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MANAUS
o nosso presente N
o poema “Pátria Minha”, Vinicius de Moraes (1913–1980) escreveu: “Não te direi o nome, pátria minha/Teu nome é pátria amada, é patriazinha/Não rima com mãe gentil/Vives em mim como uma filha, que és/Uma ilha de ternura: a Ilha Brasil, talvez”. Pois bem. Dentro dessa “Ilha Brasil”, habita outra filha, de nome Manaus, a nossa cidade-pátria, a quem escolhemos – ou fomos escolhidos – para viver até quando Deus quiser. Acolhedora, calorosa, amorosa, também tem defeitos, mas quem se importa? A Manaus que vemos no presente é tão futuro que o passado ruim perdeu a importância. Manauense ou manauara, nascido ou adotado pela “Cidade Sorriso”, somos o reflexo de uma mudança que começou em janeiro deste ano. Com a entrega do Mercado Adolpho Lisboa, no dia em que a capital do Amazonas completa 344 anos, reconquistamos nossa verdadeira identidade. Esta cidade que muda a cada dia começa a ganhar contornos responsáveis, inclusive, pelo resgate de uma autoestima há muito tempo perdida, ou melhor, há muito adormecida. Manaus acordou, ergueu a cabeça e está pronta para o recomeço, para os tempos áureos, concomitante à modernidade que por ela espera. A Manaus que vemos hoje é, sem sombra de dúvida, uma “pátria” promissora, que já mostra que essa mudança para melhor veio para ficar. E esse é só o começo de uma nova realidade. O poeta manauense Anibal Beça (1946–2009), certa vez, escreveu: “Toda cidade se habita/ como lugar de viver./Só Manaus é diferente/pois em vez de habitá-la/é ela quem me habita”. Tudo o que se deseja hoje é que essa Manaus resgatada, modernizada, recuperada, reordenada habite em nós eternamente. Manaus, para você, o nosso Presente.
SUMÁRIO 10 MERCADÃO Adolpho Lisboa faz as pazes com a história
20 SÃO VICENTE O lugar onde Manaus ganhou forma
28 CENTRO Identidade recuperada
36 PARQUE 10 O bairro onde a feirinha já virou tradição
42 GASTRONOMIA Uma delícia que não sai da mesa
60 SOCIAL Combate à violência infantil e proteção à família
74 MEIO AMBIENTE Projetos para recuperar o verde
78 TUPÉ A fusão entre a cidade e a floresta
86 PONTA NEGRA Muito mais que um balneário
92 ENTREVISTA Os desafios do prefeito Arthur Virgílio Neto
ADOLPHO LISBOA
um presente para Manaus
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N
este dia 24 de outubro de 2013, data em que Manaus comemora 344 anos, o Mercado Municipal será devolvido à população, após 7 anos parado para reforma. Duas administrações se passaram e a obra não pôde ser concluída, sendo esse atraso atribuído aos mais diversos entraves. Em dez meses à frente da Prefeitura de Manaus, Arthur Virgílio Neto presenteia a cidade com o prédio histórico totalmente restaurado. O centro da cidade já respira novos ares. A população e os turistas poderão visitar o local, fazer compras, admirar, fotografar, viver e reviver a história. Já se passaram 133 anos desde que a lei nº 494, de 23 de outubro de 1880, determinou a construção do Mercado Municipal, conhecido como Mercado Adolpho Lisboa. Isso porque, segundo registros relatados por historiadores do grupo de pesquisa que funciona no Centro Cultural Reunidos, no centro de Manaus, o prefeito da época, Adolpho Lisboa, teve o nome gravado somente por estar à frente da administração municipal na ocasião da construção da fachada. Três anos depois, o “primeiro mercado” foi entregue à população, em 15 de julho de 1883. Para os historiadores Alfredo Loureiro, Luciana Gil e Daniel Rodrigues, a ideia é “desconstruir” a história, de forma que a população
conheça a verdade de um dos maiores legados dos tempos áureos da borracha. Nessa primeira obra, foi erguida uma estrutura que media 45 metros de comprimento por 42 metros de largura, sustentada por 28 colunas de ferro adquiridas na Inglaterra, da firma Francis Morton Engeenier & Cia., um vão central, onde se abrigava a venda de carnes, tartarugas, peixes, utensílios domésticos, frutas e verduras, tudo exposto no mesmo pavilhão. Segundo os historiadores, o mercado custou, na época, algo em torno de 360 mil contos de réis (moedas de fina prata), o equivalente a R$ 10,8 milhões nos dias de hoje. O professor Alfredo Loureiro, um dos maiores conhecedores da história do Amazonas e integrante do grupo de pesquisa, ressalta que o mercado foi construído em tempos distintos, começando com a construção de frente para o rio Negro, sem os prédios laterais, e encerrando com os prédios feitos posteriormente, com pavilhões de separação de alimentos. O início das melhorias relacionadas à higiene aconteceu a partir da contratação do engenheiro Felinto Santoro, que projetou e começou a construção dos dois pavilhões comprados na Escócia, na Fundição Sarracena (Macfarlane), também feitos de ferro fundido, para o mercado de 1883.
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Estrutura Conforme os historiadores, a partir de 1901, o médico Alfredo da Matta começou a fiscalizar o mercado e a analisar não só a reforma, como o modo de comercialização das carnes, dos peixes, tartarugas e verduras. Como não havia qualquer tipo de refrigeração, o limite estabelecido para que os alimentos in natura ficassem expostos era de cinco dias. “Acredito que, em 24 horas, sem um armazenamento adequado, já esteja tudo estragado. Mas essa era a realidade da época”, observa Luciana Gil. Aos poucos, Alfredo da Matta impulsionava a questão da higiene no mercado. Outra observação interessante, feita por Loureiro, questiona aquela velha comparação do mercado municipal com o Les Halles, de Paris, que, para ele, fica apenas no quesito “estrutura de ferro”. A fachada, avalia o pesquisador, Santoro teria “copiado” da galeria coberta Victor Emanuel, de Milão, na Itália. “É igualzinho, pode ver”, diz, mostrando uma foto da referida galeria. Santoro também foi o responsável pela construção da parte do mercado público que fica de frente para a rua dos Barés.
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Memória Em seus 130 anos de existência, o Mercado Municipal traz consigo não apenas o legado da borracha, mas a vida, o suor, o trabalho, a memória dos antepassados, os períodos parados para restauros, os bombardeios e as mortes. É assim que Loureiro nos fala sobre a entrada do empreiteiro Emílio Tosi na história. Tosi foi contratado em 1909, para a construção de um mercado na parte sul do que tinha sido feito em 1883, que seria destinada somente à venda de tartarugas e animais de casco. Essas obras, no entanto, foram interrompidas no dia 8 de outubro de 1910, quando a cidade sofreu um bombardeio, no qual o novo empreiteiro foi morto, segundo informações fornecidas pela historiadora Luciana Gil. “Até hoje podemos ver em todos os pavilhões marcas de balas da metralhadora e obuses de canhão que fizeram grandes danos aos prédios”, conta. Obuses são tipos de bocas de fogo de artilharia, que disparam projéteis explosivos em trajetórias curvas. O bombardeio foi consequência de uma briga política, quando os adversários do então governador Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt descobriram que ele possuía uma empresa em seu nome, o que era proibido pela Constituição.
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Um tempo promissor Após 7 anos trabalhando de forma improvisada no entorno do mercado, o vendedor de artesanato Wilson d’Almada Colares é um dos 182 permissionários que comemoram a entrega do local, fato que representa a esperança de um tempo promissor e muito mais confortável. Colares começou a trabalhar no Mercado Público Municipal há 34 anos. Semanas antes da reabertura do local, o vendedor festejava os últimos dias de comércio de rua, em que utilizou a carroceria de seu carro como balcão de produtos, tudo para não ficar sem a renda diária com a qual sobrevive e mantém a família. “Vários prefeitos passaram nesses anos e nunca concluíram a reforma. Agora teremos o mercado de volta em alguns meses. Penso mesmo que foi uma questão de boa vontade entre as partes envolvidas”, opina. Durante os últimos anos em que o Adolpho Lisboa ficou fechado para o restauro, o vendedor diz que passou por vários momentos de muita luta. Hoje, a reabertura faz também renascer a
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esperança de dias melhores. “Estamos muito esperançosos de que tudo vai melhorar por aqui. As ruas estão sendo alargadas, já fomos realocados e vamos poder trabalhar com dignidade, em um local bonito e renovado, que vai atrair muitos turistas e trazer de volta o costume dos manauenses de comprar no mercado”, diz o comerciante. Não são apenas os permissionários que estão animados com a reabertura do mercado. Com apenas 16 anos de idade, a estudante Rochele Silva fala com carinho sobre o novo momento, vivido especialmente pelo centro da cidade. “Vai dar mais movimento aqui nessa área do Centro, principalmente para as pessoas que trabalham aqui. Estamos felizes com a reabertura do mercado. Com certeza, será mais uma opção de lazer e compras, tanto para nós moradores quanto para os turistas. Minha tia trabalha aqui no Centro e os turistas sempre perguntam sobre o mercado. Falamos que está em reforma há muito tempo e eles ficam frustrados”, comenta.
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Sテグ VICENTE
onde tudo comeテァou
Vista parcial do Bairro de Sテ」o Vicente (1953)
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o observar um mapa ou até uma imagem de satélite de Manaus, mesmo quem não é daqui consegue descobrir facilmente onde a cidade nasceu: isso porque toda a massa urbana que se espalha para o Norte em todas as direções parece vir da pequena ponta de terra, às margens do rio Negro. Essa região é hoje conhecida como o centro de Manaus, e é justamente num pequeno pedaço dela que se encontra o berço da capital do Amazonas: o bairro de São Vicente. É nessa localidade que foi construído o forte de São José do Rio Negro, marco da fundação de Manaus, em 1669. Também ali, ao redor da instalação militar, foram erigidas as primeiras edificações institucionais e religiosas, assim como a primeira praça da cidade, o largo da Trincheira, mais tarde renomeada praça IX de Novembro, numa lembrança à data de adesão da capitania de São José do Rio Negro à independência, em 1823. “Embora seja um espaço pequeno geograficamente, o bairro de São Vicente é muito rico, pois ali nasceu a cidade, ali surgiram as sedes de muitas coisas que compõem a vida de uma cidade e a partir dali começou o processo de urbanização de Manaus”, afirma Roger Péres, pesquisador e
coordenador de Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal do Centro (Semc). De fato, o bairro veio abrigar a primeira capela da cidade, em homenagem a Nossa Senhora da Conceição: um prédio simples de madeira e palha, construído em 1695 e décadas depois substituído por um edifício em alvenaria que, no entanto, se incendiou em 1858. A capela ficava na rua atualmente conhecida como Visconde de Mauá. Na região foram fincadas ainda as primeiras bases do poder público na cidade. Quando o governador Lobo d’Almada transferiu a sede da capitania de Barcelos para o então Lugar da Barra, em 1791, a sede governamental foi instalada num prédio depois desaparecido, onde hoje fica o Museu do Porto. Em São Vicente – nome dado provavelmente em homenagem ao padroeiro de Lisboa – surgiram ainda o Quartel Militar, o hospital Militar (na antiga Ilha de São Vicente), a cadeia pública, o Tesouro Público e o Éden Teatro, este o principal palco de Manaus até a inauguração do Teatro Amazonas. E também ali, num sobrado que veio a desaparecer, foi assinado o documento que instalou a província do Amazonas, em 1852 – não por acaso, ele ficava na que veio a ser conhecida como rua da Instalação.
