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Retranca Periódico Institucional Bimestral Número 17 - março/abril de 2010

Acontece

PRIMEIRA REUNIÃO DE 2010 TAMBÉM NESTA EDIÇÃO Relato de caso página 6 Poroqueratose actínica superficial disseminada em pacientes com síndrome de imunodeficiência adquirida

Entrevista página 8 A Dra. Izelda Costa fala sobre sua experiência como Editora-chefe dos Anais Brasileiros de Dermatologia


Editorial

Ouvidoria

Prezados colegas, Iniciamos nossa gestão com muito ânimo e empenho de todos integrantes da Diretoria. Tivemos, na primeira reunião, uma expressiva participação dos sócios, o que nos encheu de energia para cumprirmos os próximos dois anos à frente da nossa Sociedade. Naquela reunião foi aprovada a mudança de endereço da SBD-DF. Transferimos a sede para a AMBr e alugaremos a sede antiga. O objetivo foi cortar gastos e criar uma fonte de renda para a Sociedade, tornando-a independente da Indústria Farmacêutica e das Farmácias de Manipulação. Continuaremos organizando as reuniões mensais aos sábados, com cursos teóricos pela manhã e práticos à tarde. A RADECO, que será realizada em Brasília, está agendada para os dias 30 e 31 de julho e 1º de agosto. A reunião contará com painéis de procedimentos ao vivo (PPV) na sexta-feira, aulas teóricas no sábado e um simpósio de propedêutica e terapêutica no domingo. Continuamos abertos a críticas e sugestões e nos dedicaremos ao máximo para fazer de nossa gestão a mais proveitosa possível para os associados. Gilvan Alves Presidente da SBD-DF 2010/11

CAIXA POSTAL Entre em contato com o Ombudsman pelo nosso site Caros colegas, Foi com muito orgulho que realizamos em 13/03/2010 nossa primeira reunião anual e da atual gestão. Procuramos fazer uma programação diversificada e interessante que faça parte do dia-a-dia dos dermatologistas. Bons temas, casos clínicos ao vivo e cursos práticos à tarde foram os ingredientes do sucesso da reunião que se refletiu com o excelente numero de associados. Outra novidade foi a realização da reunião no auditório da AMB, um espaço exclusivo para reuniões médicas que supriu muito bem nossas necessidades e que também sediará nossas futuras reuniões. Sabemos, porém, que ainda há muito em que melhorarmos, por isso nós, da SBD-DF, trabalharemos com afinco para que as próximas reuniões sejam cada vez melhores. Marcelo Pompeu, por e-mail

Thiago Antonio B. Pinto Ombudsman

Expediente

Diretoria 2010/2011

Informativo da Sociedade Brasileira de Dermatologia - DF

Presidente: Gilvan Alves Vice-Presidente: Iphis Campbell 1º Secretário: Helbert Abe Rodrigues 2ª Secretária: Bárbara S. Uzel Tesoureira: Janine Ribeiro Coordenador do Site: Luciano Morgado Coordenador Campanha do Câncer de Pele: Marcelo Pompeu Coordenador de Cursos Práticos: Gustavo Godoi Ombudsman: Thiago Antonio Pinto

Editora-chefe Dra. Tatiana Varella Produção e Diagramação Editora Moinho

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O primeiro evento do ano da nossa regional pode ser considerado um grande sucesso – este novo formato de reunião foi digno de muitos elogios por parte dos associados. Unir, no mesmo dia, a tradicional reunião da manhã com cursos práticos no período da tarde parece que agradou bastante, assim como o novo local para nossas reuniões. A grande maioria dos sócios com quem conversamos mostrou-se a favor destas mudanças, feitas com o intuito de melhorar nosso aproveitamento científico. Por outro lado, tivemos algumas queixas de sócios que não conseguiram participar dos cursos práticos e que reclamaram que médicos não sócios da SBD participaram dos mesmos. Uma falha séria que foi levada por mim para a reunião seguinte da diretoria. Outra reclamação pertinente foi o fato de residente em dermatologia (serviço credenciado) não poder fazer os cursos práticos. Estas reclamações remetem ao tema da defesa profissional. É correto um profissional que não tem a devida formação em dermatologia frequentar nossos eventos, tirar vaga de um sócio ou residente dos cursos práticos? A resposta que ouvimos da maioria é não. A base da Sociedade Brasileira de Dermatologia são seus sócios e os residentes dos serviços credenciados. Quando aceitei o convite para a ouvidoria, me coloquei a disposição para colaborar e levar a diretoria os anseios dos sócios. Pois bem, ficou decidido em reunião da diretoria que, a partir da próxima reunião, a participação em cursos práticos será exclusiva de sócios e residentes (com a devida comprovação). Outra decisão é a maior fiscalização na entrada das reuniões, pois sabemos que existem pessoas que insistem em frequentá-las e não pagar o valor estipulado para não sócios. Quero concluir esta coluna voltando a insistir para que todos colaborem, só assim atingiremos a qualidade esperada para nossa regional. A Ouvidoria só tem sentido com a participação dos sócios. Estamos implantando em nosso site um canal direto com a ouvidoria e reforço aqui o apelo para que elogios e críticas sejam feitos formalmente por e-mail (não é obrigatória a identificação) e fiquem certos de que todas as sugestões serão bem-vindas.

