revistamicael | são joão 2011

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EDITORIAL

Editorial

Tempo de introspecção

A Época de São João, que no hemisfério sul coincide com o inverno, é o período propício à interiorização, ao recolhimento e à reflexão. Tratase de uma boa oportunidade para olharmos para dentro e tentarmos reencontrar toda a riqueza espiritual que habita em cada um de nós e que trouxemos para a Terra quando nascemos. Essa riqueza, tão presente e natural nas crianças, não se perde quando nos tornamos adultos. Ela está lá, apenas aguardando para ser resgatada e dar um sentido verdadeiro às nossas vidas. No entanto, isso não acontece num passe de mágica. Enquanto mantivermos nossa existência inteiramente ocupada com questões materiais, apenas plainando na superfície dos fatos, sem nos permitirmos um mergulho em nosso Eu mais profundo, o acesso fica difícil, como uma estrada cheia de troncos atravessados na pista. Vivemos neste fim de semestre uma experiência dura para toda a comunidade, mas que pode levar a uma reflexão profunda sobre o verdadeiro sentido de nossa existência: a partida da querida aluna Yasmin Lebensztajn Chaves para as esferas celestiais, uma abelhinha que espalha doçura e preenche a vida de todos com amor, como bem descreveu sua professora no verso entregue a ela no início do ano. Apesar da saudade, temos que procurar seguir o comovente conselho da mãe dessa abelhinha tão especial e encarar sua partida como uma oportunidade para buscarmos aquilo que é Essencial em nossas vidas. É com a essência das flores que se faz o mel... Bom mergulho e boa leitura. Os editores


ÍNDICE 02

Editorial Tempo de introspecção

16

Coragem. Leveza. Amor A homenagem ao senhor Blaich

04

Época de São João Uma advertência à nossa consciência

18

Vivendo e Aprendendo O 5º ano e o papel de papiro

06

Festa da Lanterna A busca individual pela Luz

20

Teatro do 12º ano Um espaço para se reiventar

08

Cultura de Paz Um projeto que envolve todos nós

22

Notas WOW - Day e outras notícias

10

Entrevista Direto da horta

23

Carrosel do Destino Nada acontece por acaso

12

Encontro de Pais Um encontro inesquecível

EXPEDIENTE

Coordenação editorial: Comissão de Comunicação do Colégio Micael Edição: Sílaba Comunicação e Marketing Projeto gráfico: Estúdio Maya Jornalista responsável: Rose de Almeida – MTB 21.807 Imagem da capa: arte em lã cardada de Nadja Montenegro Ricci. Reprodução de convite da Associação Beneficente Parsifal Colaboradores: Rogério Abbamonte, Tiago Ferraz Muniz, Andréa Campos, Katia Gardin e Flávia Altenfelder (fotos), Tatiana Pacini (design), Katia Geiling , professora Gláucia Santos, professora Claudia Johnsen, alunos Bruna Ximenes e Fernando Altenfelder Santos (textos) e professor Marquilandes Borges de Souza (coordenação junto ao corpo docente) Mande sugestões, comentários e críticas para: comunicacao@micael.com.br

A revista Micael é uma publicação trimestral do Colégio Waldorf Micael de São Paulo. Rua Pedro Alexandrino Soares, 68, Jardim Boa Vista, (11) 3782-4892. www.micael.com.br


ÉPOCA DE SÃO JOÃO

João

Uma advertência à nossa consciência

Precisamente meio ano antes do evento do Natal, nasce num certo país uma criança cujos pais já eram muito velhos. Conta-se que os clarividentes da época, pouco tempo após esse nascimento, observaram que se tratava de uma criança muito especial e que, como que por hereditariedade, trazia consigo toda a experiência de seus velhos pais. Por ser sacerdote, seu pai dava-lhe uma educação muito rígida e cheia de sabedoria, o que se fazia refletir em sua própria maneira de agir: conta-se que, entre muitas outras coisas, era um ser pensativo, melancólico, que brincava pouco e que tinha uma inteligência bem acima de sua idade – aos 10 anos, já participava das discussões e debates dos sacerdotes. Esta criança se chamava João e nasceu no dia 24 de junho. Em 24 de dezembro daquele mesmo ano, nasce uma outra criança cujos pais eram muito simples (seu pai era marceneiro). Conta-se que, ao contrário da primeira, essa criança teve uma educação muito simples e

