Relatório Pesquisa Acesso aos Espaços Públicos na Pandemia - Etapa 1

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RELATÓRIO DA PESQUISA: ACESSO AOS ESPAÇOS PÚBLICOS NA PANDEMIA

ed. completa - dez. 2020

ETAPA 1


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RELATÓRIO DA ETAPA 1 DA PESQUISA: ACESSO AOS ESPAÇOS PÚBLICOS NA PANDEMIA


FICHA TÉCNICA Resultados e análises Pesquisa Acesso aos Espaços Públicos na Pandemia Outubro de 2020, São Paulo - SP Equipe Ana Laura Costa SampaPé!

Fernanda Pitombo SampaPé!

Bibiana Tini Metrópole 1:1

Leticia Sabino SampaPé!

Bruna Sato Metrópole 1:1

Louise Uchôa SampaPé!

Douglas Farias Metrópole 1:1

Imagens, diagramas e infográficos gerais Metrópole 1:1 e SampaPé! (salvo quando indicado na própria imagem)

REALIZAÇÃO

sampape.org

metropoleumpraum.com.br

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contato@metropoleumpraum.com.br


ÍNDICE

6-9

INTRODUÇÃO

10 - 23

CONTEXTO

24 - 33

PESQUISA E METODOLOGIA

34 - 51

PERFIL RESPONDENTES

52 - 101

RESULTADOS E ANÁLISES

102 - 137

CONSIDERAÇÕES FINAIS

138 - 150

BIBLIOGRAFIA

PARTICIPAÇÃO EM LIVES E WEBINÁRIOS Webinar Como Anda

O que está sendo feito pela mobilidade a pé?

http://bit.ly/webinar_ProjComoAnda

Evento/Webinar participante do Circuito Urbano 2020

Live SampaPé!

Pesquisa acesso aos espaços públicos

https://bit.ly/sdc20livepesquisa

http://bit.ly/Webinar_CircuitoUrbano2020

Semana do Caminhar 2020

na pandemia: resultados e análises


INTRODUÇÃO


A

pandemia do novo coronavírus provocou diversas reflexões com relação ao modelo de organização social centrado em aglomerados urbanos e a efetividade de sua ocupação, já que foram as cidades mais densas em um mundo globalizado que, rapidamente, tornaram-se epicentros de contágio do vírus. Para a contenção da pandemia, a Organização Mundial da Saúde recomendou a diminuição da vida pública e do encontro entre as pessoas por meio de medidas de isolamento social. Dessa forma, o resultado foi a restrição do convívio no meio urbano e, por conseguinte, da prática da cidade - considerando que, por excelência, a vida urbana é construída pelos encontros e confluências nos espaços públicos. Nesse contexto de medo, confinamento e escassez de interações nas ruas, começaram a emergir diversos questionamentos e especulações sobre o futuro e a efetividade dos modelos de cidades.

ISOLAMENTO SOCIAL PRÁTICAS INDIVIDUAIS Consideramos como práticas individuais de isolamento social: evitar usar os espaços

públicos

e/ou

encontrar

outras pessoas por motivos de lazer, manter distância das pessoas quando necessário estar nos espaços públicos,

alteração da rotina de atividades sociais presenciais.

POLÍTICAS PÚBLICAS São consideradas políticas públicas e

medidas governamentais de promoção do isolamento social: fechamento de comércios e serviços considerados não

essenciais, cancelamento de eventos e atividades, fechamento de fronteiras,

limitação de circulação de pessoas e/ou veículos, entre outras.

ESPAÇOS PÚBLICOS Para fins desta pesquisa, são os lugares da cidade de usos públicos e comuns

de acesso livre a todas as pessoas sem discriminação, administrado por interesses

coletivos.

Alguns

destes

espaços são: ruas, ruas abertas e de lazer (aquelas que eventualmente são

interditadas para veículos e abertas para pedestres temporariamente), praças e

parques públicos. NÃO se enquadram como

galerias

espaços

públicos:

comerciais,

shoppings,

condomínios,

centros culturais privados e templos e espaços religiosos.

18 MAI

INTRODUÇÃO

7


Na tentativa de compreender as mudanças na organização social e o impacto nas cidades, inúmeros especialistas ao redor do mundo começaram a desenvolver artigos, estudos, teorias e previsões sobre a sociedade e a vida pós-pandemia. Muito se especula sobre o cenário que construiremos ao final da pandemia, como vamos nos preparar para eventos futuros desse tipo, quais traumas e novas práticas sociais impostas irão alterar as relações entre as pessoas, e enfim, qual será o futuro das cidades? Surgimento de ações e previsões de novos usos para os espaços públicos da cidade, se tornaram série de postagens. Fonte: Série #notíciaboadodia do Metrópole 1:1

A estrutura das nossas cidades é rodoviarista Fonte: Revista Piauí

ACESSO AOS ESPAÇOS PÚBLICOS NA PANDEMIA

8

INTRODUÇÃO

Nós, organizações e pessoas que acreditam e atuam pelo potencial das cidades como ambientes de desenvolvimento social, de construção coletiva e de busca por sustentabilidade e por equidade, também começamos a nos questionar se a privação do acesso ao espaço público e os encontros casuais nas ruas com pessoas diversas, faria emergir uma maior valorização e preocupação com os espaços públicos e a vizinhança. Ou ainda, se essa situação poderia impulsionar maior conscientização sobre os malefícios e injustiças de políticas públicas e estruturas urbanas centrada nos carros, levando a novas reflexões, e até mesmo ações positivas depois da pandemia. Para tentar responder essas questões, decidimos escutar as pessoas sobre sua relação com os espaços públicos e sobre os sentimentos e reflexões provocados pela situação de restrição da vida social urbana. Para isso, elaboramos a pesquisa: “Acesso aos espaços públicos na pandemia”, que, por meio de questionário online, buscou compreender a relação das moradoras e moradores da cidade de São Paulo com os espaços públicos, antes e durante a pandemia, além das


Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. Paulo Freire, Pedagogia da Autonomia, 1997

expectativas de mudanças de hábitos e melhora do ambiente urbano pós pandemia. O presente relatório contém as análises, observações e considerações sobre as respostas do questionário, assim como reflexões inferidas junto a dados secundários de outras investigações do momento. Para isso, está estruturado

em cinco capítulos: contexto, pesquisa e metodologia, perfil respondentes, resultados e análises e considerações finais. Este documento pretende abrir caminhos para construção de políticas públicas e cidades mais inclusivas, além de reafirmar nossa defesa pelo coletivo. Boa leitura!

INTRODUÇÃO

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CONTEXTO


A PANDEMIA Em 2020, o mundo capitalista se viu obrigado a reduzir o ritmo de atividades produtivas e serviços com o avanço rápido e inesperado de uma epidemia. No final de 2019, foram registrados os primeiros casos de uma doença respiratória desconhecida que apresentava sintomas similares a uma pneumonia clássica, em uma metrópole chinesa, Wuhan (com cerca de 8 milhões de habitantes1). A cidade reagiu fechando fronteiras, criando regras rígidas para que as pessoas permanecessem em casa, entre outras medidas contrárias às práticas comuns de produção e consumo do sistema de um país economicamente influente e global. Após identificado o agente propagador da doença, o vírus foi nomeado de SARS-CoV-II, conhecido também como “novo coronavírus”, causador da doença chamada COVID-19. Com o tempo, a doença se espalhou inicialmente por países da Europa, até se alastrar pelo resto do mundo, fazendo com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarasse uma pandemia no dia 11 de Março de 2020. Segundo especialistas em doenças infecciosas, classifica-se como pandemia uma doença disseminada ao redor do mundo simultaneamente - ou seja, com epidemias da mesma doença em diferentes países ao mesmo tempo2.

1 UN. The World’s Cities in 2018 <https:// www.un.org/en/events/citiesday/assets/pdf/ the_worlds_cities_in_2018_data_booklet.pdf> Acesso em: 10 de jun. de 2020. 2 O que é pandemia e o que muda com declaração da OMS sobre o novo coronavírus. BBC, 11 de março de 2020. Disponível em: <https:// www.bbc.com/portuguese/geral-51363153l>. Acesso em: 29 de jun. de 2020.

21 JUN

Mais de 180 dos 193 países do mundo detectaram o contágio comunitário do vírus em seus territórios3.

CONTÁGIO COMUNITÁRIO O contágio comunitário é considerado como o estágio alarmante da doença,

pois a circulação do vírus pode estar difusa, ou seja, não há mais um raio restrito

de

contaminação,

o

que

potencializa os riscos de transmissão e dificulta o controle do vírus.

3 CHARLEAUX, João P. Quais os 12 países do mundo sem registros da Covid-19. Jornal NEXO, 15 de maio de 2020. Disponível em: <www. nexojornal.com.br/expresso/2020/05/15/Quaisos-12-pa%C3%ADses-do-mundo-sem-registrosda-covid-19>. Acesso em: 01 de jun. de 2020. CONTEXTO 11


Mapa Mundi do Coronavírus Fonte: El País

O contágio acelerado do vírus e a falta de medicação e vacina para a doença, levou a uma estratégia “primitiva” de contenção: a restrição do deslocamento das pessoas. Como a Covid-19 se trata de uma doença que pode se apresentar de forma assintomática em quase 80% dos casos4, sua detecção torna-se mais difícil, facilitando o contágio comunitário. O que resulta em muitos casos simultâneos, levando à sobrecarga e, em alguns casos, ao colapso dos sistemas de saúde e o consequente aumento drástico do número de mortes, como ocorreu primeiramente na Itália e posteriormente em alguns países em desenvolvimento, como o Equador e o Brasil. Países do mundo inteiro adotaram medidas para impedir maior contágio do vírus, sendo a principal delas o isolamento social, seguindo recomendações da OMS. A organização

4 Dados disponíveis no portal oficial do Ministério da Saúde. Disponível em: <https:// coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca#oque-e-covid>. Acesso em: 12 de jun. de 2020

12

CONTEXTO

ainda estabeleceu protocolos de comportamento e higiene pessoal: evitar contato com superfícies ou pessoas, uso de máscaras, distanciamento mínimo de 1 metro de outras pessoas, higienizar frequentemente mãos, objetos e superfícies (Ministério da Saúde, 2020). Essa situação inédita para o mundo contemporâneo acontece em meio ao auge das crises climáticas.

Recomendações oficiais sobre a pandemia do COVID-19 Fonte: OMS Brasil


Linha do tempo da Pandemia no mundo CONTEXTO

13


10 MAI

14

CONTEXTO


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DURANTE A PANDEMIA E RESILIÊNCIA

JULHO DE 2017

MARÇO DE 2020 Céu em São Paulo antes e durante a pandemia Fonte: Folha de São Paulo

Durante a pandemia, questões sobre desenvolvimento urbano sustentável estão ganhando evidência. Primeiramente, devido à melhora da qualidade do ar nas grandes cidades, consequência da restrição forçada de circulação de pessoas e, portanto, de veículos motorizados. Em segundo lugar, por se tratar de uma doença respiratória, foi possível constatar melhores respostas de recuperação das pessoas contaminadas em cidades menos poluídas. Na China, por exemplo, um estudo mostrou que aproximadamente 50 mil mortes foram evitadas devido à diminuição da poluição imposta pelo limite à circulação e produção, durante cerca

de dois meses da pandemia5. Na Europa, estudo realizado pelo Centro para Pesquisa em Energia e Ar Limpo (Centre for Research in Energy and Clear Air) constatou que, em um mês durante a pandemia, a queima de combustíveis fósseis diminuiu devido à diminuição do uso de veículos. Com isso, os níveis de dióxido de nitrogênio, um dos principais poluentes, foram reduzidos em cerca de 40%, o que salvou cerca de 11 mil vidas6. Em artigo científico publicado na revista científica Environmental Pollution, pesquisadores relacionaram maior letalidade na Itália em cidades que tinham pior qualidade do ar (Batista, 2020). Nas cidades brasileiras é possível observar a mesma tendência. Em São Paulo, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb)7, acompanhou as alterações na

5 Medidas contra o coronavírus. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ equilibrioesaude/2020/03/medidas-contracoronavirus-reduziram-poluicao-e-salvaram50-mil-na-china-diz-pesquisador.shtml . Acesso em: 17 de jun. de 2020. 6 Estudos relacionam pior qualidade do ar com mais mortes por COVID-19. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ equilibrioesaude/2020/05/estudos-relacionampior-qualidade-do-ar-com-mais-mortes-porcovid-19.shtml . Acesso em: 12 de jun. de 2020. 7 Registros CETESB com diminuição da poluição. Disponível em: https://www.saopaulo.sp.gov. br/ultimas-noticias/covid-19-cetesb-constatadiminuicao-da-poluicao-em-sp-durante-aquarentena/ . Acesso em: 29 de jun. de 2020. CONTEXTO

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Curso de 3 aulas criado para retratar as políticas públicas de abertura de ruas durante a pandemia da COVID-19 Fonte: Spotify do SampaPé! http://bit.ly/spotify_ sampape

qualidade do ar nos primeiros dias após o decreto da quarentena no Estado, no mês de março, constatando menores níveis de monóxido de carbono, gás emitido pela queima de combustíveis de veículos leves, em comparação aos medidos nos dias anteriores ao decreto. Estes temas ganharam relevância, pois a crise climática está em pauta e inserida na agenda global. Nos últimos anos, com a evidência da emergência climática que culmina na elaboração dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), em 2015,8 para pautar as políticas públicas, houve um avanço na implantação de medidas comprometidas com uma agenda sustentável. As cidades, por abrigar a maior parte da população mundial e também ser o centro de emissões

8 Agenda 2030. Disponível em: https:// nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/. Acesso em: 07 de jun. de 2020.

16

CONTEXTO

de poluentes, se comprometeram em priorizar a mobilidade sustentável e com a busca de equidade e justiça urbana por meio da distribuição, qualificação e promoção de encontros nos espaços públicos. Nesse contexto, para além dos resultados imediatos de níveis de poluição do ar originados pela restrição forçada de deslocamentos, algumas cidades e países que já tinham planos de promoção de mobilidade, cidades sustentáveis e diminuição de emissão de gases poluentes, anteciparam projetos existentes ou criaram planos temporários emergenciais que priorizam o transporte a pé e de bicicleta e projetos urbanos para promoção da cidade policêntrica, da microacessibilidade, da autonomia dos bairros, e acesso a espaços verdes a toda a população. Em alguns lugares foi possível observar o aumento de venda e uso de bicicletas, como é o caso da França e da Suécia. Por outro lado, países que não tinham objetivos e planos claros nesse sentido chegaram a incentivar o transporte


10 JUN

motorizado individual ou desincentivar deslocamentos ativos. Até mesmo a população indicou a preferência pelo uso de transporte individuais motorizados, indo na contramão do desenvolvimento de cidades mais inclusivas, resilientes e sustentáveis. Na China, por exemplo, uma pesquisa9 indicou que o número de pessoas que alegaram preferência por carro próprio a transporte público para se deslocar após a chegada da pandemia dobrou.

pandemia com políticas de estímulo à mobilidade ativa são mais resilientes e preparadas que as cidades que não tinham planos e que continuam favorecendo os modos de deslocamento poluentes. Nesse contexto é importante entender o panorama da cidade de São Paulo para ajudar a elaborar futuros urbanos possíveis.

A divergência de políticas públicas e comportamento das pessoas em distintas cidades aponta a importância da resiliência urbana, de forma integral, para que as respostas das cidades e da sociedade frente à uma crise sejam sustentáveis. É possível observar que cidades e sociedades que reagiram à

Resiliência urbana é a capacidade

RESILIÊNCIA URBANA do

sistema

habitantes

urbano

darem

desenvolvimento

e

continuidade

durante

seus ao

períodos

de crises, por meio de processos de adaptação e transformação, visando sua sustentabilidade.

9 Pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, divulgada no site Mobilize. Disponível em: www.mobilize.org.br/noticias/12068/covid19pode-estimular-transporte-individual-revelapesquisa.html . Acesso em: 07 de jun. de 2020. CONTEXTO

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ESPECULAÇÕES DO PÓS-PANDEMIA NAS CIDADES A situação atípica fez com que pessoas de diversas áreas analisassem as possíveis consequências do período de pandemia e sua consequente criação de novos hábitos. Um estudo de Harvard10, divulgado em matéria no NY Times, estimou o período de cerca de dois anos para que uma vacina, ou uma campanha global de prevenção estrategicamente coordenada, funcione. Até chegar esse momento, a mesma matéria aponta que, provavelmente, a vida diária será definida pelos esforços para gerenciar a pandemia, de forma que eventos culturais, esportivos e viagens não deverão acontecer e, tanto reuniões como comércios, funcionarão com limite máximo de pessoas. O artigo ainda aponta que mudanças radicais de normas e rotinas, por um longo período de tempo, podem afetar o comportamento das pessoas e da sociedade por anos. Além das análises baseadas na situação atual, é possível observar mudanças comportamentais e também na estrutura de gestão pública e planejamento urbano em cidades que passaram por epidemias ou pandemias no passado. Em Hong Kong, a epidemia de SARS (Severe Acute Respiratory Syndrome, em português Síndrome Respiratório Aguda Grave) - também causada por um coronavírus e que ficou

10 KISSLER, Stephen e col. Projecting the transmission dynamics of SARS-CoV-2 through the postpandemic period. Vol. 368. Science, 22 de Maio de 2020. Disponível em: <https://science. sciencemag.org/content/368/6493/860>. Acesso em: 23 de jun. de 2020.

18

CONTEXTO

popularmente conhecida como “gripe aviária” - em 2002 e 2003, provocou mudanças de estruturas e hábitos de higiene foram absorvidas socialmente, mantendo-se presentes mesmo após mais de 10 anos da crise: como maior preocupação com a limpeza dos espaços, resultando em modelos de higienização frequente de superfícies públicas, campanhas de higiene e melhorias nas estruturas dos conjuntos habitacionais. Ao mesmo tempo, na esfera da gestão municipal, foi criado um comitê para elaborar estratégias que promovessem o envolvimento e a parceria da comunidade na melhoria do ambiente físico, social e econômico da cidade. Estudos ainda mostraram o aumento do senso de comunidade, entre todos os setores, inclusive com a criação de várias ONGs e fundações após a epidemia (Hung, 2003). Outra pandemia que modificou a estrutura das cidades foi a da gripe espanhola, no início do século XX, que deu origem às estruturas de saneamento urbano subterrâneo, com tratamento de esgoto, como conhecemos hoje e também definiu normas de salubridade de edifícios, principalmente com relação à circulação do ar.


10 MAI

29 JUL

CONTEXTO

19


A PANDEMIA EM SÃO PAULO EM MEIO AO PROCESSO DE REOCUPAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS

10 MAI

Frente de imóveis com fachadas inativas

No dia 16 de Março de 2020 por meio do decreto nº 59.28311, a cidade de São Paulo entrou em situação de emergência decorrente da pandemia de Covid-19. Quatro dias depois foi declarado estado de calamidade pública (decreto nº 59.29112). O primeiro decreto ainda não definia o fechamento de parques e apenas recomendou “teletrabalho”, mas, ainda assim, a Paulista Aberta programa que abre a avenida para pessoas aos domingos com bloqueio de acesso por veículos motorizados - foi suspendida no dia 15 de março13, um dia antes. Em

seguida,

três

dias

depois

do

11 Decreto nº 59.283. Disponível em: http:// legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/decreto59283-de-16-de-marco-de-2020. Acesso em 26 de jun. de 2020. 12 Decreto nº 59.291. Disponível em: http:// legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/decreto59291-de-20-de-marco-de-2020. Acesso em 03 de jun. de 2020. 13 Suspensão da Paulista Aberta. Disponível em: https://sao-paulo.estadao.com. br/noticias/geral,para-conter-coronaviruspaulista-aberta-e-suspensa-nestedomingo,70003233089. Acesso em 18 de jun. de 2020.

20

CONTEXTO

decreto de situação de emergência na cidade, foi anunciado novo decreto para o fechamento dos parques municipais (nº 59.29014). Apenas a partir do dia 24 de março ficou suspenso o atendimento presencial ao público em estabelecimentos comerciais, assim como atividades consideradas não essenciais, com isso, parques, escolas, faculdades, centro comerciais e comércio foram fechados. Foram reforçadas as medidas de distanciamento, higienização e recomendação para a população se manter dentro de casa, em isolamento social, o máximo possível. Como consequência, ruas ficaram mais vazias, com muitas fachadas desativadas

14 Decreto nº 59.290. Disponível em: http:// legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/decreto59290-de-19-de-marco-de-2020. Acesso em 14 de jun. de 2020.

FACHADA ATIVA É definido como frente dos imóveis

que promovem interação e dinâmica

da atividade do térreo do local, como comércios e serviços.


Linha do tempo da Pandemia no Brasil

CONTEXTO

21


devido ao fechamento do comércio, com diminuição da vitalidade e dinâmicas sociais das ruas. A interação social passou a ser feita, além de virtualmente, através das janelas dos apartamentos e casas. Para muitos, a casa passou a absorver grande parte das atividades que aconteciam em outros espaços privados e públicos, como estudos, trabalho, exercícios físicos, lazer, entre outras.

RUAS ABERTAS Política

avenidas

que

da

destina cidade

predominantemente

espaço

-

para

de

estruturas veículos

motorizados individuais - para lazer, práticas esportivas, culturais e sociais. Tendo a sua máxima realização na avenida paulista.

Projeto Centro Aberto, unidade General Osório, no bairro da Luz, São Paulo. Fonte: Gestão Urbana

A transferência de atividades para dentro dos muros vai no caminho contrário do processo de ocupação dos espaços públicos das cidades que vinha ocorrendo em São Paulo. Nos últimos anos, as ruas da cidade vinham servindo de palco para diversas manifestações políticas e culturais. O carnaval de rua, por exemplo, cada vez mais valorizado, atrai um público cada vez maior para as ruas, chegando ao recorde em 2020 com 15 milhões de foliões15. O funcionamento do programa Ruas Abertas, desde 2015, também evidencia a retomada dos espaços públicos para e pelas pessoas. No centro da cidade, programas coordenados pela Secretaria de Mobilidade e Transportes, como a Sexta Sem Carro e pela SP Urbanismo, como o Centro Aberto, também promovem a retomada dos espaços públicos como espaços de encontro e convivência. O primeiro, ao desestimular a circulação de veículo motorizados individuais em ruas do centro da cidade, incentivando o transporte sustentável e, o segundo,

15 Carnaval de rua de São Paulo em 2020. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com. br/geral/noticia/2020-03/carnaval-de-rua-desp-movimentou-r-275-bilhoes-diz-prefeitura. Acesso em 11 de jun. de 2020.

