SER MISERICÓRDIA #13

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MISERICÓRDIA "A pandemia está a mudar-nos" Alfredo Cunha, fotojornalista

NOVEMBRO2020 #13

"A minha gratidão por aquilo que estão a fazer" Presidente da República na Misericórdia da Amadora


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EDITORIAL A SIMPLICIDADE DE SER CAMINHO EM TEMPOS DIFÍCEIS. Constantino Pinto

Provedor da Misericórdia da Amadora

Quando em novembro de 2019 refletíamos sobre o ano que findava e faziamos projetos para o novo ano, era impossível prever a hecatombe que se avizinhava.

Ninguém esperava que a vida mudasse tão radicalmente, nem que o mundo se transfigurasse com tanta rapidez. Mas aconteceu, e aconteceu à revelia da nossa pretensiosa capacidade de prever ou de controlar tudo. De repente, deparámo-nos com a constatação de uma nova realidade, forçados a adaptar-nos a uma nova forma de viver, a que redutoramente chamamos de nova normalidade. Mesmo sem saber muito bem como chegámos aqui, o facto é que o ”aqui e agora” que vivemos é tão estranho e tão diferente dos nossos padrões de vida, que as nossas fragilidades, até então mais ou menos adormecidas, vêm ao de cima e assumem proporções reais, até então inimagináveis. Somos agora confrontados com as nossas incertezas, com as nossas inseguranças individuais e coletivas, com as nossas incapacidades e, sobretudo, com a consciência de pouco termos feito para sarar as feridas de uma sociedade capitalista, desumana e impessoal que fomos construindo. Em boa verdade, tudo ficou a descoberto: os mais fragilizados, os mais pobres, os mais carenciados são os que veêm mais agravada a sua situação e por isso, feitas as contas, o “fosso social” torna-se cada vez maior e os mais desprotegidos, são-no cada vez mais! IMPÕE-SE FALAR MENOS E ATUAR MAIS! COMENTADORES, ANALISTAS, GENTE QUE SE DEDICA A LEVANTAR QUESTÕES, JÁ TEMOS DE SOBRA...

Precisamos de quem dê respostas, de quem fale para comunicar e não para impressionar, acima de tudo, precisamos de quem atue! Nas Misericórdias somos chamados a ser destes últimos porque acreditamos saber o que há a fazer, e como fazer. Não é por acaso que na Misericórdia da Amadora a nossa linha orientadora, o nosso mote para 2020-21 é “Ser Caminho” obrigando-nos por isso, a sermos gente de ação, que caminha, que está no terreno junto dos tais: os mais desprotegidos. Mas é preciso ir muito mais longe: a nossa dedicação e entrega a estes “mais desprotegidos” terá que ter por base um sentimento de fraternidade universal, isto é: há que senti-los a todos como verdadeiros Irmãos, servi-los como tal e amá-los com verdadeiro amor fraterno!


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SER CAMINHO É SER AÇÃO, PRÁTICA E DIÁRIA JUNTO DOS QUE DE NÓS MAIS PRECISAM. OLHEMOS PARA O QUE FOI O PRIMEIRO GRANDE ATO INSPIRADOR DE MISERICÓRDIA: A VISITA DE NOSSA SENHORA, GRÁVIDA DE JESUS, À SUA PRIMA ISABEL, QUE TAMBÉM ESTAVA PARA SER MÃE. A disponibilidade de alguém que decide prescindir do seu conforto e da sua segurança, fazendo-se ao caminho apenas para ajudar uma sua irmã que certamente precisaria de muito apoio. Sair de si próprio para se entregar ao Irmão... Este é um ato misericordioso e inspirador, sobretudo, quando hesitarmos em relação ao que fazer. Voluntariar-se ao serviço do Irmão não é apenas dar-lhe algumas das sobras do nosso tempo livre: é sim entregar-se, comprometer-se, se preciso for, prescindindo do nosso conforto, da nossa estabilidade, dos nossos planos... Este é de facto um tempo de excelência em que se torna claro e evidente o quanto precisamos uns dos outros, o quanto dependemos do nosso irmão, o quão simples é encontrar a realização do nosso dia a dia no Serviço ao Próximo. Não deixemos que esta oportunidade passe por nós sem nos marcar, sem alterar definitivamente a nossa escala de prioridades.

Acredito que, na nossa Misericórdia, todos nos deixamos marcar por estes valores que geram entrega gratuita ao irmão. Só isso explica a forma como temos superado, dia após dia, nas diversas respostas da Instituição, as ameaças do vírus. Não quero reduzir esta ideia a cifras, mas se o fizesse, estaríamos perante números perfeitamente insignificantes. Diante da enorme ameaça externa que continuamos a viver, a entrega das nossas equipas, o seu elevadíssimo profissionalismo, a sua capacidade de autossuperação têm sido o garante da qualidade de vida dos nossos utentes. Certamente por isso, a Virgem das Misericórdias continua e continuará a proteger-nos no seu enorme manto. Na nossa batalha diária, vamos fazendo a nossa parte, o melhor que podemos e sabemos, convictos de que uma mão superior nos protege e alenta. Sabemos que estes tempos são os mais difíceis que já vivemos, que, possivelmente, nada melhorará em breve, mas também sabemos que estamos vivos, que não estamos sós e que temos a oportunidade e a capacidade de ajudar a mudar o mundo à nossa volta: temos a missão de reduzir o tal fosso de que vos falava atrás... Tudo isto é motivo de esperança e configura o alento e o ânimo necessários para continuar a lutar, sem baixar os braços. CAMINHEMOS CONFIANTES, SENDO CAMINHO, DE MÃOS DADAS, COMO IRMÃOS E PARA OS IRMÃOS! VAMOS CONSEGUIR!...


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“SE EU ESCREVESSE MEMÓRIAS, O CAPÍTULO MAIS LONGO E MAIS DIFÍCIL SERIA ESTE” Presidente da República na Santa Casa da Misericórdia da Amadora para “agradecer” dedicação durante a pandemia: “Muito obrigado pelo que fizeram, continuem, o país agradece”

O Presidente da República visitou a Santa Casa da Misericórdia da Amadora no dia 1 de unho de 2020, Dia Mundial da Criança, assinalando assim a reabertura do pré-escolar e das creches, 15 dias antes, após um difícil período de confinamento geral. Marcelo Rebelo de Sousa esteve no Complexo da Sagrada Família, descerrou uma placa alusiva à ocasião e conversou com profissionais, voluntários e utentes da UCCI, do Lar e da Creche de São Francisco de Assis, onde interagiu com as crianças, sempre com as adequadas medidas de segurança e distanciamento. O chefe de Estado deslocou-se ainda ao Complexo da Quinta das Torres. Na entrada fez uma breve pausa, silenciosa, junto à placa de homenagem aos profissionais e voluntários que ajudaram e ajudam a salvar vidas no decorrer da pandemia. “É uma homenagem justíssima, justíssima”, comentou. Depois de conversar com utentes do Lar de Santo António e com crianças do pré-escolar da Escola Luís Madureira, assinou o Livro de Honra da Misericórdia da Amadora, conheceu o edifício dos serviços administrativos, dialogou com os membros da Mesa Administrativa e fez questão de permanecer uns minutos em oração na Igreja de N. Sra das Misericórdias. Numa intervenção final, perante os órgãos de comunicação social, Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu a dedicação das Misericórdias, profissionais e voluntários(as) que se “agigantaram” para responder à pandemia e enalteceu o apoio dos autarcas. “A pandemia não terminou, têm de continuar a fazer o que têm feito nos últimos meses”, pediu.