que era muito criativa e gostava muito de brincar. Sua educação nada tinha do conteúdo iniciático dos sacerdotes. Essas duas crianças, durante a sua infância, mantiveram muito contato entre si. Cresceram juntas e uma delas seguiu a profissão do pai, mas logo se revelou a vontade de ajudar o próximo, de entendê-lo, despertar-lhe a criatividade e de querer transformar o mundo. A outra consolida cada vez mais suas características da infância e, ao tornarse adulta, afasta-se da sociedade para pensar e meditar. Retirando-se para o deserto, concentra-se em si mesma com o objetivo de entender em que ponto chegou a humanidade no seu caminho evolutivo. Percebe então que, na sua caminhada, a humanidade alcança um “beco sem saída”. Na sua meditação, adquire a profunda consciência do mundo de sua época. Ele não procurava as pessoas, elas é que vinham a ele para serem batizadas e dele receberem ensinamentos. Orientava as pessoas para que mudassem o sentido de suas vidas, já


A fogueira que acendemos em São João simboliza o despertar da consciência da humanidade

que a “velha” maneira de viver e de pensar não mais levaria a humanidade ao futuro. Sua consciência em compreender o passado era também capaz de olhar o futuro e de perceber no seu companheiro de infância não só um homem com consciência, mas também com uma criativa força de transformação. Assim João, conscientemente, une no batismo no Rio Jordão o velho ao novo mundo. Pouco tempo depois, vai para o sacrifício do monte, onde é condenado e decapitado por Herodes. Assim como o 24 de dezembro e o 24 de junho se encontram em polaridade no transcorrer do ano, estas duas criaturas – Jesus e João

– encontram-se em polaridade na história da humanidade. Um reúne em si a força criativa da luz do sol; o outro tem, através da consciência, a força reflexiva da lua. O homem moderno inicia o ano em 24 de dezembro e, no decorrer dele, passando pela Páscoa e Pentecostes, chega a 24 de junho – aniversário de João Batista. É levado a compreender nessa polaridade com o Natal, com toda a sua consciência, o acontecimento de Cristo. Como sinal do despertar dessa consciência, pode entender o acender de fogueiras na escuridão da noite do aniversário de João Batista. Texto de Evelyn Scheven extraído do livro Festejar São João, do Instituto Mainnumby Revista Micael . 5


ÉPOCA DE SÃO JOÃO

Festa da lanterna A busca individual pela Luz

Comemorada na Europa no dia 11 de novembro, dia de São Martinho, a Festa da Lanterna foi introduzida no Brasil por um dos professores fundadores da Escola Waldorf Rudolf Steiner, que sentiu ser adequada à nossa vivência de inverno. Ela simboliza a solidariedade e o espírito de partilha.


As crianças confeccionam as próprias lanternas, que carregam com toda atenção

Quando bem jovem, a serviço militar, Martinho encontra uma pessoa pobre em seu caminho de ronda. Procurando em seus bolsos algo para dar e não tendo nada encontrado, Martinho pega sua espada e corta seu manto ao meio, dando metade ao pobre homem. Naquela mesma noite sonhou com a imagem de Cristo, envolto em brilho celestial. Cristo contou ter sido por ele agasalhado naquele ato de bondade. A Festa da Lanterna nos prepara para a chegada do inverno, época em que observamos uma grande inspiração, concentração da natureza, com intensa vida interior. O clima frio e a noite que vem mais cedo favorecem uma atitude de recolhimento, de interiorização. Uma busca, talvez, por nossa própria Luz interior. Em classe, as crianças do Ensino Infantil vivenciam e participam, com alegria e entusiasmo, de toda a preparação: confeccionam as lanternas,

aprendem as músicas, escutam pequenas estórias relacionadas ao tema. No dia da Festa da Lanterna, são presenteadas com a peça “A Menina da Lanterna”, que mostra o caminho do homem em busca da Luz interior. Os personagens apresentam características do ser humano que necessitam ser dominadas e renovadas. O fogo, na luz presente em toda a estória, é símbolo do elemento que nos possibilita essa transformação, renovação e domínio. Imbuídos do exemplo da Vontade da menina da lanterna na busca pela Luz, nos fortalecemos para trilhar o caminho da autoeducação e da iluminação. Após a peça, ao anoitecer, as crianças fazem um passeio com suas próprias lanternas. Iluminam seu próprio caminho, com cuidado e atenção... Colaboração das professoras do Ensino Infantil Revista Micael . 7


