Dissertação

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A ARQUITECTURA COMO ESTRATÉGIA AO DESENVOLVIMENTO RURAL: Hostel de Montanha | Mónica Canha Ladeira

A ARQUITECTURA COMO ESTRATÉGIA AO DESENVOLVIMENTO RURAL: Hostel de Montanha Mónica Filipa Canha Ladeira

12|13 Professor Doutor Jorge Amaral Professor Doutor Miguel Malheiro

faculdade de arquitectura e artes



UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO

A ARQUITECTURA COMO ESTRATÉGIA AO DESENVOLVIMENTO RURAL:

Hostel de montanha

Mónica Filipa Canha Ladeira

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Arquitectura

PORTO - 2013



Dedicatória Dedico o presente trabalho:

A toda a família pelo apoio demonstrado ao longo de todo o curso.

Ao meu irmão Diogo por me acompanhar nos bons e nos maus momentos.

Ao meu tio Filipe pela disponibilidade e paciência em rever o meu trabalho.

Ao meu tio Miguel e à minha tia Paula pela ajuda nos momentos difíceis.

À minha avó pelo carinho, educação e força que sempre me transmitiu.

A todos os meus amigos, em especial, ao Ivan, Jorge, Ful, Sílvia, Carla, Inês e Raquel,

porque sem eles seria difícil de ultrapassar com optimismo alguns obstáculos.

Ao Tiago em especial, pelo carinho, apoio e dedicação ao longo destes anos.

Por último, tendo consciência que sozinha nada disto teria sido possível, dirijo um

agradecimento especial aos meus pais Adriana e Ricardo Ladeira, por serem modelos de coragem, pelo seu apoio incondicional, incentivo, amizade e paciência demonstrados e total ajuda na superação dos obstáculos que ao longo desta caminha foram surgindo. A eles, adeptos do desporto de natureza, dedico este trabalho!



Agradecimentos

Agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para o enriquecimento do meu

conhecimento:

Ao Professor Doutor Miguel Malheiro pela informação e dedicação no decorrer do

trabalho de Projecto.

Ao Professor Doutor Jorge Amaral pela sua orientação atenta e exigente, sem

a qual não poderia ter concluído este trabalho e também pela generosidade, paciência e disponibilidade que sempre demonstrou.

Ao Arquitecto António Menéres pela disponibilidade, dedicação e interesse pela

Arquitectura Popular Portuguesa, pelo saber que transmitiu, pelas opiniões e críticas, total colaboração no solucionar de dúvidas e problemas que foram surgindo ao longo da realização deste trabalho e por todas as palavras de incentivo.



Resumo

Esta dissertação aborda a problemática geral do desenvolvimento rural em espaços

de montanha em Portugal. Neste sentido, explora o papel que a arquitectura tem vindo a ter através de instrumentos de reabilitação e de reconversão de usos como meio de intervir no património construído, possibilitando a reutilização de antigas estruturas edificadas, transpondo para o futuro, a memória de um passado.

O desenvolvimento do trabalho procura perceber a transição funcional dos espaços

de montanha, estes associados à valorização de recursos eco culturais e com a utilização crescente dos tempos livres da sociedade contemporânea. Assistimos a uma mudança no sector turístico e a uma maior atenção a novas formas de fazer turismo, onde um significativo crescimento de ofertas e de procura ganha grande expressividade através do progressivo interesse por actividades de índole cultural, desportivo e ambiental, cada vez menos influenciadas pela oferta turística massificada, os turistas procuram deslocar-se para lugares aprazíveis e com pouca densidade turística.

Face às oportunidades que o turismo pode representar, nomeadamente o turismo

de natureza, para os espaços rurais de montanha, o desenvolvimento de um alojamento económico intitulado Hostel, poderá servir de modelo a uma significativa rede de aldeias no sentido de recuperar os núcleos rurais, reaproveitando habitações e outras construções, permitindo tirar partido de um tecido rural votado ao abandono. Palavras-chave: - Desenvolvimento rural - Turismo de natureza - Reabilitação - Reconversão - Hostel



Abstract

This dissertation addresses the general issue of rural development in mountain

areas in Portugal. To this end, it explores the role architecture has been playing through rehabilitation and conversion of uses instruments as means to intervene in the built heritage, enabling the reuse of old structures, and transposing the memory of the past into the future.

This paper intends to understand the functional transition of mountain areas,

which are related to the enhancement of eco-cultural resources and to the increasing use of leisure time in the contemporary society. We have witnessed a change in the tourism sector and a greater attention to new forms of tourism. The significant increase in offers and demand acquires great importance through the progressive interest in cultural, sport, and environmental activities, which are less and less influenced by the mass tourism offer, and tourists are looking for pleasurable places with low density touristic activity.

Given the opportunities tourism may represent, namely Nature Tourism, to the rural

mountain areas, the development of an inexpensive accommodation - Hostel - could serve as a model to a significant network of villages, in order to recover the rural centres by reusing dwellings and other building, and thus seizing the opportunities of a rural fabric that has been long neglected.

Keywords: - Rural development - Nature Tourism - Rehabilitation - Reconversion - Hostel



Índice Índice de figuras......................................................................................................................I Lista de abreviaturas..............................................................................................................II Introdução..............................................................................................................................19 CAPÍTULO I - A problemática do desenvolvimento rural: Evolução e perspectivas 1. Os ambientes de montanha e as suas especificidades.......................................................31 2. A paisagem rural: Formas de vida e arquitectura..............................................................39 3. Desertificação: os fenómenos migratórios em Portugal no século XX e XXI..................54 4. A incidência das políticas europeias de desenvolvimento rural em Portugal...................58 CAPÍTULO II - O turismo e a Arquitectura no contexto do desenvolvimento rural e das áreas de montanha 1. O turismo e os turistas do século XXI: “O turismo alternativo”......................................65 2. O crescimento do Turismo de Natureza no PNPG...........................................................70 3. O património como recurso turístico................................................................................76 4. Arquitectura vernácula e a reabilitação.............................................................................78 5. O Hostel como meio de hospedagem alternativo em áreas de montanha.........................84 CAPÍTULO III - Casos de estudo: Referências estratégicas 1. Intervenções arquitectónicas em lugares esquecidos........................................................93

1.1 Aldeias de Portugal.............................................................................................95

1.2 O exemplo da Branda da Aveleira.......................................................................97

2. Exemplos práticos de reabilitação no espaço rural: novos materiais e soluções construtivas

2.1 Reconversão de um Moinho................................................................................99

2.2 Reconstrução de um Sequeiro em Habitação.....................................................103


2.3 Reabilitação de uma Habitação em La Paloma................................................107

3. Exemplos de programas: alojamento em áreas de Montanha.........................................109

3.1 Abrigo de montanha: Pulpit Rock.....................................................................109

3.2 Abrigo de montanha: Woodstock farm...............................................................113

3.3 Pousada da juventude: Movijovem Penhas da Saúde........................................115

4. Exemplo de um Hostel em área de montanha.................................................................117 CAPÍTULO IV - Abordagem histórica e análise territorial: Castro Laboreiro 1. Contextualização: caracterização física e socioeconómica...............................................123 2. Intervenção dos Homem na paisagem..............................................................................127 3. Sistema de transumância: Brandas e Inverneiras.............................................................131

3.1 Evolução e ocupação dos povos e do habitat....................................................133

4. Especificidades da Arquitectura local: Habitação serrana...............................................137 CAPÍTULO V - Estratégia: Projecto de intervenção 1. Enquadramento territorial: Localização geográfica.......................................................149 2. O Turismo de Natureza em Castro Laboreiro: Trilhos....................................................151 3. Alojamento em resposta ao crescimento do Turismo de Natureza..................................153 4. Implementação da estratégia: Hostel de Montanha.........................................................155 5. Potencialidades do programa...........................................................................................157 6. O módulo tipo de habitar.................................................................................................161

6.1 Materialidade e Sistemas construtivos...............................................................165

Conclusão.............................................................................................................................III Bibliografia...........................................................................................................................IV


Índice de figuras Figura 2 Utilização da energia eólica­................................................................................................32 Figura 3 Exemplo de uma aldeia de montanha..................................................................................32 Figura 4 Vale formado pelo rio Laboreiro.........................................................................................32 Figura 5 Arquitectura funerária da cultura megalítica.......................................................................40 Figura 6 Aglomerado da cultura Castreja (Fonte: http://arqueo.org/ferro/castros.html)...............................40 Figura 7 Ponte Romana da Assureira (Fonte: https://skydrive.live.com/)...................................................40 Figura 8 A eira dos espigueiros.........................................................................................................46 Figura 9 Abrigo de montanha - Cardenha.........................................................................................46 Figura 10 Moinho de água................................................................................................................46 Figura 11 Habitação - Casa Serrana..................................................................................................48 Figura 12 Forno comunitário.............................................................................................................48 Figura 13 Aglomerado de uma aldeia................................................................................................48 Figura 14 Habitações com uma expressão rude e primitiva..............................................................50 Figura 15 Construções feitas através dos materiais locais.................................................................50 Figura 16 Casa serrana.......................................................................................................................50 Figura 17 Inverneira de Pontes...........................................................................................................63 Figura 18 Parcelamento dos terrenos agrícolas.................................................................................90 Figura 19 Localização da branda da Aveleira....................................................................................96 Figura 20 Branda da Aveleira, Turismo de Aldeia (Fonte:http://pt.wikiloc.com/wikiloc/imgServer.do)...........96 Figura 21 Casas recuperadas associadas ao turismo rural (Fonte: www.adriminho.pt)............................96 Figura 22 Trilho da Branda da Aveleira associado ao turismo Natureza (Fonte: www.adriminho.pt).......96 Figura 23 Respeito pela traça e pela arquitectura popular da região do Minho................................96 Figura 24 Exemplo de uma cardenha - Cobertura em falsa cúpula...................................................96 Figura 25 A ruína do antigo moinho (Fonte: www.facebook.com)...........................................................98 Figura 26 O abrigo após a transformação arquitectónica (Fonte: www.facebook.com)............................98 Figura 27 Utilização da madeira e do granito na construção (Fonte: www.facebook.com).......................98


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Figura 28 Planta do piso 0 e do piso superior (Fonte: www.facebook.com)............................................100 Figura 29 Cortes AA’ e BB’ (Fonte: www.facebook.com).......................................................................100 Figura 30 Vista interior do piso 0 (Fonte: www.facebook.com)..............................................................100 Figura 31 Edifício existente do antigo sequeiro (Fonte: www.facebook.com)........................................102 Figura 32 Sistema de sombreamento através de portadas em madeira (Fonte: www.facebook.com).....102 Figura 33 Utilização do granito e da madeira (Fonte: www.facebook.com)...........................................102 Figura 34 Fachada principal (Fonte: www.facebook.com)......................................................................104 Figura 35 Recuo dos planos envidraçados (Fonte: www.facebook.com)................................................104 Figura 36 Utilização do granito na estrutura e da madeira nas portadas (Fonte: www.facebook.com)....104 Figura 37 Enquadramento do edifício na paisagem (Fonte: http://www.creusecarrasco.es/).....................106 Figura 38 Espaço mínimo de habitar (Fonte: http://www.creusecarrasco.es/)............................................106 Figura 39 Planta piso 0 - cozinha e sala de estar (Fonte: http://www.creusecarrasco.es/)...........................106 Figura 40 Utilização da madeira no interior da habitação (Fonte: http://www.creusecarrasco.es/)...........106 Figura 41 Planta piso 1 - espaço de dormir e quarto de banho (Fonte: http://www.creusecarrasco.es/)......106 Figura 42 Corte transversal do edifício (Fonte: http://www.creusecarrasco.es/)........................................106 Figura 43 Preikestolen sobre o Fiord de Lyse, Forsand – Noruega (Fonte: http://fiveprime.org/)..........108 Figura 44 Enquadramento do edifício na paisagem (Fonte: http://www.hha.no/)...................................108 Figura 45 Reinterpretação da arquitectura local (Fonte: http://www.hha.no/)........................................108 Figura 46 Planta piso 0 (Fonte: http://www.hha.no/)...............................................................................110 Figura 47 Planta piso 1 (Fonte: http://www.hha.no/)...............................................................................110 Figura 48 Planta piso 2 (Fonte: http://www.hha.no/)...............................................................................110 Figura 49 Módulo de habitar duplo com área mínima (Fonte: http://www.hha.no/)...............................110 Figura 50 Enquadramento do conjunto na paisagem (Fonte: http://architectslist.com/)...........................112 Figura 51 Fachada de topo com alvenaria de pedra (Fonte: http://architectslist.com/).............................112 Figura 52 Vista interior da área de estar (Fonte: http://architectslist.com/)..............................................112 Figura 53 Fachada topo do antigo palheiro em pedra enders (Fonte: http://architectslist.com/)..............112


Figura 54 Planta piso 0 da habitação e planta do piso 1 (Fonte: http://architectslist.com/)......................112 Figura 55 Vista interior da habitação (Fonte: http://architectslist.com/)...................................................112 Figura 56 Enquadramento do edifício na paisagem (Fonte: http://coma.com.pt/)...................................114 Figura 57 Fachada sudoeste do edifício (Fonte: http://coma.com.pt/).....................................................114 Figura 58 Planta piso 0 (Fonte: http://www.archdaily.com/).....................................................................114 Figura 59 Materialidade e estereotomia da fachada exterior (Fonte: http://coma.com.pt/)........................114 Figura 60 Planta piso 1 (Fonte: http://www.archdaily.com/).....................................................................114 Figura 61 Alçados (Fonte: http://www.archdaily.com/).............................................................................114 Figura 62 Enquadramento do edifício na paisagem (Fonte: http://www.l-a-v-a.net/)...............................116 Figura 63 Quartos partilhados (Fonte: http://www.l-a-v-a.net/)...............................................................116 Figura 64 Aproveitamento do espaço na célula mínima de habitar (Fonte: http://www.l-a-v-a.net/).......116 Figura 65 Organização dos espaços interiores (Fonte: http://www.l-a-v-a.net/).......................................118 Figura 66 Os grandes vãos permitem a contemplação da paisagem (Fonte: http://www.l-a-v-a.net/)......118 Figura 67 Aproveitamento dos espaços interiores (Fonte: http://www.l-a-v-a.net/).................................118 Figura 68 Paisagem de Castro Laboreiro.........................................................................................120 Figura 69 Vila de Castro Laboreiro.................................................................................................124 Figura 70 Campos agrícolas separados por muros em pedra de granito.........................................124 Figura 71 Economia Rural...............................................................................................................124 Figura 72 Mapa de Castro Laboreiro - Sistema de transumância....................................................130 Figura 73 As casas surgem encostadas umas às outras...................................................................132 Figura 74 Arruamentos estreitos em aglomerados de montanha.....................................................132 Figura 75 Muro de pedra solta em granito.......................................................................................132 Figura 76 Desenvolvimento linear de um aglomerado em área de montanha.....................................134 Figura 77 Fachada típica de uma habitação serrana........................................................................134 Figura 78 Exemplo de uma parede em pedra solta..........................................................................136 Figura 79 Exemplo de uma ampliação............................................................................................136

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Figura 80 Casas emergem aglutinadas umas às outras....................................................................136 Figura 81 Planta típica da Casa Serrana..........................................................................................138 Figura 82 Piso superior é feito através de uma escada exterior.......................................................138 Figura 83 Casa de rés-do-chão era apenas utilizada para o gado....................................................138 Figura 84 Exemplo de paredes construídas.....................................................................................140 Figura 85 Exemplo de um patim.......................................................................................................140 Figura 86 Exemplo do capeado horizontal das paredes que rematam a cobertura..........................140 Figura 87 Exemplo de uma cobertura em colmo (Fonte: http://quitoarantes.blogspot.pt/)........................142 Figura 88 Exemplo de uma cobertura em telha...............................................................................142 Figura 89 Os vãos das portas e das janelas com portadas em madeira.............................................142 Figura 90 Desenho de um conjunto de construções em pedra........................................................146 Figura 91 Contextualização.............................................................................................................148 Figura 92 Planta de localização.......................................................................................................148 Figura 93 Esquema dos aglomerados e dos caminhos mais significativos.....................................150 Figura 94 Turismo de Natureza: Trilhos na área em estudo............................................................150 Figura 95 Alojamento na área em estudo.........................................................................................152 Figura 96 Aldeia a intervir...............................................................................................................152 Figura 97 Conjunto a intervir: Hostel de Montanha........................................................................154 Figura 98 Programa do Hostel de Montanha...................................................................................154 Figura 99 Planta piso 0....................................................................................................................156 Figura 100 Planta piso 1..................................................................................................................156 Figura 101 Alçados do conjunto......................................................................................................158 Figura 102 Planta piso 0: Módulo tipo de habitar............................................................................160 Figura 103 Planta piso 1: Módulo tipo de habitar............................................................................160 Figura 104 Cortes AA’ e BB’..........................................................................................................162 Figura 105 Cortes CC’ e DD’..........................................................................................................163 Figura 106 Corte vertical - Pormenorização construtiva..................................................................164


Lista de abreviaturas AP – Área Protegida. AP’s – Áreas protegidas. CE – Comunidade Europeia. CEE - Comunidade Económica Europeia. cf. – confira, ver também. CIMO - Clube Ibérico de Montanhismo e Orientação d.C - depois de Cristo. DGT - Direcção Geral do Turismo. EU - União Europeia. fasc. - fascículo. FEADER - Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural. fig. - Figura HI - Hostelling Internacional ibidem - no mesmo lugar; indica que a informação incorporada no texto, foi extraída da mesma obra e da mesma página citadas na nota imediatamente anterior. ICNB - Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade. ICNF - Instituto da Conservação dos Institutos e das Florestas Idem – do mesmo autor já citado. Idem, ibidem – quando a referência é completamente igual à que a antecede. In – para referenciar capítulos de livros. Artigos, ensaios ou trabalhos publicados em dicionários, enciclopédias, actas de congressos e colectâneas, em suma, publicações não periódicas. INE – Instituto Nacional de Estatística. km – Quilómetros. LEADER - Ligações Entre Acções de Desenvolvimento das Economias Rurais. m - Metro. m2 – Metro quadrado.


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NUTS - Nomenclatura Comum das Unidades Territoriais Estatísticas. NUTS III - Nomenclatura Comum das Unidades Territoriais Estatísticas – Sub-região Norte. op. cit. - citação extraída do mesmo lugar ou da mesma obra anteriormente citados, ainda que mediada por citações de outras obras e autores. p. - página. PAC - Política Agrícola Comum. PENT - Plano Estratégico Nacional do Turismo. PIC LEADER - Política de Iniciativa Comunitária. PNPG - Parque Nacional da Peneda-Gerês. PNPOT - Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território. PNTN - Programa Nacional de Turismo Natureza pp. - páginas. PRODER - Programa de Desenvolvimento Rural. s d - sem data. TER - Turismo em Espaço Rural. THR - Asesores en Turismo Hotelería y Recreación, S.A. UNESCO - A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura v - verso. vol. - volume.


Introdução Tema e âmbito da investigação

O tema abordado na presente dissertação, explora o papel ou a capacidade que a

arquitectura tem vindo a evidenciar, numa transição de modelo de desenvolvimento centrado na sociedade rural e na estruturação das suas paisagens, privilegiando a dimensão territorial, ambiental e patrimonial destes territórios de baixa densidade.

Os ambientes de montanha, no quadro da problemática geral do desenvolvimento

rural, apresentam especificidades que justificam uma análise particular no sentido de expandir e de explicitar as suas dinâmicas recentes, desenvolvendo estratégias de planeamento no desenho e implementação de novos caminhos para o seu desenvolvimento local.

Centrando-nos na importância da reabilitação como instrumento assegurador da

manutenção da memória, explora a questão da reconversão de usos como meio de intervir no património construído, possibilitando a reutilização de antigas estruturas edificadas, transpondo para o futuro, a memória de um passado. Valoriza-se a multifuncionalidade dos espaços rurais, nomeadamente as áreas de montanha, reconhecendo a sua especificidade e o potencial dos seus recursos, como elementos estratégicos para a promoção de um desenvolvimento territorial equilibrado e integrado.

Tornou-se um espaço para reserva ecológica, patrimonial e cultural, cabendo-lhe a

responsabilidade da salvaguarda do meio ambiente e da natureza para que se identifique o meio rural com o meio natural.

É nesta perspectiva que a natureza e o ambiente deixam de ter como principal função

a produção agro-pastoril, praticada em épocas anteriores, e adquirem uma representação estética e lúdica concretizada pelas novas entidades urbanas, uma nova concepção de território directamente oposta à que tradicionalmente assumiam os antigos residentes destes espaços rurais, para quem o solo constituía basicamente um factor produtivo.

Nas últimas décadas, o quadro evolutivo das políticas europeias para o mundo rural

reflecte mudanças significativas. Uma grande parte dos espaços montanhosos em Portugal,


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com as suas dinâmicas de renovação e de funções diferenciadas, reflectem uma ligação crescente a uma nova sociedade moderna de valores e práticas turísticas e recreativas inovadoras. Esta ideia de transição funcional dos espaços de montanha está associada com a valorização dos recursos eco culturais e com a utilização crescente dos tempos livres. Temos vindo a assistir a uma mudança no sector turístico e uma maior atenção a novas formas de fazer turismo. Começa a evidenciar-se uma procura de novos ambientes e um crescimento significativo de ofertas e de procura turística no espaço rural, onde o interesse pela preservação dos bens patrimoniais, a procura de qualidade e de originalidade por parte dos turistas, o progressivo interesse pela vivência de experiências de índole cultural, desportivo e ambiental sugerem o desenvolvimento ou a prática de férias activas, cada vez menos influenciadas pela oferta turística massificada, deslocando-se preferencialmente para lugares aprazíveis e com pouca densidade turística. Motivações

Nas últimas décadas, os espaços rurais de montanha, pelas dificuldades estruturais

e funcionais, transformaram-se em espaços fragilizados, despovoados, vazios, apagados e envelhecidos. É frequente identificar situações de intenso e continuado declínio demográfico, em que os indicadores de população residente actuais reflectem níveis muito inferiores em relação aos referidos registos, assim como lugares abandonados e desertos, e outros recuperados, no âmbito da residência secundária mas sem população residente. Neste sentido, após as dificuldades que estes espaços têm sofrido nas últimas décadas, suscitam de igual modo preocupações prioritárias de ordenamento e de desenvolvimento territorial. As orientações políticas da União Europeia (EU) procuraram nos últimos anos, sobretudo compensar as dificuldades naturais, através da agricultura e da valorização de um número reduzido de recursos, de actividades ligadas ao turismo (em especial ao desporto de natureza) e consequentemente de apoios complementares à necessidade de conservação do património


arquitectónico e paisagístico rural.

Incindindo-nos nos espaços naturais protegidos no Norte do território português,

nomeadamente no Parque Nacional Peneda Gerês (PNPG), o Turismo de Natureza, associado à promoção de práticas e programas turísticos de reduzido impacte, e de grande valorização ambiental e sócio cultural, pode neste sentido, representar uma oportunidade importante para o desenvolvimento sustentável do território, que visa permitir a recuperação e conservação do património natural e cultural. As actividades de animação ambiental, associadas ao desporto de natureza, são consideradas prioritárias entre as oportunidades para o desenvolvimento do Turismo de Natureza, uma vez que cresce o número de visitantes interessados nestas práticas.

Neste contexto, o turismo, como principal alavanca destas mesmas estruturas,

consistiria numa estratégia, de forma a responder a uma crescente procura de Turismo de Natureza nas Áreas Protegidas (AP’s) e consequentemente de alojamento e estruturas de apoio nestas áreas parcialmente ou totalmente abandonadas. Embora a disponibilização do alojamento turístico nestas áreas tenha sido de uma maneira geral alcançado, torna-se importante repensar estratégias de requalificação e ampliação de alojamento disponíveis, através da reabilitação, conservação, salvaguarda e recuperação do património arquitectónico, onde a arquitectura popular deixou um espólio que noutras regiões foi substituído em parte por construções convencionais, desligadas dos velhos valores humanísticos, determinando formas de casas, desligadas da secular tradição, alterando a paisagem, e consequentemente, os padrões culturais a estruturas da sociedade rural. Objectivos e metodologia

Em Portugal, o reconhecimento dos espaços rurais aliados à problemática da

desertificação, passam a ocupar uma posição no discurso político e nas acções desencadeadas para a prossecução dos seus objectivos. Ultimamente temos vindo a assistir a um processo

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evolutivo no que diz respeito a projectos ou a iniciativas que pretendem conciliar a salvaguarda e a valorização do património arquitectónico, a requalificação dos territórios fragilizados, do tecido económico e social, desde a iniciativas políticas e sociais no reforço de identidades locais, utilizando o turismo por via de novos produtos como alavanca das dinâmicas de desenvolvimento que se pretendem induzir. Temos vindo a assistir a algumas estratégias de forma a reintegrar alguns territórios nos novos caminhos de desenvolvimento regional e local, como é o exemplo o programa “Aldeias de Portugal”.

Nesta atmosfera de mudança, o turismo e o património vão assumindo uma grande

expressão no que diz respeito ao desenho e planeamento do desenvolvimento rural. O turismo alternativo, e consequentemente o alojamento em áreas de montanha surge em resposta ao despovoamento rural, criando estratégias apoiadas em políticas europeias de forma a desenvolver as localidades mais desfavorecidas.

Após uma investigação realizada na área em estudo, relacionado com as actividades

praticadas na freguesia de Castro Laboreiro, território pertencente ao concelho de Melgaço e ao PNPG, concluímos que o turismo de natureza, nomeadamente a realização de percursos pedestres, tem vindo a ser explorado por várias entidades promotoras. Com base na investigação, o turismo de natureza e o turismo rural tem vindo a encontrar formas para gerar emprego e também para incentivar a recuperação de edificações, devido à necessidade crescente de alojamento no espaço rural.

Face às oportunidades que o turismo de natureza pode representar para Castro

Laboreiro, o desenvolvimento de um alojamento económico poderá servir de modelo a uma significativa rede de aldeias no sentido de orientar e recuperar os núcleos rurais, reaproveitando habitações e outras construções, permitindo tirar partido de um tecido rural votado ao abandono.

Propusemos a recuperação e requalificação da aldeia de Pontes, nomeadamente na

reconversão de um núcleo habitacional, num hostel de montanha que visa desenvolver a


pluriactividade local, através de distintas actividades em contacto com a natureza. O hostel, ao praticar preços intitulados low-cost, tem vindo a crescer, tornandose num forte modelo de negócio em espaços urbanos ao contrário das áreas rurais, isto porque a maior concentração ou a maior oferta deste tipo de empreendimento é normalmente desenvolvida nos grandes centros urbanos. Desta forma, entendemos que é necessário criar para além dos empreendimentos turísticos comuns em áreas rurais, (como é o exemplo da habitação rural, pousadas, hotéis, albergues ou pousadas da juventude), um empreendimento turístico económico, utilizando o produto turístico ou marca comercial Hostel, como forma estratégica ao desenvolvimento do espaço rural.

Não sendo a reconversão de usos um método de reabilitação comum, devido ao facto

de se tratar de uma operação complexa, e considerada a forma mais paradoxal, audaciosa e difícil de valorização patrimonial, encontrou-se na arquitectura popular minhota, um exemplo que desempenha na reabilitação do património, decisivas estratégias na recuperação de edifícios históricos nacionais que se encontravam expostos às injúrias do tempo, ao esquecimento, chegando a encontrar-se no estado de ruína.

Neste sentido, a metodologia aplicada, recorre a uma análise realizada na sequência

do programa “Aldeias de Portugal”, que tem como objectivo, reforçar a oferta de produtos e serviços complementares, ligados a uma experiencia turística em contacto com o mundo rural. Procuramos na Branda da Aveleira, aldeia pertencente ao programa “Aldeias de Portugal”, um exemplo prático no que diz respeito ao desenvolvimento do turismo de aldeia, quer pela temática do desenvolvimento de alojamento de todo um conjunto, como na reabilitação fiel de algumas das construções.

