4 semanas de prazer

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JULIANNA COSTA

4 Semanas de

Pr azer S達o Paulo 2014


Diretor editorial Luis Matos © 2014 by Universo dos Livros Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.

Editora-chefe Marcia Batista Assistentes editoriais

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Aline Graça Nathália Fernandes Raíça Augusto Rafael Duarte Preparação Marina Constantino

1ª edição - 2014

Revisão Carolina Zuppo Abbed Yasmin Albuquerque Âmala Barbosa Arte Francine C. Silva Valdinei Gomes Capa Zuleika Iamashita

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 C87c Chantagem / Julianna Costa. – – São Paulo : Universo dos Livros, 2014. 496 p. ISBN: 978-85-7930-726-3 1. Literatura brasileira 2. Ficção erótica brasileira 3. Sexo I. Título

14-0367

Universo dos Livros Editora Ltda. Rua do Bosque, 1589 – Bloco 2 – Conj. 603/606 CEP 01136-001 – Barra Funda – São Paulo/SP Telefone/Fax: (11) 3392-3336 www.universodoslivros.com.br e-mail: editor@universodoslivros.com.br Siga-nos no Twitter: @univdoslivros

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Prólogo

Eu já me masturbei pensando em Gregory Holt. Acho melhor falar isso de uma vez. Tenho certeza de que é o tipo de coisa que todo mundo imagina e, embora eu negue até o dia do Juízo Final, é verdade. Se alguém pudesse ler meus pensamentos me consideraria o ser mais arrogante do universo. Ah, inferno… As pessoas já acham isso de qualquer modo. Mas eu não sou arrogante. Sou apenas uma mulher segura. Eu sei o que eu quero e nunca, nunca, minto para mim mesma sobre coisas desse tipo. Não importa quão impossível ou absurda seja a ambição: eu sempre admito para mim mesma onde quero chegar e tento chegar lá o mais rápido que conseguir. Muita gente vê isso como arrogância. E o que eu acho? Que o problema é delas. Mas eu estava falando sobre o infame senhor Holt e meus desejos íntimos e não revelados. Permita que eu me explique melhor. Muitas mulheres se masturbam. Não vou dizer todas porque não sei se isso é verdade. Isso varia de uma mulher para outra: depende da ocasião, do tempo ou das ferramentas que ela tenha à sua disposição. Mas, e isso é um fato, para muitas mulheres a masturbação precisa de encenação. O homem pega a revista masculina mais próxima e começa a se tocar de qualquer jeito, enquanto encara fotos de mulheres despidas e baba sobre elas. Pouco tempo depois ele está ejaculando sobre meias, paredes ou algum outro lugar que ele nunca vai limpar do jeito certo. A masturbação feminina é diferente. É delicada, sutil. É quase


como uma dança. Você tem que descobrir os passos que funcionam para você, decorá-los e repeti-los como uma coreografia. Geralmente começa com uma imagem. Mulheres não se masturbam diante de revistas ou sites pornográficos. Elas fazem sexo sozinhas dentro do infinito mundo de sua rica imaginação. Penso em um cenário que me seduz: talvez eu deva dinheiro ao entregador de pizza como em um filme pornô, ou o ator mais gostoso do meu seriado favorito me deseje loucamente como em um conto na internet, talvez um homem dominante queira me foder sem nenhuma emoção como em um romance de banca de jornal. Pense em uma possibilidade, ligue seu vibrador, enfie-o entre as pernas e se prepare. É assim com a maioria das mulheres. Nunca foi assim comigo. Eu me lembro da primeira vez que me masturbei de verdade. Nunca tinha visto muita graça nessa coisa toda… Não no sexo! Sexo sempre foi razoável, bom ou muito bom. Nunca sem graça. Mas a masturbação nunca me encantou e, confesso, não era um hábito que eu sentia necessidade de fazer com frequência. Eu era muito jovem, e o meu namorado tinha me traído. Cheguei em casa com muita raiva e me masturbei pensando nele. Foi uma das minhas experiências íntimas mais prazerosas. É contraditório, eu sei. Muitas mulheres iriam gritar aos quatro pontos cardeais que nunca mais pensariam no filho da puta enquanto vivessem – mas o que fariam seria só pensar no filho da puta. Mas eu… Bem, eu já mencionei que não minto para mim mesma, não é? Pensei nele com todas as minhas forças. Eu montava sobre seu corpo suado e fazia ele me desejar como nunca tinha desejado nada na vida. Fazia ele pedir e implorar. Eu ia rebolar e fazê-lo gritar alto e rouco. E depois o abandonaria. Depois de experimentar a melhor transa de sua vida, ele pediria mais e eu diria “não”. Eu diria “nunca mais”. Só isso já é capaz de me fazer gozar até hoje. Não… Eu não penso em cenários eróticos com uma sensual figura masculina sem rosto enquanto estou me masturbando: o que me faz atingir o clímax é pensar em homens de verdade. Não aquele ator pornô famoso, nem o novo queridinho de Hollywood ou algum personagem de um best-seller: eu penso em homens que eu conheço.

