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MöndoBrutal #02
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Info e coisas..:
O que define a morte de um género musical? Muitos críticos de música criticam e acusam os frutos daquilo que podemos chamar de uma evolução musical seja em que géneros for, anseando pela morte dos mesmos e fecham os olhos à fonte da sua origem. Ora, nós na MöndoBrutal sabemos estar atentos. Dizem, por exemplo, que o grunge morreu, mas dentro de portas temos razões mais que suficientes para continuar a virar um pouco da atenção dos nossos ouvidos para essa arte sónica rebelde que lá para o ínício dos 90, se esqueceu de onde vinha (muito graças aos estupefacientes e à maquinaria da indústria musical) e com esse tropeção influenciou meio mundo. Os rapazes de Lisboa que hoje formam os Negative Buzz certamente estavam atentos, e hoje dão rock com a atitude mais crua e inevitávelmente cativante a um núcleo de resistentes que fecha os olhos ao que os media insistem em dizer, acabando assim por despertar uma certa faísca que relembra a possibilidade de concretização de ideias decerto partilhadas também pelos afiliados da mesma cena Dream Circus e Agressiv. Por outro lado as raízes não podem ser esquecidas e para no-lo lembrar da melhor forma os Spincity mostram como a arte de rockar ao som da inspiração dos clássicos do rock ainda é um dos melhores prazeres, ao passo que os polarmente opostos Destruction Eve nos mostram como até a nova geração sabe fazer a vénea merecida aos pioneiros do punk hardcore para hoje nos trazer um portento de energia musical para cima palcos. Há que mencionar também um novo artigo que já tínhamos vontade de vos mostrar há mais tempo: ‘As linhas com que se tecem a Malha‘, que estreia com a participação dos Enclavement através da sua faixa “Mostrengo“, e pretende desfiar os pormenores por detrás da construção de algumas das músicas mais interessantes que vão aparecendo no nosso underground. É razão para dizer que qualquer um dos géneros de música derivados da rebeldia não cai só porque alguém prega uma rasteira. Pisa-se o pé de quem a prega, liga-se o jack ao line-in e... let it be rock!
MÖNDOBRUTAL webzine mondobrutal@gmail.com http://www.facebook.com/pages/MöndoBrutal/118889448226960
A Seita: KaapaSessentainove (coisas variadas/ entrevistas) Maltês (design) Rui LX (tmbm design) Cátia Panda (recolha de info/ an.discos) Girh (revisão textos/ entrevistas) Lagartixa (an.discos) Hugo Cebolo (for.d’arquivo/ linhas c. q. s. t. a malha)
índice 02 - Editorial 03 - Notícias 04 - Fora do Arquivo: V12
06 - Dream Circus
10 - Negative Buzz
14 - Spincity
16 - Agressiv
16 - Destruction Eve
22 - A.l.c.q.s.t.M.: “Mostrengo“ dos Enclavement
24 - Análises a discos
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26 - Videoclube pag.10
Not]cias .................. The Firstborn preparam o rugido
Holocausto Canibal propõem FAQ aos fãs Os Holocausto Canibal colocaram um video na net, dirigido aos fãs, no qual lhes propõem que façam perguntas, quaisquer que elas sejam, sobre a banda, os seus elementos ou sobre o novo álbum ainda em produção, e as enviem para gorefilia@gmail.com, ao que eles futuramente irão responder, através de um novo video a postar no seu espaço virtual. Sem medos! Aí está o desafio: http://www.youtube.com/watch?v=p53jo4dxCPk
Lions among men será o nome do novo álbum dos The Firstborn que terá saída prevista para inícios de 2012, e se prevê uma continuidade da fórmula através da qual fundem o seu metal mais extremo e a filosofia budista. Sabe-se para já que contará com algumas participações especiais, e dois desses convidados são Hugo Santos(Process of Guilt) e Luís Simões(Blasted Mechanism, Saturnia), os quais já podemos escutar no tema de avanço “Wantless”, disponível para escuta no mural da banda: http://www.facebook.com/pages/The-Firstborn/147147505303585?sk=wall
Motoclube de Faro integra bandas nacionais na banda sonora do DVD’11 Música dos Tetanus figurará no DVD ‘Faro 2011’ a editar pelo Motoclube de Faro. Segundo a notícia avançada pela banda espinhense, Confront Hate, Miss Lava e Phazer são outros nomes que também farão parte da banda sonora.
Moe’s Implosion com nova ‘poluição’ Os Moe’s Implosion lançaram no passado dia 26 de Novembro o seu álbum de estreia Light Pollution com apresentação no PlanoB (Porto) ao lado d’O Bisonte. Este sucessor do EP Morning wood conta com participações de Francisco Menezes (Saxofone) e Inês Laranjeira (Voz), mistura de Davide Lobão (O Bisonte) mais Le Cuck, e masterização de Chris Common (These Arms Are Snakes).
...Gazua a sair do estúdio
Os Gazua completaram gravações do novo disco e preparam-se para passar á fase de masterização, num novo trabalho que segundo o frontman João Corrosão se pode adivinhar mais “maduro e variado sem comprometer a personalidade da banda”. Este quarto álbum da banda está a ser trabalhado nos estúdios Black Sheep em Mem-Martins (Sintra) com a supervisão de Makoto Yagyu (If Lucy Fell, Paus).
Nova editora: Dead Old Tree Aos músicos que possam estar interessados, há mais uma nova editora independente por aí. Chama-se Dead Old Tree Records e pretende editar e promover novas bandas que sigam por caminhos mais criativos e contemporâneos dentro do rock e metal. Para já preparam-se para lançar Disforme, um split vinil de 7 polegadas com temas de Lesbian Rainbows e Irmãos Brothers, um cada. Para mais: http://deadoldtree.com/
Nova vida no fantasma
Dog City Records editam Morte Forte Os extintos glam punkers de Lisboa Morte Forte são o mais recente nome a figurar nos lançamentos em vinil da Dog City Records. Seio de elementos que viriam a integrar bandas como Larkin ou Hellspiders, o grupo ficou conhecido pela sua sonoridade que lembrava nomes como Backyard Babies ou Turbonegro, a par do elemento da banda, mítico no panorama underground nacional, que foi o falecido Renato, a quem é dedicada a capa deste lançamento. Mais informações em: http://pt-br.facebook.com/dogcityrecords
Mike Ghost, o homem do leme dos Men Eater, apresenta-se agora a solo com o seu novo projecto Hollow Ghost. “The dweller” e “Year one” são as faixas que completam o EP de estreia, Renewal, produzido por Chris Common(These Arms Are Snakes), e encontram-se disponíveis para escuta: http://www.facebook.com/pages/Hollow-Ghost/104829516299364?sk=app_178091127385
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F#ra do Arquivo
V12
Originários do Algueirão, os V12 acabaram por se tornar uma das bandas mais representativas do heavy metal nacional no final dos anos 80, chegando mesmo a ser referenciado com um dos poucos exemplos de speed metal que tivémos por cá nesse período. Após uma torbulenta gestação de cinco anos, durante os quais desenvolveram o som pelo qual preferem ser recordados pelos fãs, a banda viria mesmo assim a tornar-se um dos exemplos de como fazer concessões por uma editora não costuma trazer algo de bom.