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VISITA

Transcrevemos, em cinco tópicos, as palavras do Presidente da República no final da visita à Misericórdia da Amadora. 1. Como surgiu a intenção de visitar a Misericórdia da Amadora? “Esta vinda aqui tem uma história. Eu recebi várias Misericórdias no Palácio de Belém, já lá vão umas semanas, numa altura mais difícil deste tempo que temos vivido. Na ocasião o Sr. Provedor da SCMA contou-me a vida, a atividade, o estado de espírito, a resistência de todas e de todos os que fazem a história e a obra desta Misericórdia, em pólos diferentes, para idades diferentes, em situações tão diferentes, creches, jardins de infância, unidades de cuidados continuados, lares… e eu disse: «Eu vou ter de visitar a sua instituição e até me ocorre uma data». Eu estava numa ponta da sala de conselho de estado e o Sr. Provedor estava na outra, e eu propus «o que é que acha do dia 1 de junho?» que parecia tão longínquo e tão longe, porque durante esta pandemia cada dia pareciam anos, e, portanto, estar ali no início de maio a falar no dia 1 de junho era falar de um futuro muito distante… Ele disse-me «com certeza, vai ser a terceira fase de desconfinamento, e de arranque em termos obrigatórios, ou tendencialmente obrigatórios, das Creches e do Pré-escolar e temos os nossos Lares. Venha Sr. Presidente»”. 2. O agradecimento à Misericórdia da Amadora e a todas as Misericórdias de Portugal, instituições, autarquias, profissionais e voluntários que se “agigantaram” para responder à pandemia “Aqui estou em primeiro lugar para vos agradecer, a todas e a todos, o que é vossa missão no dia a dia, sempre (…). Mesmo sem pandemia é uma missão fundamental, que aproxima gerações, porque aproxima gente muito diferente, porque é uma forma de progresso económico-social e cultural das


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populações, mas em tempo de pandemia as Misericórdias agigantaram-se, como outras instituições de solidariedade social. Agigantaram-se porque foram apanhadas de surpresa, como fomos todos, pela pandemia, e tiveram de ir respondendo no dia a dia, inesperadamente, de modo imprevisto, a desafios, alguns deles impensáveis, com o apoio dos autarcas. Eu queria dar aqui mais uma vez uma palavra aos autarcas. Eu falei com todos os autarcas de Portugal, e foi uma aventura… foi uma saga para eles terem de responder às necessidades do momento. Mas foi para todos os portugueses. As Misericórdias tiveram problemas muito difíceis (…), de resposta muito complicada, e fica aqui a minha gratidão, como presidente de todos os portugueses, aquilo que fizeram e que estão a fazer e vão fazer, porque (…) a pandemia ainda não terminou.” 3. «Todos os dias estamos a aprender…» “(…) Temos que estar sempre atentos e temos de fazer esta abertura (…) com pequenos passos, calmamente, para conquistar primeiro a segurança, (…) para naturalmente estarmos preparados para aquilo que possam ser, pontualmente, novos desafios no presente ou no futuro próximo. Os portugueses têm feito isso, e, às vezes, não é fácil fazê-lo, porque há gente que continuou a trabalhar e há gente que trabalha e que nunca parou de trabalhar, porque outros regressam ao trabalho depois de um período a trabalhar em casa, porque as crianças regressaram às escolas ou às creches, os alunos do secundário já tinham regressado e isto é uma mudança de vida. Tudo isto é muito novo para os pais, para os encarregados educação, para os avós. Todos os dias estamos a aprender. Todos os dias olhamos para os números. Todos os dias comparamos números. Todos os dias vamos aprendendo, sempre com a preocupação de que o


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número de internados e internados em cuidados intensivos não suba de uma forma que coloque em crise o nosso Serviço Nacional de Saúde. E, portanto, vamos conseguindo compatibilizar uma atividade económica e social - não igual à que era, mas mais parecida com a que era -, com a saúde pública, a vida e a saúde das pessoas...” 4. «As histórias que eu ouvi…» “Queria agradecer a todas e a todos que aqui foram fundamentais. Aquelas e aqueles que aqui garantiram o apoio nos lares, nos cuidados continuados, com a dedicação da sua vida e o sacrifício da vida familiar, vivendo cada dia como se fosse ao mesmo tempo o primeiro e o último - depois logo se via no dia seguinte... Quero agradecer àqueles que deram o apoio em termos sanitários, agradecer aos autarcas, que foram essenciais para que as Misericórdias pudessem responder a esta pandemia, agradecer aos irmãos das Misericórdias - àqueles que têm responsabilidades administrativas - porque foi um momento muito difícil, muito difícil. Não vou nunca escrever memórias, mas se eu escrevesse memórias, o capítulo mais longo e mais difícil seria este. As histórias que eu vi e ouvi sobre testes, proteção sanitária, máscaras, reações em cima da hora de responsáveis de Misericórdias e outras IPSS, de iniciativas de autarcas para resolverem problemas na hora - não era dali a 15 dias ou um mês e meio, era na hora -, telefonemas feitos permanentemente para mim, para o primeiroministro, a ministra da saúde, a ministra da solidariedade social, os secretários de estado, direções-gerais, (…) iniciativas cá dentro e em relação ao estrangeiro para a obtenção de material... O que se fez, dava verdadeiramente um capítulo infindável na vida de milhões de portugueses.”


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5. «As Obras de Misericórdia são sempre, não são só de vez em quando…» “E depois há os portugueses que foram trabalhar, em semanas difíceis, há os portugueses que ficaram confinados, as famílias que viveram confinadas. Tudo isto é uma experiência única na vida das pessoas. As forças de segurança, as forças armadas, a comunicação social, que ainda não mereceu uma homenagem, mas há de merecer porque andou nos primeiros dias sem proteção nenhuma a avançar pelos sítios mais incríveis, os que garantiram as infraestruturas básicas, a água, a eletricidade, o gás, o lixo, o saneamento básico, os camionistas de mercadorias, os agricultores que continuaram a produzir, os operários que continuaram a trabalhar, os que trabalhavam no comércio que estava aberto quando pouca gente entrava, naqueles dias em que se passava nas ruas e não havia um carro em circulação, ou eram poucos, em que era uma aventura pensar no dia seguinte... Isto não tem preço. Dir-se-á que se passou em todo o mundo. Claro, mas o que conhecemos é a experiência portuguesa e podemos falar dela, é essa que alguém há de relatar um dia e uma das perspetivas é a das Misericórdias. Muito obrigado a esta casa, Sr. Provedor, muitos parabéns a todos e todas por aquilo que têm feito nestes meses, que têm de continuar a fazer nos próximos meses, que têm de continuar a fazer sempre, porque as Obras de Misericórdia são sempre, não são só de vez em quando. Eu queria agradecer-vos e, ao agradecer-vos, agradecer a todas as Misericórdias de Portugal. (…) Muito obrigado pelo que fizeram, continuem, o país agradece. Obrigado!” Marcelo Rebelo de Sousa 1 de Junho de 2020

Fotografias: Presidência da República


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ESPECIAL

A VIDA PÕE-NOS NA CARA AQUILO QUE NÓS SOMOS Rostos e gente da Misericórdia da Amadora pela lente e sensibilidade do fotojornalista Alfredo Cunha