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Nunca procurei sentido nesse prazer específico. Mas aprendi os passos da minha dança e, sempre que tinha vontade, eu dançava. Até que, um dia, estava lendo algo do Oscar Wilde – ou algo sobre o Oscar Wilde – e, de forma simples, ele conseguiu traduzir meu sentimento perfeitamente: “Tudo no mundo tem a ver com sexo. Menos sexo. Sexo tem a ver com poder.” Era isso que me encantava. Era isso que me seduzia. Sexo era mais uma forma de poder. A mais basal, instintiva e, talvez, a mais absoluta. Era o poder que me deliciava em meus momentos íntimos. Um juiz que deu ganho de causa para a outra parte, um advogado irritante, um cliente boçal, meu chefe em um dia ruim… Qualquer um desses homens poderia cair sob meus encantos quando eu estava sozinha com meu vibrador à noite. A sociedade pode torcer o nariz e dizer que é errado se sentir sexualmente atraída por alguém em um ambiente de trabalho. Mas eu não estava fazendo nada de verdade, estava? Não. Eu estava apenas cedendo aos meus desejos mais íntimos. Aqueles desejos, sabe? Que a maior parte da população prefere mentir e dizer que não sente. E é por isso que eu penso em Gregory Holt. Não, eu não sinto nenhuma paixão adolescente por ele. Não, não é uma relação de amor e ódio. Ele é irritante e muito inteligente. Me desafia de todos os jeitos errados, e é justamente por isso que eu penso nele com frequência, quando minhas mãos encontram algum lugar deliciosamente sensível para acariciar. Se não posso me impor a ele em nenhuma situação real, eu pelo menos extravaso em uma situação imaginária. Não é uma questão de sexo. É uma questão de poder. E, no fim das contas, eu não tenho nenhum poder sobre ele. Nenhum. Mas isso não vai mais ser um problema: ele está indo embora. E tomara que nunca mais volte.

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Capítulo 1

“Talvez eu tenha uma fraqueza por causas realmente perdidas.” Rhett – E o vento levou – Um dia vão te achar soterrada sob uma pilha de papéis, Dominique. Levantei os olhos para a porta do meu escritório. Ao meu redor, a típica montanha de processos descansava: um eterno lembrete de que eu sempre tinha trabalho a fazer. Ele estava parado na porta, com alguma coisa escondida atrás do corpo. Seu paletó era bem cortado, delineando seu corpo atlético. Seus cabelos cor de mel eram curtos e arrepiados, de modo que ele sempre tinha que usar uma quantidade exagerada de gel para mantê-los comportados. Ele me encarou com seus olhos verdes e inquisitivos. Tinha ido até ali me provocar uma última vez. Isso era óbvio. – Eu sempre mantenho meus prazos em dia, Gregory. Não sou preguiçosa como você – disse sorrindo, e baixei os olhos de volta para os meus documentos. – Os papéis nunca se acumulariam o suficiente para me soterrar. Percebi que ele tinha dado alguns passos para dentro do escritório e estava prestes a informá-lo de que eu, obviamente, estava ocupada demais para o que quer que fosse e o mandaria dar o fora. – Ouvi que você não vai poder ir hoje à noite. – Para onde? – perguntei, sem levantar os olhos. – Minha despedida. Hoje é o meu último dia, lembra?