Jornalista Responsável Bruno Laganà - Reg. nº 3510/DF

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Notícias

CFM divulga resultado de coleta de dados sobre a concentração de médicos no Brasil O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou dados sobre a concentração de médicos no território nacional. O levantamento, apresentado durante as comemorações do Dia Mundial da Saúde, mostra que o número de profissionais aptos a atuar cresce em ritmo mais acelerado do que o da população, mas a distribuição está longe de ser uniforme. De acordo com o site da Associação Médica Brasileira (www.amb.org.br), o levantamento desses dados é inédito e aponta que o déficit de médicos no interior não significa a falta de profissionais no país. A média nacional atual é de um médico para grupo de 578 habitantes. Esses dados foram coletados entre os anos 2000 e 2009 e estão próximos aos índices dos EUA, que é de um médico para 411 pessoas. Ainda de acordo com o levantamento, durante os anos de 2000 e 2009, a quantidade de médicos aumentou 27% – de 260.216 para 330.825. No mesmo intervalo de tempo, a população brasileira cresceu aproximadamente 12% – de 171.279.882 para 191.480.630, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Se quiser saber mais detalhes sobre a pesquisa, acesse o endereço: http:// www.amb.org.br/teste/index.php?acao=mostra_noticia&id=5760.

Agenda 21/04 a 25/04 XXII Congresso Brasileiro de Cirurgia Dermatológica Local: Rio de Janeiro (RJ) Informações: sbcd.org.br 08/05 3ª Reunião Ordinária de 2010 Local: Auditório da AMBr Informações: (61) 3323-1524 21/05 e 22/05 II Teradermda Sociedade Brasileira de Dermatologia Local: São Paulo (SP) Informações: sbd.org.br 29/05 a 01/06 XXVIII Reunião Anual de Dermatologstas Latinoamericanos (Radla) Local: Buenos Aires (ARG) Informações: radlaargentina2010.com.ar

Recadastramento médico Os médicos têm até o dia 11 de maio de 2010 para se recadastrarem no Conselho Federal de Medicina (CFM). De acordo com a resolução CFM nº 1.827/2007, todos os médicos inscritos nos conselhos de Medicina devem atualizar seus dados, habilitando-se assim a receber a nova Carteira de Identidade Médica. O profissional deve realizar o procedimento no site recadastramento.crmdf.org.br. Ele receberá um e-mail resposta com a lista dos documentos que o profissional deve levar à sede do CRM-DF – originais e cópias (2 fotos coloridas, diploma, carteira de identidade, título de eleitor, CPF, comprovante de residência recente, título de especialista, carteira profissional, comprovante de sociedade em empresa de serviços médicos).

Portal de vídeos no site da SBD

Você já visitou o novo portal de vídeos lançado pela SBD? O portal tem o intuito de armazenar vídeos de cunho médico, voltados ao aprimoramento e desenvolvimento da educação médica continuada. No endereço http://sepon.sbd.org.br o associado pode acompanhar palestras em tempo real, com possibilidade de fazer perguntas ao palestrante. Além disso, o site guarda esses vídeos e permite o acompanhamento posterior. Para poder acessar, o associado deve se cadastrar junto ao site.

