A origem e a lenda de Obi-Wan Kenobi

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RYDER WINDHAM

São Paulo 2016


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Diretor editorial Luis Matos Editora-chefe Marcia Batista Assistentes editoriais Aline Graça Letícia Nakamura Tradução Felipe CF Vieira

Revisão Raíça Augusto Juliana Gregolin Arte Francine C. Silva Valdinei Gomes Capa Francine C. Silva

Preparação Nestor Turano Jr.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

W732s Windham, Ryder Star Wars: a origem e a lenda de Obi-Wan Kenobi / Ryder Windham; tradução de Felipe CF. Vieira. – São Paulo: Universo dos Livros, 2016. 192 p. ISBN: 978-85-7930-982-3 Título original: Star Wars: the life and legend of Obi-Wan Kenobi 1. Literatura norte-americana 2. Ficção científica I. Título II. Vieira, Felipe CF 16-0086 CDD 813.6


Para Frank Thorne, meu feiticeiro preferido, e ­qualquer pessoa que sempre quis um sabre de luz de verdade.


PRÓLOGO

Luke Skywalker se surpreendeu ao ver o vaporizador de umidade ao lado da cabana abandonada de Ben Kenobi em Tatooine. Três anos haviam se passado desde que Ben deixara o planeta desértico, e Luke achava que o vaporizador já teria sumido há muito tempo, roubado pelos jawas ou pelo Povo da Areia. Incrivelmente, tanto o vaporizador quanto a cabana pareciam estar em bom estado. A moradia embranquecida pelo sol beirava um remoto desfiladeiro do deserto de Jundland com uma vista espetacular do Mar das Dunas. Luke havia pousado seu caça X-Wing próximo dali e estava ansioso para escapar dos tórridos sóis gêmeos de Tatooine. Mas, ao andar pelo chão rochoso e se aproximar da porta revestida de plasteel que servia de entrada para a cabana de Kenobi, ele sentiu uma estranha tensão no ar. Luke se lembrou do perturbador presságio que sentiu em Dagobah, naquela caverna onde o lado sombrio da Força se mostrava tão intenso. Mas enquanto a caverna irradiava frio e morte, e parecia acenar para ele, desafiando-o a entrar, a sensação era inteiramente diferente da de agora – como se toda a propriedade estivesse dizendo “vá embora”. Entretanto, Luke também sentiu que a mensagem não era destinada a ele e se perguntou se Ben teria usado a Força para proteger seu lar. A porta de plasteel estava destrancada. Luke a deslizou e entrou. O ar estava mofado, mas o interior cheio de sombras oferecia ao

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­ enos um pouco de alívio do calor. Olhando ao redor para as várias m relíquias sobre as mesas e estantes, e as peles de animais esticadas sobre o sofá que também servira de cama para o velho Ben, Luke não via nada que pudesse ter sido roubado ou danificado. A única evidência óbvia da ausência de Ben era a fina camada de areia que cobria tudo. Luke passou para a pequena sala de estar, onde encontrou um baú selado a vácuo ao lado de uma coluna estrutural. Foi desse baú que Ben retirara o primeiro sabre de luz de Luke, o mesmo que Ben dizia ter pertencido ao seu pai. Luke removeu a areia sobre a tampa do baú, depois abriu e olhou lá dentro. Estava vazio. Luke suspirou. Ele não esperava que houvesse um segundo sabre de luz dentro do baú, mas queria encontrar algo útil. Se não houvesse um registro holográfico ou um data-tape, ao menos queria encontrar algum tipo de pista que respondesse às questões que o consumiam há meses, desde seu duelo com Darth Vader na Cidade das Nuvens. Enquanto pensava naquele encontro devastador, que custou não apenas o sabre herdado, mas também sua mão direita, Luke de repente sentiu uma dor em seu pulso. Dor do membro fantasma, pensou. Esse era o termo que o droide médico usara para descrever a dor ocasional que ele poderia sentir de tempos em tempos. Luke flexionou os dedos mecânicos da mão artificial que o droide havia cuidadosamente anexado a seu braço direito. Veias, músculos e ossos foram substituídos por fios, pistões e metal, e linhas de impulso sensorial tornavam seus dedos cibernéticos sensíveis ao toque. Apesar da perda de sua mão direita no poço do reator da Cidade das Nuvens, o droide médico – um especialista em técnicas avançadas de reconstrução genética – havia construído uma perfeita duplicata de sua mão, incluindo até as impressões digitais. Mas o droide médico não podia fazer nada sobre a dor fantasma. Luke teria que viver com ela.