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Heranças do antigo bairro São Vicente, que podemos apreciar nos dias de hoje
Status privilegiado Se alguns desses marcos históricos sumiram do mapa, vários outros surgidos após o advento da província se mantêm até nossos dias. O paço da Liberdade, edifício em estilo neoclássico concluído em 1880, serviu como sede do poder governamental até 1917, e como sede do poder municipal do ano seguinte até 1996 – o que lhe confere status de espaço privilegiado na história da cidade. Em frente a ele está a praça Dom Pedro II, que tornou o antigo largo do Pelourinho no primeiro jardim público da cidade, destacado pelos ricos coreto e chafariz, ambos em ferro fundido, trazidos da Inglaterra para Manaus no final do século 19. Na mesma época, foi inaugurado o hotel Cassina. Em seu período de glória, o local chegou a receber artistas de companhias que vinham se
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apresentar no Teatro Amazonas; anos mais tarde, em decadência, o empreendimento daria lugar ao Cabaré Chinelo, prostíbulo que se tornou lenda no imaginário coletivo de Manaus. As instalações portuárias vindas da Europa também chegaram primeiro a São Vicente, com a instalação do trapiche Isabel, no início do século 20. “Foram as primeiras instalações de porte mais importante que a cidade recebeu. Esse armazém em ferro fundido é um dos mais antigos do porto de Manaus, e é uma relíquia arquitetônica”, aponta Roger Péres. No local se encontram ainda a loja maçônica pioneira da cidade, Esperança e Porvir, e a sede do Instituto Geográfico e Histórico de Manaus (IGHA), além de duas casas de taipa consideradas as mais antigas construções residenciais de Manaus.
Praรงa Dom Pedro II (1896)
Paรงo da Liberdade (1890)
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O primeiro “arranha-céu” Um novo exemplo do pioneirismo de São Vicente surgiria nos anos 1950: o prédio do Iapetec (foto acima), considerado o primeiro “arranha-céu” de Manaus, foi construído na localidade. “Durante muitos anos, circulou uma anedota de um amazonense que ia para uma cidade grande pela primeira vez. Chegando lá, ele dizia, ‘Olha, aqui também tem Iapetec!’”, conta Péres, rindo. A partir desse período, a história do bairro tradicional se mistura e se multiplica na memória de moradores antigos de São Vicente. Gente como Maria de Fátima Dias dos Santos, que acompanhou a construção e inauguração do Iapetec. “Foi um evento maravilhoso, ninguém nunca tinha visto um prédio tão alto”, recorda a senhora de 71 anos, descendente de lusitanos, que nasceu no prédio que hoje abriga a sede do Iphan – também em São Vicente.
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Da vida no local, ela guarda imagens como a da procissão de São Pedro, no rio Negro, que podia ver da janela de casa, do terraço do Palácio Rio Branco, que deu lugar a um prédio, e das mangueiras numerosas em toda a vizinhança. “Quando chovia e ventava, as mangas caíam e todo mundo corria para a rua para pegar”. Outro morador “das antigas”, Edson Câmara tem lembranças dessa época. “Aos domingos, alugavam-se jipes por 10 cruzeiros. E havia dois bondes, um vindo da Cachoeirinha e outro que ia até Flores”, lembra o potiguar de coração amazonense, que chegou aqui em 1954. Vizinho de porta das casas de taipa da rua Bernardo Ramos, o senhor de 80 anos também é entusiasta da história do bairro. “A muralha do Forte de São José do Rio Negro passa debaixo dessas casas”, revela ele, entre outros detalhes de um passado mais distante que o seu próprio.
História em recuperação Apesar da importância fundamental de São Vicente na história de Manaus – e na memória de habitantes como Maria de Fátima e Edson –, o bairro sofreu com a degradação nas últimas décadas, visível na instalação de bolsões de prostituição e criminalidade. O processo resultou da mudança do eixo gravitacional para outras áreas da cidade, até pelo abandono por parte do poder público que tinha ali o seu reduto, comenta Rafael Assayag, titular da Semc. “A Prefeitura de Manaus se retirou do local, assim como o governo do Amazonas, a Câmara Municipal, a Assembleia Legislativa, o Tribunal de Justiça e praticamente todas as secretarias municipais e estaduais”, enumera o secretário, a respeito do Centro como um todo, num processo que afetou com mais evidência o bairro de São Vicente. “Isso significa desvalorização dos imóveis, com uso indevido por parte da crimina-
lidade”, completa. Felizmente, as perspectivas para o futuro do bairro de São Vicente são promissoras. Além de melhorias recentes – como a restauração do Palácio Rio Branco pela última administração estadual, e do paço da Liberdade (foto acima), na gestão municipal –, o local fará parte das ações da Semc para requalificação do centro de Manaus. Uma delas é o PAC Cidades Históricas, que prevê a recuperação de dez marcos da cidades, entre eles o hotel Cassina e o antigo prédio da Câmara Municipal de Manaus. E, para o ano que vem, a Semc planeja lançar ainda o Festival de São Vicente, que vai promover diversas atividades culturais no bairro histórico. Com isso, a área poderá voltar a atrair turistas para conferir a beleza da arquitetura e da história da cidade em todo o seu resplendor.
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O CENTRO
de volta
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Manaus do início do século 20 era considerada um milagre dos trópicos. Os visitantes que aqui chegavam se espantavam de encontrar uma metrópole modelo, com bondes, iluminação elétrica, porto moderno, teatro, lojas e belas edificações. Cem anos depois, muitos vestígios dessa cidade que deslumbrava o mundo ainda podem ser vistos no Centro, mas grande parte do encanto e da importância dessa região, que concentrou a vida urbana da capital em seus primeiros séculos, perdeu-se com o tempo. Se o centro de Manaus sofreu com um penoso processo de degradação em sua história recente, hoje é mais evidente do que nunca a necessidade de se recuperar o status e as feições da zona histórica da cidade. Essa é exatamente a missão da Secretaria Municipal do Centro (Semc), criada pela atual administração da municipalidade com o intuito de requalificar uma área, a um só tempo, tão importante e desprestigiada da capital, por meio da articulação de políticas públicas, em conjunto com outras secretarias e órgãos do poder público. “O Centro vem percorrendo um caminho de degradação nas últimas décadas, e a decisão do prefeito Arthur Virgílio Neto é a de reverter esse vetor de degradação para requalificação”,
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Cem anos depois, muitos vestígios dessa cidade que deslumbrava o mundo ainda podem ser vistos no Centro
destaca Rafael Assayag, titular da secretaria, inicialmente criada em caráter extraordinário e hoje tornada efetiva. O órgão mantém uma equipe multidisciplinar de técnicos em diversas áreas, como trânsito, meio ambiente, assistência social, urbanismo, entre outras. As ações da Semc para a requalificação do centro de Manaus se agrupam, em sua maioria, em quatro projetos principais: o Viva Centro, que promove eventos de qualificação regulares em locais pontuais da região; o Centro Seguro, blitze que reúnem forças policiais coordenadas no ataque a focos de criminalidade; o projeto de Centros de Compra Populares (CCPs), que prevê solução definitiva para o problema dos vendedores ambulantes; e a Requalificação do Patrimônio Histórico do Centro, para recuperação de edificações e praças, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas, do governo federal.
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Cidadania Iniciado em agosto, o Viva Centro promove iniciativas de cidadania e requalificação, pela atuação da Semc em parceria com outras secretarias municipais, associações de comerciantes e lojistas, e parceiros privados. Aí se incluem ações nas áreas de limpeza urbana (coleta de lixo e conscientização de moradores, camelôs e lojistas), meio ambiente (poda de árvores, alertas quanto à poluição sonora), urbanismo (conscientização sobre uso correto de calçadas e de placas/letreiros em fachadas), vigilância sanitária, produção e abastecimento (fiscalização de ambulantes cadastrados e retirada de não cadastrados), além da realização gratuita de exames de saúde e cadastros em programas de emprego e assistência social, entre outras. As ações do Viva Centro são realizadas sem-
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pre aos sábados, quinzenalmente, até o fim do ano, em pares de ruas no perímetro situado entre as avenidas Getúlio Vargas, Floriano Peixoto, Epaminondas e a rua da Instalação. O programa, conforme Assayag, tem recebido aprovação e apoio da população. “A adesão tem sido positiva, diria que até quase maciça mesmo. Algumas vias hoje têm características bem diferentes, como a Doutor Moreira e a Marcílio Dias”, comenta o secretário. Além dos eventos pontuais, os trabalhos têm reforço nos dias seguintes: “É um trabalho primeiro de conscientização e, nas semanas seguintes, de fiscalização. Explicamos as regras, damos prazos para adequação, mas aqueles que não se adequarem terão de se responsabilizar pelas consequências do não acatamento da ordem pública”.
Recuperação de logradouros Na última frente, a Requalificação do Patrimônio Histórico do Centro abrange a recuperação de dez logradouros e edifícios da cidade. São eles: praça da Matriz, praça Tenreiro Aranha, praça Adalberto Vale, Relógio Municipal, hotel Cassina, Biblioteca Pública Municipal, Museu do Homem do Norte, antiga Câmara Municipal, entorno do mercado Adolpho Lisboa e Pavilhão Universal – que voltará à praça Adalberto Vale como um centro de atendimento ao turista. Os dez projetos contam com recursos de R$ 33,8 milhões do PAC Cidades Históricas, além de contrapartida da prefeitura municipal. As obras, que devem ser iniciadas ainda este ano, serão aceleradas por um regime diferenciado de contratação e pela atuação de Unidade Especial de Projetos da Semc, com arqueólogos, historiadores e outros especialistas. As ações se somam
A avenida Getúlio Vargas já recebeu recapeamento e iluminação e em breve terá um novo mobiliário urbano mais adequado à riqueza histórica do Centro
às obras de conclusão do Paço Municipal e de execução do Adolpho Lisboa, assumidas no início deste ano a partir da gestão municipal anterior. A atuação da Semc até o momento já tem resultados visíveis – por exemplo, no entorno do Relógio Municipal, com a demolição de lanchonetes e previsão de ocupação da área com atividades culturais e artísticas. Ou na avenida Getúlio Vargas, que já recebeu recapeamento e iluminação, e que em breve terá também novo mobiliário urbano mais adequado à riqueza histórica do Centro, e ações de reordenamento e recuperação das fachadas, em parceria com a iniciativa privada. E ainda na região da Ferreira Pena com Monsenhor Coutinho. A região, que ostenta uma notável vida noturna, recebeu melhorias na iluminação e na segurança pública, dentro de um projeto intitulado Quarteirão Modelo.