No dia 25 de abril de 1974, Alfredo Cunha saiu de madrugada da sua casa na Amadora, apanhou o comboio para Lisboa e foi ao encontro da revolução dos cravos. Ficou na história o olhar de Salgueiro Maia no Largo do Carmo, captado por Alfredo Cunha. Na década de 1970, o então jovem fotógrafo registou também a terra onde vivia. Nos contrastes a preto e branco, fixou a imagem de "A cidade que não existia", título de uma exposição na Galeria Municipal Artur Bual, inaugurada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e de um livro lançado pela Câmara Municipal da Amadora. Exposição e livro incluem também fotos recentes. O fotojornalista voltou às ruas da "sua" cidade para assinalar o desenvolvimento ao longo dos anos. Fê-lo em tempo de pandemia, revelando a resiliência e a inquietação perante o coronavírus. Neste trabalho, Alfredo Cunha visitou equipamentos residenciais para idosos da Santa Casa da Misericórdia da Amadora. Nestas páginas podemos contemplar algumas das imagens captadas na instituição pelo artista. Foi neste contexto que o Ser Misericórdia falou com ele.

Ser Misericórdia - Como foi a experiência de fotografar na Amadora em plena pandemia? Alfredo Cunha - Eu já fotografei em várias situações de epidemia, como o ébola na Guiné, pelo que, ao princípio, "fotografar" o impacto da COVID 19 não me surpreendeu muito. O que me tem surpreendido é a forma como a pandemia está a evoluir e nos está a mudar.


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ESPECIAL


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SM - Isso é bom ou é mau? AC - Eu vejo o lado negativo, mas também um lado positivo. Nós vamos mesmo ter de mudar, ter uma vida mais equilibrada do ponto de vista ecológico. A nossa relação com a natureza tem de mudar e temos de controlar a demografia, há países superpovoados. O mundo tem de mudar. SM - E a experiência de fotografar pessoas com máscara? AC - Foi horrível. Uma pessoa com máscara perde a identidade. Mas a máscara é o símbolo destes tempos, é o que vai ficar deste momento que vivemos. Não gosto de fazer fotografias com máscara, embora tenha que as fazer, porque as pessoas perdem a identidade. SM - Das fotografias da pandemia que fez na Amadora, qual a que mais o sensibiliza? AC - A mulher na Cova da Moura com o peixe, porque simboliza tudo: a pandemia, a sobrevivência, o limiar do nada. Estamos no limiar do nada... SM - Na apresentação do livro, o Presidente da República dizia que o Alfredo Cunha consegue fotografar as pessoas por dentro. Isto é possível com a máscara? AC - Não. Não. Não... SM - O que esconde a máscara? AC - A vida põe-nos na cara aquilo que nós somos. Com máscara, é a nossa vida que está mascarada.


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SM - Já tinha fotografado a vivência num lar de idosos... AC - ...sim, já fotografo há 50 anos e tudo o que há para ver, já vi... SM - ...o que o marcou em mais esta passagem por uma residência desta natureza? AC - Eu sou contra a existência de lares de idosos. Quando era jovem, os nossos velhos morriam em casa. Nascíamos em casa e morríamos em casa. Sei que isso hoje não é possível, mas temos de criar uma sociedade que faça tudo para que os lares de idosos não existam. Há casos em que têm mesmo de existir, mas o conceito de lar de idosos... Os lares são também um negócio. E mesmo os sociais... é horrível... Nós cuidamos dos filhos e os filhos têm de cuidar de nós, é o ciclo da vida. Mas, claro, a sociedade tem de se organizar para que assim seja.


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Amadora 1975

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OPINIÃO O CAMINHO DA MISERICÓRDIA

Nuno Morais Coordenador de Serviços Complexo Quinta das Torres

No meio das nossas correrias e das nossas preocupações, vivemos um tempo marcado por um inimigo silencioso, Covid-19, capaz de parar um país, um continente e mesmo o mundo.

Fui convidado a integrar uma equipa de 17 profissionais da SCMA que se disponibilizou a ficar em confinamento, sem ir a casa e a trabalhar em turnos de 12 horas durante o mês de abril no Lar da Sagrada Família. A finalidade deste confinamento foi a de proteger e cuidar os nossos utentes, os nossos menos jovens. Mais do que palavras, ao receber o “convite” e ao olhar para a realidade em volta, com os meus poucos e singelos talentos disse: “Aqui estou!” Éramos uma equipa de 17 pessoas distintas umas das outras com histórias de vida e personalidades totalmente diferentes, somente duas coisas nos uniam: a identidade da nossa instituição - Santa Casa da Misericórdia da Amadora, “Bem Servir” e o querer cuidar de quem mais precisa. Todos nós abdicámos do conforto do lar e da família para estarmos com os nossos utentes. Os tempos de descanso e as noites eram passadas no Centro de São Francisco de Assis – Creche. Dormíamos nas salas do centro, onde também lavávamos e estendíamos a roupa e preparávamos algumas iguarias na cozinha. Foram dias muito intensos, dias de partilha, de simplicidade e de cuidar. Se pudéssemos resumir numa só palavra, eu diria, “generosidade”. Hoje, ao escrever este texto, sinto-me de coração cheio, foi

um tempo de crescimento. Recebi imenso e aprendi muito. Senti Deus a tornar-se visível nas pequenas tarefas ou num simples sorriso. Recebi em mim um coração cheio de vida. Durante estes dias de confinamento a palavra misericórdia foi ganhando sentido através do sorriso, do olhar, do diálogo, do ato em si e por si. Voltei a sentir que misericórdia é atributo de Deus, é “um excesso de amor” que constrói pontes.


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Todos os dias, ao pequeno almoço, como era bonito, com uma pitada de humor e boa disposição receber um sorriso ou um olhar terno dos nossos menos jovens. O tempo passava mais depressa com a brincadeira a pairar no ar… DEUS NA SUA SIMPLICIDADE, FOI-SE REVELANDO ATRAVÉS DA MISERICÓRDIA, TORNANDO-SE PALAVRA VIVA NAS OBRAS DE MISERICÓRDIA, POIS COMO DIZ O PAPA FRANCISCO: “O AMOR NUNCA PODERIA SER UMA PALAVRA ABSTRATA.” Os dias com a rotina já instituída do Lar da Sagrada Família corriam a passos largos: as refeições, as higienes, a animação, a fisioterapia, cuidados de enfermagem, limpeza, e muito mais. Toda a equipa de profissionais da SCMA que ficou em confinamento no LSF deu tudo o que tinha para levar a bom porto a missão a que se propôs. Esta equipa

deixou a comodidade para ir ao encontro do outro. Na seriedade, na atenção, na segurança, na escuta, na compreensão, ao facilitar, ao oferecer e, finalmente, no acolhimento. Fui muito bem acolhido pelos colegas e pelos utentes, todos me receberam com muito carinho e atenção. Deixo o meu sincero agradecimento, a cada um de vós, estão no meu coração. Existiram dias muito cansativos, mas tão gratificantes. Diverti-me imenso ao brincar, com humor. Muitas das vezes o objetivo era arrancar um sorriso. Junto dos nossos utentes dei uma palavra, escutei, sorri, rezei, facilitei, compreendi. Estes dias foram marcados pela compaixão, uma “lente do coração”. O olhar para o próximo faz parte da linguagem de Deus. O nascer de cada dia era um recomeço que nos levava ao interior da vida e ao coração dos nossos utentes, nisto consiste o caminho da Misericórdia. Atualmente, Portugal entrou em desconfinamento, estamos aos poucos e poucos a tentar regressar à normalidade, o Papa Francisco diz “A misericórdia não abandona quem fica para trás.” É IMPORTANTE NÃO CAIRMOS NA INDIFERENÇA EGOÍSTA E QUE “USEMOS DE MISERICÓRDIA PARA COM OS MAIS FRÁGEIS: SÓ ASSIM RECONSTRUIREMOS UM MUNDO NOVO”.


