica. E foi na sequência do desmembramento da MDF, que chegou a ter 2 mil empregados, que nasceram três empresas nos três ramos da gigante. Uma no setor metalúrgico, outra no metalomecânico e outro no setor automóvel. Jorge Rosa ficou a gerir esta última e face a um cenário que poderia ser dramático, com o fim da produção da Berliet, foi à procura de soluções.

Numa primeira fase com o importador da Mitsubishi em Portugal, depois na Mitsubishi Europa até à integração na casa-mãe. E, mais recentemente, com a integração no grupo alemão Daimler. De uma faturação de 4 milhões de euros a empresa do Tramagal passou a faturar mais de 200 milhões, atingiu este ano a neutralidade carbónica e já produz um modelo Canter cem por cento elétrico.

“Sinto-me orgulhoso? Sim. É um trabalho só meu? Não. É de muitas pessoas.” E depois até brincou com a sua longevidade à frente da fábrica: “por mim passaram vários presidentes de Câmara (de Abrantes), três imperadores (do Japão) e cinco Presidentes da República (de Portugal).

Há quase um ano afastado fisicamente garante, sem problema, que não se afasta mentalmente de uma longa vida a caminho da MFTE. E espera vir a colher algumas uvas dos bacelos plantados à entrada da empresa.

A primeira de várias homenagens em agenda

Domingos Chambel, atual presidente da direção da Nersant, traçou aos convidados a fita do tempo de Jorge Rosa no Tramagal.

Jorge Rosa iniciou a sua carreira na empresa em 1980, no departamento de Qualidade na fábrica do Tramagal, da antiga Metalúrgica Duarte Ferreira (MDF), tendo exercido várias funções em diferentes setores da empresa, chegando à presidência em 2005, na atual Mitsubishi Fuso Truck Europe, S.A. O empresário e gestor, que esteve sempre dedicado ao desenvolvimento e crescimento, em organizações regionais e nacionais, integra ainda a presidência da Mobinov, a vice-presidência da ACAP, sendo ainda mobilizador do CR INOVE. Em 2017, assumiu o cargo de presidente do Conselho Geral da NERSANT, cargo que exerce até aos dias de hoje.

“Sendo a NERSANT a maior associação regional, focada no crescimento empresarial e no desenvolvimento da região, não poderia deixar de reconhecer o mérito deste empresário e gestor que tanto deu à nossa região e tanto contribuiu para o desenvolvimento regional”, referiu o presidente da direção da NERSANT, no discurso de homenagem proferido durante o jantar.

E aos jornalistas Domingos Chambel explicou que esta homenagem é a primeira de uma série que a associação que lidera está a preparar por forma a distinguir as personalidades que têm contribuído para a criação de riqueza e para o combate à desertificação desta região do país.

O presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, também agradeceu a vida dedicada à empresa e, ao fim e ao cabo, ao concelho de Abrantes. O autarca vincou como fundamental na ligação da fábrica ao grupo Daimler. “Até à neutralidade carbónica, conseguida há pouco tempo, Jorge Rosa desempenhou muitos cargos e em muitas funções.

Maria do Céu Antunes, ministra da Agricultura, foi convidada para a homenagem tendo começado por referir: “sinto-me em representação não do governo ou da minha área de agricultura, mas por ter sido presidente de câmara e vereadora e por saberem pela amizade que nutro pelo engenheiro Jorge Rosa.”

De notar que a MFTE tem [em 2021] 600 empregados e uma produção anual de 9 mil unidades. Em 1991 faturava 4 milhões de euros, quando saiu da empresa, Jorge Rosa deixou a Mitsubishi Fuso Truck Europe a faturar mais de 200 milhões de euros.

Jerónimo Belo Jorge

Mais de 90 mil vacinas depois, Centro de Vacinação Covid encerra as portas

// O Centro de Vacinação Covid-19 (CVC) de Abrantes, instalado nos Bombeiros Voluntários de Abrantes, encerrou portas no dia 29 de dezembro. Iniciou funções a 24 de fevereiro de 2021, no Quartel dos Bombeiros de Abrantes, equipado com 4 postos de vacinação, área de recobro, circuito único de entrada e saída de utentes e disponibilizadas cadeiras de rodas para pessoas com mobilidade reduzida.