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Ele continuou sua inspeção da casa do velho Ben. Não demorou para encontrar o alçapão que levava ao porão. Alguns degraus esculpidos na pedra desciam para a escuridão. Luke puxou um pequeno bastão brilhante de seu cinto, ativou a luz e desceu os degraus. O porão não estava inteiramente escuro, pois um estranho brilho emanava de pedras luminescentes arranjadas sobre uma das paredes. Ben usava o porão para estocar comida e água. Uma pequena variedade de frutas secas, vegetais e carnes – que agora pareciam pedaços de couro velho – permanecia pendurada em um tubo de metal conectado a uma cisterna. Luke também encontrou uma bancada de trabalho feita de sucata. Havia ferramentas cuidadosamente guardadas nas prateleiras, mas ainda havia outras espalhadas sobre a bancada, como se esperassem o retorno de seu dono. Então Luke avistou a caixa. Era uma caixa de madeira intricadamente esculpida que estava no chão entre a bancada e um pequeno gerador auxiliar. Luke movia o bastão de luz para perto da caixa quando escutou um som repentino vindo de cima. Algo pareceu cair de repente no chão, causando um baque surdo. Num único movimento fluido, Luke girou para a esquerda e levou a mão sobre o cabo do blaster em sua cintura, depois seguiu rapidamente na direção dos degraus do porão. Ele ergueu o blaster com tanta rapidez que o cano se inclinou diretamente para o alçapão aberto. Um instante depois, o ar foi preenchido por um ruído eletrônico apavorado. O ruído veio da cabeça oval do droide de Luke, R2-D2, que viajara com ele e o ajudara a escapar do bloqueio imperial ao redor de Tatooine. O droide assustado soltou uma série de irritados bipes enquanto procurava por Luke lá embaixo, depois bateu com os pés na abertura do alçapão, levantando a areia sobre o chão do andar ­superior. – Desculpe, R2 – disse Luke, abaixando o blaster. – Acho que estou um pouco nervoso. – Ao guardar o blaster no coldre, ele murmurou: – Acho que vou ficar assim até finalmente encontrarmos… Han.

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A boca de Luke já estava seca por causa do calor do deserto, mas ao dizer o nome de Han, ele sentiu um nó na garganta. Não fazia ideia de onde seu amigo estava, apenas que o caçador de recompensas, Boba Fett, havia capturado o corpo congelado em carbonita de Han. Vários relatos confirmavam que Boba Fett pretendia entregar Han para o gângster que vivia em Tatooine, Jabba, o Hutt, mas até então Boba Fett não havia aparecido. Foi a outra amiga de Luke, a princesa Leia, líder da Aliança Rebelde, que o instruíra a se esconder em Tatooine e esperar por algum sinal de Han. Infelizmente, Luke nunca gostou de esperar. De cima, R2-D2 emitiu uma série de bipes suaves e um curto bipe. Reconhecendo o tom do ruído como um questionamento preocupado do droide, Luke respondeu: – Estou bem, R2. Vá checar se a rede de camuflagem do X-Wing está funcionando. Eu subirei daqui a alguns minutos. R2-D2 apitou em uma resposta hesitante, mas então seu motor foi acionado e ele se afastou do alçapão. O movimento empurrou um pouco de areia na abertura, que flutuou descendo pelo porão. Luke sacudiu a cabeça. De um jeito ou de outro, a areia encontrava um caminho em qualquer lugar de Tatooine. Enquanto R2-D2 saía para inspecionar o X-Wing, Luke voltou para a caixa de madeira e se abaixou na frente dela. Examinando-a mais de perto com o bastão de luz, notou um pequeno conjunto de botões e concluiu que a caixa era um cofre com senha. Luke olhou atentamente para o teclado. Ben nunca mencionara esta caixa no porão, e Luke podia apenas imaginar qual seria o código de acesso. Tentando lembrar se Ben havia deixado ao menos alguma dica, a memória de Luke voltou para aquele dia quando Ben – na mesma sala do andar de cima – havia lhe revelado que ele era um Cavaleiro Jedi e contado sobre a Força. Luke duvidava seriamente que Ben tivesse programado qualquer combinação óbvia, como jedi ou a força. Naquele momento, desejava poder ele mesmo perguntar a Ben sobre a senha, apesar de isso parecer pouco provável.

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Desde Dagobah, Luke estava sozinho. Por um momento, considerou quebrar a caixa para abri-la, usando um pequeno pé-de-cabra que havia na bancada, mas descartou essa ideia. Por mais curioso que estivesse sobre o conteúdo da caixa, ele não queria danificá-la. Então Luke tocou a tampa cuidadosamente, raspando as pontas dos dedos contra o teclado. Snap! Luke recuou e puxou os dedos quando o teclado deslizou automaticamente para o lado, revelando um fecho com uma superfície para impressões digitais. Ele não sabia exatamente o que havia acontecido, mas de alguma forma conseguira passar pelo bloqueio do teclado. Luke hesitou por um momento, depois pensou, vamos ver no que dá. Ele pressionou o polegar direito na superfície. Tap! O fecho reagiu a seu toque e Luke viu uma estreita fenda preta aparecer ao longo da parte de baixo da tampa. Ele a ergueu lentamente com uma das mãos, ajustou o bastão de luz com a outra e olhou para dentro. A primeira coisa que viu foi um dispositivo explosivo afixado na parte de trás do teclado. Luke olhou desconfiado para o dispositivo. Certamente parecia que Ben havia preparado a caixa para explodir, mas, por alguma razão, a armadilha não funcionou. Talvez tenha pifado, pensou Luke. De repente, outra possibilidade lhe ocorreu. Talvez Ben não apenas tenha deixado essa caixa para mim, mas também preparado um explosivo caso outra pessoa tentasse abrir. Mas como? Será que Ben adquiriu minhas digitais de algum jeito? Será que previu que eu perderia minha mão? Ou a tranca foi criada para me identificar através da Força? Luke estava confuso, mas se a sua impressão digital foi a única coisa que impediu a detonação do explosivo, então teria outra razão para agradecer o droide médico que recriara sua mão. Olhando junto ao bastão de luz, Luke viu que a caixa continha alguns objetos retangulares. Ele os reconheceu como sendo livros. Embora fosse muito mais familiarizado com datapads para armazenamento

