Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa Mestrado em Design de Comunicação e Novos Media 1º Ano | 2011 - 2012
MUNDANEUM PARTE II
Miguel Martins
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HISTÓRIA
Era uma manhã como todas as outras na vida de Martha Roberts. Acabara de chegar ao seu gabinete, na escola onde trabalha como psicóloga, quando uma das directoras de turma foi ao seu encontro para falar sobre dois dos seus alunos. Roberts é psicóloga há muitos anos e pretende lançar um livro sobre o comportamento das crianças. Roberts, ao ouvir o relato da professora, concluiu rapidamente que se tratava de uma situação de bullying, e como fizera anteriormente, na resolução de casos semelhantes, pediu para que a professora contactasse a família de ambos e os convocasse para uma reunião. Várias foram as tentativas, por parte da professora, de reunir ambas as famílias. A família Brown (família do agressor), prontificou-se a comparecer na reunião, enquanto a família Lee alegava sempre que não poderia aparecer na reunião, pois não tinha tempo. Desta forma, a primeira reunião aconteceu apenas com Jennifer Brown e Martha Roberts. Jennifer é uma dona de casa por opção e orgulha-se em afirmar que desistiu da sua carreira para acompanhar a educação dos seus filhos. O seu método de educação passa por controlar os filhos ao máximo, de forma a que o seu desenvolvimento seja o melhor possível. É contra os jogos e qualquer tipo de tecnologia, pois a seu ver, corrompem as crianças. Uma vez que as famílias eram vizinhas, a Sra. Brown estava a par do que acontecia em casa da Sra. Lee. Brown sabia que Lee
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não passava tempo em casa e que a outra mãe comprava bastantes jogos de vídeo, inclusivé, de violência porque a via a comprar-los regularmente. Brown defendeu o seu filho ao máximo dizendo que parecia-lhe pouco provável que ele fosse um agressor, e questionou a psicóloga se o seu filho não seria a verdadeira vítima e senão estaria apenas a defender-se. Insinuou que a família Lee, ao não comparecer, estaria com receio e até mesmo a esconder algo. Após a reunião e as insinuações de Brown, Martha deu por si mergulhada em dúvidas. Entrou em contacto com Emma Lee para marcar um encontro. Emma, ao perceber a insistência, decidiu receber a psicóloga em sua casa. Emma Lee, é uma mulher divorciada com seis filhos, que tenta dedicar o máximo possível do seu tempo à sua familia, porém, os dois empregos que tem ocupam-lhe todo o tempo. Trabalha numa Coffee Shop e é empregada doméstica. Seguiram-se vários encontros com ambas as famílias nos seus ambientes familiares. Chegando mesmo a passar dias inteiros com as famílias de forma a perceber as dinâmicas nos lares. Desses encontros, resultaram relatórios que descreviam as vidas das duas famílias, sendo essas análises reveladoras de dados íntimos que poderão justificar, ou não, o comportamento de uma criança bully. Esses relatórios são a base fundamental desta história. No relatório que Martha escreveu sobre o dia passado com Jennifer Brown, consta: “ 08h00 – Cheguei a casa da família Brown. Cruzei me com o Sr. Brown à porta, ia para o seu emprego. Ao entrar depa-
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ro-me com as crianças a tomarem o pequeno almoço preparado pela Sra. Brown. A mesa estava repleta de fruta, cereais, bolo caseiro, torradas e leite. As crianças aparentam ser bem educadas e calmas. Pedem licença à mãe para saírem da mesa e irem lavar os dentes. 09h00 – As crianças estão prontas para ir para a escola. O autocarro encontra-se à espera à porta de casa. A mãe entrega a lancheira a cada uma das crianças e despede-se com um beijo a cada um. 10h00 – A Sra. Brown prepara-se para sair e ir às compras para casa. Dirige-se ao mercado mais próximo e faz as compras habituais do dia. Encontra algumas amigas de longa data que não as via hà algum tempo e convida-as para lanchar mais tarde em sua casa. Pareceu ficar feliz com o encontro. 12h30 – Está de volta a casa. Aproveita para ver um pouco do seu programa preferido de receitas na televisão. Tira algumas notas, e comenta que gosta sempre de inovar as refeições que confecciona para o seu marido e filhos. 13h00 – Brown convida-me para almoçar. Aceitei e aproveitei para lhe colocar algumas questões de foro íntimo familiar. Perguntei-lhe como é a sua relação com o seu marido, se era feliz. Respondeu-me que era bastante feliz, que tinha a família perfeita e que fazia de tudo para que a educação dos seus filhos fosse
