VIDA BANDIDA Nem só de Bruna Surfistinha e Tia Carmen vive a classe das putas
MUITO ALÉM DA BELEZA A grife gaúcha que mescla ousadia, originalidade e moda
EDITORIAL A day on the road They call me Júlia
LOLA O bar de tapas que conquistou a cidade
KQUADRILHA MEIA-CALÇA FURADA Marina Teixeira e Priscila Leal
cristina fragata
alice silveiro
pedro veloso
Viktoria liebold
matheus chucri
clarissa wolff
K CARTA DAS EDITORAS
o
#2 - VIDA BANDIDA
EXPEDIENTE
o Editoras-chefes
(também conhecidas como meninas más)
Marina Teixeira Priscila Leal
Colaboradores dessa edição Alice Silveiro, Clarissa Wolff, Cristina Fragata, Lola, Matheus Chucri, Pedro Veloso, Viktoria Liebold Design gráfico, diagramação e finalização Marina Teixeira Fotografia Priscila Leal Gerente de mídias sociais (lobinha)
Clarissa Wolff Para falar com a gente, manda e-mail para meiacalcafurada@gmail.com A edição não foi o suficente? Nos segue em twitter.com/meiacalcafurada e curte nossa página facebook.com/ revistameiacalcafurada
Não tá fácil pra ninguém. Tem gente tendo que cair na vida pra pagar as contas, enquanto outros fazem as noites mais loucas da cidade. Até a Lola se perdeu e foi parar nas drogas, ao som das músicas que Clarissa Wolff separou para um bom strip-tease. Mas a vida não é feita só de sexo, drogas e rock’n’roll, e a segunda edição da Meia-calça Furada também não. Nossa colaboradora Cristina Fragata entrevistou Bárbara Russowsky, a estilista por trás da grife gaúcha Muy Guappa, enquanto Pedro Veloso fala sobre a corneada que Kristen Stewart deu no vampiro brilhoso (ou seria fada?) Robert Pattinson. Em suas respectivas colunas, Matheus Chucri filosofa sobre as mazelas da vida moderna, e Alice Silveiro resolve contar por quê as mulheres preferem os badboys (ui!). Por último, mas não menos importante, nossa amiga muito talentosa Viktoria Liebold nos presenteou com um conto sobre essa gente rica, mas não menos bandida, que vive rodeada de champagne e casacos de pele. Também visitamos o Lola, novo bar mais concorrido da cidade, e clicamos dois editoriais no melhor estilo live fast, die young. Modéstia à parte, nossa revista está demais. Monta na Harley e corre para ver!
Marina e Priscila
K SUMÁRIO
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Comportamento
29
Literatura
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Principal
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Tem que conhecer
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Coluna
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O que rolou na nossa fan page
They call me Júlia
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Música
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Coluna
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Pornô chic
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Mundinho pop
E vai rolar o entrevero!
Welcome to my drive-thru
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Moda
Muito além da beleza
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Editorial de moda
A day on the road
21
Editorial de moda
#Dramaqueen, por Matheus Chucri
Traição é traição, um lance é um lance
Swimming Through Sick Lullabies, por Viktoria Liebold
Lola Bar de Tapas
Por que as mulheres gostam dos badboys?, por Alice Silveiro
facebook.com/revistameiacalcafurada
Cinco músicas para um bom strip-tease
Sangue e pó, por Lola
Q MCF Q
K COMPORTAMENTO
E vai rolar o entrevero! Festas inesquecíveis, gente descontrolada, os melhores DJs da cidade e bebida que não acaba nunca. Essa é a imagem que o pessoal da Void vende muito bem para seu público. Inevitavelmente, você acaba querendo fazer parte desse universo.