POR DENTRO DA NOSSA ESCOLA

Movimento de Cultura de Paz Um projeto que envolve todos nós

SETEMBRO DE 2010 O tema bullying surgia com frequência nas dependências do colégio e fora delas também. Conversas informais entre pais, bate-papo entre e com professores, reuniões do Conselho de Pais... Muitas dúvidas sobre o que, afinal de contas, podia ou não ser classificado como bullying pairavam no ar. Pais e professores do Micael debruçaram-se sobre essa que é uma temática contemporânea e pauta frequente de nossos dias e trouxeram à escola, liderados pela professora Leni, a palestra da educadora e pesquisadora Cléo Fante. OUTUBRO DE 2010 As discussões e os anseios pós palestra permaneceram e culminaram com a formalização de um desejo: formatar um projeto cujo objetivo era o de ampliar a compreensão de todos nós sobre as questões relacionadas à cultura de paz. O enfoque do projeto: dissolver conflitos, praticar o diálogo, o perdão e a conciliação - valores e condutas evidenciados pela Antroposofia. O bullying é um tema bastante delicado, pois gera grande sensibilidade nas famílias de vítima e agressor. É preciso haver um trabalho bem cuidadoso, que facilite um fluxo de confiança entre pais e professores quando o problema surge. Nascia assim o Movimento de Cultura de Paz. Um projeto com começo, mas sem data para o seu final, cujo propósito não é apenas tratar questões relacionadas ao bullying, mas sim contribuir para que nós, pais e professores, possamos refletir e aprofundar nossos conhecimentos e práticas tanto sobre as temáticas relacionadas à Cultura de Paz, quanto sobre os valores e as práticas humanas essenciais da Antroposofia. A partir daí, o desejo do movimento ganhou seu escopo - criar e explicitar em conjunto - pais, professores e alunos - princípios,


diretrizes e práticas que valorizem a coexistência da diversidade de indivíduos, famílias e culturas, valorizando a capacidade humana de acolher outras visões de mundo. Tudo isso inserido na essência de nossa escola. JUNHO DE 2011 O Movimento começa hoje a dividir suas reflexões e proposições com professores e pais. O momento agora é de divulgar intenções, pontos de partida e princípios, além de seu histórico - como nasceu, em qual contexto e o caminho que pretende seguir. A ambição é criar um programa ancorado em dois pilares de desenvolvimento um pilar de Cultura e Prevenção, destinado ao fomento da cultura de paz, e outro pilar de Ação e Mediação, destinado à formação de diretrizes e práticas no caso de intercorrências escolares. Os trabalhos já ganharam forma e também algumas inicitaivas, como a dança circular da última Festa Semestral. Os integrantes se reúnem às sextasfeiras, das 7h30 às 9h, no caramanchão ou na cantina. Valores de nossa época, questões fundamentais que nos cercam, enquanto pais e cidadãos, são pautas dos encontros que, além de um inspirador caminho, contam com uma boa dose de pragmatismo quando é chegada a hora de formatar e propor trabalhos. Os integrantes acreditam que o sucesso do movimento está diretamente relacionado à sensibilização e conscientização das atitudes de cada um de nós, no nosso dia a dia. Tudo ainda é começo, mas de maneira responsável e colaborativa, como o nome sugere, este movimento não tem hora pra acabar. Por Renata Paioli, mãe do Jardim D e integrante do Movimento de Cultura de Paz do Micael

Revista Micael . 9


ENTREVISTA

Direto da horta

Robson Carvalho fala sobre seu trabalho como agricultor orgânico Por Claudia Johnsen

Como tive o impulso de organizar uma feira no Colégio Micael há alguns anos, com o intuito de fornecer com segurança e facilidade produtos orgânicos para nossas famílias, me sinto hoje na obrigação de esclarecer algumas questões relacionadas ao tema. Por isso essa proposta da entrevista com o Robson, que comercializa em nossa escola os produtos de sua horta orgânica. Afinal, o mais importante é sempre a transparência, o comprometimento e a confiança. Vale lembrar que em 2010 o governo criou o selo do SisOrg – Sistema Basileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica. Para receber essa certificação, cada produtor, como no caso do Robson, passa por uma série de avaliações técnicas e deve pagar uma taxa nada pequena. Segue a entrevista: Há quanto tempo sua terra vem sendo cultivada organicamente? Antes disso ela era contaminada? Comecei a produção em 2004. Antes disso a propriedade era um haras e a área produtiva atual era formada por pastagem. Claro que o solo, após análise, recebeu e ainda recebe uma adubação conforme suas deficiências. Não se recupera esse equilíbrio em poucos anos. É muito trabalho, muita dedicação. E a água utilizada na horta? O sítio possui duas nascentes, a água potável brota do solo e é analisada anualmente. Sua ótima composição a classifica como água mineral.