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Acontece

Nossa primeira reunião Tatiana Varella Editora-chefe do Informativo SBD-DF A primeira reunião do ano contou com excelentes palestras e presença expressiva dos sócios. A Dra. Graciela Ribeiro comentou sobre exames micológicos falso-negativos, ressaltando que os pacientes devem ser orientados a suspender antifúngicos tópicos e sistêmicos, evitar uso de cremes, talcos e esmaltes; para reduzir esses erros dignósticos. O Dr. Gilvan Alves abordou tópicos do Meeting da Academia Americana de Dermatologia. Dentre eles, comentou sobre exposição solar e a produção de vitamina D. Atualmente, em todo o mundo, observamos uma “epidemia” de pacientes com deficiência de vitamina D. A vitamina D tem sido cada vez mais implicada como protetora para o desenvolvimento de neoplasias, dentre elas o melanoma. Autores vêm defendendo que o sol só estimula adequadamente a produção de vitamina D quando a exposição ocorre entre as 10 e 15 horas, contrariando a recomendação atual. Este assunto será foco da segunda reunião da regional. O Dr. Alexandre Cunha, infectologista, explanou sobre o uso adequado de antibióticos em pacientes dermatológicos. Enfatizou que o Staphylococcus aureus é, na maioria das vezes, resistente a penicilina e, portanto, essa classe de antibiótico isoladamente não é adequada para o tratamento de foliculites e furunculoses. Explicou que a penicilina benzatina não deve ser usada para tratamento de erisipelas, apenas para sua profilaxia, pois é uma medicação de depósito e demora a ter início terapêutico. Sobre a cefalexina, enfa-

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tizou que deve ser ministrada a cada 6 horas, pois sua meia-vida é muito curta e, apesar da posologia desconfortável, é excelente antibiótico para tratamento de erisipelas e celulites comunitárias. Comentou que, em vários países do mundo, inclusive no Brasil, notou-se o aparecimento do CAMRSA (S. aureus meticilino-resistente adquirido na comunidade), isto é, uma cepa resistente a oxacilina e cefalosporinas, responsável por infecções de pele e partes moles. Essas cepas são, na maioria das vezes, sensíveis a sulfametaxazol-trimetoprim e clindamicina, não sendo obrigatório o uso da vancomicina nesses casos. O Dr. Cleuton Soares, obstetra, explanou sobre a segurança de medicamentos na gravidez. Explicou que as drogas são classificadas pelo FDA em 5 categorias (A, B, C, D e X). As classes A e B são seguras na gestação. Dentre essas drogas, destacam-se: ácido azelaico, alfa-hidroxiácidos, penicilinas, cefalosporinas, clindamicina, nistatina, dipirona e paracetamol. As drogas de classe C podem ser ministradas somente se o benefício justificar o risco teratogênico. São medicamentos classe C: corticóides tópicos e sistêmicos, isoconazol e cetoconazol. Hidroquinona e retinóides tópicos, apesar de pertencerem à classe C, não devem ser utilizados. Fluconazol e itraconazol podem causar malformações se usados no primeiro trimestre, mas, pela falta de outros estudos, também devem ser evitados no 2º e 3º trimestres da gravidez. Anti-inflamatórios não-hormonais orais não devem ser usados no último trimestre. As drogas de classe D (ex.

tetraciclinas) e as de classe X (retinóides orais) não devem ser usados na gestação. A aula na íntegra encontrase na área restrita do site da SBD-DF (www.sbddf.org.br). O Dr. Francisco Leite ministrou aula espetacular sobre “novas tecnologias”, mostrando rico trabalho em que coletou figuras e informações de invenções do início do século, que inicialmente pareciam revolucionárias, mas na verdade eram charlatãs. Assim, de uma forma muito agradável, alertou sobre nossa realidade, em que a cada dia novos equipamentos e tecnologias nos são apresentados, muitas vezes sem o sólido respaldo científico que deveriam ter. O Dr. Emerson Alves ministrou uma aula esclarecedora sobre radiofrequência e luz intensa pulsada, aprofundando nos princípios físicos dessas tecnologias. E o Dr. André Braz fechou nossa reunião com duas aulas espetaculares. Na primeira, abordou o uso da toxina botulínica em pontos avançados da face e pescoço, mostrando técnicas de aplicação na região supralabial, correção do sorriso gengival, melhora do contorno facial, tratamento do mento e do platisma. Já na aula sobre preenchimentos faciais, mostrou técnicas de preenchimento da goteira lacrimal para olheiras e aumento do volume malar. A diretoria continuará trabalhando para tornar as reuniões cada vez mais interessantes, trazendo reciclagem e novidades. Está aberta a todos os tipos de sugestões, incluindo temas para aulas teóricas e cursos práticos.