A semente daquilo que se tornou uma banda de speed metal das que mais deram nas vistas no nosso país entre 1983-93, começou quando cinco colegas que então estudavam na Escola Secundária de Sta Maria, em Sintra, se juntaram para, com base em influêcias que iam de Ramones a AC/DC, formar uma banda. Com dois dedos em posição de travessão nas guitarras acústicas, um sofá como bateria improvisada e a posição de vocalista tomada por um dos membros que não tinha guitarra(acústica), Paulo Ossos(guitarra), Rui Fingers(guitarra), Carlos aka Johnny Galias(bateria), José Paulo Andrade(baixo) e Raf Maia(voz) deram o pontapé de partida com mais entusiasmo do que desânimo, chegando mesmo a gravar alguns desses ensaios em cassete. Entre 1984 e 1985, numa altura em que não era fácil comprar material, a banda, já com Alberto Garcia na posição de baterista, e com instrumentos ora pedidos emprestados(duas guitarras eléctricas), ora comprados com muito esforço(aplificador “Furacão” de 50w que avariava constantemente...) a banda sacava o seu som como podia, no “Barracão” do vocalista, em Sintra, com uma bateria constituída por uma tarola velha, barris de detergente ‘Skip’, e um prato reformado
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suspenso sobre uma viga e o baixo ‘Hofner’ de escala curta de José P. Andrade ligado a um amplificador artesanal construído por um amigo. Nesta fase, já com distorção nas guitarras as influências deixavam de estar restringidas à simplicidade de uns Ramones e passaram a inspirar-se na nova onda de metal britânico(NWBHM) e em bandas como Manowar, Metallica e Helloween. Por vezes conseguiam dar uns toques na garagem ‘Rock Salsicha’, local de ensaios dos Crise Total, banda que os havia inspirado a formar uma banda e que teriam conhecido pessoalmente por esta altura, e com as melhores condições disponibilizadas por esse espaço como melhores amplificadores e amplificação para a voz, por exemplo - a banda começava desta forma a estruturar os primeiros temas originais. No entanto houve complicações e um dos elementos essenciais para o núcleo da banda haveria de pôr a continuidade da mesma em causa. Rui Fingers iria viver com os pais para o Barreiro e a banda viase desta forma sem saber o que fazer, acabando por deixar os instrumentos em suspenso durante quase dois anos. Passado esse interregno, Fingers volta para junto dos colegas e a banda continua a sua saga de ensaios em locais improváveis; desta vez, por falta de garagem, acabariam a ensaiar no apartamento do retornado guitarrista(mesmo com bateria e amplificadores lá dentro!) acabando por fazer imenso barulho, e incomodar tremendamente os vizinhos, que obviamente fizeram um abaixo assinado e “correram com o pessoal de lá”, referiu ainda Paulo Ossos na sua breve descrição. No entanto, graças a um amigo da altura - Rui “Punk” - que lhes cedeu um anexo, a banda voltava à carga e aproximava-se já a altura de sair cá para fora e dar concertos, mas com experiências como a de concertos em Sociedades Recreativas, com o PA a debitar
distorção descontrolada sobre os acordes de quem “gostava de complicar as malhas”, como descreve J.P. Andrade, a banda chegaria à conclusão de que seria muito difícil, senão practicamente impossível chegar a ter “aquele som” poderoso que tanto imaginavam/desejavam ter ao vivo. J. P. Andrade chegou mesmo a recordar que “se conseguisses perceber o tema que a banda estava a tocar, então aquilo estava a correr mesmo bem”, como na primeira actuação da banda em 1987, no Barreiro em suporte aos Black Cross, em que o concerto parecia correr bem apenas porque “os primeiros fãs sabiam conviver com a falta de condições” pela qual a banda passava. Chegaram ainda a organizar mais dois concertos antes da sua marcante passagem pelo palco do mítico Rock Rendez Vous, cujo a actuação teriam registado em cassete e, de forma impressionante, chegaria a ser copiada e passada de mão em mão, sem que a banda tivesse bem a percepção do que se estava a passar. Pouco tempo depois as músicas dos V12 estavam a ser transmitidas em rádios de norte a sul do país, e juntamente com o esforço levado a cabo por algumas fanzines, o nome da banda rapidamente se tornou conhecido dentro do panorama heavy nacional. Em 1988 entra Jorge Martins para a banda, ficando a cargo da voz após a saída de Raff Maya, e com quem a banda continuou a desenvolver novos originais, e um ano depois veriam um dos seus objectivos tornar-se realidade através do contracto
com a Polygram, que lhes permitiu a gravação do álbum que tanto pretendiam. No entanto havia uma condição a ser cumprida pela banda, que era as letras serem cantadas em português, ao que a banda acedeu. Com um som nítidamente mais calmo do que o que a banda tinha envergado com energia nos concertos desde o início e com voz em português, em 1990, depois das gravações no estúdio Angel, veriam o disco editado e fariam uma série de concertos, alguns dos quais como suporte aos Xutos & Pontapés. No entanto muitos dos seguidores originais da banda torceram o nariz e não aceitaram esta mudança, tendo a banda ganho a possibilidade de exposição em mais canais de comunicação, mas tendo também de desenvolver um novo esforço para cativar um novo público alvo, na falta de possibilidade de converter quem já os conhecia e acompanhava. Ainda durante esta fase de promoção ao álbum o baterista Beto Garcia abandonaria a banda, para integrar os Rádio Macau, entrando Filipe Gonçalves para o seu lugar. Com o findar em definitivo da fase de licenciatura na qual os membros do grupo se encontravam até então, e face à dificuldade em marcar concertos em quantidade suficiente para possibilitar que vivessem da música, os elementos da banda dividiramse entre os que se dedicaram a uma profissão que nada tinha a ver com música, e os que seguiram o caminho de músicos de suporte a outras bandas como forma de rendimento, pondo então um ponto final nos V12. Em 1992 tentaram ressuscitar a banda com dois elementos novos, Luciano Barros e Célia Lawson, a assumir os respectivos lugares de baixista e vocalista, chegando a gravar demos de 13 temas novos cantados em inglês, mas sem qualquer sucesso em obter resposta por parte de qualquer editora, acabando apenas por fazer alguns concertos que, apesar de imbuídos de uma energia admirável, não foram o suficiente para que os próprios elementos sentissem ânimo para continuar, dada a forma como eram ignorados por quem teria o poder para permitir o registo da sua música e apoiar uma possível continuação do trajecto da banda. Ainda assim, Paulo Ossos conclui no seu texto: “apesar de tudo, penso que valeu a pena, principalmente pelo carinho que os nossos fãs ainda hoje nos dedicam”. Porque sempre vale a pena, quanto mais não seja para poder dizer ‘eu fiz‘, em vez de ‘eu podia ter feito‘.
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MB
www.myspace.com/v12metal http://www.chamaserugidos.com/tag/anos-80/page/2/
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Dream Circus
Os Dream Circus transpiram grunge por todos os poros, estão no catálogo de uma editora internacional e já planeiam um próximo trabalho maior em todos os sentidos. Para sabermos mais sobre esta banda aqui está a entrevista a James Powell, guitarrista/vocalista luso-britânico, que deixa o convite para que apareçam nos seus concertos.
As vossas músicas transportam um travo a cool, como se a rebeldia teen unificada de há 20 anos atrás, o sol e o desporto radical ainda estivessem presentes. Há algum ambiente específico que pretendam resgatar com a música, ou para vocês apenas sai como música mesmo, sem nada mais na manga? Em primeiro lugar queremos produzir boa música. Isso tem que ser sempre número um...A nível de ambiente todos teremos as nossas ideias do que nos move e faz sentir uma determinada maneira, mas se é isso que a ti te faz lembrar só posso
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interpretar como um elogio, já que essa época na minha opinião foi a última vez em que música boa e um movimento cultural em geral, com substância, foi elevado pela indústria a ter uma visibilidade grande e tornou-se no ‘mainstream’.
Após a gravação do vosso EP Fear foram assinados pela editora inglesa Casket-Copro Records. Como foram abordados pela mesma? Eles gostaram da banda e das músicas que ouviram, e acharam que éramos uma banda que encaixava bem no estilo da editora. Do nosso lado tivémos contactos com várias editoras, e a Casket
Segundo as vossas palavras há a promessa de uma dose bem intensa de concertos por aí a chegar. É fruto de um esforço conjunto da banda com a editora, ou parte principalmente de contactos que vocês próprios fazem? Até agora, a nível de agenciamento, tem sido tudo feito por nós. Tudo. Somos fãs de fazer e não estar à espera que outros o façam por nós. Temos algumas datas a caminho, a primeira das quais dia 29 de Outubro em Pernes, com W.A.K.O. e Inplusiv.
No que à vossa nacionalidade diz respeito revelam no vosso myspace que a mesma se divide entre Portugal e Canadá. De que forma se processa essa divisão cultural? Vivem e compôem à distância, ou pelo contrário estão todos a residir cá em Portugal? Estamos todos a viver em Portugal. Eu tenho dupla nacionalidade britânica-portuguesa, o meu pai é inglês.. mas vivi muito da minha vida no Canadá em Montreal, e é a minha segunda casa. Para voltar à tua pergunta acerca de compor, fazemos as musicas à antiga... todos na mesma sala.
De que forma uma relação inter-cultural como essa pode ser benéfica para o processo criativo? sentem isso de forma mais saliente quando comparados com alguns dos vossos pares(bandas)?
acabou por ser a melhor opção para nós, queriamos ter uma distribuição internacional e eles proporcionaram-nos isso.
Trabalhar com uma editora britânica tem sido uma boa experiência? Quais vêm como sendo as maiores vantagens nessa associação? Tem vantagens e desvantagens. Sendo uma editora independente, de outro país, se calhar não estão muito identificados com o mercado português. Mas por outro lado a vantagem é que obviamente tens contactos e conhecimento de outro mercado, neste caso o do Reino Unido.
