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Atenção Esta revista foi feita para criar debates, expandir mentes, mudar rumos, sem qualquer influência de partido político, ONG, sindicato, opinião ou credo. Esta edição é dedicada a todos aqueles que ainda acreditam nas ruas e na força existente na ocupação dela. LIBERDADE
Manifesto
Um ano se passou desde o lançamento da primeira edição de nossa revista. De janeiro para cá aconteceu muita coisa, dar atenção para a periodicidade das edições ficou em segundo plano. Queríamos dar mais importância ao conteúdo que traríamos nesta segunda edição, somos uma redação pequena, sem espaço físico, trabalhamos na rede, na rua, pois é lá que nos conectamos ao mundo real e lá praticamos de verdade um jornalismo independente e ativista. Fomos presos logo após a Revista Megafonia Nº1 começar a ser divulgada, não por nosso conteúdo, mas por cobrir um ato contra a Copa do Mundo em janeiro de 2014. Após este fato, continuamos a participar e principalmente apoiar cada protesto, durante esse período sofremos violência por parte da Polícia Militar, perseguição por parte da Polícia Civil, chegando ao ponto de recebermos intimações em nossas próprias casas por investigadores do DEIC. Tudo isso mudou nossa cabeça de jornalistas ainda recém-formados, o que não quer dizer nada, pois aprendemos mais na rua do que na faculdade. Nossa visão sobre aquilo que havíamos achado que poderia ser jornalismo independente e verdadeiro se multiplicaria em novas ideias e conceitos, modificando não só a cara da revista, mas principalmente, sua linha editorial. Esta edição foi adiada por diversos meses, pois junto à produção da Megafonia, estávamos levantando outros projetos da editora como um todo. Nesse tempo ganhamos amigos, colaboradores, curtidores em nossa página do Facebook (que acabou sendo nosso principal veículo de informação), criamos um coletivo fotográfico, uma rádio web e finalmente nosso site com matérias diárias que vão além do nosso aplicativo. Começamos uma nova etapa com esta edição, em mais de 100 páginas, com um conteúdo nostálgico para quem ocupou as ruas ano passado. Hoje temos a identidade que procurávamos há meses, somos libertários de coração, anarquistas de espírito, acreditamos na luta popular, somos contra a repressão e todo o sistema policial, não só brasileiro, mas mundial, acreditamos em um mundo sem fronteiras, sem dinheiro, sem impérios, sem divisões, sem classes, unificado em uma nação internacional e cibercultural. Somos parte desse organismo que tanto amedronta o poder, somos a voz que sai do megafone, o olho que sobrou após a bala de borracha, somos todos Amarildo, vingando sua morte e a de todos os outros que morreram pelas mãos sujas do Estado brasileiro. Somos pedra e molotov.
Um produto da Editora Megafonia CNPJ: 13.899.956/0001 Publisher: Kauê Pallone - MTB - 74671/SP Redação Editor: Kauê Pallone Reportagem: Amanda Ivanov, Kauê Pallone e Ronaldo S. Lages Arte: Editora Megafonia Colaborou para esta edição: Felipe Paiva (Coletivo RUA), Sebá Neto (#FOTOGUERRILHA) Publicidade: Editora Megafonia Plataforma de publicação: MagTab Contato [redacao@megafonia.info] Todos os direitos reservados
Índice... Desmilitarizaaaaaaaaaaaa! O grito das ruas pede a desmilitarização da polícia e da política Ruas que gritam Um retrato da arte urbana Ensaio SP/RJ Ensaio Santa Tereza/RJ Entre deuses, astronautas, ovnis e algumas verdades. Uma visão sobre a arqueologia moderna para dissolver o mito
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w w w. m e g a f o n i a . i n f o - 0 8 / 2 0 1 4 Menos concreto mais clorofila. A luta incansável pelo verde em meio ao cinza da cidade. Democracia mascarada Um repúdio aos resquícios de uma ditadura que se veste de democracia. Não Teve Copa Reunimos as melhores fotos que fizemos durante a luta contra a Copa do Mundo em 2014.
Vida de prostituta O dia a dia de garotas de programa em São Paulo, reflete a fasceta de uma classe trabalhadora. A cidade de São Paulo Um ensaio sobre o cotifdiano paulistano, produzido por Felipe Paiva do Coletivo RUA. Projetando resistência Coletivo ilumina patrimônios com a voz das ruas
Literatura sem deus. Brisas e estômagos. Uma análise sobre o mercado de Pixo é arte. Morte de pichadores em SP reas- Um ensaio sobre especiarias e livros ateístas cendo o debate sobre o precon- paladares entorpecidos. ceito contra renegados urbanos. Música rápida sem Megafonia para averiguação fins corporativos. Nosso relato sobre a repressão Um dia na cena grindcore de SP. Pq meu rosto é Tapado. Segunda Marcha Anti-Fascista em São Paulo (Kauê Pallone/#FOTOGUERRILHA
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MEGAFONE
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DESMILITARIZAAAAAAAAAAAAAA! O grito da rua pede a desmilitarização da polícia e da política
Por Kauê Pallone
E
ra mais um dia de repressão na Operação Delegada para o policial militar Henrique Dias Bueno de Araújo, 31, na capital paulistana, oportunidade para tirar uns trocados a mais e testar o seu aval para bater, prender e matar. Afinal, o PM já havia assassinado um morador de rua há seis meses antes do que viria acontecer neste dia. Desta vez, no dia 18 de setembro de 2014, na Lapa, região oeste de São Paulo, Araújo e mais dois PMs prendiam um camelô que hipoteticamente não tinha condições legais para trabalhar, condições estas, impostas pelo Estado através de leis segregadoras. Para quem não obedecer essas leis, o Estado, através da Polícia Militar, manda pau. Assim como essas necessidades criam a violência da repressão policial, também criam cidadãos insatisfeitos, anti-heróis da sociedade. É o caso do piauiense, Carlos Augusto Muniz Braga, de 30 anos, pai de quatro filhos, que indignado com a abordagem policial tentou retirar o spray de pimenta da mão de Araújo, que abusava sem dó, nem piedade do instrumento repressivo nos olhos de quem tentava chegar perto. Foi quando Araújo, percebendo a tentati-
va do camelô de retirar de sua mão a arma não letal, atira contra a cabeça de Carlos. A vítima anda alguns metros, mas não resiste e cai em seguida. Araújo disse que o tiro foi acidental, fato facilmente desmentido por um vídeo gravado pela população. Ele foi preso em flagrante, mas solto logo depois após o Tribunal de Justiça de São Paulo conceder habeas corpus revogando sua prisão preventiva. Já Carlos Braga, morreu no local. Casos como esse são comuns no Brasil, só no ano passado em São Paulo, no período de janeiro a junho, 434 pessoas foram mortas pelas mãos da PM. É como se 5 pessoas fossem mortas a cada 2 dias pelo Estado através da Policia Militar, segundo dados do Centro de Inteligência da própria PM e da Corregedoria do Estado (órgão fiscalizador da corporação). Em comparação ao ano de 2013, no qual 269 pessoas foram mortas no mesmo período, a alta é de 62%. De acordo com dados produzidos pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, de 1980 a 2007, morreram em São Paulo 5.601 pessoas pelas mãos da Polícia
MEGAFONE Militar, no Rio de Janeiro foram 3.584 pessoas mortas no mesmo período. Já em todo o Brasil, de acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, só em 2012, morreram 1.340 pessoas nas mãos de policiais militares. Em 2013, ao menos 1.259 pessoas morreram por ações policiais (Civil e Militar) em 22 Estados brasileiros, de acordo com um levantamento feito pela BBC Brasil. As estatísticas também revelaram 316 mortes de policiais no mesmo ano. Este cenário de desconfiança sobre os agentes da segurança pública levanta poeira diante do debate sobre a reforma no sistema atual, suas contradições, tabus e a tão sonhada desmilitarização da polícia. A PM nasceu durante o regime militar no Brasil, em 1969, após a criação de um decreto-lei da Ditadura, que militarizou as polícias do país – antes conhecidas como Força Pública e Guarda Cívica – transformando-as em um braço do Exército. Com a Constituição de 1988, ao invés da Assembleia Constituinte formular um novo modelo que não trouxesse resquício dos tempos de Ditadura Militar, preferiu-se manter a Polícia Militar e seu modelo tradicional, além de manter suas respectivas organizações usadas na repressão política do regime, como as Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (ROTA) e o Batalhão de Choque. Ambos batalhões são responsáveis pelas principais queixas de despreparo e de um possível resquício da Ditadura. “A militarização não é um resquício da ditadura, é a estruturação dela! Toda ditadura se sustenta com base em uma estrutura verticalizada e centralizada, logo, para que garanta
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esse modelo é necessário que o aparelho repressivo do estado seja totalmente controlado e disciplinado, foi isso que levou a tornar a segurança pública em militarizada e força auxiliar do Exército”, explica Givanildo Manoel, membro do Comitê pela Desmilitarização e militante de longa data no que diz respeito à articulações contra a opressão do Estado diante do povo. Giva, como é mais conhecido, compara a repressão promovida pelo Estado brasileiro à da Alemanha de Hitler, a partir do momento em que as dissidências e minorias do país são perseguidas pelo aparelho repressor. “É importante lembrar que foi na ditadura que um elemento de segurança foi introduzido, um inimigo interno, os indesejáveis do sistema, conceituação essa que nasce na Alemanha Nazista, que serve para perseguir comunistas, socialistas, anarquistas, judeus, ciganos, homossexuais. Aqui no Brasil, em um primeiro momento, eram os contrários ao sistema, aqueles que contestavam e lutavam contra a Ditadura. Lembrando que a violência do Estado é desde sempre, porém, voltada aos trabalhadores e aos negros em particular, exatamente porque a formação do estado brasileiro tem esse aspecto autocrático e racista, que origina em um racismo institucional”, completa. No debate, a falta de informação da população, induzida pela mídia corporativista e seus interesses, diante dos reais problemas da militarização, relacionada ao seu impacto na sociedade, torna-se algo a se destacar. Ao se deparar com uma ação negligente da polícia, a grande mídia espalha para a massa aquilo que vai de
MEGAFONE acordo com seus interesses corporativos. Este efeito é produzido de forma manipulada e muito fácil de ser captado em momentos de crise do Estado. Das revoltas de junho de 2013 até as manifestações contra a Copa do Mundo, mescladas à visível reação burguesa e nacionalista, praticada pela burguesia brasileira, são provas de um agendamento de notícias trabalhado em conexão com o conceito de defesa da propriedade privada, usando como aliada a política do medo. Logo, informações que distorcem a realidade e mascaram os verdadeiros problemas, consequentemente são inseridos no senso comum, esse fenômeno agrava a ascendência do debate sobre segurança pública e desmilitarização. A prática tem nome, Agenda Setting, ela é uma das mais diversas teorias dentro do jornalismo e vale a pena procurar sobre o tema para entender o papel da propaganda pela propriedade dentro da mídia quando o assunto é segurança ou desmilitarização. “A mídia corporativa se alinha ao processo crescente de criminalização e militarização da sociedade, porque esse projeto representa os seus interesses, que sobrevivem na base da repressão e opressão, é a mídia coorporativa quem dissemina a política do medo, que se impõe para que possamos abrir mão da nossa liberdade em nome de uma falsa segurança. Então com a mídia corporativa, em nada, podemos contar”, expressa Giva, que na década de 1980, por morar em uma região com alto índice de violência policial, já se engajava no debate acerca da violência do Estado, em especial contra a juventude.
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Um exemplo do que já está marcado a ferro na opinião pública, pelo agendamento de notícias da grande mídia, é o famoso “despreparo da PM”. O tema é lançado sempre antes de uma campanha por investimentos na segurança pública. “A policia não é despreparada, ao contrário, é muito bem preparada, a violência do estado , vem sendo organizada sistematicamente desde o golpe empresarial-militar, que adotou a doutrina do inimigo interno, ou seja, militarizando a Força Pública, tornando-a militar , portanto subordinando-a a uma concepção de segurança que de segurança pública não tem nada”, expõe Givanildo. A taxa de crimes cada vez mais elevadas é usada como base na reivindicação de mais investimentos na Segurança Pública, principalmente no salário dos agentes, motivo usado com frequência nas desculpas do mau uso da força policial. Em 2012, os gastos com segurança pública no Brasil chegaram a R$ 61,1 bilhões, comparado com o ano de 2013, houve um aumento de 15,83%, sendo que 40% do dinheiro investido é destinado para pagar aposentadorias. O Estado de São Paulo foi o que mais investiu nesse período, R$ 14,37 bilhões, valor maior do que a própria União. O fato é que mesmo com 40% de todo o investimento nacional em segurança ser destinado aos servidores aposentados, sobram 60% que serão investidos na implementação de tecnologias, treinamento e recrutamento de novos policiais, porém o largo investimento não afeta os dados de criminalidade, cada vez mais elevados, marginalizando e transformando a
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população mais pobre em estatísticas negativas ao invés de realmente mudar o comportamento fascista das corporações policiais. Este investimento contínuo e cada vez mais elevado não tem provado através dos dados que está no caminho certo, ao contrário, esquenta ainda mais o debate sobre desmilitarização não só da polícia como da política em geral, luta incansável do comitê que Givanildo faz parte. “Entendemos que o debate da segurança é muito maior que o papel que exerce as policiais de forma geral, além do que, entendemos que a militarização não é só da polícia, mas as leis que tem sido criadas são leis que colaboram para o aumento da violência do estado de forma muito autoritária, sem que
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os direitos humanos sejam respeitados, por isso a luta é para que desmilitarizemos toda a estrutura do estado, retiremos todos os entulhos do passado e os novos que tem sido implantados. Temos o desafio de compreender que a segurança pública é composta de diversas outras políticas, que são: saúde, educação, moradia, lazer, cultura, esporte, geração de renda e um tantas outras que se façam necessárias, uma política que traga segurança para as pessoas deve tratar a força policial como o último elemento a ser usado”, explica Giva. Desde junho de 2013, quando a revolta popular contra o aumento das passagens em São Paulo se expandiu para uma revolta nacional que agregou todos os problemas sociais e
econômicos existentes no país, todos causados pela má gestão da representatividade dos políticos em exercício no Brasil, uma atitude reacionária vinda das camadas burguesas e comprada pelas mídias corporativistas, além dos governos estaduais e de sua polícia, principalmente a militar, resquícios de um sistema fascista foram escancarados e ainda não apagados (infelizmente) da vida tupiniquim. O contínuo recrutamento de soldados nas PMs de todo o país, colocando policiais recém formados – às vezes com um dia de treinamento - em atividade nas ruas, principalmente no acompanhamento de manifestações, mostrou que há um problema no uso da doutrina militar e sua compatibilidade com a atual situação política e
MEGAFONE social brasileira. Como vimos há alguns parágrafos atrás, por conta do investimento financeiro feito nos órgãos de segurança nacional, principalmente na Polícia Militar, este problema não é o despreparo, mas sim a forma como estes policiais são preparados. Tiros de borracha nos olhos de profissionais da imprensa e de manifestantes, prisões ilegais como a de Fábio Hideki Harano e Rafael Lusvarghi e milhares de outras pessoas, ou a famosa “prisão para averiguação” que aconteceu até com a Revista Megafonia, além de serem exemplos de um regime autocrático, mostram como a polícia não está despreparada, mas sim como está sendo preparada numa espécie de inimiga pública da desobediência civil, como se fossem eles os guardiões de uma moral plena e dominante, algo impossível em um país tão cheio de cultura e miscigenação. Durante o período nazista, como Givanildo já explicou, o inimigo interno eram aqueles que iam contra esta moral, estabelecida à força, pelo partido de Hitler. Socialistas, anarquistas, homossexuais e judeus eram perseguidos como grandes rivais da ordem e do estabelecimento daquele
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MEGAFONE Estado. É intrigante comparar uma atitude política como a da Alemanha Nazista à realidade da luta popular brasileira, mas infelizmente é algo real e cada vez mais presente no cotidiano popular, basta olhar para o cenário político póseleições e a dita “divisão” ideológica nacional, separando minorias e aqueles que lutam pela emancipação do povo, de religiosos e sonâmbulos conservadores. O cenário xenofóbico foi então produzido e uma leve cultura bandeirante se instalou no coração de alguns, que antes diziam ser da luta popular, como o Batman carioca. “A estrutura da PM é como a estrutura da sociedade (atual), verticalizada, é uma estrutura de classes, a classe dominante sabe que sempre está ameaçada em sua condição, logo, para se manter tem que ter o controle absoluto de tudo, por isso se apoiam e acreditam nas teorias de
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raça superior vendendo isso para a corporação, porém, são eles mesmos que impõem toda sorte de opressão com essa estrutura hierarquizada e disciplinadora .Todos os PMs que conseguiram fazer a reflexão sobre essas condições de trabalho, se colocam contra a militarização, pois existe uma clara opressão de classe”, complementa Giva. Em julho de 2013, uma reportagem feita pela Revista Fórum revelou a atividade dos de dois grupos de extermínio organizados dentro da Polícia Militar do Estado de São Paulo. A matéria publicou uma entrevista com dois policiais que haviam sido convidados para estes grupos, por não aceitarem, ambos foram perseguidos e frequentemente ameaçados dentro da corporação. De acordo com as revelações destes PMs, policiais de “alta patente” são responsáveis pela imagem
MEGAFONE ruim da Polícia Militar, pois segundo a dupla, partem deles o aval da violência policial, além disso, políticos e magnatas da burguesia paulistana também fazem parte do esquema. Um dos policiais chega a dizer que caso não aceitem as ordens são atacados com um jogo mental, onde a necessidade do trabalho é usada como massa de manobra para a exploração da violência de cabos e soldados que vão para as ruas. O sistema é tratado pelos policiais como algo parecido com a escravidão, onde até confinamento em salas trancadas é feito contra desobedientes. Outro órgão é denunciado pelos PMs, a corregedoria. Segundo eles (e disso muita gente já sabe, principalmente quem esteve em protestos populares nos últimos meses) ela não investiga nada, pois alguns oficiais ganham mais de R$ 20 mil por mês, além de possuírem diversos bens que contradizem a possível renda de cada um. O caso chega a ser tão extremo que no Estado do Rio de Janeiro há bombeiros envolvidos com milícias que oprimem a população mais pobre a favor de interesses políticos e partidários. Após as contestáveis pacificações com
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a inclusão das UPP (Unidades de Polícia Pacificadora) nas favelas cariocas e o gradual sumiço e morte de moradores nas comunidades, o problema acabou se mostrando maior do que já era, onde quem deveria proteger está exterminando, assim como fizeram os oficiais da Alemanha Nazista, a diferença é que estamos em uma Democracia e não vivemos um regime como o de Hitler ou como em 1964, apesar de
muitos ainda defenderem de forma ignorante a volta de ambos períodos. “Uma política de segurança que se queira séria, em qualquer contexto, deve ter a ampla participação popular. Então, penso que não podemos ficar procurando modelos pré-prontos, até acredito que existam um conjunto de ideias que podem servir à esse outro modelo, porém, não são elas que determinarão isso”, completa Giva.