Na manhã de dia 27 de dezembro, foi feita uma homenagem a todos os que de alguma forma contribuíram para o sucesso da vacinação na região. O presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, a diretora do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Médio Tejo, Diana Leira, e a vereadora Raquel Olhicas agradeceram a todos os profissionais que estiveram envolvidos no processo de vacinação contra a Covid-19.

Diana Leiria, diretora executiva do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Médio Tejo, agradeceu aos profissionais de saúde que disseram presente numa altura difícil para toda a sociedade.

As primeiras palavras foram de agradecimento à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Abrantes “que nos permitiu estarmos aqui, em quase dois anos de ocupação do espaço e com quem trabalhámos lado a lado, numa verdadeira parceria”.

O apoio da Câmara Municipal “desde o início desta campanha” não foi esquecido, relembrou que “nem sempre foi fácil” pois tem sido uma campanha “marcada por bastantes alterações às normas e que nos obrigou a ter uma flexibilidade muito grande e uma capacidade de adaptação em muito pouco tempo”. Do trabalho da Câmara Municipal, Diana Leiria destacou o transporte das pessoas, a divulgação de informação “ou ajudando-nos aqui com a logística”.

Naturalmente, agradeceu depois “aos meus profissionais, eles sim, são aquelas pessoas que permitiram que a Covid não ceifasse mais vidas ou, pelo menos, reduzisse a mortalidade e as complicações por Covid”.

A equipa que esteve no CVC de Abrantes ao longo deste tempo “conseguiu administrar 90 mil vacinas Covid-19, cerca de 85 mil dadas neste espaço e as restantes na comunidade, designadamente nos lares e em instituições similares”.

A diretora executiva do ACES do Médio Tejo referiu que “neste momento, temos mais de 85% da população completamente vacinada, com esquema vacinal completo” e deu conta que, apesar de uma menor adesão de alguns grupos que foram referenciados pela DGS,

“Temos tido em Abrantes uma taxa de vacinação muito superior à média nacional”

“temos tido em Abrantes uma taxa de vacinação muito superior à média nacional”.

Diana Leira agradeceu ainda à vereadora Raquel Olhicas, enfermeira que iniciou a coordenação do Centro de Vacinação de Abrantes, e à enfermeira Lucinda Ferreira “que fez a continuação deste trabalho e que levaram esta tarefa a bom porto”.

A responsável explicou ainda que a partir do próximo mês de janeiro, a vacinação contra a Covid-19 passa a ser realizada no Centro de Saúde de Alferrarede e nas Unidades de Saúde Familiar Beira Tejo, em Rossio ao Sul do Tejo, e D. Francisco de Almeida, em Abrantes.

“Não deixámos ninguém para trás”

O presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, também agradeceu a todos os intervenientes diretos e indiretos envolvidos nesta operação, relembrou os primeiros tempos da pandemia e de como soube que era necessário erguer o Centro de Vacinação, que contou com o apoio dos Bombeiros locais, do RAME – Regimento de Apoio Militar de Emergência e da Delegação de Abrantes da Cruz Vermelha Portuguesa, bem como o susto que apanhou ao tomar conhecimento de que o Hospital de Abrantes iria ser um hospital de referência Covid. “Todos os profissionais fizeram parte de um trabalho extraordinário e todos se devem orgulhar do que foi feito. Fizemos todos o melhor que podíamos para ajudar as nossas comunidades e o nosso país”, disse.

O autarca falou de “uma história enorme, temporalmente”e fez referência a uma letra de umas das suas cantoras favoritas, Mafalda Veiga, ao afirmar que “quando dói, é devagar”. E disse ter tido essa perceção, numa fase inicial, quando o tempo teimava em não passar.

Confessou-se “atrapalhado” quando Casimiro Ramos, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Médio Tejo lhe comunicou que Abrantes seria um dos hospitais de referência para os doentes Covid-19. “Abrantes? Isto vai ser uma loucura”, foi o pensamento no momento. Volvidos dois e olhando para trás, “parece que foi uma brincadeira mas não foi. Foram momentos muito duros e dois anos de grande sofrimento”.

E para que ninguém faltasse à vacinação por ausência de transporte, o presidente da Câmara Municipal de Abrantes recordou que a autarquia disponibilizou a linha direta e gratuita de transporte, que contou com o apoio das Juntas de Freguesia, Bombeiros e Cruz Vermelha, e que fez mais de 5 mil transportes de munícipes desde a sua freguesia até ao Centro de Vacinação. “Não deixámos ninguém para trás”, salientou Manuel Jorge Valamatos.