D
s Texto por Marina Teixeira e Priscila Leal
urante a semana, o encontro é no Complex, para tomar uma Heineken bem gelada e andar de skate. No Facebook, usam gírias próprias que todo mundo entende para divulgar as festas do fim de semana. E quando a sexta-feira chega, junto com “a vontade do descontrole”, seguem para o Club 688, no Centro. Eles se distribuem entre o camarote e o cantinho ao lado do DJ. Bebem muito, sobem na caixa de som e tomam cerveja, só que não como durante a semana, no beerbong, que parece bem mais divertido. Esses são os entreverados da Void, que, com seu jeito irreverente, ocuparam a cidade e se tornaram a bandinha mais cool daqui. A origem de tudo isso foi em 2004, quando Pedro Hemb, Marco Arioli e Gabriel Rezende tiveram a ideia de criar uma publicação diferente das que já existiam em Porto Alegre. A inspiração principal foi a VICE, revista feita para um público jovem e sem frescuras, com matérias que saem do lugar comum. Com a chegada de mais dois sócios, Rodrigo Santanna e Vicente Perrone, a Void tomou forma e se tornou o que é hoje. Porém, sempre há percalços no caminho. Há pouco tempo, a revista entrou em decadência por causa das matérias que estavam ficando cada vez mais bizarras. Acabaram enveredando para o lado das coisas sinistras e sem noção, que são legais em doses homeopáticas, mas já estavam beirando a overdose. Os fundadores,
envolvidos em outros projetos, como os já citados Club 688 e Complex, pensavam em acabar com a publicação. Coube a João Francisco Hein, também conhecido como Kiko, ou Don Kiko Corleone, intervir na decisão dos chefões e propor uma faxina na casa. Foi atrás de coisas que ressaltassem o lifestyle da revista, como o programa Dose Dupla e o Projeto V, investindo na divulgação e atualização constantes no Facebook e afins. Ao poucos, o que parecia irrecuperável voltou a ser uma parte importante da empresa, apesar de ainda precisar de muitos ajustes, como o próprio admitiu. “A galera que escrevia antes era foda. Mesmo sendo loucos demais, nos faz falta gente assim, que seja irreverente, mas que tenha conteúdo para escrever.” Apesar do nível de loucura ter diminuído (diga adeus às matérias sobre como fazer sexo com o seu bichinho, ou como comprar merda – no sentido literal da palavra - pela internet), os assuntos continuam sendo pensados para um público escrachado, que não se leva a sério. O cover do Michael Jackson que encontraram por aqui, as meninas do Estúdio Pampa e os casamentos no M/E/C/A Festival, promovidos por eles mesmos, foram algumas das pautas das ultimas edições, mantendo sempre o jeito debochado que já está implícito na marca. Neste sábado (18), a Void levará todo mundo para subir o morro, para mais uma festa nos moldes do Projeto V. Com os ingressos no segundo lote e uma galera pilhando muito nas redes sociais, já dá pra dizer que vai rolar o descontrole?
Foto: Mad Giovanni
ENTREVERO DEL FUNK Dia 18 de agosto LOCAL: Hotel do Entrevero (Canela, Rua Don Luiz Guanella, 1561) HORÁRIO: Das 16h até o BOPE invadir
Foto: Talles Kunzller
Foto: Mad Giovanni
Foto: Diego LarrĂŠ
Foto: Aline da Silveira
K PRINCIPAL
welcome to my drive-thru Bruna Surfistinha ficou famosa escrevendo livro e a tia Carmen toca o puteiro mais disputado da cidade. Porém, a maioria das prostitutas desse Brasil come o pão que o diabo amassou para ganhar alguns trocados. A Meia-calça Furada achou o assunto relevante para essa edição e foi atrás de uma “moça de família” que precisou cair na vida bandida para pôr comida na mesa. A história que descobrimos é digna de livro policial de banca – ou, ao menos, de filme trash dos anos 80.
P
s Texto por Marina Teixeira e Priscila Leal
ara preservar nossa heroína (levar processo é bandido demais para nós), vamos chamá-la de Natasha – apesar dessa não usar salto quinze ou saia de borracha. Com 25 anos e quatro filhos pequenos, começou a faltar dinheiro para comprar fraldas. Seus dois maridos foram presos por tráfico de drogas e outras cositas más. Natasha não tinha a que recorrer, além do próprio corpo. Com a ideia fixa na cabeça, resolveu ir na Voluntários para dar uma olhada no movimento, ver como funcionava o esquema. A princípio, achou que fosse ser mal recepcionada pelas putas locais. Concorrência é concorrência. Descobriu que as “meninas” se dividiam em dois grupos: as drogadas e as não-drogadas. Foi atrás das primeiras, porque achou que sofreria menos preconceito. Acontece que, se vida de puta não é fácil, imagina de puta viciada, que faz de tudo para não perder o dinheiro do crack. Essa trupe apanha dos cafetões, dos clientes, dos maridos, e ainda dá a
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preço de banana. Natasha aguentou apenas um dia desse lado da avenida, e aí foi tentar a sorte com as perdidas menos perdidas, que estavam lá só para pagar as contas. Apesar de achar que seria escorraçada, recebeu uma resposta positiva (ou não): tu é gorda, mas tem uma cara boa, então tem chance de conseguir uns programas. As biscates não tinham cafetão, mas pagavam diariamente 20 reais (o mesmo preço de um boquete) aos traficantes para garantirem sua segurança nos limites da avenida. A cobertura ia dos becos aos motéis da região. Saindo dali, estavam por própria conta e risco. Natasha tomou coragem e foi rodar bolsinha. Não era a prostituta mais requisitada do ponto, mas com a grana que ganhava, conseguia se virar. Sua tabela de preços variava conforme o serviço. Para aqueles que não queriam pagar quarto de motel, pois só estavam interessados numa rapidinha, havia o drive: uma sala com corrimões nas quatro paredes, onde as putas se apoiavam
Foto: Priscila Leal
TABELA: BJ: 20 PILA BUCETINHA EXPRESS (DRIVE): 35 PILA BUCETINHA MOTEL: 40 PILA ANAL: 50 PILA
para atender os clientes um do lado do outro. Lá, ninguém tinha vergonha do que estava fazendo, afinal, estavam todos na mesma situação. Depois de duas semanas no serviço, Natasha recebeu a proposta de ir com um cliente para um motel longe dali. O risco era grande, mas a recompensa também, se comparada ao valor dos programas normais. Resolveu se aventurar e entrou no carro, partindo para terras desconhecidas. No entanto, um dos pneus furou no meio do caminho. O casal chamou o reboque e foi para um bar esperar a ajuda chegar. Quem chegou primeiro foi a polícia, que prendeu o cliente de Natasha. Acontece que o homem era procurado por contratar prostitutas e mata-las depois do sexo. Um serial-killer – quase Jack, o Estripador. Se não fosse o tal do pneu, nossa heroína certamente estaria morta. Encarando os últimos acontecimentos como um sinal divino, Natasha desistiu da ideia de vender o corpo e nunca mais voltou para a Voluntários. Apesar disso, não se arrepende de sua curta experiência. Fala sobre o assunto sorrindo, diverte-se com aqueles tempos. Também não deixou de ganhar dinheiro – sem fazer tanto esforço, recebe uma quantia muito melhor do tráfico por pequenos servicinhos. Mas essa é outra história. Vamos deixar para outro livro, ou outro filme.