22

CONTEXTO


por meio da criação de praças com equipamentos e programação cultural em áreas residuais, estimulando a permanência e resgatando a função social desses espaços públicos. Esses processos valorizam a vida urbana e as atividades de lazer focadas em atividades culturais em áreas públicas, no lugar de atividades de consumo em shoppings e outras áreas privadas. Em meio a este processo coletivo e de políticas públicas de ocupação dos espaços públicos da cidade, a pandemia chegou forçando as pessoas a voltarem a seus espaços privados, com a suspensão de programas de resignificação dos espaços públicos. A partir dessa experiência, tentamos compreender: como voltaremos a

ÁREAS RESIDUAIS São vazios urbanos, muitas vezes sem uso. Considerados como área de sobra ou resto da urbanização do espaço.

ocupar os espaços em São Paulo? A experiência da pandemia afetará nosso comportamento no meio urbano, na relação com as pessoas e com os espaços?

21 JUN

CONTEXTO

23


PESQUISA E METODOLOGIA


METODOLOGIA E ESTRATÉGIA DA PESQUISA A iniciativa teve como objetivo: - compreender a relação das pessoas com os espaços públicos no cenário de isolamento social; - refletir como poderá ser a reapropriação da cidade em momentos futuros; - conjecturar e elaborar quais serão as possíveis transformações na cidade consequentes desse período. A interpretação das respostas pretendem auxiliar na construção de políticas públicas e melhorias dos espaços públicos durante e após a pandemia da COVID-19.

16 Divulgação oficial divulgada. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/ secretarias/saude/vigilancia_em_saude/ doencas_e_agravos/coronavirus/index. php?p=296535. Acesso em 29 de jun. de 2020.

Para elaborar a pesquisa e garantir respostas de qualidade às perguntas, assim como representatividade, foram trabalhadas simultaneamente duas esferas: a de elaboração do questionário para o campo amostral definido e a de divulgação e alcance. Tudo isso aconteceu em 4 semanas, conforme linha do tempo:

ABRIL DE 2020

O processo de articulação, organização e elaboração da pesquisa, teve início na segunda semana do mês de abril, quando a prefeitura de São Paulo já havia decretado o estado de calamidade pública e a população vivenciava o isolamento social, por cerca de um mês. A cidade, epicentro da doença no Brasil, registrava cerca de 3.754 casos da doença e 244 mortes, segundo a tabela de dados epidemiológicos de 23/03 a 22/04, divulgada pela Secretaria Municipal de Saúde.16 Seguindo as recomendações governamentais para permanecer em casa, todo o material, discussões,

reuniões e revisão do conteúdo foram realizados de modo remoto.

MAIO DE 2020

Para responder os questionamentos mencionados anteriormente, com base no contexto apresentado acerca da pandemia da COVID-19 e refletir sobre a retomada dos espaços públicos na cidade de São Paulo na última década, apresentaremos a metodologia de elaboração da pesquisa “Acesso aos espaços públicos na pandemia”.

2 semanas de elaboração da estrutura e perguntas do questionário 1 semana de pré - teste do questionário 1 semana de ajustes e estratégia de divulgação Lançamento dia 04 de maio - 21 dias do questionário público para recebimento das respostas e divulgação Encerramento 25 de maio de 2020

Diagrama das etapas do processo de trabalho e divulgação da pesquisa PESQUISA E METODOLOGIA

25


A ELABORAÇÃO DO QUESTIONÁRIO

Mapa da cidade de São Paulo Fonte: SP Urbanismo

A partir da clareza do problema que motivou os questionamentos e da definição do objetivo da pesquisa, deu-se início à definição do campo de pesquisa e a elaboração do questionário. O campo definido para a aplicação do questionário foi a cidade de São Paulo. Essa escolha deu-se principalmente pelo limite administrativo do município, compreendendo que as políticas públicas do território são definidas pela mesma administração municipal e orçamento público. É importante ressaltar que se reconhece a interrelação dos deslocamentos e do

PERFIL Perfil das pessoas respondentes

26

PASSADO Relação com espaço público ANTES da pandemia

uso dos espaços públicos das cidades da zona metropolitana, mas devido a falta de uma autoridade metropolitana e as diversas atuações municipais e estaduais a serem consideradas, decidiu-se focar nos limites administrativos do município de São Paulo para ter respostas mais confiáveis e poder focar as sugestões de políticas públicas direcionadas à realidade administrativa competente. A pesquisa, realizada por meio de questionário quantitativo, foi estruturada em cinco seções:

CONDIÇÃO

PRESENTE

FUTURO

Condição do isolamento/ distancimento

Relação com espaço público no PRESENTE

Relação/expectativa das pessoas com espaço público DEPOIS do isolamento e pandemia

Diagrama das seções do questionário PESQUISA E METODOLOGIA


No início do questionário, foi colocada uma pergunta dicotômica e eliminatória, sobre local de residência. Se a pessoa respondia que morava na cidade de São Paulo continuava a pesquisa, caso contrário o questionário se encerrava.

VOCÊ MORA EM SÃO PAULO?

SIM

NÃO

CONTINUA O QUESTIONÁRIO

ENCERRA O QUESTIONÁRIO

Diagrama de pergunta eliminatória da pesquisa

A primeira seção do questionário buscou compreender o perfil das pessoas respondentes por meio de sete perguntas sobre: região administrativa de residência (subprefeitura), idade, identidade de gênero, autodeclaração de raça/cor ou etnia, deficiência, nível de escolaridade e renda. As perguntas de caráter socioeconômico tiveram como base pesquisas demográficas como o Censo, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e o questionário socioeconômico do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e eram quase majoritariamente fechadas e de resposta única. Apenas a pergunta sobre deficiência era de

múltipla escolha, de forma que as pessoas podiam indicar possuir mais de uma deficiência - esta pergunta tem um caráter muito importante na pesquisa por reconhecer a inacessibilidade da cidade, que exclui e afasta pessoas com deficiência dos espaços públicos. Ainda vale ressaltar que, enquanto no censo se pergunta o “sexo” das pessoas, nós optamos por perguntar sobre “identidade de gênero”. Essa escolha justifica-se, pois gênero é uma construção social, de identidade e comportamentos, o que do ponto de vista dos estudos urbanos e práticas de sociabilidade nos espaços públicos tem maior relevância e influência do que o sexo biológico. Destacamos ainda que identidade de gênero não representa a orientação sexual, o que não foi perguntado e portanto não será considerado na pesquisa - ainda que se reconheça sua influência no acesso à cidade. Nesse sentido, destacamos que muitos outros dados sociodemográficos que não foram perguntados podem influenciar nas práticas urbanas, mas para garantir um questionário com extensão para ser respondido online e alcançar mais público, foram selecionadas as questões que se apresentavam como mais pertinentes ao objetivo da pesquisa. As seções seguintes foram alocadas em forma cronológica, passado, presente e futuro, e buscaram compreender a relação das pessoas com os espaços públicos da cidade de São Paulo nos períodos mencionados, assim como entender algumas características da condição de isolamento da pessoa respondente e expectativas futuras. Algumas questões e alternativas se PESQUISA E METODOLOGIA

27


7 QUESTÕES

2 QUESTÕES

COMPORTAMENTO

4A6 QUESTÕES

COMPORTAMENTO

PERFIL DAS PESSOAS RESPONDENTES 2°

PASSADO 3°

CONDIÇÕES DO ISOLAMENTO

IDENTIFICAÇÃO

8 QUESTÕES

IMPRESSÕES

4 QUESTÕES

EXPECTATIVAS

PRESENTE 5°

FUTURO

TÁTICA PARA ANÁLISE: NAS SESSÕES “PASSADO, PRESENTE E FUTURO” PERGUNTAS SE REPETIAM PARA AUXILIAR NAS COMPARAÇÕES DOS RESULTADOS

RESPOSTA ÚNICA

MÚLTIPLA ESCOLHA

1

2

3

4

5

OS TIPOS DE PERGUNTAS ESTÃO ORGANIZADAS ENTRE ABERTAS E FECHADAS, DE MÚLTIPLA ESCOLHA E QUESTÃO MATRIZ

QUESTÃO MATRIZ

Diagrama da estrutura do questionário

28

PESQUISA E METODOLOGIA

repetiram nos diferentes períodos, como forma de gerar comparações. Por exemplo: quais espaços públicos mais frequentavam antes do isolamento e da pandemia e quais estavam acessando durante o isolamento. Enquanto outras eram específicas de cada seção temporal. Por exemplo: sensações e comportamentos das pessoas ao estar em espaços públicos durante o isolamento da pandemia, questionando desde sensação de segurança até ritmo do caminhar. A seção do passado foi composta apenas por duas perguntas, em seguida, a seção sobre condições do isolamento podia ter mais ou menos questões caso a pessoa declarasse que havia saído da cidade, sendo composta por quatro a seis perguntas. Na sequência, a seção acesso e relação com os espaços públicos no presente foi composta por oito questões, sendo a seção com maior densidade e que buscou captar mais informações, inclusive subjetivas, das pessoas, e por fim, a seção do futuro foi composta por quatro perguntas sobre expectativas pós-pandemia. Na seção do passado, as duas perguntas eram fechadas e de múltipla escolha, com a intenção de traçar um perfil de uso dos espaços públicos de cada pessoa ao perguntar hábitos sobre espaços que mais costumavam frequentar e que tipo de atividades eram realizadas. Isso proporcionou a comparação com o comportamento no período de isolamento e a disposição e expectativas de alterações para melhoria dos espaços públicos e da cidade. Na terceira seção, sobre condições do isolamento no momento em que as pessoas estavam respondendo


ao questionário, foi elaborada uma pergunta condicionante que poderia alterar as próximas questões e seções a serem respondidas dependendo da resposta. Antes dela, todas as pessoas respondiam sobre a quantidade de tempo em isolamento, frequência que sai de casa e motivações. A questão condicionante perguntava se a respondente havia ido para outra cidade no período da pandemia, apesar de morar em São Paulo, e apresentava três possibilidades de resposta. Caso a resposta fosse negativa, o questionário continuaria normalmente com mais duas perguntas sobre a condição do isolamento referente a companhias durante o período e características do local/residência onde estava vivendo o isolamento, seguido da seção três sobre a relação com os espaços públicos durante o isolamento; caso a pessoa respondente apontasse que saiu da cidade “apenas por alguns dias”, era perguntada a motivação para viajar para outras cidades e em seguida respondia às mesmas perguntas direcionadas a quem não saiu da cidade. E a terceira alternativa, em que a pessoa indicava haver se instalado em outra cidade para passar o período de isolamento, perguntava-se os motivos dessa decisão e era direcionado diretamente à seção relacionada ao futuro, pois não estava vivendo o isolamento em São Paulo. Essa seção também partiu de hipóteses que as condições do isolamento podem interferir na necessidade e desejo maior ou menor de frequentar os espaços públicos. A quarta seção, sobre o momento do isolamento - ou seja, sobre o presente em que as pessoas estavam respondendo ao questionário - iniciava com duas questões fechadas e de múltipla escolha que repetiam as mesmas perguntas do

passado sobre espaços frequentados e atividades. Em seguida, havia duas questões matriz - que pede às pessoas que analisem diferentes itens com uma mesma escala de resposta - que visavam comparar o momento da pandemia com o momento anterior à pandemia, focando nas experiências e sentimentos nos espaços públicos e mudanças no cenário das ruas. E outras duas questões matriz em que as escalas representavam nível de desejo com relação ao presente e os espaços públicos para a pessoa respondente. Finalizando a seção, uma questão fechada de múltipla escolha sobre reflexões e uma questão fechada de resposta única sobre conhecer novas pessoas da vizinhança. Objetivouse mapear a relação e importância dos espaços públicos a partir das impressões e comportamentos das pessoas durante o isolamento, e se a alteração de interação pode influenciar desejos e ações futuras. Por fim, a quinta e última seção sobre o futuro, foi composta por três questões fechadas de múltipla escolha e uma questão matriz. Três delas perguntavam sobre atitudes individuais no futuro, sobre hábitos nos espaços público e participação para promover melhorias na cidade e uma sobre o quais alterações gostaria de ver na estrutura do espaço público. Essas perguntas eram importantes para alcançar o objetivo da pesquisa, de forma a apontar caminho de políticas públicas para reforçar a transformação da cidade em um ambiente mais sustentável e justo. A separação da pesquisa em cinco seções teve como intenção a criação de uma narrativa linear e temporal para as pessoas respondentes. Sua estrutura priorizou a aplicação de PESQUISA E METODOLOGIA

29


questões fechadas de múltipla escolha de forma a gerar dados quantitativos e comparáveis. Além disso, a formulação das perguntas se utilizou de uma comunicação simples para que pudesse ser compreendida facilmente pelos respondentes, evitando erros de interpretação. Quando havia vocabulário ou termos específicos, o texto introdutório apresentava a definição considerada pela pesquisa. Os termos “isolamento social” e “espaços públicos” foram objetos de inúmeras discussões e pesquisas feitas pela equipe, resultando em breves definições inseridas no questionário sobre qual o significado de tais termos para a pesquisa. A intenção era garantir que todos os respondentes tivessem o mesmo entendimento sobre os termos na hora de responder o questionário, de forma a evitar interpretações subjetivas de cada indivíduo. Para levantar os problemas e/ou dúvidas que pudessem surgir durante a aplicação do questionário, foi realizado um pré-teste com dezoito pessoas, sendo todas moradoras da cidade de São Paulo, mas com características bastante distintas no que diz respeito a gênero, idade, renda, cor ou raça/ etnia, local que reside na cidade, nível de escolaridade e deficiência. Para todas as pessoas que participaram do pré-teste, foram deixadas algumas questões: Achou a linguagem clara? Quanto tempo você demorou para responder? Alguma pergunta foi confusa ou redundante? Se sentiu desconfortável respondendo alguma pergunta? Sentiu falta de alguma pergunta?

30

PESQUISA E METODOLOGIA

DISTANCIAMENTO E ISOLAMENTO SOCIAL “Para a pesquisa, considamos como distanciamento/ isolamento social as práticas de:

- evitar usar os espaços públicos e/ ou encontrar outras pessoas por motivos de lazer

- manter distância das pessoas quando necessário estar nos espaços públicos

- mudar a rotina de atividades sociais presenciais”

A partir das respostas obtidas, foi realizada uma análise dos resultados do questionário e dos comentários feitos pelos respondentes-teste, deixando claras as alterações a serem realizadas e as limitações que o instrumento possuía. Após revisão final, a estrutura do questionário foi finalizada.


18 MAI

PESQUISA E METODOLOGIA

31


ESTRATÉGIAS DE DIVULGAÇÃO E ALCANCE

Parte do material de divulgação usado nas mídias sociais para engajamento e divulgação da pesquisa

Devido à situação de isolamento social, a pesquisa foi elaborada e aplicada por meio da plataforma de questionários online Google Forms. É importante ressaltar que foi indicado que pessoas com mais familiaridade com a plataforma auxiliassem quem não possui afinidade com o universo digital, ou que possui alguma limitação física para possibilitar maior acessibilidade do instrumento utilizado e representatividade na pesquisa. Foi definido como objetivo o alcance de, no mínimo, 800 respostas válidas de moradores da cidade de São Paulo, para assegurar a confiabilidade dos dados, de acordo com a quantidade de moradores e moradoras da cidade com mais de 15 anos de idade. Para obter uma amostra representativa, era preciso que houvesse diversidade de renda, gênero, nível de escolaridade, cor ou raça/etnia para garantir índices próximos aos do Censo de 2010. 32

PESQUISA E METODOLOGIA

Dessa forma, a pesquisa foi enviada, junto de um texto explicativo e material gráfico elaborado pela equipe, através de diversos canais digitais, como: postagem em grupos diversos do facebook, assim como grupos de bairros de todas as regiões de São Paulo; postagem no perfil e stories do Facebook e Instagram do Sampapé! e Metrópole 1:1; mensagem via whatsapp pessoal dos membros da equipe. Além de responder o questionário, foi solicitado o compartilhamento da pesquisa, para que ela pudesse se espalhar virtualmente e atingir o máximo de pessoas possível no território da cidade. Também foram enviados e-mails para instituições parceiras e contatos de mídia para alcançar mais divulgação e visibilidade, para além da realizada pela equipe elaboradora da pesquisa. Durante as três semanas em que a pesquisa ficou disponível, houve um


acompanhamento diário do número de respondentes e do conteúdo dos resultados por meio de observação da tabela de respostas gerada automaticamente pelo Google Forms. Foram feitas postagens semanais nas redes sociais dos perfis do SampaPé! e do Metrópole 1:1 para incentivar que as pessoas continuassem a responder e compartilhar a pesquisa. Em paralelo, foi dada especial atenção para os resultados que estavam sendo obtidos na primeira seção do questionário, a de perfil dos respondentes. Havia uma grande preocupação em obter respostas com representatividade significativa e próximas da realidade, principalmente no que diz respeito à cor ou raça/ etnia, renda e subprefeitura em que reside. Para aproximar os índices do questionário aos do Censo de 2010, foi construída uma tabela comparativa das subprefeituras, que forneceu a informação de quais porcentagens

estavam próximas da realidade e quais deveriam ter mais representatividade. A estratégia para buscar mais representatividade, tanto de perfil dos respondentes quanto territorial, foi entrar em contato com coletivos e grupos comunitários de diversos bairros da cidade; grupos com pauta de visibilidade negra, indígena, de pessoa com deficiência e/ou feminista; grupos de universidades e faculdades particulares e públicas; grupos de luta por moradia; entre outros. Além disso, foram elaboradas artes de divulgação para as redes sociais, indicando quais subprefeituras necessitavam de mais respostas para alcançar um índice maior de representatividade. A partir da construção do questionário e da estratégia de divulgação, apresentaremos os resultados alcançados e as análises dos resultados nos capítulos a seguir.

PERÍODO DA PESQUISA

ACIONAR PARCERIAS

3 SEMANAS

ALCANCE MÍNIMO 800 RESPOSTAS VÁLIDAS MÍDIAS SOCIAS: GRUPOS DE BAIRRO E TEMÁTICOS ALÉM DE DISPARO NO WHATSAPP

RELEASE PARA MÍDIA

ABORDAGENS DE DIVULGAÇÃO GRUPOS DE BAIRRO GRUPOS DE PAUTA DE VISIBILIDADE E LUTA GRUPOS UNIVERSITÁRIOS MENSAGENS DIRETAS

EMAIL MARKETING

PERFIS PÚBLICOS E PESSOAIS JORNAIS LOCAIS

Diagrama com esquema 360º de estratégia de divulgação

PESQUISA E METODOLOGIA

33


PERFIL RESPONDENTES


O PERFIL 10 JUN

Antes de analisar as respostas e compreender como elas apontam para possibilidades de transformação positiva da cidade, vamos apresentar o perfil das pessoas e as particularidades dos grupos respondentes. Porém, é importante ressaltar e reconhecer o limite do alcance de público da pesquisa, pelo fato de ter sido realizada através de questionário online e distribuída a partir das redes e contatos das organizações proponentes. Assim, frisamos a compreensão de que a pesquisa não consegue abarcar de forma representativa as classes D e E e, por isso,

não consideramos as respostas como a realidade de todos os habitantes da cidade de São Paulo, e sim representativa da parcela da população com perfil similar aos respondentes. Nesse sentido, apresentaremos os dados de perfil das 857 pessoas respondentes. A pesquisa teve 1.001 respostas válidas, entretanto 14% declararam não morar em São Paulo. Portanto, por não fazerem parte do campo territorial estabelecido pela pesquisa, como já mencionado anteriormente, não configuraram como respondentes. PERFIL RESPONDENTES

35


ONDE VIVEM As pessoas respondentes estão distribuídas nas macrorregiões da cidade, conforme mapa a seguir:

CENSO 2010

RESPONDENTES PESQUISA

OESTE

9%

31%

SUL

32%

27%

CENTRO

4%

15%

LESTE

35%

16%

NORTE

20%

11%

90

267

128 1°

140

232

Centro Regional norte Regional sul

Regional leste Regional oeste 857 Total respondentes Mapa da divisão das regionais com indicação do total das respondentes da pesquisa Fonte: PMSP, GeoSampa e dados da pesquisa

A maior parte das pessoas respondentes residem nas subprefeituras da Sé, Pinheiros, Lapa, Vila Mariana e Butantã - as quatro primeiras localizadas na região que compreende o centro expandido.

Divisão das regionais Fonte: Censo 2010 e dados da pesquisa

56% SÉ, PINHEIROS, LAPA, VILA MARIANA E BUTANTÃ

MAIOR PARTE DAS RESPONDENTES 36

PERFIL RESPONDENTES


SUBPREFEITURA

RESPOSTAS

%

1

128

15%

2

Pinheiros

105

12%

3

Lapa

92

11%

4

Vila Mariana

84

10%

5

Butantã

70

8%

6

Ipiranga

40

5%

7

Santana/Tucuruvi

28

3%

8

Santo Amaro

28

3%

9

Mooca

28

3%

10

Penha

27

3%

11

Jaçanã/Tremembé

21

2%

12 13

Campo Limpo Aricanduva/Formosa/Carrão

20 20

Dessa forma, evidenciamos que 57,9% das pessoas respondentes são residentes de bairros do centro expandido da cidade, enquanto que o Censo aponta que 20,3% da população da cidade vive nessa região.