Valorizando a arquitectura vernácula ou popular da região Norte do país, houve a

necessidade de nos guiarmos por alguns exemplos práticos, em que a reinterpretação de novos modelos preserva a absoluta fidelidade com as pré-existências, utilizando os materiais provenientes do local, anteriormente ligados directamente a uma economia agro-pastoril,

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agora convertidos a habitação ou a simples abrigos de montanha. Já em relação à temática de alojamento em áreas de montanha, a pesquisa de exemplos estratégicos, no que diz respeito à escala, funcionalidade dos espaços comuns e de habitar, contribuíram para a exploração de um programa simples, em que a utilização da madeira nos espaços interiores assume a sua relevância, tanto a nível estético como a nível estrutural. Dentro da mesma lógica, houve também a necessidade de estudar um caso prático de um hostel, sendo este estruturado em áreas específicas, determinando a organização do programa, onde os espaços habitáveis resultam de uma variada tipologia de quartos partilhados, estimulando o sentido de comunidade entre os utilizadores. Estado da arte

No geral, o panorama do desenvolvimento rural, no que diz respeito às especificidades

dos ambientes de montanha em Portugal, autores como Paulo Carvalho e Júlia Correia foram de algum modo importantes. Abordam nas suas obras académicas, a importância que os espaços de montanha podem vir a ter com a valorização de políticas de componente territorial, onde novas matrizes conceptuais, em especial a abordagem estratégica territorial e o ordenamento do território, abrem novos caminhos para a coordenação e uma maior eficácia das intervenções. Sublinham o compromisso que as áreas rurais têm com novas funções e utilizações dependentes da sociedade urbana, onde o turismo e o património construído e não construído, assumem grande expressão como alavancas no desenho de vias alternativas ou complementares de desenvolvimento rural.

No âmbito do turismo e do património, a matriz empírica da nossa investigação

relaciona-se com a redescoberta da montanha, onde a valorização das actividades ligadas ao meio ambiente e a crescente utilização do tempo livre por parte dos turistas, (segundo dados estatísticos do INE e do Turismo de Portugal I.P), têm aumentado significativamente.

Este fenómeno, onde a sociedade contemporânea começa a se interessar por um


turismo menos massificado, faz com que novas estratégias de alojamento se proporcionem. Com base na nossa estratégia, ao adoptar um empreendimento intitulado low-cost em espaço de montanha (hostel), entidades como a Hostelling Internacional (HI) foram determinantes para a compreenção destes empreendimentos ao longo da história.

Contudo, e de forma menos abrangente, focando-nos-nos no território e na paisagem

rural do Norte de Portugal, onde as formas de vida e consequentemente da arquitectura foram desde muito cedo influenciadas por uma economia agro-pastoril, encontramos vestígios que deixam supor a florescência de culturas quase nativas, dando inicio ao processo de alteração, manipulação e degradação do espaço natural. Na realidade, com base em várias obras, como é o caso do inquérito à Arquitectura Popular em Portugal, da Associação dos Arquitectos Portugueses, conseguimos de uma forma cronológica compreender os factores sociais, físicos e económicos que o território serrano enfrentou durante séculos, permitindo entender o vasto espólio de construções encontrados nesta secção Ibérica. Já as características arquitectónicas destas construções vernáculas, apoiadas por obras como a Arquitectura Tradicional Portuguesa de Oliveira e Galhano, bem como na Arquitectura Popular Portuguesa de Mário Moutinho, foram determinantes para compreender as especificidades da arquitectura local serrana, aliada ao carácter estruturante das formas de apropriação do território, das formas de vida e do seu habitat em tempos anteriores.

Com base no projecto de intervenção, localizado na freguesia de Castro Laboreiro

(território pertencente ao PNPG e ao concelho de Melgaço), as obras Castro Laboreiro povoamento e organização de um povo serrano da autoria de Alexandra Lima e a obra Brandas e Inverneiras particularidades do sistema agro-pastoril castrejo da autoria de Alice Geraldes, constituíram importantes referências, uma vez que reúnem uma série de informação não só articulada ao sistema de transumância como também às especificidades da arquitectura local.

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Considerando o património construído como um conjunto de sobreposições de

camadas e fases de construção, o tema da reabilitação e da reconversão de usos resulta como instrumento para assegurar a manutenção da memória. A nível teórico, encontrou-se na obra Arquitectura Popular em Galicia: Razón y construción de Pedro Llano possíveis caminhos ou interpretações coerentes de como é que podemos reabilitar no património arquitectónico popular de uma forma equilibrada e harmoniosa. Já os exemplos práticos, que reúnem obras da autoria de José Gigante constituem um exemplo de estratégias bem-sucedidas, onde a reinterpretação de novos modelos preservam a absoluta fidelidade do lugar, constituindo assim a sua essência e a memória do lugar. Estrutura da dissertação

O presente trabalho de um modo informal está organizado em quatro partes,

(introdução, enquadramento teórico, projecto de intervenção e conclusão) que por sua vez, articulam um total de cinco capítulos.

O capítulo inicial enfatiza a problemática do desenvolvimento rural, nomeadamente

nas especificidades dos ambientes de montanha, desde a sua génese, à sua paisagem no Norte do território Português (formas de vida e arquitectura), onde a problemática da desertificação dos espaços rurais (fenómenos migratórios no século XX e XXI) passa a ser um tema prioritário nas políticas europeias de desenvolvimento rural em Portugal.

O segundo capítulo apresenta o turismo e arquitectura como estratégias ao

desenvolvimento rural. Analisamos a importância do turismo e do património (natural, cultural e arquitectónico) como alavancas do desenho de vias alternativas ou complementares para o desenvolvimento rural e para as áreas de montanha em especial, em que o tema da reabilitação e da reutilização de usos é vista como o alicerce da actividade turística sustentável.

O terceiro capítulo marca a transição da componente teórica da nossa investigação


(através dos casos de estudo) para a proposta da estratégia (projecto de intervenção). Abordamos intervenções arquitectónicas em lugares esquecidos através do caso prático da Branda da Aveleira, integrada no programa “Aldeias de Portugal”. Recorremos a exemplos práticos de reabilitação e de reconversão de usos no espaço rural, onde exploramos os novos materiais e as novas soluções construtivas. Por último, analisamos exemplos de programas de alojamento em espaço de montanha, nomeadamente, um exemplo de um Hostel em espaço rural.

No quarto capítulo, fazemos uma abordagem histórica e uma análise territorial de

Castro Laboreiro, desde a sua caracterização física à contextualização socioeconómica. Desenvolve-se as especificidades da arquitectura local através da intervenção do homem na paisagem onde a ocupação do povoamento e do seu habitat está estritamente relacionado com o sistema de transumância praticado por estas populações serranas.

No quinto capítulo, como o intuito de responder (analisando a participação e

percepção local dos processos de mudanças relacionados com a arquitectura popular) à problemática da desertificação dos espaços rurais de montanha, optamos por uma estratégia inovadora e económica, com capacidade para alojar grupos de pessoas de várias faixas etárias, proporcionando o sentido de comunidade, ligando as actividades de animação turística (turismo de natureza) a um empreendimento (alternativo e intitulado low-cost), denominado, Hostel de montanha.

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CAPÍTULO I A problemática do desenvolvimento rural: Evolução e perspectivas



1. Os ambientes de montanha e as suas especificidades

Os ambientes de montanha, no quadro da problemática geral do desenvolvimento

rural, apresentam especificidades que justificam uma análise particular no sentido de expandir e de explicitar as suas dinâmicas recentes e a importância estratégica do planeamento no desenho e implementação de novos caminhos para o seu desenvolvimento local.

Como assinala Carvalho “cerca de um décimo da população mundial vive em áreas de

montanha e (…) mais de dois milhões de pessoas dependem das montanhas para a obtenção de recursos alimentares, energia hidráulica, madeira, minerais”(1). As estimativas sobre as áreas de montanha ao nível mundial “variam entre 1/4 e 1/5 da superfície terrestre e estre largo intervalo prende-se a diferentes critérios de delimitação geográfica, como por exemplo a distinção entre montes e montanhas, ou a inclusão, ou não, dos grandes planaltos(2).

As montanhas representam 40% da superfície total do território da União Europeia,

no qual se repartem mais de 30 milhões de habitantes que configuram um grande potencial de recursos vitais para a população, para a geoeconomia local e também para a população urbana e as actividades de lazer e turismo.

A relevância dos valores ambientais e patrimoniais das montanhas e a sua crescente

valorização social é assinalada por diversos autores, nomeadamente Molina para quem a montanha representa a natureza por excelência: as condições de vida e do meio particularmente rudes e as dificuldades de penetração favorecem a manutenção de certos equilibrios ecológicos das suas paisagens, de tradições no habitat e o modo de vida que representam um imenso capital de natureza viva, de ar e água puros, de solidão. A preservação desses valores, é uma tarefa inadiável, tanto mais que a montanha representa o antídoto da sociedade moderna, da sociedade urbana(3). (1) CARVALHO, P. - Património cultural e trajectórias de desenvolvimento em áreas de montanha. O exemplo da Serra da Lousã. p.187. (2) GRAÇA, L. - Montanha: prioridades e políticas. op.cit. In PORTELA, J. e CALDAS, J. C, p.374. (3) cf. MOLINA, C. M. - “Tradición, renovación e innovación en los usos y aprovechamientos de las áreas rurales de montaña”, pp.9-16.

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32 Fig.2

Utilização da energia eólica Aldeia StºAntónio Vale de Poldros Monção

Fig.3

Exemplo de uma aldeia de montanha Vila de Castro Laboreiro Melgaço

Fig.4

Vale formado pelo rio Laboreiro Castro Laboreiro Melgaço


As imagens e representações frequentemente associadas às montanhas resultam

sobretudo das suas próprias limitações, na maior parte das vezes, territórios hostis, difíceis e desfavorecidos, especificidades que a então CEE reconheceu, em meados dos anos 70, quando lançou as primeiras normativas para combater essa problemática.

Estas fragilidades estão relacionadas com o desaparecimento das actividades regulares

e do próprio homem. A rutura deste equilíbrio provocou uma reacção em cadeia. Nas últimas décadas o abandono levou a sérios riscos naturais e demográficos em que a ausência de monotorização dos impactes é hoje uma grande preocupação(4). As maiores preocupações atuais prendem-se com o ordenamento e o desenvolvimento sustentado das montanhas e das suas populações, também na perspectiva do reconhecimento das diferentes funções de interesse colectivo relacionadas com a utilização dos seus diversos recursos(5)(figura 2).

Em Portugal, a montanha reflecte formas próprias de apropriação e de utilização

em função de factores diversos, na génese de uma evolução complexa, que nos últimos anos permite conjugar novas vocações e aproveitamentos, particularmente no contexto das actividades económicas, sociais e territoriais distintas(6). A montanha em Portugal, até meados do século passado, é sinónimo de espaço isolado, inóspito e repulsivo, situação que resulta em simultâneo, do papel secundário atribuído às regiões montanhosas nas políticas territoriais(7) (figura 3 e 4). Posteriormente, a montanha reflecte a crise das actividades tradicionais no que toca à agricultura, pastorícia e exploração florestal, já que os movimentos migratórios externos e internos afectaram a maioria da população, com particular intensidade entre os anos 1940 e 1980. (4) cf. CARVALHO, P. p.187. (5) cf. CARVALHO, P. e CORREIA, J. - Turistificação, patrimonialização e dinâmicas territoriais em contexto rural de montanha: o exemplo do Piódão”, p.15. (6) cf. FERNANDES, G. - Dinâmicas territoriais e políticas de ordenamento em espaços de montanha: o sector oeste da Cordilheira Central Ibérica”, p.83. (7) op.cit. CARVALHO, P. e CORREIA, J., p.15.

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As montanhas em sentido geral transformam-se em espaços fragilizados, despovoados,

desertificados, vazios, apagados e envelhecidos. Uma parte significativa dos lugares de montanha atingiu os valores demográficos máximos entre 1911 e1940. De tal forma, que é frequente identificar situações de intenso e continuado declínio demográfico, expressas em indicadores actuais de população residente que reflectem níveis muito inferiores em relação ao referido registo anterior, assim como lugares abandonados e desertos, e outros recuperados, no âmbito da residência secundária mas sem que isso signifique população residente.

O declínio do povoamento e das actividades económicas nas montanhas acompanha

a crise do sistema rural que se generaliza no país. Esta manifesta-se no desaparecimento de modos de vida e formas de ocupação e organização espacial seculares, através das quais se manifestam relações harmoniosas entre a sociedade e o território ao longo do tempo. Factores externos como a florestação estatal dos baldios serranos e a construção de aproveitamentos hidroeléctricos, entre outros, contribuíram também para alterar uma situação de um certo equilíbrio ecológico(8).

Contudo, as últimas décadas reflectem importantes mutações no discurso, nas

políticas e na imagem das áreas montanhosas. A montanha faz parte de um enquadramento produtivo e recreativo associando uma imagem renovada a uma importante marca na evolução do perfil territorial, sendo que estes são indissociáveis da emergência de um novo sistema social de valores e de práticas turísticas e recreativas. Normalmente os recursos mais valorizados socialmente afastam-se dos valores produtivos, embora se conheça o papel dessa dualidade na manutenção da paisagem rural e a importância estratégica dos recursos florestais , minerais, hídricos e eólicos(9). (8) cf. CARVALHO, P. – Questionando as trajectórias e as perspectivas de desenvolvimento das áreas de montanha em Portugal – entre marginalização e integração territorial. pp. 935-946. (9) Idem. ibidem.


Presentemente as populações urbanas procuram a montanha para recriarem refúgios

que ocupam de forma permanente ou utilizam no âmbito de lazer (residência secundária, turismo, entre outros). A paisagem, pouco artificializada pelo homem, é de forma crescente sinónimo de reserva ambiental, patrimonial e de grande qualidade estética e visual.

Esta ideia de transição funcional dos espaços de montanha articula-se com a

valorização dos recursos eco-culturais e a utilização crescente do tempo livre. A descoberta dos encantos de meio rural, e em particular da montanha, e o culto urbano de uma certa ruralidade, no âmbito de lazeres turísticos, sugere também algumas preocupações no que diz respeito às políticas e instrumentos de desenvolvimento para estes espaços. Tal como lembra Messener, “(...) o que interessa é assegurar a continuidade das montanhas como espaços da vida diversificados, qualificados e sustentados”(10). Por outras palavras, é essencial assegurar a continuidade de actividades económicas, mediante práticas sustentáveis, no sentido de manter valores mínimos de população residente preservando e valorizando ao mesmo tempo os recursos naturais e culturais de cada região montanhosa.

Desta forma, o risco e a vulnerabilidade associados às áreas de montanha, quer

devido às alterações climáticas, quer devido às mudanças sociais e económicas do tempo presente(11), a modificação dos tipos e padrões de uso da montanha e a sua paisagem, exigem a definição e a articulação de políticas e instrumentos orientados para o uso diversificado e para a participação comprometida dos poucos habitantes locais.

As orientações políticas da EU procuram, sobretudo, compensar as dificuldades

naturais através da agricultura e da valorização de um número reduzido de recursos e actividades ligadas ao desporto de natureza. (10) cf. MESSNER, R. - El decálogo de la montañas (In http://desnivel.com/cultura/ecologia/el-decalogo-de-las-montanas consulta a 4 de Março 2013, 03:13). (11) SERAFIM, M. – Contributo do LEADER+ para as áreas de montanha, p.3.

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A crescente valorização política da componente territorial e dos mecanismos da

cooperação e trabalho em rede traduz um aumento do número de propostas conceptuais e de acções de reconhecimento das especificidades dos territórios montanhosos.

A preocupação de integrar as montanhas nas políticas comunitárias e sobretudo

a necessidade de uma política europeia de montanha, alargando a política de coesão e aprofundando a política regional a favor dos territórios específicos, nos quais se incluem as montanhas, assume grande significado na conjuntura actual da EU.

Em Portugal, ao contrário de outros países europeus, não existe uma política específica

para as áreas de montanha. Se podemos identificar algumas intervenções sectoriais é também inevitável reconhecer as suas fragilidades e desarticulações(12).

Com efeito, diversas políticas tiveram incidência nas áreas de montanha, embora

poucas tenham sido estruturadas em função da especificidade, da diversidade das montanhas e da inclusão das populações locais. A política económica do Estado Novo, antes de 1974, não conseguiu criar condições de oferta nestas áreas, nem continuidade e vinculação do mercado de trabalho local, designadamente os aproveitamentos hidroeléctricos e a florestação estatal dos baldios serranos que provocou um acentuado declínio demográfico nestas áreas rurais.

Perante tais factos, é necessário sublinhar medidas como a criação da rede nacional

de áreas protegidas e diversas iniciativas relacionadas as políticas agrícola e regional da EU.

Em primeiro lugar, a classificação de áreas com especial valor natural e cultural,

acompanhando as tendências e os compromissos internacionais assumidos pelo Estado, arrancou de forma decisiva no início dos anos 70, como aconteceu, por exemplo, com a classificação do Parque Nacional Peneda-Gerês e de outros sítios categorizados de parque nacional, parque natural, reserva natural, área de paisagem protegida e monumento natural.

(12) cf. CARVALHO, P. e CORREIA, J., p.15.


A actual estrutura das áreas protegidas é constituída por mais de 700 mil hectares,

distribuídos pelo continente e ilhas, o que representa 20% do território nacional. As áreas de montanha, parte importante desta rede dos parques nacionais e naturais, cerca de 2/3, correspondem também a 75% da área protegida, integralmente zona serranas, ou seja, a espaços que pelo menos no contexto regional, deverão ser encarados como espaços de montanha(13). Contudo, a escassez de recursos económicos e humanos, as dificuldades orçamentais e o atraso no que diz respeito aos processos de elaboração e aprovação dos intrumentos de gestão territorial específicos para estas áreas (p.e. planos de ordenamento nas áreas protegidas), entre outros factores, nomeadamente de natureza política, têm comprometido de forma evidente a capacidade de acção e a progressão dos objectivos fundamentais desta importante rede territorial.

Uma segunda situação prende-se com diversas iniciativas de promoção do

desenvolvimento local e do potencial endógeno, como por exemplo o PIC LEADER(14) além de algumas intervenções no âmbito dos programas operacionais regionais.

Por último, importa referir que o quadro do ordenamento do território integra ainda

os instrumentos de gestão territorial da responsabilidade directa dos municípios, embora estes apontem de forma esmagadora para uma incidência de planeamento (essencialmente regulação do uso do solo). Todas estas novas matrizes conceptuais, em especial a abordagem estratégica territorial, abrem novos caminhos para a coordenação, a cooperação e a maior eficácia das intervenções.

(13) cf. CUNHA, L. S. - A montanha do centro português: espaço de refúgio, território marginal e recurso para o desenvolvimento local. p.185. (14) Trata-se de uma Iniciativa Comunitária P ­ IC LEADER, lançada no início da década de 90 face à crise nos sectores tradicionais (agricultura e pequena indústria local), o êxodo rural e o envelhecimento da população e a necessidade de incentivar os actores locais, públicos e privados a conceber, aplicar e difundir novas vias de desenvolvimento nos territórios rurais. ( In http://www.draplvt.min-agricultura.pt Consulta a 5 de Março 2013, 14:45).

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Em síntese, importa sublinhar que os espaços de montanha apresentam características

e indicadores alinhados com o sentido das trajectórias do mundo rural, e até podem reforçar de modo significativo as suas especificidades e problemas estruturais.

O crescente reconhecimento, a diversos níveis, da sua importância para o

desenvolvimento territorial, social, económico e ambiental, faz do ordenamento e da gestão temáticas de grande actualidade e relevância científica e social.

Como assinala Carvalho & Correia, “As maiores preocupações e encargos mais

urgentes associam-se às paisagens em rápida mutação, como são as áreas de maior abandono, ou aqueles onde a actividade recreativa e turística, dispersa e descontrolada, ameaça alterar radicalmente as funções desses espaços, e com eles, a paisagem”(15).

Os espaços rurais europeus, nomeadamente o território português, aparece cada vez

mais comprometido com novas funções e utilizações dependentes da sociedade urbana. Nesta atmosfera de mudança, o turismo e o património construído e não construído assumem grande expressão como alavancas no desenho de vias alternativas ou complementares de desenvolvimento rural.

(15) op.cit. CARVALHO, P. e CORREIA, J., p.15.


2. A paisagem rural: Formas de vida e arquitectura “Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória”. José Saramago

A paisagem é um sistema dinâmico em constante alteração reflectindo a interacção

entre a sua componente ecológica e a actividade humana. Falar de paisagem é portanto falar de natureza e de cultura. A importância da evolução das actividades agrícola e pastoril na construção da paisagem, nomeadamente do Norte de Portugal, aliada ao carácter estruturante das formas de apropriação do território, das formas de vida e do habitat, constituem os pressupostos do presente subcapítulo.

No decurso de milhares de anos, a paisagem rural, nomeadamente a paisagem de

montanha, esteve sempre associada à geografia física e condicionada às populações que habitam no Noroeste do território Português. É uma paisagem que tem sofrido sucessivas transformações humanas e físicas nas últimas décadas.

Como assinala António Menéres, “No decurso do século XX assistiu-se a uma

profunda transformação no equilíbrio socioeconómico das suas populações provocado, quer pela emigração da população jovem cujos braços sempre necessários para uma agricultura minimamente rentável, quer pela evolução verificada no uso indiscriminado (frequentes vezes destruindo os melhores solos de aptidão agrícola) criando, por uma implantação indiscriminada, uma outra imagem apenas virada para os interesses de ocasião.”(16)

A verdade é que as grandes transformações da paisagem remontam à chegada

à Península Ibérica dos primeiros povos neolíticos, que iniciaram então um processo de alteração, manipulação e degradação do espaço natural. A consolidação do sistema agropastoril, a sedentarização associada à transumância pastoril e a gestão da floresta estiveram desde sempre associadas aos avanços e recuos das áreas agrícolas, e consequentemente das áreas de montanha(17).

(16) MENÉRES, A. - Das arquitecturas populares no Norte de Portugal até à “modernidade” em Guimarães, p.18. (17) cf. LOPES, A. - Transformações na paisagem rural do Norte de Portugal, p.1.

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40 Fig.5 Arquitectura funerária da cultura megalítica Anta do Batateiro Castro Laboreiro

Fig.6

Aglomerado da cultura Castreja Citânia de Briteiros Guimarães

Fig.7 Ponte romana da Assureira Castro Laboreiro Melgaço


A sofisticação da actividade agrícola através da evolução das técnicas de drenagem e

regadio das terras permitiu a implantação gradual dos aglomerados em cotas menos elevadas. De acordo com Aguiar e Pinto, a proliferação de agregados humanos entre o vale e o planalto no Noroeste de Portugal, no final do neolítico, poderá estar relacionada com a pastorícia em regime de transumância entre o vale e a montanha encontrando portanto as primeiras marcas construtivas desta civilização(18).

Nos aspectos da natureza e nas obras humanas, o granito é um traço essencial da

paisagem de maior extensão do Norte do País. Segundo uma fórmula em voga, se existe uma “civilização de granito” é este um dos lugares do globo onde ela toma uma expressão mais completa. Um dos traços mais impressionantes é certamente a mestria na construção de granito. Nas casas, nos muros, nos suportes, nos monumentos, a pedra constitui sempre o principal material de construção(19). Como assinala Orlando Ribeiro, “(...) é portanto no granito que se devem procurar as expressões mais perfeitas ou mais ousadas, de uma arquitectura popular de pedra.”(20)

No planalto no Noroeste do território português, desenvolveram-se sucessivamente

duas grandes culturas que atingiram um grau elevado de civilização: a cultura dolménica, que deixou vestígios de uma arquitectura funerária, como por exemplo os dólmenes e as antas (Figura 5) e a cultura castreja que teria nos altos pontos montanhosos a sua área de expansão, nomeadamente os castros (figura 6). Com a distribuição dos monumentos megalíticos existentes, ou presumíveis pela toponímia local perdurável até aos nossos dias, e socorrendo-nos do mesmo método para determinar a difusão das povoações castrejas, temos como evidente, segundo Amorim Girão, “(...) a predominante ocupação do solo nesta zona em contraste com outras partes do país.”(21) (18) cf. AGUIAR, C. & PINTO, B - Paleo-história e história antiga das florestas de Portugal continental - até à Idade Média, pp.43-45. (19) RIBEIRO, Orlando – Geografia e civilização: temas portugueses, p.15. (20) Idem, Ibidem. (21) GIRÃO,A. In Associação dos Arquitectos Portugueses - Arquitectura Popular em Portugal, p.17.

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“As muralhas e casas de pedra dos castros mostram a permanência de um habitat

desde o Neolítico pleno até aos tempos históricos. Mas a civilização castreja, que utiliza indiferentemente a pedra do local onde se implantam os seus povoados, testemunha uma forma de construir diferente da civilização megalítica, anterior ou talvez ainda contemporânea do seu início. Como escrevi noutro lugar, “aparece pela primeira vez, na fachada atlântica da Península, o emprego da pedra em larga escala, que será um dos elementos mais importantes e permanentes da fisionomia cultural da região. Seria assim do maior alcance procurar a sobrevivência desta primeira “civilização do granito” nas construções actuais, uma vez que muitos lugarejos da montanha do Norte do País mantêm as suas remotas raízes castrejas, tanto na escolha do sítio como em pormenores da construção (aparelho de pedra solta, casas com elementos redondos, cobertura de colmo e lousa), em traços arcaicos da sua economia (agricultura itinerante, pastoreio extensivo, importância da castanha na alimentação humana), na organização social comunitária. O carácter entranhadamente conservador do ambiente serrano seria assim reforçado pelo exemplo mais antigo que parece possível encontrar-se.”(22) Orlando Ribeiro

(22) op.cit. RIBEIRO, O., pp. 22-23.


Na realidade, vários autores revelam para esta secção Ibéria, para além da importância

demográfica que tais vestígios deixam supor, a florescência de culturas quase nativas, cujas suas construções ocupam sistematicamente grande número dos cumes da montanha ou outros acidentes naturais propícios à defesa(23).

A organização destes povos assenta num traçado simples: arruamentos arcaicos

emparedados que davam acesso às muralhas das villas e às habitações, dispostas livremente em grupos, o que faz supor uma organização social marcadamente patriarcal(24). A planta mais típica das construções é redonda com alpendre adossado, embora existam numerosas soluções rectangulares mais complexas. A construção e as dimensões deixam adivinhar uma existência rude destes habitantes, vivendo da pastorícia e da agricultura incipiente.

É com a ocupação romana que se iniciam historicamente as bases de uma civilização

profunda e activa nos seus aspectos sociais e políticos, económicos e administrativos. Submetida ao seu poder, depois de prolongadas lutas, laçam-se sistematicamente na exploração da terra, do subsolo e dos povos. Em regimes diversos, consoante a resistência, constroem estradas e pontes (figura 7) ligando as novas províncias ao mundo então submetido ao poder de Roma(25).

A civilização romana estabeleceu-se no território durante mais de dois séculos, sendo

o período durante o qual foram introduzidas das mais significativas mudanças no que diz respeito ao desenvolvimento da agricultura e consequentemente, da arquitectura. Dá-se a substituição da casa de planta circular, própria de uma cultura pastoril que dominava a paisagem castreja nortenha, pela casa de planta rectangular, com maiores possibilidades de desenvolvimento, e por isso mais ajustada à economia do tipo sobretudo agrícola(26). (23) cf.Associação dos arquitectos Portugueses - Arquitectura Popular em Portugal, p.17. (24) Idem, Ibidem. (25) Idem, Ibidem. (26) cf. OLIVEIRA, E. & GALHANO, F. – Arquitectura Tradicional Portuguesa, p.367.

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Embora o processo de colonização romana tenha sido relativamente rápido em todo

o território Sul, no Norte a resistência foi maior devido ao facto da capacidade defensiva dos povos pré-romanos ser favorecida por uma morfologia do terreno acidentada e irregular (27). Ainda assim, a subjugação acabou por acontecer obrigando as populações a deslocarem-se das zonas altas, abandonando os castros, para perto das cidades, tendo, no entanto alguns núcleos populacionais permanecido na Montanha, onde persistiam os sistemas e práticas agro-pastoris típicos das zonas serranas, permanecendo aí o espírito Celta, livre e comunitário(28).

O sucesso da civilização romana, graças a um poder central excepcionalmente bem

organizado e à custa do trabalho forçado das populações submetidas à escravidão, reflectiu-se na realização de inúmeras construções de grande escala por todo o império, nomeadamente no âmbito da captação e transporte de água, dos sistemas de rega e da rede viária. A área agrícola aumentou, tendo sido introduzidas novas variedades das plantas cultivadas (e.g. trigo túrgido, centeio), bem como a vinha e o olival, para exportação de vinho e azeite para a Metrópole(29).

A introdução destas inovações agrícolas reflectiu-se numa utilização mais intensiva

da terra, encurtando e complexificando as rotações de culturas, levando a uma eficiente sistematização da paisagem: o «domus» com a casa, o «hortus», de terreno mais fértil e irrigado onde eram cultivadas hortícolas, o «ager» com as forragens de Primavera e Verão e culturas de trigo ou centeio, o «saltus» com os pastos e gado fornecedor de energia de trabalho, alimento e estrume e a «silva» com a mata, na qual o fogo desempenhava uma importante função nas arroteias e produção de cinzas para adubação.

