SER MISERICÓRDIA #16

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#16 M
DEZEMBRO
I S E R I C Ó R D I A LUÍS MADUREIRA NOS 25 ANOS DO FALECIMENTO ‘A EXIGÊNCIA DA SOLIDARIEDADE’ PÁG. 24 PE. MATIAS - CAPELÃO DA SCMA ‘ENCONTROS DE MISSÃO’ PÁG. 10
2022

O CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE

As dificuldades que tínhamos conseguido prever e aquelas que, sem se fazerem anunciar, nos presenteavam com a sua presença, deixavam a sua forte marca sem, no entanto, me impedirem de esboçar claros sinais de certeza na nossa capacidade de resistir e de continuar. Este ano vou omitir essa parte, para me centrar no caminho que estamos a percorrer.

Falamos de sustentabilidade, um dos assuntos do momento e ainda bem que assim é! De facto, a preocupação com a sustentabilidade, em todas as suas vertentes, vem sendo algo que muito se discute nos últimos tempos e que passou a fazer parte da lista de preferências dos “especialistas em variadíssimos assuntos” que vamos escutando por aí.

Importa saber se esta é efetivamente uma preocupação genuína, ou apenas um assunto em moda, que fica bem abordar se quisermos ser atuais e, eventualmente, politicamente corretos. Como a segunda hipótese se encerra no campo da teoria, em território dos “especialistas em variadíssimos assuntos”, e, como não me enquadro nesse grupo, vou centrar-me na primeira por ser aquela que verdadeiramente importa.

Aqui, onde em cada Natal nos encontramos, é hábito fazer uma referência ao ano que termina, sendo que, nos últimos, essa retrospetiva resultou de sentimentos algo controversos e até contraditórios.

AS MISERICÓRDIAS SÃO INSTITUIÇÕES QUE, POR NATUREZA, SÃO CHAMADAS A SER SUSTENTÁVEIS.

Olhemos atentamente para as 14 Obras de Misericórdia e, rapidamente, entenderemos o que quero dizer. Porque estamos focados nas pessoas e existimos em função delas, a nossa praxis só pode ser sustentável!

EDITORIAL
CONSTANTINO PINTO 02

Num país que teima em não crescer, inviabilizando assim o progresso e a melhoria das condições de vida da sociedade, são precisamente os mais desfavorecidos que, cada vez em maior número, se veem privados dos seus mais essenciais direitos.

Cabe-nos a nós trabalhar de forma sustentada, no sentido de contrariar esta tendência e assim mitigar o sofrimento deste cada vez mais elevado número de pessoas. Deveremos fazê-lo com os olhos no futuro, mas sem os tirar do presente.

Por tudo isto, reforçamos a nossa aposta na formação, na criação de locais de trabalho mais saudáveis, visando um modelo integrado, totalmente centrado nas pessoas. Se por um lado temos de continuar a crescer nas nossas respostas, por outro temos ainda mais que fazer da qualidade a nossa bandeira e o único meio para dignificar a vida de todos os nossos utentes.

Este conceito tão amplo e abrangente de sustentabilidade não se encerra aqui; preferimos entendê-lo como um longo caminho, sem fim à vista, mas que importa percorrer com segurança e determinação. Esta matriz misericordiosa reveste -se de uma enorme responsabilidade, na medida em que, ao atuar para as pessoas, teremos que garantir que, as nossas práticas correspondem ao que a natureza, o mundo e a humanidade, a este nível, exigem de nós.

Na Santa Casa da Misericórdia da Amadora fazemos assentar os nossos pilares estratégicos numa gestão sustentável, aplicada de forma rigorosa em três grandes vertentes: a social, a económica e, obviamente, a ambiental! Ao pretendermos “cuidar” de pessoas, não podemos nem queremos descurar nenhum destes três importantes vetores.

Este tem sido o fio condutor de todas as Mesas Administrativas, e por isso, apesar de todas as adversidades vividas, sobretudo nos últimos três anos, continuamos presentes, na linha da frente, reforçando em cada ano as nossas respostas, tentando ir sempre mais além na mitigação dos problemas que afetam a nossa comunidade.

É um dado adquirido que estamos a quadruplicar o nosso parque de painéis foto voltaicos, permitindo-nos atingir um grau muito elevado de autossuficiência energética, que estamos a reduzir de forma drástica o consumo de descartáveis, que estamos a apostar na utilização de materiais amigos do ambiente…

Claro que sim, mas o que pretendemos mesmo, é preparar-nos para um novo e “imprevisível” ano e para os vindouros que desconhecemos, isso sim: garantindo que os que apoiamos continuarão a ser atendidos com verdadeira dignidade e que os que ainda não atendemos, mas que precisem de nós, encontram da nossa parte a resposta na medida das suas necessidades. E perante esta radical imprevisibilidade de um futuro já presente, unamos forças, olhemos com profundidade para as Obras de Misericórdia e atuemos!

PARA TODOS, UM SANTO NATAL E UM EXCELENTE ANO DE 2023: SEJAMOS NÓS PRÓPRIOS, COM E PARA OS OUTROS!

03 EDITORIAL
A APOSTA NAS PESSOAS, NA SUA DIGNIDADE E NA QUALIDADE, SÃO, MAIS DO QUE QUALQUER OUTRO, O FOCO DA NOSSA ATUAÇÃO.
Ilustrações
1 - Dar
2 - Integrated
por Paulo Buchinho para a UMP:
de comer a quem tem fome (Obra de Misericórdia)
Support for the Elderly

SCMA | ENTIDADE FORMADORA CERTIFICADA ‘CAPACITAR PARA DESENVOLVER E SERVIR COM QUALIDADE’

A Santa Casa da Misericordia da Amadora (SCMA), no dia 23 de junho, passou a integrar a lista de Entidades Formadoras Certificadas, estatuto atribuído pela Direção de Serviços de Qualidade e Acreditação (DSQA) da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT).

O processo de certificação foi resultado de um caminho iniciado em colaboração com um parceiro externo e pela criação, em janeiro de 2022, do Departamento de Formação para acompanhamento e apoio da candidatura à certificação da formação.

A nova estratégia e visão da formação profissional da SCMA impulsionou a certificação da formação e deu origem ao Departamento de Formação, independente do DRH, para incorporar 3 eixos estratégicos: cumprimento dos requisitos normativos da certificação alinhados com a norma da gestão da qualidade; reforço das qualificações dos/as colaboradores/as e promoção do desenvolvimento (cultura) organizacional.

Como entidade formadora certificada a SCMA mantém e reforça a aposta no potencial humano de quem cuida e na certificação das suas competências pessoais, sociais e profissionais, com o propósito de desenvolver serviços e respostas sociais humanizadas e tecnicamente qualificadas.

A mudança na estratégia da formação interna originou a implementação de um modelo de diagnóstico de necessidades formativas participado que, assente no princípio da igualdade de participação e da liberdade criativa, se concretizou na realização de 23 focus group onde estiveram envolvidos 169 colaboradores/as de todas as resposta sociais, serviços e categorias profissionais.