Acho que a coisa que se nota mais, provavelmente é que eu digo montes de asneiras em inglês! A sério não sei, isso é uma pergunta difícil... somos seres humanos , e as nossas expêriencias moldam quem nós somos até certo ponto, e tendo experiências diferentes se calhar podemos ter uma ou outra influência menos usual ou uma maneira de ver as coisas ligeiramente diferente. Mas o que é importante no processo criativo quanto a mim, é que seja verdadeiro e sem cinismo... algo humano e que reflecte quem tu és. Depois não interessa o pais onde nasceste, ou a cor da tua pele, ou outra coisa qualquer.
Quase que poderíamos adivinhar algumas das vossas principais influências, mas em Portugal há alguma(s) banda(s) ou grupo(s) que tenham como referência e sigam atentamente? Vou ser sincero, como não cresci em Portugal, fiquei muito desligado da cena rock nacional. Mas agora como é logico conheço bastantes bandas.. Gosto dos Miss Lava por exemplo, A Last Day on Earth tem um álbum muito bom também. Se curtem metal oiçam Purusha, grande banda!
Na vossa biografia referem o facto de
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algumas das vossas músicas estarem a ser alvo de airplay em algumas rádios, e na verdade há algo quase radio friendly nas mesmas, apesar do estilo bem sublinhado. Será isto fruto da produção dos Ultrasound studios, ou acreditam que é algo que a própria composição das músicas já prometia? Acho que as músicas têm essa qualidade porque são melódicas e as pessoas gostam das melodias porque ficam na cabeça. Nunca foi algo pensado da nossa parte, as músicas simplesmente saem assim às vezes... catchy! We can’t help it.
Álbum agendado já para 2012. Para além da confiança inabalável no contornar da profecia apocalíptica dos antigos Maias, que mais podemos esperar dessas novas criações? Olha que eu não sei acerca dessa cena dos Maias... Eu acho que vamos todos morrer. Quero gravar o álbum rápido e tentar um adiantamento duma major para vermos o apocalipse com sacos cheios de droga e outras diversões ambulantes. Em relação ao álbum em si vai ser maior, mais pesado, mais intenso...mais melódico... vai ser do caralho!
Têm também um videoclip planeado para breve, certo? O que nos podem revelar sobre isso, e por onde passam também os vossos planos de promoção com o mesmo? Consideram esse media(videoclip) como um veículo importante nos dias que correm? É importante e é algo que queremos fazer já há algum tempo. Provavelmente agora só no ano que vem, para sair com o álbum. Mas vai ser algo interessante e novo para nós. A nível de promoção obviamente que se tentará a colocação no maior número de sítios possíveis... veremos! Não te posso contar os nossos segredos todos... senão tinha que te matar!
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MB
http://www.myspace.com/dreamcircusofficial
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http://pt-br.facebook.com/DreamCircus
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http://www.facebook.co m/photo.php?v=281194 475249032&set=vb.34377 3493728&type=2&theater
Negative Buzz
A amizade acima daquilo que se poderia obter da música... Quantas vezes não somos postos em situações em que temos de escolher? Escolher entre entre a mãe e a namorada; escolher entre o emprego e aquilo que realmente gostamos de fazer; escolher entre algo que sabemos ao certo o resultado que irá obter, e outra opção que é como um wild card. Num mundo cada vez mais paranóico em que mesmo na música muitas das vezes não se olham a meios para alcançar os fins, é importante ter conhecimento de exemplos como aquilo que os Negative Buzz aqui representam nesta edição: uma banda cujo os elementos sabem conviver com as falhas uns dos outros (neste caso a nível técnico) para mesmo assim, sem comprometer a amizade, alcançar o objectivo de criar a música de que gostam, e ao mesmo tempo surpreender incendiando um pequeno núcleo de resistentes de um género chamado grunge. Tudo isto porque a música é acima de tudo uma transmissão honesta de sentimentos. Sem mais, eis as palavras dos próprios:
Os Negative Buzz “ignoraram a ‘perfeição técnica’ em deterimento do feeling”, isso é um facto até mesmo sublinhado por palavras vossas. É um lema que ainda mantêem? Não é bem ignorar a perfeição técnica, é uma questão de definimos prioridades, e sem dúvida que preferimos preservar a amizade e o bem estar de todos os elementos da banda. Acreditamos que a harmonia entre os membros da banda eleva a qualidade do grupo, independentemente de cada elemento ser um virtuoso na matéria ou não.
O que costuma acontecer nos vossos concertos, tanto do vosso lado como do lado do público? Nos concertos tentamos sempre transportar a música e a emoção do grunge que se viveu no princípio dos anos 90. Fazemos os possíveis para proporcionar ao público um espectáculo intimista onde qualquer pessoa pode participar. É sem dúvida gratificante que, durante os nossos concertos, o pessoal esteja a viver um bom momento e salte para cima do palco para cantar as músicas connosco.
instrumentos e isso poderá fazer-se notar em nova música que por aí venha, certo? Ou pelo contrário vocês matam logo essa hipótese de desenvolvimento na composição à partida? No processo de composição das músicas não estamos muito preocupados com a técnica, o que não significa que não estamos preocupados com o resultado final. Normalmente a música flui por si só e o conjunto de ideias transforma a música na sua forma final. Mesmo assim essa forma não é estática pois nos concertos gostamos de fazer pequenos ajustes e ‘surpresas’ nas músicas. Esses pequenos ajustes fazem com que as músicas se tornem especiais, mesmo não sendo composições complexas.
Como amantes da música rock pura e dura, ou até mesmo cáustica, o que acham desta vaga de música pop polidinha e domesticada(por canais de televisão entre outros media e manipuladores afins..) que tem coberto a maior parte da cena musical nacional na última década? Quer queiramos quer não a música é uma indústria, uma máquina que envolve muitas entidades e muito dinheiro para certos e determinados artistas. Para o consumidor final esses artístas acabam por desaparecer no tempo e só ficam aqueles que realmente marcam a diferença. Acreditamos que para marcar a diferença não é necessário uma grande máquina nem sequer é necessário atingir todo o público possível e imaginário, como se costuma dizer “mais vale caír em graça do que ser engraçado”. Por isso na cena pop que se vive actualmente só os realmente bons irão vingar no nosso pequeno país, mesmo que hoje caiam megahits do céu, só é realmente gratificante para o artista que passados uns tempos a sua música
São descaradamente influenciados pelo grunge, disso não restam dúvidas. Há outras influêcias musicais ainda escondidas, por detrás da vossa atitude? O grunge é o estilo musical que identifica os Negative Buzz e as influências passam única e exclusivamente por aí, não só pela sonoridade mas também pela atitude humilde e directa que esse estilo musical representa. Mas podemos afirmar que existem muitas outras influências ‘escondidas’ em cada membro da banda.
Com o tempo foram ganhando um pouco mais de técnica nos vossos
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continue viva. Claro que isto num ponto de vista pop, porque nos estilos de música ‘underground’ quem gosta imortaliza.
Caso o Kurt Cobain ainda estivesse vivo, os Nirvana dessem um concerto em Lisboa e vocês fossem a banda de abertura, como acham que actuariam, ou o que aconteceria nesse concerto/momento hipotético em particular? Bem, são muitos “ses” mas seria um momento único certamente. O mais certo seria tocarmos como o fazemos nos nossos concertos actualmente, poucas mudanças haveriam.... Exceptuando no final que, muito provavelmente, invadíamos o palco para ajudar os Nirvana a partir tudo!!
Ao longo de todo este tempo como banda quais são os altos e baixos, entre os que eventualmente se possam lembrar, que gostariam de destacar? Os pontos altos são indiscutívelmente os concertos e a interacção com o público, é realmente fantástico! No que concerne a pontos baixos talvez as alterações de alinhamento da banda, são sempre momentos difíceis quando é necessário reestruturar a banda.
masiado a sério? A música deve ser levada a sério mas, acima de tudo, quem é músico tem de amar o que faz! Tem de curtir estar em palco e aproveitar a empatia que pode ter com o público. Caso se consiga aliar a técnica a isso é perfeito, mas nunca se deve colocar a técnica acima do prazer de interagir com o público. Podes ser o melhor músico do mundo mas se o público não sentir que estás a tocar para ele, então serás ignorado.