As invasões germânicas, que puseram termo ao Império Romano trouxeram consigo

alterações na Paisagem. É sabido que durante a ocupação árabe do território lusitano, entre (27) cf. CALDAS, E. de C. - Paisagem e Agricultura. Em Paisagem, p.136. (28) cf. CALDAS, E. de C. - A Agricultura Portuguesa através dos tempos, p.653. (29) Idem, ibidem.


711 e 716, apenas tiveram representatividade no Sul, tendo o Norte do país permanecido principalmente sob influência senhorial cristã. Segundo Aguiar, verificou-se mesmo o abandono dos vales e a recuperação dos antigos castros da Idade do Ferro, acompanhado de uma recuperação dos bosques nas montanhas(30).

A Reconquista Cristã veio permitir uma reorganização do espaço, a intensificação

agrícola e o consequente recuo da floresta, impulsionando o povoamento do território e o aumento demográfico. A consolidação do regime senhorial medieval, promovida pela distribuição da presúria da Reconquista por personalidades militares e religiosas, reconhecidas pelo Rei sob a forma de “honras” da nobreza, “coutos” do clero, ou “concelhos”, senhorios colectivos(31), permitiu o estabelecimento de um sistema de suporte agrário baseado na propriedade fundiária, no qual assentou a estrutura da paisagem agrícola e florestal portuguesa durante mais de seiscentos anos, extinto, apenas no século XIX, pela Revolução Liberal.

Os terrenos comunitários comuns nesta época, desempenhavam, por isso, um

papel importantíssimo na subsistência das populações, principalmente daquelas que não tinham possibilidade de obter aforamento de terras. As zonas baldias de logradouro comum situavam-se geralmente no termo das povoações, depois das áreas de cultivo e constituíam áreas que, para além de assegurar o pastoreio do gado, forneciam madeira para lenha e construção, matos e carumas para estrumação, essencial na fertilização do solo cultivado, e constituíam um complemento ao que se obtinha da exploração arrendada(32). O livre acesso a estes territórios integrava-se num sistema comunitário mais vasto, baseado na partilha de estruturas de utilização pública, como os moinhos, as eiras, os fornos, a forja ou o lagar, e em formas de organização e cooperação no trabalho agrícola e pastoril, nas quais a gestão da utilização do solo e aproveitamento dos recursos naturais eram decididas por um Conselho. (30) cf. AGUIAR, C. & PINTO, B., pp.46-49. (31) cf. CALDAS, E. de C.,- A Agricultura Portuguesa através dos tempos, p.653. (32) BAPTISTA, F.O.,- O Espaço Rural. Declínio da Agricultura, p.213.

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46 Fig.8 A eira dos espigueiros Eira do penedo,Soajo Arcos de Valdevez

Fig.9 Abrigo de montanha - Cardenha Stº António Vale de poldros Monção

Fig.10 Moinho de água Rio Laboreiro Melgaço


As formas de organização social nas áreas de montanha, permitiram o desenvolvimento

de mecanismos de solidariedade que constituem em si mesmos, a base de subsistência, e em certa medida de hierarquização destes povos serranos, face a uma realidade económica e social muito distinta em que a actividade comercial é limitada e os centros urbanos inacessíveis.

A consolidação das tipologias tradicionais da paisagem, assentes num princípio de

sustentabilidade, fundamentou-se na conjugação de dois factores produtivos: o pastoreio de gado e a exploração agrícola. O povoamento organizou-se com base em múltiplos núcleos e concentrado em pequenas e médias dimensões, dispersos pelo território, geralmente compostos por conjuntos de construções que servem de base à exploração agrícola familiar. Os aglomerados, normalmente constituídos por pequenos grupos de habitações agarradas aos flancos das serras ou implantadas no cimo dos montes, constituem um desenvolvimento circular ou linear, dependendo dos casos.

De uma forma geral, podemos considerar que todos os elementos estruturantes dos

espaços de montanha, apresentam características idênticas. As ruas, normalmente estreitas e por vezes talhadas directamente nas rochas que formam o solo, dão acesso às habitações e aos currais, são regularmente percorridas pelo gado, a caminho ou em redor das pastagens; as construções de planta rectangular com muros de pedra solta emparelhada contêm poucas aberturas onde as coberturas geralmente são de duas águas em telha caleira ou em colmo(33).

Na região Norte, nomeadamente nas áreas de montanha, existe uma grande variedade

de construções não directamente ligadas à função de habitação, mas orientadas para a execução de um certo número de tarefas de produção, como são exemplos, os espigueiros (figura 8), sequeiros, eiras, abrigos (figura 9), moinhos (figura 10) e azenhas(33). (33) cf. MOUTINHO, M., – Arquitectura Popular Portuguesa, pp.37-43. (34) Idem, ibidem.

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48 Fig.11 Habitação - Casa Serrana Inverneira de Pontes Castro Laboreiro,

Fig.12 Forno comunitário Inverneira de Pontes Castro Laboreiro

Fig.13 Aglomerado de uma aldeia Inverneira de Pontes Castro Laboreiro


Quanto ao habitat e outras construções, a região oferece pouca variedade cromática

e material. Com efeito, as caiações resumem-se às guarnições das portas e aos abrigos da entrada que por vezes são pintados a branco. As cores dominantes são as do granito ou da lousa, como vimos, são os principais materiais de construção utilizados (figura 11).

Importa referir que nas zonas serranas do Noroeste, embora a vida rural apresente

certas características ligadas à agricultura das terras baixas, nomeadamente o cultivo do milho que constitui a base da alimentação e da economia geral, a vida social das populações toma novas formas sob a influência da geografia e da história, peculiares a esse tipo de paisagem. Como anteriormente referimos, a par da agricultura, surge uma importante actividade pastoril que se vai definindo mais vigorosamente na zona montanhosa e que marca a prevalência de noções comunitárias (figura 12)sobre o individualismo que se pratica no resto da região(35).

Traduzindo a paisagem do povoamento serrano, rigorosamente concentrado, as casas

ocupam-se em bloco compacto, contíguas e quase aglutinadas umas nas outras, a emergir da rocha natural, à face dos rudes arruamentos da aldeia reflectindo a solidariedade da acção, acima do agregado familiar que tão bem se exprime nos casais isolados das terras do vale, aqui domina «aldeia» (figura 13), onde cada família é parte. Como lembra Oliveira e Galhano, “(...) de facto, cada família é uma casa; em muitos sítios mesmo um sistema especial de morgadio, em vista ao equilíbrio dos recursos escassos, impediu a multiplicação das famílias, a sua subordinação à casa; é a casa que tem parte na «vezeira» e nas «juntas», ou «conselhos» dos vizinhos, onde se delibera sobre tudo o que interessa à vida da comunidade; a unidade da casa, representada pelo seu chefe. Desse modo, integrada na aldeia, mergulhada no tempo, a casa serrana, como expressão palpável e viva duma realidade material, histórica e social, toma toda a sua verdadeira importância e sentido mais fundo.”(36)

(35) OLIVEIRA, E. & GALHANO, F., – Arquitectura Tradicional Portuguesa, p.130. (36) Idem. p.134.

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50 Fig.14 Habitações com uma expressão rude e primitiva Inverneira de Pontes Castro Laboreiro

Fig.15 Construções feitas através dos materiais locais (granito e madeira) Inverneira de Pontes Castro Laboreiro

Fig.16 Casa Serrana Inverneira de Pontes Castro Laboreiro


A casa serrana apresenta características fundamentais da casa típica do Noroeste.

Com uma tipologia própria, estas casas conferem às aldeias serranas uma expressão rude e antiga, que se acentua pelo domínio que o terreno impõe ao conjunto do casario (figura 14). Surgem casas encostadas a enormes afloramentos de pedra, que formam parte das suas paredes, outras procuram soluções primárias que nos reportam aos tempos dos primeiros ocupantes dessas áreas, preservadas nas formas primitivas pela força arcaizante do seu isolamento. Contudo, é necessário referir, que existe este tipo de casa em regiões que hoje nada conservam esse carácter primitivo, mas que fazem parte de áreas que o foram até há pouco tempo(37).

De forma sintetizada, a habitação tradicional das distintas regiões portuguesas pode

definir-se pela utilização quase exclusiva que nela é feita dos materiais locais, aperfeiçoando-se por vezes por processos alheios a conceitos tecnicistas e que requerem apenas uma ferramenta básica elementar. Esta definição implica, só por si, uma grande diversidade regional, em função de uma correspondente diversidade paisagística. Dentro das limitações, elaboram-se, a partir de certas formas primordiais, tipos e estilos locais diferentes, determinados por razões e condições histórico-culturais e sobretudo económico-sociais próprias das várias regiões. Antes de começarem a surgir no Norte do país as consequências directas ou indirectas do desenvolvimento industrial, a pedra e a madeira continuam a ser os materiais abundantes, nomeadamente o granito na construção das casas e nos muros; e o castanho para a estrutura das coberturas e utilização das portas dos vãos (figuras 15 e 16).

A casa serrana, é uma casa de aglomerados compactos, fechada, arcaica e rude, de

pedra seca e cobertura de colmo, por vezes substituída pela telha caleira, caracteriza uma imagem selvática e bárbara como a própria serra, que traz até nós a imagem perfeita do mais remoto passado, onde parece provir directamente(38). (37) Idem, ibidem. (38) Idem. pp.361-368.

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O século XIX, marca verdadeiramente o final dos velhos quadros da Europa

com o surgimento da era industrial, expresso no desenvolvimento e expansão tecnicista, no consequente e convergente desenvolvimento dos transportes, na quantificação e racionalização da economia e da produção em massa, na renovação das técnicas comerciais publicitárias e, por outro lado, no aumento da população, na elevação geral do nível de vida, na urbanização do campo, na formação socioeconómica geral (e também uma espécie de racionalismo implícito e difuso e uma mais nítida tomada de consciência dos valores sociais em causa, decorrentes do próprio espírito tecnicista). Todas essas inovações foram parcelares, lentas e superficiais nas zonas rurais, nomeadamente nas áreas de montanha. Esse movimento acentua-se após a Segunda Guerra Mundial, onde surgem novos produtos de carácter industrial, que passam logo a ser conhecidos, difundidos e utilizados por toda a parte, e que foram concebidos com vista a tornarem-se inacessíveis a vastas camadas de população.

Até aos anos 50, o quadro rural mantinha a velha atmosfera tradicional e pouco havia

evoluído. Irreversivelmente, porque nos anos 60 há uma mudança, inicia-se um crescente movimento de emigração em massa das populações rurais de todo o país para as cidades altamente industrializadas, tema que iremos aprofundar de forma mais pormenorizada no subcapítulo seguinte, incluindo uma abordagem às origens e factores deste fenómeno.

No que se refere à casa rural, essa mutação dá-se, desde logo, nos materiais tradicionais

locais, substituídos por outros de carácter industrial ou semi-industrial e muitas vezes préfabricados. Pouco a pouco, o seu emprego sistemático prevalece desde o emigrante retornado até aos dias de hoje. O desejo de ostentação por parte do emigrante e de evolução por parte da sociedade actual, desligada dos velhos valores humanísticos, determinam formas de casas, desligadas da secular tradição local, alterando a paisagem e consequentemente, os padrões culturais e estruturas da sociedade rural.


Todos estes factores caracterizam a paisagem natural onde são frequentemente encontradas construções vernáculas parcialmente ou totalmente abandonadas devido ao êxodo rural(39).

Relativamente ao estado de abandono e de degradação de muito do nosso património

arquitectónico e cultural, a situação exige diferentes tomadas de consciência e de acção por parte daqueles que têm responsabilidades na sua recuperação, protecção e preservação da identidade do local. Justifica-se, em nosso entender, uma actuação directa sobre os núcleos rurais abandonados assim como nos bens culturais, através de intervenções pontuais ou qualificadas de levantamento, reparação, conservação, restauro, recuperação, valorização, salvaguarda e a realização de programas e de projectos distintos, quer no património móvel e integrado.

(39) Idem, ibidem.

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3. Desertificação: os fenómenos migratórios em Portugal no século XX e XXI

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A revolução industrial representou não apenas uma sucessão de transformações nos

processos produtivos graças aos efeitos da evolução tecnológica, sobretudo a partir de meados do século XVIII com a máquina a vapor e tudo o que ela permitiu, como também graças a uma evidente alteração nas estruturas sociais e na dinâmica demográfica. A utilização da máquina foi substituindo gradualmente o trabalho braçal humano, ao mesmo tempo que as actividades agrícolas foram perdendo importância económica e social. A progressiva mecanização da agricultura libertou mão-de-obra, que deste modo ficou disponível para as actividades urbanas industriais. Ao mesmo tempo a expectativa de um melhor emprego, que a agricultura não garantia nos meios rurais, e a procura de melhores condições de vida, estimularam também, nesse período, a expansão económica e urbana e consequentemente, a deslocação da população activa dos campos para as cidades industriais(40).

No âmbito das alterações conduzidas pelo progressivo desenvolvimento industrial,

assistiu-se neste período, a uma diminuição constante da população activa agrícola e do peso da agricultura na economia, ao mesmo tempo que aumentavam a industrialização e as actividades ligadas ao meio urbano. A abertura aos mercados europeus, a emigração e o abandono da actividade agrícola, articulado com a transformação dos sistemas de produção, reflectiam-se igualmente na desvalorização da terra(41).

Entre 1920 e 1940, e mais tarde graças ao forte crescimento económico e demográfico

do pós-guerra, instalou-se um modelo de desenvolvimento capitalista assente na produção e consumo massificados, na suburbanização e num contrato social largamente estabelecido. Este fenómeno, no qual a cidade da revolução industrial está implicitamente ligada ao reforço da mobilidade da população, informações, produtos, e principalmente como factor de atracção de mão-de-obra rural para os novos centros industriais, trouxe graves consequências em algumas áreas rurais do país(42). (40) cf. FADIGAS, L. – Urbanismo e Natureza: Os Desafios, p.51. (41) cf. BAPTISTA, F.O. - A agricultura e a questão da terra - do Estado Novo à Comunidade Europeia, pp.911-915 (42) cf. MARQUES, S, T. – Portugal na transição do Século: Retratos dinâmicos territoriais, p.31.


Como refere Scott, “(...) a industrialização trouxe uma reorganização maciça do

espaço interno de cada país, determinando um desenvolvimento concentrado em algumas áreas e deixando outras virtualmente intocadas.” (43)

A partir dos anos 50, principalmente na zona Norte , verificaram-se intensos processos

de industrialização e de urbanização que afectaram os sistemas tradicionais de agricultura familiar e provocaram uma série de transformações sociais na população camponesa, que, inevitavelmente se reflectiram na organização da paisagem rural. Paralelamente, acentuaramse os contrastes espaciais e consequentemente as assimetrias quanto ao peso demográfico das diferentes regiões. Assiste-se a uma concentração crescente da população nas áreas metropolitanas e também ao longo da faixa litoral do território português onde a estrutura demográfica é mais equilibrada devido ao considerável fluxo migratório das populações do meio rural para o meio urbano(44).

Na cidade, com uma densidade de população moderada, um solo inteiramente

ocupado (excepto nas áreas de montanha), uma agricultura pobre e uma indústria reduzida, a população portuguesa vive em horizontes de trabalho muito restringidos em relação aos recursos, a pressão demográfica é muito elevada e a emigração para a Europa aparece como a sua inevitável solução(45). Já os espaços rurais, que apresentam tendências demográficas negativas e desequilibradas devido aos múltiplos efeitos nas estruturas etárias causados pela migração da população e consequentemente a verificação de fortes tendências de envelhecimento, estão em crise profunda e muitos desses espaços essencialmente rurais estão em fase terminal.

A emigração de população nos anos 60 gerou preocupações alarmantes, podendo as

causas desse fenómeno ser encontradas nos desequilíbrios regionais, na decadência constante (43) SCOTT, A., - Regions and the world economy: The coming shape of Global Production, p.14. (44) DGDR/ Programa das Artes e Ofícios Tradicionais - Do Despovoamento Rural ao Desenvolvimento Local, p.24. (45) LAUTENSACH, H. RIBEIRO, O., - Geografia de Portugal, p.45.

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de uma agricultura já de si pobre, na limitada industrialização, na política de contenção salarial e no elevado grau de populacional de algumas regiões urbanas, especialmente nortenhas. É um fenómeno de tal relevância, com implicações em tantos aspectos da vida portuguesa, que deve ser também encarada em função das suas consequências, tais como, o desfalque de mão-de-obra do país, o despovoamento de campos, entre outros(46).

A combinação das reduzidas taxas de natalidade e de taxas de mortalidade crescentes,

reflexo do próprio envelhecimento e do crescimento migratório negativo externo e interno, traduziu-se na desertificação de muitos espaços e núcleos populacionais rurais. O decénio de 1981-1991 afectou de uma forma marcante a região Norte, acentuando-se a fuga da população de todas as regiões. Nos espaços que tinham sofrido uma diminuição de população entre os anos 60 e 80, é preocupante a percentagem (ainda que menos acentuada) populacional que optou por sair destes lugares nos anos 80 e 90, tanto mais que a componente estrutural das partidas atingiu na primeira fase (anos 60 e 80), sobretudo a população jovem activa que, com o tempo, foi chamando os seus familiares de todas as idades(47).

Devido a esse fenómeno, estes lugares foram envelhecendo, ficando cada vez mais

longe de tudo e de todos, apagando-se num processo que chegou em muitos casos a atingir a desertificação total, nomeadamente nas áreas de montanha.

A crise dos espaços rurais reflecte fundamentalmente, a permanência de estruturas

agrárias duplamente insuficientes, em termos de produção e de rendimento por um lado, e de ocupação da população, por outro. Há uma forte concentração da população agrícola familiar nestas áreas, mas uma reduzida percentagem de produtores a trabalhar a tempo inteiro. Inversamente, há um grande peso do número de agregados familiares, cujo rendimento provém essencialmente de fora das respetivas explorações(48). (46) cf. ROCHA , J. MARQUES – Melgaço de ontem e de Hoje, pp.167-169. (47) cf. DGDR, p.54. (48) Idem. pp.30-31.


Nesta época, o êxodo afectou significativamente a população activa agrícola, que

passou de 50% de meados do século a 25,7% em 1981 e pouco menos de 10% em 1991. As diminuições foram gerais quando apreciadas ao nível das NUT III, embora mais fortes nas regiões montanhosas no centro do Noroeste do que no sul de Portugal(49).

A população parte dos seus locais de origem na tentativa de encontrar melhores

condições de vida, abandona a terra e a estrutura produtiva, o que provoca dificuldades no consumo e na génese de novos postos de trabalho. O abandono faz reduzir a população, o que não justifica grandes investimentos em infra-estruturas básicas, o que leva por sua vez a mais partidas. A terra, por falta de mão-de-obra ou pelo aumento dos custos da mesma deixa de ser cultivada, levando ao abandono e à asfixia das estruturas produtivas ainda existentes. Todos estes factores causam um processo contagioso e imparável. Quase sem nos apercebemos as causas confundem-se com as consequências. O decréscimo populacional é contínuo, tendo-se transformado ao longo dos anos num ciclo sem fim, em que o ponto de partida e de chegada é o processo de desertificação(50). Desta forma a conservação de paisagens, lugares, sítios ou monumentos não se tem sentido indiferente à cultura, ao ambiente e à vivência das comunidades que os construíram e habitaram. São marcas da actualidade, importantes para o futuro, porém, bem presente que as formas de povoamento e valorização do espaço não são imutáveis, e que o mapa das construções rurais do passado, foi sempre a síntese de heranças mais antigas e de adaptações a sucessivos presentes(51). A protecção, preservação, conservação e reutilização do património construído, popular ou erudito, com objectivos científicos, culturais e didácticos é um factor estabilizador das identidades locais e regionais e do desenvolvimento da cultura nacional, cabendo-lhe um papel activo na vida da sociedade (simbiose entre valores estéticos e exigências materiais de cada comunidade local ou alargada)(52). (49) INE - Instituto nacional de estatística (Consulta In http://www.ine.pt 20 de Março 2013). (50) cf. DGDR, p.58. (51) Idem, pp.90-91. (52) Idem. ibidem.

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4. A incidência das políticas europeias de desenvolvimento rural em Portugal

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Percorrendo alguns documentos de enquadramento estratégico e normativo, constata-

se que o desenvolvimento rural assume-se como uma necessidade social e política, temática que tem vindo a marcar posição no quadro das políticas europeias direccionadas para as áreas rurais e Portugal não é exceção.

No contexto nacional, o reconhecimento dos espaços rurais associados à problemática

da desertificação, passam a ocupar uma reforçada posição no discurso político e nas acções desencadeadas para a prossecução dos seus objectivos, apesar de “ (...) o futuro das zonas rurais portuguesas se encontrar fortemente condicionada pela natureza dos seus problemas de desenvolvimento, e sobretudo pelas políticas sectoriais que vieram a ser definidas.”(53)

Desta forma, fizemos uma breve recapitulação das principais políticas, que foram

responsáveis no que diz respeito à elaboração de documentos estratégicos, instrumentos de planeamento e ordenamento, orientadores do desenvolvimento rural em Portugal. É importante referir, que não se pretende realizar um levantamento completo e exaustivo destas reformas, mas apenas consolidar e enquadrar algumas das políticas aplicadas no desenvolvimento do espaço rural.

No final dos anos 50, a Europa Ocidental encontrava-se devastada pela guerra. Surge

portanto umas das primeiras incidências políticas europeias em Portugal, a política agrícola comum (PAC)(54), que tinha como principais objectivos, o incentivo da produtividade assente num sistema de subsídios no sector da agricultura e a programas de promoção do desenvolvimento económico e social do mundo rural. Desde então, a PAC sofreu reformas sucessivas que permitiram o reajustamento continuado dos objectivos estratégicos europeus no que se refere à agricultura, face a um contexto mundial em permanente mudança. (53) CAVACO, C.- O mundo rural português: desafios e futuros?, pp. 135-148. (54) PAC - A política agrícola da UE - denominada política agrícola comum ou PAC - propõe-se conciliar uma produção alimentar adequada na UE, garantido, paralelamente, a viabilidade económica das comunidades rurais e contribuindo para fazer face a desafios ambientais, como as alterações climáticas, a gestão dos recursos hídricos, a bioenergia e a biodiversidade, (Consulta In http://ec.europa.eu, 21 de Março 2013, 00:14).


A Comunidade Europeia reconheceu que as dificuldades estruturais confinadas a

determinados locais, ou específicas como as regiões de montanha e outras áreas desfavorecidas não podiam ser resolvidas pelas directivas, definiu apoios complementares (programas regionais especiais e intervenções adaptadas )(55). Num contexto rural cada vez mais complexo, a Comunidade percebeu que nas regiões rurais mais ameaçadas, não bastava aplicar medidas de carácter agrícola. “Importava aqui revalorizar o potencial de desenvolvimento regional no seu conjunto, a fim de criar postos de trabalho estáveis economicamente viáveis fora do sector agrícola.”(56)

Enquanto o mundo rural e a agricultura iam invertendo as dinâmicas do passado, no

sentido da recuperação, novas preocupações surgiram influenciando de forma significante os paradigmas do seu desenvolvimento. Assim, no final dos anos 70, dá-se o Apelo de Granada, elaborado pelo conselho Europeu e que se intitulou ”A arquitectura rural no ordenamento do território”. O documento expressou as suas preocupações pela conservação da arquitectura rural e da sua paisagem, considerando que estas se encontravam ameaçadas, ora pelo abandono agrícola, ora pelo desenvolvimento industrial da agricultura, que resultava numa exploração excessiva do território. Desta forma, aquele documento veio invocar a necessidade de conservação do património arquitectónico e paisagístico rural, bem como a necessidade de articulação de actividades diversificadas, ou de integração dos valores culturais e ecológicos nas perspectivas de desenvolvimento rural e das suas comunidades (57).

Foi neste contexto de crescente referencia aos valores da paisagem, nomeadamente

da paisagem rural (cenário de desequilíbrios marcantes), que nos anos 90, a perspectiva da PAC se modificou, passando a procurar espelhar preocupações cada vez maiores quanto à sustentabilidade no sentido da agricultura e na defesa de uma política de desenvolvimento (55) cf. CARVALHO & SILVA - Os programas LEADER e o desenvolvimento rural em ambientes de montanha, p.33. (56) CE - Agricultura e Desenvolvimento Rural (Consulta In http://ec.europa.eu 27 de Março 2013, 22:45). (57) CE-PDR - Política de Desenvolvimento Rural 2007-2013 (Consulta In http://ec.europa.eu 27 de Março 2013, 00:46).

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rural que encorajava a multifuncionalidade da agricultura, a protecção dos recursos naturais e o ordenamento do território(58).

Em 1991, surge o programa LEADER (Ligações Entre Acções de Desenvolvimento

das Economias Rurais), que constitui uma iniciativa comunitária no âmbito da política europeia de desenvolvimento rural, em que apoiava a nova perspectiva de diversificação na valorização dos recursos ecológicos e culturais no espaço rural, com vista ao reforço social e económico destas áreas. A primeira etapa deste programa (LEADER I) desenvolveu-se entre 1991 e 1994, através de uma abordagem territorial integrada, mas descentralizada, que incentivou o envolvimento da população local nas tomadas de decisão no que diz respeito aos respectivos territórios, com base na partilha de informação. Em 1995, arrancou o programa LEADER II, a segunda etapa do programa, que se prolonga até 2001, que desenvolveu as redes e os movimentos associativos, de cooperação e parcerias entre actores locais do espaço rural com base no aprofundamento dos objectivos anteriores(59).

Em 2001 arranca o programa LEADER+, a terceira fase do programa, que durará

até ao final de 2013 e que procura a aplicação de estratégias integradas inovadoras de desenvolvimento sustentável que operem à escala local, mas no sentido de perpetuar estas dinâmicas e resultados num horizonte temporal mais alargado. Com efeito, os objectivos deste programa visaram incentivar a aplicação de estratégias originais de desenvolvimento sustentável, integradas e de qualidade, relacionadas com a experimentação de novas formas de valorização do património rural e cultural, no reforço do ambiente económico, no sentido de contribuir para a criação de postos de trabalho como na melhoria e capacidade organizacional das respectivas comunidades(60). (58) cf. CARNEIRO, I. – O desenvolvimento rural em Portugal: dos discursos à prática, p.19. (59) ADL - Federação portuguesa de associações de desenvolvimento local, (Consulta In http://www.minhaterra.pt/ 26 de Março 2013, 00:00). (60) Idem, Ibidem.


Após sucessivas reformas, o desenvolvimento rural em 2007, emerge como uma

importante componente específica da política de ordenamento do território, como é o caso do Programa Nacional da política de Ordenamento do Território (PNPOT). Este instrumento estruturante da política de ordenamento territorial do país “(...) reconhece a necessidade de conciliar a protecção da natureza, a conservação da paisagem e o apoio à manutenção e diversificação de actividades económicas baseadas na valorização de recursos endógenos e na melhoria de condições de vida e de atracção de pessoas, iniciativas e investimentos, ao serviço do desenvolvimento local sustentável.”(61)

Importa referir que esta estratégia é consubstanciada por um instrumento estratégico

e financeiro de apoio ao desenvolvimento rural, o Programa de Desenvolvimento Rural (PRODER), que define as orientações fundamentais para a utilização nacional do Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FEADER).

Desta forma, em resultado da “(...) diversidade estrutural dos territórios rurais

e das transformações sociais ocorridas nas últimas décadas, tem-se vindo a reforçar, nomeadamente em Portugal, a consciência de que a resposta coerente aos desafios do ordenamento dos espaços rurais, da sustentabilidade ambiental e da viabilidade económica da agricultura deve envolver uma abordagem territorial que valoriza a multifuncionalidade do sector agrícola e a diversificação das opções dos territórios (...).” (62)

(61) PNPOT - (Consulta In http://www.territorioportugal.pt/pnpot/Storage/pdfs/PNPOT_RELATORIO.pdf, 27 Março 2013 01:35). (62) Idem, Ibidem.