Esta nova abordagem integra os contributos dos/as colaboradores/as na reflexão sobre o que deve ser a formação na SCMA na sua dimensão operativa (onde; como; quando) e no desenho das ações e dos conteúdos formativos (o quê). O objetivo é o de responsabilizar para uma formação ajustada a todos/as e que esta se torne motivadora de mudança pessoal e profissional.

Esta dinâmica veio a revelar-se um instrumento de cultura e desenvolvimento organizacional pela avaliação dos/as participantes que valorizaram a(s) oportunidade(s) criada(s) e a possibilidade de partilharem as suas inquietações e expectativas, individuais e profissionais.

Paralelamente à execução formativa em 2022, a formação integrou a reativação do programa de SOMA 2.0 – Sustentabilidade Organizacional da Misericórdia da Amadora, com o projeto “Juntos &

PEDRO SANTOS 04
FORMAÇÃO

Ligados” para responsáveis e coordenações, mobilizador da coesão e da cultura organizacional e com o propósito de empreender e fazer acontecer Misericórdia. Foram identificados 33 novos desafios e iniciativas que envolvem colaboradores/as, utentes, famílias e parceiros.

Iniciou-se também o programa de capacitação CONS!GO, dirigido a todos/as colaboradores/as, focado na prevenção da Saúde Mental e na promoção Felicidade e Bem-Estar no Trabalho. Para o efeito, foi constituída uma equipa multidisciplinar de 12 colaboradores/as das várias áreas de intervenção. Esta equipa desenhou um plano de atividades com o objetivo de facilitar o

acesso a informação especializada e de aconselhamento nos cuidados para a saúde mental, assim como criou momentos de reflexão no sentido da sensibilização para adaptação de estratégias que concorrem para a qualidade das relações nos locais de trabalho.

O propósito de capacitar quem cuida é o elemento transversal da atividade formativa que reconhece como prioridade a qualificação e a valorização do potencial humano (saber ser) de todos/as colaboradores, na dedicação e humanização dos serviços que são prestados diariamente a utentes, parceiros e comunidade(s) envolvente(s).

05 SCMA - ENTIDADE FORMADORA CERTIFICADA

A festa e a celebração são aspetos cruciais da coesão de um grupo social. Nela se cimentam valores, se estreitam relações, se honram raízes e, fundamentalmente, se dá espaço para a vivência de emoções e sentimentos especiais, próprios do serhumano.

E foi o que aconteceu na nossa instituição ao assinalarmos mais um dia da nossa casa, com o e nvo lv i m e n to e p a r t i c i p a ç ã o a t i va d e colaboradores de todas as respostas sociais, voluntários, famílias e utentes das várias valências e de toda a comunidade circundante que se quis juntara nós.

A Santa Casa da Misericórdia da Amadora celebrou, no dia 25 de junho, o Dia da Instituição. A celebração deste dia, entre outras iniciativas, culminou com um arraial aberto a toda a comunidade. Neste dia, tivemos a oportunidade de servir toda a comunidade, dando corpo ao compromisso com as pessoas e com a vida Celebrámos, como deve ser sempre celebrada a vida, em festa e em espírito de entrega.

Numa atitude de compromisso voluntário e espírito de serviço, muitos foram os que se dedicaram a preparar a festa e nela, servir –literalmente servir, centenas de pessoas que nos surpreenderam e desafiaram com a sua presença, diversão, bem - estar e alegria pela festa que lhes

foi proporcionada. Muitos foram os voluntários que se disponibilizaram para nesse dia viver a festa do lado de quem serve, porque também daí se retira alegria e realização. Uma forma singela e simbólica de servir, que se materializou em cada gesto de preparação do espaço, arrumação de mesas, fazer a sangria, arrumaras bebidas e os “ comes ” e depois servir tudo isto com boa disposição, animação, mas também o maior rigor com a qualidade e segurança.

ISABEL MOÇO 06
DIA SCMA
FAZER POR MERECER
É sempre difícil relatar uma festa, uma celebração, porque o que mais relevante tem é a forma como esse momento é vivido, sentido e partilhado, e nem sempre conseguimos escrever a intensidade de cada sorriso, de cada olhar ou de cada abraço.
Isabel Moço Mesária

Para alguns destes voluntários foi a oportunidade de viver de uma forma diferente o significado do serviço, onde aprender a “tirar” uma imperial, gritar “febras”, “sardinhas” ou mesmo “caldo verde”, durante horas, foi mais do que uma simples aprendizagem, tornando-se numa vivência de serviço distinta - uma experiência que nos enriqueceu e deixou felizes. Muitos foram os que ajudaram e, efetivamente, ajudaram nas horas de maior aperto. A afluência foi enorme e, por muitos, que fossemos, queríamos todos servidos o mais rápido possível.

Outros contribuíram de outras formas, como por exemplo a animação musical, ou a roulotte das farturas, ou mesmo todos os expositores que se quiseram associar e estar nesta festa e com a sua presença ajudaram a proporcionar umas boas horas de convívio e animação.

INCLUSÃO

Pudemos observar famílias inteiras – avós, filhos e netos a cantar, dançar, comer juntos e isso é uma riqueza que as respostas sociais da SCMA promovem e que ali se manifestaram Estes momentos, sem dúvida, também fomentam esse diálogo, melhoraram os efeitos das ações de integração e desenvolvimento de cada pessoa, e isso foi muitovisível. Sobretudo uma grande família comunitária a celebrar o dia da Instituição, foi a melhorrecompensa que se pôde obter

Nunca palavras, ou mesmo imagens, conseguirão relatar a festa, como já havíamos referido A celebração do Dia da Instituição deste ano, e não

sendo a primeira que vivi nesta casa, teve um sentido diferente, mais intenso e deliciosamente saboroso, pois tive oportunidade de contactarcom centenas de pessoas, de rever tantos que não encontrava há anos e, o mais importante, sentir-me mais próxima de quem todos os dias dá tudo o que sabe e pode por esta comunidade – os colaboradores da SCMA, e da comunidade em si.

Depois do trabalho, ainda pude dar um pezinho de dança com crianças e adultos e sentir a alegria de centenas de pessoas que não arredavam pé e queriam que a festa continuasse. Utentes – do mais jovenzinho, ao mais velhinho, familiares, amigos, vizinhos, colaboradores, voluntários e tantos cuja presença nos honrou, celebraram a vida da instituição de modo descontraído, animado e feliz Para isso muito contribuiu a fabulosa atuação dos “Carapaus, Azeite e Alho”, que tiveram a capacidade de manter centenas de pessoas aos pulos, a noite inteira. Pudéssemos continuar, não se tivessem já esgotado as comidas, as bebidas e as pernas, e teríamos arraial pela noite dentro, num sério desafio aos mais concorridos e animados festejos de verão das redondezas De tudo fizemos, como todos os dias, mesmo no gesto mais pequenino, para merecer a confiança que milhares de pessoas depositam na SCMA. Uma orientação de todos os dias: fazerpormerecer

Com um enorme sentido de serviço, ao modo de Cristo, esta celebração foi uma forma de comunhão, em que cada um, qualquer que fosse o seu papel, se entregou numa dádiva de compaixão pelos coletivos que servimos. Um enorme bem -haja a todos quantos puderam realizar esta comunhão connosco, na celebração do Dia da Instituição.