Eu lembrava. – Aleluia! – murmurei sorrindo. – Não, não me lembrava, Gregory. Sua agenda não é o tipo de coisa que ocupa espaço em minha memória. – Por que não vem, Dominique? Não seria uma despedida apropriada sem você – ele respondeu. – Eu podia sentir o seu sorriso e o seu sarcasmo. – Não acho que consigo ir embora sem ouvir seu último comentário azedo e invejoso sobre como eu não sou uma escolha adequada para o meu novo emprego. – Eles são uns idiotas sem colhões que fingem ter princípios para ganhar dinheiro – disse encarando-o. – Você vai se encaixar perfeitamente bem. Ele riu alto, estourando uma garrafa de champanhe e servindo duas taças. – O que está fazendo? – quis saber. – Você queria um último comentário azedo. Já teve. Sai. – Se você não vem até mim hoje à noite, eu venho até você. Irritante do jeito errado. Ele não ia perder a última oportunidade de regurgitar toda a sua recém-encontrada alegria na minha cara antes de ir embora. – Não vou hoje à noite porque tenho trabalho a fazer. A audiência do caso Monroe é amanhã. – Amanhã? Achei que essa audiência só seria daqui a dois meses… Depois que você voltasse de férias. Engoli a seco. A palavra férias me incomodava de um jeito estranho e inesperado. – E desde quando você sabe o agendamento das audiências do meu cliente? – Um caso de danos morais pela quebra de segredo de justiça é o tipo de coisa de que não se esquece tão facilmente. – É por isso que você perde tantas causas, Gregory. É despreparado. – Perco tantas causas? – disse rindo. – E por que sou despreparado?

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– Quebra de segredo de justiça é mais comum nessa cidade do que você imagina –– torci o nariz para sua risada. –– Saberia disso se dedicasse mais tempo aos próprios casos em vez de vigiar os dos colegas. – O caso Monroe era meu caso. Antes de você roubá-lo, lembra? – Somos uma equipe, Greg – sorri. – Não há isso de meu cliente ou seu cliente. – Éramos uma equipe, Dom – ele corrigiu. – A partir de amanhã, eu vou embora para bem longe de você e de seu veneno – ele me ofereceu uma taça. – Aqui – anunciei com um falso tom de diplomacia, levantando minha taça. – Um brinde a você. – Não esperava isso de você – sorriu, levantando sua própria taça. – Vai ser clichê como os outros e dizer que não se importa que eu vá para longe desde que seja feliz? – Vou dizer que não me importo se você será feliz desde que vá para longe – confessei e bati meu copo contra o dele. – Isso não está envenenado, está? – brinquei. – Infelizmente, não – ele respondeu, bebendo. – Tem um gosto horrível de champanhe barato – eu disse com uma careta. – Você acha que eu ia gastar dinheiro com você? – riu. – É mais do que você merece – Ele bebeu mais um pouco antes de ficar em um profundo silêncio. – Não quero sair daqui com inimizades, Dom – disse finalmente. – Não acho que você seja tão ruim quanto demonstrou ser… A vida inteira – disse sorrindo. – Os que me conhecem há mais tempo que você dizem que eu sou ainda pior. – Meu avô dizia que as pessoas amargas geralmente têm motivos para serem assim. Então, seja lá qual for o seu motivo… – Qual o seu problema? – interrompi. – Só quero dizer que, no que depender de mim, não há mais qualquer clima ruim entre nós. Está desculpada.

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– Por que eu tenho motivos para ter sido amarga, Gregory? A sua incompetência e irritação. Esses eram meus motivos. – Não quis te ofender, Dominique. – Mas ainda assim conseguiu. Meus parabéns. Ou você acha o quê? Que eu fui assediada quando criança ou que tive um casamento que não deu certo e por isso sou desse jeito hoje? Não e não, Holt. Fique avisado. – Não precisa fazer um alarde tão grande. Só vim até aqui fazer as pazes. – Pois vá embora e leve suas pazes com você. Quando um homem é ambicioso, ele é uma grande personalidade que conquistou seus mais majestosos sonhos. Quando uma mulher é ambiciosa, ela deve ser uma vadia amarga que merece ser desculpada pelo seu comportamento? – Não foi isso o que eu disse e você sabe. – Começamos a trabalhar aqui quase ao mesmo tempo, Holt, e qual de nós dois foi mais longe? – Você não está sugerindo que minhas promoções não foram merecidas, está? – Ah, por favor. Eu cubro os seus erros desde o seu primeiro ano aqui. – Isso é absurdo e injusto… Mas pelo menos também consegui seu comentário invejoso. – Ah, cai morto, Gregory. – Sabe, eu realmente, realmente, pensei que você não era uma pessoa horrível. Mal tive contato com você em meu primeiro ano aqui e todo mundo já falava que você era A megera indomada, se me permite a paráfrase, mas eu nunca acreditei. Não de verdade. Aí você entra na justiça contra mim. – As raízes da sua maldita árvore estavam quebrando o muro da minha propriedade! E eu não sabia que você era o meu vizinho com o cachorro maníaco que parece não conseguir parar de latir. Como eu podia ter adivinhado?