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CAPร TULO II O turismo e a Arquitectura no contexto do desenvolvimento rural e das รกreas de montanha



1. O turismo no início do século XXI: “O turismo alternativo”

O conceito de turismo reflecte a sociedade de cada época, e nas últimas décadas

temos assistido a profundas mudanças face ao desenvolvimento e diversificação da actividade turística do mundo actual. Neste sentido, o turismo ganha uma crescente importância económica, operando-se grandes transformações que contribuíram para a sua afirmação no mundo global, o que veio possibilitar o acesso de várias camadas da população à realização de viagens, consideradas então como uma fuga ao quotidiano(63). Este fenómeno da era moderna, particularmente do século XIX, deu-se através das importantes mudanças na Inglaterra, com o fortalecimento da burguesia industrial, o desenvolvimento tecnológico e dos transportes, a comunicação rápida e a forte urbanização das cidades.

No século XX, dá-se a expansão da atividade turística com o aparecimento de novas

organizações, empresas e serviços, voltadas para o incentivo do lazer e do turismo(64). Dá-se portanto, uma prática turística padronizada e fortemente influenciada pelas novas e avançadas tecnologias, denominada de “turismo de massas”. Esta generalização atinge o seu auge com a expressão “turismo de sol e mar”, que é entendida como sinónimo de turismo de massas, e que assentou claramente, numa padronização dos turistas, dos espaços e até das práticas, de forma a encaixarem e adequarem-se às funções turísticas que os promotores turísticos mundiais começaram a impor, como forma de potenciarem os seus lucros numa lógica de economia em grande escala(65).

Segundo diversos autores, a expansão do turismo e o seu comportamento benéfico

(ou não) tem sido encarado como um importante factor para o desenvolvimento económico e social. Com efeito, é importante referir, o papel do turismo no ordenamento do território e no desenvolvimento sustentável. Trata-se de uma questão sensível, com múltiplos aspectos a considerar, devido à falta de consideração e de consciência, praticada pelo turismo (massificado) nas últimas décadas. (63) cf. STTAFORD, J. (1995) –“Microéconomie du tourisme. Presses de L’Université du Québec”, p.5. (64) cf. BAPTISTA, M. (1997) – Turismo: competitividade sustentável, p.29. (65) cf. TORRES, M. (1998) – “Un turismo alternativo: reutilización de molinos y almazarras”, p.148.

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Nos anos 70, o congestionamento que se começou a verificar nos locais tradicionais

de turismo de massas, e na inadequação dos produtos turísticos propostos, traduziu-se numa procura de novas actividades, de novos espaços e de novos ambientes. Esboçam-se novas tendências, a partir da diversificação e segmentação dos interesses dos turistas, e surge o designado “turismo alternativo” que na opinião de Sirgado se traduz “(...) na afirmação de um novo paradigma, que podemos formular como turismo ambiental e humanamente responsável, orientado por um imaginário de simbiose turista-ambiente-comunidade de acolhimento.”(66)

Com efeito, em relação às novas atitudes dos turistas, um estudo da Organização

Mundial do Turismo, considera que “(...) os turistas são hoje mais activos que no passado. Para além disso, os interesses vão-se diversificando e segmentando, desenvolvendo um maior interesse na recreação, nos desportos de aventura, no conhecimento da história e da cultura, na natureza e na vida selvagem das áreas visitadas.”(67)

Nas últimas décadas assistimos a uma mudança no sector turístico e a uma maior

atenção a novas formas de fazer turismo. A preservação dos bens patrimoniais, a procura da qualidade e da originalidade por parte dos turistas e o progressivo interesse pela vivência de experiências de índole cultural, desportiva e ambiental sugerem o desenvolvimento ou a prática de férias activas, cada vez menos influenciadas pela oferta turística massificada, deslocando-se preferencialmente para lugares aprazíveis e com pouca densidade turística (68).

Como assinala Cavaco, “(...) estamos a assistir a uma maior atenção a novas formas de

turismo, perspectivadas numa lógica de equilíbrio e de respeito nas vertentes natural, social e psicológica (...)”(69) e desta forma, emergem novos produtos/tipologias que respondem às necessidades e ao facto de os consumidores serem cada vez mais especializados, exigentes, (66) SIRGADO, J. (1993) – Turismo nas regiões portuguesas – contributo para a modelação de um cenário de desenvolvimento e inovação para o final do século, p.77. (67) Idem, ibidem. (68) cf. SAMPAIO, F. - O Produto Turístico do Alto Minho, pp.13-14. (69) CAVACO, C. - “Do despovoamento rural ao desenvolvimento local: desafio ou utopia”, p.11.


esclarecidos e predispostos a participar nas actividades turísticas. Cresce então a oferta de produtos turísticos segmentados para esta nova demanda como o turismo rural, o turismo de natureza, o ecoturismo, o turismo étnico, ou seja, um turismo mais “alternativo”(70).

Portugal não foi excepção a este fenómeno, e a partir dos anos 80, a génese e a

evolução do turismo rural, consolida-se como destino turístico, vindo progressivamente a encontrar novos caminhos para a sua oferta.

É inquestionável a importância do turismo para a sociedade e para a economia

portuguesas. Com base em dados oficiais do INE, o número de turistas e das receitas turísticas têm aumentado permitindo que as tendências recentes do “turismo alternativo” influenciem as orientações nacionais para este sector. Desta forma, o sector turístico é apoiado por instrumentos/documentos de que é exemplo, o Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT), que “(...) define as acções para o crescimento sustentado do turismo nacional nos próximos dez anos (...)”(71), pretendendo contribuir para a criação de uma nova imagem de Portugal e das suas regiões enquanto destinos turísticos, no sentido de divulgar algo mais que o turismo de “sol e praia”.

Há portanto uma tentativa de alterar a imagem turística, através da diversificação dos

produtos turísticos, capitalizando a vocação natural de cada região, e desenvolvendo fatores de qualificação e de quantificação. No que diz respeito à estratégia de produtos turísticos, o PENT, refere que Portugal dispõe das matérias-primas, de condições climatéricas, de recursos naturais e culturais (rotas arqueológicas e de património arquitectónico e artístico), potenciadoras do desenvolvimento, consolidando os dez “produtos chave” estratégicos desenvolvidos, que são: o Turismo de Sol e Mar, circuitos turísticos (Touring) Cultural e Paisagístico, City Break, Turismo de Negócios, Turismo de Natureza, Turismo Náutico (inclui os Cruzeiros), Saúde e Bem-estar, Golfe, Resorts Integrados e Turismo Residencial, e a Gastronomia e Vinhos de forma a abranger todas as regiões do território português(72). (70) cf. SAMPAIO, F. pp.256-264. (71) Turismo de Portugal, I.P., – (PENT) (Consulta In http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/conhecimento/ planoestrategiconacionaldoturismo/Anexos/PENT_VERSAO_REVISTA_PT.pdf, 16 de Abril 2013, 00:30h). (72) Idem, ibidem.

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Relativamente aos turistas portugueses, por tipo de ambiente, é evidente o potencial

do turismo na arquitectura de destinos alternativos. Começa a evidenciar-se uma procura de novos ambientes, nomeadamente das áreas de Montanha. O campo, embora apresente valores mais reduzidos em relação à oferta de locais que praticam um turismo massificado em Portugal, conheceu nos últimos tempos um crescimento muito significativo, dispondo de uma maior oferta turística em espaço rural, em particular no número de estabelecimentos e na capacidade de alojamento na região Norte do país(73).

Apesar das diferentes perspectivas sobre o Turismo em Espaço Rural (TER), é

possível identificar um conjunto de características comuns que as várias definições abordam, nomeadamente a utilização de recursos naturais e culturais que são próprios dos territórios e das paisagens. Segundo a legislação em vigor, os empreendimentos de turismo no espaço rural são descritos como “(...) estabelecimentos que se destinam a prestar, em espaços rurais, serviços de alojamento a turistas, dispondo para o seu funcionamento de um adequado conjunto de instalações, estruturas, equipamentos e serviços complementares, tendo em vista a oferta de um produto turístico completo e diversificado no espaço rural”(74). Com efeito, o citado decreto-lei classifica os empreendimentos de Turismo em Espaço Rural, nos seguintes grupos: casas de campo, agro-turismo, hotéis rurais e o turismo de habitação(75), desde que os mesmos, “(...) se integrem nos locais onde se situam, de modo a preservar, recuperar e valorizar o património arquitectónico, histórico, natural e paisagístico das respectivas regiões, através da recuperação de construções existentes, desde que seja assegurado que esta respeita a traça arquitectónica da construção já existente”(76). (73) Idem, ibidem. (74) DGT – Direcção Geral do Turismo (Consulta In www.dgturismo.pt, 16 de Abril 2013,12:03) (75) MINISTÉRIO DA ECONOMIA E DA INOVAÇÃO Empreendimentos de (TER). Decreto-Lei nº 39/2008, Artigo 18º Diário da República, 1.ª série — N.º 48 — 7 de Março de 2008 (Consulta In http://dre.pt/pdf1sdip/2008/03/04800/0144001456. PDF, 16 de Abril 2013, 15:46). (76) Idem, ibidem.


A prática deste tipo de turismo em ambientes de montanha requer outras activida-

des e serviços complementares, nomeadamente a animação turística de forma a consagrar ao TER destaque entre outras opções de desenvolvimento rural. Há uma necessidade de desenvolver ofertas complementares ao alojamento, proporcionando aos turistas das áreas rurais, uma oferta completa e diversificada, que inclua para além do alojamento, actividades de animação e de lazer, de forma a rentabilizar o investimento, atingindo outros objectivos, de maneira a divulgar os produtos e tradições de cada região, designadamente o património natural, paisagístico, gastronómico, artesanal e cultural(77).

Deste modo, é importante proporcionar actividades que se adaptem às dificuldades dos

territórios e à tipologia do público-alvo. Segundo a legislação, “(...) no caso das actividades de animação turística desenvolvidas em áreas classificadas, ou com valores naturais (...)”(78), como é o caso do trabalho de investigação, “(...) designam-se por actividade de Turismo de Natureza, desde que sejam reconhecidos como tal pelo Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, I.P.(ICNB,I.P).”(79)

Importa então referir, que o nosso caso de estudo, incide na actividade de Turismo de

Natureza por se inserir numa área protegida, como é exemplo, o Parque Nacional da Penda Gerês (PNPG). Desta forma esta actividade turística merece uma análise mais detalhada, com o propósito de explicar a sua evolução recente, na óptica da estruturação e dinamização de uma actividade estratégica, para o desenvolvimento turístico em Portugal.

(77) Idem, ibidem. (78) MINISTÉRIO DA ECONOMIA E DA INOVAÇÃO, Decreto-Lei 108/2009, Artigo 4.º- Diário da República, 1.ª série — N.º 94 — 15 de Maio de 2009 (Consulta In http://dre.pt/pdf1s/2009/05/09400/0303503045.pdf, 18 de Abril 2013, 15:43) (79) Idem, Ibidem.

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2. O crescimento do Turismo de Natureza no Norte de Potugal no PNPG

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O Turismo de Natureza é realizado e prestado em zonas integradas na Rede Nacional

de Áreas Protegidas, cuja motivação principal é a de viver experiências de grande valor simbólico, interagir e usufruir da natureza, através de actividades desportivas e de interesse especial(80).

Como assinala o ICNF, a importância dos valores naturais, paisagísticos e culturais

únicos e inerentes ao território das Áreas Protegidas e a crescente procura destes locais para actividades de recreio e lazer em contacto directo com a natureza e com as culturas locais fazem com que estes espaços se constituam como novos destinos turísticos(81).

No contexto internacional e nacional, os espaços naturais surgem cada vez mais, como

destinos turísticos em que a existência de valores naturais e culturais constituem atributos indissociáveis do Turismo de Natureza. As Áreas Protegidas, de grande valor paisagístico e cultural, conferem e transmitem um sentido único e identificador rareando um pouco por todo o território. São portanto, locais privilegiados que surgem em resposta a outros tipos de procura, propondo a prática de actividades de lazer em contacto com a natureza e com as culturas locais(82).

De uma forma muito sintetizada, um estudo pela THR para o turismo de Portugal, I.P

refere que as estimativas realizadas em relação às viagens de turismo de natureza têm registado um crescimento anual acumulado, entre 1997 e 2004, da ordem dos 7% Estamos a falar de um movimento de cerca de 22 milhões de viagens, que representam, aproximadamente, 9% do total das viagens de lazer realizadas pelos europeus(83). (80) THR, Turismo de Portugal,I.P - (Consulta In http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/AreasAtividade/ ProdutoseDestinos/Documents/TurismoNatureza.pdf, 18 de Abril 2013, 19:27) pp.23-25. (81) ICNF – Instituto da conservação dos institutos e das florestas (Consulta in http://www.icnf.pt/portal/turnatur, 03 de Maio 2013, 00:47). (82) Resolução do Concelho de Ministros nº 112/98. Decreto-Lei nº 195/1998, Diário da República, 1.ª série B — N.º 195 — 8 de Agosto de 1998 (Consulta In http://dre.pt/pdf1sdip/1998/08/195B00/43484350 .pdf, 3 de Maio 2013, 00:13). (83) cf. THR, Turismo de Portugal,I.P. op.cit.


Neste mesmo estudo, a oferta deste tipo de turismo é classificado por dois tipos

de mercado, a natureza soft, que representa 80% do total de viagens e a natureza hard que representa 20% do total das viagens de Natureza. O primeiro tipo baseia-se na oferta de actividades ao ar livre de baixa intensidade como são exemplo, os passeios pedestres, as excursões e a observação da fauna. O segundo tipo, baseia-se na prática e experiência de desportos na natureza de que é exemplo, o rafting, hiking, climbing, kayaking, ou actividades que requerem um elevado grau de concentração ou de conhecimento como por exemplo da observação de aves(84).

A taxa de crescimento anual estimado para Portugal é de 9%, superior à taxa de

crescimento prevista para o mercado de Turismo de Natureza a nível internacional, o que se explica pelo facto de Portugal partir de uma base muito reduzida e, por isso, o potencial crescimento é maior e mais rápido que noutros destinos que contam com um volume importante de actividade neste sector(85).

Os parques naturais portugueses são, na sua maioria, deficitários nas infra-estruturas e

serviços. São poucos os parques que dispõem de serviços de manutenção e de melhoramento de vias e rotas, além de que se verifica uma carência de serviços de apoio ao turista, nomeadamente material informativo (mapas, brochuras,etc) ou centros de informação ao visitante.

Um importante limitador das possibilidades de Portugal em desenvolver uma

oferta atractiva para o mercado de Turismo de Natureza é a inadequação da legislação que regula a utilização turística dos espaços protegidos, numa perspectiva de preservação e sustentabilidade desse património, que permita um aproveitamento desses cenários. Nos espaços naturais protegidos prevalece uma gestão de protecção e conservação ambiental, mas não existe uma gestão turística dos espaços naturais, ainda que existam suficientes (84) cf. THR, Turismo de Portugal,I.P op.cit pp.23-25 (85) Idem, Ibidem.

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argumentos e exemplos que demonstram que, devidamente regulamentado, a utilização, turística pode contribuir significativamente para gerar recursos económicos que asseguram a conservação e a manutenção destes espaços.

Tendo em conta que a actividade turística necessita sempre de um espaço físico (natural

e cultural) para o seu desenvolvimento, uma vez que é este que providencia as atracções para os turistas, a sua implementação deve basear-se em critérios de sustentabilidade, pelo que, atendendo a estas duas ordens de razões, foi criado em Portugal o Programa Nacional de Turismo de Natureza (PNTN).

Este programa faz parte de um conjunto de orientações políticas internacionais

direccionadas para o desenvolvimento sustentável destas áreas que, no caso particular do turismo, visam permitir a recuperação e conservação do património natural e cultural apoiado em quatro vectores principais: conservação da natureza, o desenvolvimento local, a qualificação da oferta turística e na diversificação da atividade turística(86).

Estima-se que a procura de Turismo de Natureza ou turismo activo em Portugal

ascenda a cerca de 500.000 pessoas, segundo o Estudo de Anetura, dos quais 96% são oriundos do próprio país. Dos 4% de clientes estrangeiros, a maioria corresponde a visitantes que viajaram para Portugal por outros motivos e que, uma vez no país, foram atraídos para a prática de alguma modalidade de Turismo de Natureza(87).

Esta situação reflecte claramente dois aspectos relevantes: por um lado, o fraco

posicionamento de Portugal como destino para viagens de Turismo de Natureza no mercado internacional (como motivo principal) e, por outro, a importância do conceito de “procura secundária”, isto é, aqueles visitantes que, uma vez no país, possam constituir um públicoalvo ao qual dirigir a comunicação e a comercialização da oferta de Turismo de Natureza(88). (86) c.f ICNF (87) Adere-PG - Manual de boas práticas para um turismo sustentável, PNPG, (2005) (Consulta In http://www.adere-pg. pt/projectos-e-actividade-projetos-e-atividades-2003-2007, 3 Maio 2013, 03:07). (88) Idem, ibidem.


A primeira componente a considerar na avaliação da capacidade competitiva de

Portugal no sector do Turismo de Natureza prende-se com a quantidade e a qualidade dos seus recursos de base. Portugal conta com uma importante base de partida, pois 21% do território português é formado por áreas protegidas, entre as quais figuram parques e reservas naturais e outras áreas de interesse natural. A actual legislação portuguesa respeitante a Áreas Protegidas consagra cinco figuras classificatórias: Parque Nacional, Parque Natural, Reserva Natural, Monumento Natural e Paisagem Protegida(89).

No âmbito do contexto deste trabalho, apenas incidiremos a nossa atenção na única

Área Protegida que beneficia do estatuto de Parque Nacional, o Parque Nacional da PenedaGerês, criado em 1971. É uma área classificada, de alto valor ecológico, ambiental e cultural e que, por isso, é detentora de um grande potencial turístico. O turismo é uma actividade importante e relativamente desenvolvida em determinadas áreas do Parque, sendo um sector económico cada vez mais valorizado no contexto socioeconómico local, face à perda de importância de outras actividades económicas, nomeadamente da agricultura e pastorícia(90).

O Turismo de Natureza, associado à promoção de práticas e programas turísticos de

reduzido impacte e de grande valorização ambiental e sócio cultural, pode, neste sentido, representar uma oportunidade importante para o desenvolvimento sustentável do território, em harmonia com os princípios fundamentais da conservação da natureza e da biodiversidade. No contexto dessa oportunidade, o ICNB procurou, no âmbito dos objectivos de gestão das áreas protegidas, reforçar e dar um novo “lugar” a um conjunto de opções estratégicas para a promoção e dinamização da visitação, consagradas na Estratégia Nacional para a Conservação da Natureza e da Biodiversidade.

Tais opções passam pela aposta no turismo de natureza, entendido como a actividade

(89) ICNF, Turismo de natureza: enquadramento estratégico: O Parque Nacional da Peneda Gerês, (2000-2006)(Consulta In http://www.icnf.pt/portal/naturaclas/ordgest/poap/popnpg/resource/diagn/relat-sint, 3 de Maio 2013, 16:15) pp.119-121. (90) cf. THR, Turismo de Portugal,I.P., pp.23-25.

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turística que é capaz de conciliar os objectivos de conservação e preservação dos valores naturais e culturais com os objectivos de promoção do desenvolvimento sustentável das populações residentes.

Segundo o relatório síntese da 2ª fase em Julho de 2008 pela ICNB, de entre as

principais vantagens/contributos associados ao turismo de natureza destacam-se:

- A valorização ambiental e dos recursos naturais pela aposta nas actividades de

animação e interpretação ambiental; A recuperação de património histórico-cultural;

- A requalificação urbana e paisagística;

- O apoio e dinamização de actividades económicas tradicionais, como sejam o

artesanato, a pastorícia, a produção e venda de produtos agro-alimentares (fumeiro, mel, compotas, etc.);

- A criação de equipamentos de lazer e desporto;

- A recuperação de infraestruturas rodoviárias, entre outras;

- A criação de emprego (embora parte dele seja de carácter sazonal);

- A dinamização económica regional(91).

Para a valorização efectiva de práticas e serviços de turismo de natureza e melhoria

do seu modelo de desenvolvimento, assente na compatibilização dos objectivos de gestão do PNPG com os objectivos da visitação e dinamização sócio económica local, é fundamental ter presente algumas das seguintes oportunidades (muitas das quais representam dinâmicas em curso) associadas ao trabalho em estudo:

- Rede de percursos pedestres sinalizados e outros - o PNPG já integra uma razoável

rede de trilhos que é necessário potenciar enquanto infra-estruturas de educação e animação ambiental;

(91) Idem, Ibidem.


- Os passeios a pé – na vertente lúdica, desportiva ou de interpretação ambiental –

são das actividades que mais se realizam no Parque e as mais adequadas às características deste território;

- As atividades de animação ambiental associadas ao desporto de natureza, observação

da natureza e interpretação ambiental, são consideradas prioritárias entre as oportunidades para o desenvolvimento do turismo de natureza, uma vez que cresce o número de visitantes interessados nestas práticas(92).

- A recuperação das antigas casas-abrigo, dos centros de acolhimento, aldeias desertas

e parques de campismo fazem parte de uma iniciativa importante para a qualificação da componente do alojamento local e para a melhoria da imagem turística do PNPG.

Poderá servir de modelo ao desenvolvimento do conceito de alojamento local, na

óptica do turismo de natureza. Face às oportunidades que o turismo de natureza poderá representar para o PNPG, e tendo presentes os problemas da sobrecarga turística e actividades menos ajustadas às características da área protegida, importa no actual processo de revisão do Plano de Ordenamento rever as directrizes, normas e objectivos que devem regular e orientar a atividade turística(93).

(92) Idem, Ibidem. (93) Idem, Ibidem.

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3. O património como recurso turístico

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Como acabamos de referir, na actualidade destacam-se novos interesses como

o contato com a natureza, as actividades culturais, a qualidade paisagística entre outros. Multiplicam-se as diversas ofertas turísticas que reflectem a crescente segmentação do mercado turístico e os novos padrões de comportamento e de consumo das sociedades pósmodernas(94).

O turismo cultural é um exemplo das tendências convergentes entre a oferta e a

procura turística, impulsionadas através de políticas e de instrumentos da EU. Este tipo de turismo provoca nos turistas o desejo de ver algo novo, de aumentar o conhecimento sobre os hábitos das populações residentes e de contacto com a cultura, a que se junta a participação em actividades artísticas e desportivas ou ainda em motivos religiosos.

Em Portugal o conceito de turismo cultural tem vindo a se modificar de tal forma que os

turistas procuram não só as visitas a museus, monumentos, centros culturais e interpretativos mas também outras formas de expressão, como é o exemplo as aldeias históricas, as aldeias do xisto, os sítios classificados como património Mundial pela UNESCO, museus, palácios, castelos, entre outros.

Este processo evolutivo que acabamos de referir permite que as áreas rurais e urbanas

de baixa densidade apareçam de forma recorrente associadas a projetos e a iniciativas que pretendem conciliar a salvaguarda e a valorização do património cultural, a requalificação dos territórios, a revitalização do tecido económico e social, a elevação da auto-estima das populações e o reforço das identidades locais, utilizando o turismo, por via de novos produtos, como alavanca das dinâmicas de desenvolvimento que se pretendem induzir. Actualmente, podemos assistir a algumas estratégias para a reintegração de alguns territórios nos novos caminhos do desenvolvimento regional e local. (94) cf. Rodrigues. C., op.cit. em Palomeque. L., Vera. F., et al., (Consulta In http://www.geografia.uminho.pt/uploads/ carla.doc. 05 de Maio 2013, 16:24) p.125.


Valoriza-se a multifuncionalidade dos espaços rurais, reconhece-se a sua

especificidade e o potencial dos seus recursos, como elementos estratégicos para a promoção de um desenvolvimento territorial equilibrado e integrado. Tornou-se um espaço para reserva ecológica, patrimonial e cultural, cabendo-lhe a responsabilidade da salvaguarda do meio ambiente e da natureza para que se identifique o meio rural com o meio natural.

Desta forma, na perspetiva de Cardoso, a natureza e o ambiente deixam de ter como

principal função a produção agro-pastoril, praticada nas décadas anteriores e adquirem uma representação estética e lúdica concretizada pelas novas identidades urbanas, uma nova concepção de território directamente oposta à que tradicionalmente assumiam os velhos residentes das aldeias, para quem o solo constituía basicamente um fator produtivo(95).

Neste sentido, uma parte significativa dos espaços montanhosos portugueses, com as

suas dinâmicas de renovação e funções diferenciadas, reflectem uma ligação crescente a uma nova sociedade moderna quanto a práticas turísticas e recreativas. Por sua vez, os recursos eco culturais, aparecem de forma recorrente ancorados aos processos de turistificação, nomeadamente as modalidades alternativas de turismo, que podem suscitar trajectórias inovadoras e sustentadas de desenvolvimento regional e local. Por outro lado, o turismo nas áreas de montanha deve permitir a utilização do território, por forma a defender a sua conservação ambiental através da oferta de um alojamento específico de forma a privilegiar a gastronomia, promover os produtos regionais, divulgar o património histórico-cultural das regiões e fazer da interpretação e animação ambiental um traço fundamental da sua essência.

(95) cf. CARDOSO, A., – Turismo, ambiente e desenvolvimento sustentável em áreas Rurais (Consulta In http://home.utad. pt/~des/cer/CER/DOWNLOAD/2022.PDF, 05 de Maio 2013, 17:10) p.14.

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4. A Arquitectura vernácula e a reabilitação

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Se analisarmos a disciplina da arquitectura ao longo da história, constata-se que

o conceito fundamental, consiste em responder às necessidades de conforto e bem-estar dos seus utilizadores. A boa arquitectura sempre foi aquela que, adequada ao seu contexto ambiental local, conseguia proteger o homem das adversidades do clima e de perigos exteriores, tornando-se fundamental criar um ambiente artificial, que separasse o homem do ambiente natural, procurando usufruir das mais-valias da natureza.

Recuando ao século I d.C, constatamos que Vitrúvio, já recomendava que, no

planeamento de edifícios, o arquitecto deveria adequar o espaço construído, aos factores climáticos da região em que se insere(96). Ressalta a importância do conhecimento do local, usufruindo das suas qualidades climatéricas e dos recursos locais, desempenhando depois a arquitectura um papel fundamental na criação de edifícios, que aproveitavam os recursos da natureza, em vez de os excluir.

O mesmo acontece na arquitectura popular nortenha. Baseada numa construção que

utiliza materiais provenientes do local (pedra e madeira), são igualmente aproveitadas as fontes de energia locais, em muitos casos renováveis e normalmente aplicadas a práticas construtivas, que apostam na reciclagem e o respeito pela natureza.

Em Portugal, as áreas protegidas com pertinência para este estudo, são aquelas onde

a arquitectura vernácula tem mais representatividade, o que coincide com as AP’s de maior dimensão, nomeadamente no PNPG, localizado a Norte do território português. Território, que pode vir a constituir-se uma decisiva alavanca na alteração da situação actual e na promoção do desenvolvimento local, de forma a materializar os princípios e fazer dele, um produto turístico específico com assinalável procura.

Nos últimos tempos, temos assistido, entre infinitos resultados, amostras isoladas

e intervenções sensíveis, ao aparecimento de possíveis novos caminhos no domínio da reabilitação. Soluções com diferentes atitudes criativas aparecem vinculadas por uma (96) VITRÚVIO – Tratado de arquitectura, p. 221


“O arquitecto, pela sua profissão, é por excelência um criador de formas, um organizador do espaço; mas as formas que cria, os espaços que organiza, mantendo relações com a circunstância, criam circunstância e havendo na acção do arquitecto possibilidade de escolher, possibilidade de selecção, há fatalmente drama.”(97) Fernando Távora

aspiração comum, nomeadamente, a necessidade de procurar um equilíbrio entre as particularidades básicas da edificação pré-existente e os novos elementos arquitectónicos propostos.

Não se trata de desenvolver um passado ou de dissecar um decadente presente.

Vários autores, ligados à arquitectura popular, esforçam-se por compreender as propriedades definidoras de uma arquitectura consolidada, sobre uma secular experiência espacial e construtiva. Materializam as suas próprias obras, através do processo dialéctico tendo como objectivo, primordial conciliar ou equilibrar requisitos tão diversos como a manutenção e a alteração de uma construção. Interpretam a arquitectura popular ao assumirem simplesmente que qualquer construção é vista como um organismo vivo, com um período de vida útil, e que se modifica em sucessivas ocasiões envelhecendo depois, para o fim, quando transporta consigo um imparável processo de deterioração e abandono.

Após a interpretação, é mais fácil compreender quais as soluções que podem ser

adoptadas nos diversos casos. Muitos foram, depois de uma análise detalhada das suas patologias construtivas, os que apontavam para a possibilidade de que um determinando tipo de tratamento deveria ser aplicado em cada caso específico. Abordam as distintas alternativas de intervenção, tendo em conta, simples operações de conservação e de consolidação, tais como importantes actuações reestruturadas que, numa autêntica metamorfose funcional, implicam a transformação de uma antiga construção multifuncional dando lugar a um novo uso.