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GRATIDÃO QUE SE RENOVA TODOS OS DIAS Ana Cargaleiro de Freitas Jornalista (Voz das Misericórdias UMP)

As ajudantes domiciliárias da Misericórdia da Amadora representam um apoio vital para suportar as limitações do corpo e mente.

O despertador toca quase todos os dias às sete da manhã na casa de Telma Monteiro. O turno começa às oito e os idosos aguardam a chegada da equipa de serviço de apoio domiciliário (SAD) da Misericórdia da Amadora. A ajudante familiar de SAD conhece todos pelo nome e renova-se em cada visita, com a gratidão que encontra nos olhares devolvidos. Na primeira reportagem presencial desta jornalista que vos escreve, namoramos à janela com todos os que se cruzam no nosso caminho, Fátima, António, Laurinda e Inês (utentes), para não colocar ninguém em risco, equipa, utentes e redação. Siga o nosso encalço com a distância de segurança, que nos separa do vírus, sem nos tornar imunes aos afetos. Os procedimentos de desinfeção e uso de equipamentos de proteção individual são cumpridos quase de olhos fechados por Telma, entre cada visita. Fazem parte das novas rotinas e entraram pela sua vida adentro sem que pudesse ripostar. Os contactos sociais estão reduzidos ao indispensável e no primeiro mês de pandemia, em que as dúvidas superaram as certezas, não se aproximou da filha de oito anos. “Custou muito, mas tive medo porque ela tem asma. Os olhos ficaram com lágrimas”, recorda a cabo-verdiana de 35 anos. Apesar do medo, ficar em casa nunca foi uma opção. “Ela precisa de mim, mas eles [idosos] ainda precisam mais. Para alguns, somos as únicas pessoas que os visitam”, reconhece. Muitos não se conseguem levantar sozinhos, tomar banho, vestir uma roupa limpa ou preparar o pequeno almoço.


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Por isso, o dia só começa depois da chegada de Telma e das colegas. Fátima Aguiar, a primeira pessoa que visitámos (à janela), tem problemas de visão e mora num prédio sem elevador. Costuma levantar-se cedo e aguarda os olhos e mãos de Telma para terminar os preparativos da manhã. “Está sempre bem-disposta e tenta ajudar no que pode. É vaidosa, faz combinações bonitas e tem de ter sempre os seus brincos”, revela a ajudante familiar. Ouvem-se vozes no primeiro andar, mas as cortinas não deixam entrever o que decorre no primeiro plano de ação. Mais uns minutos até emergir da penumbra um vulto elegante, que sabemos pertencer à idosa de 82 anos. Os cuidados prestados fazem sobressair a beleza de outros tempos. Vamos buscar reforços ao CASSA - Centro de Atendimento e Serviço Social da Misericórdia da Amadora, o “quartel general” das ajudantes de SAD, antes de seguir para a casa de Conceição. A próxima utente é dependente e exige mais um par de braços. Não se levanta, não caminha e usa os braços com dificuldade. A dupla de colegas não esmorece e empenha-se na melhoria da qualidade de vida da idosa, estimulando a sua autonomia em pequenas tarefas como segurar uma colher. “Tentamos estimular para que mantenha a autonomia mínima”, explica. Ne ste concelho, densamente povoado e envelhecido, as 40 ajudantes domiciliárias,

distribuídas por quatro núcleos de SAD (Centro, Norte, Moinhos da Funcheira e Sul), são a retaguarda familiar, que nem sempre existe, e o apoio vital para suportar as limitações do corpo e mente. Numa fase particularmente exigente, para colaboradoras e utentes, foi necessário adaptar os serviços e reorganizar as equipas, para reduzir a rotatividade e a duração das visitas. Outro aspeto fundamental, destacado pela coordenadora de SAD, Alexandra Andrade, foi “investir na motivação e comunicação com as equipas, em reuniões online ou grupos de whatsapp, para sensibilizar e perceber o estado emocional das pessoas. Houve um reforço positivo para sentirem que não estavam sozinhas. Muitas têm filhos e usam transportes públicos”. Telma Monteiro utiliza viatura própria, mas no centro da Amadora desloca-se sobretudo a pé, devido à proximidade entre habitações. Acompanhamo-lo neste trajeto e sentimos a dinâmica dos seus habitantes entre idas ao café, compras no comércio local e passeios matinais. NUM LARGO MAIS RECATADO, CUMPRIMENTANOS, DA SUA JANELA, LAURINDA GOMES, 76 ANOS. O UTENTE NESTA CASA É O MARIDO, ANTÓNIO MARQUES, DIAGNOSTICADO COM ALZHEIMER. “DÃO-LHE BANHO, VESTEM-NO, PÕEM CREMES, FAZEM A BARBA, COM TODO O CARINHO, AJUDAM EM TUDO”, CONFIDENCIA.


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3ªIDADE

Nas horas que se seguem, Laurinda assegura o papel de cuidadora a tempo inteiro, até a filha chegar. O casal já não troca palavras, mas Laurinda “sabe tudo o que ele quer” e sente que “ele fica todo contente” quando se deita ao seu lado, como faz há 57 anos. “A vida é triste, mas temos de nos conformar com o que Deus nos deu. Enquanto puder, vamos ficar os dois”. A manhã termina com a visita a uma conterrânea de Telma, que também mora no rés-do-chão e por isso nos brinda com outro “namoro à janela”, receitas cabo-verdianas e um temperamento suave como as noites de verão. “O BOM DESTE TRABALHO É QUE A MAIORIA DAS PESSOAS RECONHECE O CARINHO E FICA MELHOR COM A NOSSA PRESENÇA. E NÓS ARRANJAMOS SEMPRE ENERGIA PARA RECOMEÇAR TUDO DE NOVO”, ADMITE A NOSSA PROTAGONISTA. AMANHÃ É UM NOVO DIA.


25 ANA LUÍSA QUINTAIS

OPINIÃO CRÓNICA DE UM SORRISO

Sorrindo – O gerúndio da felicidade Na paleta das emoções, a felicidade exprime-se através do sorriso! Sorrir utiliza entre cinco a cinquenta e três músculos da face, o que significa que dar uma valente gargalhada pode exercitar até cinquenta e três músculos do rosto! Segundo uma pesquisa realizada nos Estados Unidos da América, existem dezanove tipos de sorriso, que se repartem por dois grupos: os sorrisos sociais, que envolvem músculos de menor dimensão do rosto e os sorrisos emocionais, que utilizam músculos de ambos os lados da face e, por consequência, são mais espontâneos e instintivos.