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de informações, ele já tinha visto livros o suficiente em sua vida para saber o que eram e como usá-los. O maior dos livros era um volume encadernado em couro que parecia muito antigo. Luke o apanhou e notou que também era envolvido por um fecho protegido. Ele pressionou o polegar no fecho. A proteção se abriu sem emitir som algum. Luke não se surpreendeu quando encontrou outro dispositivo explosivo, desta vez afixado atrás da capa frontal do livro. E nem ficou surpreso quando o dispositivo não detonou. O que o surpreendeu foram as palavras escritas à mão na primeira página:

Luke, Os explo sivo s eram uma precaução necessária. Sei que você irá se desfazer deles co rretamente. O futuro do s Cavaleiro s J edi está em suas mão s. Leia estes liv ro s e use-o s com sabedo ria. Que a Fo rça esteja com você. – Obi-Wan Kenob i Luke piscou diante daquelas palavras como se quisesse confirmar que eram reais, que não estava sonhando. De repente, o livro parecia pesado em suas mãos. Ele o colocou cuidadosamente sobre a bancada e, sob o brilho do bastão de luz, começou a virar as páginas. Cada uma estava cheia de textos escritos à mão, e seu coração começou a martelar enquanto muitas palavras e frases chamavam sua atenção. Conselho Jedi… Velha República… Batalha de Naboo… Lordes Sith… Templo Jedi… Movimento separatista… Batalha de Geonosis… Guerras Clônicas… Luke parou para recuperar o fôlego. Ele sabia que precisava começar do início, mas o livro era tão grande e ele estava impaciente para encontrar dois nomes em particular. Começou a folhear as páginas ainda mais rápido, passando a vista pelos textos buscando pelos nomes – Anakin Skywalker e Darth Vader – que acreditava serem a chave para as respostas que procurava.

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Desde o duelo na Cidade das Nuvens, seus pensamentos foram dominados por duas questões: Darth Vader é mesmo meu pai? E se for, por que Ben não me contou a verdade? A dor latejante voltou ao pulso de Luke e ele parou de virar as páginas. Não encontrou os nomes que procurava, mas chegou a uma seção que continha as instruções de Ben para a construção de sabres de luz. A seção incluía numerosas ilustrações feitas pelo próprio Ben. Luke não havia considerado a possibilidade de construir um sabre de luz. Apenas após perder o seu na Cidade das Nuvens é que ele percebeu que não fazia ideia de como obter outro, muito menos como construir um do zero. Agora, graças ao livro de Ben, poderia ter uma chance de substituí-lo. Um Jedi habilidoso pode completar um sabre de luz básico em alguns dias, se necessário, mas criar um pela primeira vez pode levar muitos meses. O componente mais essencial é o cristal catalisador, que de preferência deve ser uma joia natural, que pode ser…

Luke ficou hipnotizado, quase se esquecendo do objetivo de encontrar informações sobre a identidade de seu pai. Voltou algumas páginas e começou a ler o trecho desde o início: Assim como a maioria dos younglings,1 eu construí meu primeiro sabre de luz no Templo Jedi em Coruscant. Embora fosse apenas uma arma competente, eu estaria mentindo se dissesse que construí puramente para os treinamentos. Construí com muita consideração e cuidado, e ousei imaginar que serviria a mim por muito tempo. Na verdade, eu realmente usei a arma durante minhas primeiras missões com meu Mestre, mas foi apenas depois que…

1  No universo de Star Wars, youngling, ou Jedi Iniciado, é o termo que se refere a crianças de qualquer espécie que, por serem sensíveis à Força, se encontram em estágios iniciais de treinamento Jedi. (N.T.)

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Ao ler a palavra Mestre, Luke avançou no texto. Ele suspeitava que Ben se referisse ao Mestre Yoda, mas não viu o nome de Yoda em lugar algum. Luke então voltou para onde havia parado. … mas foi apenas depois da viagem até Ilum, quando eu ainda tinha meus treze anos de idade, que aprendi o verdadeiro poder de um sabre de luz.

Luke virou a página. Ele esperava que o diário fornecesse mais detalhes sobre o que Kenobi havia passado em seu décimo terceiro ano para que aprendesse “o verdadeiro poder de um sabre de luz”, mas ao ler as páginas seguintes, parecia que o velho Jedi guardara a informação para si. Ben também havia mencionado estar “em Ilum”, mas não havia outra menção a Ilum, ao menos não que Luke pudesse ver imediatamente. Luke pensou um pouco. Embora estivesse ansioso para ler o livro inteiro, ele acreditava que construir um novo sabre de luz era sua prioridade. De acordo com as instruções de Ben, as primeiras tentativas poderiam “ levar meses”. Luke e seus aliados não sabiam qual era o paradeiro de Han Solo e ainda precisavam criar um plano de resgate, mas se fossem enfrentar Boba Fett ou Jabba, o Hutt, Luke achava que um sabre de luz seria útil. Ao reexaminar as instruções para a construção de sabres de luz, seus pensamentos retornaram a Obi-Wan com seus treze anos de idade. Como ele era nessa idade? Luke desejava poder saber mais.