Muitas das vivências de plantio que as turmas realizam durante o ano acontecem numa área do sítio Baruc, de onde vêm os produtos orgânicos vendidos na escola

Os vizinhos produtores são também orgânicos? Em caso negativo, como você garante que sua horta não seja contaminada? A propriedade convencional mais próxima está a uma distância superior à determinada pela legislação vigente. Os pais depositam confiança na sua produção e venda. Como disse no começo do texto, transparência, confiança e comprometimento são a base de tudo. Você concorda com isso? Claro que sim. Os agricultores orgânicos permitem que o consumidor e os órgãos fiscalizadores visitem o local de produção e pagam anualmente uma taxa de R$ 2.200 à empresa certificadora. Ou seja, somos penalizados por praticar o bem. Gostaria de dizer algo mais aos pais da escola? A agricultura depende intimamente do funcionamento da natureza. Se isso foi bem entendido, o equilíbrio é mantido e a produção é farta. Uma horta reúne, num pequeno espaço, muitas plantas diferentes. Elas têm ciclos de vida diversificados, respondem de maneira diversa ao clima. Pedem nutrientes diferentes, atraem insetos, bactérias, fungos e vírus variados. Assim, formar uma horta é quase “reorganizar” a natureza, procurando garantir a melhor relação entre as plantas, os outros seres vivos e o meio ambiente. Sem respeito e amor à natureza, não espere fartura. Mas a natureza bem tratada dará colheitas boas, sem subsídios, sem financiamentos e sem ajuda do governo. A quem se ajuda, Deus ajuda!

Revista Micael . 11


VIDA EM COMUNIDADE

Encontro de Pais Waldorf Um fim de semana inesquecível

O Encontro de Pais Waldorf no Estado

nossa época, fomos alimentados pelas

de São Paulo, realizado no último fim de

palestras incríveis e iluminadoras de

semana de maio em nossa escola, foi um

Carlos Maranhão, diretor executivo da

momento único, que vai ficar guardado

Sociedade Antroposófica e professor da

na memória e no coração de todos nós.

Escola Waldorf São Paulo, Antonio Ponce,

Entre inscritos, comissão organizadora,

professor da Escola Waldorf Rudolf

palestrantes e facilitadores éramos 82

Steiner e coordenador do Seminário

almas, representando 15 escolas de São

de Formação de Professores Waldorf,

Paulo, Campinas, Santos, Piracicaba,

Ana Paula Cury, assessora da Sociedade

Bauru, Ribeirão Preto e Ribeirão Pires.

Antroposófica e médica antroposófica,

E embora o Encontro fosse de âmbito

e Josef Yaari, um dos fundadores do

estadual, uma mãe de Maraú, na Bahia,

Colégio Micael e terapeuta biográfico.

e duas de Brasília, no Distrito Federal,

Dançamos em volta do fogo, soltamos

entraram em contato com a organização

a voz num belo cânone, partilhamos o

solicitando a possibilidade de participação.

pão, o café, a pizza, a sopa. Ao final de

Foram acolhidas e enriqueceram ainda

tudo isso fizemos uma linda roda de

mais as nossas trocas.

Pentecostes e nos emocionamos com

Foram

três

Compartilhamos

dias

intensos.

uma singela poesia, lida em sinal de

ideias,

aflições,

agradecimento por uma mãe da Escola

experiências, discutimos os desafios de

Manacá, cujo final é assim:


(…) Somente um degrau por dia, Por dia um só passo certo E o ideal vem chegando Cada vez mais para perto! O que você mais temia Será afinal vencido! E o que você mais queria Será por fim conseguido!

Todos então puderam voltar para suas cidades, suas escolas e suas famílias preenchidos pelo sentimento quase indescritível de que uma conexão importante e transformadora acabara de nascer. Agora o nosso empenho deverá ser o de manter acesa a chama dessa conexão. Nós, da comissão organizadora, sabemos que o trabalho não acabou. Está apenas começando. Vamos reunir o conteúdo das palestras num documento que será compartilhado entre todas as escolas Waldorf do país. Estimularemos as trocas entre os participantes e estaremos o tempo todo ao lado do grupo que se encarregará de organizar o Encontro Nacional de 2012, em Ribeirão Preto. No segundo semestre organizaremos uma mesa-redonda no Colégio Micael para transmitir para toda a nossa comunidade a riqueza discutida em nosso Encontro de Pais. Fique de olho nos comunicados.