Estas intervenções arquitectónicas trazem consigo soluções ligadas a um novo uso,

transformações que nas palavras de Carlos Almuiña “(...) só poderia resultar possivelmente com a permanência dos valores arquitectónicos primários e intrínsecos das próprias edificações, reconhecidas e usadas como uma alavanca da acção projectual.”(98). (97) TÁVORA, Fernando – Da organização do espaço, p.73. (98) ALMUÍÑA, C., – “Exercicios de Arquitectura”, p.45.

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A arquitectura vernácula persistiu durante muito mais tempo nas Áreas Protegidas

devido ao fraco desenvolvimento das economias locais, o que permitiu salvar um espólio que noutras regiões rurais foi substituído em parte por construções convencionais ou importadas do estrangeiro, como por exemplo, as casas dos emigrantes. O vasto património vernacular, como já foi referido anteriormente, tem vindo a se deteriorar, devido ao envelhecimento e à emigração da população, transformando o tecido rural, num conjunto de edifícios devolutos, com valor histórico e cultural. O processo da reabilitação e da recuperação, nestes espaços, permitiria não só diminuir o processo de deterioração física do edificado, como também garantir um valor paisagístico, mantendo desta forma, a identidade e as características regionais e históricas exclusivas das regiões localizadas nas Áreas Protegidas (AP’s).

O turismo, como principal alavanca destas mesmas estruturas, consistiria uma

estratégia, de forma a responder a uma crescente procura do turismo de natureza nas AP’s, e consequentemente de alojamento e das estruturas de apoio nestas áreas parcialmente e outras totalmente abandonadas. É notável, que muito do património nacional, em áreas despovoadas, tem vindo a ser lentamente recuperado por entidades promotoras pelos parques onde elas se integram.

O objectivo da disponibilização de alojamento turístico tem sido, de uma maneira

geral, alcançado. No entanto, com fluxos turísticos tendencialmente crescentes, e níveis de exigência cada vez mais apertados no que respeita ao factor qualidade, aos quais se junta a necessidade de preservar o património construído, torna-se importante repensar estratégias de requalificação e ampliação das unidades de alojamento disponíveis(99).

Quanto à recuperação e à preservação do património nacional, e incidindo a nossa

análise na arquitectura popular serrana portuguesa inserida no PNPG, constatamos que alguns edifícios (em boa parte dos casos), como consequência das suas graduais alterações de (99) ICN - Turismo de Natureza: Enquadramento estratégico (Consulta In http://www.icn.pt/TurismoNatureza_anexos/ PNPG.pdf, 05 de Maio 2013, 21:11)


uso, acabaram por sofrer distintas adições e transformações estruturais e espaciais. Embora alterados, é necessário intervir, respeitando a manutenção dos símbolos ou de elementos que identificam a sua arquitectura (características volumétricas, estruturais e formais), através de sistemas de crescimento e da sua implantação no território. Há uma constante aposta num novo modo de viver a arquitectura popular, de forma a não destoar nem alterar o momento histórico da sua realização.

Contudo, as diversas peculiaridades dos edifícios, longe de serem consideradas

limitações, contribuem momentaneamente, para estimular a capacidade criativa do arquitecto, oferecendo possibilidades de intervenção que, depois da sua imaginativa utilização, garantem a singularidade das soluções optadas, proporcionando uma reflexão sobre os aspectos essenciais da definição dos diferentes critérios da reabilitação. No que diz respeito ao tema, muitas questões surgem.

Deve a linguagem formal utilizada, adaptar-se às soluções originais, ou então, pelo

contrário, libertar-se de toda a conexão simuladora para oferecer novas respostas directamente ligadas ao nosso tempo?

Devem essas propostas adaptar-se ao sistema construtivo pré-existente ou utilizar

materiais e tecnologias contemporâneas, inexistentes na altura da edificação, sem pretender nenhuma reprodução das primeiras respostas utilizadas?

Na perspectiva de Pedro Llano, este autor entende que é necessário recuperar algo

que pertence à memória, e defende que um arquitecto ao confrontar-se com uma intervenção no património, deve focar-se ou agir sempre de um modo semelhante à de como intervém na relação da paisagem com a implantação do novo edifício(100).

Como ponto de partida, e se aceitarmos esta posição, isto significa que ao reabilitar

uma arquitectura histórica, qualquer arquitectura histórica, isso implica assumir um compromisso como responsáveis de uma prolongação da sua presença na memória. (100) cf. LLANO, P.,– “Arquitectura popular en Galicia: Razón y construcción”, pp.213-216.

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Contudo, é necessário não esquecer, que quando falamos de uma construção do

passado, como já referimos, fala-se de um espaço vivo, de um edifício que ao longo do tempo, foi objecto de diversas intervenções que, graças a novos critérios construtivos e formais, o seu anterior aspecto foi modificando dando lugar ao seu estado actual. Nós arquitectos, para bem ou para o mal, também contribuímos para a concretização de um novo capítulo dessa memória e, portanto, não nos devemos esquecer que a nossa participação na mesma deverá contar com uma clara vocação de contemporaneidade.

Ao contrário de Menéres, Pedro Llano, defende que o conceito de reabilitação,

não deverá ser entendido como a devolução de um edifício ao seu estado primitivo. Esse objectivo é apenas aplicável a uma concreta e particular actuação de restauro. É normalmente uma atitude, que pretende assumir a racionalidade na atividade projectual, pelo que ante o idealismo conservador que está na base do entendimento da reabilitação como uma, reposição elementar, é necessário alcançar, por meio das nossas sugestões, novas respostas espaciais, que ajudem a transformar a solução arquitetónica inicial adequada o nosso tempo, mantendo as suas particularidades fundamentais de uma arquitectura própria(101).

Uma intervenção de reabilitação deve desenvolver-se tendo por base uma nova

atitude que, assente na procura de uma harmónica integração da arquitectura existente, nos permita resolver as diferentes patologias e os diferentes problemas que suscitam na situação actual do edifício e também o programa para que está destinado.

A partir desta perspectiva, as questões apresentadas aparecem, uma vez que elas,

respondem por si só à problemática da reconversão de edifícios com grande valor patrimonial. Devemos actualizar as suas exigências funcionais, construtivas e, naturalmente também espaciais, tal como mostrarão os casos de estudo do capítulo seguinte. Assumem a tradição construtiva do lugar, e abordam uma intervenção sobre um espaço concreto, na adequada solução simples que respeita a composição da fachada, proporção e linguagem da construção (101) Idem, ibidem.


pré-existente.

Trata-se de aproximar o edifício a uma atitude dialogante entre o novo e antigo, em que

para trás fica uma metódica investigação sobre esta temática, que nos permite compreender, as suas características gerais, desde a sua espacialidade, os seus sistemas de comunicação, os seus critérios de iluminação, os seus materiais e sistemas construtivos, em que através da leitura de um todo, recupere o seu valor de uso com uma total independência criativa. Importa também referir que a reabilitação de qualquer arquitectura, apenas poderá ser realizada, com uma total fidelidade do nosso tempo, respondendo com liberdade, naturalidade e firmeza aos destintos problemas por ela apresentados.

Por fim, importa referir, que a importância atribuída ao património edificado, como

testemunho do passado e como recurso a valorizar num processo de reocupação humana, no que diz respeito ao desenvolvimento económico e social, levam algumas identidades e organismos de âmbito local e nacional a intervirem, de forma a potencializam os recursos endógenos, que orientados, reestruturados, promovidos ou incentivados tornam viável uma intervenção equilibrada e harmoniosa(102).

Em conclusão, podemos afirmar que o papel da arquitectura, no que respeita à

valorização do património edificado, terá que ter sempre presente a dualidade de valores espirituais e materiais das populações que habitaram ou habitam nessas aldeias ou lugares, preservando as memórias do passado e as expectativas quanto ao seu futuro. A revitalização de uma aldeia tem que preservar tudo isto, evitando a todo o custo a “criação” de reservas de um passado e condenando as populações a viverem desenquadradas do seu tempo. As condições de conforto e de higiene passam a constituir acções primordiais no que diz respeito à recuperação e à reabilitação da arquitectura popular, utilizando técnicas e sistemas construtivos adequados à tipicidade, traça e função decorativa dos elementos arquitectónicos utilizados na construção(103). (102) DGDR - Do Despovoamento Rural ao Desenvolvimento Local, p.163. (103) Idem, Ibidem.

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5. O Hostel como meio de hospedagem alternativo em áreas de montanha

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O hostel, durante muitas décadas considerada uma opção de hospedagem ou de

alojamento destinada a jovens estudantes, praticantes de um turismo alternativo, e com recursos financeiros limitados para viagens, passou a ter um enquadramento mais alargado nos dias de hoje, passando agora a atingir diversos grupos etários e diversos segmentos de procura.

Neste subcapítulo iremos abordar o hostel como um segmento turístico caracterizado

como turismo alternativo, envolvendo toda a sua componente de hospedagem e a sua evolução histórica até aos dias de hoje, de forma a compreender a sua origem e a sua crescente procura no mercado de uma sociedade actual.

Segundo Cohen, o turismo alternativo é composto por viajantes, aventureiros muitas

vezes sem destino, que utilizam um tipo de acomodação suplementar aos hotéis, como hostels, campings, hospedagem familiar, entre outros(104).

Desde a pré-história que a prática da hospedagem de pessoas é realizada e praticada

de várias formas, dependendo da cultura, religião e costumes de cada região e de cada população. É portanto uma prática muito antiga, em que a própria palavra, hospedagem, do latim hospitium, significa hospitalidade (dada ou recebida). E hospitalidade, também originária do latim hospitalitas, significa o acto de oferecer bom tratamento a quem se dá ou recebe hospedagem.

A prática da hospedagem foi de uma enorme importância para a economia local e

para o surgimento das cidades, além de ter sido fundamental para a expansão do Império Romano, o comércio é o responsável histórico pelas formas mais antigas de oferta hoteleira.

Como assinala Pereira & Coutinho “(...) as rotas comerciais da Antiguidade, na

Ásia, na Europa e na África, geraram núcleos urbanos e centros de hospedagem para o atendimento aos viajantes. Na Idade Média, a hospedagem era feita em mosteiros e abadias. Nessa época, atender os viajantes era uma obrigação moral e espiritual.”(105) (104) COHEN, E., - Alternative Tourism: A Critique, pp.13-18. (105) PEREIRA, H. F. Félix & COUTINHO, R. M., - Revista Eletrónica Aboré, p.3.


Com o surgimento do Cristianismo em Portugal, os albergues no século XI começaram

a ganhar alguma importância devido às peregrinações, a hospedagem era praticada por mosteiros fundados pela Coroa Portuguesa e também por particulares que visavam o lucro. Posteriormente, os nobres instalaram albergarias passivas, onde os criados deveriam alojar o seu senhor e a sua comitiva quando estavam em viagem. Além de oferecerem abrigo, os empregados deveriam disponibilizar alimentos, roupa de cama e até mesmo serviços domésticos.

Após uma leitura atenta à introdução histórica sobre a origem e funcionamento

dos albergues ou outros meios de hospedagem que foram surgindo em determinadas épocas, podemos afirmar, que tanto os deslocamentos romanos, por ocasião das suas conquistas militares, como a expansão religiosa, exigiram a criação de novos caminhos e consequentemente de novas formas de alojamento onde cada deslocamento exigia um local de paragem de toda a comitiva em viagem.

Mais tarde, com o aparecimento das monarquias nacionais, as hospedarias passaram

para a responsabilidade do próprio Estado, nos palácios da nobreza ou nas instalações militares e administrativas. Só os viajantes que não contavam com o consentimento do Estado eram recebidos precariamente em albergues e estalagens. Posteriormente, com a Revolução Industrial e a expansão do capitalismo, a hospedaria, o albergue ou o alojamento em geral, passaram a ser tratados como uma atividade estritamente económica explorada comercialmente. Os hotéis com staff padronizado, formado por gerentes e recepcionistas, aparecem apenas no início do século XIX, dando origem ao turismo normalmente massificado.

Após esta mudança, e com o alojamento a ser entendido como uma atividade

estritamente económica, o turismo passou a ser é praticado e desenvolvido em áreas onde a massificação ganha uma forte expressão, por exemplo na Alemanha, em 1909, graças ao professor Richard Shirrmann, ligado a um turismo alternativo, adepto de excursões e de trilhos no meio rural e natural e que concebe o primeiro albergue da juventude.

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Devido a problemas meteorológicos, numa das suas excursões, Shirrmann teve a necessidade de abrigar os seus alunos numa escola vazia, e desde então a ideia de utilizar as escolas durante as férias como forma de alojamento ou de albergue para os seus alunos tornou-se um hábito (106).

Este movimento ganhou força, e em 1932, a Alemanha tinha mais de dois mil

albergues. A ideia espalhou-se rapidamente na Europa e depois de uma importante conferência internacional a ideia foi exportada para os Estados Unidos e para muitos outros países não europeus. Surgiu então a International Youth Hostel Federation, hoje conhecida por Hostelling Internacional (HI), apostada em fornecer alojamento para os jovens viajantes(107).

Com o tempo, o conceito de pousada foi se alterando, surge então o conceito de

Hostel, sinónimo de albergue e que tem como principal função alojar hóspedes de todas as idades, proporcionando-lhes um alojamento mais económico. É um tipo de acomodação funcional e menos formal que um hotel. Normalmente vive-se o espírito de comunidade num hostel porque são dotados de áreas de convívio social. Os quartos normalmente são colectivos, tal como as casas de banho, apesar de também se oferecerem quartos dotados de quartos de banho individuais.

A indústria dos hostels tem vindo a crescer, tornando-se num forte modelo de negócio

em muitas cidades. A ocupação destes espaços tem reportado uma ocupação em constante ascensão devido à melhoria e qualidade dos serviços disponobilizados. Por outro lado, a procura dos viajantes tem aumentado devido à actual conjuntura de crise económica, na Europa e no mundo. Os viajantes procuram estes espaços por praticarem preços intitulados de low-cost, passando o próprio Hostel a ser visto como um produto turístico económico e inovador à escala mundial. (106) Consulta In http://www.hostelscentral.com/en/magazine/hostels-information/history-of-the-youth-hostelsmovement,14 de Maio 2013, 23:54. (107) Consulta In http://www.hiusa.org/about_us/history#tab1, 13 de Maio, 17:12.


Em conclusão, podemos afirmar que este tipo de alojamento (Hostel) tem vindo

a tornar-se num forte modelo nas áreas mais desenvolvidas, ao contrário das áreas rurais ou periféricas, isto porque a maior concentração ou a maior oferta e procura destes empreendimentos é normalmente desenvolvida nos grandes centros urbanos.

Recorrendo à história e à origem deste tipo de alojamento, que anteriormente

desenvolvemos, surgem algumas questões pertinentes, nomeadamente porque não existe este tipo de empreendimento no espaço rural. De que forma é que um empreendimento desta natureza poderá desenvolver as localidades despovoadas?. Estas são algumas das questões que iremos abordar de forma a fundamentar o trabalho de investigação e fundamentar as intenções programáticas da unidade curricular de projecto apresentadas no Capítulo V.

Após termos estudado o fenómeno da desertificação nos espaços rurais, nomeadamente

nos espaços de montanha da região Norte de Portugal, foi possível constatar a existência de muitos destes espaços em que o património construído tem um grande valor simbólico e cultural mas que hoje estão total ou parcialmente abandonados, ou são apenas utilizado com o objectivo de alojamento turístico.

Apesar de anteriormente termos referido que o TER, pelo facto dos empreendimentos

“(...) se integrem nos locais onde se situam, de modo a preservar, recuperar e valorizar o património arquitectónico, histórico, natural e paisagístico das respectivas regiões, através da recuperação de construções existentes, desde que seja assegurado que esta respeita a traça arquitectónica da construção já existente”(108) a denominação Hostel é um conceito ou marca comercial. Não é uma tipologia de empreendimento turístico mas acaba por se enquadrar na classificação de Alojamento Local por não preencher os requisitos de empreendimento turístico classificado pelo TER (109). (108) Turismo de Portugal, I.P., Perguntas frequentes sobre a legislação dos empreendimentos turísticos (Consulta In http://www.portaldolicenciamento.com/docs/faq-estabelecimentos-turisticos.pdf, 15 de Maio, 03:26) pp.19-20. (109) Portaria nº 517/2008, Artigo 4.º- Diário da República, 1.ª série N.º 121 — 25 de Junho de 2008.

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O TER e o Turismo de Natureza com fluxos turísticos tendencialmente crescentes

no que diz respeito ao factor qualidade, aos quais se junta a necessidade de preservar o património construído, torna-se importante repensar em estratégias de requalificação e ampliação das unidades de alojamento disponíveis. É também necessário criar - para além dos empreendimentos turísticos comuns nessas áreas rurais como é o exemplo da habitação rural, das pousadas, dos hotéis rurais, dos albergues e das pousadas da juventude - um empreendimento turístico económico, utilizando o produto turístico ou a marca comercial Hostel, de forma estratégica ao serviço do desenvolvimento do espaço rural.




CAPÍTULO III Casos de estudo: Referências estratégicas



1. Intervenções arquitectónicas em lugares esquecidos

No contexto nacional, o reconhecimento dos espaços rurais aliados à problemática da

desertificação, passou a ocupar uma posição crescentemente destacada no discurso político e nas acções desencadeadas para a prossecução dos seus objectivos.

Temos assistido a um processo evolutivo no que diz respeito às áreas rurais. Surgem

de forma crescente, recorrentemente associadas a projectos e a iniciativas que pretendem conciliar a salvaguarda e a valorização do património cultural, a requalificação dos territórios, do tecido económico e social a elevação de iniciativas políticas e sociais no reforço das identidades locais, utilizando o turismo, através de novos produtos, como alavanca das dinâmicas de desenvolvimento que se pretendem induzir. Actualmente assiste-se também a algumas estratégias, apostadas na reintegração de alguns territórios nos novos caminhos de desenvolvimento regional e local (aldeias de Portugal).

Os espaços rurais nacionais aparecem cada vez mais comprometidos com novas

funções e utilizações dependentes da sociedade urbana. Nesta atmosfera de mudança, o turismo e o património construído e não construído, assumem grande expressão como alavancas no âmbito do desenho do desenvolvimento rural. O turismo alternativo e consequentemente o alojamento em áreas de montanha, surge como resposta ao despovoamento rural, criando estratégias assentes em políticas europeias de forma a desenvolver as localidades mais desfavorecidas.

Com fluxos turísticos tendencialmente crescentes, e níveis de exigência cada vez

mais restringidos no que respeita ao factor qualidade, aos quais se junta a necessidade de preservar o património construído, torna-se importante repensar estratégias de requalificação e de ampliação das unidades de alojamentos disponíveis no espaço rural.

Desta forma, a disponibilização do alojamento turístico em áreas rurais tem sido

de uma maneira geral alcançada. Com base na nossa investigação, valorizando a escolha programática que nos propusemos realizar com o empreendimento Hostel de Montanha, e com o intuito de desenvolver a pluriactividade local, através da dinamização de distintas

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atividades - como é o caso do turismo de natureza - foi necessário analisar e estudar alguns exemplos práticos ligados directamente ao programa que pretendemos realizar.

Numa primeira fase, a metodologia aplicada a este capítulo recorre a uma análise

efetuada na sequência do programa “Aldeias de Portugal”, que tem como objectivo reforçar a oferta de produtos e serviços complementares, ligados a uma experiencia turística em contacto com o mundo rural de forma a projectarem as aldeias classificadas como uma mais-valia do território. Ligada à rede das Aldeias de Portugal, a Branda da Aveleira servirá de exemplo prático ou de referência estratégica no que diz respeito ao desenvolvimento do turismo de aldeia, quer pela temática do desenvolvimento de alojamento de todo um conjunto, quer na reabilitação fiel de algumas das construções respeitando a essência e a memória do lugar.

No que diz respeito à identidade dos espaços rurais e centrando-nos na arquitectura

vernácula da região Norte do país, houve por isso a necessidade de nos guiarmos por alguns exemplos práticos, em que a reinterpretação de novos modelos preserva a absoluta fidelidade com as pré-existências, utilizando os materiais provenientes do local, e que neste caso concreto eram anteriormente ligados diretamente ao pastoreio e à agricultura, agora convertidos em habitação ou em simples abrigos de montanha.

Em relação à temática do alojamento em áreas de montanha, a pesquisa de alguns

exemplos estratégicos, nomeadamente, a escala e a funcionalidade dos espaços comuns a habitar, contribuiu para a organização de um programa simples, em que a utilização da madeira nos espaços interiores assume relevância, tanto a nível estético como a nível funcional.

Dentro da mesma lógica, houve também a necessidade de estudar o caso prático

de um Hostel, sendo este estruturado em áreas específicas que determinam a organização do programa em que os espaços habitáveis resultam de uma variada tipologia de quartos partilhados.


1.1 Aldeias de Portugal

A revitalização de activos patrimoniais nas aldeias, sem uso ou devolutos, pode

oferecer um interesse estratégico, viabilizando um novo espaço turístico ou cultural e propiciando grandes benefícios para estas localidades.

Concentrando a nossa atenção no quadro de construção do PNPG turístico,

destacamos o programa das “Aldeias de Portugal”, projecto de cooperação inter-territorial, desenvolvido pela ADRIMAG em parceria com as Associações LEADER da Região Norte o qual tem por objectivo a promoção e a valorização de aldeias classificadas com elevado valor histórico, cultural e ambiental numa estratégia que visou, igualmente, objectivos turísticos, e estes por sua vez, visam ligar o desenvolvimento das mesmas, no plano económico, social e cultural(110).

A Estratégia Local de Desenvolvimento da ADRIMAG aponta para o estabelecimento

de parcerias de cooperação e de desenvolvimento estratégicas que proporcionem a promoção externa dos recursos turísticos bem como dos recursos endógenos da região. Na óptica do turismo é apontada como crucial a continuidade da implementação do projecto de divulgação das Aldeias de Portugal, como forma de promoção dos núcleos rurais do território de Intervenção e de crescimento do número de visitantes.

As linhas de actuação das “Aldeias de Portugal” têm como objectivo principal,

reforçar a oferta de produtos e serviços complementares, ligados a uma experiência turística em contacto com o mundo rural, e conseguir por esta via, atrair novos investidores que dinamizem e projectem as aldeias classificadas como uma mais-valia turística do território(111).

Um desses exemplos no Norte de Portugal, nomeadamente no PNPG, é a Branda

da Aveleira – o caso de estudo escolhido - ligada à rede das Aldeias de Portugal. É do nosso interesse, compreender o valor que este tipo de aldeias pode desenvolver no espaço rural e como é que a arquitectura surge como estratégia ou como meio dinamizador destas localidades. (110) Aldeias de Portugal (Consulta In http://www.adrimag.com.pt/index.php?option=com_content&view=category&id=58&Itemid=300, 27 de Maio 2013, 00:50). (111) Aldeias de Portugal (Consulta In http://www.valedominhodigital.pt/portal/page/portal/Portal_Regional/Turismo/ para_dormir/aldeias_de_portugal, 27 de Maio 2013, 01:32).

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96 Fig.19 Localização da Branda da Aveleira

Fig.20 Branda da Aveleira, Turismo de Aldeia

Fig.21 Casas recuperadas associadas ao turismo de aldeia no espaço rural

Fig.23 Respeito pela traça e pela arquitectura popular da região do Minho

Fig.22 Trilho da branda da Aveleira associado ao turismo de natureza

Fig.24 Exemplo de uma cardenha, cobertura em falsa cúpula


1.2 Branda da Aveleira Localização: Gave, Melgaço, Portugal Ano Projecto: 2008

Às portas do PNPG, nas encostas da serra da Peneda, em Melgaço, no Alto Minho,

podemos encontrar uma antiga aldeia de Verão, a Branda da Aveleira (figuras 19 e 20). Caracterizada por uma paisagem e um conjunto arquitectónico de enorme valor patrimonial, a aldeia é o testemunho de uma tradição agrícola e cultural de grande valor antropológico, que a torna muito especial e singular(112).

Hoje, pelas características dos seus alojamentos, está vocacionada para o Turismo

Rural e de Montanha (figura 21). Devido à sua localização e complementada com as demais ofertas turísticas de Melgaço, ela proporciona aos seus visitantes variadas possibilidades para que desfrutem de uma estadia no espaço rural(113).

Os trilhos na vertente lúdica, desportiva ou de interpretação ambiental são das

actividades que mais se realizam no território pertencente ao PNPG e a Branda da Aveleira não é excepção (figura 22 e 23). Localizada dentro da rede de percursos pedestres (trilho da Branda da Aveleira e o trilho Brandeiro) a aldeia oferece actividades de animação ambiental associadas ao desporto de Natureza uma vez que cresce o número de visitantes interessados nestas práticas, pelo que a recuperação de antigas casas abrigo (figura 24) ou de outras construções, faz parte de uma iniciativa importante para a qualificação da componente de alojamento local e para a melhoria da imagem turística do PNPG.

A Branda da Aveleira é constituída por um conjunto de casas rústicas, muito típicas,

designadas por cardenhas, tendo sido algumas delas recuperadas para turismo e cada uma delas transformada num alojamento com qualidade, mantendo a sua traça original.

Dado que o nosso caso de estudo se insere no PNPG e também corresponde a

uma oferta de actividades ligadas ao turismo de natureza, nomeadamente na realização de percursos pedestres, este caso de estudo servirá de modelo ao desenvolvimento do conceito de alojamento local em espaço rural face às oportunidades que este tipo de turismo poderá suscitar trajectórias inovadoras e sustentadas de desenvolvimento regional e local. (112) cf. Branda da Aveleira (Consulta In http://www.brandadaaveleira.com/index.php?p=1, 27 de Maio 2013, 02:05h) (113) cf. Branda da Aveleira (Consulta In http://www.aldeiasdeportugal.pt/, 27 de Maio 2013, 02:09h).

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Fig.25 A ruína do antigo moinho

Fig.26 O abrigo após a transformação arquitectónica

Fig.27 Utilização da madeira e do granito na construção


2. Exemplos práticos de reabilitação no espaço rural: novos materiais e soluções construtivas 2.1 Reconversão de um Moinho Arquitecto(s): José Gigante Localização: Vilar de Mouros, Caminha, Portugal Ano Projecto: 1989/1996

A importância da reabilitação do património como instrumento para assegurar a

manutenção da memória de um passado que importa transpor no futuro, explora a questão da reconversão de usos como meio de intervenção no património construído, que possibilita a reutilização de antigas estruturas edificadas no espaço rural.

Considerando o património construído como um conjunto de sobreposições de

camadas e fases de construção, resultantes da necessidade de uma actuação funcional, procura-se perceber de que modo, estas sobreposições são trabalhadas e mantidas no processo de intervenção de forma a não comprometerem o seu passado e a sua história. Se a reutilização de um espaço ou de um edifício pressupõe a realização de obras de carácter contemporâneo, é um facto que procuramos perceber através de alguns casos de estudo, de que forma as novas estruturas se conjugam com as antigas utilizando novos materiais e novas soluções construtivas.

Tratando-se de operações no património construído na região Norte do país, a

abordagem de intervenções e os seus diferentes resultados apresentam-se como caminhos possíveis no campo da reconversão. Neste subcapítulo, procurou-se através de algumas obras da autoria de José Gigante (o moinho e o sequeiro) uma análise mais comparativa, mais completa e conclusiva sobre esta temática.

Contudo, na região Norte de Portugal, mais propriamente no terreno de uma casa

recuperada ficou a aguardar a vez um velho moinho (figura 25).

Tendo em conta a memória do lugar, o valor linguístico, material e sobretudo

patrimonial, surgiu a ideia de transformar o moinho em complemento da casa (figura 26), dando-lhe vida própria como espaço de estar e de dormir. Como assinala José Gigante, “(...) a presença do moinho era tão forte que qualquer grande intervenção tinha minimizado o seu encanto” (114). (114) cf. DOMENIG, G., - “Rehabilitación: Arquitectura actual”, pp.128-139.