CAPÍTULO UM

Embora a Ordem Jedi tivesse deliberadamente banido Ilum de todas as cartas estelares por muitos séculos, quase todos os Jedi iniciados sonhavam em visitar o secreto e sagrado planeta das Regiões Desconhecidas. Isso porque muitas gerações de Jedi buscaram cristais de Ilum para energizar seus sabres de luz, e alguns Jedi ainda afirmavam que os cristais de Ilum eram os melhores da galáxia. Construir um sabre de luz em Ilum não era considerado o mais desafiador teste para um aprendiz Jedi, mas para Obi-Wan era a confirmação de que se tornaria um Cavaleiro Jedi. E se havia alguém que gostava da ideia de se tornar um Jedi, esse alguém era Obi-Wan. Menos de um ano antes, quando ainda faltavam algumas semanas para seu décimo terceiro aniversário, ele estava quase convencido de que nenhum Cavaleiro ou Mestre Jedi o escolheria como aprendiz. Mas aquele tempo já era passado. O Cavaleiro Jedi Qui-Gon Jinn, com algum incentivo do Mestre Yoda, havia tomado Obi-Wan como seu Padawan. É verdade que o começo não foi fácil, e apenas piorou quando Obi-Wan temporariamente renunciou a Ordem Jedi para se juntar à revolução no planeta Melida/Daan, uma decisão da qual ele rapidamente se arrependeu. Qui-Gon o havia perdoado e aceitado seu retorno, embora ainda existisse uma inquietude entre os dois. Ainda assim, apesar de suas ­iscordâncias

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e conflitos, um laço havia se formado, e ambos estavam confiantes que ele cresceria com o tempo. E então foi assim que Obi-Wan e seu Mestre, viajando numa pequena nave de transporte emprestada pelo Senado Galáctico, fizeram a peregrinação até o mundo gelado de Ilum. Enquanto Obi-Wan meditava sobre o cristal azul que havia acabado de extrair da frígida caverna, Qui-Gon permaneceu a uma curta distância observando. Usando a Força, Obi-Wan Kenobi manobrou os componentes do sabre de luz para que flutuassem no ar diante dele. O cristal azul girou lentamente, depois flutuou até seu lugar dentro da câmara de energia do sabre. Concentrando toda a atenção nos componentes, ele selou o compartimento, depois ajustou o mecanismo de travamento. A montagem do sabre de luz estava completa. Com o sabre ainda flutuando, Obi-Wan olhou para seu Mestre. Assim como Obi-Wan, Qui-Gon vestia uma túnica de isolamento térmico para protegê-lo do frio. Os olhos de Qui-Gon estavam fixos no sabre de luz, mas Obi-Wan pensou ter detectado algo distante na expressão do Mestre, como se seus pensamentos estivessem em outro lugar. O sabre de luz de Kenobi oscilou levemente. Ele esperou alguns segundos, e então disse: – Você não deveria dizer algumas palavras, Mestre? Os olhos de Qui-Gon se voltaram para Obi-Wan. – Ah, sim – ele disse. Olhando para o sabre novamente, Qui-Gon recitou: – O cristal é o coração da lâmina. O coração é o cristal do Jedi. O Jedi é o cristal da Força. A Força é a lâmina do coração. Tudo está conectado: o cristal, a lâmina, o Jedi. Vocês… são um só. Obi-Wan ouviu a hesitação de Qui-Gon na frase final e pensou ter detectado um pouco de tristeza, talvez até arrependimento, na voz de seu Mestre. Ao apanhar o sabre flutuante e baixá-lo até a cintura, ele perguntou: – Eu cometi algum erro, Mestre?

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– Não, Padawan – Qui-Gon respondeu. – Você foi muito bem. Apenas lamento que desta vez fui eu quem não estava consciente do momento. – Então Qui-Gon olhou ao redor da caverna. – É uma pena que um lugar tão bonito seja marcado por memórias tão tolas. Obi-Wan sacudiu a cabeça. – Sinto muito, Mestre, mas não entendo. Qui-Gon voltou a olhar para Obi-Wan e disse: – A última vez que estive nesta câmara foi com Xanatos. Obi-Wan engoliu em seco. Xanatos fora o antigo aprendiz de Qui-Gon. Poderoso com a Força e um guerreiro corajoso, Xanatos servira ao lado de Qui-Gon em muitas missões, mas acabou deixando a Ordem Jedi para se aliar a seu pai biológico, um governante corrupto que havia iniciado uma guerra civil em seu planeta natal, Telos iv. Qui-Gon fora forçado a matar o pai de Xanatos, um ato que não impediu Xanatos de seguir para o lado sombrio. Por vários anos após os acontecimentos, Qui-Gon afirmava que talvez nunca mais tomaria outro aprendiz, e o fato de ter mudado de ideia é uma prova do talento de Obi-Wan. No entanto, logo após Obi-Wan ter se tornado o Padawan de Qui-Gon, Xanatos reemergiu, querendo vingança contra seu antigo Mestre – e quase destruindo o Templo Jedi no processo. Obi-Wan estava com Qui-Gon quando encontraram Xanatos em Telos iv, e nenhum deles foi capaz de impedir que o antigo Jedi deliberadamente tirasse sua própria vida ao saltar dentro de um tanque negro de ácido fervente. – Xanatos não foi culpa sua – Obi-Wan falou de repente, sem pensar. Qui-Gon não havia pedido sua opinião, e ele sentiu o rosto corar. – Talvez você esteja certo – Qui-Gon respondeu. – Mas por um tempo, Xanatos foi minha responsabilidade. E também foi meu amigo.