redacao@megafonia.info
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GRITA SP/RJ
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Admirável Mundo Novo
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Entre deuses, astronautas, ovnis
e algumas verdades por Kauê Pallone “Tem uns dias, que eu acordo tentando e querendo saber de onde vem o nosso impulso de sondar o espaço”, assim questiona Jorge Ben em um trecho da música “errare human est”, do álbum “Tábua de Esmeralda”. No ano de 1974, em seu décimo primeiro disco de estúdio, o músico brasileiro cantou esta frase que resume uma busca eterna pelo desconhecido. Seis anos antes do lançamento da Tábua de Esmeralda de Jorge Ben, o escritor suíço Erich von Däniken escreveu “Eram os deuses astronautas?”, livro que inspiraria esta música e mudaria conceitos da arqueologia tradicional, abrindo os olhos da humanidade para seu passado mais longínquo, repleto de deuses desconhecidos que visitaram a terra primitiva em espaçonaves por eles tripuladas. O livro tem como base a teoria dos astronauta antigo, esta teoria defende a tese de que criaturas extraterrestres visitaram a terra milhares de anos atrás e que civilizações da terra nesta época interagiram com estes seres. De acordo com a teoria, os extraterrestres seriam considerados deuses pelos habitantes da terra e tal influência destes seres estaria relacionada com a origem e o desenvolvimento cultural da espécie humana dos dias de hoje. Recentemente a revista americana Science publicou um artigo com a descoberta de um planeta em outro sistema solar, que teria as mesmas condições de vida disponíveis aqui na terra, esta descoberta já era antecipada no livro de Von Däniken, logo no primeiro capítulo, ao distribuir alguns dados matemáticos mostrando que no mínimo 180 planetas, ao al-
cance de nossos telescópios, teriam condições de serem habitáveis. O Kepler-186f foi descoberto por um grupo internacional de cientistas, liderados por Elisa Quintana, astrônoma do centro de pesquisas Ames, da NASA (Agência Espacial Americana). Segundo ela, o novo planeta tem o tamanho terrestre e está em órbita ao redor de uma estrela classificada como anã, menor e menos quente do que o Sol, na zona temperada onde a água pode ser líquida”. A descoberta do exoplaneta (nome dado aos planetas que orbitam outro sistema solar) reforça a tese de Von Däniken, de que é possível existir vida em outro planeta. Porém, o autor vai mais além, ao afirmar que estes habitantes de outros planetas, possam ter vindo à terra estimular nossa cultura, influenciado a religião dos mais diversos povos antigos e mais recentes, como se todo esse processo fosse proposital para nos levar a sermos o que somos hoje. Na versão brasileira do livro de Däniken, a apresentação escrita pelo, já falecido, professor e pesquisador em ufologia Flávio A. Ferreira, aponta alguns fatos que reforçam a tese do escritor sueco. Em 1964, por exemplo, na Península Anatolianada, na Ásia Menor, que abrange o mar negro, Turquia asiática e países próximos, cientistas encontraram vestígios de cidades que revelaram civilizações de 7 a 8.000 anos antes de Cristo e o que sabemos da história humana se resume aos últimos 2014 anos e alguns quebrados antes disso que não chegam aos 4,54 bilhões de anos da terra. Outros fatos relacionam imagens consid-
Admirável Mundo Novo eradas como manifestações artísticas do Paleolítico Superior e do Mesolítico, mas que na verdade, são registros astronômicos, ou então as figuras encontradas em restos arqueológicos da cultura magdaleniana e aurignaciana, relacionadas em 1965 como símbolos religiosos ou representando magia, porém, são registros de obsevação científica da esfera terrestre. O prefácio cita uma importante peça do quebra-cabeça histórico da terra, uma pesquisa de sete anos do Dr. H. Hapgood, professor da Universidade Estadual de Keene, E.U.A, baseada na tese do pesquisador Arlington Mallery a respeito do famoso mapa de Piri Reis (saiba mais no capítulo III do livro de Däniken), relatando a descoberta das primeiras provas testemunhais da existência de uma civilização anterior a todas as conhecidas até agora, localizada no continente ártico, antes da última glaciação. Ferreira ainda fecha sua apresentação citando os dizeres de quem prefaciou a versão original do livro, o professor J.B. Fedorov, da academia soviética. “Os poetas e os cépticos são igualmente indispensáveis à Ciência. Quanto ao cientista, tem ele o direito de construir hipóteses audaciosas e de correr riscos”.
Carruagens de fogo? Aquilo que se tornou religião já foi história, passada de geração por geração em todas as civilizações, desde a mais antiga conhecida. No Mahabharata, um dos escritos sagrados mais importantes do hinduísmo e de autoria atribuída a Krishna Dvapayana Vyasa, é possível encontrar indicações numéricas precisas, dando a impressão do autor ter tido preciso conhecimento sobre o que escreveu. De uma forma dramática ele relata uma arma que podia matar todos os guerreiros que usassem metal no corpo, quando estes guerreiros sabiam da presença destas armas, logo retiravam as peças de metal que tinham no corpo, mergulhavam num rio e lavavam totalmente seus corpos, além de tudo o que tinham contato. Segundo o autor, a tal arma fazia cabelos e unhas caírem, tudo que
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era vivo se tornava pálido e fraco, efeito bastante conhecido em situações de alta radiação. Neste livro, o autor conta o que seria o primeiro relato de uma bomba de hidrogênio, onde o deus Gurkha, a bordo de sua Vimana (máquinas voadoras da antiguidade relatadas em no livro indiano) arremessou um único projétil sobre a cidade tríplice, que a teria devastado totalmente. Os relatos no escrito são parecidos com o de testemunhas da explosão de uma bomba atômica. “fumaça branca incandescente, dez mil vezes mais clara do que o Sol, se levantou com um brilho imenso e reduziu a cidade a cinzas. “Era como se tivessem sido soltos os elementos. O sol girava em círculo. Queimado pela incandescência da arma, o mundo cambaleava de febre. Elefantes, atormentados pelo calor, corriam, loucos, para cá e para lá, procurando proteção contra o terrível ataque. A água fervia, os animais morriam. O inimigo era ceifado, e a fúria do fogo fazia com que as árvores, como nos incêndios de florestas, caíssem em fileiras. Os elefantes rugiam pavorosamente e caíam mortos ao solo, por toda uma vasta área. Os cavalos e os carros de combate se queimavam e tudo parecia como depois de um incêndio. Milhares de carros foram destruídos. Depois, um silêncio profundo desceu sobre o mar. Os ventos começaram a soprar, e a terra clareou. Ofereceu se à vista quadro horripilante. Os cadáveres dos tombados haviam sido mutilados pelo horroroso calor, não mais parecendo gente. Nunca dantes havíamos visto arma tão pavorosa e nunca dantes havíamos ouvido falar de tal arma.”, trecho interessante do Mahabharata sobre as terríveis armas usadas pelos deuses. Nos escritos antigos tibetanos, máquinas voadoras também são relatadas, mas ganham o nome de “pérolas do céu”, nos dois livros estas informações eram totalmente secretas e não destinadas ao público. No Samarangana Sutradhara, outro escrito da antiguidade indiana, há muitos capítulos que descrevem máquinas voadoras, cujas extremidades faiscavam fogo e mercúrio. Na mitologia dos esquimós, se afirma que as primeiras tribos haviam sido le-
Admirável Mundo Novo vadas por “deuses das asas de bronze” para o norte. Os Índios americanos trazem a lenda do “pássaro de fogo”, que trouxe fogo e frutos. Além disso há a lenda maia de “Popol Vuh” relata que os deuses conheciam todas as coisas, o universo, os quatro pontos cardeais e a face redonda da terra. Considerando o alto ceticismo do mundo moderno, o livro de Däniken questiona como estas civilizações puderam ter tais vivências? Separando a pesquisa histórica do limitado foco religioso e mitológico presentes em relatos bíblicos dentro da cultura moderna, Däniken separa alguns fatos que se igualam aos contados pelos cronistas de outros povos como no Mahabharata em relação a uma possível experiência com explosões atômicas. Entre os relatos mais importantes, Däniken destaca o livro Gênese, comparando as coincidências entre a destruição das cidades de Sodoma e Gomorra e a bomba atômica lançada sobre o Japão na segunda guerra mundial. Segue o trecho do livro: Que aconteceu, realmente, em Sodoma? Não é possível imaginar que Deus Todo Poderoso esteja preso a qualquer esquema cronológico. Por que, pois, essa pressa dos “anjos”? Ou a destruição da cidade teria sido prefixada para o minuto exato? Teria a contagem regressiva já começado e os “anjos” disso saberiam? Então, evidentemente, o prazo para a destruição teria sido fatal. Não teria havido um
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método mais simples para pôr a família de Ló em segurança? Por que cargas d’água deveriam ir para as montanhas a qualquer custo? E por que não deveriam olhar, nem uma vez ao menos, para trás? Perguntas talvez irreverentes quanto a um assunto sério, concordamos. Mas, desde que no Japão foram despejadas duas bombas atômicas, sabemos quais os danos causados; sabemos que os seres vivos, expostos ao efeito direto da radiação, morrem ou adoecem incuravelmente. Imaginemos que Sodoma e Gomorra tenham sido destruídas segundo um plano, isto é, deliberadamente, por meio de uma explosão nuclear. Talvez os “anjos” - continuemos nossa especulação - quisessem simplesmente destruir perigoso material atômico, aproveitando o ensejo para aniquilar grupos
humanos que lhes eram desagradáveis. O instante cronológico da destruição havia sido fixado. Quem devesse sair ileso - como a família de Ló - precisaria ficar a alguns quilômetros de distância do centro da explosão, nas montanhas: as paredes rochosas absorvem naturalmente os perigosos. As concepções que temos hoje em relação ao nosso passado ainda se prendem à fé religiosa e seu poder de manipulação global, porém, não se pode dar as costas às semelhanças históricas presentes nos escritos antigos de culturas, que “supostamente”, nunca se comunicaram. O povo Maia por exemplo, possuíam uma cultura muito elevada. Criaram não só um incrível calendário, mas deixaram como herança também computações incríveis. Este povo, tratado como selvagem e
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Assista o documentário baseado no livro de Von Däniken
praticamente extinto pela ignorância dos colonizadores espanhóis, sabiam que o ano de Vênus tem 584 dias e avaliavam a duração do ano terrestre em 365,2420 dias (O cálculo exato hoje é de 365,2422 dias). Estes cálculos alcançaram 64 milhões de anos até chegarem nos livros modernos de hoje, esta equação de Vênus poderia ter sido calculada por um computador. Segundo Däniken, “o difícil aí, evidentemente, é acreditar que foi formulada por um povo semi-selvagem”. Os relatos das máquinas voadoras, “Vimanas”, estão presentes em todas estas culturas antigas, nas inscrições maias é possível encontrar desenhos precisos de homens vestidos com trajes tradicionais daquele povo, mas manejando incríveis foguetes, como os lançados ao espaço nos dias de hoje. Choques culturais que ocorreram entre tribos do sul do pacífico e soldados americanos podem ilustrar o que outras culturas viveram há milênios. Tribos desta região cultivam o culto à carga, nascido após soldados americanos visitarem a região durante a segunda guerra mundial, os suprimentos e presentes dados pe-
los americanos os tornaram deuses para aquela tribo. Ainda são registrados casos de seguidores dos deuses americanos, ou ingleses, que visitaram a região. Apesar de possuirmos parte da história de nossos antepassados nestes escritos antigos, por conta da conversão de registro histórico de nossa cronologia para culto religioso, muito se perdeu com o tempo, mas em 1947 recuperamos este impulso em sondar e questionar o espaço novamente com a chegada da ufologia. Casos como Roswell e E.T. de Varginha são prato cheio para a imaginação humana e sua expansão de conceito sobre o espaço. No Lugar das lendas e suposições teóricas vieram as primeiras fotos e vídeos com flagrantes de ÓVNIS (Objetos Voadores Não Identificados), a internet propagou e globalizou os registros digitais do fenômeno. Alguns especialistas na área já estão pensando mais no futuro da ufologia e qual será seu foco após comprovações concretas de vida em outro planeta, o movimento aumentou após a última descoberta do Kepler-186f colocando a busca pela existência de vida em outros planetas como novo Eldorado para a exploração e estudo do espaço.