Artigo de Revisão

Transplante capilar Lucas Nogueira Médico dermatologista

O transplante capilar é uma área da cirurgia dermatológica que enfrenta relativo preconceito frente a alguns resultados inestéticos obtidos por técnicas antiquadas ou por profissionais mal habilitados para sua realização. Primeiramente, é fundamental que se diga que o transplante capilar é um procedimento extremamente laborioso e que demanda não somente treinamento nas suas técnicas, mas também uma equipe capacitada para sua realização. Além disso, todo paciente submetido ao transplante deve saber que ele não substitui o tratamento da alopecia androgenética nas suas mais diversas formas e medicações. Fundamentalmente, o transplante capilar deve ser encarado pelo paciente como um auxílio para melhora de um incômodo estético mas que precisa ser encarado como um complemento terapêutico. O público-alvo dos transplantes é, na maioria, composto por homens com alopecia androgenética, mas a cada dia cresce o número de mulheres dispostas a realizar o procedimento e amenizar os efeitos da sua alopecia. Há outras causas de queda de cabelo que podem ser tratadas com transplante, mas os resultados tendem a ser inferiores ou insatisfatórios, como na alopecia cicatricial traumática ou em quadros cicatriciais de lúpus discóide. Cada paciente que pensa em realizar o transplante capilar deve estar ciente de algumas peculiaridades da própria técnica que influenciam seu resultado final além de saber melhor o que esperar de cada cirurgia. Por exemplo, pacientes com cabelos claros, ondulados e crespos tendem a ter uma melhor resposta cosmética após o transplante. Quanto mais escuro for

o fio de cabelo (em pacientes caucasianos) ou quanto maior for a diferença entre a cor do fio de cabelo e a cor da pele do couro cabeludo, maior o desafio em estabelecer homogeneidade cosmética ao transplante. Uma avaliação precisa da área doadora deve ser efetuada, eventualmente com auxílio de um densitômetro, e perspectivas realistas devem ser traçadas para cada paciente. O objetivo primordial do transplante capilar é criar a ilusão de que o paciente recuperou os cabelos, uma vez que restituir a quantidade e a densidade de pelos normais é impossível mediante as limitações de número de unidades foliculares. Até mesmo a forma que o paciente deseja pentear os cabelos após a cirurgia deve ser questionada, pois isto acarreta na concentração de mais unidades foliculares nas áreas a partir da qual o cabelo será partido. Outro aspecto que deve ser explicitado a todo paciente em potencial é o tempo para verificação dos resultados do transplante. Normalmente, a melhora estética é observada entre 6-12 meses após o procedimento, fato que pode gerar angústia para aqueles indivíduos mais ansiosos. Inclusive, uma piora da queda de cabelos pode ser observada nos 3 primeiros meses, não apenas pelo estresse de uma cirurgia prolongada mas também por microtraumatismos nos fios de cabelo restantes. Em relação às técnicas do transplante capilar, atualmente prevalece o transplante de unidades foliculares. Convém citar que dependendo da fonte utilizada, a nomenclatura de unidade folicular, família folicular ou mesmo microenxertos pode apresentar algumas distorções. Além disso, a combinação

de unidades foliculares e microenxertos em mãos de cirurgiões capacitados pode muitas vezes gerar aspectos naturais e com uma densidade mais satisfatória em alguns pacientes. Mais importante que discutir em relação à exclusividade do uso de unidades foliculares ou não nos transplantes, há alguns aforismas que devem sempre ser respeitados visando um melhor resultado final: 1- a região frontal é sempre prioritária nos transplantes. Muito cuidado deve ser direcionado nos transplantes da região da “coroinha”, especialmente em jovens. A continuação do processo de calvície pode gerar aspectos estéticos extremamente insatisfatórios, como a presença de tufos de cabelo posteriores; 2- preservar sempre o máximo possível da área doadora. Em média, um enxerto de 10 cm de extensão por 1 cm de largura pode gerar até 1500 unidades foliculares, dependendo da densidade capilar; 3- o aspecto natural após o transplante é mais importante que a densidade capilar; 4- linhas de implantação de cabelos muito uniformes devem ser evitadas. Unidades foliculares com mais fios devem ficar mais distantes das linhas de implantação; 5- a intenção de gerar muita densidade capilar artificialmente pode gerar dificuldades na irrigação dos enxertos e/ou unidades foliculares, o que pode ser danoso do ponto de vista do resultado final do transplante. Enfim, acima de tudo, critério na indicação, perícia cirúrgica e uma boa relação médico-paciente são as chaves para o sucesso do procedimento.