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MB
Como já deu para perceber, os Negative Buzz entraram em estúdio no passado mês de Outubro. Abaixo podem aceder a vídeos relativos a algumas sessões de gravação, pelos mesmos:
lf” Pré Produçao do tema “Find Yourse com Twiggy
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http://www.facebook.com/photo.php?v=
Misturando a bateria do tema “Hate”
Segundo o vosso myspace, “contam com 10 músicas originais”. Vão gravar um álbum, EP, ou algo do género para em breve? Sim, vamos gravar um EP com 5 / 6 temas originais, entraremos em estúdio no principio de Outubro para gravação.
O que gostariam de dizer aos músicos que se preocupam demasiado com questões técnicas e levam a música dehttp://www.myspace.com/negativebuzzgrunge
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http://www.facebook.com/photo.php?v=
http://pt-br.facebook.com/pages/Negative-Buzz/343773493728
SPINCITY
Rock inspirado nos clássicos, que não fecha os olhos ao que está por detrás das raízes do próprio rock, feito a partir de Viana do Castelo e a apontar a visão para o horizonte espanhol é uma das formas de sintetizar o que os Spincity representam. No entanto Marco Lima, guitarrista e vocalista da banda, dá-nos as respostas em pormenor, e explica-nos os detalhes. Desde quando existem os Spincity, e qual a história por trás da formação da banda? Spincity surge como reformulação de uma outra banda, The Velvet Perception. Como Spincity, desde 2002. O núcleo da banda mantem-se desde então.
De entre as referências mais clássicas notamos algo de The Who, Rolling Stones e até mesmo Led Zeppelin nas composições da banda, mas as vossas referências musicais concerteza passam por sonoridades mais específicas. Quais são os nomes/artistas que vos têm marcado como banda? É complicado fazer referências, The Who e Rolling Stones, bem como Thin Lizzy (como alguém já referiu em tempos), são bandas que dificilmente as enquadrava como referência. Todos nós crescemos a ouvir rock clássico, desde Led Zeppelin ou Deep Purple, até america, Allman Brothers... todas elas podem fazer parte de uma núcleo influenciador, uma vez que já fazem parte da nossa memória auditiva. Tudo depende do estado de espírito e do que pretendemos fazer..
Tiveram agendada uma data em Paredes
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de Coura este ano, mas também já passaram pelo Vilar de Mouros duas vezes. Concertos como estes são algo fora de série, ou não dão muita importância a momentos isolados, no que a passagens por palcos diz respeito? Claro que momentos desses ficam na memória, mas entendemos que os concertos são por si, momentos únicos, fazemos tudo por ter a mesma prestação com 10 pessoas e com 1000 (isso dos 1000 é raro.). Tivemos alguns concertos marcantes, mas para mim, guardo dois momentos muito especiais: o soundcheck do primeiro Vilar de Mouros, onde estavam umas 300 pessoas sentadas e quando acabamos de tocar um tema, levantaram-se quase todas em aplauso; outro, foi o concerto com os Sex Museum (Madrid) no já extinto RockClub em Ourense (Espanha). Estou certo que para outros elementos da banda terão havido outros momentos, mas para mim esses foram qualquer coisa. Vá, a apresentação do disco também.
Um dos vossos últimos posts diz algo como “tape recording”. Isso significa que estão a gravar em formato analógico? São adeptos desse tipo de gravações? Tricky question. ‘Nós fazemos parte daquele tipo
de grupos que gostam de cangalhos velhos?’ 90% do nosso material é vintage, guitarras e amps dos 60 e 70... ao gravar, temos as várias opções, depende dos temas e do resultado pretendido. Geralmente, e por facilidade, gravamos em digital e fazemos a soma em analógico. Gravamos em analógico instrumentos pontuais. Mas estamos com vontade de gravar pelo menos uma parte do próximo disco completamente em analógico e misturar numa mesa dos 60 com reverb de molas.
de opção. Vimos de uma escola setenteira do rock bluesado, por isso, maquinetas não são para Spincity, não lhes retiro qualquer valor, mas para spincity, não obrigado, ou pelo menos, num futuro próximo não me parece.
Consideram-se mais uma banda de palco(que cria os temas já a pensar em como os temas vão soar ao vivo), ou uma banda de estúdio(que se preocupa mais com a criação musical, repondo os concertos para segundo plano)?
Com algumas das oportunidades que já tiveram para tocar ao vivo, o que dizem a respeito do facto (de que muitas bandas se queixam) de ser cada vez mais complicado arranjar/ter oportunidade de dar concertos?
Os temas não caem do céu. Ando sempre com um gravador no bolso para quando o riff soar na cabeça. Depois, é uma questão de polimento. A ideia de tema para palco e tema para disco é um pouco estranha, isto porque na altura da composição não estamos mínimamente preocupados de como vai ser ao vivo. Quando estamos a gravar, se tivermos que meter 4 linhas de guitarra para que soe ao que nos vai na cabeça, metemos sem qualquer tipo de receio, ao vivo, fazemos sempre os mais marcantes... não é coisa que nos preocupe muito, mas claro, a integridade do tema não pode ser alterada.
Vocês colocam alguma imposição a vocês mesmos quando chega a altura de compor? Ou tanto podem tocar um estilo hoje, como amanhã estar a criar algo completamente inesperado? Mais ou menos, temos uma linha muito marcada, o que não invalida outras aproximações. Agora, algo completamente inesperado? Depende. Fazer algo completamente limpo é perfeitamente possível. Eléctrónica? Bem, isso já me parece fora
Spincity - há alguma relação entre o nome e a antiga série de televisão “Spin city”? Não.
Nós vivemos numa comunidade pequena, em Caminha (Viana do Castelo), aqui salas de concertos, bares, etc, são coisa que não abunda. Aceder aos espaços fora daqui é complicado, os bares pagam 400€ a DJ’s e não pagam 200 a uma banda, ir tocar à bilheteira é sempre um risco. Os espaços são castradores, não metem a banda X porque toca rock, mas metem a Y porque toca hardcore... estamos a virar o nosso mercado para Espanha, onde pelo menos há mais abertura para o que nós fazemos, contudo, aceder às salas interessantes tem um custo... a verdade é que isto tá mau para as bandas.
Qual acreditam ter sido o vosso record de tempo investido na banda numa só semana, ao longo de todos estes anos? Qual era a ocasião(se alguma em particular)? Lembro-me de quando começámos; [costumávamos] ensaiar quase todos os dias. Agora é mais complicado. O nosso primeiro disco “There is still salvation”, foi gravado, misturado e masterizado em 5 dias (e as respectivas noites).
Quando estiver pronto o novo trabalho, contam estender um pouco mais a área de promoção e chegar a novos melómanos? No primeiro trabalho cometemos o erro enorme de duplicar os discos antes de enviar para algum lado, isso invalidou qualquer hipótese de lançamento por intermédio de editora. Fizémos uma edição de autor, pusémos à venda em algumas lojas e fazemos venda directa. Contactámos algumas distribuidoras e chegámos à conclusão que preferíamos dar os discos que dar 70% de comissão. O segundo, que deve estar pronto este ano, vamos enviar para todo o lado antes de duplicar. Vai ser distribuído quer em suporte físico como digital, e, a correr bem, vamos fazer uma edição limitada em vinil.