K MODA
Muito além da beleza Muy Guappa, a grife gaúcha que mescla ousadia, originalidade e moda
O s
Por Cristina Fragata
casarão antigo na rua Quintino Bocaiúva só tem um aspecto comum à de Vinicius de Moraes: foi feita com muito esmero. A Casa Muy Guappa, aberta desde maio, é fruto de mais de dois anos de trabalho de Bárbara Russowsky e sua equipe. Nas viagens, os olhos atentos buscavam mais do que conhecer um novo cenário. As personagens da cidade eram o objeto de interesse da menina que acreditava que as roupas, assim como o papel, podem revelar boas histórias. Desse modo nasceu o interesse de Bárbara pela moda. Tímida, a designer encontrou em estampas e tecidos uma forma de se expressar. “Sempre fui mais ousada no vestir do que no agir. É onde encontro meu equilíbrio”, revela. A falta de oportunidade na área de criação em solo gaúcho foi um dos fatores que impulsionou a designer a investir na própria grife. Com o incentivo da mãe e os conselhos administrativos do pai, Bárbara conseguiu criar uma marca comercial, mas não só mais uma. Com orgulho, conta que a experiência tem se mostrado muito positiva e que é gratificante ouvir nas ruas que é fácil reconhecer as peças da Muy Guappa. Como definir as coleções abrigadas pela elegante casa vermelha da década de 30? Holly Golightly e David Bowie exemplificam. A identidade da marca, razão do sucesso entre as brasileiras, está no encontro harmônico da elegância dos clássicos com a ousadia da vanguarda. “A moda é uma chance de ser personagem. É uma oportunidade de brincar com o seu eu”, afirma Bárbara, que pensa em explorar em suas próximas coleções a afinidade que compartilha com o seu irmão: o rock ’n’ roll. O certo é que podemos esperar da Muy Guappa muita ousadia e originalidade estampadas nas tendências primavera-verão.
a day on the road COM A BUDHA KHE RHI
Fotos: Priscila Leal Produção: Thales Rossato Modelo: Stéphanie Souza Agradecimento especial a João Luiz Rossato
THEY CALL ME JÚLIA
Fotos: Priscila Leal Vestuário: Canal Produção: Marina Teixeira Modelo: Júlia Franz
Por Matheus Chucri
Foto: Divulgação
K COLUNA
#Dramaqueen
P
or que nós temos esse anseio tão grande, muitas vezes incontrolável e desesperador, por aquilo que não podemos ter? O que atrai tanto na peça de roupa com vários dígitos na etiqueta, no último gadget que foi lançado ou na pessoa que nem sabe que nós existimos? Ainda que não possamos ter o que desejamos nesse exato instante ou até mesmo nunca, nossa cabeça parece não conseguir funcionar racionalmente. Nossa imaginação dispara, criamos mil e um cenários em nossas cabeças onde aquilo está presente, e pensamos em como seríamos mais felizes se fosse realidade. Será? Por que quando conseguimos o impossível e temos, de fato, aquilo em nossa vida, nós não alcançamos a felicidade plena e duradoura, a realização inabalável de que chegamos lá? Pelo contrário, esses sentimentos duram o tempo de um suspiro e logo mais temos outra coisa para desejar. Que venham com as explicações mirabolantes, com as teorias da conspiração de como o capitalismo nos afeta e nos leva a um consumismo tão desenfreado que estamos sempre querendo mais e mais, eternamente insatisfeitos, mas eu não acho essa resposta suficiente. Não me convence. Que tal, então, pensarmos nos prós e contras disso tudo? O lado ruim é que provavelmente estamos com medo de viver no presente e projetamos nossa felicidade em algo futuro, inalcançável, apenas para sentirmos aquela angústia de que nada está dando certo. Nos isentamos da responsabilidade porque, se não estamos felizes, a culpa é de não termos aquilo em nossa vida. E isso apenas para ocultar o fato de que, na verdade, nós estamos sentados em nossas poltronas sem fazer nada para mudar o nosso rumo. Pelo lado Pollyanna, por que não ver esse inconformismo como algo que nos faz andar para frente? Quando alcançamos um aquilo, logo queremos outro, e assim seguimos em frente com novos objetivos. De qualquer forma, um pouco de irrealidade não faz mal a ninguém. Um pouco de desapontamento também. Quem nunca sofreu um aperto no coração por aquele ídolo de Hollywood por quem viveu o mais intenso dos amores e a maior das decepções amorosas na imaginação? Talvez isso signifique que a gente finalmente está crescendo e entrando de cabeça na realidade. Ou talvez a verdade seja que nós gostamos mesmo é de fazer um bom e grande drama.