07 DIA SCMA
REINVENTAR
REPENSAR INTERAÇÕES SOCIAIS, ATUAR EM SOLIDARIEDADE!
COMUNIDADE
O ENCONTRO QUE ESTAFESTAPROPORCIONOU FOI MARAVILHOSO E RIQUÍSSIMO DO PONTO DE VISTA DO DIÁLOGO INTERGERACIONAL, DIVERSIDADE E

10.º ANIVERSÁRIO UCCI SAGRADA FAMÍLIA

A UCCI Sagrada Família assinalou em 2022 o seu 10º aniversário no dia 9 de abril. Mais do que uma data, trata-se um percurso temporal trilhado por muitos profissionais que permitiram a consolidação da sua atividade e almejar a qualidade do serviço que garantimos aos nossos utentes e familiares.

Na sua Visão, a UCCI Sagrada Família explicita a sua ambição em tornar-se um modelo de referência dentro da RNCCI Sem qualquer pretensiosismo, fazendo um olhar retrospetivo, consideramos que conseguimos atingir este patamar de qualidade, quer pela consistência dos seus resultados, quer pela capacidade de concretizar boas práticas. Nestes dez anos de atividade assistencial, de forma integrada e interdisciplinar, desenvolvemos uma resposta que sempre visou colocar a pessoa no centro da sua intervenção, indo ao encontro das suas necessidades e expectativas. Criámos um modelo de governação que, não sendo inovador na estratégia e nos instrumentos, foi capaz de traduzir em processos e resultados a melhor evidência científica proposta para os cuidados de longa duração (long-term care, na denominação internacional). Em síntese, conseguimos passar do discurso à prática.

Construímos uma cultura organizacional que recebeu contributos dos muitos profissionais que por aqui passaram e, simultaneamente, proporcionou-lhes uma matriz de cuidados, que lhes garantiu um desenvolvimento profissional alinhado com os pressupostos de uma REDE destinada a pessoas vulneráveis, com elevada carga de doença e com dependência, com necessidade de cuidados complexos e diversificados. Num nível de cuidados ainda na

adolescência, ainda à procura de uma identidade de cuidados, construímos uma visão, um método e uma intervenção.

O capital humano tem sido determinante para os resultados obtidos Sem as pessoas que diariamente cuidam e garantem as condições necessárias para a prossecução da sua atividade, nunca teria sido possível atingir os objetivos a que se tem proposto. São as pessoas os guardiões da sua cultura organizacional, são as pessoas que permitem a transformação das práticas e a sua adequação às novas necessidades e adversidades conjunturais, são as pessoas que garantem, todos os dias, a qualidade, a segurança, a qualidade de vida, a satisfação, os ganhos em saúde, através de uma prática humanizada, holística, integrada, colaborativa, articulada e focada em resultados.

Mas não estamos sós. O trabalho que esta UCCI desenvolve seria impossível se não estivesse articulada, em rede, com os demais recursos da comunidade e da Instituição. As necessidades dos nossos utentes são complexas e, por isso, requerem uma resposta articulada, coordenada e integrada para a sua satisfação Os ACES, nomeadamente o da Amadora, os diversos hospitais, dos quais destacamos o Hospital Prof Doutor Fernando da Fonseca, o ISS, outras IPSS, a autarquia, entre outras organizações, pessoas individuais e empresas privadas, têm permitido, ao

SAÚDE
PEDRO FERREIRA 08
Pedro Ferreira Coordenador Área da Saúde

longo destes dez anos, suprir necessidades e suportar iniciativas que deram valor à sua intervenção. Também as diversas áreas de suporte da Misericórdia da Amadora, bem como outras respostas sociais da mesma, permitiram que a UCCI Sagrada Família laborasse continuamente e garantisse resposta às necessidades dos utentes e famílias, proporcionando um suporte vital à atividade assistencial.

As equipas de coordenação da RNCCI foram, igualmente, um esteio e uma fonte de desenvolvimento organizacional. A sua exigência, a confiança, o incentivo, o reforço positivo, a proximidade pessoal e institucional, permitiram suportar, estruturar e validar os seus processos. Nem sempre houve consensos mas existiu sempre diálogo e capacidade de encontrar soluções. O grande obstáculo a um melhor futuro desta UCCI (e da RNCCI, dizemos nós) prende-se com o modelo de financiamento, decorrente das políticas prosseguidas e da sua visão de crescimento, ao qual estamos todos amarrados e, naturalmente, condicionados na orientação da coordenação e na gestão de recursos.

E, para finalizar, os órgãos sociais da SCMA, nomeadamente a sua Mesa Administrativa, e a Direção Geral foram sempre uma fonte de inspiração, de incentivo e de suporte à sua atividade e iniciativas. A UCCI Sagrada Família é uma pequena parte desta Misericórdia da

Amadora e dela nutre a sua Missão, Visão e Valores. A sua vontade de inovar e de garantir um serviço de qualidade e diferenciado advém da matriz organizacional de Bem Servir desta Misericórdia. Bem Servir aqueles que são mais vulneráveis e menos capazes, de forma autónoma, de atingir o limiar da qualidade de vida e da dignidade humana.

Celebramos, pois, os dez anos desta UCCI que em tempos foi uma ambição, depois um projeto e, finalmente, uma realidade. Vivemos todos estes tempos de forma intensa e comprometida Transformámos vidas, fomos fonte de esperança, nalguns momentos, e de último reduto, noutros. A singularidade do nosso trajeto, apesar de semelhante em muitas das suas nuances a outros prestadores, assenta nas pessoas que comungaram de uma mesma visão e de uma mesma ambição. Que souberam interpretar e aplicar o seu modelo de governação e partilhar experiências, alegrias, tristezas, vontades e desilusões, que também as houve.

Esperamos por mais dez anos de anos cheios, provavelmente diversos, porque a realidade é inconstante e determina os factos. Mesmo perante a dura realidade dos factos e das adversidades, teremos sempre a determinação de ser um farol, alicerçado em valores sólidos e numa visão capaz de transformar vidas, garantindo-lhes dignidade humana e qualidade de vida. Este é o nosso voto, esta é a nossa ambição.

09 SAÚDE

ENCONTRO(S) DE MISSÃO

É o Capelão da Misericórdia da Amadora e um homem de Encontro. O Pe. José Matias, missionário da Consolata, percorreu lugares de missão onde a escuta do outro revelou sua vocação e compromisso.

Vive em Igreja no Zambujal e na Santa Casa da Misericórdia da Amadora

Ser Misericórdia: Tendo experimentado muitos cenários de evangelização na sua vida, que local e gentes o marcaram mais?

Pe. Matias: Foi Moçambique. Sinceramente, foi o local e as gentes que mais me marcaram. Vivi numa zona muito longe das cidades grandes, das metrópoles praticamente na floresta, onde a minha missão, que se chamava Mapinhane em Vilanculos.

Era o Centro da Missão de 36 comunidades cristãs espalhadas por aquela região. Eu tinha que me organizar rigorosamente durante a semana, para as poder visitar pelo menos 1 vez no mês. Durante todo o tempo em que lá fiquei, praticamente não parava em casa, e ficava espantado com aquelas pessoas na sua pobreza. Com as poucas coisas que tinham, mostravam um sorriso, estavam sempre alegres.