Sorrir é um gesto universal diferente de outras expressões não-verbais que variam de acordo com fatores socioculturais, o que permite afirmar que sorrir é sinal de felicidade em qualquer parte do Mundo! Estudos indicam que é mais fácil sorrir do que franzir a testa ou o sobreolho, pelo que, sendo a expressão facial mais facilmente reconhecida, um sorriso pode ser identificado até trezentos metros de distância. Estudos na área da Psicologia levam-nos a concluir que sorrir alivia estados de ansiedade, stress e preocupação, uma vez que permite a libertação de endorfinas que “aliviam” o mal-estar e libertam as emoções menos boas. As expressões não-verbais de tristeza, preocupação, ansiedade e de outros estados anímicos menos positivos são igualmente importantes, contudo, sorrir é essencial à felicidade e,

Ana Luísa Quintais

Gabinete de Psicologia

garantir-lhe o gerúndio é assegurar que vamos sorrindo ao longo dos dias e para lá dos problemas que fogem do nosso controlo. Dia após dia, semana após semana, mês após mês, temos sido desafiados a ir sorrindo perante fatores que não dependem de nós. Distanciamento social, ausência de contacto físico, medidas de proteção que confinam ao uso de máscaras e viseiras a nossa expressão não-verbal dos afetos colocam em tons pastel a cor da felicidade e acentuam a necessidade de, na paleta das emoções, ir sorrindo perante as adversidades. Em plena época de mudança, em que é necessário assimilar novos comportamentos junto do Outro, e reorganizar estratégias de adaptação a tudo o que foge da “nossa” normalidade, sorrir parece ser mesmo o melhor remédio para responder aos desafios que vão surgindo e às situações que nos fogem das mãos. À medida que vamos sorrindo, vamos colocando em prática padrões de expressão emocional que vão para além do ato de sorrir; passamos a sorrir com os olhos, com o ligeiro “levantar” das bochechas; passamos a sorrir com simples gestos de solidariedade e de cuidado uns para com os outros; passamos a contagiar o Outro, e nós mesmos, com uma paleta mais intensa e colorida de emoções e sentimentos e, a felicidade instala-se. Ir sorrindo, é ser feliz pela vida fora sabendo que, no caos dos dias, nada se perde, tudo se transforma e não há sorriso que não chegue ao coração do Outro com outra intenção que não a da sua felicidade.


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EDUCAÇÃO AFINAL, NUM INSTANTE, TUDO PODE MUDAR E MUDOU O mês de março ficará marcado para todo o sempre na Escola Luís Madureira. Um dia saímos da escola e no outro a escola estava encerrada, não abriria devido ao vírus.

No passado mês de março, tivemos que enfrentar, de forma abrupta, uma mudança imposta. A nossa vida foi virada do avesso. Aprendemos a usar ferramentas novas, lidámos com turmas de 25 a 28 alunos à distância, ao mesmo tempo que apoiávamos os nossos lá de casa numa tarefa que se revelou árdua! Ninguém sente o mesmo no mesmo instante, e num contexto de ensino à distância, o bem estar físico e emocional é determinante na forma como recebemos e passamos a informação. NESSES DIAS DE CLAUSURA, EM NOME DE UM BEM MAIOR, UM DOS DESAFIOS SENTIDOS FOI SABER LIDAR COM AS INQUIETAÇÕES, AS DÚVIDAS, E ENCONTRAR SOLUÇÕES PARA MANTER OS ALUNOS JUNTOS, ENQUANTO TURMA. As duas semanas antes da interrupção letiva da Páscoa foram um período experimental, tanto para nós professores como para os alunos e respetivas famílias. Após este período de pausa, a nova metodologia online foi aplicada de forma efetiva, reviram-se critérios de avaliação, planificações, horários e implementou-se o E@D - Ensino à Distância. Foi fundamental manter a comunicação com e entre alunos, estabelecer um plano de trabalho

bem estruturado e manter o contacto regular com todos os intervenientes no processo. Este não foi um desafio fácil, mas no final pudemos afirmar que foi mais um desafio superado!.


27 CRECHE SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS

EDUCAÇÃO

CRECHE SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS A vida nas escolas/creches que nunca fecharam Silêncio, ordem, nenhuma gargalhada ou birra audíveis. Os cabides onde ficavam penduradas as dezenas de mochilas, casacos e lancheiras estão quase vazios, as salas de aula têm só as mesas, nenhuma cadeira à volta. No parque exterior vê-se uma dezena de triciclos encostados a uma esquina, sujos de não terem crianças a usá-los.

A Creche Santa Teresinha do Menino Jesus, valência de educação da SCMA, deixou de receber crianças de colo e (re)converteu-se em escola de acolhimento das crianças até aos 12 anos, filhos dos profissionais essenciais que trabalham na linha da frente no concelho da Amadora. Maria João Morgado, 49 anos, recorda o dia em que a Covid-19 a obrigou a aprender à pressa uma nova forma de ser educadora de infância: uma das meninas que recebeu na primeira manhã deste novo mundo saltou-lhe em voo para os braços assim que a mãe virou as costas. “Eu só pensava que não a devia abraçar. Ai, e agora o que é que eu faço? Contei logo à mãe, mas, desculpem-me, eu não vou deixar de estender os braços e impedir que uma criança me abrace. E soube tão bem. Que saudades.”

Os beijos, acalmar uma criança com um abraço, limpar com as mãos as lágrimas de uma birra, embalar para adormecer, nada disso se pode fazer agora. À entrada ficam os casacos, os sapatos, enfiados num armário feito com cassetes VHS empilhadas — e os pais. As mãos são logo desinfetadas e só depois é que cada um segue para a respetiva sala. Quase nunca há mais do que quatro crianças por sala e são sempre os mesmos nas mesmas salas, com as mesmas educadoras, para ser possível identificar o foco de uma eventual infeção. Chegaram a vir para esta creche cerca de 60 crianças por dia, mas agora a lotação é de 16. Como esta, há outras 86 creches e mais de 700 estabelecimentos de ensino no país, a cumprir a mesma função.


JOAQUIM FRANCO 28

OPINIÃO FRATELLI TUTTI UM ROTEIRO PARA SER E AGIR Joaquim Franco

Secretário da Mesa Administrativa

“Que significados têm hoje palavras como democracia, liberdade, justiça, unidade?” (FT, 14). Não se estranhe a pergunta assertiva, nem se julgue que é apenas retórica.

Na encíclica Fratelli Tutti (Irmãos Todos), escrita em plena pandemia, o papa Bergoglio coloca-nos frente a frente, sem máscaras ou subterfúgios, com uma história “que dá sinais de regressão” (FT, 11), com o ressurgimento de conflitos “que se consideravam superados”, de “nacionalismos fechados, exacerbados, ressentidos e agressivos”. Dissesse ele apenas isto e já era um “grito brutal” (7 Margens, 04.10.2020), como diz o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. ESTE DOCUMENTO NÃO É ESCRITO APENAS PARA A IGREJA MAS PARA O MUNDO, E SENDO PARA O MUNDO É TAMBÉM PARA OS CRISTÃOS. NESTA APARENTE INVERSÃO DO DESTINATÁRIO ESTÁ TODA UMA REVELAÇÃO EVANGÉLICA QUE RECOLOCA O ESSENCIAL NO CENTRO. Parece ingenuidade, mas a esperança de Francisco constrói-se a partir da constatação lúcida e severa da realidade, de “novas formas de egoísmo e de perda do sentido social, mascaradas por uma suposta defesa de interesses nacionais”, com protagonistas políticos que reclamam uma inspiração cristã enquanto desdenham o humanismo cristão, porquanto se movimentam na ilusão de que podem desenvolver-se “à margem da ruína dos outros” (FT, 141), incapazes da gratuitidade. A utopia da fraternidade universal tem uma forma concreta no humanismo cristão que Francisco