MUNDINHO POP K
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Traição é traição, um lance é um lance
E
s Fo to
s:
Re p
rod
2
uç
ão
1) Kristen com o namorado corneado, Robert Pattinson, no Teen Choice Awards desse ano; 2) Pega em flagrante com Rupert Sanders, seu diretor no filme Branca de Neve e o Caçador.
Por Pedro Veloso
u não entendo de muita coisa nesse país. Não entendo de política ou de academia. Não entendo de imposto e nem de dividir a conta da cerveja no bar. Mas se tem uma coisa que eu entendo nessa vida, é de celebridades sendo flagradas no Leblon comendo sushi pelo ego. E quando elas tão fodidas eu me interesso muito mais. Por isso eu tô meio obecado pelo caso KristenStewart-adultera-Rob-Pattinson-corno. Kristen realmente cometeu o pecado original? Ela é hetero mesmo? E o Jacob? E o Justin Bieber? São tantas perguntas...
sal emo na vida real. Ele atualmente está escondido na casa de amigos, enquanto bebe e escuta o CD do Evanescence, o que faz bem, porque nessas horas nem é bom sair de casa pra não ser humilhado. Já Kiki (#íntimas) tá fodida e mal paga no rolê. Entre SMSs pedindo o perdão do namorado, diz que ela não toma mais banho e até os pais dela tão de cara. Agora realiza que os dois ainda vão ter que se encontrar no lançamento do filme? Já é difícil encontrar ex na fila da balada e forjar superação amorosa, agora imagina no red carpet e tendo que permanecer na pose de gata? Teremos muito mais material pela frente, aguardem.
Dei amor a quem não merecia, achei que era joia rara, mas era bijuteria
Como lidar com a traição
Eles se conheceram nas gravações do primeiro Crepúsculo, mas apesar de figurarem em lancheiras, cadernos, papeis de carta, fivelinha de cinto e brindes do Burger King, eles sempre foram reservados, por que queriam ser um casal indie de Hollywood, focados na carreira. Quase nunca foram vistos fazendo pegação na praia de Copa. Mas como todo truque um dia acaba, eis que, em 2012, surgiram flagras da atriz com um homem casado e com filhos. Milhares de adolescentes ameaçaram tomar Coca com Mentos e cancelar a assinatura da revista Capricho. A vida imita a arte e assim como os seus personagens do filme, Kristen e Robert também são um ca-
Se você foi o traidor: peça perdão de todas as formas possíveis, se humilhe, se ajoelhe no milho, diga que você estava passando por um surto temporário, possuído por um espirito maligno ou estava fazendo um laboratório para uma peça que você vai estreiar em setembro no teatro Renasçenca. Mandar McDonalds todos os dias pra casa da pessoa também pode ajudar. Se voce foi traído: chora, toma vodca, depois chora mais, ouve o CD da Adele. Ignora, finge que não é com você, convence todos os seus amigos a ficarem do seu lado, aproveita e muda seu número de celular para uma operadora com melhor plano 3G. Estude a possibilidade de perdão apenas se houver licenciamento de produtos envolvidos.