Muitas vezes dizia: «Mas falta-vos isto, vocês não têm quase nada...», e elas respondiam sem qualquer fatalismo, «Sim, mas o que é que nós podemos fazer?» com uma confiança total em Deus e na sua ajuda permanente. Aqui no Zambujal também dizem que «Deus ajuda continuamente as pessoas africanas» ou «Temos ajuda quando alguma coisa não corre bem». São pessoas que sabem viver com o pouco que têm, e que vivem na simplicidade, contentes e felizes.

SM: E essa felicidade e alegria era permanente ao longo do dia?

Pe. M: Claro. A vida para eles é uma dança de alegria permanente. Nas eucaristias era tudo muito animado, muito vivo, onde as pessoas gostavam de se expressar. Depois das leituras, em vez de ser eu a falar, costumava deixar espaço de partilha e se alguém queria falar ou dar algum testemunho. Todos queriam fazê-lo, a começar pelas mulheres, curiosamente. Eram eucaristias que duravam muito tempo E as pessoas eram de uma resistência enorme, quero dizer, Fé. Era gente que fazia quilómetros e quilómetros para vir à comunidade e às celebrações, e, fazia quilómetros com um balde na cabeça e ia buscar água para fazer a comida e para tomar banho. E sempre de sorriso no rosto.

ENTREVISTA PE. MATIAS - CAPELÃO SCMA 10

Pe. M: Sim. Eu tinha um centro catequético que recebia as famílias Um dia chegou lá um sacerdote de outra missão que veio trazer uma família de Mapinhane. E quando chegaram, eu recebi-os, olhei para dentro do carro, que era descapotável, e vi um homem com a esposa e três filhos. Depois vi que não traziam praticamente nada. Trazia uma esteira, um saquito, e mais qualquer coisa que nem sei o que era. Acabei por fazer uma cara de espanto. E logo a mulher afirmou: «Padre, não fique preocupado, porque nós não vamos morrer de fome». Incrível como perceberam, sem eu ter dito nada, que estava preocupado. E eu questionava: «Como é que esta gente vem para aqui? Como é que vai viver?» As pessoas do centro foram extremamente solidárias, e cada família deu um bocadinho à família recémchegada… uma latinha de feijão, outra latinha de amendoim, e pronto começaram assim a viver naquele centro.

SM: Em que ano foi isto? E quanto tempo esteve por essa missão?

Pe M: Foi antes, durante e depois da independência de Moçambique. Nos anos de 1974 a 1976. Estive por lá 3 anos.

SM: Por que é que decidiu ser missionário?

Pe. M: Sinceramente, não sei. Mas ao princípio, quando vim para o Seminário não fazia ideia.

Apareceu lá na minha terra (Cardigos - Sertã) um sacerdote dos Missionários da Consolata. Era italiano e perguntou-me se eu queria ir para o Seminário, acenando que lá se jogava muito à bola. Era um garoto e pronto, disse logo que sim, que queria ir. E logo a seguir veio um irmão a dizer: «Também quero ir.» E lá fomos os dois para o Seminário.

SM: Onde é que ficava o Seminário?

Pe. M: Em Fátima, no Seminário dos Missionários da Consolata. Era o único Seminário que tínhamos.

SM: Em que ano foi? E como foi essa entrada?

Pe. M: Isto foi em 1957. Tinha 11 anos e conhecia alguns rapazitos lá da minha terra, da minha aldeia, que já andavam por lá. Não ia assim para o desconhecido. Quer dizer, tinha pelo menos a l g u m a s p e s s o a s q u e e u c o n h e c i a Ao longo do tempo, as coisas foram ficando esclarecidas e através dos testemunhos dos missionários que vinham de África ou da América Latina, e nos contavam as suas experiências de missão, a vocação começou a ter um certo sentido… e decidi ir.

SM: Foi ordenado em…

Pe. M: Em 1971, no dia 3 de janeiro de 1971. Nessa altura estudava em Itália e foi engraçado que os 17 novos sacerdotes do meu curso, pediram ao

11 ENTREVISTA
SM: Algum episódio desses encontros?

Superior Geral dos Missionários da Consolata para nos enviar logo em missão para fora do país. O nosso pedido foi aceite e fomos todos para sítios diferentes… Moçambique, Argentina e Brasil. E depois fui destinado para Moçambique.

SM: E a família? Como é que reagiu à sua vocação?

Pe. M: A minha família era muito religiosa, e os meus pais, também muito religiosos, ficaram muito contentes. Claro que também sofreram um bocado, em especial com as ausências. A minha e a do meu irmão também. Acabei por me sentir muito, quando o meu irmão saiu do Seminário. Já andava no quinto ano quando o fez, mas fiquei e continuei. Apesar de todas as adversidades os meus pais sempre me apoiaram muito e encontravam-se muito felizes.

SM: Quantos irmãos eram ao todo?

Pe. M: Éramos 5 irmãos.

SM: Como descreve e vê o momento Sinodal que a Igreja se encontra agora a viver?

Pe. M: É algo muito importante. A Igreja está a chamar e a convidar as pessoas a caminhar em conjunto, juntos. É o que realmente faz falta à nossa Igreja, não só em Portugal, mas por outos locais e regiões. Há muitos grupos e cada um quer caminhar por sua conta, o que não é bom. Então o Papa, ao programar este Sínodo, tem isso em mente, fazer esta caminhada em conjunto para que as pessoas possam voltar à Igreja primitiva.

SM: Que Igreja é essa?

Pe. M: A Igreja primitiva é aquela em que todos se apoiam, todos ajudam e não existem grupinhos. Devemos aproveitar todos os valores como pessoas diferentes dos outros que somos, mas que ao mesmo tempo, trabalhamos para o mesmo Cada um no seu lugar, religioso, sacerdote, bispo, leigo, eu e tu, todos devíamos ter como meta o trabalhar juntos, o de caminhar juntos.

SM: Qual é o maior desafio que a Igreja tem pela frente?

Pe. M: Para mim é criar constantemente união nas nossas pequenas comunidades, grupos e paróquias, para que a individualidade de quem quer emergir, como pessoa ou grupo, seja eliminada na caminhada e haja um bem comum.

SM: Como é evangelizar aqui no Centro Missionário da Consolata do Zambujal?

Pe. M: É bem diferente do que era em Moçambique… quando vim para aqui, em 2003, eu residia no Seminário do Cacém e vinha apenas às tardes ao Zambujal.

Num determinado momento, houve um Capítulo Geral em que ficou decidido que cada país procurasse um Ad Gentes, em cada Província da Europa. O carisma da Consolata, é ir para as zonas mais complicadas, mais difíceis e mais pobres. Andei por aí a dar voltas nos vários bairros complicados de Lisboa e depois fui ao CardealPatriarca, que era o Dom José Policarpo, disse-lhe que já tinha o local escolhido, mas ele interrompeu dizendo: «Não diga qual foi o sítio… os Missionários

ENTREVISTA PE. MATIAS - CAPELÃO SCMA 12

EM 30 SEGUNDOS...

UMLIVRO?