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Literatura sem deus
Por Ronaldo S. Lages
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que fazia Deus antes da criação do tempo? Com certeza criava o inferno para quem fazia esse tipo de pergunta, dizia Santo Agostinho, um dos cânones da obra teológica e filosófica do ocidente. A dúvida e o questionamento sempre estiveram presentes com o ser humano, logo, a culpa também se instauraria imposta pela igreja que mandou milhares de pessoas para a fogueira e encaminhou diversas obras literárias para o index. A polêmica em torno de livros ‘perigosos’ vem de longe, Galileu Galilei, Giordano Bruno e Kepler sofreriam as consequências de seus pensamentos, a ira de Deus seria feita, livros seriam queimados, ideias abortadas e o conhecimento privado de vir à luz. No século XIX, Nietzsche proclamaria a morte de Deus, não obteria fama em vida e muito menos venderia muitos livros, entretanto, após muitos anos,
seria o ícone maior do combate às ideias cristãs através de sua obra. Outros compêndios do ateísmo moderno dariam ar da graça à mesma época, Marx diria que “a religião é o ópio do povo”, Das Kapital seria a bíblia de muitos no século que se iniciaria. Enquanto isso, Darwin lançaria aquele que seria o maior dos golpes na crença divina, “A evolução das Espécies”, com ele, revolucionaria a ciência e acabaria com o antropocentrismo humano vigente até então. Contudo, o ateísmo na literatura não acabaria por aí, outros ícones surgiriam arrebanhando leitores e inimigos, Bertrad Russell seria um deles, “Por que não sou Cristão” e “Ensaios Céticos” seriam dois de seus mais festejados textos. Atualmente, o ateísmo na literatura continua em voga e produzindo seus best sellers, Richard Dawkins, escritor e professor de Oxford emplacou “Deus um delírio”, en-
ESTANTE quanto o filósofo norte americano Sam Harris contemplou o sucesso de “Carta a uma nação cristã” devidamente lançados por aqui. No Brasil, alguns autores já se enveredam pelo ateísmo militante, um dos exemplos é o filósofo e psicanalista Marcos Oliveira, que também conduz um programa de rádio na capital paulista - “Encontro com a Vida”. Em 2012, Oliveira lançou seu primeiro livro, fruto de sua dissertação de mestrado, “Autópsia do Sagrado”, segundo ele, “ainda é muito difícil debater a questão do ateísmo no Brasil, ainda mais quando a tese a ser defendida visa propor o ateísmo como uma linha filosófica genuína. O que tentei demonstrar em meu livro é que não estamos entre uma escolha binária simplista do tipo ou a fé, ou a loucura”, afirma. O autor de “Autópsia do Sagrado” desconfia da recente onda de ateísmo tão comum em nossos dias, de maneira enfática salienta, “a grande ‘indústria cultural’ vende o ateísmo e seus variados atores como rentáveis mercadorias, com isso, milhares de livros são “consumidos”, sem serem, necessariamente, entendidos”. Como não poderia ser diferente, o Brasil já possui um número grande de leitores desse tipo de literatura, entretanto, para Oliveira a causa do sucesso é a fragilidade das instituições religiosas em um mundo cada vez mais laico. Contudo, adeptos do ateísmo continuarão a comprar seus livros em sua maioria com cédulas escritas, “Deus seja louvado”.
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Sobe o Som
Música rápida, sem vínculos corporativos Um dia na cena Grind Core de São Paulo Por Ronaldo S. Lages Na porta de entrada onde ocorrerá o evento, diversos fãs se amontoam para ver o concerto daqui a poucos minutos. Tatuagens, camisetas pretas, cabelos compridos, cabeças raspadas, longos cavanhaques, moicanos e meninas com cabelo vermelho. Uma dupla de amigos conversava bebendo uma espécie de batida branca, mochilas nas costas. Outros que chegavam por ali diziam, “vai ser aqui...vai ser aqui”. O local era o CCJ (Centro Cultural da Juventude), localizado na zona Norte da capital Paulista; o espaço de conveniência era a área disponibilizada para os músicos tocarem o chamado Grind Core, mas afinal, que diabos é isso? Um dos jovens que bebe a tal batida na porta do centro cultural é Bruno, 22, explica de maneira sucinta o que é esse tão incomum estilo musical, “é a influência do Hard Core com o Punk”. Para ele, “o Grind Core relata o que vivemos”. Em sua concepção, o estilo que nasceu ainda na longínqua década de 1980 pelos ingleses do Napalm Death pode ser sintetizado em apenas uma palavra: ‘protesto’. O show começa com a primeira atração da noite, é a vez do Who’s My Savior? O som é alto, letras berradas, vociferam contra tudo e contra todos, canções curtas, audiência pequena, porém fiel. O vocalista entre uma músi-
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Sobe o Som
ca e outra faz um ‘chifrinho’ com as mãos e manda um “hail Satan” - Será que fazem parte de alguma seita? Só Deus sabe. Dois rapazes neste momento despontam na platéia, enormes moicanos levantados, coturnos e calças rasgadas perambulam pelo espaço, um deles está com uma camiseta anti nazistas, se sacodem na roda do ‘bate – cabeça’, contagiam quem está ao lado. Assim, o Who’s My Savior? terminou sua apresentação, segue – se um “boa noite” com sotaque carregado, ambas as bandas da noite vinham da Alemanha. O jovem, Gil, 27, é um dos que mais se movimenta na roda, nos revela que ouve todos os estilos musicais, desde que seja honesto, “gosto de Hard Core e Punk, mas ouço todos os estilos musicais, desde que seja verdadeiro e engajado”. Segundo o jovem, o Grind é uma daquelas coisas na vida que se ama ou odeia, não há vínculos com grandes veículos da mídia e não há diálogo com o mundo
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corporativo. Do lado de fora, o clima era semelhante ao da música tocada no recinto, tempestade e trovões que iluminavam a janela de vidro. Chega a vez do Wojczech, seu vocalista gira incessantemente o microfone pelo cabo em meio a plateia, tromba nos presentes, empurra, deita no chão, chuta, cospe para cima e segura no ar como se fosse uma moeda e limpa na roupa. O ambiente cheira a protesto, o maior alvo é o regime Capitalista e os costumes vigentes em sociedade, é anti música, anti religião, anti Rockstar, anti capital e anti preconceito. Pregam a ironia, mas não o desrespeito violento. Segundo Gil, a maior das críticas do Grind é o mundo mercadológico, “a globalização globalizou a desigualdade”. Ao fim das apresentações, coincidência ou não, a chuva e os trovões também se acabaram, sem mais trovões e sem mais os acordes pesados do Wojczech.
SELVA & PEDRA
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Menos concreto, mais clorofila
A luta incansável pelo verde em meio ao cinza da cidade
Por Kauê Pallone “Éramos poucos. Não precisávamos ter sido muitos. A multidão há tempos luta, luta, luta, uta, ta, a... E se dispersa. Acaba sem saber para quem ou por que está lutando. Éramos o suficiente. Os que simpatizaram com a nossa causa vieram de todos os cantos da cidade para brincar com a gente. Arte, cultura, educação e parques também estavam presentes. Éramos aqueles por quem estávamos esperando. E fizemos um barulho silencioso. Não marchamos. Caminhamos por folhas secas, em círculo, ao redor de uma árvore centenária. O dia era do índio. A casa, a Mata Atlântica. O centro, São Paulo. O ritual? Ciranda Livre! O grito que se grita aqui se escuta lá. E lá.
E lá. E lá também. Do primeiro grito em Defesa dos Parques Ameaçados de São Paulo, nasceu a Rede Novos Parques SP. De mãos dadas com outras áreas verdes da cidade, dançamos uma ciranda livre, leves e soltos na última das áreas verdes livres do centro de São Paulo: o Parque Augusta! Um manifesto foi lido. A reabertura imediata dos portões foi exigida por direito. Fecharam de maneira arbitrária os portões que dão acesso a última área verde livre do centro da nossa querida Sampa de concreto. Parque Augusta está fechado e ocioso desde o dia 29 de dezembro de 2013. Seis dias antes dos portões serem fechados, o prefeito Haddad deu um presente de Natal para a população paulistana: decretou e
SELVA & PEDRA promulgou a lei que autoriza a criação do Parque Augusta”. O texto acima foi escrito pelos ativistas do movimento Parque Augusta e da Rede Novos Parques SP. Um dos únicos coletivos dos movimentos sociais que estão defendendo a expansão do verde dentro de uma cidade tão cinzenta como São Paulo. Segundo eles, a ideia de criar uma rede de proteção e luta por novos parques na cidade nasceu após se depararem com a urgente necessidade de se articular em prol da vida na cidade, criando uma plataforma aberta e horizontal de discussões para facilitar o processo de criação, preservação e conservação de parques, praças e áreas arborizadas da capital paulista. “Vivemos um momento histórico para todos os que defendem as áreas verdes de São Paulo, do Brasil e do planeta terra inteiro. Representantes dos parques Augusta, Águas Espraiadas, Brasilândia, Embu-Mirim, Minhocão, Mooca, Morro do Querosene, Peruche, Pinheiros e Vila Ema consideram essenciais algumas observações com relação à Proposta de Substitutivo PL688/13 no Mapa 05Sistema de Áreas Protegidas, Verdes e Espaços Livres e respectivo quadro anexo. Consideramos insuficiente ter como meta de áreas protegidas, verdes e espaços livres as informações que constam neste mapa. A quantidade de parques planejados ou em implantação é insuficiente para assegurar uma boa qualidade de vida do cidadão paulistano, tendo como meta a saúde física e mental da população em um cenário urbano até 2030.”, explica o Organismo Parque Augusta. O momento de buscar a salvação das áreas verdes, em meio ao concreto e a garoa de Sampa, é histórico, não só por conta das grandes manifestações populares de junho/2013 até agora, mas por esse grito a favor do verde estar na pauta do ativismo brasileiro há anos. Um exemplo desta luta é o Parque Augusta, no centro de São Paulo, com quatro décadas de reivindicação pela população por sua legitimidade. As conquistas da mobilização popular levaram à aprovação do PL 345/2006, que gerou a Lei nº 15.941. Sancionada pelo prefeito Fernando Haddad em 2013, ela prevê a criação do Parque Augusta em 100% da área. Infelizmente, a alegria durou pouco, pois seis dias depois da aprovação do parque a prefeitura informou que não tem dinheiro
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SELVA & PEDRA para a desapropriação do terreno, que por conta da especulação imobiliária está cada vez mais caro. O que já era ruim ficou pior pois um ano depois, os portões continuam fechados e pior, a especulação imobiliaria pressiona a prefeitura e tenta construir um condomínio no lugar do parque, um absurdo se levarmos em consideração as décadas de luta pela criação e legalização do Parque Augusta. “Um verdadeiro descaso em relação a saúde, a sanidade mental e o bem estar dos cidadãos paulistanos”, lamenta o organismo de luta pelo parque e outras diversas áreas verdes da cidade. No momento, diversos movimentos voltam a ocupar o Parque Augusta para protegê-lo da atitude predatória das empreiteiras. Recentemente o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico de São Paulo(Conpresp) autorizou a construção de duas torres no terreno do Parque Augusta, porém, antes delas serem construídas, o projeto precisa passar pelas mãos de mais orgãos responsáveis. O movimento de preservação do Parque já entrou com uma ação para cancelar a autorização do Conpresp. O impasse envolvendo o Parque Augusta é só um dos diversos pontos que envolvem o debate da preservação de áreas verdes em São Paulo, afinal, parques são lugares reservados para o lazer e o bom desenvolvimento da saúde de uma cidade, tanto do corpo quanto da mente. De acordo com um estudo feito
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pela Organização Mundial de Saúde, São Paulo é a cidade com maior índice de transtornos mentais do mundo. Um relatório, feito em 24 grandes cidades de diferentes países, constatou que em São Paulo, 29,6% das pessoas sofrem algum tipo de perturbação mental causada pelo crescimento da cidade. A alta urbanização e a privação social são um dos principais motivos do problema. Parques em áreas verdes são projetados para a socialização não só entre pessoas, mas também entre humano e natureza, um retorno às raízes e um desprendimento do concreto. A importância de áreas verdes para o ser humano vem de muito tempo atrás. Na história da civilização, principalmente no que diz respeito ao mítico-religioso presente na cultura humana desde seu início. Desde o Éden (famoso “paradise” de Adão e Eva na Bíblia Cristã), jardins suspensos da mítica Babilônia, passando pelos famosos jardins do Renascimento francês, ou o paisagismo britânico, até chegar aos parques modernos e cheios de conceito espalhados pelas mais diversas cidades no mundo. De acordo com um trabalho, “A praça no contexto das cidades, o caso de Maringá” (2000), produzido pelo especialista em arquitetura da paisagem, Bruno Luiz Domingos De Angelis, “a história recente mantém vivos os jardins do Renascimento francês e italiano e a Inglaterra com seu jardim paisagístico. O somatório de todo esse conhecimento permite um entendimento acerca das praças e espaços públicos que tem sua origem não somente na Ágora grega ou no Fórum romano, mas também nos jardins que, expandidos além dos muros que os envolvia, abrem-se ao consumo da população”. De início, os jardins tinham apenas a função de paisagem e diversidade olfativa, nos dias de hoje,
principalmente após o século XIX, eles se tornam uma opção utilitária e necessária dentro das áreas urbanas. Outro arquiteto paisagista, o espanhol, Luis Rodriguez-Avial Llardent, no estudo produzido em 1982 para o Instituto de Estudos para a Administração Local de Madri, direcionado a projetos de áreas verdes e espaços abertos na cidade, retrata a cidade como “um conjunto de elementos, sistemas e funções entrelaçados”, através dessa teoria ele conclui que as áreas verdes adaptadas em jardins e parques se torna parte do organismo urbano, não só como apenas mais uma região arborizada, mas como parte do cotidiano da civilização moderna e suas cidades. Mesmo assim, especialistas alertam para a crescente urbanização das metrópoles e a consequência da substituição dos elementos naturais e perceptivos da natureza pelos reflexos negativos do concreto. Não só o ambiente urbano, mas as pessoas que vivem dentro deste sistema civilizatório, em geral, são atingidos negativamente pela crescente urbanização do espaço natural terrestre. Durante a Conferência Internacional “Cidade Verde”, ocorrida em Londres, o presidente da ‘Royal College of Physicians’, Sir Richard Thompson, recomendou as áreas verdes das cidades como remédio para as doenças mais comuns para quem vive nos grandes centros urbanos. “Em poucos minutos, da para ver que um jardim pode mudar a fisiologia de uma pessoa. Há um ginásio fora da sua janela”, disse Thompson. Além disso, o fisiologista apontou que espaços verdes urbanos podem ajudar a aliviar a pressão arterial na população, produzindo uma redução significativa da doença cardiovascular, além de reduzir o estresse, a raiva e a depressão, sintomas normalmente causados por problemas de uma vida urbana.