propõe, profundamente incompatível com os populismos emergentes ou as “várias formas de nacionalismo fechado e violento” (FT, 86), com “atitudes xenófobas, desprezo e até maus-tratos” àqueles que são apenas diferentes. “A fé, com o humanismo que inspira, deve manter vivo um sentido crítico perante estas tendências”. A “amizade social”, trabalhada nesta encíclica, só será verdadeiramente compreendida se conjugada com o conceito de “amor político”, abordado na encíclica anterior – Laudato Si. Fazer política é uma responsabilidade cristã. Em que termos? “O amor, cheio de pequenos gestos de cuidado mútuo, é também civil e político, manifestando-se em todas as ações que procuram construir um mundo melhor”, com “amor à sociedade” e “compromisso pelo bem comum” (LS, 231). A Covid-19 “despertou, por algum tempo, a consciência de sermos uma comunidade mundial que viaja no mesmo barco” (FT, 32). Noutra metáfora marítima, navegaremos todos no mesmo mar, mas uns em navio seguro e outros em frágeis embarcações, confiando na epopeia da sorte. Os meses da pandemia ampliaram o fosso entre os mais ricos e os mais pobres, com a agravante de haver agora mais pobres e de os mais ricos entre os ricos terem sido os mais beneficiados. E “se às vezes os mais pobres e os descartados reagem com atitudes que parecem antissociais, é importante compreender que, em muitos casos, tais reações têm a ver com uma história de desprezo e falta de inclusão social” (FT, 234).


29 JOAQUIM FRANCO

Empenhado também em reabilitar o exercício político, o papa Francisco exalta o bom combate contra o individualismo, para ampliar sistemas económicos, políticos ou ideológicos onde, de modo eficaz e estável, se investe “para que os lentos, fracos ou menos dotados possam também singrar” (Evangelii Gaudium, 209) ao longo da vida e “não apenas para assegurar as suas necessidades básicas” (FT, 110). É a Doutrina Social da Igreja que desenvolve e apura o “princípio da subordinação de toda a propriedade privada ao destino universal dos bens da terra e, consequentemente, o direito de todos ao seu uso” (FT, 123). A defesa dos mais frágeis, fasquia definidora do humanismo, “requer um Estado presente e ativo e instituições da sociedade civil” (FT, 108) orientadas “para as pessoas e o bem comum”, que “ultrapassem a liberdade dos mecanismos eficientistas de certos sistemas económicos, políticos ou ideológicos”. Neste roteiro, a solidariedade organizada deve “também lutar contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, a terra e a casa, a negação dos direitos sociais e laborais” (FT, 116). No discurso aos participantes num Encontro mundial dos Movimentos Populares, em 2014, Francisco dramatizou o apelo a “pensar na participação social, política e económica segundo modalidades tais que incluam os movimentos populares e animem as estruturas de governo locais, nacionais e internacionais”. Numa palavra: capacitação. A estes protagonistas do terreno, das bases, o Papa chama “poetas sociais”, que, à sua maneira, “trabalham, propõem, promovem e libertam. Com eles, será possível um desenvolvimento humano integral, que implica superar a ideia das políticas sociais concebidas como uma política para os

pobres”, em vez de políticas “com os pobres” e “dos pobres”, devidamente inseridas “num projeto que reúna os povos” (FT, 169). Ninguém está excluído deste processo. “Existe o chamado amor elícito”, explica o papa Bergoglio, recorrendo a Tomás de Aquino, um amor que vem de dentro, de uma vontade que não se explica, que “expressa os atos que brotam diretamente da virtude da caridade, dirigidos a pessoas e povos”. E há “um amor imperado”, que nos leva “a criar instituições mais sadias, regulamentos mais justos, estruturas mais solidárias” (FT, 186). É por aqui que revemos instituições operativas como as Misericórdias. Com ação pragmática, dão testemunho deste exercício político em subsidiariedade, corresponsabilidade e cidadania, não se enredando “em discussões semânticas ou ideológicas” (FT, 189), mas universalizando, a partir da respetiva matriz cristã, a vocação institucional para a caridade: “É caridade acompanhar uma pessoa que sofre, mas é caridade também tudo o que se realiza – mesmo sem ter contacto direto com essa pessoa – para modificar as condições sociais que provocam o seu sofrimento. Alguém ajuda um idoso a atravessar um rio, e isto é caridade primorosa; mas o político constrói-lhe uma ponte, e isto também é caridade. É caridade se alguém ajuda outra pessoa fornecendolhe comida, mas o político cria-lhe um emprego, exercendo uma forma sublime de caridade que enobrece a sua ação política” (FT, 186). E a consequência da nossa ação é insondável. Revela-nos, pode projetar a Esperança até a perdermos de vista. É nessa desconhecida margem de alcance que perscrutamos o Mistério.


NUNO ARROJA 30

OPINIÃO MITIGAR A SOLIDÃO OU A IMPORTÂNCIA DO MANTER O CONTACTO Nuno Arroja Mesário

Quando falamos em momentos ímpares da nossa instituição, pensamos, inevitavelmente e em primeiro lugar, naqueles que positivamente nos marcaram. É natural, quando o percurso é sobejamente feliz e tranquilo, mesmo com momentos recordados como desafio ou até de um certo desconforto, fazemo-lo sempre.

Recordo os momentos que vivemos no início da pandemia: de imprevisibilidade, de muita preocupação e mesmo de medo. Cada um de nós, à sua maneira e no seu “metro quadrado”, acautelou as necessidades de proteção, confinamento e incessante procura de informação e respostas. NA NOSSA MISERICÓRDIA, MUITO EM PARTICULAR NAS RESPOSTAS SOCIAIS DA TERCEIRA E QUARTA IDADES, OS MESMOS MOMENTOS, A MESMA REALIDADE, TROUXERAM PREOCUPAÇÃO, ESFORÇO E COMPROMETIMENTO ACRESCIDO. Tive, e continuo a ter, a oportunidade de acompanhar, o mais perto que posso e devo, a direção e coordenação das nossas respostas sociais com os utentes mais suscetíveis e vulneráveis aos efeitos da pandemia, na medida de levar conforto, ajudar a cimentar a confiança e dar calor e carinho, necessário e merecido. A adversidade aproximou-nos, permitiu que fossem criadas extensões entre nós, mesmo com a distanciamento social pedido, com “trancas à porta” dos nossos lares e com novos e solitários formatos no serviço de apoio domiciliário. Os centros de dia esvaziaram-se, reconduziram-se trabalhadores. Acatámos orientações, atacámos em todas as frentes.

Hoje, as mesmas equipas continuam a garantir todos os cuidados aos nossos utentes, com todo o rigor que agora faz parte do novo normal, no cuidar e no estar com todos eles. Pouco permeáveis ao medo, ao desgaste e ao cansaço, todos os colaboradores com funções nas terceira e quarta idades, e os que a eles se juntaram e juntam, continuam a ser os nossos “super-heróis”. Todos os dias colocam a sua capa e avançam, fazendo seu o desígnio da nossa Santa Casa - Bem Servir! VAMOS MANTER O CONTACTO, CRIAR MAIS E FORTES EXTENSÕES ENTRE NÓS. DAMOS VIDA A UM CORPO QUE CONGREGA A DEDICAÇÃO E ESFORÇO DE CADA UM. Com admiração e o maior respeito, agradecemos a todos e a cada um. Sim, a eles, a nós, reiteramos dizendo: muito obrigado. Forte abraço!