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a melhor. Evitando falar no marido, decidi voltar a perguntar. Respondendo-me apenas que tudo era perfeito. Perguntei-lhe de seguida como são as crianças em casa, o que fazem, o que lhes é permitido fazer ou não. Jennifer respondeu prontamente que era contra jogos de vídeo e que não os deixava sozinhos em frente do computador. Afirma que as novas tecnologias corrompem as crianças. Disse também que as crianças têm horas para tudo: para comer, deitar, estudar e brincar (pouco tempo e dentro do espaço da casa). Pareceu-me uma mulher de ideias rígidas, metódica e bastante organizada. Na verdade, aparenta ser demasiado controladora dos seus e de si mesmo. 15h30 – Começam os preparativos para o lanche com as amigas. 16h30 – As amigas chegam e começam a lanchar. Entre conversas triviais consigo perceber que o grau de proximidade entre elas não é tão profunda como me tinha sido dado a perceber anteriormente. 17h45 – As suas amigas despedem-se. Jennifer começa a arruma a sala de estar. Questionei-a se estas eram as suas únicas amigas, respondendo-me com um acenar de cabeça que sim. Perguntei-lhe se para além das conversas triviais, das quais assisti, se falavam dos seus problemas, se desabafavam umas com as outras. Jennifer aparenta ficar incomodada, e diz que não. O seu tom de voz mudou e diz-me que os problemas ficam para si e que ninguém tem nada a ver com isso.
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18h20 – As crianças voltam a casa e a mãe ajuda-as a fazerem os trabalhos de casa.
19h30 – O marido chega a casa e o jantar já esta pronto.
20h00 – A família começa a jantar e eu despeço-me. ”
Do tempo que passou com a família Lee, descreveu também o seu dia-a-dia: 8h00 - Cheguei a casa da Sra Lee, e esta estava de saída para o emprego. Ficou supresa com a minha visita uma vez que não a tinha avisado. Disse que podia entrar um pouco e que poderia voltar à noite, uma vez que estava de folga do seu segundo emprego. 9h00 - Depois de o pequeno almoço preparado pela filha mais velha, todos saem de casa para irem para a escola. Saio com elas. 20h00 - Volto a casa da família Lee, e quando Emma me abre a porta, reparo que parece cansada e um pouco desorientada. Ao entrar percebi o porque, depois de um dia de trabalho, ainda tem de cuidar de seis crianças. A casa está preenchida de barulho, gargalhadas, gritos e sons de tiros vindos dos jogos de vídeo. Emma confessa que a única forma de os conseguir controlar sozinha é deixá-los ocupados com os jogos de vídeo. Diz me so trazerem vantagens como: ficarem em casa, logo, não correm perigo na rua e diz perceber que os ajuda a acalmar. Afirma que
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todas as frustrações e irritações dos seus filhos são libertadas ao jogarem. Colocaram-se algumas questões a mim própria: Será o método de educação que utiliza é realmente o melhor? Serão os jogos de vídeo uma boa opção para os acalmar ou, se pelo contrário, incentivava-os a terem atitudes agressivas e ao seu filho a ser realmente o bully, como Brown insinuou. 22h00 - As crianças já estão todas na cama.A Sra. Lee prepara as mochilas de todos para o dia seguinte, e eu decido ir embora.“ Após alguns dias de convívio com as duas famílias, as dúvidas permancerem. Apesar de Roberts, pela sua análise, achar que o filho da Sra. Lee tem mais potencial para ser um bully não queria tomar conclusões precipitadas, pois desconfiava que algo se passava no seio da famía Brown. Roberts percebeu, que a típica dona de casa Americana, que aparentava ser feliz com o seu casamento e com o seu estilo de vida talvez não o fosse na verdade. Sentiu que existia algo que a inibia de ser realmente feliz, mas não sabia o quê. Dias depois de ter falado com Sra. Lee, Brown liga a Roberts em pranto e desespero a pedir que a fosse visitar no dia seguinte e assim aconteceu. Roberts descreve esse encontro: “ Cheguei a casa da família Brown às 10h00. Jennifer abre me a porta, encontra-se sozinha, pois os seus filhos e maridos já tinham saído aquela hora. Convida-me para sentar no sofá e serve