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DEMOCRACIA MASCARADA
Histórias que se cruzam com séculos de opressão e resquícios Por Kauê Pallone e Amanda Ivanov
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o ano de 1607, desembarcam milhares de negros africanos trazidos como escravos para senhores de engenho da região do Recôncavo baiano. Nesse grupo de negros há um povo de cultura e religiosidade forte, os Hauçás. Por serem islâmicos, nasceram tendo que saber ler e escrever em árabe, o que lhes possibilitava ter um nível cultural bem mais elevado que os senhores de engenho da época e, até os anos 1800 criaram diversas organizações secretas de cunho libertário. Em 1835, nasce um dos maiores levantes do povo negro no país, conhecido como a Revolta dos Malês, onde os escravos vindos dos povos Nagô se uniram aos Hauçás para libertar o povo negro e formar um Estado teocrático na Bahia. Por conta do sectarismo islâmico, escravos de outras religiões acabaram traindo o movimento e delatando seus líderes. Após uma semana de guerra, os Malês (como ficaram conhecidos os negros islâmicos) conseguiram dominar Salvador, mas no fim, foram derrotados pela cavalaria. Mais de 60 negros foram mortos e cerca de 200 foram presos, cinco deles enforcados em praça pública. Apesar do caráter sectário, a importância da revolta desses povos em relação à libertação dos escravos foi enorme, principalmente no que diz respeito ao movimento abolicionista. Filha de escravos Hauçás, Maria Rita do Nascimento traz nas veias o sangue revolucionário de seu povo e como não podia ser diferente, conhece Augusto Marighella, um operário italiano e anarquista. Deste amor nascem oito filhos, todos seguem a carreira do pai o ajudando em sua oficina mecânica em Salvador, menos um, Carlos, que Augusto via potencial por sua inteligência e vontade de aprender. Da infância à adolescência o garoto vive cercado pela influência libertária de sua família, começa a estudar Engenharia Civil na Escola Politécnica da Bahia, mas cansado de ver tanta pobreza e desigualdade resolve largar o cur-
so. Levando consigo o sobrenome italiano do pai e a história dos negros Hauçás em seu DNA, Carlos Marighella entra para o Partido Comunista Brasileiro. O ano ainda era 1936, quando durante a ditadura de Getúlio Vargas, Carlos Marighella foi preso pela primeira vez considerado subversivo ao sistema. Torturado diversas vezes, só foi solto um ano depois. Entrou na clandestinidade e em 1939 foi novamente preso e torturado. Ficou na prisão até o ano de 1945, quando teve sua liberdade conquistada através da anistia durante a redemocratização do país. Foi para a China conhecer a recente Revolução Chinesa e ao voltar, em 1964, após o golpe militar, foi perseguido pelo regime. Em 20 de junho de 2013, quase 50 anos depois do que ocorreu com Marighella, dia em que milhões de pessoas saíram em manifestações pelas ruas do Rio de Janeiro, tornando a data como a histórica batalha da Avenida Presidente Vargas, o jovem Rafael Braga Vieira, de 26 anos, foi detido injustamente. Este dia também foi histórico para o futebol mundial, quando a seleção da Espanha derrotou o Tahiti por 10 a 0, durante partida da Copa das Confederações realizada no estádio Maracanã, o que tornou a repressão do Estado maior contra os manifestantes, pois os holofotes da imprensa mundial estavam voltados à cidade, um cenário perfeito para o tal Estado democrático de direito criminalizar aqueles que lutavam por melhores condições de vida e sobrevivência. Diferente de Carlos Marighella, Rafael Braga é morador de rua, e naquele dia saia de uma loja abandonada em uma via do Centro do Rio, carregando consigo frascos de desinfetante e água sanitária. Enquanto isso, a polícia oprimia violentamente milhares de pessoas que participavam do ato contra o aumento da tarifa do transporte público. Em meio ao confronto, Rafael foi pego arbitráriamente
A CAPA pelos agentes militares e levado ao complexo penitenciário do Japeri, sendo condenado pela 32ª Vara Criminal da capital do Rio de Janeiro, às penas do artigo 16, II, da Lei 10.826/03, com sentença penal de 5 anos de reclusão e 10 dias-multas a serem cumpridos inicialmente em regime fechado. Até hoje todos querem saber, qual crime o jovem criado na cidade de Aracaju (SE), que se mantinha nas ruas da capital carioca vendendo artesanatos e vivendo de doações, cometeu? Advogados do Instituto de Defensores dos Direitos Humanos (DDH) interviram no caso de Rafael, que já completa mais de um ano de detenção. Apreensivo, o jovem rapaz se mostra com medo da situação e preocupado com sua família, composta por mãe e irmãos. Conforme mostra a foto do coletivo Rio na Rua, ao chegar na delegacia o jovem teve seus pés algemados com correntes, o que é ilegal segundo a Constituição. Rafael foi condenado à prisão por porte de coquetel molotov, segundo policiais que levaram ele para o distrito policial. No início de jun-
54 ho deste ano, o DDH anunciou uma força-tarefa que pode ser cumprida com a ajuda de pessoas da sociedade civil. “No que concerne ao processo de conhecimento (que trata do mérito da acusação de porte de artefato explosivo) ingressamos com recursos aos Tribunais Superiores, respectivamente Recurso Especial ao Superior Tribunal de Justiça e Recurso Extraordinário ao Supremo Tribunal Federal. Tais manifestações buscam reconhecer a fragilidade probatória que ensejou a condenação do Rafael, isto é, questionam o laudo pericial elaborado pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli no intuito de demonstrar a atipicidade da conduta que fora a ele imputada. Subsidiariamente, pleiteamos a remodelação da dosimetria da pena imposta, por considerarmos que houve elevação demasiada da mesma”. Com a execução da pena de Rafael Braga já em curso, o DDH conseguiu o benefício do trabalho externo, para que ele pudesse trabalhar em um es-
Confira o vídeo com o relato de Rafael sobre sua prisão
A CAPA critório de advocacia. Porém, no dia 9 de dezembro, Braga deixou de se apresentar às 20h na unidade prisional, Casa de Albergado Francisco Spargoli. De acordo com o DDH, Rafael havia tomado conhecimento que sua mãe estava doente, tendo decidido ajudá-la naquela noite. No dia 10 de dezembro, Dia Internacional Dos Direitos Humanos, Rafael Braga se apresentou à unidade prisional acompanhado de um dos advogados do DDH, na mesma hora a direção do local informou que ele ficaria preso em isolamento por dez dias em razão da falta. Antes desse fato, Rafael já havia sofrido uma punição e cumpriu dez dias de solitária, após ter posado para uma fotografia ao lado de uma arte feita em um muro lateral da penitenciária, com os dizeres “Você só olha da direita para a esquerda e o Estado te esmaga de cima para baixo”. Segundo ele mesmo, essa foi a pior experiência que passou dentro de uma prisão. Aflito com a notícia de um novo isolamento, Rafael se aproveitou de um momento em que a portaria da unidade estava aberta e fugiu para a rua. Ele foi reencontrado pelos inspetores algumas horas depois nas imediações da unidade prisional, sem oferecer qualquer resistência, o que segundo o DDH, “demonstra que seu ânimo não era de fuga e sim um ato de desespero, ninguém foge para as proximidades da prisão”. Por conta disso, a administração da unidade prisional considerou que Rafael Braga cometeu falta grave e o transfe-
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Prova de que Pinho Sol e água sanitária não são molotov
“Seu ânimo não era de fuga e sim um ato de desespero, ninguém foge para as proximidades da prisão”
Vídeo produzido pelo coletivo vinhetando sobre o Rafael
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Assista o documentário sobre a vida de Carlos Marighella
riu para o Instituto Penal Edgar Costa, em Niterói, para cumprir 30 dias de isolamento. Além disso, foi solicitado à Vara de Execução Penal a suspensão do benefício do trabalho extramuros e cautelarmente a regressão do regime semiaberto. O DDH recorreu da decisão junto à vara de Execução Penal do Rio de Janeiro e reafirmou seu compromisso com a luta pela liberdade de Rafael Braga, por entender que a sua prisão é injusta e absurda. De volta à 1965, libertado, Marighella decide optar pela luta armada contra o regime militar. Após se desvincular da Comissão Executiva Nacional do PCB, em 1967 é expulso de vez do partido. Direto de Havana, em Cuba, redige um texto sobre a guerrilha do Brasil, dedicado à Che Guevara, que é publicado em 1968 pelo Jornal do Brasil. No mesmo ano cria a Aliança Libertadora Nacional (ALN) e em 1969 participa do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, em uma ação conjunta com o Movimento Revolucionário 8
de Outubro (MR-8). No dia 4 de novembro daquele ano, considerado inimigo número um do regime militar, Marighella sofre uma emboscada e é morto a tiros por agentes do DOPS, na Alameda Casa Branca, em São Paulo. Os anos passam, as histórias são as mesmas
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Dia da Independência do Brasil, 7 de setembro, em 2013 foi marcado por diversas lutas populares nos maiores estados do país. E no Rio de Janeiro não foi diferente. No dia em que militares saem às ruas a cavalo, exibindo armas e espadas que simbolizam o poder do Estado armado perante a nação, ativistas e manifestantes ocuparam as vias cariocas, impedindo até mesmo que o desfile chegasse ao fim. No mesmo dia, professores da rede pública de ensino também aproveitaram a oportunidade para reivindicar seus direitos. Em diferentes atos pelo Largo do Machado, Catete e Laranjeiras, a repressão policial foi enorme e vio-
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momento, a luta pela redução da passagem havia sido vencida pela juventude, que não saiu das ruas e com o ânimo de poucos continuou a lutar pelos direitos mais básicos como, moradia, saúde e educação, todos arrancados da mão do povo por conta da Copa do Mundo de futebol. No dia 02 de janeiro, durante um dos protestos contra a Copa do Mundo, no Rio de Janeiro, o cinegrafista, Santiago Ilídio Andrade, de 49 anos, da Rede Bandeirantes - uma das primeiras emissoras a criminalizar os movimentos de junho em 2013 -, foi morto após ser atingido na cabeça por um rojão, enquanto gravava o protesto sem equipamento de segurança (normalmente disponibilizado pelas emissoras para seus funcionários), bem no momento em que a Polícia Militar atacava manifestantes e lançava bombas na direção da cabeça das pessoas. Dois jovens foram presos e acusados da morte de Santiago, mesmo com a polícia e a mídia usando imagens do dia em que o cinegrafista foi atingido para provar que Caio Silva de Souza e Fabio Raposo foram autores do crime, não é possível identificar com clareza se os mesmos rapazes das imagens são os dois acusados. A prisão dos dois jovens foi o estopim de uma onda conservadora vinda dos setores mais ricos do Brasil, que esperavam este momento para criminalizar os Black Blocs. Apesar da morte de Santiago ter dado pano para a manga da imprensa, que usou o falecimento do cinegrafista como manobra para criminalizar movimentos sociais que lutavam pelos direitos de todos, inclusive do próprio cinegrafista, outros profissionais da imprensa já haviam sido feridos gravemente em 2013 pelas mãos da Polícia Militar. É o caso do fotógrafo freelancer, Sérgio Silva, 33, que perdeu a visão de um olho após ser atingido por uma bala de borracha, no dia 13 de junho de 2013, conhecido como o dia mais violento por parte da repressão. “Tudo é diferente. Tudo ainda é muito estranho. Não enxergo nada ao meu alcance do lado O evangelho de Santiago esquerdo e isso me faz falta em várias situações O ano de 2014 foi um exemplo de como o Estado do meu cotidiano. Ainda é muito dolorido lembrar consegue colocar o povo contra ele mesmo e sair que perdi algo natural em minha vida por conta pela tangente sem que ninguém perceba. Naquele da violência institucional da qual passei. Falta lumilenta, como de costume. A Secretaria de Saúde do Estado estima que ao menos 15 pessoas ficaram feridas e tiveram que ser atendidas em ambulatórios públicos, sem falar dos diversos feridos por bombas de efeito moral, bala de borracha e porradas de cassetete atendidos no local por paramédicos. Nesse mesmo dia, 80 pessoas (entre elas professores e pessoas que tentavam se dispersar da confusão) foram “levadas para averiguação” em distritos policiais de diferentes regiões da cidade. No dia seguinte ao 7 de setembro, a diretora teatral Gleise Nana, conhecida por seu ativismo na cidade, recebeu uma ameaça via Facebook do sargento Emerson Veiga, do 15º Batalhão de Polícia Militar de Duque de Caxias, com os seguintes dizeres: “mais uma vagabunda, maconheira, anarquista, que apoia a desordem no Rio, quer falar mal da polícia, fale na cara sua piranha, na net é mole!”. Como a ativista não tinha o sargento adicionado em seu perfil, a mensagem entrou em “outras”, local para onde o Facebook direciona mensagens consideradas como spam. Gleise só visualizou a mensagem em 5 de outubro de 2013, quando fez um print da tela e publicou em seu mural a imagem com um texto que denunciava a ameaça do agente da PM. Após o episódio, em 18 de outubro Gleise Nana foi hospitalizada por causa de um incêndio em seu apartamento. Ela teve queimaduras de terceiro grau e seus rins ficaram comprometidos, falecendo em 20 de novembro de 2013. Para a polícia do Rio, o incêndio aconteceu por um curto circuito em uma tomada do imóvel. Até hoje ninguém foi responsabilizado pelo caso. Assim como Carlos Marighella foi perseguido, hoje, em plena democracia, outros jovens que lutam por questões sociais e políticas estão sendo mortos, torturados, perseguidos e presos pelo Estado, da mesma forma como era feita durante os anos de chumbo, só que agora com aval de grande parte da população.