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http://www.myspace.com/spincity http://pt-br.facebook.com/pages/SPINCITY/128513916780
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aGRESSIV
Os aGRESSIV vão a caminho do seu quinto ano de existência a carregar um som a partir da zona entre Espinho e Ovar, que os próprios já descreveram como grunge progressivo, ou até como ‘apenas’ rock. Um extensivo e bem disposto Ben ‘Bândalo’ Faria, baixista e um dos compositores da banda, explica-nos tudo sobre os mesmos e as suas aventuras ‘tim-tim por tim-tim’. Quando/como se conheceram os membros da banda e como surgiu a ideia de formar os Agressiv? Antes de mais obrigado pela cortesia de nos terem convidado para responder a esta entrevista. adorámos o Boeing 727-23 parecido com o do Donal Trump que nos veio buscar a casa, bem como as playmates que o recheavam de maneira pomposa. Mas para ser sinceros ficamos mesmo impressionados quando nos mostraram o catering que nos esperava na aterragem! ;) Depois de fazer os agradecimentos e tal e respondendo à pergunta propriamente dita a ideia de formar os aGRESSIV nunca foi pensada. Apareceu numa noitada entre amigos de amigos num bar onde havia uns instrumentos. Depois de umas quantas bebidas espirituosas - a mais - e do dono nos ter intimado - literalmente - a fazer barulho, alinhámos na brincadeira e quando nos apercebemos tínhamos o bar cheio de pessoas de diferentes indoles a curtir que nem pretos. E nisto passaram-se umas 4 ou 5 horas de barulho, pagaram-nos copos e conversámos ainda mais do que é costume as pessoas simpáticas e afáveis conversarem e pronto, terminámos na praia com finos (a mais) até que alguém se lembrou de mandar a boca: “pah e se domingo fossemos fazer
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barulho para o barraco?”, pronto não há muito mais a acrescentar. Até porque não me lembro de muito mais. :) Ah! voltámos umas semanas depois ao mesmo bar com uma música original - “Oficial Honest Note” - e um monte de covers mal tocados q.b.! :)
Geralmente as bandas escolhem os seus nomes consensualmente, ou devido a alguma história caricata por que tenham passado. Como foi convosco? Sinceramente levei praí 2 anos a perceber o pormenor que levou a banda a ter esse nome - e isto é mesmo verdade! Segundo depois fiquei a saber, numa ida ao Porto os outros 3 elementos (Enri, Finghers e Kaa) viram uma sweat qualquer com o nome e curtiram, e pronto foi isso! :) Antes disso, e não por falta de ideias mas por ‘preguicite-aguda’, éramos os bASIK, foi com este nome que demos o tal primeiro grandioso concerto! (risos)
Segundo algumas fotos de banda em que estão relativamente tranquilos parecem todos rapazes pacíficos. O nome Agressiv é indício de algum lado mais violento em vocês?
Epah... fotos... (crap, wrong person! :)) Bem.. em relação às fotos não sei em quais estamos relativamente tranquilos, a não ser se estas foram tiradas por fotógrafos improvisados que nos chatearam a paciência para não fazermos figuras tristes e lá nos aguentámos! (risos) Mas tal como todos os seres humanos e não humanos (excluindo os aliens - porque tomam xanax há muitas gerações), todos nós temos o nosso lado violento, mas, excepto raras excepções em que quase fomos de cana - ( gargalhadas ) - essa violência é controlada e expressamos isso nas nossas músicas, que por vezes parecem assim muito lamechas mas carregam sempre uma certa violência ou agressividade emocional. Regra geral aGRESSIV é o nome que estava naquela sweat. A agressividade que possivelmente possa estar presente nas nossas músicas é muito relativa; e se tu achas que uma música [nossa] é agressiva porque estás habituado a ouvir Celine Dion, provavelmente alguém que gosta de ouvir Burzum vai achar que somos um coro de igreja salve seja! :)
Nomes como Nirvana, Ramones, Motörhead, Radiohead ou até Jorge Palma fazem parte da vossa lista de referências, segundo algumas plataformas virtuais nas quais estão inscritos. Há algum tipo de sonoridade específica que estão à espera que se sinta mais da parte do ouvinte ao ouvir as vossas músicas? Sinceramente acho que nem pensamos nisso. Temos essas e outras referências simplesmente porque são bandas e/ou pessoas que admiramos e que têm um valor musical já reconhecido. Claro que se notam influências desta ou daquela banda nas músicas que compomos, mas não tentamos seguir um ou outro estilo específico de música. Queremos que as pessoas gostem das nossas músicas por aquilo que elas transmitem, seja pela música, pela letra, ou pela interpretação. Porque o importante não é sermos um grupo grunge, ou pop-rock, ou metal.. é que as pessoas recebam a mensagem que decidímos passar. O resto deixamos ao critério das pessoas que gostam de perder tempo com grupos e sub-grupos e sub-sub-grupos de estilos musicais! :)
Para além das influências musicais que povoam a alma de uma banda, também as influências musicais dos próprios musicos podem confluir num misto étnico e resultar de diversas formas criativas. Acham que isso acontecesse convosco? Que tipo de influências segue cada um de vós? Acontece e de que maneira! (risos) Damos por nós a desistir de músicas a meio simplesmente porque um riff ou uma estrutura não agrada a outro gajo; ou então entramos em discussões épicas por uma nota qualquer que por uma razão
extraterrestre algum de nós acha que está no local errado! E isto podem achar que é um desperdício de tempo e energias mas nem por isso: 1. nunca teríamos feito 1/10 das maluqueiras que fizémos se não soubéssemos que todos se sentiam bem a fazê-las; 2. uma banda na nossa opinião é uma família (risos) - e o debate de ideias, e exprimir sentimentos e opiniões é o que nos mantém juntos e a fazer o que realmente queremos. Mas no geral das influências acho que somos unânimes; andamos todos debaixo da asa do rock, com umas pitadas de músicas do mundo e devaneios por música clássica e portuguesa - não consideramos música pimba música portuguesa, mas em estados alterados de certeza que já a dançámos... ou fizémos figuras tristes; depende do ponto de vista! ( gargalhadas )
De que forma ocorre o vosso processo de criação: reúnem-se específicamente para compôr ou há alguém que trabalha os temas em casa e dita as regras? Nada disso! Ditadores não é muito connosco. Se bem que essa maneira de compôr, digamos que mais ditatorial, também tem os seus frutos e bons frutos na grande parte dos casos. Apenas não nos identificamos com essa maneira de compôr as músicas. Claro que existe sempre algum de nós que surge com uma melodia, ou com uma letra
de vista. Quanto às reacções, têm estado acima do que esperávamos porque quem ouve diz que sentiu pelo menos uma música: mission accomplished! ( risos) Há também umas quantas pessoas que são malucas o suficiente para gostar do álbum quase todo, mas pronto. Não conseguimos demovê-los dos seus gostos e agradecemos imenso todo o apoio! :) Pela atitude que se denota que têm ao vivo, passa-nos a ideia de que se sentem bastante à vontade em palco. Que tal é a adesão do público nos vossos concertos?
ou simplesmente com uma ideia qualquer estapafúrdia e a coisa começa a surgir com a junção de ideias que aparecem na hora ou depois de uns tempos. Mesmo quando decidimos que uma música está terminada nem sempre é definitivo porque acreditamos que a música é um ser vivo e precisa de ser alimentada e de seguir o seu crescimento natural sem pressões ou inflexibilidades.