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100 Fig.28 Planta do piso 0 e do piso superior

Fig.29 Cortes verticais AA’ e BB’

Fig.30 Vista interior do piso 0 O desenho do mobiliário procura a sua funcionalidade através do mínimo espaço de manobra


De forma a não destoar a imagem do edifício, a intenção foi a de permanecerem as

grossas paredes de granito de pedra solta, recorrentemente utilizado nesta região do país. A intenção de respeitar a identidade do lugar e a absoluta fidelidade com a pré-existência e o desejo de o transformar começou naturalmente de dentro para fora. Organizou-se um espaço de apenas 8m2, com a utilização quase exclusiva da madeira como material de construção. Graças ao material utilizado, foi possível criar um ambiente acolhedor no qual as paredes e as poucas aberturas parecem ser cúmplices dessa atmosfera.

No espaço de entrada, onde a presença de um rochedo determinou o desenho da base

da escada, ensaiou-se a procura do mínimo espaço de manobra. Como podemos observar (nas figuras 28 e 29), a planta de rés-do-chão possui um quarto de banho, uma área de estar, com a possibilidade de transformar o sofá em cama em que uma caixa, concebida como um estojo, contém todas as peças de montagem (figura 30). No piso superior, tudo se resume a um armário e um estrado/cama que se prolonga na janela(115).

Em relação ao desenho da fachada ondular, as únicas aberturas são as existentes,

sobrevalorizadas pela sua natural capacidade de revelar na parede onde se recortam, a ideia de abrigo que a contraposição de materiais sublinha. Por isso torna-se importante o modo como delas se apropria o espaço interior.

Quando as paredes ocupam, como é o caso, maior área que o espaço interior, é quase

natural que a sua espessura se transforme num fértil território. E é sobretudo nessa espessura que o drama se desenha(116).

(115) cf. GIGANTE, J., - Habitar, pp.15-27. (116) cf. Reconversão de um moinho (Consulta In http://www.josegigante.com/, 25 de Maio 2013, 20:21h).

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102 Fig.31 Edifício existente do antigo sequeiro com apenas quatro módulos na fachada principal

Fig.32 Sistema de sombreamento através de portadas em madeira (reinterpreta a arquitectura popular portuguesa do Minho)

Fig.33 Utilização do granito e da madeira, materiais provenientes da região Norte


2.2 Reconstrução de sequeiro (habitação) Arquitecto(s): José Gigante Localização: Urgezes, Guimarães, Portugal Ano Projecto: 2002/05

O sequeiro pré-existente, mais pequeno, situava-se numa área de terreno entretanto

vendida, e era desejo do proprietário transferi-lo para novo um local, reconvertendo-o em habitação própria permanente. Porém, a sua dimensão não comportava o programa esboçado (figura 31). Entre a absoluta fidelidade ao preexistente, necessariamente obrigado a eventuais acrescentos, surge a reinterpretação de um novo modelo que preservasse a sua essência(117). Assim renasceu o sequeiro, com dois módulos acrescentados aos quatro primitivos, aproveitando algumas das peças de granito resultantes de outras demolições (figura 32). Em função do programa pretendido, no piso de entrada, ordenou-se uma área open-space da qual resulta uma cozinha, uma sala de estar, um quarto de banho e respectivos arrumos. De forma a não compartimentar o espaço - já que se assumiu o sistema de open-space - houve a necessidade de criar uma escada de único lance recuada em relação ao plano do mobiliário, que dá acesso aos três quartos e aos respectivos quartos de banho.

Embora a ampliação tivesse cumprido o programa, interessa-nos desenvolver em

particular, a solução arquitectónica desenvolvida através da utilização dos materiais e das técnicas construtivas, que de alguma forma não puseram em causa a integridade do edifício.

Desta forma, a sua reconstrução manteve o princípio da parede estrutural envolvente

de alvenaria de granito, sem recurso a quaisquer elementos de betão armado, e adoptou-se um modelo misto de estrutura de aço e madeira no pavimento e na cobertura, aligeirando assim as cargas. Sob uma cobertura de zinco ventilada, acrescentou-se um forte complemento de isolamento térmico em toda a envolvente, de modo a compensar a fraca inércia térmica resultante das opções construtivas(118).

Num modelo essencialmente caracterizado por uma fachada amplamente aberta,

deu-se também atenção aos recursos energéticos passivos do edifício, orientando a mesma (117) Idem, GIGANTE, J., pp.73-87. (118) cf. Reconstrução de um Sequeiro (Consulta In http://www.josegigante.com/, 6 de Junho 2013, 18:26)

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Fig.34 Fachada principal com a estrutura e pavimento exterior em peças de granito

Fig.35 Recuo dos planos evita simultaneamente o sombreamento e o compromisso directo das caixilharias envidraçadas.

Fig.36 Utilização do granito na estrutura e da madeira nas portadas


fachada para Sul e recuando as superfícies envidraçadas o suficiente para, no período mais quente, beneficiarem do sombreamento proporcionado pelo próprio corpo da construção (figuras 34 e 35). Tal como refere José Gigante é evidente que um discurso arquitectónico não se esgotou na estrita resolução dos componentes construtivos das soluções, o que explica por que razão acrescentou aquele recuo dos planos envidraçados numa resolução essencial na ideia de composição da nova fachada do sequeiro. Sendo o recuo dimensionado para a recolha das folhas móveis em que se subdividem as portadas exteriores, evita-se simultaneamente o compromisso directo das caixilharias envidraçados com o pórtico estrutural de granito, preferindo reinterpretar nas mesmas portadas o sentido formal dos planos de ripado de madeira que preenchiam os vãos da fachada do velho sequeiro(figura 36)(119).

Renunciando à adopção literal do modelo pré-existente, o desenho das portadas

procura responder às novas exigências de funcionalidade e de conforto, facultando a abertura total ou parcial das folhas e inserindo em cada uma delas um contra-ripado corrediço que, proporcionando melhores condições de ventilação, contribuirá com o seu accionamento disseminado, para que a leitura da fachada incorpore subtis variações de luz(120).

Em relação à linguagem do edifício, optou-se por um sistema que se pretendeu

integrado, no qual a estrutura de granito nunca surge, a partir do exterior, dissociada do sistema de preenchimento dos seus vãos. Quando as portadas se abrem, são elas mesmas que desenham a espessura da fachada, revelando o espaço interior.

Directamente articulado com a nova eira lajeada a granito é esse espaço, afinal, o

protagonista central da experiência arquitectónica, sem o qual nada do resto faria sentido(121). (119) Idem, ibidem. (120) SILVA, V., - Publicação de projecto “Reconstrução de Sequeiro – Guimarães” (em co-autoria com José Gigante) In revista “arq./a n.º 37” (121) cf. Reconstrução de um Sequeiro (Consulta In http://www.josegigante.com/, 6 de Junho 2013, 18:26)

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106 Fig.37 Enquadramento do edifício na paisagem

Fig.38 Espaço mínimo de habitar com uma estrutura leve em madeira

Fig.39 Planta piso 0 - cozinha e sala de estar

Fig.40 Utilização da madeira no interior da habitação

Fig.41

Planta piso 1 - espaço de dormir e quarto de banho

Fig.42 Corte transversal do edifício


2.3 Reabilitação de uma habitação Arquitecto(s): CREUSeCARRASCO Arquitectos Localização: La Paloma, Espanha Ano Projecto: 1995

A temática da reabilitação, com níveis de exigência cada vez mais definidos (por

parte da sociedade actual), no que respeita ao factor qualidade, pode colocar em causa a integridade do edifício com a utilização de materiais e técnicas construtivas contemporâneas. O equilíbrio, resultante de uma sobreposição de valores estéticos e funcionais, normalmente utilizado no processo de intervenção da reabilitação e da recuperação de edifícios devolutos, exige um estudo mais aprofundado das diferentes camadas bem como das diferentes fases da construção. Contudo, a construção pré-existente em La Paloma, situada num grande prado, onde existiam apenas as paredes estruturais e os vãos do edifício, nada se sabendo dos seus últimos habitantes ou da sua distribuição interior, houve a necessidade de reconstruir o conjunto a partir das superfícies existentes (figura 37). Daí que o desejo de transformá-la tenha naturalmente começado de dentro para fora (figura 38).(122)

A volumetria manteve-se, mas não as formas interiores do conjunto original. Ordenou-

se um espaço com apenas 17m2 com a utilização quase exclusiva da madeira como material de construção, tornando desta maneira o espaço mais quente e acolhedor (figura 40). No edifício de dois pisos, com escassas aberturas para o exterior, tentou-se tirar partido da luz natural recorrendo a um recorte da laje superior (mezanino)(123).

Como ponto de partida, foi a utilização de uma escada central, que se tornou o

elemento organizador de todo o conjunto interior. Assim, ordenou-se no piso inferior uma cozinha e uma área de estar e no piso superior ficou localizada a área de dormir com o respectivo quarto de banho (figuras 39 e 41). Embora a intervenção não tenha posto em causa a integridade do edifício (pré-existencia), é do nosso interesse explicar algumas das estratégias utilizadas tanto a nível arquitectónico como estrutural, de forma a fortalecer o projecto prático de intervenção, abordado com mais informação e detalhe no capítulo seguinte. (122) cf. Casa La Paloma 95 (Consulta In http://www.creusecarrasco.com/, 26 de Maio 2013, 21:46). (123) cf. LLANO, P.,– “Arquitectura popular en Galicia”: Razón y construcción, pp.214-215.

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108 Fig.43 Preikestolen sobre o Fiord de Lyse, Forsand - Noruega

Fig.44 Enquadramento do edifício na paisagem

Fig.45 Reinterpretação da arquitectura local através da utilização dos materiais


3. Exemplos de programas: alojamento em áreas de Montanha 3.1 Abrigo de montanha Pulpit Rock Arquitecto(s): Helen & Hard As Localização: Strand, Noruega Ano Projecto: 2008

Os espaços rurais europeus aparecem cada vez mais associados a novas funções e

utilizações dependentes das respetivas sociedades urbanas. Nesta atmosfera de mudança, o turismo e o património construído e não construído assumem grande expressão como alavancas no desenho de vias alternativas e complementares de desenvolvimento rural.

Como referimos anteriormente, destacam-se novos interesses no que diz respeito ao

contacto com a natureza, às atividades culturais, lúdicas, desportivas, à qualidade paisagística, entre outros. Multiplicam-se as diversas ofertas em termos turísticos e os novos padrões de comportamento e consumo das sociedades pós-modernas.

No caso de alguns países nórdicos, por exemplo na Noruega, cresce a vários níveis

da sociedade o reconhecimento da importância deste turismo associado ao contacto com a natureza, desde a sua importância para o desenvolvimento territorial, social, económico e ambiental, ao contributo no ordenamento e gestão temáticas de grande actualidade e relevância científica e social.

Trata-se de países onde as actividades de animação ambiental, associadas normalmente

ao desporto de natureza e interpretação ambiental são consideradas oportunidades para o desenvolvimento da dinamização económica regional e local.

Perante tais factos, resultantes da diversidade dos territórios em áreas de montanha

e das transformações sociais ocorridas nas últimas décadas, interessa-nos compreender a qualificação da componente de alojamento na óptica do turismo de natureza.

Tomando como referencia um exemplo prático - o crescimento da actividade do

Turismo de Natureza em Forsand – verifica-se que é cada vez mais valorizado no contexto paisagístico e socioeconómico. Cerca de 120.000 pessoas por ano percorrem 3,8km de caminhada até Preikestolen, falésia de 604 metros que se ergue sobre o Fiord de Lyse, e que constitui uma das atracções turísticas mais visitadas da Noruega(figura 43)(124). Respondendo ao número crescente de turistas que vistam este local, foi necessário substituir uma antiga (124) cf. FERNANDES, G., - “Pulpit Rock Mountain Lodge / Helen & Hard”. (Consulta In http://www.archdaily.com. br/76535 24 Maio 2013, 18:08).

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Fig.46 Planta piso 0 - entrada, recepção, sala

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de estar comum, restaurante, cafetaria e sala de conferências

Fig.47 Planta piso 1 - Módulos duplos simples e áreas de estar comuns

Fig.48 Planta piso 2 - Módulo de habitar duplo e módulo de habitar duplo duplex

Fig.49 Módulo de habitar duplo com área mínima


casa construída em 1947, por um empreendimento de maior escala, adequado à carga turística e às necessidades de uma sociedade moderna (figura 44).

O edifício, localizado num trilho estratégico, tem capacidade para receber

aproximadamente 40 pessoas, possui 28 quartos, um café, um restaurante e uma sala de conferências(125) (figuras 46,47 e 48).

A sua implantação, num terreno irregular, traduziu-se no desdobramento da volumetria

em torno de um afloramento de rocha, permitindo a marcação da entrada principal e a divisão do edifício em duas áreas distintas. Uma mais privada, onde se encontra a hospedaria e outra mais pública, ligada à cafetaria, ao restaurante e à sala de conferências(126).

A linguagem do edifício, influenciada pela utilização da madeira nas construções

tradicionais da região, constituiu um ponto de partida em que através da nova tecnologia construtiva fosse possível alcançar ambiciosos padrões de construção ecológicos.

A nível tectónico, a estrutura do edifício é composta por 32 nervuras de elementos

em madeira maciça colocadas a uma distância entre elas, de 2,8 metros. As lajes, paredes e cobertura são construídas com o mesmo sistema pré-fabricado em madeira em que o seu sistema de fixação é apenas de encaixe. De uma forma inovadora, o isolamento das paredes foi realizado através de jornais reciclados no exterior, cobertas por uma placa de fibra de madeira e revestidas em pinho, o que fez com que a espessura total das paredes fosse de sessenta centímetros (60cm)(127).

A forma compacta em madeira com grandes aberturas orientadas a Sul e com uma

vista privilegiada para o fiorde faz da pousada Pulpit Rock um edifício modesto (figura 49), sustentável e com instalações adequadas a pessoas de mobilidade reduzida. (125) Pulpit Rock Mountain Lodge (Consulta In http://www.hha.no/projects/pulpit_rock_mountain_lodge_preikestolen/, 10 de Junho 2013,18:25) (126) Idem, ibidem. (127) Idem, ibidem.

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112 Fig.50 Enquadramento do conjunto na paisagem

Fig.51 Fachada de topo em alvenaria de pedra

Fig.52 Vista interior da área de estar

Fig.53 Fachada topo do antigo palheiro em pedra enders

Fig.54 Planta piso 0 da habitação e planta do piso 1 do antigo palheiro agora convertido em abrigo de montanha

Fig.55 Vista interior da habitação


3.2 Abrigo de montanha: Woodstock farm Arquitecto(s): Rick Joy Architects Localização: Vermont, E.U.A Ano Projecto: 2009

Na paisagem única de Vermont, nos Estados Unidos, num terreno de 80 hectares,

envolvido por montanhas e por uma grande mancha arbórea, existiam apenas vestígios de dois edifícios devolutos com funcionalidades distintas, integrados num esquema clássico de quinta, em que existia uma casa e o respectivo palheiro.

As construções tinham sofrido algumas transformações arriscadas embora as suas

fundações e as suas paredes não necessitassem de restauração. Houve então a intenção inicial de recuperar todo o conjunto utilizando as técnicas e materiais tradicionais de forma a respeitar a memória e a identidade do lugar (figura 50). O princípio fundamental do conjunto baseou-se na relação com a pré-existência, ou seja, com o antigo palheiro e a relação do novo edifício com a envolvente. Apesar das diferentes escalas, a proximidade dos novos volumes com a antiga construção dá origem a um conjunto harmonioso.

A forma do novo edifício, de 46 metros de comprimento, com a sua cobertura

de duas águas em que as fachadas dos topos são revestidas em alvenaria de pedra e as restantes fachadas revestidas com a pedra enders (figura 53), (material utilizado no vizinho estado de Rhode Island pelos colonos britânicos no século XVII) traduz a reinterpretação contemporânea da arquitectura local(128) .

O refúgio de montanha alberga num dos edifícios a família do proprietário. Dispõe

de uma cozinha, uma sala de estar, um quarto de banho e de cinco quartos, cada um com a sua respectiva casa de banho. O piso inferior funciona como complexo desportivo para a família (figura 54).

De forma a alojar outros convidados, houve necessidade de reconverter o celeiro em

abrigo, introduzindo um corpo com uma sala de estar, três quartos duplos com o quarto de banho partilhado, uma suite e ainda um campo de basquetebol. Nesse mesmo volume, abrese uma plataforma sobre o lago, alinhada com o antigo palheiro de forma a rematar todo o conjunto com a paisagem envolvente. (128) cf. In revista ARCHITECTURES À VIVRE : Maisons à la Montagne nº70, pp.52-61.

113


114 Fig.56 Enquadramento do edifício na paisagem

Fig.57 Fachada sudoeste do edifício

Fig.58 Planta piso 0 - entrada, recepção, módulos de habitar e a sala

Fig.59 Materialidade e estereotomia da

de estar comum

Fig.60 Planta piso 1 - módulos de habitar e respectivos acessos

fachada exterior

Fig.61 Alçados


3.3 Pousada da juventude: Movijovem Penhas da Saúde Arquitecto(s): comA, Architecture and Design Localização: Serra da Estrela, Portugal Ano Projecto: 2008

Na paisagem única das Penhas da Saúde, o desafio era projectar um novo edifício

low-cost complementar ao edifício “mãe” da Pousada da Juventude Penhas da Saúde, capaz de dar resposta às necessidades de um público jovem mais exigente(129).

O projecto, apoiado em dois princípios fundamentais – dialogar com o edifício

existente e com a arquitectura local – implicou que o novo edifício adotasse uma localização ergonomicamente estratégica suficientemente próxima para se relacionar com o edifício e distante o suficiente para se assumir como volume independente capaz de reinterpretar formal e plasticamente a arquitectura do sítio(130)(figuras 56 e 57).

A implantação garante-lhe um estatuto de edifício de entrada ao mesmo tempo que

assegura a total visibilidade e protagonismo do edifício principal. Assente numa plataforma/ promontório exterior, tenta usufruir da luz natural e da paisagem envolvente.

A construção desenvolve-se em dois pisos, com uma acomodação funcional, dispõe

de vinte e quatro quartos duplos e uma sala de convívio comum, com 695 m2 (figuras 58 e 59). Demonstrando a simplicidade de todo o conjunto, foi essencial perceber de que forma se adaptaram as circulações aos espaços comuns e as soluções que exploraram a problemática da área mínima de habitar de forma a garantir um melhor aproveitamento dos espaços.

No interior são utilizados materiais de baixo custo em que a principal preocupação

é a de encontrar uma harmonia entre a proporção, a luz e os próprios materiais e não propriamente no desenvolvimento de um conjunto de estilo(131).

Num registo arquitectónico de contenção orçamental, o novo edifício procura tirar

partido da luz natural, das vistas e dos materiais locais, e oferece, acima de tudo, um conjunto de espaços que vai mais além do tipo tradicional de pousada da juventude. (129) cf. ALVES, J., - “Albergue Movijovem /ComA”. (Consulta In http://www.archdaily.com.br/79253 24 May 2013, 00:22h). (130) cf. Pousada da Juventude Penhas da Saúde (Consulta In http://coma.com.pt/projects/pousada-juventude.html, 25 de Maio, 00:44h). (131) cf. Pousada da juventude das penhas da Saúde In Arquitectura Ibérica nº 37 Hoteis/Hostels.

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116 Fig.62 Enquadramento do edifício na paisagem

Fig.63 Quartos partilhados com respectiva área de higiene

Fig.64 Aproveitamento do espaço na célula mínima de habitar


4. Exemplo de um Hostel em área de montanha Arquitecto(s): LAVA Localização: Berchtesgaden, Alemanha Ano Projecto: 2011

Um hostel pretende oferecer aos seus clientes mais do que apenas alojamento. Além de ter o quarto como principal solução de dormida (o que não invalida que disponibilize quartos individuais), é suposto oferecer programas complementares à estadia que estimulem o intercâmbio entre os hóspedes e que lhes permitam desfrutar das especificidades culturais do lugar. Como nos explicaram, “(...) um hostel não oferece camas, oferece experiências”(132).

Particularmente nos hostels, a pretensão de fugir aos estereótipos da hotelaria gera,

em contrapartida, um novo estereótipo, que promove comportamentos-padrão e imagens facilmente identificáveis. Cada hostel tem as suas características e elementos típicos. Com essa ambição de ancorar a imagem do hostel ao lugar, domesticando-a, os hostels tornam-se universais(133).

Outro aspecto diferenciador desta oferta turística são os sistemas de angariação de

clientes. Ao contrário da hotelaria, cuja estrutura de reservas se baseia no envolvimento de agências de viagens ou promoção de pacotes turísticos, os hostels encontram os seus clientes através da Internet, em websites de reservas.

Centrando a nossa atenção neste tipo de alojamento em áreas de montanha e de

acordo com o modelo de alojamento colectivo no mundo rural, constata-se que a procura destes espaços tem permitido uma ocupação em constante ascensão devido à melhoria da qualidade dos serviços. Com uma acomodação funcional, vive-se normalmente o espírito de comunidade por se disporem de áreas de convívio social.

Já na Alemanha, a reinterpretação de uma pousada da juventude já existente resultou

num novo tipo de alojamento com diferentes tipologias de espaços habitáveis (figura 62). A transformação teve por base a individualização dos espaços alcançada graças a uma (132) TAVARES, A. & MARTINS, P. I., (2013) - Arquitectura ‘low-cost’ (Consulta In http://www.jornalarquitectos.pt/ arquitectura-low-cost/, 11 de Junho 2013, 02:41), pp.4-15. (133) Idem, ibidem.

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118

Fig.65 Organização dos espaços interiores (circulações, áreas comuns de estar e de dormir)

Fig.66 A estrutura da cobertura em duas águas permite um melhor aproveitamento dos espaços interiores

Fig.67 Os grandes vãos permitem a contemplação da paisagem


organização inteligente do volume existente, resultando numa variada tipologia de quartos partilhados(134).

Os estudos sobre este tipo de alojamento (Hostel) em áreas urbanas baseiam-se em

procurar gerar um conjunto simples, bem definido, combinando elementos de qualidade, materiais e mobiliário, com espaços comuns que estimulam a actividade, a interacção colectiva e um sentido de comunidade. Desta forma, utilizam-se espaços flexíveis onde a comodidade é alcançada através da facilidade de movimento dentro de cada célula, complementada com amplos móveis de armazenamento, de equipamentos e de serviços.

A reorganização das funções de cada espaço constituiu a primeira fase do projecto

em que a atribuição de actividades próprias em áreas específicas determinou a organização do programa (figura 65)(135).

De forma a aproveitar os espaços da antiga pousada, a estrutura da sala existente foi

aberta dando lugar a quartos destinados às famílias ou a grupos entre quatro a seis pessoas. A reorganização inteligente deste e de outros espaços foi possível, graças à utilização de materiais pré-fabricados em madeira, que para além de serem mais económicos e esteticamente mais agradáveis, ajudam a compensação da inércia térmica(figura 66)(136).

As áreas de circulação vinculam o interior do edifício com o exterior. A contemplação

da paisagem é proporcionada através de pequenos bancos, mesas ou plataformas de observação na fachada (figura 67).

(134) cf. DELAQUA, V., - “Hostel para Jovens em Berchtesgaden / LAVA” 18 Sep 2012. (Consulta In http://www.archdaily.com.br/70062, 30 de Maio 2013,18:35) (135) cf. BERCHTESGARDEN YOUTH HOSTEL, Consulta In http://www.l-a-v-a.net/projects/berchtesgarden-youth -hostel/, 30 de Maio 2013, 19:03) (136) Idem, ibidem.

119



CAPÍTULO IV

Abordagem histórica e análise territorial: Castro Laboreiro



1. Contextualização: caracterização física e socioeconómica

A freguesia de Castro Laboreiro, localizada no planalto com o mesmo nome, em

plena serra, ocupa uma extensa área dentro do PNPG, correspondente a um território de 8650 hectares, sendo limitada a nordeste pela Serra da Peneda, a norte por um planalto que atinge a cota dos 1335 metros e a Sul pelo vale originado pelo rio Laboreiro(137). No interior dos limites territoriais e administrativos da freguesia pertencente ao concelho de Melgaço, os nomes dos povoados, a sua disposição geográfica e altimétrica, as habitações, a pobreza do meio, os recursos, as técnicas e o património, transportam consigo as marcas de uma proximidade, quase de uma identidade, com a primitiva civilização castreja, ramo noroeste peninsular, que teria nos altos pontos montanhosos a sua principal área de expansão(138). Todas estas características conferem-lhe ainda hoje marcas históricas de uma civilização individualizada onde persistem alguns traços antigos culturais e civilizacionais.

As distintas configurações do espaço geográfico foram desde muito cedo um factor

importante para a formação dos núcleos de povoamento dispersos no território. Influenciadas por um sector da cultura castreja, apresentam um regime de alternância residencial polarizada por duas realidades ecológicas distintas, localmente designadas de brandas e inverneiras (tema que iremos abordar adiante). São portanto vestígios de um sistema de transumância onde são frequentemente encontradas construções vernáculas, estas parcialmente ou totalmente abandonadas devido ao êxodo rural.

Apesar das transformações político-administrativas, culturais e religiosas é um facto

que os antigos traços culturais e civilizacionais persistem e conferem a Castro Laboreiro as características mais marcantes da sua personalidade histórica e civilizacional. Contudo, enquanto a comunidade vai resistindo facilmente aos mecanismos de integração políticoinstitucional dos senhorios, câmaras e poder central, na serra e nos planaltos da freguesia, a pobreza do solo, conjugada com a posição geográfica, impossibilitaram a assimilação de (137) cf. LIMA, A. S. - Castro Laboreiro povoamento e organização de um território serrano, p.11. (138) cf. CARDOSO, M. – Castros, in “Dicionário da história de Portugal”, pp.532-536.

123


124 Fig.69 Vila de Castro Laboreiro Melgaço

Fig.70 Campos agrĂ­colas separados por muros em pedra de granito Branda da Gavieira Arcos de Valdevez

Fig.71 Economia Rural Soajo Arcos de Valdevez


elementos do património técnico e agrícola de civilizações mais avançadas e, naturalmente, o acesso a etapas superiores de vida económica(139). “O contributo da civilização romana, que ainda hoje marca profundamente a organização da economia e do espaço agrícola, na forma regular que imprimiu à divisão do território, no povoamento disperso, no desenvolvimento do elemento urbano e nas funções mercantis, fez com que a sociedade e a economia de Castro se mantivessem alheadas às influências da cultura romana.”(140).

Com a romanização, a prática de uma economia tipo agro-pastoril em Castro

Laboreiro determinou uma mudança estacional, designada, de transumância. A dimensão e os motivos determinantes desta movimentação são aspectos que permitiam estabelecer, de imediato, o contraste entre as duas modalidades. Uma parte importante da população de Castro Laboreiro, num movimento anual, descendente e ascendente, transita com o seu gado para os locais de fixação temporária, brandas e inverneiras, embora tendo diferentes períodos de permanência em cada um destes núcleos residenciais. As populações que praticam a transumância no seu esquema de vida económico e social, limitam-se a deslocar o rebanho e a respectiva família do pastor para estes pequenos núcleos serranos(141).

A complementaridade é alcançada por estes povos, graças às diferentes componentes

do seu sistema económico, desenvolvido em espaços próprios em que tanto nos montes planálticos como nos vales das montanhas provêm de pastos e de produtos agrícolas.

As distintas configurações que o fenómeno das deslocações sazonais assume na

cultura dos povos que as praticam, enraízam-se na diferente natureza das relações que por eles são mantidas ao longo dos tempos com o seu habitat sendo este, por sua vez, condicionado pelas variáveis históricas que estiveram na base do primitivo assentamento desses povos no território. Brandas e inverneiras, representam uma singularidade no contexto da comunidade (139) cf. Associação dos Arquitectos Portugueses - Arquitectura Popular em Portugal, pp.15-38. (140) RIBEIRO, Orlando – A formação de Portugal, In “Dicionário da história de Portugal”, pp.432. (141) cf. GERALDES, A. D., – Brandas e Inverneiras particularidades do sistema agro-pastoril castrejo, pp.11-14.

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castreja, onde, para além do grupo que pratica as migrações sazonais existe outro, que mantém, ao longo de todo o ano, hábitos de vida sedentária, não havendo registo de que se tivesse comportado de outra maneira no passado(142).

O uso do espaço pelo pastoreio, caracterizado por migrações sazonais na época das

chuvas e na época seca, prevalece em áreas do globo em que a posse do gado constitui ainda um importante sinal de riqueza. Com o aumento da população, estende-se a prática do pastoreio a áreas mais vastas, de modo que a destruição persistente do revestimento herbáceo concorre para acelerar a degradação dos solos(143). O resultado na destruição do solo e do habitat evidencia-se nas dificuldades crescentes em sustentar tanto os animais como os seres humanos em vastas extensões do território português. O baixo valor comercial da produção justifica o abandono de muitas áreas agrícolas em que, além das limitações dos solos, razões de localização e dificuldades de acessibilidade determinam a sua utilização não rentável.