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Entusiasmo e comprometimento Em longo prazo, a Prefeitura de Manaus planeja incentivar a ocupação habitacional do Centro, tanto com a retomada de imóveis de interesse histórico em decadência quanto com o retorno de órgãos da administração pública à região. O primeiro exemplo se deu com a transferência do Executivo municipal para o Palácio Rio Branco. “O prefeito despacha deste prédio, e há projetos de virem para cá secretarias ou mesmo postos de atendimento. Assim, o poder público volta a fincar sua bandeira nesta região, que era para ser a mais importante de Manaus; deixou de ser, e pretendemos que volte a ser em breve”, declara Assayag. Com os pés no chão, ele vê com clareza o tamanho do trabalho à frente: “Entendemos que o Centro seja uma área vital no projeto da Copa e um dos grandes desafios da gestão, mas temos consciência de nossa responsabilidade”, conclui.
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TODO DIA é dia de feira U
m lugar que é point depois das baladas e ao mesmo tempo recebe quem chega e sai das missas nas manhãs de domingo. Essa é apenas uma das características da Feira Municipal do Parque 10, no bairro de mesmo nome, localizada na Zona Centro-Sul de Manaus. Um passeio rápido pelos mais de 30 boxes, que se dividem entre o varejo e a alimentação, dá mostras de que o lugar é cheio de histórias curiosas e justifica o porquê de ter se tornado um dos atrativos da cidade. O movimento começa cedo. Às 5h – de segunda a sexta-feira – os boxes já estão abertos para receber os primeiros clientes do dia. No fim de semana, a rotina começa mais cedo para quem trabalha no local. É que às 3h30 os lanches já precisam estar abertos para receber a “turma da madrugada”. Uma estratégia que deu certo. Tanto que às 4h, 5h é comum chegar ao local e ver jovens e adultos recuperando as energias gastas na noite com sopa, canjica, farofa de jabá e os tradicionais sanduíches. “Interessante também é ver a mistura de público nas manhãs de domingo. É quando junta o pessoal que sai das festas com as famílias, que chegam ou saem das missas e quem vai pegar a estrada. Isso aqui fica lotado”, conta o administrador do local, Albino Martins.
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O movimento começa cedo. Às 5h os boxes já estão abertos para receber os primeiros clientes
Entusiasmado, ele ressalta que o grande público que a feira recebe, deve-se, principalmente, às melhorias que foram feitas em sua estrutura. “Há muitos anos, a feira do Parque 10 era armada na rua. Aqui, nesse ponto, ela está desde 2000. Três anos depois passou por reforma e agora por outra. Após esta última, ela reforçou o conceito de feira-modelo de Manaus”. As mudanças às quais Albino se refere são estruturais, mas também comportamentais. Para conservar a reforma, a administração e a comissão de gestão da feira reuniram-se e estabeleceram estratégias para manter o ambiente sempre limpo e atraente. Os feirantes pagam uma taxa, o que ajuda também na conservação do piso de couro duro, encerado uma vez por semana. Outro detalhe é a limpeza dos banheiros, cuja manutenção é feita com a cobrança de uma taxa de R$ 0,50 por uso, pago pelos frequentadores.
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Tem até tapete “Hoje aqui está tudo muito organizado. Temos até tapete na porta para receber os clientes... Lembro da época em que essa feira era no meio da rua, quando as barracas eram cobertas apenas por lonas. Toda vez que chovia era um “deus-nos-acuda”, perdíamos muitas mercadorias. Agora, está tranquilo. Na hora de ir para casa, eu tranco meu boxe e as minhas mercadorias ficam guardadinhas”, comenta Jocelino Mahalhães, que trabalha em um dos boxes da feira em parceria com a esposa, Laurita Rodrigues. “Aqui, nós nos organizamos. Eu acordo primeiro e por volta das 3h já estou saindo de casa para a Manaus Moderna, onde faço as compras dos produtos que trago para vender na feira. Laurita chega aqui às 5h para abrir nosso boxe. No decorrer do dia, vamos nos ajudando. Às vezes, por exemplo, é preciso peneirar a farinha e eu faço ou ela faz”, explica Jocelino. A ligação do casal é ainda maior com a feira porque nela trabalham cinco de seus sobrinhos.
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Sozinhos ou em duplas, eles se organizam e cada um ganha sua renda. Raimundo Magalhães é o mais falante entre os irmãos e contou como todos começaram a trabalhar ali. “Nós morávamos em Manacapuru (a 78 quilômetros de Manaus) e meu irmão, Luiz, resolveu vir a passeio para Manaus. Ele começou a ir para a feira com meus tios – Jocelino e Laurita – e, de repente, arranjou trabalho na barraca de um senhor. Com o tempo, esse homem foi embora e passou para o meu irmão a responsabilidade pelo ponto. Como o Luiz precisava de um ajudante, me chamou, depois chamou outro irmão, e veio outro e, assim, sucessivamente. Hoje eu e o Luiz trabalhamos juntos e o Pedro trabalha com o Antônio em outro boxe. O Lázaro trabalha sozinho”. Lázaro Magalhães é o único da feira a trabalhar com peixe. Tamanha é sua a organização e cuidados com a higiene do produto que, hoje, além de vender diretamente para o consumidor, ele também fornece para restaurantes da cidade.
Bom humor Além dos irmãos, de um boxe para o outro uma característica comum entre os permissionários chama a atenção: o sorriso no rosto e o clima sempre amistoso. Trata-se de uma visão de trabalho, acordada dentro do próprio grupo. “Nós sabemos que problemas todos têm, mas sempre falamos que eles devem ficar do lado de fora da feira. Temos de atender nossos clientes sempre com sorriso no rosto”, explica a presidente da Comissão de Gestão, Maria Iraci da Silva. O sentimento de bem-estar explicado por ela é reforçado por Jocelino. “Hoje, a feira é tudo nas nossas vidas. É nossa casa, nossa família, é onde estão nossos amigos. É lazer também. Criamos relações e comemoramos o aniversário dos colegas. Eu tenho, por exemplo, boas lembranças da época da Copa do Mundo da Coreia e do Japão, quando os jogos ocorreram de madrugada. Nós ficávamos aqui durante a noite, cada um na sua rede e a TV ligada”, lembra.
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Casal se conheceu na feira E a feira tem ainda mais recordações... Quem passa pelo boxe de número 8 não imagina que ali dentro há uma bela história de amor. Francisco de Oliveira e Neuziete Cunha (foto ao lado), que administram o ponto, se conheceram há mais de 20 anos, quando ajudavam seus pais na mesma feira do Parque 10, mas quando esta era erguida na rua. “Nos conhecemos quando iniciávamos a adolescência. Esperamos um tempo e começamos a namorar”, conta Francisco, ressaltando que, além da feira, administram hoje a vida a dois. No boxe do casal as frutas chamam a atenção pela qualidade e cor. “O Francisco é quem escolhe as melhores frutas para vendermos. Mas algumas delas vêm de São Paulo, como o morango e a goiaba”, diz a esposa.
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52 sabores de tapioca Deixando de lado as frutas e verduras, o lado oposto da feira é dividido em boxes que oferecem lanches e café da manhã. Maria Iraci, a presidente da Comissão de Gestão da Feira, com tamanha responsabilidade, procura fazer de seu boxe, o Cantinho do Sabor Regional, um exemplo para os colegas. Além da organização e controle que mantém com sua equipe diariamente, ela procurou investir no cardápio do lanche. “Aqui a gente tem de agradar a todo mundo. Então, montei um cardápio com 52 tipos de tapioca. Outra preocupação que tive foi com o idioma. Além do português, o cardápio está em inglês e espanhol. Afinal, não podemos deixar os turistas na mão”, explica. As tapiocas de Maria Iraci são tão famosas que, aos domingos, são procuradas por gente de toda a cidade. “Nos dias úteis, trabalham três auxiliares e eu. No fim de semana, o número aumenta para sete”, comentou Maria.
Reforma e cursos de capacitação
Clientes assíduos Ao olhar para o seu boxe, Manoel Pereira garante não sentir a menor falta da vida que levava antes de trabalhar na feira. Nascido em São Paulo de Olivença (a 985 quilômetros de Manaus), Manoel foi pedreiro, mas com o tempo, descobriu na venda de cocos o forte de seu negócio. “Aqui eu vendo outras mercadorias, mas o coco é o que tem maior procura. Morador da vizinhança da feira, o aposentado José Diniz da Silva faz das idas à feira um lazer: tanto para fazer as compras da semana quanto para bater papo com o amigo Albino Martins, que administra o local. Outro cliente assíduo da feira é o corretor de imóveis José Holanda. Morador do bairro Cachoeirinha, na Zona Sul da cidade, ele aproveita o horário da pausa do trabalho à tarde para passar na feira e fazer o lanche diário. “Há três anos eu frequento esta feira e, todos os dias, tomo aqui o meu café e como meu pão com tucumã e queijo coalho”, declara Holanda.
Antes apenas com o chão em couro duro, a Feira Municipal do Parque 10 ganhou ares de zelo e limpeza, após a reforma, com a colocação de cerâmicas em todos os seus boxes. Cada espaço recebeu também uma cobertura extra, além do teto geral da feira, que foi trocado e passou a ter maior ventilação com a telha térmica. A estrutura de cima também ganhou luminárias. “Tudo foi pensado e planejado. Os boxes do café da manhã, por exemplo, estão diferenciados pelas cores. As mesinhas da praça central também foram organizadas de acordo com a cor do boxe ao qual pertencem”, explica a presidente da Comissão Gestora. Neste mês, após 15 anos de inauguração da feira, eles receberam, pela primeira vez, carteira de identificação e o termo de permissão de uso, emitidos pela Secretaria Municipal de Feiras, Mercados, Produção e Abastecimento (Sempab), durante a conclusão do projeto “Feira Limpa, Saúde Legal”, da administração municipal. A iniciativa, que tem o Parque Dez como referência, visa a transformação do ambiente de feiras e mercados em ambientes saudáveis para trabalhadores e clientes, e deve ser estendida a todas as 34 feiras, oito mercados e duas feiras volantes de Manaus. “Se é para melhorar, tem de melhorar em tudo”. É dessa forma que pensam os comerciantes da feira. Tanto que para acompanhar a nova estrutura, eles estão fazendo cursos, que vão de orientações sobre o correto manuseio de alimentos a como vender e controlar o dinheiro. “Tem também o inglês. O pessoal aqui já está terminando o curso. Vai ser bom por causa da Copa. Com ele, os permissionários aprendem noções básicas, a pronunciar, em inglês, frases rotineiramente usadas na hora de atender o cliente, e outras frases novas que vão ajudar a lidar com os turistas estrangeiros”, diz Martins.