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me chá e biscoitos. Não lhe coloquei nenhuma questão para que não se sentisse pressionada. Deixei a conversa fluir. Fluiu rapidamente devido à sua forte vontade de desabafar. Simplesmente saiu-lhe da boca para fora: “Sou viciada em sexo”. Como psicóloga que sou já há vários anos, percebi que algo não estava certo com Jennifer, mas confesso que não estava à espera de que fosse este o problema. Jennifer começou a chorar, a lamentar-se que a sua vida é um inferno, a sua relação com o seu marido está cada vez pior, não tem amigas pois perdeu-as todas ao dormir com os seus maridos (as supostas amigas daquele lanche, na verdade era apenas conhecidas com quem nunca teve grande contacto) e que tem vergonha de si. O seu casamento já não existe, é tudo fachada. O marido descobriu todas as suas traições mas decidiu ficar em casa apenas pelos seus filhos e pela vergonha de se divorciar. Ela conta como se sente sozinha, que se isola em casa para não cair em tentação, tenta se controlar ao máximo, mas tanto controlo acaba por alterar obviamente o seu comportamento. Confessou que não tem Internet em casa para não poder aceder a pornografia nem marcar encontros com estranhos para satisfazer o seu impulso sexual descontrolado (tendo alegado nas primeiras sessões que não tinha Internet em casa para o bem dos filhos). O seu comportamento controlador acaba por se reflectir nas crianças, que são ambas reprimidas e demasiado controladas. Agora percebo o comportamento agressivo do seu filho na escola, na verdade, é uma vítima da sua própria mãe. “
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Martha Roberts conseguiu perceber quem era definitivamente o bully e o porque de o ser. Os jogos de vídeo não eram o motivo para uma criança desenvolver atitudes agressivas, mas sim, o controlo exagerado de uma mãe que (ao fugir de um forte impulso que lhe absorvia a vida) tentava controlar a si e aos seus, abusivamente.
What you see is not what you get!
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STORY BOARD [WIP] Este projecto, entitulado, WYSINWYG - What You See Is Not What You Get, pretende contar a narrativa através de uma plataforma online. A narração da história é baseada em três pontos fulcrais: os relatórios da Dra. Roberts sobre as famílias Brown e Lee.
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INTRO - Texto: WHAT YOU SEE IS NOT WHAT YOU GET. - Várias cenas de violência a passarem rapidamente com os respectivos audios. - Fundo preto - Som de telefone a tocar. - Voice Over de Dra. Roberts a ligar a Sra. Brown e à Sra. Lee: “Hi, this is Dr. Roberts, the Psycologist from the school of your son. I would like to talk to you about some situations happening here.” RELATÓRIO - FAMÍLIA BROWN - Imagens de uma dona de casa, tipicamente americana na lida de casa -Música ambiente alegre
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- Voice Over: “Time for homework!”, “Dinner is Ready!”, “Time to bath!” ,“Bye Honey”, entre outras.
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RELATÓRIO - FAMÍLIA LEE - Relógio a assinalar 8am - Voice Over: “Kids, I’m leaving, See you at night!”, “Mummy where is the dinner?”, entre outros. - Sons de crianças a brincarem - Sons de jogos de vídeo O SEGREDO - FAMILIA BROWN. - Ambiente depressivo, escuro - Som de choro - Voice Over: “My marriage is over”, “I love sex”, “I need sex”, “I slept with all my friend’s husbands”. - Imagens de conversas online a marcar encontros sexuais e de videos pornograficos.
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