(142) Idem, p.12 (143) cf. LEMA, P. B. & REBELO, F. – Geografia de Portugal: meio físico e recursos naturais, p.37.


2. Intervenção do Homem na paisagem

Ao longo de milhares de anos, o solo que deriva do efeito do clima e da vegetação

sobre as rochas da crosta terrestre tem sido sucessivamente modificado pela acção humana. No território de Castro Laboreiro, a utilização do solo pelo pastoreio extensivo foi muito alargada com a transumância que representa uma situação intermédia da vida nómada e da agricultura de uma população serrana.

Existem dispersos pelo país, espólios do homem paleolítico e neolítico sendo nas

idades mais recentes do cobre, ainda enraizada na pré-história, e na da transição para a idade do ferro, que vamos encontrar as primeiras marcas construtivas nesta região do país.

A distribuição dos monumentos religiosos existentes, ou presumíveis, pela toponímia

local perdurável até aos nossos dias, e socorrendo-nos do mesmo método para determinar a difusão das povoações castrejas, temos como evidente, segundo Amorim Girão, a predominante ocupação do solo para esta zona do Minho em contraste com outras partes do país(144).

Com efeito, “(...) várias autoridades revelam para esta secção Ibéria, à parte a

importância demográfica que tais vestígios deixam supor, a florescência de culturas quase nativas, cujos estabelecimentos ocupam sistematicamente grande número dos cumes dos montes ou outros acidentes naturais propícios à defesa.”(145)

A organização destes povos provém de traçado simples e rudimentar, em que os

arrumamentos emparedados cortam-se perpendicularmente ligando as habitações e os currais. As casas, dispostas livremente em grupos, fazem supor uma organização social marcadamente patriarcal. A planta mais típica das construções é redonda com alpendre adossado, embora existam numerosas soluções rectangulares mais complexas. “A construção e as dimensões deixam adivinhar a existência rude destes habitantes, vivendo da pastorícia e da agricultura incipiente. Mas é com a ocupação romana que se iniciam historicamente, (144) cf. Associação dos Arquitectos Portugueses - Arquitectura Popular em Portugal, pp.15-38. (145) Idem, p.15-16.

127


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as bases duma civilização profunda e activa em todos os aspectos sociais e políticos, económicos e administrativos. Submetida ao seu poder, depois de prolongadas lutas, laçamse sistematicamente na exploração da terra, do subsolo e dos povos. Em regimes diversos, consoante a resistência constroem estradas e pontes ligando as novas províncias com o mundo submetido ao poder de Roma.” (146)

Séculos mais tarde, as formas de organização social nas áreas de montanha permitiram

o desenvolvimento de mecanismos de solidariedade que constituem em si mesmos, a base de subsistência, e em certa medida de hierarquização destes povos serranos, face a uma realidade económica e social muito distinta em que a actividade comercial é limitada e o centros urbanos inacessíveis.

A consolidação das tipologias tradicionais da paisagem, assentes num princípio

de sustentabilidade e de subsistência, fundamentou-se na conjugação de dois factores produtivos: o pastoreio de gado e a exploração agrícola. Já o povoamento, organizado em múltiplos núcleos, concentrados em médias e pequenas dimensões, dispersos pelo território, é geralmente composto por conjuntos de construções que servem à base da exploração agrícola familiar (147).

A generalidade das construções ligadas directamente aos modos de vida praticados no

final do século XVIII era caracterizada até então pela simplicidade da forma e da estrutura, apresentando um tipo de casas elementares, usadas em vários pontos da Europa Medieval e pelo recurso generalizado a três materiais: a pedra (granito), a madeira (carvalho) e o colmo (palha do centeio). Nas zonas onde havia argila era utilizada a telha (caleira). Seriam casas de um só piso e uma única divisão, de aparelho de alvenaria seca, não rebocada e aparentemente, de solo de terra batida(148).

Mais tarde com a introdução do cultivo do milho as construções vão-se adaptando ao

(146) Idem, pp.15. (147) cf. MOUTINHO, M. – Arquitectura Popular Portuguesa, pp.37-43. (148) CHAPELOT, J. & FOSSIER, R., –“ Le Village et la Maison au Moyen Age”, pp. 222-223.


tipo de economia praticado por estas populações serranas. A arquitectura de produção, como é exemplo, os sequeiros e os espigueiros enriquecem as formas construtivas destas regiões no que diz respeito à “arquitectura do necessário”, hoje construções únicas, de grande valor patrimonial e cultural são parte integrante da paisagem rural da região Norte de Portugal.

Os habitantes destas pequenas aldeias procuravam a sua subsistência não só no cultivo

das terras nas inverneiras, como também na criação de gado nas brandas. Se a altitude e a abundância de água permitiam a cultura do regadio, o milho mantém-se predominante, na produção do pão.

Como já referimos, não obstante da riqueza que os tipos de produção podem facultar,

há a considerar que a edificação lhes corresponde diretamente(149).

Estas construções, de modo aparentemente espontâneo, manifestavam o quotidiano

do mundo rural, como assinala Menéres “A sabedoria e esse saber transmitido e acumulado, constitui o “corpus” dos nossos mais puros vocabulários arquitectónicos, como resposta às diferentes economias de subsistência, face ao próprio território, encarado desde os factores geológicos, condições climáticas, altitudes em que se fixaram essas colmeias humanas, sua densidade populacional, tudo isto foi sendo caldeado favorecendo a mestria do acto de construir e conferindo com especial carinho, uma qualidade, digamos, estética de “desenho” nas habitações, nos espigueiros, nos sequeiros, nos lagares e caminhos, fontes, etc,.”(150)

(149) cf. Associação dos arquitectos Portugueses - Arquitectura Popular em Portugal, pp.15-38. (150) MENÉRES, A., In Boletim cultural de Melgaço, p.94.

129


FORMARIGO

130

CASTRO LABOREIRO

JOÃO ALVO

BAGO DE BAIXO

DORNA

AMEIJOEIRA

Correspondência Inverneiras

Legenda: P

Área de intervenção Rio Laboreiro

Brandas

Alagoa

Formarigo; Rodeiro; Vido

Ameijoeira

Campelo; Curral do Gonçalo; Eiras

Assureira

Adofreire; Antões; Falagueiras; Queimadelo

Bago de Baixo

Eiras; Padrosouro; Seara

Bago de Cima

Rodeiro

Barreiro

Adofreire; Antões; Falagueiras; Queimadelo;Outeiro; Rodeiro

Bico

Padrosouro; Seara

Cainheiras

Campelo; Padrosouro; Portos; Seara

Curveira

Campelo; Formarigo; Seara

Dorna

Adofreire; Falagueiras; Queimadelo; Rodeiro; Vido

Entalada

Curral do Gonçalo; Formarigo; Rodeiro; Teso

João Alvo

Adofreire; Teso

Laceiras

Formarigo; Rodeiro; Teso

Mareco

Campelo; Formarigo

Podre

Falagueiras; Rodeiro; Vido

Pontes

Campelo; Formarigo

Ramisqueira

Adofreire; Falagueiras; Rodeiro

Varziela

Portela

Esc : 10

20

N

Trilho do Vale encantado

Fig.72 Mapa de Castro Laboreiro_ Sistema de transumância Correspondência entre as brandas e as inverneiras


3. Sistema de transumância: Brandas e Inverneiras

No planalto de Castro Laboreiro e em determinados locais das serras do Soajo e da

Peneda, existem as denominadas Brandas e Inverneiras, vestígios de um sistema de habitação sazonal e reflexo da necessidade das populações utilizarem os pastos localizados na serra para alimentar o gado(151). Esta configuração singular de povoamento, em que as populações tinham a necessidade de se deslocar para as Brandas nas estações de Primavera e Verão, com o propósito fundamental de apoio aos pastores, que nessas alturas mais quentes subiam com o gado à procura de pastagens situadas a uma altitude mais elevada, acabando por aproveitar o terreno em redor para as culturas sazonais(152). No Inverno, as populações deslocavam-se para as Inverneiras, pequenos aldeamentos situados no vale das montanhas que ofereciam às populações condições mais favoráveis, nomeadamente o clima menos rigoroso e melhores condições para a prática da pastorícia e principalmente da agricultura.

O sistema de transumância, reflexo de uma economia agro-pastoril, uma vez, que

a esta dualidade se moldou o povoamento de Castro Laboreiro, organizou-se em múltiplos núcleos concentrados de médias e pequenas dimensões fixando as populações em duas áreas individualizadas, o monte e o vale. Nas extremidades do planalto, entre os 1050 e os 1150 metros de altitude fixam-se as Brandas. Ao longo de um eixo Norte-Sul, na orientação do vale do Trancoso, desenvolvem-se os lugares fixos, compreendidos entre as cotas dos 1050 e dos 900 metros(153). E por último, à cota dos 700 a 800 metros de altitude, ou seja, nos vales do rio Laboreiro, fixam-se as inverneiras.

O modelo de organização espacial do povoamento de Castro Laboreiro, como foi

dito anteriormente, consistiu um sistema de transumância distinto. Enquanto, nas outras comunidades serranas, os agregados familiares de uma inverneira não se deslocam para uma branda, que corresponderia assim a uma única inverneira ou a grupos de inverneiras, em Castro Laboreiro, como podemos analisar (figura 72), cada inverneira corresponde frequentemente a três brandas, número que pode variar entre uma e seis brandas(154). (151) cf. LIMA, A. S. - Castro Laboreiro povoamento e organização de um território serrano, p.11. (152) DOMINGUES, J., & RODRIGUES, A., - In Boletim cultural de Melgaço, pp.200-205. (153) MINHATERRA, Matosinhos – In “Dicionário Enciclopédico das Freguesias: Braga, Porto, V.Castelo”, pp. 423-439. (154) cf. LIMA, A. S., p.57.

131


132 Fig.73 As casas surgem encostadas umas Ă s outras Inverneira de Pontes Castro Laboreiro

Fig.74 Arruamentos estreitos em aglomerados de montanha Inverneira de Pontes Castro Laboreiro

Fig.75 Muro de pedra solta em granito Mareco, Castro Laboreiro


4. Evolução e ocupação dos povos e do habitat

Muitos dos núcleos de montanha, como é o caso de Castro Laboreiro, mantêm as

suas remotas raízes castrejas, tanto na escolha do sítio como em pormenores de construção (aparelho de pedra solta, casas com elementos redondos, cobertura de colmo ou lousa), em traços arcaicos da sua economia (agricultura itinerante, pastoreio extensivo), como na organização comunitária. O carácter estranhamente conservador do ambiente serrano seria assim reforçado pelo exemplo mais antigo que parece possível encontrar-se.

A freguesia de Castro Laboreiro, ao contrário da solução de povoamento que

se observa em áreas próximas, onde provêm igualmente de pastagens naturais, (como é exemplo da serra da Peneda e da serra Amarela), compreende um elevado número de aglomerados, numa solução de povoamento e de transumância distinta. Em Castro Laboreiro, o povoamento praticante de uma transumância sazonal, apresenta uma modalidade única, derivada do deslocamento, não apenas de algumas famílias ou grupos de pastores, mas sim no deslocamento de toda a população(155).

O fenómeno das deslocações sazonais, praticada pelas populações de Castro

Laboreiro, provocou alterações morfológicas no território. Como referimos anteriormente, as Brandas e as Inverneiras, constituíram o desenvolvimento do habitat em dois núcleos complementares: o monte e o vale.

O desenvolvimento dos aglomerados em dois núcleos, relaciona-se estreitamente com

a complementaridade das duas áreas, em que a implantação dos lugares, tem como grande eixo ordenador, o rio Laboreiro. As Brandas acompanham o rio próximo das nascentes e as inverneiras a jusante, instalam-se em cotas menos elevadas em ambas as margens.

As alterações recentes na morfologia dos povoados correspondem a uma perda de

importância daquelas práticas, associada a uma mutação do modo de vida. Assim, é a própria estrutura da casa que agora se altera e a implantação vem desta feita sofrer, também ela, alterações(156). (155) cf. LIMA, A. S. - Castro Laboreiro povoamento e organização de um território serrano, pp.12-13. (156) Idem, p.35.

133


134

Fig. 76 Desenvolvimento linear de um aglomerado em área de montanha Inverneira de Pontes Castro Laboreiro

Fig. 77 Fachada típica de uma habitação serrana - pedra emparelhada em granito (juntas sem argamassa)


A implantação das casas no interior dos povoados apresentava uma disposição, antes

das transformações dos últimos anos, que estava longe de obedecer a um modelo único de organização espacial. Alguns lugares organizam-se ao longo de um caminho principal, ganhando a forma de uma aldeia arruada ou em função de um eixo mais importante e de vários eixos que daquele saem ou ainda alinhados em função de várias veredas estreitas que delimitam e contornam as áreas parceladas (figura 76). Por vezes, mais raramente possuem um rossio. Os lugares que se organizam em função de caminhos importantes desenvolveram uma disposição mais compacta, em linha. Os que viram as suas casas seguir caminhos secundários, tomaram configurações mais soltas e uma organização mais livre, por vezes na forma de um conglomerado de pequeníssimos núcleos(157).

De uma maneira geral, todos os núcleos rurais dispersos pelo território de Castro

Laboreiro apresentam características idênticas. As ruas são estreitas e por vezes trabalhadas directamente nas rochas que formam o solo. Dão acesso às habitações e aos currais do pastoreio, sendo por isso geralmente percorridas pelo gado, a caminho ou de volta das pastagens (158). Segundo Menéres, as aldeias da região de Castro “(...) possuem, por tradição, as suas pastagens próprias e as suas nascentes, com locais de recolha e abrigo, que tem uma designação própria, localizadas em pequenas leiras ou lameiros de pouca inclinação, praticamente planos localizadas em pequenas parcelas, cercadas por muros toscos, evitando assim a fuga do gado para depois subir até às pastagens na montanha.” (159)

Concluindo, podemos afirmar, que os núcleos apresentam habitações características

de aglomerados compactos, rudes, fechadas e arcaicas, as construções caracterizam uma imagem selvática, própria dos povos serranos. O uso do granito, material utilizado nas mais básicas utilizações do homem, deixou vestígios e um vasto património onde podemos observar a simplicidade e a singeleza das construções no aparelho construtivo utilizado na “arquitetura do necessário” (figura 77).(160) (157) Idem, ibidem. (158) cf. MOUTINHO, M. - Arquitectura Popular Portuguesa, pp.37-43. (159) Idem, Boletim cultural de Melgaço, p.98. (160) Idem, Ibidem.

135


136 Fig.78 Exemplo de uma parede em pedra solta sem sinais aparentes de alterações na construção Inverneira de Pontes Castro Laboreiro

Fig.79 Exemplo de uma ampliação, empregues materiais industrializados, desligados da secular tradição arquitectónica local Branda de Formarigo Castro Laboreiro

Fig.80 Casas emergem aglutinadas umas às outras Inverneira de Pontes Castro Laboreiro


5. Especificidades da Arquitectura local: Habitação serrana

Historicamente o Minho sempre se apresentou com uma elevada carga humana, já

que as condições naturais propiciaram desde sempre o aproveitamento intensivo do solo nas áreas rurais. A relação homem/espaço esteve sempre intrínseca na região Noroeste do país, no que se refere à área de povoamento disperso, como nas tipologias de povoamento rural, tanto a sua génese como a sua evolução, até aos nossos dias, não são generalizadas, dada a grande diversidade de factores que interferem na distribuição da população nos diferentes espaços, ainda que estes ofereçam vantagens ou desvantagens(161).

Até aos anos 60, era fácil estabelecer as características próprias do povoamento

serrano, na forma de construção e na sua materialidade, hoje pela dinâmica de sobreposição das formas, de apropriação e uso do espaço, nem sempre é possível ou justificável estabelecer essa distinção(162)(figura 79). Nem é sempre fácil individualizar os vários tipos de espaços rurais, já que a constante difusão dos processos de transformação do espaço, fez desaparecer muita da originalidade das formas de povoamento. Desta forma, apoiando-nos nas poucas construções ou vestígios existentes da paisagem serrana e em algumas obras que reflectem as variadas morfologias e tipologias deste tipo de povoamento, fazer uma breve análise da tipologia da habitação serrana, de forma a compreender a arquitectura popular nesta região do país, nomeadamente na freguesia de Castro Laboreiro.

Os aglomerados surgem nos flancos das montanhas, oferecendo em primeiro plano

uma mancha compacta dos telhados, ou então pousados em pequenas colinas em que o corpo constituído pelo casario é rodeado por uma mancha verde dos terrenos agrícolas(163).

As casas agrupam-se em bloco compacto, contíguas e quase misturadas umas

nas outras, parecendo emergir da rocha natural (figura 80). Dispõem-se à face dos rudes arruamentos da aldeia, ou então recuadas face à rua, é frequente mostrarem, sobre a rua, um pequeno recinto murado em pedra solta, que faz de átrio ou vestíbulo exterior (164). (161) cf. BRITO, R. S., - Portugal Perfil Geográfico, p.118. (162) Idem, p.115. (163) cf. GERALDES, A. D., - Brandas e Inverneiras particularidades do sistema agro-pastoril castrejo, pp.11-14. (164) cf. OLIVEIRA, E. & GALHANO, F. - Arquitectura Tradicional Portuguesa, p.133.

137


138 Fig.81 Planta típica da Casa Serrana Esquema

Fig.82 Fachada principal da casa serrana em que o acesso ao piso superior é feito através de uma escada exterior Inverneira de Pontes Castro Laboreiro

Fig.83 Casa de rés-do-chão era apenas utilizada para o gado Inverneira de Pontes Castro Laboreiro


Com uma tipologia própria, estas casas conferem às aldeias serranas uma expressão

rude e antiga, que se acentua pelo domínio que o terreno impõe ao conjunto. Surgem casas encostadas a enormes afloramentos de pedra, que formam parte das suas paredes, outras procuram soluções primárias que nos reportam aos tempos dos primeiros ocupantes dessas áreas, preservadas nas formas primitivas pela força arcaizante do seu isolamento. Contudo, é necessário referir que existe este tipo de casa em regiões que hoje não conservam esse carácter primitivo, mas que fazem parte de áreas que o foram até há pouco tempo(165).

Como assinala Oliveira e Galhano, “(...) a casa serrana apresenta as características

fundamentais da casa típica do Noroeste, com a sua planta rectangular, o aparelho em pedra, os dois pisos funcionais distintos, a varanda, a escada exterior com uma feição rude, arcaica e pobre. Sofre a acção do povoamento aglomerado em que está integrada.”(166)

De um modo geral, a casa que anteriormente referimos, define a rudeza primitiva da

sua construção, com os toscos muros de pedra solta, muitas das vezes à vista, as coberturas de duas águas e as escassas aberturas. Tem a função de abrigar a população, o gado e o feno, quer sejam casas de habitação ou de edifícios com outra funcionalidade, em todos os casos, as construções apresentam uma imagem rude e tosca (figura 82).

Em aldeias onde o aglomerado é menos denso, e embora agrupadas, as habitações

aparecem muitas vezes isoladas umas das outras, mostram a simplicidade na construção e nos caminhos, acusando a sua fractura elementar no avanço ou recuo das fachadas ou nas diferentes alturas de cada telhado (figura 83). São normalmente casas de rés-do-chão e de andar, aproveitando o declive do terreno onde o primeiro piso das construções serve o gado e na parte superior o andar sobrado tem a função de habitação. As paredes constituem exterior e interiormente blocos apenas empilhados, com total despreocupação de alinhamento, utilizando muitas vezes os afloramentos de pedra que surgem da rocha(167). Nas regiões (165) Idem, p.134. (166) Idem, p.130. (167) Idem, p.131.

139


140 Fig.84 Exemplo de paredes construídas através do emparelhamento de pedra solta sem qualquer tipo de junta com argamassa Inverneira de Pontes Castro Laboreiro

Fig.85 Exemplo de um patim que dá lugar a soluções de alpendre apoiado por dois muros de pedra solta Inverneira de Pontes Castro Laboreiro

Fig.86 Exemplo do capeado horizontal das paredes que rematam a cobertura Inverneira de Pontes Castro Laboreiro


graníticas, é usual verem-se casas de blocos esquadrejados, em que todo o trabalho da pedra é bastante cuidado, sem que isso altere a simplicidade estrutural da construção.

Focando-nos na área em estudo e percorrendo os vários lugares da freguesia de

Castro Laboreiro, observa-se que o tipo de habitação, anteriormente referido, dentro de uma certa homogeneidade, é característico das inverneiras (figura 84) . Era neste núcleo que se fixavam as populações, durante a maior parte do ano, ocupando-se com o cultivo do milho e na agricultura em que as construções correspondiam directamente aos tipos de produção. Daí as habitações nestas localidades serem mais sofisticadas ou menos rudes, ao contrário das brandas que praticavam uma economia baseada praticamente na pastorícia(168).

Normalmente, o acesso ao primeiro piso das habitações é feito através de duas portas

quando o declive permite. Senão é necessária uma escada, normalmente de pedra, encostada à parede exterior, na fachada frontal, a partir da rua, mostrando um pequeno patamar no alto (figura 85). “A cobertura deste patim, que dá lugar a soluções de alpendre, ou então outra varanda que se mostra nestas casas, ultrapassam a simplicidade elementar e fazem delas casas mais sofisticadas e evoluídas (...)”(169).

Em relação à cobertura destas habitações, predomina o telhado de duas águas,

com cobertura de colmo ou telha caleira, em que “(…) as paredes laterais são rematadas normalmente, por um capeado horizontal, saliente na face exterior que desempenha o papel de beiral e representa um sistema antigo para assentamento da palha (figura 86).”(170)

Apesar de autores como Oliveira e Galhano afirmarem que a cobertura de colmo, é

ainda frequente e sem dúvida a regra da serra, embora esta tivesse vindo a ser substituída progressivamente pela telha caleira, e ultimamente pela telha de marselha. Existem outros, como é exemplo Menéres, que entendem que existiam os dois tipos de cobertura nestas (168) cf. GERALDES, A. D., p.32. (169) cf. OLIVEIRA, E. & GALHANO, F., p.132. (170) Idem, ibidem.

141


142 Fig.87 Exemplo de uma cobertura em colmo Branda de Portos de baixo Castro Laboreiro

Fig.88 Exemplo de uma cobertura em telha Inverneira de Pontes Castro Laboreiro

Fig.89 Os v達os das portas e das janelas com portadas em madeira Inverneira de Pontes, Castro Laboreiro


habitações, apenas diferenciadas pelo material que provinha do meio. Nas regiões onde havia argila, faziam-se as coberturas em telha e nas zonas onde não existia utilizavam a cobertura de colmo (figura 87). Com o passar dos anos, as populações começaram a perceber que era necessária a manutenção anual das coberturas em colmo, daí a necessidade de as substituírem pela telha (figura 88).

Em relação ao sistema construtivo aplicado na colmadura ou nas telhas, ambas

as soluções, “(…) aparecem presas nas empenas por cápeas alongadas assentes num alteamento de parede, que se eleva acima do nível da cobertura, formado anteparo. Este sistema, relativamente frequente no Minho serrano, (…) conhece-se também em algumas categorias de espigueiros. Ele acompanha hoje a cobertura de telha, sendo digno de nota o facto de o sistema tradicional ter perdurado, aplicado aos novos materiais, que contudo não requerem expressamente. Em alguns casos os guarda-ventos das empenas são rematados por placas dispostas horizontalmente sobre o alteamento da parede, formando como que os degraus de uma escada que sobe até à altura do bico do cume.”(171)

A casa serrana, com uma feição muito tosca, tem escassas aberturas e elementos

decorativos. As portas e as janelas são normalmente simples portadas em madeira, sem qualquer caixilharia envidraçada (figura 89). Os vãos são frequentemente emoldurados pelo aparelho mais cuidado e de maior dimensão nas ombreiras e nas padieiras que constituem por si só uma parte estruturante da habitação. A varanda, elemento que encontramos nas casas de lavoura das terras baixas (inverneiras), grande e espaçosa, com o seu carácter rústico marca uma diferença nas construções que não pode deixar de se impor decisivamente. “É geralmente baixa, escura e atarracada, e situa-se muitas vezes na fachada que dá para a rua, formando a entrada da casa, para onde ascende a escada exterior de pedra; ela assenta em paredes fechadas, colunas, pilares ou cachorros de apoio.”(172) (171) Idem, ibidem. (172) Idem, p.133.


144

Dada a profunda relação existente entre a arquitectura popular e o meio que a rodeia,

dificilmente conseguíramos adiantar o seu estudo sem contar antes com um elementar conhecimento do espaço geográfico que se integra, definido não só pelos acidentes naturais que o caracterizam, como também pelas obras realizadas pelo homem em busca de melhores condições de vida, que se traduziu na criação de um habitat artificial.

No espaço rural, a casa, aparece como o elemento material base de um agrupamento

característico de uma sociedade, onde é definida como suporte natural e funcional de uma comunidade. Ao longo dos tempos, o habitat foi construído ou transformado consoante as diferentes formas de assentamento das populações que viviam à base da exploração agrícola, das indústrias derivadas da agricultura e da necessidade de providenciar da vida domestica em lugares distantes dos aglomerados urbanos(173).

A comunidade rural, ao seleccionar no seu meio geográfico o lugar apropriado para

cada uma das suas actividades, estabelece um modo de utilização do espaço adaptado às peculiaridades do ambiente.

Segundo o nosso estudo, o clima, o meio e os materiais determinaram as características

de uma estrutura construtiva da arquitectura popular da região Norte de Portugal. Embora nos dias de hoje a casa seja reconhecida apenas como uma construção para habitação, no meio serrano isso não acontece, já que é considerada uma “instituição” criada para servir um variado leque de finalidades ligadas à religião, à cultura e principalmente ao modo de produção característico da sua economia. Contudo, os espaços e as construções arquitectónicas criados pela população rural responderam ao longo do tempo a toda a uma série de diretrizes e de crenças culturais e religiosas que afectaram de uma forma decisiva a forma da habitação.

Mas a compreensão pela eleição de determinadas soluções nas aldeias serranas,

nomeadamente, das suas habitações, será unicamente possível se partirmos do conhecimento (173) LLANO, P., - “Arquitectura popular en Galicia”: Razón y construcción. Edicións Xerais”, p.31.


do modo de produção que prevaleceu na economia do povoamento rural que as utilizou e habitou(174).

De uma forma conclusiva podemos afirmar que ao longo dos tempos, a comunidade

serrana foi definindo, a sua própria arquitectura como resposta directa às exigências de distintos factores condicionantes. O que levou a uma eliminação de todo o elemento supérfluo nas suas edificações como na forma de construir. Ao descobrir a localização e as características mais apropriadas para a fixação do povoamento e consequentemente das suas edificações, as populações procuraram através do aproveitamento dos materiais locais construírem as suas habitações como um utensílio ao seu trabalho, ao adaptar as suas construções ao espaço onde se encontravam as suas explorações agrárias e nelas introduzir, os distintos elementos simbólicos, próprios da sua cultura, em que o construtor anónimo, século após século, foi respondendo às exigências do seu meio, sobretudo soluções carregadas de racionalidade, o que leva Risco a afirmar que na cultura popular serrana, a habitação “(...) es el instrumento de acomodación del hombre en la tierra, el ligamen, el vínculo del hombre con el paisaje, haciendo que su vida, consistente fundamentalmente en una relación con el medio, se exprese en la casa, permitiendo que de ella se pueda deducir toda la demás cultura.”(175)

(174) Idem, ibidem., pp.44-46. (175) RISCO, V., - “Estudo etnográfico da Terra de Melide”, p.326.

145



CAPÍTULO V Projecto de intervenção: Hostel de montanha


MELGAÇO MONÇÃO VALENÇA

VILA NOVA DE CERVEIRA

PAREDES DE COURA

ARCOS DE VALDEVEZ

CAMINHA

PONTE DA BARCA

148

PONTE DE LIMA VIANA DO CASTELO

Fig. 91 Contextualização Melgaço, Minho, Portugal

PAÇOS CHAVIÃES

CRISTÓVAL

VILA RAMÕES

ROUSSAS

PRADO

FIÃES

ALVAREDO PADERNE

SÃO PAIO

PENSO

CUBALHÃO COUSSO

LAMAS DE MOURO

PARADA DO MONTE

CASTRO LABOREIRO

GAVE

PONTES

Fig. 92 Planta de localização Castro Laboreiro, Melgaço


1. Enquadramento territorial: localização geográfica

O trabalho de investigação e de materialização das intenções programáticas da

unidade curricular de Projecto III, que nos propusemos iniciar, foi desenvolvido no Norte do território português, mais precisamente no concelho de Melgaço (figura 93). Esta região pertencente ao distrito de Viana do Castelo, sub-região do Minho-Lima, é delimitada a norte pelo rio Minho, a oeste pelo concelho de Monção e a sudoeste pelo concelho de Arcos de Valdevez e Galiza(176).