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TAMBAQUI o rei da mesa
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gastronomia talvez seja o aspecto mais marcante da identidade cultural de uma cidade. Os sabores da culinária regional ultrapassam fronteiras geográficas e servem de referência na construção da memória coletiva de um povo. No Amazonas, os peixes estão entre as mais importantes fontes de alimento do homem da região. São 1,2 mil espécies encontradas nos rios amazônicos, tendo algumas delas presença garantida no cardápio diário da população. Pacu, sardinha, jaraqui, matrinxã, pirarucu, bodó, tambaqui, entre outros, compõem as mais variadas receitas, fidelizando e conquistando adeptos a cada dia. Fenômeno que tem se observado nos últimos tempos, principalmente em Manaus, que ajuda no fortalecimento da nossa identidade, é justamente a valorização comercial da iguaria, com a abertura de novos restaurantes especializados. É possível dizer que o manauense tem saído mais de casa para comer peixe, esteja ele em receitas mais sofisticadas ou mesmo nas mais tradicionais.
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“A gastronomia é o aspecto mais autêntico do amazonense, a que menos sofreu influência”, observa o chef Paulo Fortunato, um dos proprietários do recém-inaugurado restaurante Fish Maria, local com cardápio bem regional e com linguajar bem caboclo. É possível ler, por exemplo, um “Experimenta aí maninho(a)”, um “Gostoso no balde” ou mesmo um “Leseira baré”, figuras de linguagem típicas do nosso dia a dia. O cliente acaba se informando e se divertindo na hora de escolher os pratos. “Não queremos só vender comida, mas levar informação sobre nossos costumes, não somente para os turistas que vêm aqui, mas também para os próprios moradores da terra. É tão bom ver quando alguém abre o cardápio, se depara com o ‘amazônes’ e se diverte. Temos de valorizar isso aqui. A partir do momento em que nós fizermos isso, fica mais fácil ‘vender o nosso peixe’ para o pessoal de fora”, destaca Fortunato, paraense de nascimento, mas amazonense de coração.
Premiado Outro que colhe os bons frutos dessa aposta na culinária regional é o premiado chef Felipe Schaedler (foto), do estrelado restaurante Banzeiro. Felipe, aliás, pode ser apontado como um dos grandes representantes da gastronomia amazônica da atualidade. Prova disso é que no ano passado ele recebeu das mãos da presidente Dilma Rousseff a insígnia da “Ordem do Mérito Cultural 2012” como reconhecimento do trabalho de valorização dos elementos regionais na criação de seus pratos. “Manaus vive em um momento de transição. As pessoas estão viajando mais, buscando conhecer outras coisas, apostando em combinações diferentes. Agora, esse conceito de cozinha mais clássica sempre vai existir. Mesmo o cara que gosta de novidade, vai ter um dia que vai querer comer um peixe assado”, afirma Felipe. Ele também observa uma movimentação geral no sentido dos profissionais da cozinha estarem trabalhando mais com o que eles têm em suas regiões. Momento para lá de oportuno para se investir no turismo gastronômico.
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Preferência ‘baré’ Se depender de carro-chefe nesse sentido, não tem para mais ninguém: o tambaqui ganha disparado. No Banzeiro, por exemplo, a costela de tambaqui é responsável por 30% das vendas. Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, secção Amazonas (Abrasel-AM), Mário Valle, uma pesquisa da entidade aponta que o tambaqui é o primeiro entre os pratos que os turistas não podem deixar de provar quando visitam Manaus. Há dois anos, o empresário abriu o Tambaqui de Banda, assim com o próprio nome diz, especializado no peixe amazônico. O serviço, que já recebeu o apelido de “fast tambaqui”, consiste em facilitar a vida do cliente, que leva
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para casa de forma rápida uma tradicional banda de tambaqui, em embalagem personalizada. No começo funcionando apenas para delivery, o negócio cresceu e hoje Mário Valle também serve no local. “É um prato, além de muito saboroso, bem democrático. Dá para toda a família e as crianças apreciam sem medo das temidas espinhas. Um verdadeiro sucesso manauense”, conta o empresário, para quem Manaus terá uma ótima chance de mostrar seus dotes culinários durante a realização da Copa do Mundo, em 2014. A cidade é uma das subsedes do mundial do ano que vem. “A gastronomia terá uma importância muito grande nesse processo”, aposta Mário do Valle.
Ricos em proteínas e minerais
Enquanto o brasileiro consome, em média, 7 a 8 quilos de peixe por ano, o amazonense consome 35 quilos de peixe no período Fonte: “Dieta Amazônica - Saúde e Longevidade”
Além de terem credenciais de representantes da culinária local, os peixes também esbanjam saúde. Segundo a publicação “Dieta Amazônica – Saúde e Longevidade”, de autoria do dr. Euler Esteves Ribeiro (foto) e Ivânia Beatrice da Cruz, muitos dos peixes amazônicos são ricos em minerais como cálcio, ferro, zinco, sódio, potássio e selênio, além de elevado teor de proteínas e ácidos graxos importantes para a nossa saúde, como ômega 9 e ômega 3. No caso do tambaqui, ele é um dos mais ricos em proteína. Verdadeiro entusiasta e estudioso da chamada dieta amazônica, Euler Ribeiro enumera os benefícios dessa prática e aponta para a própria história de vida na hora de exaltar nossa culinária. Vítima de um infarto aos 33 anos, ele diz ser um sobrevivente, uma vez que a maioria dos casos de infarto nessa faixa etária é fatal. Depois do susto, o médico conta que decidiu mudar radicalmente seus hábitos, o que incluiu a ingestão de peixes todos os dias. “O que as pesquisas nutricionais nos revelaram é que os peixes têm proteínas de baixo peso molecular. O que isso significa? Tudo que você come é absorvido, é nutrição”, aponta o diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI/UEA). Do alto de seus 72 anos, Euler tem orgulho de dizer que está com todas as suas funções plenas em ordem. “O que eu posso dizer para vocês é: comam peixe!”. Pode deixar, doutor!
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CAMINHOS
do Norte e do Leste J
untas, elas somam aproximadamente 52% da população de Manaus, têm em comum o fato de serem as duas zonas mais populosas da cidade e, por esses e outros fatores, atraem cada vez mais investidores. O fato é: quem mora ou frequenta as zonas Nortes e Leste da capital acompanha o “boom” pelo qual essas duas áreas passaram nos últimos 20 anos. De um lado, no início dos anos de 1990, a imagem que se tinha da Zona Norte era de aglomerados habitacionais, que aos poucos iam sendo entregues pelo Estado – em meio ao verde de suas áreas de proteção ambiental. Era justamente devido a esse verde que eram comuns relatos de moradores da área se deparando com animais diversos. Ainda nessa mesma época, sair de outras zonas da cidade em direção aos bairros da Zona Norte era visto por muitos como “uma verdadeira viagem”. Seguindo no tempo, há a Zona Leste, erguida praticamente por ocupações. “Os únicos bairros que não surgiram de invasão nessa
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zona foram o São José, porque foi loteamento, e a Colina Novo Aleixo, porque começou sendo planejada”, lembra o engenheiro Hélcio Marques, que participou inclusive do processo de planejamento desse último. Quase 20 anos depois, as duas zonas são reconhecidas por novas características: a Norte virou a área que concentra a maior parte da população de Manaus. O último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010, contabilizava 501.055 pessoas. Sua população também dá mostras de melhoria da qualidade de vida, as casas aumentaram de tamanho, ganharam andares, além do próprio comércio, que toma conta da região.
Quem mora ou frequenta as zonas Nortes e Leste acompanha o “boom” pelo qual essas duas áreas passaram nos últimos 20 anos
Mudanças A realidade não é diferente na Zona Leste. Além de a área ser a segunda mais populosa de Manaus (com 447.946 moradores, segundo o mesmo censo), o comércio agora invadiu a região, que abriga inclusive três shoppings. Ou seja, aumentaram a população e, consequentemente, seu consumo. Esse aumento populacional é confirmado pelo IBGE nas duas zonas. Dados do instituto mostram que a Zona Norte teve um crescimento do número de seus moradores em 195,9% em 14 anos (os dados têm como base o período compreendido entre 1996 e 2010). No mesmo espaço de tempo, a Zona Leste teve seu percentual de habitantes elevado em 85,1%. E não foi só a população que cresceu. Uma rápida volta pelas duas zonas mostra que hoje elas têm um pouco de tudo. Tornaram-se autossuficientes ao ponto de seus moradores não precisarem mais recorrer a outras áreas da cidade para fazerem suas compras ou resolver os problemas do dia a dia.
O economista Rodemarck Castelo Branco vê o cenário como um processo de mudança pelo qual a geografia urbana de Manaus está passando. E, segundo ele, tanto a Zona Norte quanto a Leste são enormes potências de consumo. “A cidade de Manaus só pode crescer para essas duas zonas. Não é à toa que os investimentos estão ocorrendo para lá. A Norte vai ganhar o shopping do grupo DB (Norte Shopping Manaus). A Leste já tinha o UAI Shopping, recebeu o Cidade Leste e agora acompanha a reforma pela qual passa o Shopping Grande Circular”, explica. Outra área da Zona Norte que vem despertando a atenção, principalmente no aspecto da moradia, é a avenida das Torres, no trecho compreendido desse lado norte da cidade, onde houve uma valorização dos terrenos. “Tinha área da Cidade Nova, no trecho dessa avenida, que antes custava R$ 15 mil, e hoje está em torno de R$ 100 mil só o terreno”, justifica o corretor de imóveis André Silveira.
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Bairro planejado Além de todo o desenvolvimento pelo qual passa a Zona Leste de Manaus, a área dá lugar ainda à construção do primeiro bairro inteiramente planejado da cidade, inclusive com sistema de saneamento, esgoto e urbanização. As moradias estão sendo construídas na rua Brigadeiro Hilário Gurjão, no Jorge Teixeira 3, que passa por uma verdadeira transformação, por meio do Programa de Desenvolvimento Urbano e Inclusão Socioambiental de Manaus (Prourbis). Os antigos casebres darão lugar a um grande conjunto habitacional. Ainda neste mês de outubro serão entregues, como parte das comemorações do aniversário da cidade, as primeiras 88 unidades, que correspondem à primeira fase do programa. No total, 204 famílias irão morar “de forma planejada”. A proposta da Prefeitura de Manaus é inserir essas pessoas em um complexo urbanizado que ofereça estrutura e qualidade de vida. Tanto que as obras de urbanização ao redor das unidades habitacionais contemplam a construção de cal-
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O complexo viário Luiz Veiga Soares e a avenida Nathan Xavier de Albuquerque são modelos de modernidade
çadas, jardins e instalação de playgrounds, além da pavimentação das ruas. As outras vias, que já estão asfaltadas, receberão recapeamento. Ainda para o Jorge Teixeira, está programada a construção de três praças – arborizadas e compostas de áreas de circulação, lazer e descanso. Outro programa que vai acelerar ainda mais o desenvolvimento da Zona Leste e, com isso, atrair mais investidores à área é o Corredor Ecológico do Mindu, que ligará a avenida Autaz-Mirim (Grande Circular), Zona Leste, à avenida das Torres, na Zona Centro-Sul. O projeto inclui a desapropriação de 1,2 mil casas e vai dar nova “cara” à Zona Leste.
