Sublime

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CHRISTINA LAUREN

SUBLIME S達o Paulo 2015


Sublime Copyright © 2014 by Lauren Billings and Christina Hobbs. All rights reserved, including the right of reproduction in whole or in part in any form.

© 2015 by Universo dos Livros Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.

Diretor editorial ∙ Luis Matos Editora-chefe ∙ Marcia Batista Assistentes editoriais ∙ Aline Graça, Letícia Nakamura e Rodolfo Santana Tradução ∙ Thiago Dias Preparação ∙ Raquel Nakasone Revisão ∙ Raquel Siqueira e Jonathan Busato Arte ∙ Francine C. Silva e Valdinei Gomes Capa ∙ Francine C. Silva

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 L412i

Lauren, Christina Sublime / Christina Lauren; tradução de Thiago Dias. – São Paulo: Universo dos Livros, 2015. 304 p.

ISBN: 978-85-7930-833-8 Título original: Sublime

1. Literatura americana 2. Literatura fantástica 3. Espiritualismo 4. Romance I. Título II. Dias, Thiago

15-0150

CDD 813


Ă€ nossa parceria de escrita e amizade que, a cada livro, se torna mais forte.


Um torpor fez meu espírito selar Não senti temores humanos Parecia ela incapaz de experimentar O toque secular dos anos. Agora não se move, sem forças Não ouve, vê ou anda O curso terrestre envolve-a e arrasta-a Com rocha, e pedra, e planta. sir william wordsworth


Sublime (adjetivo): transcendental; completo, absoluto. Sublimar (verbo transitivo): passar diretamente do 颅estado s贸lido para o estado de vapor.



CAPÍTULO 1 Ela

A garota está curvada em ângulos bizarros quando acorda. Não parece possível estar dormindo ali – sozinha, num caminho sujo, cercada por folhas, grama e nuvens. Sente como se tivesse caído do céu. Ela se senta, desorientada e coberta de poeira. Atrás dela, uma trilha estreita faz uma curva e desaparece, entre inúmeras árvores queimando vivas com a cor do outono. Diante dela há um lago. Suas águas são calmas e azuis, sua superfície ondulando somente nas extremidades onde a água rasa encontra as pedras. Por ­instinto, ela engatinha até lá e espia dentro, sentindo subitamente uma pena da garota confusa que a encarava de volta. Somente ao ficar em pé ela vê os enormes prédios assomando no perímetro do parque. Feitos de pedra cinza, eles se erguem altos acima das árvores flamejantes, olhando para baixo, onde ela e ­ stava. Os prédios parecem tanto acolhedores quanto a­ meaçadores, como se ela estivesse naquele estado entre desperta e dormindo, quando é possível sonhos e realidade coexistirem. Em vez de sentir medo, ela sente uma onda de empolgação irromper dentro de si. Empolgação, como o som do tiro de largada para um atleta. Vai.


Ela desce rapidamente pela trilha e cruza a estrada suja até onde a calçada abruptamente começa. Ela não se lembra de ter colocado o vestido de seda que está usando, feito com um delicado calicô de flores e caindo em dobras finas e esparsas até os joelhos. Ela observa seus pés pouco familiares, dentro de novas sandálias ainda rígidas. Apesar de não sentir frio, estudantes de uniforme passam caminhando, envoltos em grossos tecidos de lã azul-marinho e cinza. A personalidade de cada um repousa nos pequenos acréscimos: botas, brincos, um lenço vermelho que aparece de relance. Mas poucos se dão ao trabalho de notar uma moça pequenina arrastando os pés e curvando-se, lutando contra a força do vento. O cheiro de terra molhada é familiar, assim como a maneira como os prédios de pedra captam os ecos ao redor e os prendem juntos de si, fazendo com que o tempo passe mais devagar e as conversas durem mais. Pelo modo como o vento castiga por onde p ­ assa, e pela preciosa e nova memória das árvores na trilha, ela sabe que é outono. Mas nada parece estar como ontem. E ontem era primavera.