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Obi-Wan não tinha resposta para aquilo. Considerava Xanatos uma encarnação do mal, e achava difícil acreditar que pudesse ter sido amigo de qualquer pessoa. Obi-Wan também se sentiu um pouco ofendido. A viagem para Ilum era importante para ele, e não esperava que os pensamentos de seu Mestre recaíssem sobre Xanatos. Quase desejou que a memória de Qui-Gon do aprendiz fracassado tivesse se dissolvido junto ao próprio Xanatos em Telos iv, mas imediatamente enterrou esse pensamento e o baniu de sua mente. Um pensamento desses podia apenas levar ao lado sombrio – Obi-Wan não precisava que o Mestre Yoda, Qui-Gon ou qualquer outra pessoa o lembrasse disso. Qui-Gon suspirou. – Você trabalhou muito duro hoje, e eu lamento ter permitido que lembranças tão desagradáveis invadissem a ocasião. Perdoe-me, Obi-Wan. Obi-Wan ficou surpreso com o pedido de perdão de seu Mestre. Embora não soubesse se deveria responder, ele disse: – Eu… eu o perdoo, Mestre. – Então, tudo está bem – Qui-Gon disse, sorrindo ao pousar sua grande mão sobre o ombro de Obi-Wan. – Agora, vamos ver o resultado da sua criação, a lâmina que você criou pela vontade da Força. Afastando-se de Qui-Gon, Obi-Wan segurou o sabre diante dele e apertou o botão. A lâmina foi ativada, e as paredes incrustadas de cristais da caverna refletiram seu brilho azul enquanto ecoavam o distinto zumbido da arma. Obi-Wan crescera no Templo Jedi e possuía mais experiência com sabres de luz do que a maioria dos Padawans da sua idade. Mesmo assim, seus olhos se arregalaram enquanto contemplava a brilhante lâmina que se estendia diante de si. Ele já esperava que o cristal de Ilum fosse produzir uma lâmina mais intensa do que o cristal anterior, que havia selecionado na oficina de criação de

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sabres de luz do Templo Jedi. Mas não estava preparado para a maneira como o cristal de Ilum mudaria a sensação do sabre em sua mão. De algum jeito parecia diferente. Ele testou a lâmina, brandindo-a no ar. A lâmina ainda era pura energia e sem peso algum, mas parecia mais precisa e focada. Obi-Wan olhou para seu Mestre, que sorria como se pudesse ler os pensamentos de seu Padawan. Qui-Gon disse: – Alguns Jedi afirmam que os cristais de Ilum fazem você se sentir mais conectado com a Força. Antes que Obi-Wan pudesse comentar, um bipe soou no comunicador de Qui-Gon. Obi-Wan desativou o sabre de luz enquanto Qui-Gon removia o comunicador e ouvia. Depois, respondeu: – Estamos a caminho. – O que foi, Mestre? – Uma missão – Qui-Gon disse, guardando o comunicador no cinto. – Precisamos ir para Ord Sigatt. – Ord Sigatt? – Obi-Wan sacudiu a cabeça. – Nunca ouvi falar. – Fica nos Territórios da Orla Exterior. Obi-Wan ergueu as sobrancelhas. Não era todo dia que os Jedi recebiam missões na Orla Exterior. Ele disse: – Isso não é um pouco fora da nossa jurisdição? – Não quando uma nave-refinaria da República e sua tripulação desaparecem por lá. Qui-Gon se virou e se dirigiu para a boca da caverna. Obi-Wan prendeu o sabre de luz na cintura e o seguiu, andando apressado para acompanhar os passos largos de seu Mestre. Eles voltaram para o transporte, digitaram as coordenadas para Ord Sigatt e decolaram do planeta congelado. Minutos mais tarde, aceleravam pelo hiperespaço na direção da Orla Exterior.

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12 mil anos antes do tempo de Obi-Wan, quando a República Galáctica tentava expandir seu governo para além das rotas de comércio mais usadas, a República estabelecera bases militares avançadas em vários mundos remotos. Esses planetas e luas eram designados Ords, uma abreviação de Postos de Artilharia/ Regional.2 Com o tempo, a Ordem Jedi substituiu a milícia da República, e alguns dos Ords evoluíram para centros de descarte de armas e instalações de armazenamento, enquanto outros foram adotados por colonizadores. Ord Sigatt era um pequeno planeta rochoso com um terreno praticamente deserto e alguns poucos lagos espalhados. Por séculos, sua modesta população consistia de pessoas que viviam ali apenas até encontrarem algum outro lugar para se instalarem. Alguns colonos antigos viviam na periferia do assentamento principal, mas a maioria vivia perto do espaçoporto, da estação de energia ou da estação de tratamento de água que formavam o assentamento principal. Quanto ao turismo, a maioria dos viajantes considerava Ord Sigatt pouco mais do que um lugar para descansar ou reabastecer as naves. Mas tudo isso mudou após a descoberta recente de um grande depósito de carvanium, um metal usado em ligas como durasteel. Quase da noite para o dia, Ord Sigatt se transformou num planeta minerador. Muitos colonizadores se tornaram instantaneamente ricos quando venderam suas propriedades para consórcios galácticos. Veículos titânicos foram enviados para escavar o carvanium, e o espaçoporto se expandiu para acomodar as naves-refinaria. A população aumentou rapidamente com trabalhadores migrantes e soldados mercenários, e uma grande quantidade de novos alojamentos foi erguida para receber os recém-chegados. Obi-Wan revisou esses detalhes durante a jornada com seu Mestre pelo hiperespaço, a dimensão do espaço-tempo que p ­ ermitia 2  Ords, na edição original, é a forma abreviada de Ordnance/Regional Depots. (N.E.)