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Relato de Caso

Poroqueratose actínica superficial disseminada em paciente com síndrome de imunodeficiência adquirida Patrícia Aparecida de Castro, Eugênio Reis Filho, Isabel Irene Rama Leal, Luíza Helena de Lima Aguirre, Pedro Costa Queiroz Zancanaro Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário de Brasília – HUB Introdução A poroqueratose é dermatose rara que se caracteriza por pápulas ou placas eritematosas ou acastanhadas, com bordas hiperceratóticas – uma típica crista córnea periférica – circundando centro atrófico ou normal.(1) Foi descrita pela primeira vez por Mibelli, em 1893(2); as demais formas clínicas foram identificadas posteriormente. De acordo com o número, tamanho e distribuição das lesões, foram descritas quatro formas clínicas(3,4): a) Poroqueratose clássica ou de Mibelli, doença hereditária de padrão autossômico dominante, mais comum em homens, com início, em geral, na infância. b) Poroqueratose linear, cujas lesões distribuem-se linearmente, em tronco e extremidades, sendo mais comum em crianças. c) Poroqueratose actínica superficial disseminada (PASD), a mais frequente das variantes clínicas. As lesões surgem na terceira e quarta décadas de vida, em áreas de exposição solar, sendo mais comum em mulheres. É a forma clínica que mais se desenvolve em estados de imunosupressão(5). d) Poroqueratose palmoplantar disseminada, mais prevalente em homens, iniciando-se na adolescência e vida adulta, com lesões em regiões palmoplantares que podem se estender para extremidades e tronco em sua evolução. Todas as variantes clínicas apresentam a mesma característica histopatológica, que consiste da coluna de paraceratose (lamela cornóide) na borda da lesão(6,8).

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Relato de caso Identificação: Paciente de 55 anos, feminina, parda, divorciada, autônoma (artesã), natural de Pedra Azul (MG), residente e procedente do Cruzeiro (DF) há 33 anos. História: Queixa-se de que, há um mês da consulta inicial, apresentou erupção cutânea de máculas ovalares, inicialmente eritematosas, que tornaram-se acastanhadas com bordas espessadas e elevadas. As lesões iniciais apareceram em membros inferiores, em seguida, antebraços e tronco (Figura 1). Associado, queimação local. Nega febre, prurido ou sinais inflamatórios. Refere uso prévio de 6 doses corticoterapia infiltrativa para tratamento de bursite coxo-femoral e ser portadora de síndrome da imunodeficiência adquirida há 10 anos em uso de lamivudina, tenofovir e atazanavir des-

de janeiro/2005 com CD4 de 170 cels/ mm3 ao diagnóstico. Último CD4 de 335 células/mm3 há 6 meses do quadro cutâneo. Manifestações clínicas: Numerosas lesões arredondadas limitadas por “muralha” ceratósica, coloração acastanhada, disseminadas em braços, tronco e pernas, predominantes em áreas fotoexpostas (Figuras 1 e 2). Exames laboratoriais confirmatórios: biópsia incisional evidenciou epiderme atrófica com coluna de paraceratose – lamela cornóide – associada a queratinócitos vacuolados (Figura 3). Dignóstico: Poroceratose actínica superficial disseminada e retrovirose. Terapêutica: Expectante. Evolução: Após 21 dias da visita inicial, já se obervava diminuição do número de lesões.