Uma arcada assoma à sua frente, adornada com letras de cobre azul-esverdeadas e castigadas pelo sol, que parecem ter sido escritas com a mesma tinta que o céu. escola preparatória saint osanna para meninas e meninos

K-12 est. 1814

séries

Abaixo, uma grande placa de metal agita-se, abandonada ao vento:

Se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim, seria melhor que fosse lançado no mar com uma grande pedra amarrada no pescoço. Marcos 9,42

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O campus é maior do que ela imagina, mas de algum modo ela sabe para onde olhar – direita, não esquerda – para encontrar o agrupamento de prédios menores de tijolo e, a distância, uma cabine de madeira. Ela segue adiante com um tipo diferente de empolgação agora, como ao entrar em uma casa acolhedora sabendo o que tem para o jantar. Do tipo familiar. Exceto por ela não fazer ideia de onde está agora. Ou de quem ela é. Dos quatro prédios principais, ela escolhe o da esquerda, nos limites onde começa a vegetação selvagem. Os degraus estão apinhados de estudantes mas, ainda assim, ninguém a ajuda com a porta, que parece decidida a empurrá-la para trás com seu peso. A maçaneta é pesada e rígida em sua mão. Além disso, sua pele parece tremeluzir. – Feche a porta – alguém grita. – Estou congelando! A garota passa correndo pela entrada, desviando sua atenção da própria pele brilhante. O ar lá dentro é quente e carrega consigo o cheiro familiar de bacon e café. Ela fica parada à porta, mas ninguém lhe lança um olhar. É como se ela fosse mais uma estudante qualquer caminhando pela multidão; a vida segue seu rumo no burburinho do refeitório, e sentindo uma vaga agitação, ela continua sem se mover. Ela não é invisível – consegue ver seu reflexo na janela à sua direita –, mas poderia muito bem ser. Finalmente, abre caminho através de um labirinto de mesas e cadeiras até uma mulher idosa, parada com uma prancheta na entrada da cozinha. Ela está checando itens de uma lista, sua caneta sendo pressionada e ticando cada item com perfeição e praticidade. Cada nova marca é idêntica às outras. Uma única pergunta pousa na língua da garota e lá permanece, imóvel, enquanto espera a mulher notá-la ali. A garota está com medo de falar. Ela nem mesmo sabe quem ela é, imagine então perguntar a única questão que precisa ser ­respondida? Baixando os olhos, percebe que sua pele brilha suavemente sob a fixidez da luz amarelada e, pela primeira vez, sente a preocupação por não parecer totalmente... normal. E se ela abrir a boca e se dissolver em

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uma revoada de corvos? E se perdeu suas palavras, juntamente com seu passado? Você consegue. – Com licença – ela diz uma vez, depois de novo, mais alto. A mulher ergue o olhar, claramente surpresa por encontrar uma estranha parada tão perto. Ela parece estar numa mistura de confusão e, por fim, inquietação, enquanto repara no vestido empoei­rado e no cabelo enroscado em folhas. Seus olhos perscrutam o rosto da garota, procurando, como se um nome fosse lhe surgir do fundo da mente. – Você é...? Posso ajudá-la? A garota quer perguntar: “Você me conhece?”. Em vez disso, diz: – Que dia é hoje? As sobrancelhas da mulher juntam-se ainda mais enquanto ela observa a garota. De algum modo, não era a pergunta certa, mas ela responde mesmo assim: – Terça-feira. – Mas qual terça? Indicando um calendário atrás dela, a mulher responde: – Terça, quatro de outubro. Somente agora a garota percebe que saber a data não ajuda muito, pois apesar de esses números lhe parecerem estranhos e errados, ela não sabe em que ano deveria estar. A menina dá um passo para trás, balbuciando um agradecimento, e reivindica seu lugar contra a parede. Ela se sente grudada ao prédio, como se ele fosse o lugar onde seria encontrada. “É você”, alguém dirá. “Você voltou. Você voltou”.