A sua tipicidade geográfica define-se em duas grandes manchas distintas, a ribeirinha,

junto ao rio Minho e a montanhosa e planáltica de grande valor paisagístico, território pertencente maioritariamente à freguesia de Castro Laboreiro, onde as populações serranas ainda praticam uma economia agro-pastoril, inserida numa extensa área dentro do PNPG. É limitada a norte e a nascente pela Galiza, a sul pela Gavieira e a poente por Lamas de Mouro (figura 94)(177).

Neste sentido, após uma análise resultante das diversas visitas efetuadas ao local,

concluímos que a freguesia de Castro Laboreiro apresenta um grande valor, não só paisagístico mas também cultural, arquitetónico e patrimonial, onde são frequentemente encontradas construções vernáculas, estas parcialmente ou totalmente abandonadas devido ao êxodo rural. Na sequência do reconhecimento do local, constatou-se que o espaço de montanha reflecte a crise das actividades tradicionais no que toca à agricultura, pastorícia e exploração florestal. De uma maneira geral a montanha é normalmente representada ou associada a um território hostil e desfavorecido no qual a sua transformação é realizada em espaços frágeis, despovoados, desertificados, vazios e apagados.

Contudo as últimas décadas reflectem importantes mutações no discurso, nas políticas

e na imagem das áreas montanhosas que já começam a fazer parte de um enquadramento produtivo e recreativo associando assim uma imagem renovada e uma importante marca na evolução do perfil territorial, sendo que estes são indissociáveis da emergência de novo sistema social de valores e de práticas turísticas e recreativas. (176) cf. MINHATERRA, Matosinhos - Dicionário Enciclopédico das Freguesias, pp. 423-439. (177) Idem, ibidem.

149


PAÇOS CHAVIÃES

CRISTÓVAL

VILA RAMÕES

ROUSSAS

PRADO

FIÃES

ALVAREDO SÃO PAIO

PADERNE PENSO

CUBALHÃO COUSSO

LAMAS DE MOURO

CASTRO LABOREIRO

PARADA DO MONTE

GAVE

Ramisqueira João alvo Barreiro

150

Dorna

Curveira

Pontes

Entalada

Fig. 93 Esquema dos aglomerados e dos caminhos

Legenda: Aglomerados significativos

Estrada principal

mais significativos

Esc : 10

Rio Laboreiro

20

Melgaço

N

Zona de intervenção

BAGO DE BAIXO ALAGOA

DORNA

AMEIJOEIRA

Legenda: Área de intervenção Rio Laboreiro Trilho do Vale encantado

Trilhos

Esc: 10

N

20

Fig. 94 Turismo de Natureza: Trilhos na área em estudo Castro Laboreiro


2. O Turismo de Natureza em Castro Laboreiro: Trilhos

O território de Castro Laboreiro, inserido numa extensa área do PNPG, está associado

a valores ecológicos, ambientais e culturais. Detentor de um grande potencial turístico é um local privilegiado, que transmite um sentido único e identificador. Nos dias de hoje, surge em resposta à crescente procura de novas experiências, propondo a prática de actividades de lazer em contacto com a natureza e com as culturas locais, constituindo assim atributos e valores indissociáveis à prática do Turismo de Natureza.

Como anteriormente referimos, as actividades de animação ambiental associadas ao

desporto de natureza, observação da natureza e interpretação ambiental, são consideradas prioritárias entre as oportunidades colocadas pela aposta no desenvolvimento do Turismo de Natureza, uma vez que cresce o número de visitantes interessados nestas práticas (178).

Após uma investigação realizada na área em estudo, relacionada com as actividades

praticadas no território de Castro Laboreiro, constatou-se que o turismo de natureza, nomeadamente a realização de percursos pedestres tem vindo a ser explorado por várias entidades promotoras ligadas ao próprio município de Melgaço, do PNPG, pela CIMO (Clube Ibérico de Montanhismo e Orientação) e pela associação Porta de Lamas de Mouro(179).

Como podemos observar (figura 94), os trilhos destinados tanto à vertente lúdica

como à desportiva ou mesmo à intervenção ambiental, são das atividades que mais se realizam na freguesia e as mais adequadas às características do território. A realização deste tipo de actividades no espaço de montanha integra uma razoável rede de trilhos que é necessário potenciar enquanto infra-estruturas de educação e de animação ambiental.

O Turismo de Natureza, associado à promoção de práticas e programas turísticos

de reduzido impacte ambiental e sociocultural, pode, neste sentido, representar uma oportunidade importante para o desenvolvimento sustentável do território e das populações residentes. (178) cf. THR, Turismo de Portugal, I.P pp.23-25 (179) cf. Consulta In http://www.cm-melgaco.pt/portal/page/melgaco/portal_municipal, 13 de Junho 2013, 22:51)

151


BAGO DE BAIXO ALAGOA

152

DORNA

AMEIJOEIRA

Alojamento na área de estudo Localidade

Alojamento Local( A.L) e Turismo Rural (T.R)

Barreiro Curveira Dorna Entalada João Alvo Ramisqueira Pontes

2 Turismo Rural 1 Turismo Rural 1 Turismo Rural 2 Alojamento Local 1 Turismo Rural 1 Turismo Rural Hostel de montanha

Legenda:

Esc : 10

Área de intervenção

20

Fig. 95 Alojamento na área em estudo

N

Rio Laboreiro Trilho do Vale encantado

Castro Laboreiro 725.00m

720.00m

719.00m

718.00m D

719m 718m

717.00m

721m

719m

724m

723m

718m

Forno comunitário

D

D D

716.00m

Legenda: Edificado_Habitação Curso de água Intervenção

Esc : D

Edifícios a demolir

(sem interesse patrimonial)

5

10 N

Fig. 96 Aldeia a intervir Inverneira de Pontes


3. Alojamento em resposta ao crescimento do Turismo de Natureza

Em Castro Laboreiro o turismo de natureza e o turismo rural têm sido uma das formas

encontradas para gerar emprego e também incentivar a recuperação do vasto património devido à necessidade crescente de alojamento nesse espaço rural.

O tema da reabilitação do património como instrumento que contribui para a

manutenção de uma memória colectiva que importa transpor no futuro, explora a reconversão de usos como meio de intervir no património construído, possibilitando a reutilização de antigas estruturas para a prática de alojamento ou do turismo em espaço rural. O turismo rural encontra em Castro Laboreiro potencialidades atípicas, nomeadamente devido à existência de interessantes núcleos de casas rústicas localizadas em aldeias tradicionais.

Face às oportunidades que o turismo de natureza pode representar para Castro

Laboreiro, o desenvolvimento do alojamento poderá servir de modelo a uma significativa rede de aldeias no sentido de orientar e recuperar os núcleos rurais, apoiar e dinamizar as iniciativas de âmbito económico, social, cultural e ambiental, a alargar os seus impactos ao espaço envolvente, passando pela formação e contratação temporal de agentes de dinamização local.

Numa investigação realizada na área em estudo, concluímos que o valor das

inverneiras (aldeias localizadas no vale) para venda ou exploração turística é superior ao das brandas (aldeias situadas a cotas mais elevadas), tanto pelos traços ainda ancestrais dos lugares, como pelo enquadramento natural e paisagístico. Nos últimos anos (figura 95), e nos lugares da Ramisqueira, Barreiro, Curvieira, Dorna, Entalada e João Alvo, foram comprados imóveis – inverneiras – uns para utilização de residência secundária outros, depois de recuperados, para o turismo rural.(180)

Na nossa investigação, também podemos observar que este tipo de intervenções é

realizado maioritariamente na zona Oeste do território, (tendo como base o rio Laboreiro, eixo ordenador das brandas e Inverneiras), o que determinou a escolha da intervenção (180) DOMINGUES, J. & RODRIGUES, A., - In Boletim cultural de Melgaço, pp.220-221.

153


154

Legenda: Piso em gravilha Pedra de granito

Esc: 5

10

N

Edificado_Habitação Curso de água Área de intervenção

Fig. 97 Conjunto a intervir: Hostel de Montanha Pontes, Castro Laboreiro

719m 721m

719m

1. 1.

1. 721m

1. 721m

9m 710m 72

2.

3. 722m

722m

724m

Legenda:

Esc:

Conjunto a intervir Piso em gravilha

1- Habitação

Zona herbácea

3- Loja de produtos regionais e recepção do Hostel

2- Espaço de confecção de alimentos

2

5

N

Fig. 98 Programa do Hostel de Montanha


4. Implementação da estratégia: Hostel de Montanha

programática, localizada no sentido oposto, ou seja, a Este do rio Laboreiro, mais propriamente na aldeia de Pontes, com o intuito de recuperá-la e reconvertê-la num produto turístico único, denominado Hostel de Montanha (figuras 94 e 95).

A implementação da estratégia surge no decorrer da visita ao núcleo rural da inverneira

de Pontes. A percepção de um universo longínquo do quotidiano urbano, a relação intensa e genuína da natureza no seu estado mais puro, convidou-nos a viajar no tempo e desta forma criar um empreendimento (Hostel) ligado às atividades de animação turística, que estimulem o intercâmbio entre os utilizadores e que lhes permitam usufruir das especificidades culturais do lugar.

Todo este amontoado de sensações ali encontradas determinaram o processo de

intervenção, o que permitiu tirar partido de um tecido rural votado ao abandono, reaproveitando habitações ou outras construções devolutas, com o incentivo e promoção do plurirrendimento, quer por via do alojamento temporário e da implementação e acompanhamento de circuitos turísticos, quer através do artesanato ou dos produtos tradicionais de gastronomia, desenvolvendo essencialmente a economia local (figura 98).

É neste sentido que a arquitetura aparece como uma estratégia ao desenvolvimento

rural, através da conservação, restauro e reabilitação assegurando, a manutenção da memória do lugar. Explora a questão da reconversão de usos como meio de intervir no território construído, possibilitando a reutilização de antigas estruturas edificadas na sociedade actual. Desta forma, com uma intervenção apostada no reaproveitamento do acervo arquitectónico protegido, recuperando-o e dando-lhe uma nova utilização, surge o proposto Hostel de Montanha. O estudo do empreendimento foi realizado para um conjunto de seis casas, mas com a possibilidade de, futuramente, abranger a aldeia na sua totalidade, criando infraestruturas necessárias, serviços e equipamentos relacionados com a animação ambiental, intervindo pontualmente, para que a escala e a proporção das intervenções respeitem a integridade dos edifícios e a memória do lugar.

155


721m

722m

2. 2.

2.

1.

1.

1.

721m

2.

721m

156 3.

4. 722m

724m

Legenda: Estrutura em tijolo

Pavimento em granito Pavimento em gravilha Estrutura em alvenaria de granito

722m

Pavimento soalho de madeira Pavimento cimento hidrofugado

Legenda programa: 4- Loja produtos 1- Área de estar regionais 2- Quarto de banho 3- Área confecção de alimentos

Esc: 0.5

1

N

Fig. 99 Planta piso 0: Hostel de Montanha

721m

5. 5.

5. 721m

5. 721m

6.

7.

722m

724m

Legenda: Pavimento em granito Pavimento em gravilha Estrutura em alvenaria de granito

Estrutura em tijolo Pavimento soalho de madeira Pavimento cimento hidrofugado

Legenda programa: 5- Quarto 6- Sala de refeições 7- Recepção do Hostel

Esc: 0.5

1

N

Fig.100 Planta piso 1: do Hostel de Montanha


5. Potencialidades do programa

Perante os objetivos traçados, o Hostel de montanha será uma mais-valia em termos de

reconhecimento do lugar, através da sua designação apenas comercial, combatendo algumas das problemáticas que as regiões serranas enfrentam, tais como problemas demográficos, insuficiências na rede de transportes, bem como carência de equipamentos.

Os trilhos pedestres, situados perto do local ou mesmo integrados na vila de

Pontes adquirem uma grande importância para a divulgação do lugar e contribuem para o desenvolvimento deste tipo de empreendimento alojando os praticantes destas actividades.

O êxito destes empreendimentos parece residir num contra-senso, o facto de não

serem classificados como turismo e de se integrarem na figura do Alojamento Local, escapam à designação turística e ao respetivo controlo administrativo, o que permite tirar partido de aldeias desfavorecidas, envelhecidas ou mesmo abandonadas, reaproveitando desta forma a arquitectura popular portuguesa. O hostel pretende oferecer aos seus utilizadores mais do que apenas um alojamento, além de ter a camarata como principal solução de dormida (o que não invalida que disponibilize quartos individuais) é suposto oferecer programas complementares à estadia, como é o exemplo, de uma área de confecção de alimentos, de uma pequena loja com produtos regionais bem como de uma recepção, com todos os serviços administrativos, indispensáveis para o bom funcionamento do equipamento turístico (figuras 99 e 100). O hostel, normalmente inserido no tecido urbano, ao disponibilizar um serviço de alojamento low-cost e outros programas complementares, por se localizar em áreas de convívio social onde os espaços correspondem normalmente a funções específicas, à semelhança dos empreendimentos deste tipo, utiliza o mesmo método de distribuição do programa, tirando partido do parcelamento e das dimensões das pequenas construções.

Há, portanto, uma reinterpretação, tanto na utilização de um sistema de distribuição

semelhante aos hostels inseridos nos grandes centros urbanos, como na utilização dos materiais locais.

157


alç.poente

alç.oeste

724m

alç.nascente

721m

723m 721m

722m

Alçado Este

N

alç.este

158

Alçado Nascente

Alçado Poente

Alçado Oeste Esc: 1

2

Fig.101 Alçados do conjunto: Hostel de Montanha


O papel da arquitectura, no que respeita à valorização do património edificado, há-

de ter sempre presente a dualidade de valores espirituais e materiais das populações que habitaram ou habitam estas aldeias ou lugares, as memórias do passado e as expectativas quanto ao seu futuro. A revitalização de uma aldeia deverá preservá-lo, mas evitando a todo o custo a “criação” de reservas de um passado e condenando as populações a viverem desenquadradas do seu tempo. As condições de conforto e de higiene passam a constituir acções primordiais no que diz respeito à recuperação e à reabilitação da arquitectura popular, utilizando técnicas e sistemas construtivos adequados à tipicidade, traça e função decorativa dos elementos arquitetónicos utilizados na construção.

Entre a absoluta fidelidade ao preexistente, e a reinterpretação de um novo modelo

que preserve a sua essência, houve a necessidade de aproveitar na sua reconstrução, o princípio da parede estrutural envolvente em alvenaria de granito. Como podemos observar (figura 101), a linguagem e a materialidade das construções foi mantida, através da ideia de composição da fachada anterior à intervenção.

Pertencente à memória do lugar, o desejo de transformar o conjunto, surgiu

naturalmente de dentro para fora. Manteve-se a feição tosca destas construções, com escassas aberturas e elementos decorativos.

Os vãos, frequentemente emoldurados pelo aparelho mais cuidado e de maior

dimensão nas ombreiras e padieiras, constituem não apenas uma parte estruturante da habitação mas também uma relação directa com a arquitectura popular da região. Em relação à cobertura, predomina o telhado de duas águas, com cobertura em telha, em que as paredes laterais são normalmente rematadas, por um capeado horizontal, saliente na face exterior, desempenhando simultaneamente o papel de beiral e de estrutura da cobertura.

Considerando o património construído como um conjunto de sobreposições de

camadas e fases de construção, (resultantes da necessidade de uma actuação funcional) procurou-se no processo de intervenção, que as novas estruturas se conjugassem com as antigas, utilizando novos materiais e novas soluções construtivas de forma a não comprometer o seu passado e a integridade do edifício.

159


B

A

D

D'

Legenda programa:

Legenda: Estrutura em alvenaria de granito Estrutura em alvenaria de tijolo Pavimento soalho de madeira

Pavimento cimento hidrofugado Isolamento térmico Apainelado MDF

B

A'

C

C

160

Esc:

4- Arrumos

1- Área de estar 2- Quarto de banho 3- Quarto

0.5

2

N

Legenda: Estrutura em alvenaria de granito Estrutura em alvenaria de tijolo Pavimento soalho de madeira

B

A'

C

C

D

D'

B

A

Fig.102 Planta piso 0: Módulo tipo de habitar Entrada, área de estar e quarto de banho

Esc:

Pavimento cimento hidrofugado Isolamento térmico Apainelado MDF

0.5

2

N

Fig.103 Planta piso 1: Módulo tipo de habitar Entrada e área de dormir


6. O módulo tipo de habitar

Face aos desafios que o processo da reabilitação pressupõe, exploramos apenas

de forma pormenorizada, um módulo tipo de habitar, que resultou da reutilização de um conjunto de construções devolutas, adquirindo um novo tipo de alojamento com diferentes espaços habitáveis. Ao explorarmos o espaço mínimo de habitar, a individualização dos espaços originou uma variada tipologia de quartos partilhados que estimulam a actividade, a interacção colectiva e um sentido de comunidade.

Focando-nos apenas nos espaços interiores desta tipologia, projectamos espaços

flexíveis onde a comodidade é alcançada através da facilidade de movimento dentro de cada célula. Estas construções, com dimensões mínimas, tinham a função de abrigar a população no piso superior e reservando o piso inferior, para o gado. Contudo, ao explorar a questão da reconversão de usos, recuperando-o e dando-lhe uma nova utilização, surgiram alguns problemas, como por exemplo o pé direito que apenas tinha 1,50m. De forma a respeitar a composição da fachada e a escala do edifício, recorremos a uma escada interior no primeiro piso, que garantiu desta forma um espaço utilizável, com 2,20m de altura, organizando assim uma área de estar e um quarto de banho.

O acesso ao piso superior é feito através de uma escada interior ou então pela antiga

escada, normalmente de pedra, encostada à parede exterior, na fachada frontal do edifício que dá acesso à área de dormir ou à camarata do hostel. No mesmo piso, o mobiliário além de organizar a espacialidade do conjunto e de garantir arrumação, ao não intersectar o plano da cobertura, permite um melhor aproveitamento da luz natural (figura 102).

No interior, as paredes, revestidas a gesso cartonado permitem que o espaço se

torne mais amplo. Já o mobiliário, o revestimento do pavimento e o sistema construtivo, com a utilização quase exclusiva da madeira, além de aligeirarem as cargas, adquirem uma linguagem mais acolhedora, mais quente e harmoniosa de todo o conjunto (figura 103).

161


722.8

162

Legenda: Estrutura em alvenaria de granito Estrutura em alvenaria de tijolo Pavimento soalho de madeira

Esc:

Pavimento cimento hidrofugado Isolamento térmico Apainelado MDF

Pavimento soalho de madeira

2

0.5

2

Esc:

Legenda: Estrutura em alvenaria de granito Estrutura em alvenaria de tijolo

0.5

Pavimento cimento hidrofugado Isolamento térmico Apainelado MDF

Fig. 104 Cortes verticais AA’ e BB’ Módulo de habitar: Hostel


163

Legenda: Estrutura em alvenaria de granito Estrutura em alvenaria de tijolo Pavimento soalho de madeira

Esc:

Pavimento cimento hidrofugado

Legenda: Estrutura em alvenaria de granito Estrutura em alvenaria de tijolo Pavimento soalho de madeira

0.5

Isolamento térmico Apainelado MDF

2

Esc:

Pavimento cimento hidrofugado Isolamento térmico Apainelado MDF

0.5

2

Fig.105 Cortes verticais CC’ e DD’ Módulo de habitar: Hostel


164

Gesso cartonado 20mm Montante, fixação do gesso cartonado Isolamento poliestireno 40mm Caixa de ar Camada de regularização Viga em madeira

Leca Caixilharia em madeira Vidro Laminado Portada em madeira de fole

Perfil em aço inox Tela impermeabilização, poliestileno expandido 0,5mm Ripa em madeira, fixação do caixilho

Soalho em madeira maciça 20mm Caixa de ar 30mm Isolamento poliestireno 40mm Camada de regularização 50mm

0.5

Fig. 106 Corte vertical - Pormenorização construtiva Módulo de habitar: Hostel

2


6.1 Materialidade e Sistemas construtivos

A intervenção deste tipo de edifício exige sempre invervenções, por ser necessário

adaptar algumas funções ao novo uso, cumprir exigências de conforto e recuperar patologias construtivas.

Desta forma, na sua reconstrução exterior, manteve-se o princípio de parede estrutural

em alvenaria de granito, sem recurso a quaisquer elementos de betão armado ou de qualquer tipo de argamassa nas paredes exteriores de pedra solta (figuras 104 e 105).

As únicas aberturas são as existentes, sobrevalorizadas pela sua capacidade natural

de revelar na parede onde se recortam, a ideia de abrigo que a contraposição de materiais sublinha. Daí a importância de acrescentar o recuo dos planos envidraçados, dimensionados para a recolha das portadas móveis, evitando simultaneamente o compromisso directo das caixilharias envidraçadas com o pórtico estrutural de granito, reinterpretando nas mesmas portadas o sentido formal dos planos ripados de madeira que preenchiam a antiga construção.

No interior, sob uma cobertura em telha, acrescentou-se um forte complemento de

isolamento térmico em toda a envolvente, de modo a compensar a fraca inércia térmica resultante das opções construtivas. Já a sua estrutura que revela um princípio de construção singular, pela utilização da madeira (carvalho) nas construções da região, permitindo que ficasse à vista, sem qualquer tipo de revestimento, ao contrário das paredes e do pavimento.

Dando também importância aos recursos energéticos, como já referimos anteriormente,

é aplicada nas paredes uma camada de regularização, em que entre o sistema de fixação das placas de gesso é aplicada uma camada de isolamento. O mesmo processo é aplicado no pavimento, embora aqui seja utilizado no revestimento, soalho em madeira de carvalho (figura 106).

Todo este processo de recuperação, reabilitação e conservação do património

construído, permite não só diminuir o processo de deterioração física do edifício mas também a garantia de um valor paisagístico, mantendo desta forma a identidade e as características regionais e históricas exclusivas das regiões localizadas nas áreas rurais.

165



Conclusão

Ao apresentar-se sempre como uma operação difícil e complexa de se realizar, a

reconversão de usos envolve uma série de características essenciais que devem ser respeitadas para que o património perdure no tempo.

Hoje em dia a importância da manutenção da “memória” do lugar e do edificado,

poderá constituir o aspecto mais importante a alcançar. Independentemente do objectivo final de uma nova estrutura ser ou não concretizado, com uma nova função, neste caso específico, direccionada para o turismo, a sua valorização depende predominantemente do facto de estar integrada num tecido rural, sendo por isso importante que a intervenção no património se realize com esse intuito, o de permitir dar continuidade ao edifício, fruto de sobreposições e camadas de história que reflectem a sua evolução.

Temos vindo a assistir a infinitos resultados, amostras isoladas e sensíveis

intervenções que podem vir a apresentar-se como possíveis caminhos a seguir no campo da reabilitação e, consequentemente, no domínio da reconversão de usos. Soluções com diferentes atitudes criativas aparecem vinculadas a uma aspiração comum, a de intervir no património, procurando encontrar um equilíbrio entre as particularidades básicas da edificação pré-existente e os novos elementos arquitectónicos propostos.

O papel da arquitectura, no que respeita à valorização do património edificado, há de

ter sempre presente a dualidade de valores culturais, religiosos e materiais das populações que habitam ou já habitaram nessas localidades mais débeis e intervencionadas. A revitalização de uma aldeia deve preservar a memória de um passado ao mesmo tempo permitir que sejam oferecidas condições de conforto e higiene, de forma a não condenar as populações a viverem desenquadradas do seu tempo. Quanto à reabilitação e à recuperação da arquitectura popular, deve-se optar por técnicas e soluções construtivas adequadas à sua tipicidade, traça e função dos elementos arquitectónicos utilizados na intervenção. É necessário intervir, de forma a respeitar a manutenção de símbolos ou de elementos que identificam a sua arquitectura através de características volumétricas, estruturais e formais.


168

Neste sentido, as diversas peculiaridades destas construções, longe de serem

limitações, devem contribuir momentaneamente, para estimular a capacidade criativa do arquitecto, garantindo a singularidade de soluções, e proporcionando uma reflexão sobre os aspectos essenciais e determinantes na definição dos diferentes critérios da sua reabilitação.

A ideia de transição funcional dos espaços rurais de montanha, associada à valorização

do meio rural e natural através de actividades ligadas à animação turística começa a ganhar grande expressão. O interesse pela preservação do património e o progressivo interesse pela vivência de experiências de índole cultural, desportiva e ambiental, sugerem o desenvolvimento ou a prática de férias mais activas e cada vez menos influenciadas pela oferta turística massificada.

Nesta atmosfera de mudança, o turismo e o património, vão assumindo uma

importância cada vez maior, no que diz respeito ao desenho e planeamento do desenvolvimento rural. O turismo alternativo (turismo de natureza) e a consequentemente disponibilidade de alojamento em áreas de montanha, têm vindo a crescer significativamente no Norte de Portugal. Partindo de uma incontornável desertificação e consequente abandono do tecido rural, várias entidades locais apoiadas por políticas europeias, encontraram na arquitectura local uma forma de desenvolver as localidades rurais.

Face às oportunidades que o turismo de natureza propicia a Castro Laboreiro,

podemos vir a encontrar formas suscetíveis de gerar emprego mas que também estimulem a recuperação de edificações incentivadas pela necessidade de alojamento no espaço rural.

O desenvolvimento de um alojamento económico poderá servir de exemplo a uma

significativa rede de aldeias, no sentido de recuperar os núcleos rurais, reaproveitando construções e principalmente tirar partido de um tecido rural votado ao abandono. É com base numa intervenção que vise o reaproveitamento do acervo arquitectónico protegido, recuperando-o e dando-lhe uma nova utilização, que surge o proposto Hostel de montanha.

Considerando o património construído, como um conjunto de sobreposições,


resultantes da necessidade de actuação funcional, procurou-se no processo de intervenção proposto, que as novas estruturas se conjugassem com as antigas, utilizando novos materiais e novas soluções construtivas, de forma a não comprometer o seu passado e a integridade dos edifícios.

Entre a absoluta fidelidade à arquitectura popular da região Norte, o programa tentou

não se sobrepor à pré-existência nem adulterar o espaço físico. Houve o cuidado na escolha programática proposta, de tirar partido do parcelamento e das dimensões das construções, criando infra-estruturas necessárias, serviços e equipamentos com elas relacionados, não no domínio do alojamento mas também outras relacionadas com a animação turística e ambiental, intervindo pontualmente, de forma a que a escala e proporção das intervenções respeitem a integridade do edificado e a memória do lugar.

Concluindo, estes espaços, apresentam como uma mais-valia para quem os visita, as

unidades hoteleiras neles implantadas, acabam por desempenhar um papel fundamental de promoção e valorização das localidades onde se inserem. Além de criarem emprego, motivam o turismo local e vizinho, proporcionando o crescimento económico das localidades rurais e o desenvolvimento de actividades que estimulem a população local.

Estas operações derivam da reconversão de usos que cumpre a sua função de modo

satisfatório, tanto em relação ao passado como com o seu processo evolutivo.

Em termos pessoais, e como testemunho final, espero que através da investigação

realizada e do trabalho agora apresentado, possa contribuir para suscitar novas reflexões e encontrar porventura novas orientações no âmbito das políticas de desenvolvimento dos territórios rurais de montanha e desta forma, contribuir para promover a qualidade de vida das populações locais através de novos empreendimentos no espaço rural que estimulem o sentido de comunidade e uma nova forma de fazer turismo.

169


170

Por decisão pessoal, a autora desta Dissertação de Mestrado do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.


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RODRIGUES. C., (2013) - Turismo de natureza, op.cit Palomeque. L., Vera. F., et al., (1997) (Disponível em http://www.geografia.uminho.pt/uploads/carla.doc. 05 de Maio 2013, 16:24).

STTAFORD, J. (1995) –“Microéconomie du tourisme. Presses de L’Université du Québec”. TAVARES, A. & MARTINS, P. I., (2013) - Arquitectura ‘low-cost’ artigo publicado no J-A nº246, Jan - Abr 2013. (Disponível em http://www.jornalarquitectos.pt/arquitectura-low-cost/, 11 de Junho 2013, 02:41)

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