Qual foi a sensação quando ouviram o resultado do vosso primeiro álbum, Out of control? Muito estranha! (risos) Primeiro a aventura de tudo ter sido captado no nosso barraco (..sim tem um nome: Sanitarium) já foi uma espécie de tentativa/erro/invenção/inovação/arrancar cabelos/etc, o que por si só já foi muito gratificante. Depois o resultado final foi muito especial, porque era um sonho nosso termos um cd em que, e apesar dos erros de tempos e tralhas assim, é audível e tem a nossa cena lá impressa. O sentimento geral é que ter este Out of control nas mãos foi o realizar de um sonho. Acho que qualquer sonho que realizemos não traz uma sensação apenas, e que é um bocado indescritível. O certo é que fomos beber cervejas e o que apareceu para comemorar! ( risos )
O processo de gravação foi algo mais ponderado em comparação com o vosso primeiro EP? O que pretendiam transmitir com este trabalho e quais as reacções que têm obtido? Mas o EP não foi sequer ponderado... (risos) Mas yah! este álbum apesar de não ter uma conotação profissional é algo com pés e cabeça :) Com este trabalho pretendemos mostrar o que são os aGRESSIV, o que nos vai na alma e os pontos que queremos ver mudar com os nosso pontos
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O pessoal costuma curtir bastante os nossos concertos. Não dá para perceber muito bem se é porque metemos tantos pregos que vale a pena ir ver, ou se é porque curtem mesmo as músicas! ( gargalhadas ) De uma maneira geral penso que as pessoas gostam de nos sentir em palco, porque com mais ou menos pregos para o caixão o pessoal pode ter uma certeza: estamos lá porque realmente gostamos e queremos transmitir isso. Tem vezes que a coisa descamba um bocado e atiram-se umas guitarras e mics ao chão mas isso é completamente espontâneo. Claro que à custa disso andamos sempre nas lonas com o material, mas desde que descobrímos a reutilização de equipamentos está tudo controlado e se a guitarra não tem cordas toca-se mesmo assim! ;)
Dos locais e ocasões em que já tocaram qual/quais foram as que vos marcaram mais, quer no bom quer no mau sentido? Humm... isso é complicado porque nem todos estamos nos nossos melhores dias ao mesmo tempo, mas marcam as actuações nas quais fomos bem recebidos e nas quais o público aderiu. Isto felizmente acontece-nos quase sempre. Mas destacando 6 grandes concertos: 1. Concerto no Improviso: aGRESSIV + Bloody Disgrace 2. Concerto Chã das Eiras: aGRESSIV + Junkywax + Bloody Disgrace 3. Concerto Gondomar: aGRESSIV + (bandas) 4. Sarau Esmoriztur (aqui nasceu a aGRESSIV nation :)) 5. Concerto DolchéBar: aGRESSIV + (nãomelembrodonome) 6. Concerto Estoril: aGRESSIV + (bandas “grande estofo!” - gargalhadas ) Os concertos que destacamos são apenas alguns porque a lista ainda que não muito longa, em percentagem seria praí 95% dos concertos que já demos e ninguém se lembra dos detalhes! ( risos ) Pela negativa... Esses 5% ainda são mais difíceis de recordar detalhes porque provavelmente entrámos no modo de: “Bem é um sensaio para mais pessoas do que aquelas que costumam ir ao Sanitarium!”, mas não deixamos de dar tudo o que temos em cima do palco como é óbvio! :)
Uma das coisas mais em voga no panorama musical nacional é o facto de haver cada vez mais incentivos, por parte das rádios e da comunicação em geral, para que se cante em português. Já ponderaram gravar em português? Como foi referido não temos ideias pré-concebidas. As coisas connosco fluem naturalmente. Por acaso em português temos agora uma música dedicada a todos os motards.. ups era segredo! :| ( risos ) A realidade é que seja em inglês, ou português, ou mandarim dá-nos no mesmo porque isso é irrelevante se conseguimos passar o que queremos para as pessoas. Esse esforço para incentivar o cantar em português é de louvar, embora pensemos que isso não deve ser factor decisivo para colocar Portugal a criar coisas em português, até porque não ajuda muito agora com o novo idioma brasilês que adoptámos. Mas enfim, é a ibolussom! :) E sim, decerto vão surgir mais músicas em português, não esperem é que comecemos a compôr só em português porque isso não deverá acontecer apenas porque
se incentiva a isso e porque é moda. ;)
Há novidades em vista? Claro, os aGRESSIV têm sempre novidades. Desta vez temos mais um álbum à espreita, o qual decerto poderão ouvir DE BORLA aí pela net quando um de nós se decidir a fazer o upload da tralha toda. Só podemos adiantar que vai ser um álbum agradável e que decerto vai incomodar os vossos vizinhos! E pronto para os que sempre mandaram a boca: “e porque não cantam em português?” devem ser os mesmo que escrevem em brasilês agora ( gargalhada ) - vai ter então a música de tributo aos motards. Espera-se que este álbum seja mais rock e não esperem baladas porque duvidamos que vá ter alguma! ( risos ) Todas as outras novi-
dades temos muita pena mas vão ter que se manter em contacto. ;) Ninguém se despede de nós agora? Do tipo: “Obrigado por terem aparecido. beijinhos e abraços e tralhas.”? Bem despedimo-nos nós: agradecemos mais uma vez o Boing e as playmates, e claro, o catering! Se não se importam levamos as duas garrafas de whisky que sobraram das 5 que colocaram à nossa disposição, e levamos dois camarões para o caminho! Swweeeet! ( gargalhadas ) Grande abraço a todos os que tiveram paciência para ler isto, e continuem ligados à aGRESSIV nation. Cheers!:)
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MB
http://www.myspace.com/agressiv4 http://www.facebook.com/pages/Agressiv/160199654043835?sk=app_178091127385
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DESTRUCTI0N EVE Apesar da tenra idade e de um comportamento relativamente distante do caos endiabrado pelo qual o underground é conhecido, os Destruction Eve já começaram a provar por alguns palcos fora que a música ainda é o que fala mais alto; e a sua chega-nos embuída do espírito hardcore da velha guarda, como os próprios defendem. Nas próximas linhas a banda fala-nos sobre essas e outras questões. A vossa sonoridade faz lembrar bandas thrash bem puxadas dos anos 80, como Slayer ou Kreator. Consideram-se fruto do entusiasmo renovado por essa onda nos últimos anos, ou que era algo que teriam de fazer de qualquer forma, fosse como fosse? O thrash puxa-nos, mas o que tocamos não é tão virado para isso. A nossa sonoridade, do nosso ponto de vista, é um punk mais old school e agressivo. Devido às influêcias que cada um de nós tem vai haver sempre um bocado de tudo, formando o punk hardcore.
Entre as vossas influências encontram-se nomes clássicos como Misfits, Black Flag ou Dead Kennedys. Podem-nos explicar de forma resumida como tiveram contacto com as mesmas? Fomos conhecendo umas bandas que puxaram o conhecimento de outras, o que nos despertou mais interesse pela cultura punk.
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Para esta coisa da música ‘não há idades’, tem de se admitir, mas têm consciência que estão a começar já muito cedo, certo?... Costumam parar para imaginar como estarão daqui a 10 anos - se com uma técnica já muito acima da média, a seguir influências diferentes, ou algo assim?
Sim, começámos bastante cedo, mas não costumamos parar para pensar nos próximos 10 anos, ou se vamos ter uma técnica muito boa... com o tempo as coisas mudam mas estamos sempre entusiasmados para os próximos concertos e músicas e esperemos lançar mais que 2 álbums para andar a tocar por todo o lado.
As músicas no vosso myspace impressionam não só pela composição, mas também pela qualidade sonora. Pretendiam que as mesmas fizessem parte de algum registo mais a ‘sério’, ou inicialmente era só mesmo para servirem como demo do que a banda faz? Queríamos uma demo para divulgar a nossa
música, mas queríamos ao mesmo tempo algo com uma qualidade minimamente decente. Quem nos gravou a demo foi Miguel Azevedo (EX- Mosh, Plus Ultra), portanto estamos-lhe muito gratos pois, enquanto andavámos em pensar em guardar uns trocos e ir para um estúdio, o Miguel Azevedo ofereceu-se para nos gravar esta demo.
Na descrição da banda online têm lá escrito que o vosso objectivo é “tocar”. A música que compõem é uma desculpa para atingir esse objectivo, ou na verdade dão importância às duas vertentes? Damos importância às duas vertentes. Nós gostamos muito de música, e gostamos também de criar musica - punk no nosso caso -, portanto fazer a nossa própria música e poder ainda tocá-la ao vivo, é algo especial para putos como nós.
Atingiram as expectativas que tinham para a demo/ep “Freedom is my limit”? [Os resultados atingidos] foram melhores do que esperávamos. Logo na apresentacão do demo/ ep, no Breyner conseguímos despachar 10 cópias quando pensámos que só íamos vender umas 3 ou 4. Foi muito bom! Fora dos concertos, a demo está [disponível] para download gratuito, e atingiu também um nivel razoavel de downloads; as críticas recebidas têm sido positivas, o que nos dá mais força para continuar.
diferentes, umas mais novas, outras mais velhas, e já criámos boas amizades graças a isto tudo do underground.
Já alguma vez algum membro da banda se ‘passou da cabeça’ durante um concerto e fez algo imprevisível (como danificar algum instrumento propositadamente, ou lançar-se para o meio do mosh, por exemplo)? Somos bastante atinados. Nos concertos gostamos de curtir o que tocamos a não incomodar os outros. O máximo que fazemos é mandar o pessoal andar à porrada.
“War”, “Psycho days”, “Atomic revolution”... tudo temas com nomes fortes. Que tipo de mensagem os Desctruction Eve pretendem passar a quem os ouve? Pretendemos transmitir uma mensagem de apelo à sociedade para as coisas que acontecem no diaa-dia e que ninguém repara. Não estamos a tentar mudar o mundo, só a tentar abrir os olhos a quem os tem fechados.
Têm tanto thrash, quanto vontade de rasgar à melhor maneira do hardcore. Para vocês quais são as maiores diferenças entre os dois géneros? Do nosso ponto de vista esses estilos estão sempre ligados, mas o hardcore é algo mais extremo que apresenta uma certa revolta sobre assuntos da sociedade.
Pelo que é dado a entender nestes meandros, têm insistido bem nos concertos. Que tipo de conclusões têm tirado da experiência de partilhar palco com outras bandas? Vive-se um bom ambiente, com farra e divertimento no underground da zona por onde se movem, ou é algo mais visto como competição entre as mesmas? Partilhar o palco com alguma banda é sempre bom, mas melhor ainda é partilhar com uma banda que já conhecemos e de que gostamos. Criamos grandes amizades a partir dos concertos, tanto na partilha de palco como na amizade com o público. O ambiente de um concerto é algo fantástico, e o contacto com as outras bandas também. Já tocámos com bandas de géneros muito
O DIY (do it yourself) está a direccionarvos em que sentido, quanto aos tempos mais próximos? Estamo-nos agora a juntar para gravar um álbum; talvez um split. Mas as coisas não estão fáceis, e não acreditamos que alguma editora vá pegar em nós tão cedo. Enquanto ninguém pega em nós, utilizamos o modo DIY para promover a banda e o underground.