Uma escola de pais Quando matriculamos nossos filhos numa escola Waldorf, em pouco tempo nos damos conta de que esse espaço é, na verdade, uma escola para toda a família. Temos muitas oportunidades de aprender, de crescer e de saber mais sobre nós mesmos e sobre nossas crianças – basta que estejamos com os olhos e o coração abertos para aproveitar esses momentos. Durante o Encontro de Pais, ficou claro que, para podermos enfrentar os desafios do mundo atual, precisamos, antes de qualquer coisa, trilhar o caminho do autodesenvolvimento. Também chegamos à conclusão de que devemos nos apoiar mutuamente, trocar experiências, angústias, discutir as questões do dia a dia de maneira produtiva. Revista Micael . 13


VIDA EM COMUNIDADE

Uma Escola de Pais pode ser esse espaço de desenvolvimento pessoal e também de troca com os nossos pares. Trata-se de um projeto que já existe em outras escolas, como na Rudolf Steiner, e que pode ser trazido para o Colégio Micael. A forma de concretizar essa proposta dependerá de uma série de decisões que teremos que tomar internamente. Na Steiner, por exemplo, a Escola de Pais é um programa de educação continuada. Acontece ao longo de todo o ano, através de oficinas de duração variada oferecidas pelos professores (como oficinas de Jardinagem, de Arte da Fala, de Canto Coral, de Metal...). Os pais podem se inscrever nas atividades com as quais gostariam de ter contato, algumas vezes mediante o pagamento de uma pequena taxa por encontro. Além das atividades práticas, que permitem a vivência daquilo que os filhos realizam no dia a dia da pedagogia, faz parte do programa da Escola de Pais um grupo de estudos coordenado pela doutora Ana Paula Cury. O grupo, que se reúne semanalmente, discute ao longo de alguns encontros temas bastante prementes, como conflito entre irmãos, religiosidade, impacto da mídia na formação do ser humano... Estamos criando uma comissão no Colégio Micael para tratar da questão da criação de nossa Escola de Pais. Se você quiser se envolver nesse movimento, entre em contato com encontrodepais@micael.com.br ou participe das reuniões do Conselho de Pais.

A força da família micaélica Por Kalu Scrivano, mãe da Marília, do 2º ano, membro da comissão organizadora do Encontro de Pais

Tivemos muitos grandes encontros antes e durante o Encontro de Pais, trazido para nossa comunidade por iniciativa de Karina Braz, mãe da Mila, do 4º ano. Karina participou no ano passado da primeira edição do Encontro de Pais Waldorf, realizado na Escola Waldorf Rudolf Steiner, e saiu de lá com muitas ideias, uma semente de girassol e a proposta de organizar o segundo encontro, de âmbito estadual, no Micael. A semente foi plantada por ela em nossa escola e aos poucos mais famílias foram se engajando na comissão organizadora, que contou com apoio do grupo responsável pelo Encontro de 2010. Em algumas semanas já éramos então seis famílias micaélicas na organização! E aos pouquinhos esse número foi crescendo... mãos para ajudar na criação do logo e diagramar materiais, mãos para divulgar, mãos para orçar preços, mãos para sonhar, mãos para decorar os espaços, mãos para hospedar participantes, mãos para


produzir livretos, mãos para acolher com pizza, mãos para apoiar nos dias do evento... Com tantas mãos e corações envolvidos com entusiasmo e dedicação, o Encontro foi incrível. Os pais presentes (de todo o Estado e também da nossa escola) aproveitaram muito e foram só elogios por todos os cantos... O momento lhes permitiu aprofundar questões importantes e pensar em formas de superar os grandes desafios que enfrentamos em nosso cotidiano como pais. E também como replicar isso ao voltar pra nossas comunidades. A administração e os funcionários da escola nos deram um apoio fantástico, tudo funcionando, tudo fácil, tudo com um sorriso e muita disposição. Os professores nos ajudaram muito e deram força ao Encontro de Pais desde o início dos preparativos. Alguns mediaram os debates do evento com muita competência, trazendo à luz da Antroposofia nossas questões como pais. Toda nossa gratidão aos professores Gustav, Mauro e Helena, que fizeram essa mediação, e à professora Daniela, que conduziu um lindo cânone na tarde de sábado. Fico também muito feliz porque um dos nossos principais objetivos se concretizou plenamente: houve uma grande mobilização de nossa comunidade para acolher esse Encontro e suas propostas. Tínhamos oito famílias disponibilizando hospedagem, dez famílias na Equipe de Apoio, 11 famílias na Equipe da Noite da Pizza, seis famílias na organização e duas famílias que apoiaram o Encontro sem estarem presentes. Éramos, portanto, 37 famílias da escola recebendo os 82 participantes desse momento tão especial. Isso tornou nossos dias muito mais acolhedores, tranquilos e felizes. Saímos com a sensação de que a família micaélica está mais forte e unida... Que bom para todos nós, não? Agora é o momento de celebrar e ressoar tudo o que foi dito, pensado e sentido em nosso Encontro. Novas sementes de girassóis foram lançadas... Vamos ajudar a disseminá-las?