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TALENTOS do esporte O
ano de 2013 é, sem dúvida, de êxito para o esporte de Manaus. A capital amazonense nunca viu tantos de seus talentos brilharem pelo país e pelo mundo. As conquistas estão em diversas modalidades, como na ginástica, atletismo, natação, tênis de mesa, judô e nas lutas, incluindo o MMA (Mixed Martial Arts). Esporte que caiu no gosto dos amazonenses, só o MMA tem como representantes locais em grandes disputas Ronaldo Jacaré, Ronnys Torres, Marcos Loro, Diego Brandão “Ceará”, Bibiano Fernandes, Adriano Martins e o campeão mundial dos penas José Aldo. Inclusive, no mês de agosto, em Manaus, Aldo recebeu a chave da cidade das mãos do prefeito Arthur Virgílio Neto. José Aldo é exemplo da garra dos atletas manauenses. Com sua persistência, ele conseguiu chegar ao topo da carreira. Mesmo após ter deixado Manaus para tentar a vida no Rio de Janeiro, onde treina pela academia Nova União, Aldo nunca esqueceu suas raízes e sempre procura falar o nome da capital amazonense no final de suas lutas. Ele é um dos atletas patrocinados pela prefeitura.
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O secretário municipal de Juventude, Esporte e Lazer Fabrício Lima, lembrou que os resultados alcançados pelos atletas de Manaus são, primeiramente, devido ao mérito individual. “Nós também acreditamos e valorizamos cada atleta. Até junho do ano que vem, queremos passar o número de contemplados com o Bolsa Atleta de 24 para 50. Sabemos que o valor é pouco para atletas do nível deles, mas da mesma forma, sabemos que esse dinheiro ajuda a evitar gastos que antes eram por conta deles e de suas famílias”. O Bolsa Atleta é um programa federal, que também inspirou prefeituras pelo país, como a de Manaus. Na capital amazonense, os contemplados pelo programa recebem o benefício no valor de R$ 4 mil. “Temos atletas que são exceções e são trabalhados de outra forma. A ginasta Bianca Maia, por exemplo, está sendo enquadrada como garota-propaganda da Prefeitura de Manaus e vai receber patrocínio”, completa Fabrício. E não é à toa! Bianca Maia é a única amazonense até então confirmada nas Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. Ela começou a praticar ginástica aos 5 anos e há 3 anos faz parte da equipe brasileira que vem se destacando no cenário internacional.
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Do Alvorada para o mundo Entre os atletas de Manaus que já conquistaram seus espaços pelo Brasil e pelo mundo, o peso pena do UFC (Ultimate Fighting Championship) José Aldo (foto) é, sem dúvida, o maior representante. Criado no Alvorada, bairro da Zona Centro-Oeste da cidade, ele é um dos responsáveis por ter despertado nos amazonenses o gosto pelas transmissões do UFC, que ocorrem por todo o mundo. Nos dias em que Aldo luta, a comunidade ganha os holofotes. Para prestigiar a prata da casa, os moradores colocam telões nas ruas e se reúnem junto à família e amigos de Aldo. “Hoje nós moramos na Cidade Nova, Zona Norte, mas sempre assistimos às lutas do meu irmão, no Alvorada. A minha mãe, Rocilene Souza, prefere
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não ver. Ela fica rezando até o combate acabar. Com tantas vitórias, sabemos que ele se tornou um orgulho para Manaus”, comenta a irmã do lutador José Aldo, Josi Oliveira. Aliás, Aldo ganhou tamanha notoriedade que vai virar tema do Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Alvorada no Carnaval do ano que vem, quando terá sua história de vida contada no sambódromo de Manaus. O faixa preta de jiu-jítsu, Márcio Pontes, 36, disse que em meio a tantas conquistas, José Aldo não perdeu o contato com as pessoas que acompanharam o início de sua carreira. “Ele também não se limitou ao jiu-jítsu, aprendeu o judô, depois o muay-thai. Tornou-se um atleta completo”.
Especialista em vitórias O velocista Sandro Viana (foto), especialista em provas de 100m e 200m de atletismo, escolheu Manaus como o lugar onde deveria colocar em prática tudo que aprendeu nas pistas de atletismo pelo mundo. Ele dá aula a jovens integrantes do projeto Eljinn e, entre seus sonhos, está em ver, no futuro, esses jovens brilhando nas pistas de atletismo do mundo. Hoje, Sandro finaliza um período de três meses de pausa que deu na carreira a fim de se recuperar de uma tendinite. “Eu estava fazendo tratamento e assim mesmo treinando. Foi quando o médico me disse que eu tinha de me afastar por um período, caso contrário não melhoraria de fato. Então, fiz minha última
competição em 19 de julho deste ano. Parei, mas estou voltando para as pistas”, avisa o atleta, ressaltando que o primeiro compromisso é o Aberto de São Paulo e o segundo uma competição internacional na Venezuela, no fim do ano. Recebendo hoje o Bolsa Atleta pela Prefeitura de Manaus, Sandro opinou sobre a importância do benefício não só na vida dele, como na de todos os competidores, principalmente aqueles que já estão em fase olímpica. “Na categoria olímpica as necessidades são extremas, pois carregamos a responsabilidade de sermos atletas que podem mudar a história, a vida de um país”.
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O TRĂ‚NSITO nosso de cada dia
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a página mantida pelo próprio Instituto Municipal de Engenharia e Fiscalização do Trânsito de Manaus (Manaustrans) no Facebook, a mensagem é clara: Harmonia e respeito no trânsito fazem efeito. Com este pensamento, o trabalho para que a cidade viva dias melhores no tráfego é feito de forma incansável e ininterrupta pela Prefeitura de Manaus. Apenas este ano, o Manaustrans, em parceria com a Superintendência Municipal de Transportes Urbanos (SMTU), já desenvolveu campanhas para sensibilizar os motoristas de veículos quanto à faixa de pedestres; condutores de motocicletas que não utilizam capacete; pedestres, para que façam travessias nas ruas da cidade de forma segura; motoristas de veículos pesados, como caminhões e carretas; e para que motoristas de ônibus tenham mais prudência, no trânsito e trate melhor os usuários. Segundo o diretor-presidente, Paulo Henrique Martins, a educação é a base de tudo no desenvolvimento do trânsito de forma harmoniosa. “É uma luta árdua e que fazemos de forma diária, como deve ser. Vemos várias barbaridades no trânsito. Se conseguirmos conscientizar as pessoas que o que é feito todos os dias quase que forma automática está errado, teremos menos dificuldades em organizar o tráfego urbano”, assinala.
Este ano foi criada a zona de restrição de circulação de carretas no Centro, que proíbe carretas nas principais ruas da região central da cidade de 2ª à 6ª feira, de 6h às 20h e no sábado de 6h às 17h. Esta estratégia será estendida para outras zonas de Manaus. São ideias que surgem de forma planejada e discutidas com os 400 agentes que hoje a Prefeitura possui. Em planos para que o trânsito continue fluindo, nas avenidas principais da cidade foi aumentada a fiscalização. O objetivo é impedir que em vias como Djalma Batista, Constantino Nery ou André Araújo, motoristas utilizem as guias laterais como estacionamento. São monitoramentos constantes, uma vez que, mesmo alertados das proibições, alguns veículos, rotineiramente, continuam sendo flagrados cometendo as irregularidades. A SMTU também vem trabalhando para humanizar o trânsito da cidade. Em parceria com as empresas de ônibus, está oferecendo cursos de qualificação para motoristas e cobradores que atuam no transporte coletivo de Manaus. Os profissionais passam por reciclagem e aprendem a tratar com bons modos os usuários, além de receberem lições de como operar a plataforma para o acesso de cadeirantes. Iniciativas que fazem a diferença ao longo do ano.
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Parceria As parcerias com a população são fundamentais. Além do canal do Manaustrans no Twitter e no Facebook, iniciativas que vêm da sociedade, como o canal Trânsito Manaus, são de fundamental importância para o cotidiano das ruas. O idealizar do meio, Eduardo Leal, 26, disse que decidiu tomar alguma iniciativa neste campo em 2009, quando ficou duas horas preso em um engarrafamento. “Na hora, eu ficava imaginando quantas pessoas gostariam de saber que naquele dia estava ocorrendo uma manifestação e pensar em destinos alternativos. Em uma mesa de um bar, com a amiga Rebecah Keyce, fundamos o Trânsito Manaus, que usa as redes sociais para alertar os motoristas”, disse. Assim como o @Manaustrans, o @TransitoManaus informa durante todo o dia quais as melhores rotas e acidentes para evitar que os motoristas fiquem presos no tráfego. Para se ter uma ideia, a frota que antes era de 348 mil em 2008, passou para 555 mil em maio de 2013. Um número que exige, além e colaboração, obras por parte do poder público. Já foram construídos recuos para ônibus, retornos específicos e alargamento de pistas. Mas o trabalho não para. A harmonia e respeito no trânsito virão do Executivo e da sociedade. “Fiquei preso no trânsito porque estava ocorrendo uma manifestação estudantil justamente no meu trajeto. Na hora, eu ficava imaginando quantas pessoas, assim como eu, não gostariam de saber que estava acontecendo aquilo e, assim, essas mesmas pessoas talvez pudessem pensar em novas rotas para chegarem a seus destinos”, lembra Luiz Eduardo.
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AÇÕES
que transformam vidas
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Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (Semasdh) ampliou o alcance das campanhas de enfrentamento à exploração, violência ou abuso sexual contra crianças e adolescentes, por meio de uma atuação decisiva de suas equipes em todos os grandes eventos que movimentaram a cidade, neste ano. Usando uma gama de recursos publicitários, como faixas levadas pelos garis que atuaram no Carnaval, “bandeiraços” nos espaços de maior concentração urbana, atingindo todas as zonas da cidade, a Semasdh transformou essas ações em uma luta constante. Desde o lançamento da Campanha Nacional de Enfrentamento à Violência de Crianças e Adolescentes no Carnaval 2013, onde foram abordadas mais de 550 mil pessoas, até a participação na operação “Parintins”, promovida pela Marinha do Brasil – para fiscalizar os barcos que se dirigiam ao festival folclórico –, todas as ações foram planejadas para conscientizar a população a fiscalizar e proteger crianças e adolescentes.