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viagens entre planetas acima da velocidade da luz. Estudando as informações transmitidas pelo Templo Jedi, Obi-Wan disse: – O navio-refinaria perdido chama-se Hardy Harrow, do planeta Denon, e pertence ao consórcio Denon-Ardru Mutual. A nave fora chamada para apanhar um carregamento de carvanium dois dias atrás, mas quando não voltou para o espaço da República, um senador de Denon notificou o Conselho. – Algum comentário do espaçoporto de Ord Sigatt? – Qui-Gon perguntou. – Disseram que o Hardy Harrow nunca apareceu em Ord ­Sigatt. – E quanto aos recentes atos de pirataria ou as anomalias temporais no sistema? Alguma coisa foi relatada? – Não, Mestre. – Um sinal luminoso piscou no console do transporte e Obi-Wan olhou para uma tela. – Estamos saindo do hiperespaço. Houve um leve tremor quando o transporte saiu do hiperespaço e entrou no espaço real. Do lado de fora da janela de transparisteel, um fluxo luminoso se desvaneceu e foi substituído por um planeta solitário entre um campo de estrelas distantes. Obi-Wan confirmou que o planeta era mesmo Ord Sigatt, e então avisou: – Vou notificar o espaçoporto que nós chegaremos em… – Calma, Padawan – Qui-Gon interrompeu. – Considerando tudo que sabemos até agora, as autoridades do espaçoporto podem ter algo a ver com o desaparecimento da refinaria. É melhor chegarmos sem avisar. Vamos aterrissar num dos hangares públicos na periferia. Após receberem a autorização do espaçoporto, eles aterrissaram o transporte num hangar aberto. Obi-Wan ficou aliviado ao descobrir que o clima em Ord Sigatt era consideravelmente mais quente do que Ilum, mas quando desceram a rampa do transporte, percebeu que o ar não era nem de longe tão limpo. Um droide de manutenção os direcionou para a saída do hangar. Já estavam quase saindo quando dois seguranças ­uniformizados

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saíram das sombras para bloquearem o caminho. Os dois guardas possuíam rifles blaster pendurados nos ombros, e a expressão endurecida indicava que estavam preparados para usar as armas, se necessário. Um dos guardas olhou para Qui-Gon e rosnou: – Algum de vocês está armado? Qui-Gon ergueu a mão direita lentamente e fez um leve gesto com os dedos enquanto dizia: – Nós não temos nenhuma arma. Os dois guardas não sabiam que Qui-Gon estava usando a Força para manipular suas mentes. O guarda que havia abordado Qui-Gon assentiu e disse: – Não, vocês não têm nenhuma arma. – Somos apenas mercadores inofensivos – Qui-Gon acrescentou. – Você pode nos deixar seguir nosso caminho. – Totalmente inofensivos – o guarda respondeu. – Então podem seguir. – Ele e seu parceiro abriram caminho, permitindo que os dois Jedi passassem pela saída. Eles entraram numa rua movimentada, cheia de pedestres e barracas de comércio. Passaram pelas barracas, mantendo os sabres de luz escondidos sobre as túnicas. Enquanto andavam, Qui-Gon chegou mais perto de Obi-Wan e falou num tom de voz baixo: – Notou alguma coisa estranha com as pessoas daqui? Obi-Wan vasculhou a área. Ele viu uma mistura de humanos e alienígenas de vários mundos, e a maioria vestia roupas de trabalho. Alguns se sentavam diante de mesas com comida sob a sombra de um hangar próximo. Todos os mercadores pareciam focados em seus clientes. Obi-Wan deu de ombros. – Bom – ele disse –, não parece muito diferente de qualquer outro espaçoporto de um mundo distante. Exceto que as pessoas por aqui parecem mais carrancudas do que o normal. – E era verdade. Ninguém parecia feliz sobre estar em Ord Sigatt.

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Qui-Gon completou: – Também existe o fato de que ninguém está carregando armas. Quando os olhos de Obi-Wan passaram de uma pessoa a outra, ele rapidamente confirmou a observação de seu Mestre. Com exceção dos guardas no hangar, nenhum ser estava usando um coldre ou carregando algum tipo de arma. – Isso é estranho – Obi-Wan disse. – Nada no relatório do Conselho Jedi mencionava que blasters estavam proibidos. Talvez seja a maneira como os nativos mantêm a paz. – Talvez – Qui-Gon disse, mas Obi-Wan percebeu o ceticismo de seu M ­ estre. Um trio de spacers3 passou por eles, e os Jedi observaram os homens entrarem num bar próximo dali, um dos prédios mais velhos do local. Qui-Gon disse: – Talvez eu possa conseguir alguma informação ali. Espere aqui fora. Voltarei em alguns minutos. Alguns segundos depois de Qui-Gon entrar no velho prédio, Obi-Wan ouviu um barulho alto. O som veio de um beco logo na esquina, que era perpendicular à rua principal. Após olhar rapidamente para a porta do bar, ele dobrou a esquina e se viu diante de um corpulento besalisk. O alienígena de quatro braços vestia um avental manchado e segurava duas bandejas nas mãos inferiores. Várias garrafas vazias estavam espalhadas pelo chão. Parecia que ele havia derrubado as garrafas acidentalmente. Obi-Wan estava prestes a voltar quando o besalisk, resmungando para si mesmo, se abaixou e começou a recolher as garrafas. Obi-Wan ficou admirado com a rapidez das mãos do ­alienígena. O besalisk estava apanhando a última garrafa quando olhou para Obi-Wan. Arregalando os olhos com surpresa, o alienígena disse: 3  Spacers é uma gíria do universo de Star Wars para pessoas que trabalham voando pelo espaço. Tipicamente, os spacers são pilotos de cargueiros ou outros tipos de naves, mas o termo também é usado para designar caçadores de recompensas, mercenários ou contrabandistas. (N.T.)