30

11 16

18

7

24 3

2% 2%

26

1

9

2

5

4

23 22

10

20

13 14

29

32 28 25

14

Vila Prudente

20

2%

15

Cidade Ademar

19

2%

16

Pirituba/Jaraguá

15

2%

17

Jabaquara

15

2%

18

Freguesia/Brasilândia

13

2%

19

M’boi Mirim

13

2%

20

Itaquera

12

1%

21

Capela do Socorro

9

1%

22

São Miguel

9

1%

23

Ermelino Matarazzo

8

1%

Regional leste

24

Casa Verde/Cachoeirinha

7

1%

Regional oeste

25

Cidade Tiradentes

6

1%

26

Vila Maria/Vila Guilherme

4

0,5%

27

Parelheiros

4

0,5%

28

Guaianases

4

0,5%

29

Sapopemba

3

0,4%

30

Perus

2

0,2%

31

São Mateus

2

0,2%

32

Itaim Paulista

1

0,1%

8

12

6

31

17 15

19

21

Centro Regional norte 27

Regional sul

Mapa da divisão das subprefeituras com indicação da ordem das pessoas respondentes Fonte: PMSP, GeoSampa e dados da pesquisa

PERFIL RESPONDENTES

37


O Centro Expandido da cidade corresponde à área localizada ao redor do centro histórico, e delimitada pelo chamado minianel viário, composto pelas marginais Tietê e Pinheiros, mais as avenidas Salim Farah Maluf, Afonso d’Escragnolle Taunay, Bandeirantes, Juntas Provisórias, Presidente Tancredo

Neves, Luís Inácio de Anhaia Melo e o Complexo Viário Maria Maluf. Essa região concentra renda e equipamentos da cidade. Evidenciado pelo mapa de arrecadação de IPTU da pesquisa Mapa das Desigualdades 201917, da Rede Nossa São Paulo.

margina

l tietê

pinheiros centro

mooca

ro

nt

ce ido

nd

pa

ex vila mariana

ar

m

al

n gi

pi

s

iro

e nh

Minianel viário Malha ferroviária Mapa centro expandido com destaque do minianel viário Fonte: GeoSampa e CET

Rios

Quadras

17 Mapa da desigualdade de 2019 RNSP. Disponível em: https://www.nossasaopaulo. org.br/wp-content/uploads/2019/11/Mapada_ Desigualdade_2019_apresentacao.pdf . Acesso em 23 de jun. de 2020.

38

PERFIL RESPONDENTES


10 JUN

PERFIL RESPONDENTES

39


QUEM SÃO O Censo de 2010 apresenta dados sobre o sexo da população (mulheres e homens) e não sobre gênero (feminino, masculino e outros), especificamente. Então, sabendo das diferenças dos termos, o paralelo estabelecido a seguir é apenas para fins da comparação dos dados populacionais. O Censo aponta que as mulheres representam 53,5% da população enquanto que os homens 46,5%, já entre os respondentes da pesquisa, 69,3% se identificam com o gênero feminino e 30,2% com o masculino. Quando estabelecido o paralelo entre as respostas, percebese a diferença de um terço a mais na proporção de mulheres, entre as respostas da pesquisa e a população de São Paulo, e um terço a menos na proporção de homens.

As pessoas respondentes se identificam com os gêneros*

69,3%

Feminino

NOTA: Devido à predominância das respondentes com gênero feminino, as análises foram realizadas com pronomes femininos, também. Gráfico do perfil Sexo Censo 2010 x Gênero pesquisa

Gráfico de cor, raça e etnia

RESPOSTAS

%

Preta

51

5,95%

Parda

111

12,95%

Branca

634

73,98%

Amarela

58

6,77%

Indígena

3

0,35%

857

100%

TOTAL

40

PERFIL RESPONDENTES

Masculino

* 0,2% se identificam com outros gêneros

Sobre autodeclaração de cor, raça ou etnia, a pesquisa teve a maior parte de pessoas que se autodeclaram como brancas, aproximadamente 74% das respondentes, seguidas de 13% que se autodeclaram pardas, 6,74% amarelas, aproximadamente 6% pretas e menos que 1% indígenas.

COR, RAÇA E ETNIA

30,5%


Gráfico cor, raça e etnia dos respondentes da pesquisa X Censo 2010

Vale ressaltar que essa mesma proporção se mantém tanto para as respondentes que se identificam com o gênero feminino como para os que se identificam com o gênero masculino.

anos, ou seja, são “adultos jovens”18, compreendendo as pessoas na fase entre a adolêscencia e o envelhecimento. IDADE

RESPOSTAS

%

Em comparação com a declaração de raça, cor e etnia de toda a população da cidade de São Paulo do Censo de 2010, é importante identificar que as pessoas que se autodeclaram pardas são as que estão mais sub representadas e as que se autodeclaram amarelas estão mais sobrerrepresentadas, o que pode ser explicado pelo alcance da pesquisa anteriormente mencionado.

15 a 19 anos

12

1,40%

20 a 24 anos

93

10,85%

25 a 29 anos

221

25,79%

30 a 34 anos

133

15,52%

35 a 39 anos

90

10,50%

40 a 44 anos

56

6,53%

45 a 49 anos

54

6,30%

50 a 54 anos

56

6,53%

Foi decidido que a pesquisa seria feita com pessoas a partir de 15 anos pois algumas alternativas de respostas exigem uma certa autonomia e independência da pessoa no espaço público.

55 a 59 anos

69

8,05%

60 a 64 anos

39

4,55%

65 a 69 anos

20

2,33%

70 a 74 anos

8

0,93%

75 a 79 anos

3

0,35%

80 anos ou mais

3

0,35%

857

100%

Com relação à faixa etária das respondentes, vale ressaltar que aproximadamente 62% das respondentes têm entre 20 a 39

TOTAL

18 De acordo com Mosquera (1982), a adultez jovem se subdivide em fase inicial com idade aproximada entre 20 e 25 anos, fase de adultez jovem plena que compreende dos 25 a 35 anos, e, por fim, a adultez jovem final, abrangendo dos 35 aos 40 anos de idade. PERFIL RESPONDENTES

41


Em comparação com a pirâmide etária da cidade no Censo de 2010, fica ainda mais evidente a representação da população jovem da cidade, o que

mais uma vez pode ter relação com o formato da pesquisa, a divulgação e a temática.

CENSO SÃO PAULO 2010

PESQUISA

Pirâmide etária - Censo São Paulo x Respondentes pesquisa

42

PERFIL RESPONDENTES

Masculino

Feminino


Apenas 5% das respondentes declararam ter alguma deficiência. Dentre as deficiências declaradas há mais respondentes com deficiência visual e não houve nenhuma respondente com deficiência mental.

Os dados do Censo mostram que uma parcela maior de pessoas apresenta algum tipo de deficiência, correspondendo a 24,5% da população da cidade. A deficiência mais frequentemente declarada também é a visual, porém em maior proporção, 63,3% das deficiências.

PERFIL PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

PESQUISA - PERFIL PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Gráfico pessoas com deficiência

PERFIL RESPONDENTES

43


Outra informação importante sobre o perfil das pessoas respondentes é referente ao grau de escolaridade, no qual 81% têm graduação completa enquanto apenas 7% possuem até o segundo grau, o que também são dados indicativos de classe. Em comparação com os dados da cidade, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua trimestral do 1º trimestre de 2020, percebese uma grande diferença entre as respondentes da pesquisa e a população de São Paulo. A PNAD aponta que 69,4% da população de São Paulo tem até o segundo grau e 24,7% possui graduação completa, mostrando que a realidade ao considerar a totalidade da

cidade está distante da apresentada pelas respondentes da pesquisa. A relação entre grau de escolaridade e autodeclaração de raça, cor ou etnia das pessoas respondentes, evidencia que entre as pessoas que se autodeclararam como pardas, cerca de 20% tem apenas até segundo grau completo, o que é muito mais do que os 7,84% de pessoas negras, 5,35% de pessoas brancas e 1,72% de pessoas amarelas. Mas ao mesmo tempo é possível observar que não há uma variação de escolaridade tão grande entre pessoas que se autodeclararam negras e brancas.

18 MAI

44

PERFIL RESPONDENTES


GRÁFICO ESCOLARIDADE - PNAD SÃO PAULO X RESPONDENTES PESQUISA PNAD 2020

PESQUISA

PESQUISA - ESCOLARIDADE X RAÇA, COR, ETNIA

1

PRETA

2

PARDA

PERFIL RESPONDENTES

45


PESQUISA - ESCOLARIDADE X RAÇA, COR, ETNIA

3

BRANCA

4

AMARELA

Gráficos 1, 2, 3 e 4, escolaridade x raça, cor e etnia - Respondentes pesquisa

A maior parte das pessoas respondentes possuem renda de 3 a 6 salários mínimos mensais, seguido da faixa de 1 a 3 salários mínimos. Na relação entre renda e autodeclaração de raça, cor ou etnia, as desigualdades ficam muito evidentes. Enquanto cerca de 16%

46

PERFIL RESPONDENTES

das pessoas respondentes que se autodeclararam brancas têm renda maior que 9 salários mínimos, das respondentes negras, apenas cerca de 2% estão nessa mesma faixa de renda.


PESQUISA - RENDA MENSAL INDIVIDUAL RENDA MENSAL INDIVIDUAL

RESPOSTAS

%

Não tenho renda própria

108

12,60%

Até 1 salário mínimo (até R$1.045,00)

70

8,17%

De 1 a 3 salários mínimos (de R$1.045,01 a R$3.135,00)

225

26,25%

De 3 a 6 salários mínimos (de R$3.135,01 a R$6.270,00)

228

26,60%

De 6 a 9 salários mínimos (de R$6.270,01 a R$9.405,00)

106

12,37%

De 9 a 12 salários mínimos (de R$9.405,01 a R$12.540,00)

56

6,53%

De 12 a 15 salários mínimos (de R$12.540,01 a R$15.675,00)

24

2,80%

Mais de 15 salários mínimos (mais de R$15.675,00)

40

4,67%

TOTAL

857

100%

Gráfico renda salarial individual dos respondentes da Pesquisa

PESQUISA - RENDA INDIVIDUAL X RAÇA, COR E ETNIA

1

PRETA

PERFIL RESPONDENTES

47


2

PARDA

3

BRANCA

4

AMARELA

5

Grรกficos 1, 2, 3, 4 e 5 renda salarial individual x Raรงa

48

PERFIL RESPONDENTES


Ao relacionar renda e gênero, é possível observar que conforme o salário vai ficando mais alto a porcentagem de pessoas que se identificam com o gênero masculino vai crescendo e ficando maior em relação às pessoas que se identificam com o gênero feminino ou outros gêneros. Por exemplo, do total

de mulheres, 27,01% recebem de 3 a 6 salários mínimos, enquanto homens são 26,34%, no entanto, do total de mulheres respondentes 3,69% recebem acima de 15 salários mínimos enquanto do total de homens, 6,87% possuem essa mesma renda, proporcionalmente o dobro.

MULHERES

HOMENS

Gráfico renda salarial individual x Gênero

A persona principal da pesquisa, ou seja, o perfil que tem maior representatividade, é do gênero feminino, branca, não possui nenhum tipo de deficiência, com graduação completa, renda de 3 a 9 salários

mínimos e com idade entre 25 e 39 anos. Esse perfil representa cerca de 11% das pessoas respondentes. Esse perfil se mantém mesmo quando observadas as personas de cada macrorregião da cidade (centro, norte, sul, leste e PERFIL RESPONDENTES

49


oeste). Comparando com o total de respondentes de cada uma dessas macrorregiões, as respectivas personas representam: 14% dos respondentes da

11%

região central; 8,9% da região norte; 10,7% da região sul; 7,9% da região leste; e 10,5% da região oeste.

GÊNERO FEMININO, BRANCA E COM IDADE ENTRE 25 A 39 ANOS

RESPONDENTES

SEM DEFICIÊNCIA

GRADUAÇÃO COMPLETA

$

RECEBE DE 3 A 9 SALÁRIOS MÍNIMOS

Diagrama com a descrição do perfil predominante das respondentes

18 MAI

50

PERFIL RESPONDENTES


18 MAI

PERFIL RESPONDENTES

51


RESULTADOS E ANÁLISES


RESULTADOS Neste capítulo iremos apresentar os resultados da pesquisa sobre a relação das pessoas com os espaços públicos - considerando os períodos anterior a pandemia, durante o isolamento social e pós pandemia. Conforme apresentado anteriormente, o questionário ficou disponível para respostas durante três semanas do mês de maio de 2020. No referido momento, o quadro da epidemia da COVID-19 no Brasil e da pandemia no mundo era muito diferente do momento de análise das respostas, da elaboração deste relatório, assim como do momento de divulgação do mesmo. Ressaltase que as respostas expostas a seguir correspondem à etapa de isolamento mais restrita na cidade de São Paulo, em que comércios, serviços, parques, e até mesmo praças estavam fechadas,

e apenas serviços e comércios definidos como essenciais, estavam funcionando. Além das análises das respostas de cada pergunta, também foram realizados cruzamentos de dados e recortes de caráter exploratório para identificar padrões e outros achados relevantes. Investigou-se as particularidades por características socioeconômicas, territoriais, e até mesmo de condições de isolamento. Os principais recortes investigados foram de gênero, renda, território e faixa etária - com foco nas pessoas 60+. Destaca-se nesse relatório apenas os achados relevantes. A seguir, apresenta-se um panorama geral das respostas e análises sobre a relação das pessoas com os espaços públicos e peculiaridades que colaboram com a reflexão.

29 JUL

RESULTADOS E ANÁLISES

53


CONDIÇÕES DO ISOLAMENTO/DISTANCIAMENTO SOCIAL Antes de adentrar na relação das pessoas com os espaços públicos é importante entender as condições de isolamento, o que colabora com a caracterização do momento em que a pesquisa foi realizada. As condições do isolamento social correspondem a informações sobre tempo que as pessoas estavam isoladas, frequência de saídas de suas casas, assim como características do local em que estavam isoladas e companhia.

Constatou-se que, no período investigado, o isolamento social estava, em geral, sendo vivido de forma restritiva pelas pessoas. A maior parte das pessoas, cerca de 94%, indicaram que já estavam há mais de 4 semanas em isolamento no momento das respostas. Destas, mais da metade estava há 8 semanas ou mais e apenas uma pequena parte das respondentes, 4%, declararam que não estavam em distanciamento/isolamento social.

QUANTIDADE DE SEMANAS EM DISTANCIAMENTO/ ISOLAMENTO SOCIAL

Quanto à frequência de saídas, apenas cerca de 10% das pessoas indicaram que estavam saindo diariamente, porcentagem menor que o número de pessoas que indicou que não está saindo: 15%. A maior parte das pessoas (43,2%) estava saindo semanalmente. Sair de casa não significa frequência e uso dos espaços públicos, pois estas saídas podem ter deslocamento por veículo individual motorizado diretamente a espaços privados.

FREQUÊNCIA QUE TÊM SAÍDO DE CASA NO PERÍODO AVALIADO

Das pessoas que disseram sair de casa, a principal razão - indicada por 78,4% - é realizar atividades consideradas essenciais como compras de comida e remédios, acesso a banco, receber cesta básica, consultas médicas, entre outras. Na sequência, as motivações para sair de casa eram de deslocamento para o trabalho (10,9%), exercício físico ou passeio (10,4%) e encontro com familiares e amigos também isolados (9,1%), sendo muito menos representativas que as atividades essenciais. Ao cruzar a frequência de saída com as atividades, foi possível identificar

54

RESULTADOS E ANÁLISES


Gráfico com motivos de sair de casa durante a pandemia

que aqueles que saem para trabalhar, em sua maioria (cerca de 52%), saem diariamente, e aqueles que saem para atividades essenciais, para exercício ou passeio, em sua maior parte, saem semanalmente (49%). Essas informações demonstram alto nível de isolamento social, pois apenas cerca de 10% das pessoas estavam saindo diariamente de suas casas, principalmente para uma atividade não opcional: trabalho.

Gráfico com motivos para sair de casa: saídas essenciais x saídas para trabalho

21 JUN

RESULTADOS E ANÁLISES

55


Grande parte das pessoas está acompanhada no isolamento. A maior parte (42%) está vivendo com 2 ou 3 pessoas durante o isolamento, seguida daquelas que estão vivendo apenas

Gráfico da quantidade de pessoas na residência

Gráfico condições da residência

56

RESULTADOS E ANÁLISES

com mais uma pessoa (30,4%); e apenas 12,5% indicaram estar sozinhas. Com relação às condições e restrições do local em que as pessoas estão residindo durante o isolamento/ distanciamento social, a falta de área “verde” com gramado e/ou árvores é a mais recorrente - para cerca de 38% das pessoas. Em seguida, o fechamento das áreas comuns do local onde vivem afeta 31,4% das pessoas respondentes e a falta de vista ampla para a cidade é comum a 28,1%. Um número grande de pessoas, ¼ das respondentes, disseram não se enquadrar em nenhuma das condições, ou seja, o local onde estão residindo no isolamento não tem nenhuma das restrições indicadas.


É importante reiterar que esses dados reforçam os limites de representatividade na pesquisa, uma vez que sabe-se que um grande número de pessoas em São Paulo vive em condições precárias de moradia - cerca de 27% da população mora em favelas ou loteamentos irregulares de baixa renda, segundo estimativa do Centro de Estudos da Metrópole. 19

Gráfico de ida para outras cidades

Ainda sobre condições do distanciamento/isolamento social, foi perguntado se as pessoas haviam saído de São Paulo durante o período de isolamento - até o momento de resposta - e, se sim, se o fizeram apenas por alguns dias ou para passar o período total de isolamento fora da cidade. A maior parte das pessoas diz não ter saído, e os que saíram - cerca de 17% - responderam o motivo da saída por meio de pergunta aberta. Entre os motivos mais citados pelas pessoas que optaram por passar o período de distanciamento/isolamento social em outra cidade o principal foi relacionado à companhia da família seguido de busca de melhores as condições do espaço de estadia no isolamento, principalmente relacionadas à conforto, maior espaço e contato com a natureza. Tais motivações, além de descanso e lazer, coincidiram com as das pessoas que indicaram haver passado apenas alguns dias fora da cidade.

PRINCIPAIS MOTIVOS DE SAÍDA DE SÃO PAULO PARA OUTRAS CIDADES

17% DAS RESPONDENTES SAÍRAM DE SÃO PAULO CERCA DE 45% DOS RESPONDENTES

20%

AUXILIAR FAMILIARES

26%

MAIS ESPAÇO E CONFORTO

20%

CONTATO COM A NATUREZA

AFIRMARAM TER SAÍDO DE SÃO PAULO PARA FICAR COM SUAS FAMÍLIAS

19 Centro de estudos da Metrópole. Relatório disponível em: http://centrodametropole. fflch.usp.br/sites/centrodametropole.fflch. usp.br/files/user_files/ckeditor/relatorio2_ CEMSehab2016.pdf . Acesso em: 10 de jul. de 2020.

AS PESSOAS SAÍRAM DE SÃO PAULO POR RAZÕES SOCIAIS E ESPACIAIS

RESULTADOS E ANÁLISES

57


USO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS A condição do isolamento da pandemia alterou imensamente o uso e a relação das pessoas com os espaços públicos. Antes da pandemia, a dinâmica nos espaços públicos se dava pelo intenso uso das ruas, espaços culturais e esportivos, praças e parques da cidade, com as mais diversas finalidades como: passear, se deslocar, se exercitar, comer e beber, confraternizar e ir a eventos culturais. Como esperado, o tipo de espaço público indicado como mais utilizado no período anterior à pandemia eram “ruas, escadões e vielas”, o qual cerca de 80% das pessoas respondentes usavam com frequência. Isso se dá, pelo fato de que as ruas - para além de espaço de permanência e destino são, principalmente, espaços públicos de passagem para acessar outros

lugares, sejam eles públicos ou privados. Dessa forma, a atividade cotidiana de deslocamento faz com que as pessoas estejam com frequência nas ruas da cidade. Os espaços públicos culturais conquistaram o segundo lugar na frequência, apontados por aproximadamente 60% das pessoas respondentes como espaço público que costumavam ir mais de duas vezes ao mês. Surpreendentemente, superou as pessoas que apontaram a frequência a praças (55%) e até mesmo parques (54%) - que, se combinados (ou seja, combinando as pessoas que responderam apenas praças com as que responderam apenas parques e as que responderam ambos) chega a 75% das respondentes, superando o uso de espaços culturais.

Gráfico dos espaços públicos que frequentava antes da pandemia

58

RESULTADOS E ANÁLISES


O uso de espaços públicos esportivos é muito mais baixo (13,5%) e apenas cerca de 6% das pessoas indicaram que não costumavam ir a espaços públicos mais de duas vezes ao mês antes da pandemia.

Com relação às atividades mais realizadas nos espaços públicos antes da pandemia, a maior parte está relacionada à rua como espaço de passagem e acesso sendo elas: “passear” (74%) e “me deslocar” (70,5%). Em seguida

Gráfico do que realizava nos espaços públicos que frequentava antes da pandemia

foram apontadas atividades de lazer e socialização, como “comer e beber” (65,5%), “socializar e/ou confraternizar” (61,3%) e “ir a eventos culturais (festas, bailes, apresentações, etc.)” (60,9%). Outro destaque é que se exercitar nos espaços públicos se mostrava uma prática mais individual. Cerca de 2/5 das pessoas apontaram que costumavam fazer exercício físico sozinhas ou em dupla (40,8%), quando apenas 9,9% costumavam se exercitar em grupo. Também fica evidente que a pesquisa

teve baixa representatividade de pessoas que trabalham nos espaços públicos, seja com vendas (4,3%) ou com entregas (1,6%). Ressalta-se que esse perfil foi bastante impactado pelo isolamento social da pandemia não apenas nas suas atividades cotidianas e sociais, como as demais pessoas, mas também desde a perspectiva de trabalho e econômica, sendo portanto um público muito relevante e com perspectivas específicas na sua relação com os espaços público.

RESULTADOS E ANÁLISES

59


Constatou-se uma alteração radical na frequência aos espaços públicos ao comparar as práticas de antes da pandemia com as do período do isolamento social. Primeiramente, mais da metade das pessoas (55,2%) indicou não estar frequentando os espaços públicos durante o isolamento, em comparação com cerca de 6% que apontavam não frequentar antes. Nesse sentido, vale ressaltar que o número de pessoas que não estão

frequentando os espaços públicos é 3 vezes maior do que número de pessoas que não estão saindo (15%), conforme indicado quando perguntadas sobre a frequência de saída de casa durante o isolamento social - o que corrobora com o entendimento de que uma parcela das pessoas que estão saindo se deslocam em veículos privados para outros espaços privados, não interagindo com os espaços públicos.

o número de pessoas que

não estão frequentando os espaços públicos é 3x maior que as que não estão saindo

Gráfico dos espaços públicos frequentados durante a pandemia

24 JUL

60

RESULTADOS E ANÁLISES


O número de pessoas que indicaram frequentar “ruas, escadões e vielas” caiu para quase metade (42,2%) , em comparação ao período pré-pandemia (79,2%), e o uso de praças, que antes estava na quarta posição de frequência, passou a ser o segundo espaço público

mais frequentado - mas por apenas cerca de 5% das pessoas, ou seja dez vezes menos frequentado. A frequência aos demais espaços públicos durante o isolamento não chega a 1% das pessoas respondentes.