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K LITERATURA Por Viktoria Liebold
Swimming through sick lullabies
V
ocê tenta mudar. Festas demais, memórias de menos, e talvez você esteja cansada de acordar em uma cama que não seja a sua. Você promete – secretamente, é claro, porque você não tem certeza de que não vai falhar – que aquela será a última vez. Mas o último Martini se transforma em agora é o último e então OK, no próximo mês eu começo tudo novamente, para essas mudanças precisam ser graduais. *** O casaco de pele de leopardo é pesado demais sobre seus ombros. Talvez fosse mais fácil deixá-lo para trás, porque “Pele de leopardo não combina com loiras”, ele costumava dizer. “Dourado em excesso dá dor de cabeça”. *** Em Paris, você diz a ele que não se importa. Que está feliz por ele e que, na verdade, sempre achou que seria um tanto quanto clichê se vocês ficassem juntos. “Quero dizer, todos os casais que começaram no colegial estão juntos hoje”, você diz, mordendo mais um pedaço de croissant, colocando mais crème no café e fingindo que nenhum daqueles gestos é premeditado e que seu olhar não atinge o dele apenas para que a situação parecesse mais espontânea do que já era. “Não haveria nada mais entediante do que ter o mesmo fim que aquelas nerds de cabelo ruim”. Você finge que não o sente sorrir com o canto dos lábios, soltando um risinho
irônico pelo nariz. Finge que aquele sorriso não era o motivo de sua derrota. “É bom saber disso”, ele comenta, apoiando a mão sobre a mesa, próxima a sua. O croissant volta de seu estômago e inunda sua língua de saliva salgada, vômito na boca da garganta, fracasso pulsando nas veias do dedo mindinho que quase encosta no dedo mindinho dele. “Ela estava preocupada com a sua reação. Vocês sempre foram amigas.” *** Tudo se pode esquecer, Jacques Brel diria. E por mais que Jacques Brel estivesse morto, o francês que sussurra plus em seu ouvido enquanto segura seus quadris e a faz se mexer com mais rapidez sobre ele não está. E você afunda as unhas no ombro dele e o prende com as coxas, tentando ter certeza de que sexo e álcool vão fazê-la esquecer de alguma coisa. *** Você nunca vai admitir que está machucada. (Você costumava ser mais forte que isso, não costumava? Talvez não. Talvez você nunca tenha precisado ser forte). Redenção é ter dentes perfeitos num sorriso perfeito que encobre uma mentira perfeita. É compreender que escolher livros ao invés de tequila não vai fazer com que ele a ame – porque ele não ama a ela por causa disso. Ela poderia viver numa pele de leopardo e deixar o dourado da champagne e dos cabelos correrem pelo sangue ainda
30
K LITERATURA Por Viktoria Liebold
mais dourado e ainda assim ele a amaria, porque dourado em excesso, se tratando da preciosa noivinha, não é uma dor de cabeça. Redenção é realmente ficar feliz por ele e não apenas dizer isso num café da manhã na Place Vendôme para concretizar sua decisão em não admitir que não tê-lo dói. Você se renderia se estivesse desistindo de sua felicidade pela dele. Mas você estava consumindo a felicidade dele e transformando-a num inferno particular. La reine manque le roi. A rainha sente falta do rei. *** Há pele de leopardo envolvendo o scarpin. Há whiskey disfarçado de chá em sua xícara. Os cabelos dourados são tão parecidos que você chega a se perguntar o que diabos ele viu de diferente em vocês duas. Você respira fundo antes de pensar que é cedo (tarde) demais para lutar por amor. A governanta traz panquecas de amora – “Já tomei café da manhã em casa”, ela comenta, sorrindo levemente, unhas bemfeitas tamborilando no mogno do balcão, a aliança dourada de noivado brilhando intensamente em seu anelar direito. “Você vai vomitar tudo de qualquer jeito”. “Eu não faço mais isso”. (você pisca, lembrando-se das muitas vezes a consolou por estar se autodestruindo. Talvez você não fosse cruel o suficiente para pensar que ela deveria ter se autodestruído. Talvez
fosse). – e ela diz que gostaria que você fosse sua dama de honra. “As mangas da sua camisa te deixam mais gorda”. “Você me escutou?” “Seu sapato é horrível”. “O quê?” “E, sinceramente, esse lápis de olho faz com que você pareça uma putinha”. Ela sorri, dizendo que as damas de honra vestirão dourado. Você dá de ombros como se não se importasse com isso. *** Não me deixe, Jacques Brel diria. E por mais que Jacques Brel estivesse morto, você poderia mover a boca até o ouvido dele e repetir a frase imaculada, enquanto o corpo dele pesa sobre o seu de uma maneira doce, suave demais. E você afunda as unhas em suas costas e o prende com as coxas, tentando ter certeza de que o sexo o fará lembrar de que ele não pode deixá-la. Porque o rei não é feliz sem sua rainha. E Henrique VIII precisou criar uma nova religião para substituir a sua. Era mais do que certo que ele não pudesse viver sem você. *** “Isso foi um erro”. Redenção seria concordar com a frase que ele diz, enquanto a fumaça expelida por seus lábios é dourada sob o sol que entra pela janela. Você umedece os lábios, o corpo adormecido, os olhos presos no teto do quarto que abrigava as sombras