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nosidade no ambiente em que estou. Falta campo de visão. Falta nitidez. Mas ao mesmo tempo em que sinto todas estas faltas, vou criando uma força dentro de mim que é absolutamente maior do que a que eu tinha antes da perda. Portanto, a cada dia que passa, estou me tornando uma pessoa mais forte do que qualquer problema humano”, conta Sérgio. Com a prisão de Caio e Fábio, além de Rafael Braga são três pessoas presas sem provas realmente concretas de suas acusações, mas assim como na ditadura, o Estado não se cansa de oprimir para continuar com seu poder. No dia 25 de janeiro, o primeiro Ato contra a Copa do Mundo em São Paulo termina em prisões irracionais e arbitrárias, mais de 120 pessoas são agredidas pela PM e presas sem qualquer acusação contra elas, inclusive a equipe da Revista Megafonia. Começa aí um processo mais radical de perseguição aos manifestantes, usando o patrimônio público como pretexto para prender pessoas em
massa. “Depredações ao patrimônio particular e público, vêm sendo comparadas a atos de violência contra pessoas. É esse o argumento que a mídia de massa e os governantes utilizam para criminalizar os manifestantes e movimentos sociais. Uma questão simples é que se colocar na balança o que é mais importante: um patrimônio ou uma vida, o patrimônio ganha. E na maioria das vezes, a força policial através de armas considerados como não-leitais (gás de pimenta, bomba de gás lacrimogênio e bala de borracha), além de espancamentos, agressões físicas e morais, são utilizadas pela PM de todos os estados do país, apoiada pela massa, pela falta de informação e conhecimento do que se passa nas ruas.”, expõem Rafael Padial, membro do Território Livre, um dos movimentos que participaram da frente “Não Vai Ter Copa”. No mesmo dia do primeiro protesto, o músico de 27 anos, Vinícius Duarte, que acuado dentro do Hotel Linson, onde também estávamos para nos
Vídeo mostra o momento em que o Choque entra no Hotel Linson
A CAPA proteger das diversas bombas de gás que eram lançadas na estreita Rua Augusta, foi agredido por policiais do Choque. “Desde o momento em que a polícia entrou, eu presenciei pessoas já rendidas no chão serem agredidas com golpes de cassetete e tiros de bala de borracha. Eu me levantei para tentar pedir calma, e creio que isso ter desencadeado a agressão sobre mim.”, conta Vinícius, um manifestante pacífico e que com a agressão perdeu quatro dentes, sendo que um deles era um implante com parafuso de titânio que foi dobrado em aproximadamente 30 graus, além de ter ficado com hematomas nos braços, coágulo no cérebro, pontos na cabeça, fraturas no nariz e nos maxilares superior e inferior. Vinicius conta que no dia da agressão, haviam socorristas no local que tentaram fazer os primeiros socorros em seus ferimentos, mas foram impedidos pela PM. “Eles (PM) alegaram em BO que eu tinha um pequeno corte no lábio, e que eu teria agredido eles e resistido, e também que eles usaram de força moderada para me conter. Só que a força moderada deles dobrou um parafuso de titânio que eu tinha em uma prótese dentária. Mesmo com o trauma do dia, Vinícius não se acovardou e continua participando de manifestações em São Paulo, hoje como socorrista, ajudando pessoas feridas pela PM após a repressão. No dia 22 de fevereiro de 2014, o segundo ato contra o evento futebolístico traz mais gente às ruas, a PM por sua vez, acompanha o protesto com um contingente fora do normal e quando o ato estava para chegar ao seu fim, reprime a manifestação usando uma tática condenada até pela ONU e conhecida como Caldeirão de Hamburgo. Diversos manifestantes ficam feridos e mais de 200 são presos, novamente sem acusação. A repressão cada vez mais violenta da Polícia Militar a mando do Estado continua durante toda a jornada de lutas contra Copa do Mundo. Finalmente, no dia 12 de junho, dia abertura do evento da FIFA, um protesto é marcado no bairro do Tatuapé. Infelizmente, a favor dos interesses do grande evento a Polícia Militar ataca todos que estavam na manifestação, incluindo imprensa, pior que isso, a população do bairro aplaudia as bombas
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de gás que eram lançadas pela PM a esmo, inclusive contra os próprios moradores dentro de seus “condomínios fechados”. Moradores atacavam imprensa chegando ao ponto de querer ir para cima das pessoas e trocar alguns socos contra as câmeras. No mesmo dia uma repórter da CNN foi ferida por uma bomba de efeito moral. Naquele momento de puro caos, o plano da imprensa corporativista e do Estado, que usou a morte de Santiago para abafar as manifestações, dava certo pelo menos no sentido de pôr o povo contra o povo. Enquanto a bola rolava no Itaquerão (palco da abertura da Copa do Mundo), o pau comia na estação Tatuapé do Metrô, bombas voavam pela plataforma da estação que liga dois grandes shoppings da zona leste. Enfim, dias depois a justiça da bola fez seu papel e a seleção brasileira perdeu para os alemães por 7 a 1 na semifinal da Copa, deixando um gosto amargo na boca daqueles que aplaudiram a repressão contra os manifestantes. “Ditadura, essa é a palavra que se encaixa no atual momento. O Estado é poderoso e mantêm o monopólio da violência, qualquer outro que ousar em usar a violência contra ele é reprimido brutalmente. Pessoas e imprensa independente, que não estavam de acordo com o atual cenário político, foram perseguidas e trucidadas nos 11 atos contra Copa e o que mais me impressiona é como o Estado não mede esforços para desfilar suas tropas nas ruas e demonstrar força e poder, a frase ‘o poder emana do povo’ é a maior mentira já contada, pois o poder está nas mãos de poucos”, é o que diz Igor Silva, de 21 anos, estudante de Direito e um dos fundadores da frente “Não Vai Ter Copa”, que uniu diversos movimentos sociais pela luta por direitos básicos esquecidos com a realização do evento futebolístico. Outros presos políticos na repressão dos protestos contra a Copa foram o estudante de jornalismo Fabio Hideki e o ex-policial militar, Rafael Lusvarghi, detidos no dia 23 de junho de 2014, durante uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo. Eles foram acusados de serem os mandantes da tática Black Bloc, que como o Anarquismo prega e contraria a polícia brasileira, não precisa de líder. Hideki foi detido por estar de capacete
A CAPA
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Vídeo mostrando o ato do dia 12 de junho no Tatuapé
e portar uma garrafa de água mineral na mochila. No momento da prisão, um policial civil à paisana disparou tiros de munição letal para o alto. Além de serem agredidos e torturados na prisão, os rapazes foram libertos apenas em 7 de agosto, ficando quase dois meses em cárcere privado. Eles estão respondendo ao processo em liberdade, mas ainda não há nada sentenciado. Além dos nomes já citados, no dia 12 de julho, um dia antes da final da Copa, realizada no Rio de Janeiro, a Justiça do Rio, através da Polícia Civil, deteve 19 pessoas para tentar inibir um protesto marcado para acontecer nas proximidades do estádio Maracanã no dia 13 de julho, sem provas de que tenha cometido delitos. Entre as pessoas, estão Elisa Quadros, a Sininho, que frequentemente foi alvo de matérias tendenciosas divulgadas na imprensa corporativista, Camila Jourdan, coordenadora do curso de pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Igor Mendes, aluno do curso de Geografia da mesma universidade,
ativista do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) e da Frente Independente Popular do Rio de Janeiro (FIP-RJ). Apesar de terem recebido habeas corpus um mês depois das prisões, em 3 de dezembro de 2014, Igor Mendes foi detido no Rio e a Justiça expeliu mandatos de prisão aos 19 ativistas. Igor permanece detido e os demais ativistas continuam sendo perseguidos. Após os episódios de repressão e prisões que expressam a perseguição ideológica e política de quem contraria o atual modelo do sistema político brasileiro, chegam eleições de 2014 para presidente, o gigante tupiniquim, que havia acordado em junho de 2013 e colocado pânico nos engravatados do Congresso Nacional, se cansa de gritar e apanhar e volta a dormir em berço esplêndido. “Diversos fatores diminuíram os atos. Primeiro a repressão brutal da PM e órgãos ligado aos governos, depois a perseguição aos ativistas com medidas de prisão preventiva e uma conspiração e abandono de diversos setores da esquerda que
A CAPA preferem largar a luta e disputar eleições. A repressão já era esperada, agora, o “peleguismo” de alguns movimentos enfraqueceu (os atos) e perdemos a força. É um problema, já que não conseguimos mais novas mobilizações, agora só resta fortalecer a luta de outras classes trabalhistas e movimentos”, desabafa Igor, que foi entrevistado durante os últimos atos contra a Copa da FIFA. A onda conservadora iniciada após a morte de Santiago se expande, principalmente após escândalos de corrupção que envolveram a maior estatal brasileira, a Petrobras, além da morte do político e ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que deixou uma lacuna na e colocou a ambientalista e religiosa Marina Silva (Pelo PSB) no meio da disputa entre Petistas e Tucanos. Mesmo com uma lista de supostos crimes e uma vida de playboy de dar inveja a qualquer “Bonde da
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Repressão durante uma reunião sobre os presos políticos
Primeiro ato contra o aumento da tarifa para 3,50 em São Paulo (2015)
Vídeo mostra a truculência da Polícia Militar de São Paulo durante o 2º ato contra o aumento da tarifa do transporte
A CAPA Stronda”, o candidato da direita Aécio Neves quase tira a pupila de Lula, Dilma Rousseff, do poder. Um sentimento de regressão caso o tucano ganhasse, fez com que o Brasil apostasse novamente na candidata petista. De qualquer forma, com um ou outro no poder, os brasileiros continuam na mesma situação que se encontravam antes das revoltas de 2013 e por diante. Um clima de impotência tomou conta do movimento, as ruas deixaram de ser ocupadas como em 2013 e mais de 20 jovens, contando com Rafael Braga, estão presos ou sendo perseguidos como se fossem terroristas, sendo que realmente só estavam lutando por ideologias políticas diferentes dessas que são colocadas em práticas com esse modelo de Democracia. Atualmente, em 2015, pessoas continuam sendo perseguidas politicamente no Brasil, além disso, ocorre uma onda cada vez maior de assassinatos praticados pela Polícia Militar contra juventude brasileira, na qual ocasionou o envio de um manifesto sobre o problema (produzido por movimentos sociais, como o das Mães de Maio) à Organização das Nações Unidas - ONU. Muitos manifestantes estão sendo considerados foragidos pela justiça, uma campanha envolvendo diversos movimentos
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sociais e a mídia independente trabalha pela libertação dos que estão privados de suas liberdades com acusações incoerentes, com argumentos que visam tentar acabar com os processos que perseguem politicamente a juventude ativista do povo. O país vive escândalos de corrupção espalhados por toda a massa política, seja envolvendo partidos de direita ou de esquerda, a luta pela passagem voltou a ser pauta após o aumento da tarifa do transporte subir ainda mais este ano, trazendo a população de volta às ruas, mas sem muito sucesso após serem reprimidos violentamente pela PM. Os movimentos buscam agora a tarifa zero, ou um valor abaixo do anterior ao aumento. A repressão por parte da Polícia Militar continua, os protestos se mostram mais experientes, levando em conta os erros do passado. A água do país, agora é tema quase que apocalíptico, pois divide opiniões e agitam ânimos, mas, mesmo assim não se sabe o que há por trás de todo o problema envolvendo esse líquido essencial para a vida. Governantes escondem informações da população e os órgãos responsáveis pelo abastecimento também. Com sede ou com tarifa, o que resta ao povo é esperar ou lutar.
Violência e insanidade da PM de São Paulo dentro de uma estação do Metrô, após o fim de um ato pacífico.
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NÃO TEVE COPA Por Kauê Pallone e Amanda Ivanov
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Morte de pichadores em São Paulo reabre o debate sobre a perseguição e o preconceito da sociedade contra artistas renegados pelo Estado Por Kauê Pallone “Meu primo nunca teve uma arma, nunca matou nem feriu ninguém, todo mundo sabe e é evidente que o que ele fazia era pichar.”, assim escreveu em uma rede social a prima de Alex Dalla Vecchia Costa, 32, morto por policiais militares, junto ao amigo de pichação, Aílton dos Santos, 31. A dupla fazia parte dos Jets, um grupo de pichadores de Santo André, região do Grande ABC de São Paulo, criado no fim dos anos 1990, que Alex ajudou a fundar. Na noite de 31 de julho, Alex e Aílton saíram para “fazer um prédio” que significa pichar o pico de um edifício de destaque, localizado na Avenida Paes de Barros, na Mooca, Zona Leste de Sampa. Tudo parecia perfeito, era só entrar, subir, pichar e sair, para depois registrar e compartilhar a arte feita pelos dois. O plano ocorreu bem até certo ponto, a dupla conseguiu entrar no prédio e subir até o último andar para poder pichar. O zelador se deparou com os dois no local e perguntou o motivo de eles estarem lá, a dupla diz que só estava fazendo manutenção nos elevadores. Suspeitando deles, o porteiro e o caseiro do prédio resolveram travar o elevador, alarmar os moradores e chamar a Polícia Militar. O que aconteceria a seguir é um fato ainda obscuro. Na manhã do dia 1 de agosto sai a notícia no jornal O Estado de S. Paulo: “Dois suspeitos morrem em tiroteio dentro de condomínio na Mooca”, a notícia estampava a interface atualizável do site, os mortos eram Alex e Aílton, assassinados em um apartamento vazio no 18º andar. Na matéria havia
informações vagas e vindas de moradores do prédio, afirmando que eram assaltantes que haviam tentado invadir o edifício, a reportagem só foi atualizada às 23h56 daquele dia, durante esse período, Alex e Aílton foram massacrados como assaltantes pela barrigada da imprensa paulistana. No jargão jornalístico, barriga é um grave erro de informação e falta de averiguação dos fatos, mas às vezes este fato pode já ter sido manipulado por aquele que passa a informação para determinados veículos. Sabendo da vulnerabilidade da mídia e de seu apetite pelo sangue dos excluídos, a Polícia Militar, com um extenso portfólio de “cena do crime” manipulada, fez seu papel de agente do Estado opressor, passando uma informação distorcida da verdade. Com a falta de provas visuais, duas armas frias e uma imprensa louca pelo espetáculo, a PM deu sua versão através da assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública. Dizendo que quando chegaram ao apartamento encontraram Alex na cozinha, ele teria atirado contra os policiais e teria sido baleado em seguida, Aílton estava no quarto e também teria revidado contra a polícia e morto logo depois. Para dar maior veracidade à versão, um policial teria sido baleado no braço, mas não se sabe pelas mãos de quem, já que nenhuma testemunha, além dos policiais, viu a dupla armada. Dias depois, quatro PMS, dois cabos, um tenente e um sargento, chegaram a ser presos e levados ao presídio Romão Gomes, na Zona Norte da capital. Cada um já havia matado duas pessoas em
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outras ocorrências, porém, 23 dias depois, foram soltos pelo Tribunal Militar. Diante disso tudo, finalmente abre-se uma luz no rolê. A luta dos familiares de Alex e Aílton por justiça, pode ter finalmente um desfecho no momento em que surgem novos documentos que podem comprovar a manipulação do crime por parte da PM. Jornalistas da Rede Record tiveram acesso a informações de testemunhas através do inquérito policial. Segundo o depoimento de dois policiais que estavam no prédio, a dupla de pichadores já estava dominada pelos policiais, ao contrário dos depoimentos registrados na corregedoria, que diziam ter havido um tiroteio. Além disso, as testemunhas, que têm os nomes em sigilo, afirmam que os dois rapazes foram rendidos com as mãos para trás e deitados com os rostos voltados para o chão, ainda vivos. Os policiais contam que receberam ordens para sair do local e quando já estavam no batalhão, souberam que houve disparo com arma de fogo e dois indivíduos foram baleados no prédio, além do suposto policial baleado. Sobre este último, além dos depoimentos, uma carta anônima foi adicionada ao inquérito afirmando que os policiais mataram os pichadores, manipulando um tiro-