Destaca-se também a atuação no atendimento aos usuários do Sistema Único da Assistência Social (Suas), vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Social, Combate à Fome (MDS) e executado pela Prefeitura de Manaus, por meio da Semasdh. Existe, atualmente, um acumulado de 237,2 mil famílias inseridas no CadÚnico, o cadastro único do governo federal para programas sociais, ou seja, um aumento de 23,4 mil famílias cadastradas. Desse total, 128 mil famílias recebem regularmente o “Bolsa Família Federal” – as demais estão com cadastro em análise pelo governo federal. Dessas, 48,2 mil recebem também o benefício do “Bolsa Família Municipal Consorciada”, custeado pelo Município para auxiliar no combate à extrema pobreza das famílias. Além disso, a Semasdh também atua para ampliar a base de cadastro do CadÚnico, com a inclusão de mais de 2,6 mil famílias de grupos populacionais e específicos, como indígenas, catadores de rua e agricultores residentes em Manaus. Com isso, passam a ter sua cidadania resgatada e acesso a programas sociais do governo federal.
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PROJETOS
para cultura e turismo
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A
s comemorações pela passagem do aniversário de Manaus, neste ano, se misturaram ao ritmo intenso de preparação da cidade para receber a Copa do Mundo em 2014. Pelas ruas, é possível ver uma cidade sendo requalificada, com modificações que passam pela iluminação pública, paisagismo, calçadas, ampliação de ruas, entre muitos outros benefícios à população e aos turistas. Segundo o diretor-presidente da Fundação Municipal de Turismo (ManausCult), Bernardo Monteiro de Paula, são muitos os motivos para celebrar os 344 anos da capital do Amazonas. “Em primeiro lugar, unimos aqui as ações da Copa do Mundo, turismo e cultura. Não tínhamos muito tempo, apenas 18 meses; então, precisamos montar um planejamento estratégico. Começamos, portanto, o trabalho de requalificação da cidade”, conta. Monteiro de Paula destaca o trabalho no quadrilátero da Copa (aeroporto, arena, Centro e Ponta Negra) como essencial para as melhorias da cidade e para a recepção aos turistas. A atenção dada às calçadas e à drenagem, com asfalto de qualidade, é colocada como prioridade para a gestão municipal. Outro destaque das ações que vêm sendo desenvolvidas pela Prefeitura é a reforma das plataformas do Sistema Expresso, para serem
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usadas quando o BRS (Bus Rapid System) estiver em operação, em até 3 anos. “Mais de 200 mil pessoas passam pelas plataformas diariamente e não havia manutenção há mais de 8 anos”, ressalta o diretor-presidente.
Qualificação Outro presente que Manaus está ganhando neste momento de preparação para a Copa do Mundo é a qualificação de profissionais que lidarão diretamente com o público. São guardas de trânsito, agentes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), entre outros profissionais. “Estamos pensando em ter um quadro de servidores aptos a enxergar o turismo como desenvolvimento econômico. O prefeito Arthur Neto lançou o Bolsa Idiomas, que está se expandindo. Inicialmente, atendemos feirantes e recepcionistas de hotel”, informa. Uma pesquisa da Fecomércio, segundo Monteiro de Paula, indicou que 92% dos turistas elegem a hospitalidade de Manaus como diferencial. Para o presidente, um povo que recebe bem e tem as belezas naturais do Amazonas é vocacionado para o turismo. “Estamos trabalhando para que Manaus possa se consolidar como destino turístico mundial”, destaca.
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LUGARES
QUE O DIA
não me deixa ver A
o caminhar todos os dias pelas ruas do centro de Manaus, o multiartista João Fernandes observa atento às mudanças do lugar que escolheu para viver, há mais de 10 anos, quando resolveu trocar o Ceará pelo Amazonas. A partir de suas observações e inquietações, João resolveu tocar o projeto Lugares que o dia não me deixa ver, assinado pela Companhia de Ideias, em parceria com o Ponto de Cultura Casarão de Ideias. O objetivo era despertar o interesse coletivo para a preservação e revitalização do patrimônio histórico da cidade, por meio do trabalho de iluminação cênica e intervenções artísticas em frente a construções abandonadas e com valor histórico na capital. Lugares como o prédio da antiga Santa Casa de Misericórdia, a praça da Matriz, além de casarões antigos localizados nas avenidas Eduardo Ribeiro, Joaquim Nabuco, Epaminondas e na rua Ferreira Pena foram alvo das ações do projeto, que neste ano chegou a sua segunda edição. “A escolha dos lugares partiu do percurso diário que faço pelo Centro e meu olhar sobre o patrimônio público de Manaus”, afirma João Fernandes.
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Resposta A iniciativa já deu bons frutos, segundo o organizador. “No ano passado, em nossa primeira edição, iluminamos o Relógio Municipal de Manaus. Neste ano, para nossa grata surpresa, a prefeitura deu continuidade à ideia. Vimos que conseguimos mexer com muita gente, obtendo uma resposta maravilhosa nas redes sociais e com o contato direto com os próprios moradores, que chegavam até a gente para contar histórias dos lugares”, observa. João Fernandes também destaca importantes iniciativas da Prefeitura de Manaus como aliadas nesse processo, dando como exemplos a própria criação da Secretaria Municipal do Centro (Semc) pelo prefeito Arthur Neto e o trabalho de revitalização do Mercado Municipal Adolpho Lisboa, o mercadão. “Agora não basta apenas o gestor público fazer a sua parte, a população tem de abraçar essa ideia, não depredando, conservando e participando das ações culturais que venham a ser realizadas nesses novos espaços”, destaca o multiartista. Segundo o idealizador do projeto Lugares que o dia não me deixa ver, grandes cidades do mundo já fazem isso com bastante sucesso, ou seja, agregam sustentabilidade financeira à preservação de seu patrimônio histórico. “Potencial arquitetônico temos de sobra. Temos de contaminar as pessoas com mais sentimento manauense, restabelecer o amor pela cidade”, incentiva João Fernandes.
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VERDE
que te quero verde L
ocais ambientalmente preservados oferecem muito além do que uma bela paisagem. Agregam uma importante variedade de recursos naturais decisivos para a vida de toda a população. Nesse sentido, iniciativas como a criação de áreas protegidas e o fortalecimento da arborização urbana têm sido fundamentais para que Manaus acomode qualitativamente os seus moradores. A capital do Amazonas, conforme explica a secretária municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Kátia Schweickardt, sofre grande pressão. Por isso, fazer gestão ambiental implica em um grande trabalho educativo. “As áreas verdes são vistas como terras de ninguém. Não são vistas como um bem público importante para a qualidade ambiental da cidade. É muito importante avançarmos na criação de mais espaços, parques e áreas protegidas. É isso que a cidade precisa ter”. Atualmente, as ações municipais estão centradas na implementação das áreas existentes, como esclarece o diretor de áreas protegidas da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), Sinomar Fonseca. “Estamos trabalhando com atividades de gestão de unidades
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Manaus registra 13 áreas protegidas municipais, sendo dez unidades de conservação, dois corredores ecológicos e um jardim botânico
de conservação dentro das áreas protegidas. Recentemente, estamos trabalhando na proposta de criação do Parque Municipal da Cachoeira Alta, na região do Tarumã, ao longo da avenida do Turismo, com uma área de mais de cem hectares”. Sobre o andamento dessa iniciativa, ele conta que envolve informações fundiárias da área. “O trabalho de criar espaços protegidos exige levantamento de informações, porque a dinâmica dentro do ambiente urbano é grande. É preciso levantar todas as Áreas de Proteção Permanente, áreas florestadas, verdes, que são de conectividade, ou seja, que vão ser ligadas ou que estão ligadas, que precisaremos manter, principalmente, para a fauna existente. É um processo que precisa de mobilização e envolvimento social”, diz Fonseca.
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Diagnóstico No início do ano, foi realizado um diagnóstico socioambiental do local para identificar o que as pessoas esperavam que fosse feito para preservar a área. “Ali, há uma cachoeira de aproximadamente 14 metros de altura. No entorno, estão instalados condomínios e loteamentos. No momento, estamos no processo de avaliação do contexto fundiário e socioambiental da área”, informa Sinomar. Manaus registra 13 áreas protegidas municipais, sendo 10 unidades de conservação, dois corredores ecológicos e um jardim botânico. Sobre a importância desses locais, Fonseca explica alguns aspectos. “Além de agregarem, preservarem e protegerem o ambiente natural, mantendo a biodiversidade local, fauna e flora dentro desses ambientes, há também a questão
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cultural que esses espaços protegidos mantêm. Acima de tudo, diz respeito à proteção da biodiversidade e valorização da manutenção da relação homem-natureza”. As áreas protegidas, de acordo com Sinomar, desempenham grande importância, sendo a educação ambiental ferramenta chave na conservação. “São espaços naturais para onde é possível levar a prática da educação ambiental. Nesses locais podem ser feitas oficinas, caminhadas, mostrar aos alunos, por exemplo, uma espécie de características peculiares de forma diferente. A gente precisa desses espaços. Muito além da existência como espaço territorial, esses locais agregam a questão cultural, social, a memória e a vida das pessoas”.
Arborização como iniciativa Arborizar um centro urbano como Manaus também corresponde a uma atividade fundamental, uma vez que promove a melhoria na qualidade de vida das pessoas, proporciona redução de temperatura, maior ventilação nos ambientes, sombreamento, embelezamento. Em linhas gerais, a valorização dos espaços. Sobre o assunto, a secretária municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Kátia Schweickardt, destaca que o órgão tem feito um plantio expressivo, mas aponta um fato preocupante. “As pessoas ainda usam galhos de árvores para sinalizar quando estão com carro quebrado na rua. Há pessoas que acham que a árvore está atrapalhando a visibilidade de seu comércio, em vez de integrar o seu projeto e usá-la na frente da loja como parte de sua marca. Essa mentalidade é que a gente precisa reconstruir”, diz Kátia. Há, de acordo com a titular da Semmas, uma nova fase de ações. “Estamos, agora, em uma nova empreitada, numa relação muito próxima entre a Semmas e o Instituto Municipal de Ordem Social e Planejamento Urbano (Implurb) para a revitalização de grandes eixos viários da cidade, como a nova avenida Djalma Batista, ampliando as calçadas para permitir o recebimento de árvores”. Até o dia 21 de setembro deste ano, o município realizou o plantio de 33.728 mudas na cidade. Destas, 2.707 são de espécies arbóreas e 31.021 ornamentais. A opção da secretaria foi intensificar o trabalho de manejo da arborização urbana. Essa intensificação consistiu em dar maior atenção nos tratos culturais e fitossanitários da arborização consolidada da cidade, realizando – em parceria com a Semulsp – a autorização e supervisão da execução dos serviços de poda de manutenção, levantamento e rebaixamento de
copa, retirada de erva-de-passarinho e avaliação de risco de queda em aproximadamente 5,5 mil árvores existentes em diversas áreas da cidade. O trabalho proporcionou uma redução significativa de ocorrências de queda de árvores, principalmente as mais antigas, da região do Centro. O plantio foi diversificado. Escolas, creches, praças, canteiros centrais, ruas, parques, instituições públicas e mata ciliar receberam mudas plantadas pela Prefeitura de Manaus, via Semmas. Foram feitos também procedimentos de mais de 30 transplantes que ajudaram a salvar diversos espécimes de grande, médio e pequeno portes. Quem quiser contribuir nesse processo, especialistas deixam as dicas: proteger, cuidar, deixar áreas permeáveis arborizadas nos seus projetos de construção, não quebrar galhos para sinalização de pane veicular e solicitar autorização para procedimentos de corte e poda.