31 MANUEL TIAGO

OPINIÃO COVID 19 | INVESTIMENTOS EM RETROSPETIVA E PERSPETIVA Manuel Tiago Diretor Operacional SCMA

Investir em tempos de pandemia é não só acreditar no futuro, mas também garantir que chegados lá, estamos mais bem preparados para continuarmos a responder à procura e expetativa de todo o ecossistema que nos envolve.

Passar do assistencialismo e subsidiodependência para a economia social é criar condições de sustentabilidade, quer na vida das pessoas quer no associativismo, nas suas diferentes formas, incluindo as IPSS.

no Lar Santo António. A requalificação deste Lar há muito reclamada e que a situação pandémica evidenciou, seria por si só razão suficiente para a apresentação da candidatura ao programa atrás referido.

Sustentabilidade, palavra de ordem, culpa com o passado, mas ainda a tempo de compromisso com o futuro, não significa gerir o presente, mas antes tomar decisões e definir estratégias que responsabilizem os seus intervenientes.

Integrado nas Residências da Vila surgirá uma nova e inovadora prestação de cuidados e serviços no âmbito do apoio ao domicílio. Este novo serviço, para além de garantir o apoio direto a 100 utentes, pretende ser um centro de observação, estudo e investigação social na área da geriatria.

A candidatura de dois projetos à 3ª Geração do “Programa de Alargamento de Respostas Sociais” (PARES 3.0) recentemente lançado pelo governo é um claro sinal da aposta que a Instituição faz no seu crescimento sustentado e em prestar mais e melhores serviços à população sénior do nosso concelho. Os projetos candidatos permitirão aumentar em mais de 30% a atual capacidade de camas disponibilizadas pela Instituição, 60 das quais a criar nas futuras Residências Sénior da Vila (em Vila Chã) e 10

Em paralelo com os projetos anteriormente mencionados, decorre no âmbito de um outro programa de apoio financeiro (PARES 2.0), o projeto de reconversão do Centro Santa Clara de Assis em monovalência de Creche. O financiamento destes projetos é determinante para a persecução dos seus fins e satisfação das necessidades da cidade da Amadora. Os investimentos adiados em 2020 serão retomados no próximo ano com redobrada vontade de os vermos concretizados. Estão entre estes: a instalação de uma unidade de produção de energia fotovoltaica na Quinta das Torres, as obras de conclusão do projeto do Lar Sagrada Família e a requalificação do Centro São Francisco de Assis; outros como o aumento de capacidade de alojamento da Unidade Residencial Aristides de Sousa Mendes poderão também avançar em 2021, se a evolução da atual pandemia for favorável e estiverem garantidas as condições de segurança dos utentes e intervenientes na obra.


PROJETOS E NOVA MESÁRIA 32

NOTÍCIAS PROJETOS INACAREHEART E FAITH - NA ROTA DA INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO EM ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL

Os Projetos de Investigação e Desenvolvimento INCAREHEART e FAITh são os mais recentes braços do Modelo Integrado e Centrado na Pessoa que tem vindo a ser desenvolvido e implementado pela Instituição com a População sénior. Resultado de 2 Candidaturas vencedoras aos Programas da Comissão Europeia Horizon 2020 (INCAREHEART) e Erasmus+ (FAITH) e incubados no Departamento de Inovação, serão, na fase Piloto dos mesmos, implementados e integrados na atividade diária das áreas da 3ª e 4ª idades e da saúde. O projeto INCAREHEART tem como foco o desenvolvimento e testagem de Modelos e Soluções Tecnológicas para mitigação da insuficiência cardíaca e alinha parceiros de 7 países Europeus: Portugal (SCMA), Suécia (Jemtlândia), Itália (Campânia), Turquia (Ancara), Países Baixos (Amsterdão), Espanha (Múrcia), Alemanha (Bona). O projeto FAITH, alinhado com o contexto de desafio social e sanitário atual, congrega forças de 6 países europeus na aceleração da literacia digital da população sénior. Organizações representantes dos setores da Economia Social, Público e Empresarial em Portugal (SCMA), Itália (Carpi), Grécia (2 parceiros

Isabel Moço assumiu, em setembro, a função de vogal efetiva da Mesa Administrativa, em substituição de Nuno Corte-Real. Pertencendo à Irmandade, Isabel Moço era a primeira suplente na lista deste órgão social. Professora universitária, especialista nas áreas de Recursos Humanos e Qualidade, a nova vogal desenvolve também atividades de consultoria e formação. O seu lema profissional é: “se posso, não preciso que me peçam, nem que me mandem”. Os membros da Mesa Administrativa "saúdam Isabel Moço, com confiança e expetativa, salientando e agradecendo a dedicação, ao longo de vários mandatos, do médico Nuno Corte-Real", que vai manter-se no Conselho de Ética da SCMA.

em Atenas), Chipre (Nicósia), Bélgica (Bruxelas), Alemanha (Kolkwitz), trabalharão juntas para desenvolver modelos de capacitação digital e ferramentas adaptadas ao perfil dos utilizadores seniores, garantindo a segurança dos seus dados e o conforto na sua utilização. Os dois Projetos mencionados, assim como os que estão em fase de implementação na Misericórdia da Amadora (ProEmpower, Inadvance, eCARE, Pharaon e Chameleons), com impacto, respetivamente, nas dimensões da saúde, social, envelhecimento e mudança Organizacional, servem, sempre, os propósitos de reforçar a robustez e complementar a abordagem multidimensional do Modelo Integrado e Centrado da SCMA. O Núcleo de Investigação em Envelhecimento Saudável, resultado do processo gradual e consistente trilhado pela Instituição nos últimos 7 anos; do reconhecimento do Reference Site Ageing Thinking Amadora; e da visão de uma integração vertical e horizontal dos cuidados de saúde e sociais, assentará a sua ação na implementação de uma abordagem interdisciplinar em que as dimensões clínica, nutricional e de estimulação multidimensional são chave.

ISABEL MOÇO, NOVA VOGAL DA MESA ADMINISTRATIVA DA SCMA


33 RECURSOS HUMANOS SCMA

FOMENTAR A EVOLUÇÃO ACADÉMICA E A PROGRESSÃO DA PROFISSÃO NA SCMA O meu nome é Susana Martins, iniciei o meu percurso na SCMA em fevereiro de 1997. Nessa altura estava a frequentar uma formação de “Gestão de Pessoal”, quando uma colega me perguntou se eu gostaria de fazer parte de uma jovem equipa, numa pequena Instituição. A partir desse momento nunca mais deixei de fazer formações. Mas foi em 2002, após uma ação de formação de contabilidade, que tive acesso ao exame da Ordem, na altura Associação dos Técnicos Oficiais de Contas, tendo conseguido a carteira profissional dessa “mui” nobre profissão. Então lá fui, rumo à licenciatura. A força de vontade e a resiliência são armas poderosas, por isso consegui terminar a minha Licenciatura de Contabilidade - Ramo de Fiscalidade. Agradeço à nossa Instituição a possibilidade de me ter permitido crescer académica e profissionalmente numa organização em que existe verdadeiramente a “mentalidade do Fundador”.