Havia 37 famílias apoiando com todo carinho a comissão organizadora em atividades como o preparo da pizza da noite de sábado Revista Micael . 15


MEMÓRIA

Coragem. Leveza. Amor

Nossas crianças aprenderam de um modo muito especial o significado dessas palavras durante homenagem ao senhor Blaich

Toda quarta-feira as crianças do 1º ao 4º ano vão juntas para o Salão de Euritmia falar o verso da manhã e compartilhar vivências que estejam aprendendo em sala. Numa manhã do final de abril, esse encontro no salão foi especial. Tão especial que os colegas do 5º ao 8º, que normalmente se reúnem às quintas, Blaich enviava muitas pedras que encontrava durante seus estudos para a Alemanha. O dinheiro das vendas delas ajudou o Micael

também se juntaram ao grupo. As oito salas estavam ali porque os professores queriam contar aos alunos a história de um homem. Um grande homem, em estatura e em amor: Erich Otto Blaich, que falecera alguns dias antes. O senhor Blaich, como era chamado por todos, foi um grande artista, professor de artes na Escola Waldorf Rudolf Steiner, estudioso de mineralogia e mestre de muitos professores do Micael. A professora Cristina, do 7º ano, conviveu muito com ele, principalmente no início de sua jornada profissional.

Emocionada, ela contou para as cerca de 200 crianças que estavam ali no salão, em silêncio, que aprendeu com o senhor Blaich a encarar a vida com coragem e leveza.


Com coragem e leveza aquele homem, muito antes de se tornar professor, enfrentou os horrores da Segunda Guerra Mundial. Foi telegrafista do exército alemão e sua maior alegria, costumava dizer, era nunca ter precisado matar ninguém. Sem jamais abandonar seu estojo de aquarela, viu o terror de perto e viveu a dor de não se despedir do pai, que morrera enquanto estava em combate. Depois de viver duros anos do pós-guerra alemão, Blaich, então ourives, emigrou para o Brasil em 1952 em busca de oportunidades. Arrumou emprego numa fábrica de relógios em São Paulo e matriculou seus filhos na escola Waldorf que nascia em Higienópolis, o embrião da Escola Rudolf Steiner. Encantado com a riqueza da pedagogia, foi se interessando cada vez mais por ela. Certo dia, recebeu um convite para ser professor de Trabalhos Manuais, Artes Plásticas, Desenho e Pintura. Blaich então assumiu uma missão que executava em silêncio: ajudar tantas escolas Waldorf quanto fosse possível. Em suas andanças país afora, colhia pedras preciosas e semi-preciosas e as mandava para a Alemanha, onde eram vendidas. Foi com o dinheiro dessas vendas que o empréstimo feito pelos fundadores do Colégio Micael para a construção do prédio do Fundamental pôde ser liquidado. “Estávamos preocupadíssimos, não sabíamos como quitar aquela dívida enorme, e de repente recebemos um carta da Alemanha contando que ela já estava paga”, contou o professor Luciano para as crianças ali no salão. “O Blaich nunca havia falado nada sobre isso. Ele era um professor da Rudolf Steiner e podia simplesmente ter feito o seu trabalho, sem se envolver com os nossos problemas”, lembrou Luciano diante daquelas crianças reunidas sob o teto que o protagonista daquela história ajudara a erguer. Por que fez tudo isso? Blaich tinha um profundo amor por todos os seres e acreditava que através das escolas esse amor podia ser propagado pelo mundo. Foi com essa mensagem que as crianças deixaram o salão naquela manhã, garantindo a perpetuação dessa história, a nossa história, por mais uma geração. Por Katia Geiling, mãe do Jardim D e do 7º ano que teve a honra de assistir à homenagem ao senhor Blaich. As fotos que ilustram esse texto são reproduções do maravilhoso livro Erich Otto Blaich, biografia organizada por Júlia Andrade (editora Person)

Revista Micael . 17


REGISTROS MICAÉLICOS

Vivendo e aprendendo! O 5º ano vivencia a experiência de fabricar papel de papiro com as próprias mãos

Ser professor em tempos modernos não é fácil. São inúmeras as vezes em que, ao propormos um tema para ser trabalhado nas aulas, os alunos nos surpreendem com informações trazidas das mais diversas fontes a que têm acesso. Então descobrimos que informar, sem dúvida, não é nossa principal tarefa. Tanta informação precisa transformar-se em conhecimento significativo e duradouro. E, como os sábios já diziam, é através das vivências que nos apropriamos do conhecimento.