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MB
http://www.myspace.com/destructioneve http://pt-br.facebook.com/pages/Destruction-Eve/132959036741519
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As linhas com_ que se cosem a [“Mostrengo”, dos Enclavement]
MALHA
O ‘Mostrengo’, é uma música original dos Enclavement, banda de black/ death metal de Almada, que não receia desafiar os padrões do género em busca da melhor composição possível, e que tem nesse mesmo ‘monstro’ um dos seus melhores exemplos. A Möndo Brutal não podia deixar de inaugurar então este artigo que irá versar sobre os pormenores de algumas das composições mais interessantes do nosso underground, sem uma análise feita bem de perto a esta mesma malha, contando com a ajuda incontornável dos principais intervenientes.
Ao romper desta faixa somos percorridos pelo imaginário gélido e sombrio típico do black metal nórdico que serve de base para o desenvolver do gigante de coração frio, Adamastor, cujo mito serviu de inspiração, e é no fundo o pilar principal sobre o qual assenta o resultado desta criação musical. Sobre o tema Scott explica: “sendo este (Mostrengo) a personificação do medo e os obstáculos a que se submeteram os nossos antigos marinheiros, retrata sobretudo o espírito decadente e pessimista a que estamos habituados. Através deste ser hediondo que nos consome diariamente e que resultou na nossa identidade pretende-se que aceitemos os nossos horrores, as nossas energias negativas, a nossa queda, com o intuito de as moldar e torná-las grandiosas; um pouco como o fado, que cai repetidamente num loop de emoções contraditórias e ambíguas… querer estar mas não estando”. Quanto à forma como o imaginário do colosso de pedra emergiu a partir do subconsciente, Scott partilha ainda que “obrigados ou não, penso que todos nós já ouvimos nas aulas de português as lendas do Mostrengo/Adamastor através de poemas, etc. Contudo posso revelar que aos 10 anos participei numa peça de teatro da es-
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cola, tendo sido eu a criar o desenho do Mostrengo, recordo-me que esta tinha várias cabeças cheias de dentes, talvez fruto dos filmes de terror que via desde muito cedo.” Para uma melhor interpretação deste tema, sem ignorar o que já foi feito, e bem, sobre este tema no passado, a letra para a música foi construída como uma interpretação feita pela banda sobre a passagem dos Lusíadas referente ao gigante de pedra. No entanto as referências à literatura portuguesa não se ficaram apenas por aí e antes de uma das primeiras intervenções brilhantemente melódicas e cativantes, incluem um excerto do poema de Fernando Pessoa, cujo nome adoptaram para a própria música, cantado em português. As linhas em causa retratam uma das passagens mais marcantes do poema, e da mitologia portuguesa associada ao mar, sobre o qual a banda acrescentou “que é nosso!”, personalizando assim a adaptação. “Uma vez que estás prestes a conquistar algo, por instinto já o consideras como teu” explica Scott, “é um instinto humano agarrar algo à distância, e neste contexto achei apropriado e marcante reforçar esta ideia [de] que este mar é nosso pois já o conquistámos no passado.” Esta é também a passagem da música em que a letra é cantada em Português, fazendo automaticamente lembrar as poucas referências dentro do género, chegando Scott a referir que por via dessa característica “já não é a primeira vez que a palavra Moonspell aparece associada ao nosso trabalho”, acrescentando que se usam a língua portuguesa em certos momentos da sua música “é porque estes instantes não poderiam ser de outra forma. Pelo menos eu vejo-a desta forma,
não sinto necessidade de fazer uma tradução completa das ideias e sentimentos para inglês, se na língua que falo posso transmitir de forma mais genuína e verdadeira o que sinto(...) pareceu-me mais autêntico, sobretudo se o objectivo é glorificar este sentimento tão lusitano”. Ainda sobre o significado desta adaptação, explica que uma das possíveis leituras à luz dos tempos modernos é a “de reconquistarmos o mar, o horizonte, sobretudo não negar as potencialidades que este país tem para oferecer, nomeadamente a sua localização geográfica, já era tempo de deixar os modestos pescadores trabalharem, porque como já ouvi algures, ‘Cada vez que viro as costas ao mar, afogo-me’ ”.
No que à música propriamente dita diz respeito, a composição esteve a cargo de todos os elementos da banda, sendo que “a faixa ‘Mostrengo’ foi uma das primeiras músicas que eu (guitarrista), o Alex (baterista) e o Mário Barros (ex-guitarrista) compusemos por volta de 2007/2008 com uma caverna cheia de riffs criados praticamente por mim”, refere Scott, “e se a memória não me falha, foi uma composição bastante intuitiva, em que a ligação dos vários momentos se ligou muito bem. Não houve um quebra-cabeças nem nada parecido, é daquelas músicas que são feitas e não se mexe mais! Gostamos do resultado e assim ficou até 2010”, altura em que Ricardo(guitarrista) é integrado na banda. Alex explica-nos a continuação do processo: “a linha já vinha de tempos anteriores, mas foi complementada de pormenores com a entrada do Ricardo para os leads/solos. A ideia final era haver uma boa combinação de detalhe de cada parte”. Não há dúvidas que a composição ficou a ganhar com a actualização, por via do então novo elemento, Ricardo; uma das mais valias de ‘Mostrengo’ está na veia quase progressiva/ hard rock por onde se deixaram levar a partir de mais ou menos do meio da música, algo que não se encontra muito pelos meandros do black metal. “Um dos aspectos que marca a diferença no projecto é essa abordagem; temos as nossas raízes vincadas na sonoridade black/death metal, mas deixamos a música fluir, sem barreiras rígidas, pois o nosso objectivo não é copiar ninguém nem nos agarrarmos demasiado ao que está padronizado, mas somente expressar a música que temos dentro de nós”, refere o guitarrista responsável pelos solos. “Gosto que os meus solos sejam mais do que uma mera compilação de notas e de licks. Fascina-me o tipo de solos que ‘contem uma estória’ sem recorrer a palavras, deixando as notas e os fraseados transmitirem sentimentos e emoções; gosto que
eles sejam realmente marcantes a ponto de se tornarem partes importantes das composições e que o ouvinte que conheça as músicas acabe por se recordar deles como um dos pontos altos das mesmas.” Em relação ao facto dessa ‘luta interior da guitarra’ quase se assemelhar a um retrato do confronto entre o monstro e os marinheiros, Ricardo conclui, “diria que a música, como qualquer forma de arte é sujeita a interpretações. Ficamos felizes e gostamos muito de ouvir o que as pessoas sentem e o que a nossa música lhes transmite, pois todas as interpretações são válidas e revelam uma visão diferente, e um exercício que revela a nossa própria sensibilidade e a nossa natureza humana. No meu caso particular, como guitarrista solo, agarro-me mais aos meus instintos musicais, ao sentimento e ao conceito musical que pretendemos de uma forma mais geral para a composição de leads e solos, sendo que sempre ficará aquela ‘tela em branco’ a ser pintada pelo imaginário do ouvinte, baseada naquilo que a música lhe transmite. É uma das belezas da coisa.” Insistindo um pouco sobre as referências musicais que poderiam invadir o imaginário da banda e ter tido a sua quota parte de influência, Scott concede que “na altura ouvia-se bastante Death, Vader, Morbid Angel, Behemoth, Emperor, Satyricon, passando por Opeth, Agalloch ou bandas nacionais como Process Of Guilt, Thanathoschizo, The Firstborn...”, grupos dos quais realmente conseguimos denotar um e outro pormenores que ajudam a apimentar a receita; nomeadamente a veia descomprometida do prog/death dos Opeth, a raiva que também consegue ser primal de uns The Firstborn, ou até a melancolia arrasadora dos também citados Agalloch; essa mesma melancolia está de resto representada na última passagem da música que, quase em jeito de despedida, como se invocasse um paralelismo entre a conclusão e o momento em que os marinheiros ao passar o cabo bojador olham para trás e o vêm já como sendo o cabo da boa esperança. Em relação a esta associação Scott expressa, “acho gratificante [que se interprete] dessa forma, a música realmente tem muita força e cada um sente à sua maneira, levando o ouvinte a definir o espaço/tempo de um trecho musical”, deixando-nos com a nossa própria versão, justificando “não queremos limitar nenhuma mente”. Apoiamos completamente.