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– Adivinhado? Sua maluca arrogante e egocêntrica. Qual o problema de levantar os olhos da sua vidinha medíocre para desejar bom dia a um vizinho. Moro naquela vizinhança a menos tempo que você e te garanto que conheço mais pessoas. – Ah, parabéns. O que você quer? Uma estrela dourada? – Você só precisava ter falado comigo e poderíamos ter resolvido toda a situação da árvore sem um juiz. Será que você consegue entender isso, Dominique? Que é possível resolver problemas conversando com as pessoas fora de uma sala de audiência? – E por que eu faria isso se na sala de audiência eu consigo um documento assinado por um juiz dizendo que eu estou certa e que posso chamar a polícia para fazer valer o meu direito? – Você é impossível – ele disse. Eu ia dar mais um gole no champanhe mas Gregory se adiantou e tomou a taça das minhas mãos. – E eu não acredito que cheguei a pensar que poderia sair daqui em bons termos com você. – O que você quer ouvir? Que eu sinto muito? Porque eu não sinto. – Trabalhamos juntos por anos.Você foi uma péssima colega de trabalho. Arrogante e insensível. Sou provavelmente a única pessoa desse escritório inteiro que não te acha um caso perdido. Você poderia ter sido boazinha uma única vez na sua vida – ele se levantou, levando o champanhe barato consigo. – Me processe – disse sorrindo quando ele alcançou a porta. – Vai pro inferno, Dominique.

Saí do banho enrolada em meu robe azul-claro. Meu corpo ainda estava úmido e a seda grudava em minhas curvas de uma forma quase carinhosa. Soltei o coque folgado que prendia meu cabelo e o atei mais uma vez, firmemente. O vento sacudiu algumas árvores do lado de fora e me peguei observando a casa vizinha através da janela do meu quarto.

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Holt parecia um homem limpo e organizado. Ou, pelo menos, essa era a ideia que eu tinha da sua garagem e do pedaço do seu quintal que eu conseguia ver pela minha janela. Em algumas ocasiões cheguei a vê-lo na cozinha da sua casa, ou no andar de cima, mas não conseguia enxengar quaisquer detalhes de sua vida, não importava o quanto minha curiosidade e minha visão aguçada tentassem. Os fundos do meu quintal davam para a lateral da casa dele. Ainda bem que eu não era usuária assídua da minha piscina, ou teria tido sérios problemas de voyeurismo da parte dele. Meus olhos visualizaram o espaço vazio que antes abrigava a maldita árvore que tinha sido origem de tantos problemas. Um sorriso se grudou ao meu rosto e uma ideia proibida começou a se espalhar em minha mente. Me aproximei do vidro da janela e olhei com cuidado ao redor. Sua casa estava completamente apagada. Ele iria embora no dia seguinte, não era? E a essa hora, ainda devia estar enfiado na festa de despedida do escritório. Todo mundo amava Gregory Holt. Ele era o garoto maravilha. Gentil e agradável e sensível e nhé, nhé, nhé. Deviam ter feito uma festa memorável. Mordi os lábios e corri para o banheiro.Voltei ao quarto com meu vibrador rosa de 16 cm nas mãos. Sim, eu tenho mais de um vibrador. Desci as escadas ainda decidindo se ia ou não fazer aquilo. Abri as portas de vidro que davam para o pátio de trás e senti a brisa da noite balançar a seda do meu robe. O clima estava fresco e agradável. Olhei ao redor: a casa de Holt estava envolta na mais absoluta escuridão, mas andei até o muro baixo que dividia nossas propriedades e fiquei em silêncio tentando ouvir alguma coisa. Qualquer coisa. Nenhum som. Tudo estava no mais absoluto silêncio. Estiquei o pescoço e observei sua casa mais uma vez. Sua garagem entreaberta estava entupida de caixas. As coisas da mudança, provavelmente. Deviam estar ali para facilitar o trabalho do caminhão que certamente chegaria pela manhã. Parte de mim quis pular o muro e roubar suas coisas. A ideia me divertiu e por um tempo fiquei sorrindo como uma criança contra o muro. Ainda sorrindo, esfreguei minha testa, dei as costas para a casa de Holt e fui para as espreguiçadeiras na borda da minha piscina.