Quando o Egito surgiu como tema

curricular para o 5º ano, neste semestre, o desafio foi o mesmo: trazer algo além das informações. Para isso os alunos tiveram a oportunidade de vivenciar o processo completo da produção de um papiro (experiência já vivenciada por outras classes em anos anteriores). Mãos à obra! De posse dos instrumentos adequados (facas, canivetes, rolos de madeira e tabuinhas de apoio) descascaram, fatiaram, Reprodução do caderno da Mirella. Abaixo, desenho de um papiral da aluna Luiza Berbel


A primeira etapa do trabalho é descascar o papiro. Depois de fatiá-lo, amassá-lo e deixá-lo de molho por duas semanas, é hora da parte mais divertida: montar o papel (foto à direita)

amassaram e aprenderam a diferenciar as fibras de qualidade, que ficaram de molho em água com vinagre. Depois a paciência de esperar cerca de duas semanas para que o papiro estivesse no ponto, devidamente fermentado. E isso tudo era só o começo (experiência rara numa época em que tudo é “fast”, até a comida!). Finalmente “a parte mais divertida” (segundo o relato de um dos alunos): montar o papel, sobrepondo cada fatia de papiro, com muita calma e delicadeza (para garantir a qualidade). E assim o papel egípcio foi se formando. Pronto? Ainda não. Mais algumas semanas na prensa até o papel secar. Quase 30 crianças nessa superprodução, com facas e canivetes, fazendo papiros pela primeira vez, e a professora sozinha? Não, é claro! Pude contar com a experiência do professor Daniel, do 6º ano. Um conhecimento que, à moda antiga, vai passando de “geração em geração”. Mais o apoio da professora Maria, de Artes Aplicadas e Desenho. Foram semanas trabalhando e vivenciando essa arte milenar. Sem dúvida será um aprendizado para a vida toda. Se você ficou curioso para saber o final desta história, não deixe de visitar a sala do 5º ano na Exposição Pedagógica deste ano. Até lá! Professora Gláucia Santos, 5º ano

Revista Micael . 19


REGISTROS MICAÉLICOS

Um espaço para se reiventar Relato sobre o processo de construção da peça do 12º ano de 2011

“A expectativa era grande. Procurávamos uma peça que passasse uma mensagem condizente aos nossos ideais como classe. Mas como resumir todas as características de um grupo tão cheio de vida e de ideologias em um só texto? A escolha de a A Visita da Velha Senhora foi um pouco polêmica e, mesmo depois da definição, ainda havia algumas resistências. Porém, conforme fomos nos apropriando da peça, ela foi se encaixando cada vez mais a nós e nós, a ela. O processo todo foi difícil. Como indivíduos entre 16 e 18 anos, tendo que tomar para si grandes responsabilidades – desde ir na 25 de Março comprar adereços até providenciar os lanches e jantares – por vezes vacilávamos, deixando as coisas para a última hora. Já sabíamos, mas não tínhamos colocado em prática a ideia de que o teatro do 12º ano é totalmente diferente da proposta do 8º ano, quando as mães tomam esse papel para si. As duas últimas semanas fizeram as coisas acontecerem de fato: o papel não decorado resolveu falar; o figurino que faltava foi vestido; as luzes no palco, acesas; a atenção do grupo todo para o projeto finalmente ali presente (fosse ela por um interesse individual que refletia no grupo ou somente pelo grupo).

No palco, a peça aconteceu de um jeito simples e forte, comovendo o público


Os alunos se fizeram lindamente presentes nesse “intensivão de autoconhecimento”