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teio, onde o policial teria sido atingido. Ela conta que Aílton foi assassinado primeiro no quarto, após uma discussão entres os PMs para saber quem ia praticar a execução, um deles se irritou e matou a sangue frio o rapaz. Alex foi morto logo em seguida, na cozinha, suplicando para não morrer. De acordo com a carta antes de ser morto ele disse, “por favor, não me mate, sou só pichador, não ladrão”. E mesmo que estivessem cometendo algum crime, sabe-se que no Brasil não há pena de morte e não é com a vida que devem pagar sentença. Porém, os agentes da segurança pública do país não seguem a Constituição a regra. Expressão, tipografia e repressão Há milênios o homem se expressa através de desenhos e textos grafados em pedras, rochas, montanhas, grutas, enfim, em diversos locais pelo mundo podemos saber, pesquisar e refletir sobre nossa história através dos significados presentes em cada inscrição pré-histórica nos muros da antiguidade terrestre. Hoje em dia não é diferente, assim como qualquer arte, a pichação traz consigo o sentimento de existência presente em cada
MEGAFONE ser, pois somos uma sociedade cada vez mais inchada pela superpopulação e por conta disso, esmagados pela meritocracia e pelo capitalismo imperialista. Por isso, diversos problemas sociais são transferidos para a arte e expressão do homem, seja ele quem for. Pichações com xingamentos, poesia e dizeres políticos escritos nos muros da antiga cidade de Pompéia, na Itália, foram preservados após a erupção do vulcão Vesúvio. Imagine então, um mundo daqui há milhões de anos, em um futuro talvez onde a raça humana já não exista e outra espécie inteligente se dedique ao estudo de nossa cultura. Para espanto de muitos que torcem o nariz para a pichação, seria ela uma das únicas provas de nossa existência e cultura. Os metrôs seriam nossas grutas, os prédios pichados nossas montanhas e os muros nossas rochas. A história de São Paulo e o grito das ruas paulistanas, está inscrito nestes locais, são neles que nossa cultura está grafada. “Existe uma série de fatores que explicam o desenvolvimento estético da pichação. O primeiro é a estética das cidades onde o pixo é desenvolvido. No caso de São Paulo, a pichação é reta e angulosa seguindo as linhas guias da cidade, uma vez que São Paulo é composta por muros, prédios e esquinas. Outro fator é o número de pichadores. Para um pichador conseguir se destacar na paisagem urbana da cidade ele precisa ter um diferencial estético para poder se destacar entre as outras pichações, o que acaba obrigando cada pichador a criar seu próprio
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MEGAFONE alfabeto e estilo. Outra fator é performance corporal de cada pichador: escrever de ponta cabeça, se pendurar numa janela e pichar nas pontas dos pés, pichar um muro extenso em uma grande avenida, tudo isso acaba influenciando também na estética de cada pixo”, é o que explica Cripta Dijan, pichador há 18 anos e um dos principais nomes na cena do picho brasileiro, tendo sua pichação respeitada em diversos países da Europa, menos no Brasil, onde assim como qualquer outro pichador, continua sofrendo a repressão do Estado. “Comecei ainda moleque aos 12 anos. O que me motivou no começo foi a aventura e a transgressão. Eu sempre tive instinto pra essas coisas, desde a infância. Nessa época a pichação vivia seu auge de consolidação como movimento e, com essa onda, um grupo de amigos meus começou a pichar. Não demorou muito pra eu começar também. Mas, o que me acorrentou ao picho mesmo foi a descoberta em relação ao tamanho do movimento, que interligava toda a cidade. Foi ai que percebi que teria que ralar muito pra ser alguém no picho, porque na pichação ‘quem não é visto não é lembrado’, então o que era uma simples paixão virou obsessão”, relembra Djan. Infelizmente, boa parte do que já foi escrito nos muros a cidade, se apagou. Não por culpa do tempo, mas pelas mãos de serviços públicos de limpeza urbana, que apagam (e pioram) a escrita urbana dos concretos metropolitanos, além de leis que estabelecem regras estéticas para a cidade e dão aval para a repressão, como a Lei Cidade Limpa, contraditória em diversos pontos. Hoje, em São Paulo e no Rio de Janeiro, além de outras cidades no Brasil, há diversos formatos tipográficos na expressão artística da sociedade, sejam eles legais ou ilegais. Do lado legal estão as técnicas e formatos envolvidos na tipografia da produção publicitária, que sempre terão interesses econômicos relacionados ao incentivo do consumo desenfreado e ao aquecimento da economia mundial. Do lado ilegal, estão as pichações e intervenções artísticas urbanas, ambos sem interesses econômicos, ao contrário, desfavoráveis aos apelos do capital. Qual é a relação entre os dois? Como um ciclo vicioso, a publicidade causa o consumo e se torna
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agente do esmagamento das minorias na cidade, dessas minorias nasce a revolta, a pichação é a voz dessa minoria, ou seja, serve como instrumento de luta pela liberdade de expressão e emancipação do povo, um grito grafado nas paredes mostrando que eles existem e que são muitos. Por conta disso a pichação vai ocupar espaços já ocupados pela publicidade, ou melhor, vai se expandir para os outros campos onde o dinheiro domina e oprime, como é o caso dos prédios e condomínios fechados. Foi o que aconteceu com Alex e Aílton, que pagaram com a vida ao tentarem subverter o mundo privado da burguesia paulistana, foram mortos pelo braço armado (PM) dos interesses capitalistas. “Pra nós, pichadores, não é novidade nenhuma esse tipo de violência. A polícia está acostumada a agir fora dos limites da lei. E não precisa ser pichador pra saber disso, basta morar na periferia. Casos de execução em rolês de pixo não são tão comuns, mas não é a primeira vez que acontece. Já aconteceu com outros pichadores. O que determina isso muito vezes é a ficha criminal de cada pichador. Quando a polícia pega alguém que já tem passagem cometendo algum tipo de transgressão ou delito, eles acham que matando estarão fazendo uma ‘limpeza étnica’ para a sociedade, que por sua vez apóia isso. E foi exatamente o que aconteceu no caso do Alex e Aílton. A pena de morte no Brasil já foi subliminarmente aprovada, só que em vez de produzir papelada é mais fácil para o Estado deixar sua polícia fazer esse trabalho nas ruas”, expõe Dijan. Noite de rabisco e tortura “A gente foi fazer um rabisco na escola, eles tinham acabado de pintar o muro. Estávamos empolgados, levamos até escada para o local, porque era muito alta a parte que íamos pichar. Estava tudo pronto para começar, tentávamos nos entender pra saber quem iria primeiro fazer os rabiscos e nesse tempo apareceu a viatura na rua de baixo da escola. A reação de início foi correr, atravessamos a escola, porque conhecíamos o lugar, mas quando chegamos na rua de trás haviam mais
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duas viaturas, estávamos cercados. Fomos então abordados, na hora, os policiais disseram que estavam lá por conta de uma denúncia de moradores, que teriam dito que a gente estava lá para roubar materiais escolares, mas ao saberem que éramos pichadores os caras ficaram bravos, eles queriam ladrão e acharam pichador. Estávamos em quatro pessoas, fizeram a gente levantar um de cada vez e começaram as agressões. O primeiro que levantou tomou uns tapas e recebeu diversos xingamentos, em seguida foi minha vez, o PM começou a me fazer algumas perguntas e eu já sabendo que poderia ser agredido fiquei na minha, até que um outro policial, para provocar este PM, disse que eu havia dito que o pai dele mijava sentado, eu não disse nada, mas mesmo assim permaneci calado, tomei um soco no peito. Depois, o mesmo policial falou novamente por mim, dizendo que outro PM que estava lá era gordinho e não conseguia correr, dessa vez eu respondi e disse que não havia dito nada, mesmo assim, foi como eu o acusasse de mentiroso, fui agredido novamente, de diversas formas. Eu cai no chão, enquanto isso agrediram meus outros amigos. Nesse tempo, eles acharam nossas latas de tinta, deram elas para a gente e nos fizeram pintar uns aos outros, enquanto isso recebíamos ameaças, como a de que eles já sabiam onde morávamos e se contássemos para alguém seríamos mortos. Achamos que depois disso tudo seríamos liberados numa boa, mas um dos policiais disse que ia contar até 6 para sairmos da frente dele. A contagem começou... 1, 2... e pulou para o 6, dando uma rasteira em um dos nossos amigos e nos ameaçando até a gente desaparecer na ca-
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lada da madrugada”, conta KSN, pichador desde a adolescência, da região de Itaquera, bairro da zona leste, onde ocorreu a agressão e humilhação. Sua história poderia ter terminado com um fim trágico, assim como o que aconteceu com Alex e Aílton na Mooca. KSN, não picha mais, a vida quis assim, mas as marcas do preconceito e das agressões que sofreu só porque queria se expressar e se divertir com uma arte urbana diante da segregação que o cerca, ficarão marcadas para sempre. “A perseguição e o ódio contra pichadores, no geral, está ligada a uma série de fatores, mas sem dúvida o que mais contribui pra isso é a falta de politização da sociedade, que é facilmente manipulada pelo Estado e por veículos de comunicação que têm como base um discurso segregador e estereotipado. Esses estereótipos circulam de tal forma que acabam demonizando certos grupos sociais. Esses conceitos se entrelaçam a teorias religiosas dividindo o mundo entre bem e mal, certo e errado. O individualismo também é um dos fatores que contribuem com a demonização dos pixadores. As pessoas se sentem invadidas quando têm seus muros pichados, mas não percebem que seus muros, casas e prédios são intervenções muito mais permanentes e autoritárias num espaço que deveria ser público. O apego ao bem material é tão grande, que as pessoas chegam a valorizar mais um pedaço de concreto do que uma vida, achando justificável que quem danifica paredes deve pagar com a vida”, explica Djan. O caso de Alex e Aílton se tornou exemplo de impunidade, ambos foram esquecidos pelo Estado,
MEGAFONE como se fosse um castigo por desobediência, que além de dizimar os dois pichadores, também tortura as famílias deles eternamente. Nem mesmo no velório da dupla o respeito do Estado existiu, pois policiais perseguiram amigos deles que pichavam palavras de indignação e homenagens em alguns tapumes de construção próximos ao cemitério onde foram enterrados. Mas apesar disso a esperança e a luta por justiça, por parte de amigos e familiares de Alex e Aílton, não se ajoelhou à impunidade, mais que isso, a história da dupla está registrada e mantida pelo primo de Alex, que alimenta a página oficial do pichador no Facebook. Como lendas, Alex e Aílton sobrevivem na rede, nas crônicas do pixo paulistano e nos muros da selva de pedra, atacando a opressão de um Estado preconceituoso e segregador. Um Estado que precisa, mas não quer compreender uma arte legit-
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imamente urbana, de traços culturais fortes e que nunca irá morrer. “Acho que a arte é apenas um dos instrumentos usados pelos picadores, mas de forma quase que extintiva. Porque se exige técnica e talento quando vamos pixar, não é só rabisco, existe todo um processo criativo para se desenvolver um pixo, principalmente na execução. Tanto estética como conceitualmente, a pichação pode ser considerada arte. O pichador resgata um conceito que estava quase perdido no meio artístico, a subversão e o ativismo. Assumir a bronca de ser um pichador além de subversivo é um grande ativismo, onde o maior compromisso é com a transgressão e liberdade de expressão, sem contar o risco de morte que corremos quando estamos pichando. Qual outro artista coloca tantas coisas em riscos pra defender sua arte?”, pergunta Djan.
Traficando Informação
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Entrevista com Cripta Djan
Há 18 anos nos rolês de pixo, neste tempo conquistou os picos da cidade, respeito na cena brasileira e também na gringa
De primeira, gostaria de saber um pouco da sua história, motivos que o levaram a pichar, sua paixão pelo pixo e reconhecimento pelo seu trampo. Sou pixador há 18 anos, comecei ainda moleque aos 12. O que me motivou no começo foi a aventura e a transgressão. Eu sempre tive instinto pra essas coisas, desde a infância. Nessa época a pixação vivia seu auge de consolidação como movimento e, com essa onda, um grupo de amigos meus começou a pixar. Não demorou muito pra eu comecei também. Mas, o que me acorrentou ao pixo mesmo foi a descoberta em relação ao tamanho do movimento, que interligava toda a cidade. Foi ai que percebi que teria que ralar muito pra ser alguém no pixo, por que na pixação ‘quem não é visto não é lembrado’, então o que era uma simples paixão virou obsessão.
O que acha da perseguição de parte da sociedade brasileira e da violência policial contra o pichador, levando em consideração o uso da pichação como ferramenta de expressão existencial dentro do ambiente urbano? A perseguição e o ódio contra pixadores, no geral, está ligada a uma série de fatores, mas sem dúvida o que mais contribui pra isso é a falta de politização da sociedade, que é facilmente manipulada pelo Estado e por veículos de comunicação que têm como base um discurso segregador e estereotipado. Esses estereótipos circulam de tal forma que acabam demonizando certos grupos sociais. Esses conceitos se entrelaçam a teorias religiosas dividindo o mundo entre bem e mal, certo e errado. O individualismo também é um dos fatores que contribuem com a demonização dos pixadores. As pessoas se sentem invadidas quando têm seus muros
Imagem por: Fabio Vieira
Traficando Informação pixados, mas não percebem que seus muros, casas e prédios são intervenções muito mais permanentes e autoritárias num espaço que deveria ser público. O apego ao bem material é tão grande, que as pessoas chegam a valorizar mais um pedaço de concreto do que uma vida, achando justificável que quem danifica paredes deve pagar com a vida. O que acha da morte de Aílton e Alex pela PM de São Paulo? Os manos Alex e Aílton com certeza foram friamente executados. Pra nós, amigos e familiares, não há duvida sobre isso. Inclusive, até a própria corregedoria da PM sabe disso, tanto é que os policiais envolvidos no caso chegaram a ficar presos, e estão respondendo pelos homicídios. Pra nós pixadores não é novidade nenhuma esse tipo de violência. A polícia está acostumada a agir fora dos limites da lei. E não precisa ser pixador pra saber disso, basta morar na periferia. Casos de execução em rolês pixos não são tão comuns, mas não é a primeira vez que acontece. Já aconteceu com outros pixadores. O que determina isso muitas vezes é a ficha criminal de cada pixador. Quando a polícia pega alguém que já tem passagem cometendo algum tipo de transgressão ou delito, eles acham que matando estarão fazendo uma ‘limpeza étnica’ para a sociedade, que por sua vez apóia isso. E foi exatamente o que aconteceu no caso do Alex e Aílton. A pena de morte no Brasil já foi subliminarmente aprovada, só que em vez de produzir papelada é mais fácil para o Estado deixar sua polícia fazer esse trabalho nas ruas. O que acha da PM durante a abordagem de pichadores? O que acha da PM como um todo, levando em consideração a repressão contra pichadores? A PM no Brasil, no geral, são grupos de extermínio perigosos que agem com apoio do Estado, e que ainda muitas vezes têm as leis a seu favor. A abordagem com os pixadores é sempre violenta e opressiva. Somos uma espécie de ‘saco de pancadas’ da PM. Muitas vezes nessas abordagens só rezamos pra sair vivos.
101 Te deixa abalado saber que os policiais que mataram Alex e Aílton estão soltos? Abalado não, porque é comum essas instituições serem corporativistas. Mas, indignado e revoltado sim, porque quando é um pobre que comete esse tipo de crime não têm as mesmas regalias. Sobre a mídia, o que acha do tratamento deles diante da pichação? Já foi pior essa relação entre pixadores e a mídia, nos últimos anos pode-se dizer que o pixador tem tido mais espaço para mostrar seus argumentos, têm algumas matérias que podem até ser consideradas razoáveis, ou no mínimo imparciais. Mas vale deixar claro que os pixadores no geral não estão em busca de aceitação social, a recusa é sempre o que legitima a pixação. A influência das necessidades encontradas pelos pichadores no momento em que grifam seus “pixos” nos muros, fez com que o formato das letras tivesse um padrão especial e próprio da cultura de pichação em São Paulo. O que você acha dessa ligação entre a realidade do pichador e a tipografia do pixo? Existe uma série de fatores que explicam o desenvolvimento estético da pixação. O primeiro é a estética das cidades onde o pixo é desenvolvido. No caso de São Paulo, a pixação é reta e angulosa seguindo as linhas guias da cidade, uma vez que a cidade de São Paulo é composta por muros, prédios e esquinas. Outro fator é o número de pixadores. Para um pixador conseguir se destacar na paisagem urbana da cidade ele precisa ter um diferencial estético para poder se destacar entre as outras pixações, o que acaba obrigando cada pixador a criar seu próprio alfabeto e estilo. Outra fator é performance corporal de cada pixador: escrever de ponta cabeça, se pendurar numa janela e pixar nas pontas dos pés, pixar um muro extenso em uma grande avenida, tudo isso acaba influenciando também na estética de cada pixo. O que temos aqui é o Pixo Reto paulista e o Xarpi carioca, que são as duas escolas da pixação brasileira.