difusas dele se vestindo. “Nós dois estávamos bêbados e as coisas foram longe demais”. Redenção seria pedir pelo amor de Deus (ou de qualquer outro filho da puta) que ele não fizesse aquilo. Que não lhe dissesse que a noite anterior tinha sido apenas uma coisa de momento. Você volta a tragar, piscando, fingindo não ter consciência de que os cantos de seus olhos estavam irritados e ardendo mais do que deviam. “Eu amo a minha noiva”. Redenção seria dizer que o amava. “Vá se explicar para ela, então”. *** Você tenta mudar. Festas demais, memórias de menos, e talvez você esteja cansada de acordar em uma cama que não é a dele. Ela promete – secretamente, é claro, porque você não tem certeza de que não vai falhar – que aquela será a última vez. Porque ele não ama pessoas como você. Ele ama pessoas que ele gostaria de imitar. Pessoas que sabem corrigir suas falhas. Redenção é corrigir suas falhas por amor. Ela engordou cinco quilos e havia carne entre seus ossos e sua pele. Ela não bebe mais, a não ser para acompanhá-lo em uma taça de vinho durante um jantar ou outro. Ela nunca mais tocou em um cigarro desde que ele comentou que odiava mulheres que fumavam – embora antes parecesse divertido. O mundo, para ela, existe em diálogos formados em escalas de cinza e o dourado lhe cai bem
porque ela sabe como usar sem exceder os limites da perfeição. Ela realmente aprendeu a acreditar que o amor tem o poder de deixar o mundo belo e não consegue imaginar um mundo em que as aparências importam mais do que a realidade. Ela se rendera e você a odiava por isso. *** Deixe que eu me torne a sombra da tua sombra, Jacques Brel diria. Mas Jacques Brel estava morto e você não seria sombra de ninguém. (você não o amara tanto assim, de qualquer maneira).
*Trechos retirados da música Ne Me Quitte Pas, de Jaques Brel.
K TEM QUE CONHECER
LOLA
Nem pense em aparecer no Lola sem reserva. Nossa pequena província já elegeu o bar como o novo place to be dessas bandas. Não é à toa: além da comida gostosa, com um cardápio pequeno mas bem elaborado, para espanhol nenhum botar defeito, o local tem uma proposta diferente do que estamos acostumados a ver. São três ambientes distintos, incluindo um deque ao ar livre que permite os clientes trazerem seus bichinhos de estimação a qualquer hora, seja no almoço ou na janta. É o lugar perfeito para ir com amigos e passar horas relembrando os velhos tempos com os jogos de tabuleiro disponíveis no andar de cima. E tudo, claro, acompanhado de muita Sangria!
COLUNA K
Por que as mulheres gostam dos bad boys? parede e sumiu na pista de dança. Ficou irritada, confusa. Ela era muito gata, por que ele fazia isso com ela? O anseio de ficar com o desgraçado parecia maior ainda. “Quem ele pensa que é pra fazer isso? Aquele idiota! Não percebe que estou apaixonada?”. Por que diabos as mulheres gostam tanto dos bad boys? Um cara marrento, que apronta, não te valoriza, usa como se você fosse objeto, fica com outras na sua frente, nunca liga para fazer um programa – além do “filminho” na casa dele – e, ainda assim, depois de tudo isso, é impossível resistir quando ele aparece. Chega a acreditar que ele gosta ou quem sabe pode vir a gostar de você. Que atire a primeira pedra quem nunca passou por isso. Todo mundo quer desafios – mulheres e homens. O que vem fácil demais acaba perdendo a graça logo. Além disso, temos mania de achar que podemos mudar as pessoas: ele é assim agora que está solteiro, vai mudar depois que passar a ficar sério comigo. Doce ilusão. O cara até pode mudar, mas aí é porque quis e não pelo seu exaustivo esforço em torná-lo diferente. E mais, quem nega que quanto pior o cara, melhor a pegada? Confiante, másculo, com cara de mau. Na cama, faz loucuras! Só que com você e toda a turma da faculdade. Deixa de ser trouxa, mulher! Autoconfiança e personalidade são indispensáveis para levar uma vida mais independente desses caras que só lhe fazem sofrer. Também não digo para deixar de sair com eles e entrar para a igreja. Pelo contrário. Tem mais é que aproveitar o próprio corpinho e usá-lo também. Se ele não valorizar, relaxa. Sempre tem outro mais gato e menos babaca pra substituí-lo.