Relato de Caso te foi submetida devido a quadro de bursite coxo-femural bilateral, o que denota o papel de imunossupressão transitória no desencadeamento da doença. Referências bibliográficas: Discussão É bem estabelecida a associação de poroqueratose com imunodeficiência, principalmente em pacientes transplantados, além de doenças inflamatórias auto-imunes como a dermatopoliomiosite, linfomas e outras neoplasias, uso de drogas imunosupressoras como prednisona, ciclosporina e azatioprina e infecção pelo HIV.(4,5) Na literatura mundial há quatro casos clínicos relatados de poroqueratose de Mibelli ou PASD associados à infecção pelo HIV.(6,7) É aventada a hipótese de que clones mutantes de queratinócitos estejam presentes na lamela cornóide, o que desencadearia alteração na diferenciação da epiderme com apoptose precoce dos queratinócitos.(9) A imunosupressão pode induzir a diminuição da resposta imune celular, consequentemente comprometendo os mecanismos de reparação dos defeitos genéticos.(4) A paciente apresentou lesões sugestivas de poroceratose actínica dis-

seminada em extremidades-locais de fotoexposição e história pregressa de retrovirose. O exame histopatológico da paciente foi compatível com poroqueratose, com as alterações seguintes: presença de paraceratose, o que corresponde à lamela cornóide se destacando da epiderme com ausência da camada granulosa subjacente; epiderme atrófica; degeneração dos queratinócitos – disceratose –, formando corpúsculos colóides na derme papilar; e aumento da deposição de colágeno na derme reticular. A fim de descartar a possibilidade de que o material amorfo na derme papilar pudesse corresponder à amilóide, foi realizada coloração pelo Vermelho-Congo e análise sob luz polarizada, que foi negativa. A última contagem de linfócitos CD4+, há 3 meses, era de 335 células/ mm³. Em tratamento antirretroviral há 10 anos, a erupção de poroceratose surgiu dias depois da última de uma série de 6 sessões de infiltração de corticóide intra-articular a que a pacien-

1  -  Sampaio SAP, Rivitti EA. Poroqueratose de Mibelli. In: Sampaio SAP, Rivitti EA. Dermatologia. 2a edição. São Paulo: Editora Artes Médicas; 1998. p.775-776. 2  -  Mibelli V. Contributo allo studio della ipercheratosi dei canali sudoriferi. Gior Ital Mal Vem 1893; 28:313-55. 3  -  Elisabeth Wolff-Schreiner. Porokeratosis. In: Freedberg IM, Eisen AZ, Wolff K. Fitzpatrick’s dermatology in general medicine. 6 ed. New York: McGraw-Hill; 2003. v.1 (56), p.62. 4  -  Kanitakis J, Euvrard S, Faure M, Claudy A.Porokeratosis and immunosuppression.Eur J Dermatol 1998;8(7):45965. 5  -  Monteagudo S et al: Porokeratosis in a pacient with dermatomyositis. Actas Dermo-Sifiliograficas 2006;97(10):650-2. 6  -  Rodriguez EA et al: Porokeratosis of Mibelli and HIV infection. Int J Dermatol 1996;35:402. 7  -  Kanitakis J et al: Disseminated superficial porokeratosis in a patient with AIDS. Br J Dermatol 1994;131:284. 8  -  Kanitakis J, Euvrard S, Claudy A. Porokeratosis in organ transplant recipients. J Am Acad Dermatol. 2001 Jan;44(1):144-6. 9  -  Shen CS, Tabata K, Matsuki M et al. Premature apoptosis of Keratinocytes and the dysregulation of keratinization in porokeratosis.Br J Dermatol 2002;147(3):498-502. 10  -  12 (2):108-12.

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Entrevista

Izelda Costa Homenageada do ano pela SBD-DF, a Dra. Izelda Costa é uma profissional interessada pela ciência da medicina. É professora adjunta de Dermatologia pela Universidade de Brasília (UnB) e mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais. Também é doutora pela Escola Paulista de Dermatologia – Unifesp. Além de dar aulas, é orientadora do curso de pós-graduação da Faculdade de Ciências da Saúde da UnB. Entusiasta da educação continuada, a Dra. Izelda é, desde janeiro de 2009, Editora Científica dos Anais Brasileiros de Dermatologia, publicação oficial da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Nesta entrevista, a Dra. Izelda fala sobre a função de editora-chefe dos Anais da SBD e o trabalho que realizou recuperando o Acervo Raro da Dermatologia, na sede da SBD, no Rio de Janeiro.