Traficando Informação O que você acha da diferença gráfica e da diversidade entre os pixos no eixo Rio/São Paulo? Pode comentar sobre outros estados? Acho incrível essa diversidade da pixação brasileira. Eu tive o prazer de conhecer de perto um pouco da história da pixação em algumas capitais brasileiras, e descobri uma coisa fascinante: que Rio e São Paulo influenciaram o estilo da pixação em todo país. Esse modo de escrita particular brasileira, desenvolvida inicialmente em São Paulo e Rio de Janeiro na década de 1980 acabou se espalhando por outras capitais brasileiras, São Paulo com o estilo ‘’Pixo Reto’’, tendo influência forte no Sul e Sudeste, e Rio de Janeiro com o estilo ‘’Xarpi’’ sendo referência para o Norte e Nordeste, o que acabou gerando no surgimento de estilos únicos de pixação em outras capitais brasileiras. Na sua opinião, pichação pode ser tratada como arte? Ou é mais do que isso, como um movimento que expande conceitos de arte e afins? Acho que a arte é apenas um dos instrumentos usados pelos pixadores, mas de forma quase que extintiva. Porque se exige técnica e talento quando vamos pixar, não é só rabisco, existe todo um processo criativo para se desenvolver um
102 pixo, principalmente na execução. Tanto estética como conceitualmente, a pixação pode ser considerada arte. O pixador resgata um conceito que estava quase perdido no meio artístico, a subversão e o ativismo. Assumir a bronca de ser um pixador além de subversivo é um grande ativismo, onde o maior compromisso é com a transgressão e liberdade de expressão, sem contar o risco de morte que corremos quando estamos pixando. Qual outro artista coloca tantas coisas em riscos pra defender sua arte? O que acha do reconhecimento de outras culturas, como a europeia, que trata a pichação brasileira como arte, tendo até mesmo livros sobre o assunto publicados? Fale um pouco da sua experiência. Não me espanta em nada saber que a pixação é mais compreendida na Europa do que no nosso próprio país, começando pelo nível na formação cultural e política dos cidadãos desses países europeus. O Brasil ainda perde de goleada pra muitos países nestes aspectos. As pessoas aqui não têm conhecimento cultural e artístico suficiente pra entender a dimensão da importância artística e política que a pixação brasileira representa no cenário da arte mundial.
Imagem por: Fabio Vieira
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VIDA DE PROSTITUTA
O dia a dia de garotas de programa na capital paulista reflete a faceta de uma classe trabalhadora Por Ronaldo S. Lages Segundo o Relatório Mundial sobre a Exploração Sexual, quarenta milhões de pessoas se prostituem ao redor do mundo. A prostituição remonta à antiguidade, muitos a consideram a profissão mais antiga do planeta, entretanto, ainda sofre grande preconceito por parte da sociedade que condena seus profissionais, em sua maioria mulheres. Para entender a vida de pessoas que praticam a prostituição, entrevistamos algumas profissionais do sexo que trabalham na cidade de São Paulo. A jovem Sandra, 25, mora no bairro de Santo Amaro, Zona Sul. Há três anos trabalha como garota de programa em uma casa noturna no bairro da Lapa, na Zona Oeste. Sandra mora com um irmão que desconhece sua verdadeira profissão. Têm
duas filhas sendo que a mais nova com apenas um ano de idade fica sob os cuidados de uma vizinha. O pai das crianças morreu em um acidente de moto e também não sabia de seu verdadeiro ofício. Sandra conta que escolhe os dias para trabalhar na casa, de maneira enfática ela justifica, “se quiserem que eu trabalhe todos os dias, vou procurar um emprego registrado em carteira”. Seu ingresso na profissão se deu por intermédio de uma irmã mais velha que teve contato anterior ao submundo da prostituição, entretanto, Sandra alerta, “ela largou essa vida, hoje é evangélica”. O intuito da garota de programa é comprar um apartamento e assegura que se trabalhar todos
Imagens por: Elaine Vasconcellos
MEGAFONE os dias, em um ano pode obter até mesmo uma casa própria. Mas antes de adquirir seu imóvel, quer voltar a estudar enfermagem. Na região central da cidade, em diversas ruas, se encontra - até mesmo durante o dia - garotas que oferecem seus serviços. Muitas são hostis quando falamos que queremos fazer uma reportagem, sendo que uma delas cogitou cobrar o valor de um programa para falar, contudo, outras se mostraram dispostas a dar depoimento. É o caso de Priscila Ferreira, 19, que chegou de Alagoas há pouco tempo e deixou uma filha de 1 ano e sete meses na terra natal. De acordo com Priscila, a vida de garota de programa é arriscada. “Tenho medo, pois não sei o que vai acontecer no quarto quando estiver sozinha com o cliente”. O tempo do programa é curto, apenas 20 minutos, alguns clientes ficam bravos e a ameaçam, “dizem que vão voltar” – porém, isso nunca aconteceu. Sobre sua família, a moça responde que a mãe está no Nordeste e sabe de sua escolha, mas não aceita. A vida de garota de programa não é nada fácil como diz o ditado popular, algumas das moças que fazem ponto próximo à Praça da Sé chegam a ter 18 relações sexuais por dia em um período de mais de dez horas de trabalho. O maior sonho de Priscila é estudar, quer cursar medicina. Em determinado momento da conversa, Priscila tem que sair para atender um cliente que a chamava e se escondia atrás de um orelhão público – rotina. Já a pernambucana Brenda, 21, de curvas sinuosas, batom vermelho e calça justa, afirma que nunca nenhum cliente se apaixonou por ela e vice versa, além de nunca ter passado por momentos de tensão e violência, na profissão. Diferentemente de Brenda, a londrinense Elisangela, 35, diz já ter se envolvido com um cliente. “Ele frequentava minha casa, eu fazia bolo, torta e conversávamos”. Elisangela acredita que terá mais dois anos de profissão e após isso deseja voltar para o Paraná onde está seu filho de 15 anos. E assim é o dia a dia de infinitas mulheres somente na capital paulista. Muitas com filhos, viúvas, solteiras ou até mesmo casadas, mãe de família, na tentativa de sobreviver e ao mesmo tempo alcançar seus sonhos em um mundo que as recrimina.
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A Cidade de São Paulo
Ensaio por Felipe Paiva/ColetivoRUA
Ao redor de 11 milhões de pessoas está uma cidade. Um ponto de encontro entre o belo e o feio, o perfumado e o fétido, o amor e o ódio, o caos e a paz. São Paulo a terra da garoa, terra da diversidade e terra da vida noturna. Em todo o cinza fica difícil não notar as fortes cores da cultura, do bosque e da violência. Mas nada é tão valioso quanto a alma de cada habitante e cada cidadão que transforma esse agregado de concreto em vida.
+ arte por favor
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PROJETANDO RESISTÊNCIA Coletivo Projetação ilumina patrimônios com a voz das ruas Por Amanda Ivanov Sem tinta, spray e ou qualquer coisa semelhante, junho de 2013 também trouxe um tipo de manifestação artística um pouco diferente. Usando apenas a projeção de luz com dizeres que manifestam insatisfações factuais, políticas e sociais, o Coletivo Projetação propõe um novo conceito de arte urbana. Ousando da arte de manusear lentes e foco de luz que surge de uma imagem pequena e transparente, o coletivo disseminou frases e metáfora de impacto em diversos patrimônios públicos e privados de diversas capitais brasileiras. “Nosso objetivo é gerar reflexão nas pessoas para que cheguem às suas conclusõese se questionem se existe algo a ser feito para uma sociedade mais justa. Dessaforma, esperamos plantar sementes de engajamento. Nossa torcida é que floresçacada vez mais”, diz um dos ativistas a frente do coletivo que prefere ser chamado porHenry
Thoreau, 29, jornalista. Através das redes sociais se conectam a pessoas de várias capitais, que com auxíliodo coletivo conseguem fazer a intervenção artística. Como aconteceu no ato unificado contra a Copa do Mundo, no dia 15 de maio em São Paulo. Antes da manifestaçãopercorrer pelas ruas da capital paulista, frases foram projetadas em um edifício da Avenida Paulista. Cidades como Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Ribeirão Preto (SP) também já foram palco das projetações.Nas mensagens, apoio a causas sociais e políticas, como a indignação contra opressão do Estado nas manifestações populares, desapropriações e assassinatos por parte da Polícia Militar são basicamente os conteúdos refletidos nos monumentos. “Pretendemos nos transformar numa plataforma de projetação para amplificar o grito dos excluídos”.
+ arte por favor
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O que se projeta com a luz Por Coletivo Projetação Com a crise de representatividade “deveres” como o legislativo, judiciário e executivo que talvez jamais tenham representado de maneira verdadeira o povo, estão ainda mais distantes das necessidades e anseios da populaçãoo. Também se incluem, por razões óbvias, os sindicatos, políticos, partidos e outras instituições que, teoricamente, são tão importantes para efetivação da democracia. O que vemos é o oposto uma sociedade dominada por grandes riquezas, em uma relação muito evidente entre estado o capital. Basta olhar os direitos fundamentais da constituição: moradia, educação, saúde, liberdade de expressão e tantos outros di-
reitos humanos são violados no dia a dia. Neste cenário, defendemos e acreditamos em causas sociais que lutem por democracia direta e autonomia popular. No geral, somos contra a violência do estado e do capitalismo. Defendemos a participação da população na gestão da sociedade. Por isso, nós ajudamos como podemos para aumentar a voz das maiorias e minorias oprimidas. Assumimos e defendemos a pluralidade de sujeitos na sociedade. As causas são as mais variadas possíveis: somos contra o machismo, contra a homofobia ou contra qualquer outra forma de discriminação de gênero, somos em favor das causas ambientais, defendemos o direito à cidade: mobilidade e tarifa zero. Queremos uma educação que de condições para todos os trabalhadores da educação e que valorize a autonomia dos alunos, principalmente o aluno pobre. Acreditamos que a educação não deve formar servos submissos ao estado e ao capital deve formar cidadãos verdadeiramente livres e conscientes de seu papel na sociedade. A lista é grande, mas não poderíamos deixar de citar de algo mais ligado ao coletivo também defendemos o direito a comunicação mais democrática.
Glutão
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Brisas e Estômagos
Um ensaio sobre especiarias e paladares entorpecidos
E
Por Kauê Pallone
m um domingo como outro qualquer, João, rapaz pacato da região da Penha, zona leste de São Paulo, trabalhando naquele dia quente, buscava sair da mesmice e da rotina que tanto ameaçavam sua saúde física e mental, típica consequência do trabalhador brasileiro, sobrevivente de uma luta diária contra o abandono do estado. João curtia de vez em quando fumar um baseado de maconha para relaxar um pouco antes de trabalhar. Em um dia qualquer, seus baseados tinham acabado. Quando deu conta do feito, João se lembrou de um artigo que tinha lido na internet, sobre uma substância alucinógena que poderia ser adquirida ao fumar uma casca de banana seca. Por incrível que pareça para você, leitor, João achou a bendita casca seca da fruta no refeitório de onde trabalhava. Ao fumar a casca, João não conseguiu nenhum barato e continuou frustrado com sua rotina. A substância buscada por João, que não surtiu efeito e estragou seu dia cansativo foi conhecida na metade dos anos 1960 como “Bananadine” ou, em inglês, “Banana Hoax”. A receita para conseguir o efeito alucinógeno da banana foi escrita pela primeira vez no jornal Berkeley Barb, uma publicação independente de contracultura em São Francisco. A forma de conseguir extrair a tal substância consistia em: comprar 20 bananas naturais (sem pesticidas), depois de deixá-las em um refrigerador até que as cascas fiquem marrons. Comer (claro) as bananas e guardar as cascas. Após fazer isso, raspar a parte branca da casca e guardar o que retirou longe da luz solar. Depois deste processo, a pessoa deve colocar toda a raspagem em uma panela junto à água e bicarbonato de sódio. Ferver por três ou quatro horas e depois colocar em um forno por mais 20 ou 30 minutos. O resultado, segundo o jornal, seria
um pó negro que ao ser fumado tem efeito alucinógeno. A linha editorial do jornal era totalmente dedicada a temas que englobassem direitos civis e principalmente (naquela época) a favor dos protestos contra a guerra no Vietnã, a ideia do editor Max Scherr era usar os boatos dos supostos princípios alucinógenos da banana contra o sistema repressor americano em relação às drogas, para assim, fazer com que o governo proibisse a fruta. A receita chegou a ser publicada também no livro de receitas do autor William Powell, “The anarchist cookbook”, que comprou a ideia e fez o “Bananadine” ficar em alta até meados de 1967. “Já ouvi falar, mas que eu saiba é um mito, uma lenda urbana”, respondeu nossa dúvida, via e-mail, o professor Henrique Carneiro, Historiador, bacharel, mestre, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro “Comida e sociedade – Uma história da alimentação”. No título, lançado pela editora Campus, conhecemos a história e a influência da comida na sociedade e no prazer que cada alimento pode trazer ao ser humano. Um dos pontos destacados na publicação é a revolução na alimentação humana após a ruptura no isolamento continental, quando o intercâmbio de produtos de diferentes continentes alterou radicalmente a dieta de praticamente todos os povos do mundo. Especiarias asiáticas e plantas alimentícias das Américas se difundiram entre as mais diversas culturas, além delas, gêneros tropicais, como a cana-de-açúcar, o chá, o café e o chocolate, combinaram-se para fornecer um novo padrão de consumo de calorias e de bebidas excitantes, que ao lado do tabaco, tornaram-se hábitos internacionais. Outros produtos, típicos da Europa
Glutão mediterrânica como trigo e a uva, acompanharam a colonização de diversos países como, além, é claro, do álcool, que penetrou em todos os continentes. A partir do momento em que estes alimentos deixaram de ser produtos restritos a aqueles que desfrutavam de maior luxo e começaram a penetrar nas diversas camadas sociais, surge o primeiro mercado mundial, liderado pelas famosas bebidas quentes (café, chocolate e chá). Estas bebidas estão na lista das desejadas especiarias, que tiveram (e ainda têm) influência crucial na política e economia mundial. As especiarias são os desejados alimentos/drogas, diferente do que aconteceu com João e sua casca de banana, estas substâncias de consumo gustativo trazem consigo possibilidades medicinais e afrodisíacas, alimentando não só o corpo, mas também o espírito (lê-se mente). A busca incessante por estas especiarias levou o ciclo de navegações aos descobrimentos, inclusive do Brasil. No império Romano especiarias davam cor e aromas diferenciados aos vinhos, bebida que vem da uva (também alimento), como a cerveja nasce a partir do processamento de diversos tipos de grãos, assim como o uísque. A necessidade pelas especiarias foi explicada como sendo importante para disfarçar a má qualidade da carne, mas de acordo com o livro do professor Henrique Carneiro, o historiador Fernand Braudel vai mais além, explicando que o gosto pelos produtos é “psiquismo olfativo”, uma
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Glutão
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Receita de Cookies Canábicos, feito pelo Tomazine do Hempadão
acompanharam a colonização de diversos países como, além, é claro, do álcool, que penetrou em todos os continentes. A partir do momento em que estes alimentos deixaram de ser produtos restritos a aqueles que desfrutavam de maior luxo e começaram a penetrar nas diversas camadas sociais, surge o primeiro mercado mundial, liderado pelas famosas bebidas quentes (café, chocolate e chá). Estas bebidas estão na lista das desejadas especiarias, que tiveram (e ainda têm) influência crucial na política e economia mundial. As especiarias são os desejados alimentos/drogas, diferente do que aconteceu com João e sua casca de banana, estas substâncias de consumo gustativo trazem consigo possibilidades medicinais e afrodisíacas, alimentando não só o corpo, mas também o espírito (lê-se mente). A busca incessante por estas especiarias levou o ciclo de navegações aos descobrimentos, inclusive do Brasil. No império Romano especiarias davam cor e aromas diferenciados aos vinhos, bebida que vem da uva (também alimento), como a cerveja nasce a partir do processamento de diversos tipos de grãos, assim como o uísque. A necessidade pelas especiarias foi explicada como sendo importante para disfarçar a má qualidade da carne, mas
de acordo com o livro do professor Henrique Carneiro, o historiador Fernand Braudel vai mais além, explicando que o gosto pelos produtos é “psiquismo olfativo”, uma ânsia por sabores e aromas fortes e misturados, valorizados por orientações médicas que atribuíam-lhe qualidades adequadas aos humores, principalmente de serem afrodisíacos, estimulantes e infusores de calor. Em seu livro, Carneiro conta que essa volúpia pelos condimentos almiscarados, ambreados, edulcorados e apimentados, originária da época clássica e intensificada a partir da idade média, esgotou-se na Europa do sul em meados do século XVII, quando houve um retorno dos perfumes florais e da alimentação menos temperada. Nas regiões nórdicas permaneceu mais tempo o uso de condimentos, o cominho em particular. Nas regiões americana, asiática e africana o gosto intenso por picantes espalhou-se por diversas culinárias. Tradicionais plantas aromáticas europeias juntaram-se com especiarias asiáticas, o que constituiu e difundiu um arsenal mundial de estimulantes de gosto e mente. Com a descoberta da América, outras especiarias ainda desconhecidas se juntaram às tradicionais, aumentando ainda mais as possibilidades culinárias.