Antes Durante

Gráfico dos locais que costumava frequentar antes da pandemia x locais que está frequentando durante a pandemia

PRINCIPAIS RESPOSTAS

1º LUGAR 2º

2º LUGAR 3º

LOCAL MAIS FREQUENTADO

LOCAL MAIS FREQUENTADO

praças

ruas, escadões e vielas

ATIVIDADE MAIS REALIZADA me deslocar

as praças passaram de 4º para 2º lugar entre os espaços públicos mais frequentados COMPARANDO antes e durante a pandemia o 1º lugar vincula-se a espaços e ações destinadas a atividades de necessidades básicas

RESULTADOS E ANÁLISES

61


As atividades praticadas nos espaços públicos pelas pessoas diminuíram drasticamente também, conforme a recomendação de ficar em casa e até mesmo a restrição dos espaços e atividades. Dessa forma, observouse que deslocamento passou a ser a atividade mais realizada, porém por menos da metade (33,3%) das pessoas que antes praticavam essa atividade com frequência (70,5%).

Além disso, observa-se que dentre as 78% das pessoas haviam indicado que saem de casa saem para atividades essenciais, apenas 33% estão usando os espaços públicos para se deslocar a pé ou de bicicleta para o seu destino.

78% saem para atividades essenciais 33% usam os espaços públicos com deslocamentos ativos

Gráfico das atividades que têm realizado nos espaços públicos durante a pandemia

62

RESULTADOS E ANÁLISES


A ordem das atividades mais realizadas mudou significativamente. Antes, a principal atividade era “passear”, seguida de “me deslocar até meu destino” e “comer e beber”; durante a pandemia, as atividades mais praticadas nos espaços públicos passaram a ser “me deslocar até meu destino”, seguida de “me exercitar” e “fazer compras”. Essa mudança de ordem destaca como as prioridades e possibilidades se

alteraram no isolamento, fazendo com que as atividades nos espaços públicos fossem motivadas por necessidades básicas (acesso a produtos, trabalho e exercício) em detrimento das que envolvem lazer e encontro com outras pessoas. Nesse sentido, a ida ao espaço público para passeio, que antes era a principal atividade - praticada por ¾ das pessoas (75%) - passou a ser praticada por apenas 6,3%.

Diagrama dos locais mais frequentados antes da pandemia x durante

Antes Durante

Gráfico do que costumavam fazer nos espaços antes e durante a pandemia

RESULTADOS E ANÁLISES

63


Ao observar o uso dos espaços públicos focado nas respondentes 60+, pode-se destacar que o espaço mais frequentado antes da pandemia, “ruas, escadões e vielas”, obteve uma queda mais brusca na frequência pela população idosa do que para a média geral. Enquanto

no

resultado

total

da

pesquisa esse número caiu 37 pontos percentuais - de 79,2% para 42,6%- , para as pessoas idosas a queda foi de 48 pontos percentuais - de 78,1% para 30,3%. Isso pode ter relação com uma orientação mais direcionada e rígida para permanecer em casa, já que pessoas idosas fazem parte do grupo de risco de contágio da COVID-19.

POPULAÇÃO +60 ANOS

1

Antes Durante 1

2

3

4

5

6

POPULAÇÃO 15 A 59 ANOS

2

1 - Ruas, escadões e vielas

2- Praças 3- Parques 4- Espaços públicos culturais 5- Espaços públicos esportivos 6- Não estou frequentando espaços públicos

1

2

3

4

5

6

Gráficos dos locais que frequentava x locais que está frequentando durante a pandemia

64

RESULTADOS E ANÁLISES


Esta mudança de comportamento é ainda mais expressiva nas pessoas 60+. Antes da pandemia, 8,2% das pessoas idosas afirmaram não frequentar espaços públicos, durante o isolamento, esse número subiu para 66,7% - cerca de 58 pontos percentuais.

Assim como os locais frequentados, as principais atividades praticadas pelas pessoas idosas antes da pandemia (deslocamento e prática de exercício) sofreram quedas mais acentuadas com relação ao total durante o distanciamento/isolamento social.

POPULAÇÃO +60 ANOS

1

Antes Durante 1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

POPULAÇÃO 15 A 59 ANOS

2

1 - Me deslocar até o meu destino 2 -Passear

3 -Me exercitar sozinha/o ou em dupla

4 -Me exercitar em grupo 5 -Descansar

6 -Ir a eventos culturais 7 -Fazer compras

8-Participar de manifestações políticas

9-Comer e beber

10-Socializar e/ou confraternizar 11 -Trabalhar 1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

12-Trabalhar circulando

Gráficos das atividades que costumava realizar x atividades que está realizando durante a pandemia RESULTADOS E ANÁLISES

65


Ao analisar o recorte territorial, separouse as respondentes em dois grupos: moradores do centro expandido20 e moradores que moram fora do centro expandido. Notou-se, antes da pandemia, um maior número de frequentadores do espaço público no centro expandido em comparação com residentes das demais regiões da cidade.

Os espaços públicos culturais foram os que apresentaram diferença mais acentuada de frequência. Sendo 19 pontos percentuais maior em uso pelas/os residentes do centro expandido - 68% das pessoas do centro expandido indicaram ir com frequência, enquanto esse número cai para 49% para as demais regiões. Nesse caso, é

MAPA DOS EQUIPAMENTOS CULTURAIS

MAPA DOS EQUIPAMENTOS ESPORTIVOS

Equipamentos culturais

Equipamentos esportivos

Fora do centro expandido

Fora do centro expandido

Centro expandido

Centro expandido

Mapa da distribuição de equipamentos culturais e de equipamentos esportivos na cidade de São Paulo Fonte: GeoSampa

20 É considerado parte do centro expandido todas aquelas subprefeituras que estão total ou parcialmente dentro do limite de marginais e avenidas adotado oficialmente pela companhia. Disponível em: http://www.capital.sp.gov.br/ cidadao/transportes/veiculos-particulares/ rodizio. Acesso em 20 de jun. de 2020

66

RESULTADOS E ANÁLISES


importante destacar que a oferta e o acesso aos espaços públicos culturais nos territórios em questão deve ser um

fator de influência para essa diferença - segundo o Mapa da Desigualdade

Centro expandido Fora do centro expandido

Gráfico dos espaços públicos que frequentava antes da pandemia

201921 enquanto no centro expandido há 5,59 equipamentos culturais públicos a cada cem mil habitantes, fora do centro expandido há 1,50. Ao agregar o recorte de gênero às mesmas respostas territorializadas, é possível perceber que pessoas do gênero feminino frequentavam menos espaços públicos antes da pandemia, que as de gênero masculino. Destacase, ainda, que moradoras de fora do centro expandido do gênero feminino, indicaram estar menos presentes nos

espaços públicos que as residentes do centro expandido. Esse resultado pode ser reflexo da maior insegurança sentida pelas pessoas do gênero feminino, resultante de espaços públicos pouco convidativos e do machismo presente tanto na definição de “papéis” e “atividades” quanto no assédio. Além disso, pessoas do gênero feminino são colocadas como responsável pelos cuidados da casa e das outras pessoas da família, em uma construção social de papéis de gênero, sobrando menos tempo para atividades em locais

21 Mapa da desigualdade de 2019 RNSP. Disponível em: https://www.nossasaopaulo. org.br/wp-content/uploads/2019/11/Mapa_ Desigualdade_2019_tabelas.pdf (p. 51). Acesso em 23 de jun. de 2020. RESULTADOS E ANÁLISES

67


CENTRO EXPANDIDO

Feminino Masculino

Gráfico dos espaços públicos que frequentava antes da pandemia

públicos. Vale ressaltar o número muito maior (se comparado a outros grupos) de mulheres de baixa renda que se deslocam a pé na cidade: em Informe Urbano22 da SP Urbanismo com base na Pesquisa Origem-Destino 2017 do Metrô evidenciou-se que mulheres com renda até R$1.908,00 realizam 47% de seus deslocamentos a pé, muito acima dos 31,4% que representa a proporção de viagens a pé diárias por todas as pessoas na cidade.

22 Informe Urbano. Disponível em: https:// www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/ upload/Informes_Urbanos/44_IU_mobilidade_ mulheres.pdf. Acesso em 13 de jul. de 2020

68

RESULTADOS E ANÁLISES


FORA DO CENTRO EXPANDIDO

Feminino Masculino

Gráfico dos espaços públicos que frequentava antes da pandemia

04 JUL

RESULTADOS E ANÁLISES

69


PERCEPÇÕES E EXPERIÊNCIAS NOS ESPAÇOS PÚBLICOS DURANTE A PANDEMIA Os impactos na forma de estar e viver o cotidiano na cidade foi um dos principais objetos da pesquisa. Para captar esse tipo de percepção de mudança, o momento de respostas ao questionário foi muito importante, pois a o isolamento e a nova situação havia começado recentemente e assim era mais fácil para as pessoas estabelecer uma comparação. Perguntas sobre comportamento e sensações sofreram alterações, em geral negativas, em como as pessoas passaram a agir e se sentir nos espaços públicos no período de isolamento em comparação com como se sentiam e se comportavam antes da pandemia.

forma mais significativa com relação aos períodos de antes da pandemia e durante o de isolamento. Cerca de 69% das pessoas indicaram a escala de menor interação “1”, e 14% assinalaram “2” na escala, ou seja, mais de 4/5 das pessoas afirmam que a interação nos espaços públicos diminuiu de forma considerável. A sensação de segurança também mudou bastante cerca de 50% das pessoas indicaram se sentir mais inseguras nas ruas durante o isolamento do que se sentiam antes, enquanto para 35%, a sensação de segurança não se alterou. Já 73,6% das pessoas se declararam mais observadoras nas ruas do que antes. Cerca de 73% querem estar menos tempo nos espaços, 41% caminham com mais velocidade e, por fim, cerca de 53% dizem ficar mais tristes.

A interação com outras pessoas no caminho foi o comportamento nos espaços públicos que se alterou de

SENSAÇÃO DE SEGURANÇA NOS ESPAÇOS PÚBLICO DURANTE A PANDEMIA

50% REALIZANDO O RECORTE DE GÊNERO, NOTA-SE QUE 12% DO GÊNERO FEMININO SE SENTE MAIS INSEGURO QUE O GÊNERO MASCULINO

MASCULINO

50% DAS PESSOAS INDICARAM SE

FEMININO

SEGURO

SEGURO

SENTIR MAIS

1

70

2

RESULTADOS E ANÁLISES

3

4

5

INSEGURAS NAS RUAS DURANTE O ISOLAMENTO DO QUE SE SENTIAM ANTES


-

2

1

3

4

5

+

Gráfico de como está se sentindo nos espaços públicos comparando antes e durante a pandemia

Nesse sentido, é possível afirmar que, em geral, aumentaram as sensações e comportamentos negativos nos espaços públicos durante o período de isolamento da pandemia. A exceção foi com relação às pessoas terem indicado estarem mais observadoras, o que pode ser positivo. No termômetro a seguir é possível observar por sensação: COMO VOCÊ ESTÁ SE SENTINDO NOS ESPAÇOS PÚBLICOS DURANTE A PANDEMIA? (EM UMA ESCALA DE 1 A 5)

Escala de avaliação de sensações e percepções 1

-

VONTADE DE FAZER

2

3

4

5

+

VONTADE DE FAZER RESULTADOS E ANÁLISES

71


CERCA DE 69% DOS

69%

RESPONDENTES INTERAGEM MENOS COM OUTRAS PESSOAS

2

3

4

INTERAÇÃO

INTERAÇÃO

53%

69% 73%

5

Quando comparadas as sensações e comportamentos nos espaços públicos de antes e de agora, a partir de um recorte de gênero, observa-se algumas variações importantes, principalmente com o agravamento das sensações e comportamentos mais negativos pelas pessoas do gênero feminino, como: mais insegurança, querer ficar menos tempo nas ruas e ficar mais tristes. Com relação a sensação de segurança, nota-se que as respondentes do gênero feminino que declaram se sentir na escala mais insegura (1) nas 72

41%

CAMINHAM COM MAIS VELOCIDADE ESTÃO MAIS TRISTES

INTERAGEM MENOS COM AS PESSOAS NA CIDADE

NO ESPAÇO PÚBLICO

MAIS DE 4/5 DOS RESPONDENTES AFIRMAM QUE A INTERAÇÃO COM O ESPAÇO PÚBLICO DIMINUIU

1

P R I N C I PA I S R E S U LTA D O S

COMPORTAMENTO DAS PESSOAS NOS ESPAÇOS PÚBLICO DURANTE A PANDEMIA

RESULTADOS E ANÁLISES

74%

DESEJAM ESTAR MENOS TEMPO NO ESPAÇO PÚBLICO

PERCEBERAM QUE ESTÃO MAIS OBSERVADORAS

ruas durante a pandemia é de cerca de 12 pontos percentuais maior que a mesma resposta no gênero masculino. Outra variação que chama atenção é a maior proporção de pessoas do gênero feminino que indicaram ser mais desagradável caminhar nas ruas durante a pandemia, cerca de 6% maior que o gênero masculino. A resposta para a maior escala de velocidade da caminhada (5) se mostrou 7 pontos percentuais maior para o gênero feminino em relação ao masculino. Ainda que o caminhar mais


devagar também seja maior para o gênero feminino 80,7% das pessoas notaram uma diminuição no número de pessoas na rua, enquanto 48,3% notaram um aumento de pessoas nas janelas.

Também observou-se a diminuição no fluxo de veículos motorizados e consequentemente no barulho nas ruas, respectivamente notados por 70,3% e 76,1% das pessoas.

SENSAÇÃO DE SEGURANÇA

AGRADÁVEL DE CAMINHAR

VELOCIDADE AO CAMINHAR

Gráficos de como estão se sentindo nos espaços públicos: antes e durante a pandemia - Gênero

RESULTADOS E ANÁLISES

73


Menos Não alterou ou não notei Mais

P R I N C I PA I S R E S U LTA D O S

81% MENOS PESSOAS NAS RUAS Gráfico de como as respondentes se sentem nos espaços públicos comparando antes e durante a pandemia

Essas observações eram previsíveis, uma vez que no isolamento as pessoas foram incentivadas a ficarem em suas casas e os comércios e serviços estavam fechados, impactando na diminuição de lixo nas ruas (41%) e no barulho, já mencionado acima. Com relação à velocidade de veículo nas ruas, a percepção entre aumento e diminuição se equilibrou, e a maior parte das pessoas não notou alteração. Ao serem perguntadas sobre as reflexões realizadas durante a pandemia, a maioria das pessoas, 87,6%, destacou “Que a cidade seria menos poluída se houvesse menos circulação de veículos motorizados”. Já a reflexão que menos pessoas fizeram foi que 74

RESULTADOS E ANÁLISES

76% MENOS BARULHOS NAS RUAS

48% MAIS PESSOAS NAS VARANDAS E JANELAS

“vários dos trajetos ou atividades que fazia utilizando veículos motorizados podem ser feitos a pé ou de bicicleta ou eram desnecessários”: apenas 19,9% das pessoas. A comparação entre essas afirmações revela um dado curioso: apesar da maioria das pessoas associar


a diminuição de poluentes com a menor circulação de veículos, a minoria afirma que os veículos poderiam ser substituídos por alternativas não poluentes, como a caminhada ou bicicleta. É importante ressaltar que essa mudança muitas vezes não depende de uma escolha individual e

sim do tamanho dos deslocamentos, infraestrutura disponível, definição dos empregadores, entre outras razões. Portanto, mesmo que muitas pessoas sejam conscientes e anseiam mudar o meio de transporte, não conseguem ser coerentes com suas crenças por fatores externos.

Gráfico com as reflexões que surgiram com a impossibilidade de sair da residência

QUASE 76% DAS RESPONDENTES REFLETEM QUE AS CAMINHADAS COTIDIANAS CONTRIBUEM PARA A SAÚDE MENTAL E FÍSICA

75,5%

As outras reflexões estão relacionadas com o deslocamento a pé, sendo “que as caminhadas cotidianas contribuem mais para a minha saúde (mental e física) do que imaginava” e “ter um espaço de qualidade destinado ao deslocamento a pé é importante para estimular o uso da cidade e a segurança”, 75,5% e 71,8%, respectivamente. Ao fazer o recorte da população 60+, pode-se observar que todas as reflexões vinculadas à qualidade, RESULTADOS E ANÁLISES

75


segurança e dimensões dos espaços públicos destinados ao deslocamento são mais prioritárias para esse grupo etário. A reflexão “que ter um espaço de qualidade destinado ao deslocamento a pé é importante para estimular o uso da cidade e a segurança”, apresentou 9 pontos percentuais mais altos; a “que o espaço destinado ao pedestre é insuficiente”, apresentou 8 pontos percentuais mais alto; e a reflexão “que

há espaços demais para os veículos nas ruas”, teve cerca de 6 pontos percentuais mais alto que do grupo total. Esses dados reafirmam que as más condições dos espaços públicos afetam a qualidade dos deslocamentos a pé para toda a população, mas que vulnerabilizam grupos de pessoas com maior intensidade, como é o caso das pessoas idosas. Foi perguntado

POPULAÇÃO +60 ANOS X 15 A 59 ANOS de 15 a 59 anos 60 anos ou +

Gráfico das reflexões que surgiram com a impossibilidade de sair da residência

76

RESULTADOS E ANÁLISES


às pessoas se elas passaram “a conhecer novas pessoas da vizinhança ou comunidade durante o período de pandemia” com o objetivo de avaliar a alteração nessas interações mais próximas fisicamente. O resultado foi que 55,7% não passou a conhecer novas pessoas, 28% se aproximou de quem já conhecia e apenas 16,3% passou a conhecer mais pessoas de sua vizinhança ou comunidade.

é importante nas reflexões com as que efetivamente disseram que passaram a conhecer novas pessoas da vizinhança ou comunidade durante a pandemia. E identificou-se que a maior parte pode ter tido essa reflexão por estreitar os laços (33,5%) e cerca de 25% passou efetivamente a conhecer novas pessoas.

Cruzou-se as respostas das pessoas que notaram que conhecer a vizinhança

Ainda observou-se que as pessoas do gênero feminino passaram a conhecer mais pessoas na vizinhança no período de isolamento do que as pessoas do gênero masculino.

Gráfico indica se as respondentes passaram a conhecer novas pessoas da vizinhança ou comunidade durante o período de distanciamento/ isolamento

Gráfico indica se as respondentes que acham ser importante conhecer novos vizinhos passaram a conhecer novos vizinhos durante distanciamento/ isolamento

11 JUL

RESULTADOS E ANÁLISES

77


24 JUL

78

RESULTADOS E ANÁLISES


DESEJOS DE ATIVIDADES E SENSAÇÕES NOS ESPAÇOS PÚBLICOS DURANTE O ISOLAMENTO

Os resultados obtidos sobre a realização de atividades nos espaços públicos

evidenciam que há um desejo muito grande em fazer a maior parte das atividades indicadas pois mais da metade das respostas se concentram nos níveis 4 e 5 de desejo. As atividades foram as mesmas já exploradas anteriormente com relação as que faziam nos espaços públicos antes da pandemia e que estavam fazendo durante o isolamento. Somente três atividades não seguiram esse padrão, indicando menos saudades e desejo por parte das pessoas, sendo elas: “me exercitar em grupo”, “descansar” e “participar de manifestações políticas”. As atividades que as pessoas estão

5

+

Para além de entender como as pessoas usavam os espaços públicos antes da pandemia e como estavam usando no período de isolamento, buscou-se entender os efeitos da mudança de acesso a esses espaços e sua relação com as pessoas sobre os desejos. Perguntou-se o que as pessoas mais sentem falta das experiências nos espaços públicos, por atividade e experiência. Por seu caráter subjetivo, as respostas deveriam indicar o desejo individual em uma escala de 1 a 5, em que 1 representa “não sinto falta” e 5 “desejo muito”.

VONTADE DE FAZER

4

3

2

-

1

VONTADE DE FAZER

Escala de avaliação de sensações e percepções

Gráfico indica o quanto as respondentes estão com vontade de realizar as atividades RESULTADOS E ANÁLISES

79


sentindo mais falta de realizar nos espaços públicos são: “socializar e/ ou confraternizar”, em que 73,6% das pessoas afirmaram desejar muito (5) realizar e somente 1,6% disseram não sentir falta (1) ; e “ir a eventos culturais (festas, bailes, apresentações, etc)”, em que 65,3% afirmaram desejar muito e 61,3% 60,9% 74% 65,5% 70,5% 40,8% 46,3% 37,3% 33,1% 9,9%

4,9% não sentem falta. É interessante notar que são as mesmas atividades que estão entre as que a maior parte das pessoas realizavam nos espaços públicos antes da pandemia e que deixaram de realizar no período do isolamento.

73,5% 65,2% 64,7% 58,6% 51,6% 43,6% 41,6% 31,4% 28,8% 24,3%

O que você costumava fazer nos espaços públicos

O que você está com vontade de fazer nos espaços públicos

Gráfico comparativo entre o que as pessoas respondentes costumavam fazer x o que desejam fazer

PRINCIPAIS RESPOSTAS

73,5%

65%

65% Ir a eventos culturais

Socializar e confraterzinar

COSTUMAVA FAZER

Passear a pé

DESEJA MUITO FAZER 74%

73,5%

Socializar

Me deslocar até o meu destino

70,5%

65,2%

Ir a eventos culturais

Comer e beber

65,5%

64,7%

Passear

Socializar

61,3%

58,6%

Comer e Beber

Ir a eventos culturais

60,9%

51,6%

Me deslocar até o meu destino

Passear

As três principais respostas são as mesmas atividades que costumavam fazer antes da pandemia e que durante a pesquisa não podem fazer

80

RESULTADOS E ANÁLISES


O QUANTO VOCÊ ESTÁ COM VONTADEDE REALIZAR AS ATIVIDADES ABAIXO NOS ESPAÇOS PÚBLICOS? (em uma escala de 1 a 5)

Por outro lado, as atividades que as pessoas menos sentem falta de realizar nos espaços públicos, são: “se exercitar em grupo”, em que 36,3% se posicionaram como não sentindo falta; e “participar de manifestações políticas”, em que 31,8% afirmaram não sentir falta. Mais uma vez, essas não eram as atividades mais praticadas pelas pessoas antes da pandemia, o que justifica menor desejo. A atividade com maior índice de neutralidade, ou seja, com muitas respostas na escala 3, foi a de “descansar” nos espaços públicos, com 25,9%. Abaixo é possível observar por atividade, as respostas que se concentram em desejar muito (5 na escala de avaliação de sensasões e percepções) e as que apresentam outros padrões: SOCIALIZAR

Escala de avaliação de sensações e percepções 2

1

-

VONTADE DE FAZER

3

5

4

+

VONTADE DE FAZER

IR A EVENTOS CULTURAIS

a maioria das respostas está entre 4 e 5, ou seja, as pessoas querem fazer atividades nos espaços públicos

RESULTADOS E ANÁLISES

81


Escala de avaliação de sensações e percepções 1

2

3

5

4

+

-

VONTADE DE FAZER

VONTADE DE FAZER

PASSEAR

COMER E BEBER

SE DESLOCAR ATÉ O MEU DESTINO

SE EXERCITAR SOZINHO

FAZER COMPRAS AO LIVRE

DESCANSAR

82

RESULTADOS E ANÁLISES


PARTICIPAR DE MANIFESTAÇÕES

Com relação às sensações e experiências que as pessoas mais sentem falta de vivenciar nos espaços públicos, pode-se constatar que em todas as afirmações, o posicionamento “desejo muito” apresenta maior porcentagem do que todos os outros

SE EXERCITAR EM GRUPO

níveis da escala. Em quase todas as afirmações, mais de 50% das respostas se concentram nos níveis 4 e 5, com exceção da atividade “ver vitrines dos comércios e fachadas”, que possui um alto índice de neutralidade.