As coisas foram acontecendo e, quando percebemos, já estávamos em cima do palco atuando, nos fazendo presentes. Lá todos se saíram incrivelmente bem, e fizemos essa peça acontecer de um jeito particular, simples e forte. A plateia dizia não perceber os erros com os quais ficávamos preocupados. Os cinco dias de plateia cheia passaram extremamente rápidos, e só percebemos que realmente tinha acabado na segunda, dia que definimos como DPT (Depressão PósTeatro), sobre o qual os relatos eram os mesmos: ‘fiquei na cama olhando para o teto’. Agora a rotina está de volta, mas as falas da peça continuam presentes em nosso diadia. Tudo é motivo para encaixá-las e usá-las. O teatro é um “intensivão” de autoconhecimento e de conhecer o grupo. Ele reflete diferentemente em cada um de nós, de acordo com as nossas carências ou necessidades. No grupo, porém, é um só. Individualmente, é um espaço para você se reinventar seja essa nova invenção aplicada somente à personagem ou também a você -, é um espaço para você gritar, para colocar suas habilidades em prática, para você se explorar, explorar seus próprios limites. E essa procura de cada um gera uma exploração de limites do próprio grupo. E assim nos fortificamos como classe, no nosso último ano na escola. Não digo que essa fortificação seja resultado de momentos apenas felizes, coisas boas, mas também de muitos desentendimentos e brigas gerados por uma convivência excessiva. Isso é natural e nos faz conhecer mais a fundo o grupo como identidade e entendê-lo.” Por Bruna Ximenes e Fernando Altenfelder Santos, alunos do 12º ano do Colégio Micael. Fotos de Flávia Altenfelder, ex-aluna do Micael Revista Micael . 21


NOTAS

Reconhecimento Logo após a Páscoa, a Comissão de Bazar fez uma surpresa para os funcionários da escola: um café da tarde especial, preparado com todo carinho, como forma de agradecimento à valiosa ajuda que esses incansáveis guerreiros oferecem durante os preparativos do Bazar e de todo e qualquer evento que acontece no Micael. O difícil foi manter segredo até a farta mesa ser servida. Mas, com a cumplicidade da Roseli, que no meio da tarde convocou a todos para uma “reunião” inesperada, as mães da Comissão de Bazar conseguiram surpreender. “Foi muito bom sentir esse reconhecimento”,

revela

Conceição.

Todos também ganharam caixas de bombons, doadas por um pai da escola.

Waldorf One World Day

O brincar levado a sério Para comemorar a Semana Mundial do Brincar, a

ACOMI (Associação

Comunitária Micael) fez uma parceria com a Aliança pela Infância e promoveu um dia especial de brincadeiras para as crianças que atende. Um grupo de 20 alunos do Ensino Médio do Micael ajudaram na divertida tarefa, realizada na praça que fica em frente à sede da associação. As cerca de 65 crianças brincaram de túnel de pano, pula-saco, amarelinha, corda, pião e, claro, se esbaldaram nos brinquedos da própria praça, que no ano passado foi revitalizada

Em setembro o Colégio Micael fará

durante o Encontro Ativo, promovido

parte de um movimento mundial: o

pela Seção de Jovens da Sociedade

Waldorf One World Day. Escolas de todo

Antroposófica, sediado em nossa escola e

o mundo unirão forças e promoverão

que envolveu vários de nossos alunos.

ações que vão gerar renda para apoiar iniciativas pedagógicas Waldorf e sociais

A Creche Nova Esperança, mantida

ao redor do mundo. O Ensino Médio

pelo Colégio Micael, agora funciona em

do Colégio Micael está planejando o

dois turnos, atendendo 30 crianças. Em

que será colocado em prática na nossa

2011 estão sendo implementados alguns

escola, que participa pela primeira vez.

projetos sociais. O primeiro já está

No ano passado, o WOW-Day envolveu

funcionando: toda terça um grupo de

150 escolas, arrecadou 290 mil euros,

jovens da comunidade recebe aulas de

destinados a 40 instituições em 20 países.

inglês na creche. Se ainda não conhece

Para saber mais, acesse www.freunde-

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REGISTRO

Carrossel do Destino

Antonio Nóbrega

Composição: Antonio Nóbrega e Bráulio Tavares

Deixo os versos que escrevi, As cantigas que cantei, Cinco ou seis coisas que eu sei E um milhão que eu esqueci. Deixo este mundo daqui, Selva com lei de cassino; Vou renascer num menino, Num país além do mar... Licença, que eu vou rodar No carrossel do destino. Enquanto eu puder viver Tudo o que o coração sente, O tempo estará presente Passando sem resistir. Na hora que eu for partir Para as nuvens do divino,

A música tocada durante a cerimônia da fogueira do 8º ano de nossa Festa de São João diz muito sobre tudo o que nossa comunidade viveu nas últimas semanas do semestre. E a canção já havia sido escolhida há muito tempo. Nada acontece por acaso: esse verso merece mesmo ficar. Que possamos levar essa bela mensagem para as férias e refletir…

Que a viola seja o sino Tocando pra me guiar... Licença,que eu vou rodar No carrossel do destino. Romances e epopéias Me pedindo pra brotar E eu tangendo devagar A boiada das idéias. Sempre em busca das colméias Onde brota o mel mais fino, E um só verso, pequenino, Mas que mereça ficar... Licença,que eu vou rodar Revista Micael . 23



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