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TUPÉ CONEXÃO ENTRE
metrópole e floresta
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ouco mais de 20 minutos de barco pelo rio Negro separam a zona urbana de um destino que serve como exemplo de que turismo e conservação ambiental podem conviver em harmonia. Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé (RDS Tupé) – unidade de conservação municipal – ações que envolvem educação e inclusão socioambiental têm sido fundamentais para garantir que o local se mantenha preservado e continue a ser uma importante alternativa de turismo em temporada de verão amazônico. Distribuídos em seis comunidades – Tatu, Central, Livramento, Julião, Agrovila e São João do Tupé – os cinco mil comunitários têm como atividades a agricultura de subsistência, criação de pequenos animais e, principalmente, o turismo comunitário. Há 20 anos, Nilce Pereira reside na comunidade São João do Tupé. Ela é uma das 12 permissionárias cadastradas pela prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), aptas a trabalhar com turismo na região.
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Com a parceria da família, Nilce vende refeições aos visitantes, principalmente nos finais de semana. “Domingo é o dia de maior movimento. A gente respeita as regras de proteção como não sujar, não fazer fogo e cuidar do lixo”, diz a permissionária, que foi uma das primeiras a habitar a comunidade. De acordo com a Semmas, o Tupé já recebeu 2 mil pessoas ao longo de um final de semana em alta temporada. Hoje, 126 barcos estão cadastrados junto à secretaria para levar turistas. As embarcações de grande porte saem da Manaus Moderna, no Centro, e as de menor tamanho costumam vir de pontos como a Marina do David, no Tarumã. Outra pessoa que não esconde a alegria em morar no Tupé é o artesão Raimundo Araújo Pantoja, que vive por ali há 13 anos. Aos “marinheiros de primeira viagem” que forem ao Tupé em busca de uma de suas peças de fibra de arumã, ele dá a dica: “Se disserem apenas Araújo, ninguém vai saber. Todos aqui me chamam de ‘Marujo’”, brinca ele, que ainda criança, na cidade paraense de Breves, aprendeu com os avós a fazer da fibra de arumã a sua arte.
Educação
Raimundo Pantoja, mais conhecido como “Marujo”, aprendeu com os avós a fazer da fibra de arumã a sua arte
Nas áreas rurais do Amazonas, as escolas costumam funcionar como importante referência dentro das comunidades. No caso da escola municipal São João, na comunidade de mesmo nome, não é diferente. “A escola é um eixo em torno do qual gira toda a vida da comunidade. O professor, o diretor, são as principais referências nas comunidades”, observa a secretária da Semmas, Kátia Schweickardt. Recentemente reformada, a unidade de ensino voltada à educação infantil foi contemplada com a construção de um telecentro. Hoje, de acordo com a diretora, Lucilene Ribeiro, 83 alunos estão matriculados. Uma das curiosidades do local é o calendário escolar diferenciado. “Por conta da época da seca, o período letivo ocorre entre os meses de janeiro e outubro. Trata-se de um calendário especial”, explica a diretora.
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Cultura indígena Além das praias – que costumam aparecer em meados de julho – um dos principais atrativos do Tupé são os indígenas situados na comunidade São João do Tupé e Livramento. Chefe de uma das famílias da etnia dessana, Kissibi-Kumo (Raimundo Vaz, na língua portuguesa) mostra um pouco de sua cultura aos visitantes. “Uma de nossas danças é sobre a época de prosperidade, de muita fruta. Isso era uma diversão entre as nossas comunidades indígenas do Alto Rio Negro, sempre convidando uns aos outros para celebrar a fartura”, explica o curandeiro. “Todo o conhecimento que passamos para nossos filhos e netos é por meio verbal, um trabalho de gerações que continua, para que não esqueçam nossa cultura, nossa história”, acrescenta Raimundo. As tribos indígenas do Tupé também recebem visitantes focados no aperfeiçoamento profissional. É o caso dos alunos do 2º período de administração do Uninorte. “O objetivo dessa atividade
interdisciplinar é um olhar sobre o multiculturalismo, a sociodiversidade, a inclusão e a exclusão”, esclarece a professora Olinda Marinho. Outra iniciativa que existe há 17 anos é o Programa Tupé, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), cujos professores e estudantes (principalmente de engenharia, design, arquitetura, geografia, computação e artes), em parceria com moradores e lideranças da reserva, Semmas, Semed e outras instituições – Inpa, Iphan, Museu Amazônico, Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Museu Emílio Goeldi – desenvolvem estudos, projetos e ações no mapeamento da reserva, na infraestrutura e gestão ambiental da praia do Tupé. Também atuam na questão do saneamento básico das comunidades, na agenda ambiental das escolas públicas locais e, desde 2010, também em arqueologia. “Uma de nossas metas é valorizar e trabalhar as culturas da reserva”, diz a professora da Ufam, Ellen de Andrade.
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Importância ambiental Instituído como Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Manaus em 2005, o Tupé possui estratégica importância ambiental, como explica a secretária municipal de Meio Ambiente, Kátia Schweickardt. “Acompanho o crescimento e a pressão que a cidade de Manaus faz sobre a floresta. A existência, dentro do âmbito do município, de uma reserva desse porte, situada dentro da bacia do rio Negro, no mosaico de áreas protegidas, tem um significado muito importante para a conscientização das pessoas que moram em Manaus e visitam a cidade. Ela conecta uma metrópole com a floresta”. Ainda segundo a secretária, a reserva faz um link importante do município com estratégias de conservações estadual e federal. “Se pensarmos nas estratégias de conservação e na importância das áreas protegidas para um turismo de base sustentável, responsável, voltado para as questões ambientais, a RDS do Tupé cumpre bem esse papel. Ela é de fácil acesso, tem os habitantes das comunidades tradicionais que moram lá há bastante tempo e estão integradas com esse ambiente”, pontua a secretária.
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ENFIM, A NOSSA
Ponta Negra
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os pés, a variedade de estilos e modelos de calçados é grande: tênis coloridos ou menos chamativos, chinelos de dedo e até sapatos fechados. As roupas, geralmente, são do tipo confortável, semelhantes àquelas usadas em academias de ginástica. No caso de uma noite para apreciar um show no anfiteatro, talvez um modelo um pouco mais arrumado. Mas há quem busque a praia para um refrescante mergulho no rio Negro. Nesse caso, o mais adequado é mesmo uma tradicional roupa de banho. Destino que a cada semana agrega novos moradores e turistas que chegam a Manaus, o parque da Ponta Negra se tornou referência não somente na prática esportiva como de gastronomia e lazer no extremo oeste da capital do Amazonas. Aos domingos, das 7h até as 15h, período em que o trecho de 2,5 quilômetros de uma das pistas de acesso é liberado para pedestres, não é difícil encontrar pessoas anônimas – ou também conhecidas – empenhadas em uma benéfica caminhada, como o jornalista Eduardo Monteiro de Paula, o Dudu (foto ao lado). “A Ponta Negra sempre foi referência para o esporte no Amazonas, em especial da cidade de Manaus. Andou uma época meio esquecida, mas hoje é o maior centro de lazer para dois milhões de pessoas que moram na nossa cidade”, observa Dudu. Há alguns meses, o mesmo trecho da pista passou a ser liberado às quartas-feiras pela prefeitura, das 17h às 22h, fato que aumentou ainda mais a procura pela prática de esporte e lazer naquela localidade.
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Entre aqueles que não se incomodam em levantar cedo para aproveitar o espaço público oferecido à população, o médico Fabiliano Rodrigues conta que a revitalização da área foi decisiva. “Antes, vinha com a minha família para cá, mas era um pouco complicado. Tudo muito amontoado, com má distribuição dos espaços. Agora estou frequentando com mais assiduidade”, recorda. Quem faz do esporte a sua profissão também comemora a evolução por que passou a Ponta Negra. É o caso da profissional de educação física Elenice Belichar. “Manaus precisava disso, desse espaço não só para academia, mas para aproveitar o visual lindo do rio. A segurança melhorou muito e o local está muito bem sinalizado”, destaca.
Um local seguro Quanto à segurança dos banhistas na praia (perenizada, com 900 metros de extensão), a presença de salva-vidas do Corpo de Bombeiros tem sido fundamental. “Nossa avaliação é de um trabalho muito positivo, com o público respeitando as normas de uso do local”, diz o responsável pelos bombeiros da praia, o tenente Marco Antônio Gama. Em média, dez profissionais atuam nos dias de semana. Aos sábados e domingos, a quantidade sobe para uma média de 20 a 30 salva-vidas, podendo chegar a 40 profissionais, que ficam distribuídos em pontos estratégicos da praia: cadeirões, jet ski, pranchões e embarcações. Outro aspecto que define bem o parque é a democratização do espaço. “Acho isso ótimo. Nem todo mundo tem dinheiro para aquela coisa específica de ir para uma academia. E aqui você encontra todo mundo. Domingo é confraternização. É a hora de encontrar pessoas que não víamos há tanto tempo porque não saíam de casa por medo, por não terem um lugar para fazer isso, e agora têm”, completa Belichar.
Destino que a cada semana agrega novos moradores e turistas, a Ponta Negra se tornou referência
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Segunda etapa vem aí A administração da Ponta Negra está sob a coordenação geral da prefeitura, por meio do Instituto Municipal de Ordem Social e Planejamento Urbano, Implurb. Conforme explica o diretor-presidente do órgão, Roberto Moita, o bom funcionamento da área é resultado da parceria com as secretarias municipais de Esporte, Cultura, Limpeza, Saúde, Meio Ambiente, Guarda Municipal e governo do Estado (Polícia Militar e Corpo de Bombeiros). Sobre as novidades que estão por vir, o diretor-presidente do Implurb destaca que, no dia 24 de dezembro, a população terá novas razões para celebrar. Isso porque essa é a data da inauguração da segunda etapa de revitalização, quando o público terá à disposição duas novas quadras de
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vôlei de praia com arquibancada ao redor, feira de artesanato, extensão do calçadão ampliada até a avenida do Turismo, cinco novos restaurantes e pelo menos seis quiosques de alimentação. “A Ponta Negra é um grande sucesso. O número de pessoas que a frequentam é grande. É uma referência de destino de lazer e alimentação. O modelo da Ponta Negra foi bastante aceito. Moradores de todos os bairros de Manaus se deslocam para lá. Isso demonstra até mesmo a necessidade de que a gente dispare ações de planejamento de parques em outras regiões de Manaus para tornar mais confortável esse acesso a espaços que tenham estrutura e lazer público, gratuito e com qualidade”, finaliza Moita.