El Labirinto de los Espiritus de Carlos Ruiz Zafon, uma homenagem ao mundo dos livros

UMFILME? Invictus, filme sobre o Apartheid com o Morgan Freeman

UMLOCAL Moçambique - Vilanculos

UMACIDADE Romaa cidade eterna

UMPRATOPREFERIDO Cozido à Portuguesa

da Consolata querem um lugar de difícil, de pobreza e de exclusão social... digo-te que devem ir para o Zambujal».

SM: Como foram os primeiros passos?

Pe. M: Para começar e como não conhecia ninguém, comecei por visitar as famílias, e rapidamente estabeleci ligação com três delas, que foram referência e muito me ajudaram no meu trabalho. A família do José Braz, do Vítor Monteiro e da Maria Semedo que era uma viúva na altura. Depois iam passando a palavra e foi bom. O Evangelho é o mesmo. Esta é a metodologia que se deve seguir aqui. O meu modo é o estar com as pessoas, estar perto delas, visitá-las, rezar junto com elas.

SM: E a Misericórdia da Amadora? Como é que a SCMA apareceu na sua linha de atuação?

Pe. M: Quando vim para aqui, para o bairro, foi quando saiu o Padre Jaime, superior na altura dos Missionários da Consolata, e ele é que era o capelão Passou-me o testemunho dizendo: «Agora és tu que segues como capelão da Santa Casa da Misericórdia da Amadora». Em termos de atuação eu já realizava algumas celebrações em diversas valências como o Lar da Sagrada Família, o Lar Santo António e a Escola Luís Madureira.

SM: E como é esta missão?

Pe. M: É uma pastoral consolação. Estas pessoas precisam muito ser consoladas, não só os velhinhos, mas também colaboradores e utentes, e esse é também o nosso carisma… somos

Consolata… Consolação, portanto eu gosto. E gosto de ir, porque oiço aquelas pessoas idosas que gostam muito de nos contar histórias do passado. Gosto também muito de celebrar as eucaristias na Escola Luís Madureira ao longo do ano escolar e os vários sacramentos que se administram aos miúdos.

VEJO TAMBÉM AQUELAS PESSOAS QUE TRABALHAM LÁ, SÃO DE MUITA DEDICAÇÃO, E É UM TRABALHO MUITO DIFÍCIL E DE MUITA ENTREGA.

13 ENTREVISTA

OPINIÃO

A ECONOMIA (D)E FRANCISCO

O titulo deste texto é a expressão de uma dinâmica. Existe a proposta de uma “economia de Francisco”, a provar que a experiência religiosa é inseparável da dimensão social e política.

1. Enquanto estruturas organizadas, as religiões transportam narrativas de valores éticos e morais para a organização social e política Não preconizando teocracias ou projetos promíscuos cumplicidades no exercício do poder, o cristianismo, que tem na Igreja católica a sua mais influente instituição, desenvolveu um ideário com profundas consequências políticas.

A Doutrina Social da Igreja (DSI) não é um programa político-partidário, mas uma proposta para a reflexão sobre os modelos de organização social. Nesta perspetiva, temos a religião a intervir, com direito e por dever, no diálogo transversal e secularizado.

O conceito de “bem comum” e “destino universal dos bens”, os princípios de dignidade humana, direito ao trabalho e dever de participação, afirmam-se pela DSI como chaves de leitura sociopolítica e antropológica do evangelho, fonte de inspiração para muitas formas de governança e prática social, que não se enclausuram nas ideologias estudadas pela ciência política. Reafirmando uma ética de alteridade, há um

princípio radical na DSI: “Deus destinou a terra e tudo o que ela contém, ao uso de todos os homens e povos, de modo que os bens criados devem estar ao dispor de todos, com equidade, tendo como guia a justiça e por companheira a caridade” (Gaudium et Spes, 69).

2. O papa Francisco deixa três documentos estruturais para a DSI e para a reflexão no devir do mundo: Evangelii Gaudium (EG) “sobre o aníncio do evangelho no mundo atual”, com a visão sobre a justiça social e o capitalismo/neoliberalismo, no qual deixa, para a posteridade, uma frase que vai ecoar durante décadas (“Esta economia mata”); Laudato Si (LS) “sobre o cuidado da casa comum”; Fratelli Tutti (FT) “sobre a fraternidade e a amizade social”, onde realça as ameaças ao exercício político, como os nacionalismos.

“Devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social. Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento de um idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão” (Evangelii Gaudium, 53).
JOAQUIM FRANCO 14

Na encíclica Fratelli Tutti, o Papa conjuga a palavra "política" cerca de 70 vezes, afirmando que a política se torna "cada vez mais frágil perante os poderes económicos" (FT, 12). Os ideais são ferramentas para construir identidades e pontes, em contraponto às absolutizações ideológicas, que segregam o diferente e impedem o diálogo, ou às "ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira"(EG, 56). Considera o Papa que o "mercado, por si só, não resolve tudo" (FT, 168). A pandemia revelou "a fragilidade dos sistemas mundiais” e “evidenciou que nem tudo se resolve com a liberdade de mercado".

É evidente a denúncia da teoria neoliberal dos mercados de regulação mínima, transformada em dogma de fé. Francisco preconiza a reabilitação da política imune às "receitas dogmáticas da teoria económica", preservando "o direito de controlo dos estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum" (EG, 56) e garantindo uma economia promotora de "diversificação produtiva" (LS, 129), com "criatividade empresarial", sustentabilidade ambiental, aumentando postos de trabalho em vez de os cortar.

Há um bom combate. É aquele que investe "para que os lentos, fracos ou menos dotados possam também singrar" (EG, 209) e "não apenas para assegurar as suas necessidades básicas" (FT, 110).

A fasquia definidora do humanismo é esta defesa dos mais frágeis, que "requer um Estado presente e ativo e instituições da sociedade civil" (FT, 108).

O Papa exemplifica: "Alguns nascem em famílias com boas condições económicas, recebem boa educação crescem bem alimentados ou possuem por natureza notáveis capacidades. Seguramente não precisarão dum Estado ativo, e apenas pedirão liberdade. Mas, obviamente, não se aplica a mês ma regra a uma pessoa com deficiência, a alguém que nasceu num lar extremamente pobre, a alguém que cresceu com uma educação de baixa qualidade e com reduzidas possibilidades para cuidar adequadamente das suas enfermidades. Se a sociedade se reger primariamente pelos critérios da liberdade de mercado e da eficiência, não há lugar para tais pessoas, e a fraternidade não passará duma palavra romântica" (FT, 109).

O Papa que rejeita a absolutização dos mercados, critica também algumas "ideologias de esquerda ou pensamentos sociais" que acabam por cultivar "hábitos individualistas e procedimentos ineficazes, porque beneficiam a poucos" (FT, 165). As tentativas de colar o Papa a representações como “esquerda” ou “direita” são por isso redutoras.

15 OPINIÃO
OPINIÃO 16

3. Em novembro de 2021, online por causa da pandemia, realizou-se o primeiro encontro de jovens “A Economia de Francisco”. No final, os cerca de 2 mil participantes, inspirados pelo papa argentino, em representação de 120 países, apresentaram um compromisso na defesa do trabalho digno, do respeito pelos pobres, do investimento na educação, sustentabilidade e igualdade de oportunidades, defendendo que os paraísos fiscais “sejam imediatamente abolidos (…) porque esse dinheiro é subtraído do nosso presente e futuro”.