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– Ah, droga. – Depois baixou as bandejas até o chão, levantou os grandiosos quatro braços para o ar e disse: – Eu me rendo. Confuso, Obi-Wan disse: – Você se rende? – Eu sei que é melhor não mexer com os Jedi – o besalisk disse, com seu bigode tremendo levemente. – Mesmo jovens como você. Sentindo um súbito constrangimento, Obi-Wan olhou para baixo para ter certeza que seu sabre de luz não estava acidentalmente exposto. Vendo que ainda estava bem escondido sob a roupa, ele voltou a olhar para o besalisk e disse: – Quem disse a você que eu era um Jedi? Ainda com os braços erguidos, o besalisk riu. – Você me contou, filho. Primeiro, você tem uma trança de aprendiz Jedi. Além disso, talvez você não saiba, mas o tecido das roupas de um Jedi é muito distinto. Mas a dica final foi quando olhou para sua cintura para ter certeza que o sabre de luz não estava aparecendo. Enfim, você pegou o Dexter Jettster com toda a justiça. Obi-Wan ficou impressionado pelo poder de observação do besalisk. Entrando ainda mais no beco, ele manteve a expressão neutra quando disse cuidadosamente: – Então… Dexter Jettster… você também deve saber por que estou aqui. – Tenho que admitir – Jettster disse, piscando para Obi-Wan. – Eu sabia que não poderia continuar passando blasters no meu bar para sempre. Mas nunca imaginei que um Jedi viria atrás de mim. Passando blasters? Obi-Wan ficou confuso com a admissão de Jettster. O besalisk continuou: – Não vou implorar por misericórdia. Sei que cometi um erro. Mas juro, a Denon-Ardru Mutual e seus capangas da segurança são os verdadeiros causadores de problemas. Já foi ruim o bastante

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quando tomaram conta do governo local e confiscaram as armas de todo mundo em nome da lei deles, mas quando começaram a roubar as terras dos colonizadores, bom, eu tive que fazer alguma coisa. Você vai encontrar todos os blasters nos fundos do bar. Ainda não comecei a distribuir para meus amigos. Enquanto ouvia, a mente ágil de Obi-Wan começou a analisar as informações, conectando com os detalhes que já conhecia. Ele disse: – Onde está o Hardy Harrow? – Escondido em um vale, a uns vinte quilômetros ao norte daqui – Jettster disse. – Não está danificado. Eu e meus amigos capturamos a nave logo depois de entrar em órbita e retiramos o transponder. Queríamos apenas que a Denon-Ardru soubesse que não deixaríamos Ord Sigatt sem lutar. – Vocês feriram a tripulação? – A tripulação? – Jettster franziu as sobrancelhas, e depois disse: – Ora, você sabe tão bem quanto eu que o Harrow é uma nave drone e não possui tripulação, com exceção dos droides que… que… – Jettster limpou a garganta, depois cerrou os olhos para Obi-Wan. – Continue – Obi-Wan disse. Jettster sacudiu a cabeça. – Filho de um gundark – ele disse. – Você me pegou, Jedi. Você tentou esconder, mas posso ver em seus olhos agora mesmo. Você não tinha ideia que eu estava escondendo alguma coisa até eu abrir minha grande boca. Até um minuto atrás, eu me vangloriava de como conseguia guardar bem meus segredos, mas agora… – Socorro! O grito – parecia uma voz de criança – veio do lado de fora do beco, atrás de Obi-Wan. Ele virou a cabeça rapidamente e viu três seguranças, carregando rifles blaster e vestidos com o mesmo uniforme que os seguranças do hangar. Um dos guardas estava agarrando o colarinho de um jovem garoto, que parecia ter uns

A origem e a lenda de Obi-Wan Kenobi

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nove anos de idade. Uma criança mais nova, uma garota, abraçava o garoto como se tentasse protegê-lo. Obi-Wan olhou seriamente para Jettster e disse: – Fique aqui! – Obi-Wan correu para fora do beco, onde pedestres já formavam uma pequena multidão ao redor dos guardas e das duas crianças. O guarda que agarrava o garoto gritou: – Eu vi você jogando aquela pedra em mim, moleque! Agora você vai pagar por isso! – Tire as mãos dele – Obi-Wan disse ao se aproximar dos guardas. Mantendo uma das mãos no colarinho do garoto, o guarda olhou para Obi-Wan e ordenou: – Afaste-se, garoto! – Depois moveu seu rifle blaster, apontando-o para Obi-Wan. O sabre de luz de Obi-Wan apareceu como um lampejo, cortando o cano do rifle. O guarda soltou o menino, que caiu nos braços da irmã ao mesmo tempo em que o cano cortado atingia o chão e rolava para o outro lado da rua. Os dois outros guardas se moveram como se fossem apontar seus próprios rifles, mas então olharam além da lâmina brilhante do sabre de luz e encontraram os olhos de Obi-Wan. – Um Jedi – murmurou uma voz na multidão. – Ele é um Jedi! Um silêncio recaiu sobre a rua e todos os olhos se voltaram para Obi-Wan e os guardas. Obi-Wan estava prestes a ordenar aos guardas que soltassem os rifles, mas antes que pudesse dizer algo, toda a multidão começou a comemorar. Obi-Wan manteve os olhos neles. Enquanto a multidão continuava a comemorar, os guardas soltaram suas armas. Com os guardas desarmados, tremendo nervosamente no meio da rua, Obi-Wan sentiu um dedo gentilmente tocando seu ombro direito. Ele se virou e encontrou Qui-Gon atrás de si, desativando rapidamente o sabre de luz.