Foto: Divulgação
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iego passava pela festa com a cabeça erguida, copo de whiskey na mão e o sorriso malicioso de sempre. Não tinha do que reclamar, as mulheres corriam atrás dele. Pegava uma, outra, e, no meio tempo, curtia sua bebida ouvindo a música alta. Encostado na parede ao lado do balcão riscado de copos, observava a festa e pensava no futebol de domingo. Seu time reservara o campo coberto ou o descoberto? As amigas dançavam animadas, mas Martina estava inquieta. Fingia estar bem, forçava sorrisos, cantava trechos decorados das músicas de sempre, mas só pensava na atitude de Diego. Estavam ficando há três semanas e ele sabia que ela estaria na festa. Então, por que pegou aquela guria ridícula, com roupas e cara de puta? Será que ele não percebeu que ela podia vê-lo o tempo todo? Diego continuava no mesmo lugar, agora pensando se continuava no whiskey ou mudava para cerveja. Viu Martina passar por ele e parar sozinha no bar. Olhava o cardápio de bebidas, parecendo nervosa. Pensou se a levaria para casa mais tarde, ou preferiria voltar sozinho e jogar Battlefield 3 antes de dormir. O videogame ganhou. Tornou a pensar na partida de futebol. “Será que vai chover? Melhor verificar se reservaram o campo coberto.” Martina sentiu que Diego a olhava. Preparou-se psicologicamente, elaborando frases para dizer a ele. Estava muito brava e queria reprimi-lo. Será que brigava com ele, ou fingia que nada acontecera? Não estavam namorando, não podia cobrar nada. Pensou, pensou... mas pensou em vão. Diego não se aproximou. Pelo contrário, saiu de sua
Por Alice Silveiro
K O QUE ROLOU NA NOSSA FAN PAGE facebook.ccom/revistameiacalcafurada
LANA DEL REY: Além do ensaio da cantora para a Vogue Itália, postamos os clipes de National Anthem e Summertime Sadness na íntegra.
MAR VERMELHO: só que não. Mar é muito last season, queremos mesmo é essa piscina aí.
OS SEGREDOS SÓRDIDOS DO PEPLUM: Mil e uma utilidades para essa moda.
Blake lively: a gata sambou na cara da humanidade.
propaganda: não faltou campanha de perfume na nossa página. teve gucci, dior e givenchy.
gossip boys: os meninos da série que já deu o que tinha que dar apareceram na nossa redação pra dar um oi. mentira, mas bem que a gente gostaria.
come back, jack: leonardo dicaprio caracterizado para novo filme do quentin tarantino.
bad romance: segundo o artista Rodolfo Loaiza, nos tempos modernos tudo o que a cinderela quer é um vestido de carne para chamar de seu.
K MÚSICA
5 músicas para um bom strip-tease
Foto: Reprodução
U s
Por Clarissa Wolff
ma vez perguntaram a Loubotin, o cara dos sapatos (ou obras de arte) com sola vermelha, qual é o melhor look que uma mulher poderia vestir. O gênio respondeu: "nua de saltos altos". Quando começo a fazer drama que não tenho roupa para vestir, meu namorado logo diz: "vai pelada que é como você fica melhor". E, é claro, as quantias absurdas que a Playboy paga para que gostosas e magras pelo mundo afora tirem a roupa também me ajuda a provar minha opinião: a nudez é muito, muito bem vista. Em tempos em que a moda está na moda, matérias en-
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sinando como se vestir têm de sobra (e de sobra mesmo, e mesmo assim a galera não aprende). Mas como a gente é muito de vanguarda — e bandida! — vamos fazer diferente: tá na hora de aprender a se despir. E como tudo fica melhor com música, vamos propor a trilha sonora para o strip-tease perfeito (Demi Moore que se cuide!). Embora Kate Moss tenha sido muito bem dirigida por Sofia Coppola em I Just Don't Know What To Do With Myself, do White Stripes, e outros clássicos do poledance como Supermassive Blackhole, do Muse, sejam sempre lembrados na hora de relacionar música a qualquer provocação de cunho sexual, a gente quer brincar com
um erotismo mais sutil. A incrível Sasha Grey, que está trocando ser o foco das câmeras para dirigi-las, disse em entrevista a VICE que seu diferencial seria justamente unir narrativas ao erotismo, para que você fique excitado durante o filme inteiro. A gente quer fazer mais ou menos isso: achar aquelas músicas que, mesmo tocando no meio da festa, por causa do ritmo, da batida, da voz, da lembrança que ela te dá, dão aquela vontade de erguer a barra do vestido e abrir um botão a mais da blusa. Eu sei que você sabe do que eu tô falando. Então faz assim: já vai abrindo o YouTube e fechando a porta. Vamos lá?
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JACE EVERETT - BAD THINGS Não precisa assistir True Blood ou sacar o sex appeal dos vampiros ninfomaníacos do seriado para sentir a provocação dessa música. A batida da bateria, a guitarra e essa voz grave e rouca sussurrando o que quer fazer com você são o suficiente. Começando assim, eu garanto que quem estiver ao assistindo vai pensar “before the night is through, I wanna do bad things with you”.
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THE ZOMBIES - TIME OF THE SEASON A música já começa ofegando e a gente espera que o seu espectador também. E, seguindo a cadência da respiração de fundo, a canção se alterna entre um ritmo firme, porém suave, e uma súbita descida na velocidade, exatamente como deve ser um bom strip (e as atividades que costumam sucedê-lo também).
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SOHO DOLLS - STRIPPER A música embalou a mudança da então uptight Queen B., de Gossip Girl, para uma sex goddess que acabou fazendo sexo na limosine com Chuck Bass, na época em que ser fã do casal ainda era cool. Quer uma música melhor que essa para o grand finale? Se ainda não está convencido, presta atenção nas vozes, nos gemidos, nos sussurros, nas batidas, na melodia... e não se esquece da principal lição da música: tease the crowd, please the crowd.