Ainda com o pós-Covid como referência, os participantes reclamaram “um novo pacto fiscal” como resposta à crise. Ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional exigem uma ajuda concreta para o combate à pobreza. Às empresas e às entidades bancárias sugerem a criação de comités independentes de ética. Aos legisladores propõem uma “carta comum que desencoraje escolhas empresariais voltadas apenas para o lucro”.

Já neste ano de 2022, nasceu a proposta para uma mudança gradual e global da economia, que, dando corpo à intuição de Francisco – o de Assis e o de Roma – coloca a fraternidade no centro da ação.

Como refere Manuel Brandão Alves, “ uma economia fraterna não encontra espelho na economia atual. Para que o encontre terá de ser uma economia diferente, que faz viver em vez de matar, que inclui e não exclui, que humaniza em vez de desumanizar, que cuida da criação em lugar de a devastar”. (O que temos nós a ver com “A Economia de Francisco”?, Sete Margens).

O cenário de guerra e crise climática impõe a urgência O planeta aperta os prazos e as desigualdades soltam a revolta. O pacto para um realinhamento de prioridades no exercício das políticas económicas será apenas o início de uma dinâmica que necessita de resiliência e persistência, mas também de perspicácia e ousadia para não perder o ritmo. Por isso, tem as novas gerações como protagonistas, com a necessária visão dos muitos mundos do Mundo.

Não faltarão, mesmo entre financeiros, economistas e políticos que se dizem de inspiração cristã, reações de bloqueio, acusações de ingenuidade ou um resignado encolher de ombros. A seu tempo, se tiverem – se tivermos –tempo, saberão que uma mudança já não é opção, mas consequência.

17 JOAQUIM FRANCO

3.ª IDADE

CARTA AO MR. JOHN

Na adolescência decidiu vir para Portugal, onde casou por duas vezes. Deste segundo casamento dizia que era ‘the love of my life’ (o amor da minha vida). Chamava sempre a esta sua mulher ‘my girl’ (a minha menina).

Infelizmente John ficou viúvo muito cedo, depois de doença prolongada da sua segunda mulher, o que contribuiu para o seu envelhecimento prematuro e afastamento da realidade do quotidiano normal.

Foi cineasta de profissão e tinha um gosto enorme pela representação e teatro, tendo colocado essa paixão e gosto no nosso Lar, acabando por nos levar a preparar algumas peças de teatro com os nossos utentes. Um dos seus últimos projetos foi a elaboração da peça ‘Sonho de Gatos’, em que contracenava com alguns dos nossos utentes e que tinha como objetivo principal, o de ser apresentada em modo itinerante, pelas nossas valências.

Além das peças de Teatro, John era um apaixonado por ensinar inglês às crianças do Pré -Escolar da Escola Luís Madureira, construindo assim a intergeracionalidade na Misericórdia da Amadora. Vivia cada preparação de lições com grande intensidade e punha amor nas aulas que dava aos nossos meninos.

Tinha algumas particularidades engraçadas como comer chocolate todos os dias de manhã, enquanto passeava pelos jardins do Complexo da Quinta das Torres. Gostava de muito de ler, e de saber novas tecnologias trabalhando no computador portátil que possuía.

Infelizmente, John foi vítima de uma doença súbita. No dia em que foi para o hospital eu perguntei-lhe «precisa de alguma coisa Mr. John?», e ele respondeu «I don’t need nothing… I received a lot of love.» (Eu não preciso de nada...recebi muito amor).

O Lar Santo António foi durante alguns anos a casa do extraordinário Mr. John.
John Broughton, de origem britânica, viveu a sua infância no Canadá com os seus pais e três irmãos.
MARIA INFANTE 18
19 3.ª IDADE
O MR. JOHN TOCOU-NOS DE UMA MANEIRA ESPECIAL, EM QUE OS SONHOS SÃO SEMPRE POSSÍVEIS. HAPPY DREAMS!

INCRIVELMENTE

A clareza com que o Pedro me descrevia alguns novos desafios despertou em mim, fã incondicional e assumido da incrível obra da SCMA, a vontade de poder contribuir para ajudar a vencê-los E assim iniciámos um conjunto de conversas, que deram origem a um projeto, que depois foi apresentado ao Dr ManuelGirão.

O Prof Manuel, como tantas vezes já assisti, acrescentou alguns “retoques finais” que mais do que retoques foram de facto contributos decisivos para termos um projeto entusiasmante e super motivador E foi assim que nasceu o Juntos & Ligados, integrado no SOMA2.0.

O que pretendemos com esta iniciativa? Refletir em conjunto sobre os desafios levantados pela Pandemia e encontrar soluções e formas de aproveitar as novas oportunidades. Mas fazê-lo em grupo (na verdade num conjunto de dois grupos), por acreditamos no poder criador do trabalho em equipa, partilhando e aprendendo entre pares. Tínhamos uma ambição adicional: depois de 2 anos de insegurança sanitária terem determinado o afastamento físico de muitas equipas da SCMA, quisemos fazer este reencontro presencialmente, criando um “ambiente seguro ” para todos podermos partilhar o quevivemos. E dessa partilha perceber como isso criou novos desafios e oportunidades para a SCMA.

E assim aproveitarmos o poder curativo que só a partilha e o trabalho em equipa promovem Reforçando a ligação entre todos e, acima de tudo, com o propósito da SCMA.

Foi assim que decidimos reflectir em 8 sessões sobre as Obras de Misericórdia, e a partir dessas reflexões pensar em conjunto como as realizar hoje neste Mundo em tão acelerada e profunda transformação.

SOMA 2.0 PEDRO GUIMARÃES 20
JUNTO & LIGADO
Tudo começou quando, no início deste ano, tive uma conversa informal com o Pedro Santos. E falando do tanto que acontecera nos últimos dois anos, e como isso afetou as nossas vidas e de todas as organizações em todo o Mundo, uma ideia começou a germinar.
Pedro
Guimarães Consultor, Coach, Mentor e Palestrante

Tudo decidido, vamos então arrancar! E aqui, admito, nos dias anteriores à primeira sessão tive as esperadas borboletas na barriga. Como iriam os participantes reagir à metodologia que decidimos utilizar? Seria eu capaz de criar as condições emocionais necessárias para o “ambiente seguro ” essencial para o sucesso? Como iriam reagir todos a um programa relativamente longo, com sessões semanais, realizado de forma presencial, após este triste e lamentável, embora indispensável, “intervalo de 2 anos ” no contacto físico, a que todos estivemos mais ou menos obrigados?

Duas certezas eu tinha.As Pessoas que constituem a grande Equipa da SCMA são seres humanos incríveis, pelo que vencidas algumas eventuais barreiras iniciais, a magia poderia acontecer E os dois convidados que compunham este grupo, que não sendo parte integrante da equipa SCMA têm com ela uma relação anterior, seriam mais do que um desafio a garantia de um “olhar adicional” que seguramente iria enriquecer a reflexão. E começámos numa terça-feira de manhã, apresentando o programa e a regra única do mesmo: o Grupo é soberano e todas as decisões serão tomadas por ele. Máxima liberdade, máxima responsabilidade.