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MB
http://enclavement.bandcamp.com http://www.facebook.com/enclavementofficial
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Blacksunrise - Oceanic (2011)
O dom de sacar um riff que é ao mesmo tempo agressivo, incisivo no momento que é rasgado, melódico, e acima de tudo soa como algo intemporal constitui uma arte por si só. Por vezes bandas passam anos à procura de inspiração para conseguir arranjar um desses ditos conjuntos de acordes. Que dizer então do terceiro longa duração dos lisboetas BlackSunRise? O refrão omnipotente de “Atlantida”, a brutalidade de “Asgard dies”, a melodia que emerge do caos e faz homenagem à lenda em “Adamastor”... As músicas correm com uma fluidez à velocidade da mais recente vaga de deathcore com raízes no melhor que há do death metal melódico sueco, que é como quem diz At the gates pela pena de americanos como All shall perish ou Black Dahlia Murder, a resgatar um pouco da arte evocativa de uns Amon Amarth ao mesmo tempo, e surpreendem-nos, enquanto ainda estamos a adaptar-nos à velocidade, com refrões que parecem saídos directamente da caixa onde está guardada essa arte de que falávamos no início - grande parte desse mérito vai para a inspiração de João Padinha. Surpresa é a primeira reacção, rendição é a seguinte. “I am the sea” no centro do alinhamento, é a pedra de toque, e provoca inquietação na
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mente de quem ao fim da primeira audição pensa “mais do mesmo..”, tal o contraste da voz melodiaosa de Sofia Silva(Neoplasmah) no respectivo refrão a contrastar com os outros 37 minutos, ludibriando-nos e assim convencendo a mais uma e mais outra audição até que realmente nos apercebemos da magnitude do conjunto total. A técnica e execução impecável do instrumental justificam-no; que o digam os solos de Cláudio Santos (o de “Physalia Physalis”, por exemplo, é notável). A secção rítmica possibilita todo o dinamismo que é possível apreciar no disco, que é cirúrgica, mas os últimos destaques têm de ir para o conjunto de convidados - Pedro Pedra (Grog), Jó (Theriomorphic), Sofia Silva (Neoplasmah), Filipe Correia (Concealment), David Gerónimo ( Concealment) e Rizzo (Utopium) - e para a voz cheia de garra e sem uma ponta de incerteza de Sérgio Batista que, mesmo fazendo a sua estreia como voz da banda, rasga com a mesma por entre as melodias como quem anuncia o caminho a desbravar através das ondas irresistíveis e encantadoras, que inevitavelmente vão apanhar quem quer que nelas se aventure, como o são as malhas que compõem este Oceanic.
Artigo 19 - Sangue, suor e dedicação (2010)
características) ser capaz de fazer ouvir a sua música fosse com guitarras, bateria e electricidade, ou fosse com ‘apenas’ duas guitarras acústicas, a voz e a mensagem. E essa acaba por ser uma das mais valias da banda - a mensagem que passam: união para vencer acima das dificuldades e perseverança para remar frente aos ideais em que se acredita. Nas 9 faixas que preenchem este Sangue, suor e dedicação essa mesma mensagem não podia estar mais clara e ser passada de forma mais eficaz, através de um punk rock bem ríspido, onde não falta electricidade, velocidade e, claro, as vozes, imbuído da força e nervo do hardcore e que surpreendentemente (ou não, se tivermos em conta que a variação é algo cada vez mais frequente nos tempos que correm e uma força impulsionadora da criatividade) toca em referências tão distintas quanto The Offspring - colheita pré ‘95 (“Sangue, suor e dedicação”, “retaliação”) -, Mata-ratos (“Núcleo duro”), ou até algo de Shadows Fall, por exemplo(“Até ao fim”, “Punk hardcore”), acabando por dar aquela piscadela de olho ao metalcore, mas sempre sem esquecer a importância do d-beat. Uma das faixas mais fortes deste álbum, e que merece menção também pelas participações especiais de Zyon(Motim) e Quisto(Dokuga) é “Enfrenta a realidade”; quem sabe uma granada feita à medida de uns Biohazard, que poderá servir de ‘wake up call’ para esta geração que se resume a viver através de valores virtuais e ocos. A esses, o melhor conselho possível seria mesmo: levantem o cú da cadeira e vão encomendar uma cópia deste Sangue, suor e dedicação em vinil! Sim, a banda dedicou-se a esse ponto.
Spiritual way - Spiritual way [EP] (2010) Para os mais distraídos, cá deixamos a apresentação: os Artigo 19 são uma jovem banda punk/hardcore formada em 2008, mas que rapidamente se inseriu no circuito de concertos do Porto, dentro deste mesmo género, por (entre outras
Este EP homónimo começa da forma mais estranha, com um “you say: No way” um pouco afemeninado em tom muito sarcástico, no tema “FDDK”, mas largando de imediato para o ritmo e espírito de uns
num coro que quase faz acreditar que o Rock’nRoll pode realmente ser visto como uma religião e algo quase transcendental. Rock’n’roll inspirado e um alinhamento distribuído de forma muito inteligente (as duas malhas finais dão mesmo vontade de ouvir tudo outra vez) fazem deste EP um trabalho notável.
Phazer - Kismet (2010) Nashville Pussy, até culminar num coro muito ao género dos cómicos coros monster-mash imortalizados pelos Misfits. A partir daí a receita dos Spiritual way começa a revelar-se perante os nossos ouvidos, como se de uns AC/DC nascidos no Texas tivessem resgatado a sua inspiração(“Red light hous” um dos temas mais emblemáticos destes lisboetas é um claro e directo exemplo disto), mas pilhando um pouco de todas as influências com que se foram cruzando pelo caminho, como um pouco de ska e funk aqui(“Twin city” parece ser o tema onde mais se deixam levar pela diversão, mostrando que o rock nem sempre tem de ser cinzentão), ou até um pouco de ora thrash metal, ora heavy metal britânico de 80’s. “End of times” pede o ritmo emprestado ao thrash e até começa com uma espécie de monólogo um pouco ao jeito da introdução à Vincent Price numa “Number of the beast“ dos Iron Maiden, ao passo que “Rock’n’Roll tonight” liga a ignição 80’s das guitarras para só parar
Os Phazer são aquela banda que, qualquer editora multinacional podia pegar e colocar no catálogo dedicado às bandas hard rock/ heavy metal e quem quer que os viesse a ouvir não chegaria a pôr em causa se são americanos, ingleses, ou de qualquer outra nacionalidade, tal a universalidade da linguagem que usam como se tivesse sido a sua língua materna desde sempre: a do rock clássico. Ao ouvir Kismet até parece que cresceram a ouvir blues em vez de rock e heavy metal, e que
moram ao lado de terriolas onde num qualquer bar encontrariam um velho a debitar um country sentido, ao invés das festas da aldeia tão portuguesas que a todos nos atingem. Neste seu primeiro álbum a banda estampa-nos à frente essa fluidez e vida que têm através do rock, apresentando referências mais 80’s, como as do hair metal de uns Mötley Crüe logo no tema de apresentação “Wake me”, outras mais pontuais como a faceta de experimentação de melodias ora melancólicas, ora orientais(o tema título é um bom exemplo), mas com o corpo bem definido através de um hard rock bem sólido com suporte recorrente em pormenores de stoner rock, que mesmo assim não os define, apenas ajuda a delimitar os contronos da sua música. Nomes como Alice in chains, Down, Soil(a semelhança do timbre da voz de Paulo Miranda com a de Ryan McCombs é quase impressionante) ou até os nacionais Ramp são os que mais vêm à memória através do som de “#”, “The unknown” ou até “Fear itself”, que a par de “Kismet” é outro tema bem impressionante. Há ainda algumas participações especiais, como a de Patricia Andrade(The vanity sessions e corista dos Moonspell) na baladesca “Serious killer” e do solo de harmonica de Ruben “El Pavoni” na já referida malha “Fear itself”. Preenchido de bons temas, Kismet é um álbum bastante recomendável, com execução, produção e sentimento practicamente inquestionáveis.
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MB
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Videoclube Z18aA0&mid=524
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EAK - “Always Remember”
A LAST DAY ON EARTH - “Gold”
LONEARS - “Out
of my life”
http://www.youtube.com/watch?v=YRJGbzXm7pw
ng” MEN EATER - “Sustain The Livi
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(clica e vê)
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http://www.youtube.com/wa
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