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Massageei­o pescoço e repassei o que eu sabia. A casa está vazia. Está tudo apagado. Nenhum som. Não tem ninguém. Ele está em uma festa. Não tem hora pra voltar. Deve voltar tarde. Eu serei rápida. Enfiei um dedo no nó do robe e desatei o cordão. Eu estava nua por baixo e tinha plena consciência disso. O ar levemente frio fez meus mamilos enrijecerem quase que imediatamente. Ah, merda, Dom… Vamos fazer isso de uma vez. Joguei o robe no chão e senti meus pelos se arrepiarem. Sentei na espreguiçadeira de frente para a casa de Holt. Meu polegar encontrou a base do vibrador e o girou. O zumbido discreto me informou que ele estava devidamente ligado em uma velocidade baixa. Deitei e observei as estrelas. Havia algo embriagante na sensualidade de estar nua do lado de fora. Deixei que minhas coxas se afastassem e enfiei o vibrador entre elas. Fechei os olhos e conseguia vê-lo na minha frente. Ele estava parado na porta do meu escritório. Ele diria que aquele champanhe barato era tudo que eu merecia. Aproximei o vibrador do meu clitóris. Eu o ofenderia até que ele não conseguisse mais suportar, seria incisiva e feroz com as palavras. Consegui ouvir sua voz, apenas um sussurro contra o meu rosto: “Vadia”. Desci o vibrador um pouco mais e ele deslizou gostoso. Eu já estava molhada. Levantaria a mão e daria um tapa em seu rosto que estalaria alto. Aqueles olhos verdes iam me observar com ódio e ele rosnaria que eu não tenho solução, me mandaria pro inferno. Ah… Aumentei a velocidade e encontrei meu ponto favorito, logo acima do clitóris, e segurei o vibrador com força. “Vai pro inferno, Dominique.” Eu colocaria a mão contra a porta e diria que não tinha autorizado ele a sair. Eu o conhecia bem demais: com certeza seu sorriso apareceria com uma pergunta: “Como é que é?” Para cima e para baixo. Só com a ponta do meu aparelho, sentindo as vibrações em poucos lugares de cada vez. Eu tiraria a roupa e ficaria seminua na sua frente. “Você quer uma última chance de fazer as pazes? Pois, então, implore.” Não importa que ele seja gentil, agradável ou sensível. Ele é um homem. E eu veria seu pau endurecer através do paletó bem cortado. Se havia uma mulher no mundo que ele nunca imaginou que veria

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nua, essa mulher era eu. E lá eu estaria: com uma lingerie rendada, e tudo o que ele precisava fazer era implorar. Aumentei a velocidade na minha massagem íntima, nunca chegando perto de penetrar. Penetração com o vibrador nunca me fazia gozar. A ilusão era minha, e na minha ilusão, Gregory Holt iria fazer exatamente o que eu queria. Ele ia implorar. Ia me despir e passar as mãos pelo meu corpo nu. Ia me jogar em cima da mesa e me foder com força. Ele ia me chamar de puta, eu tenho certeza. Ia me chamar de vadia arrogante e impossível. E eu ia ouvir sua voz rouca de desejo contra o meu ouvido e ia empurrá-lo antes que ele gozasse. Ia me cobrir e mandar que ele saísse. Ah, eu conseguia ver a incompreensão em seu semblante, e o sorriso voltou ao meu rosto. Apertei o vibrador com força e me ouvi gemer. Eu diria que se ele quisesse gozar dentro de mim teria que se desculpar pela árvore. Pela árvore, pelo cachorro, pelo champanhe barato, pelas ofensas… Se quisesse jorrar seu líquido dentro de mim ia ter que merecer. Ia ter que implorar. E ele imploraria. E eu deixaria que ele me possuísse mais uma vez. Afundei o vibrador com tanta força que teria doído se não estivesse sendo tão gostoso. Gemi alto e acho que disse seu nome. O alívio veio rápido e fez minhas pernas tremerem involuntariamente. Desliguei o vibrador e o soltei em cima da espreguiçadeira. Eu estava encharcada. Abri os olhos, ainda passando a língua pelos lábios, e estiquei a mão para pegar o meu robe. Foi aí que algo me chamou a atenção. Aconteceu tão rápido e ao mesmo tempo tão devagar. Uma minúscula luz vermelha nas sombras, do outro lado do muro. Um sorriso abafado. Um clique baixo da máquina fotográfica de um celular. Eu tinha perdido a noção do tempo. Ele tinha voltado para casa. Vesti o robe novamente e, quando dei por mim, estava correndo como uma leoa para cima de Holt.