Partilho que não conhecia em profundidade as Obras de Misericórdia, e agora que tive oportunidade de sobre elas refletir reconheço não apenas a sua importância, mas a intemporalidade da sua utilidade. E, por isso. percebo ainda melhor porque são o pilar central dos valores da SCMA,

mas acima de tudo reconheço como elas são vividas todos os dias pela sua Equipa.

Um trabalho de grupo tem, como todos, os seus desafios. Mas é extraordinariamente enriquecedor pois permite-nos entender e conhecer todos os seus membros. Partindo do respeito pelas suas características individuais Há sempre os extrovertidos, aqueles cujo olhar diz tudo, os mais descontraídos, imediatistas, aqueles que refletem em silêncio e quando estão preparados nos inspiram com as suas reflexões, mas todos genuína e, sinceramente, empenhados em ajudar o grupo a fazer um trabalho excelente. E assim foi com este Grupo e não tenho palavras para descrever a minha admiração pela generosidade e autenticidade com que dedicaram a este projeto.

E a magia aconteceu. Sem qualquer mérito meu, pois limitei-me a propor reflexões a perguntas tão curtas como “ o que é ter fome e sede” ou “quando devo ser perdoado” E sempre que necessário, a estimular a reflexão para a pergunta para lá da pergunta. Mas, na verdade, isso nem foi muito necessário pois o Grupo envolveu-se e empenhou-se tanto que as reflexões fluíam em cascata com os contributos que as perspetivas individuais iam sugerindo. E mesclando as vivências pessoais com as realidades de cada valência representada no Grupo, porque o Grupo tinha participantes das diferentesvalências.

21 SOMA 2.0
REINVENTAR
REPENSAR INTERAÇÕES SOCIAIS, ATUAR EM SOLIDARIEDADE!
COMUNIDADE

Sessão após sessão a minha admiração crescia pela incrível adesão de todos, Equipa SCMA e Convidados, aos objetivos propostos. E acreditem, a Magia existe mesmo, eu sou testemunha. Desde partilhas de profunda dor e quase revolta, até abraços que a todos nos emocionaram, sem esquecer uma experiência de meditação e uma nova visão sobre a dança que nunca tinha visto, a tudo isto e tanto mais eu tive o privilégio de assistir E sempre de uma forma tão autêntica, generosa e corajosa que eu nunca irei esquecer esta experiência e este Grupo. Aqui fica a minha sentida e sincera gratidão.

Enquanto tudo isto acontecia, íamos aprofundado não apenas os laços entre todos mas construindo um conhecimento partilhado de como viver as Obras de Misericórdia neste novo contexto, surgindo diversas ideias de iniciativas para as desenvolver em benefício dos utentes da SCMA. Propostas estas que foram apresentadas ao Sr Diretor Geral da SCMA, que tão bem as acolheu, e cujo destino dependerá agora mais da vontade do Grupo de as implementar do que de qualquer outro factor A semente foi lançada, a colheita que se fará apenas do Grupo depende. Mas deixem que vos partilhe um segredo: ou muito me engano ou em breve teremos uma safra magnífica!

Por dois meses tive a incrível oportunidade de trabalhar com este Grupo Estivemos juntos, refetimos juntos, sentimos juntos, criámos juntos e isso ligou o Grupo, e a mim se humildemente o posso dizer, muito mais.

Mais do que nunca hoje sinto-me Junto & Ligado a este inesquecível Grupo Por isso lhe estou eternamente grato, do fundo do meu coração.

E superenergizado pela oportunidade de começar em breve o segundo Grupo. Não sei o que irá acontecer, mas mantenho as duas certezas anteriores.Aque adiciono uma terceira, irão seroito sessões desafiantes e para mim muito marcantes.

POR TUDO ISTO SOU MUITO GRATO À SCMA. NÃO APENAS PELA OPORTUNIDADE DE CONTRIBUIR, DE FORMA MÍNIMA, PARA A SUA MAGNÍFICA OBRA. MAS POR ME PERMITIR CONHECER PESSOAS TÃO ESPECIAIS E PODER VIVER A MAGIA DE A ELES ME SENTIR JUNTO & LIGADO.

SOMA 2.0 PEDRO GUIMARÃES 22
23 SOMA 2.0

LUÍS MADUREIRA

DIA DA INSTITUIÇÃO

SCMA

A EXIGÊNCIA DA SOLIDARIEDADE

A Mesa Administrativa decidiu assinalar o XXV aniversário do falecimento do Dr. Luís Madureira com a realização de um documentário.

A vida e obra do Dr. Luís Madureira, os primeiros anos da Misericórdia e a transição após o seu falecimento são os temas abordados no documentário.

Para a sua realização contámos com as participações da sua esposa, dos irmãos, das pessoas que com ele trabalharam nos primeiros tempos de Misericórdia.

Contou ainda com a participação do Professor Aníbal Cavaco Silva e do seu grande amigo, o Padre Vítor Melícias.

A sua vida e obra fica marcada pelo seu apelo Missionário. Homem de convicções e causas, o Dr. Luís Madureira foi o grande responsável pelo trabalho da Santa Casa da Misericórdia da Amadora.

Antes da fundação da Santa Casa da Misericórdia da Amadora, Luís Madureira teve já um percurso pessoal e profissional ligado às causas sociais. Sociólogo com empenho político, ocupou cargos públicos e de governo. Nos caminhos da fé foi seminarista, franciscano e depois leigo empenhado na família e na justiça social.

Temos de recorrer às memórias de infância para entender o seu percurso, a vida e a obra. Luís Madureira nasceu em Espadanedo, concelho de Cinfães, numa família numerosa. Cresceu nas margens do Douro. O segundo mais velho de 7 irmãos, teve uma infância difícil, mas feliz, que lhe moldou o carácter.

Em criança, Luís Madureira foi seduzido pelo exemplo de Francisco de Assis Ainda adolescente, entrou no seminário menor dos frades franciscanos em Braga. Cinco anos depois, seguiu para o noviciado, no convento do Varatojo, em Torres Vedras, onde conheceu e foi colega de Vítor Melícias. Uma amizade que iria manter-se pela vida fora.

Chegou a tomar o hábito em 1956. Queria ser missionário Mas pouco tempo depois, surpreendeu os confrades e a família ao anunciar a saída. Um dia registado com tristeza nas crónicas do convento. Foram, afinal, sete anos de formação franciscana.

Corria o ano de 1986. O concelho da Amadora ainda não tinha completado uma década e debatia-se com a pobreza e a exclusão, sobretudo nos bairros de imigrantes e retornados da guerra colonial.

Um grupo de cristãos entendeu que era o momento de criar uma instituição que ajudasse a dar resposta aos problemas, capacitando gerações e famílias para a corresponsabilidade social.

Luís Madureira liderou a reflexão e o processo de criação da Santa Casa da Misericórdia da Amadora.