1

-

SENTE FALTA

+

SENTE FALTA

2

3

4

5

Escala de avaliação de sensações e percepções

Gráfico indica o quanto as respondentes sentiram falta de sensações e experiências nos espaços públicos em uma escala de 1 a 5 RESULTADOS E ANÁLISES

83


As frases que se destacaram como maiores desejos das pessoas são: “ter a liberdade de me deslocar”, em que 83,5% afirmaram desejar muito e

somente 0,2% alegaram não sentir falta; e “ver e sentir a natureza”, em que 77,8% disseram desejar muito e 1,2% afirmaram não sentir falta.

PRINCIPAIS RESPOSTAS

83,5% LIBERDADE DE SE DESLOCAR

21 JUN

84

RESULTADOS E ANÁLISES

77,8% VER E SENTIR A NATUREZA

67,1% SENTIR O SOL E O VENTO


VER AS VITRINES E AS FACHADAS

INTERAGIR COM PESSOAS NA RUA

VER GRAFITES E OUTRAS MENSAGENS NAS RUAS

OBSERVAR PESSOAS NAS RUAS

OUVIR SONS E VOZES

SENTIR CHEIROS

Escala de avaliação de sensações e percepções 1

-

SENTE FALTA

2

3

4

5

+

SENTE FALTA RESULTADOS E ANÁLISES

85


COMPORTAMENTOS FUTUROS E DESEJOS DE MUDANÇA Por fim, identificamos hábitos e comportamentos que as pessoas indicaram a intenção de alterar, assim como os principais desejos de mudança nas estruturas e espaços públicos da cidade. O maior número de pessoas indicou que enquanto houver risco de contágio, ainda que haja reabertura dos espaços, “vai evitar passar por lugares com muitas pessoas” (65%) e “vai frequentar espaços públicos de lazer mantendo distância das outras pessoas” (64%), seguido do uso dos espaços públicos, como as ruas, para se deslocar. As atividades que obtiveram menos respostas, e representam as que as pessoas vão levar mais tempo para

voltar a fazer ou não vão realizar, são: atividade física em grupo, participar de eventos com aglomeração e pegar transporte público. Ainda assim, 20% das pessoas pretendem ir a eventos em espaços públicos com aglomeração mesmo com risco de contágio - o que é uma atividade opcional. Enquanto aproximadamente 29% disseram que vão usar o transporte público, mesmo que por vezes essa atividade não seja opcional. A alternativa “não vou sair de casa” não estava no questionário e foi criada para análise dos resultados por aparecer de forma repetida como resposta na opção “outros”, representando aproximadamente 2% das respostas.

Permanecer em casa

Evitar passar por lugares com muitas pessoas

Gráfico sobre o que as pessoas respondentes irão fazer quando não houver nenhuma restrição oficial de uso dos espaços públicos, mas ainda existir risco de contágio de COVID-19

86

RESULTADOS E ANÁLISES


Apesar de não apresentar um número significativo, muitas respostas descritas na opção “outros” apenas buscaram qualificar e justificar suas respostas às alternativas, inclusive reforçando que as atividades contidas nas respostas serão realizadas obedecendo as medidas de proteção individual como: uso de máscaras, álcool em gel, higienização das mãos e evitar contato. Sobre “quais mudanças na cidade

gostariam que fossem feitas após a pandemia”, as duas alterações mais desejadas são “aumento da arborização das ruas”, com 75,6%, e “criação de mais praças e manutenção das existente”, com 68,8%. Nesse sentido, é interessante notar que são as alternativas que apresentam diretamente mais presença de verde e espaços livres para conviver e permanecer na cidade, com qualidade, de forma pulverizada e integral na cidade.

76%

DAS RESPONDENTES DESEJA MAIS ÁRVORES NAS RUAS

69%

CRIAÇÃO DE PRAÇAS E MELHORIAS DAS EXISTENTES

63%

MAIS ACESSIBILIDADE NOS ESPAÇOS PÚBLICOS

55%

MAIS ESPAÇOS PARA SENTAR NAS CALÇADAS

46%

INSTALAÇÃO DE BEBEDOUROS E BANHEIROS

Gráfico sobre as mudanças que as respondentes gostariam que fossem feitas após a pandemia (máximo de escolha de 5 alternativas) RESULTADOS E ANÁLISES

87


PRINCIPAIS RESPOSTAS SOBRE AS MUDANÇAS QUE ESPERAM PARA ESPAÇOS DOS VEÍCULOS

DAS RESPONDENTES DESEJA MAIS CICLOFAIXAS E BICICLETÁRIOS

59% Observa-se que há um grande desejo de melhoria nas condições para se deslocar a pé na cidade, uma vez que “ampliação de calçadas sem obstáculos para caminhar” foi apontada como uma mudança prioritária por cerca de 65% das respondentes; “melhoria nas condições de acessibilidade dos espaços públicos” por 63,2%; e “criação e manutenção de calçadões e ruas só para caminhar” por 56%. Agrupando, observa-se que 1/3 das pessoas - 33,5% assinalaram o desejo prioritário pelas três melhorias indicadas significa das respondentes. Já as medidas restritivas em relação ao uso de veículos motorizados individuais, como: diminuir a área de circulação destinado à esses modos de deslocamentos e diminuição de velocidades máximas permitidas, foram as mudanças menos indicadas pelas pessoas. Isso pode indicar que as pessoas preferem medidas mais propositivas que tenham um benefício imediato, com a melhora de estruturas nos espaços públicos, sem que alguns 88

RESULTADOS E ANÁLISES

45% DAS RESPONDENTES DESEJA MAIS RUAS E AVENIDAS ABERTAS

dos privilégios do veículo motorizado individual sejam limitados. Observando com recorte de gênero, é possível identificar que pessoas do gênero feminino desejam mais melhorias em estruturas de caminhabilidade, de acessibilidade e de oportunidade de ficar nos espaços públicos. Com relação à circulação a pé por exemplo, desejase mais que sejam realizadas ampliação de calçadas sem obstáculos. Já em relação a espaços para permanência, a possibilidade de sentar no caminho e a criação de mais praças mostrouse mais relevante para mulheres. Estes desejos podem estar vinculados às necessidades mais presentes nos deslocamentos e atividades das mulheres, que pelos insistentes papéis de gênero se encarregam de atividades de cuidados a outras pessoas e da casa, com caminhadas no próprio bairro e muitas vezes carregando compras ou com crianças e/ou pessoas idosas. Outra hipótese refere-se a um sentimento maior de insegurança e desconforto nestes espaços.


Por outro lado, as pessoas do gênero masculino apontaram mudanças que estão mais relacionadas aos longos deslocamentos como a criação de mais corredores de ônibus, mais ciclofaixas,

por consequência a diminuição da área de circulação de veículos e até mesmo diminuição das velocidade máximas permitidas. Feminino

Masculino

Gráfico sobre quais mudanças as respondentes gostariam que fossem feitas após a pandemia recorte de gênero (máximo de escolha de 5 alternativas)

19 AGO

RESULTADOS E ANÁLISES

89


Quando observada a perspectiva de mudanças na cidade com um recorte para a população 60+, pode-se destacar que, assim como nas reflexões anteriores, todas as alternativas que envolviam a qualidade dos espaços públicos para caminhar e descansar obtiveram uma porcentagem maior na comunidade idosa. São elas: “ampliação de calçadas sem obstáculos para caminhar”, com 2,4% a mais; “melhoria nas condições de acessibilidade dos espaços públicos”, com 5,7% a mais; “criação e manutenção de calçadões e ruas só para caminhar”, com 6,1% a mais; e “criação de mais espaços para sentar nas ruas e calçadas”, com 1,6% a

mais. Tal desejo de transformação pode ser consequência do fato de que este grupo de pessoas sofre um impacto negativo muito maior do que os jovens e adultos diante das más condições de deslocamento, como obstáculos em calçadas e falta de locais para sentar. Além disso, também foi interessante notar que as alternativas vinculadas a espaços verdes, como “aumento da arborização das ruas” e “criação de mais praças e manutenção das existentes” também tiveram maior porcentagem na população idosa, com 5,7% a mais na primeira afirmação e 10,1% na segunda. de 15 a 59 anos 60 anos ou +

Gráfico sobre quais mudanças as respondentes gostariam que fossem feitas após a pandemia recorte idade (máximo de escolha de 5 alternativas)

A adoção de novos hábitos individuais após a experiência da pandemia, que possam ter externalidades positivas para a cidade e para si mesmo também foi objeto de análise. E nesse sentido, o hábito que mais pessoas apontaram que adotarão é “frequentar mais os espaços públicos”, correspondendo a 46% das pessoas, seguido de “ajudar a cuidar dos espaços de uso comum, 90

RESULTADOS E ANÁLISES

como praças e parques” por cerca de 43%. Já em relação aos hábitos que as pessoas já realizavam, a alternativa “Frequentar o comércio local por modos ativos (a pé e bicicleta)” é o mais significativo, pois quase 60% das pessoas já realizavam e cerca de 35% estão dispostas a adquirirem esta


prática. Apenas 5,7% declararam que não pretendem adquirir esse hábito. O uso de transporte público é o hábito que mais pessoas já realizam (65,7%), mas apenas 9% disse que vai começar esse hábito, e se observada a questão em que perguntamos o que as pessoas

iriam fazer quando já não houvesse restrição, apenas 29% indicou usar o transporte público. Fica evidente um desejo e intenção de evasão do transporte público por uma grande parcela da população, ao menos enquanto ainda há risco de contágio do vírus. Não vou Já realizo Vou

Gráfico que indica se e quais novos hábitos as respondentes irão realizar após a pandemia para ter uma cidade melhor

É possível avaliar o que as pessoas estão menos propensas a mudar a partir da quantidade de respostas “não vou”. Os hábitos que as pessoas estão menos dispostas a começarem são também o que o menor número de pessoas já apontava realizar antes: a participação em conselhos municipais para cidadania e participação de rede de vizinhos.

Contudo, ao observar as diferentes faixas de renda, é possível notar que as pessoas que não possuem renda e as menores rendas individuais, de até 1 salário e de 1 a 3 salários mínimos, concentram as maiores porcentagens de respostas “já realizo” e “vou” em relação ao hábito de “ajudar a cuidar dos espaços de uso comum, como praças e parques”. RESULTADOS E ANÁLISES

91


PRINCIPAIS RESPOSTAS

1º 46%

LUGAR

DAS RESPONDENTES DESEJA FREQUENTAR MAIS OS ESPAÇOS PÚBLICOS APÓS A PANDEMIA

43%

VAI AJUDAR A CUIDAR MAIS

36%

IRÁ SE LOCOMOVER MAIS A

DO ESPAÇO COMUM

PÉ OU POR BICICLETA

35%

FREQUENTARÁ O PEQUENO

21%

USARÁ MENOS O VEÍCULO

COMÉRCIO DO BAIRRO

INDIVIDUAL

Já realizo Vou

Gráfico que indica se as respondentes irão ajudar a cuidar dos espaços de uso comun, como praças e parques, para ter uma cidade melhor após a pandemia - recorte de renda

Considerando o hábito de se locomover mais por transporte público sob a mesma comparação por faixas de renda, observa-se a repetição do 92

RESULTADOS E ANÁLISES

padrão: maior intenção de mudança desse hábito das pessoas que não possuem renda e de menor salário.


Já realizo Vou

Gráfico que indica se as respondentes irão se locomover mais por transporte público para ter uma cidade melhor após a pandemia - recorte de renda

Quando observados os novos hábitos com recorte de gênero foi possível identificar que as duas atividades mais comunitárias na escala do bairro são mais praticadas por pessoas do gênero feminino e ainda são as que tem mais

intenção de fazê-lo no futuro. Como é possível observar em “ajudar a cuidar dos espaços de uso comum, praças e parques” e “participar de uma rede com de apoio e encontros com vizinhas e vizinhos”.

AJUDAR A CUIDAR DOS ESPAÇOS DE USO COMUM, COMO PRAÇAS E PARQUES

PARTICIPAR DE UMA REDE DE APOIO E/OU ENCONSTROS COM VIZINHOS/AS

Não vou Já realizo Vou

Gráficos que indicam se e quais novos hábitos as respondentes irão realizar após a pandemia para ter uma cidade melhor - recorte de gênero RESULTADOS E ANÁLISES

93


Entretanto, nas demais atividades há maior respostas de já realizar ou ter a

intenção de, pelas pessoas do gênero masculino.

Feminino

Masculino

Não vou Já realizo Vou

Gráfico que indica se e quais novos hábitos as respondentes irão realizar após a pandemia para ter uma cidade melhor

Quando comparados os novos hábitos com recorte para a população 60+, não há diferenças significativas com a média geral. Porém, pode-se destacar que, apesar de não ser maioria, as opções “participar de uma rede de apoio e/ou encontros com vizinhos/as” e “participar de conselhos participativos junto à gestão pública” possuem

uma porcentagem de idosos que já realizam ou que irão realizar essas atividades maior do que a do restante das respondentes. Isso demonstra que a comunidade 60+ se mostra mais participativa quando se diz respeito à atividades coletivas que exigem encontros, reuniões e interação com um grupo de pessoas.

PARTICIPAR DE CONSELHOR PARTICIPATIVOS JUNTO À GESTÃO PÚBLICA

PARTICIPAR DE UMA REDE DE APOIO E/OU ENCONSTROS COM VIZINHOS/AS

Não vou Já realizo Vou Gráficos que indicam se e quais novos hábitos as respondentes irão realizar após a pandemia para ter uma cidade melhor - recorte idade

94

RESULTADOS E ANÁLISES


Observando as respostas de adoção de novos hábitos por uma cidade melhor a partir do recorte territorial, destacase que ajudar a cuidar dos espaços Centro expandido

públicos e participar de conselhos já eram atividades mais recorrentes das pessoas de fora do centro expandido. Fora do centro

Não vou Já realizo Vou

Gráfico que indica se e quais novos hábitos as respondentes irão realizar após a pandemia para ter uma cidade melhor - recorte território

Enquanto àquelas relacionadas à mobilidade, é possível observar uma maior capacidade de flexibilizar e adaptação dentre as pessoas do centro expandido. As pessoas do centro expandido que indicaram que já se locomovem por meios ativos evitando veículos motorizados individuais é 15% maior do que o número de pessoas que moram fora do centro expandido que indicaram que já o fazem. Tal diferença pode estar relacionada à proximidade do local de trabalho, uma vez que as ofertas de emprego da cidade concentram-se na região central da cidade, e ao acesso à infraestruturas cicloviárias e de transporte público de cada região.

MAPA DAS REDES DE TRANSPORTE PÚBLICO

Metrô CPTM Malha cicloviária Centro expandido Fora do centro expandido

RESULTADOS E ANÁLISES

95


Ainda assim, as pessoas de fora do centro tem mais intenção de se locomover mais a pé e de bicicleta após a pandemia - 5 pontos percentuais a mais. Assim como

ligeiramente indicaram uma maior propensão a deixar de usar veículo motorizado individual.

ME LOCOMOVER MAIS POR BICICLETA OU A PÉ

USAR MENOS VEÍCULO MOTORIZADO INDIVIDUAL (CARRO OU MOTO)

Não vou Já realizo Vou Gráficos que indicam se e quais novos hábitos as respondentes irão realizar após a pandemia para ter uma cidade melhor - recorte idade

10 AGO

96

RESULTADOS E ANÁLISES


Para que fosse possível observar as intenções das pessoas em transformar suas reflexões para uma cidade melhor em novos hábitos depois da pandemia, cruzou-se as pessoas que fizeram a reflexão de “que vários dos trajetos ou atividades que fazia utilizando veículos motorizados podem ser feitos a pé ou de bicicleta, ou eram desnecessários”, com a realização ou intenção de se locomover mais ativamente, e

constatou-se que 39% disseram que já realizam e 53,5% disseram que vão passar a realizar.

Grafico que indica as pessoas que refletiram que vários dos trajetos ou atividades que faziam utilizando veículos motorizados podem ser feitos a pé ou de bicicleta, ou eram desnecessários e se irão locomover-se mais por bicicleta ou a pé

Gráfico que indica se as pessoas que refletiram que a cidade seria menos poluída se houvesse menos circulação de veículos motorizados e se irão usar menos veículo motorizado individual (carro ou moto)

Já entre as pessoas que refletiram que a cidade seria menos poluída se houvesse menos circulação de veículos motorizados, a maior parcela representa quem já não utiliza veículo motorizado individual (62,4%) e 20% que tem a intenção de deixar de usar.

PRINCIPAIS RESPOSTAS QUAL A PRINCIPAL REFLEXÃO ACERCA DA CIDADE E ESPAÇOS PÚBLICOS DURANTE A PANDEMIA?

87,5%

das pessoas reflete que a

CIDADE

seria MENOS POLUÍDA se houvesse MENOS circulação de

VEÍCULOS MOTORIZADOS

apesar disso, apenas 20% das pessoas acredita que pode aderir a modos ativos de deslocamento RESULTADOS E ANÁLISES

97


Por fim, cruzou-se as pessoas que notaram a importância deconhecer a vizinhança e vizinhas/os, com pessoas que tem a intenção de participar de uma rede de apoio e/ou encontro com vizinhos/as: 18,5% indicou já participar e 38,2% que tem a intenção de, porém uma grande parcela (43,2%) apesar de reconhecer a importância não pretendesse engajar em um grupo desse tipo. Não vou Já realizo Vou

Gráficos que indica se as pessoas acham que conhecer a vizinhança e vizinhas/os é importante e se irão participar de uma rede de apoio e /ou encontros com vizinhas/os

10 AGO

Com relação à mudança de hábitos para evitar aglomerações no espaço públicos depois da pandemia, as mais indicadas são: “evitar realizar atividades de lazer em espaços públicos cheios” (47,4%), “fazer mais atividades de forma remota” (47,3%) e “evitar o transporte público, me deslocando ao máximo 98

RESULTADOS E ANÁLISES

a pé e/ou de bicicleta”(46,1%). As respostas indicaram que uma minoria não irá mudar hábitos para evitar aglomerações no espaço público, apontando o impacto da pandemia no comportamento social de forma intensa.


Algumas pessoas apontaram que, pela incerteza desse “futuro”, seguirão recomendações oficiais de órgãos de saúde. Ou ainda, que algumas mudanças de hábito não dependem de uma decisão particular delas mas

sim de exigências externas, como do empregador, por exemplo. Evitar o transporte público se mostra como uma ação desejada por uma grande parcela de pessoas: 65,5%.

Pretendo evitar realizar atividades de lazer em espaços públicos cheios Pretendo fazer mais atividades de forma remota Pretendo evitar o transporte público, me deslocando ao máximo a pé e/ou de bicicleta Pretendo evitar o transporte público e as ruas, e me deslocar ao máximo de transporte individual motorizado (carro próprio, uber e moto) Não pretendo mudar hábitos para evitar pessoas no espaço público Outros

Gráfico que indica se as pessoas pretendem mudar hábitos para evitar aglomerações no espaço público depois da experiência da pandemia e do isolamento social

10 JUN

RESULTADOS E ANÁLISES

99


Destas pessoas, 80% disseram que irão optar por se deslocar a pé ou de bicicleta, contra 20% que apontaram transporte motorizado individual como alternativa.

Considerando o recorte territorial, é possível perceber o privilégio de escolha das/dos moradoras/es do centro expandido em relação aos demais, já que estas/es podem evitar o transporte

PESSOAS QUE PRETENDEM EVITAR O TRANSPORTE PÚBLICO SE DESLOCARÁ AO MÁXIMO DE TRANSPORTE INDIVIDUAL MOTORIZADO

20% SE DESLOCARÁ AO MÁXIMO A PÉ E/OU DE BICICLETA

20%

80% das pessoas reflete que vários dos trajetos ou atividades que fazia utilizando VEÍCULOS MOTORIZADOS podem ser feitos A PÉ OU DE BICICLETA, ou eram desnecessários

público para se deslocar o máximo possível por modos ativos - sendo indicado como mudança de hábito por cerca de 50% das pessoas que moram no centro expandido, enquanto entre as demais pessoas é de 39%. Por outro lado, uma maior proporção de pessoas de fora do centro expandido pretende evitar o transporte público e as ruas para se deslocar ao máximo por transporte individual motorizado, cerca de 8% a mais. É importante reiterar que as as respostas estão atreladas ao momento em que as

100

RESULTADOS E ANÁLISES

A maior parte das pessoas de fora do centro expandido não indica a migração para modos ativos, mesmo entendendo os benefícios

pessoas responderam o questionário, indicando comportamentos antes mesmo de ter vivido todo o período da pandemia, quando outros elementos como consequência dessa experiência ainda poderão impactar nessas escolhas e atividades futuras.


Gráfico que indica se as pessoas pretendem mudar hábitos para evitar aglomerações no espaço público depois da experiência da pandemia e do isolamento social - recorte território

Centro expandido Fora do centro expandido

MUDANÇA DE HÁBITOS PARA UMA VIDA MELHOR

Em termo gerais, a restrição da convivência nos espaços públicos está afetando a sociabilidade e convivência das pessoas no ambiente urbano de uma forma drástica. As pessoas perceberam e manifestaram essa falta, e foram capazes de refletir sobre elas, desejando mudanças positivas para a cidade, mesmo nessas circunstâncias. Essas informações fundamentam tendências, por meio das respostas anteriores e durante o isolamento, junto à sentimentos, reflexões e intenções indicadas pelas pessoas. A partir desses dados iremos elaborar e detalhar algumas hipóteses e reflexões a seguir.