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– Eu vou te matar, Holt. Entrei na casa dele sem pedir autorização. Ele estava rindo satisfeito. – Me devolve isso agora, seu tarado! – Tarado? Eu? – ele ria como se nunca tivesse passado por uma situação tão engraçada na vida. – Que eu saiba, não era eu quem estava se masturbando em público. – Estava me masturbando no quintal da minha casa e você estava tirando fotos! Pervertido! – Tirando fotos? – ele riu alto. Eu me lancei em sua direção enquanto ele mantinha o celular fora do meu alcance com o braço esticado. – Certo… Calma, calma – disse passando o braço pela minha cintura, me deixando presa contra ele. Holt estava tentando me manter quieta e longe do celular. Eu estava com os mamilos rígidos e a vagina molhada, coberta por uma fina camada de seda, logo depois de ter me masturbado pensando exatamente nele: a coisa toda tinha uma sensação errada e deliciosa, e eu não estava conseguindo me concentrar. O empurrei para longe em uma tentativa de recobrar a plenitude dos sentidos. O ar descia ardendo pelos meus pulmões. – Certo – comecei diplomática. Eu precisava reassumir o controle. – A brincadeira foi engraçada. Dominique estava se masturbando e eu tirei algumas fotos, hilário. Tudo bem, eu sou uma vadia arrogante que merece que você se vingue.Você já me deu um susto horrível.Vingança completa. Agora, me dê isso. – Por-que-diabos-eu-faria-isso? – ele disse sorrindo, ainda segurando o celular nas alturas. – Porque você é uma pessoa decente. – E você é uma pessoa horrível. – Certo, tudo bem. – Não era hora de brigar, era hora de negociar – E o que você pretende fazer com isso, então? – Eu poderia te ensinar uma lição. Poderia te ensinar a ser mais humilde.

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– Se você acha que vai conseguir me chantagear, você está louco. – E se você acha que amarrou esse robe direito, é você quem está louca – ele continuou rindo. Olhei para baixo e vi um de meus seios expostos. Ah, merda de situação que fica cada vez pior. Puxei as laterais do robe e amarrei o cordão com tanta força que estava quase prendendo a circulação. Que se dane. Não preciso de pernas. Preciso daquele celular. Ele estava se divertindo absurdamente. Eu também estaria, no lugar dele. Estaria sendo agradável, o contrário da dose concentrada de horror que eu estava experimentando. – Se você fizer algo com essas fotos, vai estar sendo uma pessoa tão horrível quanto eu, Greg. – tentei convencê-lo. – Você fica repetindo a palavra “fotos”… – levei três segundos inteiros para entender. Puta merda. Ele tinha me filmado. – Seu nojento pervertido! Você me filmou? – Dei um murro contra o peito dele e vi, pela primeira vez, seu sorriso sumir. Ele chiou de dor enquanto eu continuava a socá-lo. – Estava filmando minha casa, Dominique! – Greg berrou quando conseguiu me segurar por um pulso – Estava filmando os arredores para ter uma lembrança caso me sentisse nostálgico durante a mudança – ele explicou, e logo tinha meus dois pulsos presos em uma de suas mãos fortes – Não imaginei que você quisesse me dar um suvenir de despedida – brincou. Eu me sacudi até que ele me soltasse. – Mas você podia ter parado de filmar quando… – Ah! Você pararia? – Eu… – Para de me tratar como um monstro. Estava filmando minha casa, ouvi um barulho, girei a câmera, você estava com um vibrador enfiado no meio das pernas, e eu fiquei sem reação – ele explicou. Gelei diante das palavras descontraídas de Gregory – Nada que não seja perfeitamente compreensível – concluiu, me encarando – Agora, a pergunta é: o quanto você merece uma lição?

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Tudo bem. Ele estava com o poder. Eu precisava acabar com aquela situação. Eu ia me odiar pelo resto da vida, mas era a única saída. – Gregory, por favor. Se você colocar isso na internet, minha vida acabou. Eu perco minha credibilidade, meu emprego… perco tudo. Por favor.Você sabe como o mundo jurídico é conservador. Uma única foto dessas seria suficiente para… – eu já estava implorando, mas por Deus, eu não ia chorar. Respirei fundo. – Tudo pelo que trabalhei a vida inteira. Destruído. Com uma só foto. Imagine um vídeo. Por favor. – Juntei as mãos em súplica. Ele respirou fundo e pareceu considerar. – Não quero mostrar isso para ninguém – ele falou finalmente. Eu suspirei aliviada. – Mas… – Prendi a respiração de novo. – Você merece uma lição. E eu não posso perder essa oportunidade. – Que lição, Holt? – perguntei irritada. – Você faz uma coisa, e apago o vídeo – ele disse sorrindo, como se tivesse amado a própria ideia. – Ou eu te processo, tomo todos os seus bens e coloco você na cadeia! – respondi, cruzando os braços sobre os seios. – Processa? – Ele estava rindo como se tivesse acabado de ouvir a piada mais engraçada do mundo. – Não sei, Dom… mas acho perigoso. Ouvi dizer que quebra de segredo de justiça é muito mais comum nessa cidade do que se imagina. Ouvi-lo repetir minhas palavras fez com que um arrepio de pavor descesse pela minha espinha. Poderia correr tudo bem. Eu iria deixá-lo pobre e furioso quando tudo acabasse. Mas… e se alguém ficasse sabendo? Um único comentário bastaria para acabar com minha reputação. E seria pelo menos um juiz que eu nunca mais poderia encontrar na vida. Sem contar as fofocas e teorias que, certamente, correriam pelo escritório. Seria um risco, quanto a isso não havia dúvida. A questão que permanecia era: seria um risco que eu estava disposta a correr? – Pode arriscar um processo e acabar perdendo sua preciosa reputação, Thoen – ele avisou como se estivesse lendo minha mente. – Ou pode aceitar um simples acordo e ninguém nunca vai precisar saber disso. Suspirei controlando a raiva. Em todas as situações sexuais que eu já tinha imaginado, nunca era assim. Nunca era ele quem tinha o poder.