Na ocasião, o presidente da Câmara Municipal de Abrantes entregou a todos os profissionais presentes um certificado de reconhecimento onde o Município de Abrantes agradece “toda a dedicação, profissionalismo e inexcedível contributo pelo trabalho realizado no Centro de Vacinação de Abrantes durante a pandemia Covid-19”.

Durante a sua atividade, o CVC de Abrantes esteve muitas vezes aberto aos sábados e domingos para administração de vacinas, inclusive às crianças e jovens. Em julho de 2021, o CVC de Abrantes vacinou cerca de 800 utentes por dia e no fim de semana de 21 e 22 de agosto de 2021, foram vacinados mais de 730 jovens, entre os 12 e os 15 anos de idade, de Abrantes, Constância, Sardoal, Mação e Ponte de Sor.

A vacinação passa agora para o Centro de Saúde de Alferrarede e Unidades de Saúde Familiar.

Patrícia Seixas

Raquel Olhicas:Do Centro de Vacinação Covid para a Câmara

// A enfermeira que teve a responsabilidade de coordenar o processo de vacinação no Centro de Vacinação Covid de Abrantes, Raquel Olhicas, falou-nos desses primeiros tempos. Pelo caminho, alguns momentos difíceis mas assumiu que “vim sem medos, apesar de saber que vínhamos lutar, literalmente, contra um vírus completamente desconhecido, nunca baixámos os braços”.

Raquel Olhicas soube “de imediato” que o mais necessário no momento era “motivar a equipa” até porque “estas guerras não se aprendem nos livros, aprendem-se com a prática e nós não tínhamos prática a lidar com uma situação completamente desconhecida”.

Reconheceu que “uma coisa boa é termos sempre enfermeiros muito motivados e a nossa equipa da Unidade de Cuidados na Comunidade é constituída por pessoas muito jovens e recetivas à aprendizagem de situações novas”.

“Nunca me senti sozinha”, confessou, lembrando o apoio da equipa, da Câmara, dos Bombeiros, da Proteção Civil...

No entanto, lembrou que “o que mais nos custou foi estarmos a recomendar a utilização de práticas adequados e depois vermos lá fora pessoas a prevaricarem e a não cumprirem com essas regras, a serem veículos transmissivos da infeção”.

Dos momentos mais complicados, recordou, foi a administração de uma determinada vacina que “numa tarde, tivemos sete jovens que ficaram sem qualquer reação, caíam literalmente. Isso fez com que nós também ficássemos muito preocupados. Dois jovens tiveram mesmo que ser encaminhados para

/ Raquel Olhicas assumiu o CVC “sem medos”

o hospital, com alterações ao nível do ritmo cardíaco e outras situações mais graves. Também nós nos equacinámos se vacinávamos ou não pois as pessoas começaram a ficar muito céticas. Felizmente, conseguimos uma taxa de cobertura muito elevada”.

“Vim sem medos, apesar de saber que vínhamos lutar contra um vírus completamente desconhecido”

Também os dias em que eram vacinadas 1100 a 1200 pessoas foras momentos complicados para os profissionais de saúde, com filas enormes e dias de muito calor em que a preocupação era manter as pessoas em ambiente fresco e hidratadas.

Para além de todas as entidades envolvidas no processo, Raquel Olhicas também destacou “os bons comportamentos das pessoas” para o sucesso da operação.

Pouco depois, Raquel Olhicas passava para a Câmara Municipal, responsável pelo pelouro da Saúde e pôde olhar de outra forma para o trabalho que estava ser feito no terreno.

“Lembro-me que estava aqui, precisamente no Gabinete N.º1, quando o presidente da Câmara veio falar comigo e me convidou para o desafio. Eu aceitei imediatamente”, disse.

Raquel Olhicas explicou que pensou na altura que era bom ter “uma visão mais macro de toda a saúde do nosso concelho” pois considera importante “termos conhecimento de fundo sobre as realidades para conseguirmos fazer um trabalho com mérito e um bom desempenho”.

Contudo, apesar de desempenhar o cargo de vereadora, manteve “sempre uma ligação muito íntima com a enfermeira Lucinda Ferreira e ia acompanhando”.

Para Raquel Olhicas, “estar na Câmara é ter uma visão tipo helicóptero, mas estar presente no dia a dia nos problemas que vão aparecendo no quotidiano”.

Patrícia Seixas

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