Mas ninguém lhe diz isso. O refeitório esvazia-se durante a hora seguinte até que somente um risonho grupo de adolescentes permanece sentado em uma mesa redonda no canto. Agora a garota

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está certa de que tem algo errado: elas não olham na sua direção sequer uma vez. Mesmo em suas memórias roídas pelas traças ela sabe como adolescentes notam rapidamente alguém diferente. Da cozinha, um garoto aparece, enfiando um avental vermelho pelo pescoço e amarrando-o enquanto anda. Cachos escuros e selvagens caem-lhe sobre os olhos, e ele afasta-os com um movimento inconsciente da cabeça. Naquele momento, seu coração silencioso se contorce por trás das paredes vazias do seu peito. E ela percebe, na ausência de fome ou sede, desconforto ou frio, que essa é a primeira sen­ sação física que ela tem desde que acordara sob um céu repleto de folhas outonais. Seus olhos percorrem cada parte dele; os pulmões, ansiando por um fôlego que ela, até então, não se lembrava que precisava. Ele é alto e magricela, de alguma forma conseguindo parecer forte. Seus dentes são brancos, mas levemente tortos. Uma pequena argola prateada faz uma curva inteira em torno do seu lábio inferior, e os dedos dela ardem com o desejo de se aproximar e tocá-lo. Seu nariz foi quebrado pelo menos uma vez, mas é perfeito. E alguma coisa na luz em seus olhos quando levanta o olhar faz ela ansiar dolorosamente por dividir a si mesma com ele. Mas dividir o quê? Sua mente? Seu corpo? Como ela pode dividir coisas que não conhece? Quando ele se aproxima da outra mesa, as adolescentes param de falar e o observam, olhos cheios de esperança, sorrisos empolgados no rosto. – Ei – ele as cumprimenta com um aceno. – Se atrasaram pro café da manhã? Uma garota com uma mecha rosa-choque no cabelo inclina-se para a frente e lentamente afrouxa a corda do avental dele. – A gente veio comer alguma coisa doce. O garoto sorri, mas é um sorriso condescendente – mandíbula flexionada, sorriso abrindo-se somente em parte do rosto –, e se afasta do

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alcance dela, gesticulando para o bufê encostado contra uma parede distante. – Então levem o que quiserem. Eu preciso começar a limpar logo. – O Jay disse que vocês fizeram umas acrobacias muito doidas na pedreira ontem – diz ela. – É – ele assente com um movimento devagar e tranquilo, e afasta da testa um punhado de cabelo ondulado. – A gente deu uns saltos. Foi bem louco. – Uma breve pausa, e então: – Vocês deviam pegar alguma coisa para comer agora mesmo. A cozinha fechou há cinco minutos. Instintivamente, a garota lança um olhar para a cozinha e vê a senhora parada na entrada, observando o garoto. A mulher então pisca na direção dela, estudando-a com olhos cautelosos e fixos; a garota é a primeira a desviar o olhar. – Você não pode sentar e ficar um pouco aqui com a gente? – pergunta a Cabelo Rosa, sua voz e lábios saindo pesados com uma expressão de enfado. – Sinto muito, Amanda, tenho aula de cálculo no Henley. Só vou ajudar Dot a limpar a cozinha. Ele é fascinante de se observar: seu sorriso tranquilo, a curva rígida dos seus ombros e a maneira confortável com que enfia as mãos nos bolsos e se balança para a frente e para trás sobre os pés. É fácil compreender por que as garotas querem que ele permaneça. Mas então ele se vira, afastando os olhos da mesa de suas colegas para ver a garota sentada sozinha a observá-lo. Ela começa a sentir a pulsação do pescoço começar a bater, parecendo ecoar dentro da própria garganta. E ele a vê, pernas e braços nus, usando um vestido primaveril em pleno outubro. – Você veio tomar café da manhã? – pergunta ele. Sua voz vibra por seu corpo. – Última chamada... Sua boca abre mais uma vez, e o que sai não é o que ela espera; ela tampouco se dissolve numa revoada de corvos. – Eu acho que estou aqui por sua causa.

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