47%

DAS RESPONDENTES PRETENDE EVITAR

47%

PRETENDE FAZER MAIS ATIVIDADES

46%

REALIZAR ATIVIDADES DE LAZER EM ESPAÇOS PÚBLICOS CHEIOS

DE FORMA REMOTA

PRETENDE EVITAR O TRANSPORTE PÚBLICO, SE DESLOCANDO AO MÁXIMO A PÉ E/OU DE BICICLETA

RESULTADOS E ANÁLISES

101


CONSIDERAÇÕES FINAIS


ANÁLISES E PREVISÕES Os espaços públicos, principalmente os espaços das ruas, serão ainda mais importantes para manutenção e melhoria da qualidade de vida nas cidades de forma saudável e sustentável durante e após a pandemia. Por isso, é preciso que as cidades atuem e melhorem os espaços públicos de acordo com as necessidades, desejos e anseios das pessoas, evidenciados pela vivência da pandemia. A vida social e o acesso às necessidades básicas tendem a acontecer nas e pelas ruas, com maior distância entre as pessoas e mais facilidade de acesso, ou seja, com necessidade de mais espaço e maior proximidade entre residências e todos os serviços e equipamentos básicos. Dessa forma, torna-se essencial para manutenção da vida urbana redistribuir o espaço das ruas e criar

mais e melhores espaços públicos de passagem e de permanência. Nesse sentido, ao analisar os dados e evidências encontradas na pesquisa aqui apresentada, e articular esses mesmos dados com outras tendências e estudos sobre a vida urbana na pandemia, destacamos três demandas para a melhoria da qualidade de vida que foram acentuadas e se tornaram mais urgentes com a situação de pandemia: A

Acesso à natureza nas cidades

B

Bairros autônomos

C

Mobilidade urbana centrada em deslocamentos ativos

A primeira demanda evidencia a impossibilidade de contato com áreas

21 JUN

CONSIDERAÇÕES FINAIS

103


verdes na cidade por grande parte da população, principalmente no período de pandemia, o que pode levar ao desejo de saída da cidade e estabelecimento em áreas com mais natureza. Desejo este, que só pode ser realizado por uma pequena parcela privilegiada da população, que possui condições de trabalhar à distância, por exemplo. Neste tópico também é ressaltado os efeitos benéficos do acesso à natureza e da oportunidade de estar nos espaços públicos em segurança. A segunda proposição evidencia como a pandemia da COVID-19 aumentou a relevância de bairros compactos e autossuficientes pulverizados por toda a cidade. Cidades com poucos pólos concentradores de serviços provocam grandes deslocamentos e geram aglomerações de pessoas, situação indesejada e perigosa principalmente durante a pandemia. Além disso, a permanência em casa pelo isolamento social fez com que a população passasse a observar com maior atenção

104

CONSIDERAÇÕES FINAIS

as qualidades e necessidades de seus próprios bairros, e também gerou maior proximidade entre a vizinhança. O aumento da importância de bairros equipados e bem servidos agrava as desigualdades entre quem pode morar nos bairros equipados e quem não pode. O terceiro tema aborda como as medidas de contenção da doença e as novas dinâmicas de interação social alteraram drasticamente as formas de deslocamento, diminuindoos em quantidade, concentrandoos nas atividades “essenciais” dentro dos bairros, aumentando as entregas a domicílio e gerando aversão ao transporte público. Ao mesmo tempo destaca-se que os modos ativos devem ser vistos como solução para os diversos problemas urbanos, devendo ser incentivados por meio do planejamento urbano e das políticas públicas, sobretudo nas regiões periféricas. É

importante

destacar

que

estas


demandas evidenciadas não são únicas e nem atuam de forma separadas, muito pelo contrário, estão intrinsecamente relacionadas. Ademais, este relatório foi elaborado durante o período de pandemia, portanto concomitantemente às reflexões e inúmeros estudos sobre os efeitos da pandemia nas cidades. Sabe-se que poderão surgir novas perspectivas e demandas que complementam as apresentadas neste documento, de

EVIDÊNCIAS NA NOSSA PESQUISA Dados da pesquisa que levaram à abordagem desse tema

TENDÊNCIAS A EVITAR

forma que a discussão não se esgota neste relatório. Dessa forma, dentro de cada demanda mencionada, serão detalhadas: as evidências em nossa pesquisa que as produziram; as tendências a evitar e as tendências a potencializar no meio urbano e, por fim; indicações de ações e políticas públicas para que a cidade seja mais saudável, resiliente e coletiva.

TENDÊNCIAS A POTENCIALIZAR

Possíveis consequências de

transformações urbanas, tanto

negativas quanto positivas sob a perspectiva de cidades mais

saudáveis, resilientes e coletivas

INDICAÇÕES DE AÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS Indicações de

políticas públicas

para potencializar as

tendências positivas e tornar a cidade mais saudável, resiliente e coletiva

Tabela de avaliações das análises e previsões

21 JUN

CONSIDERAÇÕES FINAIS

105


ACESSO À NATUREZA NA CIDADE EVIDÊNCIAS NA NOSSA PESQUISA

O maior desejo das pessoas no pós pandemia é de aumento da

arborização (75%) e de criação e manutenção de praças (68,8%) Os hábitos que mais pessoas indicaram que irão mudar após a pandemia é frequentar espaços públicos (46%) e ajudar a cuidar dos espaços de uso comum, como praças e parques (42,9%)

77,8% disseram desejar muito “ver e sentir a natureza” e apenas 1,2% afirmaram não sentir falta

47,3% afirmaram que poderiam realizar mais práticas remotamente 16,4 % das pessoas saíram da cidade no período do isolamento. Destas,

26% em busca de “mais espaço e conforto”, e 20% para ter “contato com a natureza”

TENDÊNCIAS A EVITAR

Busca por áreas verdes privadas presentes em grandes condomínios fechados distantes do centro

Prejuízos ambientais com o aumento da malha urbana nas áreas verdes da cidade

Especulação imobiliária nos locais próximos às poucas áreas verdes urbanas existentes

TENDÊNCIAS A POTENCIALIZAR

Aumento da importância de praças e áreas verdes compartilhadas na cidade

Maior frequência e cuidado com as pequenas praças nos bairros Maior investimento em parques e na transformação de áreas de proteção ambiental em lugares de visitação

Diminuição do valor de imóveis em zonas centrais e zonas corporativas provocadas pelo modelo de trabalho e estudo remoto

INDICAÇÕES DE AÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS 106

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Criação de política pública de acesso à praças a curtas distâncias para toda população - praças a 15 minutos

Transformação de áreas residuais das ruas e terrenos vazios em praças


Transformação das ruas em espaços públicos de permanência Aumento de transformação de vagas para carros nas ruas em pequenas praças

Desgradeamento de parques e praças, ampliando o acesso à áreas verdes

Política de plantio de hortas urbanas em diversas áreas públicas da cidade - incluindo ruas, vielas e escadões Política de aumento de parques urbanos Política de recuperação de descanalização de rios, com criação de parques lineares no curso de córregos e rios urbanos

Política de aumento de plantio de árvores nas ruas e criação de corredores verdes estruturais

Criação de rede de transporte para ampliar o acesso a parques e praças (criação de estações de metrô, ciclovias, linhas e corredores de ônibus e calçadas acessíveis)

29 JUL

CONSIDERAÇÕES FINAIS

107


Aumentar a interação entre cidade e natureza, o acesso e oportunidade de experiências em espaços públicos de qualidade e participação comunitária se tornou mais urgente e mais evidente durante a pandemia. Corresponder a esses anseios de forma igualitária e acessível a todos, por meio de políticas públicas e projetos, não apenas deve proporcionar melhor qualidade de vida às pessoas, como também evita crises e aumento das desigualdades nas cidades, contribuindo para a construção de meios urbanos mais sustentáveis e resilientes. Em nossa pesquisa fica evidente a carência de espaços verdes e oportunidades ao ar livre na cidade, já que as transformações na cidade mais desejadas foram: mais arborização nas calçadas, seguida da criação de mais praças ou melhores condições das praças existentes, com 75,6% e 68,8% respectivamente. Além do desejo por espaços mais qualificados e com natureza, um grande número de respondentes apontaram intenção de participar mais da manutenção dessas áreas: 42,9% indicaram que querem “ajudar a cuidar dos espaços de uso comum, como praças e parques”. Ademais, ao abordar as sensações e experiências nos espaços públicos que as pessoas mais sentiam falta, 77,8% disseram desejar muito “ver e sentir a natureza”, enquanto apenas 1,2% RESILIÊNCIA URBANA Resiliência urbana é a capacidade do

sistema urbano e seus habitantes darem continuidade durante meio e

de

ao

períodos

processos

transformação,

sustentabilidade.

108

CONSIDERAÇÕES FINAIS

desenvolvimento

de

de

crises,

por

adaptação

visando

sua

afirmaram não sentir essa falta. Na cidade de São Paulo é possível perceber a desigualdade no acesso à natureza e ao verde através da relação de metros quadrados de área verde por habitante e pela arborização nas ruas. Segundo levantamento23, das 32 subprefeituras da cidade de São Paulo, apenas 5 contam com mais de 15 metros quadrados de área verde por habitante (valor recomendado pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana), e estão localizadas principalmente nos extremos da cidade. Grande parte das áreas verdes dessas subprefeituras não se integram às áreas urbanas e muitas são áreas de preservação ambiental, nem sempre acessíveis ou presentes no dia a dia. O estudo evidenciou que a subprefeitura de Parelheiros, no extremo sul da cidade, concentra 49,64% do total de cobertura vegetal no município, enquanto as 12 subprefeituras da zona leste da cidade tem, juntas, apenas 11% das áreas verdes totais da cidade24. Ao observar a arborização viária, as zonas centrais contam com muito mais verde no ambiente urbano do que as subprefeituras mais periféricas. De forma que, as ruas de Pinheiros são 557 vezes mais arborizadas que as ruas de Marsilac25.

23 Metrópoles, cobertura vegetal, áreas verdes e sáude. Disponível em: https://www.scielo. br/pdf/ea/v30n86/0103-4014-ea-30-86-00113.pdf. Acesso em: 27 de nov. de 2020. 24 Metrópoles, cobertura vegetal, áreas verdes e sáude. Disponível em: https://www.scielo. br/pdf/ea/v30n86/0103-4014-ea-30-86-00113.pdf. Acesso em: 27 de nov. de 2020. 25 Mapa da desigualdade RNSP. Disponível em: https://www.nossasaopaulo. org.br/wp-content/uploads/2019/11/Mapada_ Desigualdade_2019_apresentacao.pdf. Acesso em: 28 de nov. de 2020.


PROPORÇÃO DE ÁRVORES NO SISTEMA VIÁRIO O melhor/pior valor em relação à área total de arborização viária do distrito (km²) 1804,6 Alto de Pinheiros 3,2 Marsilac 671,2 Média da cidade

Centro expandido Fora do centro expandido Parques municipais, estaduais e áreas de proteção

Mapa dos parques municipais, estaduais e áreas de proteção da cidade de São Paulo Fonte: GeoSampa, Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente e Rede Nossa São Paulo

MICROCLIMA

Este problema já era bastante pontuado na cidade, principalmente vinculando a falta de presença de natureza a efeitos adversos provenientes dos microclimas e da poluição do ar26, que acarretam diversas doenças. A pandemia passou a evidenciar ainda mais os impactos da presença ou ausência de natureza no ambiente urbano na saúde física e mental da população. A Organização Mundial de Saúde têm produzido material que reúne casos e evidências sobre os benefícios dos espaços verdes urbanos na promoção da saúde mental dos habitantes27. Estudos indicam a relação entre proximidade de espaços verdes e diminuição de depressão, e outros até identificaram relação na redução de crimes 28e maior efeito positivo da presença de verde em territórios com contexto mais desfavorecidos socioeconomicamente, pois influencia a regeneração urbanística e melhora a qualidade de vida das pessoas residentes29.

26 Áreas verdes nas cidades e seu benefício para a saúde. Disponível em: https://www. saudeesustentabilidade.org.br/coluna/areasverdes-nas-cidades-e-seu-beneficio-para-asaude/. Acesso em: 30 de out. de 2020. 27 Urban Green Space Interventions and Health. Disponível em: https://www.euro.who. int/__data/assets/pdf_file/0010/337690/FULLREPORT-for-LLP.pdf. Acesso em: 01 de nov. de 2020.

Área em que as condições climáticas

28 NACTO. Guia Global de Desenho das Ruas. Edição Padrão. São Paulo: Senac, 2018.

do microclima urbano, vários fatores

29 Espaços verdes urbanos e saúde mental: uma revisão sitemática da literatura. Disponível em: https://www.researchgate. net/publication/338925216_Espacos_verdes_ urbanos_e_saude_mental_uma_revisao_ sistematica_da_literatura. Acesso em: 01 de nov. de 2020.

diferem do exterior ou da região. No caso podem influenciar nessas condições: presença de árvores, quantidade de asfalto, emissão de gases poluentes,

tipologia das construções do entorno, etc.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

109


A presença de árvores no meio urbano também melhora as condições de conforto no ambiente, como a sensação de temperaturas mais amenas, (podendo reduzir em até 12ºC), e também reduzindo os ruídos urbanos em até 5 decibéis30. Nesse sentido, é urgente o entendimento das ruas como espaços públicos que devem ser espaços de permanência, drenantes, de contato com a natureza, entre outras qualidades negligenciadas devido a destinação excessiva de espaço para a circulação de veículos motorizados e asfaltização. A qualificação das ruas como áreas verdes foi pontuada por pesquisadores do programa Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo como solução pós pandemia para proporcionar melhor apropriação urbana com qualidade: A falta de acesso a espaços verdes na cidade se mostra também como um dos motivos de êxodo urbano pela pequena parcela da população que pode trabalhar remotamente ou estabelecer outro estilo de vida em cidades menores. Com a chegada da pandemia da COVID-19 na cidade, modelos de trabalho foram reformulados: as aulas passaram a ser online e muitos escritórios passaram a trabalhar de forma remota. O modelo de teletrabalho está sendo avaliado por muitas empresas para se tornar permanente, o que pode diminuir os custos de manutenção predial e, por consequência, impactar nos valores mobiliários e configuração de áreas desenvolvidas como pólos de trabalho como a Faria Lima e Berrini -

30 NACTO. Guia Global de Desenho das Ruas. Edição Padrão. São Paulo: Senac, 2018.

110

CONSIDERAÇÕES FINAIS

desenvolvidas por meio das operações consorciadas Faria Lima e Água Espraiada. Segundo a pesquisa da Rede Nossa São Paulo, Viver em São Paulo: Pandemia, realizada no primeiro semestre de 2020, 35% das pessoas afirmaram que estão realizando todo o trabalho de forma remota e 19% estão realizando parte do trabalho em casa durante a pandemia. Na nossa pesquisa, 60,5% das respondentes afirmaram que notaram que poderiam realizar mais atividades remotamente, como aulas,

“As ruas e avenidas da cidade de São Paulo poderão se configurar em um grande potencial como corredores verdes – cenários que atuam como condutores e habitat para espécies animais e vegetais adaptadas ao ambiente urbano, assim como uma conexão saudável entre parques, praças e espaços livres para as pessoas se apropriarem de forma dinâmica com a caminhabilidade1.” (Ximenes; Maglio, 2020)

1 A vida urbana nos espaços públicos e áreas verdes póspandemia. Disponível em: https:// jornal.usp.br/artigos/a-vidaurbana-nos-espacos-publicose-areas-verdes-pos-pandemia/. Acesso em: 01 de nov. de 2020


CRUZAMENTO DOS RESULTADOS DAS PESQUISAS | 1º SEMESTRE DE 2020 REDE NOSSA SÃO PAULO

35% 19%

TRABALHAM REMOTAMENTE REALIZAM PARTE DO TRABALHO EM CASA

reuniões, entre outras. A possibilidade de trabalho remoto facilita a migração de São Paulo para outras cidades. Na nossa pesquisa, 16,4% das respondentes decidiram passar a quarentena em outra cidade ou viajar durante o período, as principais justificativas para o êxodo temporário, além dos motivos pessoais familiares, foram: a maior facilidade para ficar isolado, menor risco de contágio, mais conforto físico, mais espaço e o conforto psicológico por estar mais próximo a natureza. Uma das tendências possíveis a partir dessa nova dinâmica de produção é a busca por um ambiente residencial diferente, tendendo a estabelecerse em cidades menores, com mais contato com a natureza e imóveis maiores, a preços mais acessíveis. Um levantamento realizado pelo Grupo Zap31 de venda e aluguel de imóveis, em junho deste ano (2020), constatou que, nos cinco primeiros meses do ano, a procura por imóveis no interior ou no

31 Grupo Zap. 2020. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/economia/ como-a-pandemia-de-coronavirus-podeimpulsionar-o-exodo-urbano-no-futuro/. Acesso em: 05 de nov. de 2020.

NOSSA PESQUISA

60,5% 16,4%

REFLETEM QUE PODEM FAZER ATIVIDADE REMOTAS PASSARAM A QUARENTENA EM OUTRA CIDADE OU VIAJARAM

litoral do estado de São Paulo subiu 340%. Enquanto a busca por apartamentos na cidade de São Paulo teve uma queda de 1,7% no mesmo período. Por outro lado, é importante salientar que a migração dos modelos de trabalho para o ambiente remoto não é possível para grande parte da população. Segundo a pesquisa da Rede Nossa São Paulo32, 46% dos respondentes afirmaram continuar se deslocando diariamente até o local do emprego, ou seja, não praticam o trabalho remoto pois as atividades que realizam são essenciais ou da própria manutenção da cidade, como por exemplo atendentes de hospitais, farmácias e mercados, limpeza e manutenção de vias, trabalho em obras, entregas e logística, entre tantas outras imprescindíveis para que muitas pessoas possam ficar em suas casas.

32 Rede Nossa São Paulo; IBOPE, 2020. Disponível em: https://www.nossasaopaulo.org.br/wp-content/ uploads/2020/05/ViverEmSP-EspecialPandemia2020-apresentacao.pdf. Acesso em: 05 de nov. de 2020. CONSIDERAÇÕES FINAIS

111


ÊXODO URBANO REDE NOSSA SÃO PAULO | 2019

64%

PAULISTANOS MUDARIAM PERMANENTEMENTE DA CIDADE PARA TER QUALIDADE DE VIDA

O desejo de êxodo urbano já era uma realidade da capital paulista, mesmo antes da pandemia. De acordo com a pesquisa da Rede Nossa São Paulo e IBOPE “Viver em São Paulo: qualidade de vida33” de 2019, 64% dos paulistanos afirmam que sairiam permanentemente da cidade para ter uma melhor qualidade de vida. A insatisfação da população ocorre principalmente pelo excesso de trânsito, violência, falta de espaço, preços abusivos e grandes distâncias de deslocamento, tudo isso, fruto de um crescimento acelerado, da verticalização e horizontalização exageradas. Apesar de 6 em cada 10 paulistanos desejarem sair da cidade, a grande maioria diz permanecer pelas oportunidades de trabalho, opções de lazer, cultura e por vínculos familiares. As atividades de lazer e cultura, que compõem os ativos que as pessoas consideravam benefícios da vida urbana, foram restritas durante o isolamento. Na nossa pesquisa, ao perguntar o que as pessoas mais realizavam nos espaços públicos antes da pandemia e o que mais sentem

33 Rede Nossa São Paulo; IBOPE. 2019 disponível em: https://www.nossasaopaulo.org. br/wp-content/uploads/2020/01/ViverEmSP_ QualidadeDeVida_2020_completa.pdf. Acesso em 05 de nov. de 2020.

112

CONSIDERAÇÕES FINAIS

GRUPO ZAP | 2020 NOS PRIMEIROS 5 MESES DO ANO,

340%

AUMENTO NA PROCURA POR IMÓVEIS NO INTERIOR OU NO LITORAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

falta, ficou evidente a importância de realizar atividades ligadas a lazer e socialização/ confraternização, uma vez que estavam entre as mais praticadas e também entre as mais desejadas de voltar a serem realizadas. As três atividades mais praticadas envolviam confraternização: “comer e beber”, “socializar e/ou confraternizar” e “ir a eventos culturais”, representando respectivamente 65,5%, 61,3% e 60,9% dos respondentes. Das atividades que mais sentem falta durante a pandemia “socializar e/ou confraternizar” passou a ser a primeira com cerca de 74% das respondentes desejando muito voltar a realizá-la. Entendendo as motivações para o desejo de sair das cidades e dos elementos que as pessoas mais gostariam que fossem alterados, ou atividades que mais gostam de realizar no ambiente urbano, é possível notar que espaços públicos de qualidade e verdes, com diversos usos e mais locais de encontro e permanência ao ar livre poderiam ajudar a suprir essas necessidades - que muitas vezes são associadas à vida rural ou a grandes imóveis - dentro da vida urbana, vertical e compacta. Esses benefícios devem melhorar a qualidade de vida em toda a cidade e possibilitar o acesso igualitário a todas as pessoas, inclusive à população com piores condições


socioeconômicas que não tem a possibilidade de “sair da cidade” e, ao mesmo tempo, é impactada diariamente pela ausência de espaços verdes, de lazer e outras infraestruturas urbanas. A visão do trabalho sobre “Um sistema de espaços livres para São Paulo” vincula a recuperação da natureza também como um princípio de cidadania democrática na cidade:

“A revisão do conceito de cidadania passa por tratálo como uma espacialidade. A cidadania revista no lugar, tendo como princípio universal a acessibilidade a um projeto urbano e a um processo de produção que recuperem a natureza e a cidade como construções sociais coletivas é condição para que a maioria - e não apenas aqueles com mais recursos - possa utilizarse da metrópole em sua totalidade, e para que não seja legada a essa maioria a realidade de vivê-la como se fosse uma pequena cidade sem serviços, com condições precárias de habitação e utilização de equipamentos sociais essenciais e pagando, por isso, preços elevados1.” (Leite, 2011)

1 Um sistema de espaços livres para São Paulo. Disponível em: https:// www.scielo.br/scielo.php?pid=S010340142011000100011&script=sci_arttext. Acesso em: 06 de nov. de 2020.

Promover políticas públicas de integração da natureza no ambiente urbano se torna essencial para melhorar a qualidade de vida de forma integral, regenerar a vida urbana após a pandemia, além de promover um contexto de melhor saúde mental e senso de comunidade, como forma de tornar as cidades mais resilientes. A relação entre espaço verde e saúde está vinculada também à sua capacidade de promover a interação social entre vizinhos (Cattella et al, 2008; Maas et al, 200934) - elemento que também ganhou relevância em São Paulo no contexto do isolamento social na pandemia. Em nossa pesquisa, 52,7% das pessoas disseram reconhecer a importância das relações de vizinhança. É nesse sentido que, além da criação de políticas públicas que aumentem a presença da natureza no meio urbano, o fortalecimento dos bairros de forma integral também deve ser uma diretriz futura para manutenção das cidades como lugar de potência social.