Fale um pouco sobre seu trabalho junto aos residentes de medicina da UnB e aos orientandos da pós-graduação. Venho trabalhando com os residentes da UnB já há muito tempo e, para mim é uma satisfação. Hoje em dia trabalho com os residentes da dermatologia do hospital e com os residentes da clínica médica do segundo ano que passam pela área da dermatologia. Trabalho na pós-graduação com o pessoal da Faculdade de Ciências da Saúde da UnB, orientando mestrandos e doutorandos. Esse trabalho junto aos alunos é sempre uma satisfação pois aprendemos muito com eles. Como professora, já trabalho com o aluno, iniciandoo na disciplina de Dermatologia, que é obrigatória na Faculdade de Medicina da UnB. Nessa disciplina falamos sobre doenças com repercussão na pele, como pênfigo, hanseníase, entre outras. Quais os projetos que estão sendo desenvolvidos nas suas orientações de pós-graduação e doutorado? Temos um ambulatório de dermatologia infantil onde atendemos cerca de 50 crianças toda terça-feira à tarde, quando deveríamos atender no máximo doze crianças. Esse pós-graduando fica no ambulatório comigo e, dentro daquelas doenças mais prevalentes no ambulatório, é escolhida alguma linha a se seguir. Por exemplo, temos atendido muitos pacientes com dermatite atópica, então têm saído muitos trabalhos lá, dentro dessa área. O primeiro passo é fazer um projeto de pesquisa que precisa ser aprovado pela UnB. Depois, começamos a trabalhar, se-

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guindo os parâmetros propostos no projeto. Agora estou orientando duas mestrandas, uma que está fazendo um trabalho sobre lipodistrofia em Aids e outra que está estudando a alopecia areata e comorbidades em crianças. Como foi ser convidada para assumir a função de Editora-Chefe dos Anais Brasileiros de Dermatologia? Eu era diretora da Biblioteca da SBD Nacional e tinha realizado um trabalho de resgate do Acervo Raro da biblioteca, que possuía mais de mil obras sem catalogação, que ficavam em um canto, somente juntando poeira e se deteriorando com o tempo. Esse trabalho começou em 2007 e só terminou em 2010. Agora temos obras preciosas à disposição dos sócios. Então tive a grata satisfação de ser escolhida pela diretoria da SBD para ser Editorachefe dos Anais Brasileiros da Dermatologia. A revista é a publicação oficial da SBD e existe desde 1925. Fizemos, este ano, um selo comemorativo de 85 anos de publicação contínua. Um grande orgulho para mim foi a reindexação da revista ao Medline, como publicação científica relevante. Os Anais ficaram mais de 30 anos sem a indexação e sua reindexação é uma vitória para a dermatologia brasileira. Isso é uma satisfação muito grande e aumentou a minha responsabilidade, porque, apesar de a versão impressa da revista ser toda em língua portuguesa, no site ela é toda é em inglês – e, por ser indexada, tem procura internacional. Temos um artigo, que vai ser publicado na próxima edição, foi redigido e trabalhado por

profissionais da Sérvia. Já tivemos autores alemães, argentinos, mexicanos e italianos, entre outros. A visibilidade da revista, com essa indexação, aumentou muito. Como o inglês é a língua da ciência, fica fácil para o mundo inteiro ler o que é publicado nos nossos anais. Agora, é importantíssimo que mantenhamos o nível de qualidade de nossos artigos e, por consequência, da revista, senão corremos o risco de perder a indexação novamente. E quando uma revista científica perde sua indexação, é muito complicado conquistá-la novamente. No nosso caso, passaram-se 38 anos para a reindexação. Acho que, a cada dia, a qualidade da revista tem melhorado, os artigos que têm chegado com proposta de publicação são de excelente qualidade. Mas o trabalho é árduo para que ela saia dessa maneira. Como é feita a seleção de material que é publicado? Nesta gestão, criamos a submissão online dos artigos, que já são pré-selecionados ali mesmo. Uma vez por mês vou ao Rio de Janeiro, na sede nacional da SBD, para uma reunião com os editores associados na qual selecionamos os textos que serão publicados naquele número. Escolhemos os artigos já dividindo-os nas suas respectivas seções. Hoje, publicamos, bimestralmente, por volta de 15 artigos, que fazem com que a cada edição fique em torno de 150 páginas. Com tanta quantidade de artigos bons e demanda por espaço, acredito que teremos que tranformá-la em uma publicação mensal, mais cedo ou mais tarde.


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