Qualidade de vida Distância não é empecilho para aproveitar o local. É o que conta o instrutor de autoescola Nicolas da Mota Santos, que mora na Cidade Nova e acorda às 5h30 em pleno domingo para se exercitar na Ponta Negra. Ao lado da esposa Bruna Brasil e da filha de apenas 5 anos, Nicole Cristina, ele costuma ir à Ponta Negra em busca de qualidade de vida. “Também venho aos sábados, à noite, aproveitar a parte de alimentação e lazer que temos por aqui”, diz Nicolas. Atualmente, há dez quiosques com cardápios variados, que vão desde a culinária oriental, passando pela regional, sorveteria, choperia, uma loja de conveniência e até versões de comida fast-food. Sem falar das opções de churros, pipoca, algodão-doce e a saudável água de coco. Shows de diferentes estilos musicais também já lotaram o anfiteatro, cuja capacidade é de 3 mil pessoas em pé. Em um dia de grande movimento, como esclarece o secretário municipal de Juventude, Esporte e Lazer Fabrício Lima, o parque já recebeu 5 mil pessoas, distribuídas na área do calçadão, praia e a faixa da pista liberada para pedestres, ciclistas, patinadores, skatistas, além de outras modalidades. “A Ponta Negra é o grande símbolo da atividade esportiva de Manaus. Resgatá-la é resgatar um símbolo da cidade. É o encontro de várias tribos”, diz Lima.
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NOSSA VONTADE de trabalhar não tem limites
A
s lembranças da infância invadem o pensamento do prefeito Arthur Virgílio Neto. Época na qual uma simples ida do centro da cidade, na avenida Eduardo Ribeiro, onde ele morava, ou até um balneário localizado em frente ao atual Clube Sírio Libanês, na avenida Constantino Nery, tornava-se uma verdadeira viagem de aventura e diversão. “A noção de tempo era outra. Saíamos rumo a esse balneário, no sábado, depois dos compromissos na igreja. Lembro que meu tio tinha um jipe, que enchia de crianças e até cachorros. Minha tia fazia peixe na folha de bananeira. Curtia muito, tomava banho naquela água gelada e límpida, jogava vôlei. Era uma alegria”, recorda. Essas e outras lembranças tão marcantes na memória do prefeito vêm à tona quando falamos do aniversário de Manaus, que este ano festeja 344 anos. Em seu segundo mandato como prefeito da capital do Amazonas, Arthur Neto enfrenta novos e grandes desafios, típicos
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Em entrevista, o prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto fala sobre a sua gestão e os projetos para a cidade
de quem administra uma metrópole com quase dois milhões de habitantes. Missão que ele diz encarar com determinação e planejamento. A ideia é resgatar a autoestima do povo amazonense por meio de um trabalho sério, que inclui a solução de problemas crônicos como o da mobilidade urbana e a recuperação do centro histórico da cidade. Além disso, o prefeito fala com muito orgulho, na entrevista a seguir, de algumas metas estabelecidas no início de seu governo e que serão concluídas ainda neste ano: as reformas do mercado Adolpho Lisboa e da Ponta Negra.
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Quais os principais desafios enfrentados pelo senhor nesses primeiros meses de mandato? Todo mundo achava impossível ter acordo com os mototaxistas e o acordo saiu. Estamos na fase licitatória do processo. A mesma coisa com os ônibus alternativos, que vão virar alimentadores do sistema, agora com um número mais limitado. O executivo será executivo de verdade, com mais de uma porta para facilitar a entrada e a saída de passageiros e não atrapalhar o trânsito. Faço qualquer coisa para aliviar o trânsito da cidade. Por falar em sistema de transporte público, como vai funcionar o chamado Bus Rapid Service (BRS), que irá utilizar a estrutura do antigo Sistema Expresso? Por não termos tempo de fazer o BRT (Bus Rapid Transit), que seria o ideal, estamos avançando com o projeto do BRS. Trata-se de um sistema eficaz: os ônibus terão corredores exclusivos para circular de um ponto a outro. Os táxis poderão circular nessa faixa, contanto que estejam com passageiros. Enfim, quero melhorar a velocidade média dos ônibus e o nosso Índice de Passageiro por Quilômetro (IPK), atualmente em 1,51, o que é muito baixo. Por isso a importância da regulamentação dos mototaxistas e ônibus alternativos. Mantemos o preço da passagem de ônibus a R$ 2,75 desde 2011, apesar de todo o sacrífico tanto da Prefeitura de Manaus quando do governo do Estado. Se nós tivéssemos
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um IPK de 2,08, por exemplo, nossa passagem seria, no máximo, R$ 2,20. A luta é privilegiar o transporte de massa e o IPK maior. Outra questão que gerou muita expectativa em relação ao seu primeiro ano de mandato seria a sua relação com os camelôs. Como isso ficou resolvido? Ninguém acreditava que se pudesse resolver a questão dos camelôs. O acordo foi feito, com a instalação provisória de alguns e o encaminhamento para a construção dos centros comerciais que irão recebê-los. Nesse sentido, a Câmara Municipal de Manaus já autorizou a liberação da verba. Os camelôs vão se tornar microempreendedores e irão ascender socialmente e economicamente em breve. Falou-se muito também durante a última campanha sobre o problema da falta d’água na cidade. Nesses primeiros meses de seu mandato foi possível encaminhar alguma solução nesse sentido? Todo mundo achava impossível um acordo entre a Prefeitura de Manaus e o governo do Estado em torno do problema da falta d’água. Eu e o governador Omar Aziz nos cercamos de todos os cuidados jurídicos e colocamos o Programa Águas para Manaus (Proama) para funcionar. Eram 400 mil pessoas nas zonas Norte e Leste de Manaus que não dispunham de nenhuma gota de água em suas
Eu queria que Manaus tivesse mais do que esperança, tivesse crença. Não só no governo municipal, mas na união dos governos”
torneiras, ou quando tinham eram por poucas horas do dia. Chegamos ao aniversário da cidade com 200 mil pessoas com água 24 horas nas torneiras. Pretendemos atender toda a Zona Leste até 31 de dezembro e concluir a Zona Norte até 31 de março do ano que vem. Estamos avançando. Temos visto as ruas da cidade recebendo um trabalho de recapeamento asfáltico intenso. Qual a meta da prefeitura nesse sentido? Também ninguém acreditava que Manaus pudesse passar por esse esforço de recapeamento de suas ruas, com asfalto de qualidade. Estamos fazendo, inclusive com parcerias importantes como do governo do Estado e do Exército brasileiro, uma instituição de peso simbólico e de respeitabilidade. Eu acredito no trabalho deles e eles, obviamente, acreditam no meu. Não se faz parceria com quem você não crê. No caso, eles estão nos ajudando na pavimentação da avenida Coronel Teixeira, na Ponta Negra. Nós vamos ter 30 quilômetros de ruas recapeadas pela própria prefeitura, por meio da administração direta, em vias importantes como Constantino Nery, Djalma Batista, Torquato Tapajós e Max Teixeira. Enfim, são mudanças muito claras que estão acontecendo. Estamos derrubando tabus, um a um. E quanto à construção de creches. A Prefeitura de Manaus vai conseguir cumprir sua meta? Em 343 anos Manaus tinha uma creche. Nós estamos entregando a nona até o aniversário da cidade. É um número ínfimo em comparação com a necessidade, mas estamos trabalhando para reverter essa situação. Eu tenho compromisso eleitoral de fazer 110 creches. Manaus precisa de mais, porém as minhas 110 já irão mexer de forma significativa na questão social da cidade. Vamos investir pesado também na educação, um aspecto primordial para o desenvolvimento de qualquer cidade ou país.
Entre as obras que serão entregues pela Prefeitura de Manaus, ainda neste ano, qual o senhor destacaria? No dia 1º de janeiro declarei que entregaria o Mercado Municipal Adolpho Lisboa no dia do aniversário de Manaus. Estou entregando ele totalmente recuperado na véspera do aniversário. Prometi que entregaria a nova Ponta Negra no Natal, e vou cumprir. Vou me dedicar bastante para isso a partir da entrega do mercadão. Antes, porém, inauguramos a pista oficial de skate do calçadão da Ponta Negra, agora, já no aniversário da cidade. Toda ela dentro dos padrões exigidos pela Confederação Brasileira de Skate. Vamos aproveitar a oportunidade para promover uma etapa do campeonato brasileiro da categoria aqui. Há projetos incríveis ainda para a Ponta Negra, como a construção de uma roda gigante e um aquário, mas isso depende da iniciativa privada. Nós estamos fazendo a nossa parte. Já o mercadão é uma obra fantástica, onde foi feito um trabalho minucioso de restauração. Até os buracos de balas da Revolução de 1910 – quando o governo central colocou para fora o então governador Antônio Bittencourt – vão estar lá. Fora isso, os permissionários e colaboradores fizeram cursos de qualificação profissional para melhor atender os clientes. Enfim, trata-se de uma obra que nos enche de orgulho e que serve para unir a todos nós. Qual a mensagem que o senhor deixa para o povo de Manaus no aniversário da cidade? Eu queria que Manaus tivesse mais do que esperança, tivesse crença. Não só no governo municipal, mas na união dos governos. E crença em si mesmo, como sociedade, que pode fazer muito. Nós, por outro lado, estamos fazendo a nossa parte. E nossa vontade de fazer é inquebrável, isso eu garanto!
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EXPEDIENTE PREFEITO Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto SECRETÁRIO MUNICIPAL DE COMUNICAÇÃO Márcio Noronha
EDITORA Tricia Cabral (MTb 063 DRT/AM)
DIRETOR DE ARTE Marcelo T. Menezes
REPORTAGENS Alessandra Karla Leite • Artur César • Elendrea Cavalcante • Jony Clay Borges • Marina Guedes
PINTURAS DIGITAIS Euros
FOTOS Alex Pazuello • Cao Ferreira • Érica Melo Mário Oliveira • Ruth Jucá FOTO DA CAPA Cao Ferreira
REVISÃO Dernando Monteiro IMPRESSÃO Gráfica Ampla TIRAGEM 10 mil exemplares
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