34 Urban Green Space Interventions and Health. Disponível em: https://www.euro.who. int/__data/assets/pdf_file/0010/337690/FULLREPORT-for-LLP.pdf. Acesso em: 06 de nov. de 2020.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

113


SÃO PAULO Hortas urbanas comunitárias São Paulo: Grupos de bairro se reúnem para manutenção das praças na Zona Oeste da cidade para manter a vida urbana em equilíbrio com a natureza e estreitar os laços com a vizinhança e se adaptaram à pandemia. Veja em: https://www.youtube.com/watch?v=iNTfHOy0Ql8

MUNDO NY Plazas: Política pública em Nova York de criação de praças a 15 minutos de todas as pessoas que vivem na cidade por meio de ressignificação de áreas residuais nas ruas.

Veja em: https://www1.nyc.gov/html/dot/html/pedestrians/nyc-plaza-program.shtml e http:// onenyc.cityofnewyork.us/initiatives/ensure-all-new-yorkers-have-access-to-neighborhoodopen-spaces-and-cultural-resources/

Oakland Slow Streets: Política pública de abertura de ruas para lazer durante a pandemia para ampliar de forma emergencial a oportunidade ao ar livre para todas as pessoas, com foco em áreas que não contam com parques na proximidade

Oakland Slow Streets. Fonte: https://www.oaklandca.gov/projects/oakland-slow-streets

114

CONSIDERAÇÕES FINAIS


24 JUL

CONSIDERAÇÕES FINAIS

115


BAIRROS AUTÔNOMOS EVIDÊNCIAS NA NOSSA PESQUISA

34,8% tem Intenção de comprar no próprio bairro 53,7% disseram que darão preferência a “caminhar pelo meu bairro, sem ir muito distante”

16,3% Passaram a conhecer vizinhas/os durante a pandemia 28% se aproximaram dos vizinhos que já conheciam, durante a pandemia 27,3% querem participar de uma rede de apoio de vizinhos 52,7% reconheceram a importância de conhecer os vizinhos Dentre as respondentes que moram no centro expandido, 68% afirmaram que frequentavam espaços públicos culturais, 59% as praças e 46% os parques, antes da pandemia

Dentre as respondentes que moram fora do centro expandido, 49%

afirmaram que frequentavam espaços públicos culturais, 46% praças e 51% parques, antes da pandemia

TENDÊNCIAS A EVITAR

Aumento de desigualdades e especulação de bairros com mais serviços Diminuição de interação entre pessoas de diferentes bairros e com situações socioeconomicamente diversas

TENDÊNCIAS A POTENCIALIZAR

Fortalecimento de comércio de bairro e aumento de valorização de pequenos produtores locais

Aumento da vitalidade e diversidade nas ruas Aumento de feiras de ruas e consumo consciente Aumentos dos deslocamentos curtos e ativos no próprio bairro aumentando o vínculo da vizinhança e o senso comunitário

Aumento do trabalho e estudos remotos aumentando a permanência no próprio bairro

INDICAÇÕES DE AÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS 116

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estímulo a fachadas ativas por legislação urbanística Programas de desenvolvimento de empreendedorismo para comércio de bairro - com foco em áreas periféricas


Estímulo fiscal para atrair empresas, escolas, universidades em territórios além das regiões centrais

Implantação de áreas de lazer, cultura, esporte a distância caminhável para todas as pessoas

Transformação de equipamentos públicos de saúde e educação para que tenham outros usos, abertos para a população

Criação de mais feiras de ruas e outros serviços móveis e temporário em todos os bairros da cidade

Aumento de moradia social em bairros equipados

10 MAI

CONSIDERAÇÕES FINAIS

117


10 MAI

118

CONSIDERAÇÕES FINAIS


Os bairros precisam buscar suprir todas as necessidades das pessoas, por meio de diversidade de usos e pessoas, assim como pela facilidade e qualidade de acesso. Adotar modelos de desenvolvimento de cidades compactas, com bairros autossuficientes, em que os moradores não precisem percorrer longas distâncias para acessar comércio, serviços, lazer, natureza e emprego, faz parte de um modelo urbano que já vem sendo discutido há anos desde a perspectiva da sustentabilidade e da oferta de infraestrutura e recursos. O desejo de realizar a maior parte das atividades nas proximidades da residência e a valorização das dinâmicas locais e do comércio de bairro, tornou-se mais evidente no período de pandemia. Na nossa pesquisa, ao serem perguntadas sobre o uso dos espaços públicos e novos hábitos pós pandemia, 53,7% disseram que darão preferência a “caminhar pelo meu bairro, sem ir muito distante” e 34,8% afirmaram que irão utilizar mais o comércio do bairro. Na pesquisa “Viver em São Paulo: especial pandemia parte 2”, foi destacado que 46% dos respondentes estão dando mais valor ao comércio e aos serviços locais e 27% compraram em estabelecimentos do

bairro que ainda não conheciam. A relação com o comércio do bairro potencializa a vida urbana e garante o desenvolvimento econômico local, garantindo também a continuidade dos pequenos comerciantes. Essa ideia, desde a perspectiva de valorização da vida nas cidades, ganhou força através da escritora e ativista política Jane Jacobs, nos anos 60, com a ideia de que “ruas prósperas” abarcam serviços e usos de naturezas distintas, como trabalho, comércio e moradia, tendo uso em todos os horários do dia e por consequência sendo economicamente mais exitosas e do ponto de vista de segurança e vitalidade também. Bairros diversos e com pessoas nas ruas, não apenas garantem a vitalidade desses locais, como também o acesso seguro em relação ao contágio durante a pandemia, ao evitar longos trajetos e possibilitar o deslocamento de forma ativa. Além de consumir mais no próprio bairro, a vivência mais intensa no entorno das próprias casas fez com que alguns moradores e moradoras caminhassem mais e prestassem mais atenção nas potencialidades e ausências nos seus bairros. A pesquisa da Rede Nossa São Paulo, “Viver em São Paulo: especial

CRUZAMENTO DOS RESULTADOS DAS PESQUISAS | DINÂMICAS NA CIDADE DURANTE E APÓS A PANDEMIA REDE NOSSA SÃO PAULO | DURANTE A PANDEMIA

46% 27%

VALORIZAM MAIS COMÉRCIOS E SERVIÇOS LOCAIS

COMPRARAM EM ESTABELECIMENTOS DO BAIRRO, QUE NÃO CONHECIAM

NOSSA PESQUISA | FUTURO PÓS PANDEMIA

53,7%

34,8%

PREFERÊNCIA A “CAMINHAR PELO MEU BAIRRO, SEM IR MUITO DISTANTE” AFIRMARAM QUE IRÃO UTILIZAR MAIS O COMÉRCIO DO BAIRRO CONSIDERAÇÕES FINAIS

119


CRUZAMENTO DOS RESULTADOS DAS PESQUISAS | RELAÇÕES DE VIZINHANÇA REDE NOSSA SÃO PAULO

42% 18%

15%

ESTÃO MAIS SOLITÁRIOS EM SEUS LOCAIS DE CONVIVÊNCIA

PRETENDEM SE RELACIONAR MAIS COM SUA COMUNIDADE E VIZINHANÇA ESTÃO INTERESSADOS EM PARTICIPAR DE DECISÕES POLÍTICAS DO BAIRRO

pandemia - parte 2”, evidenciou que 11% das pessoas entrevistadas passaram a caminhar pelo próprio bairro e 30% afirmaram ter passado a prestar mais atenção aos serviços públicos que faltam no entorno de onde moram. Outro ponto relevante a se considerar nessa escala do bairro são as relações humanas que são construídas a partir dessa vivência: o estreitamento de relações entre vizinhos, o que acaba por desenvolver um maior senso de comunidade. Ações organizadas pela própria vizinhança se tornam essenciais para melhorias na infraestrutura e nos espaços públicos do bairro, gerando maior resiliência coletiva, inclusive para o enfrentamento de crises como a atual, provocada pelo COVID-19. Durante a pandemia, os moradores da cidade de São Paulo que responderam nossa pesquisa passaram a reconhecer a importância das relações de vizinhança: 52,7% das respondentes refletiram durante a pandemia que conhecer os vizinhos é importante; 16,3% disseram ter conhecido seus vizinhos 120

CONSIDERAÇÕES FINAIS

NOSSA PESQUISA

52,7%

16,3%

27,3%

REFLETEM, DURANTE A PANDEMIA, QUE É IMPORTANTE CONHECER VIZINHOS CONHECERAM SEUS VIZINHOS NO PERÍODO DA PANDEMIA

AFIRMARAM QUE IRÃO PARTICIPAR DE UMA REDE DE APOIO DE VIZINHOS

nesse período e 28% se aproximaram dos vizinhos que já conheciam; e 27,3% afirmaram que vão participar de uma rede de apoios de vizinhos. As pesquisas “Viver em São Paulo: especial pandemia” - partes 1 e 2, também analisaram a relação das pessoas com sua vizinhança: 42% das respondentes destacaram que os cidadãos estão mais solidários dentro de seus locais de convivência; 18% pretendem se relacionar mais com sua comunidade e vizinhança; e 15% ficaram interessados em participar de decisões políticas do bairro. Porém, apesar da vivência intensa dentro do próprio bairro durante a pandemia, historicamente a cidade de São Paulo foi construída em cima de lógicas de planejamento urbano que promoveram segregação socioespacial desfavorável ao desenvolvimento pleno de todos os bairros e pessoas na cidade. A presença de poucos pólos concentradores de serviços e empregos faz com que grande parte da população tenha que enfrentar longos deslocamentos


diários. Na pesquisa “Viver em São Paulo: Pedestre35”, realizada em 2019, foi feito um levantamento sobre a porcentagem de moradores que vivem a uma distância de 15 minutos a pé (considerada caminhável) de diversos serviços da cidade. O estudo mostrou que somente 11% dos moradores da cidade estão a 15 minutos do trabalho; 54% de comércio e serviços; 30% de parques e praças; e somente 8% de equipamentos culturais. Nossa pesquisa revela que, antes da pandemia, 54,4% costumavam frequentar parques e praças e 60% equipamentos culturais. Esses dados mostram que grande parcela da população precisa realizar deslocamentos maiores que a distância caminhável, para acessar tais equipamentos, o que aumenta as desigualdades de uso da cidade. Em nossa pesquisa, mais pessoas do centro expandido indicaram que costumavam frequentar espaços públicos culturais antes da pandemia, comparado às pessoas de fora do centro expandido,

68% e 49%, respectivamente. Essa diferença também pode ser observada em relação às praças, 59% e 46%, e aos parques, 58% e 51%. O espraiamento das cidades é resultado de lógicas produtivistas e capitalistas de desenvolvimento das cidades, assim como da centralidade no automóvel. Bairros sem opções de atividades urbanas diversas podem gerar custos diários de deslocamento desnecessários, maior tempo gasto nas viagens, além de provocar congestionamentos e aumentar as emissões de gases poluentes. Na nossa pesquisa, 19,9% das respondentes afirmaram que várias das atividades que realizavam com veículos ESPRAIAMENTO DAS CIDADES É

o

crescimento

horizontal

das

cidades. Quando acontece de modo descontrolado,

promove

inúmeros

problemas urbanos como: periferização da população de baixa renda, aumento 35 Viver em São Paulo, pedestre. Rede Nossa Sâo Paulo. Disponível em: https:// www.nossasaopaulo.org.br/wp-content/ uploads/2019/08/Apresentacao_ViverEmSP_ Pedestre_2019.pdf Acesso em: 05 de nov. de 2020.

de deslocamentos pendulares, emissões

de gases poluentes, além de inúmeros custos de gestão, infraestrutura e até energia.

EQUIPAMENTOS PÚBLICOS A 15 MINUTOS A PÉ? REDE NOSSA SÃO PAULO | 2019

30% 8%

MORAM A 15 MINUTOS A PÉ ATÉ PRAÇAS E PARQUES

ESTÃO A 15 MINUTOS A PÉ ATÉ EQUIPAMENTOS CULTURAIS

NOSSA PESQUISA | ANTES DA APANDEMIA

54,4%

60%

FREQUENTAVAM PRAÇAS E PARQUES ANTES DA PANDEMIA FREQUENTAVAM EQUIPAMENTOS CULTURAIS ANTES DA PANDEMIA CONSIDERAÇÕES FINAIS

121


motorizados poderiam ser feitas a pé ou de bicicleta, e entre as pessoas que afirmaram que irão evitar o transporte público para não gerar aglomerações (44,2%), 80,2% preferem substituir por bicicleta ou deslocamento a pé, ou seja, deslocamentos com distância menores e maior contato com os espaços públicos e pessoas na vizinhança. Essa escolha pelo transporte de bicicleta ou a pé em detrimento do carro para substituir o transporte público demonstra o desejo da população em adotar uma dinâmica de vida mais compacta, com fácil acesso ao emprego, comércio, serviços e lazeres diários. No período da pandemia, o conceito de bairros compactos foi foco de discussão, pois, em um primeiro momento, foram apontados como indutores das epidemias nas cidades por serem densamente ocupados. Porém, ao mesmo tempo, os bairros autossuficientes e compactos são apontados como uma das soluções possíveis para evitar a disseminação de epidemias por possibilitar deslocamentos mais curtos e seguros. Em análise do Labcidade sobre pessoas

122

CONSIDERAÇÕES FINAIS

hospitalizadas em São Paulo e local de residência, foi evidenciado que as pessoas que precisam sair para trabalhar e realizam percursos longos de transporte coletivo foram mais impactadas pelo contágio e óbito. Ressalta-se que não é possível afirmar se o contágio ocorreu no percurso, mas que não foi evidenciada nenhuma relação com a densidade dos bairros de residência36. Uma das alternativas para diminuir os grandes deslocamentos que ocorrem na cidade é ajudar a promover o conceito de “cidade de 15 minutos” e estimular o uso misto. Em São Paulo, o Plano Diretor Estratégico de 2014 adotou estratégias para incentivar o uso misto no mesmo lote, de modo a proporcionar a maximização e racionalidade da utilização dos serviços urbanos, potencializando a vida urbana local

36 Circulação para trabalho explica concentração de casos de COVID-19. Disponível em: http://www.labcidade.fau.usp.br/circulacaopara-trabalho-inclusive-servicos-essenciaisexplica-concentracao-de-casos-de-covid-19/. Acesso em: 07 de nov. de 2020.


CIDADE DE 15 MINUTOS Conceito desenvolvido pelo professor

Carlos Moreno, é o conceito de cidade compacta em que cidadãos tenham acesso

a

qualquer

serviço

que

necessitam em seu dia a dia em uma distância de 15 minutos, a pé ou bicicleta.

e equilibrando a oferta de habitação e emprego, assim como o estímulo a fachadas ativas e uso misto. Mas, apesar desse incentivo, os resultados ainda não condizem com a perspectiva ideal. Conforme já constatado anteriormente por dados da pesquisa “Viver em São Paulo: Pedestre”, a maior parte da população de São Paulo não mora a uma distância de 15 minutos a pé do trabalho, comércio e serviços, áreas verdes e equipamentos culturais. O incentivo ao trabalho remoto também pode ser adotado como uma estratégia complementar para diminuir os deslocamentos, mas não é capaz de substituir todas as atividades, até mesmo porque, como já mencionado na demanda por natureza, sabe-

se que essa não é uma alternativa possível para todas as trabalhadoras e trabalhadores. Logo, também é necessário criar estímulo a pólos de trabalho de forma mais distribuída na cidade. A realização de mais atividades no próprio bairro evita grandes deslocamentos na cidade e promove a diminuição do uso de veículos motorizados e a consequente diminuição da poluição do ar. O uso misto do solo e a diversidade de atividades ao nível do térreo podem trazer melhorias tanto para a mobilidade urbana, como para o desenvolvimento econômico local, pois amplia as oportunidades de emprego, os acessos aos espaços públicos de qualidade, as ofertas de transporte público, além de incentivar modos não motorizados de deslocamento. Diante disso, as estratégias urbanas de fortalecimento dos bairros aqui apresentadas incluem e se direcionam para mais uma diretriz que já foi mencionada nesta tópico, e será amplamente abordada no próximo tema: os novos padrões de deslocamento nas cidades no período pós pandemia.

18 MAI

CONSIDERAÇÕES FINAIS

123


SÃO PAULO - Um exemplo de ação comunitária durante o período da pandemia ocorre na Brasilândia, um dos distritos de São Paulo com maior número de casos de Covid-19. Diante do desafio de frear o

avanço da pandemia no bairro, 30 coletivos se uniram e formaram a “Rede Brasilândia Solidária”. Com mais de 200 voluntários, a rede articula agentes de saúde, educação, cultura, assistência social, entre outros, para discutir possíveis ações contra o espraiamento da pandemia no

território. Por meio de carros de som e agentes com megafones circulando pelo bairro, a rede leva informações sobre a necessidade do isolamento possível e da importância de utilizar máscara

ao sair de casa. Além disso, arrecadam alimentos e produtos de higiene; reivindicam a formação de espaços públicos para garantir o distanciamento nas ruas à Secretaria Municipal de Saúde e

exigem da Prefeitura de São Paulo um Plano Emergencial para a Brasilândia para o combate ao Covid-19.

- Um movimento que tem como objetivo valorizar o pequeno varejo brasileiro durante e após a pandemia é o “Compre do bairro”, iniciativa que surgiu em junho de 2020 como ação socioeconômica e popular, coordenada por líderes de grandes empresas, apoiados pelo Serviço

Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O movimento atua em duas frentes: capacitação técnica e profissionalizante e estímulo ao comércio de rua. Além disso, é movido pela ideia de que comprar de micros e pequenos negócios é uma maneira de incentivar a economia brasileira e manter viva a cultura afetiva de proximidade e confiança com o comércio de bairro.

MUNDO - Cidade de 15 minutos, Paris: O governo de Paris divulgou o seu plano de “cidade de 15 minutos”, ou seja, uma cidade em que a população só levaria 15 minutos a pé ou de bicicleta para acessar todos os serviços necessários.

- Cidade de 20 minutos, Melbourne: Em resposta a um crescimento demográfico acelerado, que aumentará a população em 80% em 34 anos, a cidade de Melbourne, Austrália, planeja implantar

uma cidade de 20 minutos. A intenção é de que, até 2051, todos os cidadãos tenham acesso a todo o serviço básico a, no máximo, 20 minutos a pé de casa. A ideia é mudar o zoneamento

próximo das universidades, facilitando a instalação de negócios inovadores ao redor deles. Outra medida é o grande investimento para modernização e ampliação do metrô.

- O senso de comunidade incentivado por uma crise consequente da pandemia tem potencial

para atravessar as fronteiras do bairro, se tornando uma oportunidade para que fosse reformulado o processo de planejamento urbano e gestão pública. Assim como Hong Kong que, como já

citado anteriormente, após a epidemia de SARS em 2002, além do aumento do número de ONGs, houve uma valorização da comunidade no âmbito da gestão municipal, foram reformuladas

as formas e estruturas de planejamento com a criação de um comitê especificamente para promover maior participação comunitária na construção e melhoria da cidade. No Brasil, os

fundos filantrópicos triplicaram durante a pandemia, apontando um crescimento da cultura de doação, ainda que ainda relacionado a causas emergenciais.