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Inferno. O filho da puta ia querer transar. O lado bom é que transar com ele, para mim, não era uma má ideia. Mas desse jeito… desse jeito não. – Tudo bem, Holt. Você quer me chantagear, então? – decidi enfrentar o menor dos males e, pelo menos, ia poder experimentá-lo uma vez na vida. – Vai ser assim? Tudo bem – disse. Ele poderia me ter, mas eu não ia deixá-lo perceber que estava interessada. Arranquei o robe com fúria, e Holt levantou as mãos em uma assustada rendição. – Pode ter o que você quer, mas saiba que essa decisão vai te assombrar pelo resto da vida – dei dois passos em sua direção e ele deu dois passos para trás. Ele estava rindo, e eu estava vagamente consciente de que ele estava observando de perto o que tinha visto de longe mais cedo. – Toda vez, na sua existência miúda e patética, que você se considerar uma pessoa decente, vai se lembrar do dia de hoje e do monstro que você verdadeiramente é. Ele baixou os braços ao lado do corpo. – Dominique, será que você pode parar de ficar nua? Está ficando difícil de manter a concentração. – Parar de… Mas o que diabos você quer, Holt? – Não quero transar com você em troca da gravação. Garanto – ele explicou pausadamente e, de repente, eu senti uma vergonha impossível de medir. Ele apanhou meu robe e eu me vesti novamente em uma fração de segundo. – O que você quer? – Bem, eu poderia só ficar com esse vídeo pra mim – disse rindo. – É um produto de qualidade – afirmou levantando o polegar, e eu dei um tapa em seu braço com toda a minha força. – Diga de uma vez. – Primeiro – ele reclamou, apontando o indicador para o meu nariz –, pare de me bater. – Diga logo – rosnei. – Eu odeio mudança – deu de ombros. – Sou muito desorganizado. Levo uma eternidade para arrumar tudo.

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– Não estou acompanhando, Holt. – Você entra de férias amanhã. – E o que tem isso? – Você viaja para me encontrar depois de amanhã e passa suas férias comigo. Arruma minha casa nova. Organiza meus documentos. Desempacota minhas coisas – concluiu com um sorriso nos lábios. – Quando tudo isso estiver feito, apagamos o vídeo. Mordi o lábio com raiva. – Você quer que eu seja sua assistente pessoal de luxo? – Precisamente – afirmou sorrindo, o maldito. – E quer que eu fique as minhas férias inteiras? Arrumo sua casa em uma semana. Não há necessidade alguma de… – Eu sou bem bagunceiro. – Duas semanas, então – reclamei. – Um mês é muito… – Um mês – ele repetiu. – Não é negociável. – Eu trabalhei duro. Mereço esse descanso! Pedir minhas férias inteiras é crueldade. – Não. Crueldade foi o que você fez com a garota do financeiro, seja lá o que tenha sido. – Ela é uma incompetente que não sabe contar e a culpa é minha? – Ela chorou o dia inteiro! – Se ela é emocionalmente desestabilizada, deveria procurar ajuda profissional. Não entendo por que eu seria responsável por… – Você é um ser humano terrível – ele concluiu com um ar de exaustão. – E, se eu fosse você, aceitaria antes que eu mude de ideia. Ele não ia ceder. Processá-lo seria um risco grande. Talvez grande demais. E ir com ele… Uma pequena parte de mim estava achando interessante a ideia de ter companhia durante as férias. Mas era uma parte ridícula e minúscula que eu preferia não ouvir. A vadia dentro de mim tinha planos mais interessantes.