Glutão Entre as especiarias mais desejadas e consumidas, seja a milhares de anos atrás, seja hoje, a maconha é um ótimo exemplo da integração corpo e mente na alimentação. Há cerca de 5.000 anos atrás, a erva era um dos principais ingredientes na comida chinesa, na Europa representava um terço das especiarias usadas na preparação de alimentos. Infelizmente, por falta de informação e por conta de leis atrasadas em relação à maconha, o uso culinário da cannabis foi banalizado por conta da propaganda antidroga e limitado apenas às culturas que a aceitam como uma necessidade medicinal. Nos Estados Unidos, onde a maconha é liberada em alguns estados para o uso medicinal ou recreativo dependendo da lei de cada um deles, ou na Holanda, mais precisamente em Amsterdam, o uso culinário da cannabis é sucesso garantido e aprovado. Comer alimentos a base de maconha não traz os problemas causados pela da fumaça, pelo contrário, em alta no mercado, seu uso tem sido muito bem aceito entre médicos que tratam pacientes com câncer nos EUA. Barras de amendoim, óleo de THC concentrado para misturar em receitas próprias, chocolates, mel, manteiga, cookies, pirulitos, chicletes, bolos e até pipoca, têm sido os produtos a base de cannabis, mas vendidos. Assim como as plantas aromáticas deram novos sabores à culinária mundial, a maconha também tem servido como aromatizante, mesmo sem os efeitos do THC, o aroma inconfundível da erva está presente em bebidas como cerveja, sucos e vodka.
126 Entre as especiarias mais desejadas e consumidas, seja a milhares de anos atrás, seja hoje, a maconha é um ótimo exemplo da integração corpo e mente na alimentação. Há cerca de 5.000 anos atrás, a erva era um dos principais ingredientes na comida chinesa, na Europa representava um terço das especiarias usadas na preparação de alimentos. Infelizmente, por falta de informação e por conta de leis atrasadas em relação à maconha, o uso culinário da cannabis foi banalizado por conta da propaganda antidroga e limitado apenas às culturas que a aceitam como uma necessidade medicinal. Nos Estados Unidos, onde a maconha é liberada em alguns estados para o uso medicinal ou recreativo dependendo da lei de cada um deles, ou na Holanda, mais precisamente em Amsterdam, o uso culinário da cannabis é sucesso garantido e aprovado. Comer alimentos a base de maconha não traz os problemas causados pela da fumaça, pelo contrário, em alta no mercado, seu uso tem sido muito bem aceito entre médicos que tratam pacientes com câncer nos EUA. Barras de amendoim, óleo de THC concentrado para misturar em receitas próprias, chocolates, mel, manteiga, cookies, pirulitos, chicletes, bolos e até pipoca, têm sido os produtos a base de cannabis, mas vendidos. Assim como as plantas aromáticas deram novos sabores à culinária mundial, a maconha também tem servido como aromatizante, mesmo sem os efeitos do THC, o aroma inconfundível da erva está presente em bebidas como cerveja, sucos e vodka.
Receita de Manteiga de Maconha como redução de danos
Abrindo as portas da percepção
MEGAFONIa para
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averiguação
NOSSO RELATO SOBRE A REPRESSÃO Por Amanda Ivanov
“Não
vai ter copa”, gritavam os manifestantes no protesto realizado no dia em que São Paulo completava 460 anos, em 2014. Todos saíram do Masp sentido Avenida Brigadeiro Luís Antonio, reivindicando por melhorias na saúde, educação e direitos da população brasileira, questionando os gastos do governo para a realização da Copa do Mundo. Não imaginávamos que teria tamanha proporção, afinal, os ânimos do povo não eram os mesmos das manifestações de junho de 2013. Bandeiras, cartazes e faixas escancaravam o motivo daquele encontro. “Sem direitos, não vai ter Copa”. E quer motivo maior do que esse? Bem no início da Avenida Brigadeiro, o número de manifestantes era grande e haviam policiais suficientes para combater qualquer ‘desordem’. E os PMs até começaram a repreender ou criticar o que ouviam. “Recua polícia, recua, a juventude está na rua”, era o grito dos manifestantes que se sentiam oprimidos após um pequeno desentendimento com a PM nessa parte do trajeto. “Adolescentes nervosinhos”, disse o agente da PM, enquanto seguíamos sentido ao Largo São Francisco. “Saúde, moradia, educação, reforma política”,
Abrindo as portas da percepção gritavam. A desmilitarização da Polícia também era tema. Chegamos ao Largo São Francisco. Os Black Bloc que faziam linha de frente do protesto para impedir qualquer violência policial aos manifestantes aproveitaram para estiar bandeiras do Anarquismo em frente à um monumento da Faculdade de Direito da USP. Os PMs se dispersaram do cordão que haviam feito, pois acharam que poderia acontecer um ataque. Nada disso, a manifestação seguiu, a bateria e as faixas de reivindicações continuavam a ter vida. Passamos em frente em da secretaria de Segurança Pública e fomos sentido à prefeitura. Os braços e as pernas sentiam os 2,0 km percorridos, gravando, transmitindo ao vivo e fotografando a primeira manifestação organizada pelo Movimento Não Vai Ter Copa. A sede e a vontade de ir ao banheiro começaram a surgir. Mas a gente não podia parar, afinal, saímos de casa com o objetivo de mostrar tudo que aconteceria no #Naovaitercopa. Em frente à prefeitura, os xingos foram ao prefeito e as pessoas que assistiam o protesto de camarote, dentro do Theatro Municipal. Até que chegamos ao ponto alto da manifestação de 25 de janeiro de 2014. Entramos na Rua Barão de Itapetininga e os atendentes do Mc Donalds abaixaram as portas e os policias foram fazer a proteção da loja. Muitos manifestantes pediram para que o protesto seguisse e deixassem a PM e o Mc Donald´s para traz. Mas, ali o confronto começou. Bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo foram lançados aos
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Registro da repressão no dia 25 de janeiro de 2014
manifestantes que corriam junto com os profissionais de imprensa tentando se proteger entre as vielas do centro histórico. Corremos muito e perdemos o fôlego, até perceber que já estávamos na Praça da República. Tudo foi muito rápido. Como era dia de festa, um show em celebração ao aniversário da cidade acontecia bem em meio a praça. Uma barreira policial se formava, sempre alerta achando que quem estava na rua reivindicando direitos, atacaria outras pessoas que também fazem parte dessa mesma situação. Não aconteceu nada. Continuamos seguindo, pela avenida São Luiz sentido à rua Martins Fontes. O comércio estava em alerta, descendo as portas, a Tropa de Choque chegou munida até os dentes, com balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo. Mesmo com o clima meio pesado, os manifestantes continua-
vam juntos, mas muitos se dispersaram, fugindo da repressão. A Martins Fontes já tinha virado Augusta quando cerca de 500 pessoas foram encurraladas pelo Choque, que fecharam os dois sentidos da via, em um quarteirão que não tinha ruas paralelas. Foi desesperador, o efeito do gás lacrimogêneo comprometia nossas narinas, tontos, sem saber para onde ir, paramos na garagem do Hotel Briston. Em poucos minutos, corremos para tentar sair de perto da repressão policial. Estávamos cansados, com sede, exaustos e desnorteados. De repente, muitas bombas vinham em nossa direção. Pessoas desciam correndo, olhávamos para trás e mais pessoas vinham correndo, o Choque não perdoava e continuava a jogar muitas bombas e atirar balas. Não sabíamos o que fazer, até que corremos sentido a outro hotel. Pensamos que talvez não fosse
Abrindo as portas da percepção
uma boa alternativa entrar, mas era questão de proteção, sobrevivência. “Entra, entra”, gritava um funcionário do Linson Hotel, número 440, da Augusta. “Não quebra, não quebra”, a maioria dos que entraram gritava. Pessoas machucadas, passando mal, tentavam entender o que estava acontecendo e como poderiam sair de lá. A nossa ideia era sair pacificamente, como até então estava sendo, mas o nosso pensamento não era nada perto da força autoritária e opressora que nesse tempo já tinha cercado todo o hotel. Na hora, cenas do filme “Carandiru” vinham na minha cabeça. Me agachei embaixo do balcão da recepção do hotel bem no momento da invasão da Tropa de Choque, ficando em frente a ação, enquanto outro membro da Revista Megafonia tinha se refugiado no banheiro. Imagina mais ou menos seis soldados (não lembro exatamente) vestidos com roupa de guerra atirando com armas de balas de borracha contra os manifestantes, em uma recepção de hotel, a queima roupa? Nisso, o celular que usava para transmitir a manifestação virou arma. “No chão, todo mundo no chão se não vai levar tiro na cara”, falavam enquanto
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apontavam os calibres na cabeça dos que estavam deitados no chão. “Deita direito cadela”, “É pra deitar direito, não que nem puta”, foi pouco, perto da violação de direitos que aconteceria naquele hotel. Espancaram o jovem Vinicius Duarte (como relatado na reportagem de capa desta edição) na frente das pessoas que por ali estavam. Trouxeram uma mídialivrista da rua e começaram a bater nela na nossa frente também. Era desesperador. Qualquer pessoa que perguntava o porquê de estar sendo detida era xingada ou agredida fisicamente. Os agentes da opressão perguntaram se tinha alguém da imprensa. Respondemos que sim e já tínhamos nos encontrado na hora de se deitar no chão. “É imprensa mesmo ou é de brincadeira? Cadê seu crachá?”, debochou um dos PMs. “Somos sim, por quê?” questionamos. O engraçado é que a força do Estado pede crachá (mesmo a PM não usando identificação) em um País onde para ser jornalista não é necessário diploma, já que o Supremo Tribunal Federal derrubou a obrigatoriedade em ser bacharel na área. Isso é só mais um fato contraditório dentro dessa “Democracia” .
Abrindo as portas da percepção Mais de duas horas se passaram sob tortura policial. Fomos levados ao 78º DP no Jardins em ônibus da polícia. No pátio da delegacia mal cabiam os detidos. Foram 128 pessoas detidas aleatoriamente, sem qualquer prova ou motivo de que deveriam estar ali. Fomos acusados de vandalismo e depredação. Mas para qualquer cabeça pensante, onde que 128 pessoas que estavam fugindo das armas não letais da PM eram os mesmos que depredaram na hora do confronto? Esse episódio foi um marco em nossa profissão. Como jornalistas, que têm o papel de transmitir informações como realmente elas acontecem, foi deprimente assistir aos telejornais e ver tudo o que aconteceu ser transmitido de forma distorcida. Fora alguns jornais impressos que relataram no fim de seus cadernos os abusos e violência policial, nenhum veículo de televisão mostrou o que de fato aconteceu e ainda colocaram a culpa nos manifestantes, inclusive na imprensa independente, estereotipando todos como vândalos e “máscarados”, propondo um pensamentos de ódio contra os que desejam contrariar essa atual forma de governo. Além da violência sofrida pelos que estavam nas imediações da Rua Augusta, o jovem Fabricio Proteus foi vítima de munição letal pela PM em ruas próximas à Consolação. Fabricio que é empacotador portava um estilete, uma de suas ferramentas de trabalho, quando foi abordado pela PM na noite de 25 de janeiro de 2014. Ao fugir, levou dois tiros a queima roupa e ficou hospitalizado na Santa Casa de Santa Cecília, no centro de SP. Para sua sorte, não perdeu a vida, mas após ter sido liberado do hospital, não tivemos informações
130 sobre seu paradeiro. Além dele, uma garota que não foi identificada, foi atropelada covardemente por um PM que pilotava uma moto da Rocan. Ela estava caída na calçada, provavelmente por causa dos efeitos das bombas, próximo ao local das manifestações e o agente da repressão passou com a moto por cima de suas pernas. Um vídeo compartilhado nas redes sociais mostra todo o fato. A noite acabou, mas tudo o que vivemos nesses momentos de opressão e violação de direitos humanos, não. Recebemos intimações para prestarmos esclarecimentos, comparecemos ao distrito policial para depor e relatamos tudo o que aconteceu conosco. Até agora não fomos informados de nada. Sabemos que estamos inclusos em um processo de depredação e vandalismo, sendo que estávamos fazendo a cobertura jornalística do protesto. No dia 20 de maio, um membro da Revista Megafonia foi intimado a prestar esclarecimentos na Delegacia de Investigações Criminais (Deic) no mesmo horário em que acontecia o 8º ato Não Vai ter Copa. Passou por mais de 5 horas no local com outras pessoas investigadas, estava sendo investigado pelo Inquérito Black Bloc, submetido a diversas perguntas sem sentido, pressão psicológica, enfim, perguntas inuteis, entre outras coisas desagradáveis. Até o momento, nada foi esclarecido. O hotel Linson na rua Augusta, local onde fomos detidos, fechou, mas a repressão do Estado continua aberta à opressão das mentes pensantes nas manifestações populares e ao genocídio da juventude pobre nos quatro cantos desse país. Teve Copa, mas ainda não temos liberdade, nem democracia.
Mais um registro da treta e repressão do dia 25 de janeiro de 2014
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RUA QUE GRITA Santa Teresa/RJ
Por Kauê Pallone
PQ MEU ROSTO É TAPADO porque muita gente andava falando disso meu rosto é tapado porque não interessa o que aparento se sou negra, branca, amarela se sou bonita, feia, magrela se meu rosto propagandas despertam se mostram rugas do trabalho árduo se dizem que tenho 18 ou 64 não importa meu rosto é tapado porque os agentes do estado são fogosos torturadores marcam minha cara nos outdoors divulgam na TV com o meu nome fazem de mim terrorista por lutar por um mundo sem fome
meu rosto é tapado porque não importa o meu gênero se sou mulher se sou homem se sou rica se sou pobre meu rosto é tapado porque eu sou igual a todos eu represento o que todos representam eu luto pelo que todos lutam: uma pátria sem fronteiras um mundo sem barreiras não importa o que aparentamos nem o que temos mas sim o que somos. (A) inominada