Preocupado com a estabilidade e autonomia das instituições sociais de inspiração cristã e com a mobilização dos cristãos para a solidariedade, Luís Madureira participou ativamente no debate sobre a natureza das próprias Misericórdias.

VINTE CINCO ANOS DE ETERNA SAUDADE DO HOMEM QUE FICARÁ SEMPRE LIGADO À HISTÓRIA E ÀS MEMÓRIAS DA NOSSA INSTITUIÇÃO.

DOCUMENTÁRIO DA VIDA E OBRA 24

SER ENCONTRO

Em ano de ‘Ser Encontro’ iniciámos um ciclo de caminhadas com os nossos colaboradores. Uma dinâmica a que demos o nome de ‘Encontro(s) no Caminho’.

Esta atividade de puro encontro visou o bem estar e a criação de espaço de convívio entre todos os colaboradores da Misericórdia da Amadora, após 2 anos de muitas restrições originadas pela pandemia.

Percursos simples, com diferentes tipos de piso e distâncias foram percorridos por todos os participantes.

CAMINHADAS PEREGRINAÇÕES

Março - Serra de Sintra Abril - Cabo da Roca Junho - Serra da Arrábida Setembro - Jamor + Serra da Boa Viagem Novembro - Trafaria Dezembro - Lisboa (Luzes de Natal)

Este ano também realizámos 2 peregrinações a pé ao Santuário de Fátima, onde uma grande comunidade de peregrinos, colaboradores, voluntários, familiares e amigos se juntaram a percorrer os percursos mais bonitos dos Caminhos de Fátima.

Na peregrinação de maio tivemos 30 participantes, num percurso feito maioritariamente em estradões, trilhos e estradas secundárias. Com passagem em Cernache, Condeixa, Conimbriga, Rabaçal, Ansião, Freixianda e Ourém.

Na peregrinação de outubro tivemos 90 participantes num percurso também em vias secundárias e terra batida, onde a subida à Serra D’ Aire foi de grande beleza e interioridade.

. Maio - Peregrinação a Fátima 100Km em 3 dias (Rota Carmelita - Coimbra)

Outubro - Peregrinação a Fátima 28Km em 1 dia (Rota Nascente - Tomar)

25 PEREGRINAÇÕES E CAMINHADAS
SERRA DE SINTRA CABO DA ROCA SERRA DA ARRÁBIDA JAMOR TRAFARIA LISBOA PEREGRINAÇÃO de MAIO PEREGRINAÇÃO de OUTUBRO

PONTO FINAL

OBRIGADO JOHNSON…

Em 2014, o Johnson veio ter com a nossa Instituição para nos apresentar o projeto da sua Academia.

Fiquei encantado com a apresentação do Johnson, a sua vontade de fazer diferente, a vontade de envolver a comunidade na solução.

Chamou-me à atenção uma frase na apresentação: “A promessa da Academia do Johnson é o apoio a crianças e jovens, como vista ao desenvolvimento de um projeto pessoal de vida de uma nova consciência dos seus direitos e deveres”.

PERCEBI NAQUELE MOMENTO QUE SE TRATAVA DE ALGO QUE IRIA FAZER A DIFERENÇA. TIVE A SENSAÇÃO QUE ESTARÍAMOS PERANTE ALGUÉM ESPECIAL.

Em 2014 fui ao Bairro do Zambujal mostrar um espaço da Misericórdia da Amadora ao Johnson, a ideia era perceber se teria condições para albergar a academia e fazer daquele espaço a sede social de que a academia tanto precisava.

O Johnson ficou feliz porque, finalmente, o seu sonho ia ter um espaço. Naquele dia decidimos que faríamos a cedência do espaço à Academia do Johnson.

Ao longo dos últimos oito anos, tive a possibilidade de perceber o quanto o Johnson gostava das suas crianças e jovens, a forma como angariava apoios em prol dos seus meninos era notável.

MANUEL GIRÃO 26
Semedo
2010,
âmbito
projeto Rumos
O
uma
Conheci o João
em
no
do
de Futuro.
Johnson era o responsável por
casa de transição da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Em 2016, a Misericórdia da Amadora prestou-lhe uma bonita homenagem, na Gala dos 30 anos da Instuição. Era o reconhecimento do trabalho por ele desenvolvido.

O Johnson inspirou-me bastante e com ele aprendi várias lições.

- Apesar das dificuldades é sempre possível dar a volta por cima. O Johnson era o maior exemplo disso!

- Aceitarmos as diferenças e com elas construirmos as soluções e os caminhos. A Academia é um espaço de convívio fraterno entre as várias etnias e culturas.

- Mente sã em corpo são. A fórmula da Academia do Johnson potencia a relação entre a educação e o desporto, mostra como é possível conciliar as duas vertentes e com isso potenciar comportamentos positivos e aprendizagens significativas

- A corresponsabilização. “ Tu és aquilo que fazes” era uma frase que o Johnson utilizava com frequência.

Muitos pensam que o Johnson apenas marcou significativamente as crianças e jovens “desfavorecidos”, no entanto, muitos jovens e adultos de vários setores da sociedade foram tocados e inspirados pelo Johnson. Várias vezes tive oportunidade de desafiar o Johnson para partilhar o seu projeto com jovens de grupos paroquiais. O Johnson partilhava com eles que a

sua missão era uma missão de Deus. O seu testemunho marcava de forma incrível os jovens que o escutavam atentamente e com ele aprendiam lições que na escola não se transmitem.

Também no meio empresarial o Johnson tinha um impacto notável. A garra com que apresentava e defendia as suas crianças e jovens era contagiante e inspiradora.

Na missa de despedida do Johnson fiquei sem palavras ao ver tantas crianças e jovens para quem o Johnson era um pai. Alguns destes jovens, no fim, dedicaram-lhe uma bonita e sentida homenagem. Cantaram uma música do Fernando Daniel. A música e a letra sintetizam muito do que o Johnson foi para tantas crianças e jovens. Um exemplo e uma referência “Eu, eu segui os teus conselhos lutei por aquilo que quis e muito devo-te a ti…”

Tive o privilégio de me ter cruzado com o Johnson. Tive a felicidade de o ter como amigo e com ele aprender tantas e tantas lições. Que bom era falar com o Johnson e quando lhe perguntava: ‘ Johnson tudo bem?’ A sua resposta era sempre…Tranquilo.

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PROPRIEDADE E EDIÇÃO Santa Casa da Misericórdia da Amadora Estrada da Portela - Quinta das Torres Alfragide - 2610-143 Amadora Tel: 214 722 200 - Fax: 214 722 212 E-mail: santa.casa@misericordia-amadora.pt
FICHA TÉCNICA
Revista Ser Misericórdia nº16
CONCEÇÃO E DESIGN Paulo Calvino Comunicação e Imagem TIRAGEM 1.000 Exemplares DEPÓSITOLEGAL 299826/09 27 PONTO FINAL
DIREÇÃO
Manuel Girão
“É A DIFERENÇA QUE FIZEMOS NA VIDA DOS OUTROS, QUE DETERMINA A IMPORTÂNCIA DA NOSSA PRÓPRIA VIDA.”
NelsonMandela
Santo Natal e um Feliz 2023 santa casa da misericórdia A M A D O R A

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