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Levantando a voz para ser ouvido sobre a multidão que aplaudia, Qui-Gon disse: – Será que eu deveria ter lembrado a você para ficar longe de problemas? Obi-Wan retrucou: – Você pediu para eu esperar do lado de fora! – Lembrando de Dexter Jettster, ele olhou de volta para o beco, onde viu Jettster apoiado na parede ao lado do bar. Jettster havia se juntado à multidão e aplaudia com seus dois braços superiores enquanto usava as mãos inferiores para apontar para o chão. Jettster havia ficado onde Obi-Wan mandara. Obi-Wan pensou: esse cara não é nada mau. Até que ajudou bastante. Voltando a olhar para seu Mestre, Obi-Wan disse: – Antes de me repreender, permita que eu diga onde vamos encontrar o Hardy Harrow. Qui-Gon encarou Obi-Wan por um momento, só então falou: – E como exatamente você conseguiu essa informação? – Um passarinho de quatro asas me contou.

O consórcio Denon-Ardru Mutual havia enviado um pequeno exército de guardas para Ord Sigatt, porém todos se entregaram aos Jedi sem protesto. Afinal de contas, eles foram pagos apenas para acossarem pessoas normais. Os guardas retornaram para Denon a bordo do Hardy Harrow, mas sem o carregamento de ­carvanium. Nem o Senado Galáctico nem o Conselho Jedi ficou satisfeito com o fato de um senador do planeta Denon ter tentado usar os Jedi para recuperar uma nave drone sem tripulação, principalmente quando descobriram que o mesmo senador possuía interesse comercial em manter o monopólio secreto da Denon-Ardru Mutual na escavação do carvanium em Ord Sigatt.

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Obi-Wan e Qui-Gon ficaram em Ord Sigatt por alguns dias para ajudar o governo local a voltar ao normal. Passaram um bom tempo com Dexter Jettster, que não apenas impressionou aos dois com sua habilidade de observação e sua memória, mas também com sua excelente comida. Foi durante uma refeição que Jettster encarou Obi-Wan e disse: – Você sabe qual é o verdadeiro poder de um sabre de luz? – O verdadeiro poder? – Obi-Wan repetiu. Ele olhou para Qui-Gon pedindo por apoio. Qui-Gon disse: – É uma boa pergunta. Voltando a olhar para Jettster, Obi-Wan disse: – Bom, suponho que seja a capacidade do sabre de cortar através de quase qualquer coisa. Dexter abriu um largo sorriso. – Era isso que eu achava – ele disse, enquanto empurrava outro prato de comida na direção de Qui-Gon. – Mas então, um dia eu vi um jovem Jedi chamado Obi-Wan Kenobi acionar seu sabre de luz em Ord Sigatt. E foi então que descobri o verdadeiro poder do sabre. Obi-Wan se ajeitou na cadeira. – Eu… eu não entendi. – Cortar através das coisas é apenas uma função técnica do sabre de luz – Jettster continuou. – Mas seu poder verdadeiro está nos olhos de quem vê. A visão de um sabre de luz pode inspirar um grande medo, mas também pode inspirar grande esperança. Tudo depende de você considerar os Jedi como amigos ou inimigos. – Esticando o braço direito superior, Jettster pousou a mão sobre o ombro de Obi-Wan e disse: – Com um golpe rápido do sabre de luz, você deu esperança para todos que viram sua arma. Quer dizer, exceto os caras maus. Seu sabre de luz fez com que eles ficassem de joelhos, e sem derramar uma única gota de sangue. – Bom – Obi-Wan disse –, na verdade eu destruí o rifle de um dos guardas…

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– Ah! – Dexter riu. – Isso você realmente fez, mas mesmo assim… considere isto, meu jovem amigo. Muitas armas podem matar, mas apenas um sabre de luz pode inspirar tais extremos de esperança e medo. E devo acrescentar que ficarei para sempre feliz por saber que apenas os Jedi podem carregar sabres de luz. – Ele ergueu o copo para Qui-Gon. Quando os Jedi se preparavam para deixar Ord Sigatt, Jettster os acompanhou até o transporte que esperava por eles. Ao se aproximarem do hangar, Jettster puxou Obi-Wan de lado e sussurrou: – Ouça, filho. Obrigado por não contar para ninguém que fui eu que deixei escapar a informação sobre os blasters e a nave desaparecida. Você salvou minha reputação. Obi-Wan sorriu. – Cuide-se, Dexter – ele disse, estendendo a mão. – Um aperto de mão não será suficiente, filho – Dexter disse, e então agarrou o garoto e o ergueu do chão para abraçá-lo com seus quatro braços. – Até a próxima.

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