124

CONSIDERAÇÕES FINAIS


Movimento compre do bairro. Fonte: https://www.movimentocompredobairro.com.br/

18 MAI

CONSIDERAÇÕES FINAIS

125


MOBILIDADE URBANA CENTRADA EM DESLOCAMENTOS ATIVOS EVIDÊNCIAS NA NOSSA PESQUISA

Antes da pandemia, 70,6% afirmaram que uma das principais atividades que realizavam no espaço público era se deslocar por modos ativos. Durante a pandemia esse número passou para 33,3%

79,2% indicaram que frequentavam as “ruas, vielas e escadões” antes da pandemia. Durante a pandemia o número caiu para 42,6%

87,6% refletiram que a cidade seria menos poluída caso houvesse menos circulação de carros

58% desejam mais ciclovias 65% querem melhores calçadas 63,2% desejam melhoria nas condições de acessibilidade nos espaços públicos

56% desejam a criação e manutenção de calçadões e ruas só para caminhar

29% irão usar o transporte público quando não tiver restrição de circulação, mas ainda existir risco de contágio de COVID-19

46,1% irão evitar o transporte público após a pandemia e andar a pé e de bicicleta

19,4% irão evitar o transporte público após a pandemia e andar de transporte individual motorizado

81% notaram haver menos pessoas nas ruas e 70,5% menos carros 76,2% notaram menos ruído na cidade durante a pandemia 53,7% das pessoas apontaram que irão “caminhar no bairro sem ir muito longe”, com espaços públicos não restritos mas ainda com risco de contágio do coronavírus e 61,7% para se deslocar ao destino

TENDÊNCIAS A EVITAR

Aumento do uso de veículos privados motorizados, carros e motos, como substituição do transporte público

Decadência e falência do sistema de transporte público

126

CONSIDERAÇÕES FINAIS


Aumento de ocorrências viárias por moto e bicicletas que estão realizando entregas

TENDÊNCIAS A POTENCIALIZAR

Aumento de deslocamentos por modos ativos de deslocamento como substituição do transporte público e privado

Diminuição de longos deslocamentos devido ao aumento do trabalho remoto e mais compras e acesso a serviço no próprio bairro

INDICAÇÕES DE AÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS

Transporte público com linhas e rotas focadas em deslocamentos

de cuidado e atividades reprodutivas, como compras, ida a serviços médicos, entre outras

Resignificação dos espaços viários das ruas para ampliar área para

caminhar, pedalar e permanecer - como extensão de calçadas, ciclovias, parklets e praças

Implantação de infraestruturas de integração modal (ex: acesso por

ciclovias e bicicletários em todas as estações de metrô, terminais de ônibus municipais e rodoviários)

Políticas públicas de bairros e cidade 15 minutos Políticas públicas de abertura de ruas temporariamente -, como ruas escolares no horário de saída e chegada da escola entre outras

ATIVIDADES REPRODUTIVAS X ATIVIDADES PRODUTIVAS De acordo com a Hannah Arendt a vida cotidiana envolve a realização de atividades vinculadas a diversas esferas, destacamos duas que se contrapõe e evidenciam no

cotidiano dos deslocamentos e no ambiente urbano que são os vinculados à atividades produtivas e as atividades reprodutivas. As atividades produtivas se referem àquelas a

vinculadas ao mundo do trabalho e remuneradas; enquanto as atividades reprodutivas representam aquelas de cuidado, seja de outras pessoas, da casa ou até alimentação,

e não remuneradas. Tais atividades de cuidado e os movimentos que elas implicam

normalmente não são consideradas no planejamento urbano e de transportes que focou

de forma preponderante em atividades produtivas, enquanto historicamente as mulheres realizam as atividades reprodutivas tendo que realizar movimentos, muitas vezes, em condições precárias para tal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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DESLOCAMENTO DIÁRIO DE 1h 47 minutos

TEMPO DE DESLOCAMENTO ESTÁ RELACIONADO COM A FALTA DE QUALIDADE DE VIDA E DESIGUALDADE

Fonte: Rede Nossa São Paulo “Viver em São Paulo: Mobilidade Urbana

As condições para se deslocar na cidade devem garantir que todas as pessoas, independente de raça, gênero, idade, condições socioeconômicas, físicas e mentais tenham seu direito ao acesso democrático e seguro à cidade e aos espaços que ela tem a oferecer: serviços, trabalho, estudo, equipamentos e espaços públicos. Alterar o paradigma da mobilidade urbana para o acesso por deslocamentos ativos e próximo a todas as pessoas é urgente para construir cidades mais resilientes e justas, que sofram menos com crises futuras. Devido ao isolamento social, grande parte dos deslocamentos da cidade diminuíram drasticamente. Em nossa pesquisa, 70,6% afirmaram que uma das principais atividades que realizavam no espaço público antes da pandemia era se deslocar por modos ativos, já em maio de 2020, durante a pandemia, esse índice passou a ser 33,3%. Além disso, 79,2% das pessoas indicaram que frequentavam as “ruas, vielas e escadões”, sendo o espaço público mais frequentado antes da pandemia, caindo para 42,6%. Essa redução dos deslocamentos e presença nas ruas também ficou evidente quando 81% notou haver menos pessoas nas ruas e 70,5% menos carros. O que resultou também em menos ruído sonoro, observado por 76,2%. Ademais, essa situação levou à reflexão de que “a cidade seria menos poluída se 128

CONSIDERAÇÕES FINAIS

houvesse menos circulação de veículos motorizados”, por 87,6% das pessoas respondentes. Em São Paulo, o tempo médio de deslocamento diário é de 1 hora e 47 minutos, segundo dados da pesquisa da Rede Nossa São Paulo “Viver em São Paulo: Mobilidade Urbana37”, de 2019, o que faz com que o deslocamento seja um dos principais indicativos na cidade da falta de qualidade de vida e desigualdade. A chegada da pandemia da COVID-19 na cidade obrigou a implantação de medidas de contenção da doença que impactam drasticamente as formas de deslocamento, provocando novas reflexões e demandas sobre o paradigma da mobilidade na cidade, além de evidenciar a necessidade de políticas públicas que garantam o acesso a emprego, serviços e equipamentos de forma segura e sustentável, de forma a não deixar a população limitada a poucas alternativas e com desejo de migrar ao transporte individual motorizado. Diante do cenário provocado pela pandemia, o caminhar urbano aumentou ainda mais em importância e relevância, demandando mais espaço

37 Viver em São Paulo, mobilidade urbana. Rede Nossa São Paulo. Disponível em: https:// www.nossasaopaulo.org.br/wp-content/ uploads/2019/09/Apresentacao_Pesquisa_ ViverEmSP_MobilidadeUrbana_2019.pdf. Acesso em: 10 de nov. de 2020.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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DESLOCAMENTO A PÉ ANTES DA PANDEMIA

31,8%

SEGUNDO A PESQUISA ORIGEM DESTINO, 31,8% DO DESLOCAMENTOS DIÁRIOS NA CIDADE SÃO A PÉ

71%

DE ACORDO COM O INSTITUTO CORDIAL, 71% DAS CALÇADAS TEM MENOS DE 3M DE LARGURA

DURANTE A PANDEMIA, AS DIMENSÕES DAS CALÇADAS NA CIDADE FICARAM AINDA MAIS INADEQUADAS E INSUFICIENTE PARA CAMINHADA, POIS DE ACORDO COM A OMS NO BRASIL, A RECOMENDAÇÃO É DE MANTER NO MÍNIMO 1 METRO DE DISTÂNCIA DE OUTRAS PESSOAS.

e qualidade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indicou a preferência por caminhar e pedalar como a forma mais segura de deslocamento urbano e mudanças nos desenhos das ruas passaram a acontecer em diversas cidades do mundo para estimular essas formas de deslocamento. Modos ativos passaram a ser vistos por mais pessoas como solução para diversos problemas urbanos, inclusive no contexto pós pandemia, e devem ser incentivados por meio do planejamento urbano e das políticas públicas. Na capital paulista, o deslocamento a pé representa 31,8%38 dos deslocamentos diários na cidade, superando até mesmo os deslocamentos em que o modo principal é o transporte público (trem, metrô e ônibus). Ainda assim, é importante destacar que os deslocamentos por transporte público, em sua maioria, também incluem deslocamentos ativos (principalmente a pé) no início e final da viagem - no acesso aos pontos de ônibus, terminais e estações de trem e metrô. Além da

38 Pesquisa Origem-Destino do Metrô de 2017. Disponível em: http://www.metro.sp.gov.br/ pesquisa-od/. Acesso em 15 de nov. de 2020.

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expressividade dos deslocamentos ativos, é possível dizer que é também mais democrático. Caminhar é a forma de estar e acessar a cidade possível para pessoas de diversas idades (de crianças a idosos), características e condições (em cadeira de rodas, muletas, entre outras). Entretanto, as estruturas para se deslocar ativamente na cidade não correspondem à sua importância, mesmo antes da pandemia. Com relação às calçadas, por exemplo, 71% tem menos de 3 metros39, o que ficou ainda mais inadequado e insuficiente com a pandemia e a recomendação da OMS no Brasil de manter no mínimo 1 metro40 de distância de outras pessoas. Outro problema que já era bastante presente sobre o caminhar é o tempo semafórico: em pesquisa foi constatado

39 Levantamento Instituto Cordial. Disponível em: https://www.instagram.com/p/ CAQnTfhHTTH/?igshid=19fx8a4hhd6fd. Acesso em: 15 de nov. de 2020. 40 Folha informativa COVID-19. Disponível em: https://www.paho.org/pt/covid19. Acesso em: 12 de dez. de 2020.


que 98%41 dos semáforos da cidade não contemplam o tempo de caminhada das pessoas idosas na cidade.

contágio do coronavírus, e 61,7% que irão usar os espaços públicos para se deslocar ao destino.

Na nossa pesquisa, o desejo de “ampliação de calçadas sem obstáculos para caminhar” no pós pandemia foi apontado por cerca de 65% das pessoas; “melhoria nas condições de acessibilidade dos espaços públicos” por 63,2%; e “criação e manutenção de calçadões e ruas só para caminhar” por 56%. Ao considerar o recorte de pessoas com 60+ em comparação ao grupo de 15 a 59 anos, o desejo de melhoria das condições e estruturas de caminhada e de acessibilidade, são ainda mais importantes. O mesmo acontece com o recorte de gênero, as pessoas que se identificam com o gênero feminino também dão maior importância a melhoria de estruturas vinculadas a caminhabilidade. Isso se dá, pois tanto pessoas idosas como mulheres costumam realizar mais atividades reprodutivas e de cuidado, que são realizadas nas proximidades, e/ou não contam com linhas de transportes públicos para esses trajetos. Entretanto, como já apontado anteriormente, mais pessoas passaram a fazer essas atividades e caminhar mais no próprio bairro, passando a notar mais os problemas nas condições para caminhar. Na nossa pesquisa, 53,7% das pessoas apontaram que irão “caminhar no bairro sem ir muito longe”, quando o uso dos espaços públicos não estiverem restritos mas ainda houver risco de

Em relação ao transporte por bicicleta, ainda que pedalar não apresente grande expressividade nos deslocamentos diários na cidade, com 0,9% do total de deslocamentos, pode ser considerado o mais sustentável, eficiente e democrático para distâncias médias. Parte da justificativa para seu baixo uso na cidade é a falta de infraestrutura existente para garantir sua presença de forma segura, e as altas velocidades permitidas e praticadas nas ruas por veículos motorizados. Nos 17.000 km de vias da cidade, há apenas cerca de 468 km de ciclovias, ou seja, cerca de 2,7% das vias; e 628 km de corredores ou faixas exclusivas de ônibus, o que representa apenas 3,7% das vias42.

41 DUIM, Etienne; LEBRÃO, Maria Lucia; ANTUNES, José Leopoldo Ferreira. Walking speed of older people and pedestrian crossing time. Journal of Transport & Health, São Paulo, SP, v. 5, p. 70-76, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3mrG5Zf. Acesso em: 18 nov. de 2020.

O investimento em infraestruturas cicloviárias e de deslocamento a pé levam a menores gastos com saúde e economia de tempo de vida das pessoas que vivem na cidade. Bairros com boas estruturas para caminhar e pedalar agregam valor à economia, uma vez que pedestres, ciclistas e usuários de transporte coletivo normalmente gastam mais em estabelecimentos comerciais locais do que pessoas que dirigem carros43.

42 Restrições da pandemia aceleram transformações na mobilidade urbana. Disponível em: https://www.cartacapital.com. br/blogs/sampape/restricoes-da-pandemiaaceleram-transformacoes-na-mobilidadeurbana/. Acessp em: 12 de nov. de 2020. 43 NACTO. Guia Global de Desenho das Ruas. Edição Padrão. São Paulo: Senac, 2018. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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CRUZAMENTO DOS RESULTADOS DAS PESQUISAS | QUALIDADE DO AR REDE NOSSA SÃO PAULO

52%

PERCEBEM O AR MAIS LIMPO DURANTE A PANDEMIA

Ao avaliarmos o impacto no ambiente e na paisagem, a diminuição dos deslocamentos provocados pela pandemia evidenciou os excessos de deslocamentos entre casa e trabalho, em grande parte longos e com concentração de horário que acontecem na cidade. O resultado percebido foi a atenuação dos congestionamentos nas vias e por consequência a diminuição das emissões de gases poluentes e da poluição sonora. A experiência ilustrou como seria o cenário da cidade caso houvesse de fato um modelo urbano que promovesse menor necessidade de longos deslocamentos, e alguns de seus impactos. Dados da Cetesb no final do mês de março de 2020, quando o índice de isolamento social era de 56%, de acordo com o Governo do Estado de São Paulo44, revelaram que as taxas de poluição atmosférica haviam reduzido cerca de 50% desde o início da quarentena. Além da diminuição significativa dos poluentes primários, ligados diretamente à emissão veicular, também houve diminuição de cerca de 30% do material particulado inalável.

NOSSA PESQUISA

87,6%

REFLETEM QUE A CIDADE SERIA MENOS POLÚIDA SE HOUVESSE MENOS CIRCULAÇÃO DE CARROS

São Paulo, foi constatado por um levantamento da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica45 que na região central da cidade o nível sonoro reduziu em até 10 decibéis, ou seja, a sensação sonora percebida foi diminuída pela metade em relação a medições anteriores. Porém, deve-se ter em conta que essa diminuição traduz tanto uma presença menor de veículos, que seria um aspecto positivo para a qualidade de vida das pessoas, quanto um número menor de pessoas nas ruas, o que seria algo negativo pensando na vitalidade das ruas. De acordo com nossa pesquisa, 87,6% das pessoas respondentes refletiram que a cidade seria menos poluída caso houvesse menos circulação de carros e pesquisa da “Rede Nossa São Paulo46” mostra que 52% dos entrevistados perceberam o ar mais

Com relação a poluição sonora em

45 Levantamento da ProAcústica. Disponível em: http://www.proacustica.org.br/noticias/ proacustica-releases-sobre-as-acoes-daassociacao/levantamento-da-proacusticademonstra-que-na-pandemia-a-poluicaosonora-reduziu-em-sp.html. Acesso em: 05 de dez. de 2020.

44 Coronavírus: taxa de isolamento social em SP cai para 53%. Disponível em: https:// g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/05/03/ coronavirus-taxa-de-isolamento-social-emsp-cai-para-53percent-no-sabado.ghtml. Acesso em: 05 de dez. de 2020.

46 Pesquisa “Viver em São Paulo: especial pandemia - parte 1”. Disponível em: https:// www.nossasaopaulo.org.br/wp-content/ uploads/2020/05/ViverEmSP-EspecialPandemia2020-apresentacao.pdf. Acesso em: 30 de nov. de 2020.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS


limpo durante a pandemia. Apesar de esses dados não serem consequências de estratégias urbanas focadas na diminuição dos deslocamentos, mas sim de um isolamento social que visa conter a disseminação da COVID-19, eles reafirmam os benefícios ambientais que a diminuição dos longos deslocamentos pode trazer para a cidade. A falta de circulação de tantos veículos também evidenciou que há espaço público em excesso destinado para a circulação de veículos e escassez de espaços públicos para se deslocar de forma ativa, para permanecer e conviver na cidade e para ter contato com a natureza. O espaço público destinado aos veículos na cidade é estimado em cerca de 80%47. Além de ser uma distribuição desigual e antidemocrática, considerando o número superior de viagens a pé do que de veículos motorizados, ruas largas

e de grande porte custam mais para serem construídas e mantidas, devido aos gastos com infraestrutura pesada, do que ruas mais estreitas e ruas verdes. A cidade de Portland, por exemplo, para economizar USD 250 milhões de dólares com infraestrutura pesada, investiu US$ 8 milhões em infraestrutura verde48. E ao contrário do senso comum, iniciativas de pedestrianização de ruas e diminuição de espaços para carros tendem a diminuir o congestionamento. Estudo feito pela University College London mostrou que estratégias para redução do uso do carro em Londres, com foco em 62 trechos reduziu em 22% o tráfego no entorno49. Durante a pandemia, o transporte público passou a ser a forma de deslocamento menos desejada pela maior parte das pessoas, mas ainda a

48 NACTO. Guia Global de Desenho das Ruas. Edição Padrão. São Paulo: Senac, 2018. 47 Você aí, a pé, está sendo multado! Disponível em: https://www.cartacapital.com. br/blogs/sampape/voce-ai-a-pe-esta-sendomultado/. Acesso em: 30 de nov. de 2020.

49 Há espaço para mais carros? Disponível em: http://www.mobilize.org.br/noticias/9624/ ha-espaco-para-mais-carros.html. Acesso em: 30 de nov. de 2020.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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única alternativa para muita gente. Em nossa pesquisa, apenas 29% afirmaram que irão utilizar o transporte público quando não houver restrição de circulação, ainda com risco de contágio da COVID-19. E quando não houver mais risco, 46,1% das pessoas respondentes afirmaram que irão evitar o transporte público e passarão a se deslocar a pé ou de bicicleta e 19,4% migraram do transporte público para o transporte individual motorizado (carro ou moto). Apesar desses dados, o transporte público ainda representa a única alternativa para grande parte da população e, ainda que tenha ocorrido uma grande queda em relação ao número de usuários (10 milhões antes da pandemia e 3 milhões no mês de junho de 202050), a população que depende desse meio de transporte é muito significativa. De acordo com um estudo do Labcidade51 sair para trabalhar e realizar percursos longos de transporte coletivo correlaciona-se com óbitos pelo novo coronavírus, e não a densidade dos bairros. A decadência do transporte público tem sido tema de reflexão e discussão. Por um lado, muitas cidades se desenvolveram com base na ideia que transporte público era a solução sustentável para o desenvolvimento, negligenciando outros aspectos de planejamento urbano que, inclusive, evitam o espraiamento urbano e as

50 Um milhão de pessoas voltam a usar transporte público em SP. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-06-05/ummilhao-de-pessoas-voltam-a-usar-transportepublico-em-sp-e-inseguranca-toma-contade-passageiros.html. Acesso em: 29 de nov. de 2020.

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desigualdades territoriais, focando no transporte de massa limpo como metrôs para longas distâncias ou os BRTs. Entretanto, esse modelo gerou transportes públicos lotados, insuficientes e ineficientes, e a pandemia evidenciou a falta de resiliência deste modelo. Outra realidade no contexto da pandemia é o aumento de entregas a domicílio realizadas por motocicletas e bicicletas. O gasto com delivery de comida aumentou 94% no período de abril, maio e junho de 2020 no Brasil52. Segundo levantamento da RankMyAPP53, empresa de marketing de aplicativos para celular, o número de aplicativos de entregas a domicílio baixados durante a pandemia aumentou 54% e dados da empresa Verizon Media54 informaram que 42% dos consumidores devem passar a comprar mais online após a pandemia, não apenas refeições ou alimentos, mas produtos em geral. Entretanto, esse aumento de veículos de duas rodas em uma cidade despreparada e com práticas de velocidade altas refletem em maior

52 Circulação para trabalho explica concentração de casos de COVID-19. Disponível em: http://www.labcidade.fau.usp.br/circulacaopara-trabalho-inclusive-servicos-essenciaisexplica-concentracao-de-casos-de-covid-19/. Acesso em: 07 de nov. de 2020. 53 Gastos com delivery crescem mais de 94% na pandemia. Disponível em: https:// www.consumidormoderno.com.br/2020/07/08/ gastos-com-delivery-crescem-mais-de-94durante-a-pandemia/. Acesso em: 27 de nov. de 2020. 54 O Brasil não parou. Está andando sobre duas rodas. Disponível em: https://mobilidade. estadao.com.br/mobilidade-para-que/o-brasilnao-parou-esta-andando-sobre-duas-rodas/. Acesso em: 05 de dez. de 2020.


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número de lesões e fatalidades nos deslocamentos. Segundo dados do Infosiga55, houve queda de 41% nas ocorrências de trânsito no estado de São Paulo entre 24 de março e 30 de abril de 2020, o que indica mais ocorrências proporcionais, uma vez que o isolamento estava em cerca de 50%. Mesmo assim, as ocorrências e fatalidades envolvendo ciclistas e motociclistas aumentaram, o número de motociclistas mortos se deslocando aumentou em 50% em março e abril de 202056, comparado ao mesmo período do ano anterior. O que evidencia o modelo agressivo da cidade, e a falta de flexibilidade e capacidade de criação de políticas públicas para acolher com segurança as dinâmicas urbanas pelo isolamento da pandemia. Dessa forma, a diversidade de serviços, comércio e equipamentos nos bairros, que levam à maior acesso, passou a ser uma característica ainda mais importante com a situação da pandemia, de forma a evitar deslocamentos longos e precários e

55 O Brasil não parou. Está andando sobre duas rodas. Disponível em: https://mobilidade. estadao.com.br/mobilidade-para-que/o-brasilnao-parou-esta-andando-sobre-duas-rodas/. Acesso em: 05 de dez. de 2020. 56 Infosiga. Disponível em: http://www. infosiga.sp.gov.br/. Acesso em: 28 de nov. de 2020.

oferecer melhor qualidade de vida. Bairros compactos, fazem com que as pessoas tenham menos veículos privados, alterando também as áreas privadas, uma vez que 25% de toda a área construída da cidade de São Paulo é usada para garagens57. A qualidade da infraestrutura e condições de caminhar para acessar os locais com produtos e serviços básicos, também coloca as calçadas, travessias e mobiliários de apoio ao caminhar em evidência. Nesse sentido, vale ressaltar que deslocamentos praticados em maior parte por mulheres, por cumprirem papel de gênero vinculado a atividades de cuidado, passou a ser praticado por mais pessoas e chamou mais atenção sobre a precariedade das condições das estruturas, de forma a exigirem mudanças no paradigma da mobilidade. Entendendo que essas mudanças levam anos, é importante que ações rápidas para melhores condições de caminhar, ampliar o uso da bicicleta na cidade e reinventar o transporte público com novos focos de deslocamento com qualidade sejam feitas como parte de uma fase inicial, visando cidades mais compactas para toda cidadania.

57 SP: 1/4 da área construída é dos carros. Disponível em: https://sao-paulo.estadao.com. br/noticias/geral,sp-14-da-area-construida-edos-carros-imp-,851132. Acesso em: 28 de nov. de 2020. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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SÃO PAULO - Ruas para Mobilidade Ativa na Pandemia, intervenção na Ladeira Porto Geral; Mobilização

realizada por organizações da sociedade civil, encabeçada pelo SampaPé! pressionou a prefeitura de São Paulo a fazer ações e plano emergencial na pandemia para a mobilidade ativa. Isso resultou em uma primeira ação de urbanismo tático de extensão de calçada na Ladeira Porto Geral, possível por meio da parceria entre atores diversos e com arte.

Veja em: https://sampape.medium.com/ruas-para-mobilidade-ativa-na-pandemia-urbanismot%C3%A1tico-para-ampliar-a-%C3%A1rea-de-caminhada-na-6dadddebaed4

MUNDO - Ciclovias temporárias Bogotá: A cidade de Bogotá possui uma longa tradição de estímulo à

bicicleta e, antes da quarentena, contava com mais de 550km de infraestrutura cicloviária. Nos

primeiros dias de distanciamento social, a cidade implantou ciclovias temporárias em uma resposta rápida ao cenário da pandemia. Em julho de 2020 já eram 96km de ciclovias temporárias

implementadas na cidade, sendo que 34km se tornaram permanentes. A ideia é que até o final de 2020, 66km sejam convertidos em infraestrutura permanente. O restante deverá ser concluído em 2021.

- Planejamento em Londres: A capital britânica anunciou em maio de 2020 a realização de ampliação de calçadas e ciclovias temporárias para evitar a superlotação do transporte público durante a pandemia, permitindo que o distanciamento social fosse respeitado de maneira sustentável.

- Fundo Nova Zelândia: Na Nova Zelândia, o conceito de cidade ativa foi impulsionado durante

pandemia por meio de financiamento. Foi criado o fundo “Inovando as Ruas para as pessoas”

(Innovating Streets for People), em que foram destinados 7 milhões de dólares neozelandeses

para a realização de projetos de urbanismo tático nas ruas que incentivam e favorecem os modos ativos de deslocamento.

Ruas para Mobilidade Ativa na Pandemia, intervenção na Ladeira Porto Geral. Fonte: Menino do Drone

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CONSIDERAÇÕES FINAIS


Ciclovias temporárias Bogotá. Fonte:https://wribrasil.org.br/pt/blog/2020/07/covid-19-faz-cidades-do-brasil-e-da-america-latinainvestirem-em-ciclovias-temporarias CONSIDERAÇÕES FINAIS

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