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ELVIS PRESLEY - HEARTBREAK HOTEL Meio cantada, meio gemida e muito bem marcada pelos instrumentos, dá pra sentir as roupas fugindo enquanto a música avança.
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THE COASTERS - DOWN IN MEXICO Impossível não se lembrar na hora da Butterfly fazendo a lapdance mais famosa da história do cinema, em Death Proof, do Tarantino. Dá pra se inspirar nela, manter o que sobrou de roupas no corpo e distrair seu alvo de perto, que tal?
Após o strip-tease, colocar um álbum do Muse ou do XX, ou uma playlist com #1 Crush do Garbage, Glory Box do Portishead e Closer do Nine Inch Nails, pode ser uma ótima ideia. Para quem quer mais dicas para a sequência do strip, fica o tumblr: http://xmusic.fm/. Depois me conta como foi.
K PORNÔ CHIC Por Lola
Sangue e pó
N
ão sentia o nariz. Sensação comum. Comum também era a necessidade de trepar depois daquilo. Abriu o zíper dourado da pequena bolsa preta e guardou o saquinho cuidadosamente. Abandonou uma carreira perfeita ali mesmo na bancada do bar. Presentinho para a pessoa que tomasse seu lugar. Bebeu alguns goles do Martini e olhou em volta. Todos dançavam, nenhum conhecido. Cambaleante, foi até a sacada e apoiou-se no parapeito que a separava da queda de mais de vinte andares. Não olhava para baixo, apenas para o horizonte, para a linha em que o mar e céu se encostavam, esforçando-se para ouvir o barulho das ondas que quebravam na beira da praia, abafadas pelo som alto da música de dentro do salão. Sentiu uma mão tocar a sua. — Tudo bem? — Tudo. Vem comigo – disse, puxando-o para a pista. Dançaram. Os dois pulavam, suavam, no começo riam. Olhavam um para o outro como se tentassem desvendar mistérios. Ela subiu na ponta dos pés e deu uma mordida no rosto magro do rapaz. Sentia a mão pesada passar pelo seio, contornar a cintura e agarrar sua bunda. A barba serrada roçava seus
lábios carnudos dormentes. Tudo girava. As luzes coloridas brilhavam mais forte. Dançavam colados um no outro. Sentiu o membro dele enrijecer-se. Ela caiu no chão e implorou pela ajuda de seu desconhecido, apenas o encarando com aqueles olhos azuis gigantes, nos quais cabia o mundo. Ele a levantou com uma única mão. Quando percebeu estava em seu colo, voando pela noite. Incrível ouvir o tilintar dos copos, sentir o suor dos corpos, o roçar das mãos, enquanto a música parecia distante. Tinha perdido o controle. Sentia o corpo flutuar. Foi colocada no chão já na porta do banheiro. O beijou com força, com fome, com vontade. Segurava o cabelo dele perto da nuca. Tomava conta do pescoço enquanto sentia aquela boca se aproximar de sua orelha. A mão quente segurava o seio com força por baixo do sutiã. Excitada, colocou a mão por baixo da cueca e puxou o conteúdo para perto de si. Ele enlouqueceu. Tudo em volta girava ainda mais. O barulho, agora alto, abafava seus gemidos de prazer. Sua meia-calça foi rasgada e a calcinha afastada. Sentiu dedos violarem suas partes mais íntimas, mas estava completamente molhada, gostou daquilo. As bocas encontraramse novamente. O rapaz a penetrou com o membro duro e forte. Ele a arranhava
com força. Sentiu o sangue quente descer as costas nuas. Os movimentos ficaram mais rápidos, nada em volta existia. Não ouvia nada além dos gemidos mútuos. Beijava o pescoço dele cada vez mais forte e o beijo começava a virar mordida. Os dois gritavam. Ela o mordeu com força, até sentir o gosto metalizado do líquido que escorria pela garganta seca. Os corpos tremiam, gozando juntos em um prazer longo, dolorido e descompromissado. Lágrimas escorreram dos rostos enlouquecidos. — Qual é o seu nome? – ele perguntou, tirando os cabelos prateados daquele delicado rosto de menina. — Não estraga isso com nomes – respondeu, sorrindo de olhos fechados. — Quer sair daqui? — Me leva para onde quiser. Quando deu por si, estava dentro de um carro, capota levantada, vento batendo forte no rosto, céu estrelado brilhando sobre ela, sem querer saber do destino. Deitou a cabeça sobre o couro claro do banco, tendo uma única certeza, a de que tudo aquilo seria banido de sua memória ao amanhecer. Com os lábios ainda sujos de sangue, sorriu e deixou que as pálpebras pesadas a levassem para longe.
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Meia-calรงa
furada