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Ele queria me humilhar? Tudo bem… Eu jogo seu jogo, Holt. Vou para sua casa, garanto que ninguém nunca vai ouvir qualquer notícia sobre essa merda de vídeo, mas não se engane, meu bem… A arte da guerra me ensinou a manter meus inimigos por perto. E eu vou me vingar. – Quatro semanas? – Quatro semanas. – E como isso vai me ensinar algum tipo de lição? – Isso te ensina um pouco de humildade, Dominique. Algo que você precisa com urgência. – E quem é você pra me dar alguma lição de vida, Gregory? Meu pai? Minha mãe? Deus? – Melhor! – ele riu. – Eu sou o cara que tem um vídeo de você se masturbando. – Você também é um ser humano horrível, sabia? Uma pessoa baixa. – Vou deixar passar desta vez – brincou. – Nunca fui baixo durante toda a minha vida, acho que se for fraco só dessa vez não vou morrer por isso. – Eu desempacoto algumas coisas, compro uns lençóis novos e pronto? – Você é uma assistente pessoal de luxo, como você bem descreveu. Vai precisar fazer o que eu pedir. Pense nisso como um emprego. Eu sou o patrão – ele apontou para si mesmo com um sorriso irritante no rosto. – Você trabalha pra mim. Se fizer um bom trabalho, recebe um vídeo como pagamento. – E como eu vou saber que você não fez cópias? – Eu tenho uma pasta de compartilhamento integrada no celular. Todas as fotos ou vídeos que eu faço vão direto para essa pasta na internet, que eu posso acessar de qualquer computador. – Ótimo – senti meu sangue subir. – Então a gravação já está na internet? – Não. Está em uma pasta pessoal, com senha, que fica na internet. Mas que ninguém pode acessar.

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– Só você. – Exatamente. – E de que me serve isso? – reclamei ferozmente. Estava perdendo a paciência, e ele estava se deliciando com isso. – A gente vai até o meu computador agora, e muda a senha da pasta. Eu escrevo a primeira metade e você a segunda. Assim ninguém sabe a senha inteira. Nenhum de nós pode acessar sem o outro. Depois nós acessamos a pasta juntos e apagamos o arquivo. – E como eu tenho certeza de que é a única cópia? – Dominique. Você acabou de correr atrás de mim como um animal. Eu tive tempo para fazer alguma cópia? – Não que eu tenha visto, mas você é um demônio ardiloso – lembrei. – Então você vai ter que confiar em mim. Não é como se tivesse uma escolha. – Mas, se você não tiver a senha completa, o arquivo vai estar protegido. O que te garante que eu vou fazer o que você quer? Eu posso simplesmente deixar o vídeo lá pelo resto da eternidade. – Pode – ele deu de ombros. – Mas bem guardado não é o mesmo que inexistente. Se você não for comigo, o vídeo vai ficar lá até você morrer ou alguém conseguir acessá-lo. Se você for, ele deixa de existir. Você escolhe – Ele sorriu. Estava odiando que ele estivesse se divertindo tanto as minhas custas. – Negócio fechado? – perguntou esticando a mão para que eu apertasse. – Eu quero o celular. Mesmo indo para a sua pasta, o arquivo também fica gravado no aparelho. – Te dou o celular assim que mudarmos a senha. Ou você poderia acessar a pasta direto pelo telefone e apagar o vídeo. – Fechado – apertei com nojo a mão que ele oferecia. – Você quer ir se trocar? – Não saio de perto de você até a senha dessa pasta ter sido modificada – expliquei. – Como quiser – ele riu. – Viu que é possível resolver as coisas com um diálogo agradável? – Sarcástico.

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– Pense o que quiser. Eu só estou satisfeita que você não quis sexo. Acho que nunca mais ia me sentir limpa na vida se você me tocasse – reclamei. – Você fala com muito pudor para quem estava completamente nua se masturbando bem embaixo da janela do meu quarto. – Será que podemos mudar de assunto e não falar sobre isso nunca mais? Ele me observou com uma cara de exagerada incompreensão. – Dom, meu bem… Eu nunca vou parar de falar disso com você – disse rindo – E olha, talvez eu ainda mude de ideia e aceite o que você estava oferecendo antes. Então, é melhor manter a mente aberta – ele terminou com uma gargalhada. E eu não entendi se ele estava brincando ou falando sério. Um ponto entre minhas coxas tremeu deliciosamente, e eu desejei que fosse sério.

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