O meu nome é Lucas dos Santos e após a conclusão do Curso de Gestão em Saúde na Universidade Atlântica, que à época me pareceu o mais dirigido às funções que exercia na SCMA desde meados de 2009, fui confrontado, no final de 2019 com um desafio maior – dar continuidade à boa performance atingida pelo Sistema de Gestão da Qualidade da nossa Instituição e Certificado pela Norma ISO 9001/2015 seis meses antes. No início de 2020 concluí com aproveitamento o Curso de Certificação Profissional em Gestão da Qualidade e Auditorias Internas, utilíssimo no decorrer da Auditoria (1º Acompanhamento) em julho, realizada pela APCER. Tenho também algumas responsabilidades na área da Segurança e Saúde no Trabalho, sendo que para além da resposta à legislação em vigor, procuro melhorar o conhecimento dos profissionais da SCMA na Prevenção dos Riscos Profissionais, que podem afetar a sua saúde, melhorando significativamente os rácios de absentismo e presencialismo anuais da Misericórdia da Amadora.

O meu nome é Lídia Aresta e faço parte desta Santa Casa desde junho de 2006. Iniciei o meu percurso profissional nesta instituição, mais concretamente no Lar Sagrada Família, onde permaneci até março de 2019. A determinada altura da minha vida, senti a necessidade de ir buscar um sonho que se encontrava guardado numa gaveta, mas não esquecido: retomar os estudos! Através do acesso para maiores de 23 anos, realizei em 2015 o exame e ingressei no Ensino Superior. Concluí em 2018 a Licenciatura em Ciências Sociais. Em março de 2019, surgiu a oportunidade de transitar para a Equipa do Rendimento Social de Inserção, onde me encontro até ao momento. Tenho, ao longo destes 14 anos de trajeto na SCMA a sorte de cruzar-me com pessoas incríveis a todos os níveis, que me ajudam a crescer profissionalmente, permitindo tornar-me num ser humano melhor. Sou grata à SCMA, pela confiança demonstrada em mim. Da minha parte, o compromisso continuará a ser o mesmo: Bem Servir!


DIRETOR GERAL SCMA 34

PONTO FINAL OS NOSSOS HERÓIS NÃO USAM CAPA... Manuel Girão Diretor Geral

...usam máscaras, viseiras, luvas, batas Ao longo dos últimos oito meses, marcados pela pandemia que virou as nossas vidas do avesso, não posso deixar de demonstrar a minha profunda gratidão pelo trabalho notável e inexcedível de todos os nossos colaboradores.

Heróis e heroínas, que desde o início da pandemia, têm demonstrado um profissionalismo ímpar e uma dedicação notável. AS MINHAS PRIMEIRAS PALAVRAS DE GRATIDÃO VÃO PARA AS NOSSAS EQUIPAS DA TERCEIRA IDADE E DA SAÚDE. Nos dias de hoje, trabalhar numa estrutura residencial ou numa unidade de cuidados continuados só está ao alcance de verdadeiros heróis. Cuidar é responsabilizarmo-nos pelo outro. Cuidar dos que mais precisam, dos mais frágeis, dos mais velhos, dos mais doentes. Cuidar sob a enorme pressão de uma sociedade egoísta e apenas virada para o seu umbigo, uma sociedade que nunca quis olhar para esta realidade, que nunca quis saber dos mais velhos, relegando-os para estruturas que muitos fingiam não conhecer. Os casos como o de Reguengos de Monsaraz ou outros a que fomos assistindo vieram colocar os Lares de Idosos na ordem do dia, como se eles só agora existissem. Todos ficaram muito preocupados com os mais velhos, no entanto, poucos ou nenhuns os foram buscar ao Lar de Idosos. É neste contexto de pressão constante que as profissionais da Misericórdia Amadora trabalham diariamente. Oito horas seguidas com uma máscara, não podendo nas horas de descanso baixar a guarda, porque a responsabilidade é enorme. Apesar de todo este cenário, as nossas colaboradoras continuam empenhadas em salvar

vidas, sim porque é disto que se trata, são elas que estão a salvar vidas. São elas que fazem com que o dia a dia dos nossos idosos se torne um pouco melhor. São elas que substituem os familiares que não os podem visitar, são elas que tentam dar a normalidade possível à vida nestas estruturas, são elas que merecem o nosso respeito e gratidão. A minha segunda referência vai para as Apoiantes Domiciliárias, muitas vezes esquecidas por não pertencerem a uma estrutura física. Mas não as podemos esquecer, pois são estas as heroínas que percorrem à pressa as ruas da cidade, com o intuito de cuidar daqueles que não podem sair de casa. Para a maioria dos idosos, principalmente nos meses de maior confinamento, as apoiantes foram o único contacto com a vida lá fora. Apesar do medo e da incerteza por detrás de cada prédio visitado, as apoiantes domiciliárias mantiveram sempre o foco no auxílio aos mais velhos.


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A terceira referência vai para todas as nossas estruturas de suporte, manutenção, transportes e economato, todos eles inexcedíveis. No período de confinamento foram estes heróis que levaram refeições aos casos de emergência social, bem como àqueles que por motivos da doença ou do isolamento ficavam impedidos de sair de casa. A estrutura administrativa foi também um pilar fundamental. Numa altura de incerteza e de constantes alterações legislativas, os serviços estiveram sempre na retaguarda para que cada um, no seu local de trabalho, mantivesse as condições necessárias ao desempenho das suas funções.

Também a equipa RSI manteve a sua resposta à comunidade, o Campus Social foi sempre um porto de abrigo para todos os que nos procuravam. A nossa Clínica Médica que se manteve em funcionamento, apesar de diminuir as consultas e os tratamentos, manteve as consultas de medicina geral e familiar. Dando resposta a milhares de cidadãos que precisavam de consulta. Por último, mas não menos importante, uma palavra de gratidão a toda a nossa comunidade educativa. Desde logo porque mantivemos aberta a única creche no concelho. A Creche Santa Teresinha do Menino Jesus esteve sempre em funcionamento, dando resposta aos filhos dos profissionais de primeira linha. Apesar dos receios iniciais, as nossas educadoras e auxiliares conseguiram mostrar que também se sorri com os olhos, as crianças, essas, seguramente jamais as irão esquecer. A comunidade docente soube reinventar-se e, em apenas dois dias, a escola deslocou-se para a casa de cada um dos mais de 500 alunos. Conseguir à distância transformar o processo de ensino e de aprendizagem e manter acesa a chama das nossas crianças e jovens foi um trabalho notável de todas as educadoras, professores e técnicos. BEM SEI O QUÃO DIFÍCIL FOI ESTA TAREFA. BEM SEI QUE AINDA NÃO TERMINOU ESTA MALDITA PANDEMIA, BEM SEI QUE AINDA VAMOS TER MUITOS DESAFIOS PELA FRENTE, MAS POR TUDO O QUE JÁ PASSÁMOS JUNTOS… A TODOS, MUITO OBRIGADO.

FICHA TÉCNICA | Revista Ser Misericórdia nº13 PROPRIEDADE E EDIÇÃO Santa Casa da Misericórdia da Amadora Estrada da Portela - Quinta das Torres Alfragide - 2610-143 Amadora Tel: 214 722 200 - Fax: 214 722 212 E-mail: santa.casa@misericordia-amadora.pt

DIREÇÃO Manuel Girão

TIRAGEM 2.000 Exemplares

DESIGN E ARRANJO GRÁFICO Gabinete de Comunicação e Imagem Paulo Calvino

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